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Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 1 1 11/12/2007 12:11:07 Tendências em HIV•AIDS Volume 2 - Número 4 - 2007 Editor chefe Ricardo Sobhie Diaz – Universidade Federal de São Paulo Corpo editorial Adauto Castelo Filho – Universidade Federal de São Paulo André Lomar – Hospital Israelita Albert Einstein Artur Kalichman – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Artur Timerman – Hospital Heliópolis Breno Riegel – Hospital Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande do Sul. Celina Maria Pereira de Moraes Soares – Universidade Federal de São Paulo Celso Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro David Salomão Lewi – Universidade Federal de São Paulo – Hospital Israelita Albert Einstein Eduardo Sprinz – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Érico A. Gomes de Arruda – Hospital São José de Doenças Infecciosas do Ceará Esper George Kallas – Universidade Federal de São Paulo Estevão Portella – Universidade Federal do Rio de Janeiro Guido Levi – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo João da Silva Mendonça – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo José Luiz de Andrade Neto – Universidade Federal do Paraná Jeová Keny Baima Colares – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto USP Jorge Simão do Rosário Casseb – Médico Pesquisador do Laboratório de Imunologia 56 – LIM56 – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Márcia Rachid – Assessoria de DST/Aids da Secretaria do Estado do Rio de Janeiro Marcos Vitória – Organização Mundial de Saúde Marinella Della Negra – Instituto de Infectologia Emílio Ribas Paulo Feijó Barroso – Universidade Federal do Rio de Janeiro Reinaldo Salomão – Universidade Federal de São Paulo – Casa de Saúde Santa Marcelina Ricardo Pio Marins – Organização Panamericana de Saúde Rosana Del Bianco – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Unaí Tupinambás – Universidade Federal de Minas Gerais Valdez Madruga – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP ÍNDICE VACINA TERAPÊUTICA: REVISÃO E PERSPECTIVAS ..................................................................................................................................... 5 Jorge Casseb VIREMIA RESIDUAL DO HIV-1 EM INDIVÍDUOS SOB HAART: DESAFIO DA PERSISTÊNCIA VIRAL .......................................................... 10 Wagner Alkmim e Mário Janini EVOLUÇÃO DO HIV-1 DURANTE A INFECÇÃO PEDIÁTRICA ....................................................................................................................... 17 Elcio de Souza Leal e Wilson Pereira Silva A VARIABILIDADE DA REGIÃO V3 DO ENVELOPE DO HIV-1 ........................................................................................................................ 21 Wilson Pereira Silva e Elcio de Souza Leal DESTAQUES ..................................................................................................................................................................................................... 25 RESUMO DE TESES ......................................................................................................................................................................................... 27 Atha Comunicação & Editora Planejamento Editorial, Diagramação e Produção Gráfica Rua Machado Bittencourt, 190 - Cep: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308 E-mail: [email protected] 3 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 3 3 11/12/2007 12:11:10 EDITORIAL A má notícia mais recente relacionada à luta contra a epidemia causada pelo HIV vem com a suspensão dos estudos de vacina da empresa farmacêutica multinacional Merck. Para que se tenha uma idéia, esta vacina vinha sendo considerada a mais promissora entre todas as vacinas anti-HIV em desenvolvimento. Obviamente este fato representou um grande desapontamento a todos, principalmente àqueles que expressavam um grande otimismo relacionado especificamente a este componente vacial que vinha sendo testado por uma década. O componente testado consistia na expressão de 3 determinantes antigênicos do HIV, gag, pol e nef a partir de um vírus transgênico que causa o resfriado comum, o adenovirus. Observa-se que pessoas infectadas pelo HIV apresentam uma resposta de células T mais intensa contra estes componentes do HIV e desta forma conseguem combater o vírus mais eficazmente e apresentar uma progressão mais lenta ao colapso imunológico. Os pesquisadores então teorizaram que o estímulo desta resposta em voluntários não infectados ajudaria a combater o HIV de forma decisiva. Note que os objetivos mais realistas dos testes de vacina atualmente não eram necessariamente prevenir a infecção, mas sim solidificar a resposta imune celular para que a progressão ocorresse mais lentamente ou mesmo não ocorresse em caso de infecção pelo HIV. Nem isto aconteceu. O estudo de fase II que começou no final de 2004, recrutou 3.000 voluntários, a maioria nos Estados Unidos e América latina, e randomizou os voluntários a receber três doses de vacina ou de placebo em um período de 6 meses. A análise interina de 1500 voluntárias feita em setembro de 2007 confirmou 24 casos de infecção pelo HIV entre 741 voluntários que tomaram a vacina comparado a 21 casos de 762 participantes do grupo placebo. Mais relevante ainda, os indivíduos que utilizaram a vacina não apresentaram um basal de carga viral em níveis inferiores aos participantes do grupo placebo. Desta forma, após revisão cuidadosa, o painel de especialistas independente que avaliou os resultados recomendou a suspensão do estudo, mas com continuidade do monitoramento dos pacientes recrutados. O que deve ainda ser elucidado é o papel potencialmente facilitador do vetor, adenovirus 5, na aquisição da infecção, posto que aparentemente as pessoas com maior imunidade prévia a este vírus tiveram risco maior da aquisição do HIV. Tudo isto confirmando que o desenvolvimento de uma vacina a uma infecção que por si só não evolui para uma cura espontânea será um desafio formidável. As indicações são, portanto que mais estudos em ciência básica devem ser realizados e que a estratégia do estímulo não só da imunidade celular, mas também da imunidade humoral deverá ser adotada. Enquanto isto, todos os especialistas concordam que a melhor forma de se lidar com a expansão da epidemia é a prevenção. Neste contexto, ganham força os estudos focalizados em profilaxia pré-exposição, que na verdade atuam como pré e pós-exposição. Nestes estudos, pessoas engajadas em atividades de alto risco para aquisição do HIV utilizam diariamente um ou dois Inibidores da Trasncriptase Reversa análogos aos nucleosídeos. Interessante notar que outra abordagem relativamente simples, a circuncisão, pode diminuir em até 50% a aquisição do HIV. A simples retirada deste pequeno fragmento de pele, que é a região mais friável e rica em linfáticos da região peniana, e sua substituição por um tecido cicatrizado, tem um efeito protetor fenomenal. Mais do que isto, a circuncisão pode diminuir em até 70% a transmissão do HIV. Historicamente já sabíamos deste efeito protetor à transmissão sem realmente nos atentarmos ao fato. Parceiras de homens circuncidados desenvolvem menos câncer de colo de útero, que hoje se sabe, tem uma etiologia viral: o HPV. Ainda no campo das vacinas, uma perspectiva interessante está no desenvolvimento de vacinas terapêuticas. A supressão viral proporcionada pelos anti-retrovirais deve ter sempre como coadjuvante a imunidade do hospedeiro. Isto fica evidente no desempenho aos anti-retrovirais em recém nascidos, onde a supressão viral é mais custosa em decorrência provavelmente da ausência de um sistema imune plenamente amadurecido. Neste fascículo, o Prof. Dr Jorge Casseb desenvolve este assunto, apontando as vantagens deste potencial coadjuvante em relação à diminuição de custos, de efeitos colaterais do tratamento, bem como o potencial impacto na epidemia, tendo em vista a impossibilidade de erradicação da infecção pelo HIV até o momento. Estes aspectos da persistência viral são também discutidos no interessante artigo de Alkimin e Janini. Em tempo, Dr Casseb discute aspectos sobre a utilização de células dendríticas nas vacinas terapêuticas, citando esta linha inovadora de pesquisa que em verdade foi inicialmente desenvolvida aqui no Brasil. Enquanto isto, o controle da sobrevida dos pacientes se fia no tratamento combinado com anti-retrovirais, e a perspectiva de novas drogas para utilização no resgate de pacientes é muito promissora. Entre estas perspectivas encontramos novos inibidores de protease, os não peptídicos, como o Tipranavir e Darunavir, este último podendo estar disponível em breve no Brasil. Temos também recentemente registrado o inibidor de integrase Raltegravir, com excelente potencial no resgate pela sua enorme potência. Outra perspectiva animadora está no Maraviroc, inibidor de CCR5 também aprovado, que é um inibidor de entrada utilizado pela via oral. O Maraviroc deverá ser utilizado após um teste inicial de determinação do tropismo do HIV, que definirá a ação do medicamento. O uso das cada vez melhores associações de anti-retrovirais “antigos” para tratamento inicial e para o resgate precoce (primeiro resgate) e o potencial das novas drogas para os resgates mais complexos será fundamental para a manutenção da vida dos pacientes infectados pelo HIV, e isto é uma boa notícia. Ricardo Sobhie Diaz 4 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 4 4 11/12/2007 12:11:10 VACINA TERAPÊUTICA: REVISÃO E PERSPECTIVAS THERAPEUTIC VACCINE: REVIEW AND PERSPECTIVES Jorge Casseb Médico-Pesquisador do Laboratório de Imunologia e Dermatologia – LIM56 FMUSP Médico-Infectologista do Instituto de infectologia Instituto de Infectologia “Emílio Ribas”, Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Brasil. RESUMO Apesar do grande avanço nos últimos 10 anos no desenvolvimento de terapias anti-retroviral, o que transformou a AIDS em doença crônica requerendo tratamento por toda a vida. Entretanto, os desafios como prover tratamento anti-retroviral para milhões de pessoas que vivem em países pobres, além das limitações impostas pelas toxidades e resistência associadas com longo uso da terapia. O aumento da resposta imune específica anti-HIV pelo uso de uma vacina terapêutica pode ser uma alternativa ao uso continuo da HAART. Nesta revisão, o progresso do desenvolvimento da vacina terapêutica é discutida. Apesar das várias estratégias forma investigadas, o uso de células dendríticas, primadas pelo HIV são atrativas para seu uso terapêutico, porém novos estudos são necessários para testar essa hipótese. Descritores: HIV-1, Vacina, Terapia. ABSTRACT Highly active antiretroviral therapy (HAART) has transformed HIV-1 infection from an invariably fatal disease into a chronic infection requiring lifelong treatment. However, the challenges we still face are the urgent need to provide affordable sustainable therapy to the millions of infected individuals who live in resource-poor countries, and the limitations posed by serious drug toxicity and viral resistance associated with long-term therapy. Augmentation of HIV-specific immunity by therapeutic vaccination is a possible alternative to continuous HAART. In this review, progress in the development of therapeutic immunization strategies is discussed. The orchestration of a coordinated immune response by dendritic cells (DCs) make them an attractive target for pathogens to exploit to evade host immunity, as well as for use in therapeutic strategies to overcome this exploitation. Keywords: HIV-1, Vaccine, Therapeutic. INTRODUÇÃO A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), causadora da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) constitui um desafio sem precedentes na história moderna da Saúde Pública. Esta pandemia vem exigindo importantes medidas que mobilizam não só as autoridades sanitárias dos países envolvidos, mas também seus profissionais de saúde e Instituições de Pesquisa, na tentativa de minimizar seu impacto. Desde o início da epidemia, da década de 80 até os dias atuais, o Ministério da Saúde do Brasil registrou 410.000 casos de aids e estima que 600.000 indivíduos estejam infectados, o que corresponde a aproximadamente 1% do existente no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (Ministério da Saúde, 2004; World Health Organization, 2007). Vale ressaltar, entretanto, que este problema é sem dúvida