Tecnologias Educacionais
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Tecnologias Educacionais
Tecnologias Educacionais: inclusão e cidadania 1 Maria Cristina GOBBI2 UNESP - Universidade Estadual Paulista Resumo As análises das tendências brasileiras da Comunicação em comparação com indicadores nacionais e mundiais da economia, da sociedade, da cultura e da educação evidenciam a criação coletiva como ação transformadora. Aponta caminhos capazes de construir novos saberes e definir olhares essenciais para rever os atuais processos de inclusão tecnológica. Sendo a comunicação um dos pilares essenciais nos processos democráticos, o resultado que se busca e o de superação da fragmentação dos saberes, de forma a alcançar uma perspectiva plural e includente de conteúdos, desenhando o mapa de nossa história comunicativa democrática. O desafio desse artigo, constituído de uma breve revisão bibliográfica, é o de refletir sobre as possibilidades tecnológicas, a presença do jovem e da educação no cenário das tecnologias digitais, objetivando repensar novas práticas de inclusão e de cidadania. Palavras-chave: Tecnologias, Educação, Inclusão, Cidadania, Juventude Aportes iniciais Vida Digital, Geração Digital, N-Generation, Sociedade sem Papel, Infoera, Galáxia Internet, Tecnologias Digitais, Interatividade, Geração Z, web 1.0, 2.0, 3.0 e semântica, Cloud Computing. Estes são alguns dos muitos títulos dos estudos que tentam compreender esse novo cenário, especialmente aqueles que envolvem os chamados nativos digitais e sua relação com os meios de comunicação amparados, quase sempre, por um batalhão de possibilidades descortinadas pelo uso das tecnologias digitais. Estamos diante de vários cenários: 1) A grande capacidade de processamento de informação aliada a rápida evolução dos computadores e dos meios de comunicação de massa, até então, não têm garantido acesso por todos e para todos. A lei de Moore afirma que, “[...] a capacidade de processamento dos computadores dobra em média a cada 18 meses”. Além disso, o que significa efetivamente 1 Trabalho apresentado na modalidade Artigo Científico na IV Conferência Sul-Americana e IX Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, realizada em Curitiba – PR - de 6 a 8 de agosto de 2013. 2 Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo. Vicecoordenadora do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital e professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Pensamento Comunicacional Latino-Americano” do CNPq. E-mail: [email protected]. 1 para a sociedade termos como: banda larga, acesso a informação, tecnologia digital, sociedade aprendente, televisão digital, tela de Plasma, LCD, internet sem fio, interatividade, conectividade, mobilidade e tantos outros utilizados na atualidade como se fossem de domínio público. 2) Uma geração nascida sob o signo das tecnologias, que tiverem e muitos ainda têm as mídias de massa e as atuais tecnologias como babás trazem múltiplas demandas no que tange a vida social. É um grupo que aos três anos usava os jogos eletrônicos, aos 7 anos ganhou de presente um iPhone e aos 10 anos já têm seu iPod, utiliza a tecnologia touch e o Facebook para contatos com amigos e compra filmes sob demanda. Mas ainda não se constituem em maioria no mapa da juventude nacional e internacional. E por último e não menos importante, 3) Todo um outro contingente de pessoas que não tem acesso real a essas modernidades tecnológicas, mas que são obrigados, pelas próprias demandas da atual sociedade, a conviver com elas, desde o cartão para saques nos bancos até catraca do ônibus ou metrô que são utilizados diariamente por uma parcela considerável da população. Para uma ideia geral das mudanças na atual sociedade da informação, da evolução e da rapidez com que elas vêm ocorrendo, vamos fazer uma breve retrospectiva histórica dos caminhos percorridos pela internet até chegar às possibilidades que temos na atualidade. Desenvolvimento tecnológico: o acesso de MUITOS, mas não de TODOS A Internet começou a ser idealizada em 