Sábado (B) - 6.2.2010 - 5
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Sábado (B) - 6.2.2010 - 5
Gazeta de Alagoas B | SÁBADO, 06 DE FEVEREIRO DE 2010 | O RESSURGIMENTO Reprodução Saudosistas, amantes, malucos. Eis algumas das ‘pechas’ atribuídas aos colecionadores de discos de vinil, os simpáticos ‘bolachões’. De maior consumidor mundial do formato há 15 anos, o Brasil viu sua única fábrica fechar as portas em 2008, na contramão do mercado internacional. Agora, com a reabertura da Polysom, o País finalmente parece pegar carona no fenômeno – que pode servir de tábua de salvação para a indústria. Nesta edição, você vai ficar por dentro das últimas novidades no setor. E quando ouvir a ladainha sobre a morte do vinil, responda de batepronto: ‘O vinil nunca morreu!’ | RAMIRO RIBEIRO Repórter Foram dez anos de discurso repetido: o advento do CD e, anos mais tarde, do mp3 extinguiu a música no formato vinil. LPs, compactos e singles seriam definitivamente peças de museu. O futuro apontava para a música digital, rápida e acessível a qualquer momento, de qualquer lugar. O que parece ter sido a conversa pra boi dormir mais eficiente da história da indústria cultural – que obrigou o consumidor a renovar e atualizar sua coleção de música sempre que a mais nova tecnologia da última semana surgia, toda faceira –, desmorona de maneira impiedosa. E a mídia embarcou nessa. Não foram poucas as matérias proclamando a condenação dos discos de vinil aos guetos dos sebos e lojas de usados, perdidos entre prateleiras empoeiradas, vítimas do ostracismo cruel dos dias modernos. O movimento silencioso e consistente de idas aos sebos nunca foi visto com grande relevância, era mais uma “excentricidade”, ponderavam aqueles que lançaram seus discos pela janela e compraram os mesmos títulos em CD, tudo em nome da praticidade. Pois bem, o mp3 mudou tudo isso. Com a digitalização da música e sua inevitável pirataria, de repente o CD perdeu sua importância como bem durável e objeto de desejo do consumidor. A queda vertiginosa na venda de música no formato físico acendeu o sinal vermelho das gravadoras – a comercialização digital está aquém de seu potencial por ignorância e teimosia dos executivos das gravadoras, que não acompanharam a verdadeira revolução que atingiu o antes ritualístico ato de ouvir “a música preferida”. Hoje, ela se encontra ali, a poucos cliques no computador. Foi então que as atenções se voltaram para o clube – que continuava crescendo – dos aman- tes incondicionais do vinil. Alguns, curiosos que não vivenciaram seu apogeu, outros, que não leiloaram suas coleções e que continuaram garimpando relíquias e eventuais novidades importadas nas lojas especializadas, as mesmas lojas que detectaram esse início de mudança com o incremento da procura por vinis nos últimos cinco anos. Com o pires na mão, as grandes gravadoras que monopolizam o mercado enfim acordaram: agora, anunciam lançamentos e relançamentos no formato. O Brasil enfim pega carona no que acontece ao redor do mundo, onde a produção e a venda de vinis só fazem subir a cada ano, com índices de crescimento acima dos 120%, disparado o formato que mais cresce hoje. Já não é novidade que as bandas mais antenadas fazem questão de lançar seus trabalhos em LP. As lojas, que acompanhavam a derrocada geral do mercado, encontraram uma sobrevida. Fora do Brasil, é comum a seção de vinil ser maior que a de CDs. Aqui, porém, esse processo engatinha. A Polysom, única fábrica da América Latina, encerrou suas atividades em 2008 e reabre agora, apostando que parte dos auspiciosos números estrangeiros podem respingar no mercado local. Dois mil e dez vai ser um ano-chave para sabermos se o vinil encontrará novamente um espaço digno nos catálogos das gravadoras. O formato, que nunca chegou perto de morrer, continuou sendo valorizado pelos audiófilos e amantes da música que também não necessariamente abrem mão de ouvir um CD ou um arquivo digital. Todos os formatos são válidos, e têm seus momentos ideais de apreciação. Colocar um disco numa vitrola sempre esteve envolto numa aura um tanto quanto mágica. O vinil foi esquecido e, agora, é resgatado pelo mercado, que volta a lhe conferir o status que os amantes da música nunca deixaram de sentir e enxergar. A volta da Polyson pode reaquecer o mercado de LPs no Brasil NÚMEROS DO MERCADO FONOGRÁFICO Cópias comercializadas no mercado americano 2007 2008 2009 1,3 milhões 1,9 milhões 2,5 milhões Fonte: Recording Industry Association of America, 2010 Mercado fonográfico brasileiro: divisão por formatos Digital 12% DVD 27% 147,7% Foi o crescimento da venda de LPs e EPs em 2008 nos EUA Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Disco – ABPD, 2008 CD 61% 40 mil É a previsão de cópias produzidas pela Polysom em 2010 Única fábrica da América Latina volta a produzir Criada em 1999 em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, para atender à demanda do mercado de música gospel da região, a primeira encarnação da Polysom resistiu até meados de 2008, quando sucumbiu à quantidade cada vez menor de encomendas, na época restringidas a artistas e selos independentes e de hip hop. A iniciativa de retomada da produção partiu da dupla João Augusto e Rafael Ramos, da gravadora Deckdisc. A única fábrica de vinil da América Latina voltou a funcionar nos primeiros dias deste ano de 2010. Os primeiros discos produzidos são as versões em LP dos lançamentos mais recentes de Pitty, Cachorro Grande, Nação Zumbi e Fernanda Takai, todos artistas da Deck. Mas a fábrica se adianta e anuncia que atenderá solicitações de outras gravadoras, selos e pedidos sob encomenda. Todo o maquinário foi remontado e várias peças recondicionadas, uma vez que não se produz mais o equipamento necessário para a fabricação dos LPs e compactos. A previsão inicial é que sejam produzidos 40 mil exemplares em 2010 e que, com o mercado efetivamente reaquecido, os números aumentem, mesmo com o caráter de item para colecionador que o estilo pode exibir, como ocorre lá fora, com a reedição de clássicos do rock. Com planos de aproveitar a lacuna do mercado e exportar para outros países da América do Sul, a fábrica negocia também a importação de toca-discos com empresas de fora do País. |RR CONTINUA NA PÁG. B2 B2 CADERNO B Gazeta de Alagoas SÁBADO, 06 DE FEVEREIRO DE 2010 Divulgação Romeu de Loureiro [email protected] Bodas de Vidro Maria Cleone e José Francisco da Costa Filho (ele imortal do IHGAL e da Academia Alagoana de Letras) festejaram, dia 23, (com Missa de Ação de Graças e jantar à luz de velas) suas Bodas de Vidro (58 anos de casamento). CASAMENTO NA ALTA A alta sociedade tradicional alagoana tem encontro marcado, logo mais, às 20 horas, no Armazém Uzina (Jaraguá) – especialmente decorado pela interior designer Eva Quintella Brandão Amaral – onde será realizado o casamento (seguido de recepção) de Bruna Pinto Amaral e Diego Gentile Teixeira de Carvalho. Filiação A noiva herdeira do casal Maria Olívia (nascida Pinto) e Mair Amaral Filho. O noivo nascido do casamento de Rosane Maria Gomes Gentile com José Arquimínio Teixeira de Carvalho Neto. No “Ze Pereira” Honrando a coincidência de seu nome com o da legendária figura de folião dos carnavais de outrora, o restauranteur José (Zé) Pereira promoveu, no último domingo, uma prévia carnavalesca, no Espaço Pierre Chalita – que se estendeu por dez horas de animação graças ao revezamento das bandas no palco. Houve até a apresentação de uma famosa banda, só de percussão, “importada” do Recife: a Patusco. Encerrou o evento a banda Esquadrão de Bali, com Lucas Rojas arrasando no sax e a bela crooner Fabiana Canuto cantando e encantando. Presentes Entre os presentes ao “Zé Pereira”, vários socialites locais – como Vânia Lages Coutinho, Tereza Malta, Edila e Maurício Nogueira, Regina e Zequinha Maranhão Torres, Yvette Beltrão Brêda e Carlos Leão, Thaíse e José Júnior Leão de Melo, Fábio Sarmento (com o filho) – e de fora (como o capitão Alexandre Magno, vindo do Maranhão ) e dois colunistas: Ana Monteiro e o titular desta coluna. Escritor e poeta consagrado (é membro da Academia Alagoana de Letras), Sylvio Von Söhstein Gama resolveu reescrever trechos da história de sua vida em versos. Mais precisamente, em sextilhas. A obra é a 38ª que Von Söhstein lança. ››› CURTINHAS ››› Lembrete: amanhã, às 10 horas, no salão nobre do IHGAL, o primeiro concerto da temporada de 2010. Com entrada franca (como sempre). ››› Desta feita, teremos os cantores líricos Bruno Sandes e Luciano Peixoto – acompanhados pelas pianistas Fátima de Brito e Selma Teixeira Britto. Camarote Algumas dezenas de personalidades – nominalmente convidadas pelo megaempresário Emerson Tenório – terão o privilégio de assistir ao desfile do Bloco Pinto da Madrugada (que deverá arrastar umas cem mil pessoas), bem acomodadas no Camarote Sococo/Edécio Lopes, montado nas vizinhanças do Iate Clube Pajussara – todo