muito maior em outros países em desenvolvimento. Pelo menos 500.000 pessoas morrem por ano em decorrência desta doença (World Health Organization, UNAIDS, 2007). Essa mortalidade sofre enorme impacto do grande número de indivíduos infectados e com aids que vive no continente africano. Verifica-se que mesmo com os sensíveis progressos obtidos pelo Programa de Aids do Ministério da Saúde, a doença ain- Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 05-07) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 5 5 da se constitui sério problema de saúde pública, tanto do ponto de vista da morbidade como da mortalidade. Além disso, apesar do impacto positivo sobre a mortalidade relacionada com a aids, o novo tratamento com drogas anti-retrovirais (ARVs) induz alterações clínicas e laboratoriais importantes em nosso meio (Casseb et al, 1999). De fato, o uso por longo prazo de ARVs, especialmente quando incluem os Inibidores da Protease (IP), tem sido associado a várias anormalidades nas concentrações séricas de lipídeos, com aumento do risco de doenças cardiovasculares, redistribuição inadequada da gordura corporal e resistência à insulina, que em regra também contribuem para a não adesão ao tratamento (Camy et al. 2007). Além das alterações decorrentes da terapia anti-retroviral, o aumento de pacientes com falência terapêutica e o reconhecimento de vírus altamente patogênicos exigem medidas imediatas, que deverão repensar o tratamento com drogas altamente potentes. Desta forma, outros esforços precisam ser empreendidos para inibir ao máximo a replicação do vírus e sua maior patogenicidade. Neste contexto, têm sido desenvolvidas novas estratégias para evitar o uso prolongado dos medicamentos que constituem a ARV e suas conseqüências. Entre elas destaca-se a suspensão intermitente das drogas anti-retrovirais e o uso de 5 11/12/2007 12:11:10 imunomoduladores tal como a interleucina 2, além da possibilidade de outras manipulações imunológicas mais específicas anti-vírus (El-Sadr et al. 2006; Durier C et al. 2007). Muitas destas estratégias não funcionam na prática clínica ou apresentam elevado custo e risco aos pacientes. Diante destas constatações, a utilização de vacinas terapêuticas e/ou o uso de imunomoduladores têm sido apontados como condição para aumentar a capacidade do organismo infectado de responder contra o vírus (Tabela 1). Isto poderia retardar o início da terapêutica anti-retroviral altamente potente, por manter os pacientes com baixa carga viral circulante. Isto implicaria uma melhor condição de vida, uma menor transmissão do vírus e diminuição efetiva do uso de drogas, sobretudo, também, a redução precoce da resistência aos anti-retrovirais, atualmente em evidência (Tabela 2). • Impacto da epidemia; • Alto custo do tratamento; • Restrições econômica ao acesso ao tratamento (principalmente nos países de maior prevalência da infecção); • Dificuldades de adesão ao tratamento; • Efeitos colaterais a médio e longo prazo; • Impossibilidade de cura apesar do tratamento antiretroviral. Tabela 1. Razões da necessidade de uma vacina terapêutica anti-hiv • Queda de um log na carga viral pode permite uma diminuição da transmissão do HIV; • Maior tempo de progressão da infecção assintomática para doença (aids); • Menor exposição do uso aos anti-retrovirais Tabela 2. Razões para investir em uma vacina terapêutica 2. Uso de vacinas terapêuticas Antes da terapia de alta eficácia (HAART) se tornar disponível, um número de estratégias foi realizado para avaliar o uso de vacina como terapia para os pacientes infectados pelo HIV-1 (Vacinas terapêuticas). A primeira geração de candidatas à vacina anti-HIV foi baseada nas proteínas do envelope, especialmente a gp 120. A indução de uma fraca resposta humoral (baseada na produção de anticorpos), não foi suficiente para conferir qual mudança na história natural da infecção durante os anos 90. O uso das proteínas do envelope como principais constituintes de uma potencial vacina terapêutica tem sido frustrantes em diferentes estudos (Birx DL et al. 2000). De fato, apesar desta primeiras gerações de vacinas terapêuticas terem se mostrado seguras e imunogênicas em fase II, a falência de indução de anticorpos de alta afinidade e com capacidade neutralizar isolados primários (obtidas de diretamente de pacientes) indicaram dificuldade para a realização de estudos fase III usando essa estratégia (Donnelly JJ, Barnett et al 2002). Ensaios clínicos usando peptídeos quiméricos derivados de diversas proteínas do HIV, assim 6 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 6 6 como diversos estudos em primatas, confirmaram que a estratégia baseada em peptídeo não seria suficiente para induzir anticorpos neutralizantes promíscuos (Gahery-Segard H,et al. 2000). Entretanto, melhoria nas vacinas de peptídeos poderiam prover uma eficiente ferramenta para induzir uma resposta celular contra múltiplos alvos do HIV. Talvez a grande dificuldade para ação dos anticorpos neutralizantes é a elevado nível de glicolização do envelope do HIV, que se eleva com o decorrer da infecção, e que proporciona um mecanismo de imune escape. A secunda geração de candidates a vacina foram desenhadas usando ou vetores vivos ou DNA que codificam diferentes genes do HIV. A tecnologia com recombinantes tem sido usada para produzir a segunda geração de vacinas candidatas. Vetores recombinantes com vírus canarypox que não infectam células humanas e tem sido segura em humanos até o momento. Trabalhos experimentais sugerem ser um caminho de entrega das vacinas com canaripox para as células dendríticas, isto poderá exarcebar a potência e a duração de resposta específica citotóxica (Larsson M et al. 2000). Estudos em camundongos assim como em primatas demonstraram que q vacinação com DNA pode induzir resposta antígeno-específica contra o HIV. Mais recentemente, uma vacina que usa o adenovírus 5 como vetor e que inclui gag, pol e nef mostraram resultados animadores em fase I/II, com promessa de imunomodular a resposta imune, ou seja mesmo que indivíduo não seja protegido da infecção, a evolução clínica pode ser favorável e atrasando a progressão para doença (Catanzaro AT et al. 2006). A terceira geração de vacinas, baseadas em proteínas regulatórias, não estruturais do HIV, como Tat, Rev, Nef tem sido utilizadas ultimamente. Alguns protocolos de imunização utilizam uma combinação de dois diferentes vacinas para induzir uma resposta ampla e mais imunogênica. Remune é um HIV-1 completo, mas morto, do envelope do subtipo A e gag do subtipo, e que foi depletado da 20. Essa vacina tem sido desenvolvida nos últimos 10 anos, e uma das primeiras candidatas a imunoterapia que entrou em fase II de ensaio clínico. Entretanto, apesar dos resultados desses ensaios indicam pouco benefício terapêutico, valiosos conhecimentos sobre os mecanismos protetores e estratégias de desenvolvimento de uma vacina terapêutica tem sido descritos (Bojak A, et al. 2002; Peters BS. et al 2002;20:88-705). Com objetivo de induzir uma resposta imune, DermaVir Patch tem sido desenvolvido. DermaVir consiste de um plasmídeo contendo DNA que codifica antígenos do HIV-1, é quimicamente formulado em uma nanopartícula. DermaVir é administrado debaixo de um patch depois que preparação da pele suporta a entrega da nanopartícula para as células de (LC). As LC epidermais capturam e transportam a nanomedicina para os nódulos linfáticos de drenagem. Enquanto em trânsito, as LC maduras se transformam em células dendriticas (DC), as quais eficientemente apresentam os antígenos codificados em DNA para as células virgens, o que leva a uma indução de resposta celular. Estudos préclínicos e fase I do DermaVir em pessoas infectadas pelo in HIV-1 demonstram segurança e tolerabilidade ao DermaVir Patch. Entretanto, novos estudos devem ser realizados, com uso de adjuvantes moleculares para melhorar a imunomodulação deverão ser adicionados na nanopartícula (Lori F, 2007). Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 05-07) 11/12/2007 12:11:10 APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DO USO DE CÉLULAS DENDRÍTICAS COMO VACINA TERAPÊUTICA Estudos experimentais em macacos endossam o uso de células dendríticas primadas in vitro, nos intervalos entre os ciclos de medicamentos anti-HIV. Protocolo recente registrou queda de meio a um log da carga viral plasmática de macacos submetidos a este regime terapêutico (Lu et al, 2004). Com base nesses resultados, os autores pressupõem que tal diminuição de vírus circulante possa aumentar o intervalo sem medicação anti-HIV no homem. Esses achados podem ter impacto em Saúde Pública, visto que poderão fazer diminuir a necessidade de atenção médica e, sobretudo, os gastos públicos com medicamentos. De maior importância poderia ser o emprego da vacina nos pacientes que respondem à ARV, mantendo ainda sua carga viral indetectável por longo período. Nestes casos, a vacina terapêutica poderia, ao estimular o sistema imune de uma forma específica, auxiliar na eliminação do vírus existente nos reservatórios, pouco vulneráveis à ação das drogas ARV. Este benefício poderia resultar em suspensão da ARV, terapêutica dispendiosa (cerca de U$ 1.500,00 / paciente / mês) com seus efeitos colaterais. Por outro lado, a utilização de uma vacina em indivíduos em falência terapêutica, poderá potencializar a resposta imunológica anti-HIV e se associar à ação residual das drogas anti-retrovirais, oferecendo maior sobrevida e melhor qualidade de vida a estes pacientes. A resposta imune ótima somente acontece onde ocorre controle viral; ou seja há necessidade de resposta anti-viral pelos me- dicamentos para que a vacina terapêutica funcione (Wherry et al. JV, 2005). Entretanto, estudos com primatas suportam essa idéia e que apresentação de antígenos pela DC podem parcialmente restaurar a incapacidade de resposta T CD4 específica (Connolly NC et al. 2007). Futuras estratégias Dados mais recentes, provenientes de indivíduos com controle virêmico permitiram identificar alguns fatores que podem ser úteis na estratégia para elaboração de uma vacina terapêutica eficiente no futuro. Como a expressão do haplótipo HLA-B*57, CTL dominante para Gag, menor magnitude e ampla resposta de resposta CTL específica anti-HIV, inibição variável da replicação viral pela CTL de diferentes especificidades, aumento na função de células T CD4+ e CD8+ , e anticorpos neutralizantes fracos. Entretanto, nenhum desses fatores sozinhos parecem indicar uma melhora da resposta imune e controle da viremia e subseqüente proteção com a progressão para a imunodeficiência decorrente da ação do HIV-1. deste modo, a próxima geração de vacina irá combinar estratégias que incorporam vetores virais vivos (adenovirus, canaripox) que carream genes do HIV e aplicação de reforços (Bloosters) com a gp120, pro exemplo. Além disso, o uso de adjuvantes que estimulam a apresentação de antígenos, com o genes que codificam a IL-12 e a IL-15, irão proporcionaram uma maior resposta imune. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Bojak A, Deml L, Wagner N. 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Catanzaro AT, Koup RA, Roederer M, Bailer RT, Enama ME, Moodie Z, Gu L, Martin JE, Novik L, Chakrabarti BK, Butman BT, Gall JG, King CR, Andrews CA, Sheets R, Gomez PL, Mascola JR, Nabel GJ, Graham BS; Vaccine Research Center 006 Study Team. Phase 1 safety and immunogenicity Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 05-07) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 7 7 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. evaluation of a multiclade HIV-1 candidate vaccine delivered by a replication-defective recombinant adenovirus vector. J Infect Dis. 2006 Dec 15;194(12):1638-49. Therapeutic dendritic-cell vaccine for chronic HIV-1 infection. Lu W, Arraes LC, Ferreira WT, Andrieu JM. Nat Med. 2004 Dec;10(12):1359-65. Connolly NC, Colleton BA, Rinaldo CR. Treating HIV-1 infection with dendritic cells. Curr Opin Mol Ther. 2007 Aug;9(4):353-63. Wherry EJ, Blattman JN, Ahmed R.Low CD8 T-cell proliferative potential and high viral load limit the effectiveness of therapeutic vaccination. 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AIDS. 2007 Sep;21(14):1887-1897. 