FONSECA, Márcia Auxiliadora. GRAVIDEZ REINCIDENTE EM
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FONSECA, Márcia Auxiliadora. GRAVIDEZ REINCIDENTE EM
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL MARCIA AUXILIADORA FONSECA GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: motivos e razões expressas pelas adolescentes atendidas em um hospital público de Belo Horizonte Belo Horizonte 2015 MARCIA AUXILIADORA FONSECA GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: motivos e razões expressas pelas adolescentes atendidas em um hospital público de Belo Horizonte Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Área de concentração: Inovações Sociais, Educação e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Educação e Desenvolvimento Local. Orientadora: Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete. Belo Horizonte 2015 Ela só quer Só pensa em namorar Ela só quer Só pensa em namorar De manhã cedo já tá pintada Só vive suspirando, sonhando acordada O pai leva ao dotô a filha adoentada Não come, nem estuda Não dorme, não quer nada Luís Gonzaga DEDICO A minha mãe, por todos os seus exemplos e a quem devo meu maior aprendizado: resiliência, fortaleza, coragem, determinação, atitude e acima de tudo esperança e fé. Pela sua dedicação na criação dos filhos e pela superação dos inúmeros obstáculos. Estou certa de que o resultado desta vitória estava antes em suas orações. Ao porto seguro, ao seu amor incondicional, enfim, de todos os atributos à mãe, mulher e amiga excepcional! AGRADECIMENTOS A minha passagem pelo Mestrado foi marcada por várias mulheres sábias e mestras maravilhosas. Diversas são as razões que tenho para agradecer a todas as professoras que contribuíram para que eu desse mais um passo em direção ao cumprimento de uma meta tão desejada: a conclusão do Mestrado! Agradeço a todos os meus colegas do mestrado, que sala especial! Quantos gigantes, em especial ao Israel e à Rosângela. E as mulheres, todas Mestras por excelência deram seu recado sem alarde e me fizeram compreender o quanto é generoso o saber. Isso me fez remeter a uma das mulheres mais simples e sábias da nossa história, Cora Coralina que dizia: Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina... Agradeço à Profa. Drª. Matilde Miranda Cadete, pela paciência, interagindo com meus avanços e reconstruindo caminhos através de meus “erros”, sua típica paciência quanto ao meu tempo em apreender, e acima de tudo, sua sabedoria nos desencontros de informações, fazendo com que o meu ponto de vista fosse respeitado sem deixar de me convencer da importância da técnica e precisão na imparcialidade exigida na questão. A Profa. Drª. Áurea Regina Guimarães Thomazi, que como o próprio nome já sugere, veio como focos de luz me mostrar como é possível fazer diferença na educação. Nunca imaginei que a essa altura da minha vida profissional ainda ia me espelhar em uma professora. Minha vida é cercada de mulheres excepcionais, como minha mãe, uma pessoa dócil, calma, prudente, honesta e amorosa, acima de qualquer suspeita. Minhas irmãs Eliane, Ângela, Meire, tão presentes e atuantes em minha vida. Minha filha Bárbara, que a vi em várias passagens por este trabalho, por sua rebeldia, sua vontade de transgredir, com sua oscilação de humor, por ser adolescente, e estar sempre comigo. Minha grande amiga Julia, com sua energia e alegria vibrante, uma incentivadora incondicional. As minhas afilhadas Isabelli, Bruna e Ayla. As minhas amigas TOPs. E para completar o ciclo, não poderia deixar de agradecer aos homens brilhantes da minha vida, meu grande amigo Wesley, despertando-me para cursar o Mestrado. Aos meus irmãos Marco, Wanderley e Ronaldo. Ao Mestre Claudio, que nos levava à imersão com suas histórias e tão diversificadas aulas. Meu filho Otávio, minha versão masculina, orgulho maior. Ao meu marido, companheiro para todas as horas, compreensivo em sua peculiar paciência. Enfim, agradeço a todos que me inspiraram a ser uma pessoa melhor e mais sábia. Muito Obrigada! RESUMO A área de interesse deste trabalho se constituiu na visão que adolescentes reincidentes em gravidez têm a respeito dessa reincidência e como percebem as práticas de cuidado e de prevenção da gravidez, nessa faixa etária, como parte de uma política de serviço de atenção integral às adolescentes atendidas no Hospital Júlia Kubitscheck (HJK), em Belo Horizonte. Portanto, o recorte delineado se referiu às ponderações e visões feitas pelas adolescentes acerca de si mesmas enquanto mães por mais de uma vez e do atendimento recebido, uma vez se tratar de um hospital de referência em gravidez precoce. Assim, este estudo objetivou analisar as razões/motivações para a reincidência da gravidez nas adolescentes atendidas no HJK e como elas percebem os cuidados com a sua saúde sexual e reprodutiva. Para tal, buscou-se fazer um percurso, na literatura, sobre a história da sexualidade, o adolescente em tempos contemporâneos, à maternidade precoce e a educação e a gravidez na adolescência. Em seguida, fundamentada na pesquisa qualitativa, inqueriu-se, por meio de questionário semiestruturado, 16 adolescentes reincidentes em gravidez e que se dispuseram espontaneamente, ser sujeitos deste estudo. Os depoimentos foram analisados com base em Bardin(2010) e expressaram: “Sentir-se grávida novamente: razões, motivos para uma nova gravidez”; “Orientação sexual recebida na família e escola”; “Mudanças na e para a vida”; “O educar-se para trabalhar com as adolescentes”; “Reação do pai da criança à notícia da paternidade”; “A acolhida no Hospital Júlia Kubistchek: significado para as adolescentes”;” Voltar ao tempo, faria algo diferente!”. Considera-se, portanto, que os dados gerados a partir dos discursos expressos pelas 16 adolescentes desvelaram ora sentidos e motivações que encontram eco na literatura, ora singulares e em consonância com o tempo e o local vividos por elas. Vivem um movimento pendular com registros de alegrias, prazer, escolhas conscientes e momentos de inseguranças, sonhos interrompidos e projetos de vida (in)certos. As informações advindas do fenômeno reincidência da gravidez e dos cuidados recebidos no HJK possibilitaram o planejamento de ações de promoção da saúde e que poderão nortear a equipe multiprofissional do HJK em decisões assistenciais e gerenciais e às adolescentes a conscientização de escolhas para si , para os filhos, família e comunidade Dessa forma, fundamentada nos discursos das adolescentes criaram-se dois projetos de intervenção: um aplicativo para adolescentes com vistas a sua capacitação no que concerne à sexualidade, à gravidez, às (doenças sexualmente transmissíveis) DST e sugestões delas próprias. O segundo projeto é um relatório que será entregue aos responsáveis pelos cuidados das adolescentes do HJK com o intuito de contribuir coma referida instituição de saúde. Espera-se que esses dois produtos cumpram seus objetivos e as adolescentes se cuidem e recebam cuidados integrais nas instituições de saúde e de educação. Palavras-chave: Gravidez. Adolescência. Reincidência. Educação. Desenvolvimento local. ABSTRACT The area of interest of this work consisted in the view that adolescent offenders in pregnancy have about this recurrence and how they perceive the practices of care and prevention of pregnancy in this age group, as part of a comprehensive care service policy to teenagers met Hospital Júlia Kubitschek (HJK), in Belo Horizonte. Therefore, the delineated cut referred to the considerations and views made by teens about themselves as mothers more than once and care received, since it is a referral hospital in early pregnancy. This study aimed to analyze the reasons / motivations for the recurrence of teenage pregnancy treated at HJK and how they perceive the care of their sexual and reproductive health. To do this, we tried to do a course in literature on the history of sexuality, the teenager in contemporary times, early motherhood and education and teenage pregnancy. Then, based on qualitative research, asked by semi-structured questionnaire, 16 adolescent offenders in pregnancy and who were willing spontaneously by sujected this study. The reports were analyzed based on Badin (2010) and expressed: "Feeling pregnant again, reasons, reasons for a new pregnancy"; "Sexual orientation received in the family and school"; "Changes in life and for life"; "The educating themselves to work with teens"; "The child's father's reaction to the news of paternity"; "The reception in the hospital Julia Kubitschek: meaning for adolescents." "Back to the time, do something different! ".Considera, Therefore, that the data generated from the speeches expressed by 16 teenagers unveiled now senses and motivations that are echoed in the literature, sometimes natural and in keeping with the time and place experienced by them. Live a pendulum movement with records of joy, pleasure, conscious choices and moments of insecurity, broken dreams and life correct projects and not. The resulting information of recurrence phenomenon of pregnancy and care received in the hospital enabled the planning of health promotion and who can guide the multidisciplinary team of HJK in care and management decisions and adolescent awareness of choices for themselves, for their children , family and community Thus, based on the speeches of the teens were created two intervention projects: an application for adolescents with a view to enabling concerning sexuality, pregnancy, STD's and suggestions of themselves. The second project is a report that will be delivered to caregivers of HJK teen in order to contribute to such health institution. It is expected that these two products meet your goals and adolescents nurture and receive comprehensive care in health facilities and education. Keywords: Pregnancy. Adolescence. Recurrence. Education. Local development. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABEN Associação Brasileira de Enfermagem AIDS Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida BVS Biblioteca Virtual da Saúde CEP Comitê de Ética em Pesquisa CFE Conselho Federal de Educação DCNS Diretrizes Curriculares Nacionais DST Doenças Sexualmente Transmissíveis ECA Estatuto da Criança e do Adolescente FHEMIG Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais GSEDL Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística HJK Hospital Júlia Kubitscheck HIV Vírus da Imunodeficiência Humana LDBBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LILACS Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde LOAS Lei Orgânica de Assistência Social MEC Ministério de Educação e Cultura MS Ministério da Saúde ONU Organização das Nações Unidas PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PROSAD Programa de Saúde do Adolescente PSE Programa Saúde na Escola SciELO Scientific Electronic Library Online SEEC/MEC Serviço de Estatística de Educação e Cultura do Ministério da Educação e Cultura TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido UNFPA Fundo de População das Nações Unidas SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................14 1. GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: uma revisão teórica............8 2. O DNA DAS ADOLESCENTES REINCIDENTES EM GRAVIDEZ PRECOCE....35 3. PRODUTO TÉCNICO: RELATÓRIO PARA OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DO HOSPITAL JÚLIA KUBSTCHECK E UM APLICATIVO VOLTADO PARA A SAÚDE DO ADOLESCENTE ................................................................................................. 67 RELATORIO TÉCNICO.............................................................................................80 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 95 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 100 APÊNDICES .......................................................................................................... 105 ANEXOS ................................................................................................................. 114 13 1 INTRODUÇÃO O interesse pelo tema de pesquisa, “reincidência de gravidez na adolescência”, originou-se, sobretudo, da vivência profissional da mestranda, como professora de Ciências Biológicas e de seu percurso acadêmico voltado para a educação de adolescentes. Nesse processo vivencial, tanto teórico quanto prático, percebeu-se que a gravidez na adolescência é um fenômeno que circunda a vida de muitas jovens e um fato constante e cotidiano nos diversos espaços públicos e privados. Junto a este percurso, emergiu uma inquietação relativa às razões para a reincidência da gravidez nas adolescentes atendidas no Hospital Júlia Kubitscheck (HJK) pertencente à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG). Agrega-se ao conhecimento das razões para a reincidência da gravidez, as ponderações e visões que têm do serviço no que concerne aos cuidados com a sua saúde sexual e reprodutiva. Pretende-se, portanto, aprofundar conhecimentos acerca do debate sobre adolescência e sexualidade que discute para além das questões da anatomia do corpo e suas funções, mas também sobre a saúde sexual e a própria sexualidade. A atual geração se verá às voltas com a questão do controle sobre o corpo e da sua autonomia. Não será fácil produzir respostas. Não lhe bastará compreender tais dilemas e ter informações técnicas sobre a vida reprodutiva. Será preciso que as explicações venham de sua própria prática, reconstruindo os significados herdados em função daquilo que virá a vivenciar em suas trajetórias (AFONSO, 2001, p. 217). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) o número de adolescentes grávidas está crescendo no país. De 2011 a 2012, o total de filhos gerados quando as mães tinham entre 15 e 19 anos quase dobrou: de 4.500 para 8.300. Nessa faixa de idade, 18% das mulheres já engravidaram ao menos uma vez. Com isso, é perceptível e visível a importância em desenvolver projetos preocupados com a saúde integral do adolescente. Em 2013, adolescentes de 10 a 14 anos deram à luz a 27.989 bebês, de 15 a 19 anos o número foi maior 532.002 (BRASIL 2013). Segundo o Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2010, p. 48): Investir na saúde da população adolescente e jovem é custo efetivo porque garante também a energia, espírito criativo, inovador e construtivo dessas pessoas, que devem ser consideradas como um rico potencial capaz de influenciar, de forma positiva, o desenvolvimento do país. 14 É respeitável, portanto, pensar e investir em políticas públicas que atendam à saúde do adolescente, não apenas de forma individualizada, mas que visem ações e as coloquem em prática, tecendo uma rede entre a família, sociedade, educação e comunidade. Pretende-se puxar o fio desse novelo por esse caminho. A gravidez na adolescência representa um importante problema social e de saúde pública em muitos países, inclusive no Brasil. Para Bruno et al. (2009), a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a gravidez na adolescência como um problema de saúde pública e social, tendo em vista que a análise, tanto de trabalhos nacionais quanto internacionais, delega pior desempenho obstétrico e repercussões para o recém-nascido, à idade materna, a pobreza e baixa escolaridade, além de uma inadequada assistência pré-natal. Esses autores complementam afirmando que as condições econômicas e sociais das adolescentes devem ser avaliadas. Esta afirmativa leva em conta que se descobriu que 60% das adolescentes grávidas não estudavam e entre as que ainda estavam estudando a maioria tinha baixa escolaridade. Trata-se, portanto, de implicações desfavoráveis da gravidez na e para a adolescência. O objetivo desta pesquisa foi analisar as razões/motivações para a reincidência da gravidez nas adolescentes atendidas no HJK e como elas percebem os cuidados com a sua saúde sexual. Buscou-se realizar uma revisão teórica sobre sexualidade, programas de saúde sexual e reprodutiva na adolescência, com ênfase na gravidez de jovens. Esta pesquisa objetivou conhecer o perfil sócio demográfico das adolescentes sujeitos do estudo, conhecer as razões e motivações que as adolescentes atribuem ao fato de terem engravidado novamente e de como percebem o atendimento recebido no HJK. Ainda foi necessário discutir com as adolescentes as práticas de atenção à saúde do adolescente, os fatores que contribuem ou que não contribuem para que cuidem de sua saúde sexual e reprodutiva, com ênfase na prevenção da gravidez reincidente. Na região do Barreiro, em Belo Horizonte, o número de adolescentes reincidentes na gravidez precoce, pode-se inferir, é um fato que convoca para estudos com vistas à busca de suas razões/motivações que possam minimizar o problema através de um trabalho mais efetivo. Dessa forma, pretende-se colaborar para a reflexão de conhecimentos que contribuam para a solução de problemas oriundos da 15 gravidez na adolescência e oportunizar grupos que empoderem e mobilizem a comunidade para a promoção do desenvolvimento local. Para clarificar o conceito de “Local” considera-se o termo "local" como a “delimitação de um espaço territorial mais restrito, podendo ser uma cidade, município ou um bairro, as relações sociais que nele se desenrolam (hierarquias ou não) e as forças endógenas” (sociedade civil, comunidade, instituições, associações, igrejas, dentre outros) presentes nestes espaços, que “[...] se mobilizadas articuladamente, constituem as bases de um projeto de desenvolvimento” (KNOPP, 2008, p. 52). Pretende-se, ainda, rever e contribuir para que o trabalho educativo realizado no HJK se efetive, uma vez que “[...] educar é intervir na capacidade de ser e agir das pessoas, pelas mediações culturais, isto é, pelos instrumentos simbólicos e materiais, num contexto de relações comunicativas (LIBÂNEO, [s.d.], p. 2). O relatório da Situação da População Mundial elaborado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, 2013) aponta que: [...] alguns governos e comunidades têm sido capazes de reduzir a fertilidade dos adolescentes por meio de ações destinadas a alcançar outros objetivos, como manter as meninas na escola, prevenir a infecção por HIV, acabar com o casamento precoce, formar capital humano a partir das meninas, empoderar as meninas para tomarem decisões de vida e defenderem os seus direitos humanos (UNFPA, 2013, p. 58). Essa citação confirma a importância de um trabalho educativo com as adolescentes reincidentes na maternidade, para que elas se tornem agentes multiplicadoras e, assim, contribuam com ações para a comunidade local. do trabalho educativo nos vários setores que envolvam os adolescentes. Como docente, partilhando o mundo da adolescência durante anos, mostraram como um espelho refletor de quão elevado é o número de jovens grávidas no Brasil, confirmando a situação mundial e a importância de se trabalhar a sexualidade na adolescência, com os adolescentes e demais segmentos profissionais em todos os setores por onde transitam os jovens. Segundo o relatório de Situação da População Mundial, em 2013, divulgado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU): Todos os dias, 20 mil meninas com menos de 18 anos dão à luz em países em desenvolvimento. Do total anual de 7,3 milhões de novas mães adolescentes, 2 milhões têm menos de 15 anos; se persistirem as tendências atuais, o número de nascimentos advindos de meninas com menos de 15 pode chegar a 3 milhões por ano em 2030 (UNFPA, 2013, p.1). 16 Esse contexto tem tido visibilidade social e educacional e na área de saúde. Há diversos espaços que se propõem cuidar das adolescentes grávidas e em outros contextos de vulnerabilidade social. Trata-se de um fenômeno complexo, multifacetado e que requer ações intersetoriais. Contudo, ainda se tem resultados frágeis e que demandam sua compreensão na busca de se conhecer a raiz de sua ineficiência, ou não. O Hospital onde ocorreu a pesquisa, em Belo Horizonte, é um dos espaços de acolhimento de adolescentes grávidas, referência em gravidez nessa faixa etária. Pretende-se investigar como as adolescentes vivenciam o processo de estar nesse espaço e explorar as razões/motivações de reincidirem na gravidez. A pesquisa no serviço de atenção integral às adolescentes, especialmente com foco naquelas que passam por gravidez reincidente e necessitam de uma equipe interdisciplinar e intersetorial, poderá subsidiar ações efetivas e eficientes no cuidado já realizado pelo HJK e com redundância nas escolas. Pretende-se, ainda, salientar a importância dos cuidados que as adolescentes recebem no HJK, como são atendidas e, assim, tentar contribuir, com dados sistematizados e efetivos com a equipe que os materializa. Para alcance dos objetivos desta pesquisa o trabalho foi dividido em três capítulos, assim organizados. No Capítulo 1, “Gravidez reincidente em adolescentes: uma revisão teórica”, fez-se uma revisão teórica fundamentada em artigos científicos identificados na Plataforma da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na base de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Fez-se necessário clarificar os conceitos sobre adolescência e puberdade e como as políticas públicas contribuem ou não para fazer jus aos direitos à saúde reprodutiva dos adolescentes. Descreveu-se sobre a maternidade precoce e suas complicações, assegurando que a gravidez na adolescência traz sérios resultados biológicos, familiares, psicológicas e econômicos, restringindo ou espaçando as possibilidades de ampliar o engajamento dessas adolescentes na sociedade. Narrouse o pensar ações que coloquem em prática uma rede entre a família, sociedade e educação de forma a amenizar os problemas oriundos de uma gravidez na adolescência. 17 O Capítulo 2 constitui-se no relato de pesquisa com base numa abordagem qualitativa; foram sujeitos as adolescentes atendidas no HJK, que é referência em gravidez em adolescente no estado de Minas Gerais. Os dados foram colhidos por meio de um questionário semiestruturado e analisados com base em Bardin (2010). Denominou-se esse capítulo “O DNA das adolescentes reincidentes em gravidez precoce”, usando-se como metáfora a comparação com a molécula de DNA, pois essa molécula é nossa identidade e contém informações únicas ao nosso respeito. E acredita-se que os relatos advindos de vivências singulares e pessoais das adolescentes poderão construir significados importantes para fornecer informações para o desenvolvimento local e minimizar a gravidez precoce. No Capítulo 3, “Produto técnico: relatório para os profissionais da saúde do HJK e um aplicativo voltado para a saúde do adolescente”, foram apresentados dois produtos técnicos, elaborados pela autora desta pesquisa. Um produto refere-se a um relatório com sugestões feitas pelas próprias adolescentes de como melhorar o atendimento no HJK. O outro produto refere-se a um aplicativo, que é um software que funciona como um conjunto de ferramentas desenhado para realizar tarefas e trabalhos específicos no seu computador ou em plataformas móveis (celular, tablets). App é um codinome dado para o termo “aplicativo” (que vem do inglês,application) – esse App é voltado para a saúde do adolescente. 18 1 GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: UMA REVISÃO TEÓRICA Márcia Auxiliadora Fonseca1 Matilde Meire Miranda Cadete2 RESUMO Este capítulo objetivou analisar as publicações científicas a respeito da recidiva em gravidez de adolescentes. Para tal, fundamentou-se na pesquisa bibliográfica com levantamentos de artigos nas bases de dados da SciELO e da LILACS, a partir dos descritores: gravidez, adolescência, sexualidade, educação e desenvolvimento local. Também se fez consulta em livros, dissertações, teses e programas governamentais. Para a construção do referencial teórico, estudaram-se as teorias que abordam saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, gravidez na adolescência, bem como os programas nacionais como as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde do Ministério da Saúde, entre outros. Acredita-se que o conhecimento advindo desses referenciais teóricos se constitua em ferramenta de capacitação dos profissionais que lidam com adolescentes e fortaleça o fazer educativo com (os)as adolescentes em qualquer espaço onde vivem/habitam. Palavras-chave: Gravidez. Adolescência. Sexualidade. Educação. Desenvolvimento local. ABSTRACT This study aimed to analyze the scientific literature about the recurrence in adolescent pregnancy. To do this, it was based on literature surveys with articles in the databases of SciELO and LILACS, from descriptors: pregnancy, adolescence, sexuality, education and local development. Also it made in consultation books, dissertations, theses and government programs. For building the theoretical framework, we studied up theories that address sexual and reproductive health of adolescents, teenage pregnancy, as well as national programs like the National Guidelines for Comprehensive Health Care for Adolescents and Youth in the Promotion, Protection and Recovery Health of the Ministry of Health, among others. It is believed that the knowledge provided these theoretical frameworks would constitute a training tool for professionals who deal with adolescents and strengthen the educational do with adolescents in any space where they live / live. Keywords: Pregnancy. Adolescence. Sexuality. Education. Local development. 1Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UMA. 2Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. 19 1.1 INTRODUÇÃO A saúde reprodutiva dos adolescentes é um problema de saúde pública e social, uma vez que 20% da população do Brasil são de adolescentes na faixa de 10 a 19 anos de idade. Trabalhos sobre esse tema têm despertado interesse em pesquisadores, pois segundo Oliveira (2012, p. 562), é um tema expressivo para a definição de políticas populacionais, uma vez que muitas jovens vão ao óbito por agravos à saúde materna. E [...] uma gestação indesejada ou sem apoio social e familiar, frequentemente leva adolescentes à prática do aborto ilegal e em condições impróprias, constituindo-se esta, em uma das principais causas de óbito por problemas relacionados à gravidez. Preocupado com a situação de saúde integral dos adolescentes, em 21 de dezembro de 1989, o Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria nº 980/ MG ,criou o Programa Saúde do Adolescente (PROSAD), fundamentado na política de promoção de saúde, identificação de grupos de risco, detecção precoce aos agravos à saúde, com tratamento apropriado e reabilitação. Adverte-se, ainda, projetar e desenvolver ações educativas e participativas em todas as ações dirigidas aos adolescentes, para que estes se apropriem de conhecimentos indispensáveis e gerir a própria saúde (BRASIL, 1996). Sousa (2009) assegura que o PROSAD é um programa caracterizado pela integralidade das ações e pelo enfoque preventivo e educativo, viabilizando a saúde reprodutiva dos adolescentes ao oferecer suporte e informações sobre métodos contraceptivos e como evitar doenças sexualmente transmissíveis (DST). De acordo com Souza (2009, p. 646): O PROSAD, por sua vez, tem como população-alvo os adolescentes e como área prioritária de ação a saúde reprodutiva. Entretanto, o que tem sido mostrado é que a utilização de métodos contraceptivos não ocorre de forma adequada em razão de(o/a): própria negação do adolescente da possibilidade de engravidar; fato de os encontros sexuais serem casuais; o uso de métodos preventivos representarem assumir a vida sexual ativa e; pelo conhecimento inadequado relativo aos métodos. Acredita-se que esses programas voltados para a saúde dos adolescentes tendem a acrescentar conhecimento, orientar e resgatar a autoestima dos mesmos, orientação sobre as DST e métodos contraceptivos. Manfredo, Cano e Santos (2012) 20 asseguram ser importantes essas ações para a precaução de problemas relacionados à saúde reprodutiva entre os jovens. O Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui cerca de 34 milhões de adolescentes, representando um importante grupo populacional para diversas ações de saúde voltadas para a promoção e a prevenção de agravos à saúde (MANFREDO; CANO, SANTOS,2012, p.193). O Ministério da Saúde, em 2009, avançou no que tange ao atendimento dos adolescentes ao criar as Cadernetas de Saúde da Adolescente e do Adolescente, respeitando as características específicas de cada gênero. Nestas cadernetas, reúnem-se subsídios desde as transformações corporais até como evitar as DST e orientações sobre saúde sexual e saúde reprodutiva, saúde bucal e alimentação. Aponta amparar meninos e meninas entre 10 a 19 anos na fase de mudanças e descobertas próprias da adolescência (BRASIL, 2009). Conhecedora desse contexto teórico aliado à vivência profissional da mestranda, enquanto professora de Ciências Biológicas, a temática reincidência de gravidez na adolescência presentificou-se como uma lacuna a ser abordada, refletida para, posteriormente, possibilitar a apresentação de alternativas efetivas e eficazes, uma vez que urge fortalecer e conhecer programas que desenvolvem políticas públicas com atividades para promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, principalmente as reincidentes em maternidade precoce. Há de se pensar em ações e estratégias intersetoriais, particularmente, da Educação e da Saúde, direcionadas a esse público específico, respeitando suas escolhas e necessidades, compreendendo sua sexualidade, seu processo pessoal e sua maneira de cuidar de si e do outro, sua estrutura psíquica e a constituição da sua subjetividade, valorizando as suas ideias e oportunizando sua participação efetiva, o que justifica estudos qualitativos e quantitativos para se compreender o fenômeno, além de investimento em novas pesquisas e políticas públicas para essa parcela da população (BRASIL, 2009, p. 337). Neste campo, percebe-se que tanto a mídia falada e escrita quanto publicações científicas nacionais e internacionais apresentam o fenômeno da gravidez na adolescência como um problema de saúde pública, social, econômico, conforme anunciado anteriormente. É o que dizem a respeito da reincidência de gravidez na adolescência? Os programas nacionais e estatais versam também acerca dessa reincidência? O que a literatura científica aborda? Apresentam estratégias de ação para os profissionais, principalmente, de saúde e de educação? 21 Desse modo, torna-se pertinente pesquisar na literatura científica o que se tem divulgado a respeito da reincidência em maternidade precoce como temática que contribua para a formação de adolescente no que concerne a sua saúde reprodutiva. Assim sendo, este estudo objetivou analisar as publicações científicas a respeito da recidiva em gravidez de adolescentes. 1.2 METODOLOGIA Este estudo se fundamentou na pesquisa bibliográfica acerca de sexualidade, gravidez e reincidência na adolescência, educação e desenvolvimento local. Gil (2008, p. 50) afirma que [...] a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. A revisão de literatura consiste-se na busca do aprofundamento e conhecimento produzido sobre o assunto, possibilitando uma revisão e um recorte do tema (NORONHA; FERREIRA, 2000). Identificou-se artigos na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO) e da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), com os descritores: gravidez, adolescência, sexualidade, educação e desenvolvimento local. Também foram pesquisados livros, dissertações, teses e programas governamentais que possibilitaram o aprofundamento teórico e apreensão e compreensão do fenômeno em pauta. Priorizaram-se autores que versam sobre a história da sexualidade, saúde reprodutiva do adolescente, maternidade precoce, reincidência de gravidez na adolescência e de como esses temas transversalizam programas ministeriais, estatais e municipais. 