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Acta Tecnológica, Vol. 7, N° 2 (2012), 31 - 37 Acta Tecnológica http://portaldeperiodicos.ifma.edu.br/ Efeito das técnicas de curtimento sobre a resistência do couro de coelho (Oryctolagus cuniculus): Testes físico-mecânicos e químicos Amanda Lílian V. Hoch1 , Maria Luiza R. de Souza Franco2, Eliane Gasparino2, Ana Paula Del Vesco1* RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da técnica de curtimento sobre a resistência do couro de coelhos. Foram utilizadas 50 peles de coelhos (Oryctolagus cuniculus) machos da raça Nova Zelândia, abatidos com 70 dias. Utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 5x2, sendo cinco técnicas de curtimento (T1, T2, T3 e T4 = 6% sais de cromo Chromossal B ®; T5 = 6% tanino vegetal Weibull® e 6% de tanino sintético Syntac F®) e corpos– de– prova retirados na região dorsal em dois sentidos (S1= longitudinal e S2 = transversal) em relação ao eixo céfalo-caudal, com dez repetições. As análises físico-químicas realizadas foram pH, óxido de cromo e substâncias extraíveis em diclorometano. Os couros apresentaram espessura entre 0,49 e 0,87 mm. Não houve diferença significativa entre os tratamentos e o sentido do couro para tração (15,85 N/mm² a 20,44 N/mm²) e alongamento (61,16% a 63,57%) e força máxima (116,08 N a 145,25 N e 19,14 N a 24,40 N) aplicada nos testes. A utilização do tanino sintético proporcionou maior resistência (39,69 N/mm) ao rasgamento progressivo, entretanto diferiu significativamente apenas do tanino vegetal (25,18 N/mm). Para rasgamento progressivo o sentido longitudinal apresentou (P<0,05) maior resistência (34,13 N/mm) comparada ao transversal (29,70 N/mm). A concentração de óxido de cromo variou de 0,12 a 4,1% entre os tratamentos. Considerando todas as variáveis analisados neste experimento, a técnica mais indicada seria curtir e recurtir com sais de cromo (19,35 N/mm²; 61,21% e 32,06 N/mm). Termos para indexação: couro de coelho, sais de cromo, tanino sintético, tanino vegetal. The effect of tanning technique on the resistance of rabbit’s skin (Oryctolagus cuniculus) : Physicol Mechanic ans Chemistrys tests. ABSTRACT The effect oftanning technique on the resistance ofrabbit’s skin was analysed. Fifty skins of70-day-old male white New Zealand rabbits (Oryctolagus cuniculus) were used. A fully randomized 5x2 factorial design was used with 5 tanning techniques (T1, T2, T3 and T4 = 6% chromium salts Chromossal B®; T5 = 6% vegetal tannin Weibull® and 6% synthetic tannin Syntac F®) and body-of- proof sections from the dorsal region in two directions (S1= longitudinal and S2 = transversal) according to head-tail axis, with ten replicates. Physical and chemical tests were pH, chromium oxide and extractable compounds in dichloromethane. Skins’ thicknesses were between 0. 49 and 0. 87 mm. There was no significant difference between treatments and skin direction for traction (between 15. 85 N/mm² and 20. 44 N/mm²) and lengthening (between 61. 16% and 63. 57%) and maximum strength (between 116. 08 N and 145. 25 N and between 19. 14 N and 24. 40 N) applied in the tests. Although synthetic tannin provided higher resistance (39. 69 N/mm) for progressive tearing, it differed significantly only from vegetal tannin (25. 18 N/mm). In the case of progressive tearing, longitudinal direction presented 1 Discentes do Programa de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Av. Colombo n. 5.790, Jd. Universitário, CEP 87020-900, Maringá, Paraná, Brasil. 2Professoras do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). * Autor para correspondência, . E-mail: [email protected] HOCH et al. , Acta Tecnológica, Vol. 7, N° 2 (2012) 32 (p<0. 05) the highest resistance (34. 13 N/mm) when compared to the transversal one (29. 70 N/mm). Concentration ofchromium oxide varied between 0. 12 and 4. 1% between treatments. Considering all variables analyzed in the current experiment, tanning and re-tanning with chromium salts comes to be the most viable technique (19. 