Tecnologias Educacionais

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Tecnologias Educacionais
Tecnologias Educacionais: inclusão e cidadania 1
Maria Cristina GOBBI2
UNESP - Universidade Estadual Paulista
Resumo
As análises das tendências brasileiras da Comunicação em comparação com
indicadores nacionais e mundiais da economia, da sociedade, da cultura e da educação
evidenciam a criação coletiva como ação transformadora. Aponta caminhos capazes de
construir novos saberes e definir olhares essenciais para rever os atuais processos de inclusão
tecnológica. Sendo a comunicação um dos pilares essenciais nos processos democráticos, o
resultado que se busca e o de superação da fragmentação dos saberes, de forma a alcançar
uma perspectiva plural e includente de conteúdos, desenhando o mapa de nossa história
comunicativa democrática. O desafio desse artigo, constituído de uma breve revisão
bibliográfica, é o de refletir sobre as possibilidades tecnológicas, a presença do jovem e da
educação no cenário das tecnologias digitais, objetivando repensar novas práticas de inclusão
e de cidadania.
Palavras-chave: Tecnologias, Educação, Inclusão, Cidadania, Juventude
Aportes iniciais
Vida Digital, Geração Digital, N-Generation, Sociedade sem Papel, Infoera, Galáxia
Internet, Tecnologias Digitais, Interatividade, Geração Z, web 1.0, 2.0, 3.0 e semântica, Cloud
Computing. Estes são alguns dos muitos títulos dos estudos que tentam compreender esse
novo cenário, especialmente aqueles que envolvem os chamados nativos digitais e sua relação
com os meios de comunicação amparados, quase sempre, por um batalhão de possibilidades
descortinadas pelo uso das tecnologias digitais. Estamos diante de vários cenários:
1) A grande capacidade de processamento de informação aliada a rápida evolução dos
computadores e dos meios de comunicação de massa, até então, não têm garantido acesso por
todos e para todos. A lei de Moore afirma que, “[...] a capacidade de processamento dos
computadores dobra em média a cada 18 meses”. Além disso, o que significa efetivamente
1
Trabalho apresentado na modalidade Artigo Científico na IV Conferência Sul-Americana e IX Conferência Brasileira de
Mídia Cidadã, realizada em Curitiba – PR - de 6 a 8 de agosto de 2013.
2
Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo. Vicecoordenadora do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital e professora do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Coordenadora do Grupo de Pesquisa
“Pensamento Comunicacional Latino-Americano” do CNPq. E-mail: [email protected].
1
para a sociedade termos como: banda larga, acesso a informação, tecnologia digital, sociedade
aprendente, televisão digital, tela de Plasma, LCD, internet sem fio, interatividade,
conectividade, mobilidade e tantos outros utilizados na atualidade como se fossem de domínio
público.
2) Uma geração nascida sob o signo das tecnologias, que tiverem e muitos ainda têm
as mídias de massa e as atuais tecnologias como babás trazem múltiplas demandas no que
tange a vida social. É um grupo que aos três anos usava os jogos eletrônicos, aos 7 anos
ganhou de presente um iPhone e aos 10 anos já têm seu iPod, utiliza a tecnologia touch e o
Facebook para contatos com amigos e compra filmes sob demanda. Mas ainda não se
constituem em maioria no mapa da juventude nacional e internacional.
E por último e não menos importante, 3) Todo um outro contingente de pessoas que
não tem acesso real a essas modernidades tecnológicas, mas que são obrigados, pelas próprias
demandas da atual sociedade, a conviver com elas, desde o cartão para saques nos bancos até
catraca do ônibus ou metrô que são utilizados diariamente por uma parcela considerável da
população.
Para uma ideia geral das mudanças na atual sociedade da informação, da evolução e
da rapidez com que elas vêm ocorrendo, vamos fazer uma breve retrospectiva histórica dos
caminhos percorridos pela internet até chegar às possibilidades que temos na atualidade.