7 11/12/2007 12:11:10 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 8 8 11/12/2007 12:11:10 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 9 9 11/12/2007 12:11:14 VIREMIA RESIDUAL DO HIV-1 EM INDIVÍDUOS SOB HAART: O DESAFIO DA PERSISTÊNCIA VIRAL HIV-1 RESIDUAL VIREMIA IN SUBJECTS ON HAART: THE CHALLENGE OF VIRAL PERSISTENCE Wagner Alkmim1, Mário Janini1,2 1 - Laboratório de Retrovirologia, Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina. 2 - Disciplina de Microbiologia, Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina. RESUMO A terapia antiretroviral combinada (HAART) reduz a viremia para níveis abaixo do limite de detecção dos ensaios clínicos ultra-sensíveis (usualmente níveis de RNA do HIV-1 no plasma abaixo de 50-400 cópias/mL, dependendo do sistema utilizado). Contudo, o HIV-1 persiste em células TCD4+ em repouso e, possivelmente, em outros reservatórios. A caracterização da viremia residual pode ajudar a esclarecer como e quais mecanismos o HIV utiliza para alcançar um estado de persistência viral. Além disso, investigações da viremia residual em indivíduos sob HAART jogam luz sobre quais abordagens para uma possível erradicação viral ou, ao menos remissão a longo prazo devem racionalmente ser estudadas. Esta revisão abordará os mecanismos de persistência do HIV-1 em indivíduos infectados com supressão viral pela HAART enfatizando os principais aspectos da infecção residual. Descritores: HIV-1, HAART, Latência, Doença residual ABSTRACT Highly Active Anti Retroviral Therapy (HAART) is able to reduce HIV-1 viral loads under detectable numbers, even if very sensitive assays are used (cut offs of 50 to 400 viral RNA copies per ml). However HIV is able to persist either in resting TCD4 or other cell types. Residual viral load studies may help us to understand how HIV is able to establish latency and which viral and host mechanisms are involved. Understanding viral latency is a way to eradicate or at least to suppress HIV for longer periods. This article will review some of the aspects of residual viral load in patients undergoing HAART. Keywords: HIV-1, HAART, Latency, Residual disease INTRODUÇÃO O HIV-1 replica-se em altos níveis na maioria dos indivíduos infectados não tratados durante a infecção, incluindo a fase de latência clínica. Os níveis de replicação viral ativa correlacionam-se diretamente com a progressão da doença. A terapia antiretroviral combinada (HAART) reduz a viremia para níveis abaixo do limite de detecção dos ensaios clínicos ultra-sensíveis (usualmente níveis de RNA do HIV-1 no plasma abaixo de 50-400 cópias/mL, dependendo do sistema utilizado)[1,2,3,4]. Pacientes que respondem bem a HAART não só diminuem drasticamente os níveis de RNA viral plasmático como também melhoram a contagem de células TCD4+ e, ao menos parcialmente, restauram a função imune. Portanto, não é surpreendente que a supressão da replicação viral, efetiva e sustentada, promova reduções significativas dos problemas 10 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 10 10 de saúde e morbiletalidade relacionados ao HIV-1, especialmente nos países em desenvolvimento[4,5,6,7]. Esta modalidade terapêutica alterou completamente a epidemia em muitas regiões do mundo. A era da HAART possibilitou o esclarecimento de questões clássicas na retrovirologia humana, como o rápido turnover que uma população viral pode sofrer frente a uma nova pressão seletiva, mas também gerou de novos problemas clínicos, como a resistência viral aos medicamentos e toxicidade medicamentosa [3,4]. Porém, mesmo na vigência da HAART o HIV-1 persiste em células T CD4+ em repouso e, possivelmente, em outros reservatórios, como macrófagos teciduais, os quais são células terminalmente diferenciadas. O reservatório latente em células T CD4+ tem uma meia-vida longa o que, provavelmente, impossibilitaria a erradicação viral atreves de HAART a menos que novas abordagens possam alcançar as células latente- Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 10-16) 11/12/2007 12:11:17 mente infectadas. Em pacientes sob HAART a persistência do HIV-1 é evidenciada não apenas pelo reservatório latente em células T CD4+ em repouso, mas também por vírus livre no plasma. Os vírions livres podem ser detectados por metodologias especiais, mesmo em pacientes com viremia clinicamente não detectável. Dado a meia-vida curta do vírus livre, a viremia residual indica produção viral ativa. Esta produção pode refletir o baixo nível de replicação em andamento que continua apesar da HAART e/ou da liberação de vírus das células latentemente infectadas que tornaram-se ativadas ou liberação contínua de outros reservatórios celulares estáveis[7-11,14]. A caracterização da viremia residual pode ajudar a esclarecer como e quais mecanismos o HIV utiliza para alcançar um estado de persistência viral. Além disso, investigações da viremia residual em indivíduos sob HAART jogam luz sobre quais abordagens para uma possível erradicação viral ou, ao menos remissão a longo prazo devem racionalmente ser estudadas [9,10,12,13]. Entretanto, é importante ser considerado de que a verdadeira erradicação viral pode ser extremamente difícil por muitas razões, incluindo o fato de que outras células, além daquelas do sistema imune (i.e. rins, coração, cérebro etc), são infectadas em baixos níveis pelo HIV-1 in vivo [10,14-17]. Esta revisão discutirá os mecanismos de persistência do HIV-1 em indivíduos infectados com supressão viral pela HAART. Tanto a latência quanto o baixo nível de replicação viral residual serão discutidos em termos de reservatórios de células do sistema imune e outros possíveis reservatórios. Estes parâmetros virais serão correlacionados com os problemas associados com a manutenção do controle a longo prazo das infecções pelo HIV-1 e com a busca de novos indicadores de replicação viral ativa. A natureza multifatorial da latência viral A latência retroviral é definida como provírus integrado com ausência de transcrição ativa. A latência, uma propriedade geral de todos os retrovírus, é uma das diversas interações vírus-célula que pode permitir a persistência do HIV-1 durante a supressão viral efetiva pela HAART. Contrariamente, o baixo nível de expressão viral crônica, ainda que produtiva, tem sido referido pelo termo replicação crítica. No caso da HAART, ainda não está totalmente esclarecido se existe ou não a replicação viral ativa a partir de células previamente infectadas [15-18]. A persistência viral ocorre após o sucesso inicial da supressão viral pela terapia ou resposta imune antiviral efetiva no hospedeiro infectado. A replicação viral crítica pode continuar em sítios imunológicos privilegiados, tais como cérebro, linfonodo, rins, baço etc. Igualmente, infecções virais não produtivas, mas transcripcionalmente ativas (isto é, múltiplos mRNAs virais processados mas sem vírions intactos) também podem ocorrer [16-19]. O ciclo replicativo do HIV-1 contém múltiplos estágios possíveis para a latência e persistência viral, tanto durante a pré quanto a pós-integração do genoma viral ao genoma celular humano (Figura 1) [16,79,80]. Inicialmente, o HIV-1 liga-se aos receptores e co-receptores celulares (receptor CD4 e co-receptores CCR5 e CXCR4), com Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 10-16) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 11 11 subseqüente internalização do core viral e transcrição reversa do template viral em um DNA dupla-fita. O DNA viral é então integrado ao genoma da célula hospedeira como DNA proviral. Neste momento o HIV pode atingir um estado de latência pós-integrativa depende do estado de ativação celular. A ativação transcripcional do provírus integrado é controlada por uma complexa série de interações entre proteínas regulatórias do HIV-1 (Tat e Rev) e fatores transcripcionais celulares, que são controlados pelo estado de ativação da célula hospedeira. O provírus ativado produz várias espécies de mRNAs e, em alguns casos, novos vírions [16,19,20-23]. Além da latência pós-integração, vários estudos de latência pré-integração têm sido descritos tanto in vitro quanto in vivo. A latência pré-integração ocorre quando o vírus infecta linfócitos T em repouso, os quais não oferecem as condições ótimas para a transcrição reversa do genoma do HIV. Porém nesta situação, transcritos virais longos podem se acumular nos centrossomas da célula por várias semanas, podendo ser ativados após a ativação celular, produzindo vírus e transcritos virais [78,80]. Dessa forma, a latência celular existe in vivo e o número de células latentemente infectadas pode variar de acordo com o estágio da doença. Como o HIV-1 infecta in vivo tanto linfócitos TCD4+ quanto monócitos/macrófagos, bem como outras células que não fazem parte do sistema imune, o vírus pode manter a latência molecular por diferentes mecanismos em diferentes tipos celulares [16,19,78]. O HIV-1 replica-se de forma extraordinariamente rápida em indivíduos infectados, com uma meia-vida do vírion no plasma de minutos. A vasta maioria desta replicação viral (acima de 99%) ocorre em linfócitos TCD4+ ativados e produtivamente infectados no sangue periférico e nos tecidos linfóides [2,14-17, 21,23]. Muitos estudos têm demonstrado que a latência clínica do HIV-1, não pode ser definida como ausência de expressão viral, em qualquer individuo infectado não tratado e em qualquer estágio da doença. Contudo, alguns estudos demonstram que nos indivíduos infectados algumas células contêm DNA proviral, mas expressam pouco ou nenhum RNA viral e produzem pouco ou nenhum vírion [4,8,9,13,15,16,21]. A análise do decaimento viral no plasma em pacientes inicialmente tratados com combinações potentes de drogas antiretrovirais demonstra um rápido decaimento de primeira fase de células produtivamente infectadas, uma segunda fase de decaimento de células de vida longa (possivelmente células de vida longa tais como macrófagos ligados ao tecido) e uma terceira fase de células persistentemente infectadas (linfócitos TCD4+ em repouso) [20-25]. A HAART quando efetiva bloqueia a infecção de linfócitos TCD4+ saudáveis e, a diminuição inicial dos níveis de HIV1 no sangue periférico reflete o aumento da expectativa de vida das células que foram infectadas antes do início do tratamento [21,23,24]. Baseado nesta complexa cinética celular e viral, com o lento decaimento das células infectadas em várias fases, a maioria dos indivíduos infectados pelo HIV-1 idealmente almejariam a supressão completa da replicação viral por décadas, sendo permitido imaginar-se uma possível erra- 11 11/12/2007 12:11:17 dicação viral. Contudo, este objetivo é dificultado por vários fatores, incluindo a limitação de tratamento ótimo, infecção em sítios imunologicamente privilegiados e compartimentos santuários in vivo, além da possível aquisição de resistência medicamentosa pela população viral [13,16,19,21,22]. Célula em Repouso Latência Pré-Integrativa Célula Ativada Infecção Produtiva Célula Retornando ao Repouso Latência Pós-Integrativa Figura 1. Infecção do HIV em linfócitos T ativados ou em repouso. Partícula do HIV em azul claro, genoma do HIV em vermelho, citoplasma celular em lilás, núcleo celular em cinza escuro, e genoma celular em cinza claro. (a) A infecção do HIV em linfócitos T não ativados em repouso, resulta no estabelecimento de uma frágil latência pré-integrativa, onde o genoma viral é mantido no citoplasma da célula (b) A Infecção em células T ativadas resulta na integração do provírus seguida de produção de progênie viral (c) Infecção de linfócitos T retornando a um estado de repouso pós-ativação, permite que haja a integração do provírus mas não a produção de proteinas virais ou progênie viral, caracterizando a latência pós-integrativa. Adaptado de Williams e Greene, 2007. Regulation of HIV-1 latency by T-cell activation. Cytokine. 