Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…
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Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírito Santo - BR DIANA MEYERFREUND Tese de Doutorado em Ciências Fisiológicas (Fisiologia Cardiovascular) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Vitória, Outubro de 2006 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS Diana Meyerfreund Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírito Santo - BR ORIENTADOR Prof. Dr. José Geraldo Mill Dissertação de Doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo para a obtenção do grau de Doutor em Ciências Fisiológicas. Vitória,2006 2 Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírito Santo - BR DIANA MEYERFREUND Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Fisiológicas - Fisiologia Cardiovascular. Aprovada pela Comissão Examinadora formada pelos professores: _________________________________________ Prof. Dr. José Geraldo Mill- Orientador,UFES ______________________________________ Prof. Dr. Fernando Luiz Herkenhof Vieira-UFES _________________________________________ Prof. Dr. Roberto de Sá Cunha- UFES _________________________________________ Prof. Dr. José Eduardo Krieger-USP ______________________________________ Prof. Dr. Renato Morelato-Emescam UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Vitória, outubro de 2006 3 Meyerfreund, Diana Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírito Santo- BR / Vitória, 2006. 125p. Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito Santo. Orientador: Prof. Dr. José Geraldo Mill 1. Hipertensão Arterial 2. Risco Cardiovascular 3. Grupos étnicos 4.Índios Sul Americanos 4 Dedico esta tese às crianças da minha vida, aos meus filhos, Rafael, e a pequena Ellen, seja bem vinda. 5 AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos ao professor José Geraldo Mill, por sua natureza empreendedora, pelo seu dinamismo e pela vida de dedicação ao ensino e a pesquisa. Agradeço pela sua presença em todas etapas de execução deste trabalho e pela oportunidade de partilhar idéias e avançar cada vez mais. Agradeço as lideranças Indígenas, bem como a todos os participantes do estudo pela receptividade com que nos receberam, pela participação efetiva e apoio sem o qual não seria possível a realização deste trabalho. Agradeço de modo especial ao Dr. Dioscórdes Marcelo Campos e a todos que atuam nas Unidades de Saúde indígenas, principalmente aos agentes de saúde indígenas que participaram de forma bastante efetiva na realização deste trabalho. Agradeço a todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências fisiológicas por compartilharem seus conhecimentos fazendo com que o meu interesse pela pesquisa científica crescesse cada vez mais. Minha gratidão especial ao laboratório de Genética Molecular do Incor- FMUSP em particular a Marcilene Peixoto Floriano pela disponibilidade que sempre me auxiliou. Agradeço a Yara Nascimento de Oliveira pela dedicação e importante desempenho na coleta de dados neste trabalho. Minha gratidão a Eliana da Silva Regina pelo apoio constante que foi fundamental na realização deste trabalho. A doutoranda Cristina Gonçalves, por toda ajuda a mim dispensada e pela amizade que só fez crescer durante o convívio no laboratório de fisiopatologia cardiovascular. 6 Aos demais colegas pós-graduandos o meu agradecimento pela ajuda mútua prestada e por poder compartilhar erros e acertos. Agradeço ainda a contribuição de todos os funcionários do programa de pós-graduação em particular ao que participou ativamente na elaboração do banco de dados deste estudo. Agradeço de modo especial a minha família pela compreensão do tempo perdido de nosso convívio dedicado à conclusão desta tese de doutorado. 7 LISTA DE ABREVIATURAS HA – Hipertensão arterial ANOVA – Análise da Variância DP – Desvio Padrão da Média IAM – infarto agudo do miocárdio HVE – hipertrofia ventricular esquerda ECA – enzima conversora de angiotensina iECA – inibidor de enzima conversora de angiotensina At – Angiotensinogênio DMNID – Diabetes Mellitus não Insulino Dependente CT – Colesterol Total HDL-c – Lipoproteína de Alta Densidade LDL-c – Lipoproteína de Baixa Densidade PA – Pressão Arterial PAM – Pressão Arterial Média PAD – Pressão Arterial Diastólica PAS – Pressão Arterial Sistólica PP – Pressão de Pulso IMC – Índice de Massa Corporal HUCAM – Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes NECP – National Educational Cholesterol Program NHANES – National Health and Nutrition Examination Survey JNC VI – Comitê Nacional Americano para detecção, avaliação e tratamento e prevenção da hipertensão arterial. 8 SUMÁRIO PÁGINA I. RESUMO ...................................................................................................................16 II. ABSTRACT................................................................................................................18 III. INTRODUCÃO...........................................................................................................20 1. FATORES AMBIENTAIS RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DE HIPERTENSÃO.........................................................................................................22 1.1 - MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA..............................................................22 1.2 - OBESIDADE E DIABETES................................................................................23 1.3 - FATORES SÓCIOS ECONÔMICOS..................................................................24 1.4 - SAL E HIPERTENSÃO ARTERIAL....................................................................25 2. BASES GENÉTICAS DA HIPERTENSÃO ARTERIAL..............................................28 2.1- GENE DO ANGIOTENSINOGÊNIO....................................................................33 2.2- GENA DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA.................................34 3. ESTUDO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL EM ÍNDIOS.............................................35 VI. OBJETIVOS.............................................................................................................35 1- OBJETIVOS GERAIS................................................................................................36 2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................36 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................................37 1- PLANEJAMENTO DO ESTUDO................................................................................39 9 1.5 CRITÉRIO DE INCLUSÃO...................................................................................39 2- PROTOCOLO............................................................................................................40 3- ANÁLISE DE DADOS................................................................................................47 3.1 – MEDIDA E CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL ..............................47 3.2 – DISLIPIDEMIAS...............................................................................................48 3.3 – DIABETES MELLITUS.....................................................................................49 3.4 – T ABAGISMO...................................................................................................49 3.5 – ANÁLISE DOS PARÂMETROS ANTOPOMÉTRICOS....................................49 3.6 – HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA.................................................50 3.7 – ANÁLISE DOS PARÂMETROS URINÁRIOS..................................................51 4- RISCO CORONARIANO……....................................................................................52 5- ANÁLISE DOS POLIMORFISMOS…........................................................................53 6- ANÁLISE ESTATÍSTICA...........................................................................................54 RESULTADOS................................................................................................................56 1- CARACTERÍSTICA DA AMOSTRA..........................................................................57 2- FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES....................................................... 63 3- CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL...........................................................68 4- ANÁLISE DOS PARÂMETROS HEMODINÂMICOS.................................................72 5- CORRELAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA E DIASTÓLICA COM PARÂMETROS ESTUDADOS...................................................................................78 6- ANÁLISE DOS POLIMORFIMOS DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA E DO ANGIOTENSINOGÊNIO NOS TUPINIQUINS E GUARANIS..........................90 10 DISCUSSÃO..................................................................................................................94 1- PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO................................................................95 2- PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO................................................................96 3- LIMITAÇÕES DO ESTUDO............................................ ........................................105 CONCLUSÃO................................................................................................................109 IX. REFERÊNCIAS ...................................................................................................112 ANEXO I ANEXO II 11 LISTA DE TABELAS PÁGINA TABELA 1. Representatividade da amostra. População elegível e estudada, estratificada segundo sexo, faixa etária e aldeia de residência.......................................................................................................................58 TABELA 2. Distribuição da amostra , estratificada segundo a faixa etária, etnia e escolaridade...................................................................................................................58 TABELA 3. Características antropométricas, bioquímicas e clínicas da amostra, estratificada segundo a etnia......................................................................................60 TABELA 4. Características antropométricas, bioquímicas e clínicas da amostra, estratificada segundo sexo..........................................................................................61 TABELA 5. Parâmetros urinários, estratificados segundo a etnia................................................................................................................................62 TABELA 6. Prevalência de fatores de risco cardiovascular na amostra..........................................................................................................................64 TABELA 7. Presença de hipertrofia ventricular esquerda na amostra, segundo critério de Sokolow Lyon e Homilt-Estes...................................................................65 TABELA 8. Cálculo do Risco Coronariano nos indígenas do Espírito Santo, estratificado pela etnia.................................................................................................66 12 TABELA 9. Risco de ocorrência de eventos coronarianos, nas reservas indígenas do Espírito Santo, estratificado pela etnia..................................................................66 TABELA 10. Classificação da pressão arterial, estratificado segundo a etnia................................................................................................................................69 TABELA 11. Prevalência de hipertensão arterial nas comunidades indígenas do Espírito Santo................................................................................................................69 TABELA 12. Parâmetros hemodinâmicos, estratificado segundo a etnia................................................................................................................................71 TABELA 13. Ajuste da pressão arterial média pela idade, nos diferentes grupos étnicos............................................................................................................................72 TABELA 14. Ajuste da pressão arterial sistólica pela idade nos diferentes grupos étnicos............................................................................................................................73 TABELA 15. Ajuste da pressão arterial diastólica pela idade nos diferentes grupos étnicos............................................................................................................................73 TABELA 16. Medidas hemodinâmicas, dados bioquímicos e antropométricos , estratificado segundo etnia nos normotensos e hipertensos .................................75 TABELA 17. Medidas hemodinâmicas, dados bioquímicos e antropométricos , estratificado segundopredisposição familiar de Hipertensão arterial..................................... .......................................................................................77 TABELA 18. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos nos indígenas Tupiniquins, aldeados no Espírito Santo..................................................78 13 TABELA 19. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos nos indígenas Guaranis aldeados no Espírito Santo.......................................................78 TABELA 20.Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas à pressão arterial sistólica(PAS), na etnia Tupiniquim .........................................................................................................................................87 TABELA 21. Resultados da análise de regressão linear mútipla por etapas das variáveis associadas à pressão arterial sistólica (PAS), na etnia Guarani .........................................................................................................................................88 TABELA 22. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas à pressão arterial diastólica (PAD), na etnia Tupiniquim....................................................................................................................89 TABELA 23. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas à pressão arterial diastólica (PAD), na etnia Guarani...........................................................................................................................89 TABELA 24. Distribuição da freqüência dos polimorfismos estudados nas diferentes etnias............................................................................................................91 TABELA 25. Análise univariada para os fenótipos de pressão arterial sistólica nas diferentes etnias............................................................................................................92 TABELA 26. Análise univariada para os fenótipos de pressão arterial diastólica, nas diferentes etnias.....................................................................................................92 14 LISTA DE FIGURAS PÁGINA FIGURA 1. Probabilidade de ocorrência de eventos coronarianos em 10 anosnas reservas indígenas do Espírito Santo, estratificada pela etnia .........................................................................................................................................67 FIGURA 2. Níveis de pressão arterial sistólica e diastólica nas aldeias indígenas do Espírito Santo..........................................................................................................74 FIGURA 3. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sistólica com variáveis antropométricas e a idade nos Tupiniquins...............................................................79 FIGURA 4. Gráficos de dispersão entre pressão arterial sistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins.............................................80 FIGURA 5. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial diastólica com variáveis antropométricas e idade nos Tupiniquins.................................................................81 FIGURA 6. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial diastólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins.............................................82 FIGURA 7. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sistólica com variáveis antropométricas e idade na etnia Guarani.................................................................83 FIGURA 8. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani.............................................84 15 FIGURA 9. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial diastólica com variáveis antropométricas e idade na etnia Guarani.................................................................85 FIGURA 10. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani.............................................86 16 Resumo Introdução: Fatores genéticos são importantes determinantes da pressão arterial (PA) em populações ameríndias. O indígena brasileiro em seu modo primitivo de vida possui baixos valores de PA, sendo incomum a ocorrência de hipertensão arterial (HA) e outras doenças cardiovasculares (DCV). O aparecimento da HA nestas populações tem sido associado à adoção de estilo moderno de vida. Entretanto as interações gene vs ambiente levando à HA e DCV permanecem obscuras. Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular e polimorfismos gênicos do sistema renina-angiaotensina-aldosterona (SRAA) em duas tribos indígenas vivendo sob influências ambientais semelhantes em Aracruz, ES (Guaranis, n=60, e Tupiniquins, n=496) e um grupos de não índios (a maioria mestiços, n=114) que convivem na reserva tupiniquim. Métodos: Estudo em corte transversal em todos os indivíduos com idade ≥20 anos residentes das reserva indígena de Aracruz, ES. A taxa de comparecimento ao estudo foi de 80% sendo incluídos 670 indivíduos (352 mulheres e 318 homens) no estudo. O exame clínico consistiu de entrevista, exame físico (antropometria), ECG e aferição da PA em ambiente clínico. Amostras de sangue de jejum foram obtidas para medidas de glicemia, lipídeos e creatinina. A urina foi coletada durante 12 h (noite) para medida da excreção de Na e K. DNA foi extraído para determinação dos polimorfismos gênicos do angiotensinogênio (235T) e enzima conversora de angiotensia (D/I). Resultados: Os Tupiniquins e outros mestiços apresentaram maior prevalência de HA (20 e 17,5%) do que os Guaranis (1,5%). A prevalência de tabagismo foi maior no grupo Guarani (60%) do que nos Tupiniquins (33%) e não índios (26,3%) (P<0,001). Não houve diferenças estatísticas nas prevalências de obesidade (IMC≥30 kg/m2), diabete e colesterol elevado (>200 mg/dL) entre os grupos, sendo, respectivamente, de 22,8, 1,5 e 50,9% nos Guaranis, 14,9, 4,2 e 40,7% nos Tupiniquins e 1,4, 6,1 e 44,7% nos não índios. A PA sistólica e diastólica foi menor nos guaranis (107±14/70±10mmHg) do que nos Tupiniquins (122±20/78±11mmHg), mesmo após ajuste para idade e IMC, (P<0,01). Observamos aumento linear da PAS e PAD com a idade, os Guaranis apresentaram coeficientes angulares mais baixos (PAS=93,7 + 0,405 x idade) r= 0,39 comparados aos Tupiniquins 17 (PAS=93,6+0,77 x idade) r= 0,5 e não índios (PAS= 91,33 + 0,74 x idade) r= 0,47, P=0,012. A Distribuição do polimorfismo M235T do AT foi de : 74,4%(TT), 21,6(MT) e 3,9(MM) para os Guaranis, 43,0%(TT) 47,9(MT) e 9,1(MM) nos Tupiniquins e 49,1(TT) 39,3(MT) 11,6(MM) nos outros mestiços. Conclusôes:Fatores genéticos são importantes para explicar diferenças na pressão arterial de indígenas vivendo sob influências ambientais semelhantes. O consumo de sódio estimado em 13g/ dia é similar aos valores encontrados na população urbana de Vitória. Os baixos valores de pressão arterial não se mantém com a idade. Os coeficientes angulares são mais baixos nos Guaranis, mesmo com alto consumo de Na. Em Vitória o genótipo TT foi associado com aumento de PA. Neste estudo os Guaranis que tem alta freqüência do genótipo TT, possuem pressão mais baixa. O genótipo TT provavelmente não é causalmente associado ao desenvolvimento de HAS. 18 Abstract Introduction:Genetic factors are importants in the blood pressure phenotype. The increase of blood pressure among Amerindians communities has been associated with adoption of a modern lifestyle. Objectives: We investigated the prevalence of cardiovascular risk factors in two different Indians tribes living under the same environmental influences, Aracruz, Brazil. Methods: We study 670 individuals (352 females 318 males) with different levels of admixture: Guaranis with no admixture and Tupiniquins with higher levels of admixture. Participation rate was 80%. The clinical examination consisted of a personal interwied and physical examination. Fasting blood samples are obtained for measures for glicemia, lipids, lipoproteins, plasma creatinine. Overnight Urine collections were obtained for measures of Na, K and urinary creatinine.Genomic DNA was extracted. Genotypes were detected by polymerase chain reaction (PCR). Results: The urinary sodium excretion was 100±54mEq /12h. The Tupiniquins and non indians participants having higher prevalence Hypertension (20%) e (17,5%) compared with Guaranis(1,5%).The prevalence of and smokers are higherin guaranis (60%) than Tupiniquins (33%) and non Indians (26,3) %)χ2= 0,001.The blood pressure level were lower in Guaranis 107±14/70±10mmHg compared with Tupiniquins 122±20/78±11mmHg, even after age imperative adjustment. We observe a linear increase of systolic and diastolic blood pressure with age, Guaranis having lower linear and angular coefficients (SBP=93,7+0.405 x age)r=0,39 compared with tupiniquins(SBP= 93,6+0,77x age) r=0,5 and non Indians subjects (SBP= 91,33+0,74x age) r= 0,47, P=0,012. In a multiple logistic regression model adjusted for age, sex and WCI the higher admixture group was significantly higher risk for hypertension. Conclusions: Genetic factors are important to explain differences of blood pressure in Amerindians living under similar environmental exposures. The sodium consumption estimated in13g/day is similar to those values in urban population of Vitória. The increase of systolic and diastolic blood pressure with age (mmHg/year) are similar in higher admixtures groups, the lower BP values were not sustain with aging. The angular coefficients are lower in the non-admixture group(Guaranis), even with higher intake of 19 sodium. The study of Molecular markers in those population may contribute to indetification of genetic determinants for hypertension in humans. TT polymorphism was associated with higherblood pressure levels in the Vitória population. In this study, Graranis with higher prevalences 74,4% TT polymorphism having lower levels of blood pressure. The polymorphism TT is probably not causally associated with hypertension. 20 INTRODUÇÃO 21 1. INTRODUÇÃO As populações indígenas da América, em seu estado primitivo, eram praticamente desprovidas de doenças cardiovasculares, em geral, e de hipertensão arterial, em particular (Bloch et al, 1993). Estudo feito por pesquisadores americanos em índios Yanomanis no início dos anos 70, período em que estas tribos ainda mantinham hábitos primitivos de vida, mostrou ausência de casos de hipertensão arterial (Oliver et al, 1975). Nos Estados Unidos dados do Strong Heart Study, demonstram que as taxas de mortalidade por doença arterial coronariana nos ameríndios ultrapassam as taxas da população norte-americana em geral (Howard et al, 1999). As explicações para este fato seriam devido a: 1) Alteração de hábitos dietéticos (introdução do uso do sal no preparo de alimentos, o aumento do consumo de açúcares de rápida absorção (sacarose) 2) Adoção de estilo de vida mais sedentário, 3) Maior prevalência de obesidade 4) Aumento nas taxas de diabetes 5) Tabagismo habitual, ao invés do uso ritualístico 6) Baixo padrão socioeconômico 7)Aspectos culturais. Estes fatores isoladamente ou em conjunto determinariam o aparecimento da progressiva elevação da pressão arterial com o avançar da idade, fazendo com que, após algumas gerações, as doenças cardiovasculares se constituam em importantes causas de morbidade e mortalidade (Roadhes et al, 1987). 1. FATORES AMBIENTAIS 1.1. Modificação de estilo de vida A prevalência de Hipertensão arterial varia bastante com o grau de ocidentalização do estilo de vida. Em populações autóctones e não autóctones tem sido demonstrado que a PA apresenta comportamento variado em função do grau de ocidentalização do estilo de vida (Flemming Mooran et al, 1991, Santos & Coimbra, 1994; Cardoso et al, 2001). 22 Quando populações primitivas com ausência de hipertensão adotam um estilo de vida moderna, incluindo aumento da ingesta de sal, elas aumentaram seus níveis pressóricos e se tornaram hipertensas. Quando agricultores khenianos mudaram-se para Naerobi, aumentaram a excreção de sódio de 60 para 110 mmol/dia e a PA aumentou significativamente num período de poucos meses (Poulter et al, 1990). Entretanto mesmo aqueles que estão convencidos da importância do sal salientam que fatores adicionais também desempenham papel importante nestes estudos. A dieta vegetariana, por exemplo, tem apresentado consistentes associações com baixos níveis pressóricos (Sacks et al, 1988) e nas comunidades indígenas nas quais a HÁ é rara, a dieta se assemelha a uma dieta vegetariana (Hollenberg et al, 1997). As dietas vegetarianas são geralmente ricas em potássio e magnésio e existem várias evidências epidemiológicas de uma relação inversa entre a ingesta destes íons e PA (Whelton et al, 1998). Entretanto a contribuição destes ainda permanece controversa na literatura. Por outro lado, as dietas mesmo que vegetarianas com deficiência de micro-nutrientes já foram associadas à hipertensão (Chinplonkar et al, 2004). A vitamina C, Ácido fólico e Zinco são apontados como biomarcadores de HA, devido ao potencial antioxidante destes micro-nutrientes. Outros candidatos na contribuição ambiental da HA são o elevado consumo de álcool, obesidade, inatividade física, sedentarismo, estresse psico-social. 1.2. Obesidade e Diabetes Desde a metade da década de 60 vários estudos tem demonstrado aumento da incidência do Diabetes mellitus não Insulino Dependente entre nativos americanos (Sievers & Fisher et al, 1985), Polinésios (Zimmet et al, 1990), aborígines australianos (O´Dea, 1991) e habitantes da Papua Nova Guiné (Martin et al, 1980).Em várias localidades as prevalências de taxas são maiores nos habitantes indígenas do que em outros indivíduos. O Diabetes se agrega em famílias de indígenas norte americanos, e o risco de ocorrência nas gerações futuras é maior quando a doença se manifesta numa fase precoce do que quando ocorre nas fases mais tardias da vida (Knowler et al 1990). Nos Índios Pima, (um grande grupo de Nativos Americanos que habitam 23 sudoeste do Arizona e noroeste do México a mais de 2000 anos) a taxa de incidência de diabetes está entre as mais altas do mundo (Knowler et al, 1990). Considerações sobre uma susceptibilidade inata ou resistência ao diabetes entre alguns grupos de ameríndios tem sido postuladas por uma série de teorias etiológicas e evolucionárias (Hales & Backer, 1992, Weiss et al, 1984, Zimmet et al, 1990). Há 30 anos o geneticista James V. Nell formulou um modelo evolucionário para explicar as bases biológicas do diabetes nas populações humanas: A hipótese do ‘Thrifty gene’. Ele postulou que genes que promovem uma rápida liberação de insulina em resposta ao aumento de glicemia previnem perda de energia pela conversão do excesso de glicose para armazenamento de gordura. Para os ancestrais caçadores o excesso de glicose era uma situação que ocorria periodicamente, entretanto nos tempos atuais com a disponibilidade continua de alimentos, a rápida resposta à insulina tornou-se mal adaptativa, levando a hiperinsulinemia e a obesidade, este excesso de glicose promove antagonismo a insulina e acaba por levar a exaustão das células β pancreáticas (Nell,1982). Avanços da biologia molecular tem permitido examinar genes possivelmente envolvidos no DMNID. A seqüência de DNA no final do gene da insulina “5’ flanking region” é implicada na susceptibilidade em Brancos, negros e índios Pima, influenciando a expressão do gene. Posteriormente este polimorfismo não foi envolvido no aparecimento da doença nos Pima, mas esteve relacionado à gravidade do diabetes (Rotwein et al, 1981). Diabetes entre os Pima está associado com o Phenotype HLA-A2 (Willians et al, 1981), e marcadores genéticos no cromossoma 4q e 7q tem sido relacionados à resistência a insulina nesta população (Prochazka et al, 1995). Fatores de risco modificáveis em potencial como obesidade, composição da dieta e inatividade física parecem contribuir para susceptibilidade genética ao Diabetes mellitus não Insulino Dependente. O aumento de prevalência de DCV em índios norte-americanos, muito mais à elevada prevalência de diabetes do que a prevalência e severidade da hipertensão nesta população (Sievers et al, 2002). Populações indígenas com elevada prevalência de diabetes e obesidade apresentam níveis pressóricos menores quando comparados a indivíduos brancos expostos a estes fatores. Este fato sugere que nesta etnia a hiperinsulinemia não está associada ao aumento da atividade simpática e dos níveis da 24 pressão arterial o que poderia explicar uma prevalência mais baixa de hipertensão nestas populações (Weyer et al, 2000). 1.3. Fatores sócios econômicos A distribuição desigual de doenças crônico-degenerativas tem sido atribuídas aos diferentes graus de transformação social em diversas populações (Cardoso et al, 2001). O perfil saúde doença dos povos indígenas no Brasil é pouco conhecido, o que decorre da exigüidade de investigações e da precariedade dos sistemas de registro e informações de morbimortalidade (Coimbra Jr & Santos, 2001). Dados relativos à situação nutricional são particularmente escassos, este é influenciado em larga medida, por dinâmicas de transformação econômicas, sociais e culturais, assim como alterações em estratégias de subsistência, consumo de alimentos e padrão de atividade física pelas quais estas populações vem sendo submetidas. Apesar da melhoria do diagnóstico, tratamento e controle da hipertensão em indígenas norte-americano sua prevalência continua aumentando, bem a de outros fatores de risco cardiovascular, particularmente diabetes mellitus e obesidade. Com estas altas taxas de fatores de risco, subseqüente aumento de acidente vascular cerebral e doença coronariana vem sendo relatados. As taxa de algumas tribos chegam a exceder a média da população norte-americana em geral (Hayslett et al, 2001). Este aumento aponta para um sério problema de saúde pública, superando em certos contextos as doenças infecciosas e parasitárias em termos de morbimortalidade. Ainda que esta não seja a situação dos povos indígenas do Brasil, maior atenção deve ser dada as doenças crônico degenerativas uma vez que podem vir a se tornar-se importante problema de saúde pública a médio e longo prazo (Coimbra Jr & Santos, 1994). 25 1.4. Consumo de Sal No INTERSALT Study foi comprovada uma forte correlação entre a ingesta de sal e a pressão arterial nos índios Yanomami, que excretavam 1mmolNa/d, tendo valores médios de PA= 96/61mmHg e seus níveis pressóricos não se elevavam com a idade( Mancilha Carvalho& Souza e Silva, 2003). Neste estudo participaram 10,079 homens e mulheres de 20a 59 anos de idade representando 52 diferentes povos em 32 cidades da África, Américas do Sul e do Norte, Ásia e Europa. O papel do excesso de sal na gênese da hipertensão arterial ainda não está bem estabelecido. A dieta em sociedades não primitivas contém muitas vezes a quantidade diária necessária para adultos. Existiria um nível limiar necessário de ingesta para se induzir a hipertensão?(Kaplan, 2000). Além disso, apenas uma parte da população seria susceptível a esta alta ingesta salina, provavelmente devido ao fato que estes indivíduos tenham uma inabilidade do rim em excretar o excesso de sódio. O organismo teria um prejuízo da capacidade fisiológica de se livrar da sobrecarga de sal, isto a longo praza envolveria a participação de vários sistemas reguladores de PA resultando na manutenção de um nível tensional mais elevado. Esta inabilidade do rim em excretar o excesso de sal pode ser genética ou adquirida. A fronteira entre o que corresponde a contribuição genética da HA ainda é encoberta pelo retardo do crescimento intra-uterino. Baixo peso ao nascer como conseqüência de desnutrição fetal leva ao aumento da incidência de hipertensão. A explicação de Brenner para este fato seria uma diminuição do número de néfrons, o que diminuiria a superfície de absorção levando à retenção de sódio (Brenner& Chertow, 1994). Apesar de fortes evidências do fato que consumo de níveis excessivos de sal esteja envolvido no aumento progressivo da pressão arterial ainda não se pode recomendar uma redução na ingesta deste eletrólito para a população geral (Graudal et al, 1998) não esta comprovada até que ponto sua redução também poderia ocasionar malefícios. Existem meta-análises com dados conflitantes na literatura. Alderman et al em 1998 demonstrou um aumento de 4 vezes de infarto agudo do 26 miocárdio no período de 3.8 anos de segmento em pacientes hipertensos cuja a excreção de sódio urinário num período de 24 hs estava no quartil mais baixo, aproximadamente 65 mmol/dia. Uma crítica a este trabalho é que uma única dosagem de sódio na urina de 24hs, pode não refletir o verdadeiro consumo de sal. Além disso, o número de eventos estudados foi pequeno, apenas 46 infartos ocorreram nesses 1900 homens, 22 ocorreram nos 483 que estavam no mais baixo quartil de excreção de sódio urinário. Entretanto, dados mais recentes baseados no NHANES-I, o qual envolveu uma amostra representativa de 20.725 adultos norte-americanos durante 1971-1975 documentou uma relação independente e positiva de ingestão salina e risco cardiovascular em obesos (Jiang He et al, 1999). Já está bastante estabelecido na literatura que os pacientes hipertensos se beneficiam com a redução do sal e a restrição salina deve ser recomendada nestes casos tanto como tratamento adjuntivo, (Weinberger et al 1988) como no tratamento não farmacológico juntamente com redução de peso (Whelton et al, 1998). Apesar das evidências da eficácia da restrição salina, tanto na redução da pressão arterial sistólica quanto diastólica existem muito mais estudos de grandes restrições em curto prazo do que modestas restrições em longo prazo, onde os efeitos ficam difíceis de se estabelecer. O problema dos ‘trials’ está na dificuldade em se restringir a ingesta salina menos que 100 mmol/dia em indivíduos estudados vivendo em seu próprio ambiente. Nestas situações a adesão que se consegue é quando a restrição salina é de apenas 30-40mmol/dia, existe uma dificuldade em se remover o sal escondido nos alimentos processados (Migdgley et al 1996). Entretanto os Ynomamis constituem uma evidencia de que é possível uma vida ativa e o baixo consumo de sal. Oliver et al relatou baixos níveis de excreção de Sódio com níveis plasmáticos elevados de renina e aldosterona em Ynomamis da Venezuela. Estas adaptações hormonais a ingesta muito baixa têm importante papel em manter e reabsorver o Sódio filtrado pelos rins (Oliver et al, 1975). Quase todos que vivem nas sociedades modernas ingerem altas quantidades de sal. Apesar da maioria ter valores normais de PA, aproximadamente a metade irá desenvolver um quadro hipertensivo, o que sugere um grau variável de sensibilidade da PA ao sódio. Vários mecanismos têm sido propostos para explicarem o aumento 27 da sensibilidade ao sal, talvez o mais óbvio seja uma baixa resposta ao maior mecanismo responsável pela retenção de sal e vasoconstrição, do Sistema Renina Angiotensina Aldosterona. 2. GENES CANDIDATOS À HIPERTENSÃO ARTERIAL O uso de novas ferramentas da biologia molecular possibilita desvendar mecanismos causadores e vias fisiológicas desta doença. Vários tipos de estudo, identificaram mais de 50 genes envolvidos na gênese da hipertensão. As dificuldades de se estabelecerem às causas genéticas da HA são atribuídas a diversos fatores: critério arbitrário de definição baseado em níveis tencionais, manifestação relativamente tarde na vida, mecanismo de herança poli gênica, parâmetros como a etnia e obesidade aumentam a heterogeneidade genética dificultando a concordância dos estudos (Corvol et al,1999). Dados gerados de modelos animais de hipertensão, estudo com famílias de hipertensos e irmãos gêmeos, fornecem uma estimativa de que fatores genéticos contribuam com 30-60% da variação da PA. (Harrap, 1993). Das várias estratégias que vem sendo utilizadas para descobrir os determinantes genéticos da HA, as mais bem sucedidas foram os estudos que identificam raras síndromes mendelianas, nas quais uma única mutação causa aumento da PA. O esforço em se identificar múltiplos genes cada um com pequena parcela de contribuição tem sido menos bem sucedido. Vários laboratórios focaram suas pesquisas em modelos de ratos geneticamente hipertensos, considerados um paradigma simplificado da doença humana (Dominiczak et al, 2000). Em paralelo na área experimental, outros laboratórios, têm desenvolvido estratégias de terapia gênica com vetores virais, usados, por exemplo, para expressar ou superexpressar genes de ação protetora vascular como a óxido nítrico sintetase ou atenuar a expressão de genes deletérios (Kimura et al, 2002). Novas descobertas na clonagem posicional contribuíram com a aplicação destas descobertas na hipertensão essencial humana produzindo novos alvos para terapia gênica nas doenças cardiovasculares. 