Desenvolvimento tecnológico: o acesso de MUITOS, mas não de TODOS
A Internet começou a ser idealizada em 1957, no auge da Guerra Fria, quando o
governo americano anunciou a criação do Advanced Research Projects Agency (ARPA).
Inicialmente o projeto tinha a missão de pesquisar novas tecnologias para as forças armadas,
mas cinco anos depois a ARPA, em conjunto com a Rand Corporation, passou a elaborar um
plano que garantisse com segurança de que as comunicações governamentais não fossem
destruídas no caso de um ataque inimigo. A partir deste momento os “fios” da grande rede
mundial não tiveram fronteiras.
Fruto das preocupações com segurança de informações e de comunicação, no final dos
anos de 1960 e início dos anos 1970, o grande marco foi o desenvolvimento da ARPANET e
em seguida do protocolo TCP/IP, que é a principal forma de envio e recebimento de dados na
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internet. TCP significa Transmission Control Protocol (Protocolo de Controle de
Transmissão) e o IP, Internet Protocol (Protocolo de Internet). A título de complementação e
de forma bastante simplificada, protocolo é uma espécie de linguagem utilizada para que dois
computadores consigam se comunicar. Assim, essa evolução culminou em 1974 com a
publicação da primeira especificação completa do TCP, assinada por Vinton Cerf, Yogen
Dalal e Carl Sunshine, da Universidade de Stanford. Em seguida, no ano de 1983, entra no ar
a primeira rede baseada em TCP/IP e dois anos depois nasceu a National Science Foundation
Network, um conjunto de redes universitárias interconectadas em 56 kilobits por segundo
(kbps)3.
Mas somente a partir de 1988, com a abertura da rede para interesses comerciais,
começou a “popularização” de fato. Assim, em 1992, o cientista Tim Berners-Lee cria a
World Wide Web (www), como um desafio para o compartilhamento de informações e se
desenvolvem conceitos como o de hipertexto e o hiperlink, permitindo o trabalho de várias
pessoas juntas, ao mesmo tempo e no mesmo documento. A rede nasceu na Organização
Europeia para a Investigação Nuclear, sendo o processo de conexão à Internet atual. A título
de curiosidade, o Google foi um dos sites que surgiram por essa época. Também a empresa
norte-americana Netscape criou um protocolo HTTPS (HyperText Transfer Protocol Secure),
para garantir o envio de dados criptografados pela web, como medida de segurança.
Toda essa evolução, aliada a abertura do mercado para que pessoas comuns pudessem
ter seus computadores pessoais e o acesso (ainda que discado) a rede mundial, caminhou para
o que termos hoje disponível na internet. No inicio a web 1.0, estática, com conteúdos
exclusivamente para leitura, onde o usuário apenas buscava a informação. Em 2004, Web 2.0,
dinâmica, já permitia disponibilizar e compartilhar informações. Um exemplo desse período
são os sites da Wikepedia, do Orkut, MSN, Youtube etc.
O estágio atual é a Web 3.0, ou web semântica, que vem inovar, permitindo que
computadores e humanos trabalhem em cooperação, sendo o grande desafio o de atribuir
significado aos conteúdos publicados. Surgiu em 2007 e sua principal característica é a
interatividade, com a criação de um banco de dados gigante, conectando informações. Um
3
Disponível em: Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/o-que-e/780-o-que-e-tcp-ip-.htm#ixzz2Unls6NGw, acesso em
maio de 2013.
3
exemplo disso é a concorrente do Google, a Hakia (http:www.hakia.com)4. A ilustração
abaixo mostra esse desenvolvimento.
Evolução da web
Fonte: http://www.evolutionoftheweb.com/?hl=pt-br, acesso em maio de 2013.