35 N/mm²; 61, 21% and 32, 06 N/mm). Index terms: chromium salts, rabbit’s skin, synthetic tannin, vegetal tannin. INTRODUÇÃO A cunicultura, como atividade de exploração animal intensiva tem passado por diversas modificações nos últimos 10 anos, oriundas das buscas constantes de técnicas que melhorem a produtividade (FERNÁNDEZCARMONA et al., 2000). No Brasil, o objetivo principal da criação de coelhos é a produção da carne, que apresenta qualidades desejáveis de aceitação no mercado. Entretanto, existe um montante considerável de subproduto como o cérebro, sangue, patas, peles, orelhas e esterco que são passíveis de serem utilizados, podendo, inclusive, serem considerados uma alternativa econômica da exploração da cunicultura. Dentre elas, a pele pode ser utilizada para confecções na indústria de artefatos de couro ou então, para produção de gelatina, os pelos para fabricação de feltro e as patas dianteiras e cauda para confecção de chaveiro (SOUZA et al., 2006). A pele do coelho, sendo encontrada em quantidades significativas, é um subproduto que pode ser beneficiado para se obter, após o processo de curtimento, uma matéria-prima de qualidade e de aspecto peculiar, considerada como uma pele exótica e inovadora (HOCH et al., 2006). Atualmente, a pele esta sendo desperdiçada ou subutilizada, pela falta de conhecimento a respeito das técnicas de curtimento, sistema de conservação e armazenamento (OLIVEIRA et al., 2006). Neste sentido são importantes estudos que avaliem e comprovem a qualidade dessa matéria-prima, independente de estar ou não com pelos. Um fator importante a ser avaliado nas peles de coelhos, após seu curtimento em geral seriam as aplicações de diferentes técnicas de curtimento visando comprovar a influência nos resultados de resistência, assim como as regiões (anterior e posterior) ou sentido do couro (longitudinal e transversal). Dessa forma este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da técnica de curtimento sobrearesistênciadocourodecoelho. MATERIAL E MÉTODOS Animais experimentais e processamento Foram utilizadas 50 peles de coelho (Oryctolagus cuniculus) da raça Nova Zelândia machos abatidos com 70 dias, provenientes do Setor de Cunicultura da Universidade Estadual de Maringá (FEI-Iguatemi). O processamento das peles e os testes físico-mecânicos foram realizados no laboratório de processamento de peles de peixe e animais de pequeno e médio porte da Universidade Estadual de Maringá (FEI-Iguatemi). Os testes físico-químicos foram realizados no Laboratório da Leather Solutions, na BASF (SapucaiadoSul-RS). Após a retirada das peles dos animais, estas foram pesadas individualmente, identificadas, embaladas em saco plástico e congeladas para conservá-las até o momento da realizaçãodoprocessodecurtimento. As peles foram descongeladas e submetidas a uma série de etapas para a realização do processo de curtimento. As peles foram divididas em 5 tratamentos e submetidas às etapas de descarne, remolho, caleiro (8% dermaphel plus e 3% cal hidratada por 2 vezes), desencalagem, purga, desengraxe, piquel, curtimento (T1, T2, T3 e T4 = 6% sais de cromo Chromossal B ®; T5 = 6% Weibull®), neutralização, recurtimento (T1 = 4% sais de cromo Chromossal B ®; T2 = 4% Weibull®; T3 = 4% Syntac F®; T4 = 2% Weibull® + 2% Syntac F®; T5 = 2% Weibull® + 2% Syntac F®), tingimento, engraxe (8% Lipodermlikcer LASLF®), secagem, amaciamento eacabamento. Obtenção dos corpos-de-prova para os testes físicomecânico do couro Os corpos-de-prova foram retirados dos couros (ABNT – NBR 11035, 1990), com auxílio de um balancim, na região dorsal, no sentido longitudinal e transversal ao eixo céfalo-caudal para determinação dos testes de tração e alongamento (ABNT – NBR 11041, 1997) e de rasgamento progressivo (ABNT –NBR11055, 2005) (Figura 1). Figura 1. Couro de coelho com os corpos-de-prova utilizados para os testes de determinação da tração e alongamento (*) e rasgamento progressivo (♦). 