Navegação Aérea Segundo o Conceito CNS/ATM: Custos e
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Navegação Aérea Segundo o Conceito CNS/ATM: Custos e
Tese apresentada à Divisão de Pós-Graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciência no Curso de Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica, Área de Transporte Aéreo e Aeroportos Cristiani de Araújo Siqueira Navegação Aérea Segundo o Conceito CNS/ATM: Custos e Benefícios Tese aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados: ___________________________ Prof. Dr. Protógenes Pires Porto Orientador ___________________________ Prof. Dr. Homero Santiago Maciel Chefe da Divisão de Pós-Graduação Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil 2005 Navegação Aérea Segundo o Conceito CNS/ATM: Custos e Benefícios Cristiani de Araújo Siqueira Composição da Banca Examinadora: Prof. Dr. Cláudio Jorge Pinto Alves - Presidente - ITA Prof. Dr. Protógenes Pires Porto - Orientador - ITA Prof. Dr. Alessandro Vinícius Marques de Oliveira - ITA Prof. Dr. Anderson Ribeiro Correia - ITA Prof. Dr. João Batista Camargo Júnior - USP ITA Sumário CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 1 1 I.1 Introdução 1 I.2 Implementação do CNS/ATM 2 I.2.1 Plano Nacional de Implementação dos Sistemas CNS/ATM 3 I.3 Motivação 5 I.4 Objetivo 6 I.5 Descrição dos Capítulos 6 CAPÍTULO II NAVEGAÇÃO AÉREA SEGUNDO CNS/ATM 7 7 II.1 Introdução 7 II.2 Sistema Global de Navegação por Satélite 8 II.2.1 Evolução Operacional II.2.2 Elementos do Sistema GNSS 9 10 II.2.2.1 Sistema de Aumentação Baseado em Satélites 10 II.2.2.2 Sistema de Aumentação Baseado em Solo 11 II.2.2.3 Sistema de Aumentação de Bordo 12 II.2.3 Requisitos de Desempenho do GNSS para a Navegação Aérea 12 II.2.4 GNSS no Brasil 13 II.3 Navegação de Área 14 II.4 Performance de Navegação Requerida 16 II.4.1 Tipos de RNP Praticados 17 II.4.2 Construção de Procedimentos RNAV 19 II.4.3 Sistema RNAV/RNP 19 II.4.4 RNAV e RNP no Brasil 22 II.4.4.1 Estratégia de Implementação da RNAV 22 II.4.4.2 Estratégia de Implementação da RNP 23 II.5 Redução dos Mínimos de Separação Vertical II.5.1 Equipamento RVSM 23 24 i II.5.2 RVSM no Brasil e no Mundo II.6 Resumo CAPÍTULO III 25 26 29 CUSTOS E BENEFÍCIOS 29 III.1 Introdução 29 III.2 Metodologia de Análise de Custo-Benefício 30 III.2.1 Abordagem do Valor Presente Líquido 31 III.2.1.1 Período de Análise 32 III.2.1.2 Ano-Base 32 III.2.1.3 Taxa Mínima de Atratividade 32 III.2.1.4 Inflação 33 III.2.2 Análise de Viabilidade 33 III.2.3 Metodologia Adotada 34 III.3 Determinação dos Cenários Analisados 35 III.4 Cenário 1 – RNAV/RNP 5 37 III.4.1 Custos 37 III.4.1.1 Aprovação Operacional RNAV/RNP 5 38 III.4.1.2 Implantação RNAV/RNP 5 40 III.4.2 Benefícios 41 III.4.2.1 Rotas Diretas em Grande Círculo 42 III.4.2.2 Aumento da Capacidade do Espaço Aéreo 43 III.4.2.3 Redução da Vetoração Radar 44 III.4.2.4 Redução dos Impactos Ambientais 44 III.4.3 Quadro Resumo: Custos x Benefícios RNAV/RNP 5 III.5 Cenário 2 – RVSM III.5.1 Custos 47 47 47 III.5.1.1 Aprovação Operacional RVSM 48 III.5.1.2 Implantação da RVSM 51 III.5.2 Benefícios 52 III.5.2.1 Redução da Carga de Trabalho do Controlador 53 III.5.2.2 Aumento da Capacidade do Espaço Aéreo 53 III.5.2.3 Economia de Combustível 53 ii III.5.2.4 Redução da Emissão de Poluentes na Atmosfera III.5.3 Quadro Resumo: Custos x Benefícios RVSM III.6 Cenário 3 – GNSS Como Meio Primário de Navegação III.6.1 Custos 55 56 56 57 III.6.1.1 Implantação do SBAS 57 III.6.1.2 Aprovação Operacional SBAS 59 III.6.2 Benefícios 59 III.6.2.1 Guiagem Vertical 60 III.6.2.2 Suporte aos Requisitos RNAV/RNP 63 III.6.2.3 Racionalização da Infra-Estrutura de Rádio-Auxílios Convencionais 64 III.6.2.4 Aplicações Marítimas e Terrestres 66 III.6.3 Quadro Resumo: Custos x Benefícios SBAS III.7 Resumo CAPÍTULO IV 66 67 69 ESTUDO DE CASO: IMPLANTAÇÃO DA RVSM NO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO - ANÁLISE CUSTO-BENEFÍCIO 69 IV.1 Introdução 69 IV.2 Cenários de Estudo 69 IV.3 Custos RVSM 71 IV.3.1 Determinação da Frota de Aeronaves “Elegíveis RVSM” 71 IV.3.2 Obtenção do Certificado de Aeronavegabilidade RVSM 73 IV.3.3 Monitoramento de Altitude 73 IV.3.4 Treinamento de Tripulantes Técnicos 76 IV.3.5 Implementação do Programa de Manutenção 76 IV.3.6 Planejamento - Custo da Simulação ATC RVSM 77 IV.3.7 Treinamento dos Controladores de Tráfego Aéreo 78 IV.3.8 Implementação da RVSM para o Provedor ATS 78 IV.4 Benefícios RVSM IV.4.1 Economia de Combustível 78 79 IV.4.1.1 Amostra de Tráfego 79 IV.4.1.2 Determinação do Tamanho da Etapa de Vôo 80 IV.4.1.3 Base de Dados de Aeronave 81 IV.4.1.4 Peso de Decolagem 82 iii IV.4.1.5 Limitação do Tempo de Cruzeiro 83 IV.4.1.6 Cenário Base: Cálculo do Consumo de Combustível 83 IV.4.1.7 Cenário RVSM: Cálculo do Consumo de Combustível 86 IV.4.2 Redução da Emissão de Poluentes na Atmosfera 89 IV.4.3 Redução da Carga de Trabalho do Controlador 90 IV.5. Análise de Custo-Benefício da Implementação da RVSM IV.5.1 Custo-Benefício para os Operadores IV.5.1.1 Valor Presente Líquido e Razão Custo/Benefício IV.5.2 Custo-Efetividade para os Provedores ATS IV.6 Resumo CAPÍTULO V CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS FINAIS APÊNDICES 91 91 92 96 97 99 99 105 APÊNDICE 1: UTILIZAÇÃO DOS AUXÍLIOS À NAVEGAÇÃO AÉREA NO BRASIL 105 APÊNDICE 2: DETERMINAÇÃO DA FROTA “ELEGÍVEL RVSM” 111 APÊNDICE 3: DETERMINAÇÃO DO PESO DE DECOLAGEM DOS VÔOS 115 ANEXOS 118 ANEXO A: CUSTOS DE AQUISIÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE BORDO 118 ANEXO B: CUSTO DOS BOLETINS DE SERVIÇO PARA ADEQUAÇÃO RVSM 119 ANEXO C: MODELO CARSAMMA DE MONITORAMENTO DE ALTITUDE 121 ANEXO D: FÓRMULA DE BESSELL 123 GLOSSÁRIO 124 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125 iv Índice de Figuras FIGURA 1-1 BENEFÍCIO DA HARMONIZAÇÃO REGIONAL NA IMPLEMENTAÇÃO DO CNS/ATM. ................................ 2 FIGURA 2-1: MELHORIA DA NAVEGAÇÃO AÉREA SEGUNDO CNS/ATM................................................................... 8 FIGURA 2-2: ROTAS RNP 10 NO PACÍFICO NORTE. ................................................................................................ 19 FIGURA 2-3: FUNÇÕES DOS SISTEMAS RNAV E FMS. ........................................................................................... 20 FIGURA 2-4 ENTRADA DE DADOS DE NAVEGAÇÃO DO FMS................................................................................... 21 FIGURA 3-1 VISÃO GENÉRICA DE ABORDAGEM DO VALOR PRESENTE LÍQUIDO.................................................... 31 FIGURA 3-2: METODOLOGIA DE ACB. ................................................................................................................... 35 FIGURA 3-3: ALCANCE ESPECÍFICO EM FUNÇÃO DA MASSA E DA ALTITUDE........................................................... 54 FIGURA 3-4: ALTITUDE ÓTIMA DE VÔO EM FUNÇÃO DA MASSA DA AERONAVE...................................................... 54 FIGURA 3-5: PROCEDIMENTO “STEP CLIMB”. ........................................................................................................ 55 FIGURA 3-6: ACIDENTES DO TIPO CFIT X TOTAL DE ACIDENTES. .......................................................................... 62 FIGURA 3-7: FATALIDADES CAUSADAS POR ACIDENTES CFIT X FATALIDADES NA AVIAÇÃO CIVIL....................... 62 FIGURA 4-1: AERONAVES DE AVIAÇÃO COMERCIAL “ELEGÍVEIS RVSM”. ............................................................ 72 FIGURA 4-2: AERONAVES DE AVIAÇÃO GERAL “ELEGÍVEIS RVSM. ...................................................................... 72 FIGURA 4-3: DIAGRAMA DE CÁLCULO DO CUSTO DE MONITORAMENTO DE ALTITUDE. .......................................... 74 FIGURA 4-4: ALGORITMO ITERATIVO PARA CÁLCULO DO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL ....................................... 85 FIGURA 4-5: SOLICITAÇÃO DOS NÍVEIS DE VÔO NOS CENÁRIOS BASE E RVSM.................................................... 87 FIGURA 4-6: RETORNO SOBRE INVESTIMENTO: AVIAÇÃO COMERCIAIS DE MÉDIO E GRANDE PORTES.................. 93 FIGURA 4-7: RETORNO SOBRE INVESTIMENTO: AVIAÇÃO GERAL .......................................................................... 94 FIGURA 4-8: RETORNO SOBRE INVESTIMENTO: C525 ............................................................................................ 95 FIGURA 4-9: RETORNO SOBRE INVESTIMENTO: LJ55 ............................................................................................. 96 FIGURA A1-1: UTILIZAÇÃO DO GNSS COMO MEIO PRIMÁRIO DE NAVEGAÇÃO AÉREA. ..................................... 107 FIGURA A1-2: SISTEMAS DE APOIO À NAVEGAÇÃO POR SATÉLITE NOS E.U.A. .................................................... 108 FIGURA A1-3: PLANO DE UTILIZAÇÃO DOS AUXÍLIOS À NAVEGAÇÃO AÉREA NA EUROPA. ................................... 109 FIGURA A2-1: DISTRIBUIÇÃO DAS AERONAVES APÓS A APLICAÇÃO DOS CRITÉRIOS 1 E 2.................................... 112 FIGURA A2-2: DISTRIBUIÇÃO DAS AERONAVES SEGUNDO A APROVAÇÃO OPERACIONAL RVSM. ....................... 114 FIGURA D-1: LEI DOS SINAIS DO PLANO CARTESIANO......................................................................................... 123 v Índice de Tabelas TABELA 2-1: REQUISITOS DE DESEMPENHO DO GNSS PARA A NAVEGAÇÃO AÉREA............................................. 13 TABELA 2-2: UTILIZAÇÃO DO GNSS NA REGIÃO CAR/SAM. ............................................................................... 14 TABELA 2-3: TIPOS DE RNP PRATICADOS.............................................................................................................. 18 TABELA 2-4: CRONOGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO DA RNAV E RNP NA REGIÃO CAR/SAM............................... 22 TABELA 2-5: IMPLEMENTAÇÃO DA RVSM NO MUNDO. ......................................................................................... 26 TABELA 3-1: CENÁRIOS ANALISADOS. .................................................................................................................. 36 TABELA 3-2: QUADRO RESUMO: CUSTOS X BENEFÍCIOS RNAV/RNP 5................................................................ 47 TABELA 3-3: REQUISITOS DE MONITORAMENTO SEGUNDO O MODELO CARSAMMA. ......................................... 50 TABELA 3-4: QUADRO RESUMO: CUSTOS X BENEFÍCIOS RVSM. .......................................................................... 56 TABELA 3-5: CUSTOS E DESPESAS EVITADOS COM A IMPLEMENTAÇÃO DO SBAS. ............................................... 65 TABELA 3-6: QUADRO RESUMO: CUSTOS X BENEFÍCIOS SBAS............................................................................. 67 TABELA 4-1: CARACTERIZAÇÃO DOS CENÁRIOS BASE E RVSM. .......................................................................... 70 TABELA 4-2: CUSTO DA SIMULAÇÃO ..................................................................................................................... 77 TABELA 4-3: CUSTO DE IMPLEMENTAÇÃO RVSM PARA O PROVEDOR ATS........................................................... 78 TABELA 4-4: AERONAVES DE TRABALHO .............................................................................................................. 80 TABELA 4-5: REPARTIÇÃO DOS VÔOS DA AMOSTRA.............................................................................................. 80 TABELA 4-6: CÁLCULO DO ALCANCE ESPECÍFICO E CONSUMO DE COMBUSTÍVEL ................................................ 84 TABELA 4-7: NÍVEIS DE VÔO EM FUNÇÃO DO RUMO MAGNÉTICO - ESPAÇO AÉREO NÃO-RVSM......................... 84 TABELA 4-8: NÍVEIS DE VÔO EM FUNÇÃO DO RUMO MAGNÉTICO - ESPAÇO AÉREO RVSM ................................. 86 TABELA 4-9: ECONOMIA ANUAL DE COMBUSTÍVEL - ANO 2005 (KG) ................................................................... 88 TABELA 4-10: ECONOMIA DE COMBUSTÍVEL – ANO 2005 (US$)........................................................................... 89 TABELA 4-11: REDUÇÃO DA EMISSÃO DE CO2, SO2, H2O E NOX (TON.) - PERÍODO: 2005 A 2019........................ 89 TABELA 4-12: REDUÇÃO DA CARGA DE TRABALHO DO CONTROLADOR POR AERONAVE ...................................... 91 TABELA 4-13: SUMÁRIO DOS CUSTOS E BENEFÍCIOS PARA OS OPERADORES ......................................................... 92 TABELA 4-14: VALOR PRESENTE LÍQUIDO E RAZÃO CUSTO/BENEFÍCIO................................................................ 93 TABELA 4-15: C525 E LJ55 - VALOR PRESENTE LÍQUIDO E RAZÃO CUSTO/BENEFÍCIO......................................... 95 TABELA 4-16: SUMÁRIO DOS CUSTOS DA IMPLANTAÇÃO DA RVSM PARA O PROVEDOR ATS.............................. 96 TABELA A1-1: COBERTURA MÉDIA POR AUXÍLIO À NAVEGAÇÃO......................................................................... 105 vi TABELA A2-1: AERONAVES COM TETO OPERACIONAL INFERIOR AO FL 290........................................................ 111 TABELA A3-1: TAXA DE OCUPAÇÃO DAS AERONAVES......................................................................................... 116 TABELA A3-2: CONFIGURAÇÃO DE PESO MÉDIO POR PASSAGEIRO E DE SUA BAGAGEM. ...................................... 116 TABELA A3-3: DISTÂNCIA DO AEROPORTO ALTERNATIVO EM FUNÇÃO DO AEROPORTO DE DESTINO. ................. 117 TABELA A-1: CUSTOS DE AQUISIÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE BORDO. .................. 118 TABELA B-1: CUSTO ESTIMADO DOS BOLETINS DE SERVIÇO PARA ADEQUAÇÃO RVSM.................................... 119 TABELA C-1: GRUPOS DE MONITORAMENTO DE ALTITUDE................................................................................. 121 vii Resumo O aperfeiçoamento da navegação aérea segundo o conceito CNS/ATM inclui a implementação do Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) como elemento provedor de infra-estrutura de navegação e os conceitos de Navegação de Área (RNAV), de Performance de Navegação Requerida (RNP) e da Redução dos Mínimos de Separação Vertical (RVSM) como elementos de gestão de tráfego aéreo. A Organização da Aviação Civil Internacional considera estes elementos como solução de longo prazo para melhorar a eficiência e a segurança do espaço aéreo frente ao crescimento do tráfego. Todavia implementá-los significa investir para adequar operadores e Provedores de Serviço de Tráfego Aéreo às normas que regem a prática de tais elementos. Neste trabalho, a implementação da RNAV, da RNP, da RVSM e do GNSS como meio primário de navegação no espaço aéreo brasileiro são avaliadas qualitativamente. Para tanto, os custos e benefícios operacionais e econômicos, ligados a cada elemento citado, são investigados e contextualizados na realidade do país. A título de estudo de caso, uma análise quantitativa de custo-benefício da implementação da RVSM no Brasil é realizada. Os resultados obtidos foram favoráveis para a aviação comercial, enquanto que inviáveis para a aviação geral de forma agregada. A viabilidade da aviação geral deve portanto ser analisada caso a caso, segundo a utilização da aeronave em questão e seus custos de aprovação operacional. Para subsidiar as análises supracitadas, estudos específicos foram desenvolvidos e disponibilizados nos apêndices deste volume. viii Abstract The air navigation improvements according to the CNS/ATM concept include the Global Navigation Satellite System (GNSS) implementation, as navigation infra-structure provider, and the Area Navigation (RNAV), Required Navigation Performance (RNP) and Reduced Vertical Separation Minima (RVSM) concepts as Air Traffic Management elements. These elements are considered by the International Civil Aviation Organization as a key feature to improve the airspace effiency and safety face to a long term increasing traffic. On the other hand, they make Operators and Air Trafic Service Providers compliant to the requirements associated with these elements that demand some investment. In this document, the RNAV, RNP, RVSM and GNSS implementation as a primary mean of navigation in Brazilian airspace, are evaluated by a qualitative approach. Costs and operational and economic benefits associated to these elements are investigated according to the Brazilian scenario. As a case study, a cost-benefit quantitative analysis of RVSM implementation in Brazil is performed. The results achieved are very positive for the comercial aviation segment, but not for the general aviation. The general aviation fleet shall be evaluated case-by-case, according to its utilization rates and costs to obtain the RVSM operational approval. To substanciate these analysis, specific studies were developed and are available for further information in this document’s apendix. ix Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, por me permitir a vida e aos meus pais, Zinelson de Oliveira Siqueira e Vera Lúcia de Araújo Siqueira, a quem devo a pessoa que sou e grande parte desta conquista. Ao professor Protógenes Pires Porto, meu orientador, pela colaboração e incentivo. Agradecimentos especiais ao DAC na pessoa do Tenente Alvimar de Lucena cuja orientação prestada foi fundamental para a concretização deste trabalho. Ao DECEA, pelo fornecimento de informações pertinentes no decorrer desta pesquisa e ao IPV, pelos inúmeros esclarecimentos prestados. Igualmente grata a VARIG na pessoa dos Engenheiros Carlos Quintiere e Murillo Cubas Jr, pela solicitude e acolhimento caloroso na ocasião da realização da visita técnica. À FAPESP, pelo suporte dado a este projeto de pesquisa, imprescindível à sua consolidação. Agradeço ainda a todos os colegas e amigos que contribuiram durante a execução deste trabalho: Milton Valdir de Matos Feitosa (VARIG), Christiano Max (INPE), Renny Apolinário da Silva (ICEA), Érico Soriano M. Santana (ICEA), Eno Siewerdte (ATECH), Celso Luís do Couto Figueiredo (DECEA), Saulo José da Silva (DECEA) e Julio César de Souza Pereira (DECEA). Por fim, toda minha gratidão ao meu companheiro Daniel Brum Pretto por estar ao meu lado, me ajudando a superar os momentos de desânimo, pela compreensão, paciência e apoio. x Relação de Símbolos e Abreviaturas ABAS Sistema de Aumentação de Bordo Aircraft-Based Augmentation System ACB Análise de Custo-Benefício ACC Centro de Controle de Área Area Control Center ADF Localizador Automático de Direção Automatic Direction Finder AIC Circular de Informação Aeronáutica Aeronautical Information Circular AIP Publicação de Informações Aeronáuticas Aeronautical Information Publication APV Aproximação com Guiagem Vertical Approach with Vertical Guidance ATC Controle de Tráfego Aéreo Air Traffic Control ATECH Fundação Tecnologias Críticas ATM Gestão de Tráfego Aéreo Air Traffic Management ATS Serviço de Tráfego Aéreo Air Traffic Service BADA Base de Dados de Aeronave Base of Aircraft Data B-RNAV Navegação de Área Básica Basic Area Navigation BS CAR/SAM Boletim de Serviço Caribe e América do Sul Caribbean and South American CARSAMMA Agência de Monitoramento Regional do Caríbe e América do Sul Caribbean and South American Regional Monitoring Agency xi CAT Categoria de aproximação por instrumentos CDI Indicador de Desvio de Curso Course Deviation Indicator CDU Unidade de Monitoramento e Controle Control Display Unit CFIT Colisão de Vôo Controlado Contra o Terreno Controlled Flight Into Terrain CNS Comunicação, Navegação e Vigilância Communication, Navigation and Surveillance CO Monóxido de Carbono CO2 Dióxido de Carbono CP Carga Paga CPqD Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações DAC Departamento de Aviação Civil DECEA DME EATCHIP ECAC EGNOS ERC EUR/SAM Departamento de Controle do Espaço Aéreo Equipamento Mensurador de Distância Distance Measurement Equipament Programa de Integração e Harmonização do Controle de Tráfego Aéreo na Europa Estados da Conferência de Aviação Cívil Européia States of European Civil Aviation Conference Serviço de Navegação Geoestacionário Europeu European Geostationary Navigation Overlay Service Cartas de Rotas Enroute Chart Europa - América do Sul FAA Federal Aviation Administration FANS Sistemas de Navegação Aérea do Futuro Future Air Navigation Systems xii FIR Região de Informação de Vôo Flight Information Region FL Nível de Vôo Flight Level FMC Computador de Gerenciamento de Vôo Flight Management Computer FMS Sistema de Gerenciamento de Vôo Flight Management System GAGAN GALILEO GPS e GEO Navegação Aumentada GPS And GEO Augmented Navigation Sistema Europeu de Navegação Global por Satélite GBAS Sistema de Aumentação Baseado em Solo Ground-Based Augmentation System GEIV Grupo Especial de Inspeção em Vôo GLONASS Sistema de Satélites de Navegação Global Russo Global Navigation Satellite System (Russian) GMS Sistema de Monitoramento baseado em GPS GPS Based Monitoring System GMU Unidade de Monitoramento GPS GPS Monitoring Unit GNSS Sistema Global de Navegação por Satélite Global Navigation Satellite System GPS GREPECAS Sistema de Posicionamento Global Global Positioning System Grupo Regional de Planejamento e Implementação dos Sistemas CNS/ATM no Caribe e América do Sul H2O Água HMU Unidade de Monitoramento de Altura Heigh Monitoring Unit HSI Indicador de Situação Horizontal Horizontal Situation Indicator xiii ICEA Instituto de Controle do Espaço Aéreo IFR Regras de Vôo por Instrumentos Instrument Flight Rules ILS Sistema de Pouso por Instrumentos Instrument Landing System INS Sistema de Navegação Inercial Inertial Navigation System IPV Instituto de Proteção ao Vôo IRS Sistema de Referência Inercial Inertial Reference System JAA Joint Aviation Authorities MASPS MMR MN MSAS Especificações Mínimas de Desempenho de Sistemas de Aeronave Minimum Aircraft Systems Performance Specification Receptor Múltiplo Modo Multi-Mode Receiver Milha Náutica Sistema de Aumentação por Satélite Multi-Funcional Multi-Functional Satellite Augmentation System NDB Radio Farol Não-Direcional Non-Directional Radio Beacon NOx Óxidos de Nitrogênio NPA Aproximação de não precisão Non-Precision Approach OACI Organização da Aviação Civil Internacional ONU Organização das Nações Unidas PD Peso de Decolagem PMD Peso Máximo de Decolagem POV Peso Operacional Vazio RAIM Sistema de Monitoramento Autônomo de Integridade Receiver Autonomous Integrity Monitoring xiv RNAV RNP Navegação de Área Area Navigation Performance de Navegação Requerida Required Navigation Performance RVSM Redução dos Mínimos de Separação Vertical Reduced Vertical Separation Minima SARPS Normas e práticas recomendadas Standards And Recomended Practices, SBAS Sistema de Aumentação Baseado em Satélites Satellite-Based Augmentation System SID SISCEAB SO2 Saída Padrão por Instrumento Standard Instrument Departure Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro Dióxido de Enxofre STAR Rota Terminal Padrão de Chegada Standard Terminal Arrival Route TCAS Sistema de Alerta de Tráfego e Aviso de Colisão Traffic Allert and Collision Avoidance System TMA Área Terminal TSE Erro Total do Sistema Total System Error TO Taxa de Ocupação VOR Radiofarol Omnidirectional em VHF VHF Omnidirectional Radio Range VPL Valor Presente Líquido VSM Mínimos de Separação Vertical Vertical Separation Minima WAAS Sistema de Aumentação de Área Ampla Wide Area Augmentation System xv Capítulo I Introdução I.1 INTRODUÇÃO No início dos anos oitenta, a Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) reconheceu que as limitações dos sistemas convencionais de navegação aérea estavam crescendo significativamente e que seria necessário introduzir melhorias para sustentar a aviação civil do século XXI. Em 1983, foi instituído um comitê denominado Sistemas de Navegação Aérea do Futuro (FANS) com a tarefa de estudar, identificar e analisar novos conceitos e técnicas e apontar soluções para o desenvolvimento progressivo e coordenado da navegação aérea. Foi então concebido o conceito de Comunicação, Navegação e Vigilância / Gestão de Tráfego Aéreo (CNS/ATM), empregando tecnologia digital, inclusive sistema satelital associado a vários níveis de automação, com a finalidade de proporcionar uma gestão de tráfego aéreo mundialmente eficaz, segura e uniforme [Galotti, 1997]. O CNS/ATM deverá ser gradualmente implementado em nível mundial até o ano de 2010, de acordo com o cronograma recomendado pela OACI, da qual o Brasil é membro. Mesmo em regiões do globo atualmente classificadas como não restritivas, estima-se que o aumento contínuo e progressivo do tráfego e a necessidade de harmonização dos sistemas ATM, em nível regional e global, determinarão a necessidade da implementação total ou parcial dos sistemas CNS/ATM. 1 Dentre as possíveis melhorias nas tecnologias, técnicas e práticas de comunicação, navegação e vigilância aeronáutica, o presente trabalho se deterá exclusivamente na análise daquelas aplicáveis à navegação aérea em rota e em área terminal. I.2 IMPLEMENTAÇÃO DO CNS/ATM A viabilidade econômica dos sistemas CNS/ATM em determinado país é diretamente influenciada por seu ambiente político e institucional. Os custos e os benefícios decorrentes da implementação dos novos sistemas são afetados pela política nacional e regional, que rege a indústria da aviação, e pelo grau de harmonização da implementação entre regiões vizinhas. Conforme ilustrado na Figura 1-1, é desejável que as diferenças no ritmo da implementação dos novos sistemas nos diferentes países, não provoquem descontinuidades, comprometendo a economia e a eficiência das operações [OACI, 1995]. Y X ESPAÇO AÉREO 1 ESPAÇO AÉREO 2 Percurso com navegação convencional nos espaços aéreos 1 e 2 Percurso com CNS/ATM no espaço aéreo 2 Percurso com CNS/ATM nos espaços aéreos 1 e 2 Figura 1-1 Benefício da harmonização regional na implementação do CNS/ATM. A harmonização de padrões e procedimentos, com o objetivo de estabelecer um espaço aéreo interoperável e sem descontinuidades, permitirá que os operadores realizem vôos intra e interregiões, de acordo com as melhores rotas e em seus perfis mais adequados, dinamicamente ajustados para a melhor relação custo/benefício possível e sem que ocorram descontinuidades operacionais nas transposições de fronteiras internacionais. 