28 Alelos em vários diferentes ‘loci’, parecem contribuir para doença e combinações específicas entre alelos causadores podem ser diferentes em indivíduos diferentes, mostrando que o fenótipo final de PA não se deve a uma única variante gênica (Nebert, 1997). Os estudos populacionais as estratégias de análise, tais como análise de pares em irmãos ou parentes e painel de polimorfismos, melhora a identificação destas variantes e do seu possível papel na gênese da HA. Várias associações têm sido relatadas e Marteau recentemente incluiu como possíveis genes candidatos : Genes dentro do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA), genes reguladores de sódio(α-adducina, subunidades α e β do canal epitelial de sódio, peptídeo natriurético atrial) genes que atuam nos sinais de transdução ( subunidades α e β 3 da proteína G, no sistema noradrenérgico receptores α2 e β1, β2 eβ3), e no Sistema endotelial( Endotelina 1 e 2, receptor de endotelina A, óxido nítrico sintase endotelial) (Marteau et al 2005). Os genes mais amplamente estudados estão sem, dúvida estão dentro do sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA). Nos últimos anos, vários estudos chamaram atenção para associações dos polimorfimos do Angiotênsinogênio, enzima conversora de angiotensina, receptor tipo 1 da angiotensina II, aldosterona sintase e vários aspectos da hipertensão. Recentes investigações têm demonstrado que a resposta do organismo ao sal é geneticamente determinada, a genética da hipertensão sal sensível tem se tornado foco de vários laboratórios. A α Adducina é uma proteína heterodímera do citoesqueleto com 3 subunidades sendo cada uma decodificada por genes ADD1, ADD2, ADD3 situados em 3 diferentes cromossomas. Uma formação alterada da Adducina pode provocar hipertensão através do aumento da reabsorção tubular de sódio (Bianchi et al, 2005). Os receptores acoplados a proteina G constituem uma família de proteínas transmembrana que recebem sinais envolvidos em vários processos fisiológicos incluindo a homeostasia da glicose e regulação da pressão arterial. O polimorfismo na posição 825 (C/T) da subunidade β3(GNB3) da proteína G foi associada a alto risco de hipertensão em brancos (Siffert et al,1998). 29 Receptores β adrenérgicos são receptores acoplados a proteínas G, espalhados através do organismo e envolvidos em diversas funções fisiológicas incluindo pressão arterial. O receptor β1 (ADBR1) tem papel na regulação da freqüência e contractilidade cardíaca.Dois polimorfismos Ser49Gly e Gly389Arg estão em desequilíbrio de ligação e recente estudo mostrou uma significante associação destes com a freqüência cardíaca de pacientes com hipertensão essencial. Além disso, foi relatada uma interação do polimorfismo Arg389Gly e a deleção 322-325 do receptor α 2 adrenérgico na insuficiência cardíaca (Small et al 2002). O receptor β2 adrenérgico também tem sido implicado na patogênese da hipertensão, vasodilatação e resposta cardíaca aos β agonistas.A mutação Gln27Glu foi significativamente associada a pressão arterial sistólica e HA(Bray et al,2000).O receptor β3 (ADBR3) é espresso predominantemente no tecido adiposoe tem importante papel na regulação da lipólise e termogênese. Alguns estudos têm descrito uma associação da variante Trp 64 Arg e hipertensão (Tonolo et al,1999). O sistema das endotelinas constitui uma série de peptídeos vasoconstritores e seus receptores potencialmente importantes no controle pressórico. Estas contituem uma família de peptídeos de 21-aminoácidos, endotelina 1 (EDN1), endotelina 2(EDN2) e endotelina 3. EDN-1 é produzida pelas células vasculares e é um potente vasoconstritor, com propriedades mitogênica e hipertróficas. O polimorfismo G5665T também chamado Lys198Asn do gene da pré-pro-endotelina mostrou-se associado a pressão alta em Caucasianos sobrepeso (Tiret et al,1999) e em Japoneses(Asai et al,2001). A EDN-2 é expressa principalmente em tecido atrial direito. Uma única alteração A985G na 3’ UTR do gene mostrou associação com hipertensão essencial humana. A enzima óxido nítrico sintase sintetiza óxodo nítrico a partie da L-Arginina. O ON é um importante fator de relaxamento produzido pelo endotélio, também é capaz de impedir a adesão, ativação e agregação de plaquetas. Além disso, participa da patogênese de várias doenças inflamatórias, hipertensão e aterosclerose. A alteração Glu298Asp no exon 7 do gene do ON foi identificada. Em Caucasianos o alelo Glu esteve associado à hipertensão (Lacolley et al, 1998), enquanto que em Japoneses foi o alelo Asp (Miyamoto et al, 1998) 30 Os genes do SRAA são bons candidatos, uma vez que o sistema é sabidamente envolvido no controle da PA, controle da contração vascular, balanço de água e de sódio, desenvolvimento do cardiomiócito e na patogênese de várias formas de hipertensão experimental e humana. Dentro deste sistema duas variantes alélicas têm sido correlacionadas, de forma inquestionável com fenótipos que podem explicar a relação do sistema na homeostasia cardiovascular. 2.1 - Gene do Angiotensinogênio O Angiotênsinogenio (AGT) circulante, sintetizado pelo fígado, é o único substrato da renina. O papel do AGT na HA essencial pode ser avaliado pelas fortes correlações encontradas entre suas concentrações plasmáticas e PA (Walker et al, 1979). Duas variantes do AGT, 2 polimorfismos ( o polimorfismo T174M, substituição do aminoácido metionina→Treonina, e o polimorfismo M235T do aminoácido Treonina→ metionina na posição 235 foram associadas com hipertensão em diversos estudos. Um significativo aumento das concentrações plasmáticas de AGT foi observado em pacientes com o alelo M235T em heterozigotos e homozigotos TT, quando comparados com pacientes homozigotos MM (Jeunemaitre et al, 1992). Em vários estudos o AGT está envolvido em determinar hipertensão familiar, algumas formas de pré-eclâmpsia (Ward et al, 1993) e em outras doenças degenerativas. O alelo T235 do ATG foi significativamente associado a HÁ em caucasianos, e populações Japonesas(Hata et al, 1994), mas não foi encontrado correlações em negros caribenhos(Caufield et al, 1995). Outros estudos clínicos devem ser feitos em outras populações, de etnias diferentes para melhor definir seu papel na hipertensão. Nenhuma associação foi encontrada entre a variante T174M e PA nos estudos caso controle. O polimorfismo na região promotora com substituição de adenina por guanina no nucleotídeo –6, G(-6), tem mostrado influenciar a taxa de basal de transcrição do gene do ATG in vitro e aumentar a sua expressão (Inoue et al, 1997). Além disso, o alelo –6A, foi associado a maiores níveis de PAS em Caucasianos e negros americanos. 31 2.2 - Gene da enzima Conversora de Angiotensina (ECA) A ECA é uma metaloproteinase cuja principal função é a conversão de Angiotensina I em Angiotensina II e inativação da bradicinina. O papel do gene da ECA no controle dos níveis de ECA plasmáticos é avaliado utilizando o polimorfismo da ECA. Este consiste na deleção (D) ou insersão (I) de fragmento de DNA. A expressão dos níveis de ECA está sob controle genético em células que sintetizam esta enzima como células vasculares e perivasculares presentes no rim, cérebro e coração. O polimorfismo da ECA não foi correlacionado com hipertensão arterial em populações caucasianas (Jeunemaitre et al, 1993). Entretanto, está relacionado a risco aumentado para DAC, especialmente em pacientes tidos como de baixo risco pelos critérios comuns. O genótipo DD aumenta 2,7 vezes o risco relativo de IAM (Lindpaintner al, 1997). Em estudo posterior o mesmo autor relaciona um excesso de risco com genótipo DD e ID em pacientes com história familiar de IAM. O polimorfismo DD da ECA tem sido relacionado a maior risco de desenvolver HVE (Schukert et al, 1994), cardiomiopatia dilatada isquêmica (Raynolds et al, 1993) e familiar (Marian, 1993) sugerindo a hipótese que esta variante possa contribuir na patogênese destas doenças. Recentemente foi correlacionando com o ganho de peso (Kramer et al, 2005) Estes trabalhos sugerem que a variante molecular 235T do AGT ou da ECA (genótipo DD) então associadas com aumento dos níveis plasmáticos (talvez tecidual) de AGT e ECA respectivamente. Isto poderia resultar em um pequeno aumento da taxa de formação de Angiotensina II. Este estímulo adicional crônico do sistema poderia favorecer a reabsorção renal de sódio, hipertrofia vascular e tônus simpático aumentado, predispondo estes indivíduos ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Este efeito pode ser maior na presença de outros genes deletérios ou de fatores ambientais. 32 3. HIPERTENSÃO ARTERIAL EM ÍNDIOS Na grande maioria dos estudos de prevalência de hipertensão arterial no Brasil predominam indivíduos de etnia branca, negra e mestiça (Fuchs et al 1987, Barreto et al 2001, Molina et al 2002). Os índios contribuem com pool genético na formação do povo brasileiro. Uma análise feita para avaliar as origens no pool genético dos brasileiros feita com amostras de diferentes regiões concluiu que os Ameríndios e Africanos contribuem com mais de 60% da linhagem matrilinear (análise de sítios específicos de DNA mitocondrial) (Alves-Silva et al,2000). Contrastando com apenas 2,5% de contribuição atribuída a africanos do Sub-Sahara e nenhuma de ameríndios, quando avaliado a linhagem patrilinear (cromossoma Y) em amostras de DNA de homens brancos também de diferentes regiões (Pena et al, 2001). Os brasileiros formam uma das populações mais heterogêneas do mundo, que resulta de 500 anos de cruzamentos genéticos entre pessoas provenientes de três continentes: colonizadores europeus (representados principalmente por portugueses), africanos e ameríndios autóctones. Estima-se que os portugueses aqui chegaram, há 500 anos atrás, havia 2,5 milhões de indígenas vivendo no que hoje é o Brasil (Salzano e Freire-Maia, 1970, Bethell, 1997). Hoje existem aproximadamente 326.000 ameríndios, vivendo em terras demarcadas pelo governo federal (IBGE, 2000). Estas populações são pouco estudadas quanto à presença de DCV e outras doenças em geral. Até este momento, ainda não foi conduzido um estudo sistematizado que demonstrasse e quantificasse o impacto do aparecimento das doenças cardiovasculares, notadamente da hipertensão arterial, em populações indígenas brasileiras. Além disso, a homogeneidade de grupos indígenas confere uma ótima oportunidade para avaliação de variantes gênicas relacionadas na gênese de DCV. A prevalência de hipertensão arterial e doença Cardiovascular tem aumentado em todas as populações pelo mundo afora. Fatores de risco cardiovasculares tem sido amplamente pesquisados nas mais diversas populações. Foram criados cálculos estimativo de quantificação de risco para desenvolvimento de Doença Arterial Coronariana e para doença cérebro vascular. Sabe-se que fatores ambientais 33 interagem de forma importante com os fatores genéticos levando ao aparecimento da doença. Entretanto a base genética para desenvolvimento de hipertensão e doença cardiovascular e a forma como ambiente pode participar aumentando ou diminuindo a expressão de certos genes ainda é obscura. Em nossa opinião, avaliar hipertensão arterial e outros fatores de risco para DCV em índios, poderá contribuir para esclarecer nos mecanismos fisiopatológicos envolvidos no desenvolvimento desta patologia na etnia indígena, e, por conseguinte, na nossa população. Numa proporção ainda pouco conhecida, principalmente em relação às populações indígenas brasileiras, começam a aparecer nestas populações a hipertensão arterial além de outras condições associadas, como a elevação dos níveis de colesterol, obesidade e diabetes (Cardoso et al. 2001). Casos de acidente vascular cerebral (AVC), que eram praticamente desconhecidos dos indígenas há cerca de 40 anos, começaram a aparecer mesmo em indivíduos com menos de 55 anos de idade, segundo informação colhida diretamente com as pessoas mais idosas da comunidade indígena de Caieiras Velhas, Aracruz, Espírito Santo. 34 OBJETIVOS 35 1. OBJETIVO GERAL Estimar a prevalência de hipertensão arterial e de outros fatores de risco cardiovasculares em tribos indígenas com diferentes níveis de miscigenação, Guaranis (sem miscigenação) e Tupiniquins (miscigenação racial presente) vivendo sob influências ambientais semelhante nas áreas de reserva indígena de Aracruz - Espírito Santo. 2 . OBJETIVOS ESPECÍFICOS 2.1- Determinar a prevalência de hipertensão arterial nas comunidades indígenas do ES e classificar os indivíduos de acordo com o estágio pressórico. 2.2- Determinar de forma qualitativa e quantitativa os principais fatores de risco cardiovasculares (idade, tabagismo, obesidade, pressão arterial, diabetes, colesterol total e frações e hipertrofia ventricular esquerda) 2.3- Analisar o consumo de sódio, potássio entre as diferentes etnias utilizando como indicador a excreção urinária desses eletrólitos no período de 12h. 2.4- Identificar associações entre as variáveis estudadas e parâmetros hemodinâmicos. 2.5- Caracterizar genotipicamente estes indivíduos, quanto ao polimorfismo da enzima conversora de angiotensina e do angiotensinogênio 36 METODOLOGIA 37 V. METODOLOGIA Cerca de 1818 Índios Tupiniquim e Guarani habitam três reservas indígenas na região Norte do Espírito Santo, mais especificamente no município de Aracruz: Caieras Velhas (2.804ha), Páu Brasil (1.498há) e Comboios (2.759ha) (FUNASA, 2000). A reserva indígena de Caieras Velhas, a mais populosa, é formada por um conglomerado de 4(quatro) vilas: Irajá, Boa Esperança, Três Palmeiras e Caieras Velha. Cerca de 300 índios Guaranis estão concentrados principalmente nas vilas de Boa Esperança e três Palmeiras, Estes últimos emigraram para o Espírito Santo, vindos do oeste do Paraná, no princípio da década de 70. Uma visita às aldeias demonstra facilmente que os Guaranis ainda mantêm usos e costumes ancestrais, bem como grau elevado de pureza étnica tendo em vista ser menos freqüente o casamento com pessoas de fora da comunidade. Hoje, os tupiniquins estão bastante aculturados e adotaram muitos dos hábitos de vida das populações de baixo poder aquisitivo do meio rural brasileiro. Vivem da agricultura familiar e, mais raramente, atuam como trabalhadores esporádicos em pequenas empresas da região. Alguns dos indivíduos têm melhor nível de escolaridade e são servidores públicos do Município de Aracruz. Em 1998, após acordos selados com a Aracruz Celulose S.A. e mediados pela FUNAI, os índios passaram a se organizar em Associações Indígenas que têm como objetivos básicos a gestão de recursos técnicos e financeiros acordados e o desenvolvimento de projetos de auto suficiência nas áreas de educação, saúde e agricultura(ARACRUZ,1998). A estrutura etária destas duas comunidades indígenas, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde (dados de 2001), mostra que existem cerca de 834 indivíduos com idade superior a 20 anos, dos quais 760 compreendidos na faixa etária de 20 a 64 anos. Esta faixa etária é prioritária para a implantação de medidas preventivas e curativas de agravos ao sistema cardiovascular visto ser período de atividade produtiva. Desta forma, os agravos fatais e não fatais que ocorrem nesta faixa etária (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, etc) determinam importantes impactos econômicos e sociais. 38 1. Planejamento do Estudo Esta primeira fase do estudo decorreu nos meses de março de 2002 a janeiro de 2003 e foi realizada através de contatos com técnicos da Funasa e Funai. Os contatos foram feitos com os funcionários da Funai nas aldeias de Caieiras Velhas e Comboios. Os contatos na Funasa foram feitas com médico e odontólogo que supervisionam os serviços de atendimento médico às populações indígenas do Espírito Santo.Foram feitas também visitas a todas a aldeias e contatos com todos os caciques. Juntamente com outras lideranças indígenas de cada aldeia foram informados sobre a importância deste estudo, a forma de condução do mesmo, bem como suas possíveis repercussões nas Comunidades Indígenas. Terminada esta etapa, foi feita avaliação das instalações das Unidades de Saúde das aldeias (onde seriam feitos os exames vide adiante) além de uma palestra aberta onde as explicações sobre o projeto foram estendidas para segmentos mais amplos de cada aldeia. De acordo com as sugestões dos caciques essas palestras ocorreram nas manhas de sábado.Em cada palestra compareceram cerca de 45 a 50 pessoas. Na comunidade Guarani a palestra não ocorreu, pois não foi marcada pelos caciques. 1.1 – Critérios de Inclusão Foram incluídos no estudo os indivíduos que habitam as áreas da reserva indígena Tupiniquim das aldeias de Caieiras Velhas, Irajá e Pau-Brasil, bem como as aldeias Guaranis de Boa Esperança e Três Palmeiras. O critério de inclusão neste estudo era ter idade ≥ 20 anos no momento da administração do questionário. Os indivíduos foram considerados Tupiniquins ou Guaranis atendendo aos critérios de auto-identificação, ser reconhecido como indígena nativo da região, pela comunidade, os que possuíam herança indígena materna ou paterna. Aliado a esses critérios a característica fenotípica indígena foi avaliada sempre pelos mesmos pesquisadores que conduziram o preenchimento do questionário, levando-se em conta características como textura do cabelo, tonalidade da pele.O aspecto dos olhos tido como elemento fundamental na distinção do fenótipo índigena, foi utilizado como um dos dados de confirmação na ascendência caso tivesse forma oblíqua, amendoado ou 39 rasgado (Salzano & Frei Maia, 1997). Desta forma dos 670 indivíduos, 496 foram considerados Tupiniquins, 60 guaranis e 114 não indígenas. 2. Protocolo Este foi um estudo populacional de corte transversal, realizado no período de fevereiro de 2003 á fevereiro de 2004. Foi elaborado um questionário para levantamento de dados relativos à identificação, a escolaridade e aos hábitos higienodietéticos, semelhante o protocolo do Projeto MONICA-OMS/Vitória. Ainda foram investigados quanto a presença de doenças, uso regular de medicações, história familiar de hipertensão arterial, neste caso foram classificados como predispostos aqueles indivíduos com relato de 2 familiares com história de hipertensão e não predispostos os que não tinham história familiar de hipertensão. O termo de consentimento livre esclarecido foi obtido de cada participante. O protocolo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Centro Biomédico da UFES e pelo CONEP. 2.1. Visitas Domiciliares Os agentes de Saúde indígena junto à coordenação do projeto programavam as visitas domiciliares e agendavam os participantes para receberem a visita no período da tarde. As visitas domiciliares eram feitas uma semana antes dos exames. Os participantes recebiam as instruções sobre o jejum e sobre a coleta de urina no período das 12 horas noturna (19:00 as 7:00), além disso, foi deixado o material para coleta, cabe ressaltar que as informações sobre a coleta que foram passadas aos agentes de saúde indígenas foram repassadas em cada domicílio. Ainda procederam-se duas medidas de PA em aparelho automático. Os participantes foram devidamente informados sobre todos os procedimentos a serem realizados na Unidade de Saúde, bem como da desobrigatoriedade de fazê-lo caso não houvesse interesse. 