climatizado, com ambientação do interior designer Rodrigo Barbosa, serviços de buffet por Izabel Pinheiro e música eletrônica comandada pelo DJ Peixe. Para entrar, camiseta e pulseira especiais. Em sextilhas Tiago de Lima Costa e Clícia Regina Marinho de Freitas, que resolveram oficializar o noivado por estes dias ››› No programa anunciado, peças de Bizet, Puccini, Mario de Andrade, Villa-Lobos e do alagoano Heckel Tavares. Jô Carnaúba – Cortesia O casal Maria Cleone (nascida Lisboa Martins) e José Francisco da Costa Filho: Bodas de Vidro (58 anos de casamento) Robson Lima Megaempresário Emerson Tenório, o grande anfitrião de logo mais na Praia da Pajuçara | CONTINUAÇÃO DA PÁGINA B1 | Gravadoras investem no segmento DAS GRANDES SONY, EMI E SOM LIVRE ÀS INDEPENDENTES, A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA NACIONAL VOLTA A APOSTAR NO VINIL | RAMIRO RIBEIRO Repórter A reabertura da Polysom representa a entrada tardia do Brasil no cenário do reaquecimento do formato, que tem alcançado bons índices de comercialização na Europa nos últimos anos. Para se ter uma ideia, somente no mercado dos EUA as vendas vêm apresentando um crescimento constante desde 2006 – a expectativa era vender dois milhões de cópias em 2009. No Brasil, aos poucos, as gravadoras aderem a esse revival e anunciam seus planos. A Sony lançou a série Meu Primeiro Disco, com a reedição das estreias de nomes como João Bosco, Engenheiros do Hawaii e Chico Science & Nação Zumbi. A EMI planeja o relançamento da discografia da Legião Urbana e a Som Livre também deve entrar no segmento. Mas mesmo no período das vacas magras os amantes do vinil conseguiam encontrar lançamentos por aqui. Los Hermanos, Ed Motta e Lenine foram alguns dos nomes que adotaram o for- mato em seus últimos trabalhos, como forma de agradar um nicho do público consumidor. O mercado independente também se esforçou para manter a chama acesa no País. Especializado no rock underground, o selo Monstro Discos, de Goiânia, sempre lançou compactos dos artistas de seu elenco. Em seu site (monstrodiscos.com.br) é possível encontrar exemplares de bandas como MQN, Wry, Ratos de Porão, Júpiter Maçã e Autoramas. A banda carioca, aliás, responde pelo selo dedicado exclusiva- mente ao vinil, o Gravadora Discos. A iniciativa do vocalista e aficionado Gabriel Thomaz já lançou títulos de Lafayette & Os Tremendões e dos The Feitos, além de sua parceria com os brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju. Tanto a Monstro quanto a Gravadora Discos eram antigos clientes da Polysom. EDIÇÕES LIMITADAS Recentemente, outra iniciativa de um abnegado surgiu na cena indie nacional. Em pouco mais de um ano, o selo Vinyl Land, ca- pitaneada pelo mineiro Luiz Valente, lançou compactos simples das bandas Canastra, Rock Rocket, Dead Lovers Twisted Heart, Fungos Funk, do carioca Lê Almeida, e mais uma vez do Autoramas. O foco do selo são edições limitadas, lados B, versões ao vivo ou inéditas. Já sem a fábrica local, a Vinyl Land se valeu de uma verdadeira engenharia global para produzir seus discos, que eram prensados na Alemanha e embalados na Ásia. A situação se assemelha em parte à do mercado america- LINKS Imagens: reprodução Com exceção de alguns sebos na região central da cidade, Maceió não é um lugar dos mais pródigos para os adeptos do ‘culto ao vinil’. A seguir, apresentamos uma seleção caprichada de sites para você ficar por dentro das últimas quando o assunto são os ‘bolachões’. SELOS NACIONAIS ›› Monstro Discos – Monstrodiscos.com.br ›› Vinyl Land – Vinyllandrecords.com Divulgação LANÇAMENTOS ›› Livraria Cultura – livrariacultura.com.br/scripts/ musica/vinis/vinil.asp ›› Amazon – amazon.com – Os lançamentos do mercado norte-americano e toca-discos de várias marcas e preços TOCADORES ›› Ribeiro e Pavani – ribeiroepavani.com.br – Importadora de rádios, vitrolas e juke boxes em estilo retrô ›› Na Europa – ionaudio.com/turntables e en.numark.com/ turntables3 – Principais marcas europeias. Produzem modelos com entradas para USB e tocadores digitais no, onde nove em cada dez bandas alternativas lançam seus álbuns também – e principalmente até – em LP. Só que lá, ao contrário daqui, o mercado abraçou e investiu forte no segmento. SEBOS ›› Baratos da Ribeiro (RJ) – baratosdaribeiro.com.br ›› Faunus Discos (SP) – faunus.com.br ›› Baratos Afins (SP) – baratosafins.com.br ›› Velvet CDs (SP) – velvetcds.com.br
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