Arafat e Kadafi - João Herculino

Transcrição

Arafat e Kadafi - João Herculino
Arafat e Kadafi
Sou um homem que gosta muito de viajar, conhecer culturas diferentes. Como
parlamentar e empresário, mantive uma agenda de compromissos internacionais que me
proporcionaram experiências incríveis, gratificantes mesmo.
Enumera-las, agora, seja uma narrativa talvez cansativa para os leitores, mas é
possível avaliar o quanto vivi, até de situações inusitadas, por causa das viagens e das
personalidades que conheci.
Relatei o que passei, durante o regime militar, por causa de uma delas, quando
vasculharam minha casa, e recolheram como prova contra mim, um texto manuscrito,
encontrado em uma caixa de biscoito, que acreditaram ser algum manual de subversão
preparado pelos russos.
Na verdade, o texto era escrito em alemão, pelo então chanceler Willi Brandt, que
fazia uma saudação ao Brasil, que, naquela ocasião, estava sendo representado por mim.
Outras duas personalidades me marcaram, essas no mundo árabe: Yasser Arafat, o
líder da OLP, e o coronel Muamar Kadafi, o homem forte da Líbia.
Sempre tive muita vontade de conhecer Arafat, um homem incrível, eleito presidente
da Autoridade Palestina com 88,1% dos votos, que lhe asseguraram um passaporte de
democrata, algo difícil de se imaginar no mundo árabe, além do reconhecimento de sua
importância internacional.
Yasser Arafat, a partir daí, foi o responsável pelo equilíbrio de forças na região cheia
de conflitos étnicos. Ele deu continuidade ao processo de paz com Israel, que sempre foi
visto como sua tábua de flutuação política.
Abu Amar, nome de guerra de Arafat, que significa pai construtor, nem de longe
parece com aquele sanguinário que boa parte da humanidade acreditou ser, através do perfil
que a mídia traçava dele nos anos 60 e 80.
Estive com ele em Gaza, há quase 20 anos, e fiquei contagiado pela sua simpatia, o
carisma que envolve qualquer um pela conversa, mas principalmente pelo seu raciocínio
cerebral, muito bem informado a respeito de qualquer assunto, e sua presença de espírito.
Quando fui ao seu encontro tive o cuidado de levar-lhe um presente que marcasse a
presença do Brasil - um mapa do nosso País, em uma medalha de ouro, com pedras
semipreciosas incrustadas.
Surpreso com meu gesto, logo em seguida pareceu-me que estava em uma situação
desconfortável. Lamentava, mas não tinha nada para me retribuir o presente. Foi, então,
que, de repente, retirou do coldre seu inseparável revólver, abriu o tambor e fez despencar
na mão esquerda uma bala.
Com o ar triunfal, sorrindo muito, retribuiu o presente. Aí o sorriso acabou em uma
explosão de gargalhada com o comentário que fiz:
- Esta bala me coloca na condição de credor dos sionistas... É menos uma baixa que
poderiam registrar!
Outra personalidade impressionante que conheci, e com a qual estabelecemos uma
longa conversa, foi o coronel Muamar Kadafi, apontado no mundo inteiro como terrorista,
sanguinário.
Estive com ele na Líbia, em uma época difícil, quando dois compatriotas seus foram
acusados pela Justiça internacional de derrubar, em um atentado, o Boeing da Pan Am
sobre Lockerbie, na Escócia, matando 270 pessoas. Naquela semana, ele havia decidido
entregá-los.
Conheci uma tenda que lhe serve como palácio, em pleno deserto, e fiquei surpreso
com a humildade daquele homem, que, durante três décadas, foi apontado como
financiador de revoluções e terrorismo pelo mundo. Parecia um homem preocupado em
tempo integral em se apresentar como perseguido (em 1992 a ONU determinou sanções
internacionais contra seu País), além de sofrer bombardeio pesado dos americanos.
Além dessa preocupação permanente em melhorar sua imagem no mundo, chamou
minha atenção pela curiosidade que demonstrava ter com relação ao Brasil e sua
agricultura. De tanto me perguntar sobre a capacidade produtiva do nosso solo, propus que
nos fornecesse petróleo, investisse em megaprojetos agrícolas por aqui, e teria todo o
alimento que precisasse para seu povo.
Ele mordiscou os lábios, os olhos brilharam, e admitiu que essa seria uma grande
parceria, se o Governo brasileiro aceitasse...
João Herculino e Arafat, em um raro
momento de descontração do líder da OLP
Kadafi revela a Herculino interesse
pelo Brasil

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