40 2.2. Consultas nas Unidades de Saúde Locais Os exames foram sempre realizados no período da manhã na Unidade de saúde (US) da localidade de 08:00 ás 12:00 horas. Os pacientes eram atendidos nas quartas e sextas-feiras (dia escolhido, por sugestão da Comunidade), mantendo-se um atendimento máximo de 15 pacientes por cada manhã de trabalho, de forma a não prejudicar a execução dos exames. Nos Tupiniquins os exames foram realizados nas US de Caieiras Velha e de Páu Brasil e nos Guaranis na US situada na aldeia de Boa Esperança. Esquema de atendimento na Unidade de Saúde Uma equipe de trabalho composta por 2 médicos, 1 auxiliar de enfermagem e 1 técnico de laboratório, deslocou-se para a aldeia onde havia ocorrido o agendamento, os trabalhos na unidade eram iniciados por volta das 07:30 horas. O atendimento seguia a seguinte ordem: 1. No primeiro momento, após a apresentação do indivíduo na Unidade de saúde, foi feita coleta de sangue, por punção venosa periférica. Coletou-se material em 3 tubos a vácuo com EDTA (2 tubos) ou fluoreto (1 tubo). No próprio local foi feita a centrifugação do material para separação de plasma, para o seguinte conjunto de exames: Hemograma completo, Perfil bioquímico,Perfil lipídico, extração de DNA para mapeamento de poliformismos dos genes da enzima conversora de angiotensina (ECA) e angiotensinogênio (AGT).Imediatamente após a coleta era feita a tipagem sanguínea dos sistemas ABO e Rh usando-se antígenos específicos (Merck). 2. Entrega da urina e medida do volume urinário de 12 h (coleta noturna). Alíquotas de urina foram encaminhadas para exames de rotina (Elementos Anormais e Sedimento) e dosagens de Na, Cl e K. 3.Medidas antropométricas: Peso, Estatura, circunferência da cintura e do quadril (medidos com fita métrica inextensível). 4. Medidas da pressão arterial 41 De cada indivíduo foram feitas 2 medidas de pressão em aparelho automático e uma em coluna de mercúrio por 2 observadores diferentes. Essas medidas eram feitas pelo técnico em enfermagem treinado antes da antropometria e depois pelo médico durante a consulta. Os procedimentos de medida são os adotados pela British Heart Association. 5. Registro do Eletrocardiograma Foi obtido o ECG convencional de repouso com registro das 12 derivações clássicas em eletrocardiógrafo convencional portátil. O índice de hipertrofia do ventrículo esquerdo, a ser utilizado no cálculo do risco cardiovascular, será feito aplicando-se os critérios do Rohmilte-Estes e Sokolow-Lyon. 5. Registro da velocidade da onda de pulso (VOP) Através de sensores colocados na carótida e na artéria femoral será obtida a medida VOP (Complior)R (Artech,França) com o paciente deitado e em repouso, visando obter um indicador de rigidez dos vasos arteriais(Asmar et al, 1995). 6. Preenchimento do questionário 9. Consulta médica As amostras de sangue, soro, plasma e urina foram mantidas sob refrigeração (40 C - 80 C) previamente processadas e encaminhadas no mesmo dia para o Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário (HUCAM) para realização das medidas hematológicas e bioquímicas.Uma amostra de plasma foi encaminhada para o Laboratório Central do SESI para realização das dosagens lipídicas. Uma amostra de sangue foi enviada para o Instituto do Coração da USP, São Paulo (Laboratório de Cardiologia Molecular) para extração de DNA e posterior mapeamento de polimorfismos gênicos. Análise da Urina – O técnico indagava sobre início e término da coleta. Foram aceitas coletas com tempo variado entre 10-14h. As coletas foram medidas e fracionadas em alíquota e acondicionadas em recipientes térmico contendo gelo e sendo analisado sempre no mesmo dia por fotometria de chama. 42 Dados Antropométricos Peso - Todos os pacientes foram pesados em balança mecânica (Filizola Modelo) com capacidade para 150 Kg e precisão de 0,1 Kg. Antes do estudo a calibração da balança foi aferida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A estatura de cada indivíduo foi feita com o indivíduo descalço em estadiômetro com precisão de 0,5 cm afixado em parede lisa e sem rodapé. A obesidade foi definida pelo índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quetelet obtido através da fórmula IMC= peso/estatura2 [Kg/m2]. O diagnóstico de obesidade foi feito nos pacientes com IMC≥30 Kg/m2. Para as determinações de peso e estatura os pacientes usavam roupas leves e permaneciam descalços. Circunferências - Foi utilizada uma fita métrica inextensível de 1cm de largura, em dupla medição para todas as circunferências. Para a tomada das circuferências, o examinando permanecia de pé, ereto, sem camisa e calça, com os braços estendidos ao longo do corpo e os pés juntos. A Circunferência do Braço (CB) foi medida no ponto médio do braço que compreende a metade da distância entre a borda súpero-lateral do acrômio até o olécrano. Para a medida da Circunferência da Cintura (CC), a fita era posicionada na cintura natural ou na menor curvatura localizada entre o último arco costal e a crista ilíaca. A Circunferência do Quadril (CQ) foi medida na área de maior protuberância posterior dos glúteos. Registro do eletrocardiograma Todos os pacientes foram submetidos ao registro do eletrocardiograma convencional em repouso. Os eletrocardiogramas foram analisados segundo roteiro padronizado (análise de ritmo, freqüência, eixos de P e de QRS, duração de P e de 43 QRS, alterações de onda T e segmento ST, amplitude de onda R e S em derivações pré cordiais e morfologia de bloqueio AV ou de ramo). Entrega dos Exames Os participantes recebiam resultados de todos os exames clínicos e laboratoriais cerca de 30 dias após a realização dos mesmos. Caso fosse detectada presença de alterações nos exames, estas eram comunicadas no momento da entrega dos resultados.Com relação à presença de hipertensão arterial, as reconsultas eram agendadas para retomada de medidas pressóricas e o tratamento instituído. As decisões terapêuticas foram baseadas nas orientações do III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial.Uma cópia com os resultados de todos os exames era anexada aos prontuários dos indivíduos existentes na US. Os medicamentos utilizados eram aqueles disponíveis na US. Os medicamentos eram fornecidos aos pacientes pela farmácia da unidade que dispunha com drogas representativas de 5 classes de antihipertensivos: diuréticos, simpatolítico de ação central (α-metildopa), β-bloqueador, antagonistas de canais de cálcio e inibidor da enzima conversora de angiotensina. 3. Análise dos Dados 3.1. Medida e Classificação da Pressão Arterial A determinações de PAS e PAD foram feitas no braço esquerdo com aparelho de esfingomanômetro de coluna de mercúrio, tendo como base as fases I e V dos sons de Korotkoff. Para isso contou-se com 2 observadores diferentes treinados em descer a coluna de mercúrio a uma velocidade de 2 mmHg por segundo. Um manguito próprio para obesos foi usado quando necessário. A PA foi aferida três vezes em cada indivíduo com intervalo mínimo de 10 minutos entre as medidas, estando o indivíduo sentado por 5 a 10 minutos. Para análise dos dados, considerou-se a média das três medidas. A estratificação dos pacientes de acordo com os níveis pressóricos foi feita baseada nas 44 recomendações do Comitê Nacional Americano para a Detecção, Tratamento e Prevenção da Hipertensão (JNC VI, 1997) e do sub-comitê da Organização Mundial de Saúde e da Sociedade Internacional da Hipertensão (WHO-ISH,1999). (Tabela1) Tabela I – Classificação da pressão arterial sistêmica de acordo com o Comitê Nacional Americano para a detecção, Tratamento e Prevenção da Hipertensão (JNC VI, 1997). Classificação PAS/PAD Normal < 130/85 Normal-alta 130-139/85-90 Hipertensão leve 140-159/90-99 Hipertensão moderada 160-179/100-110 Hipertensão grave ≥ 180/110 ≥ 180/110 3.2. Dislipidemias O diagnóstico de dislipidemia foi baseado nas informações do lipidograma. Foram considerados dislipidêmicos os pacientes que apresentassem no exame pelo menos um dos valores alterados, isto é, colesterol total ≥ 200 mg/dL, lipoproteína de alta densidade, HDL-c < 40 mg/dL (Segundo Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias, 1996). O colesterol total e o triglicerídeo foram determinados por métodos enzimáticos. Para valores de triglicerídeos inferiores a 400 mg/dL, foi possível estabelecer o conteúdo de colesterol em VLDL-c através da fórmula: VLDL-c = Triglicerídeos/5 Dispondo-se dos valores de colesterol total (CT), triglicerídios (TG) e HDL-c, a fração LDL-c foi calculada pela fórmula de Friedwald, onde: LDL-c = CT- ( HDL-c + VLDL-c) 45 3.3. Diabetes mellitus Foi considerado portador de diabetes mellitus o paciente com glicemia de jejum superior a 125 mg/dL, ou paciente com diagnóstico prévio de diabetes (informação da US indígena) ou relato de uso regular de insulina ou antidiabéticos orais. Os níveis plasmáticos de glicose foram definidos por colorimetria após precipitação em tubos de ensaio contendo NAF como anticoagulante. O diagnóstico de intolerância à glicose foi firmado se o paciente apresentasse valores de glicemia de jejum entre 115 mg/dL e 125 mg/dL. 3.4. Tabagismo As informações sobre tabagismo foram coletadas através de questionário respondido pelo paciente no primeiro contato com a equipe do projeto na US. Foram feitas perguntas sobre o uso atual de cigarro ou não e, de acordo com esta resposta, os indivíduos foram classificados em fumantes ou não fumantes. Os que declararam ter abandonado o hábito de fumar foram classificados como não-fumantes, independentemente do tempo de abstinência. 3.5. Análise de dados antropométricos A partir dos dados antropométricos, foram construídos os seguintes indicadores para avaliação do estado nutricional: 3.5.1. Índice de Massa Corporal Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1985), para avaliar estado nutricional de adultos, por apresentar alta correlação com percentual de gordura 46 corporal (Anjos, 1992).Foram utilizados os seguintes pontos de corte para a classificação dos indivíduos quanto ao IMC (WHO, 1995): Baixo peso Normal IMC < 18,5 18,5 ≥ IMC < 25 Sobrepeso 1 25 ≥ IMC < 30 Sobrepeso 2 30 ≥ IMC <40 Sobrepeso 3 IMC ≥40 3.5.2. Razão cintura/quadril (RCQ) Para avaliar distribuição de gordura corporal foi considerada a seguinte classificação proposta por Pereira e Colaboradores (1999): RCQ Desejável: homens < 0,95 mulheres< 0,80 3.6. Critérios considerados para Hipertrofia Ventricular esquerda A quantificação de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) foi feita conforme o critério de pontuação de Romhilte-Estes (Romhilte e Estes 1968) e Sokolow Lyon. Seis índices eletrocardiográficos são avaliados, sendo atribuída cotação de 3 pontos a 3 deles: amplitude do QRS, alterações de ST-T (“padrão de strain”) e crescimento do átrio esquerdo estabelecido pelo critério de Morris (Morris et al.,1965). De acordo com o sistema de pontos, HVE foi considerada presente quando o escore atingido fosse de, pelo menos, cinco pontos. Se o total atingido fosse de 4 pontos, a HVE era considerada provável. Os critérios de amplitude definitivamente aceitos foram: maior onda R ou S de derivações periféricas de amplitude igual ou superior a 20 mm; somatório de onda S em 47 V1 ou V2 e; onda R em V5 ou V6 maior ou igual a 30 mm. Qualquer um destes critérios obteve valor de 3 pontos. Tabela de Romhilte-Estes Critérios de amplitude do QRS 3 pontos Alterações de ST-T 3 pontos Crescimento de do átrio esquerdo 3 pontos O desvio do eixo elétrico para esquerda (além de –30o) 2 pontos Aumento do tempo de ativação ventricular(≥0,05s) 1 ponto Aumento da duração do complexo QRS(≥0,09s) 1 ponto As alterações de ST-T, quando do tipo de infra-desnível com T negativa (padrão de Strain), se presentes, obtiveram 3 pontos. Se existisse uso concomitante de digital, dava-se apenas 1 ponto. 3.7. Análise dos Parâmetros Urinários 3.7.1 – Excreção urinária de sódio de 12 horas (Na+ 12H) e estimativa do consumo de NaCl A excreção urinária de sódio de 12 horas foi utilizada neste estudo como indicador de consumo de sódio, levando-se em consideração que a excreção urinária de sódio de 12 horas apresenta uma correlação forte com a excreção urinária de 24 horas em amostra de indivíduos normotensos (Molina et al, 2000). 3.8. Análise excreção urinária de potássio (K) Foram utilizadas as quantidades mensuradas a partir da excreção urinária de potássio de 12 horas. Foi calculado a partir da fórmula: K 12h= V(L). KU.39/1000. Sendo assim a relação de sódio e potássio foi obtida através de: Na 12h/K 12h. 48 5. Avaliação do Risco Coronariano Para o cálculo do risco de desenvolvimento de doença arterial coronária foi utilizada a tabela de Framinghan (Wilson et al,1997). O cálculo de risco leva em consideração os seguintes fatores: sexo, idade, pressão arterial sistólica, níveis de colesterol total, HDL colesterol, presença de tabagismo, diabetes e HVE. Os pontos atribuídos às variáveis contínuas podem ser negativos ou positivos. Às variáveis dicotômicas, quando presentes, confere-se pontuação positiva. A pontuação total é obtida pelo somatório de pontos atribuído a cada fator, com base na seguinte fórmula: PT = Idade+ HDL-c + colesterol total+ PAS+ Tabagismo+ Diabetes + HVE Os pontos atribuídos a cada variável que não são mostrados na tabela foram calculados por extrapolação da função de regressão (Oliveira, 2002). Com base na pontuação total é que se obtém a probabilidade de ocorrência de eventos coronarianos. A tabela fornece a estimativa do risco absoluto, calculado com base a população de Framingham, e que corresponde à probabilidade de ocorrência de evento coronariano ao longo de um intervalo de tempo específico (5 e 10 anos). De acordo com o com o risco absoluto para o desenvolvimento de DAC em 10 anos foram considerados pacientes de alto risco aqueles com probabilidade ≥ 20 % em 10 anos, de médio risco os com probabilidade entre 10 e 20 % em 10 anos e de baixo risco os pacientes com a probabilidade inferior a 10% em 10 anos. 49 6. Análise dos Polimorfismos O DNA genômico foi isolado do tubo contendo EDTA pelo método conhecido por ‘salting out’ de acordo com Miller et al. O polimorfismo I/D do gene da Enzima conversora de angiotensina foi detectado por PCR. Os primers foram selecionados de acordo com Rigat et al. As reações de amplificação foram realizadas para um volume final de 50µL contendo 67mmol/L TRIS – Hcl (pH 8,8), 16 µmol/L(NH4SO4), 1,5 mmol/L MgCl2, 0,01% Tween 20, 50 pmol/L de ambos os primers, 200mmol/L de dNTP 325 mg de DNA genômico e 0,5u Taq DNA polimerase (HY test). O DNA foi amplificado no ciclador térmico com de desnaturação a 94oC, 1min de anelamento a 65 oC e 2 minutos de extensão a 720C por 30 ciclos. No último ciclo, a extensão foi feita por 10 minutos. Os produtos de PCR foram, separados em gel de agarose à 2% contendo brometo de etídeo e visualizados em luz ultra violeta. Os fragmentos separados foram de 478 e 191PB correspondendo aos alelos I e D da ECA, respectivamente. De acordo com estudos anteriores que tem sugerido que o alelo D é preferencialmente amplificado,as reações de PCR foram reavaliadas com uso de primers internos confirmando as reações originais de PCR. A detecção da variante M235T do gene do Angiotensinogênio foi feita pelo método de PCR. Os primers foram selecionados de acordo com Russ et al. As reações de amplificação foram feitas para um volume final de25 µL, como descrito acima exceto pela desnaturação que foi por 3min à 90 oC, 10 ciclos de 94 oC por 1 min, 68 oC por 1min e 72 oCpor 30 segundos e uma ectensão final de 10 minutos a 72 oC. 3 µLde produtos não purificados de PCR foram diluídos para10µL no tampãp recomendado contendo 5 U da enzima Tth111 I (Pharmacia) e digerida a 65 oC de 12-16 h em forno de hibridização, dentro de câmara úmida. Os produtos de PCR digeridos foram separados em gel de agarose a 3% contendo brometo de etídio e visualizados com luz ultravioleta. Os fragmentos separados foram de 165pb correspondendo ao alelo M235 (M) e 141pb correspondendo ao alelo T 235(T). O controle de qualidade destas amostras foi realizado através da regenotipagem de 40 amostras randomicamente selecionadas(ANEXO II). 50 7. Análise estatística Para testar as diferenças nas características antropométricas, clínicas e biológicas foram comparadas entre os grupos, de acordo com sua estratificação étnico racial e os níveis de pressão arterial foram utilizadas ANOVA de uma via para variáveis continuas e o teste qui-quadrado para variáveis categóricas. Em todos os casos a ANOVA foi seguida do teste de TUKEY. Na comparação do grupo de hipertensos e normotensos foi utilizado o teste T de Student. A comparação da freqüência de fatores de risco principais de doença cardiovascular foram feitos através do teste do quiquadrado(χ2). Na comparação do cálculo do risco coronariano foi feita através de ANOVA uma via. Associação entre as medidas hemodinâmicas e a idade, peso, altura, IMC, C cintura, C Quadril, RCQ, Na + 12h, K + 12h, Na/K sal diário, colesterol total, LDL-C, Glicemia e triglicerideos, foi determinada pelo coeficente de Pearson. Foi realizada análise de regressão linear múltipla (Stepwise) para quantificar a proporção da pressão arterial sistólica e diastólica explicada pelo modelo proposto. Foram incluídos no modelo de regressão a idade e todos os parâmetros significativamente associados à pressão arterial, com exceção dos parâmetros que apresentam colinearidade com as medidas consideradas maiores preditoras do aumento da pressão arterial no modelo proposto. Os valores da PAS e PAD ajustados através do modelo em ambas etnias e os resíduos não são correlacionados. O teste de Kolgmorov-Smirnof foi usado para avaliar a hipótese de normalidade dos resíduos que apresentaram distribuição normal. As freqüências genotípicas entre os participantes do estudo foram avaliadas através do teste do qui-quadrado, as diferenças de PAS e PAD entre os alelos foram analisadas pelo teste t não pareado. O equilíbrio de Hardy-Weinberg para distribuição dos genótipos foi avaliado pelo teste do qui-quadrado. O odds ratio (OR) para os diferentes modelos de associação foram calculados com intervalo de confiança de 95%. Os modelos genéticos das variantes estudadas foram feitos por combinação genotípica (dominante = heterozigoto + homozigoto) para polimorfismos associados ao aumento dos níveis do produto 51 gênico; recessivo = homozigoto para o polimorfismo associado com o aumentodos níveis do produto gênico. Os valores foram expressos como médias±desvio-padrão (DP) ou percentuais, conforme indicação nas respectivas tabelas ou gráficos. O nível de significância para todos os testes foi estabelecido em ∝=0,05. As análises estatísticas foram realizadas através da utilização do programa SPSS for Windows, versão 11.5 (2000). 