1.3 REFERENCIAL TEÓRICO Buscou-se descrever, sucintamente, as variações comportamentais comuns à maioria dos adolescentes, seus conflitos, mudanças repentinas e as políticas públicas que regem em tempos contemporâneos. Procurou-se delinear sobre a maternidade precoce e de como a educação sinaliza a necessidade de se falar do tema sexualidade 22 de forma mais abrangente e mais próxima dos jovens com vistas a atingir escolas e vários outros meios de se propagar a educação para que nelas sejam abordados temas ligados à sexualidade, ao conhecimento do corpo não apenas biológico, mas sistematizado da saúde reprodutiva do adolescente. Afinal, grande parte dos jovens estreia relacionamentos por meio de redes sociais, como Facebook, E-mail, Blog, Twitter, WhatsApp, Snapchate, e o que mais a tecnologia de informação nos fornece. Nelas começam os flertes, namoram “virtualmente”, e um número crescente desses relacionamentos virtuais acaba no encontro físico das partes, na igreja. O costume iniciou-se através das mensagens de textos SMS, mas, com o avanço tecnológico inclui-se o envio de fotografias e de vídeos, inclusive pornô. Ao mesmo tempo, a gravidez na adolescência aumentou (DEL PRIORE, 2012, p. 11). 1.3.1 SÍNTESE HISTÓRICA DA SEXUALIDADE O tema sexualidade é, no mínimo, desafiador. É preciso investigar, identificar suas raízes, resgatar historicamente suas linhagens. A evolução sexual abrange territórios sexuais, biológicos, sociais, econômicos, religiosos, culturais e estão inseridos no contexto das relações desde as primeiras civilizações. O alicerce da sexualidade está refletido nas construções evolutivas, não em partes, de maneira isolada. Suas relações acompanham as transformações da época das quais a sociedade se apropria em acordo com seus valores, modo de vida e identidade estrutural. De acordo com Tiburi e Valle (2008), a história da sexualidade inicia-se na filosofia. O útero foi o precursor da sexualidade e da filosofia. Nele, aspirações e inspirações foram implantadas desde os primeiros partos. Sobre esse aspecto, Del Priore afirma que [...] entre os séculos XII e XVIII, a Igreja identificava, nas mulheres, uma das formas do mal sobre a Terra. Quer na filosofia, quer na moral ou na ética do período, a mulher era considerada um ninho de pecados. Os mistérios da fisiologia feminina, ligados aos ciclos da Lua, ao mesmo tempo que seduziam os homens, os repugnavam. O fluxo menstrual, os odores, o líquido amniótico, as expulsões do parto e as secreções de sua parceira o repeliam. O corpo feminino era considerado impuro. Venenosa e traiçoeira, a mulher era acusada pelo outro sexo de ter introduzido sobre a Terra o pecado, a infelicidade e a morte (DEL PRIORE, 2012, p. 35). Na filosofia, Sócrates tentou reproduzir o gesto da mãe (parteira) “parindo” ideias, tendo em vista a impossibilidade do exercício da função que até então era 23 tipicamente feminina. Nasce então a Maiêutica, que significa “parto”, “parto das ideias”, “reproduzir as ideias” (REALE, 1990). Segundo Tiburi e Valle (2008, p. 60), “a maiêutica, que se traduz por parto, deve ser aquele método que se faz nascer à alma, não o corpo”. Reale (1990, p. 99) afirma que, [...] segundo Sócrates, assim como sua mãe fora uma famosa parteira ele também praticava semelhante arte. A diferença principal que Sócrates expõe é que sua mãe praticava o parir do corpo, ao passo que ele, o da alma. Não que ele queria dizer que havia um nascer constante de novas almas a partir de outras, longe disso, para o filósofo, os frutos da alma são o saber, e é isso que ele pretende fazer, ajudar jovens a parir o saber que sai de sua alma, pois, segundo Sócrates, é na alma que reside todo o saber pertinente ao ser humano. Para Kant apud LINO, 2008, as mulheres não passavam de meros objetos, enfeites, bibelôs, incapazes de discutir, portanto, perfeitamente dispensáveis em reuniões. Uma mulher se sente pouco embaraçada por ser desprovida de grandes ideias ou por se mostrar receosa com ocupações importantes ou despreparadas para elas. É bela e agrada_ basta. Exige do homem todas essas qualidades, e a sublime de sua alma, revela-se apenas em saber apreciar essas nobres qualidades, tão logo devam encontrar-se nele (KANT, 1764, p. 76, 62). Aos homens era concedido todo o poder do pensar, trocar ideias, discutir política. As mulheres se limitavam às tarefas domésticas, como cuidar dos animais, filhos, e das dependências da casa. “Durante muito tempo permaneceu a ideia de que à mulher cabia apenas o destino do privado (serviços domésticos) e da maternidade. Ao homem cabia o espaço público (do trabalho), devendo esse ser o provedor da família” (PATIAS; DIAS, 2013, p. 88). Sobre esse aspecto, Roldan (2013, p.188) afirma que “[...] houve uma incapacidade natural que impede as mulheres de envolver em aquisição de conhecimentos e relações públicas, foram demonstradas que a falha veio das leis convencionais que os homens tinham que estabelecer”. O sexo e a forma de pensar em sexo passam ao longo do tempo por profundas transformações que marcaram gerações. Afetado ou não pela cultura, pelo ambiente, o sexo sempre passou pelo crivo da liberdade e das limitações. Portanto, não há possibilidade de falar da evolução sexual sem falar de suas tradições, contradições, coerências e incoerências. 24 Os códigos da Igreja Católica pareciam ocultar sob o leito dos casados, o controle de tudo. O sexo admitido era restrito exclusivamente à procriação. Donde a determinação de “posições “certas” durante as relações sexuais. Era obrigatório usar o “vaso natural” e não o traseiro. Era proibido à mulher colocar-se por cima do homem, contrariando as leis da natureza (DEL PRIORE, 2012, p. 43). “Até para ter relações sexuais as pessoas não se despiam. As mulheres levantavam as saias ou as camisolas, e os homens, abaixavam as calças e ceroula” (DEL PRIORE, 2012, p. 41). Essa autora sinaliza ainda que os trajes para dormir cobriam praticamente todo o corpo. Há registros de orifícios nas camisolas e nas ceroulas na região da vagina e do pênis, para facilitar as relações sexuais, o despir completo só aconteceu a partir do século XX. Ao longo dos anos, o sexo foi sendo discutido ou refletido conforme a importância das transformações de suas culturas. Para Foucault (1988), em algumas épocas, ele era exercido e tratado sem nenhuma conotação ou relevância moral ou social, sem pudores ou freios. Michel Foucault assim discorre sobre o comportamento sexual que antecede o século XVII. “Gestos indiretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças astutas vagando, sem incômodo, nem escândalo entre os risos dos adultos: os corpos pavoneavam ” (FOUCAULT, 1988, p. 9). Figueiredo (2010) afirma que o avanço da liberdade sexual possui um histórico conflituoso, marcado por visões embasadas de liberdade e repressão. No século XVII, o sexo passou a ser sinônimo de ameaça, perigo, e, por consequência, temido. Nesse mesmo período, o puritanismo, originado na Inglaterra, restringiu ainda mais o sexo vinculando-o apenas dentro do matrimônio. Dois séculos depois, o sexo veio à tona em movimentos que o colocavam no papel de procriação apoiado ou justificado pela evolução das ciências humanas. “O século XIX dá origem a um novo movimento antissexual na Inglaterra, denominado Vitorianismo, no qual aceitavam o sexo somente para fins de procriação, tendo o apoio de médicos e estudiosos da área” (FIGUEIREDO, 2010, p. 18). A Era Vitoriana foi o período em que a Rainha Vitória governou a Inglaterra de 1837 a 1901, época de transformações na sociedade inglesa. A mulher vitoriana era 25 meiga, dócil, resignada sexualmente e durante sua vida não recebia informações acerca de sua saúde reprodutiva. Eram mulheres preparadas para cuidar do lar, dos filhos e do marido. Conforme assevera Del Priore (2012, p. 81): Era rude o momento da iniciação feminina por um marido que só conhecia a sexualidade venal. Daí a prática da viagem de lua de mel, para poupar a família de uma ocasião constrangedora. Para diminuir o chocante da situação, o quarto do casal devia funcionar como um santuário da maternidade; a cama, como o altar onde se celebrava a reprodução. As mulheres não podiam falar de sexo, mesmo quando estavam entre um grupo de mesmo gênero. Elas eram preparadas para os afazeres do lar. Liam a Bíblia e no domingo recitavam versos para a família. Por não ter intimidade com seu próprio corpo e pela falta de liberdade de buscar conhecimentos sobre o sexo e a sexualidade, a mulher vitoriana se fechava em si mesma, se resguardava de maneira reprimida. A sua força estava em sua fragilidade, o que até então era o argumento perfeito para ser tratada com delicadeza e candura (MONTEIRO, 1998). Ao mesmo tempo que esses atributos conferiam a elas um diferencial, até certa superioridade, o sexo oposto não conseguia corresponder de forma viril a essa imagem “angelical”. Embaraçados e confusos, talvez porque os remetessem a um universo mais "materno" do que a de mulher propriamente dita, os homens deixavam a desejar nas relações sexuais. Eles não conseguiam conciliar a imagem angelical, tão pouco deixava fluir, com naturalidade, seus instintos sexuais. Os homens não se sentiam à vontade para ter relações sexuais com suas esposas, pois temiam não saber lidar com tanta doçura e leveza; muitos se sentiam constrangidos em ter relações sexuais com o “anjo do lar”, guardiã do lar. Foucault, ao discorrer sobre a Era Vitoriana, retrata como o sexo passou a ser vivenciado na época: Um rápido crepúsculo se teria seguido a luz meridiana, até às noites monótonas da burguesia Vitoriana. A sexualidade é então cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa, a família conjugal a confisca e absorve-a inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala (FOUCAULT, 1988, p. 9). No Brasil, na época da colonização, Del Priore (2012) aponta que os Jesuítas mandavam vir de Portugal tecidos de algodão para cobrir as crianças indígenas que andavam nuas e frequentavam as escolas. 26 O corpo nu era concebido como foco de problemas duramente combatido pela Igreja nesses tempos: a luxúria, lascívia, os pecados da carne. Afinal, como se queixava padre Anchieta, além de andar peladas, as indígenas não se negavam a ninguém (DEL PRIORE, 2012, p. 17). Em meio às tantas contradições que as histórias sobre a sexualidade envolvem, no Brasil, as mulheres tinham que se enfeiar e os homens tinham que “dormir só de um lado, nunca de costas, porque a concentração de calor na região lombar desenvolve excitabilidade aos órgãos sexuais” (DEL PRIORE, 2012, p. 31). Prosseguindo Del Priore (2012) assegurou que a paixão física abreviava a vida do homem, além de emburrecê-los. Conclui que os castos vivem mais. Segundo Monteiro (1998), o lar se constitui no ambiente considerado sagrado e, por assim ser, é a base moral da sociedade. Não se podia falar de sexo deliberadamente, principalmente na presença de crianças. Tão pouco expor o tema publicamente. Não há como não fazer hoje a correlação desses aspectos para maior entendimento da evolução sexual. Muitos acontecimentos do passado nos fazem compreender o comportamento sexual dos tempos contemporâneos. A educação sexual passa ao longo dos tempos por mudanças e é marcada por informações que hoje nos parece sem nexo, mas que interferiam profundamente na vida de muita gente. O sexo, desde o século XIX, intrigou cientistas. A mulher, principalmente, os induziu às mais variadas investigações sobre esse aspecto. Dantas (2010, p.716) nos afirma que: Alguns estudos científicos confirmaram a hipótese de que as mulheres não eram insensíveis ao desejo sexual e as experiências eróticas. Contudo prevaleceram os trabalhos acadêmicos que divulgaram que as mulheres respeitáveis da sociedade burguesas não eram acometidas de paixões. Embora critérios usados para esse fim não fossem confiáveis, a técnica científica influenciava os padrões morais e, de certa forma, influenciava os formadores de opinião. A exposição desse tema, ainda no século XIX, aponta a necessidade de se falar da educação sexual de forma mais abrangente, atingindo escolas para que nelas sejam abordados temas ligados à sexualidade, ao conhecimento do corpo não apenas biológico, mas cultural, social e emocional; métodos preventivos de doenças sexualmente transmissíveis e também como controle biológico, evitando métodos nada convencionais, como a prática de abortos. 27 Para Santos (2001), o tema sexualidade sempre afligiu a sociedade, tendo em vista que tinha como premissa controlar os corpos e os altos índices de doenças advindas da prática sexual. O século XX foi significativo para a “entrada” da educação sexual no âmbito escolar. O autor Armênio Fernandes nos informa que na escola a Educação Sexual surge de forma explícita, em pleno século XX (FERNANDES, 2006). Discussões foram geradas sobre a introdução de temas inseridos na Educação Sexual nas escolas em países avançados e, posteriormente, veio a obrigatoriedade. Na França já se discutia em 1948 as questões da Educação Sexual nos estabelecimentos de ensino. Mas foi na Noruega que se estabeleceu a obrigatoriedade da Educação Sexual nas suas escolas ainda em 1950, (FERNANDES, 2006, p. 26). No século XX, Sigmund Freud vem de maneira revolucionária inferir no campo das ciências humanas sobre a teoria da sexualidade na infância e como essa seria desenvolvida no indivíduo. Esses foram, talvez, os primórdios da revolução sexual no campo das ciências humanas. Trabalhar a ideia de que a criança teria o ímpeto sexual por natureza e que na puberdade isso só se potencializava era uma missão difícil antes de Freud. Aliás, é complicado admitir impulsos e mecanismos naturais como ereção ou masturbação nessas fases. No Brasil, em meados do século XX, iniciou-se a preocupação do cuidado com o corpo, proveniente da saúde pública, educação sanitária e educação sexual, que sofreu forte influência pelas correntes médicas higienistas de origem europeia. A promoção à saúde assumia valores de controle mais científico sem deixar de ter seu peso moral (SANTOS, 2001). De acordo com Santos (2001, p. 12): [...] essa educação tinha como objetivo combater a masturbação, as doenças venéreas, bem como o preparo da mulher para exercer o papel de esposa e mãe, visando sempre à "saúde pública" e à "moral sadia," procurando assegurar a saudável reprodução da espécie. Ainda pautadas em Santos (2001), encontra-se que os debates iniciais, a respeito de orientação sexual brasileira, trazem marcas de profundas repressões de 28 combate a qualquer forma de manipulação sexual, defesa de cunho moral e prevenção de doenças, evidenciando-se, por conseguinte, o zelo pela saúde pública. Como se vê em Del Priore (2012, p. 12): Como mudamos através dos tempos! A atenção que damos ao corpo, à nudez e ao sexo é cada vez maior. Como se vê em outrora era diferente, homens e mulheres tiveram que se dobrar às chamadas “boas maneiras”. Andar nu, fazer sexo, defecar ou urinar publicamente eram hábitos – ainda presentes em várias culturas ou grupos – que foram banidos de nosso convívio. E hoje, na contemporaneidade, como andam esses debates, esses costumes no contexto da adolescência, da escola e demais instituições cuidadoras e formadores? 1.3.2 O ADOLESCENTE EM TEMPOS CONTEMPORÂNEOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Do ponto de vista biológico, a adolescência é caracterizada por um intenso crescimento e desenvolvimento, com transformações anatômicas, fisiológicas, mentais e sociais, desencadeadas por ação hormonal caracterizadas, principalmente pela aceleração e desaceleração do crescimento físico, mudança corporal, eclosão hormonal, envolvendo hormônios sexuais e evolução da maturidade (MANFREDO; CANO, SANTOS, 2012, p. 193). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência inicia-se dos 10 a 19 anos, e a Constituição Brasileira de 1988 definiu a adolescência entre 12 e 18 anos (BRASIL, 1996). Esses cortes cronológicos visam, prioritariamente, ao uso para fins didáticos e políticos. Vale ressaltar aqui que neste estudo optou-se pela faixa etária definida pela OMS. A adolescência é uma etapa de descobertas, quebrar paradigmas, errar, acertar, arriscar, agir por impulso e se ver como transformador de caminhos possíveis. Ser adolescente se conecta mais à questão da alma do que da faixa etária. É, também, uma vivência cultural e social que varia de lugar para lugar e de tempos em tempos. Para Rangel, Costenaro e Roso (2012, p. 2987). [...] essas mudanças, no entanto, são acompanhadas de adventos contraditórios e, muitas vezes, inesperados, ou seja, de variações comportamentais comuns à maioria dos adolescentes. Algumas variações, mais comuns, são: as mudanças repentinas de humor, momentos de extrema euforia, tristezas, agitação, preguiça, desconfiança, agressividade, condutas estranhas, timidez, irritabilidade e postura hostil, dentre outros. 29 Percebe-se, portanto, que a adolescência é marcada por conflitos, rupturas, épocas de crises, turbulências, transformações, mudanças físicas e emocionais. Manfredo, Cano e Santos (2012, p. 193) assim se pronuncia: “Paralelamente a essas mudanças corporais, evoluem aquelas de ordem psicoemocionais como capacidade de abstração e pensamento crítico, independência emocional, autoconhecimento e permanente curiosidade.” Adolescer é uma fase em que alguns jovens não têm a maturidade de um adulto, mas são cobrados como tal, e que, em alguns casos, ainda trazem a ingenuidade de uma criança. Alguns apresentam posturas rebeldes, cuja rebeldia pode levar a dificuldades de relacionamento com os pais, professores, enfim, a todos aqueles que são repressores as suas ideais. No aspecto fisiológico, o jovem começa uma fase de conhecimento e descobrimento de seu corpo. Começa a se habituar às modificações do organismo como: a maturidade do sistema reprodutivo, desenvolvimento dos músculos, ossos e tecido gorduroso, alteração da voz, desenvolvimento das glândulas mamárias, aparecimento de pelos, acnes, alterações hormonais, aumento do peso e da estatura entre outros (RANGEL; COSTENARO; ROSO, 2012, p. 2987). É na adolescência que ocorre a perda do corpo infantil e acontece a fase do estirão, podendo advir dores no corpo sem motivos aparentes, além das espinhas no rosto, constantes alterações de humor, as contradições excessivas do comportamento. Sobre esse aspecto, Rangel, Costenaro e Roso (2012, p. 2687) asseguram que [...] na adolescência ocorrem profundas modificações e transformações comportamentais em busca por autoafirmação, identidade própria, formação de caráter e personalidade, independência dos pais, de ideias e conceitos preestabelecidos, ao passo que também há a procura por estabilidade social em um grupo de convívio. Os grupos de convívio associados à forte influência da mídia ditam modos de comportamento em massa, principalmente nas roupas e nas músicas, além de outras influências, o que faz com que essa época seja marcada de mistérios e fazem com que os adolescentes sejam caracterizados como “enigmáticos”. Nesse sentido, Baratieri, Cazetta e Marcon (2011) nos alerta ao dizer que a mídia bombardeia os adolescentes com programas, novelas e propagandas 30 apelativas ao sexo, o que pode induzir ao início precoce da vida sexual sem consciência, na maioria das vezes, das implicações advindas da vida sexual ativa. Outro aspecto importante são os relacionamentos amorosos de grande parte dos adolescentes de hoje: estes são instáveis e pouco duradouros, sendo intitulado como “ficantes”, relacionamento sem compromisso, sem envolvimento emocional, sem garantia de tempo, sem estabilidade. Ainda sob o foco dessa perspectiva, Bordignon et al. (2013) atestam que “adolescer” é viver rupturas, sentimentos contraditórios, transgressões. Esse vivido desencadeia difícil compreensão para o adolescente, família e grupo social. Os jovens são fortemente influenciados pelos meios de comunicação, pelo ambiente, pela educação formal e informal que vivenciam. Estão buscando autoafirmação, identidade própria, formação de caráter e personalidade por meio do que vivenciam. A mídia, nas suas múltiplas manifestações, e com muita força, assume relevante papel, ajudando a moldar visões e comportamentos. Ela veicula imagens eróticas, que estimulam crianças e adolescentes, incrementando a ansiedade e alimentando fantasias sexuais. Também informa, veicula campanhas educativas, que nem sempre são dirigidas e adequadas a esse público. Muitas vezes também moraliza e reforça preconceitos. Ao ser elaborada por crianças e adolescentes, essa mescla de mensagens pode acabar produzindo conceitos e explicações tanto errôneos quanto fantasiosos (BRASIL, 1988, p. 8). Apreende-se que a mídia não apenas veicula mensagens erotizantes, mas passa informações educativas que nem sempre alcançam sua intenção de educar. Infere-se que no discurso vazio da mensagem as crianças e adolescentes podem interpretá-los com significados e sentidos também vazios de uma formação crítica e apropriada para a vida. Do vazio só se pode tirar o vazio. Nesse contexto, os jovens vivem numa atmosfera sexualizada, e os discursos sobre esse tema mostram-se, na maioria das vezes, confusos, apelativos, mistificadores e estimuladores de concepções errôneas. A internet abriu um universo de possibilidades para o sexo. Da pedofilia à prostituição, tudo se encontra no mercado virtual. Nos sites, “ricos e famosos” falam abertamente de sua vida particular. A privacidade encontrou na rede social. Todo mundo sabe onde está todo mundo, o que faz, com quem “ficou” ou dormiu (DEL PRIORE, 2012, p.11). Ainda Del Priore (2012) relata que, por meios das redes e da mídia, o jovem se expõe e se exibe. É o egocentrismo, em um estilo de vida que facilita e promove um prazer, e que faz das consequências uma roleta russa que pode tornar a vida com 31 mais adrenalina, sem a preocupação com a saúde sexual, esquecendo-se das DST, principalmente a AIDS, além de drogas lícitas e ilícitas, as práticas sexuais sem medidas de proteção, e como consequência, uma gravidez. Dentre os riscos a que os adolescentes estão expostos, destaca-se a gravidez precoce que envolve tanto a maternidade como a paternidade, representando um importante problema social e de saúde pública em muitos países do mundo, inclusive no Brasil, devido às repercussões físicas, psicológicas e sociais que podem acarretar nesta fase da vida (MANFREDO, CANO, SANTOS, 2012, p. 193). A literatura mostra que os agravos à saúde materna das adolescentes se associa, na maioria das vezes, à falta de preparo no período gestacional e do acompanhamento de profissionais de saúde, de se tratar de um corpo em desenvolvimento e que requer nutrientes em dobro, para si e para o concepto, além dos problemas sociais, econômicos, psicológicos, entre outros. Baratieri, Cazetta e Marcon (2011), nesse sentido, afirmam que, para além das possíveis complicações obstétricas, deve-se levar em conta o contexto e o tempo histórico correntes que deflagram significados diferenciados para o ser mãe adolescente. Outro destaque importante a ser feito diz respeito à precocidade da atividade sexual e comportamento sexual de risco, em âmbito mundial, conhecidos como preditores de elevação dos casos de DST e gravidez não planejada. Sabe-se que, no mundo, em 2003, metade das pessoas diagnosticadas como HIV positivas tinha entre 15 a 24 anos (SOUZA, 2009). Segundo Souza (2009), por esse motivo, determinados direitos humanos devem ser avalizados, tais como o conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva e serviços adaptados à saúde do adolescente. No Brasil, nos últimos anos, vários investimentos públicos, em âmbito nacional, foram dirigidos aos adolescentes e se encontram respaldados na Constituição de 1988. São eles: o PROSAD (Programa de Saúde do Adolescente), que destaca o acompanhamento do adolescente de forma interdisciplinar e intersetorial (BRASIL, 1996); o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que reconhece todas as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e deveres (BRASIL, 1990); a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que regulamenta o direito constitucional à assistência social do Estado e garante proteção especial ao adolescente (BRASIL, 1993); o Projeto ACOLHER, elaborado a partir de parcerias instituídas entre o 32 Ministério da Saúde – Secretaria de Políticas de Saúde – Área de Saúde do Adolescente e do Jovem e a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN), objetivando nomear e desenvolver ações integradas que propiciem a integralidade da assistência ao adolescente (RAMOS; MONTICELLI; NITSCHKE, 2000); implementação das Cadernetas de Saúde do e da adolescente, desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, que têm como premissas apoiar o acompanhamento de meninos e meninas entre 10 e 19 anos e congrega informações sobre mudanças que ocorrem no crescimento e desenvolvimento dos adolescentes (BRASIL, 2009). Outro programa de assistência ao adolescente é o Programa Saúde na Escola (PSE), instituído em 2007 pelos Ministérios da Saúde e Educação; trata-se de uma política intersetorial voltada às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira, para promoção da saúde e educação integral. No que tange ao Estado de Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde elaborou e lançou, dentre outras ações, em 2006, o Programa Linha Guia que, por meio de uma cartilha, ajuda os profissionais envolvidos no Programa a conhecerem mais sobre a saúde do adolescente, bem como apresenta diretrizes com vistas ao redirecionamento da organização dos serviços de saúde e consolidação do SUS. Esta cartilha aborda: Assistir aos adolescentes, partindo do acolhimento na Unidade Básica de Saúde, da sistematização da atenção num Sistema Integrado de Serviços de Saúde e da integração das ações desenvolvidas em parceria com diversos outros setores da sociedade (MINAS GERAIS, 2006, p. 19). Mesmo com tantos programas governamentais em esferas estaduais, municipais e federais, a gravidez na adolescência se faz precoce. 1.3.3 MATERNIDADE PRECOCE E REINCIDÊNCIA DE GRAVIDEZ Pode se dizer que a fase da adolescência se caracteriza como singular e complexa, visto que cada adolescente age e reage com base em valores e crenças familiares e sociais específicas. Focar os adolescentes sob o olhar dos profissionais da saúde significa, em suma, [...] atentar para as suas singularidades, no sentido de dialogar saberes, compreender contradições e ampliar horizontes, a fim de que sejam críticos e formadores de opiniões, e que saibam administrar, além de suas vidas, a vida futura do planeta permeado de ínfimas e complexas relações (RANGEL; COSTENARO; ROSO, 2012, p. 2693). 33 A adolescência é uma fase que necessita de um acolhimento especial por parte dos profissionais da saúde, da educação e familiares. A educação sexual deveria acontecer antes da iniciação sexual do adolescente. Para Sousa (2009, p. 651), “[...] o pacto com a escola não tem funcionado, pois falta capacitação de educadores e profissionais de saúde, que parece ser um dos fatores cruciais para a problemática”. A falta de atenção aos adolescentes no tocante à saúde básica e saúde reprodutiva pode contribuir para a reincidência de problemas próprios do período da adolescência. Percebe-se existir negligência de alguns profissionais da educação, por motivos diversos, inclusive por insegurança ou desconhecimento de trabalharem temas referentes à saúde reprodutiva. A maioria das abordagens centra-se na biologia reprodutiva ou informações sem profundidade. Ou seja, a grande maioria dos educadores reitera o aprendido durante a vida. Para algumas famílias e algumas religiões o discurso sobre a sexualidade ainda é muito conservador. O Estado e outras esferas governamentais, por sua vez, controladores da escola, preocupam-se mais com o ponto de vista demográfico, deixando de lado as questões emocionais, educativas que cercam a questão da maternidade e da adolescência. Não se pode esquecer, conforme explicitado outras vezes, de que a gravidez precoce tem sido proclamada como um problema de saúde pública, em diversos países, devido ao elevado risco de morbimortalidade materna e infantil e por contribuir para o desenvolvimento de eventos desestabilizadores da vida das adolescentes. Afinal, conforme menciona (MOCCELLIN et al., 2010, p. 408), [...] complicações na gestação e parto têm sido as principais causas de morte de adolescentes entre 15 e 19 anos em diversos países do mundo. No Brasil, estudos como o de Vieira et. al., têm observado maior probabilidade de óbito entre mães adolescentes, quando comparadas àquelas com idade superior a 20 anos. Nessa conjuntura, a gravidez e sua reincidência na adolescência tomam proporções preocupantes. Para Nery et al. (2011, p. 32): Outro fator que tem contribuído para o aumento da ocorrência e recorrência de gravidez na adolescência é a modificação dos padrões de sexualidade, visto que a iniciação sexual ocorre cada vez mais precocemente, em especial nos países em desenvolvimento. 34 Para essas autoras, a maternidade precoce está relacionada com a iniciação sexual mais cedo. Os dados sugerem que a idade da primeira relação sexual tenha sido próxima à idade da menarca e mais distante da maioridade, pois mais de metade do grupo teve a primeira relação até os 15 anos de idade. Importante chamar atenção para o fato de a idade de 15 anos ser a única idade isolada de maior frequência para que estas jovens tenham tido sua primeira relação sexual com penetração, o denominado “debut sexual” (NERY et al., 2011, p. 36). Para Bordignon et al.(2013), um dos fatores agravantes para a gravidez na adolescência corresponde ao baixo nível de escolaridade. Complementando essa assertiva, de acordo como o relatório da Situação da População Mundial (UNFPA, 2013, p. 1) e o Fundo de População das Nações Unidas, tem-se que: Nas diferentes regiões do mundo, meninas pobres, com baixa escolaridade e residentes em áreas rurais, têm maior probabilidade de engravidar do que suas contrapartes ricas, mais urbanas e com mais escolaridade. Meninas de minorias étnicas ou grupos marginalizados, e aquelas que têm pouco ou nenhum acesso à saúde sexual e reprodutiva, também estão em maior risco. Segundo o relatório, a gravidez tem consequências importantes para a saúde das meninas, uma vez que há maior probabilidade de problemas de saúde quando a gravidez ocorre pouco tempo depois de atingirem a puberdade. Ainda sobre esse mesmo enfoque, uma publicação sobre integralidade e gênero, como base teórica para o cuidado à saúde de adolescentes grávidas, mostra que há registros de maior ocorrência de gravidez na adolescência, sendo que grande parte dessas adolescentes possuem baixa escolaridade e de famílias com baixa renda. O fenômeno é observado mais em adolescentes, sendo apontado também em outras faixas etárias (OLIVEIRA et al., 2015). Percebe-se que as adolescentes de estratos socioeconômicos desfavorecidos apresentam maior probabilidade de gravidez precoce. Na maioria das famílias brasileiras, o assunto é pouco discutido e existe certo constrangimento, não sendo o suficiente para informar sobre o tema. Fica, assim, o assunto para se dialogar nos espaços escolares. O que se observa, no entanto, é que muitos pais acabam delegando a responsabilidade pela educação sexual de seus filhos para a escola, cujo papel é realizar intervenções pedagógicas no sentido de levar as informações para a obtenção do conhecimento, problematizar as questões inerentes ao tema, sem influenciar os adolescentes e direcionar seus comportamentos, oferecendo conhecimentos sobre os riscos a que possam estar expostos com vistas à adoção de comportamentos saudáveis (MANFREDO; CANO; SANTOS, 2012, p. 193). 