Trazendo apenas a referência do desenvolvimento, podemos dizer que as tecnologias
conjuntamente com sua evolução tecnológica, especialmente com o incremento da internet,
ultrapassaram todos os limites de possibilidades de inserção e de pluralidade de acesso, sem
restrições de cultura, de língua, de posições políticas e de padrões de vida. A Web não separa
por sexo, cor, raça ou religião. Não existe barreira capaz de deter a grande rede de
comunicação. Faz parte da vida de muitos na atualidade. Entretanto, é o acesso de muitos que,
paradoxalmente, se constitui no maior desafio das tecnologias da internet na atualidade,
especialmente quando incluímos o social, pois então percebemos que ela não atinge todos.
Até pouco tempo atrás fazer a volta ao mundo em 80 dias parecia possível para
poucos. Hoje podemos, via Internet, arrumar as malas e viajar pelos quatro cantos do mundo,
rumo aos nossos maiores sonhos, com apenas o teclar de um dedo.
4
Disponível em: http://4b-2012-02.bligoo.com.br/evolu-o-da-web-do-1-0-ao-3-0-0, acesso em maio de 2013.
4
A revolução se encontra no ponto em que a linguagem digital permite que
em uma mesma plataforma transmita as mais variadas informações (textos,
hipertextos, vídeos, sons, imagens). Isto somado a presença universal dos
computadores e da extensa rede de comunicação, que se estende pelo
planeta, faz com que em uma questão de segundos tenhamos uma quantidade
de informações jamais dantes sonhadas (RIBEIRO, 2001).
Os caminhos do ciberespaço, como os do Planeta Terra, são muitos, possibilitando as
mais diversas, inesperadas e surpreendentes descobertas. Mas ainda não permite o acesso de
todos. Não por restrições da rede, mas por fatores econômicos, educativos, de acesso a itens
básicos, como equipamentos e linha de comunicação, entre outros. Diante de toda a facilidade
oferecida pela Internet, da grande dificuldade na administração do acesso para todos, aliado as
cobranças de cada vez mais conhecimento tecnológico impostos pela vida moderna, bem
como a própria gerência do tempo disponível, sempre presente para quem deseja se reciclar,
trocar experiências ou mesmo fazer um aperfeiçoamento é que a educação não poderia ficar
fora desse cenário.
Da instrução para a construção do conhecimento
É importante ressaltar que uma das maiores potencialidades da Internet é a capacidade,
“[...] que cada indivíduo conectado a ela, seja um transmissor de informação, porém, isso
acarreta em um grande problema: a qualidade e confiabilidade da informação nela
disponibilizada” (RIBEIRO, 2001).
Por outro lado, não podemos perder de vista que as tecnologias da informação e da
comunicação são instrumentos capazes de permitir maior flexibilidade no desenvolvimento de
novas práticas de aprendizagem e de vivências educacionais. Talvez esteja neste ponto um
dos desafios de utilização da tecnologia a serviço da inclusão e da cidadania digital.
Um novo perfil de educando está sendo formado. Há uma real autonomia para a
autogestão do conhecimento. Sem dúvidas que no ambiente educativo tradicional também há
espaço para essas ações, mas há uma “aparente” padronização do método no modelo que
utilizamos hoje em nossas instituições. Não há como administrar o seu próprio saber
concorrendo presencialmente com grupos de 80, 100 alunos. Para Belloni (1999, p. 41).
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O conceito de aprendente autônomo, ou independente, capaz de autogestão
de seus estudos é ainda embrionário, do mesmo modo que o estudante
autônomo é ainda exceção no universo de nossas universidades, abertas ou
convencionais. A única unanimidade em torno do assunto talvez seja a
convicção de que a educação em geral e o ensino superior em particular
devem transformar-se para dar condições e encorajar uma aprendizagem
autônoma que propicie e promova a construção do conhecimento.
Além da educação que já utiliza as tecnologias da informação e da comunicação, há
um crescente emprego dessas no âmbito comercial. Na esteira da explosão do ciberespaço são
criados diariamente negócios, profissões e atividades, estimulando novas áreas do
conhecimento e acelerando a busca de informações. Assim, podemos citar o comércio
eletrônico (e-commerce), os negócios em rede (e-business), as mais variadas formas de
comunicação como, correio eletrônico, grupos de discussão, bibliotecas virtuais, jornalismo
online, telemedicina e teleconferências, entre tantos outros.