2007 Jul;39(1):63-74. são primária do HIV-1 e durante a infecção perinatal também mostrou ser incapaz de interromper o desenvolvimento desse reservatório de vírus de replicação competente em linfócitos TCD4+ [19,26,29,31,33]. Provírus de replicação competente, latente, foram demonstrados principalmente em linfócitos TCD4+ de memória em repouso (CD45RO), mas um baixo nível de vírus competentes também foi encontrado em linfócitos TCD4+ naive (CD45RA) em repouso em pacientes com viremia suprimida pela HAART. Foi sugerido que células TCD4+ naive são raramente diretamente infectadas, mas que células TCD4+ naive albergando provírus são geradas através da reversão de um fenótipo de memória [19,29,31-36]. A maioria dos vírus isolados de células TCD4+ em repouso do sangue periférico de pacientes com níveis indetectáveis de RNA viral no plasma tem poucas mutações que conferem resistência aos antiretrovirais [16,19,37]. Como mutações de resistência nos genes da transcriptase reversa e protease do HIV-1 correlacionam-se com o andamento da replicação viral apesar do tratamento, estes achados sugerem que estes isolados virais podem representar uma espécie de arquivo de um período antes do tratamento. Notavelmente, um estudo demonstrou que mutações de resistência podem ocorrer em pacientes com HAART viralmente supressiva que apresentam picos transientes de vírus acima de 50 cópias/mL [37,38]. Dados dos estudos acima mencionados demonstraram que mesmo que provírus defectivos possam se acumular em linfócitos TCD4+ in vivo, provírus de replicação competente podem ser detectados em células TCD4+ em repouso o que pode retardar a diminuição dos reservatórios virais e pode realimentar o hospedeiro com vírus se a HAART é descontinuada. Estas possibilidades, portanto, confundem nossas tentativas de mediar farmacologicamente a erradicação viral. Além disso, um estudo recente também demonstrou HIV-1 de replicação competente em monócitos do sangue periférico de pacientes com supressão viral pela HAART [38-40]. O Tecido Linfóide Associado ao Intestino (GALT) também parece ser um importante sítio para a replicação precoce do HIV-1 nas mucosas. O tecido linfóide das mucosas, com um alto baseline de ativação de células T, pode ser um reservatório crítico, além do sangue periférico, para a formação da viremia residual em pacientes sob HAART. As células tubulares epiteliais dos rins parecem ser outro reservatório potencial em certos pacientes sob HAART [12,16,40,41]. A latência do HIV-1 em linfócitos T Replicação viral crítica Linfócitos TCD4+ não ativados, persistentemente infectados podem ser detectados no sangue periférico de indivíduos infectados após tratamento capaz de suprimir eficientemente a maioria da infecção viral produtiva [1,2,16,19,21]. Vírus de replicação competente podem ser recuperados destas células provirais positivas após a depleção in vitro de linfócitos TCD8+ [24-27] . A maioria desses vírus apresenta tropismo por CCR5 (vírus R5) [28-30]. Além disso, este reservatório celular é estabelecido logo após a infecção primária e pode ser ativado por citocinas pro-inflamatórias in vitro e, potencialmente também, in vivo. A supressão pela HAART iniciada antes da soroconver- 12 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 12 12 Linfócitos TCD4+ persistentemente infectados contendo DNA proviral quiescente, mas não defectivo e o baixo nível de replicação viral poderiam ser responsáveis por vírus de replicação competente nos linfócitos TCD4+ do sangue periférico e células seminais de indivíduos infectados sob HAART [16,29,31,41,56]. A replicação viral poderia ocorrer em níveis tão baixos que os vírus não seriam detectáveis nos fluídos periféricos com ensaios clínicos padrão. Baixos níveis de células produtivamente infectadas poderiam infectar um pequeno número de célulasalvo ao redor do microambiente celular. Um estudo demonsTendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 10-16) 11/12/2007 12:11:17 trou que, numa minoria de pacientes sob HAART (supressiva) ocorreu uma modesta evolução de seqüências do envelope viral ao longo do tempo da infecção [48]. Outro estudo demonstrou que durante o que parece ser a supressão total do HIV-1 no plasma, como determinado por ensaios de RNA, há replicação viral em andamento na maioria dos pacientes em algumas coortes, como verificado pela evolução das sequências virais em reservatórios celulares [49]. Surpreendentemente, esses arquivos virais não demonstram mutações de resistência antiretroviral, mesmo naqueles isolados que poderiam apresentar baixo nível de replicação, podendo sugerir que as drogas não consigam ter acesso eficiente a estes arquivos do HIV [42-49]. Em estudos mais recentes [49-52], medidas sensíveis do footprint da replicação viral persistente foram usadas para avaliar espécies de mRNA e formas circulares do HIV-1 formadas pela auto-ligação do DNA proviral por ligases nucleares da célula após o transporte do complexo pré-integração ao núcleo. Essas formas circulares do HIV-1 foram verificadas nos linfócitos TCD4+ da maioria dos indivíduos infectados com viremia suprimida pela HAART. As formas circulares e níveis quase constantes de mRNA sugerem a existência de baixa replicação viral. Embora tenha sido sugerida que as formas circulares com duas LTRs, tenham uma meia vida curta, insignificante para a manutenção viral, isto ainda não está claro e requer estudos adicionais [51-55]. Formas circulares do HIV-1: um novo parâmetro indicativo de infecção residual No início da infecção retroviral, particularmente nas primeiras seis horas após a infecção, o RNA viral é transcrito reversamente no citoplasma celular e produz uma única cópia de cDNA linear flanqueado por LTRs. Então, o DNA viral migra ao núcleo da célula hospedeira onde é covalentemente integrado ao cromossomo celular pela ação da enzima integrase viral. Após a integração, o DNA viral é transcrito em RNA para ser usado ou como mRNA para a síntese de proteínas virais ou como RNA genômico para a progênie de vírions [56-62]. Alternativamente, uma parcela dos genomas de DNA viral linear, transcrito reversamente, pode sofrer reações de circularização, por ação de enzimas celulares, evitando sua integração subseqüente devido à perda de nucleotídeos conservados nas seqüências LTR terminais. Este processo de circularização ocorre após a conclusão da síntese do cDNA viral no citoplasma celular e da translocação do genoma viral ao núcleo da célula hospedeira. Deste modo, o núcleo da célula infectada contém várias formas circulares de DNA viral além do DNA linear sintetizado no citoplasma [62-63]. A circularização das moléculas de DNA viral lineares pode ser realizada por, ao menos, quatro processos. No primeiro, o DNA viral linear não integrado torna-se circularizado pela ligação direta dos seus dois finais, formando um círculo com duas seqüências LTRs. Em um segundo processo, a recombinação homóloga entre as seqüências LTRs resulta na formação de um círculo contendo uma única cópia de LTR. Em uma terceira via, formas circulares contendo apenas uma LTR também podem ser formadas a partir de intermediários da transcrição Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 10-16) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 13 13 reversa que são degradados antes de completar a síntese do DNA linear. Em um quarto processo, designado auto-integração, o próprio DNA viral pode ser usado como um alvo para a integração, resultando em formas circulares rearranjadas [60-63]. A estrutura do DNA viral integrado no genoma da célula hospedeira é idêntica à da molécula linear não integrada exceto pela ausência de dois pares de base de cada LTR terminal nos sítios de ligação ao DNA celular e, há evidências convincentes que a forma linear não integrada é o precursor direto do provirus integrado. Além disso, a forma circular mais abundante no núcleo é aquela que contém somente uma seqüência LTR. Quanto às concentrações das formas de DNA viral no núcleo, sabe-se que a concentração do DNA linear permanece relativamente constante e baixa, enquanto que a formas circulares não integradas e dos provírus integrados acumulam com o tempo [64-66]. Os atuais regimes de terapia antiretroviral diminuem os níveis de RNA viral no plasma em quantidades indetectáveis (<50cópias/mL), entretanto fracassam em eliminar os vírus de outros compartimentos do organismo infectado. Estes níveis de viremia extremamente baixos poderiam ser resultantes da liberação de vírus de células infectadas cronicamente ou células infectadas latentemente que se tornam ativadas. Alguns trabalhos sugerem que as formas circulares são detectadas quando a replicação viral permanece ativa, mesmo que em baixos níveis [66-69]. Vários estudos investigando os níveis dessas formas circulares em linhagens celulares infectadas com HIV-1 in vitro, concluíram que ocorre um rápido acúmulo e decaimento do DNA epissomal (circular) não integrado. Baseados nesta observação, os autores afirmam que essas moléculas poderiam ser úteis como marcadores de infecção recente por serem instáveis in vivo, possuindo uma meia-vida curta não excedendo 48 horas em células em divisão [70-72]. Entretanto, outros estudos indicam que cDNAs epissomais virais são altamente estáveis in vitro, ao menos em experimentos prolongados por poucos dias, e a diminuição da concentração destas formas circulares deve estar relacionada à sua diluição resultante da divisão celular, à sua degradação por nucleases celulares ou à morte de células infectadas [61,68-70]. Sabe-se que os epissomos virais não integrados são incapazes de se replicar uma vez que não contém origens de replicação. Porém, ainda não há evidências se as formas extracromossomais do DNA viral são produtos terminais da transcrição reversa ou se possuem capacidade de suportar transcrição na ausência de integração. De qualquer forma, alguns autores não acreditam que possa haver processos apoptóticos em células contendo formas circulares extracromossomais virais, devido aos seus efeitos citopáticos [64]. A detecção dos níveis altos de formas circulares do HIV-1 está relacionada ao diagnóstico clínico da demência associada à aids, pela presença de grande quantidade de formas circulares contendo uma LTR no cérebro de pacientes soropositivos, o que poderia sugerir uma intensa replicação viral. Há também evidências moleculares de que os altos níveis de replicação viral podem ser associados com a presença de células gigantes multinucleadas e demência. Além disso, existem relatos de 13 11/12/2007 12:11:19 que o LTR do HIV-1 não é um determinante de neurotropismo. Isto sugere que replicação do HIV-1 e não somente a presença do DNA circular do vírus dentro de células gigantes tem uma importante contribuição para os danos ao sistema nervoso central [70-73]. A disponibilidade de métodos alternativos para quantificar os níveis de DNA circular do HIV-1 é necessária já que poderia facilitar a comparação da eficácia de diferentes regimes HAART. Isto permitiria a avaliação do verdadeiro grau da supressão virológica em pacientes com cargas virais plasmáticas indetectáveis, uma vez que qualquer aumento nos níveis de DNA circular de HIV-1 neste cenário poderia estar relacionado aos baixos níveis de replicação viral, porém contínua, em curso nos tecidos [68-72]. Ademais, a quantificação das formas circulares do HIV-1 seria extremamente útil para a avaliação da eficácia de terapias baseadas na imunidade às quais objetivam a remoção de reservatórios de DNA de HIV-1. Portanto, espera-se melhorar o uso de agentes antiretrovirais na prática clínica com o desenvolvimento de novos métodos que possam detectar e quantificar as formas circulares do HIV-1 [72]. Atualmente, estudos importantes visam detectar a presença e a viabilidade das formas circulares em momentos específicos da infecção. Os achados dessas pesquisas poderão revelar questões relevantes sobre os mecanismos que regem o processo de replicação e manutenção viral, bem como jogar luz às investigações de infecção residual do HIV-1 e a relevância do reservatório viral. Tratamento da viremia residual do HIV-1 Hoje, várias opções de tratamento que visam livrar o organismo das células infectadas pelo HIV-1, as quais podem produzir vírus de replicação competente em pacientes sob HAART efetiva estão sendo exploradas [58]. Baseado em nosso entendimento da patogênese lentiviral, abordagens podem ser desenvolvidas para ativar células persistentemente infectadas, as quais podem levar a morte celular induzida por vírus e expurgá-los dos santuários virais. Na teoria, abordagens de ativação para a eliminação de células latentemente infectadas não levaria ao aumento de células infectadas recentemente, uma vez que os vírus disseminados seriam prevenidos pela HAART. Além disso, vários estudos investigam a função de imunotoxinas especificas para depletar o reservatório proviral, após o estímulo da transcrição viral de provírus integrados e o direcionamento da replicação viral [16,19,22,73-77]. Como baixos níveis de replicação viral crítica contínua ocorrem em muitos indivíduos infectados pelo HIV-1 sob HAART, a “intensificação” terapêutica deve ser adicionada à terapia combinada inicial para reduzir ou eliminar esta replicação viral se a erradicação é um objetivo [73-77]. A utilização de abordagens para eliminar apenas os reservatórios virais latentes não terá sucessos. Estudos adicionais sobre a penetração de diferentes agentes farmacológicos através de barreiras hemato-tissulares (i.e. barreira