2 Dado ao alto grau de cooperação necessário entre os países e regiões para que haja uma harmonização internacional, a OACI concebeu o Plano Mundial para Implementação dos Sistemas CNS/ATM (OACI, Doc 9750) com o intuito de disciplinar e estabelecer diretrizes de transição apropriadas, visando a subsidiar uma implementação progressiva, ordenada e benéfica para usuários e provedores de Serviço de Tráfego Aéreo. Os Planos Regionais e Nacionais surgiram como desdobramentos do Plano Mundial. No caso particular da região composta pelo Caribe e América do Sul, denominada região CAR/SAM, a implementação é coordenada pelo Grupo Regional de Planejamento e Implementação dos Sistemas CNS/ATM no Caribe e América do Sul (GREPECAS). I.2.1 Plano Nacional de Implementação dos Sistemas CNS/ATM Em maio de 1998, o Brasil sediou a Conferência Mundial de Implantação do Sistema CNS/ATM. Na ocasião, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, firmou o compromisso de implantá-lo no espaço aéreo sob jurisdição nacional [DEPV, 2000a]. As diretrizes de implementação dos sistemas CNS/ATM no Brasil estão definidas no “Plano Nacional de Implementação dos Sistemas CNS/ATM”, elaborado conforme os critérios estabelecidos no Plano Regional e no Plano Mundial [COMAR, 2001]. Ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) cabe estabelecer a estrutura gerencial para implementação do projeto de transição do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) segundo o conceito CNS/ATM. 3 Conforme o Plano Nacional, a implementação deverá respeitar as seguintes fases [COMAR, 2002]: • 2001–2003: Desenvolvimentos, provas, demonstrações pré-operacionais, elaboração de requisitos operacionais e técnicos, definição de questões institucionais e de normatização; utilização de funcionalidades advindas da implementação de elementos dos Sistemas CNS/ATM como “back-up” do SISCEAB atual; • 2004-2007: Usar os novos elementos em paralelo com os sistemas atuais; apoiar as operações internacionais de aeronaves equipadas apenas para o novo sistema; • 2008-2011: Conclusão da implementação do novo sistema e início da desativação dos sistemas da tecnologia atual, a partir dos sistemas de comunicação e de navegação; • Após 2012: Somente os novos sistemas estarão em operação no SISCEAB. O Plano Nacional recomenda ainda que os eventos listados a seguir sejam estabelecidos como balizadores da programação: • Finalização dos trabalhos dos painéis da OACI, com adoção das respectivas Normas e Práticas Recomendadas (SARPS); • Adoção de normas de utilização de equipamentos de bordo; • Finalização das pesquisas e desenvolvimentos específicos; • Disponibilidade de meios satelitais; • Disponibilidade de equipamentos de bordo; • Finalização dos testes e provas pré-operacionais; • Disponibilidade de procedimentos adequados, incluindo os decorrentes de acordos internacionais intra e inter-regionais; • Disponibilidade de infra-estruturas terrestres; 4 • Finalização do treinamento; • Adoção obrigatória de novos sistemas de bordo; e • Desativação dos equipamentos convencionais, de solo e de bordo. Sendo a navegação por satélites o primeiro objetivo a ser atingido, o SISCEAB deverá iniciar suas atividades de testes a partir do estabelecimento de plataformas de ensaios, considerando a topologia da plataforma regional e visando a atingir os seguintes resultados [COMAR, 2002]: • Estabelecimento da arquitetura ideal para suportar os requisitos nacionais, a partir da demonstração da viabilidade técnica e operacional do Sistema de Aumentação Baseado em Satélites (SBAS) e Sistema de Aumentação Baseado em Solo (GBAS); • Desenvolvimento de novos perfis de procedimentos de vôo de acordo com Regras de Vôo por Instrumentos (IFR); • Programação de testes e avaliações de sistemas de aviônicos e outros elementos das novas tecnologias de navegação, além de fomento à pesquisa; • Estabelecimento de novas metodologias para inspeção em vôo; • Capacitação de recursos humanos com a nova tecnologia e, também, com a metodologia de flexibilização na gerência do espaço aéreo; e • Análise de custo-benefício. I.3 MOTIVAÇÃO A OACI vem conduzindo a implementação dos sistemas CNS/ATM motivada pela necessidade de melhoria da atual infra-estrutura de CNS, necessária para acolher o crescente tráfego aéreo de forma segura e eficiente. 5 Segundo recomendações da própria OACI, é necessário avaliar quanto desta melhoria reverterá em termos de custos e benefícios. Os resultados de tal avaliação servirão de base para que tomadores de decisão possam lançar mão de estratégias de implementação visando a maximizar benefícios e minimizar custos para as partes envolvidas. I.4 OBJETIVO O objetivo desta pesquisa consiste em identificar e avaliar, qualitativamente e quantitativamente, os custos e os benefícios da implantação dos elementos CNS/ATM relacionados à navegação aérea no Brasil. Para tanto, metodologias de análise de custobenefício consagradas e recomendadas pela OACI são empregadas. I.5 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS Este trabalho está estruturado em 5 capítulos: Capítulo II: São descritos os elementos de infra-estrutura de navegação e de gestão do espaço aéreo relacionados à navegação segundo o conceito CNS/ATM bem como suas estratégias de implementação no Brasil. Capítulo III: Os custos e os benefícios dos elementos descritos no Capítulo 2 são identificados e avaliados qualitativamente, segundo cenários de aplicação previamente definidos, conforme a metodologia de análise de custo-benefício estabelecida para o estudo. Capítulo IV: Como continuidade da análise qualitativa realizada no capítulo anterior, uma análise quantitativa do cenário relativo à implementação da Redução dos Mínimos de Separação Vertical (RVSM) no Brasil é realizada a título de estudo de caso. Capítulo V: Contém as conclusões e comentários finais. 6 Capítulo II Navegação Aérea segundo CNS/ATM II.1 INTRODUÇÃO O conceito CNS/ATM é definido pela OACI como Sistemas de Comunicação, Navegação e Vigilância, empregando tecnologia digital, inclusive sistema satelital associado a vários níveis de automação, visando a proporcionar uma Gestão de Tráfego Aéreo mundialmente eficaz, segura e uniforme. Sua principal proposta é aumentar a capacidade do espaço aéreo e diminuir os custos operacionais, mantendo ou melhorando os níveis de segurança praticados atualmente. Conforme a Figura 2-1, a melhoria prevista para a navegação segundo CNS/ATM incluirá: • Introdução progressiva da Navegação de Área (RNAV) junto ao Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS). Esta combinação proverá cobertura de navegação global, incluindo áreas remotas e oceânicas [Galotti, 1997]. • Introdução da Performance de Navegação Requerida (RNP), que consiste num requisito de precisão de navegação necessário para operar em determinadas porções do espaço aéreo ou rota; • Implementação da Redução dos Mínimos de Separação Vertical (RVSM) de 1000 pés entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410. Embora a RVSM não seja propriamente uma função CNS/ATM, é considerada como elemento complementar do conceito [CANSO, 1999]. 7 Comunicação GNSS RNAV CNS/ATM Navegação RNP Vigilância RVSM Figura 2-1: Melhoria da navegação aérea segundo CNS/ATM. O aperfeiçoamento da navegação, segundo o conceito CNS/ATM, visa a proporcionar uma navegação eficiente, segura e de cobertura global sob quaisquer condições de tempo. Para tanto, é introduzido o sistema GNSS como infra-estrutura de navegação e os conceitos de RNAV, RNP e RVSM como elementos de gestão do espaço aéreo. Neste capítulo são apresentados o sistema GNSS e os conceitos RNAV, RNP e RVSM e as respectivas estratégias de implementação no espaço aéreo brasileiro. II.2 SISTEMA GLOBAL DE NAVEGAÇÃO POR SATÉLITE O Sistema Global de Navegação por Satélites (GNSS) é o elemento chave da navegação aérea segundo o conceito CNS/ATM, constituindo a base do aprimoramento da navegação aérea devido a suas características de ampla cobertura e de precisão [OACI, 2003e]. O princípio básico de funcionamento dos sistemas de posicionamento por satélite consiste na determinação da posição do usuário a partir do conhecimento das coordenadas de posição de três pontos quaisquer e da distância entre o usuário e cada um destes pontos. O GNSS é formado por um conjunto de satélites e de estações terrenas que permitem que um móvel possa determinar sua posição com a precisão e a confiabilidade necessárias. 8 Para compor o segmento espacial do GNSS em sua primeira fase, o governo americano ofereceu gratuitamente o Sistema de Posicionamento Global (GPS) à OACI por tempo indeterminado, comprometendo-se a um aviso prévio de pelo menos seis anos para alterar esta oferta. Da mesma forma, o governo russo ofereceu seu Sistema de Satélites de Navegação Global (GLONASS) gratuitamente por um período de 15 anos, a partir de 1996. No entanto, ambos sistemas não atendem completamente os requisitos de desempenho estabelecidos pela OACI para os sistemas de navegação (precisão, integridade, continuidade e disponibilidade), necessitando para tanto serem complementados por sistemas de aumentação. Em 2010, o GNSS deverá ser integrado também pelo sistema europeu GALILEO, primeiro sistema mundial de posicionamento construído para fins civis [Eurocontrol, 2001]. II.2.1 Evolução Operacional O objetivo permanente da OACI no que concerne a evolução operacional do GNSS, é obter um GNSS civil, internacionalmente controlado [OACI, 1999a]. Devido aos problemas técnicos que têm apresentado o GLONASS, a OACI decidiu que somente o GPS integrará o GNSS em sua primeira fase. O GLONASS será integrado posteriormente, tão logo seu desempenho atinja os níveis especificados [OACI, 1999a]. Assim, foi estabelecido o seguinte modelo de evolução operacional para o GNSS: 1. GPS 2. GPS + GLONASS 3. GPS + GLONASS + Sistemas de Aumentação 4. GPS + GLONASS + GNSS civil 5. GNSS civil 9 II.2.2 Elementos do Sistema GNSS Dependendo da utilização pretendida, o GNSS deve ser viabilizado pela combinação de alguns elementos, a saber: • Sistemas de Posicionamento (GPS, GLONASS); • Receptor GNSS nas aeronaves; • Sistema de Aumentação Baseado em Satélites (SBAS); • Sistema de Aumentação Baseado em Solo (GBAS); • Sistema de Aumentação de Bordo (ABAS). A seguir, são fornecidas algumas informações adicionais sobre sistemas de aumentação. II.2.2.1 Sistema de Aumentação Baseado em Satélites O Sistema de Aumentação Baseado em Satélites (SBAS) é constituído de dois elementos: • Segmento solo: Composto de uma rede de estações terrenas (estações de monitoramento e estação processadora), que recebem o sinal do GPS e calculam a correção diferencial; • Segmento espacial: Composto de satélite de comunicação geoestacionário, que recebe a informação de correção das estações terrenas e a retransmite para a aeronave. Ademais, são transmitidas informações sobre a performance dos satélites GPS. Este sistema promove suficiente melhoria de performance de navegação (precisão, integridade, continuidade e disponibilidade), necessária para suportar a todas as fases do vôo em rota, em área terminal e em aproximação de não-precisão, podendo chegar também a cumprir com os requisitos de guiagem vertical. 10 Atualmente o único SBAS operacional é o norte-americano, denominado Sistema de Aumentação de Área Ampla (WAAS). Outros países estão desenvolvendo sistemas semelhantes e compatíveis com o WAAS. Na Europa deverá entrar em operação em 2005 o Serviço de Navegação Geoestacionário Europeu (EGNOS), na Ásia deverá operar o Sistema de Aumentação por Satélite Multi-Funcional (MSAS), de propriedade japonesa e o GPS e GEO Navegação Aumentada (GAGAN), de propriedade indiana. Ainda na fase de ensaios, o EGNOS pôde melhorar a precisão do GPS de cerca de 20 m para 2 m [Toran-Marti et al, 2004]. II.2.2.2 Sistema de Aumentação Baseado em Solo O Sistema de Aumentação Baseado em Solo (GBAS) consiste de um conjunto de estações de solo de posições conhecidas que monitoram, determinam e corrigem os erros do sistema GPS por meio de mensagens de correção transmitidas aos receptores localizados em sua área de cobertura. O GBAS é capaz de receber informações de satélites de posicionamento e geoestacionários SBAS que estejam em seu campo de visão. Embora a precisão proporcionada pelo GBAS seja superior a do SBAS, sua área de cobertura é menos abrangente. O GBAS é o único sistema capaz de atender aos requisitos operacionais especificados para as aproximações de precisão CAT II e III [DEPV, 2000a]. 11 II.2.2.3 Sistema de Aumentação de Bordo O Sistema de Aumentação de Bordo (ABAS) é uma denominação genérica utilizada pela OACI para descrever Sistemas de Monitoramento Autônomo de Integridade (RAIM) ou similares. Estes sistemas estão presentes em grande parte dos receptores GPS, monitorando a os sinais captados e alertando o usuário em caso de falha [DEPV, 1999a]. São necessários cinco satélites para viabilizar a função RAIM e mais um sexto satélite é necessário no caso de identificação e remoção de um satélite falho no sistema. Os sistemas mais modernos são capazes de prever a disponibilidade da função RAIM no horário estimado de início do procedimento. Havendo previsão de indisponibilidade, desde 15 minutos antes até 15 minutos após o horário estimado de pouso, não é permitido iniciar o procedimento. Quando isto ocorre, a aeronave deve acionar os equipamentos básicos de navegação aérea apropriados para a rota a ser voada. Este procedimento também é válido nos trechos da rota em que haja previsão de indisponibilidade da função RAIM [DEPV, 1999a]. II.2.3 Requisitos de Desempenho do GNSS para a Navegação Aérea Os sinais disponibilizados pelo GNSS, vistos por um usuário que dispõe de um receptor ideal, devem proporcionar uma navegação segundo os requisitos de performance indicados na Tabela 2-1. A Aproximação com Guiagem Vertical (APV) surge como uma categoria intermediária entre aproximação de precisão e de não-precisão. A APV foi introduzida para aproveitar o desempenho alcançado pelo GNSS, permitindo a utilização de um sistema menos preciso que o ILS embora com garantia de guiagem vertical estabilizada. 12 Tabela 2-1: Requisitos de Desempenho do GNSS para a Navegação Aérea. Operações típicas Precisão lateral 95% Precisão vertical 95% Tipo(s) de RNP associados Precisão lateral TSE 95% *1 Rota 3,7 km 20 até 10 37 km a 18,5 km Rota/Área terminal 0,74 km 5 até 1 9,26 km a 1,85 km 0,5 até 0,3 920 m a 556 m - Aproximação inicial, Aproximação intermediária, Aproximação de não-precisão (NPA) e decolagem 220 m Aproximação com guiagem vertical (APV-I) 220 m 20 m 0,3/125 556 m Aproximação com guiagem vertical (APV-II) 16 m 8m 0,03/50 56 m Aproximação de precisão CAT I 16 m 6 m a 4 m *2 0,02/40 37 m Nota 1: Erro Total do Sistema (TSE) – Combinação do erro do sensor de bordo, erro do receptor, erro do diplay e erro técnico de vôo. Nota 2: Uma faixa de valores é especificada para a precisão vertical da Aproximação de Precisão CAT I. O requisito de 4 m (13 pés) é baseado nas especificações do ILS e corresponde a uma extensão conservadora de sua especificação. Fonte: [OACI, 1999c] APV-I e APV-II referem-se a dois níveis diferentes de aproximação com guiagem vertical, não sendo necessariamente planejado para uso operacional. II.2.4 GNSS no Brasil No Brasil, conforme regulamentado na AIC N17/99, fica autorizado o uso do GPS como meio suplementar de navegação em rota, em área terminal e em aproximação de não-precisão. Entretanto, para operar IFR as aeronaves deverão também possuir os equipamentos básicos, o Radiofarol Omnidirectional em VHF (VOR) e o Equipamento Mensurador de Distância (DME). Estes deverão ser utilizados obrigatoriamente quando ocorrer o alarme de integridade. 13 A medida em que a performance de navegação do GNSS é melhorada, este passará de meio suplementar para meio primário de navegação. O GREPECAS estabelece as seguintes condições para o uso do GNSS na região CAR/SAM: Tabela 2-2: Utilização do GNSS na região CAR/SAM. Espaço aéreo Espaço aéreo oceânico e continental em rota de baixa densidade de tráfego Espaço aéreo continental de alta densidade de tráfego Espaço aéreo oceânico de alta densidade de tráfego Espaço aéreo terminal de grande densidade de tráfego Meio Suplementar Meio primário Não aplicável GPS/GLONASS + ABAS GPS/GLONASS + ABAS GPS/GLONASS + ABAS GPS/GLONASS + ABAS GPS/GLONASS + ABAS + SBAS GPS/GLONASS + ABAS + SBAS GPS/GLONASS + ABAS + SBAS/GBAS Fonte: [OACI, 1999a] No futuro, espera-se que o GNSS substitua todos os auxílios tradicionais. Para que isto ocorra, alguns problemas técnicos, operacionais e institucionais precisam ser resolvidos. A implementação do SBAS no Brasil permitirá a utilização do GNSS como meio primário de navegação em todas as fases do vôo que evoluam em espaço aéreo oceânico, continental e área terminal de alta densidade de tráfego. O Governo Brasileiro vem considerando seriamente a possibilidade de adquirir um SBAS próprio. Esta opção encontra-se em fase avançada de estudo. II.3 NAVEGAÇÃO DE ÁREA Em muitas partes do globo, as rotas que formam aerovias conduzem a distâncias de vôo que excedem as distâncias mínimas entre origem e destino. 14 Tradicionalmente, as aeronaves voam de um rádio-auxílio fixo no solo para outro. Estes rádio-auxílio devem ser fixados em locais específicos na superfície do terreno que favoreçam a linha de visada das ondas eletromagnéticas e ampliem suas áreas de cobertura útil. Nas áreas terminais, as Rotas Terminais Padrão de Chegada (STAR) e Saídas Padrão por Instrumentos (SID) são projetadas para passarem sobre os rádio-auxílios; entretanto, a aproximadamente 10 MN ao redor dos aeroportos, tais auxílios freqüentemente não estão disponíveis o que leva os pilotos voarem rumos magnéticos manualmente. O modo manual de voar é ineficiente e resulta em tempo extra de vôo [Mitre, 2001] . Visando a reduzir as limitações do atual modelo, utilizando-se para tanto dos modernos equipamentos já disponíveis a bordo das aeronaves, foi introduzido o conceito da Navegação de Área (RNAV). Desde a década de 60 já era possível a prática da RNAV, utilizando como referência estações de VOR/DME ou DME/DME. Contudo, foi com o advento do GPS que o conceito ressurgiu com maior força, devido às características de cobertura global e desempenho do sinal. A Navegação de Área é definida como um método de navegação que permite a aeronave operar em qualquer trajetória desejada, dentro da cobertura de auxílios à navegação de referência ou dentro dos limites da capacidade dos sistemas autônomos de navegação ou ainda da combinação de ambos [OACI, 1999b]. A prática da RNAV proporciona maior flexibilidade no desenho dos procedimentos, permitindo que sejam praticadas as trajetórias julgadas mais convenientes. Assim, importantes benefícios econômicos e operacionais são obtidos, tanto para o operador quanto para o provedor ATS e para o usuário. 15 Para que a navegação convencional seja substituída pela RNAV é necessário que: • A infra-estrutura de navegação permita cobertura adequada à rota ou aos procedimentos de aproximação; • O meio de navegação empregado satisfaça os requisitos mínimos de performance especificados pela OACI; • A base de dados de navegação da aeronave (coordenadas publicadas no AIP) esteja no sistema de referência geodésico WGS-84; • As rotas e procedimentos RNAV estejam projetados e devidamente publicados segundo os critérios da OACI; • Sistemas embarcados sejam certificados para uso nas rotas e procedimentos RNAV. • A tripulação tenha a aprovação necessária para operar rotas e procedimentos RNAV. II.4 PERFORMANCE DE NAVEGAÇÃO REQUERIDA Antes do surgimento do conceito de Performance de Navegação Requerida (RNP), o método utilizado pela OACI para fazer cumprir uma dada performance de navegação era o de prescrever o uso mandatório de um determinado equipamento de bordo. Com o passar dos anos esta tarefa tornou-se bastante complexa frente ao surgimento de vários novos equipamentos de bordo e sistemas de navegação. Para superar este problema o Comitê FANS desenvolveu o conceito de Performance de Navegação Requerida. A RNP é numa meta de precisão de navegação necessária para operar num determinado espaço aéreo [OACI, 1999b]. A RNP impõe requisitos tanto ao espaço aéreo quanto às aeronaves que ali operam. Para as aeronaves, o Erro Total do Sistema especificado na tabela 2-1, deve ser menor que o valor da RNP durante 95% do tempo total do vôo. Para o espaço aéreo, adequada infra-strutura de 16 navegação deve ser provida para garantir o cumprimento da RNP especificada [OACI, 1999b]. Vários tipos de RNP podem ser recomendados, dependendo das condições do espaço aéreo local, da meteorologia, da intensidade do tráfego e das exigências das autoridades de controle de tráfego aéreo. Os tipos de RNP foram desenvolvidos para prover níveis conhecidos de precisão de navegação e para apoiar os planos de desenvolvimento do espaço aéreo. A implementação da RNP permite aumentar a capacidade e a eficiência do espaço aéreo, ao mesmo tempo em que mantém ou melhora os níveis de segurança do serviço de tráfego aéreo. A notação da Performance de Navegação Requerida é dada por RNP X, onde X é o afastamento máximo, dado em milhas náuticas (MN), em relação à posição pretendida. Por exemplo, RNP 10, significa que o afastamento máximo permissível é de 10 MN em torno da posição pretendida durante 95% do tempo de vôo. II.4.1 Tipos de RNP Praticados A performance de navegação de uma aeronave é resultado da combinação de sua capacidade de navegação1 e do nível de serviço da infra-estrutura de navegação2 em uso. Assim, uma aeronave apta a operar um RNP mais estrito não está, necessariamente, habilitada a operar um RNP menos estrito. Por exemplo, uma aeronave que opera RNP 1 com duplo DME não está capacitada para operar RNP 10 em espaço aéreo oceânico nas mesmas condições. 1 Capacidade de navegação refere-se ao certificado de aeronavegabilidade e a aprovação operacional. 2 Nível de serviço refere-se à infra-estrutura do espaço aéreo (estrutura de rotas, disponibilidade e performance do sinal eletromagnético de navegação e gestão de tráfego aéreo). 17 A RNP é um elemento fundamental na determinação da largura das rotas e de normas seguras de separação, embora não possa ser o único critério para expressá-las. Devem também ser considerados outros fatores como: infra-estrutura do espaço aéreo (incluindo vigilância e comunicação), tráfego local, pontos de conflito existentes e outros. As atuais aplicações da RNP em rota e em área terminal (com exceção de procedimentos de aproximação) são baseadas apenas no requisito de precisão, não levando em conta a integridade. Esta lacuna é compensada pelos mínimos de separação praticados ou por monitoramento radar [OACI, 1999b]. A Tabela 2-3 apresenta uma relação dos tipos de RNP atualmente praticados: Tabela 2-3: Tipos de RNP praticados. Aplicações Estados Unidos Europa Aproximação RNP 0,3 Área Terminal RNP 1 Rota RNP 2 P-RNAV (RNAV de precisão, correspondente a RNP 1) B-RNAV (RNAV básico, correspondente a RNP 5) Área Oceânica/Remota RNP 10 (Pacífico Norte) / RNP 4 Fonte: [FAA, 2005] Um novo conceito chamado de RNP-RNAV foi desenvolvido a partir da evolução do conceito RNP e introduz requisitos de integridade, disponibilidade e continuidade para prover 99,999% de confinamento. Assim, o risco de se ter uma aeronave fora do raio RNP sem que o piloto seja alertado é menor que 1 em 100.000. Este conceito ainda está em desenvolvimento. A Figura 2-2 ilustra o benefício da prática da RNP no espaço aéreo do Pacífico Norte, onde a capacidade do espaço aéreo foi duplicada na porção mais disputada pelas aeronaves [OACI, 2003a]. 