Como bem afirma Castells,
Internet é sociedade, expressa os processos sociais (...) ela constitui a base
material e tecnológica da sociedade em rede. (...) Esta sociedade em rede é a
sociedade (...) cuja estrutura social foi construída em torno de redes de
informação a partir de tecnologia de informação microeletrônica estruturada
na Internet. Nesse sentido, a Internet não é simplesmente uma tecnologia; é o
meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas
sociedades; é o equivalente ao que foi a fábrica ou a grande corporação na
era industrial. A Internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico,
que constitui na realidade a base material das nossas vidas e de nossas
formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é
processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a
sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (2003, pp. 286-287).
Do mesmo modo, não há como negar que as tecnologias da informação e da
comunicação (TIC’s) estão presentes de forma cada vez mais significativa na sociedade em
geral. Pode-se afirmar que a Educação a Distância (EaD) acena de forma substanciosa para
democratização do conhecimento. Embora o acesso a grande rede seja ainda restrito no Brasil,
é possível assegurar que as TIC’s poderão, em médio prazo, reduzir a distância entre o ser
humano e a informação, de maneira a possibilitar o acesso ao conhecimento como uma
configuração real de democratização desse saber.
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A Educação a Distância é a modalidade educacional na qual a mediação didáticopedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e
tecnologias da informação e da comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo
atividades educativas em lugares e em tempos diversificados - em cooperação plural, bem
dentro dos princípios do estágio atual das tecnologias digitais. Essa definição está presente no
Decreto 5.622, de 19.12.2005 (que revoga o Decreto 2.494/98), que regulamenta o Art. 80 da
Lei 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Na verdade quando se pensa em democratização do conhecimento é possível
vislumbrar o acesso a informação de forma que ele seja plural, interativo e desafiante. Uma
possibilidade real para isso está na modalidade EaD de ensino-aprendizagem. Propiciar um
ensino que traga aos estudantes novos horizontes de interação e de desenvolvimento, além de
permitir que o ambiente escolar seja de fato produtor de novos conhecimentos deve estar na
agenda de toda a sociedade.
Como pode ser observada é uma nova dinâmica, um novo desafio e, principalmente,
uma grande oportunidade para reduzir significativamente a problemática do acesso à
educação no Brasil. Desta forma, por meio das TIC’s, os alunos conseguirão impor o seu
próprio ritmo de aprendizagem, minimizando diferenças culturais e regionais. Moram (1998,
p. 85) afirma que “[...] com a Internet o professor pode estar mais atento ao ritmo de cada
aluno, às suas formas pessoais de navegação. O professor não impõe; ele acompanha, sugere,
incentiva, questiona, aprende junto com o aluno”.
Estamos vivendo uma verdadeira resolução dos métodos e das metodologias no
processo de ensino-aprendizagem. Para discutir esse cenário pode-se começar com uma frase
do Seymour Papert: “O absurdo da educação é que, ao ensinar alguma coisa, você priva
alguém do prazer e do benefício da descoberta5”. Esse é sentimento generalizado que a nova
geração tem com relação as nossas formas de tradicionais de ensino e se descortina como
grande desafio a ser vencido pelas tradicionais instituições de educação no país.
Infelizmente educadores e instituições ainda não perceberam que o aprendizado
tornou-se um processo contínuo. A geração tecnológica-digital nasceu no ambiente da
descoberta e da participação e as novas ferramentas digitais ampliaram significativamente
esse panorama. Surge um novo modelo de ensino e de aprendizagem e a riqueza reside no
5
Nota da autora. (TAPSCOTT, 1999, p. 140)
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conhecimento, onde “[...] cada vez mais, os principais bens são humanos” (TAPSCOTT,
1999, p. 124).
