Suco de uva: fonte de compostos bioativos com benefício à saúde

Transcrição

Suco de uva: fonte de compostos bioativos com benefício à saúde
185
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
REVISÃO
Suco de uva: fonte de compostos bioativos
com benefício à saúde
Grape juice: source of bioactive compounds with health benefits
Edison da Silva Pereira Júnior*, Niara da Silva Medeiros**, Caroline Dani, D.Sc.***,
Cláudia Funchal, D.Sc.****
*Acadêmico do Curso de Biomedicina do Centro Universitário Metodista do IPA, **Mestranda do Programa de Pós Graduação
em Biociências e Reabilitação do Centro Universitário Metodista do IPA, ***Biomédica, Docente do Centro Universitário
Metodista do IPA, ****Farmacêutica e Bioquímica, Professora do Centro Universitário Metodista do IPA
Resumo
As espécies reativas de oxigênio e nitrogênio podem provocar danos a moléculas do nosso organismo como lipídios,
proteínas e ácido desoxirribonucleico (DNA) quando estão em níveis aumentados comparado as defesas antioxidantes,
ocasionando o estresse oxidativo. Sabe-se que o estresse oxidativo está relacionado a diversas doenças, como doenças neurológicas, câncer, algumas doenças pulmonares e também está diretamente relacionado com o envelhecimento. Uma forma de
aumentar as defesas antioxidantes e minimizar os efeitos do estresse oxidativo é através da ingestão regular de alimentos ricos
em compostos antioxidantes, como por exemplo, o suco de uva que é rico em compostos fenólicos, entre eles, o resveratrol
e flavonóides que são compostos com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, anticarcinogênicas e antimicrobianas.
Com isto, esta revisão de literatura visa relacionar algumas das propriedades benéficas do suco de uva.
Palavras-chave: Uva, suco de uva, antioxidante, compostos fenólicos.
Abstract
The reactive species of oxygen and nitrogen can cause damage to our body such as molecules of lipids, proteins and
deoxyribonucleic acid (DNA) when are at increased levels compared to the antioxidant defenses, causing oxidative stress. It
is known that oxidative stress is related to several diseases such as neurological diseases, cancers, some lung diseases and is also
directly related to aging. One way to increase the antioxidant defenses and to minimize the effects of oxidative stress is by
regular ingestion of foods rich in antioxidant compounds, such as grape juice which is rich in phenolic compounds, resveratrol
and flavonoids that are compounds with antioxidant, anti-inflammatory, antimicrobial and anticarcinogenic properties. This
literature review aimed to relate some of the beneficial properties of grape juice.
Key-words: Grape, grape juice, antioxidant, phenolic compounds.
Recebido 7 de junho de 2012; aceito 15 de março de 2013.
Endereço para correspondência: Dra. Cláudia Funchal, Rede Metodista de Educação do Sul, Centro Universitário
Metodista do IPA, Rua Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80, 90420-060 Porto Alegre RS, E-mail: claudia.funchal@
metodistadosul.edu.br
186
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
Introdução
Estudos vêm investigando e verificando os benefícios à saúde associados com a ingestão de uva e seus
derivados. Dentre estes, o suco de uva vem ganhando
destaque, pois é rico em compostos bioativos, além de
ser uma bebida de fácil acesso a toda população [1-3].
O suco de uva é uma bebida não alcoólica obtida a
partir do mosto das uvas Isabel e Bordô, variedades Vitis
labrusca, mais especificamente na Serra Gaúcha [4,5].
Os sucos de uva apresentam na sua constituição química
uma diversidade de substâncias com ações benéficas ao
organismo, como os compostos fenólicos, entre eles os
não-flavonóides, por exemplo o resveratrol e os flavonóides, também as antocianinas, procianidinas, catequinas,
quercetina e epicatequina [1,3,5]. Estes componentes
presentes na uva são capazes de neutralizar os radicais
livres e/ou espécies reativas, minimizando o estresse
oxidativo [3-8]. O estresse oxidativo está envolvido em
diversos processos fisiológicos e patológicos no organismo, tais como, fatores múltiplos do envelhecimento,
doenças pulmonares (enfisema), além de ser um dos
vários fatores desencadeantes de doenças neurológicas
como Doença de Parkinson, esclerose múltipla e Doença de Alzheimer [9-14]. Além da capacidade antioxidante, diversos trabalhos têm relatado os benefícios do
consumo regular do suco de uva na melhora da função
do endotélio, redução do colesterol total e colesterol
LDL (lipoproteína de baixa densidade), entre outros
[8,10,15-17].