18 Espaço Aéreo Não RNP (Acima do FL390) Espaço Aéreo RNP 10 (FL310 a FL390) Espaço Aéreo Não RNP (Abaixo do FL310) Figura 2-2: Rotas RNP 10 no Pacífico Norte. II.4.2 Construção de Procedimentos RNAV Os procedimentos RNAV devem ser projetados para fornecer flexibilidade aos usuários servindo-se da mais ampla infraestrutura de auxílios à navegação possível. Isto permite que aeronaves dotadas do sistema RNAV multi-sensor possam continuar normalmente seus procedimentos em caso de falha do sensor primário. Deste modo, a área de confinamento da aeronave nesses procedimentos deve ser calculada em relação ao sensor mais crítico. A maior parte dos sistemas RNAV são capazes de selecionar e descartar automaticamente os sensores que o alimentam. Assim, o projetista deve considerar na concepção do procedimento o conjunto de auxílios disponíveis e as conseqüências de uma possível pane destes auxílios durante a execução do procedimento. II.4.3 Sistema RNAV/RNP Freqüentemente o sistema RNAV e o Sistema de Gerenciamento de Vôo (FMS) são confundidos um com o outro. Um sistema RNAV é qualquer combinação de equipamentos usada para promover a navegação de área enquanto o FMS é um sistema de bordo que integra funções de navegação e gerenciamento de performance de vôo, permitindo a prática de perfis de vôo mais econômicos [Eurocontrol, 1999a]. 19 Da Figura 2-3 pode-se concluir que todo FMS é um sistema RNAV, entretanto o inverso não se verifica, pois somente o FMS possui a funcionalidade de gestão de vôo (combustível, performance, elementos de segurança, etc...). O FMS/RNAV faz uso de uma base de dados que contém informações sobre as rotas préestabelecidas e seus fixos de passagem, os espaços aéreos que as contêm, os rádio-uxílios disponíveis nesses espaços e os aeródromos de procedência, alternativos e de destino. O FMS é capaz de selecionar o auxílio mais apropriado para fornecer a posição do avião, identificar o próximo fixo de passagem da rota e alimentar o piloto automático, caso esteja acoplado. R N AV FM S Gestão de Vôo N avegação N avegação P lanejamento de Vôo * P lanejamento de Vôo P revisão de Trajetória * P revisão de Trajetória * Fu n ç õ e s n o rma lme n te n ã o d is p o n ív eis n o s e q u ip a me n to s RN A V me n o s s o fis tic a d o s Figura 2-3: Funções dos Sistemas RNAV e FMS. Conforme ilustrado na Figura 2-4, o sistema FMS/RNAV é capaz de integrar dados provenientes de vários tipos de auxílios à navegação: DME/DME GNSS FMS RNAV ADF IRS ou INS VOR/DME 20 Figura 2-4 Entrada de dados de navegação do FMS. O sistema Localizador Automático de Direção (ADF), que utiliza sinais de estações de solo conhecidas como Rádio Farol Não-Direcional (NDB), não é utilizado como entrada de dados no equipamento FMS. Apesar do Sistema de Navegação Inercial (INS) e Sistema de Referência Inercial (IRS) não serem susceptíveis a fenômenos meteorológicos, ambos apresentam uma taxa média de degradação da precisão de 1,5 a 2 milhas náuticas por hora3, o que reduz o tempo de navegação baseado nestes sistemas. Além disso, os sistemas inerciais costumam ser bastante caros, principalmente devido à redundância dupla ou tripla de caráter obrigatório e à sofisticação do mecanismo de atualização. O GNSS tem proporcionado uma navegação RNAV mais precisa, íntegra e de cobertura global. Ademais, os aviônicos GNSS são relativamente baratos, sendo accessíveis a todos os níveis de usuários. Estas características propiciam a consolidação da RNAV baseada em GNSS como meio principal de navegação [CANSO, 1999]. Depois do GNSS, a associação de, no mínimo, dois DMEs, constitui o meio mais preciso de navegação RNAV, embora esta precisão seja afetada pelo número de estações disponíveis e pela localização relativa entre elas. Tal como RNAV baseado em VOR, as desvantagens deste sistema também estão associadas a limitação de cobertura operacional [Galotti, 1997]. 3 Sistemas autônomos modernos, isto é, sistemas a laser e a fibras ópticas, não sofrem este nível de degradação. 21 II.4.4 RNAV e RNP no Brasil As Cartas de Rota (ERC) vêm registrando, desde 1997, um crescente número de rotas RNAV dissociadas de requisito de precisão no espaço aéreo superior brasileiro. Operar nestas condições, mesmo em espaços aéreos de baixo tráfego, requer uma avaliação prévia da segurança. Embora possa funcionar a curto prazo, o crescimento do tráfego e a necessidade de otimização e harmonização do espaço aéreo, demandará uma meta de precisão. A Tabela 2-4 apresenta o cronograma de implantação da RNAV e RNP na região CAR/SAM: Tabela 2-4: Cronograma de Implementação da RNAV e RNP na região CAR/SAM. Implementação e Operação Rede de rotas ATS RNAV fixas Previsão de implantação Início Término 2000 2010 RNAV SID e STAR com requisitos RNP 2002 2010 RNP 2000 2010 Fonte: [OACI, 1999a] II.4.4.1 Estratégia de Implementação da RNAV No Brasil, o plano de implantação visa a obtenção de uma rede fixa de rotas RNAV no espaço aéreo brasileiro até o ano 2010, segundo a seguinte estratégia [OACI, 2003b]: 1. Priorizar os principais fluxos de tráfego internacionais originados no Brasil; 2. Priorizar os principais fluxos de tráfego nacionais; 3. Promover harmonização entre as rotas nacionais e as rotas RNAV internacionais; 4. Incorporar/encaminhar o tráfego proveniente/destinado às áreas terminais (TMA) intermediárias por intermédio de SIDs e STARs ou de rotas RNAV auxiliares; 5. Atender solicitações dos operadores e dos Estados que compõem a região CAR/SAM; 6. Priorizar a implantação das rotas que trarão maiores benefícios econômicos e àquelas requisitadas pelos Estados. 22 Uma rota paralela RNAV só deverá ser implantada quando a rota original RNAV não mais satisfizer a demanda, ou seja, quando as aeronaves que ali operarem estiverem sendo penalizadas quanto ao nível ótimo de vôo. No período de transição, rotas RNAV poderão ser sobrepostas às convencionais. Neste caso, o tráfego deverá ser segregado por meio do estabelecimento de níveis máximos para as rotas convencionais e mínimos para as rotas RNAV. II.4.4.2 Estratégia de Implementação da RNP Em 2001, a RNP 10 foi implementada numa porção do espaço aéreo oceânico brasileiro conhecido como corredor Europa – América do Sul (EUR/SAM) [DEPV, 2000b]. A RNP 5 será o requisito de performance do espaço aéreo continental brasileiro. Até 2007, as FIRs Brasília e Curitiba deverão operar segundo este requisito [OACI, 2004b]. A exemplo do que ocorre nas TMAs Brasília e Curitiba, a implantação da RNAV/RNP em rotas de chegada, aproximação e saída deverão ser estudadas caso a caso [OACI, 2004b]. II.5 REDUÇÃO DOS MÍNIMOS DE SEPARAÇÃO VERTICAL Devido à diminuição da precisão dos altímetros de pressão em função da altitude, na década de 60 foi estabelecido que os mínimos de separação vertical acima do nível de vôo FL 290 deveriam ser de 2000 pés. A escolha deste nível foi baseada no teto operacional das aeronaves existentes na época. No fim da década de 70, face ao aumento dos custos de combustível e a necessidade de um espaço aéreo mais eficiente, a OACI começou a estudar a possibilidade de redução dos mínimos de seperação vertical acima do nível de vôo FL 290 [OACI, 2004a]. 23 Entretanto, somente em 1990 a OACI reconheceu que a implementação desta redução era segura, rentável e viável, dados os avanços tecnológicos alcançados nos sistemas de alerta de altitude, altímetros e piloto automático. A Redução dos Mínimos de Separação Vertical (RVSM) é a aplicação da separação vertical de 1000 pés entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410, inclusive [DECEA, 2003a]. Com a implantação da RVSM são disponibilizados seis níveis de vôo adicionais, permitindo a prática de perfis verticais de vôo mais eficientes e o conseqüente aumento da capacidade do espaço aéreo. Em contrapartida, uma série de investimentos são necessários para adequar operadores e provedores ATS às normas internacionais que regem a prática da RVSM. II.5.1 Equipamento RVSM Para uma aeronave operar num espaço aéreo RVSM a configuração mínima exigida em termos de sistemas embarcados é a seguinte [JAA, 1999]: • 2 altímetros independentes; • Transponder de radar secundário com reporte de altitude; • Sistema de alerta de altitude; • Sistema de controle automático de altitude. Adequada inspeção/modificação do tubo de Pitot e da superfície da fuselagem na área da tomada de pressão estática, aferição dos instrumentos e outros, são também necessários dependendo do tipo da aeronave. Apesar da utilização do Sistema de Alerta de Tráfego e Aviso de Colisão (TCAS) em ambiente RVSM não ser mandatória, sua utilização em muitos países é obrigatória a bordo de 24 aeronaves comerciais de grande porte. Neste caso, a aeronave deverá estar equipada com o TCAS versão 7 ou posterior (também denominado TCAS II) pois somente a partir desta versão foram incorporados os mínimos de separação vertical de 1000 pés. Para operar em ambiente RVSM, as aeronaves não adequadamente equipadas para tal devem ser modificadas por meio da incorporação de boletins de serviço (BS). Estes boletins podem ser emitidos diretamente pelos fabricantes de aeronaves ou desenvolvidos por empresas especializadas e submetidos à avaliação da autoridade aeronáutica local, que o avaliará quanto ao cumprimento das Especificações Mínimas de Desempenho de Sistemas de Aeronave (MASPS) para operações RVSM. O conjunto de especificações MASPS para a RVSM foi publicado pela autoridade de aviação civil norte-americana (FAA) por meio do “Interim Guidance 91 - RVSM” [FAA, 1999], enquanto o orgão representativo da união das autoridades de aviação civil da Europa (JAA) o publicou como “Leaflet - 6” [JAA, 1999]. Estes documentos contêm especificações e requisitos de aeronavegabilidade, procedimentos de manutenção e programas operacionais necessários para aprovar aeronaves e operadores em espaço aéreo RVSM. II.5.2 RVSM no Brasil e no Mundo Em 20 de janeiro de 2005, a RVSM foi implementada em todo espaço aéreo brasileiro entre o FL 290 e FL 410, inclusive. A partir desta data, apenas aeronaves com Aprovação Operacional RVSM, emitida pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), seriam autorizadas a operar no espaço aéreo RVSM. Entretanto foi decidido que aeronaves não-aprovadas RVSM também poderão ser autorizadas a operar no espaço aéreo RVSM até 30 de junho de 2007. 25 A preferência na utilização dos níveis de vôo será dada às aeronaves aprovadas RVSM. No entanto, em situações específicas, o órgão ATC poderá dar preferência à aeronave não aprovada RVSM, nos casos em que se justifique o benefício operacional. Aeronaves de Estado, vôos humanitários, vôos de primeira entrega e de manutenção são exceção a regra. Estes podem operar no espaço aéreo RVSM mesmo não possuindo aprovação operacional para tal [DECEA, 2003a]. A Tabela 2-5 mostra a implementação da RVSM no mundo: Tabela 2-5: Implementação da RVSM no mundo. Níveis de Vôo Datas de Implementação FL 330 – FL 370 Março 1997 FL 310 – FL 390 Outubro 1998 FL 290 – FL 410 Janeiro 2002 Oceano Pacífico FL 290 – FL 390 Fevereiro 2000 Austrália FL 290 – FL 410 Novembro 2001 Rotas do Atlântico Oeste FL 290 – FL 410 Janeiro 2002 Europa FL 290 – FL 410 Janeiro 2002 Oeste do Pacífico e Mar do Sul da China Como publicado nos documentos ATS Fevereiro 2002 Norte do Canadá FL 290 – FL 410 Abril 2002 Orient Médio Porção Asiática do Sul do Himalaia Estados Unidos, Sul do Canadá, Caribe e América do Sul Como publicado nos documentos ATS Planejado para Novembro de 2003 FL 290 – FL 410 20 de janeiro de 2005 Espaço Aéreo de Operação Atlântico Norte Fonte: [FAA, 2003] II.6 RESUMO O aperfeiçoamento da navegação, segundo o conceito CNS/ATM, visa a proporcionar uma navegação eficiente e de cobertura global sob quaisquer condições de tempo, mantendo ou 26 melhorando os níveis de integridade, disponibilidade, precisão e continuidade atualmente alcançados. Para tanto, são introduzidos o GNSS como infra-estrutura de navegação, e os conceitos RNAV, RNP e RVSM como elementos de gestão do espaço aéreo. O GNSS constitui a base do aprimoramento da navegação aérea devido a suas características de ampla cobertura e precisão. Em sua fase atual, dependendo do tipo de operação em que seja empregado, o GNSS deve ser viabilizado pela combinação dos sistemas de navegação por satélites disponíveis (GPS, GLONASS) e por sistemas de aumentação instalados em solo (GBAS), em satélites (SBAS) e a bordo de aeronaves (ABAS). A RNAV é definida como um método de navegação que permite a aeronave operar em qualquer trajetória desejada, dentro da cobertura de auxílios à navegação de referência, dentro dos limites da capacidade dos sistemas autônomos de navegação, ou ainda, dentro da combinação de ambos. Seu objetivo é reduzir as limitações da atual estrutura de rotas e procedimentos, trazendo benefícios econômicos e operacionais para o operador, para o provedor ATS e para o usuário. A RNP consiste numa meta de precisão de navegação necessária para operar em um determinado espaço aéreo, isto é, um valor de precisão que deve ser cumprido no plano horizontal pela população de aeronaves contidas num determinado espaço aéreo durante 95% do tempo total de vôo. Vários tipos de RNP podem ser recomendados, dependendo das condições do espaço aéreo local, da meteorologia, da intensidade do tráfego e das exigências das autoridades de controle de tráfego aéreo. A RNP permite aumentar a capacidade e a eficiência do espaço aéreo. 27 A RVSM é a aplicação da separação vertical de 1000 pés entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410, inclusive. Com sua implementação são disponibilizados seis níveis de vôo adicionais, permitindo a prática de perfis verticais de vôo mais eficientes. 28 Capítulo III Custos e Benefícios III.1 INTRODUÇÃO O operador de transporte aéreo tem como objetivo a redução dos custos operacionais sem comprometer a segurança e a pontualidade do seus serviços. O provedor ATS por sua vez, busca satisfazer as necessidades dos operadores tornando o espaço aéreo cada vez mais eficiente frente ao crescimento do tráfego e garantindo, acima de tudo, a segurança. Os elementos CNS/ATM apresentam soluções operacionais que subsidiam a realização dos objetivos de operadores e provedores ATS numa visão de longo prazo. Os elementos descritos no Capítulo II possibilitam a prática de perfis de vôos mais eficientes e, conseqüentemente, redução de custos operacionais, aumento de capacidade do espaço aéreo e maior flexibilidade operacional para o provedor ATS. Em contrapartida, uma série de investimentos em aprovação operacional, treinamento de pessoal, reorganização do espaço aéreo, construção de procedimentos, simulações e estudos de impacto são necessários para adequar operadores e provedor ATS às normas que regem a implantação dos sistemas CNS/ATM. Nesse contexto, é importante avaliar custos e benefícios dadas as condicões operacionais atuais do espaço aéreo brasileiro. Para tanto, uma metodologia de análise de custo-benefício foi definida para avaliar diferentes cenários de aplicação dos elementos CNS/ATM. 29 Neste capítulo, é apresentada uma avaliação qualitativa dos custos e dos benefícios resultantes da implementação dos elementos GNSS, RNAV, RNP e RVSM no espaço aéreo brasileiro segundo cenários pré-estabelecidos. Os custos identificados neste estudo são aqueles que afetam a estrutura normal de custos do provedor ATS e dos operadores. Apenas custos extras diretamente relacionados à implantação do cenário abordado são apreciados. A alocação temporária de recursos humanos ou materiais já existentes não são considerados, visto que estes não são utilizados e não foram adquiridos pelo operador ou provedor ATS exclusivamente para este fim. III.2 METODOLOGIA DE ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO A OACI recomenda que a implementação dos elementos CNS/ATM seja precedida de uma análise de custo-benefício (ACB) ou de custo-efetividade. Para auxiliar os países nesta tarefa, a OACI editou a Circular 257 que contém diretrizes para elaboração da ACB dos Sistemas CNS/ATM. Esta Circular focaliza a metodologia do Valor Presente Líquido (VPL), que é amplamente reconhecida e utilizada por instituições financeiras [OACI, 1999a]. Uma análise de custo-benefício “ideal” é um estudo no qual todos os custos e benefícios de uma alternativa de projeto são quantificados economicamente, considerando o tempo no qual incorrem cada custo e benefício [Eurocontrol/ATA, 1996]. Entretanto, nem sempre é possivel expressar todos os benefícios em termos econômicos. Os benefícios que podem ser expressos nesta forma são denominados “benefícios quantitativos” e aqueles que não podem ser representados em termos econômicos são designados “benefícios qualitativos”. Um benefício como a “redução do risco de colisão de aeronaves para 3x10-7 por ano” é um benefício qualitativo apesar de ser expresso numericamente. 30 Para avaliar os benefícios qualitativos, uma das abordagens mais indicadas é a análise de custo-efetividade, cujo resultado evidencia a alternativa de maior potencial para minimizar custos e maximizar benefícios. Nesta análise, os custos são expressos em valor presente e os benefícios, detalhadamente descritos, são expressos em unidades físicas ou em escala de valor qualitativo. A razão Custo/Efetividade é obtida a partir da divisão do custo pela medida do principal benefício[OACI, 1995]. III.2.1 Abordagem do Valor Presente Líquido Conforme ilustrado na Figura 3-1, a abordagem do Valor Presente Líquido requer que o comportamento futuro dos custos e dos benefícios anuais, que dependem das previsões de demanda anual do tráfego, sejam estimados ao longo do período de análise determinado [OACI, 1995]. Demanda Anual de Tráfego Custos Anuais CNS/ATM Benefícios Anuais CNS/ATM Benefício Líquido Anual Valor Presente Líquido Figura 3-1 Visão Genérica de Abordagem do Valor Presente Líquido. Os custos e os benefícios não se distribuem uniformemente no tempo, pois geralmente há uma concentração de despesas nos primeiros anos do projeto, seguido por vários anos de benefícios e custos de operação e manutenção. 31 O Valor Presente Líquido é dado pela soma algébrica dos valores presentes dos benefícios líquidos de cada um dos anos futuros do período analisado: VPL = R0 + Rn R1 R2 + + .... + 1 2 (1 + i ) (1 + i ) (1 + i ) n (3-1) onde: R0 = investimento inicial; n = último ano do período de análise; Rj = resultados ou benefícios líquidos anuais; j = 1,2,3,.......n; i = taxa mínima de atratividade. III.2.1.1 Período de Análise Apesar dos benefícios se destribuírem por um longo período de tempo, estes não podem render indefinidamente. Sendo assim, um período de análise cobrindo o tempo de vida do projeto é fixado. Normalmente, o período de análise começa no ano de implementação do projeto e se estende pelo equivalente a vida depreciável dos equipamentos. III.2.1.2 Ano-Base Este deve ser o ano de tomada da decisão e deve ser preferencialmente o primeiro ano do período de análise. III.2.1.3 Taxa Mínima de Atratividade Ao considerar uma proposta de investimento, deve-se levar em conta que esta vai deslocar recursos disponíveis e, portanto, deixar-se-á de auferir retorno de outras possíveis fontes. A nova proposta para ser atrativa deve render, no mínimo, a taxa de juros referente à 32 rentabilidade das aplicações correntes de pouco risco. Esta é, portanto a taxa mínima de atratividade [Hess et al, 1980]. Dado que cada pessoa ou empresa tem possibilidade de investimentos diferentes, haverá uma taxa mínima de atratividade diferente para cada uma. III.2.1.4 Inflação Em regime inflacionário, as taxas de juros existentes não refletem a remuneração real do capital. Nelas está incluída a parcela correspondente a desvalorização monetária. Se custos e receitas forem projetados independentemente, estimando-se a maneira pela qual a inflação atuará sobre cada elemento de custo e receita, a taxa mínima de atratividade deverá englobar os juros e a inflação. Se as estimativas forem feitas em termos de moeda constante, eliminando-se o efeito da inflação, a taxa mínima de atratividade não deverá incluir a taxa de inflação [Hess et al, 1980]. III.2.2 Análise de Viabilidade Obtendo-se separadamente os valores presentes dos custos e dos benefícios por meio da aplicação da equação 3-1, a viabilidade do empreendimento pode ser avaliada conforme segue [OACI, 1995]: Razão Benefício / Custo = Benefício Custo VPL = Benefício − Custo O projeto é economicamente viável se (3-2) (3-3) Benefício > 1 ou se Benefício – Custo > 0. Custo 33 III.2.3 Metodologia Adotada Com base na Circular 257 da OACI [OACI, 1995] e na metodologia de ACB de projetos de ATM do Programa de Integração e Harmonização do Controle de Tráfego Aéreo na Europa, (EATCHIP), foi adotada a seguinte metodologia para a análise de custo-benefício realizada neste trabalho: • 1.a fase – Definição do cenário de estudo: nesta fase as alternativas de projeto são identificadas e avaliadas para montagem do(s) cenário(s) de estudo que deve(m) contemplar os seguintes aspectos: nível de serviço considerado, distribuição dos eventos do projeto no tempo, período de análise e nível de detalhamento do estudo. • 2.a fase – Identificação e Investigação dos Custos: os custos referentes ao cenário de estudo são identificados e agrupados por financiador. Dados e informações relevantes referentes a cada item de custo são coletados com o intuito de subsidiar uma análise qualitativa ou para posterior modelagem dos mesmos. • 3.a fase – Identificação e Investigação dos Benefícios: Os potenciais benefícios são identificados e agrupados por beneficiário. Dados e informações referentes a cada item de benefício são coletados. • 4.a fase – Modelagem dos Custos e Benefícios: as estimativas dos custos e benefícios quantitativos são modeladas. • 5.a fase – Apresentação dos Resultados: os benefícios quantitativos e qualitativos são apresentados, assim como o fluxo de caixa, a razão custo/benefício e o valor presente líquido do projeto. Os resultados são apresentados separadaradamente, para o provedor ATS e operadores. A viabilidade geral do projeto é obtida a partir dos resultados agregados. 34 Esta metodologia é esquematizada na Figura 3-2. 1. Definição do Cenário de Estudo - Identificar as alternativas de projeto - Definir as hipóteses de trabalho - Definir o cenário a ser avaliado 2. Identificação e Investigação dos Custos - Identificar os custos - Identificar os financiadores - Investigar os custos - Identificar fonte de dados - Coletar dados e informações pertinentes 3. Identificação e Investigação dos Benefícios - Identificar os benefícios - Identificar os beneficiários - Investigar os benefícios - Identificar fonte de dados - Coletar dados e informações pertinentes 4. Modelagem dos Custos e Benefícios 5. Apresentação dos Resultados - Hipóteses formuladas - Fluxo de caixa líquido - Fluxo de caixa acumulado - Razão Custo/Benefício - Razão Custo/Efetividade Figura 3-2: Metodologia de ACB. Neste Capítulo são abordadas as fases 1, 2 e 3 para os cenários de estudo determinados. No estudo de caso apresentado no Capítulo IV são abordadas as fases 4 e 5. III.3 DETERMINAÇÃO DOS CENÁRIOS ANALISADOS A Tabela 3-1 apresenta os cenários a serem analisados neste estudo, determinados a partir dos seguintes documentos: 35 • Nas diretrizes da OACI para a região CAR/SAM: Plano Regional CAR/SAM para Implementação dos Sistemas CNS/ATM [OACI, 1999a] e Plano de Ação CNS/ATM para as Regiões CAR/SAM [OACI, 1999d]; • Nas diretrizes, declarações e decisões das autoridades aeronáuticas brasileiras: Plano Nacional de Implementação dos Sistemas CNS/ATM [COMAR, 2002]; • No planejamento e evolução da implementação dos elementos CNS/ATM: notas de trabalho dos “Encontros de Autoridades e Planejadores de Gestão de Tráfego Aéreo para Implementação RVSM, RNAV e RNP nas regiões CAR/SAM”4; • Na estratégia européia de implantação CNS/ATM [Eurocontrol, 2000]. Tabela 3-1: Cenários Analisados. Cenário 1 RNAV/RNP 5 Cenário 2 RVSM Cenário 3 GNSS como meio primário de navegação • • Implementação de rotas fixas RNAV/RNP 5 Área Terminal: STAR e SID RNAV/RNP 5 • Implementação da RVSM entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410. • GNSS como meio primário de navegação no espaço aéreo brasileiro Os Cenários 1 e 2, assim com os Cenários 2 e 3, são compatíveis entre si e devem coexistir; todavia, o mesmo não se verifica para os Cenários 1 e 3. Nas seções subseqüentes são determinados e avaliados os custos e os benefícios referentes a implementação dos cenários apresentados na Tabela 3-1. 