33 vegetal + sintético (0,76 mm). O tanino sintético (0,58 mm) proporcionou menor espessura, entretanto, não diferiu significativamente do tratamento com sais de cromo (T1 = 0,77 mm), da combinação dos taninos vegetal e sintético utilizado somente na etapa de recurtimento (T4 = 0,76 mm) e no curtimento e recurtimento (T5 = 0,62 mm). Não houve diferença significativa quanto ao sentido (Tabela 1). HOCH et al. , Acta Tecnológica, Vol. 7, N° 2 (2012) Em seguida, os corpos-de-prova foram acondicionados em um ambiente climatizado em torno de 23ºC e umidade relativa do ar de 50%, por 24 horas (ABNT - NBR 10455, 2005). Após este período foram determinadas as medidas de espessura de cada amostra (ABNT – NBR 11062, 1997). Para os testes de resistência foi utilizado o dinamômetro da marca EMIC, com velocidade de afastamento entre cargas de 100 20 mm/min. Preparo das amostras para os testes físico-químicos do couro Foram coletadas amostras do couro para as análises físico-químicas. As amostras foram moídas e o couro chamado “pó de couro” ou “couro em pó”, foi utilizado para determinação do pH (ABNT-NBR11057, 2006), determinação de substâncias extraíveis em diclorometano (ABNT – NBR 11030,1997) e a determinação de óxido de cromo Cr2O3 (ABNT - NBR 11054,1999). Delineamento experimental Foi utilizado um delineamento em parcelas subdivididas, tendo nas parcelas os tratamentos (T1 = cromo; T2 = vegetal; T3 = sintético; T4 = vegetal + sintético e T5 = curtimento e recurtimento vegetal e sintético) e nas subparcelas os sentidos do couro (S1 = longitudinal e S2 = transversal), com dez repetições por tratamento. Os resultados dos testes físico-mecânicos foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Os dados foram analisados pelo programa estatístico SAEG (1997). solventes alcoólicos; inatividade química ou baixa reatividade com outros componentes do alimento como ácido, base, aromatizantes e conservantes; assim como estabilidade do corante à luz, calor e umidade. Em concentrações rigorosamente controladas no Brasil, o Ministério da Saúde (Art. N. 55781/65, de 1965) tem permitido o uso de poucos corantes em artigos alimentícios (RIGONI, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os couros apresentaram espessura entre 0,49 mm a 0,87 mm. Para o teste de tração e alongamento, o tratamento com tanino vegetal (0,87 mm) proporcionou maior espessura, não diferindo significativamente dos recurtidos com sais de cromo (0,77 mm) e da combinação dos taninos Tabela 1. Valores médios de tração e alongamento dos testes físicomecânicos dos couros de coelho. Médias seguidas das mesmas letras minúsculas, nas colunas não diferem significativamente pelo testedeTukey(P>0,05); nsnão-significativo(P>0,05); *significativo(P<0,01). Segundo Gerhard (1998) a determinação da resistência à tração e alongamento do couro, possibilitou afirmações sobre a condição estrutural dos materiais de couro depois do transcurso dos processos de produção. Portanto, baseado nos resultados de resistência do couro é possível direcioná-lo para confecção de vestuário, sapatos, luvas ou artefatos em geral. A espessura, para o teste de rasgamento progressivo, foi maior para o tratamento com tanino vegetal (0,77 mm), porém não diferiu dos tratamentos com sais de cromo e a combinação dos taninos vegetal + sintético. O tanino vegetal (0,49 mm) proporcionou a menor espessura, entretanto não diferiu dos couros curtidos e recurtidos com a combinação dos taninos vegetal + sintético. A espessura entre os sentidos não diferiu. Não houve diferença significativa entre os tratamentos (técnicas de curtimentos) e o sentido do couro (longitudinal e transversal) para a determinação da tração e alongamento, assim como para a carga de ruptura aplicada nesses testes. Os valores de tração variaram de 19,35 a 20,44 N/mm2, de alongamento de 53,20% a 63,57%. A força máxima variou de 116,08 N a 145,21 N (Tabela 1). A força máxima foi maior para os couros recurtidos com sais de cromo (145,21 N) e menor para tanino sintético (116,08 N), entretanto não houve diferença significativa HOCH et al. , Acta Tecnológica, Vol. 7, N° 2 (2012) entre os tratamentos. A carga de ruptura para os couros nos sentido longitudinal e transversal foi 129,91 e 134,09 N, respectivamente (Tabela 1). Os couros recurtidos com tanino sintético (39,69 N/mm) apresentaram maior resistência ao rasgamento progressivo, todavia, diferiu