Historicamente, o campo da educação tem sido orientado para modelos de
aprendizado que focalizam a instrução – o que chamamos de aprendizado
transmitido. O termo professor encerra abordagens para o aprendizado no
qual um especialista que possui a informação a transmite ou difunde aos
alunos. Os alunos ‘sintonizados’ assimilam a informação que lhes está sendo
‘ensinada’ – ou transmitida – na memória ativa (TAPSCOTT, 1999, p. 125)
Nesse novo espaço, o professor não será mais basicamente um transmissor, tão pouco
os planejamentos poderão estar centrados para atender as necessidades do grau “um-tamanhoserve-para-todos”, mas adaptados as necessidades individuais. Classes numerosas, com
recursos limitados, onde a aprendizagem centra-se somente na transmissão de conteúdos não
terão mais espaço. E a mídia digital tem permitido uma nova visão da educação e, de modo
mais abrangente, do aprendizado.
O gráfico abaixo possibilita uma comparação entre as tecnologias, demonstrando
claramente a ampliação do leque de possibilidades com a utilização dos procedimentos
digitais.
Fonte: Tapscott (1999, p. 136).
É necessário mencionar, como bem afirma Tapscott (1999), que o problema com o
sistema educacional vai além das escolas, onde é necessário adotar medidas drásticas de
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transformação, compreendendo os fins da educação e não apenas os meios. E a tecnologia
pode ajudar de maneira significativa esse processo, pois elas estimulam a curiosidade e a
experimentação. As próprias escolas precisam se transformar em organizações de ensino.
Embora os professores, em sua grande maioria, sejam da geração TV, eles não são
obstáculos ao aprendizado. Ao contrário. O que precisamos é a adoção das tecnologias
digitais, que não significam necessariamente novos e modernos equipamentos, mas o
desenvolvimento de ambientes de aprendizagem, com o uso real dos conceitos de
interatividade entre os estudantes e professores. Onde a troca e a aprendizagem sejam um todo
contínuo e intercambiável. Precisamos passar do processo de conhecimento transmitido para o
aprendizado interativo.
A imagem a seguir demonstra este processo de mudança e suas principais diferenças.
Fonte: Tapscott (1999, p. 136).
É necessário rever o papel do professor como estruturador e organizador da
experiência de aprendizado, mas o processo deve ser baseado no aluno. Ao utilizar as novas
mídias para a centralização da experiência no aprendizado do aluno, será possível
compreender que diversão e aprendizado podem caminhar juntos e de forma complementar.
É imprescindível acabar com nossa prática onde em parte significativa da aula o
professor passa falando e o aluno ouvindo. É essencial reconhecer habilidades, contextos,
culturas e outros fatores que formam o aprendizado.
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Essa discussão não é nova. Muito antes do advento da informática, autores como
Anísio Teixeira, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Gustavo Capanema, entre
tantos outros e já alertam para a urgência dessa mudança. “O aprendizado torna-se
experimental. Isso não quer dizer que os ambientes de aprendizado, ou até mesmo os
currículos, não devam ser planejados. Mas podem ser desenvolvidos em parceria com os
alunos ou pelos próprios alunos” (TAPSCOTT, 1999, p. 140).
Precisamos sair da geração do aprender e fazer, para essa que aprende fazendo. É
necessário flexibilizar o currículo de forma a permitir que os indivíduos descubram seus
próprios caminhos rumo ao aprendizado, onde experiências, talentos e preferências
individuais possam estar integrados ao processo de ensino-aprendizagem, o professor é o
facilitador do processo, atuando como recurso e consultor, mas são os alunos que constroem
seu próprio conhecimento. Em outras palavras, precisamos sair da geração Vila Sésamo para a
do vídeo game.