4 Notas de trabalho produzidas entre o 1º (07/2000) e o 8º (07/2004) Encontros de Autoridades e Planejadores de Gestão de Tráfego Aéreo para Implementação da RVSM, da RNAV e da RNP nas regiões CAR/SAM. 36 III.4 CENÁRIO 1 – RNAV/RNP 5 Nesta seção são apresentados os custos e os benefícios decorrentes da implementação do RNAV/RNP 5. Embora dissociadas de requisitos de precisão, muitas rotas RNAV já foram introduzidas no espaço aéreo superior brasileiro. A implementação da RNP 5 significará a imposição de uma área de confinamento conhecida para as aeronaves que as praticam. A RNP 5 funcionará como o mínimo denominador comum do espaço aéreo, ou seja, a performance mínima admissível. Assim, muitas aeronaves alcançarão requisitos de performance superiores, notadamente aquelas equipadas com FMS, GNSS ou IRS. O requisito RNP 5 é o mesmo definido para a Navegação de Área Básica (B-RNAV) praticada na Europa, pois ambos são expressos apenas em termos de precisão. Desde abril de 1998, a B-RNAV tornou-se mandatória acima do nível de vôo FL 095 na porção do espaço aéreo europeu denominada Estados da Conferência da Aviação Civil Européia (ECAC). III.4.1 Custos Os custos referentes à implantação da RNAV/RNP 5 ficarão a cargo dos operadores e do provedor ATS. Os custos incidentes sobre os operadores resumem-se na obtenção da Aprovação Operacional RNAV/RNP 5. Os custos referentes ao planejamento, treinamento de controladores de tráfego aéreo e implementação da RNAV/RNP 5 serão cobertos pelo provedor ATS. 37 III.4.1.1 Aprovação Operacional RNAV/RNP 5 Para obter a Aprovação Operacional RNAV/RNP 5, cada operador deve apresentar à Autoridade Aeronáutica de seu país, provas de que sua aeronave satisfaz os requisitos exigidos para as seguintes condições: • Certificado de aeronavegabilidade RNAV/RNP 5; • Treinamento de tripulantes técnicos. III.4.1.1.1 Certificado de Aeronavegabilidade RNAV/RNP 5 O Certificado de Aeronavegabilidade RNAV/RNP 5 é o documento que atesta que a aeronave foi inspecionada e/ou modificada e que atende as especificações de navegação requeridas. Uma aeronave elegível à aprovação operacional RNAV/RNP 5 deve possuir os seguintes equipamentos [FAA, 1998]: • Um ou mais equipamentos RNAV ; • Unidade de Monitoramento e Controle (CDU); • Monitor de navegação; O equipamento RNAV deve ter, no mínimo, as seguintes funções [JAA, 1997]: • Contínua indicação da posição da aeronave em relação à rota pretendida; • Indicação de distância e tempo até o próximo ponto da rota, além de rumo e velocidade; • Armazenamento de 4 pontos, no mínimo; • Capacidade de indicação de falha do sistema RNAV e dos sensores utilizados. 38 Além disso, as seguintes funções também são recomendadas: acoplamento ao piloto automático, posição em tempo real, função “voar direto para”, indicação da precisão de navegação, seleção automática de rádio-auxílios e base de dados de navegação. A RNAV/RNP 5 pode ser alcançada navegando por meio dos seguintes sensores: VOR/DME, DME/DME, IRS e GNSS. Entretanto, considerando a cobertura média dos rádio-auxílios convencionais no espaço aéreo brasileiro (ver Apêndice 1), para se praticar a RNP 5 com continuidade, as aeronaves deverão estar equipadas com, no mínimo, 1 IRS ou 1 receptor GPS+ABAS, além de VOR/DME e do equipamento RNAV. Grande parte das aeronaves de aviação comercial possuem capacidade melhor que RNP 5, pois estas são dotadas de FMS e de receptores GPS ou IRS. Todo FMS fabricado é capaz de atender aos padrões da OACI para RNP 5 ou melhor [Mitre, 2001]. Alguns valores referentes à aquisição da capacidade RNAV/RNP 5 são apresentados no Anexo A. III.4.1.1.2 Treinamento de Tripulantes Técnicos A formação contínua para aquisição de novas competências, bem como a manutenção/validação das capacidades já adquiridas é intrínseca à vida profissional do aeronauta. É da responsabilidade da companhia aérea viabilizar a realização de cursos de modo a manter seu corpo de tripulantes técnicos devidamente habilitado. O treinamento RNAV/RNP 5 para tripulantes técnicos consiste de uma instrução teórica em sala de aula abordando obrigatoriamente os seguintes assuntos: definição da RNP e requisitos RNP 5; espaços aéreos RNP 5; modificações nas cartas e documentos; equipamentos requeridos em ambiente RNAV/RNP 5 e suas limitações; plano de vôo; procedimentos de contingência e procedimentos RNAV em área terminal [FAA, 1998]. 39 III.4.1.2 Implantação RNAV/RNP 5 O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), órgão responsável por implantar, coordenar e financiar toda e qualquer modificação no espaço aéreo sob jurisdição nacional deverá conduzir a implantação da RNAV/RNP 5 segundo três etapas: planejamento, treinamento de controladores de tráfego aéreo e implementação. Estas etapas são descritas a seguir: III.4.1.2.1 Planejamento A fase de planejamento engloba a realização de reuniões de especialistas para identificação da necessidade operacional, características e capacidade do espaço aéreo, problemas reportados por companhias aéreas e controladores, definição de requisitos, coordenação entre os Estados, análises de segurança, produção de documentos e estudos de avaliação de impactos. Antes de implementar procedimentos ou rotas RNAV/RNP 5, estas podem ser testadas utilizando as instalações de simulação do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA)5, em São José dos Campos. Os testes devem avaliar aspectos de segurança assim como a aceitação do controlador a partir de sua perspectiva em relação à carga de trabalho, além de facilidade de execução, simplicidade e, quando relevante, redução de ruídos. Normalmente, os custos incorridos nesta fase não causam impacto econômico expressivo, dado que o DECEA aloca recursos próprios e já disponíveis para este fim6. 5 Antigo Instituto de Proteção ao Vôo (IPV). 6 Esta informação foi obtida em visita técnica realizada neste órgão em janeiro de 2004. 40 III.4.1.2.2 Treinamento de Controladores de Tráfego Aéreo Imprescindível no objetivo de fazer o controlador assimilar antecipadamente as mudanças em seu ambiente operacional, o treinamento em simuladores visa a assegurar que o controlador esteja suficientemente familiarizado com o novo procedimento. No caso de pequenas mudanças, algumas sessões de poucas horas de instrução para explicar a nova rota e revisar a fraseologia correta é recomendável. O laboratório de simulação do ICEA pode ser utilizado para familiarizar os controladores no caso de ocorrência de mudanças expressivas na organização do espaço aéreo. III.4.1.2.3 Implementação A fase de implementação RNAV/RNP 5 compreende a modificação e publicação de cartas de navegação e outros documentos. III.4.2 Benefícios Quando devidamente implementada, a RNAV/RNP 5 poderá gerar os seguintes benefícios: • Rotas diretas em grande círculo; • Aumento da capacidade de espaço aéreo; • Redução da vetoração radar; • Redução dos impactos ambientais. Cada um destes benefícios é abordado detalhadamente nas seções a seguir. 41 III.4.2.1 Rotas Diretas em Grande Círculo A prática de rotas diretas em grande círculo representam um importante benefício associado à RNAV pois implicam diretamente em redução de custos operacionais. Embora em menor escala, benefício similar ocorre também quando da implementação da RNAV em Saídas Padrão por Instrumento (SIDs RNAV) e Rotas Terminais Padrão de Chegada (STARs RNAV), pois as distâncias e tempos de vôo reduzidos se traduzem em economias de combustível e demais Custos Operacionais Diretos. Dentre os custos operacionais constantes no Anuário do Transporte Aéreo do DAC, os citados abaixo são proporcionais à duração do vôo ou à distância percorrida: • Combustível; • Depreciação de Equipamento de Vôo; • Manutenção e Revisão; • Salário de Tripulantes Técnicos; • Salário de Comissários de Bordo; • Tarifas de Auxílio à Navegação. Cada rota RNAV estabelecida deve ser individualmente avaliada quanto aos seus benefícios. Para tanto, é necessário levantar o tráfego da referida rota, a distância percorrida em relação à rota convencional e a taxa de crescimento anual do tráfego. Segundo estimativas apresentadas no “Plano Nacional de Implementação dos Sistemas CNS/ATM”, a economia de combustível resultante da operação de rotas mais diretas no Brasil deverá corresponder a US$ 30 milhões em 2010 [COMAR, 2002]. 42 III.4.2.2 Aumento da Capacidade do Espaço Aéreo A RNAV/RNP 5 permite as seguintes soluções no sentido de aumentar a capacidade do espaço aéreo e conseqüentemente reduzir atrasos e aumentar a segurança: • Rotas paralelas; • Localização otimizada das manobras de espera; • SIDs e STARs otimizadas; • Trajetórias de desvio de densas áreas terminais; • Rotas alternativas ou de contingência - flexibilidade na elaboração de desvios de zonas meteorológicas de condições adversas; • Reposicionamento ou supressão de interseções de aerovias (pontos de conflito). Em hora de pico, a capacidade das áreas terminais dos grandes aeroportos brasileiros normalmente é ultrapassada. Isto porque as companhias aéreas programam seus vôos para chegar e sair às mesmas horas. Aplicando as soluções acima mencionadas espera-se aumentar a capacidade das áreas terminais possibilitanto a redução dos atrasos e da carga de trabalho de controladores e pilotos. Todavia, os atrasos gerados no lado ar dos aeroportos persistirão. Estes são bastante significativos e freqüentemente se estendem até as áreas terminais causando congestionamentos. A capacidade de um aeroporto é limitada pela direção dos ventos, pelo pátio de estacionamento, pelo número de pistas, sepação entre pistas e pelos critérios de segurança de liberação de pistas e proteção contra esteiras de turbulência. 43 III.4.2.3 Redução da Vetoração Radar À aproximadamente 10 MN ao redor dos aeroportos é freqüente não se ter rádio-auxílios convencionais disponíveis, inviabilizando a prática dos procedimentos de pouso e decolagem neles baseados. Por esta razão as aeronaves são vetoradas pelo controlador, ou seja, são conduzidas em termos de altitude e rumo magnético. O piloto recebe em média três instruções de vetoração, totalizando seis enlaces ar/solo que são efetuados para guiar a aeronave nas trajetórias perna do vento, perna base e curva de aproximação final [Mitre, 2001]. Com a implementação de SIDs e STARs RNAV, as aeronaves devidamente equipadas poderão navegar por conta própria ao longo de todo o percurso, desde o fixo de entrada da TMA até a aproximação final, uma vez que as trajetórias são pré-definidas. Assim, é eliminada a comunicação necessária para assegurar que a aeronave esteja realmente na direção e altitude concedidos, reduzindo assim a carga de trabalho do controlador e do piloto. III.4.2.4 Redução dos Impactos Ambientais A redução de impactos ambientais se manisfesta de duas formas distintas: Redução do ruído aeronáutico nas imediações dos aeroportos e redução da emissão de poluentes na atmosfera. III.4.2.4.1 Redução do Ruído Aeronáutico nas Imediações dos Aeroportos Os procedimentos de aproximação convencionais, por se apoiarem em rádio-auxílios, oferecem pouca flexibilidade para evitar as zonas sensíveis ao ruído aeronáutico. As técnicas RNAV/RNP 5 propiciam a criação de rotas e procedimentos visando a satisfazer requisitos específicos de redução de ruído. Áreas de grande densidade populacional podem ser 44 evitadas pelas aeronaves de pequeno arrasto (capazes de subir mais rápido e manobrar imediatamente após a decolagem) por meio da execução de procedimentos de saída especialmente projetados para explorar tal performance. Adicionalmente, devido à precisão de navegação, com desvio lateral conhecido, é possível pré-definir rotas e procedimentos “sob medida” que evitem zonas sensíveis. A maior adesão da aeronave às rotas estabelecidas ajuda a reduzir o ruído das operações. III.4.2.4.2 Redução da Emissão de Poluentes na Atmosfera A crescente aumento do tráfego aéreo tem provocado um proporcional aumento de poluentes emitidos pelas aeronaves na atmosfera. As principais substâncias identificadas como poluentes, resultantes da queima de combustível de aviação são: dióxido de carbono (CO2); óxidos de nitrogênio (NOx); óxidos de enxofre (SOx); monóxido de carbono (CO); metano (CH4) e vapor d’água (H2O). Estas substâncias podem causar dois problemas ambientais principais: O incremento do fenômeno do Efeito Estufa; A redução da Camada de Ozônio, na qual as emissões de NOx guardam relação direta; Embora menos expressivo, as emissões aeronáuticas de óxidos de enxofre contribuem para o fenômeno de Chuvas Ácidas. As emissões de óxidos de nitrogênio (NOx), dependendo de suas concentrações na atmosfera, podem causar o aumento ou a redução do ozônio. Na estratosfera, o efeito comumente observado do NOx é a redução do ozônio. Entre a alta troposfera e a baixa estratosfera (entre 9 e 12 Km aproximadamente), tem-se registrado o aumento da concentração de ozônio devido 45 a presença do NOx. Neste caso, o NOx induz ao aumento do Efeito Estufa e, conseqüentemente, ao aquecimento global [Simões et al, 2003]. O vapor d´água na troposfera pouco influencia o fenômeno do Efeito Estufa pois tende a ser removido pela precipitação. Entretanto, quando a emissão ocorre aproximadamente acima de 11 km, o vapor d’água atua como um Gás de Efeito Estufa, retendo a radiação solar proveniente da Terra, auxiliando no processo de aquecimento global [Simões et al, 2003]. Para cada quilo de combustível queimado são emitidos na atmosfera [Eurocontrol, 2004c]: • 3,149 kg de CO2 • 1,230 kg de H2O • 0,84 g de SO2 • 10,34 g de NOx A redução das distâncias voadas e conseqüentemente da queima de combustível, contribui para reduzir a emissão destes gases na atmosfera, contribuindo assim para a realização dos objetivos do Protocolo de Kyoto. O Protocolo de Kyoto é um acordo internacional que estabelece metas de redução global da emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa em 5,2 %, entre os anos 2008 e 2012. O protocolo foi baseado nos princípios do Tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas. Para países considerados em desenvolvimento não foi exigido nenhum comprometimento com metas específicas. No entanto, como signatário, o Brasil deve buscar o desenvolvimento de estratégias para combater as mudanças climáticas. 46 III.4.3 Quadro Resumo: Custos x Benefícios RNAV/RNP 5 A Tabela 3-2 apresenta o resumo dos custos e benefícios da implementação da RNAV/RNP 5 de acordo com o Cenário 1: Tabela 3-2: Quadro Resumo: Custos x Benefícios RNAV/RNP 5. Benefícios Provedor ATS/Estado _ Redução da carga de trabalho do piloto Redução da carga de trabalho do controlador Rotas Diretas em Grande Círculo Redução dos impactos ambientais Operador Redução ou nãogeração de atrasos Usuário do Transporte Aéreo / Sociedade em geral Aumento da segurança Aumento da Redução da Capacidade do Espaço Vetoração Radar Aéreo Redução do tempo de viagem Custos _ Economia de Aprovação Custos Operacional Operacionais RNAV/RNP 5 Diretos _ Implantação RNAV/RNP 5 III.5 CENÁRIO 2 – RVSM Esta seção apresenta os custos e benefícios decorrentes da implantação da RVSM entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410 do espaço aéreo brasileiro. III.5.1 Custos Os custos referentes à implementação da RVSM ficam a cargo do provedor ATS e dos operadores. Os custos incidentes sobre os operadores resumem-se na obtenção da Aprovação Operacional RVSM. O provedor ATS arca com os custos referentes à implantação da RVSM no espaço aéreo. 47 III.5.1.1 Aprovação Operacional RVSM A aprovação operacional pode ser aplicável a uma única aeronave ou a um grupo. Aeronaves de projeto e construção similares, no que concerne às características aerodinâmicas ou todo e qualquer detalhe que influencie sua performance de manutenção da altitude, são agrupadas para fins de obtenção da aprovação operacional e monitoramento de altitude. Para obter a aprovação operacional RVSM, cada operador deve apresentar à Autoridade Aeronáutica de seu país provas de que a aeronave/grupo satisfaz as especificações MASPS nos seguintes quesitos: • Certificado de aeronavegabilidade RVSM; • Monitoramento de altitude; • Treinamento de tripulantes técnicos; • Programa de manutenção. A seguir, cada um destes quesitos é abordado em detalhes. III.5.1.1.1 Certificado de Aeronavegabilidade RVSM O certificado de aeronavegabilidade RVSM é o documento que atesta que a aeronave foi inspecionada e/ou modificada e que possui performance de navegação no plano vertical suficiente para atender as especificações. A maioria das aeronaves recém fabricadas já vem com os equipamentos RVSM, de acordo com seu Certificado de Tipo. Nesse caso, a aeronave é entregue ao seu primeiro proprietário já com o certificado de aeronavegabilidade RVSM. Aeronaves não certificadas para operação RVSM, devem ser modificadas por meio da incorporação de boletins de serviço. 48 Uma relação dos boletins de serviço RVSM disponíveis no mercado e respectivos custos de aplicação são apresentados no Anexo B (AP/ATM/6-IP3) deste estudo. Estes custos podem chegar a US$ 175.000,00 em função da tecnologia das aeronaves. Algumas aeronaves demandam apenas uma inspeção visual, outras requerem ampla adequação. III.5.1.1.2 Monitoramento de Altitude De posse do certificado de aeronavegabilidade, cada grupo de aeronaves que compõe a frota de um operador, deve ser submetido ao programa de monitoramento de altitude, no qual é avaliada a capacidade da aeronave em manter a altitude pretendida. Esta aferição é requisito fundamental para o estabelecimento de um ambiente RVSM seguro. O monitoramento da altitude pode ser feito por um dos dois métodos adiante discriminados: • Unidade de Monitoramento de Altitude (HMU): Conjunto de estações baseadas em solo que recebe do radar secundário de bordo a posição e a altitude da aeronave. A desvantagem deste método é o custo de implantação da HMU (três unidades européias custaram aproximadamente US$ 8 milhões). Além disso, as aeronaves devem estar dentro da área de cobertura da estação (35 a 45 MN) para serem aferidas. A região CAR/SAM não dispõe de HMU e voar até os sítios onde estão instaladas estas unidades pode não ser viável para os operadores. • Sistema de Monitoramento Baseado em GPS (GMS): Método que utiliza uma Unidade de Monitoramento GPS, que consiste numa unidade autônoma de GPS diferencial instalada temporariamente na aeronave a ser monitorada para medir com precisão a posição da aeronave em 3 dimensões. 49 No Brasil, o monitoramento de altitude deve ser realizado conforme o modelo da Agência de Monitoramento Regional do Caribe e América do Sul (CARSAMMA). Como mencionado anteriormente, aeronaves de projeto e construção similares são agrupadas para fins de monitoramento de altitude. Conforme apresentado na Tabela 3-3, o modelo da CARSAMMA divide os grupos de aeronaves em 3 blocos que representam três diferentes condições de monitoramento: Tabela 3-3: Requisitos de Monitoramento segundo o modelo CARSAMMA. Blocos Grupos 1 1 1 a 38 2 39 a 87 3 - Descrição Grupos de geronaves que apresentam estatística de performance de acordo com os padrões RVSM Grupo de aeronaves com estatística de performance insuficiente para passar ao bloco 1 Aeronaves não-grupo 2 Requisitos Mínimos de Monitoramento 2 aeronaves 60% das aeronaves 100% das aeronaves Nota 1: O modelo não propõe a numeração dos grupos; este artifício foi adotado para facilitar a identificação. Nota 2: As aeronaves não-grupo são aquelas que não se encaixam nos casos dos blocos 1 e 2 No Anexo C é apresentada a tabela completa, correlacionando os grupos de aeronaves às exigências de monitoramento. Caso um operador acrescente a sua frota, aeronaves com certificado de aeronavegabilidade RVSM, estas não necessitarão de monitoramento adicional se o operador já possuir aeronaves do mesmo tipo aprovadas RVSM e monitoradas. Caso contrário, haverá necessidade de monitoramento extra. III.5.1.1.3 Treinamento de Tripulantes Técnicos A realização do treinamento RVSM para tripulantes técnicos é de responsabilidade do operador da aeronave. Durante o treinamento, os seguintes tópicos deverão ser abordados: 50 fraseologia ATC, equipamentos mínimos RVSM, procedimentos operacionais, procedimentos de contingência (turbulência, alertas TCAS, etc.) e estrutura do espaço aéreo. III.5.1.1.4 Programa de Manutenção Procedimentos específicos de manutenção e inspeção devem ser aplicados aos equipamentos RVSM visando a garantir o cumprimento continuado dos requisitos de performance. O operador deve provar à autoridade aeronáutica de seu país que um adequado programa de manutenção foi estabelecido para cada tipo de aeronave. Os técnicos de manutenção devem cumprir treinamento teórico e prático abordando aspectos relacionados às inspeções técnicas, calibração de instrumentos e outros. III.5.1.2 Implantação da RVSM O DECEA conduziu a implantação da RVSM em três etapas: planejamento, treinamento e implementação, descritas a seguir: III.5.1.2.1 Planejamento A fase de planejamento engloba a realização de reuniões de especialistas, definição de requisitos, produção de documentos e estudos específicos para avaliação de impactos. Os custos incorridos nesta fase não são muito expressivos, uma vez que o DECEA aloca recursos próprios e já disponíveis para este fim. 51 III.5.1.2.2 Treinamento dos Controladores de Tráfego Aéreo O treinamento de controladores de Centros de Controle de Área (ACC) baseou-se no “Manual de Diretrizes para Treinamento RVSM na Região CAR/SAM”. Nesta fase incorrem custos de deslocamento de controladores desde suas bases até o ICEA em São José dos Campos, além de diárias e estadia. III.5.1.2.3 Implementação A fase de implementação da RVSM compreende modificações nas cartas de navegação e outros documentos, revisão das rotas e procedimentos existentes e adequação dos sistemas automatizados de controle de tráfego aéreo. Do ponto de vista do ATC, a prática da RVSM gera a necessidade de uma clara identificação das aeronaves aprovadas e não aprovadas RVSM, além de um sistema de alerta de conflito diferenciado que identifique o status de aprovação de cada aeronave7. III.5.2 Benefícios Os benefícios decorrentes da implementação da RVSM têm uma só origem: os seis níveis de vôo adicionais que serão disponibilizados (FL 300, FL 320, FL 340, FL 360, FL 380, FL 400) na porção do espaço aéreo mais disputada pelas aeronaves. Conseqüentemente os seguintes benefícios são viabilizados: • 7 Redução da carga de trabalho do controlador; A ausência de tal sistema foi o fator contribuinte para o único incidente ocorrido durante a Simulação RVSM Continental [OACI, 2003c]. 52 • Aumento da capacidade do espaço aéreo; • Economia de combustível; • Redução da emissão de poluentes na atmosfera. Cada um destes benefícios é abordado detalhadamente nas seções a seguir. III.5.2.1 Redução da Carga de Trabalho do Controlador Várias simulações em tempo real realizadas pela FAA demonstraram que a implementação da RVSM reduz a carga de trabalho do controlador [OACI, 2004a]. Simulações em tempo real do espaço aéreo brasileiro, realizadas no ICEA, também alcançaram resultados similares [OACI, 2003c]. III.5.2.2 Aumento da Capacidade do Espaço Aéreo Na Europa e em certas porções do espaço aéreo norte americano, o aumento de capacidade gerado pela RVSM reflete-se fortemente na redução dos atrasos. Isto não se verificará a curto prazo no espaço aéreo brasileiro, pois os atrasos aqui gerados têm origem principalmente no lado ar dos aeroportos ou nas áreas terminais. Por este motivo o benefício associado ao aumento de capacidade será o de resguardá-la para acolher o tráfego futuro. III.5.2.3 Economia de Combustível A economia de combustível em cruzeiro é função de diversos fatores, dentre eles destacam-se a massa da aeronave, a velocidade de cruzeiro e a altitude do vôo. No caso de vôo a número de Mach constante, resta apenas otimizar o nível de vôo a ser praticado. 53 A altitude ótima de vôo é aquela em que a aeronave apresenta o maior alcance específico, ou seja, maior distância percorrida por quilo de combustível [Padilla, 1996]. Conforme apresentado na Figura 3-3, para cada massa mi que a aeronave apresenta há uma “altitude ótima” que maximiza seu alcance específico. Altitude Pressão m 1 > m2 > m 3 m1 m2 m3 Altitude Ótima Alcance Específico Figura 3-3: Alcance específico em função da massa e da altitude. À medida em que o combustível é queimado, a massa da aeronave diminui e a altitude ótima Altitude Pressão de vôo aumenta, comforme mostrado na Figura 3-4: Altitude Ótima Massa Figura 3-4: Altitude ótima de vôo em função da massa da aeronave. Para voar exatamente na altitude ótima é necessário que a aeronave suba continuamente enquanto perde massa. Todavia, devido às restrições impostas pelo ATC, este procedimento não pode ser realizado. As regras do ATC estabelecem que as aeronaves devem voar níveis de vôo específicos em função de seu rumo magnético. 