Nessa perspectiva, esta revisão de literatura
visa esclarecer os benefícios do suco de uva, sua ação
antioxidante e propriedade de redução do estresse
oxidativo, através dos compostos bioativos presentes
na uva. A consulta baseou-se em bases de banco de
dados de artigos científicos como Pubmed, Science
Direct, Scielo e Scopus, buscando através das seguintes
palavras, isoladamente ou relacionadas entre si: estresse
oxidativo, antioxidante, radicais livres, uva, suco de
uva, convencional, orgânico e seus respectivos em
inglês. Também foram utilizados livros, a busca de
dados foi limitada na língua inglesa e portuguesa e os
artigos analisados foram selecionados por apresentarem
grande pertinência ao tema.
Estresse oxidativo e defesas antioxidantes no
organismo
O estresse oxidativo se caracteriza pelo desequilíbrio da produção de espécies reativas e a remoção
destas espécies reativas pelos sistemas de defesa antioxidante, levando a um desequilíbrio desses compostos
e podendo gerar danos, quando persistente [18,19].
Os agentes oxidantes podem ser classificados como
radicais livres (contém um ou mais elétrons desemparelhados nas últimas camadas) ou não radicais (não
possuem elétrons desemparelhados), e que podem ser
originados geralmente a partir dos átomos de oxigênio
ou de nitrogênio [12,13].
As espécies reativas de oxigênio (ERO) são átomos,
moléculas ou íons, que contêm um átomo de oxigênio
na sua constituição, incluindo os radicais: ânion superóxido (O2•-), hidroxila (•OH-), peroxila (RO2•), alcoxila
(RO•); e não radicais tais como, peróxido de hidrogênio
(H2O2) e oxigênio singlet (1O2). As ERO podem reagir
com as principais classes de biomoléculas causando uma
cascata de reações, tendo os lipídeos como alvo principal
(principalmente os de membrana celular), podendo
gerar peroxidação lipídica [12,13,20].
Além das ERO, também existem as espécies
reativas de nitrogênio (ERN) que contém um átomo
de nitrogênio na sua constituição e são representadas
pelos radicais: óxido nítrico (NO•) e dióxido de nitrogênio (NO2•); e os não radicais, tais como ácido
nitroso (HNO2), peroxinitrito (ONOO) e ânion
nitroxil (NO-) [12,13,20].
No organismo, as espécies reativas, normalmente, estão envolvidas na produção de energia,
fagocitose, regulação do crescimento celular, sinalização intercelular e síntese de substâncias biológicas
importantes, como por exemplo, na defesa contra a
infecção quando os neutrófilos são estimulados pelas
bactérias a produzirem espécies reativas para destruírem microorganismos [13,20,21].
Entretanto, quando as espécies reativas estão em
níveis elevados, ocasionam o estresse oxidativo, podendo gerar danos a moléculas do organismo como as
proteínas, lipídios e DNA (ácido desoxirribonucléico),
sendo importante avaliar os níveis de oxidação destas
biomoléculas no organismo (Figura 1) [19,21-23].
Figura 1 - Principais alvos celulares do estresse
oxidativo.
Estresse oxidativo
Lipoperoxidação
Oxidação
de proteínas
Oxidação
do DNA
A fim de reduzir os danos causados pelo aumento
de espécies reativas e reduzir o estresse oxidativo, o organismo apresenta um sistema de moléculas antioxidantes
enzimáticas e não-enzimáticas que são capazes de neutralizar essas espécies reativas, retardando ou prevenindo
a oxidação de determinada biomolécula [19,24].
O sistema antioxidante enzimático é representado pelas enzimas antioxidantes endógenas tais
como: superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT),
187
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
glutationa peroxidase (GPx) [20,21]. Já o sistema
antioxidante não-enzimatico pode ser representado
pelos minerais (zinco, selênio e ferro), vitaminas (ácido ascórbico, vitamina E, vitamina A, riboflavina),
os carotenóides (beta-caroteno, licopeno e luteína,
bixina), bioflavonóides (genisteína, quercetina, extrato
de ginkgo biloba), e também o resveratrol [2,5,20,25].
Suco de uva e sua composição
Segundo Rizzon e Mielle [4], no Rio Grande do
Sul (Brasil), a região da serra é produtora e responsável
por grande parte da produção de uva e seus derivados
do Brasil, havendo uma predominância no cultivo
da espécia Vitis labrusca (Isabel, Concord e Bordô) as
quais são utilizadas para produção de sucos de uva,
além do cultivo da espécie Vitis vinifera (Cabernet
Sauvignon e Merlot) para vinhos finos. No Brasil, há
dois tipos de produção de videiras, uma conhecida
como orgânica, que caracteriza-se pela ausência de
agrotóxicos, e a outra dita convencional, cultivada de
forma tradicional, ou seja, com uso de agrotóxicos [5].