apenas dos couros recurtimento com tanino vegetal (25,18 N/mm). Os couros no sentido longitudinal (34,13 N/mm) apresentaram maior resistência ao rasgamento progressivo comparado ao transversal (29,70 N/mm) (Tabela 2). Tabela 2. Valores médios de rasgamento progressivo dos testes físicomecânicos dos couros de coelho. Médias seguidas das mesmas letras minúsculas, nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P>0,05); ns não - significativos (P>0,05); *significativo (P<0,01). A força máxima aplicada no teste de resistência ao rasgamento progressivo não apresentou diferença significativa entre as técnicas e para sentido do couro (Tabela 2). Segundo Bal (2006) a estrutura e a espessura da pele dos animais domésticos variam segundo a região e são influenciadas pela raça, idade e pelo sexo do animal. Os resultados de espessura obtidos nesse experimento mostram que o sentido ou direção do corpo de prova não influenciaram na espessura do couro (Tabelas 1 e 2). Prado et al. (2006), analisando couros de coelhos com espessura média de 1,13 mm, quanto ao sentido longitudinal e transversal, obtiveram uma resistência à tração dos couros de 9,45 N/mm2 e 9,72 N/mm2, respectivamente, diferindo significamente entre os sentidos, os autores também observaram elongação média de 53,07% para o sentido longitudinal e 65,75% para o transversal. Os valores de tração foram inferiores aos obtidos nesse experimento, no qual os couros também apresentavam uma menor espessura, comparados aos relatados pelos autores. Neste experimento, a resistência ao rasgo foi significativamente maior para o sentido longitudinal (34,13 N/mm) quando comparada à resistência no sentido 34 transversal (29,70 N/mm). Souza et al. (2006) avaliaram peles de coelhos Nova Zelândia Branco, curtidas com 7% de sais de cromo e recurtidas com diferentes agentes curtentes (T1 - 4% sais de cromo; T2 - 6% tanino vegetal (Mimosa®); T3 - 6% tanino sintético (Relugan GT 50%®) e T4 - 3% tanino vegetal (Mimosa) e 3% sintético (Relugan GT 50%®). Ainda, fizeram duas vezes o caleiro ( 3% de sulfeto de sódio e 4% de cal), e no engraxe, 9% de óleos. Os autores obtiveram os valores de 3,69 N/mm2, 3,66 N/mm2, 4,10 N/mm2 e 3,53 N/mm2, respectivamente para os peles curtidas com sais de cromo, tanino vegetal, tanino sintético e combinação de vegetal com sintético. Esses valores foram inferiores aos encontrados nesse experimento (Tabela 1). O mesmo ocorreu para rasgamento progressivo, cujos valores foram inferiores (T1=16,37 N/mm; T2=14,58 N/mm; T3=13,59 N/mm e T4=11,79 N/mm) aos desse experimento (Tabela 2). Através desses resultados, analisando os fatores envolvidos, como a espécie animal, a idade de abate, a linha do processo de curtimento, que foram idênticas as aplicadas nos dois experimentos, o que pode ter influenciado nos resultados, foi o produto utilizado no caleiro. Pode ter ocorrido uma maior agressão às fibras colágenas, e isso é previsível de acontecer, pois nesse experimento onde os resultados de resistência do couro foram superiores, foi utilizado o Dermaphel plus® (sulfeto sódio, compostos hidroxilados e sulfonados), produto mais suave em sua ação. Nossos resultados concordam com os encontrados por Souza et al. (2006) os quais realizaram testes físicos e mecânicos do couro branco de coelhos Nova Zelândia submetidos a diferentes técnicas de recurtimento aplicando o sulfeto de sódio e cal, produto mais agressivo ao couro e que deve ter destruído parte das fibras colágenas, enfraquecendo os couros após seu recurtimento. De acordo com Mogiana (2007) um dos efeitos do uso do dermaphel plus, seria o controle da diminuição da resistência físico-mecânica. Pelo fato de ter sido utilizado uma maior concentração de agentes curtentes e óleos, esperava-se uma maior resistência ao couro, e ocorreu o inverso. Dessa forma, pode se inferir que os tipos de produtos utilizados, podem ter influenciado na resistência dos couros, tanto os da etapa de caleiro, quanto do curtimento e recurtimento. Foram utilizados os taninos sintéticos Syntac F® (tanino de substituição de base fenólica) e vegetal Weibull® (mimosa) nesse