1957, no auge da Guerra Fria, quando o governo americano anunciou a criação do Advanced Research Projects Agency (ARPA). Inicialmente o projeto tinha a missão de pesquisar novas tecnologias para as forças armadas, mas cinco anos depois a ARPA, em conjunto com a Rand Corporation, passou a elaborar um plano que garantisse com segurança de que as comunicações governamentais não fossem destruídas no caso de um ataque inimigo. A partir deste momento os “fios” da grande rede mundial não tiveram fronteiras. Fruto das preocupações com segurança de informações e de comunicação, no final dos anos de 1960 e início dos anos 1970, o grande marco foi o desenvolvimento da ARPANET e em seguida do protocolo TCP/IP, que é a principal forma de envio e recebimento de dados na 2 internet. TCP significa Transmission Control Protocol (Protocolo de Controle de Transmissão) e o IP, Internet Protocol (Protocolo de Internet). A título de complementação e de forma bastante simplificada, protocolo é uma espécie de linguagem utilizada para que dois computadores consigam se comunicar. Assim, essa evolução culminou em 1974 com a publicação da primeira especificação completa do TCP, assinada por Vinton Cerf, Yogen Dalal e Carl Sunshine, da Universidade de Stanford. Em seguida, no ano de 1983, entra no ar a primeira rede baseada em TCP/IP e dois anos depois nasceu a National Science Foundation Network, um conjunto de redes universitárias interconectadas em 56 kilobits por segundo (kbps)3. Mas somente a partir de 1988, com a abertura da rede para interesses comerciais, começou a “popularização” de fato. Assim, em 1992, o cientista Tim Berners-Lee cria a World Wide Web (www), como um desafio para o compartilhamento de informações e se desenvolvem conceitos como o de hipertexto e o hiperlink, permitindo o trabalho de várias pessoas juntas, ao mesmo tempo e no mesmo documento. A rede nasceu na Organização Europeia para a Investigação Nuclear, sendo o processo de conexão à Internet atual. A título de curiosidade, o Google foi um dos sites que surgiram por essa época. Também a empresa norte-americana Netscape criou um protocolo HTTPS (HyperText Transfer Protocol Secure), para garantir o envio de dados criptografados pela web, como medida de segurança. Toda essa evolução, aliada a abertura do mercado para que pessoas comuns pudessem ter seus computadores pessoais e o acesso (ainda que discado) a rede mundial, caminhou para o que termos hoje disponível na internet. No inicio a web 1.0, estática, com conteúdos exclusivamente para leitura, onde o usuário apenas buscava a informação. Em 2004, Web 2.0, dinâmica, já permitia disponibilizar e compartilhar informações. Um exemplo desse período são os sites da Wikepedia, do Orkut, MSN, Youtube etc. O estágio atual é a Web 3.0, ou web semântica, que vem inovar, permitindo que computadores e humanos trabalhem em cooperação, sendo o grande desafio o de atribuir significado aos conteúdos publicados. Surgiu em 2007 e sua principal característica é a interatividade, com a criação de um banco de dados gigante, conectando informações. Um 3 Disponível em: Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/o-que-e/780-o-que-e-tcp-ip-.htm#ixzz2Unls6NGw, acesso em maio de 2013. 3 exemplo disso é a concorrente do Google, a Hakia (http:www.hakia.com)4. A ilustração abaixo mostra esse desenvolvimento. Evolução da web Fonte: http://www.evolutionoftheweb.com/?hl=pt-br, acesso em maio de 2013. Trazendo apenas a referência do desenvolvimento, podemos dizer que as tecnologias conjuntamente com sua evolução tecnológica, especialmente com o incremento da internet, ultrapassaram todos os limites de possibilidades de inserção e de pluralidade de acesso, sem restrições de cultura, de língua, de posições políticas e de padrões de vida. A Web não separa por sexo, cor, raça ou religião. Não existe barreira capaz de deter a grande rede de comunicação. Faz parte da vida de muitos na atualidade. Entretanto, é o acesso de muitos que, paradoxalmente, se constitui no maior desafio das tecnologias da internet na atualidade, especialmente quando incluímos o social, pois então percebemos que ela não atinge todos. Até pouco tempo atrás fazer a volta ao mundo em 80 dias parecia possível para poucos. Hoje podemos, via Internet, arrumar as malas e viajar pelos quatro cantos do mundo, rumo aos nossos maiores sonhos, com apenas o teclar de um dedo. 4 Disponível em: http://4b-2012-02.bligoo.com.br/evolu-o-da-web-do-1-0-ao-3-0-0, acesso em maio de 2013. 