A escolha por um destes tipos de condução pode
influenciar de forma importante no produto final, uma
vez que qualquer vegetal, inclusive a videira, quando
cultivado sem a utilização de agrotóxicos, ou seja cultivo orgânico, apresenta na fruta uma quantidade de
polifenóis maior quando comparado aos produtos do
cultivo convencional. Isso se dá pois os polifenóis são
conhecidos como metabólitos secundários da planta,
produzidos em situação de estresse, o que acontece
na ausência do agrotóxicos [5,26]. Isto foi observado
por Dani et al. [5] que concluíram que havia maior
concentração de polifenóis em sucos de uvas a partir
de uvas orgânicas em comparação ao suco de uva
obtido de uvas sob cultivo convencional, sendo este
fato observado tanto para variedades tintas e brancas.
Na sua composição química, a uva apresenta
uma diversidade de substâncias: minerais (ferro,
magnésio, cálcio), aminoácidos, proteínas, potássio, sódio, glicose, frutose, além dos compostos
fenólicos como as antocianinas, catequinas, quercetina, resveratrol e os ácidos fenólicos (ácido benzóico e o cinâmico) [1,2,27]. Na casca da uva, estão
presentes os flavonóis (principalmente a quercetina), as
antocianinas (cianidina), os estilbenos (pricipalmente
o resveratrol) e os ácidos fenólicos (ácido tartárico).
Nas sementes, estão presentes os taninos, catequina,
epicatequina e protoantocianidinas [28-31].
Os compostos fenólicos presentes na uva têm
sido alvo de variados estudos que observam seus efeitos, diretos e indiretos, assim como a determinação da
sua concentração na uva e seus derivados [1,2,5,27].
Entre os compostos fenólicos presentes nas uvas,
o resveratrol tem sido amplamente estudado, pois
apresenta inúmeras ações biológicas, entre elas, ação
anticoagulante, antioxidante, anti-inflamatória e antitumoral [2,7]. O resveratrol é um produto secundário
do metabolismo do sistema imunológico das plantas,
sendo sintetizado por ataques de patógenos (fungos)
ou devido a algumas condições ambientais desfavoráveis [2,32]. Sua maior concentração encontra-se na
casca da uva, por causa da radiação ultravioleta, tendo
importante ação sobre o metabolismo fenólico [2,33].
É importante ressaltar que os benefícios
encontrados, principalmente nos derivados da uva,
dependem da concentração dos compostos fenólicos,
que pode sofrer interferência de determinados
processos, tais como: térmicos (temperatura de
maceração), químicos e métodos de elaboração
[25,28]. A fim de avaliar estes interferentes, alguns
trabalhos têm buscado quantificar a concentração de
alguns compostos fenólicos em uvas, sucos, vinhos,
sementes e na casca e relacionar com a capacidade
funcional [3,5,25,32,34].
Abe et al. [3], observaram que há uma correlação
positiva entre o conteúdo de antocianinas totais e a
capacidade antioxidante da uva, concluindo que quanto mais intensa a coloração da uva, mais interessante
se torna do ponto de vista funcional, já que as uvas
de coloração escura apresentaram maior conteúdo de
compostos fenólicos e capacidade antioxidante.
Em outro estudo, realizado por Dani et al.
[5] foram avaliados alguns parâmetros nutricionais
em oito amostras de sucos de uva branco e tinto da
variedade Niágara e Bordô, produzidos com uvas de
cultivo convencional e orgânico, e eles observaram
que os sucos de uva do tipo tinto apresentaram maior
concentração de compostos fenólicos em relação ao
tipo branco, porém com relação aos tipos de uvas
conforme o cultivo (convencional e orgânico), os
sucos orgânicos apresentaram maior quantidade de
compostos fenólicos, antocianinas e resveratrol que
os sucos de cultivo convencional.
Suco de uva e sua atividade antioxidante
Diante do fato de que o estresse oxidativo está
envolvido na gênese de diversas doenças, e que os
compostos fenólicos presentes principalmente em uvas
e seus derivados atuam de forma benéfica, retardando
ou até impedindo este processo, vários estudos verificaram a correlação positiva entre suco de uva e sua ação
sobre o estresse oxidativo [7,16,35-37] (Tabela I). Estes
estudos investigam desde a dosagem da concentração
de compostos fenólicos em diferentes tipos de sucos
de uva até a capacidade antioxidante destes compostos
in vivo e in vitro [38-42].