hematoencefálica, por exemplo) serão de importância no ataque a potenciais sítios santuários, que podem conter tanto células suportando a replicação viral quanto células latentemente infectadas[75-78]. Certamente, combinações dessas abordagens também podem ser requeridas para a eliminação dos reservatórios do HIV-1 in vivo. Foi sugerido que essas combinações deveriam abordar o tratamento do HIV-1 como um “paradigma oncológico”. Isto incluiria HAART efetiva como “indução da terapêutica” e então abordagens adicionais contra a latência do HIV-1, replicação crítica e sítios santuários para a remoção da doença residual. Alguns testes clínicos de intensificação (i.e. hidroxiuréia mais didanosina) combinada com terapia estimulatória (i.e. baixas doses de OKT3 mais IL-2) em indivíduos infectados com viremia suprimida pela HAART demonstraram que essas combinações poderiam perturbar e alterar, mas não totalmente eliminar o HIV-1 dos reservatórios in vivo [75-78]. A complexidade de reservatórios virais durante a infecção pelo HIV-1 é significativa e atualmente a HAART provavelmente não erradicaria o vírus dos indivíduos infectados. Contudo, houve um marcante progresso no entendimento da patogênese da aids e no desenho racional de terapias antiretrovirais na última década. Foram notáveis também os avanços em pesquisas básicas e sua necessidade intrínseca de correlação com a prática clínica, particularmente nos países emergentes. Isto facilmente nos ajudará no desenvolvimento de abordagens efetivas visando o controle e a remissão da infecção residual do HIV-1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 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Embora as nuances da resposta imunológica em nível celular durante a infecção pediátrica por HIV - 1 fui abordada, existe uma falta de estudos focando sobre as conseqüências deste atraso e redução da resposta imunológica no nível populacional. Descritores: Infecção pediátrica, Diversidade viral, HIV-1 ABSTRACT Pediatric HIV-1 infection presents remarkable features that are distinct from those observed in adult infection. In vertically HIV-1infected children, the viral load declines more slowly, and the cytotoxic T-lymphocyte response emerges late, only after the sixth month of life. This response generally tends to be narrow and less intense than that seen in adults. While the nuances of immune response at the cellular level during pediatric HIV-1 infection have been addressed, there is a lack of studies focusing on the consequences of this delayed and narrowed immune response at the population level. Keywords: Pediatric infection, Viral diversity, HIV-1 INTRODUÇÃO A alta variabilidade genética do vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) é devida à alta taxa de erro da transcriptase reversa viral (RT) e elevada produção de partículas virais durante a infecção (Bebenek et al.,1989; Mansky e Temin, 1995; Nowak, 1990; Perelson et al.,1996). A evolução adaptativa do HIV-1 no hospedeiro é impulsionada principalmente pela pressão seletiva exercida pelo sistema imunológico contra proteínas virais (Ross e Rodrigo, 2002; Williamson, 2003). A resposta dos linfócitos-T citotóxicos (CTL) desempenha um papel essencial na restrição da replicação do HIV-1 em indivíduos infectados (Draenert et al.,2004; Jamieson et al.,2003; Kalams et al.,1999; McMichael e Rowland-Jones, 2001; Musey et al.,1997; Sabbaj et al.,2002). Assim, a infecção aguda pelo HIV-1 no adulto é caracterizada por um grande pico de carga viral, seguido por um declínio rápido a um nível relativamente estável durante os meses seguintes da infecção (Betts et al.,2001; Borrow et al.,1994; Schmitz et al.,1999). Este declínio da carga viral coincide com o aparecimento de resposta imune celular (mediada por células CD8) específicas contra diferentes fragmentos das proteínas do HIV-1 (epitopos) (Harrer et al.,1996; Koup et al.,1994. Ogg et al.,1998). Infecção pediátrica pelo HIV-1 A resposta imune celular (células T citotóxicas circulantes) e humoral estão associados à manutenção da carga viral em Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 17-20) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 17 17 níveis baixos durante a infecção aguda e crônica em indivíduos que progridem lentamente para a AIDS (Geffin et al., 2003). Ademais, alguns estudos sugerem que a progressão lenta para AIDS também esteja associada à presença de resposta citotóxica direcionada aos diferentes epitopos do gene gag (Klein et al., 1995; Riviere et al., 1995; Betts et al., 1999). Por outro lado, estudos realizados in vitro, evidenciaram que a resposta de CTL está direcionada principalmente contra poucos epitopos dos genes env e pol, sugerindo que a progressão tende a ser rápida (Goulder et al., 1997; Hay et al., 1999; Zhang et al., 1994). Dessa forma, não somente a presença de atividade CTL, bem como a especificidade, duração e abrangência da resposta contra os diferentes tipos de epitopos, são de fundamental importância na manutenção da replicação do HIV-1 em níveis baixos. A infecção aguda pelo HIV-1 em adultos é caracterizada por um alto pico de carga viral que declina rapidamente durante aproximadamente 3 a 4 meses após a infecção até alcançar a estabilidade (Sandberg et al., 2003). Este declínio da viremia coincide com a emergência da resposta mediada por células T citotóxicas (Musey et al., 1997; Phillips, 1999). Em contraste, a carga viral das crianças é muito alta e o declínio da viremia é mais lento. Esta elevada carga viral encontrada em crianças recém-nascidas pode estar relacionada com a alta produção de partículas virais no timo, uma vez que crianças possuem um elevado número de células T CD4 circulantes e porque a resposta de CTL ocorre somente após 6 meses de idade. Além disso, estudos demonstraram que a sobrevida das crian- 17 11/12/2007 12:11:19 ças infectadas é menor do que a dos adultos infectados, o que pode ser explicado por alguns fatores incluindo: imaturidade do sistema imune, falha na aquisição da imunidade materna, momento da transmissão ou carga viral materna, taxa de replicação viral, indução de sincício, diminuição de células T CD4 e a infecção no timo (Zang et al., 2006). A dinâmica da infecção pelo HIV-1 em crianças parece ser muito distinta daquela observada em adultos. Em crianças observa-se que a carga viral do HIV-1 declina muito mais lentamente após a infecção inicial (Mofenson et al., 1997; Pillay and Phillips, 2005; Shearer et al., 1997). A média da carga viral se mantém em níveis elevados durante os três primeiros anos de vida, depois declina gradualmente para níveis semelhantes aos observados em adultos infectados (McIntosh et al.,1996; Shearer et al., 1997). Em adição, a resposta CTL é raramente observada antes do sexto mês de idade na infecção maternoinfantil. Nessas crianças, a resposta CTL geralmente tende a ser restrita e menos intensa do que a observada em adultos infectados (Buseyne et al.,1998; Chandwani et al.,2004; Luzuriaga et al.,1995; McFarland et al.,1994; Sandberg et al.,2003; Scott et al.,2001). O atraso no desenvolvimento da resposta imune celular contra os epítopos do HIV-1 observados em crianças infectadas pode induzir tolerância a alguns peptídeos virais. Este mecanismo é semelhante a tolerância induzida pela infecção neonatal de camundongos pelo vírus de tumor mamários de camundongos (MMTV) (Adkins, 1999). Alternativamente, a resposta imune observada durante a infecção pediátrica pelo HIV-1 pode indicar que os primeiros peptídeos virais expostos induzem uma resposta exacerbada e ineficaz do sistema imunológico das crianças (Sandberg et al.,2003). autores relatam que a diversificação está diretamente relacionada com a progressão para AIDS (Holmes et al.,1992; Strunnikova et al.,1995), enquanto outros têm encontrado o oposto (Ganeshan et al.,1997; Wolinsky et al.,1996). Alguns estudos, usaram uma abordagem diferente: comparando a contribuição relativa das mutações adaptativas em indivíduos com progressão lenta da doença (Ross e Rodrigo, 2002; Williamson, 2003). Os autores destes estudos identificaram altas taxas de mutações adaptativas no gene env do HIV-1 nos pacientes que passaram por períodos longos de fase assintomática. Mais recentemente, evidências adicionas da ação direta da intensidade da resposta imune celular como o principal fator de diversificação do HIV foram obtidas em adultos (Lemey et al., 2007). Poucos estudos que avaliaram a diversificação do HIV-1 especificamente durante a infecção pediátrica. Na maioria desses estudos buscou-se estabelecer uma ligação entre a diversidade viral com a progressão e severidade da AIDS (Briant et al., 1995; Ganeshan et al., 1997; Pasquier et al., 1998; Wade et al., 1998). Estudos mais recentes avaliaram o efeito da perda de diversidade genética e pressão seletiva induzida por anticorpos maternais durante a transmissão materno-infantil (Dickover et al., 2006; Edwards et al., 2006). Igualmente, um estudo em crianças infectadas pelo HIV-1 do subtipo C mostrou que períodos mais longos de fase assintomática estão diretamente associados com pressão seletiva mais intensa (Walker et al., 2007). Dessa forma, a magnitude da resposta imune pode ser avaliada indiretamente pela estimativa do padrão de seleção dos genes do HIV. Evolução do HIV-1 na Infecção pediátrica A transmissão materna de variantes de escape imunológico tem sido relatada principalmente em crianças que partilham os mesmos alelos do MHC com suas respectivas mães (Cheynier et al.,1992; Goulder et al.,2001. Nesses casos, o escape dos mutantes foi previamente selecionado e em seguida, transmitido a um hospedeiro que compartilham o mesmo alelo MHC, o que poderia abreviar o processo de adaptação nos próximos variantes. No entanto evidências filogenéticas indicam, que grande parte das mutações que surgem nas mães e eventualmente são transmitidas às crianças (transmissão vertical) desaparecem no decorrer da infecção pediátrica apesar da resposta celular surgir após o sexto mês de idade (Sandberg et al., 2003). Desse modo, o sucesso de variantes capazes de evadir à resposta de células T citotóxicas está restrita às crianças que possuem o mesmo perfil de haplótipo de MHC que as mães. Nesses casos observa-se que as crianças são incapazes de controlar a replicação viral e progressão para AIDS tende a ser bastante rápida (Pillay e Phillips, 2005; Sanchez-Merino et al., 2005). Por outro lado, a resposta por anticorpos neutralizantes é gerada rapidamente e pode contribuir bastante para o controle da replicação do HIV em crianças (McAdam, Gotch, 1999; Moore et al., 2002; Nájera et al., 1995; Rouzine & Coffin, 1999a; Yusim et al., 2002; Pillay & Phillips et al., 2005; Lemey et al., 2007). Embora seja amplamente aceito que existe uma grande diferença na infecção pelo HIV-1 entre adultos e crianças, em termos de resposta imune celular, pouco se sabe sobre o padrão evolutivo do vírus durante a infecção pediátrica. Embora a presença de seleção positiva tenha sido detectada em muitos genes do HIV-1 (Yang et al., 2003). Acredita-se que a pressão seletiva nas regiões C2 e V5 do envelope viral, pode estar diretamente correlacionada com a progressão para AIDS na infecção pediátrica (Ganeshan et al.,1997). Paralelamente, em adultos HIV-1 infectados, a intensidade de seleção está diretamente relacionada com a gravidade da doença (Ross e Rodrigo, 2002). De forma que em indivíduos com progressão mais rápida para AIDS a seleção positiva nos genes virais é menos intensa. Outro fator importante associado diretamente com a pressão seletiva é o surgimento de variantes do HIV-1 capazes de escapar à resposta do sistema imunológico do hospedeiro. Nesse sentido, observou-se que variantes de escape da resposta imune podem surgir logo no início da infecção pelo HIV-1 e que esse processo está associado com a intensidade da resposta imune celular (Borrow et al., 1997, Ganeshan et al.,1997 e Price et al., 1997). Transmissão materno-infantil Influência da diversidade viral no curso da doença DISCUSSÃO Muitos estudos têm focalizado sobre a diversificação de HIV e sua influência no curso da doença em adultos (Holmes et al.,1992; Shankarappa et al.,1999; Wolinsky et al.,1992; Wolinsky et al.,1996). Esses estudos, no entanto, produziram resultados contraditórios e inconclusivos quanto a relevância da diversidade genética viral e a progressão da doença. Alguns Visto que o sistema imunológico em crianças não está completamente desenvolvido como nos adultos, o curso natural da infecção pediátrica pelo HIV-1 apresenta algumas peculiaridades. Notadamente a resposta imune em crianças com idade entre 0 e 3 anos é pouco eficiente à infecção pelo HIV-1, contudo crianças com idade superior a 4 anos são capazes 18 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 18 18 Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 17-20) 11/12/2007 12:11:20 de montar uma resposta bastante eficaz contra o as proteínas (Sandberg et al, 2003; Pillay e Phillips, 2005). Essa diferença na intensidade da resposta imune ao HIV-1, observada em crianças, sugere que o processo de diversificação dos genes virais pode ser mais lento durante a infecção pediátrica (Buseyne et al., 2006). Vários estudos abordaram a relação entre da diversidade do HIV-1 e progressão para AIDS. Existe um consenso nesses estudos no sentido que quanto mais intensa a resposta imune (celular e humoral) dirigida às proteínas virais mais diversificada a população viral no hospedeiro. No entanto não se sabe se a diversificação do HIV-1 afeta a progressão para a AIDS ou se é simplesmente uma decorrência direta do tempo de infecção. Assim, adultos infectados pelo HIV-1 que apresentam progressão rápida para AIDS possuem uma população viral mais homogênea e pouco diversificada, enquanto que em adultos que progridem lentamente possuem a população viral é mais heterogêneas. Igualmente, em crianças infectadas pelo HIV-1 observou-se que em pacientes que progridem lentamente para AIDS, as proteínas viras sofrem mais pressão seletiva (Walker et al., 2007). Assim, as taxas evolutivas do HIV-1 nesses pacientes são mais elevadas que em crianças com a progressão mais rápida. Outra análise feita em pares mães-filhos mostrou que a taxa de diversificação do HIV-1 ao longo do tempo em crianças é similar àquela observa em adultos (Leal et al., 2007). 