Desnecessário dizer, toda uma geração de professores precisa aprender a
usar novas ferramentas, novas abordagens e novas habilidades. Isso será um
desafio – não apenas devido á resistência de alguns professores, mas também
devido ao atual ambiente de cortes, baixo moral entre os professores, falta de
tempo devido às pressões de maiores cargas de trabalho e orçamento
reduzido para retreinamento. (...) À medida que a mídia digital for entrando
nas escolas e sendo imediatamente abraçada por alunos articulados e
destemidos, o que será do professor? Dadas as crescentes evidências de que
a mídia interativa pode melhorar substancialmente o processo de
aprendizado, os professores claramente precisarão mudar seu papel. Em vez
de repetidores de fatos, poderão tornar-se motivadores e facilitadores
(TAPSCOTT, 1999, p. 150).
É mister compreender a nova geração. As empresas e as instituições precisam acordar
para a inovação, onde grande parte do valor do conhecimento estará na utilidade real que ele
tem, na proficuidade, na interatividade e na construção participativa das alternativas. É
fundamental desenvolvermos verdadeiros repositórios de conhecimento, ampliando e
facilitando o acesso, em uma real democratização da informação.
Temos inúmeros aparelhos e ferramentas digitais disponíveis no mercado e o que mais
agrada aos jovens tecnológicos-digitais, segundo diversas pesquisas publicadas, é a
oportunidade de conhecer pessoas e se relacionarem quer “[...] seja através do celular,
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torpedos, e-mail, orkut, msn, blog, fotologs, diários on line ou outros de forma rápida, cifrada
e com uma linguagem própria onde eles falam o que querem com verdades ou mentiras”. São
blogs, fotologs, MP4, MP9. “Os nascidos em meados da década de 1980 tiveram o
computador e o celular introduzidos em suas vidas, e acabam perdendo esse vício em outras
fases, já os mais novos nasceram com toda essa tecnologia e ainda não é possível prever esse
comportamento”, comenta a psicóloga Suzy Zveibil Cortoni6.
Em entrevista recente a Sérgio Dávila 7, Don Tapscott, afirmou que atualmente
estamos vendo a primeira geração a amadurecer na era digital e já é possível observar as
grandes diferenças entre essa e a geração anterior no que diz respeito à maneira de ver e viver
em sociedade.
Essas crianças foram banhadas em bits. Diferentemente de seus pais, elas
não temem as novas tecnologias, pois não são tecnologia para eles, mas
realidade. Eu os chamo de Geração Net. Sua chegada está causando um salto
geracional - eles estão superando os pais na corrida pela informação. Pela
primeira vez, os jovens, e não seus pais, são as autoridades numa inovação
central da sociedade. Essa geração está tomando os locais de trabalho, o
mercado e cada nicho da sociedade, no mundo todo. Está trazendo sua força
demográfica, seus conhecimentos de mídia, seu poder de compra, seus novos
modelos de colaboração e de paternidade, empreendedorismo e poder
político. Eles são "multitarefeiros", realizam várias atividades ao mesmo
tempo. Para eles, e-mail é antiguidade. Eles usam telefone para mandar
textos, navegar na internet, achar o caminho, tirar fotos e fazer vídeo - e
colaborar. Eles entram no Facebook sempre que podem, inclusive no
trabalho. Mensagem instantânea e Skype estão sempre abertos, como pano
de fundo de seus computadores.
Se a geração anterior assistia mais de 20 horas de TV semanalmente, afirma Tapscott,
a “[...] Geração Net e a tecnológica-digital8 vê TV, trata-a como música ambiente, enquanto
busca informação, joga games e conversa com os amigos on-line”. Esta possibilidade
multitarefa já vem “incorporada de fábrica”, diriam alguns. Nas gerações mais antigas um dos
grandes desafios é exatamente o de desenvolver os processos de simultaneidade no cotidiano
que a juventude atual tem. Não somos multitarefa como eles. Se assistimos televisão, ouvimos
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Nota da autora. FONTE: http://www.terra.com.br/cgi-bin/inde.../06/23/000.htm, pesquisado em jan 2009.
Nota do autor. Entrevista publicada dia 26/01/2009 - 11h33, com o tema ‘Estudioso da web analisa "geração digital" que
elegeu Obama’, SÉRGIO DÁVILA, da Folha de S.Paulo, em Washington, disponível no endereço:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u494508.shtml
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Inclusão da autor.