experimento. Em experimento realizado por Villarroel et al. (2004a), com couros de caprinos mestiços Bôer e mestiços Anglo Nubiano, com espessura média de 0,95 mm e 0,91 mm, respectivamente, foi observada uma resistência à tração de 203,4 kgf/cm2 (corresponde a 19,93 N/mm2) e 196,3 35 para tração, alongamento e rasgamento progressivo. Os valores relatados foram 156,73 kgf/cm2 (15,31 N/mm²), 34,93%, 35,62 N/mm para o sentido transversal e 146,64 kgf/cm2 (14,34N/mm²), 38,34%, 36,09 N/mm para o sentido longitudinal, respectivamente para os testes de tração, alongamento e rasgamento. Todavia, nos resultados obtidos nesse experimento dos couros de coelhos, houve diferença significativa quanto ao sentido do couro, apenas para o teste de rasgamento progressivo. Mostrando, que os couros de coelhos apresentaram maior resistência no sentido longitudinal, quando submetidos aos diferentes agentes curtentes. Segundo Jacinto et al. (2005), couros de novilhos orgânicas do Pantanal, com espessura média no sentido longitudinal de 1,83 mm e no sentido transversal de 1,80 mm, apresentaram valores médios de resistência à tração e rasgamento progressivo foram de 23,98 N/mm2 e 87,93 N/mm² no sentido longitudinal e de 19,22 N/mm2 e 95,31N/mm² no sentido transversal respectivamente. Para o teste de alongamento, os couros de novilhas orgânicas, apresentaram valores médios para alongamento de 50,10% para o sentido longitudinal e 60,70% para transversal. Para couros de coelhos os valores de alongamento, analisando os tratamentos e sentidos, foram superiores quando comparados aos de novilhas. Mostrando, que os couros de coelhos apresentam maior elasticidade quando comparados aos couros de novilhos. De acordo com Hoinacki (1989), os valores referência para couros bovinos curtidos ao cromo para vestuário, independente da técnica de recurtimento, deve ser de no máximo 60 % para o alongamento na ruptura e no mínimo 14,72 N/mm para a resistência ao rasgamento progressivo e de no mínimo 9,80 N/mm2 para resistência à tração. Baseado nestas informações, os couros de coelhos de todos os tratamentos (diferentes técnicas) e sentidos analisados neste experimento possuem resistência ao rasgamento superior aos de referência. Entretanto, os couros curtidos e recurtidos com Weibull + Syntac F, não apresentaram a elasticidade adequada para confecção de vestuários. Analisando os sentidos, o longitudinal também não apresentou elasticidade adequada para confecção de vestuários (Tabelas 1, 2). Todavia, quando se utiliza um couro, o ideal é que se trabalhe com a média dos valores obtidos no sentido longitudinal e transversal, pois normalmente uma confecção sofre em algum momento tração, em todos os sentidos e direção. Na Tabela 3, constam os resultados dos testes físico-químicos referentes às cinco técnicas utilizadas de curtimento e recurtimento. A análise quantitativa de cromo indica sua capacidade de suportar elevadas temperaturas, HOCH et al. , Acta Tecnológica, Vol. 7, N° 2 (2012) kgf/cm2 (corresponde a 19,24 N/mm2). Os couros dos coelhos kgf/cm2 (corresponde a 19,24 N/mm2). Os couros dos coelhos desse experimento apresentaram espessuras inferiores, quando comparadas às espessuras dos couros de caprinos, no entanto, a resistência à tração foi semelhante aos obtidos para caprinos. Quanto ao alongamento, os referidos autores relataram valores de 43,95% e de 43,05%, respectivamente para os couros dos mestiços Boer e Anglo Nubiano, valores estes inferiores aos obtidos no mesmo experimento (Tabela 1). Portanto, os couros de coelhos apresentaram maior elasticidade quando comparados aos couros de caprinos. Os couros de coelhos apresentaram menor resistência ao rasgamento progressivo (Tabela 2), quando comparados aos couros de caprinos e ovinos. Os couros de mestiços Anglos Nubiano apresentaram valor médio de rasgamento progressivo de 56,25 N/mm e os Boer de 56,18 N/mm. Villarroel et al. (2004b), obtiveram para couros de ovinos mestiços Texel com espessura média de 0,76 mm e para mestiços Santa Inês com 0,74 mm., resistência à tração de 122,88 kgf/cm2 (12,05 N/mm²) e 171,62 kgf/cm2 (16,82 