35 O problema social e de saúde da adolescência se acentua quando ocorre a reincidência da gravidez. Na concepção de Bruno et al. (2009, p. 482), “[...] a reincidência de gravidez na adolescência é, aparentemente, muito frequente no mundo e, na ausência de acompanhamento pós-parto, ocorre em torno de 30% no primeiro ano e até 50% no segundo ano”. Esses percentuais de reincidência são altos e seus desdobramentos preocupantes. Há que pensar em ações-estratégias de educação, cuidados, acompanhamento das adolescentes antes, durante e depois de uma gravidez. O cuidado não é estrito ao período pós-parto. Vai além, pois o cuidado não se estanca com o nascimento da criança. Ele é integral, abrangente e contínuo, para ajudar as adolescentes com escolhas consistentes. Outro dado importante é que grande parte das adolescentes esconde dos pais a gravidez precoce por um bom tempo, até não ser mais possível, deixando, assim, de ter os cuidados que o pré-natal exige. Conforme garante Moccellin et al. (2010), ao mesmo tempo que se silenciam quanto ao estar grávida, a baixo autoestima e despreparo nos cuidados do bebê podem trazer agravos à saúde da mãe e do filho. Destaca-se, também, que a imaturidade emocional pode desencadear dificuldades no estabelecimento de vínculos com o filho, além da evasão escolar e diminuição da qualificação profissional, acarretando, no futuro, dificuldades na inserção ao mercado de trabalho. De acordo com Nery et al. (2011, p. 32), “[...] a falta de um projeto de vida para jovens de classe mais pobres fora do casamento demonstra que há poucas perspectivas para essas jovens, o que resulta no abandono dos estudos”. Prossegue alertando que “[...] abandonar os estudos torna o futuro da jovem e de sua prole vulneráveis, restringe suas oportunidades de conseguir postos de trabalho melhor”. Outra vulnerabilidade apontada é relativa ao desenvolvimento do ser adolescente. Para Oliveira (2012), o corpo da adolescente está em constante desenvolvimento, consumindo uma enorme quantidade de energia, necessitando, assim, de mais nutrientes, suficientes para o desenvolvimento do seu corpo e do bebê. Desta maneira, as adolescentes são, particularmente, consideradas vulneráveis em termos nutricionais por várias razões: demanda aumentada de nutrientes por se encontrarem em fase de crescimento e desenvolvimento físico intenso; por possuírem hábitos alimentares inadequados; adoção de dietas emagrecedoras, bem como necessidades nutricionais associadas à gestação (OLIVEIRA, 2012, p. 566). 36 Assim, infere-se que a adolescente não está preparada fisicamente nem estruturalmente para gerar filhos. Esta fase é incompatível com a segurança necessária para assumir riscos e compromissos inerente à gestação. Parece ser frustrante para ela se ver mãe, carregada de responsabilidade. Pode se dizer que é, no mínimo, contraditório para a adolescente se ver uma mulher na leveza da infância, tentando se libertar da realidade, da gravidez acontecida. Fica aos olhos da adolescente e da sociedade uma criança tendo outra. Deixar de ser criança para assumir outra. A adolescente, que antes tinha dúvidas se era uma criança ou uma mulher, agora, inevitavelmente grávida (seja pela sua escolha ou não), precisa aprender rapidamente a lidar com as consequências. Em muitos casos deixa de lado sua ambição profissional, tende a abandonar os estudos e, sem qualificação profissional, fica cuidando do filho, à mercê da boa vontade dos pais ou de pessoas que possam apoiá-la em algum sentido, pois, cuidar de uma criança nunca foi uma tarefa simples. 1.3.4 EDUCAÇÃO E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA A educação é um elemento importante no aperfeiçoamento do sujeito dentro de uma sociedade, e também em sua comunidade, para que ocorra o desenvolvimento local. Acredita-se que sua função seja promover um comportamento igualitário local, para um amanhã propício na vida da humanidade; é um processo importante para mudanças socioculturais e comportamento sexual, entre outros. Contudo, percebe-se a temática educação sexual ser pouco trabalhada nas escolas, na comunidade, e a família, na maioria das vezes, transfere suas responsabilidades para a escola, pois crê tratar-se de um assunto de difícil abordagem. Acredita-se que o movimento escola-comunidade, em conjunto, deva fazer diferença nos grupos sociais locais. É importante que essa agregação (escola-comunidade) faça diferença nos grupos sociais, mobilizando agentes e que possa contribuir para o desenvolvimento local. Assim, educar os filhos, para muitas famílias, em questões afeitas à sexualidade, não é tarefa fácil, uma vez que envolve, além de conceitos biológicos, tabus, comportamentos, questões religiosas, emocionais, questões sociais, culturais e locais. 37 Acredita-se que a educação formal tenha importante papel na formação dos adolescentes e o tema sexualidade precisa ser bem trabalhado nas escolas, pois integra o currículo escolar da Educação Básica. Segundo Bordingon (2013), a educação é dos caminhos para edificar uma sociedade mais equitativa, solidária e democrática, contribuindo para fundar um importante instrumento para a transformação social. Na educação, as escolas têm o papel de mobilizar pessoas, para que os mesmos sejam atores multiplicadores de temas que possam contribuir com o desenvolvimento local, colaborando com os grupos onde estejam inseridos, principalmente no que tange à questão da saúde reprodutiva do adolescente. O Ministério da Educação evoca a escola a abordar reflexivamente com os alunos os diversos pontos de vista, valores e crenças existentes na sociedade com a intencionalidade de que eles edifiquem um ponto de auto referência e construam escolhas responsáveis. Nesse sentido, o trabalho realizado pela escola, “[...] denominado de ‘Orientação Sexual’, não substitui nem concorre com a função da família, mas a complementa. Constitui um processo formal e sistematizado que acontece dentro da instituição escolar, exige planejamento e propõe uma intervenção por parte dos profissionais da educação” (BRASIL, 1998, p. 15). Ao tratar do tema Orientação Sexual, busca-se considerar a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se expressa no ser humano, do nascimento até a morte. Relaciona-se com o direito ao prazer e ao exercício da sexualidade com responsabilidade. Engloba as relações de gênero, o respeito a si mesmo e ao outro e à diversidade de crenças, valores e expressões culturais existentes numa sociedade democrática e pluralista. Inclui a importância da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis/AIDS e da gravidez indesejada na adolescência, entre outras questões polêmicas. Pretende contribuir para a superação de tabus e preconceitos ainda arraigados no contexto sociocultural brasileiro (BRASIL, 1988, p. 287). Trabalhar o tema “Orientação Sexual” em espaços formais e não formais de educação vai muito além do debate e discussão do biológico; é preciso que o educador/mediador das discussões sobre sexualidade seja uma pessoa que tenha vínculos e estabeleça relações intersubjetivas com os adolescentes, fale a linguagem que gostam de ouvir, fale sem preconceitos de gênero, questões culturais, e, o mais importante, que trate o assunto com responsabilidade e não o vulgarize. Encontra-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) a temática sexualidade, conforme descrito a seguir: 38 A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de ensino fundamental e médio vem se intensificando desde a década de 70, provavelmente em função das mudanças comportamentais dos jovens dos anos 60, dos movimentos feministas e de grupos que pregavam o controle da natalidade. Com diferentes enfoques e ênfases, há registros de discussões e de trabalhos em escolas desde a década de 20 (BRASIL, 1988, p. 7). Nesse contexto, os PCN (BRASIL, 1998) ainda continuam clarificando que a partir da década de 1980 houve a necessidade de se ter um profissional com habilidades para discorrer sobre a saúde reprodutiva do adolescente, pois houve um aumento de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a AIDS, e um número expressivo de gravidez indesejada. As famílias, que antes tinham certa resistência para que o assunto fosse tratado nas escolas, agora infere-se requerem esse serviço. É indispensável pensar maneiras mais dinâmicas e atrativas para inserir os jovens nos diversos espaços formais e informais da educação, para que possam ser partícipes e protagonistas da própria vida sexual afetiva, social, espiritual, dentre outras dimensões. Freire (1996) defende novas práticas educativas e a transformação do conhecimento para uma proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação. Educação que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade como parte de um processo coletivo de corresponsabilidade. Nesse sentido, o Ministério da Educação assim se expressa: A sexualidade no espaço escolar não se inscreve apenas em portas de banheiros, muros e paredes. Ela “invade” a escola por meio das atitudes dos alunos em sala de aula e da convivência social entre eles. Por vezes a escola realiza o pedido, impossível de ser atendido, de que os alunos deixem sua sexualidade fora dela (BRASIL, 1988, p. 8). A educação é um processo de transformação dos indivíduos e de apropriação das realidades em que estes se inserem para que esta também seja transformada. O educador de saúde sexual e reprodutiva do adolescente precisa conhecer a história do mesmo, e possibilitar que ele seja autor e objeto da própria história. Freire (1996) afirma que é preciso criar vínculo com o grupo que se vai trabalhar e contribuir com ações críticas e reflexivas. Esse processo inclui a formação de valores, sentimentos, conhecimentos, projetos de vida, e que todo sujeito deva ser reconhecido e legitimado como sujeito da própria história. Esse processo transcende o espaço escolar e da 39 família e encontra no ambiente, nas relações sociais e nas suas interpretações a sua estrutura de desenvolvimento. A escola precisa fazer um trabalho preventivo, com reflexões, problematizando, questionando e ampliando o leque de conhecimentos, contribuindo para o processo educativo da saúde reprodutiva dos adolescentes. Brandão (2007) nos diz que educação é todo conhecimento adquirido com a vivência em sociedade, seja ela qual for. Sendo assim, o ato educacional ocorre no ônibus, em casa, na igreja, na família e todos nós fazemos parte desse processo. Segundo Dowbor (2008), é importante verificar que quanto mais se amplia a globalização, mais as pessoas estão resgatando o ambiente local e procurando aperfeiçoar as condições de vida no seu entorno imediato. Ainda Dowbor (2008, p. 76), nos deixa claro que: [...] podemos ser donos da nossa própria transformação econômica e social, de que o desenvolvimento não se espera, mas se faz, constitui uma das mudanças mais profundas que estão ocorrendo no país. Tira-nos da atitude de espectadores críticos de um governo sempre insuficiente, ou do pessimismo passivo. Devolve ao cidadão a compreensão de que pode tomar o seu destino em suas mãos, conquanto haja uma dinâmica social local que facilite o processo, gerando sinergia entre diversos esforços. Dessa forma, Dowbor (2008) nos mostra que a ideia da educação para o desenvolvimento local está atrelada à captação e à precisão de se desenvolver pessoas que, no futuro próximo, contribuam de maneira dinâmica com atitudes apropriadas que possam alterar o seu local, seu bairro, sua comunidade e de provocar dinâmicas construtivas para o seu entorno. Ainda apoiada em Dowbor (2008), percebe-se que o desenvolvimento local deve ser entendido como uma escolha à centralização de ações decisórias, com a máxima competência de direção e influência social do desenvolvimento e nas dinâmicas dentro da educação. Carbonell (2002) afirma que as técnicas escolares modificaram pouco e que essas alterações não expressam, obrigatoriamente, um avanço na educação Ensinar adquire novos significados para relacionar-se com as novas tecnologias da comunicação, para ler e entender melhor a realidade e para assimilar, ao mesmo tempo, a rica tradição cultural herdada e muitas outras expressões culturais emergentes e mutáveis que, diga-se de passagem, continuam em boa medida ausentes da cultura oficial escolar (CARBONELL, 2002, p. 16). 40 Acredita-se que seja função da escola contribuir com uma educação para ampliação do desenvolvimento local. Uma educação diretamente associada ao cultivo de informações adequadas para o aperfeiçoamento dos educandos mais instigadores, cuidadosos e atentados em definir as dificuldades do grupo, principalmente no que se diz à saúde reprodutiva do adolescente, contribuindo com o desenvolvimento local onde esse grupo de adolescentes está inserido. A educação em torno do desenvolvimento local está pautada às pessoas, aos grupos de adolescentes que têm a capacidade de transmitir novas ideias; mobilizar sua comunidade, buscar parcerias com os diversos atores sociais, promover mudanças na sociedade e cooperar para o desenvolvimento da região. No entanto, as pessoas devem ter competência para se unirem e edificarem organizações com trocas contínuas, procurar novas alternativas, interagir com diferentes setores de atividades públicas para continuar a educar coletivamente sua comunidade local. 1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão teórica acerca da reincidência em gravidez na adolescência e as circunstâncias que a permeiam, apesar de sucinta, mostrou que os adolescentes enfrentam questões não apenas de saúde pública, mas sociais, espirituais e econômicas. É respeitável, portanto, pensar e investir em políticas públicas que atendam à saúde do adolescente, não apenas de forma individualizada, mas que visem às ações e as coloquem em prática, criando uma relação entre a família, sociedade, educação e comunidade. Para entender o porquê da maternidade precoce, é importante trabalhar a temática “sexualidade” em espaços formais e não formais de educação. Considera-se que o tema vai muito além do debate e discussão do biológico; é preciso que o educador/mediador das discussões sobre sexualidade seja uma pessoa que tenha vínculos e estabeleça relações intersubjetivas com os adolescentes. A maternidade precoce traz consequências biológicas, familiares, psicológicas e econômicas, restringindo ou espaçando as possibilidades de ampliar o engajamento das adolescentes na sociedade, inserção no mundo do trabalho e retorno à escola. É um tema expressivo para a definição de políticas populacionais, uma vez que muitas jovens vão ao óbito por agravos à saúde materna. 41 A sexualidade, o sexo e a forma de pensar essa temática, ao longo do tempo, passam por profundas transformações que marcaram gerações. Afetado ou não pela cultura, pelo ambiente, o sexo sempre passou pelo crivo da liberdade e das limitações. Apesar dos resultados aqui apresentados serem parciais, pois a pesquisa bibliográfica nunca é acabada, mostra-se imperativa a necessidade de entendimento de questões relacionadas à reincidência de gravidez na adolescência. Negar a sexualidade dos jovens é fechar os olhos para um problema de saúde pública. Esperase que as reflexões contidas aqui possam ser indícios para que outros professores e profissionais da saúde deem continuidade e busquem outros tipos de parcerias para essa fase tão cheia de energia, tão vibrante que é adolescência e que não deveria ser interrompida por uma gravidez, ou uma DST. 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Em campo, os dados foram coletados por meio questionário semiestruturado, posteriormente analisados com base em Bardin. Dos depoimentos emergiram sete categorias: “Sentir-se grávida novamente: razões, motivos para uma nova gravidez”; “Orientação sexual recebida na família e escola”; “Mudanças na e para a vida”; “O educar-se para trabalhar com as adolescentes”; “Reação do pai da criança à notícia da paternidade”; “A acolhida no HJK: significado para as adolescentes”. “Voltar ao tempo, faria algo diferente!”