52 RESULTADOS 53 1. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA Foram estudados 670 indivíduos, sendo 318 homens e 352 mulheres, com idade compreendida entre 19 e 90 anos (37 anos ± 12,1), residentes nas áreas de reserva indígena do município de Aracruz-ES. Dados fornecidos pelas equipes de saúde mostram que havia 834 indivíduos elegíveis para o estudo (maiores que 20 anos). Desta forma, percentual total de comparecimento foi de 80% (80,9% de mulheres e 78,9% de homens). A distribuição da população elegível e estudada, estratificada segundo sexo, faixa etária e aldeia de residência são apresentadas na Tabela 1. Houve um maior predomínio de indivíduos nas faixas etárias mais jovens, pirâmide etária típica de populações com altas taxas de natalidade. Na faixa etária acima de 70 anos, observamos o menor percentual de comparecimento 51,1%. Nas aldeias Tupiniquins observamos um percentual de comparecimento maior (Caieras Velhas 81,4%, Irajá 77,1% e Páu Brasil 83,9%) do que nas aldeias Guaranis onde ao todo compareceram 69,7% nas aldeias de Boa Esperança e Três Palmeiras. Esta última, recentemente desmembrada deu origem à vila de Piraqueaçu. As aldeias Guaranis serão tratadas como conjunto único, devido ao seu menor número de habitantes. Um total de 114 indivíduos não reconhecidos como indígenas Tupiniquins residem nas áreas da reserva, cabe ressaltar que muitos destes caboclos e mestiços descendem de indígenas que habitavam o leste mineiro, sul da Bahia e norte do ES. Nos tupiniquins o grau de comparecimento foi semelhante em ambos os sexos. Tabela 2. Nos Guaranis observou-se predomínio de mulheres 58,7% em relação aos homens 41,2%. A Tabela 2 apresenta o grau de escolaridade da amostra nas diferentes etnias. A escolaridade média é baixa, com 12,3% dos indivíduos declarados analfabeto e 56,4% apresentam escolaridade até 4a Serie. Nas comunidades Guaranis 88% dos indivíduos têm escolaridade até 4a série. Neste mesmo nível tivemos 67% dos indivíduos de Caieras Velha, 74% em Irajá e 61% em Páu Brasil. Os dados mostram ainda uma menor escolarização nas mulheres. 54 Tabela 1. Representatividade da amostra, estratificado segundo etnia. Variável População Estudado Comparecimento Sexo 435 352 80,9 Feminino Masculino 399 315 78,9 Faixa Etária 20 a 29 339 273 80,5 30 a 39 181 146 80,7 40 a 49 143 126 88,1 50 a 59 70 55 78,6 60 a 69 54 43 79,6 70 e mais 47 24 51,1 Aldeia Caieiras Velha 415 338 81,4 Irajá 153 118 77,1 Pau Brasil 180 151 83,9 Guaranis 86 63 69,8 Total 834 670 80,0 Comparecimento= estudada/ agendada x 100 Tabela 2. Características da amostra, estratificado segundo etnia. Tupiniquim Guarani Variável Nº % Nº % Sexo Feminino 250 50,4 36 58,7 Masculino 246 49,6 24 41,2 Faixa Etária 20 a 29 210 42,5 28 47,6 30 a 39 99 20,0 16 26,9 40 a 49 90 18,0 5 8,0 50 a 59 41 8,1 5 8,0 60 e mais 56 11,3 6 9,5 Escolaridade Analfabeto 60 12,1 17 26,9 Primário 93 18,8 15 23,8 incompleto Primário completo 178 36,0 22 36,5 1º grau completo 76 15,4 3 7,9 2º grau 80 16,2 2 3,1 Superior 7 1,4 0 0,0 Não índio Nº % 67 47 58,8 42,2 32 30 32 13 7 28,1 26,3 28,1 11,4 6,1 14 12,3 21 18,4 42 17 17 3 36,8 14,9 14,9 2,6 55 Na Tabela 3, são apresentadas as médias e desvios-padrão das variáveis clínicas, antropométricas e bioquímicas da amostra de acordo com a etnia. A idade média da amostra foi de 37,5(14,9) anos de idade. Os indivíduos da etnia Guarani apresentaram menores valores para idade, glicemia, colesterol total e LDL-colesterol (P<0,05), altura, triglicerídeos e HDL-colesterol (P<0,01) quando comparados aos Tupiniquins e não índios. Não foram encontradas diferenças no peso (P=0,15), IMC (P=0,13), circunferência da cintura (P=0,51), c. quadril (P=0,86), relação cintura quadril (P= 0,06),), VLDL-colesterol (P=0,29), uréia (P= 0,11), creatinina (P= 0,16 ), ácido úrico (P=0,28 ) nas diferentes etnias. Os parâmetros do hemograma também não apresentaram diferenças estatísticas entre grupos, sendo a média para o total de participantes (hemáceas:4,6±0,5 , hemoglobina:13,8±1,6 e hematócrito: 41,8±4,4). Na Tabela 4, são apresentadas as médias e os desvios-padrão das variáveis clínicas e antropométricas de acordo com o sexo. A idade média da mostra foi de 37,5(14,9) anos de idade e não foi estatisticamente diferente entre homens e mulheres (38,2 e 37,2; P= 0,43). Os indivíduos do sexo masculino apresentaram maiores valores para peso, estatura, razão cintura-quadril(RCQ), uréia, creatinina e ácido úrico (P<0,01), quando comparados com os indivíduos do sexo feminino. Por sua vez as mulheres apresentaram maiores valores para o colesterol total (P<0,05), índice de massa corporal, circunferência do quadril (C. quadril), triglicerídeos e frequência cardíaca(P<0,01) que os homens. Não foram encontradas diferenças na glicemia de jejum (P=0,06), HDL-colesterol (P=0,11), LDL-colesterol (P= 0,15), VLDL-colesterol (P= 0,69) e LDL/HDL (P= 0,75) entre os sexos. Apesar das médias de glicemia de jejum serem semelhantes entre homens e mulheres, 3,2% (n=10) dos indivíduos do sexo masculino apresentaram níveis de glicemia de jejum compatíveis com Diabetes mellitus e 4,9%(n=15) com estado de intolerância a glicose . No caso das mulheres os percentuais foram de 5,4 (n=19) e 3,2% (n=11) respectivamente para diabetes e intolerância a glicose. 56 Tabela 3. Características da amostra, estratificado segundo etnia. Variável Tupiniquim Guarani Não índio Todos Idade, anos 37,6±15,4 36,4±14,6* 39,0±13,1 37,5±14,9 Peso, Kg 65,9±11,7 63,1±14,1 64,2±13,6 65,4±12,3 Altura, m 1,60±0,17 1,52±0,22** 1,61±0,09 1,59±0,17 IMC. Kg/m2 25,4±4,2 26,3±5,0 24,9±5,0 25,4±4,4 C. Cintura, cm 84,2±10,3 84,4±11,3 83,0±11,7 84,0±10,6 C. Quadril, cm 88,9±10,0 91,0±11,3 87,7±11,4 88,9±10,4 R. Cintura-Quadril 0,89±0,07 0,87±0,06 0,86±0,07‡ 0,88±0,07 Glicemia, mg/dL 92,2±16,4 78,7±12,0* 91,3±21,6 90,9±17,0 Colesterol, mg/dL 166,2±43,4† 147,3±43,4* 180,3±51,1‡ 167,1±45,5 Triglicerídeos, mg/dL 107,5±79,7 119,3±79,2** 91,3±52,2 105,7±75,0 HDL-C, mg/dL 49,6±15,2 41,3±10,4** 50,3±12,7 49,0±14,6 LDL-C, mg/dL 95,4±36,7†† 82,6±34,9 111,8±45,7‡‡ 97,2±38,9 VLDL-C, mg/dL 22,8±33,6 23,9±15,8 18,3±10,4 22,1±29,7 LDL/HDL 2,05±0,92 2,11±1,02 2,40±1,38 2,11±1,03 Uréia, mg/dL 24,5±8,7 22,1±6,9 25,2±7,8 24,4±8,4 Creatinina, mg/dL 0,81±0,26 0,77±0,21 0,78±0,21 0,80±0,25 Clearence creatininaml/min 115,3±65,6 94,0±54,8 113,8±58,2 113,8±63,8 4,4±1,6 4,0±1,0 4,2±1,2 4,3±1,5 Hemácias 4,63±0,53 4,47±0,48 4,59±0,44 4,61±0,51 Hemoglobina 13,9±1,6 13,4±1,7 13,5±1,5 13,8±1,6 Hematócrito 42,1±4,5 41,1±1,7 41,2±4,1 41,8±4,4 PAS, mmHg 122,9±20,1 108,6±14,4** 120,4±21,1 121,2±20,3 PAD, mmHg 76,9±10,6 69,6±9,9** 78,1±12,7 76,4±11,2 FC, bpm 68,7±11,0 70,7±9,3 71,3±11,4 69,3±11,0 Ácido Úrico, mg/dL † p < 0,05 * p < 0,05 ‡ p < 0,05 †† p < 0,01 ** p < 0,01 ‡‡ p < 0,01 comparação Tupiniquim vs Guarani/não índio comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio 57 Tabela 4. Características da amostra, estratificado segundo sexo. Variável Masculino Feminino Todos Idade, anos 37,8±15,2 37,1±14,6 37,5±14,9 68,6±11,6** 62,5±12,2 65,4±12,3 1,65±0,18** 1,54±0,13 1,59±0,17 24,6±3,6 26,1±4,9** 25,4±4,4 C. Cintura, cm 83,6±9,5 84,3±11,5 84,0±10,6 C. Quadril, cm 85,6±9,2 91,8±10,5** 88,9±10,4 0,89±0,06** 0,87±0,08 0,88±0,07 Glicemia, mg/dL 92,3±16,9 89,7±17,9 90,9±17,5 Colesterol, mg/dL 163,2±46,7 170,5±44,1* 167,1±45,5 102,5±78,3,4 108,5±73,6** 105,7±75,9 HDL-C, mg/dL 48,1±15,8 49,9±13,5 49,0±14,6 LDL-C, mg/dL 94,9±39,4 99,3±38,4 97,2±38,9 VLDL-C, mg/dL 22,6±40,5 21,7±14,7 22,1±29,7 2,1±1,1 2,1±0,9 2,1±1,0 Uréia, mg/dL 26,8±8,6** 22,3±7,7 24,4±8,4 Creatinina, mg/dL 0,93±0,24** 0,70±0,20 0,80±0,25 Ácido Úrico, mg/dL 5,0±1,6** 3,7±1,0 4,3±1,5 Hemácias 4,9±0,5** 4,4±0,4 4,6±0,5 Hemoglobina 14,8±1,2** 12,9±1,3 13,8±1,6 Hematócritos 44,7±3,5** 39,3±3,5 41,8±4,4 PAS, mmHg 124,9±17,9** 117,9±21,6 121,2±20,3 PAD, mmHg 77,9±10,8** 75,2±11,3 76,4±11,2 65,8±10,3 72,4±10,7** 69,3±11,0 Peso, Kg Altura, m IMC. Kg/m 2 R. Cintura-Quadril Tri glicerídeos, mg/dL LDL/HDL FC, bpm * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação masculino vs feminino 58 A Tabela 5 mostra os parâmetros urinários, de acordo com a etnia. A média estimada do consumo de sal de todos indivíduos estudados, utilizando-se o método de estimativa a partir da excreção urinária de sódio de 12hs foi de 13,7(7,1)g/ dia . A excreção de potássio de 12hs foi significativamente menor no grupo dos Guaranis 13,4(7,9) mEq/L quando comparada aos Tupiniquins 17,6(8,9) mEq/L e outros 17,1(8,0)(P<0,05). Não foram encontradas diferenças no volume urinário (P=0,08), densidade urinária (P=0,264), sódio de 12hs(P=0,173), consumo de NaCl(P=0,17) e creatinina urinária (P=0,07 )entre os grupos. Uréia (P=0,142), clearence de creatinina (P=0,14) e cálcio plasmático (P=0,052) entre os grupos. Tabela 5. Características da amostra, estratificado segundo etnia. Variável Tupiniquim Guarani Não índio Todos Urina Volume, ml 0,72±0,34 0,62±0,36 0,77±0,39 0,73±0,35 Fluxo, ml/min 1,03±0,49 0,88±0,52 1,09±0,55 1,03±0,50 1019±5 1020±5 1019±5 1019±5 105,4±55,7 90,2±40,6 109,7±55,2 105,3±55,0 Potássio/12hs, mEq/L 17,6±8,9 13,4±7,9* 17,1±8,0 17,2±8,7 Consumo NaCl /24h 13,7±7,2 11,7±5,3 14,2±7,2 13,7±7,1 103,3±66,6 82,2±37,7 93,8±59,4 100,4±64,2 Plasma Uréia, mg/dL 24,5±8,7 22,3±7,0 25,2±7,8 24,4±8,5 Creatinina, mg/dL 0,81±0,26 0,76±0,21 0,78±0,21 0,80±0,25 Sódio, mg/dL 142,7±5,1 143,6±4,8 142,5±5,2 142,7±5,1 Potássio, mg/dL 4,6±0,4 4,3±0,4** 4,6±0,5 4,5±0,4 Cálcio, mg/dL 8,0±2,1 8,8±0,7 8,0±2,0 8,1±2,0 Densidade Sódio/12hs, mEq/L Creatinina, mEq/L * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio 59 2. FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR Com base nas medidas antropométricas, clínicas e bioquímicas foram analisadas as prevalências de fatores de risco principais de doença cardiovascular dos participantes, estratificado pela etnia, conforme é observado na Tabela 6. A proporção de indivíduos com hipertensão arterial foi significativamente menor no grupo Guarani em comparação com o Tupiniquim e não índio( Guaranis:1,5%; Tupiniquins:20,8% e não índios:17,5%). A prevalência de história familiar de hipertensão arterial foi significativamente mais baixa na etnia Guarani(9,2%), quando comparada aos Tupiniquins(55%) e não índios(66%)(χ2<0,001). A proporção de indivíduos com Diabettes mellitus, dislipidemia foi semelhante entre os diferentes grupos étnicos raciais (χ2 =0,20 e 0,12, NS). Os participantes com diabetes (n=29) constituíram 4,3% do total de indivíduos estudados. Sendo as prevalências de 4,2% nos Tupiniquins, 1,5% nos Guaranis e 6,1% nos não índios. Os indivíduos dislipidêmicos (n=382) constituíram 42,3% do total, sendo as prevalências de 40, 7, 44,6 e de 44,7% para os Tupiniquins, Guaranis e não índios, respectivamente. Os participantes com sobrepeso IMC≥30 Kg/m2(n=390), constituíram cerca de 46,4% do total de participantes, não havendo diferenças entre grupos(χ2 =0,49), entretanto a proporção de indivíduos com sobrepeso 3 foi maior nos Guaranis 7% quando comparada a Tupiniquins 0% e não 0,9 índios. A proporção de indivíduos tabagistas foi significativamente maior nos Guaranis(n=39, 60%) em comparação com o grupo Tupiniquim(n=106, 21,4%) e não índios(n=30, 26,3%)(χ2 < 0,001). A prevalência de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) nos participantes é analisada na Tabela 7. Nesta, é evidenciada a presença de HVE segundo os critérios de Sokolov-Lyon e o critério de Homhilt-Estes, onde a HVE se faz presente respectivamente em 21,3% (n= 193) e 3,3% (n= 21) do total de participantes, segundo cada um dos critérios. Para o cálculo do risco de desenvolvimento de Doença Coronariana foi escolhido o critério de Homhilte-Estes para pontuação de HVE. Segundo este critério, a prevalência de HVE entre os Tupiniquins foi de n=14(2,9%) e não índios n=7(6,1%) entre os Guaranis não foi observado nenhum caso de HVE. 60 Tabela 6. Prevalência de fatores de risco Cardiovascular . Tupiniquim Guarani Não índio Todos (n=496) (n=57) (n=114) (n=667) Variável Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev. Hipertensão 103 20,8 1 1,5** 20 17,5 124 18,6 Estágio 1 70 14,1 0 0,0 14 12,3 84 12,6 Estágio 2 e 3 33 6,7 0 0,0 6 5,3 39 5,8 21 4,2 1 1,5 7 6,1 29 4,3 23 4,6 0 0,0 3 2,6 26 3,9 273 55,0 6 10,5** 70 61,4 349 52,3 Forte 100 20,2 0 0,0 15 13,2 115 17,2 Fraca 173 34,9 6 10,5 55 48,2 234 35,1 Dislipidemia 202 40,7 29 50,9 51 44,7 282 42,3 Obesidade 74 14,9 13 22,8 13 11,4 97 14,5 Sobrepeso 1 158 31,9 19 33,3 33 28,9 210 31,5 Sobrepeso 2 74 14,9 9 15,8 12 10,5 95 14,2 Sobrepeso 3 0 0,0 4 7,0 1 0,9 5 0,7 106 21,4 35 61,4** 30 26,3 171 25,6 108 21,8 11 19,3 30 26,3 149 22,3 Diabetes mellitus Intolerância à glicose História familiar de HA Tabagismo Ex-tabagista * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio 61 Tabela 7. Prevalência de hipertrofia ventricular esquerda pelo critério de Sokolow-Lyon e Homhilt-Estes. Hipertrofia Ventricular Tupiniquim Guarani Não índio Esquerda n % n % n % n % Sokolow Lyon 155 31,6 7 13,0 31 27,2 193 21,3 Homhilt-Estes 14 2,9 0 0,0 7 6,1 21 3,2 Na Tabela 8 os indivíduos Todos foram classificados quanto ao risco de desenvolvimento de eventos coronarianos, estratificados por etnia. A Pontuação Global, a probabilidade de eventos em 5 e 10 anos é menor nas etmia Guarani (Pt: 5,7±4,5; Prob 5: 1,6±1,1 e Prob 10: 3,8±2,3) em comparação com os Tupiniquins ((Pt: 12,1±9,1; Prob 5: 5,3±6,4 e Prob 10: 10,6±11) e não índios (Pt: 12±8,9; Prob 5: 5,2±6,2 e Prob 10: 10±2,3 )P<0,001. Da totalidade dos indivíduos 65,3% (n= 428) foram classificados como de baixo risco para desenvolvimento de DAC em 10 anos, sendo que a proporção de indivíduos considerados de baixo risco foi significativamente maior na etnia Guarani 96,1% (n=49) em comparação com Tupiniquins 64,8% (n=318)e não índios54% (n=61) χ2<0,001. Figura 1. 62 Tabela 8. Cálculo do risco Coronariano, nas Reservas indígenas do Espírito Santo, estratificado pela etnia. Raça Probabilidade 5 Pontuação global anos Probabilidade 10 anos Tupiniquim 12,1±9,1 5,3±6,4 10,6±11,0 Guarani 5,7±4,5 1,6±1,1 3,8±2,3 Não índios 14,1±8,3 6,1±6,2 12,1±10,6 Total 12,0±8,9 5,2±6,2 10,3±10,7 Risco de eventos coronarianos,segundo escore de Framingham. Tabela 9. Risco de ocorrência de eventos Coronarianos, na área de reservas indígenas do Espírito Santo, estratificado pela etnia. Risco Tupiniquim Guarani Não índios Total Alto (> 20%) 80 (16,3%) 0 (0,0%) 24 (21,2%) 104 (15,9%) Médio (10 – 20%) 93 (18,9%) 2 (3,9%) 28 (24,8%) 123 (18,8%) Baixo (< 10%) 318 (64,8%) 49 (96,1%) 61 (54,0%) 428 (65,3%) Total 491 (100,0%) 51 (100,0%) 113 (100,0%) 655 (100,0%) Coronariano Qui-quadrado = 27,99 p < 0,001 63 16 Probabilidade 10 anos 14 12 10 8 6 4 2 N= ** 491 51 113 Tupiniquim Guarani Não índios Raça Figura 2. Probabilidade de ocorrência de eventos coronarianos em 10 anos, nas reservas indígenas do Espírito Santo, de acordo com a etnia. 64 3. CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Todos os dados apresentados neste estudo referem-se a média clínica da presão arterial. A Tabela 9 apresenta a classificação da pressão arterial de acordo com o comitê americano para detecção, avaliação e tratamento da hipertensão arterial (JNT VI, 1997). Observa-se que 70% (n=464) dos participantes são classificados como normotensos e 11,2%(n= 74) apresentam níveis de pressão arterial normal-alta. A prevalência de hipertensão entre os 670 participantes foi de 18,6%(n=124). Do total dos indivíduos hipertensos a grande maioria 68,5%(n=85) foram classificados como hipertensos leves(estágio 1). Menos de 6% da amostra (n=39) foram classificados nos estágios moderado (11) e grave (14) desta doença. Do total dos participantes 84% já haviam aferido a PA alguma vez. Sendo que dos 124 classificados como hipertensos tinham conhecimento deste diagnóstico. 68(46,5%) referiam estar fazendo uso de medicação anti-hipertensiva nas 2 semanas anteriores a visita domiciliar e deste total apenas 28% atingiam as metas de controle pressórico (140/90mmHg). Entre os Tupiniquins foram 103 hipertensos em 493(20%), destes 84(81,4%) classificados no estágio 1 e 33(18,5%) nos estágios 2e3 de hipertensão arterial. No grupo étnico não índio a prevalência foi de 17,5%(n=20) dos quais 14(70%) classificados no estágio 1 e apenas 6 indivíduos(30%) classificados nos estágios 2 e 3 . Nos Guaranis observamos a menor prevalência de HA, apenas 1 indivíduo em 60(1,5%) e este não manteve níveis tencionais acima de 140/90 mmHg quando reavaliado posteriormente(1-3 meses). A Tabela 12 evidencia uma prevalência mais baixa de hipertensão na etnia Guarani mesmo após ajuste para idade. Não houve diferenças significativas quanto ao percentual de prevalência de hipertensão entre os sexos. Sendo a prevalência total de 17,6% (n=56) no sexo masculino e 19,3%(n=68 ) no sexo feminino. A figura evidencia a prevalência de HA, segundo aldeia de residência. Nas aldeias Guaranis, analisadas em conjunto a prevalência foi de apenas 1 caso(1,5%), enquanto que nas aldeias Tupiniquins foram de 17,4%(n=59) em Caieras Velha, 19,4% (n=23 )em Irajá e 27,1 % (n=41 ) em Pau Brasil. 