4 A revolução se encontra no ponto em que a linguagem digital permite que em uma mesma plataforma transmita as mais variadas informações (textos, hipertextos, vídeos, sons, imagens). Isto somado a presença universal dos computadores e da extensa rede de comunicação, que se estende pelo planeta, faz com que em uma questão de segundos tenhamos uma quantidade de informações jamais dantes sonhadas (RIBEIRO, 2001). Os caminhos do ciberespaço, como os do Planeta Terra, são muitos, possibilitando as mais diversas, inesperadas e surpreendentes descobertas. Mas ainda não permite o acesso de todos. Não por restrições da rede, mas por fatores econômicos, educativos, de acesso a itens básicos, como equipamentos e linha de comunicação, entre outros. Diante de toda a facilidade oferecida pela Internet, da grande dificuldade na administração do acesso para todos, aliado as cobranças de cada vez mais conhecimento tecnológico impostos pela vida moderna, bem como a própria gerência do tempo disponível, sempre presente para quem deseja se reciclar, trocar experiências ou mesmo fazer um aperfeiçoamento é que a educação não poderia ficar fora desse cenário. Da instrução para a construção do conhecimento É importante ressaltar que uma das maiores potencialidades da Internet é a capacidade, “[...] que cada indivíduo conectado a ela, seja um transmissor de informação, porém, isso acarreta em um grande problema: a qualidade e confiabilidade da informação nela disponibilizada” (RIBEIRO, 2001). Por outro lado, não podemos perder de vista que as tecnologias da informação e da comunicação são instrumentos capazes de permitir maior flexibilidade no desenvolvimento de novas práticas de aprendizagem e de vivências educacionais. Talvez esteja neste ponto um dos desafios de utilização da tecnologia a serviço da inclusão e da cidadania digital. Um novo perfil de educando está sendo formado. Há uma real autonomia para a autogestão do conhecimento. Sem dúvidas que no ambiente educativo tradicional também há espaço para essas ações, mas há uma “aparente” padronização do método no modelo que utilizamos hoje em nossas instituições. Não há como administrar o seu próprio saber concorrendo presencialmente com grupos de 80, 100 alunos. Para Belloni (1999, p. 41). 5 O conceito de aprendente autônomo, ou independente, capaz de autogestão de seus estudos é ainda embrionário, do mesmo modo que o estudante autônomo é ainda exceção no universo de nossas universidades, abertas ou convencionais. A única unanimidade em torno do assunto talvez seja a convicção de que a educação em geral e o ensino superior em particular devem transformar-se para dar condições e encorajar uma aprendizagem autônoma que propicie e promova a construção do conhecimento. Além da educação que já utiliza as tecnologias da informação e da comunicação, há um crescente emprego dessas no âmbito comercial. Na esteira da explosão do ciberespaço são criados diariamente negócios, profissões e atividades, estimulando novas áreas do conhecimento e acelerando a busca de informações. Assim, podemos citar o comércio eletrônico (e-commerce), os negócios em rede (e-business), as mais variadas formas de comunicação como, correio eletrônico, grupos de discussão, bibliotecas virtuais, jornalismo online, telemedicina e teleconferências, entre tantos outros. Como bem afirma Castells, Internet é sociedade, expressa os processos sociais (...) ela constitui a base material e tecnológica da sociedade em rede. (...) Esta sociedade em rede é a sociedade (...) cuja estrutura social foi construída em torno de redes de informação a partir de tecnologia de informação