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rádio, lemos um livro ou conversamos, fazemos uma coisa de cada vez, enquanto a geração
mais nova consegue fazer tudo, ao mesmo tempo e aprendendo.
Considerações finais
As soluções dos desafios da expansão do acesso e da qualidade da inserção em todos
os âmbitos caminham pela compreensão dos elementos que integram o processo
comunicativo. É fundamental um acercamento dos meios de comunicação e de suas múltiplas
possibilidades, de forma a construir sistemas plurais de acesso capazes de serem motores das
sociedades democráticas.
Na verdade e podemos trazer essas considerações também para a geração tecnológicadigital, como afirma Tapscott, “[...] os ‘digitais’ parecem incrivelmente flexíveis, adaptáveis e
habilidosos ao lidar com diversos meios de informação”. É uma geração que utiliza o You
Tube e o Twitter diariamente. Na internet, já descobriram o poder da sua rede de
relacionamento e rapidamente se organizam para realizar as mais diversas atividades, em
qualquer lugar, em um misto de empreendedorismo, interatividade e criatividade.
Assim, em um ambiente de mudanças tão dinâmicas, como o mundo digital que se
apresenta hoje, só existe um meio real de descobrirmos o que será ou não real no universo da
Transmissão Digital do Saber – a experiência. Como afirmou Zuffo (1997, p. 16), “A Infoera,
sem dúvida, exigirá do ser humano desde a mais tenra idade um novo tipo de educação e
posicionamento perante a realidade, de modo a torná-lo apto psicologicamente a enfrentar um
ambiente, onde as novidades serão a regra e as mudanças perenes, o modo de vida”.
Por outro lado, o conhecimento do repertório acumulado permite fortalecer os estudos
e as práticas democráticas e sociais, buscando no resgate dessas produções as oportunidades
para a consolidação de políticas públicas adequadas para que o efetivo processo de
comunicação seja estabelecido nos mais variados âmbitos, permitindo aplicar na prática o
sentido de um processo amplo, democrático e plural.
Um elemento a ser considerado nas análises é que embora com avanços significativos,
os dados disponibilizados em vários espaços oficiais refletem as desigualdades educacionais
no país, que começam na educação infantil. A saída para dirimir essas diferenças é a
universalização do ensino e a melhoria da qualidade, em todos os níveis.
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É necessário que as tecnologias possam auxiliar nas transformações sociais,
acumulando informações que realmente mostrem o cotidiano social, construindo novos
modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e reprodução da cultura do país. O
desenvolvimento de um país e, por conseguinte a melhoria de seus indicadores sociais pode
ser aferida não só pela erradicação do analfabetismo total ou funcional, mas pelo investimento
que se faz em ciência e em tecnologia e os programas de pós-graduação respondem por parte
significativa desse desenvolvimento.
Antes, porém, é necessário ressaltar que um dos princípios básicos de toda sociedade
democrática é o direito a uma educação ampla, irrestrita e de qualidade. Para atender esse
preceito é necessário olhar com atenção as cinco regiões do Brasil, buscando a equidade,
oferecendo estímulos para o desenvolvimento de cursos que atendam as demandas locais,
programas de pós-graduação vocacionados no desenvolvimento regional, incrementando a
pesquisa e apoiando investigadores para que ancorem nas regiões mais afastadas seu arsenal
de conhecimentos. Só assim será possível formar um quadro de intelectuais críticos, analíticos
e produtivos, que lancem conhecimentos novos em áreas defasadas ou menos favorecidas,
quer pelo distanciamento ou pela falta de apoio para o desenvolvimento permanente.
Referências Bibliográficas
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CASTELLS, Manuel. “Internet e sociedade em rede”. In: MORAES, Dênis de (org.) Por
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ZUFFO, João Antônio. A infoera. O imenso desafio do futuro. São Paulo: Saber, 1997.
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