54 Conforme ilustrado na Figura 3-5, para voar o mais próximo possível da altitude ótima de vôo, as companhias aéreas costumam praticar um procedimento denominado ‘Step Climb’ que consiste em subir, logo após a decolagem, para um nível de vôo 2000 pés acima da altitude ótima de vôo e lá permanecer até que a aeronave perca massa suficiente para que a altitude ótima eleve-se 2000 pés acima do nível de vôo em que se encontra a aeronave. Neste momento uma nova subida de 4000 pés é efetuada, posicionando a aeronave novamente 2000 pés acima do nível ótimo de vôo. Este prodecimento é realizado sucessivamente durante todo o vôo. Nível de Vôo Altitude Ótima 4000 pés Massa Figura 3-5: Procedimento “Step Climb”. Em ambiente RVSM o “Step Climb” de 4000 pés é reduzido para 2000 pés, proporcionando à aeronave maior proximidade de sua altitude ótima de vôo e portanto, maior economia de combustível. III.5.2.4 Redução da Emissão de Poluentes na Atmosfera Em decorrência da redução do consumo de combustível atribuído a maior aderência da aeronave a sua curva de altitude ótima, surge o benefício da redução da emissão de gases poluentes na atmosfera. 55 III.5.3 Quadro Resumo: Custos x Benefícios RVSM A Tabela 3-4 sintetiza os custos e benefícios resultantes da implementação da RVSM de acordo com o Cenário 2: Tabela 3-4: Quadro Resumo: Custos x Benefícios RVSM. Benefícios Usuários do Transporte Aéreo / Sociedade Em Geral Operador Provedor ATS /Estado Redução da emissão de poluentes na atmosfera Perfis Verticais de Vôo Otimizados Aumento da Capacidade do Espaço Aéreo _ Economia de Combustível Custos _ Redução ou nãogeração de atrasos Redução da Carga de trabalho do controlador Aprovação Operacional RVSM Implantação RVSM III.6 CENÁRIO 3 – GNSS COMO MEIO PRIMÁRIO DE NAVEGAÇÃO Nesta seção são apresentados os custos necessários para tornar o GNSS o meio primário de navegação no espaço aéreo superior brasileiro, assim como os benefícios decorrentes do estabelecimento deste cenário. A utilização do GNSS como meio primário de navegação está condicionada à existência de um sistema de aumentação satelital (SBAS), conforme determinado no “Plano Regional CAR/SAM para a Implementação dos Sistemas CNS/ATM” [OACI, 1999a]. Neste sentido, duas opções podem ser apreciadas: a implementação de um SBAS nacional ou a implementação da extensão de um SBAS estrangeiro. Este estudo contempla apenas a primeira opção, visto que o Comando da Aeronáutica declara manter, como objetivo permanente, esforços para que o Brasil disponha de satélites nacionais 56 para atender à demanda dos sistemas CNS/ATM [COMAR, 2001]. De fato, a aquisição de um SBAS por parte do Governo Brasileiro encontra-se em fase avançada de estudo. Diferentes níveis de desempenho podem ser alcançados dependendo das características técnicas do projeto, do comportamento da ionosfera local, do número de estações de monitoramento instaladas, etc. Assim, dependendo do desempenho alcançado e do tipo do receptor adquirido pelo usuário, o SBAS poderá dar suporte a vários tipos de operações aéreas, a saber: • RNAV em rota e área terminal; • Vários tipos de RNP; • Aproximação de não precisão (NPA); • Aproximação com guiagem vertical I e II (APV I and APV II). Nos casos mais bem sucedidos, o SBAS poderá também dar suporte a aproximação de nãoprecisão Categoria I (CAT I). III.6.1 Custos O investimento necessário para adquirir e implantar um SBAS brasileiro fica a cargo do Estado e dos operadores. O Estado deverá arcar com a implantação do SBAS e os operadores arcarão com os custos de adequação de suas aeronaves para fins de obtenção da aprovação operacional SBAS. III.6.1.1 Implantação do SBAS O Governo Brasileiro cogita a possibilidade de adquirir um SBAS no âmbito de um projeto ainda maior, o Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB). 57 O SGB é um conjunto de satélites multimissão do Governo Brasileiro concebido para dar suporte não só às aplicações CNS/ATM como também a aplicações militares, governamentais, de segurança nacional e meteorológicas. A princípio, o SBAS seria integrado a bordo do SGB, cuja operação está prevista para 2009. O SGB encontra-se atualmente em fase de especificação técnica, conduzida pela Fundação Tecnologias Críticas (ATECH) e pela Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). O projeto SGB prevê a construção de dois satélites com custo estimado de US$ 592 milhões e vida útil de 15 anos. Este valor também inclui lançamento, seguro e infra-estrutura de apoio em solo [Gazeta Mercantil, 2004]. Não se sabe portanto qual é a parte deste montante que corresponde ao SBAS isoladamente. Os custos de implantação de um SBAS incluem: • A especificação do sistema; • Aquisição e implementação do segmento espacial (aquisição dos satélites geoestacionários, lançamento, seguro); • Aquisição e implementação do segmento solo (estações de monitoramento, estação processadora); • Operação e manutenção de ambos segmentos; 58 III.6.1.2 Aprovação Operacional SBAS Os custo de obtenção do Certificado de Aeronavegabilidade SBAS incluirá a aquisição da capacidade SBAS, sua instalação e certificação, além dos custos de treinamento de pilotos e de técnicos de manutenção. Embora não haja dados confiáveis relativos a estes itens de custo, estima-se que, com exceção da aquisição da capacidade SBAS, os custos supracitados sejam similares aos já normalmente praticados na aviação [CANSO, 2005]. Algumas classes de receptores necessitarão apenas de uma modificação no software do receptor de GPS padrão (GPS+ABAS) para torná-los capazes de receber e utilizar mensagens de aumentação dos satélites geoestacionários [CANSO, 2005]. Alguns valores referentes aos custos deste tipo de modificação são apresentados no Anexo A. Os receptores SBAS a serem utilizados em operações APV estão atualmente em fase de desenvolvimento e necessitarão de níveis específicos de segurança de software e de alimentação dos dados de saída do receptor. Neste caso, deve-se prever a certificação da função SBAS dentro do Receptor Múltiplo Modo (MMR) [STNA, 2005]. Todos os receptores SBAS devem satisfazer plenamente os requisitos ABAS e devem funcionar na área de cobertura de quaisquer SBAS existentes. III.6.2 Benefícios A implementação do SBAS trará os seguintes benefícios para operadores, provedor ATS e usuários: • Guiagem vertical; 59 • Suporte aos Requisitos RNAV/RNP; • Racionalização da infra-estrutura de rádio-auxílios convencionais; • Utilização em aplicações marítimas e terrestres. Cada um destes benefícios é abordado detalhadamente nas seções a seguir. III.6.2.1 Guiagem Vertical Devido às irregularidades ionosféricas que ocorrem com muita intensidade na zona equatorial, o desempenho do SBAS no Brasil corre o risco de não ser tão bom quanto o do EGNOS, cuja performance é suficiente para operações APV-II [Toran-Marti et al, 2004]. Numa postura conservadora, admitir-se-á que inicialmente o SBAS brasileiro proveria operações até APV-I. Entretanto, espera-se que o desempenho do sistema melhore mediante a o aumento do número de estações de monitoramento e do aperfeiçoamento do modelo de comportamento da ionosfera. Dado que o SBAS é capaz de fornecer trajetórias de planeio virtuais, não há restrição do número de trajetórias que podem ser praticadas. Esta flexibilidade permite que aeronaves de diferente performances possam minimizar o efeito de esteiras de turbulência e obstáculos. A APV-I oferece muitas vantagens operacionais em relação à aproximação de não-precisão, proporcionando as seguintes melhorias: • Redução da Altitude Livre de Obstáculos; • Redução do número de aproximações perdidas; • Múltiplos ângulos de rampa de descida; 60 • Possibilidade de implantação de procedimento de aproximações diretas em substituição às aproximações convencionais em circuito; Enquanto o ILS gera uma trajetória de planeio única apenas para a pista em que está instalado, o SBAS possibilita múltiplas trajetórias de planeio em todas as cabeceiras de pista existentes em sua área de cobertura, inclusive naquelas que não operam IFR, sem que nenhum custo de instalação, reconfiguração ou manutenção seja necessário. Atualmente, dos 1282 aeródromos registrados, apenas 322 estão equipados IFR [COMAR, 2002]. Dessa forma, a acessibilidade e a segurança dos aeroportos melhoram e conseqüentemente os atrasos, desvios e cancelamentos de vôos podem ser reduzidos ou evitados, resultando em economia de tempo e custos para passageiros e operadores. A guiagem vertical representa também um importante avanço na área da segurança pois ajuda a reduzir o risco de Colisões de Vôo Controlado Contra o Terreno (CFIT), que têm figurado entre as formas mais comuns de acidente desde o início da aviação. Os acidentes do tipo CFIT se caracterizam por ocorrer sem que a tripulação tenha consciência da rota de colisão na qual a aeronave se encontra. Este tipo de ocorrência tem se mantido nas estatísticas, ao longo dos anos, como um dos maiores responsáveis por perdas de vida na aviação mundial. A Figura 3-6 mostra um quadro comparativo do número de acidentes do tipo CFIT em relação ao total de acidentes da aviação civil [CENIPA, 2005]. 61 160 To ta is d e A ci de nte s A cid e nte s CFIT 140 120 100 80 129 60 98 82 69 77 69 40 67 57 50 56 20 0 10 7 10 11 8 11 6 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2 000 16 13 16 2001 2 002 2003 Figura 3-6: Acidentes do tipo CFIT x Total de acidentes. O CFIT ocorre com maior incidência na aviação de pequeno e médio porte, uma vez que as operações típicas destas categorias são mais curtas, com maior número de pousos e decolagens, o que implica numa maior exposição ao risco [CENIPA, 2005]. Na Figura 3-7 pode-se verificar a contribuição dos acidentes do tipo CFIT no número total de fatalidades da aviação civil nos últimos dez anos [CENIPA, 2005]. 220 Fatalidade s 200 Fatalidade s CFI T 180 160 140 120 187 100 80 104 90 60 94 53 77 66 56 40 20 69 80 26 21 26 199 4 1995 1996 0 13 1 997 23 14 19 98 1 999 25 19 200 0 2001 33 12 200 2 2003 Figura 3-7: Fatalidades causadas por acidentes CFIT x Fatalidades na aviação civil. 62 O excesso de confiança no controle de tráfego aéreo, sem o devido acompanhamento da navegação pelo piloto, e a tentativa de vôo visual quando em condições meteorológicas desfavoráveis, constituem dois cenários característicos da perda da consciência situacional. Segundo a Flight Safety Foundation, o risco de incidente grave ou acidente é 7 vezes maior em aproximações de não-precisão que em aproximações com guiagem vertical. Na área de cobertura do WAAS isto deve significar uma redução de 140 acidentes e 260 mortes num horizonte de 20 anos [Flight Safety Foundation, 2001]. Além da redução de perda de vidas humanas e de custo de avarias, o SBAS ajuda a proporcionar um efeito bastante positivo a longo prazo, o aumento crescente da confiança dos usuários no transporte aéreo. III.6.2.2 Suporte aos Requisitos RNAV/RNP A partir da análise realizada no Apêndice 1, pode-se inferir que a infra-estrutura brasileira de rádio-auxílios convencionais não seria capaz de dar suporte nem mesmo à RNP 5 com continuidade. A RNP 5, que é o requisito menos estrito para rotas continentais, será implementado no espaço aéreo brasileiro até 2007 [OACI, 2004b]. Considerando a previsão de crescimento do tráfego nos anos futuros, serão necessários requisitos de precisão cada vez mais estritos para apoiar as rotas RNAV já implementadas ou espaços aéreos com problemas de eficiência ou segurança. Para provedores ATS, a implentação do SBAS torna o GNSS uma ferramenta capaz de dar suporte à otimização do espaço aéreo numa visão de longo prazo. 63 Para operadores devidamente equipados, o SBAS permitirá o cumprimento dos requisitos atuais e futuros RNAV/RNP e, conseqüentemente, uma utilização mais eficiente do espaço aéreo e dos aeroportos. Em decorrência do cumprimento do requisito APV-I, por exemplo, o SBAS será capaz de prover RNP 0,3 em toda área de cobertura do satélite, ou seja, 0,3 milhas náuticas de afastamento máximo em relação a posição pretendida em 95% do tempo de vôo. Esta performance de navegação elevada oferece flexibilidade para os projetistas do espaço aéreo solucionarem os gargalos que venham se apresentar a longo prazo. III.6.2.3 Racionalização da Infra-Estrutura de Rádio-Auxílios Convencionais Com a implementação do SBAS, o GNSS pode ser utilizado como meio primário de navegação, ou seja, totalmente independente dos rádio-auxílios convencionais. A economia resultante da racionalização dos rádio-auxílios de rota e área terminal é um importante benefício atribuído à melhoria da performance do GNSS, decorrente da implementação do SBAS. A curto prazo, esta melhoria pode se traduzir na estagnação da infra-estrutura de navegação existente e, a médio-longo prazo, em sua desativação. Entretanto, enquanto houver riscos de falha ou interferência do GPS, é prudente conservar parte da infra-estrutura de solo como back-up da navegação satelital. Conforme a análise apresentada no Apêndice 1, é possível ter o seguinte cenário de racionalização dos rádio-auxílios no Brasil8: 8 Até o momento, nenhuma política oficial para este assunto foi divulgada. 64 • Supressão dos NDBs que não balizem ILSs; • Estacionamento da infra-estrutura atual de VORs em sua dimensão atual até que se inicie seu processo de desativação; • Manutenção dos DMEs por tempo indefinido. Considerando este modelo de racionalização, a Tabela 3-5 reúne os custos e despesas a serem evitados. Tabela 3-5: Custos e Despesas Evitados com a Implementação do SBAS. Custo Despesas Expansão da Rede Atual de VOR e NDB Substituição dos equipamentos de VOR e NDB em fim da vida útil Aquisição, instalação e homologação 1 Inspeção/Aferição Operação e Manutenção Aquisição, instalação e homologação 2 Combustível, deslocamento e estadia de pessoal, diárias de técnicos de inspeção Peças, deslocamento e estadias de pessoal, energia elétrica, guarda de campo, diárias de técnicos de manutenção Nota 1: Um vôo de homologação dura em média 3 horas para o VOR e 1 hora para o NDB; Nota 2: O Grupo Especial de Inspeção em Vôo (GEIV) deve realizar pelo menos 1 vôo de inspeção anual para cada NDB instalado e 3 vôos de inspeção anual para cada VOR; A manutenção dos auxílios à navegação é particularmente onerosa pois é prestada em três níveis diferentes, em função do tipo de serviço a ser executado: • Manutenção de nível orgânico: compreende os serviços de limpeza e conservação das instalações e dos equipamentos instalados; • Manutenção de nível base: compreende serviços de verificação e ajustes de níveis, regulagens e reparos; • Manutenção de nível parque: compreende as intervenções de alto grau de complexidade técnica: reparos e revisões necessários à recuperação completa ou revitalização de um equipamento e modificações técnicas. Deve ser realizada em oficinas de reconhecida competência técnica; 65 Atualmente o DECEA é responsável por manter 83 equipamentos de VOR e 196 NDB em operação. A Infraero e algumas prefeituras também possuem VOR e NDB sob suas responsabilidades. III.6.2.4 Aplicações Marítimas e Terrestres O interesse do SBAS vai além do transporte aéreo, sendo sua aplicação igualmente interessante a outros setores. A exemplo do que acontece com o EGNOS e WAAS, várias atividades se beneficiarão com a implementação do SBAS no Brasil; dentre elas destacam-se: • Navegação marítima e terrestre: Navegação, vigilância e controle de tráfego melhorados pelo aumento da precisão e da integridade; • Agricultura de precisão: Consiste na integração do posicionamento preciso e dos Sistemas de Informação Geográficos para melhor gerenciar o uso da terra; • Serviços de localização: Utilizam a informação de posição recebida de um dispositivo móvel (ex: celular) para prestar serviços sob demanda do usuário ou utilizando tecnologia de rastreamento automático. Destacam-se duas aplicações específicas: emergência e segurança física e patrimonial. III.6.3 Quadro Resumo: Custos x Benefícios SBAS A Tabela 3-6 resume os custos e os benefícios da implementação do SBAS de acordo com o Cenário 3: 66 Tabela 3-6: Quadro Resumo: Custos x Benefícios SBAS. Benefícios Provedor ATS / Estado Redução da carga de trabalho do controlador Suporte aos Requisitos RNAV/RNP Redução de atrasos Aumento da segurança Operador Redução dos atraso, desvios e cancelamentos Usuários do Transporte Aéreo / Sociedade em Geral Redução do risco de acidenes do tipo CFIT Guiagem Vertical Racionalição dos Rádio-Auxílios Convencionais Utilização por outros setores da economia Custos _ _ Economia de custos operacionais Flexibilidade de longo prazo para otimização do espaço aéreo Aprovação Operacional SBAS Economia de aquisição, inspeção e manutenção Implantação do SBAS III.7 RESUMO A OACI recomenda que a implementação dos elementos CNS/ATM seja precedida de uma análise de custo-benefício e ressalta a metodologia do Valor Presente Líquido, que é amplamente reconhecida e utilizada pelas instituições financeiras. Baseado em modelos já consagrados, uma metodologia de análise de custo-benefício é definida para o presente trabalho, seguindo as seguintes etapas: planejamento, identificação e análise dos custos e benefícios, modelagem e apresentação dos resultados. Com base nas diretrizes estabelecidas e declarações e decisões das autoridades aeronáuticas, três cenários foram identificados para análise: • Cenário 1: Implementação da RNAV/RNP 5 • Cenário 2: Implementação da RVSM • Cenário 3: Implementação do GNSS como meio primário de navegação 67 Para cada cenário supracitado, foram identificados e investigados os custos e benefícios relacionados contextualizando-os na realidade brasileira. Ao final, um quadro-resumo é apresentado associando os benefícios aos beneficiários e os custos aos financiadores. 68 Capítulo IV Estudo de Caso: Implantação da RVSM no Espaço Aéreo Brasileiro - Análise Custo-Benefício IV.1 INTRODUÇÃO A implantação da RVSM no espaço aéreo brasileiro, ocorrida em 20 de janeiro de 2005, suscitou muita polêmica a respeito da viabilidade econômica para os operadores, principalmente aqueles da aviação geral. Este fato motivou a escolha do Cenário 2, referente à implementação da RVSM no Brasil, para realização de uma análise de custo-benefício a título de estudo de caso. Neste capítulo os custos e benefícios identificados na seção III.5. são modelados e analisados. Várias informações e dados pertinentes foram disponibilizados pelo DAC e pelo DECEA para a elaboração deste estudo. IV.2 CENÁRIOS DE ESTUDO O custo-benefício da implementação da RVSM no espaço aéreo brasileiro foi determinado por meio da comparação de dois cenários operacionais: • Cenário Base: representando a condição pré-RVSM, cuja separação vertical entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410 é de 2000 pés; • Cenário RVSM, representando a condição RVSM, cuja separação vertical entre os níveis de vôo FL 290 e FL 410 é de 1000 pés. Neste cenário foi admitido que todas aeronaves elegíveis RVSM obtiveram suas respectivas aprovações operacionais. 69 O Cenários Base e RVSM buscam reproduzir a realidade operacional brasileira onde, na maioria das rotas, não é freqüente a existência de restrições operacionais que penalizem o nível de vôo solicitado. Desta forma, considerou-se que em ambos os cenários que a aeronave voa no nível ótimo praticável de vôo. O ganho do Cenário RVSM em relação ao Base é medido apenas em termos da maior proximidade do perfil de vôo das aeronaves à curva de nível ótimo de vôo. A Tabela 4-1 apresenta o sumário das características dos Cenários Base e RVSM. Tabela 4-1: Caracterização dos Cenários Base e RVSM. Cenário Base Mínimos de Separação Vertical: 2000 pés FL praticado = FL ótimo Cenário RVSM Mínimos de Separação Vertical: 1000 pés FL praticado = FL ótimo Todas as “Aeronaves Elegíveis” RVSM obtiveram provação operacional Considerações adicionais: • Os custos de imobilização da aeronave, para aplicação dos boletins de serviço de adequação ao RVSM, são desprezados uma vez que estes podem ser aplicados durante as imobilizações periódicas para manutenções programadas; • Ano Base: 2004; • Ano de incidência dos custos: 2004; • Primeiro ano de captação dos benefícios: 2005, período equivalente a vida útil depreciável de equipamentos eletrônicos [Eurocontrol, 2002]; • Período de captação dos benefícios: 15 anos; 70 IV.3 CUSTOS RVSM Os custos referentes à implementação da RVSM no Brasil, identificados e investigados no Capítulo III, seção III.5.1 Custos, serão aqui modelados, com base nos dados e informações coletados e nas características e hipóteses formuladas. Os custos modelados nesta seção são quantificados apenas para as aeronaves “elegíveis RVSM”. Esta denominação foi utilizada para caracterizar aeronaves potenciais usuárias do espaço aéreo entre FL 290 e FL 410 e ainda que não possuidoras de aprovação operacional RVSM. IV.3.1 Determinação da Frota de Aeronaves “Elegíveis RVSM” A frota “elegível RVSM” foi estimada excluindo-se do total de matrículas constantes no Banco de Dados de Aeronavegabilidade do DAC, àquelas referentes às aeronaves cujo teto operacional não alcança o espaço aéreo RVSM, e àquelas sob restrição operacional consideradas não passíveis de reversão. Além destas, aeronaves com teto operacional entre os níveis de vôo FL 290 e FL 310 foram consideradas como inviáveis para adequação ao RVSM, uma vez que seus vôos normalmente caracterizam-se por curta duração a baixas altitudes. Desta forma, partindo das 14.674 matrículas existentes no Banco de Dados de Aeronavegabilidade do DAC, de outubro de 2003, foram selecionadas 471 aeronaves “Elegíveis RVSM”, sendo 232 aeronaves pertencentes à aviação comercial e 239 aeronaves pertences à aviação geral conforme representado na Figura 4-1 e Figura 4-2, respectivamente. 71 50 45 40 Quantidade 35 30 25 20 15 10 B721 DC86 DC85 A30B B738 B762 B703 B722 E145 B735 B737 B732 F100 0 B733 5 Modelo (código OACI) Figura 4-1: Aeronaves de aviação comercial “Elegíveis RVSM”. 35 30 Quantidade 25 20 15 10 LJ45 WW24 E135 FA20 C551 FA10 C501 ASTR PRM1 LJ24 MU30 LJ55 C56X C25A LJ31 LJ25 BE30 B350 BE40 C650 H25B C560 C500 C525 BE20 LJ35 0 C550 5 Modelo (código OACI) Figura 4-2: Aeronaves de aviação geral “Elegíveis RVSM. No Apêndice 2 é apresentado o estudo detalhadado da frota brasileira que resultou na obtenção das 471 aeronaves “elegíveis RVSM”. 72 IV.3.2 Obtenção do Certificado de Aeronavegabilidade RVSM O custo estimado para obtenção do Certificado de Aeronavegabilidade foi estabelecido aplicando-se a equação (4-1). Cada aeronave “elegível RVSM” é individualmente associada ao custo de seu respectivo boletim de serviço de adequação RVSM. A relação dos boletins de serviço e custos associados é apresentada no Anexo A. j =n CCA = ∑ ( AE ) n × (C BS ) n (4-1) j =1 onde: n = número de aeronaves elegíveis RVSM; CCA = Custo total de obtenção do certificado de aeronavegabilidade; ( AE) n = n-ésima Aeronave Elegível RVSM ; (C BS ) n = Custo de Aplicação do Boletim de Serviço para a n-ésima aeronave; O custo estimado de obtenção do certificado de aeronavegabilidade para a frota elegível RVSM do Brasil é de US$ 33.821.526,00, sendo US$ 11.136.800,00 referente à aviação comercial (médio e grande porte) e US$ 22.684.726,00 referente à aviação geral. As aeronaves Beach Aircraft (BE30, B350, BE20), Raytheon Premier 1 (PRM1) e Airbus A310 dispõem de BS, todavia seus custos não foram publicados. Para essas aeronaves, estimou-se um custo de US$ 155.000,00 para aplicação dos BS de adequação RVSM, com base nos preços dos BS de aeronaves semelhantes (ver Anexo A). IV.3.3 Monitoramento de Altitude O diagrama de blocos da Figura 4-3 ilustra a metodologia utilizada no cálculo do custo de monitoramento de altitude das aeronaves “elegíveis RVSM”. 73 j = ∅ → gj ∈ bloco 3 CMb3 = 100% * nθi,gj * CGMS oi,g≠ j 0 ηηθi,gj j≠ ∅ j ≤ 38 → gj ∈ bloco 1 θ = ∅⇒ Aeronave ∈ particular CMb1p = 100% * nθi,gj * CGMS θ ≠ ∅⇒ Aeronave ∈ operador nθi,gj > 2 ⇒ CMb1o = 2* CGMS j > 38 → gj ∈ bloco 2 θ = ∅⇒ Aeronave ∈ particular CMb2p = 100% * nθi,gj * CGMS θ ≠ ∅⇒ Aeronave ∈ operador CMb2o = 60% * nθi,gj * CGMS nθi,gj ≤ 2 ⇒ CMb1o = nθi,gj * CGMS Figura 4-3: Diagrama de cálculo do custo de monitoramento de altitude. onde: ηθi,gj = número de aeronaves elegíveis e não-aprovadas RVSM do operador i (oi) e do grupo de monitoramento j (gj); θ = operador; ∅ = conjunto vazio; CGMS = custo do aluguel do GMS; Deste modo, o custo total de monitoramento de altitude pode ser expresso pela equação (4-2): C MT = ∑ C Mb1o + ∑ C Mb1 p + ∑ C Mb 2 o + ∑ C Mb 2 p + ∑ C Mb 3 (4-2) 74 onde: C MT = Custo de monitoramento total; C Mb1o = Custo de monitoramento de aeronaves do bloco1 pertencentes a operadores C Mb1 p = Custo de monitoramento de aeronaves do bloco1 pertencentes a particulares C Mb 2 o = Custo de monitoramento de aeronaves do bloco2 pertencentes a operadores C Mb 2 p = Custo de monitoramento de aeronaves do bloco2 pertencentes a particulares C Mb 3 = Custo de monitoramento de aeronaves não-grupo; Além desta metodologia, as seguintes considerações foram assumidas para viabilizar o cálculo do custo de monitoramento de altitude da frota “elegível RVSM” do Brasil: • Operadores e particulares utilizarão exclusivamente o GMS no monitoramento de suas frotas; • Toda aeronave não pertencente a um operador regular é de propriedade particular e fará monitoramento individual; • O custo estimado do aluguel do GMS incluindo serviço técnico de monitoramento é de US$ 2.000,00 (valor médio cobrado da VARIG ). Desta forma, o custo estimado para o monitoramento de altitude para a frota “elegível RVSM” do Brasil foi de US$ 694.000,00, sendo US$ 218.000,00 referente as aeronaves de aviação comercial de médio e grande porte e US$ 476.000,00 referente a aviação geral. As companhias aéreas, proprietárias de 73,3% da frota de aeronaves de médio e grande portes a serem monitoradas, o farão apenas para 28% desta frota. Os 26,7% restantes terão monitoramento individual por serem de propriedade particular. 