microeletrônica estruturada na Internet. Nesse sentido, a Internet não é simplesmente uma tecnologia; é o meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades; é o equivalente ao que foi a fábrica ou a grande corporação na era industrial. A Internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material das nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (2003, pp. 286-287). Do mesmo modo, não há como negar que as tecnologias da informação e da comunicação (TIC’s) estão presentes de forma cada vez mais significativa na sociedade em geral. Pode-se afirmar que a Educação a Distância (EaD) acena de forma substanciosa para democratização do conhecimento. Embora o acesso a grande rede seja ainda restrito no Brasil, é possível assegurar que as TIC’s poderão, em médio prazo, reduzir a distância entre o ser humano e a informação, de maneira a possibilitar o acesso ao conhecimento como uma configuração real de democratização desse saber. 6 A Educação a Distância é a modalidade educacional na qual a mediação didáticopedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias da informação e da comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e em tempos diversificados - em cooperação plural, bem dentro dos princípios do estágio atual das tecnologias digitais. Essa definição está presente no Decreto 5.622, de 19.12.2005 (que revoga o Decreto 2.494/98), que regulamenta o Art. 80 da Lei 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Na verdade quando se pensa em democratização do conhecimento é possível vislumbrar o acesso a informação de forma que ele seja plural, interativo e desafiante. Uma possibilidade real para isso está na modalidade EaD de ensino-aprendizagem. Propiciar um ensino que traga aos estudantes novos horizontes de interação e de desenvolvimento, além de permitir que o ambiente escolar seja de fato produtor de novos conhecimentos deve estar na agenda de toda a sociedade. Como pode ser observada é uma nova dinâmica, um novo desafio e, principalmente, uma grande oportunidade para reduzir significativamente a problemática do acesso à educação no Brasil. Desta forma, por meio das TIC’s, os alunos conseguirão impor o seu próprio ritmo de aprendizagem, minimizando diferenças culturais e regionais. Moram (1998, p. 85) afirma que “[...] com a Internet o professor pode estar mais atento ao ritmo de cada aluno, às suas formas pessoais de navegação. O professor não impõe; ele acompanha, sugere, incentiva, questiona, aprende junto com o aluno”. Estamos vivendo uma verdadeira resolução dos métodos e das metodologias no processo de ensino-aprendizagem. Para discutir esse cenário pode-se começar com uma frase do Seymour Papert: “O absurdo da educação é que, ao ensinar alguma coisa, você priva alguém do prazer e do benefício da descoberta5”. Esse é sentimento generalizado que a nova geração tem com relação as nossas formas de tradicionais de ensino e se descortina como grande desafio a ser vencido pelas tradicionais instituições de educação no país. Infelizmente educadores e instituições ainda não perceberam que o aprendizado tornou-se um processo contínuo. A geração tecnológica-digital nasceu no ambiente da descoberta e da participação e as novas ferramentas digitais ampliaram significativamente esse panorama. Surge um novo modelo de ensino e de aprendizagem e a riqueza reside no 5 Nota da autora. (TAPSCOTT, 1999, p. 140) 7 conhecimento, onde “[...] cada vez mais, os principais bens são humanos” (TAPSCOTT, 1999, p. 124). Historicamente, o campo da educação tem sido orientado para modelos de aprendizado que focalizam a instrução – o que chamamos de aprendizado transmitido. O termo professor encerra abordagens para o aprendizado no qual um especialista que possui a informação a transmite ou difunde aos alunos. Os alunos ‘sintonizados’ assimilam a informação que lhes está sendo ‘ensinada’ – ou transmitida – na memória ativa (TAPSCOTT, 1999, p. 125) Nesse novo espaço, o professor não será mais basicamente um transmissor, tão pouco os planejamentos poderão estar centrados para