. A grande maioria das jovens diz que a carência de informações fornecidas pelas escolas e pelas famílias é um dos motivos da ocorrência de gravidez entre elas, além da lacuna concernente à orientação sexual pelos meios de comunicação e nos espaços formais e não formais de educação, que contribuem para, o aumento do índice de gravidez na adolescência. É imperativo que as escolas, famílias e os meios de comunicação trabalhem conjuntamente em ações educativas que possibilitem aos adolescentes conhecimentos sobre a sua sexualidade e saúde reprodutiva de forma efetiva, crítica e com escolhas conscientes. Palavras-chave: Educação. Adolescente. Gravidez. Desenvolvimento local. 3 Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UMA. 4Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. 47 ABSTRACT This study aimed to analyze, from the perspective of teenagers, the reasons / motivations for the recurrence of teen pregnancy and how they perceive the care received at the hospital Julia Kubitschek. The methodological choice of qualitative research incorporated 16 young people attended this Hospital. In the field, the data were collected through semi-structured questionnaire, subsequently analyzed based on Bardin. The depositions seven categories: "Feeling pregnant again, reasons, reasons for a new pregnancy"; "Sexual orientation received in the family and school"; "Changes in life and for life"; "The educating themselves to work with teens"; "The child's father's reaction to the news of paternity"; "The reception in the hospital Julia Kubistchek: meaning for adolescents." "Back to the time, do something different! ". The vast majority of young people say that the lack of information provided by schools and families is one of the reasons for the occurrence of pregnancy among them, besides the gap concerning the orientation of the media and formal spaces and no formal tributam education, too of essential medium for increasing pregnancy rate in adolescence. It is imperative that schools, families and the media work together on educational activities that enable adolescents knowledge about their sexuality and reproductive health effectively, critical and conscious choices. Keywords: Education. Teenager. Pregnancy. Local development. 48 2.1 INTRODUÇÃO Nos dias atuais, a vida em sociedade, na maioria das vezes, se faz mediante um mundo de relações dinâmicas que se entrelaçam em contatos permanentes ou fugazes e em proposições cada vez mais complexas e, contraditoriamente, vazios de sentimentos duradouros e de afetos. O ambiente social transpôs os muros do bairro, da cidade, do estado e do país. Entrar em contato com o outro, iniciar relacionamentos e trocar informações se faz de maneira ágil e instantânea. A tecnologia, cada vez mais potente, tomou conta do viver humano e, quiçá, da vida humana. É nesse complexo mundo tecnológico, admirável, encantador e de extrema importância na socialização do conhecimento que se inscreve uma interrogação provocante e instigadora. Ainda, apesar da facilidade de se obter informações e de processá-las, o fenômeno reincidência de gravidez, na adolescência, é fato. Por que esse fenômeno é presente se há tantas informações veiculadas pelas impressas falada e escrita? Quem (des)orienta/educa as adolescentes que se engravidam novamente? Que instituições se responsabilizam pela educação das crianças e adolescentes ou se corresponsabilizam: a família, a escola, a igreja, a comunidade, dentre outras? Como vivem essas adolescentes mães pela segunda ou terceira vez? Com quem residem ou dividem os ônus e os bônus da maternidade? São tantas interrogações!!! Nesse contexto, uma questão emerge inquietante e que convoca a mestranda a ir aonde o fenômeno ocorre para escutar, atentivamente, das próprias adolescentes: que razões e motivos as levam a se tornar mães novamente? Tendo em vista que na região do Barreiro, em Belo Horizonte, um hospital público pertencente à Fundação Hospitalar de Minas Gerais (FHEMIG), o Hospital Júlia Kubistchek (HJK), disponibiliza um espaço para o atendimento de adolescentes grávidas, inclui-se, também, ao questionamento: o que as adolescentes pensam a respeito dos cuidados recebidos nessa instituição? Afinal, o relatório da Situação da População Mundial, elaborado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, 2014), aponta que: Nunca antes houve tantos jovens. É provável que nunca mais tenhamos tamanho potencial para o progresso econômico e social. A forma como atendemos as necessidades e aspirações desses jovens vai definir nosso 49 futuro comum. A educação é fundamental. As habilidades e conhecimentos que as pessoas jovens adquirem devem ser relevantes para a economia atual e permitir que eles e elas se tornem inovadores, pensadores e solucionadores de problemas. Os investimentos em saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, também são fundamentais. Quando jovens conseguem fazer uma transição saudável da adolescência para a idade adulta, aumentam suas opções para o futuro (UNFPA, 2014, p. 2). Esses dizeres convidam à reflexão: se a educação é fundamental para que crianças e adolescentes, neste caso em específico, sejam protagonistas da sua história e capazes de solucionar problemas conscientes e criticamente, que investimentos os profissionais da saúde e da educação estão disponibilizando a respeito da saúde sexual e reprodutiva? Estão em parceria com as famílias? Em consonância com a exposição da UNFRA, torna-se basilar buscar informações acerca do que as adolescentes pensam a respeito da reincidência da gravidez, que ainda é um tema polêmico, e grande parte da sociedade tem uma visão míope sobre ele para encontrar alternativas/estratégias potencializadoras do desenvolvimento das adolescentes e da comunidade onde habitam. Considera-se, por conseguinte, que a pesquisa no Serviço de Atenção Integral às Adolescentes, especialmente com foco naquelas que passam por gravidez reincidente, possa subsidiar, de forma significativa, o direcionamento de ações motivadoras de um processo educativo pautado nas demandas das próprias adolescentes, o que torna a ação efetiva e eficaz. Salienta-se, ainda, que os resultados deste estudo poderão contribuir, a partir de dados sistematizados, com o trabalho realizado pela equipe multiprofissional do HJK, situado na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Nesse Hospital, o trabalho de atendimento às adolescentes grávidas é uma das prioridades da Casa da Criança e do Adolescente, que mantem um espaço reservado para esse público e cujos cuidados prestados são, normalmente, para adolescentes com gravidez de alto risco. A maternidade do HJK é referência estadual para gravidez de alto risco, inclusive para os 20 centros de saúde do distrito sanitário do Barreiro. Com isso, este estudo objetivou analisar, sob a ótica das adolescentes, as razões/motivações para a reincidência da gravidez na adolescência e de como percebem os cuidados recebidos no HJK. 50 2.2 REVISÃO TEÓRICA O Parecer das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde recomenda que as ações devem ser integradas e os gestores devem se sensibilizar e ter uma visão holística do ser humano para a materialidade de uma assistência pautada numa abordagem sistêmica das necessidades dessa população. Busca, ainda, apontar para a importância da construção de estratégias interfederativas e intersetoriais que contribuam para a modificação do quadro nacional de vulnerabilidade de adolescentes e de jovens, influindo no desenvolvimento saudável desse grupo populacional (BRASIL, 2010, p. 11). Logo, as ações propostas por essas diretrizes solicitam que se eleja adolescentes como pessoas, sujeitos de direitos e deveres, que requisitam cuidados sistêmicos e de ações Intersetoriais para que se desenvolvam de forma saudável. Nessa perspectiva, inscreve-se a gravidez na adolescência, que é um problema de saúde pública, tornando-se imperativo que os Ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social envolvam-se de maneira significativa para criar estratégias que deem conta de pensar e propor ações efetivas de curto e longo prazo com foco não só nos adolescentes, mas em todos os adultos que participam da vida desses jovens, no conjunto familiar, escolar, cultural e social. [...] é importante enfatizar que a sustentabilidade das estratégias de saúde ou de desenvolvimento comunitário ou até mesmo da Nação, dependerá, a médio e longo prazos, da formação de adolescentes e jovens com capacidade de liderança, de participação e espírito de serviço à coletividade (BRASIL, 2010, p. 11). As Organizações das Nações Unidas (ONU) (UNFPA, 2010) apontam que, devido ao desenvolvimento brasileiro, a taxa de natalidade entre mães adolescentes pode ser considerada alta, uma vez que prevalecerem, nesse contexto, adolescentes pobres, negras e com menor escolaridade. Mencionam, também, que muitas dessas gravidezes “não foram planejadas e são indesejadas; inúmeros casos decorrem de abusos e violência sexual ou resultam de uniões conjugais precoces, geralmente com homens mais velhos” (UNFPA, 2010, p. 1). As políticas públicas têm alertado para a situação dos adolescentes, haja vista o maior número de projetos desenvolvidos na atualidade para atingir essa população. Destaca-se, por exemplo, a cartilha Adolescentes e Jovens para a Educação entre 51 pares – Saúde e Prevenção nas Escolas –, que tem como objetivo amparar e orientar sobre a saúde sexual e saúde reprodutiva, a partir de diálogos e do conhecimento juvenil. A ideia desse projeto não é ser simplesmente mais uma cartilha, e, sim, uma ferramenta que provoque reflexões e estimule uma conversa sobre essa temática nas escolas (BRASIL, 2010). Falar sobre sexualidade é falar de nossa história, nossas emoções, nossas relações com as outras pessoas, nossos costumes e nossos desejos. É a energia que nos motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade e que se constrói passo a passo, a partir do momento em que nascemos. A sexualidade é, portanto, uma construção sociocultural que sofre influências dos valores e das regras de uma determinada cultura, do tempo e do espaço em que vivemos. Por exemplo, se conversarmos, com uma mulher mais velha, de uns 70 ou 80 anos, provavelmente ela nos contará que, quando era jovem, tudo o que se referia a sexo era associado à “coisa feia”, “perigosa” e que uma mulher “direita” só poderia ter relações sexuais depois de casada. Se for um homem dessa mesma idade, ele provavelmente nos contará que sua primeira experiência sexual foi com uma prostituta contratada pelo pai ou por um tio (BRASIL, 2010, p. 14). Ainda o Ministério da Saúde, dentre outras orientações sexuais, norteia ser [...] importante considerar adolescência e a juventude como processos complexos de emancipação, com fronteiras plásticas e móveis, que não se restringem à passagem da escola para o trabalho e envolvem três dimensões interdependentes: a macrossocial, na qual se situam as desigualdades sociais como as de classe, gênero e etnia; a dimensão dos dispositivos institucionais que reúne os sistemas de ensino, as relações produtivas e o mercado de trabalho e, finalmente, a dimensão biográfica, ou seja, as particularidades da trajetória pessoal de cada indivíduo (BRASIL, 2010, p. 46). Partindo-se dessas estruturas e reconhecendo ser cada adolescente singular e plural, vivendo em mundos diferentes, mas com sonhos e ideais iguais, em meio a famílias ativas e outras irresponsáveis, em comunidades vulneráveis ou não, profissionais da saúde e da educação devem realizar com cuidado o processo educativo, adotando essa individuação e as ultrapassando algumas fronteiras. Há de se lembrar, também, como esclarece Souza (2010), que as transformações físicas, sociais, psicológicas, espirituais e hormonais, em paralelo com as novas experiências vividas, determinam a construção da personalidade de um futuro adulto. Todo esse contexto vivido colabora com os valores que ele carregará para toda a vida. É um período caracterizado por grandes contradições, tanto em valores e tradições quanto pelos ditames da sociedade, e o adolescente não aceita se submeter às suas normas, mas opta por seguir suas próprias regras e do grupo de 52 pares onde se insere, o que possibilita o uso de drogas e o exercício de sexo inseguro, sem proteção. Nesse sentido, Ribeiro e Gualda (2011) relatam que o ser grávida e o ser mãe caminham na linha contrária ao que as famílias idealizam para seus filhos, isto é, estudar, conseguir um emprego, sustentar-se financeiramente, para depois constituir família, e quando isso não acontece está-se diante de um problema social. Para Farias e More (2012), a gravidez, na adolescência, acarreta mudanças no ciclo vital, tendo em vista que o adolescente tem que assumir responsabilidades, adentrando, dessa forma, no mundo adulto. Ele fica, na maioria das vezes, com limites ligados à escola, ao lazer, ao mundo do trabalho, dentre outros. O que não dizer das mudanças que se fazem presentes no mundo da adolescente reincidente em gravidez? Muitos autores dizem que as pesquisas sobre reincidência em gravidez na adolescência ainda são insuficientes para dados mais precisos, e que, possivelmente, a recidiva seja o reflexo da falta de informações significativas para as adolescentes, desconhecimento sobre métodos contraceptivos ou falta de acesso a eles, desconhecimento do período fértil e a própria negação do pensamento mágico “nunca pensei que fosse acontecer comigo”. A reincidência de gravidez na adolescência é, aparentemente, muito frequente no mundo e, na ausência de acompanhamento pós-parto, ocorre em torno de 30% no primeiro ano e até 50% no segundo ano. Mesmo em serviços especializados para adolescentes, com acompanhamento rigoroso e acesso facilitado aos métodos contraceptivos, as taxas de reincidência ocorrem por volta de 10 a 15% no primeiro ano após o parto18-20. Essas cifras se tornam ainda mais relevantes quando se sabe que a cada gravidez diminui a probabilidade de a adolescente concluir seus estudos, ter um emprego estável e ser economicamente autossuficiente (BRUNO et.al., 2009, p. 480). Melhado et al. (2008) dizem que a reincidência da gravidez na adolescência acontece em todas as classes sociais, porém sua maior incidência se dá nas populações menos favorecidas e adolescentes mais jovens. Que essa reincidência parece estar ligada a fatores ligados ao ciclo de pobreza e educação e à falta de expectativas futuras. Ressaltam o desconhecimento dos adolescentes sobre sexualidade e saúde reprodutiva e o papel deficitário e inoperante da família, da escola e dos serviços de saúde nesse processo. Pereira, Milão e Belasco (2013, p. 4) ressaltam que 53 [...] é necessário repensar a questão da gravidez na adolescência e sua reincidência como um sério problema social e a necessidade de se valorizar o trabalho educativo junto às adolescentes, nas escolas, serviços públicos de saúde, inserindo pais/família neste processo educativo, com enfoque nas questões de sexualidade e acolhimento quando uma gravidez já se ocorreu. Dessa forma, apreende-se que todo trabalho realizado pelas escolas e por outros meios educativos, conforme mostram as poucas pesquisas realizadas até agora, que não se alcançou os objetivos pretendidos; uma segunda ou terceira gestação apareceu. Por outro lado, também se pergunta: será que se instalou e se concretizou o desejo de uma nova gravidez? Percebe-se que muitos programas são colocados em prática, mas mesmo assim a reincidência na gravidez de adolescente ainda mostra números assustadores. Como afirma Nery et al. (2011, p. 498) “[...] a recorrência da gravidez na adolescência é uma situação frequente, sendo considerada como um fator agravante, tanto para o aumento da morbidade materna e fetal quanto para aumento de problemas sociais”. Na acepção de Ribeiro e Gualda (2011), os programas