75 Os particulares9, principais proprietários de aeronaves de aviação geral, e as companhias de táxi aéreo não se beneficiam da economia de escala que as regras de monitoramento proporcionam por não possuírem frotas grandes e homogêneas. IV.3.4 Treinamento de Tripulantes Técnicos O treinamento de tripulantes técnicos realizado na VARIG constou de uma instrução teórica de 4,5 horas de duração (com turmas de 18 tripulantes) e divulgação de boletins informativos. Normalmente o tempo dispensado ao treinamento é computado na cota anual/semestral de horas de reciclagem do tripulante, não representando custo extra para a empresa. O custo de formação de tripulantes em empresas de médio e grande porte é função direta da estratégia gerencial de pessoal e da infra-estrutura que a empresa dispõe para este fim, sendo cada empresa um caso à parte a ser analisado. No caso da VARIG, o impacto econômico gerado pela introdução da RVSM não foi considerado significativo. As empresas de pequeno porte não foram avaliadas. IV.3.5 Implementação do Programa de Manutenção Tal como os custos de treinamento de tripulantes técnicos, o custo de treinamento de técnicos de manutenção também é dependente do planejamento estratégico de gestão de pessoal de cada empresa e por isso, em muitos casos, não gera impacto econômico significativo nas empresas. 9 Foi assumido que um proprietário particular é aquele que não constitui uma companhia operadora de transporte aéreo de aviação geral ou comercial de médio e grande porte. 76 IV.3.6 Planejamento - Custo da Simulação ATC RVSM A simulação ATC RVSM foi realizada no ICEA, onde estão instaladas várias consoles ATC com sistemas operacionais idênticos aos utilizados nos ACCs Manaus, Brasília, Belém e Porto Velho. Esta atividade envolveu custos com pagamento de diárias e deslocamento dos controladores até o laboratório de simulação do ICEA, localizado em São José dos Campos. A simulação ATC RVSM teve como objetivos: • Avaliar o impacto da implementação RVSM no espaço aéreo continental brasileiro; • Propor ações e recomendações para a implementação RVSM; • Proporcionar dados que facilitem a implantação do RVSM na região CAR/SAM; • Propor diretrizes para elaboração do Programa de Treinamento ATC. Foram simulados 3 cenários: • Cenário Base (situações normais de tráfego, sem aplicação RVSM); • Aplicação da RVSM em espaço aéreo exclusivo • Aplicação RVSM em espaço aéreo não-exclusivo (permitindo-se a acomodação de aeronaves sem aprovação RVSM). Os resultados da simulação foram publicados no artigo da OACI - AP/ATM/6 - NE/30 [OACI, 2003c]. A Tabela 4-2 apresenta os custos referentes à simulação realizada: Tabela 4-2: Custo da Simulação Descrição da Atividade Planejamento Execução Análise Custo Total da Simulação Custo R$ 22.539,89 R$ 203.578,92 R$ 12.056,44 R$ 238.175,00 77 IV.3.7 Treinamento dos Controladores de Tráfego Aéreo O treinamento de controladores, realizado no ICEA teve duração média de 13 dias. O custo decorrente desta atividade, proveniente do pagamento de diárias e deslocamento de pessoal foi estimado em R$ 1.240.000,00. IV.3.8 Implementação da RVSM para o Provedor ATS O custo de implementação RVSM para o provedor ATS é basicamente o custo de adequação/modificação dos sistemas automatizados de controle de tráfego aéreo atualmente em uso, o SCO, o X-4000 e o MITRA, que foi orçado por empresa especializada conforme a Tabela 4-3: Tabela 4-3: Custo de implementação RVSM para o provedor ATS Adequação dos Sistemas SCO - Manaus, Belém e Porto Velho X-4000 – Brasília MITRA - Curitiba e Recife Custo Total da Implementação Custo Estimado R$ 140.000,00 R$ 100.000,00 R$ 160.000,00 R$ 400.000,00 IV.4 BENEFÍCIOS RVSM Nesta seção, serão estimados os benefícios decorrentes da implementação da RVSM identificados na seção III.5.2. São eles: economia de combustível, redução da emissão de poluentes na atmosfera e redução da carga de trabalho do controlador. Conforme mencionado anteriormente, o benefício ‘aumento da capacidade do espaço aéreo’, não se verificará a curto prazo no espaço aéreo brasileiro e por isso não será aqui considerado. 78 IV.4.1 Economia de Combustível A economia de combustível, resultante da implementação da RVSM, foi estimada a partir da simulação de uma amostra real de tráfego, coletada e fornecida pelo DECEA, nos Cenários Base e RVSM, sob duas condições especiais: • Operando numa rede de aerovias de mão-única; • Operando numa rede de aerovias de mão-dupla. Detalhes sobre a amostra de tráfego são apresentados na próxima seção. A economia de combustível decorrerá do FL ótimo de vôo praticado no cenário em que a aeronave está inserida. A determinação do FL ótimo depende dos seguintes fatores: da etapa de vôo; das características operacionais e performance da aeronave e do peso de decolagem. Estes fatores são apresentados na seção IV.4.1.2 Determinação do Tamanho da Etapa de Vôo, na seção IV.4.1.3 Base de Dados de Aeronave, e na seção IV.4.1.4 Peso de Decolagem. IV.4.1.1 Amostra de Tráfego A amostra de tráfego utilizada na simulação foi coletada e disponibilizada pelo DECEA e contém os vôos realizados entre 01/12/2002 e 07/12/2002, a partir do FL290 nas FIRs Brasília, Recife, Curitiba e Porto Velho. Associado a cada vôo foram fornecidas as seguintes informações: FIR, indicativo do vôo, tipo de aeronave, aeroporto de partida e de destino, fixo de entrada e de saída da FIR e fixos intermediários. Do total de vôos da amostra, foram excluidos os internacionais e aqueles iguais ou inferiores a 400 km, pois para tais etapas normalmente não ocorre estabilização em cruzeiro. Restaram portanto, 6.380 vôos na amostra. Destes, foram simulados apenas os vôos realizados pelas 79 aeronaves relacionadas na Tabela 4-4, que respondem por cerca de 90% das distâncias percorridas no espaço aéreo superior brasileiro. Tabela 4-4: Aeronaves de Trabalho Aeronave Aeronave.km Participação % Acumulado B733 B737 A320 B732 F100 B735 B722 E145 A330 A319 MD11 LJ35/ LJ25/ LJ31/ LJ55/ C650 1.092.535 950.535 944.848 782.293 658.301 421.154 226.268 195.569 163.280 159.701 134.274 91.784 17,1% 14,9% 14,8% 12,3% 10,4% 6,6% 3,5% 3,1% 2,6% 2,5% 2,1% 1,4% 17,1% 32,0% 46,8% 59,1% 69,5% 76,1% 79,6% 82,7% 85,2% 87,7% 89,8% 91,3% As aeronaves LearJet 35, LearJet 31, LearJet 25, LearJet 55 e Cessna Citation III foram agrupadas por possuirem performance de vôo semelhante [Eurocontrol, 2004a]. A Tabela 4-5 apresenta a amostra de tráfego dividida em vôos simulados (93%) e nãosimulados (7%) por categoria de aeronaves: comerciais de grande e médio portes e aeronaves de aviação geral. Tabela 4-5: Repartição dos Vôos da Amostra Número de vôos da Amostra Vôos Simulados Vôos Não Simulados Número Total de Vôos Aeronaves de Aviação Comercial Aeronaves de Total de Grande e Médio Porte Aviação Geral % 5838 272 86 184 5924 456 93% 7% 6110 270 6380 100% IV.4.1.2 Determinação do Tamanho da Etapa de Vôo Assumindo que a Terra é esférica, com raio de 6366,76 km, e que os aeródromos estão no nível do mar, as distâncias de vôo foram calculadas aplicando-se a fórmula de Bessell, ou Lei dos Cossenos Esférica. Estes cálculos foram realizados para cada par de pontos consecutivos 80 da etapa, no sentido do deslocamento da aeronave, somando-se os resultados obtidos no final da etapa. O Anexo D apresenta mais detalhes sobre a aplicação da fórmula de Bessel. As etapas praticadas nos vôos da amostra referem-se à distância percorrida, desde o aeroporto de partida até o aeroporto de destino, passando por todos os pontos intermediários do trajeto e majoradas de 6%. Esta majoração foi arbitrada com base em valores usuais, visando a captar o efeito de manobras e desvios praticados durante o vôo. IV.4.1.3 Base de Dados de Aeronave A performance das aeronaves nas fases de subida, cruzeiro e descida para diversos níveis de vôo foi reproduzida a partir da Base de Dados de Aeronave (BADA), desenvolvida e mantida pelo Centro Experimental da EUROCONTROL e que tem sido amplamente utilizados em simulações de operações aéreas. A BADA é uma base de dados composta de vários arquivos em formato ASCII contendo os envelopes de vôo, características operacionais e os parâmetros de desempenho para 91 modelos de aeronave [Eurocontrol, 2004b]. Foram empregados neste estudo as ‘Tabelas de Performance’ BADA que contêm a performance de subida, descida e cruzeiro de determinada aeronave em diferentes níveis de vôo para condições atmosféricas padrão. As tabelas de performance são disponibilizadas gratuitamente pela EUROCONTROL10. As ‘Tabelas de Performance’ apresentam os seguintes parâmetros: 10 • Velocidade verdadeira de cruzeiro (massa nominal) em nós; • Consumo de combustível em cruzeiro (massa baixa) em kg/min; No documento: Aircraft Performance Summary Tables da EUROCONTROL. 81 • Consumo de combustível em cruzeiro (massa nominal) em kg/min; • Consumo de combustível em cruzeiro (massa alta) em kg/mim; • Velocidade verdadeira de subida (massa nominal) em nós; • Razão de subida a potência reduzida (massa baixa) em pés/min; • Razão de subida a potência reduzida (massa nominal) em pés/min; • Razão de subida a potência reduzida (massa alta) em pés/min; • Consumo de combustível na subida em kg/min; • Velocidade verdadeira de descida (massa nominal) em nós; • Razão de descida (massa nominal) em pés/min; • Consumo de combustível na decida (massa nominal) em kg/min; Estes parâmetros são disponibilizados por nível de vôo, até o teto operacional da aeronave, para três diferentes massas: • Massa baixa = (1,2) x Peso Operational Vazio (POV); • Massa nominal = massa de referência; • Massa alta = Peso Máximo de Decolagem (PMD) Os parâmetros para qualquer outro valor de massa podem ser obtidos por interpolação. IV.4.1.4 Peso de Decolagem O peso de decolagem (PD) de uma aeronave é função do Peso Operacional Vazio da aeronave, da carga paga (CP) transportada e do suprimento mínimo de combustível regulamentado para o vôo. A regulamentação brasileira determina que o suprimento mínimo 82 de combustível para um vôo de uma aeronave comercial, tipo turbojato, deve ser suficiente para [DAC, 2003]: (1) voar até o aeródromo de destino e pousar neste aeródromo; (2) após, voar por um período igual a 10% do tempo total requerido para voar do aeródromo de partida até o pouso no aeródromo de destino; (3) após, voar e pousar no aeródromo de alternativa mais distante; (4) após, voar mais 30 minutos, em velocidade de espera, a 1500 pés de altura sobre o aeródromo de alternativa mais distante, em condições de temperatura padrão. O Apêndice 3 apresenta em detalhes a determinação do peso de decolagem para os vôos da amostra, que é o dado de entrada do cálculo do FL ótimo e do consumo de combustível. IV.4.1.5 Limitação do Tempo de Cruzeiro Para etapas curtas, o nível ótimo de vôo calculado apenas com base no consumo mínimo de combustível deve resultar numa estabilização em cruzeiro muito pequena ou inexistente. Etapas de até 400 MN estão mais sujeitas a este efeito [Embraer, 2001]. A fim de impor uma estabilização mínima em cruzeiro, as seguintes limitações foram aplicadas: • Etapas entre 400 e 800 km: mínimo de 30% do tempo de vôo em regime de cruzeiro; • Etapas maiores que 800 km: mínimo de 35% do tempo de vôo em regime de cruzeiro; IV.4.1.6 Cenário Base: Cálculo do Consumo de Combustível Os parâmetros apresentados na Tabela 4-6 foram calculados em função do peso de decolagem determinado para cada vôo da amostra, para cada FL praticável. 83 Tabela 4-6: Cálculo do Alcance Específico e Consumo de Combustível Fases Parâmetros Calculados Obs. Subida Tempo de subida Distância solo percorrida na subida Consumo de combustível na subida Descontada a altitude do aeroporto de saída Descida Cruzeiro Etapa (Subida +Cruzeiro +Descida) Tempo de descida Descontada a Distância solo percorrida na descida altitude do aeroporto Consumo de combustível na descida de destino Distância solo de cruzeiro = Etapa – Distância solo (subida +descida) Tempo de cruzeiro Consumo de combustível no cruzeiro Tempo total de vôo = Tempo (subida+descida+cruzeiro) Consumo total de vôo = Consumo (subida+descida+cruzeiro) Alcance específico = Etapa (km)/Consumo total de vôo (kg) - Dentre os níveis de vôo praticáveis em espaço aéreo não-RVSM, o nível ótimo de vôo foi determinado como sendo aquele com maior alcance específico, isto é, com maior distância percorrida por kg de combustível consumido. As regras do ATC estabelecem que as aeronaves devem voar níveis de vôo especificados, dependendo do rumo magnético em que se encontram. Em ambiente não-RVSM, os níveis de vôo praticáveis são mostrados na Tabela 4-7. Nas aerovias de mão única, todos os níveis independente do sentido do vôo podem ser utilizados, contanto que sejam respeitados os mínimos de separação vertical deste ambiente [DEPV, 1999b]. Tabela 4-7: Níveis de Vôo em Função do Rumo Magnético - Espaço Aéreo não-RVSM Rumo Magnético 0º até 179º 180º até 359º Nível de Vôo FL 290 FL 310 FL 330 FL 350 FL 370 FL 390 FL 410 - 84 O combustível consumido na etapa é determinado pelo algorítmo apresentado na Figura 4-4: Início Suprimento de combustível regulamentar para o vôo Cálculo do Peso de Decolagem Atualização do combustível estimado para a etapa Determinação do nível ótimo de vôo ( BADA) Cálculo do combustível consumido na etapa nível ótimo de vôo. Erro na estimativa do consumo de combustível para a etapa é maior que 10 kg? sim não Fim Figura 4-4: Algoritmo Iterativo para Cálculo do Consumo de Combustível O cálculo do combustível consumido na etapa é função do nível de vôo escolhido. A otimização desta escolha é feita em função peso de decolagem, que por sua vez é obtido a partir do combustível estimado para a etapa; tem-se então caracterizado um problema clássico de recursividade. O algoritmo da Figura 4-4 opera para solucionar este problema. Partindo da estimativa do combustível da etapa, calcula-se o suprimento de combustível regulamentar e o peso de decolagem e por fim otimiza-se o nível de vôo, escolhido em função deste peso. O erro entre o combustível estimado e o combustível consumido na etapa no FL ótimo determinado é o parâmetro utilizado para definir a quantidade de iterações necessárias para a convergência do algoritmo. A cada iteração o combustível estimado para a etapa é atualizado 85 com o valor obtido na iteração anterior. Quando este erro atinge um valor satisfatório, considera-se que a estimativa de combustível consumido para a etapa está determinada. IV.4.1.7 Cenário RVSM: Cálculo do Consumo de Combustível O combustível estimado para a etapa, fornecido na última iteração do Cenário Base é utilizado como entrada para o algoritmo da Figura 4-4. A única diferença existente entre o Cenários Base e o Cenário RVSM deve-se às regras de separação e atribuição de níveis de vôo, que são aplicadas segundo as definições do espaço aéreo RVSM, conforme mostrado na Tabela 4-8. Tabela 4-8: Níveis de Vôo em Função do Rumo Magnético - Espaço Aéreo RVSM Rumo Magnético 0º até 179º 180º até 359º Nível de Vôo FL 290 FL 300 FL 310 FL 320 FL 330 FL 340 FL 350 FL 360 FL 370 FL 380 FL 390 FL 400 FL 410 - Pode-se verificar na tabela acima que a implementação da RVSM na região CAR/SAM causou a inversão do sentido de deslocamento nos níveis de vôo FL 310, FL 350 e FL 390. Uma vez determinada a quantidade de combustível consumida nos Cenários Base e RVSM, a economia é obtida a partir da diferença entre estas duas quantidades. IV.4.1.8 Economia de Combustível: Resultados A Figura 4-5 mostra a solicitação dos níveis de vôo nos Cenários Base e RVSM. Pode-se observar que a implantação da RVSM causa uma redução de cerca de 50% na solicitação 86 entre os níveis FL 290 e FL 350. O fato dos vôos ocorrerem apenas em âmbito nacional explica a pouca utilização a partir do nível FL 380. Cenário RVSM- Mão Dupla 1800 1800 1500 1500 FL 410 400 390 380 370 360 350 340 330 410 390 370 0 350 0 330 300 310 300 320 600 310 600 900 300 900 1200 290 Distribuição dos Vôos 1200 290 Distribuição dos Vôos Cenário Base- Mão Dupla FL Figura 4-5: Solicitação dos Níveis de Vôo nos Cenários Base e RVSM No Cenário RVSM de mão-dupla, 60% dos vôos tiveram seus FL ótimos redefinidos, a maioria para 1000 ou 2000 pés acima (ou esporadicamente abaixo) do FL ótimo praticado no Cenário Base. No Cenário RVSM de mão-única, 40% dos vôos tiveram seus FL ótimos redefinidos, a maioria para 1000 pés acima do FL ótimo de vôo praticado no Cenário Base. Observou-se também alguns casos em que o FL ótimo praticado no Cenário RVSM passa a ser menos econômico que o praticado no Cenário Base. Isto acontece quando a aeronave, alocada em seu FL ótimo no Cenário Base, não pode manter o FL do cenário RVSM e também não obtém um FL mais econômico que o inicial, apesar do maior número de níveis praticáveis no espaço aéreo RVSM. Resultados para o ano 2005: Extrapolações A economia de combustível calculada refere-se a 93% (ver Tabela 4-5) do tráfego no ano de 2002. Majorou-se este valor em 7% para extrapolar o resultado obtido para a parte da amostra 87 não-simulada. Em seguida, aplicou-se uma taxa anual de crescimento de tráfego de 4,5% até o ano de 2004, consistente com projeções da ICAO para a Região CAR/SAM [COMAR, 2002]. O valor estimado para 2004 foi repetido para 2005 e para os anos futuros. O tráfego foi mantido constante a partir de 2004 com a intenção de captar apenas os benefícios relativos ao investimento dos operadores nas mesmas condições operacionais existentes no ano em que foi realizado o investimento. A Tabela 4-9 apresenta a economia de combustível obtida para o ano de 2005, para operação numa rede de aerovias de mão-única e de mão-dupla. Tabela 4-9: Economia Anual de Combustível - Ano 2005 (kg) Aerovia Aviação Comercial de Médio e Grande Porte Aviação Geral Total Mão Única 5.914.493 261.361 6.175.854 Mão Dupla 15.656.011 691.837 16.347.848 Para representar a economia de combustível da Tabela 4-9 em termos monetários, utilizou-se 1,72 US$/kg11 como referência para o preço de combustível de aviação, que corresponde ao preço de mercado praticado nos primeiros meses de 2005. Este deverá ser o preço médio cobrado da aviação geral. Para captar o efeito dos descontos decorrentes de acordos comerciais entre distribuidoras de combustível e companhias aéreas, assumiu-se que as aeronaves de médio e grande porte pagarão 2/3 do preço cobrado da aviação geral. 11 Correspondente a 1,38 US$/L, considerando o peso específico do combustível de 0,803 kg/l. 88 A estimativa de benefícios econômicos, provenientes da economia de combustível, para o primeiro ano de operação é apresentada na Tabela 4-10. Tabela 4-10: Economia de Combustível – Ano 2005 (US$) Aerovia Aviação Comercial de Médio e Grande Porte Aviação Geral Total Mão Única 6.798.919 450.665 6.798.919 Mão Dupla 17.997.139 1.192.936 17.997.139 IV.4.2 Redução da Emissão de Poluentes na Atmosfera A redução da emissão de CO2, SO2, H2O e NOx na atmosfera é função direta da redução da queima de combustível. O benefício ambiental resultante, já detalhado anteriormente, cresce anualmente com o aumento do tráfego. • A partir dos dados da Tabela 4-9, foram calculados a redução da emissão dos poluentes supracitados ao longo do período de análise, aplicando-se um fator médio de crescimento de tráfego aéreo de 4,5% a.a12. As Tabelas 4-11 e 4-12 apresentam os resultados para uma rede de aerovias de mão-dupla e de mão-única, respectivamente. Tabela 4-11: Redução da Emissão de CO2, SO2, H2O e NOX (ton.) - Período: 2005 a 2019 Aerovia CO2 H2O SO2 NOx 2.368.229 1.617 19.909 Mão Dupla 16.049.252 6.268.841 4.281 52.699 Mão Única 6.063.051 Não é objetivo deste trabalho avaliar o efeito ou as conseqüências da redução da emissão destas substâncias na atmosfera. Os resultados aqui fornecidos podem servir de referências para que especialistas no assunto possam apreciá-los adequadamente. 12 Estima-se que até o ano 2005 o tráfego aéreo regular na Região CAR/SAM cresça a uma taxa média anual de 4.5% em matéria de passageiros e de 6.5%, no que diz respeito à carga [Comar, 2002]. 89 IV.4.3 Redução da Carga de Trabalho do Controlador As comunicações solo-ar-solo, solo-solo para coordenação entre setores adjacentes e o tempo de execução das tarefas básicas do controlador13, constituem os principais fatores que influenciam na carga de trabalho do controlador. Quanto maior o tempo empregado nestas comunicações menor é o tempo disponível para outras ações típicas da atividade de controle de tráfego aéreo e maior a carga de trabalho [OACI, 2003c]. A simulação em tempo real ocorrida no ICEA, permitiu estimar o impacto da implantação da RVSM na carga de trabalho do controlador por meio da comparação de dois cenários operacionais: o Cenário Base e o Cenário RVSM. No Cenário RVSM, apenas aeronaves com aprovação operacional para tal podem operar entre FL290 e FL410 (aeronaves não aprovadas voam abaixo FL290 ou acima FL 410). Como exceção a esta regra estão as aeronaves de estado, vôos humanitários, de manutenção e de primeira entrega, que devem ser acomodadas no espaço aéreo RVSM. Para tanto, o controlador deve reorganizar o tráfego em andamento para prover separação vertical mínima de 1000 pés entre aeronaves com aprovação operacional RVSM e de 2000 pés entre as aeronaves não aprovadas e as demais. Embora esta situação gere uma carga extra de trabalho para o controlador, os resultados obtidos revelam-se bastante favoráveis à redução da carga de trabalho dos controladores, conforme apresentados nas Tabelas 4-12. 13 inclui: comunicações solo-ar-solo, movimentos de teclado, coordenação com controlador assistente e verificação dos strips. 90 Tabela 4-12: Redução da Carga de Trabalho do Controlador por Aeronave Número médio de comunicações Duração média das comunicações Enlaces solo/ar/solo Enlaces Solo/solo - 0,17 (-4,5%) - 6,45 s (-7,2%) - 0,14 (-3,7%) - 3,45 s (-3,9%) Tarefas - 9,16 s (-10,2%) Total - 0,31 enlaces/aeronave (-8,2%) -19,06 s/aeronave (-21,3%) Fonte: [OACI, 2003c] Após a implantação da RVSM, o número de comunicações ATC por aeronave é reduzido em 8% e a duração média das comunicações é reduzida em 21% por aeronave. IV.5. ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO DA IMPLEMENTAÇÃO DA RVSM Para os operadores, cujos benefícios resultantes da implantação da RVSM têm caráter quantitativo, a análise de custo-benefício é realizada pelo Método do Valor Presente Líquido. Para o Provedor ATS, cujos benefícios são expressos qualitativamente, é empregada a análise de custo-efetividade. IV.5.1 Custo-Benefício para os Operadores Dentre os benefícios decorrentes da implementação da RVSM, identificados na seção III.5.2 Benefícios, apenas o referente à economia de combustível tem caráter quantitativo. Portanto, é em função dele que o custo-benefício dos operadores é avaliado. Os benefícios serão captados por 15 anos, período equivalente a vida útil depreciável de equipamentos eletrônicos [Eurocontrol, 2002]. O benefício acumulado neste período é resumido na Tabela 4-13, assim como os custos de obtenção da aprovação operacional RVSM. Os valores apresentados na Tabela 4-13 foram obtidos segundo as seguintes hipóteses: 91 • A variação real do preço do combustível é de 10% ao ano. Esta premissa baseia-se na variação média anual do preço do petróleo, entre os anos 1994 e 2003, em dólares americanos por barril de petróleo tipo Brent e West Texas Intermediate (WTI) [ANP, 2004]; • A malha de rotas e as freqüencias de vôos dos operadores não se alteram ao longo dos quinze anos, mantendo os mesmos valores de 2004. Tabela 4-13: Sumário dos Custos e Benefícios para os Operadores Custos – Ano: 2004 Item de Custo Aviação Comercial de Médio e Grande Porte Certificado de Aeronavegabilidade Monitoramento de Altitude US$ 11.350.000,00 Aviação Geral Total US$ 23.160.000,00 US$ 34.520.000,00 Benefícios Acumulados– Período: 2005 a 2019 Item de Benefício Aviação Comercial de Médio e Grande Porte Combustível - Mão Única Combustível - Mão Dupla US$ 216.000.000,00 US$ 571.000.000,00 Aviação Geral Total US$ 14.320.000,00 US$ 230.340.000,00 US$ 37.900.000,00 US$ 609.720.000,00 IV.5.1.1 Valor Presente Líquido e Razão Custo/Benefício A taxa mínima de atratividade utilizada no valor presente líquido corresponde à taxa de juros referente à rentabilidade das aplicações de CDB pré-fixado, que representa uma aplicação corrente de baixo risco. Assim, tem-se: Taxa Mín. de Atrativida de = CDB ≅ 16% a.a (5-1) Com base nesta taxa foram calculados o valor presente líquido e a razão custo/benefício para a aviação geral e comercial, conforme apresentado na Tabela 4-14: 92 Tabela 4-14: Valor Presente Líquido e Razão Custo/Benefício Aviação Comercial de Médio e Grande Porte Item de Benefício Aviação Geral Combustível - Mão Única VPL US$ 52.360.000,00 B/C 6 VPL - US$ 18.940.000,00 B/C 0,18 Combustível - Mão Dupla US$ 152.370.000,00 14 - US$ 12.310.000,00 0,47 Os resultados obtidos mostram que a implementação da RVSM é economicamente viável para a aviação comercial de aeronaves de médio e grande portes. O benefício pode chegar a 14 vezes o valor investido em valor presente. Para a aviação geral de forma agregada entretanto, os resultados obtidos demonstram a inviabilidade do investimento no período analisado. Para complementar a análise, os gráficos apresentados na Figura 4-6 mostram o retorno do investimento da aviação comercial no período considerado. Nos gráficos abaixo, o ano de recuperação do investimento é aquele em que o fluxo de caixa acumulado torna-se positivo. Mão Única Mão Dupla 600 210 500 400 USD milhões. USD milhões. 