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Evol. 57, 212-221 Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 17-20) 11/12/2007 12:11:20 A VARIABILIDADE DA REGIÃO V3 DO ENVELOPE DO HIV-1 DIVERSITY OF THE V3 REGION OF ENVELOPE OF HIV-1 Autores: Wilson Pereira Silva1, Elcio de Souza Leal1 1- Pos-doutorando da Universidade Federal de São Paulo RESUMO A região V3 da gp120 é fundamental para diversas características biológicas do HIV. Além da ligação do vírus a célula, há resposta imunodominante de anticorpos são dirigidas principalmente contra a região V3. A região V3 também determina qual dos dois correceptores de quimiocinas (CCR5 ou CXCR4) será utilizado para a entrada. Quase metade dos indivíduos infectados pelo HIV-1 muda o uso do correceptor de quimiocina durante a progressão da infecção. Na fase inicial da infecção por HIV-1, os vírus isolados são tipicamente os variantes R5, que apresentam tropismo para os correceptor CCR5, do que os variantes X4, que preferencialmente utilizam os correceptores CXCR4, os quais surgem mais tarde na infecção. Estes variantes têm propriedades distintas, e o aparecimento de variantes X4 tem sido associado com menor contagem de células CD4 e a rápida progressão da doença. No entanto, a razão para a mudança do uso do correceptor, bem como a razão por que é restrito a poucos pacientes, permanece desconhecida. Descritores: Correceptores, Diversidade viral, HIV-1 ABSTRACT The V3 region of gp120 is fundamental to various biological characteristics of HIV. In addition to virus-cell binding, there are immunodominant antibody response are directed primarily against the V3 region. The V3 region also determines which of two chemokine coreceptors (CCR5 or CXCR4) will be used for entry. Nearly half of infected individuals HIV-1 change its chemokine receptor usage during the progression of infection. In the early phase of HIV-1 infection, the viruses isolated are typically the R5 variants, which present tropism for the CCR5 receptors, whereas the X4 variants, which preferentially use the CXC4 receptors, emerge later in the infection. These variants have distinct properties, and the emergence of X4 variants has been associated with lower CD4 cell counts and rapid disease progression. However, the reason for the change in coreceptor usage, as well as why it is restricted to a few patients, remains unknown. Keywords: Correceptors, Viral diversity, HIV-1 INTRODUÇÃO Variantes R5 e X4 A infecção com HIV-1 é vista primeiramente em células T CD4+ e em macrófagos, embora outros tipos de células possam também ser infectadas. O tropismo celular é determinado essencialmente por uma série de interações entre a glicoproteína do envelope (env) viral e receptores celulares. Para entrar nas células alvo, o HIV-1 precisa reconhecer e ligar a dois receptores de membrana. Estes eventos são cruciais para a infecção pelo HIV-1, inicialmente envolvendo a interação do envelope com o receptor principal (CD4) e então com os correceptores de quimiocina (Berger et al., 1999; Boyd et al., 1993; Wu et al., 1996). O envelope é uma glicoproteína trimérica não covalentemente associada composta de duas subunidades de superfície a gp120 e de uma subunidade de transmembrana a gp41. A interação do envelope com a superfície da célula causa mudanças conformacionais na glicoproteína viral. Pensa-se que, seguindo a ligação da gp120 ao CD4, as modificações conformacionais permitem a subunidade gp41 de interagir com a membrana da célula, permitindo desse modo que o vírus incorpore à célula hospedeira (Weiss, 2003). A região V3 da gp120 é fundamental às várias características biológicas do HIV-1. Para o exemplo, na infecção por HIV-1, há uma resposta imunodominante de anticorpos dirigida à região V3 (Frost et al., 2005). Além da ligação vírus-célula, a região V3 determina também qual dos dois correceptores de quimiocina (CCR5 ou CXCR4) será usado para a entrada (Choe et al., 1996; Cormier e Dragic, 2002; Rizzuto et al., 1998). Em aproximadamente 50% dos indivíduos infectados, o vírus muda o uso do receptor de quimiocina durante a progressão da infecção por HIV-1 (Boyd et al., 1993; Schuitemaker et al., 1992). Na fase inicial da infecção por HIV-1, os vírus isolados são tipicamente variantes R5, com o tropismo para os receptores CCR5, visto que os variantes X4, que usam preferencialmente os receptores CXC4, emergem mais tarde na infecção. Na fase avançada da infecção por HIV-1, a população viral intra-hospedeiro pode apresentar uma variedade de composições: pode ser composta exclusivamente dos variantes X4; pode consistir nos variantes capazes de usar ambos os correceptores (variantes R5X4); ou pode apresentar números iguais dos variantes R5 e X4 (Kuiken et al., 1992; Scarlatti et al., 1997; Shioda Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 21-24) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 21 21 21 11/12/2007 12:11:20 et al., 1991). Em um mesmo indivíduo infectado por HIV-1, os variantes R5 e X4 podem recombinar (van Rij et al., 2003). Características dos variantes R5 e X4 Estes variantes têm propriedades distintas, notadamente a emergência dos variantes X4 está associada com contagens mais baixas de células CD4 e a progressão rápida da doença (Berkowitz et al., 1998; Shankarappa et al., 1999; Schuitemaker et al., 1992). Conseqüentemente, sugeriu-se que os variantes X4 são mais virulentos do que são os variantes R5. Os variantes R5 são isolados tipicamente das células T CD4+ de memória, visto que os variantes X4 podem ser isolados das células de memória ou das células naïve (Blaak et al., 2000; Koot et al., 1993). Entretanto, a razão para a mudança no uso do co-receptor, bem como o porquê é restringido a alguns pacientes, permanece desconhecido. Sugeriu-se que os variantes R5 têm uma vantagem seletiva, desde que seus níveis de replicação são mais elevados em células de memória do que nas células naïve (Bleul et al., 1997; Davenport et al., 2002). Além, em células T CD 4+ latentes, os variantes R5, mas não os variantes X4, induzem a expressão dos genes envolvidos na proliferação da célula, que pode facilitar a replicação dos variantes R5 (Cicala et al., 2006). Estes achados podem explicar a predominância dos variantes R5 nas fases iniciais da infecção, mas não na emergência mais tardia dos variantes X4. Tem-se sugerido recentemente que a mudança de variantes R5 a variantes X4 mais tardiamente na infecção é atribuível à diferença no tempo de vida entre células naïve e de memória nos infectadas (Ribeiro et al., 2006). Também o aumento mais rápido na taxa de divisão das células naïve observadas durante a progressão da doença, apesar da redução total nas contagens CD4, poderia fornecer um cenário razoável para a super população dos variantes X4 (Ribeiro et al., 2006). Esta idéia dá uma explicação mecanicista para a mudança de variantes R5 para variantes X4. No nível de população viral a vantagem seletiva, se existirem, de substituir os variantes R5 pelos variantes X4 permanece pouco explicada. Vantagem adaptativa e dinâmica das células alvo Deve haver uma razão pela qual os variantes X4 não prevalecem na fase inicial (assintomática) da infecção por HIV-1. Visto que o número de mutações associadas com as mudanças do coreceptor é pequeno e restrito a uma parcela pequena da alça V3. Assim variantes X4 poderiam aumentar sua freqüência na população viral logo após a infecção inicial. Contudo, mostrou-se que, em células dendríticas, a produção da partícula viral R5 é maior do que a partícula viral X4 (Vanham et al., 2000). Esse achado sugere que existe um favorecimento a transmissão dos variantes R5 através do contato via mucosa, onde existe um grande numero de células dendríticas (Meng et al., 2002). Não obstante, variantes R5 e X4 podem ser igualmente transmitidos através do trato genital, sugerindo que não existem o favorecimento de transmissão de variantes R5 pela via sexual (Hladik et al., 1999). Ademais os variantes R5 predominam na infecção inicial, independentemente da rota de transmissão (van’t Wout et al., 1994). Talvez a melhor explicação para a mudança no uso de coreceptores e favorecimento de variantes X4 nos estágios tardios da infecção resida na dinâmica de divisão das células naïve que é levemente acentuada durante a progressão da doença (Ribeiro et al., 2006). Essa disponibilidade maior de células naïve poderia favorecer 22 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 22 22 a replicação de variantes X4, contudo isso não explica o surgimentos desses variantes. Escudo de glicanos Outra característica da infecção por HIV-1 que poderia fornecer vantagem adaptativa aos variantes R5 é a variação observada nos sítios onde a proteína é glicosilada nos resíduos de asparagina (glicosilação N-ligada). Essa variação é impulsionada pelo escape imune humoral do vírus ao ataque dos anticorpos do hospedeiro: mecanismo conhecido como escudo de glicanos (van’t Wout et al.,). Durante a infecção inicial, o HIV-1 escapa ao ataque do anticorpo com a aquisição de mutações em alguns sítios do envelope. Com isso ocorre um aumento no número de moleculares de açúcares (glicanos) que se ligam ao envelope viral, culminando em modificações da estrutura tridimensional dessa proteína viral. Estas mutações permitem que vírus escape à neutralização dos anticorpos, permitindo conseqüentemente que o HIV escape à vigilância imune humoral (Dacheux et al., 2004). Em adição, o padrão de glicosilação do envelope afeta a fusão e a entrada do HIV-1 nas células do hospedeiro (Ogert et al., 2001). Diversificação e neutralização por anticorpos Os primeiros estágios da infecção pelo HIV-1 podem ser cruciais para a geração e caracterização da diversidade viral (Herbeck et al., 2006; Li et al., 2007). Nesse contexto a resposta imunológica mediada por anticorpos contra epítopos virais pode ser a principal força de diversificação do HIV na fase inicial da infecção (Frost et al., 2005). Conseqüentemente, a observação que anticorpos monoclonais neutralizam preferencialmente os variantes X4 (Lusso et al., 2005) pode explicar a vantagem inicial dos variantes R5. Entretanto, tem sido mostrado que os variantes X4 que emergem precocemente na infecção são mais sensíveis à neutralização por anticorpo do que aqueles que emergem em etapas mais tardias da infecção (Bunnik et al., 2007). Isto sugere que os variantes X4 se adaptam eficazmente e escapam da neutralização dos anticorpos. Visto que, o HIV-1 apresenta taxas extremamente elevadas de mutações adaptáveis (Williamson, 2003), e a emergência dos variantes X4 está associada com a aquisição de poucos aminoácidos positivamente carregados na alça V3 (De Jong et al., 1992; Fouchier et al., 1992). Conseqüentemente, a