65 Tabela 10. Classificação da pressão arterial segundo etnia. Estágios Tupiniquim Guarani Não índio Todos pressóricos Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev. Normal 333 67,4 49 89,1 82 72,6 464 70,1 Normal-alta 58 11,7 5 9,1 11 9,7 74 11,2 Estágio I 70 14,2 1 1,8 14 12,4 85 12,8 Estágio II 18 3,6 0 0,0 2 1,8 20 3,0 Estágio III 15 3,0 0 0,0 4 3,5 19 2,9 A classificação da pressão arterial de acordo com o comitê americano para detecção, avaliação e tratamento da hipertensão arterial (JNT VI, 1997) Tabela 11. Prevalência de hipertensão arterial em 670 indivíduos residentes nas comunidades indígenas no Espírito Santo. Etnia Normotensos Hipertensos Prevalência Total Tupiniquim 393 103 20,85 496 Guarani 60 1 1,58 60 Não índios 94 20 17,69 114 Total 546 124 18,50 670 66 Na Tabela 12 são evidenciados os parâmetros hemodinâmicos nos diferentes grupos étnicos raciais. Os valores médios de PAS, PAD, PAM, PP (P< 0,01)e VOP (P<0,05) foram significativamente menores na etnia Guarani comparados os grupo Tupiniquin e não índio. Mesmo após o ajuste para a idade e IMC, observa-se uma diferença significativa da PAM na etnia Guarani (95,3±1,8; IC 95% 1,7-98,9) comparada aos Tupiniquins(107 ±0,6 ; IC 95% 106,3-108,7)e não índios(105,7± 1,2; IC 95%103,2-108,1)P<0,01.Tabela 14 67 Tabela 12. Características da amostra, estratificado segundo sexo. Variável Tupiniquim Guarani Não índio Todos 123 ± 20 107 ± 14** 120 ± 21 121 ± 20 Mín-Máx 89 – 202 83 – 140 87 – 191 83 – 202 IC 95% 121 – 125 105 – 112 116 – 124 120 – 123 77 ± 11 70 ± 10** 78 ± 13 76 ± 9 Mín-Máx 53 – 119 48 – 88 58 – 127 48 – 127 IC 95% 76 – 78 66 – 71 76 – 80 76 – 77 92 ± 13 81 ± 10** 92 ± 15 91 ± 13 Mín-Máx 67 – 142 61 – 105 70 – 147 61 – 147 IC 95% 91 – 93 78 – 84 89 – 95 90 – 92 46 ± 14 38 ± 8** 42 ± 12 45 ± 13 Mín-Máx 22 – 115 24 – 59 20 – 80 20 – 115 IC 95% 45 – 47 36 – 40 40 – 45 44 – 46 69 ± 11 70 ± 9 71 ± 11 69 ± 11 Mín-Máx 40 – 135 55 – 98 48 – 113 40 – 135 IC 95% 68 – 70 68 – 73 69 – 73 68 – 70 8,8 ± 2,2 7,5 ± 1,4** 8,4 ± 2,0 8,6 ± 2,2 Mín-Máx 4,8 – 18,2 5,3 – 12,0 5,1 – 13,2 4,8 – 18,2 IC 95% 8,6 – 9,0 7,2 – 7,9 8,0 – 8,8 8,5 – 8,8 PAS Média ± DP PAD Média ± DP PAM Média ± DP PP Média ± DP FC Média ± DP VOP Média ± DP * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs tupiniquin e não índio 68 Tabela 13. Pressão arterial média ajustada pela idade , segundo estratificação étnicoracial nas aldeias Indígenas do Espírito Santo. PAM Desvio Intervalo de Confiança 95% Média Padrão inferior Tupiniquim 92,251(a) ,517 91,235 93,266 Guarani 82,821(a) 1,555 79,768 85,873 Não índios 91,560(a) 1,082 89,435 93,685 Raça superior ª As covariáveis que aparecem no modelo são avaliadas nos seguintes valores: Idade = 37,42;. A variação da PAS e PAD com a idade nas diferentes etnias é demonstrada nas Tabelas 15 e 16. Houve um aumento significativo da PAS com a idade nos grupos Tupiniquins e não índios (P<0,01). Na etnia Guarani a PAS se eleva até a quinta década de vida(P<0,01), entretanto esta diferença não se mantém nos indivíduos acima de 60 anos de idade. A PAD se eleva até a quinta década de vida e se mantém após os 60 anos nos Tupiniquins e não índios. Na etnia Guarani não houve diferenças significativas dos níveis de PAD nas diferentes faixas etárias. Em relação a PA com a idade pode-se verificar a ocorrência de níveis pressóricos mais baixos em todas as faixas etárias na etnia Guarani em comparação com Tupiniquins e não índios. Cabe ressaltar que os Tupiniquins e não índios apresentaram níveis médios de PAS cerca de 4-30 mmHg maiores e de PAD cerca de 6-9 mmHg maiores que o grupo étnico Guarani em todas faixas etárias. A análise da PA, segundo as aldeias é demonstrada na figura 2. Nas aldeias Guaranis observam-se níveis tensionais mais baixos( 109/70 mmHg) em comparação com as aldeias Tupiniquins de Caieras Velhas( 121/77 mmHg) e de Irajá( 122/77 mmHg) e de Páu-Brasil onde os níveis tensionais sistólico e diastólico foram significativamente maiores ( 127/79 mmHg)(P< 0,001). 69 Tabela 14. Pressão arterial sistólica em 670 indivíduos residentes nas Comunidades indígenas no Espírito Santo, estratificada por faixas etárias. Faixa etária Tupiniquim Guarani Não índio 20 | 30 112±13 103±11 111±13 30 | 40 112±14 108±15 118±15 40 | 50 129±19 116±16 127±20 50 | 60 139±21 123±13 136±23 ≥ 60 147±22 117±13 143±23 Total 123±20 109±14 121±20 Tabela 15. Pressão arterial diastólica em 670 indivíduos residentes nas Comunidades indígenas no Espírito Santo, estratificada por faixas etárias. Faixa etária Tupiniquim Guarani 20 | 30 72±8 66±9 70±7 30 | 40 78±10 70±10 77±8 40 | 50 83±11 77±8 82±15 50 | 60 84±10 75±8 89±14 ≥ 60 80±9 73±12 84±9 Total 77±11 70±10 78±13 Não índio A Tabela 16 apresenta as médias e o desvio-padrão das medidas hemodinâmicas, antropométricas e bioquímicas, segundo classificação dos indivíduos normotensos e hipertensos. Apenas o peso, parâmetros do hemograma: hemáceas, hemoglobina, hematócrito e a FC não apresentaram diferenças significativas entre os grupos. Todas as outras medidas são diferentes entre o grupo de normotensos e hipertensos, P<0,001). inclusive a idade (hipertensos:51,9±16,1; normotensos:33,3±12,8, 70 130 Pressão Arterial sistólica nas Comunidades Indígenas do Espírito Santo 125 120 115 110 105 100 95 Guaranis Caieras PAS Irajá Páu Brasil Pressão Arterial diastólica nas Comunidades Indígenas do Espírito Santo 80 75 70 65 60 Guaranis Caieras PAD Irajá Páu Brasil Figura 3. Valores médios de pressão arterial nas Aldeias indígenas do Espírito Santo. 71 Tabela 16. Características dos indígenas, estratificado segundo pressão arterial. Variável Normotenso Hipertenso Geral Idade, anos 33,8±12,8 51,9±16,1** 37,2±15,2 Peso, Kg 65,4±11,5 66,7±14,1 65,6±12,0 Altura, m 161,2±8,8 156,9±9,9** 160,4±9,1 IMC. Kg/m2 25,2±4,2 27,0±4,5** 25,5±4,3 C. Cintura, cm 82,8±9,8 90,1±10,7** 84,2±10,4 C. Quadril, cm 88,1±9,9 93,7±10,1** 89,2±10,2 R. Cintura-Quadril 0,87±0,07 0,94±0,07** 0,88±0,07 Glicemia, mg/dL 88,5±13,2 100,7±23,8** 90,9±16,5 Colesterol, mg/dL 159,2±41,6 186,8±46,0** 164,5±43,8 Tri glicerídeos, mg/dL 102,6±74,7 134,2±95,2** 108,5±79,8 HDL-C, mg/dL 48,7±15,4 49,3±13,4 48,8±15,0 ** LDL-C, mg/dL 90,3±35,2 111,2±38,0 94,3±36,7 VLDL-C, mg/dL 20,5±14,9 33,1±66,8 22,9±32,4 LDL/HDL 1,98±0,90 Uréia, mg/dL 23,5±7,9 Creatinina, mg/dL Depuração creatinina 0,8±0,2 ** 2,05±0,93 ** 24,3±8,6 2,36±0,98 27,8±10,3 ** 0,9±0,3 0,8±0,3 ** 106,6±11,6 92,7±14,4 103,9±13,4 Ácido Úrico, mg/dL 4,2±1,3 4,7±1,5** 4,3±1,3 Hemácias 4,6±0,5 4,6±0,5 4,6±0,5 Hemoglobina 13,8±1,5 13,9±1,7 13,8±1,6 Hematócrito 41,8±4,5 42,3±4,6 41,9±4,5 PAS, mmHg 114±12 153±17** 121±20 PAD, mmHg 73±8 90±10** 76±11 PP, mmHg 41±8 63±17** 45±13 PAM, mmHg 86±9 111±10** 91±13 VOP, m/s 8,2±1,7 11,2±2,4** 8,7±2,2 FC, bpm 69±10 68±13 69±11 * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação normotenso vs hipertenso 72 A Tabela 17 apresenta as médias e o desvio padrão das variáveis hemodinâmicas, antropométricas e bioquímicas, segundo a presença (predispostos) ou ausência (não-predispostos) de história familiar de hipertensão arterial. Os indivíduos com história familiar positiva apresentaram maiores níveis de PAD, RCQ, volume urinário, sódio urinário de 12hs e consumo de NaCl em 24hs P<0,001 em relação aos não predispostos. Na Tabela 18 são apresentados os resultados da análise da correlação linear simples entre os parâmetros hemodinâmicos e as possíveis variàveis explicativas (associadas) a estes parâmetros na etnia Tupiniquim. Entre os Tupiniquins a variável mais correlacionada com a PAS e foi a idade (r=0,59) em seguida vem as variáveis: relação cintura-quadril(r=0,53), circunferência da cintura(r=0,34), glicemia(r=0,30), colesterol total(r=0,26), LDL colesterol(r=0,24) e o IMC(r=0,20). As variàveis que não apresentaram associação significativa com a PAS nesta etnia foram: HDL-colesterol (r=-0,004), peso (r=0,087), Na–U/12h (r=0,048) e o consumo de NaCl/24h (r=0,043). O NaU/12h e o consumo de NaCl apresentaram correlação significativa apenas com a PAD(P<0,05). As retas de regressão das variáveis da Tabela 19 são apresentadas nas figuras de 3 a 5. A Tabela 19 apresenta os resultados da análise da correlação linear simples entre parâmetros hemodinâmicos e as possíveis variáveis relacionadas na etnia Guarani. Neste grupo a variável mais correlacionada a PAS, PP e PAM foi a relação cintura quadril, seguida pela idade, IMC, circunferência da cintura e o peso. A PAD apresentou maior correlação com o IMC (r=0,51), seguida pela circunferência da cintura(r=0,48), peso (r=0,48) relação cintura quadril(r=0,47) e idade (r=0,30).As retas de regressão das variáveis da Tabela 19 são apresentadas nas figuras de 6 a 10. 73 Tabela 17. Características dos indígenas, estratificado segundo pressão arterial. Variável Predispostos Não predispostos Geral Idade, anos 37,8±15,8 38,3±15,9 37,0±14,3 PAS, mmHg 124±20 122±22 122±20 PAD, mmHg 79±11 76±11** 77±11 PP, mmHg 45±12 46±15 45±13 PAM, mmHg 94±14 91±14 92±13 VOP, m/s 8,7±1,9 8,7±2,4 8,7±2,1 FC, bpm 69±11 68±11 69±11 Glicemia, mg/dL 96,8±25,4 90,8±16,1** 91,4±17,2 Colesterol Total, mg/dL 168,4±42,3 162,1±45,0 165,0±43,4 HDL-C, mg/dL 49,1±13,7 49,0±18,3 48,8±15,3 LDL-C, mg/dL 97,4±36,9 89,9±35,6 94,5±36,5 Uréia, mg/dL 24,7±9,1 23,7±8,3 24,1±8,5 Creat-Plasmática, mg/dL 0,8±0,3 0,8±0,2 0,8±0,3 Àcido Úrico,mg/dL 4,5±1,9 4,3±1,2 4,3±1,4 Peso, kg 67,3±12,6 64,8±11,8 65,9±12,0 IMC, kg/m2 26,1±4,3 25,6±4,5 25,7±4,3 C. Cintura, cm 85,9±10,6 84,6±10,9 84,6±10,4 0,9±0,1 0,9±0,1 0,9±0,1 R. Cintura-Quadril Vol. Urinarário, L 0,8±0,4 ** 0,7±0,3 0,7±0,4 ** Na-U/12h, mg/dL 116,4±63,3 97,9±52,3 106,5±56,4 K-U /12H, mg/dL 18,4±9,2 17,0±9,4 17,5±9,1 ** Consumo NaCl /24h 15,1±8,2 12,8±6,8 13,8±7,3 Na-U/K-U 12h 6,7±2,7 6,4±3,0 6,6±2,9 103,8±13,4 103,3±13,3 104,1±12,5 Depuração creatinina Predispostos- história familiar positiva de HÁ, não pré-dispostos- sem história familiar de HÁ * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação predispostos vs não pré-dispostos 74 Tabela 18. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos nos Tupiniquins. Variável PAS PAD PP PAM Idade 0,597** 0,372** 0,584** 0,512** Peso 0,087 0,249** -0,066 0,181** IMC 0,209** 0,312** 0,063 0,279** C. Cintura 0,348** 0,395** 0,203** 0,396** Relação Cintura-Quadril 0,537** 0,460** 0,450** 0,528** Glicemia 0,305** 0,258** 0,248** 0,298** Colesterol Total 0,262** 0,287** 0,160** 0,293** HDL-C -0,004 -0,057 0,037 -0,033 LDL-C 0,241** 0,278** 0,139** 0,277** Na-U/12h 0,048 0,100* -0,007 0,079 0,043 * -0,012 0,075 Cons.NaCl /24h * p < 0,05 0,097 ** p < 0,01 Tabela 19. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos nos Guaranis Variável PAS PAD PP 0,423 0,301 0,302 0,407** Peso 0,340* 0,483** -0,004 0,445** IMC 0,386** 0,514** 0,035 0,484** C. Cintura 0,372** 0,485** 0,047 0,461** Relação Cintura-Quadril 0,447** 0,473** 0,186 0,485** Glicemia 0,055 0,169 -0,107 0,127 Colesterol Total 0,083 0,262 -0,169 0,196 HDL-C 0,015 0,038 -0,019 0,029 LDL-C 0,016 0,231 -0,249 0,147 Na-U/12h 0,035 0,192 -0,169 0,134 Cons.NaCl /24h 0,035 0,192 -0,169 0,134 ** p < 0,01 * PAM Idade * p < 0,05 ** * 75 y = 0,7785x + 93,654 R2 = 0,3575 250 200 200 PAS, mmHg PAS, mmHg y = 0,1467x + 113,31 R2 = 0,0073 250 150 100 50 150 100 50 0 0 0 20 40 60 80 100 30 60 Idade, anos y = 0,6818x + 65,561 R2 = 0,121 250 200 PAS, mmHg 200 PAS, mmHg 120 Peso, Kg y = 0,9998x + 97,488 R2 = 0,0435 250 90 150 100 150 100 50 50 0 0 10 15 20 25 30 35 40 45 60 70 80 90 100 110 120 Circunferência Cintura IMC, Kg/m 2 y = 0,482x + 80,076 R2 = 0,0579 250 PAS, mmHg 200 150 100 50 0 60 70 80 90 100 110 120 130 Relação Cintura-Quadril Figura 4. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica com variáveis antropométricas e idade nos Tupiniquins. 76 y = 0,1321x + 110,19 R2 = 0,0577 250 200 200 PAS, mmHg PAS, mmHg y = 0,0176x + 121,2 R2 = 0,0023 250 150 100 50 150 100 50 0 0 0 50 100 150 200 250 300 0 100 200 LDL-C y = 0,1218x + 121,41 R2 = 0,0019 250 200 PAS, mmHg PAS, mmHg 400 y = 0,3768x + 88,273 R2 = 0,093 250 200 150 100 150 100 50 50 0 0 0 10 20 30 40 50 60 50 100 150 NaCl 200 250 300 Glicem ia y = 0,1217x + 102,73 R2 = 0,0687 250 y = -0,0065x + 123,25 R2 = 0,00002 250 200 200 PAS, mmHg PAS, mmHg 300 Na-U 150 100 50 150 100 50 0 0 0 100 200 300 400 Colesterol Total 0 50 100 150 200 250 HDL-C Figura 5. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins. 77 y = 0,2547x + 67,384 R2 = 0,1366 120 120 100 100 80 60 40 y = 0,2233x + 62,239 R2 = 0,0604 140 PAD, mmHg PAD, mmHg 140 80 60 40 20 20 0 0 0 20 40 60 80 20 100 40 60 y = 0,7871x + 56,918 R2 = 0,0959 120 120 120 100 100 80 60 40 20 y = 0,407x + 42,698 R2 = 0,1536 140 PAD, mmHg PAD, mmHg 100 Peso, Kg Idade, anos 140 80 80 60 40 20 0 0 10 15 20 25 30 35 40 45 IMC, Kg/m 2 60 70 80 90 100 110 120 Circunferência Cintura y = 0,3391x + 46,792 R2 = 0,102 140 120 PAD, mmHg 100 80 60 40 20 0 60 70 80 90 100 110 120 130 Relação Cintura-Quadril Figura 6. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial diastólica com variáveis antropométricas e idade nos Tupiniquins. 78 y = 0,0794x + 69,233 R2 = 0,0759 120 120 100 100 80 60 y = 0,0186x + 75,14 R2 = 0,0094 140 PAD, mmHg PAD, mmHg 140 80 60 40 40 20 20 0 0 0 50 100 150 200 250 0 300 100 y = 0,1392x + 75,189 R2 = 0,0088 140 400 120 120 100 100 80 60 40 y = 0,1667x + 61,588 R2 = 0,0651 140 PAD, mmHg PAD, mmHg 300 Na-U LDL-C 80 60 40 20 20 0 0 0 10 20 30 40 50 50 60 100 150 200 250 300 Glicemia NaCl y = 0,07x + 65,33 R2 = 0,0811 140 120 120 100 100 80 60 40 y = -0,0403x + 78,929 R2 = 0,0033 140 PAD, mmHg PAD, mmHg 200 80 60 40 20 20 0 0 0 100 200 300 400 0 Colesterol Total 50 100 150 200 250 HDL-C Figura 7. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial diaistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins. 160 160 140 140 120 120 PAS, mmHg PAS, mmHg 79 100 80 60 40 80 60 40 y = 0,4056x + 93,793 R2 = 0,1747 20 100 y = 0,3118x + 86,705 R2 = 0,1097 20 0 0 0 20 40 60 80 100 20 40 60 100 120 Peso, Kg 160 160 140 140 120 120 PAS, mmHg PAS, mmHg Idade, anos 80 100 80 60 40 y = 1,0218x + 79,389 R2 = 0,1514 20 0 100 80 60 40 y = 0,4231x + 70,631 R2 = 0,1338 20 0 10 15 20 25 30 35 40 45 IMC, Kg/m 2 50 60 70 80 90 100 110 120 Circunferência Cintura 160 140 PAS, mmHg 120 100 80 60 40 y = 0,3597x + 73,412 R2 = 0,0923 20 0 70 80 90 100 110 120 130 Relação Cintura-Quadril Figura 8. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica com variáveis antropométricas e idade na etnia Guarani. 160 160 140 140 120 120 PAS, mmHg PAS, mmHg 80 100 80 60 40 100 80 60 40 y = 0,0058x + 105,73 R2 = 0,0002 20 y = 0,0084x + 106,31 R2 = 0,0006 20 0 0 0 50 100 150 200 0 50 100 160 160 140 140 120 120 100 80 60 200 250 100 80 60 40 40 y = 0,0646x + 106,31 R2 = 0,0006 20 y = 0,054x + 101,94 R2 = 0,0024 20 0 0 0 5 10 15 20 25 50 30 80 110 140 170 Glicem ia NaCl 160 160 140 140 120 120 100 PAS, mmHg PAS, mmHg 150 Na-U PAS, mmHg PAS, mmHg LDL-C 80 60 40 100 80 60 40 y = 0,0257x + 102,43 R2 = 0,0071 20 0 y = 0,0164x + 105,52 R2 = 0,0002 20 0 50 100 150 200 250 300 Colesterol Total 20 30 40 50 60 70 80 HDL-C Figura 9. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani. 120 120 100 100 80 80 PAD, mmHg PAD, mmHg 81 60 40 y = 0,2002x + 62,27 R2 = 0,0908 20 60 40 y = 0,3156x + 48,405 R2 = 0,2242 20 0 0 0 20 40 60 80 100 20 40 60 100 120 Peso, Kg 120 120 100 100 80 80 PAD, mmHg PAD, mmHg Idade, anos 80 60 40 y = 0,9477x + 43,29 R2 = 0,2597 20 0 60 40 y = 0,3881x + 35,532 R2 = 0,2246 20 0 10 15 20 25 30 35 40 45 IMC, Kg/m2 60 70 80 90 100 110 120 Circunferência Cintura 120 PAD, mmHg 100 80 60 40 y = 0,3162x + 39,764 R2 = 0,1485 20 0 70 80 90 100 110 120 130 Relação Cintura-Quadril Figura 10. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial diastólica com variáveis antropométricas e idade na etnia Guarani. 120 120 100 100 80 80 PAD, mmHg PAD, mmHg 82 60 40 60 40 y = 0,0618x + 63,435 R2 = 0,0538 20 y = 0,048x + 64,823 R2 = 0,0368 20 0 0 0 50 100 150 0 200 50 100 120 120 100 100 80 80 PAD, mmHg PAD, mmHg 200 250 Na-U LDL-C 60 40 y = 0,3687x + 64,841 R2 = 0,0368 20 60 40 y = 0,1295x + 58,383 R2 = 0,0288 20 0 0 0 5 10 15 20 25 50 30 70 90 110 130 150 Glicem ia NaCl 120 120 100 100 80 80 PAD, mmHg PAD, mmHg 150 60 40 y = 0,0554x + 60,476 R2 = 0,0689 20 0 60 40 y = 0,031x + 67,305 R2 = 0,0012 20 0 50 100 150 200 250 300 20 Colesterol Total 30 40 50 60 70 80 HDL-C Figura 11. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica em função das variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani. 83 A Tabela 20 mostra os resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas à pressão arterial sistólica na etnia Tupiniquim. Foram excluídas do modelo as variáveis colineares. (circunferência da cintura, peso, IMC, glicemia e colesterol total). Permaneceu no modelo apenas a Idade e relação cintura quadril, que juntos foram responsáveis por 44% da variabilidade observada na PAS dos participantes. PAS=36,62 + 0,70. idade + 68,63,63. RCQ (r2 = 0,44, P<0,001). Este modelo parece ser bem razoável para explicar a variabilidade de PAS entre os Tupiniquins, uma vez que o teste de Kolgmorov-Smirnov mostra que os resíduos têm distribuição normal (P<0,05). Tabela 20. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas a Pressão arterial sistólica (PAS), na etnia Tupiniquim . Modelo 1 2 coeficiente Erro Padrão valor de t valor de P constante 89,778 2,521 35,611 <0,001 idade 0,901 0,62 14,454 <0,001 constante 36,26 12,193 3,004 <0,001 idade 0,700 0,75 9,281 <0,001 RCQ 68,633 15,423 4,450 <0,001 ª Variável dependente :PAS RCQ, Razão cintura quadril. R2 = 0,44 P< 0,001 PAS (mmHg) = 36,62 + 0,700 .idade + 68,633 . RCQ 84 A Tabela 21 mostra os resultados da análise de regressão linear múltipla (Stepwise) das variáveis associadas à PAD na etnia Guarani. Permaneceu no modelo apenas a Relação cintura quadril que explica20%da variabilidade de PAS nesta etnia. PAS= 22,14 +95,87 .RCQ (r2= 0,20, P=0,001). Tabela 21. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas a Pressão arterial sistólica (PAS), na etnia Guarani . Modelo 1 coeficiente Erro Padrão valor de t valor de P constante 22,140 23,613 9,38 0,353 RCQ 95,871 26,846 0,447 0,001 ª Variável dependente :PAS; RCQ, Razão cintura quadril. R2= 0, 22, P = 0,001 PAS (mmHg) = 22,14 + 95,871. RCQ Da mesma forma, os resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas a PAD, a proporção da variabilidade de PAD explicada por este modelo foi de 28% e as variáveis preditoras foram RCQ, idade e peso(r2 = 0,282, P = 0,001). Sendo o RCQ o maior preditor (Tabela 22). A Tabela 23 mostra os resultados da análise de regressão linear múltipla das variáveis associadas a PAD na etnia Guarani. Apenas o Índice de massa Corporal permaneceu neste modelo, sendo responsável por 27,2% da variabilidade de PAD nesta etnia (r2 = 0,27, P<0,001). 85 Tabela 22. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas a Pressão arterial diastólica (PAD), na etnia Tupiniquim . Modelo 1 2 3 coeficiente Erro Padrão valor de t valor de P constante 18,006 6,535 2,755 0,006 RCQ 66,831 7,362 9,077 <0,001 constante 30,404 7,049 4,313 <0,001 RCQ 45,175 8,908 5,071 <0,001 Idade ,180 ,044 4,101 <0,001 Constante 31,837 6,952 4,579 <0,001 RCQ 27,142 10,381 2,615 <0,001 idade ,262 ,050 5,236 <0,001 Peso ,175 ,054 3,244 0,001 ª Variável dependente :PAS RCQ, Razão cintura quadril. r2 = 0,282, P = 0,001 PAD (mmHg) = 31,837 +. 27,142. RCQ + , 262 . idade + 0,175. peso Tabela 23. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis associadas a Pressão arterial diaistólica (PAD), na etnia Guarani . Modelo 1 coeficiente constante RCQ Erro Padrão valor de t valor de P 42,414 6,046 7,015 ,000 ,977 ,224 4,361 ,000 ª Variável dependente :PAS; RCQ, Razão cintura quadril. r2= 0,22, P<0,001 PAS (mmHg) = 42,414 + 0,977. RCQ 86 4. ANÁLISE DOS POLIMORFISMOS DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA E DO ANGIOTENSINOGÊNIO NOS TUPINIQUINS E GUARANIS As freqüências dos polimorfismo M235T do angiotensinogênio e I/D da ECA e nas duas etnias indígenas e nos não indígenas da comunidade tupiniquim são apresentados na tabela 24.Os alelos M235T do angiotensinogênio estavam em equilíbrio de Hardy-Weinberg nos indígenas e não indígenas em um nível de significância de 0,05.Os alelos D/I da ECA também apresentam equilíbrio de HardyWeinberg em ambas as populações estudadas.Os dados mostram um nítido gradienteda forma polifórmica DD do gene da ECA dos guaranis, onde a freqüência foi a mais baixa (apenas 3,9%), em direção aos tupiniquins (freqüência de 10,5%) e nos não indígenas (23,7%).Apesar deste gradiente a forma DD foi a menos freqüente nos três grupos. Em relação ao polimorfismo M235T do angiotensinogênio, a forma MM foi a menos freqüente nos três grupos, sendo que a freqüência nos graranis (3,9%) foi significativamente menor (P<0.01) do que nos tupiniquins e não indígenas. Os resultados das associações genotípicas e fenótipos pressóriocos estratificado pela etnia são avaliados nas tabelas 25 e 26. Uma associação estatisticamente significativa foi encontrada nas análises para o polimorfismo D/I da enzima conversora de angiotensina e do polimorfismo M235T com fenótipo de pressão arterial diastólica somente na etnia Tupiniquim. 