160 110 60 300 200 100 10 Ano Fluxo de Caixa Acumulado 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 -100 2004 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 0 -40 Ano Fluxo de Caixa Líquido Fluxo de Caixa Acumulado Fluxo de Caixa Líquido Figura 4-6: Retorno sobre Investimento: Aviação Comerciais de Médio e Grande Portes 93 Na Figura 4-7 são apresentados os gráficos do retorno sobre investimento para a aviação geral. 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2019 2018 2017 2016 2015 2014 Mão Dupla 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 Mão Única 15 5 10 0 USD milhões . USD milhões. 5 -5 -10 -15 0 -5 -10 -15 -20 -20 -25 -25 Ano Fluxo de Caixa Acumulado -30 Fluxo de Caixa Líquido Ano Fluxo de Caixa Acumulado Fluxo de Caixa Líquido Figura 4-7: Retorno sobre Investimento: Aviação Geral O resultado obtido para a aviação geral pode ser explicado por diversos fatores, dentre os quais destacam-se: • Baixa freqüência média de vôos acima do FL 290. Considerando 239 aeronaves de aviação geral elegíveis RVSM, tem-se a média de 1,3 vôos semanais acima do FL 290 por aeronave; • Alto custo de adequação à RVSM. O custo dos BSs de adequação RVSM é, em média, maior para as aeronaves de aviação geral que operam no Brasil do que para as aeronaves de médio e grande portes (ver anexo B). Além disso a aviação geral não se beneficia da economia de escala que oferece o modelo da CARSAMMA para o monitoramento de altitude. É importante ressaltar o conservadorismo das premissas assumidas. Os resultados obtidos para a aviação geral de forma agregada podem melhorar se aumentar a freqüência média das viagens assim como a etapa média praticada o que aumenta conseqüentemente a utilização do espaço aéreo acima do nível de vôo FL 290. 94 No caso da aviação geral é portanto recomendável que análises de viabilidade sejam realizadas caso a caso, considerando a utilização da aeronave assim como o custo de sua aprovação operacional. A seguir é analisado o custo-benefício da aquisição da aprovação operacional RVSM para o Cessna Citation (C525), cujo BS de adequação RVSM custa US$ 58.000,00 e para o LearJet (LJ55), cujo BS de adequação está orçado em US$ 155.000,00. Os resultados da Tabela 4-15 referem-se a seguinte utilização ao longo de 15 anos de operação: 4 viagens semanais o C525 e de 6 viagens semanais para o LJ55. Tabela 4-15: C525 e LJ55 - Valor Presente Líquido e Razão Custo/Benefício Item de Benefício Cessna Citation Jet (C525) LearJet (LJ55) Combustível - Mão Única VPL - US$ 710.000,00 B/C 0,99 VPL - US$ 69.060.000,00 B/C 0,5 Combustível - Mão Dupla US$ 89.230.000,00 2,5 US$ 65.840.000,00 1,4 Na Figura 4-8 são apresentados os gráficos de retorno sobre investimento para a Cessna Citation Jet. Mão Única Mão Dupla 150 500 400 200 Fluxo de Caixa 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 Ano Ano Fluxo de Caixa Acumulado 2011 2010 2009 2008 2007 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 -100 2007 -100 2006 0 2005 -50 2006 100 2005 0 300 2004 USD milhões. 50 2004 USD milhões . 100 Fluxo de Caixa Acumulado Fluxo de Caixa Figura 4-8: Retorno sobre Investimento: C525 Na Figura 4-9 são apresentados os gráficos de retorno sobre investimento para a LearJet. 95 Mão Única Mão Dupla 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 700 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 Ano 600 500 USD milhões. Fluxo de Caixa Acumulado Ano Fluxo de Caixa Acumulado Fluxo de Caixa 2019 2018 2017 2016 2015 2014 -200 2013 -200 -150 2012 -100 2011 0 -100 2010 -50 2009 100 2008 0 200 2007 50 300 2006 100 400 2005 150 2004 USD milhões. 200 Fluxo de Caixa Figura 4-9: Retorno sobre Investimento: LJ55 IV.5.2 Custo-Efetividade para os Provedores ATS Os custos da implementação da RVSM para o Provedor ATS apresentados na Tebela 4-16 foram anteriormente tratados nas seções IV.3.6 Planejamento - Custo da Simulação ATC RVSM, IV.3.7 Treinamento dos Controladores de Tráfego Aéreo e IV.3.8 Implementação da RVSM para o Provedor ATS. Diferentemente dos custos e benefícios do operador, os custos do provedor ATS não estão ligados ao dólar, sendo portanto expressos em reais. Tabela 4-16: Sumário dos Custos da Implantação da RVSM para o Provedor ATS Custos – Ano: 2004 Item de Custo Total Planejamento Treinamento dos controladores de tráfego aéreo Implementação da RVSM TOTAL R$ 238.175,00 R$ 1.240.000,00 R$ 400.000,00 R$ 1.878.175,00 Benefício – Ano: 2005 Redução da carga de trabalho do controlador Enlaces /aeronave Duração da comunicação /aeronave - 8,2% - 21,3% 96 A razão custo/efetividade (C/E) da implantação da RVSM para o Provedor ATS no Brasil é dada pela divisão do custo de adequação do mesmo pela medida do principal benefício obtido. Este corresponde à redução do tempo dedicado pelo controlador as comunicações solo/ar/solo, solo/solo e atividades típicas ATC por aeronave. C/E = R$1.878.175,00 Movimentos × 0,08 Enlaces × 0,21T (5-2) onde: Movimentos = Número de aeronaves em determinada porção do espaço aéreo num dado instante; Enlaces = Número médio de enlaces por aeronave; T = Duração média das comunicações aeronáuticas e das atividades típicas ATC por aeronave; A razão custo/efetividade expressa em 5-2 pode ser obtida para uma equipe de controladores responsáveis por uma região do espaço aéreo assim como para um único controlador. Os fatores de redução da carga de trabalho utilizados na equação 5-2 são válidos para os anos iniciais após a implantação da RVSM. Para os anos subsequentes, é preciso que tais fatores sejam ajustados em função do crescimento do tráfego. IV.6 RESUMO O Cenário 2, referente à implementação da RVSM no Brasil, foi selecionado para a realização de uma análise de custo-benefício, a título de estudo de caso. Os custos e benefícios decorrentes da implantação da RVSM no Brasil foram obtidos comparando-se dois cenários operacionais: o Cenário Base, que representa a condição préRVSM e o Cenário RVSM. 97 Os custos foram modelados para a frota considerada ‘elegível RVSM’. Os benefícios foram modelados para uma amostra de tráfego de vôos nacionais ocorridos nas FIRs Brasília, Recife, Curitiba e Porto Velho. Os resultados obtidos revelam-se extremamente viáveis para a aviação comercial, entretanto, a aviação geral, de forma agregada, não viabiliza o investimento no período considerado, tendo como motivo dois fatores principais: a baixa freqüência média de vôos acima do FL 290 e o alto custo de adequação à RVSM para pequenas aeronaves. Além disso vale ressaltar que as premissas assumidas neste estudo são conservadoras e generalistas. Análises individuais podem revelar muitos casos viáveis na aviação geral, dependendo do valor investido, da freqüência de viagens do operador e tamanho médio das etapas praticadas e da taxa de desconto adequada para o perfil da empresa avaliada. O provedor ATS, por apresentar apenas benefícios qualitativos, teve seus resulatados analisados por meio da análise de custo-efetividade em função da redução da carga de trabalho do controlador, seu benefício mais significativo. 98 Capítulo V Conclusões e Comentários Finais Em regiões do globo como o Brasil, onde a demanda de tráfego aéreo ainda não constitui um fator restritivo, a implantação dos sistemas CNS/ATM vem sendo motivada pela obtenção de economia, por motivos ambientais ou pela necessidade de harmonizar padrões e procedimentos em nível regional. Outro fator que motiva os Estados a se anteciparem a necessidade de implantar tais sistemas é o interesse em dominar as tecnologias CNS/ATM a fim de se manterem competentes no controle de seus espaços aéreos e reduzir a depedência tecnológica de países estrangeiros. A ‘Política Brasileira para os Sistemas CNS/ATM’ declara que a navegação aérea, por ser essencial e de segurança nacional, não pode estar sujeita a nenhum critério ou regra capaz de dificultar ou inviabilizar a eficiência dos serviços prestados aos usuários civis e militares. Essa mesma política considera ainda que os Estados deverão voltar suas estratégias para o desenvolvimento do GNSS nas Regiões CAR/SAM, visando a reduzir os auxílios convencionais para apoio à navegação aérea. Entretanto o GPS, elemento base do GNSS, é vulnerável a interferências eletromagnéticas. Estas podem ocorrer intencionalmente ou não e podem causar desde a degradação até a obstrução ou interrupção do sistema. A tendência, com o passar dos anos, é que os riscos sejam reduzidos devido tanto a redundância dos elementos do GNSS (nova geração do GPS, GLONASS, GALILEO e sistemas de aumentação) quanto a sofisticação tecnológica dos novos componentes a serem incorporados. 99 Assim, na busca por manter a navegação aérea segura e desfrutar, ao mesmo tempo, dos benefícios do GNSS, o Estado mantém como objetivo permanente a aquisição de um SBAS próprio e não pretende proceder a desativação dos auxílios convencionais até que os países provedores dos satélites de posicionamento o façam. Caso seja adquirido um SBAS próprio, integrá-lo a bordo do SGB reduziria significativamente os custos relativos ao segmento espacial. Caso um SBAS estrangeiro seja estendido para o Brasil, o Estado deverá custear o aluguel dos transponders para a difusão do sinal de aumentação a partir do satélite geostacionário utilizado. Independentemente da opção, ao Estado caberá ainda a aquisição, a implantação e a manutenção do segmento solo. O SBAS é investimento alto que deve ser viabilizado não só por seus benefícios como também por acordos de compensação comercial e de tranferência tecnológica. Em contrapartida ao custo, o SBAS traz benefícios tanto para a navegação aérea, como para certas aplicações de navegação marítima e terrestre. Isto pode gerar boas oportunidades de negócio para o Brasil junto aos potenciais usuários dos países sulamericanos. Dentre os benefícios viabilizados pelo SBAS à navegação aérea, tem-se: • A guiagem vertical, que segundo a Flight Safety Foundation pode resultar numa redução de até 7 vezes no risco de incidente grave ou acidente na fase de aproximação final em relação à aproximação de não-precisão. • A racionalização dos rádio-auxílios, que inicialmente resultará em economia decorrente da estagnação da atual infra-estrutura e, a médio-longo prazo, de sua desativação. • O suporte aos requisitos atuais e futuros RNAV/RNP, que é a base da otimização do espaço aéreo numa visão de longo prazo. 100 Desde 1998, muitas rotas RNAV foram implantadas no espaço aéreo superior brasileiro sem nenhum requisito de performance associado. Nesse caso, o operador pode se utilizar de qualquer sensor ou combinação de sensores que cubram a referida rota ou procedimento, sem que lhe seja demandada a comprovação de sua performance de navegação. Apesar de ainda não definido, os riscos desse tipo de operação podem ser altos sobretudo se associados a uma pane do radar de vigilância ou falha de comunicação. Com o crescimento do tráfego e da complexidade do espaço aéreo, esta prática não deverá ser mantida. A associação RNAV/RNP constitui uma importante ferramenta de gestão do espaço aéreo pois permite que as trajetórias mais convenientes sejam praticadas com os requisitos de performance mais apropriados ao contexto operacional. Esta associação visa obter ganhos de eficiência, econômicos, de segurança, ambientais ou de contingência. O GNSS tem proporcionado a prática de uma RNAV mais precisa, íntegra, de cobertura global e com aviônicos relativamente mais baratos. Estas características propiciam a consolidação da RNAV baseada em GNSS como meio principal de navegação em todo o mundo e principalmente em países como o Brasil, cuja infra-estrutura de rádio-auxílios convencionais não oferece flexibilidade operacional à navegação e à gestão do tráfego aéreo. Mesmos nas áreas mais bem servidas, a infra-estrutura brasileira de rádio-auxílios não poderia suportar a RNP 5, visto que a distância relativa entre os VORs é normalmente muito superior a 100 MN. A RNP 5 deverá ser implantada nas FIRs Brasília e Curitiba até o ano 2007. Visto que o tráfego doméstico brasileiro converge regularmente para as capitais da região sudeste, conclui-se que grande parte da frota comercial terá que se adequar a este requisito, mesmo aquela proveniente das FIRs Amazônica e Recife, cuja densidade de tráfego é baixa. 101 Estender a RNP 5 às demais FIRs significaria penalizar desnecessariamente os operadores que utilizam as rotas ATS das regiões de baixo tráfego. Por outro lado, não atribuir um requisito de performance às rotas RNAV contidas nestas regiões pode comprometer a segurança do espaço aéreo. Assim, além das FIRs Brasília e Curitiba, seria prudente implantar a RNP 5 em toda rota RNAV independentemente da FIR em que se encontre. O estabelecimento de níveis máximos para as rotas convencionais e mínimos para as rotas RNP 5 permitirá que grande parte das aeronaves de aviação geral possa optar ou não por se adequar a RNAV/RNP 5. Em média, a implantação da RNAV/RNP 5 no espaço aéreo brasileiro custará para o operador o valor da aquisição e instalação de, no mínimo, um equipamento RNAV e um IRS ou um receptor GPS+ABAS. Se devidamente implementada, a RNAV/RNP 5 poderá gerar os seguintes benefícios: rotas diretas em grande círculo, aumento da capacidade de espaço aéreo, redução da vetoração radar, da carga de trabalho dos controladores e de impactos ambientais. Em 20 de janeiro de 2005, a RVSM foi implantada no espaço aéreo brasileiro entre os níveis FL 290 e FL 410, inclusive. Contrariamente ao plano inicial, foi autorizado que aeronaves não-aprovadas RVSM possam operar no espaço aéreo RVSM até 30 de junho de 2007. O estudo de caso realizado neste trabalho contempla a comparação do cenário não-RVSM com o cenário RVSM excludente, onde só é permitida a operação de aeronaves com aprovação operacioal RVSM, com exceção das aeronaves de Estado, vôos humanitários, vôos de primeira entrega e de manutenção. 102 Os resultados obtidos mostram que a implantação da RVSM reduz em cerca de 50% a solicitação entre os níveis de vôo FL 290 e FL 350. O fato da amostra de tráfego utilizada contemplar apenas vôos nacionais explica a pouca utilização a partir do nível de vôo FL 380. A RVSM mostrou ser economicamente viável para a aviação comercial de aeronaves de médio e grande portes. O benefício pode chegar a 12 vezes o valor investido, segundo as hipóteses de trabalho especificadas neste estudo. Entretanto, para a aviação geral de forma agregada, os resultados obtidos demonstram a inviabilidade do investimento no período analisado devido a dois motivos principais: a baixa freqüência dos vôos acima do nível de vôo FL 290 (1,3 vôos semanais acima do nível FL 290 por aeronave elegível RVSM) e o alto custo para adequação da aeronave à RVSM. Ponderando o conservadorismo das premissas adotadas, conclui-se que análises de viabilidade devem ser realizadas caso a caso para as aeronaves de aviação geral, considerando a real utilização da aeronave, o custo de sua aprovação operacional e seu custo de capital. A avaliação de Custo-Benefício pelo método do Valor Presente Líquido é uma metodologia simples e eficiente de avaliação de projetos. O desafio reside na identificação e correta modelagem dos custos e benefícios. Para tanto, é necessário razoável conhecimento dos processos e das regras que envolvam a realização do projeto. A determinação da taxa mínima de interesse é outro ponto importante. Este é um parâmetro decisivo para a viabilização do projeto. Os benefícios qualitativos de um projeto podem ser tão ou mais relevantes que os quantitativos. A razão Custo/Efetividade utilizada para avaliar os benefícios qualitativos, 103 contempla apenas aquele que minimiza os custos. Assim, benefícios de suma importância para a realização do projeto podem ser ofuscados nesta análise. Dependendo do caso, é recomendável apenas expressar os custos em valor presente e os benefícios, detalhadamente descritos, em unidades físicas ou em escala de valor qualitativo. Na implementação dos elementos dos Sistemas CNS/ATM, a viabilidade econômica e operacional para os operadores de transporte aéreo deve ser priorizada. Do contrário, podem ser geradas dificuldades financeiras para os operadores e crise na aviação civil do país. Os novos sistema deverão ser capazes de gerar benefícios concretos ou então não valerão à pena. De um modo geral, este trabalho buscou contribuir para o desenvolvimento do conhecimento nas áreas de gestão de tráfego aéreo, navegação aérea e análise de custo-benefício. Apesar das várias indefinições existentes devido ao estado incipiente da implantação do CNS/ATM no mundo e da dificuldade de obtenção de documentos, dados e informações, o objetivo inicialmente proposto desta pesquisa foi alcançado. Dentre as oportunidades de trabalhos futuros, sugere-se a realização de estudos de caso da implantação da RNAV/RNP 5 e do SBAS no espaço aéreo brasileiro. Sugere-se também que sejam simulados cenários “fazer nada”. No caso da implantação da RVSM, este cenário consistiria em determinar os custos da opção de não adequar-se à RVSM, ou seja, de voar acima do nível de vôo FL 410 ou abaixo do nível de vôo FL 290. Como extensão desta linha de pesquisa, propõe-se ainda a realização de análises de viabilidade operacionais e econômicas da implementação do GBAS e da RNP 1, que já são realidade em alguns países, e de elementos de comunicação e de vigilância aeronáutica segundo o conceito CNS/ATM. 104 Apêndices Apêndice 1: Utilização dos Auxílios à Navegação Aérea no Brasil No Brasil, a infra-estrutura de auxílios à navegação aérea é composta por aproximadamente, 364 equipamentos conforme mostra a Tabela A1-1. Usualmente, estes equipamentos encontram-se instalados junto aos aeroportos mais movimentados. Tabela A1-1: Cobertura média por auxílio à navegação. ECAC USA Brasil DME VOR NDB Fonte: [Eurocontrol, 2002] 1078 728 1007 Fonte: [FAA, 1996] 256 292 725 Fonte: [DECEA, 2003b] 85 83 196 Total Espaço Aéreo Área/auxílio 2813 10.545.000 km2 3.749 km2 / equipamento Auxílios à Navegação 1273 364 2 9.820.000 km 8.547.403 km2 7.714 km2 / equipamento 23.482 km2 / equipamento Comparando a cobertura média dos rádio-auxílios nos Estados Unidos, no Brasil e na porção do espaço aéreo europeu denominada Estados da Conferência de Aviação Civil Européia (ECAC), percebe-se que a atual infra-estrutura de auxílios não é capaz de suportar a RNP 5 no espaço aéreo brasileiro, visto que: 1. A RNP 5 foi desenvolvida e implementada para permitir a operação continuada dos rádio-auxílios existentes na ECAC, sem qualquer necessidade de modificação de sua infra-estrutura [Sofréavia, 2003]; 2. Para obter RNP 4 em rotas balizadas apenas por VORs, os mesmos devem estar espaçados entre si de 50 MN ou menos [OACI, 1999e]. 105 Caso não houvesse a opção da navegação por satélite, seria necessário expandir e modernizar a atual infra-estrutura de auxílios convencionais para continuar prestando um serviço de tráfego aéreo eficiente e seguro frente ao crescimento do tráfego e a necessidade permanente de redução dos custos operacionais. Outros motivos, além do supracitado, reafirmam a importância do GNSS no Brasil. Quando comparado aos auxílios convencionais, o GNSS oferece muitas vantagens, dentre elas destacam-se: 3. Cobertura global (particularmente importante em áreas pobres em rádio-auxílios convencionais); 4. Disponibilidade gratuita para uso da aviação civil; 5. Mais preciso do que os auxílios tradicionalmente utilizados em rota, em área terminal e em aproximação de não-precisão; 6. A aquisição do aviônico GNSS resulta na aquisição da capacidade RNAV a um custo relativamente baixo; 7. Implementando procedimentos RNAV baseado em GNSS, o PSNA pode melhorar a prestação de serviço aos usuários sem nenhum custo adicional de infra-estrutura; 8. Possibilidade de operar em todo globo utilizando um só equipamento receptor; 9. Utilizado por outros modos de transporte. Neste contexto, operadores de aeronaves, provedores ATS, a ICAO e os Estados, vêm empreendendo ações que apontam numa direção comum; a utilização do GNSS como meio primário de navegação, conforme mostra a Figura A1-1. 106 Implementação de Rota e Procedimentos RNAV/RNP Espaço Aéreo Maior adoção dos sistemas de gestão de vôo (FMS) e receptores GNSS Desativação Gradual da Infra-estrutura de Navegação Aérea Infra-estrutura Espacial de Navegação Aérea Maior utilização do GNSS como meio primário de navegação Implantação do SBAS Aeronave Figura A1-1: Utilização do GNSS como Meio Primário de Navegação Aérea. O GNSS como meio primário de navegação proporciona a independência da aeronave em relação aos rádio-auxílios convencionais, permitindo a desativação gradativa dos mesmos. Todavia, o GNSS não possui apenas vantagens. O sistema apresenta vulnerabilidade à interferências e perturbações eletromagnéticas que podem interromper, obstruir ou degradar a performance do sistema. Tais interferências podem acontecer intencionalmente ou não. Este fato fez os Estados repensarem seus planos de desativação dos rádio-auxílios convencionais. Para delinear um cenário realístico para a utilização dos auxílios à navegação no Brasil, foram analisados os cenários dos Estados Unidos e da Europa. Racionalização da Infra-Estrutura de Navegação Aérea nos Estados Unidos Após análise da vulnerabilidade do GPS, a FAA optou pela salvaguarda de parte de seus auxílios convencionais. Com isso, a FAA pretende prover um sistema de navegação 107 alternativo para o qual a aeronave possa reverter e continuar operando normalmente caso haja interferência no sinal de GPS. A Figura A1-2 ilustra os três tipos de infra-estrutura que constituirão as alternativas à navegação por satélite no espaço aéreo norte americano. Estas variam desde um sistema de baixa performance até um sistema de redundância. À medida em que a capacidade de navegação melhora (de baixo para cima), o risco de se ter uma operação degradada ou interrompida diminui, reduzindo o risco de interferência ilícita [FAA, 2002]. DME/DME FMS/IRS FMS Sistema de Back-Up VOR NDB de Longo Alcance Contingência Operacional Robustez da Infra-estrutura Sistema de Redundância Procedimentos de Contingência e Restrições Figura A1-2: Sistemas de apoio à navegação por satélite nos E.U.A. O sistema redundante oferece continuidade de operação segundo as mesmas técnicas de navegação utilizadas antes da ocorrência da interferência (ex: RNAV/RNP). O sistema de back-up permite que a operação continue com segurança, embora menos eficiente. Mesmo sendo menos preciso que o sistema redundante, o sistema de back-up desempenhará a importante função de “desencorajador” de atos de interferência ilícita até o ano de 2020, pelo menos [FAA, 2002]. 108 O operador também pode optar por não se equipar com os sistemas redundantes ou de backup e submeter-se às restrições operacionais e a procediementos de contigência. Caso ocorra, por exemplo, uma perda do sinal, o operador passará a operar VFR ou será vetorado pelo controlador para fora da região de interferência. Para sustentar tais planos, a FAA pretende preservar todos os seus DMEs, podendo ainda implantar estações adicionais nas áreas dos aeroportos mais movimentados [Sofréavia, 2003]. Para prover os sistemas de back-up, serão preservados também um número reduzido de VOR’s e alguns poucos NDB’s de longo alcance. Racionalização da Infra-Estrutura de Navegação Aérea na Europa Na Europa, a desativação gradativa dos NDB’s e dos VOR’s deverá ocorrer até o ano de 2010, à medida em que a navegação por satélite se fortalece devido à utilização dos sistemas de aumentação. A EUROCONTROL, agência responsável por harmonizar e integrar a navegação aérea na Europa, optou por preservar as estações de DME para dar suporte às operações com FMS. A Figura 3-6 apresenta o plano de europeu de utilização dos auxílios a navegação [Eurocontrol, 1999b]. 