188
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
Tabela I - Efeitos benéficos do suco de uva em seres humanos e modelos animais.
Referência
Composto utilizado
Extrato contenSchilachterman do: resveraltrol,
et al. [7]
quercetina e
catequina
Shuklitt-Hale et Suco de uva
al. [8]
concord
Park et al. [10]
Suco de uva
tinto
Dani et al. [16]
Suco de uva
(Vitis labrusca)
Miyagi et al.
[40]
Suco de uva
tinto
Stein et al. [41]
Suco de uva
Concord
Shanmuganaya- Suco de uva
gam et al. [44] Concord
Chou et al. [54]
Suco de uva
Concord
Administração do composto
0,5; 5; 25 mg/kg de peso
corporal, por gavagem 3
vezes por semana durante
118 dias
Amostra
empregada
Camundongos
Resultados
Combinação dos polifenóis contribuiu
para prevenção da metástase e progressão do câncer de mana
A adição do suco de uva na dieta foi
Ratos Fischer capaz de reverter o curso neural e envelhecimento comportamental
Aumento da capacidade antioxidante,
480 mL, via oral, durante 8 Indivíduos
redução de danos ao DNA em linfócitos,
semanas
saudáveis
redução de EROs no sangue periférico
7 µL/g de peso corporal,
Redução da peroxidação lipídica, do
durante 30 dias, após adRatos Wistar dano proteico e aumento da atividade
ministração de CCl4 como
de SOD e CAT
agente agressor
300 mL via oral, tratamento Indivíduos
Inibição da redução colesterol LDL, in
agudo (2h)
saudáveis
vitro
4 mL/kg de peso, via oral,
Melhora da função endotelial; aumenta
Indivíduos
vasodilatação arterial e reduz a susceptiduas vezes por dia durante
com DAC
bilidade à oxidação de colesterol LDL
14 dias.
Redução da pressão arterial; redução
225 mL/dia, via oral, durando colesterol total, redução do desente 96 dias, concomitante a Coelhos
volvimento de ateroma e agregação
dieta hipercolesterolêmica
plaquetária.
640 mL/dia, via oral, duran- Indivíduos
Ingestão do suco de uva moderada e
te 56 dias
com DAC
contínua melhora a função endotelial
Ingestão via oral ad
libitum,durante 8 semanas
DAC = Doença arterial coronariana; LDL = Lipoproteína de baixa densidade; DNA = ácido desoxirribonucleico; EROs = espécies reativas
de oxigênio; CCL4 = tetracloreto de carbono; SOD = superóxido dismutase; CAT = catalase.
Em estudos in vitro, foi evidenciada a atividade
antioxidante, do suco de uva tinto (Bordô), sendo que
este suco apresentou melhor capacidade antioxidante
que outros tipos de suco, como os sucos do tipo branco (Niágara). No entanto, quando foi comparada a
capacidade de degradar o peróxido de hidrogênio, foi
constatado que os sucos de uva do tipo branco foram
superiores ao suco de uva do tipo tinto, isto pode ser
explicado, pois existem diferenças quanto a quantidade
dos polifenóis nos sucos e sua efetiva ação [5,43].
As propriedades antioxidantes proporcionadas
pelos polifenóis (resveratrol e quercetina) presentes na
uva e no suco vem sendo verificadas em alguns estudos
experimentais [7,16,17,37]. Nesta perspectiva, Dani
et al. [16] verificaram que o consumo de suco de uva
tinto, do tipo orgânico, foi associado a uma melhora na
capacidade antioxidante no fígado quando comparado
ao consumo do suco de uva do tipo convencional.
Neste estudo também foi verificado, no fígado, que a
atividade antioxidante está positivamente relacionada
com a concentração de compostos fenólicos no suco de
uva. Conforme os achados, sugere-se que os dois tipos
de suco uva (orgânico e convencional) apresentam
intensa propriedade antioxidante com forte correlação
positiva com a concentração de compostos fenólicos,
podendo assumir que o suco de uva possui atividade
hepatoprotetora [16].
Estudos in vitro mostram que os compostos
fenólicos melhoram a função endotelial e promovem
a vasodilatação, e isto se reflete em estudos in vivo,
onde em indivíduos que ingeriram o suco de uva foi
verificada uma melhora na função endotelial, além de
promover a redução da oxidação do colesterol LDL em
indivíduos com doença arterial coronariana, exercida
pela atividade antioxidante do suco de uva [40-42].