87 Tabela 24. Distribuição da frequência dos polimorfismos estudados nas diferentes etnias. Guarani Tupiniquim Outros Alelo D 27,34 33,45 48,24 Alelo I 72,66 66,55 51,76 DD 3,9 10,5 23,7 DI 43,4 44 48,2 II 52,8 43,8 26,3 Alelo M 13,69 34,43 29,93 Alelo T 86,31 65,57 70,07 MM 3,9 8,7 11,4 MT 21,5 47 37,7 TT 74,5 42,1 48,2 Genótipos Freqüência de alelos Polimorfismo I/DECA Frequência de alelos Polimorfismo M235T ANGO 88 Tabela 25. Análise univariada para os fenótipos de pressão arterial. Tupiniquim Guarani Não índio Genotype PAS PAS PAS P P P Polimorfismo ECA D/I II 121,84 1,0 106,45 1,0 122,97 1,0 DI 123,72 0,33 105,73 0,85 116,05 0,12 DD 123,44 0,62 110,33 0,71 126,51 0,58 DD+DI 123,85 0,27 110,11 0,32 119,51 0,44 DD vs DI+II 123,44 0,85 108,61 0,86 118,52 0,08 MM 118,89 1,0 123,33 1,0 114,26 1,0 MT 124,46 0,09 103,43 0,23 121,69 0,25 TT 121,88 0,37 106,59 0,23 120,96 0,28 TT + MT 123,37 0,15 108,42 0,30 121,23 0,26 TT vs MT +MM 123,75 0,30 111,81 0,16 119,95 0,80 Polimorfismo ANG M/T Valores de P analisados por teste t não pareado . Tabela 26. Análise univariada para os fenótipos de pressão arterial. Tupiniquim Guarani Não índio Genótipos PAD PAD P P P PAD Polimorfismo ECA D/I II 75,55 1,0 69,87 1,0 78,40 1,0 DI 77,71 0,02 66,97 0,30 75,98 0,37 DD 79,26 0,03 72,67 0,71 81,59 0,41 DD+DI 78,07 0,009 69,49 0,88 77,97 0,87 DD vs DI+II 76,69 0,10 69,54 0,66 76,98 0,09 MM 73,19 1,0 75,33 1,0 74,21 1,0 MT 78,31 0,004 75,33 0,48 78,47 0,28 TT 76,06 0,088 69,06 0,51 78,53 0,25 TT +MT 77,33 0,014 69,55 0,56 78,59 0,09 TT vs MT + MM 77,62 0,10 70,52 0,57 77,67 0,72 Polimorfismo ANG M/T Valores de P analisados por teste t não pareado . 89 DISCUSSÃO 90 1. PRINCIPAIS ACHADOS O estudo da hipertensão arterial em habitantes das Comunidades indígenas do Espírito Santo oferece a oportunidade de avaliar atributos essenciais ou aspectos causais de conhecidos fatores de risco cardiovascular, em um grupo étnico com baixa prevalência de Hipertensão. Houve boa representatividade da amostra estudada com comparecimento de 80% da população adulta acima de 20 anos. Segundo o último levantamento nas unidades de Saúde a população era de 834 indivíduos dos quais 670 compareceram a Unidade de Saúde local para realização dos exames clínicos. Este trabalho retrata pela primeira vez dados populacionais referentes à prevalência de HA em indígenas adultos habitantes de Comunidades indígenas tradicionais Tupiniquins e Guaranis no município de Aracruz – Espírito Santo. Existem poucos relatos sobre a prevalência de HA e sua associação com fatores de risco cardiovasculares em grupos étnicos minoritários de comunidades tradicionais (Hollenberg et al, 1997, Young et al 1993, Annand et al, 2002). O estudo do padrão epidemiológico de fatores de risco em habitantes de comunidades tradicionais difere daqueles de habitantes de sociedades urbanas por se tratar de uma população atrativa para se estudar a história natural da Hipertensão arterial. É um grupo bastante homogêneo quanto a distribuição de fatores de risco sócio econômicos, padrão alimentar, onde predominam as faixas etárias mais jovem e atividades laborais mais tradicionais.Na sua grande maioria lavradores e pescadores. No aspecto étnico-racial, observa-se que mesmo nas Comunidades Tupiniquins, onde há miscigenação predominante com indivíduos de origem afro-brasileira, a ancestralidade indígena predomina na maioria das famílias. Foi encontrada predomínio do grupo sangúineo O em 70% dos indivíduos e 98% da totalidade dos indivíduos pertenciam ao fatro Rh positivo, este grupo e fator é relacionado a homogeneidade destas populações indígenas(Hollenbreg et al 1997). Estudos fenótipos do grupo sanguíneo ABO demonstram que a maioria das populações ameríndias apresenta exclusivamente a presença de grupo sanguíneo O (Franco et al,1994). Uma vez, que o grupo O é resultante da ausência da atividade de glicosil-transferase suas bases genéticas devem 91 ser heterogêneas. Franco analisou dois segmentos do gene da glicosiltransferase em dois grupos indígenas do Amazonas (Yanomamis e Araras) e comparou seus achados com outras populações de Caucasianos e negros. Em todos, a base genética do grupo O foi a deleção de um único nucleotídeo na posição 258 da glicosiltransferase A. Ou seja, apesar do componente de miscigenação étnico racial estar presente, no que diz respeito a etnia Tupiniquim, os dados referentes ao grupo sanguíneo de fator Rh reforçam a ancestralidade indígena nesta população. 2. CONSUMO DE SAL Neste estudo a aferição do consumo de sal foi realizada através da coleta da urina no período das 19:00 h as 7:00 h do dia seguinte. A coleta de urina no período noturno fornece estimativa da ingesta de sódio e se demonstra bastante eficaz documentar a aderência a dietas com redução de sal (Luft et al 1983). Dados referentes aos parâmetros urinários estudados estão demonstrados na tabela 5, observamos que nos Guaranis a excreção de Na urinário foi de 90,2±40,6 mEq no período de 12hs noturnas enquanto que no grupo Tupiniquim 105,4±55,7 e não nativos 109,7±55,2 11,7±5,3 mEq/L , não apresentando diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. O consumo estimado de NaCl /24hs foi semelhante entre os grupos étnicos estudados, sendo que entre Guaranis foi de 11,7±5,3 g, Tupiniquins 13,7±7,2g e não nativos 14,2±7,2 g. Estes valores demonstram que estes grupos apresentam níveis de consumo de sal semelhante as taxas observadas na população urbana de Vitória, onde a média de ingestão de sal, calculada a partir da excreção urinária de Na+ de 12h foi de 12,6 g/dia(Molina et al, 2003). Estas taxas podem ser comparadas às encontradas em diversos estudos, denotando uma alteração de estilo de vida, com incorporação de alimentos industrializados na dieta e maior consumo de sal. Observamos ainda, que na etnia Guarani o Potássio urinário/12hs ficou entre os mais baixos 13,4±7,9 mEq/L, P< 0,05 , os Tupiniquins e não nativos apresentaram respectivamente uma excreção de 17,6±8,9 e 17,1±8,0. Estes baixos valores deste íon são compatíveis com uma dieta com baixo consumo de frutas e vegetais, bem como 92 alimentos frescos. Cabe ressaltar que diferentemente do sódio, cuja oscilação da excreção urinária é pequena no período diurno para noturno, a excreção urinária de potássio é bem maior durante o dia e pequena no período diurno, dificultando estabelecer uma estimativa de consumo para este eletrólito. O maior consumo de potássio parece ser uma fator protetor no desenvolvimento de hipertensão arterial, assim o suplemento de potássio poderia prevenir o desenvolvimento de hipertensão( Morris et al, 1999). Vários dados sustentam a idéia de que a Há é determinada em parte pela interação de fatores genéticos e fatores ambientais no qual a ingestão de Na é o mais importante (Mc Gregor , 1883; Carvalho et al, 1989) Uma recente meta-análise verificou em 20 populações que reduziram a excreção de sódio na ordem de 40-100mmol/dia a renina plasmática sofreu um aumento em 1.8 e aldosterona de 2.3 vezes (P<0,001). Neste mesmo trabalho ainda foi observado um aumento significativo de renina, noradrenalina, colesterol e de LDL-c nos grupos de restrição de Na+(Graudal et al, 1998). Teria a restrição salina efeitos adversos no perfil lipídico?. Foi cogitado que estes achados poderiam ser devido aos desvios do balanço hídrico como a hemoconcentração, esta premissa é sustentada devido à redução de peso que ocorre no grupo de restrição salina, refletindo diminuição da água corporal total. A hemoconcentração “per se” torna-se um fator de risco não esclarecido. Oliver et al 1975, também encontraram níveis de renina 3 vezes maiores e a excreção e aldosterona 10 x maior que controles normais nos Yanomamis. A ativação compensatória do SRAA é proporcional ao grau de restrição salina. 3. PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO 3.1. Obesidade No grupo étnico Guarani a altura foi significativamente mais baixa 1,52 m ±0,22 do que nos grupos Tupiniquin (1,60± 0,17) e não indígenas (1,61±0,09). Não houve diferenças significativas do peso, índice de massa corporal e da circunferência da cintura entre os grupos, sendo seus valores médios globais, respectivamente de 93 (65,4±12,3 kg; 25,4±4,4kg/m e 84±10,6cm). Os valores de altura nos Guaranis são compatíveis aos encontrados por Cardoso em um grupo de 193 Guaranis no Rio de Janeiro. Bem como valores de peso e de IMC. (Cardoso et al, 2000). A prevalência de obesidade vem aumentando nas populações indígenas, principalmente devido à alteração da composição dietética. A dieta que antes era baseada no consumo de frutas e vegetais e alimentos frescos, baixo consumo de sal e gorduras e alto de teor de fibras muitas vezes até vegetariana vem sendo substituída por alimentos ricos em gorduras saturada, açucares de rápida absorção, além do elevado consumos do sal levando a maior retenção hídrica e expansão do volume extracelular( Feng J He et al, 2001). Durante o trabalho de campo ainda que não tenha sido possível realizar inquérito detalhado acerca do consumo alimentar, observou-se que a dieta era predominantemente composta de produtos amiláceos, industrializados, tais como arroz polido, macarrão e farinha de mandioca, pães e biscoitos. Nos Estados Unidos com os programas de saúde pública implementados nas comunidades indígenas na década de 70, visando a diminuição da mortalidade infantil, obteve-se melhoria no controle da desnutrição, entretanto a partir de 1994 passou-se a observar aumento da obesidade em tanto em adultos e posteriormente em adolescentes e crianças(Story et al, 2003). No Brasil ainda enfrentamos problemas relacionados à desnutrição e altos índices de mortalidade infantil nestas comunidades, bem como são escassas as informações sobre prevalências de agravos nos serviço de saúde indígenas. No Strong Herat Study a obesidade teve uma correlação negativa com DCV tanto no sexo masculino quanto no feminino. É muito difícil entender esta relação negativa, mas é possível que este fato seja devido que nos indivíduos com diabetes de longa duração, particularmente aqueles com doença renal já instalada e perda de peso(portanto de alto risco de DCV), isto não tenha sido levado em conta na análise multivariada (Howard et al 1999). 94 Pacientes hipertensos tem mais obesidade e intolerância a glicose que normotensos, vários relatos correlacionaram resistêrncia a insulina e hipertensão arterial, entretanto as relações entre as concentrações de insulina pressão arteial explicam muito pouco da diferenças étnica na prevalência de HA (Haffner ewt al 2002). 3.2. DIABETES MELLITUS No nosso estudo observamos apenas 1 caso de diabetes nos 60 indivíduos estudados. Não houve diferenças quanto à prevalência de diabetes entre os grupos. Entre os 496 Tupiniquins 4,2% apresentavam diabetes, enquanto que outros 4,6% já estavam com valores anormais de glicose. Considerando-se que estas Comunidades apresentam hábitos de vida semelhantes as comunidades vizinhas locais no que diz respeito a introdução de açúcar refinado e de carboidratos na dieta, estes valores podem ser considerados baixos levando-se em conta a presença de um número crescente de indivíduos considerados como obesos(IMC≥30). Quando analisamos os valores médios de glicemia, os Guaranis (78,7±12,0 mg/dL) foi significativamente menor do que a dos Tupiniquins (92,2±16,4mg/dL) e não índios 91,3±21,6mg/dL). Assim, apesar da tendência a obesidade, os valores de glicemia ainda são comparáveis ao de pequenos grupos indígenas isolados onde certamente não houve a introdução de açúcar , álcool e com altos gastos energéticos diários. O aparecimento de diabetes tem sido motivo de intensa preocupação na condução de políticas de saúde relacionadas ás populações indígenas da América do Norte. Isso se deve ao fato de um aparecimento exageradamente elevado desta doença nestas populações após o advento de um estado de abundância alimentar, hoje traço comum de comunidades ocidentais de alto poder aquisitivo. Assim a prevalência de diabetes é de 22,3 por 1000 na faixa etária de 10-14 anos e de 50,9 por 1000 no grupo de 15 a 19 anos na população dos índios PIMA que habitam o sul dos Estados Unidos. Essa é considerada a mais alta prevalência de diabetes mellito não insulino dependente no mundo (American Diabetes Association). 95 A incidência de DCV e eventos coronarianos em estão aumentando, principalmente nas Comunidades indígenas do Arizona. O Diabetes é o determinante mais forte nessas Comunidades. A hiperglicemia pode contribuir para aterosclerose provocando disfunção endotelial e produtos finais de glicação que podem gerar disfunção miocárdica. O diabetes independente de estar associado ao aumento de índice de massa corporal e aumento dos níveis de pressão arterial, esta implicado no aumento da massa ventricular esquerda e diminuição da função cardíaca. Trabalho feito em indígenas norte americanos mostrou diferenças no espessamento de parede de ventrículo esquerdo, na fração de ejeção (Chinali et al, 2004). O agrupamento de diabetes, elevados níveis de triglicerídeos, baixo HDL-c colesterol, obesidade abdominal é conhecido como síndrome metabólica e indivíduos portadores desta síndrome tem maiores taxas de doença cardiovascular. Uma explicação para este fato aceleração dos processos de aterosclerose e de propensão a eventos trombóticos. Nestes indivíduos a aterosclerose é maior e a função fibrinolítica é anormal, especificamente o ativador do plasminogênio tecidual e o fator inibidor do plasminogênio estão aumentados em pacientes com diabete tipo 2 (Anand et al , 2003). Em Indígenas participantes do Strong Heart Study que possuíam níveis mais elevados de fibrinogênio tinham menor contractilidade miocárdica, avaliada através de ecocardiograma (Palmieri et al, 2001). 3.3. TABAGISMO E ALCOOLISMO A prevalência de Tabagismo foi significativamente maior na etnia Guaranis(60%) do que nos Tupiniquins(33%) e não índios(26,3%). Entre os Guaranis o hábito de fumar, principalmente cachimbo é bastante comum inclusive entre as mulheres. Na Etnia Tupiniquim e nos indivíduos não indígenas 41,5% faziam uso regular de bebidas alcoólicas. Entre os Guaranis 45% consomem regularmente algum tipo de bebida alcoólica. O tipo de bebida de maior consumo nestas reservas foi à cerveja nas duas etnias. Os padrões no consumo de bebidas alcoólicas variam bastante baseado em diferenças culturais do consumo de álcool entre as populações, considerações sobre estas variações podem melhorar a eficiência dos programas de prevenção de 96 alcoolismo em populações indígenas. Em indígenas Norte- americanos, por exemplo são descritos altos índices de consumo de bebidas alcoólicas, morbidade e mortalidade relacionados ao álcool( O’Connel et al, 2005). 3.4. Hipertrofia Ventricular Esquerda Existe uma controvérsia a respeito dos padrões eletrocardiográficos em diferentes etnias devido ao potencial de fatores de confusão como: socioeconômicos, nutricionais ambientais e ocupacionais. Neste estudo observamos que principalmente nos indivíduos Tupiniquins, significativamente mais altos do que os Guaranis houve qrande proporção de diagnóstico de HVE, quando se adotava o critério de SokolowLyon. Cabe notar também esses indivíduos com diagnóstico falso positivo de HVE, eram em sua maior parte motosserristas, que trabalhavam para Aracruz-Celulose. Um trabalho recente realizado com 597 indivíduos de etnias distintas, concluiu que as amplitudes de ECG diferem entre grupos étnicos mesmo quando outros fatores são semelhante e que o critério de Sokolow-Lyon de 3,5mV pode superestimar a incidência de HVE em alguns grupos étnicos. Ondas R altas em V1 são comuns em adultos saudáveis em certos grupos étnicos (Mansi & Nash,2004). 3.5. Hipertensão Na figura 3 observamos que os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica são menores nas aldeias Guaranis (Três Palmeiras, Boa Esperança) demonstradas em conjunto e aumentam nas aldeias Tupiniquins da aldeia com menor grau de miscigenação étnico racial (Caieras Velhas) encontrando-se os maiores níveis tensionais, bem como uma maior prevalência de hipertensão arterial na aldeia de Páu Brasil . Existe um componente importante de miscigenação tanto em populações que imigram quanto populações que permaneciam isoladas há 20-50 anos atrás. Em nosso estudo a comunidade tupiniquim apresenta nitidamente maior miscigenação e níveis tensionais mais elevados em relação as comunidades guaranis onde por tradição não se permite casamento dos aldeãos com ou indivíduos não pertencentes a mesma etnia. 97 Vários estudos relatam aumento de pressão arterial nos indivíduos que se deslocam de uma determinada região de origem, atribuem aos fatores ambientais a responsabilidade por este aumento. Entretanto, estes estudos muitas vezes reportam dados após 50 anos de imigração e torna-se difícil mensurar o grau de miscigenação ocorrido nestas populações tanto nos indivíduos que imigraram, quanto naqueles que permaneceram nas Comunidades de origem, onde provavelmente com o tempo já ocorreu o contato com a civilização. Nos índios Yanomamis onde não foi observado aumento da pressão com a idade no estudo INTERSALT, além do baixíssimo consumo de sal (0,9 mmol/24h), a media dos níveis de colesterol total era de 122 mg/L no sexo masculino e de 142 mg/L no feminino, não eram obesos e não havia nenhum consumo de álcool (Mancilha-Carvalho & Souza e Silva, 2003). 4. SUSCEPTIBILIDADE GENÉTICA A HIPERTENSÃO ARTERIAL Um achado muito interessante neste estudo foi que os indivíduos que apresentavam história familiar de hipertensão (pré-dispostos), apresentaram níveis de volume urinário, sódio urinário e de pressão arterial diastólica significativamente mais elevados do que aqueles sem história de familiares com HA (P<0,01)(Tabela 16). O sódio aumentado nos familiares de hipertensos pode denotar um maior apetite pelo sal geneticamente influenciado. Ou ainda que um fator ambiental (maior consumo de sal) leva expansão do volume extravascular e ao aumento de pressão arterial diastólica nestes familiares de hipertensos. Esta interação de fator ambiental e genético pode ser avaliada de várias formas.Também pode denotar a sensibilidade ao sal presente nos predispostos uma vez que tiveram uma resposta de aumento pressão diastólica frente ao maior consumo de sal. Moraes demonstrou que indivíduos normotensos jovens com forte predisposição familiar tinham pressão arterial mais elevada do que não predispostos somente quando ingeriam quantidades aumentadas de sódio. Os não prédispostos não tinham pressão arterial mais elevada mesmo ante a alta ingestão de cloreto de sódio (Moraes et al, 2000). 