atender as necessidades do grau “um-tamanhoserve-para-todos”, mas adaptados as necessidades individuais. Classes numerosas, com recursos limitados, onde a aprendizagem centra-se somente na transmissão de conteúdos não terão mais espaço. E a mídia digital tem permitido uma nova visão da educação e, de modo mais abrangente, do aprendizado. O gráfico abaixo possibilita uma comparação entre as tecnologias, demonstrando claramente a ampliação do leque de possibilidades com a utilização dos procedimentos digitais. Fonte: Tapscott (1999, p. 136). É necessário mencionar, como bem afirma Tapscott (1999), que o problema com o sistema educacional vai além das escolas, onde é necessário adotar medidas drásticas de 8 transformação, compreendendo os fins da educação e não apenas os meios. E a tecnologia pode ajudar de maneira significativa esse processo, pois elas estimulam a curiosidade e a experimentação. As próprias escolas precisam se transformar em organizações de ensino. Embora os professores, em sua grande maioria, sejam da geração TV, eles não são obstáculos ao aprendizado. Ao contrário. O que precisamos é a adoção das tecnologias digitais, que não significam necessariamente novos e modernos equipamentos, mas o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem, com o uso real dos conceitos de interatividade entre os estudantes e professores. Onde a troca e a aprendizagem sejam um todo contínuo e intercambiável. Precisamos passar do processo de conhecimento transmitido para o aprendizado interativo. A imagem a seguir demonstra este processo de mudança e suas principais diferenças. Fonte: Tapscott (1999, p. 136). É necessário rever o papel do professor como estruturador e organizador da experiência de aprendizado, mas o processo deve ser baseado no aluno. Ao utilizar as novas mídias para a centralização da experiência no aprendizado do aluno, será possível compreender que diversão e aprendizado podem caminhar juntos e de forma complementar. É imprescindível acabar com nossa prática onde em parte significativa da aula o professor passa falando e o aluno ouvindo. É essencial reconhecer habilidades, contextos, culturas e outros fatores que formam o aprendizado. 9 Essa discussão não é nova. Muito antes do advento da informática, autores como Anísio Teixeira, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Gustavo Capanema, entre tantos outros e já alertam para a urgência dessa mudança. “O aprendizado torna-se experimental. Isso não quer dizer que os ambientes de aprendizado, ou até mesmo os currículos, não devam ser planejados. Mas podem ser desenvolvidos em parceria com os alunos ou pelos próprios alunos” (TAPSCOTT, 1999, p. 140). Precisamos sair da geração do aprender e fazer, para essa que aprende fazendo. É necessário flexibilizar o currículo de forma a permitir que os indivíduos descubram seus próprios caminhos rumo ao aprendizado, onde experiências, talentos e preferências individuais possam estar integrados ao processo de ensino-aprendizagem, o professor é o facilitador do processo, atuando como recurso e consultor, mas são os alunos que constroem seu próprio conhecimento. Em outras palavras, precisamos sair da geração Vila Sésamo para a do vídeo game. Desnecessário dizer, toda uma geração de professores precisa aprender a usar novas ferramentas, novas abordagens e novas habilidades. Isso será um desafio – não apenas devido á resistência de alguns professores, mas também devido ao atual ambiente de cortes, baixo moral entre os professores, falta de tempo devido às pressões de maiores cargas de trabalho e orçamento reduzido para retreinamento. (...) À medida que a mídia digital for entrando nas escolas e sendo imediatamente abraçada por alunos articulados e destemidos, o que será do professor? Dadas as crescentes evidências de que a mídia interativa pode melhorar substancialmente o processo de aprendizado, os professores claramente precisarão mudar seu papel. Em vez de repetidores de fatos, poderão tornar-se motivadores e facilitadores (TAPSCOTT, 1999, p. 150). É mister compreender a nova