No entanto, em um estudo realizado por Chou [54],
com 22 indivíduos, foi verificado que o suco de uva
melhorou a função endotelial, porém não foi eficaz
em reduzir o processo de oxidação do colesterol LDL
(Lipoproteína de Alta Densidade). Entretanto, em
outro trabalho realizado por Shanmuganayagam et
al. [44] com suco de uva Concord, foi verificado que
o suco de uva do tipo Concord foi capaz de atenuar
a hipercolesterolemia e reduzir a pressão arterial e o
189
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
colesterol plasmático, além de diminuir o desenvolvimento de ateroma em coelhos que receberam uma
dieta hipercolesterolêmica durante 48 dias.
Outros compostos fenólicos presentes na uva,
como o resveratrol, também possuem efeito importante no organismo. Verificou-se que este polifenol, faz
com que células mononucleares do sangue periférico
de humanos sejam capazes de desenvolver atividade
antioxidante, este efeito se dá através da diminuição
significativa de gama-glutamil transpeptidades (GGT),
caspases-3,-8 e da atividade da glutationa-S-transferase, além do índice de peroxidação lipídica [45].
É importante avaliar a capacidade antioxidante
dos tipos de cultivo da uva (convencional e orgânico).
Neste contexto, Dani et al. [16], verificaram em ratos
Wistar que as enzimas antioxidantes SOD e CAT
estavam elevadas no plasma e no fígado dos ratos que
consumiram suco de uva orgânico, além de reduzir os
níveis da peroxidação nos lipídios em comparação aos
animais que ingeriram o suco de uva convencional,
entretanto, os danos proteicos foram reduzidos com
o uso de ambos os sucos (convencional e orgânico).
Entre os benefícios atribuídos ao suco de uva,
também se observou que a ingestão deste produto
pode reduzir ou até mesmo inibir danos causados ao
DNA. Isto foi mostrado por Park et al. [10], em um
estudo com homens e mulheres que ingeriram suco de
uva durante 8 semanas, onde observaram um aumento
da capacidade antioxidante e consequentemente uma
redução no nível de dano ao DNA, além disso eles
constataram que o suco de uva foi capaz de reduzir
a liberação de ERO no sangue periférico. Na mesma
perspectiva, em um estudo realizado por Dani et al.
[46], com ratos adultos, foi observado que os sucos
de uva tinto, orgânico e convencional, reduziram
significativamente os danos ao DNA causados por
tetracloreto de carbono (CCl4), mostrando que o suco
de uva pode ter atividade antigenotóxica.
Outros trabalhos observaram que o aumento do
estresse oxidativo está intimamente ligado a patologias
que causam neurodegeneração como a doença de Alzheimer, tendo como passo antecedente a esta patologia, a oxidação nas membranas celulares dos neurônios
[8,23,40,47-49]. As células nervosas, principalmente
os neurônios, apresentam uma extrema necessidade de
utilização de glicose e de oxigênio para manutenção
da homeostasia do seu funcionamento, e por isso,
estão mais sujeitos aos danos causados pelo estresse
oxidativo, o que acaba induzindo a efeitos muitas
vezes deletérios, inclusive envolvidos em processos de
envelhecimento celular [9]. Diante disso, alguns estudos verificaram que os compostos fenólicos presentes
no suco de uva podem minimizar os danos gerados
pelo estresse oxidativo nas estruturas nervosas [17,50].
Quanto ao envelhecimento, outro estudo com
ratos envelhecidos, foi observado importante atividade
antioxidante o suco de uva sobre estruturas cerebrais,
como cerebelo, hipocampo e córtex cerebral onde se
pode constatar que o houve uma diminuição no processo de estresse oxidativo (processo este induzido por
tetracloreto de carbono), por diminuir a peroxidação
lipídica, sequestrar radicais livres e seu poder em quelar
metais, tudo isto promovido pelos compostos fenólicos
presentes no suco de uva [17]. Isto corrobora com um
estudo realizado com suco de uva Concord, o qual foi
observado que os compostos fenólicos presentes no
suco foram eficazes na reversão do curso do envelhecimento neuronal e comportamental de ratos idosos
[8]. É importante levar em conta também que a casca
e a semente da uva também são ricas em compostos
antioxidantes como flavonóides, catequina, antocianinas, procianidinas, ácidos fenólicos e o resveratrol,
os quais já mostraram ter atividades funcionais [6].
Estudos verificaram que o extrato de procianidinas da
semente da uva demonstrou atividade antioxidante in
vivo, interrompendo danos oxidativos causados nos
tecidos, podendo ser comparado à vitamina E, além
disso, o extrato diminui o processo de peroxidação
lipídica e atua de forma a impedir a formação de
espécies reativas [6,51-53].