98 Do ponto de vista da prevalência de fatores de risco cardiovascular as populações que habitam as reservas indígenas do Espírito Santo possuem baixas prevalências de dislipidemias, diabetes e de hipertensão arterial quando comparadas a estudos de prevalência de populações urbanas e rurais brasileiras e de outras populações indígenas brasileiras. (Pavan et al, 1999). A concentração de colesterol encontrada é pouco superior à encontrada em estudo de 62 indígenas Yanomamis adultos com média de idade de 36,8 no sexo masculino e de 35 anos no feminino, sendo que as médias de peso e IMC no nosso estudo foram maiores das encontradas nos Yanomamis, cuja altura era de 1,51± 3,3 nos homens e de 142,nas mulheres. Mancilha Carvalho & Crews,1990). Neste estudo observamos altas prevalências de sobrepeso, obesidade, tabagismo. Além de uma estimativa de alto de consumo de sal, compatíveis as das populações urbanas, entretanto principalmente no que diz respeito à etnia Guarani os níveis de pressão arterial e a prevalência de HÁ se mantém baixos, falando a favor da contribuição genética, uma vez que nestas Comunidades mesmos os Guaranis não mantém estilo de vida tradicional, pelo menos no que diz respeito a já haver um contato próximo com a civilização, a dieta conter alimentos industrializados e estilo de vida mais sedentário. A principal variável que foi relacionada a PA na etnia guarani foi a relação cintura quadril. Enquanto que nos tupiniquins a idade é o principal determinante de pressão arterial no modelo pela análise de regressão múltipla, nos guaranis a idade foi excluída do modelo. Uma diminuição progressiva dos fatores de relaxamento derivados do endotélio com aumento da idade têm sido observada nos estudos de seguimento. Existem evidências de que com o aumento da idade haveria uma prepoderância de fatores constrictores sobre os vasos dilatadores. O endotélio tem seu papel regulatório primário em inibir agregação e adesão de plaquetas e outras células do sangue, mantendo fluxo sanguíneo nos vasos. Além disso, ele participa ativamente produzindo substâncias que modulam o tônus do músculo liso vascular, ativam e inativam hormônios locais, fatores envolvidos na coagulação sanguínea e transporte capilar. Modula o tônus gerando substâncias vaso dilatadoras (òxido Nítrico, Fator hiperpolariazante derivado do endotélio, prostaciclinas) e substâncias vasoconstrictoras (Angiotensina II, endotelina, prostaglandina e troboxano A). Sob condições basais a 99 produção de óxido nítrico (ON) está diminuída em pacientes com hipertensão (Forte, 1997) e o prejuízo na liberação de óxido nítrico está implicado no desenvolvimento de HÁ que ocorre com a idade, hipercolesterolemia, diabetes, sedentarismo e tabagismo (Anggard, 1994). A PA é o fenótipo final resultante do impacto entre as influência ambientais e a expressão de grande número de genes. A expressão do gene é continuamente modificada por condições ambientais que influenciam as células, os tecidos, órgãos e finalmente o corpo como um todo. Uma vez que a PA é uma herança poligênica, a mesma população pode expressar diferentes heranças sob condições ambientais diferentes. Também é esperado que membros de um mesmo grupo étnico compartilhem mais genes que pessoas de diferentes origens. Entretanto, a PA de negros norte-americanos é significativamente mais alta do que negros no sub Saara africanos (Wilson, 1991). Estas diferenças entre negros norte-americanos e africanos têm sido atribuídas, entre outros ao stress psico-social vivido por uma minoria oprimida, concomitante com baixas condições socioeconômicas (James, 1996). Além disso, grupos de qualquer raça vivendo em condições de vida mais primitiva tendem a ingerir menos sal, permanecer menos obesos e a ser menos hipertensos. Quando eles migram para áreas urbanas e se adaptam a estilos de vida mais modernos ingerem mais sal, se tornam mais sedentários, ganham mais peso e desenvolvem mais HÁ (poulter, 1990). Apesar da distribuição semelhante de fatores de risco cardiovascular a prevalência de Hipertensão Arterial é significativamente menor na etnia guarani, mesmo após o ajuste para idade. Grupos étnicos diferentes apresentam diferenças quanto à prevalência e gravidade de HA. Isso não pode ser atribuído exclusivamente a diferenças sócio-econômicas e culturais, mas também a fatores genéticos. Mesmo entre indígenas norte americanos, apesar da grande prevalência de diabetes e obesidade as taxas de hipertensão ainda são menores do que a população norte americana em geral. Os negros não só tem maior prevalência de hipertensão arterial como quando presente esta se manifesta de forma mais grave e apresentam maior dificuldade de controle pressórico uma vez instituído tratamento (Ferdinand, 2006). O sistema mais estudado relacionado a hipertensão e genes candidatos é sem dúvida o sistema RAA. Nenhuma variante genética dentro do sistema parece se 100 destacar nos estudos de associação (Yagil & Yagil, 2005). Cada vez mais aumentam-se a complexidade das análises. Quando Bouzekri et al em 2004, analisaram seus dados utilizando os marcadores genéticos isoladamente não se encontrou nenhuma associação significativa com a PA, entretanto quando fizeram a análise de haplótipos as associações se tornaram evidentes. Os pesquisadores também perceberam que os mecanismos envolvendo os vários componentes de pressão arterial podem não ser os mesmos. Conseqüentemente o fenótipo pressórico pode ser subdivido em componente sistólico, diastólico e pressão de pulso, sendo a idade e gênero fatores de confusão. Neste estudo somente na etnia tupiniquim e especificamente no componente diastólico foi encontrada uma associação positiva com o polimorfismo I/D da ECA. Esta se tornou ainda mais consistentes quando o genótipo DD foi aliado ao DI para as análises. O polimorfismo I/D da ECA foi capaz de predizer aumento na pressão de pulso, somente nos homens com mais de 50 anos no estudo de Safar (Safar et al, 2004). O polimorfismo I/D da ECA foi associado à redução de PAD com a idade, somente em homens e com mais de 50 anos (Rudnichi et al, 2004). Indivíduos pertencentes as mesma famílias compartilham um número maior de genes, bem como de fatores comuns em seu meio ambiente tais como posição socioeconômica, hábitos dietéticos, atitudes familiares, hábitos de saúde, etc. Estas condições podem condicionar a níveis comuns de pressão sistólica, expressado um agrupamento dos níveis de PAS dentro de grupos familiares. A forma com que o nível de PAS se eleva com a idade também é condicionada por fatores genéticos (turner & Boerwinkle, 2003). O polimorfismo I/D da ECA aparece como candidato deste possível agrupamento dos níveis de PAS dentro de famílias (Merlo et al, 2006). Os níveis de ECA são altamente herdados e mostram grandes variações interindivíduo (Allec gellas et al, 1991). Foi mostrado que o polimorfismo I/D da ECA colabora com cerca de 47% da variação das concentrações plasmáticas da ECA, entretanto é possível que o polimorfismo ‘per se’ possa não ser o responsável pelos níveis de ECA, mas algum outro polimorfismo desconhecido que esteja em desequilíbrio de ligação próximo ao lócus do gene I/D da ECA (Rigat et al, 1990). O polimorfismo M235T do At foi associado a maiores níveis pressóricos em uma série de estudos. O estudo randomizado da população de urbana de Vitória que 101 envolveu 1507 participantes encontrou uma forte associação do alelo 235T do At e fenótipos de pressãp arterial, independente do gênero (Pereira et al, 2003). Neste estudo, a associação da variante polimórfica 235T do At foi encontrada somente com o componente diastólico da PA. Uma limitação do estudo é que devido ao número restrito de participantes a análise estatística perde sua força, se tornando difícil evidenciar as associações. Neste estudo os Guaranis que tem alta freqüência do genótipo TT, possuem pressão mais baixa. O genótipo TT provavelmente não é causalmente associado ao desenvolvimento de HAS. Em recente estudo, o polimorfismo I/D da ECA não contribuiu para presença ou gravidade da HÁ, enquanto que o poilimorfismo TT do Angiotensinogênio conferiu diminuição do risco em se desenvolver hipertensão, contrariando dados de outros onde o alelo TT é associado ao maior risco de HÁ (Mondey et al, 2005). Em um estudo recente em afro brasileiros o polimorfismo DD da ECA foi relacionado à hipertensão em indivíduos do sexo masculino maiores de 40 anos (P<0,05). (Sakuma et al, 2004). Estes dados fornecem indícios que provavelmente este genótipo não seria causamente associado ao desenvolvimento de HÁ. A substituição de adenina por guanina no nucleotídeo-6, Polimorfismo G(-6)A, tem mostrado influenciar as taxas de transcrição basal do gene do angiotensinogênio in vitro , podendo ser causador da elevada expressão de AGT (Inoe et al, 1997). Além disso, o alelo – 6A foi associado a maiores níveis de PAS em caucasianos e negros americanos (entretanto não existem evidências de que o polimorfismo afete a função do angiotensinogênio), O que pode significar que outros genes podem ser responsáveis pela doença primária que pode ser agravada ou acelerada em diferentes órgãos. A hipertensão é uma doença complexa com componente genético bem documentado. A interação de múltiplos genes de efeito fracos a moderados poderia justificar a falta de consistência dos diferentes estudos de associação. A associação de estudos fora do sistema RAA fornece dados adicionais que cobrem múltiplas vias fisiopatológicas que podem estar envolvidas na HÁ. Como estes genes interagem resultando na HÁ ainda está longe de ser compreendido. 102 4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Uma das limitações deste estudo é a desproporção do número de indivíduos da etnia Guarani (n=60), comparados com a etnia Tupiniquim (n= 496). Um outro fator interessante é a presença de indivíduos (n=114) de outras etnias que habitam a área de reserva, em sua grande maioria outros mestiços não nativos nas áreas de reserva e, portanto não reconhecidos como de ancestralidade Tupiniquim pelos próprios índios. Mesmo assim, devido à escassez deste tipo de estudo com populações indígenas, podemos observar que o número de participantes é superior a todos trabalhos deste tipo conduzidos em indígenas na América do Sul (Santos & Coimbra, 1996; Tavares,2002, Pavan,1999, Santos et al, 1997), as análises de prevalência de Fatores de Risco foram destinadas a população adulta >20 anos, um outro fator limitante do número de participantes. Apesar destas limitações obtivemos um alto índice de participação, principalmente nas Comunidades Tupiniquins e o relato dos principais fatores de risco de doença Cardiovascular nestas Comunidades, poderá servir de base para implementação de medidas de saúde pública nestas populações, uma vez que as taxas de obesidade e sobrepeso tendem a se igualar as da população geral. Como as análises foram restringidas a indivíduos com idade igual ou maior do que 20 anos, não há como dizer como as mudanças de hábitos destas comunidades estarian afetando o contigente infanto-juvenil. Apesar do pequeno número de guaranis estudado os dados de prevalência de HÁ não são diferentes do encontrado por Cardoso nos Guaranis Mybá do Rio de Janeiro e da prevalência de hipertensão em Xavantes de Pimentel Barbosa (Cardoso et al, 2002, Coimbra Jr. Et al, 2001). Neste estudo, a prevalência de hipertensão nos tupiniquins pode ser considerada elevada, nossos dados foram compatíveis com os do serviço de saúde indígena local e cerca de 80% dos hipertensos tinham conhecimento deste diagnóstico. Apesar de 84% relatar ter aferido a PA alguma vez, esta prática é pouco freqüente entre os indivíduos saudáveis, em outros até causa estranheza. Entre os mais idosos não são muitos os que recorrem a US. Uma explicação possível para a elevada prevalência de hipertensão observada nos tupiniquins seria o efeito ‘white coat’ que já evidenciou diferenças importantes nas medidas pressóricas, sobretudo em 103 negros e brancos (Mayet et al, 1998). Apesar das visitas domiciliares agendadas com consentimento dos chefes das famílias, em cerca da metade dos participantes apenas foi aferida a pressão arterial na visita domiciliar. Os pacientes tendem a adaptar-se ao procedimento de medida da pressão arterial apresentando valores progressivamente menores em ocasiões subseqüentes decorrentes dentre outros fators do fenômeno de regressão em torno da média. Este efeito foi observado por Fuchs num estudo envolvendo 58 indivíduos submetidos a seis medidas consecutivas da pressão arterial por seis dias consecutivos (Fuchs et al, 1997). Não se pode excluir a possibilidade da existência de diferenças entre os grupos étnicos envolvidos. Neste estudo, bem como nos estudos com indígenas norte-americanos fica evidente a escassez de recursos econômicos destas populações. As diferenças sócioeconômicas estão implicadas na alteração de parâmetros antropométricos de vários grupos indígenas, no estudo realizado nos índios Suruí foi evidenciada alterações da morfologia corporal em diferentes grupos socioeconômicos (Santos & Coimbra, 1996). Este processo parece ser explicado por múltiplos fatores, sobressaindo obesidade, acúmulo de gordura abdominal resultante das mudanças sócio-econômicas, comportamento de padrão alimentar, imposta pela escassez de recursos naturais para subsistência e por situações adversas, como conflitos e disputas territoriais vividas pelos indígenas. Existe um consenso geral em como se avaliar a participação de fatores sócios econômicos ao se comparar à prevalência e gravidade da HA entre grupos raciais (Kaplan & Keil, 1993). Vários estudos têm indicado a existência de uma relação inversa entre o nível sócio-econômico e a PA, inclusive estudos brasileiros (Martin et al, 1997, Mill et al, 2004). A prevalência de hipertensão encontrada entre os participantes do projeto MONICA/OMS/Vitória, sobretudo na raça negra pode ser um reflexo do ineficiente controle epidemiológico que o Brasil tem sobre os fatores de risco de doença Cardiovascular (Ferreira et al, 1999). O fato desta população ser de etnia indígena se tornou um atrativo para o estudo de possíveis marcadores genéticos de HÁ, entretanto a miscigenação presente nas aldeias tupiniquins principalmente com negros, dificulta as análises. Ainda assim é notável o predomínio da variante polimórfica 235T do angiotensinogênio 46%(n=288), na grande maioria do total de participantes, contrastando com apenas 9,1%(n=59) de 104 indivíduos MM. A criação do grupo de não índios, os quais foram estudados da mesma forma que os indígenas, foi feita para criar dois grupos indígenas (guaranis e tupiniquins) que fossem o mais puro possível do ponto de vista genético. Apesar da precariedade da classificação fenotípica, os resultados encontrados entre os marcadores de tipagem sanguínea e dos polimorfismos gênicos sugerem que os dois grupos indígenas são bem diferentes dos demais (não índios). Ainda que a população estudada já tenha sofrido um processo de miscigenação, ao longo dos anos estudos como este são necessários para avaliar a possível ligação entre HA e genes candidatos. 105 CONCLUSÕES 106 VIII. CONCLUSÕES Os tupiniquins e outros mestiços apresentaram maiores prevalências de hipertensão arterial (20 e 17,5%) comparados aos Guaranis (1,5%). A prevalência de tabagismo foi maior no grupo Guarani (60%) do que nos Tupiniquins (33%) e não índios (26,3%) x2=0,001. Não houve diferenças estatísticas nas prevalências de obesidade, diabetes e hipercolesterolemia entre os grupos, sendo de respectivamente (22,8, 1,5 e 50,9%) Guaranis (14,9, 4,2 e 40,7%) nos Tupiniquins e (11,4, 6,1 e 44,7%) outros mestiços. Os níveis de pressão arterial foram menores nos Guaranis 107± 14/67±10 mmHg do que nos Tupiniquins 122±20/82±11 mmHg P<0,001, mesmo após ajuste para Idade, P<0,01. A prevalência de fatores de risco pesquisados foi menor do que as populações urbanas com idade similar. Entretanto a prevalência de obesidade, tabagismo e mesmo dislipidemia e diabetes mostram tendência a aumento nestas populações. Os elevados níveis de excreção urinária de sódio e baixos níveis de excreção de potássio são compatíveis com as alterações de hábitos alimentares pelos quais esta população vem sendo submetida. O consumo de sódio estimado em 13g/dia é similar aos valores encontrados na população urbana de Vitória. Nos Tupiniquins as taxas de HA já são comparáveis aos da população geral.Nos Guaranis dos 60 indivíduos analisados foi encontrado um caso de hipertensão. Observamos um aumento linear da PAS e PAD com a idade, os Guaranis apresentaram coeficientes angulares mais baixos (PAS=93,7 + 0,405 x idade) r=0,39 comparado aos Tupiniquins (PAS= 93,6 + 0,77 x idade) r= 0,5 e não índios (PAS= 91,33 + 0,74 x idade) r= 0,47, P = 0,012. No modelo ajustando idade, sexo e IMC a análise de regressão logística evidenciou um risco aumento de HA nos Tupiniquins e outros mestiços. Os baixos valores de pressão arteriais, não se mantêm com a idade. Os coeficientes angulares são mais baixos nos Guaranis, mesmo com alto consumo de Na+. A idade e o RCQ foram usados isoladamennte na análise de regressão múltipla, este modelo ajusta 42% da variabilidade dos dados (P=0,000) nos Tupiniquins. Os resíduos apresentam distribuição normal (P=0,006). Nos Guaranis apenas o RCQ se mantém no modelo. 107 A distribuição do polimorfismo M235T do AT foi de: 74,4%(TT), 21,6%(MT) e 3,9%(MM) para os Guaranis, 43%(TT), 47,9%(MT) e 9,1%(MM) nos Tupiniquins e 49,1%(TT), 39,3%(MT) e 11,6%(MM) nos outros mestiços. Fatores genéticos são importantes para explicar diferenças na pressão arterial de indígenas vivendo sob influência ambientais semelhantes. Em Vitória o genótipo TT foi associado com aumento de PA. Neste estudo os Guaranis que tem alta freqüência do genótipo TT, possuem pressão mais baixa. O genótipo TT provavelmente não é causalmente associado ao desenvolvimento de HAS. Os resultados sugerem a necessidade de uma abordagem mais intensa direcionada para o controle dos fatores de risco e na prevenção de doenças cardiovasculares nestas comunidades. Recomendações para controle do peso corporal, abandono do hábito de fumar, evitar consumo excessivo de sal e gorduras saturadas e a prática de atividades físicas com regularidade, são medidas essenciais na abordagem das doenças cardiovasculares. Dados de estudos em diferentes etnias tem reafirmado estas necessidades, uma vez que não está claro como variantes genéticas podem interagir com fatores ambientais e propiciar o desenvolvimento de doenças como diabetes e hipertensão. O que se sabe sim, é que há uma tendência mundo afora do aumento das taxas de prevalência destes agravos. 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109 IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alderman MH, Cohen HW, Madhavan S (1998), Dietary sodium Intake and mortality: the national health and nutrition examination survey (NHANES I). Lancet 351:781785. 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