2000 2005 2010 2015 NDB VOR DME SBAS GBAS Figura A1-3: Plano de utilização dos auxílios à navegação aérea na europa. 109 Racionalização da Infra-Estrutura de Navegação Aérea no Brasil A Política brasileira para os Sistemas CNS/ATM [COMAR, 2001] estabelece que só se poderá iniciar a desativação dos rádio-auxílios no país quando os países provedores dos satélites de posicionamento o fizerem e quando o desempenho dos novos sistemas (precisão, integridade, continuidade e disponibilidade) for reconhecido como satisfatório. Nesse contexto, acredita-se que será adotada no Brasil uma postura tão cautelosa quanto a dos E.U.A, país provedor dos satélites. Manter um sistema de navegação redundante, a exemplo dos E.U.A., seria inviável no Brasil pois implicaria em reforçar a atual infra-estrutura. Assim, é razoável admitir que os VORs e DMEs serão mantidos como sistema de back-up. Onde não seja possível ou justificável a manutenção de tal sistema, procedimentos de contingência poderão ser estabelecidos. Portanto, um cenário propício de utilização dos rádio-auxílios convencionais no Brasil inclui: • Supressão dos NDBs que não balizarem ILSs; • Congelamento da infra-estrutura atual de VORs em sua dimensão atual até o início de seu processo de desativação; • Manutenção dos DMEs por tempo indefinido. 110 Apêndice 2: Determinação da Frota “Elegível RVSM” Para a determinação das frota “Elegível RVSM” foi utilizado o Banco de Dados de Aeronavegabilidade do DAC de Outubro de 2003. A partir deste banco de dados, a frota “elegível RVSM” foi estabelecida excluíndo-se do total das matrículas registradas, àquelas aeronaves que encontram-se sob os seguintes critérios: 1. Aeronaves cujo teto operacional não alcança o espaço aéreo RVSM; 2. Aeronaves sem registro de classe; 3. Aeronaves com teto operacional entre o FL 290 e FL 310, pois a adequação ao RVSM seria economicamente inviável. Ademais, a própria natureza da utilização de aeronaves com tais tetos operacionais as levam a operar em níveis inferiores (vôos de curta duração a baixas altitudes); 4. Aeronaves para as quais não há boletim de serviço para adequação ao RVSM; 5. Aeronaves não operacionais ou de operação interditada em caráter irreversível. Aplicando o critério 1 nas 14674 matrículas existentes no banco de dados de aeronavegabilidade do DAC eliminou-se aeronaves com teto operacional inferior ao FL 290. A Tabela A2-1 apresenta aeronaves eliminadas após a aplicação deste critério: Tabela A2-1: Aeronaves com teto operacional inferior ao FL 290. Classe da Aeronave Ultraleves Planadores Anfíbios Experimentais Helicópteros 1 Motor à pistão 2 Motores à pistão 4 Motores à pistão 1 Motor turbo-hélice 4 Motores turbo-hélice 1 Motor à jato Quantidade de Aeronaves. 7 376 28 1107 6853 1938 11 121 14 1 111 Após a aplicação do critério 2, mais 2419 aeronaves sem registro de classe, constituídas em sua maioria por balões, planadores, ultraleves e aeronaves experimentais não foram consideradas “elegíveis RVSM”. As aeronaves consideradas potenciais usuárias do espáço aéreo entre o FL 290 e FL 410, bem como as aeronaves não consideradas “elegíveis RVSM” com a aplicação dos critérios 1 e 2 são mostrados na Figura A2-1. Frota Aérea Brasileira 14.674 Matrículas 1 7 1 Motor à jato Ultraleves 11 4 Motores à pistão 14 4 Motores turbo-hélice 28 Anfíbios/Experimentais 40 113 4 Motores à jato Classe Não-usuárias do espaço aéreo acima do FL 290 Potenciais usuárias do espaço aéreo entre FL290 e FL410 3 Motores à jato 121 1 Motor turbo-hélice 376 Planadores 747 2 Motores turbo-hélice 899 2 Motores à jato 1107 Helicópteros 1938 2 Motores à pistão 2419 Classe não definida 6853 1 Motor à pistão 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 Quantidade Figura A2-1: Distribuição das aeronaves após a aplicação dos critérios 1 e 2. Aplicando o critério 3 a população de 1799 aeronaves potenciais usuárias do RVSM, foram identificadas 684 aeronaves com teto operacional inferior a FL310, constituídas principalmente por aeronaves modelo Bandeirantes EMB-110, Brasília EMB-120, Xingu EMB-121, Navajo EMB-821, Beech Aircraft King Air BE9L; Fokker F27 e Fokker F50. 112 Devido ao critério 4, que exclui aeronaves para as quais não há boletim de serviço para adequação ao RVSM, foram excluídas ainda 6 aeronaves modelo Pipper PA-42-720 e Cheyenne PAY3 e PAY4, 1 Caravelle S210 e 2 Hamburger Flugz HF20, totalizando 9 aeronaves. A partir do critério 5, as seguintes aeronaves não-operacionais ou de operação interditada em caráter irreversível também foram excluídas: • 19 matrículas de reserva de marca; • 457 matrículas canceladas; • 30 certificados de aeronavegabilidade cancelados por estarem ha mais de 2 anos com a inspeção anual de manutenção vencida; • 16 com licença vencida; • 04 aeronaves com certificado de aeronavegabilidade cancelado por estarem ha mais de 1 ano avariadas. Após as subtrações supracitadas restaram 580 aeronaves “Elegíveis RVSM”. Destas, 109 já possuem aprovação operacional RVSM. A Figura A2-2 apresenta a distribuição das aeronaves “Elegíveis RVSM” de acordo com seu modelo e estado de aprovação em 2004. Embora toda aeronave capaz de voar no espaço aéreo RVSM seja de fato “Elegível RVSM”, este termo é utilizado neste trabalho para designar apenas àquelas ainda não possuidoras de aprovação operacional. 113 Modelo (Código OACI) WW24 LJ45 GALX CL60 B734 FA50 FA10 E135 C551 C501 B772 B721 ASTR PRM1 MU30 LJ60 FA20 DC86 DC85 A30B LJ24 DC10 C750 LJ55 F900 C56X C25A B738 LJ31 LJ25 BE30 B763 B762 B703 B350 A332 BE40 C650 A319 MD11 H25B B735 E145 B722 C560 B737 BE20 C525 C500 LJ35 C550 A320 B732 F100 B733 0 10 20 30 40 50 Quantidade Sem aprovação Operacional RVSM Com Aprovação Operacional RVSM Figura A2-2: Distribuição das aeronaves segundo a aprovação operacional RVSM. Deste modo, 471 aeronaves são “elegíveis RVSM”, sendo 232 da aviação comercial e 239 da aviação geral. 114 Apêndice 3: Determinação do Peso de Decolagem dos Vôos Conforme a equação (A3-1), o Peso de Decolagem (PD) de uma aeronave para determinado vôo depende de três fatores principais: o Peso Operacional Vazio (POV) da aeronave; a Carga Paga (CP) transportada; o combustível da viagem que inclui o combustível para chegar ao destino mais a reserva mínima regulamentar. PD = POV + CP + Combustível da Viagem (A3-1) A seguir, são apresentadas a descrição e o cálculo de cada um destes fatores: • Peso Operacional Vazio: é o próprio peso da aeronave com todos os itens e equipamentos necessários para o vôo, excluídos a carga paga e o combustível e incluindo: combustível não utilizável, óleo do motor, equipamentos de emergência, fluidos e químicos para os banheiros, galley, estrutura do bar, etc. assim como o peso dos itens operacionais: tripulação com bagagens, manuais e equipamentos de navegação, comida e bebida, equipamento salva vidas (colete, bóias,etc.). • Carga Paga: é estimada a partir da taxa de ocupação (TO) média das aeronaves, do número de assentos das aeronaves e do peso médio do passageiro e de sua bagagem. A taxa de ocupação definada pela equação (A3-2): ⎛ Pax/km Transportado Pago TO = ⎜⎜ ⎝ Assento/km Transportado Pago ⎞ ⎟⎟ ⎠ (A3-2) A Tabela A3-1 apresenta as taxas de ocupação das aeronaves de aviação comercial em 2002 [DAC, 2002]: 115 Tabela A3-1: Taxa de ocupação das aeronaves. Modelo da Aeronave (Código OACI) A319 A320 A330 B732 B733 B735 B737 E145 F100 MD11 TO 49% 54% 57% 56% 58% 57% 64% 60% 54% 57% A Tabela A3-2 apresenta configuração adotada para a definição do peso médio por passageiro e de sua bagagem: Tabela A3-2: Configuração de peso médio por passageiro e de sua bagagem. Repartição dos passageiros Pesos Bagagem 50% de mulheres 50% homens 70 kg 88 kg 20 kg 20 kg Deste modo, pode-se então calcular o CP pela da equação (A3-3): ⎛ Número de Assentos × TO ⎞ CP = ⎜ ⎟ × [(88 + 20) ) + (70 + 20) )] 2 ⎝ ⎠ • (A3-3) Combustível da Viagem: O combustível da viagem é definido pela equação (A3-4) Combustível da Viagem = Combustível etapa + Combustível reserva + Combustível alternativo + Combustível espera + Combustíveltaxi (A3-4) onde: Combustível da Etapa: é combustível necessário para chegar ao aeroporto de destino, dado pela equação (A3-5): Combustível etapa = Distância etapa xConsumo médio de cruzeiro (kg / km) (A3-5) Combustível Reserva: corresponde a 10% do combustível da etapa. 116 Combustível do Aeroporto Alternativo: é o combustível necessário para chegar ao aeroporto alternativo, calculado da mesma forma que o combustível da etapa, considerando-se a distância entre o aeroporto de destino e o aeroporto alternativo. A fim de viabilizar o cálculo de combustível do aeroporto alternativo, a Tabela A3-3 apresenta as distâncias consideradas entre aeroporto de destino e aeroporto alternativo: Tabela A3-3: Distância do aeroporto alternativo em função do aeroporto de destino. UF AL BA CE DF ES GO MG PB PE Distância ao Aeroporto Distância ao Aeroporto Distância ao Aeroporto UF UF Alternativo (MN) Alternativo (MN) Alternativo (MN) 200 200 200 200 200 200 200 200 200 PI PR RJ RN RO RR RS SC SE 200 200 200 200 300 300 200 200 200 SP AC AM AP MA MS MT PA TO 200 300 300 300 300 300 300 300 300 Conforme apresentado na Tabela A3-3, assumiu-se uma distância média de 300 MN para o aeroporto alternativo quando o aeroporto de destino encontra-se na Região Norte do Brasil assim como nos estados MA, MS, MT, TO e de 200 MN para as demais localidades: Combustível de Espera: é o combustível corresponde ao consumo horário em regime de espera a 1500 pés de altitude por 30 minutos. Combustível de Táxi (aeroporto de destino): é definico pela equação (A3-6): Combustíveltaxi = 10 min xConsumo médio de taxi (kg / min) (A3-6) 117 Anexos Anexo A: Custos de Aquisição, Operação e Manutenção de Equipamentos de Bordo Tabela A-1: Custos de Aquisição, Operação e Manutenção de Equipamentos de Bordo. Equipamento GPS+RAIM B-RNAV (incluindo FMC ou computador RNAV dedicado) Atualização P-RNAV (Custo diferencial comparado com o B-RNAV) Computador de Navegação GPS+RAIM+RNAV Atualização WAAS/EGNOS/GLONASS GPS+RAIM B-RNAV (incluindo FMC ou computador RNAV dedicado) Atualização P-RNAV (Custo diferencial comparado com o B-RNAV) Computador de Navegação GPS+RAIM+RNAV Atualização WAAS/EGNOS/GLONASS GPS+RAIM B-RNAV (incluindo FMC ou computador RNAV dedicado) Atualização P-RNAV (Custo diferencial comparado com o B-RNAV) Computador de Navegação GPS+RAIM+RNAV Atualização WAAS/EGNOS/GLONASS Fonte: [EATCHIP, 1998] Custo de Instalação e Certificação Aviação Comercial US$ 43.250,00 US$ 154.480,00 Preço unitário Custo Anual de Manutenção e Operação US$ 11.860,00 US$ 129.340,00 US$ 64.670,00 US$ 11.640,00 US$ 323.340,00 - US$ 19.400,00 US$ 55.610,00 US$ 74.150,00 US$ 7.790,00 US$ 19.770,00 - US$ 1.190,00 IFR para Aviação Geral US$ 34.600,00 US$ 92.690,00 US$ 7.640,00 US$ 51.730,00 US$ 25.870,00 US$ 4.660,00 US$ 161.670,00 - US$ 9.700,00 US$ 45.730,00 US$ 74.150,00 US$ 7.190,00 US$ 8.650,00 - US$ 520,00 VFR para Aviação Geral US$ 5.190,00 US$ 13.900,00 US$ 1.150,00 US$ 7.760,00 US$ 3.880,00 US$ 700,00 US$ 19.400,00 - US$ 1.160,00 US$ 6.860,00 US$ 11.120,00 US$ 1.080,00 US$ 1.300,00 - US$ 80,00 118 Anexo B: Custo dos Boletins de Serviço para Adequação RVSM Tabela B-1: Custo Estimado dos Boletins de Serviço para Adequação RVSM Modelo de Aeronave (Código OACI) A300 A320 A330 A340 B701 B703 B712 B721 B722 B731 B732 B733 B734 B735 B736 B737 B738 B739 B741 B742 B743 B744 B752 B753 B762 B763 B764 B772 B773 F100 DC8 DC9 DC10 MD11 MD80 MD90 L101 ASTR BE40 CL60(1A) Custo Fonte **** **** **** **** US$ 175.000,00 US$ 175.000,00 **** US$ 130.000,00 US$ 130.000,00 US$ 130.000,00 US$ 130.000,00 US$ 17.500,00 US$ 17.500,00 US$ 17.500,00 **** **** **** **** US$ 58.400,00 US$ 58.400,00 US$ 58.400,00 US$ 33.300,00 US$ 50.700,00 US$ 50.700,00 **** **** **** **** **** US$ 8.000,00 US$ 150.000,00 US$ 150.000,00 US$ 2.200,00 US$ 2.200,00 US$ 33.300,00 US$ 33.300,00 US$ 25.000,00 US$ 110.000,00 US$ 25.000,00 US$ 62.500,00 Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Empresas de Engenharia Especializadas Empresas de Engenharia Especializadas Fabricante ( Inspeção Visual) Empresas de Engenharia Especializadas Empresas de Engenharia Especializadas Empresas de Engenharia Especializadas Empresas de Engenharia Especializadas Operator Pesquisa 1/01 Operator Pesquisa 1/01 Operator Pesquisa 1/01 Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Pesquisa FAA 12/97 e Pesquisa OWG 6/97 Pesquisa FAA 12/97 e Pesquisa OWG 6/97 Pesquisa FAA 12/97 e Pesquisa OWG 6/97 Pesquisa OWG 35582 Pesquisa FAA 35765 e Pesquisa OWG 35582 Pesquisa FAA 35765 e Pesquisa OWG 35582 Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Fabricante ( Inspeção Visual) Operator Pesquisa 37627 Empresas de Engenharia Especializadas Empresas de Engenharia Especializadas Pesquisa OWG 35582 Engineering analysis, similar to DC10 Engineering analysis, similar to B744 Engineering analysis, similar to B744 Fabricante,1/01 Fabricante Fabricante Fabricante 119 Modelo de Aeronave Custo Fonte (Código OACI) CL60(3A/3R) US$ 17.500,00 Fabricante CL60(604) Fabricante **** CRJ1 **** Fabricante CRJ2 **** Fabricante CRJ7 **** Fabricante C500 US$ 101.259,00 Fabricante 11/02 C501 US$ 101.259,00 Fabricante,11/02 C525 US$ 58.000,00 Fabricante, 37663 C525A US$ 22.647,00 Fabricante, 37663 C550 US$ 111.500,00 Fabricante,11/02 C551 US$ 111.500,00 Fabricante,11/02 C560 US$ 42.953,00 Fabricante,11/02 C56X **** Fabricante, 37663 C650 US$ 74.918,00 Fabricante,11/02 C750 US$ 7.680,00 Fabricante,11/02 E135 US$ 17.500,00 Fabricante E145 US$ 17.500,00 Fabricante F2TH US$ 15.000,00 Fabricante F900 US$ 15.000,00 Fabricante FA50 US$ 15.000,00 Fabricante FA10 US$ 150.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas FA20 US$ 15.000,00 Fabricante GALX **** Fabricante GLEX **** Fabricante GLF2 US$ 235.000,00 Fabricante,11/02 GLF3 (S/N 426 e anteriores) US$ 226.200,00 Fabricante, 11/02 GLF3 (S/N427 e posteriores) US$ 14.000,00 Fabricante, 11/02 GLF4 US$ 14.000,00 Fabricante,11/02 GLF5 **** Fabricante, 11/02 H25A US$ 150.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas H25B US$ 32.500,00 Fabricante,3/01 H25C US$ 32.500,00 Fabricante,3/01 L29B US$ 150.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas LJ20 Series US$ 149.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas LJ31 US$ 46.000,00 Fabricante,11/02 LJ35 US$ 145.000,00 Fabricante,11/02 LJ45 **** Fabricante, 11/02 LJ55 US$ 155.000,00 Fabricante,11/02 LJ60 US$ 20.000,00 Fabricante,11/02 MU30 US$ 110.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas PRM1 **** Fabricante, 11/02 SBR1 US$ 139.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas SBR2 US$ 175.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas WW23 US$ 140.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas WW24 US$ 140.000,00 Empresas de Engenharia Especializadas **** Custo estimado como menor que US$ 100,00 por aeronave Fonte: [OACI, 2003d] 120 Anexo C: Modelo CARSAMMA de Monitoramento de Altitude Tabela C-1: Grupos de Monitoramento de Altitude BLOCO 1 Monitoramento de 2 aeronaves / grupo / operador Modelo de Aeronave (Código OACI) A306 A30B A310 A312 A313 A318 A319 A320 A321 A332 A333 A342 A343 A344 A345 A346 B712 B721 B722 B733 B734 B735 B736 B737 B738 B739 B741 B742 B743 B74S B744 B752 Grupo de Monitoramento G01 G02 G04 G05 G06 G07 G08 G09 G10 G11 G12 G13 G14 G15 G16 G17 G18 BLOCO 2 Monitoramento de 60% das aeronaves / grupo / operador Modelo de Aeronave (Código OACI) Grupo de Monitoramento A124 ASTR ASTR-SPX B703 B731 B732 BE40 BE20 C500 C25A C25B C525 C550 C56X C650 C750 CRJ9 DC86 DC87 DC93 DC95 F2TH FA50 FA50EX F900 F900EX F70 FA20 FA10 GLF2 GLF3 GALX G39 G40 G41 G42 G43 G44 G45 G46 G47 G48 G49 G50 G51 G52 G53 G54 G55 G56 G57 G58 G59 G60 G61 G62 G63 G64 G65 G66 G67 121 BLOCO 1 Monitoramento de 2 aeronaves / grupo / operador Modelo de Aeronave Grupo de (Código OACI) Monitoramento B762 G20 B763 B764 G21 B772 G22 B773 G23 CL60 G24 C560 G25 CRJ1 G26 CRJ2 CRJ7 G27 DC10 G28 E145 G29 E135 F100 G30 GLF4 G31 GLF5 G32 LJ60 G33 L101 G34 MD10 G35 MD11 G36 MD81 MD82 MD83 G37 MD88 MD90 BLOCO 2 Monitoramento de 60% das aeronaves / grupo / operador Modelo de Aeronave Grupo de (Código OACI) Monitoramento H25B G69 H25C G70 IL62 G71 IL76 G72 IL86 G73 IL96 G74 L29B G76 LJ31 G77 LJ35 G78 LJ36 LJ45 G79 LJ55 G80 SBR1 G81 T134 G82 T154 G83 T204 G84 P180 G85 PRM1 G86 YK42 G87 BLOCO 3 - Constituído por aeronaves não pertencentes a nenhum grupo (aeronaves não-grupo) - devem ser monitoradas a 100% da frota/operador; G38 Fonte: [CARSAMMA, 2003] 122 Anexo D: Fórmula de Bessell Fórmula de Bessell (Lei dos Cossenos Esférica) Admitindo que a Terra tenha formato aproximadamente esférico, a distancia geográfica entre dois pontos em sua superfície é distância percorrida sobre o círculo máximo que passa por esses dois pontos. As coordenadas geográficas dos pontos de referência devem obedecer a lei dos sinais do plano cartesiano, como mostrado na Figura D-1: Long - Lat - Long - Lat + equador Long + Lat - Long + Greenwich Lat + Figura D-1: Lei dos Sinais do Plano Cartesiano Assumindo que a terra é esférica e que seu raio é de 6366,76 km a aplicação da fórmula de Bessell ao triângulo esférico PBA resulta na expressão: cos( p ) = cos(a ). cos(b ) + sen(a ).sen(b ). cos(P ) onde: a = PB = 90° − Lat (B ) b = PA = 90° − Lat ( A) P = Long ( A) − Long (B ) p = arccos(cos(P )).6366,76 123 Glossário AEROVIA [DEPV, 1999b] - Área de Controle, ou parte dela, disposta em forma de corredor e provida de auxílios à navegação. APROXIMAÇÃO DE NÃO-PRECISÃO [DEPV, 1999b] - Aproximação por instrumentos baseada em auxílio à navegação que não possua indicação eletrônica de trajetória de planeio(glide slope). E.g: NDB, VDF, VOR. APROXIMAÇÃO POR INSTRUMENTOS [DEPV, 1999b] - Aproximação na qual todo o procedimento é executado com referência a instrumentos. ÁREA DE CONTROLE TERMINAL [DEPV, 1999b] - Área de controle situada geralmente na confluência de rotas ATS e nas imediações de um ou mais aeródromos. CONTINUIDADE [DEPV, 1999a] - Probabilidade de que se disponha do sistema de navegação durante uma fase da operação, supondo-se que se dispunha do mesmo ao iniciar a citada fase. DISPONIBILIDADE [DEPV, 1999a] - É a porcentagem do tempo que as informações prestadas por um sistema ou sensor são confiáveis para utilização, ou seja, é capacidade do sistema de proporcionar informações utilizáveis dentro de determinada zona de cobertura. A disponibilidade é função das características físicas do entorno e da capacidade técnica das instalações dos transmissores. INTEGRIDADE [DEPV, 1999a] – É a capacidade do sistema de navegação aérea de proporcionar aos usuários avisos oportunos nos casos em que o mesmo não deva ser utilizado. MEIO BÁSICO DE NAVEGAÇÃO [DEPV, 1999a] -São aqueles cuja performance dos auxílios de suporte é garantida pelo Estado brasileiro, dentro de um volume de operação prevista, proporcionando indicação de integridade e condições de continuidade, disponibilidade e precisão adequadas à condução de aeronaves em cada fase de vôo. MEIO PRIMÁRIO DE NAVEGAÇÃO (OACI, Circular 267-NA/159) - Sistema de navegação aprovado para uma dada operação ou fase do vôo, que cumpre com os requisitos de precisão e integridade especificados, mas não necessita cumprir com todos os requisitos de disponibilidade e continuidade. A segurança é alcançada limitando-se os vôos a períodos específicos ou impondo restrições operacionais. Não é necessário levar a bordo um meio básico de navegação para dar suporte ao meio primário de navegação. MEIO SUPLEMENTAR DE NAVEGAÇÃO [DEPV, 1999a] - Meio de navegação que deve ser utilizado em conjunto com um equipamento básico de navegação aérea. A aprovação de equipamentos suplementares para determinada fase do vôo exige que se transporte a bordo um equipamento básico de navegação aérea. Entre os requisitos de performance, um equipamento suplementar de navegação aérea deve satisfazer aos requisitos de precisão e de integridade para tal operação ou fase de vôo, não sendo necessário satisfazer aos requisitos de disponibilidade e de continuidade. ÓRGÃO DE CONTROLE DE TRÁFEGO AÉREO [DEPV, 1999b] - Expressão genérica que se aplica, segundo o caso, a um Centro de Controle de Área, Controle de Aproximação ou Torre de Controle de Aeródromo. PRECISÃO [DEPV, 1999a] - É o grau de conformidade entre a informação de posição e hora que proporciona o sistema de navegação e a posição e hora verdadeiras. ROTA ATS [DEPV, 1999b] - Rota especificada, de acordo com a necessidade, para proporcionar serviços de tráfego aéreo. A expressão "ROTA ATS" se aplica a aerovias, rota de assessoramento, rotas com ou sem controle, rotas de chegada ou saída etc. RUMO [DEPV, 1999b] - Direção da rota desejada, ou percorrida, no momento considerado e, normalmente, expressa em graus, de 000° a 360° a partir do Norte (verdadeiro ou magnético), no sentido do movimento dos ponteiros do relógio. TRANSPONDER [DEPV, 1999b] - Transmissor-receptor de radar secundário de bordo que, automaticamente, recebe sinais de rádio dos interrogadores de solo e que, seletivamente, responde, com um pulso ou grupo de pulsos, somente àquelas interrogações realizadas no MODO e CÓDIGO para os quais estiver ajustado. VETORAÇÃO RADAR [DEPV, 1999b] - Provisão de orientação para navegação às aeronaves, em forma de rumos específicos, baseada na observação de uma apresentação radar. VÔO IFR [DEPV, 1999b] - Vôo efetuado de acordo com as regras de vôo por instrumentos. 124 Referências Bibliográficas [Hess et al, 1980] Hess, G; Marques, J.L; Paes, L.C e Puccini, A.L; Engenharia Econômica, 11a ediçãoRio de Janeiro, 1980. [OACI, 1995] Organização de Aviação Civil Internacional, Circular 257-AT/106 Economics of Satellite-based Air Navigation Services – Guidelines for cost/benefit analyses of comunication, navigation and surveillance/air Ttaffic Management (CNS/ATM) Systems, 1995. [Eurocontrol/ATA, 1996] Eurocontrol/IATA, "Guidelines for the economic appraisal of EATCHIP projects – The effective use of cost-benefit studies", Junho de 1996. [FAA, 1996] Federal Aviation Administration, “GPS Transition Plan”, Julho de 1996. [Padilla, 1996] Padilla, Carlos E., Optimizing Jet Transport Efficiency. New York, NY. McGraw-Hill; 1996. [Galotti, 1997] V. P. Galotti Jr , “The Future Air navigation System (FANS)”, University Press, Cambridge, UK, 1997. 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[STNA, 2005] Service Technique de la Navigation Aérienne, Les procedures APV EGNOS, 2005. 128 FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO 1. CLASSIFICAÇÃO/TIPO TM 5. 2. DATA 3. DOCUMENTO N° 4. 07 de outubro de 2005 CTA/ITA-IEI/TM-009/2005 N° DE PÁGINAS 145 TÍTULO E SUBTÍTULO: Navegação Aérea Segundo o Conceito CNS/ATM: Custos e Benefícios 6. AUTOR(ES): Cristiani de Araújo Siqueira 7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES): Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica – ITA/IEI 8. PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR: CNS/ATM, Análise de Custo-Benefício, Tráfego-Aéreo, Nevegação Aérea 9. PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO: Controle de tráfego aéreo; Análise de custos; Auxílios à navegação; Navegação aérea; Transporte aéreo; Transportes X Nacional 10. APRESENTAÇÃO: Internacional ITA, São José dos Campos, 2005, 145 páginas 11. RESUMO: O aperfeiçoamento da navegação aérea segundo o conceito CNS/ATM inclui a implementação do Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) como elemento provedor de infra-estrutura de navegação e os conceitos de Navegação de Área (RNAV), de Performance de Navegação Requerida (RNP) e da Redução dos Mínimos de Separação Vertical (RVSM) como elementos de gestão de tráfego aéreo. A Organização da Aviação Civil Internacional considera estes elementos como solução de longo prazo para melhorar a eficiência e a segurança do espaço aéreo frente ao crescimento do tráfego. Todavia implementá-los significa investir para adequar operadores e Provedores de Serviço de Tráfego Aéreo às normas que regem a prática de tais elementos. Neste trabalho, a implementação da RNAV, da RNP, da RVSM e do GNSS como meio primário de navegação no espaço aéreo brasileiro são avaliadas qualitativamente. Para tanto, os custos e benefícios operacionais e econômicos, ligados a cada elemento citado, são investigados e contextualizados na realidade do país. A título de estudo de caso, uma análise quantitativa de custo-benefício da implementação da RVSM no Brasil é realizada. Os resultados obtidos foram favoráveis para a aviação comercial, enquanto que inviáveis para a aviação geral de forma agregada. A viabilidade da aviação geral deve portanto ser analisada caso a caso, segundo a utilização da aeronave em questão e seus custos de aprovação operacional. 12. GRAU DE SIGILO: (X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO 129
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