Conclusão
Com esta revisão de literatura pode-se concluir
que o suco de uva pode trazer benefícios ao organismo.
Levando em consideração que a uva e o suco de uva
são ricos em compostos fenólicos, não-flavonóides e
flavonóides, tendo atividade antioxidante importante,
além de ser anti-inflamatório, hipocolesterolêmico,
reduz a oxidação do colesterol LDL e melhora a função
endotelial, entre outros benefícios. Porém é importante
considerar o tipo de cultivo da uva (convencional e
orgânico), pois estudos mostraram que os dois tipos
possuem efeitos similares, porém o cultivo orgânico
torna a uva mais rica em compostos bioativos, podendo aumentar o seu efeito, por exemplo sobre a
redução do estresse oxidativo. É fundamental que se
desenvolvam cada vez mais estudos que abordem os
efeitos da uva e seus derivados sobre o organismo e
também que se investigue a possibilidade do consumo
de suco de uva ser um adjuvante na prevenção do
estresse oxidativo e também de outras doenças.
Referências
1. Shrikhande AJ. Wine by-products with health benefits.
Food Res Int 2000;33:469-74.
2. Sautter CK, Denardin S, Alves AO, Mallmann CA,
Penna NG, Hecktheuer LH. Determinação de resve-
190
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
ratrol em sucos de uva no Brasil. Ciênc Tecnol Aliment
2005;25:437-42.
3. Abe TL, Mota RV, Lajolo FM, Genovese MI. Compostos fenólicos e capacidade antioxidante de cultivares
de uvas Vitis labrusca e Vitis vinifera L. Ciênc Tecnol
Aliment 2007;27:394-400.
4. Rizzon LA, Mielle A. Efeito da safra vitícola na composição da uva, do mosto e do vinho Isabel da Serra
Gaúcha, Brasil. Cienc Rural 2006;36:959-64.
5. Dani C, Oliboni LS, Vanderlinde R, Bonatto D, Salvador M, Henriques, JAP. Phenolic content and antioxidant activities of white and purple juices manufactured
with organically- or conventionally-produced grapes.
Food Chem Toxicol 2007;45:2574–2580.
6. Sato M, Bagchi D, Tosaki A, Das DK. Grape seed
proanthocyanidin reduces cardiomyocyte apoptosis
by inhibiting ischemia/reperfusion-induced activation of JNK-1 and C-JUN. Free Radic Biol Med
2001;31:729-37.
7. Schilachterman A et al. Combined resveratrol,
quercetin, and catechin treatment reduces breast
tumor growth in a nude mouse model. Transl Oncol
2008;1:19-27.
8. Shuklitt-Hale B, Carey ABS, Simon LBA, Mark DA,
Joseph JA. Effects of Concord grape juice on cognitive
and motor deficits in aging. Nutrition 2006;22:295302.
9. Sonnen JA, Breitner JC, Lovell MA, Markesbery WR,
Quinn JF, Montine TJ. Free radical-mediated damage
to brain in Alzheimer’s disease and its transgenic mouse
models. Free Radic Biol Med 2008;45:219-30.
10. Park YK, Park E, Kim JS, Kang. Daily grape juice
consumption reduces oxidative DNA damage and
plasma free radical levels in healthy koreans. Mutat
Res 2003;529:77-86.
11. Dizdaroglu M, Jaruga P, Birincioglu M, Rodriguez H.
Free radical-induced damage to DNA: mechanisms and
measurement. Free Radic Biol Med 2002;32:1102-15.
12. Valko M, Leibfritz D, Moncol J, Cronin MTD, Mazur
M, Telser J. Free radicals and antioxidants in normal
physiological functions and human disease. Int J Biochem Cell Biol 2007;39:44-84.
13. Halliwel B. Free radicals and antioxidants - quo vadis?.
Trends Pharmacol Sci 2011;32:125-30.
14. Chauhan V, Chauhan A. Oxidative stress in alzheimer’s
disease. Pathophysiology 2003;13:195-208.
15. Dávalos A, Bartolomé B, Gomez-Cordovés C. Antioxidant properties of commercial grape juices and vinergs.
Food Chem 2005;93:325-30.
16. Dani C et al. Intake of purple grape juice as a hepatoprotective agent in Wistar rats. J Med Food
2008;11(1):127-32.
17. Dani C et al. Protective effects of purple grape juice on
carbon tetrachloride-induced oxidative stress in brains
of adults Wistar rats. J Med Food 2008;11:55-61.
18. Sies H, Stahl W, Sevanian A. Nutricional dietary and
postprandial oxidative stress. J Nut 2005;135:969-72.