N/mm²), respectivamente. Os couros de coelhos recurtidos com tanino vegetal (15,85 N/mm2) obtiveram menor resistência quando comparados aos couros de ovinos mestiços Santa Inês. Todavia, os couros de coelhos dos demais tratamentos apresentaram resistência à tração, superiores aos dos couros de ovinos mestiços Texel e mestiços Santa Inês. Portanto, pode se observar que o agente curtente aplicado na etapa de curtimento/recurtimento ou apenas no recurtimento, interfere na resistência do couro. Os couros de ovinos mestiços Texel e mestiços Santa Inês apresentaram menor elasticidade quando comparados aos dos couros de coelhos. Os valores de alongamento foram 35,77% e 37,23%, respectivamenteparaosmestiçosTexeleSantaInês. De acordo com os referidos autores os couros de ovinos mestiços Texel apresentaram valor médio de rasgamento progressivo de 32,86 kgf/cm2 (32,20 N/mm), enquanto couros de mestiços Santa Inês de 37,92 kgf/cm2 (37,17 N/mm). Estes valores foram superiores os obtidos para os couros de coelhos recurtidos com tanino sintético combinado com vegetal (30,94 N/mm), sais de cromo (32,06 N/mm) e recurtido com tanino vegetal (25,18 N/mm). Todavia, quando o couro de coelho foi recurtimento com tanino sintético (39,69 N/mm), apresentou maior resistência ao rasgamento progressivo comparando com couros de ovinos. Quando foi avaliado o sentido (longitudinal e transversal ou paralelo e perpendicular) do couro, de ovinos mestiços Texel e Santa Inês, os autores não observaram diferença significativa HOCH et al. , Acta Tecnológica, Vol. 7, N° 2 (2012) sem retrair-se, indicando sua qualidade. mínimo Tabela 3. Valores médios dos testes físico-químicos dos couros de coelho. CONCLUSÃO Baseado nos valores de referência para confecção de vestuário, os couros de coelhos curtidos com cromo e recurtidos pelos diferentes técnicas analisadas neste experimento, é possível utilizar qualquer das técnicas por estas apresentarem resistência à tração rasgamento e elasticidade apropriada. De acordo com Hoinacki (1989) o valor mínimo de óxido de cromo no couro deve ser de 30% e segundo Basf (2005) esse valor deve ser no mínimo 2,5%. Todavia apenas os couros curtidos pela técnica T1, apresentaram 4,1% de óxido de cromo; valor acima ao recomendado. Os demais valores foram inferiores ao recomendado. As substâncias extraíveis em diclorometano devem estar no máximo entre 16% a 18% para o couro poder ser utilizado em vestuário, já os valores de pH no couro semi-acabado, segundo Basf (2005) deve ser no mínimo 3,5. As substâncias solúveis em diclorometano obtidos dos couros de diferentes tratamentos variaram de 13,0% a 27,98%, portanto apenas, os couros curtidos pela técnica T3 (recurtimento com Syntac F) poderiam ser utilizados para confecção de vestuário. Quanto ao pH da solução aquosa, os valores variam de 3,5 a 4,8 entre os tratamentos, portanto, todos os couros das diferentes técnicas apresentam pH dentro do recomendável. Considerando esses resultados dos testes físicoquímicos, a técnica que apresentou melhores resultados de teor de graxa, óxido de cromo e pH, foi a técnica recurtida com sais de cromo. Segundo Jacinto (1996), o pH aquoso do couro moído é determinado pelo potenciômetro e mede a concentração iônica da solução. A acidez excessiva provoca a degradação da cadeia protéica, pela hidrólise ácida, diminuindo a resistência dos mesmos. De acordo com Gerhard (1998) os valores referência para couros curtidos com cromo para confecção de luvas devem ser de no mínimo de 2,5% de óxido de cromo, substâncias engraxantes de 4 a 10%; resistência a tração com couros de cabra de 200 N/cm² e couros de ovelhas de 100 N/cm², alongamento a ruptura de no 50%. 36 Os agentes curtentes utilizados influenciam nos testes de resistência à tração e rasgamento progressivo. Considerando todas as variáveis analisadas neste experimento, a técnica mais indicada é o curtimento das peles com sais de cromo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10455: Climatização de materiais usados na fabricação de calçados e correlatos. Rio de Janeiro, 2005. p. 1-2. 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