pressão seletiva imposta unicamente pela neutralização dos anticorpos não é suficiente para explicar a emergência tardia de variantes X4. Todas essas características da mudança de R5 para X4 deixam claro que a modificação do uso de coreceptor é um processo complexo. Outros Variantes no V3 O tetrâmero de GPGR encontrado na extremidade da alça V3 do envelope é predominante nos isolados do subtipo B encontrados na pandemia causada pelo HIV-1. Em contrapartida a epidemia de HIV-1 do subtipo B no Brasil é caracterizada por uma alta freqüência dos isolados que apresentam o tetrâmero GWGR no envelope viral. Os estudos prévios demonstraram que os vírus que contem os tetrâmeros GWGR, GPGR e mesmo outras formas (GGGR, GFGR, GRGR, etc) não são geneticamente distintos (Kuiken e Leitner, 1999; Potts et al., Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 21-24) 11/12/2007 12:11:20 1993; Louwagie et al., 1994). Embora alguns autores associem a infecção com variantes GWGR com um perfil de progressão para AIDS mais lento (Santoro-Lopes et al., 2000). Em contrapartida, a composição genética do V3 do HIV-1 do subtipo B encontrado na Tailândia difere em vários aspectos de isolados do subtipo B de outras regiões, Assim variantes do subtipo B isolados na Tailândia (denominados B’) são filogeneticamente diferentes de outros isolados do subtipo B (Kuiken e Leitner, 1999). No entanto indivíduos infectados pelos variantes B ou B’ encontrados na Tailândia não apresentam nenhum tipo de distinção em seu perfil clínico ou no tempo de progressão para AIDS. CONCLUSOES Todas essas características dos variantes do HIV-1 relacionadas com modificações na composição dos nucleotídeos da região V3 do envelope viral provavelmente refletem um processo de adaptação do vírus ao ambiente celular de um determinado indivíduo. Outras características, no entanto, podem decorrer de processos adaptativos do vírus durante os eventos de transmissão inter-hospedeiros. Para aumentar as chances de replicação na população de hospedeiros o HIV-1 precisa manter um equilíbrio entre esses dois processos de adaptativos. Em razão desse balanço existem algumas propriedades do V3 do HIV-1 bastante importantes na infecção. Por exemplo, notou-se durante a infecção pelo HIV-1 do subtipo B, ocorrem pequenas modificações na estrutura tridimensional do V3 sugerindo que o envelope viral é maleável em resposta a ação dos anticorpos do hospedeiro (Watabe et al., 2006). Essas modificações de estrutura do V3 ocorrem em razão de mutações de certos resíduos da seqüência protéica. As conseqüências dessa maleabilidade do V3 podem ter importância não somente no mecanismo de fuga da resposta imune. Recentemente, observou se que são necessárias no mínimo quatro substituições de aminoácidos no V3 do HIV1 para tornar o vírus resistente ao anti-retroviral AD101 que inibe a fusão do vírus com o CCR5 (Kuhmann et al., 2004). Curiosamente, apesar dessa maleabilidade do V3 existem um região do envelope (Gp120) que é extremamente conservada na sua estrutura mesmo em diferentes subtipos do HIV-1 (Zhou et al., ). Esse achado é bastante promissor no sentido que pode conduzir a uma estratégia de neutralização do HIV-1 por anticorpos monoclonais direcionados contra o envelope viral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Berger, E. A., P. M. Murphy, and J. M. Farber. 1999. Chemokine receptors as HIV-1 coreceptors: roles in viral entry, tropism, and disease. Annu. Rev. Immunol. 17:657-700. 2. Berkowitz, R. D., S. Alexander, C. Bare, V. Linquist-Stepps, M. Bogan, M. E. Moreno, L. Gibson, E. D. Wieder, J. Kosek, C. A. Stoddart, and J. M. McCune. 1998. CCR5- and CXCR4-utilizing strains of human immunodeficiency virus type 1 exhibit differential tropism and pathogenesis in vivo. J. Virol. 72:10108-10117. 3. Blaak, H., A. B. van’t Wout, M. Brouwer, B. Hooibrink, E. Hovenkamp, and H. Schuitemaker. 2000. 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Structural definition of a conserved neutralization epitope on HIV-1 gp120. Nature. Feb 15; 445(7129):732-7. Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 21-24) 11/12/2007 12:11:21 DESTAQUES, SIMPAIDS 2007 ITAPEMA-SC, BRASIL Dra. Shirley Komninakis Pós-doutoranda da Universidade Federal de São Paulo Neste VII Simpósio de Pesquisa em AIDS, tivemos a premiação de três temas livres. O primeiro lugar com enfoque na relação da coinfecção GBV-C/HIV-1 com a ativação celular e carga do GBV-C envolvidos na proteção para progressão para a imunodeficiência. Os terceiro e quarto lugares, tiveram como enfoque principal o desenvolvimento de novas terapias anti-retrovirais e testes com novos anti-retrovirais, respectivamente. Não podemos esqucer da alta qualidade das apresentações dos pôsteres orais e pôsteres propriamente ditos. independente da CV e contagens de CD4+ e CD8+. Logo, os autores evidenciaram a associação entre a viremia do GBV-C e menor ativação celular. Este estudo é importante, pois já foi demonstrado por outros autores que o nível de ativação celular está relacionado à patogênese do HIV-1. SEGUNDO LUGAR The neurotrophins NGF, BDNF and proNGF Induce Enhancement of HIV-1 Replication in Primary Macrophages. Souza TML, et al. APRESENTAÇÕES PREMIADAS PRIMEIRO LUGAR GBV-C Infection is Associated With Less T Cell Activation in Recently HIV-1 Subjects and is Independent of HIV-1 Viral Load Giret, MTM et al. Os indivíduos co-infectados GBV-C/HIV-1 parecem apresentar um melhor prognóstico para a infecção pelo HIV. O trabalho teve como objetivo relacionar a ativação celular com o status do vírus GBV-C em 40 (24 GBVC positivos) indivíduos recentemente infectados pelo HIV-1. Os modelos de regressão mostraram que o status do GBV-C RNA+ foi associado com marcadores de ativação celular, medidos por %CCR5 em células T CD4+ ou T CD8+ ou %CD38 em células T CD8+, Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 25-26) Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 25 25 O autor evidencia que a liberação de Nerve Growth Factor (NGF) é induzida pela infecção do HIV e é essencial para a sobrevivência do macrófago e para a replicação viral. O objetivo do trabalho foi verificar se o NGF e outras neurotrofinas, poderiam modular a replicação do HIV. O autor verificou em seus experimentos com PBMCs e macrófagos infectados com HIV-1 e tratadas com neurotrofinas, que a NGF, BDNF e proNGF estimularam a replicação do HIV em macrófagos. A NGF não teve nenhum efeito nas PBMCs. Os caminhos de sinalização celular, sugerem que a produção de HIV-1 induzida por NGF envolve receptores como o TrKA, mobilização de cálcio intracelular, etc. Eles observaram também uma diminuição da produção da APOBEC 3G nos macrófagos tratados com NGF. A APOBEC 3G tem sido apontada como 25 11/12/2007 12:11:21 um mecanismo contra retroviroses, pois é incorporada a partícula viral e restringe o crescimento viral por meio de um processo maciço de deaminação. O autor conclui então que o NGF ajuda na manutenção dos reservatórios do HIV-1 e enfatiza a importância do estudo como uma base no desenvolvimento de novas terapias anti-retrovirais. TERCEIRO LUGAR In vitro Selection and Characterization of Resistence to Two New HIV-1 Protease Inhibitors: CRS-074 and CRS-075 Calazans A, et al Entre todas as apresentações orais, tivemos este trabaho que mostrou a importância do desenvolvimento de novas drogas anti-retrovirais (ARV) com maior potência contra variantes multi-resistentes do HIV-1, sendo inibidores da protease viral (IP). O objetivo do estudo foi caracterizar a atividade fenotípica ARV, utilizando cepas selvagens e resistentes aos IPs, de diferentes subtipos do HIV-1. Os valores e EC50 do CRS-074 contra cepas resistentes variaram de 2.5 a 510 vezes mais alto comparado com vírus de referencia, enquanto que para o CRS-075, variou de 1.8-9.3. Nenhuma mutação foi encontrada nos vírus sobre pressão seletiva do CRS-075, após 53 dias de cultura. A conclusão é que o CRS-074 é um dos mais potentes IPs já descritos, enquanto o CRS-075 é um forte candidato a se tornar uma nova droga IP. APRESENTAÇÕES ORAIS DE PÔSTERES Near Full-Length Genomic Analysis of 45 HIV-1 isolates from recently infected 26 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 26 26 patients in São Paulo, Brazil Sanabani SS, et al Neste trabalho o autor realizou o sequenciamento do genoma completo do HIV-1 de 45 amostras de indivíduos recentemente infectados. O estudo da diversidade do HIV-1 é importante para o descobrimento de alvos para novas drogas, como também para o desenvolvimento de vacinas. Com esta análise verificaram a existência da circulação em nosso meio de subtipos puros (B, C e F1) e recombinantes (B/F) e que, o subtipo B é ainda o mais prevalente em São Paulo. O autor chama a atenção para o desenvolvimento futuro de uma vacina multiepítopos para a população brasileira. Genetic Variation of Mbl2 Increases the Risks of HIV-1 Infection on Brazilian Patients Rodrigues FF, et al A deficiência da proteína codificada pelo gene da MBL-2, pode ocasionar susceptibilidade a doenças, pois esta ativa a via complementar do sistema complemento quando se liga a carboidratos da superfície do HIV-1. Analisaram a relação da presença de SNPs no gene da MBL2 com a susceptibilidade para infecção pelo HIV. Os resultados evidenciaram diferenças entre grupo controle (C) e infectados (I), sendo que nos selvagens a freqüência de polimorfismos foi menor nos infectados do que no controle; nos heterozigotos a freqüência nos infectados foi maior que no C e nos mutantes maior nos infectados e menor no C. O autor sugere que a presença de mutantes de MBL2 pode estar relacionado com a susceptibilidade a infecção pelo HIV-1. Tendências em HIV • AIDS (Volume 2 - Número 4 - 25-26) 11/12/2007 12:11:21 Resumo de Teses Aluno: Caroline Pereira Bittencourt Passaes Orientador: Mariza Gonçalves Morgado Instituição: Instituição: Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro. Nível: Mestrado Ano de Defesa: 2007 Titulo: Caracterização molecular da região da integrase do gene POL de subtipos de HIV-1 prevalentes no Brasil: avaliação de marcadores de resistência e antogenicidade Resumo: A diversidade genética do HIV-1 tem sido bem estudada tendo-se como alvo as proteínas estruturais. Porém, na região da integrase essa diversidade ainda não foi bem caracterizada. A integrase é uma enzima essencial para o ciclo de replicação do HIV-1 e é um alvo promissor para a terapia anti-retroviral. Atualmente, a terapia inclui inibidores de protease (PR), transcriptase reversa (TR) e de entrada viral. Entretanto, não está claro por quanto tempo os benefícios clínicos serão mantidos devido à emergência de variantes com resistência a múltiplas drogas. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a diversidade genética da integrase do HIV-1 em amostras dos subtipos B (B”), C e F, obtidas de pacientes virgens de tratamento, e identificar a presença de mutações naturais relacionadas aos inibidores de integrase em amostras de indivíduos apresentando falha terapêutica, a fim de verificar se esta região ainda permaneceria como um alvo íntegro para o tratamento. O DNA proviral foi extraído de 111 amostras de sangue de indivíduos virgens de tratamento, infectados com os subtipos prevalentes no Brasil, previamente determinados com base na região C2-V3 do envelope. O RNA viral foi extraído de amostras de plasma de 30 indivíduos apresentando falha terapêutica às drogas correntes, infectados pelo subtipo B do HIV-1, previamente determinado com base no gene pol (PR/RT). As amostras foram amplificadas pela metodologia de nested PCR e seqüenciadas automaticamente. O pacote de programas DNASTAR, ClustalX e MEGA foram usados para edição, alinhamento, tradução, análise filogenética (neighbor-joining) e definição das seqüências consenso. Não verificamos a ocorrência de recombinação inter-gênica entre a região da integrase e os genes env e PR/RT, tipados previamente. Entretanto, identificamos genomas apresentando recombinação intra-gênica na região da integrase (3B/F, 3B/C) em amostras de indivíduos virgens de tratamento. Todos os recombinantes B/C apresentaram um mesmo padrão de recombinação quando analisamos a região da integrase/vif, sugerindo a ocorrência de uma nova Forma Recombinante Circulante (CRF) no Brasil. Após procedermos à análise do genoma completo dessas amostras, observamos diferenças no perfil de recombinação das mesmas, confirmando tratar-se de Formas Recombinantes Únicas, embora, possivelmente de mesma origem. Dentre as amostras analisadas, pudemos identificar não apenas assinaturas moleculares típicas dos subtipos B, C e F do HIV-1, como assinaturas características de amostras brasileiras, principalmente nas do subtipo C. Um grande número dessas variações foi verificado em regiões correspondentes a epítopos imunodominantes. Com relação às mutações previamente relacionadas aos inibidores de integrase, V72I ocorre como uma assinatura típica (91,4%) para o subtipo C e como um polimorfismo para o subtipo B (41,9%); V165I ocorre como um polimorfismo entre amostras F (40,7%) e V201I para o subtipo B (45,2%), respectivamente. Além disso, V201L foi identificada como uma assinatura típica dos subtipos C e F (97,8% e 100%, respectivamente). Outras mutações foram observadas em freqüências menores. Não observamos, no entanto, diferença significativa para as freqüências observadas entre os grupos de indivíduos sem tratamento e apresentando falha terapêutica. 