de prevenção de riscos e promoção da resiliência com adolescentes devem se pautar nas peculiaridades de cada grupo, cultura, necessidades individuais e grupais e nos planos futuros. As ações programadas precisam ter como foco o ou a adolescente, de acordo com sua singularidade e seus grupos relacionais, reestruturando o modelo aí posto e um pouco verticalizado e reducionista. Compete aos profissionais de saúde a busca do entendimento dos fatores de risco a que os adolescentes estão expostos e edificar ações realizadas por equipe multiprofissional, de preferência, pois a junção de diferentes saberes facilita o cuidado, assistência integral à adolescente e a sua família. Defende-se, também, o estabelecimento de relações entre a educação e o desenvolvimento local, buscando, por meio de programas sociais, a inclusão de adolescentes ou grupos de adolescentes que passaram por gravidez reincidente, em atividades que lhes despertem o desejo de aprender e de acessar o aprendizado em benefício próprio, da família e da comunidade a qual pertencem. Atividades essas que tenham a capacidade de transmitir novas ideias, mobilizar, empoderar e promover mudanças na sociedade. Ao se ter voz ativa, o adolescente poderá fazer diferença na sua região, na sua escola, na sua vida e no coletivo. Dowbor (2008) confirma que o desenvolvimento local deve ser percebido como uma escolha à centralização de ações decisórias, de transformação econômica e 54 social, capacidade de tomar em mãos, de se apossar do próprio destino. Para Dowbor (2006, p. 1): [...] ser donos da nossa própria transformação econômica e social, de que o desenvolvimento não se espera, mas se faz, constitui uma das mudanças mais profundas que está ocorrendo no país. Tira-nos da atitude de espectadores críticos de um governo sempre insuficiente ou do pessimismo passivo. Devolve ao cidadão a compreensão de que pode tomar o seu destino em suas mãos, conquanto haja uma dinâmica social local que facilite o processo, gerando sinergia entre diversos esforços. Sendo assim, percebe-se como as instituições de ensino e de saúde são importantes para abrir caminhos para que aconteça o desenvolvimento local, capacitando os grupos de adolescentes, para que sejam agentes multiplicadores de boas ideias e de excelentes ações. Dessa forma, serão operadores de mudanças na família, na escola, nas Unidades de Saúde, na comunidade, no bairro e em outros espaços por onde passar. 2.3 METODOLOGIA Trata-se de estudo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, tendo em vista que ambos autorizam abranger a realidade vivenciada pelos sujeitos participantes e têm aderência ao objetivo de pesquisa proposto. Minayo (2010, p. 2) afirma que: Quando tratamos da pesquisa qualitativa, frequentemente as atividades que compõem a fase exploratória além de antecederam á construção do projeto, também a sucedem. Muitas vezes, por exemplo, é necessária uma aproximação maior com o campo de observação para melhor delinearmos outras questões, tais como os instrumentos de investigação e o grupo de pesquisa. No que tange à pesquisa exploratória, ela teve como alvo aprofundar, permitir maior aproximação e intimidade com o fenômeno estudado, com vistas a torná-lo mais claro. Já a descritiva possibilita descrever as características de determinadas populações ou fenômenos. Sua peculiaridade se assenta na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário, dentre outros (GIL, 2010). A pesquisa de campo se deu no HJK, o mais antigo hospital da região do Barreiro. Teve seu início de funcionamento em 10 de setembro de 1960, inaugurado 55 pelo Presidente Juscelino Kubitschek. Inicialmente, foi designado para ser um quartelgeneral, mas um surto de tuberculose fez com que o Governo Federal, na regência do Presidente Juscelino Kubitschek, fizesse uma adaptação para atender os pacientes tuberculosos. A localização e a extensão de seu terreno se justificam pela importância que se atribuía, na época, à pureza do ar no tratamento da doença (FHEMIG, 2007). Hoje o hospital Júlia é um hospital de grande porte, que tem um importante histórico de 50 anos de prestação de serviços para a região do Barreiro e municípios vizinhos. Atende aos casos de urgência e emergência em clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia entre outras especialidades. Dispõe também de um serviço de atenção Integral á Saúde da Criança e do Adolescente em situação de risco e de uma equipe multidisciplinar de terapia multidisciplinar de Terapia Nutricional (FHEMIG, 2007). A maternidade do HJK é referência estadual para gravidez de alto risco, com destaque para o atendimento de adolescentes grávidas. Também possui o projeto Mãe Canguru, em que o bebê prematuro fica em contato direto com o corpo da mãe durante um período do dia. O berçário de alto risco tem 21 leitos de cuidados progressivos. A maternidade tem 36 leitos, 28 alojamentos. Recebeu, em 2012, o título Amigo da Criança, por estimular o aleitamento materno às mães gestantes do HJK (FHEMIG, 2007). O instrumento de coleta foi uma entrevista semiestruturada com perguntas de identificação dos sujeitos na primeira parte, e, posteriormente, perguntas abertas para que as adolescentes falassem de si e de seu mundo de reincidência na gravidez. Participaram do estudo 16 adolescentes que se dispuserem a falar espontaneamente de suas vidas. Como critério de inclusão definiu-se, a priori, que fossem adolescentes reincidentes na gravidez e consentissem ser partícipes, bem como autorizadas pelos seus responsáveis. Lembrando Minayo (2010), a amostra não foi numérica, baseando-se na repetição e invariância dos discursos. Os encontros com as adolescentes foram confirmados com antecedência e realizados durante a acolhida no HJK. Após elucidação das questões éticas referentes ao sigilo, confidencialidade e à liberdade de não responderem a qualquer pergunta que pudessem intimidá-las ou deixá-las constrangidas, deu-se início ao questionário semiestruturado (APÊNDICE A). Foi respeitado em cada encontro o tempo disponível de cada adolescente. Foi solicitada a gravação das falas, uma vez que não se queria perder qualquer 56 detalhe expresso. Foram entrevistadas 20 adolescentes, mas 4 jovens mães não aceitaram gravar a entrevista, sendo, portanto, não incluídos quatro questionários neste estudo. Então contabilizou 16 entrevistas. Após ler o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), as jovens assinaram a autorização (APÊNDICE C). Seus responsáveis, por se tratar de menores, também assinaram o TCLE (APÊNDICE B). Os depoimentos das 16 jovens foram analisados a partir da técnica da análise de conteúdo proposta por Bardin (2010). Os nomes dos sujeitos serão representados pela letra A (n), onde A significa adolescente, e o (n) é o número que expressa a ordem de inclusão dos sujeitos na pesquisa, conforme o princípio ético de confidencialidade, mantendo a identidade das entrevistas em sigilo. Destaca-se que o projeto, antes do início da realização da coleta dos dados, foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário UNA, sob a CAAE nº 45940715.0.0000.5098 2.4 ANÁLISE DOS DADOS 2.4.1 BREVE PERFIL DOS SUJEITOS A análise dos depoimentos se fez por meio de leituras atentivas com a intencionalidade de apreender sentidos e significados expressos e velados em cada um deles, por meio de um paralelo e diálogo entre o discurso dos 16 sujeitos da pesquisa e os apreços de diversos autores, bem como a visão da pesquisadora. No processo de leituras e releituras, construíram- se oito categorias temáticas. Antes de especificar as categorias, serão apresentados os sujeitos deste estudo. A mestranda entrevistou 20 adolescentes, mas 4 não aceitaram gravar as entrevistas, sendo assim, essas 4 entrevistas não foram utilizadas, contabilizando 16 entrevistas. Das 16 adolescentes, 10 engravidaram, pela primeira vez, entre 13 e 15 anos. As outras 6 engravidaram pela segunda gravidez entre 16 e 18 anos. Nenhuma adolescente trabalhava e todas pararam de estudar. Todas elas cursavam o Ensino Fundamental II do Ensino Básico e somente uma chegou ao Ensino Médio. Com relação aos pais das crianças, no que tange à ocupação profissional, são diversificados os setores do mundo do trabalho, tais como: operador de telemarketing, operador de caixa de supermercado, lava-jato, mecânico, montador de colchão, 57 vendedor, cortador de roupas e montador de bomba de combustível, entre outras. Em relação à escolaridade dos mesmos, nenhum estuda e não chegou a completar o Ensino Fundamental II. Como afirma Oliveira et al. (2012, p. 565), [...] estudos demonstraram que adolescentes instruídos são mais propensos a postergar a formação de família até o início da idade adulta, quando os riscos de uma gravidez são menores, e têm maior probabilidade de ter filhos mais saudáveis. A baixa escolaridade e baixa renda as tornam mais vulneráveis a uma gestação precoce, visto que a escola tem um papel preventivo importante, pois através dela são transmitidas informações sobre o corpo e também sobre métodos preventivos de gravidez. A análise revelou que as idades entre as adolescentes e seus parceiros aproximam-se, fato que pode ser explicado pela circunvizinhança e compartilhamento dos mesmos espaços, tais como bailes, escolas, bares, músicas, instituições religiosas, dentre outros. Ao ir-se ao encontro com as adolescentes para a coleta dos dados, percebeuse que os companheiros estavam sempre presentes, mostrando interesse pelas adolescentes e o filho que acabava de chegar. Afirma-se que nenhum deles participou do questionário. 2.4.1 ANALISANDO AS ENTREVISTAS Inicia-se a construção desta seção com o depoimento de que a mestrandapesquisadora perpetrou a desconstrução de um imaginário que foi criado, pensado, trabalhado a partir de algumas experiências em relação à reincidência da gravidez na adolescência. Havia a quase certeza de que a gravidez, nesse período da vida, era indesejada, não planejada. De que morariam sozinhas, abandonadas pelo parceiro. De que a vida, para elas, configurava-se como terrível, insuportável e inconcebível. Porém nada disso! Segundo algumas das adolescentes entrevistadas, a primeira gravidez aconteceu, às vezes, por acaso. Mas algumas falas das jovens grávidas disseram que a segunda gravidez, que foi planejada, a maioria das adolescentes está “casada” com o pai da segunda criança, e esse pai assume o primeiro filho, que, na maioria dos relatos, não é dele. A maioria das adolescentes foi criada em um ambiente onde a mãe e as avós também ficaram grávidas com 15, 16 anos; percebe-se que essa situação é 58 reproduzida, no dia a dia, pelas filhas. Há uma naturalização da gravidez nessa etapa da vida humana. Ficaram dito e interdito nas linhas e entrelinhas que a grande maioria das famílias não orienta e não dialoga com seus filhos e filhas. O outro caminho, a escola, como possível instituição educadora, ainda é, em grande parte, biologicista e não aborda, de forma clara e efetiva, temas referentes à sexualidade, para que os adolescentes se capacitem e façam escolhas sensatas e conscientes sobre sua saúde sexual e reprodutiva. Lima e Correia (2015, p.158) afirmam que: Quem estranharia ou lamentaria que uma mulher com menos de 20 anos de idade engravidasse, nas primeiras décadas do século XX ou no período colonial? Do mesmo modo que a juventude, como categoria social, é um fenômeno datado, configurado a partir de alguns acontecimentos históricos recentes e próprios das sociedades industriais ocidentais, a percepção da gravidez na adolescência como um problema é um dado histórico contemporâneo, relacionado a algumas condições de possibilidade específicas. Dentre elas, a conversão da maternidade numa atividade que exige preparação e orientação especializadas, como resultado de um investimento do movimento higienista, na passagem do século XIX para o século XX. Retornando um pouco à história da sexualidade, na época do Brasil colônia, segundo Del Priore (2012), engravidar aos 14 anos era normal, e mulheres mais “velhas”, com 19 anos, eram ditas como “titias”. Grande parte das adolescentes se tornou mães aos 12 a 15 anos. Essa pouca idade trazia riscos fisiológicos para o bebê e para a mãe, pois havia imaturidade emocional que influenciava os relacionamentos: é um fato histórico reconhecido. Casos de desajustes conjugais devido à pouca idade da esposa não foram raros e revelam os riscos por que passavam as mulheres que concebiam ainda adolescentes. Há casos de meninas que, casadas aos doze anos, manifestavam repugnância em consumar o matrimonio (DEL PRIORE, 2012, p. 44). No mundo contemporâneo, com tantos avanços em todas as dimensões do viver humano, ao se conhecer uma jovem grávida aos 12, 13 anos de idade gera-se um estado de choque, ou impactos negativos, mas tempos atrás era “normal” as mulheres se casarem no início da adolescência. Na visão de Oliveira et al. (2015, p. 16-22): 59 A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade. Devido às repercussões sobre a mãe e sobre o concepto é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da Saúde (OMS 1977, 1978), porém, atualmente postula-se que o risco seja mais social do que biológico. Na busca de respostas e apreensão do porquê as adolescentes em tempos contemporâneos ainda engravidem de forma não planejada, mesmo com tantas informações vinculadas à mídia televisiva, internet, nas escolas, e outros meios de comunicação, faz-se necessário formular respostas a tais questões, a partir de informações coletadas das adolescentes com repetição em gravidez. Na perspectiva de Oliveira et. al. (2015, p. 16-22): O mundo vem passando por inúmeras transformações nos mais diversos campos, tanto político, econômico e social. O excesso de informações e liberdade que os adolescentes recebem os leva a participar de diversos tipos de assuntos, entre eles o sexo. Essa liberação sexual, acompanhada de certa falta de limite e responsabilidade, é um dos motivos que favorecem a incidência de gravidez entre as adolescentes. Além disso, a impulsividade, a baixa autoestima, a aspiração à maturidade e o fato de a gravidez fazer parte do projeto de vida da adolescente na tentativa de alcançar autonomia econômica e emocional em relação à família de origem, também ganham destaque. Portanto, buscar respostas para o porquê de tantas informações sobre essa temática ventiladas por vários meios de comunicação faz-se necessário entender e ajudar os jovens para que consigam abrir os olhos, sair da miopia cotidiana e enxergar o futuro que o espera se a gravidez não for planejada. Sobre esse aspecto Lima e Correia (2015, p. 157-174): [...] a gravidez na adolescência não é percebida na nossa sociedade apenas como um problema individual das adolescentes grávidas, nem mesmo como um problema de suas famílias, mas como uma questão de saúde pública, a demandar providências do poder público. Ao ser percebida como um problema de governo, a gestação na adolescência mobiliza a produção de conhecimentos especializados e a tomada de providências, tais como a realização de campanhas, a introdução do tema no currículo escolar e assim por diante. É preciso salientar ainda que não é apenas a adolescente grávida que se torna alvo do governo, mas todas as adolescentes e, especialmente, aquelas “em risco” de engravidar precocemente. Ao avaliar os depoimentos das adolescentes reincidentes em gravidez, surgiram as categorias apresentadas a seguir. Os depoimentos foram analisados com 60 base na técnica da análise de conteúdo temática proposta por Bardin (2010) e geraram sete categorias: Sentir-se grávida novamente: por que uma nova gravidez?; Mudanças na e para a vida; Orientação sexual recebida na família e na escola; Reação do pai da criança a notícia da paternidade; A acolhida no Hospital Julia Kubistchek: significado para as adolescentes; Voltar ao tempo, faria algo diferente!; O educar-se para trabalhar com as adolescentes e Sentir-se