19. Jones DP. Disruption of mitochondrial redox circuitry in
oxidative stress. Chem Biol Interactiv 2006;163:38-53.
20. Halliwel B, Gutteridge JMC. In: Free Radicals in
Biology and Medicine. 4nd ed. Oxford: Clarendon
Press, 2007.
21. Dröge W. Free radicals in the physiological control of
cell function 2002;82:47-95.
22. Ferreira ALA, Matsubara LS. Radicais livres: conceitos, doenças relacionadas, sistema de defesa e estresse
oxidativo. AMB Rev Ass Med Bras 1997;43:61-68.
23. Lima ES, Abdalla DSP. Peroxidação lipídica: mecanismos e avaliação em amostras biológicas. Rev Bras Cienc
Farm 2001;37:293-303.
24. Halliwell B. Biochemistry of oxidative stress. Biochem
Soc Trans 2007;35:1147- 50.
25. Malacrida CR, Motta S. Compostos fenólicos totais
e antocianinas em suco de uva. Ciênc Tecnol Aliment
2005;25:659-64.
26. Bourn D, Prescott J. A comparison of the nutritional
value, sensory qualities and food safety of organically
and conventionally produce foods. Crit Rev Food Sci
Nut 2002;42:1-34.
27. Miele A, Rizzon LA, Zanotto DL. Free amino acids
in Brazilian grape juices. Rivista di Viticoltura e di
Enologia 1990;43:15-21.
28. Fuleki T, Ricardo-da-Silva JM. Effects of cultivar
and processing method on the contents of catechins
and procyanidins in grape juice. J Agric Food Chem
2003;51:640-6.
29. Aron PM, Kennedy JA. Flavan-3-ols: Nature, occurrence and biological activity. Mol Nutr Food Res
2008;52:79-104.
30. Kammerer D, Claus A, Carle R, Schieber A. 2004.
Polyphenol Screening of Pomace from Red and White
Grape Varieties (Vitis vinifera L.) by HPLC-DAD-MS/
MS. J Agric Food Chem 2004;52:4360.
31. Koyama K, Goto-Yamamoto N, Hashizume K. Influence of maceration temperature in red wine vinification
on extraction of phenolics from Berry skins and seeds
of grape (Vitis vinifera). Biosci Biotechnol Biochem
2007;71:958-65.
32. Barrio RG, Guevara ML, Barberán FAT, Espin JC. Preparation of a resveratrol-enriched grape juice based on
ultraviolet C-treated berries. Innovative Food Science
and Emerging Technologies 2009;10:374-82.
33. Soleas GJ, Goldberg DM, Diamandis EO, Karumanchiri A, Yan J, Ng E. A derivatized gas chromatographic-mass spectrometric method for the analysis of
both isomers of resveratrol in juice and wine. Am J
Enol Vit 1995;46:346-52
34. Castelnuovo AD, Rotondo S, Iacoviello L, Donati
MB, Gaetano G. Metaanalysis of wine and beer
consumption in relation to vascular risk. Circulation
2002;105:2836-44.
35. Villano D, Fernández-Pachón MS, Troncosco AM,
García-Parrilha. Comparison of antioxidant activity
of wine phenolic compounds and metabolites in vitro.
Analytica Chimica Acta 2005;538:391-398.
36. Mamede MEO, Pastore GM. Compostos fenólicos
do vinho: estrutura e ação antioxidante. Boletim da
CEPPA 2004;22:233-52.
37. Meng X, Maliakal P, Lu H, Lee MJ, Yang CS. Urinary
and plasma levels of resveratrol and quercetin in humans, mice, and rats after ingestion of pure compounds
and grape juice. J Agric Food Chem 2004;52:935-42.
38. Rice-Evans CA, Miller NJ, Bolwell PG, Bramley PM,
Pridham JB. The relative antioxidants activities of
191
Nutrição Brasil - maio/junho 2013;12(3)
plant-derived polyphenolic flavonoids. Free Radic Res
1995;22: 375-8.
39. Mensor LL et al. Screening of Brazilian plant extracts
for antioxidant activity by the use of DPPH free radical
method. Phytother Res 2001;15:127-30.
40. Miyagi Y, Miwa K, Inoue H. Inhibition of human
low density lipoprotein oxidation by flavonoids in red
wine and grape juice. Am J Cardiol 1997;80:1627-31.
41. Stein JH, Keevil JG, Wiebe DA, Aechlimann S, Folts
JD. Purple grape juice improves endothelial function
and reduces the susceptibility of LDL cholesterol to
oxidation in patients with coronary artery disease.