27 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 27 27 11/12/2007 12:11:21 Algumas das mutações relacionadas à resistência aos inibidores de integrase foram identificadas como polimorfismos em amostras brasileiras dos subtipos B (B”), C e F. Considerando o desenvolvimento de inibidores de integrase, nossos resultados evidenciam que a integrase é uma proteína altamente conservada e parece ser um alvo terapêutico promissor no tratamento da infecção pelo HIV e no desenvolvimento de vacinas baseadas em sua seqüência, apesar das mutações naturais e polimorfismos observados neste estudo. Entretanto, mais dados precisam ser gerados no que diz respeito à diversidade genética da integrase, a fim de melhor avaliarmos o impacto dessas mutações/polimorfismos na resposta imune e no tratamento da AIDS com inibidores desta enzima, principalmente em países onde os subtipos não-B são prevalentes. Aluno: Eduardo Garcia Necco Peixoto Regis Orientador: Dumith Chequer Bou-Habib Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro Ano de Defesa: 2007 Nível: Mestrado Título: O Papel do Fator Inibidor da Migração de Macrófagos (MIF) na infecção pelo HIV-1 Resumo: Citocinas possuem um papel crucial na infecção pelo HIV-1. A citocina Fator Inibidor da Migração de Macrófagos (MIF) está envolvida em diversas patologias inflamatórias e infecciosas. No entanto, a participação do MIF na infecção pelo HIV-1 ainda é desconhecida. Assim, investigamos o MIF na infecção de células mononucleares de sangue periférico (PBMCs) e macrófagos (MDM) pelo HIV-1. PBMCs foram obtidos de doadores saudáveis por centrifugação em gradiente de densidade e MDM por aderência em plástico de PBMCs. As células foram infectadas com o isolado de HIV-1 Ba-L (R5trópico), e Tybe (X4-trópico),e células infectadas foram expostas,ou não, à MIF humano recombinante (rhMIF, 25ng/mL),anticorpos anti-MIF (20 mg/mL) ou probenecide ( 10mM). Os níveis de MIF e de replicação viral foram dosados por ELISA. A expressão celular de CD4, CCR5 e CXCR4 foi vista por citometria de fluxo. Nós observamos que a infecção por HIV-1 em PBMCs, tanto pelo Ba-L quanto pelo Tybe, induziu uma aumentada secreção de MIF, quando comparados aos controles. A adição de rhMIF exógeno dobrou a replicação do HIV-1 em PBMCs infectados , e também aumentou a replicação viral de maneira dose-dependente em MDM. A replicação do HIV-1 PBMCs foi inibida em 40% quando células infectadas foram tratadas com anticorpos anti-MIF, e em 38% quando tratadas com probenecide, que também inibiu a secreção de MIF. PBMCs tratados com gp 120 (5mg/mL) também liberaram mais MIF do que os controles. MIF recombinante exógeno, ou anticorpos anti-MIF não aumentaram a expressão celular das moléculas CD4, CCR5 e CXCR4. Aluno: Walter de Araújo Eyer Silva Orientador: Mariza Gonçalves Morgado Instituição: Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro. Nível: Doutorado Ano de Defesa: 2007 Titulo: Epidemiologia Molecular do Vírus da Imunodeficiência Humana Tipo 1 (HIV-1) em Municípios do Interior do Estado do Rio de Janeiro, com Ênfase nas Cidades de Miracema, Santo Antonio de Pádua e Saquarema, 2001 a 2006 Resumo: Embora conserve um perfil epidemiológico predominantemente associado aos grandes centros urbanos do país, a epidemia de Aids vem se expandindo em direção aos pequenos municípios e ao interior do Brasil. A disseminação da epidemia em direção a esses locais trará consigo enormes desafios de ordem médica, social e logística. Embo- 28 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 28 28 11/12/2007 12:11:21 ra os dados epidemiológicos do Ministério da Saúde apontem para a interiorização da epidemia de Aids no Brasil, muito pouco se sabe sobre suas características clínicas, epidemiológicas e virológicas. Tendo como alvo, sobretudo, os genes do envelope e da polimerase, buscamos, no conjunto de estudos que compõem esta tese, extrair das seqüências de HIV-1 informações nucleotídicas que nos permitam começar a caracterizar a diversidade genética, a epidemiologia molecular e o perfil de resistência genotípica aos fármacos antiretrovirais no interior do estado do Rio de Janeiro. Não sendo possível nos deter detalhadamente em todas as cidades do interior do estado, concentramos nossa lupa de investigação em três cidades escolhidas como amostragem de conveniência: Miracema e Santo Antonio de Pádua, no noroeste fluminense, e Saquarema, na Costa do Sol. Destas casuísticas, poderemos talvez extrair informações que sejam úteis à compreensão de aspectos importantes da interiorização da epidemia de Aids no estado do Rio de Janeiro e no país. Entre julho de 1999 e maio de 2006, um total de 208 pacientes adultos recebeu atenção médica nos programas municipais de HIV-1/Aids das três cidades. Obtivemos um perfil de epidemia heterossexual, com uma razão de sexos homem-mulher de 1,1. Quase 60% dos pacientes iniciaram acompanhamento em estágios avançados de infecção pelo HIV-1, o que sugere a existência de um grande reservatório de casos não diagnosticados na comunidade. O sexo masculino e a idade mais avançada mostraram-se variáveis independentemente associadas a um diagnóstico de estágio clínico definidor de Aids quando da apresentação. Mais de 90% dos casos eram de pessoas residentes nas cidades em estudo, o que demonstra uma grande demanda local por serviços de aconselhamento, testagem e tratamento da infecção pelo HIV-1 e suas complicações. Dessa forma, acreditamos que o estabelecimento do maior número possível de programas municipais de HIV-1/Aids será parte importante da luta contra a interiorização da epidemia no Brasil. Registramos ainda uma baixa freqüência de circuncisão masculina, um importante determinante da transmissão heterossexual do HIV-1. Cerca de um quarto da casuística referiu uso prévio de cocaína inalada. Nas duas cidades do noroeste do estado, registramos que 14,5% dos pacientes em estágio C do CDC desenvolveram meningoencefalite por Cryptococcus neoformans. Para as análises de epidemiologia molecular, tivemos ainda oportunidade de estudar casos isolados de outros 26 municípios não metropolitanos do estado. Geramos seqüências de HIV-1 de amostras colhidas de um total de 221 pacientes e registramos a ocorrência dos subtipos B em 190 (86%), F1 em 14 (6,3%), CRF02_AG em duas (0,9%), D em duas (0,9%), além de variantes recombinantes intersubtipo com regiões representativas dos subtipos B e F1 em 13 (5,9%) amostras. Embora os subtipos B e F1 sejam os mais prevalentes no sudeste do Brasil, as variantes D e CRF02_AG haviam sido até então descritas apenas em casos isolados na capital fluminense. Apresentamos ainda a primeira evidência molecular de transmissão autóctone do subtipo CRF02_ AG no Brasil. A análise filogenética das seqüências do subtipo D, estudada em conjunto com outras seqüências deste subtipo identificadas em nosso laboratório, demonstrou que as seqüências autóctones brasileiras guardam grande similaridade genética com seqüências deste subtipo descritas ao longo da década de 1980 na África do Sul, um país onde esta variante ocorre apenas em casos isolados. Nossos resultados sugerem a introdução bem sucedida desta variante no sudeste brasileiro a partir do efeito fundador de uma seqüência ancestral de provável origem sul-africana. Observamos na casuística de Saquarema a presença de uma variante BF1 cujo genoma completo forma, em conjunto com outras três seqüências oriundas de diferentes estudos em curso em nosso laboratório, um cluster candidato a um novo 29 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 29 29 11/12/2007 12:11:21 CRF_BF brasileiro. Os estudos de eficácia dos esquemas anti-retrovirais mostraram que 70% dos pacientes em tratamento quando da coleta da amostra estavam com a carga viral plasmática abaixo do limite de detecção. Os estudos de prevalência de resistência genotípica aos fármacos inibidores da transcriptase reversa e da protease, conduzidos com seqüências geradas do compartimento proviral, mostraram um caso (1,2%) de resistência primária entre 84 pacientes virgens de tratamento. Entre aqueles que estavam em uso de esquemas anti-retrovirais quando da coleta, 31,1% apresentavam diminuição da sensibilidade a algum agente anti-retroviral. Apenas cinco casos de diminuição da sensibilidade aos inibidores da protease foram registrados em toda a casuística. A baixa prevalência de resistência anti-retroviral nestas comunidades pouco privilegiadas economicamente, porém com amplo acesso às medicações componentes dos esquemas terapêuticos, contribui para o debate sobre a conveniência de acesso universal da terapia anti-retroviral em países do terceiro mundo. Nossos dados sustentam que, por mais complexos que sejam os esquemas de tratamento, comunidades menos favorecidas economicamente não devem deixar de se beneficiar da terapia anti-retroviral e que não há evidências de que estejam mais propensas a emergência e disseminação de variantes resistentes às drogas. As reconstruções filogenéticas mostraram perfis polifiléticos, sugestivos de múltiplas introduções virais nas cidades estudadas. Mostraram ainda a ocorrência de clusters monofiléticos de seqüências que guardam grande similaridade genética entre si e que foram geradas de amostras de pacientes que provavelmente tomaram parte na mesma cadeia de transmissão viral. Análises de regressão logística identificaram que ter sempre residido na cidade em estudo e ter uma relação epidemiológica conhecida com algum outro componente da casuística são variáveis independentemente associadas a ser um paciente cuja amostra gerou seqüências que se abrigaram em algum cluster monofilético. A alta freqüência seqüências que vieram a se agrupar em algum cluster monofilético sugere a existência de redes de interação sexual nas comunidades e é um indicativo de que múltiplas novas infecções estão ocorrendo em um intervalo de tempo relativamente curto. Este perfil molecular é sugestivo de alta incidência e chama a atenção para a necessidade urgente de se conduzir estudos de prevalência nas pequenas cidades do interior do Brasil. Análises de coalescência sugerem que os ancestrais comuns mais recentes que desencadearam as duas cadeias de transmissão que resultaram nos dois maiores clusters de Miracema já estavam em circulação no início da década de 1990. A demonstração de que a disseminação dessas variantes fundadoras já estava em curso em uma época em que pouco ou nada se falava sobre a interiorização da epidemia no Brasil pode ter importantes implicações de saúde pública. Ao compararmos os clusters monofiléticos dos dois municípios vizinhos de Miracema e Santo Antonio de Pádua observamos a total independência dessas redes de transmissão. Os resultados sugerem que cada uma dessas cidades experimentou a introdução independente, com subseqüente disseminação, de diferentes linhagens de subtipo B, em um padrão que não é indicativo de redes de transmissão comprometendo toda a sub-região noroeste fluminense, mas sim de múltiplas micro-epidemias difusamente distribuídas e desenrolando-se em ambiente municipal. As reconstruções filogenéticas dos genes do envelope e da polimerase produziram resultados em todo similares, demonstrando que, apesar de ser uma região genômica extremamente conservada, a crescente disponibilidade de seqüências de polimerase geradas para fins de estudos de resistência genotípica pode encontrar aplicabilidade adicional para estudos de cunho epidemiológico. 30 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 30 30 11/12/2007 12:11:21 Tendencias em HIV Vol 2 n4 2007 31 31 11/12/2007 12:11:22
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