geração. As empresas e as instituições precisam acordar para a inovação, onde grande parte do valor do conhecimento estará na utilidade real que ele tem, na proficuidade, na interatividade e na construção participativa das alternativas. É fundamental desenvolvermos verdadeiros repositórios de conhecimento, ampliando e facilitando o acesso, em uma real democratização da informação. Temos inúmeros aparelhos e ferramentas digitais disponíveis no mercado e o que mais agrada aos jovens tecnológicos-digitais, segundo diversas pesquisas publicadas, é a oportunidade de conhecer pessoas e se relacionarem quer “[...] seja através do celular, 10 torpedos, e-mail, orkut, msn, blog, fotologs, diários on line ou outros de forma rápida, cifrada e com uma linguagem própria onde eles falam o que querem com verdades ou mentiras”. São blogs, fotologs, MP4, MP9. “Os nascidos em meados da década de 1980 tiveram o computador e o celular introduzidos em suas vidas, e acabam perdendo esse vício em outras fases, já os mais novos nasceram com toda essa tecnologia e ainda não é possível prever esse comportamento”, comenta a psicóloga Suzy Zveibil Cortoni6. Em entrevista recente a Sérgio Dávila 7, Don Tapscott, afirmou que atualmente estamos vendo a primeira geração a amadurecer na era digital e já é possível observar as grandes diferenças entre essa e a geração anterior no que diz respeito à maneira de ver e viver em sociedade. Essas crianças foram banhadas em bits. Diferentemente de seus pais, elas não temem as novas tecnologias, pois não são tecnologia para eles, mas realidade. Eu os chamo de Geração Net. Sua chegada está causando um salto geracional - eles estão superando os pais na corrida pela informação. Pela primeira vez, os jovens, e não seus pais, são as autoridades numa inovação central da sociedade. Essa geração está tomando os locais de trabalho, o mercado e cada nicho da sociedade, no mundo todo. Está trazendo sua força demográfica, seus conhecimentos de mídia, seu poder de compra, seus novos modelos de colaboração e de paternidade, empreendedorismo e poder político. Eles são "multitarefeiros", realizam várias atividades ao mesmo tempo. Para eles, e-mail é antiguidade. Eles usam telefone para mandar textos, navegar na internet, achar o caminho, tirar fotos e fazer vídeo - e colaborar. Eles entram no Facebook sempre que podem, inclusive no trabalho. Mensagem instantânea e Skype estão sempre abertos, como pano de fundo de seus computadores. Se a geração anterior assistia mais de 20 horas de TV semanalmente, afirma Tapscott, a “[...] Geração Net e a tecnológica-digital8 vê TV, trata-a como música ambiente, enquanto busca informação, joga games e conversa com os amigos on-line”. Esta possibilidade multitarefa já vem “incorporada de fábrica”, diriam alguns. Nas gerações mais antigas um dos grandes desafios é exatamente o de desenvolver os processos de simultaneidade no cotidiano que a juventude atual tem. Não somos multitarefa como eles. Se assistimos televisão, ouvimos 6 Nota da autora. FONTE: http://www.terra.com.br/cgi-bin/inde.../06/23/000.htm, pesquisado em jan 2009. Nota do autor. Entrevista publicada dia 26/01/2009 - 11h33, com o tema ‘Estudioso da web analisa "geração digital" que elegeu Obama’, SÉRGIO DÁVILA, da Folha de S.Paulo, em Washington, disponível no endereço: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u494508.shtml 8 Inclusão da autor. 7 11 rádio, lemos um livro ou conversamos, fazemos uma coisa de cada vez, enquanto a geração mais nova consegue fazer tudo, ao mesmo tempo e aprendendo. Considerações finais As soluções dos desafios da expansão do acesso e da qualidade da inserção em todos os âmbitos caminham pela compreensão dos elementos que integram o processo comunicativo. É fundamental um acercamento dos meios de comunicação e de suas múltiplas possibilidades, de forma a construir sistemas plurais de acesso capazes de serem motores das sociedades democráticas. Na verdade e podemos trazer essas considerações também para a geração tecnológicadigital, como afirma Tapscott, “[...] os ‘digitais’ parecem incrivelmente flexíveis, adaptáveis e habilidosos ao lidar com diversos meios de informação”. É uma geração que utiliza o You Tube e o Twitter diariamente. Na internet, já descobriram o poder da sua rede de relacionamento e rapidamente se organizam para realizar as mais diversas atividades, em qualquer lugar, em um misto de empreendedorismo, interatividade e criatividade. Assim, em um ambiente de mudanças tão dinâmicas, como o mundo digital que se apresenta hoje, só existe um meio real de descobrirmos o que será ou não real no universo da Transmissão Digital do Saber – a experiência. Como afirmou Zuffo (1997, p. 16), “A Infoera, sem dúvida, exigirá do ser humano desde a mais tenra idade um novo tipo de educação e posicionamento perante a realidade, de modo a torná-lo apto psicologicamente a enfrentar um ambiente, onde as novidades serão a regra e as mudanças perenes, o modo de vida”. Por outro lado, o conhecimento do repertório acumulado permite fortalecer os estudos e as práticas democráticas e sociais, buscando no resgate dessas produções as oportunidades para a consolidação de políticas públicas adequadas para que o efetivo processo de comunicação seja estabelecido nos mais variados âmbitos, permitindo aplicar na prática o sentido de um processo amplo, democrático e plural. Um elemento a ser considerado nas análises é que embora com avanços significativos, os dados disponibilizados em vários espaços oficiais refletem as desigualdades educacionais no país, que começam na educação infantil. A saída para dirimir essas diferenças é a universalização do ensino e a melhoria da qualidade, em todos os níveis. 12 É necessário que as tecnologias possam auxiliar nas transformações sociais, acumulando informações que realmente mostrem o cotidiano social, construindo novos modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e reprodução da cultura do país. O desenvolvimento de um país e, por conseguinte a melhoria de seus indicadores sociais pode ser aferida não só pela erradicação do analfabetismo total ou funcional, mas pelo investimento que se faz em ciência e em tecnologia e os programas de pós-graduação respondem por parte significativa desse desenvolvimento. Antes, porém, é necessário ressaltar que um dos princípios básicos de toda sociedade democrática é o direito a uma educação ampla, irrestrita e de qualidade. Para atender esse preceito é necessário olhar com atenção as cinco regiões do Brasil, buscando a equidade, oferecendo estímulos para o desenvolvimento de cursos que atendam as demandas locais, programas de pós-graduação vocacionados no desenvolvimento regional, incrementando a pesquisa e apoiando investigadores para que ancorem nas regiões mais afastadas seu arsenal de conhecimentos. Só assim será possível formar um quadro de intelectuais críticos, analíticos e produtivos, que lancem conhecimentos novos em áreas defasadas ou menos favorecidas, quer pelo distanciamento ou pela falta de apoio para o desenvolvimento permanente. Referências Bibliográficas BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 1999. CASTELLS, Manuel. “Internet e sociedade em rede”. In: MORAES, Dênis de (org.) Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003. DEMO, P. Pesquisa como definição essencial da vida acadêmica. Barbarói, v.2, p.27-43, 1994. GOBBI, Maria Cristina; AZEVEDO, Adriana e GONÇALVES, Elizabeth. Projeto do curso de “Docência do Ensino Superior de Comunicação”, apresentado a Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2005. MORAN, José Manoel. Mudanças na comunicação pessoal, gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo: Paulinas, 1998. RIBEIRO, Aparecida. Notas de aulas. I curso de Formação em EAD, ministrado na Universidade Metodista de São Paulo, em 2001. 13 TAPSCOTT, Don. Geração digital. A crescente e irreversível ascensão da Geração Net. São Paulo: Makron Books, 1999. TAPSCOTT, Don. Growing Up Digital. The rise of the Net Generation. McGraw-Hill, 1999. ZUFFO, João Antônio. A infoera. O imenso desafio do futuro. São Paulo: Saber, 1997. 14