Circulation 1999;100:1050-55.
42. O’Byerne DJ, Devaraj S, Grundy SM, Jialal I. Comparison of the antioxidant effects of concord grape juice
flavonoids and a-tocopherol on markers of oxidative
stress in healthy adults. Am J Clin Nutr 2002;76:136774.
43. Sánchez-Moreno C, Larrauri JA, Saura-Calixto F. Free
radical scavenging capacity and inhibition of lipid oxidation of wines, grape juices and related polyphenolic
constituents. Food Res Int 1999;32:407-12.
44. Shanmuganayagam D, Warner TF, Krueger CG, Reed
JD, Folts JD. Concord grape juice attenuates platelet
aggregation, serum cholesterol and development of
atheroma in hypercholesterolemic rabbits. Atherosclerosis 2007;190:135-42.
45. Losa GA. Resveratrol modulates apoptosis and oxidation in human blood mononuclear cells. Eur J Clin
Invest 2003;33:818-23.
46. Dani C et al. Antioxidant and antigenotoxic activities
of purple grape juice - organic and conventional - in
adult rats. J Med Food 2009;12:1111-8.
47. Zhu X, Lee H, Perry G, Smith M A.Alzheimer disease,
the two-hit hypothesis: An update. Biochim Biophys
Acta 2007;4:494-502.
48. Liu L, Leech JA, Urch RB, Silverman FS. In vivo
salicylate hydroxylation: a potential biomarker for
assessing acute ozone exposure and effects in humans.
Am J Respir Crit Care Med 1997;156:1405-12
49. Grotto D, et al. Rapid quantifi cation of malondialdehyde in plasma by high performance liquid
chromatography-visible detection. J Pharm Biomed
Anal 2007;43(2):619-624.
50. Balu M, Sangeetha P, Haripriya D, Panner-Selvam C.
Rejuvenation of antioxidant system in central nervous
sytem of aged rats by grape seed extract. Neurosc
2005;383:295-300.
51. Bagchi D et al. Protective effects of grape seed proanthocyanidins and selected antioxidants against TPAinduced hepatic and brain lipid peroxidation and DNA
fragmentation, and peritoneal macrophage activation
in mice, General Pharmacolog 1998;30:771-6.
52. Tebib K, Rouanet JM, Besancon P. Antioxidant effects
of dietary polymeric grape seed tannins in tissues of rats
fed a high cholesterol-vitamin E-deficient diet. Food
Chemistry 1997;59:135-41.
53. Bouhamidi R, Prévost V, Nouvelot A. High protection
by grape seed proanthocyanidins (GSPC) of polyunsaturated fatty acids against UV-C induced peroxidation.
Sciences de la vie 1998;321:31-8.
54. Chou EJ, Keevil JG, Aeschlimann S, Wiebe DA, Folts
JD, Stein JH. Effect of ingestion of purple grape juice
on endothelial function in patients with coronary heart
disease. Am J Cardiol 2001;88:553-5.
Calendário de eventos
2013
Agosto
13 a 16 de agosto
12º Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição – SBAN Hotel Mabu Spa & Resort, Foz do Iguaçu, PR
Informações: www.sban.org.br/congresso2013
12 e 13 de setembro
XI Congresso Paulista de Nutrição
Clínica
X Congresso Paulista de Nutrição
Humana
Hotel Maksoud Plaza, São Paulo, SP
Informações: www.nutricaoclinica.com.br
Outubro
3 a 5 de outubro
Mega Evento Nutrição 2013
Centro de Convenções Frei Caneco, São
Paulo, SP
Informações: www.dreamtours.com.br
15 a 20 de setembro
9 a 12 de outubro
Setembro
20th International Congress of Nutrition
Granada, Espanha
Informações: www.icn2013.com
5 a 7 de setembro
25 a 27 de setembro
XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Diabetes
Florianopolis, SC
Informações: www.diabetes.org.br
CBNE - Congresso Brasileiro de Nutrição e Envelhecimento Porto Alegre, RS
Informações: www.cbne2013.com.br XVII Congresso Brasileiro de Nutrologia
XVIII Simpósio de Obesidade e Síndrome Metabólica
Maksoud Plaza, São Paulo, SP
Informações: www.abran.org.br/congresso

Documentos relacionados

Atividade anti-oxidante

Atividade anti-oxidante um conduzido com homens saudáveis que consumiram doses de 50 ou 80ml/dia14 e outro, com indivíduos hipertensos que ingeriram 50ml/dia15. Outros resultados interessantes foram encontrados em estudos...

Leia mais