grávida novamente: motivos para uma nova gravidez 2.4.2 SENTIR-SE GRÁVIDA NOVAMENTE: POR QUE UMA NOVA GRAVIDEZ? As unidades de registro que compõem essa categoria mostram que as adolescentes se sentem “normal” em relação a estar grávidas novamente, tendo em vista que grande parte delas estava esperando que a gravidez acontecesse pela segunda vez. Entretanto, algumas relataram que ficaram grávidas novamente porque houve um descuido. Foi um descuido, não me cuidei direito (A1). Levei um susto (A2) Não foi fácil passei muito aperto, eu não queria foi descuido (A7). Não imaginava que isso ia acontecer comigo, nem da primeira vez e nem da segunda vez (A8). Falta de responsabilidade a gente sabe que é errado, mas arrisca (A9). Fiquei chocada, só acreditei no final da gravidez (A10). Nesses interditos, pode-se inferir que não era tão indesejado assim ficar grávida novamente. Levar um “susto” não significa o não querer, de fato, essa gravidez, e o “descuido” remete ao não pensar para agir, ao não envolver-se de forma suficiente com o que deve ser pensado antes de materializado. Infere-se negligência e a concretização do “pensamento mágico” do processo de adolescer “isso não acontece comigo, e sim com o outro.” Contudo, outros depoimentos sugerem que a maioria das adolescentes aspirava ao segundo filho, que foi programado, não implicando uma gravidez (in)desejada. Ao contrário, a gravidez é fruto de uma união feliz e equilibrada. As 61 adolescentes, inclusive, nomeiam seus parceiros como “maridos”, conforme se lê nas unidades de registro a seguir: Ah! A gente esquece porque a gente vai crescendo. A primeira gravidez eu levei um susto, mas a segunda eu estava preparando um tempinho (A1). Ah! Eu tinha programado (A3). Me sinto normal, eu estava querendo (A6). Ah! Isso de ficar grávida na minha família é normal (A5). Falta de responsabilidade a gente sabe que é errado, mas arrisca (A9). Os verbos “programar”, “preparar”, “arriscar” e “ficar” grávida reafirmam a intencionalidade da gravidez. “É normal ficar grávida na família.” É a representação do vivido na família, na comunidade no bairro. O que pensar diante dessa “naturalização” da gravidez na adolescência? Que ações planejar para mudar esse contexto? Ele precisa ser mudado ou é essa a nossa visão dos fatos? O nosso mundo está em contramão com o mundo dessas adolescentes? Nesse sentido, pode-se dizer que a falta de informações que deveria vir das escolas e das famílias contribuem, tanto para o conhecimento das nuances de uma vida sexual quanto da vida reprodutiva. Para algumas adolescentes, a falta de maiores informações desencadeia falhas no uso de contraceptivos. Em relação às pílulas anticoncepcionais, há ainda muitas dúvidas no seu uso e o período certo para o intervalo entre cada cartela. O anticoncepcional certo para cada adolescente. Nesse contexto, destaca-se a fala de Oliveira et al. (2015, [s.p.]): Muitas vezes o método contraceptivo pode estar disponível, mas o adolescente não sabe como usá-lo corretamente, apesar da grande variedade de informações, os jovens ainda têm dúvidas sobre o uso adequado e ideias equivocadas acerca dos métodos anticoncepcionais, como por exemplo, na colocação da camisinha e nas tomadas das pílulas, principalmente em relação ao intervalo entre as cartelas – muitas adolescentes se confundem e as iniciam erroneamente ou não respeitam o intervalo recomendado entre uma e outra cartela. O que levam aos adolescentes a utilização do coito interrompido, o qual apresenta um grau enorme de dificuldade, pois pressupõe controle da ejaculação, e, como nessa fase é comum a ocorrência de ejaculações precoces, torna-se complexa sua utilização. 62 Além do mais, em relação ao “pensamento mágico” do adolescente de que nada de “mau” acontece com ele, independentemente das ações praticadas, ele se arrisca, inclusive, nas relações sexuais sem o uso de preservativo. Não vai engravidarse e nem tampouco contrair alguma DST (doenças sexualmente transmissíveis). Como grande parte dos adolescentes não gosta de usar camisinha, isso confere no número assustador de casos de AIDS e outras DST no Brasil e de gravidez reincidente na adolescência. [...] Entretanto, o que tem sido mostrado é que a utilização de métodos contraceptivos não ocorre de forma adequada em razão de (o/a): própria negação do adolescente da possibilidade de engravidar; fato de os encontros sexuais serem casuais; o uso de métodos preventivos representarem assumir a vida sexual ativa e; pelo conhecimento inadequado relativo aos métodos (SOUSA; GOMES, 2009, p. 645). Não há como negar que a atividade sexual inicia-se cada vez mais precocemente, o que se confirma pelas idades das “meninas mães” deste estudo. É sabido ser a adolescência uma fase de instabilidade emocional, hormonal, mudanças físicas, relações afetivas, sexuais e a busca de uma certa autonomia. Ao serem questionadas sobre os motivos de nova gravidez, as adolescentes mostraram inconstância emocional, pois a maioria disse que levou um susto ao receber a notícia da maternidade, mas logo depois disseram que a gravidez foi programada. Isso mostra o desejo (in)consciente de estar grávida. 2.4.3 ORIENTAÇÃO SEXUAL RECEBIDA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA Esta seção assinala o quanto são falhas ou ineficientes as orientações sobre a sexualidade: nem a família, nem a escola, as assumem. A maioria recebeu algum tipo de informação, mas não foram significativos para sua vida. Algumas relatam que as escolas tratam o assunto de forma superficial e o importante não é discutido de forma a sedimentar o conhecimento apreendido pelas adolescentes. Acredita-se que as jovens receberam algum tipo de informação das escolas e o restante aprendeu com amigas ou de forma autônoma. Brandão (2007) diz que “educação” é todo conhecimento adquirido com a vivência em sociedade, seja ela qual for. Sendo assim, o ato educacional ocorre no ônibus, em casa, na igreja, na família, e todos nós fazemos parte desse processo. 63 Contudo, acredita-se que a educação formal é imprescindível para o aprender efetivo, correto, desvinculado de tabus e mitos e o para que as adolescente se instrumentalize a respeito de sua sexualidade e vida reprodutiva. De acordo Del Priore (2012, p.126) “[...] mais e mais jovens adquiriram seus conhecimentos de forma autônoma, pois sua curiosidade esbarrava no sigilo dos pais”, o que confirma os dizeres dos sujeitos deste estudo: Sim, recebi orientação na escola, mas as professoras, parecem que não gostam de falar sobre o assunto, falam pouco (A1). Sim, recebi orientações na escola, achei legal, mas não usei (risos). Na minha família não recebi, pois não tenho mãe e não ia conversar sobre isso com meu pai, minhas irmãs são mais novas do que eu (A2). Não, só por alto, só escutando conversa atrás das portas. Na escola recebi orientações, mas só que nunca falou direitinho como são as coisas. Sempre falavam de forma superficial, nunca o que a gente precisa mesmo aprender (A3). Em casa não recebi, sempre fui muito fechada. Mas na escola sim, um pouco as professoras, não gostavam de dar essa aula, os meninos ficavam rindo à toa, ela tinha que ficar brava para explicar (A4). Dentre as várias lacunas existentes na educação, presencia-se que o enfoque sobre a sexualidade entre os adolescentes não é diferente. Ainda não é comum e generalizado o trabalho educativo, e preventivo do promotor de saúde, com base em ponderações assertivas, problematizando o saber e as dúvidas dos adolescentes e ampliando suas informações. Registra-se que o Programa Saúde na Escola (PSE), instituído pela Presidência da República por meio do Decreto nº 6.286, de 05 de dezembro de 2007, cujas ações deverão ser desenvolvidas em conformidade com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), objetiva: fazer avaliação clínica e nutricional; promover alimentação saudável; realizar avaliação em todos os sistemas do corpo humano; atualizar e controlar o calendário vacinal; reduzir morbimortalidade por acidentes e violências; prevenir e reduzir o consumo do álcool, do uso de drogas; promover a saúde sexual e a saúde reprodutiva; fazer educação permanente em 64 saúde; atividade física e saúde; promoção da cultura da prevenção no âmbito escolar; e inclusão das temáticas de educação em saúde no projeto político pedagógico das escolas, dentre outros (BRASIL, 2007). O Decreto citado acima assegura que serão consideradas a atenção, a promoção, a prevenção e a assistência à saúde, e deixa claro a necessidade de se fazer uma atuação intersetorial entre saúde e educação (BRASIL, 2007). Sabe-se, contudo, que é de praxe, que os Programas são bem elaborados e abrangentes, mas quem os implanta e implementa, às vezes, não foi capacitado para tal. Recebe-os na época de colocá-los em prática. Em algumas cidades e escolas o PSE foi implantado, mas cada escola o implantou de acordo com suas necessidades. Retornando aos dizeres das adolescentes, percebe-se que a escola, de forma geral, não evoluiu no que tange ao seu papel de educadora em questões ligadas à sexualidade de seu alunado. Pelo menos, não se percebe a ocorrência de aprendizado e de transformações significativas na vida de seus alunos. Percebe-se essa ausência de conhecimento na temática sobre a sexualidade. Algumas adolescentes pronunciaram, neste estudo, que o assunto foi trabalhado na escola, mas não de forma significativa, e sim, superficial. A escola não está desempenhando o seu papel de ensinar, comunicar, como afirma Carbonell (2002, p. 16). Ensinar adquire novos significados para relacionar-se com as novas tecnologias da comunicação, para ler e entender melhor a realidade e para assimilar, ao mesmo tempo, a rica tradição cultural herdada e muitas outras expressões culturais emergentes e mutáveis que, diga-se de passagem, continuam em boa medida ausentes da cultura oficial escolar. Registra-se aqui que as adolescentes foram unânimes em falar que existe uma fragilidade nas informações sobre a temática “sexualidade” nas escolas e nas famílias. Apreende-se, pelas falas e nas entrelinhas, que são necessários maiores investimentos para capacitar os profissionais da educação, da saúde e da família no tratamento de temas como sexualidade. Quanto às famílias vulneráveis socialmente e com adolescentes mais “expostos”, é preciso criar estratégias que as envolvam e as tornem participantes ativas no processo educativo. Talvez essa participação possa vir das comunidades, dos encontros nos bairros e das igrejas. É respeitável ou desejável estabelecer relações de confiança entre os adolescentes e a família, criando um espaço de escuta para oportunizar crescimento para a família e para o adolescente, em que esse jovem 65 possa dialogar, expor suas dúvidas, seus anseios, suas necessidades e criar um laço familiar. 2.4.4 MUDANÇAS NA E PARA A VIDA Os discursos da maioria das adolescentes assinalam que tiveram a vida modificada pela nova situação – gravidez tão jovem; para outras, nada mudou, pois já não mais estudavam e cuidavam do primeiro filho e nem chegaram a ter oportunidade de trabalho. Destaca-se que a mudança a que se referem, basicamente, é relativa à primeira gravidez. Mudou tudo, tive que parar de estudar, para cuidar do primeiro filho, agora vou cuidar de dois (A1). Dá primeira vez mudou tudo, porque eu não estava com o pai da criança, mas agora de segunda vez foi planejada, ainda não mudou nada, porque esse bebe foi planejado (A3). Mudou tudo, só fico tomando conta de crianças de casa e agora não consigo cuidar de mim (A5). Mudou tudo, não faço mais nada a não ser cuidar de filhos. Nunca imaginei que isso ia acontecer comigo. Tinha planos de fazer faculdade, agora meu sonho foi adiado (A7) Não mudou nada, continuo tendo minha vida como era antes (A8). Ribeiro e Gualda (2011, p. 369-370) relatam que a mudança na vida advinda pela gestação na adolescência pode ser um acontecimento que traz satisfação e felicidade, apesar dos infortúnios. Que [...] essa mudança que a gestação traz à adolescente mostra a autonomia que ela adquire quando se desenvolve como uma pessoa resiliente. Como mãe adolescente resiliente, se declara independente, responsável, segura e confiante no futuro. Carvalho, Merighi e Jesus (2009, p. 20) assim se expressam: Diante da parentalidade e de sua repetição os adolescentes vão elaborando as mudanças, realizando adaptações que acreditam ser necessárias e a partir do segundo nascimento não há grande estranhamento ou surpresa com o nascimento dos filhos. 66 De fato, as adolescentes mães falam com orgulho do cuidado dos filhos e da casa. Esquecem-se até do próprio cuidado, pois estão envolvidas no emaranhado mundo da criança pequena, que demanda atenção e cuidados 24 horas por dia. O plano de continuar os estudos foi adiado, mas não descartado. “Tinha planos de fazer faculdade, agora meu sonho foi adiado”, mas não o abandonou. Verifica-se que agora ela precisa redefinir sua identidade, reorganizar-se emocionalmente e de forma temporal, prorrogar seu sonho. Sobre o foco de Oliveira et. al. (2015, p. 16-22) tem-se que [...] a maternidade exige que a jovem redefina sua identidade levando em consideração o fato de que sua vida, da gravidez em diante, estará vinculada às demandas do filho. A projeção de si mesmo no futuro, elemento importante da construção da identidade na adolescência é substancialmente afetada no caso das adolescentes que engravidam onde precisam lidar com uma nova perspectiva temporal dada pelo desenrolar da gravidez e do próprio desenvolvimento do bebê após o nascimento. Constatam-se, nas entrelinhas das falas, poucos sonhos, que elas não esperavam muito da vida, que a maternidade ia chegar mais cedo ou mais tarde. A maioria diz que não faria de novo, não pelos filhos, isso fica bem claro em suas falas, mas pela demanda que o nascimento de uma criança traz. A precocidade das uniões conjugais pode contribuir para a perpetuação de desvantagem social, já que ao limitar-se ao papel de mãe e dona de casa, as adolescentes abandonam os estudos e possibilidades de qualificação profissional, prejuízo ao potencial produtivo desses jovens (SOUSA; GOMES, 2009, p. 648). Detecta-se nas unidades de registro que há uma frequente afinidade entre gravidez e abandono dos estudos. O desamparo escolar pode trazer graves problemas socioeconômicos, uma vez que essas adolescentes entram mais tarde no mercado de trabalho. Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, suas chances ficam comprometidas e cada vez mais se vê dependente do “marido” ou da família. 67 2.4.5 REAÇÃO DO PAI DA CRIANÇA À NOTÍCIA DA PATERNIDADE As falas das adolescentes revelam a reação do pai da criança ao receberem a notícia da paternidade. Contraditoriamente ao imaginado pela mestranda, todas as adolescentes disseram que os pais de seus filhos ficaram muito felizes com a notícia da paternidade. A visita ao hospital para conhecimento das adolescentes e o agendamento da coleta dos dados mostrou uma situação também nunca antes imaginada: a presença significativa do pai junto à mãe e ao bebê no HJK. Vejam os fragmentos dos depoimentos: Ele gostou sim, ele queria um filho dele, pois o primeiro ele assumiu, mas não é dele, mas ele considera como pai, e para mim e meu filho é mesmo (A2). Ele ficou muito feliz (A3). Normal, ele estava doido com um menino (A4). Ficou feliz, eu e ele queríamos (A5). Muito bem. Ele queria (A6). Ele ficou muito feliz. Acompanhou até o final. Praticamente ficou grávido junto comigo (A9). O estar “grávido” denota o querer do homem personificado no filho. E quem é pai é quem cuida, portanto, mesmo o primeiro filho não sendo fruto da relação com o atual companheiro, ele é filho de criação, de participação e de coração. Todas as adolescentes acordaram com o bom envolvimento dos pais dos bebês. Ao questionamento de como os pais das crianças contribuíram com as despesas, todas desvelaram que colaboravam com tudo, assumindo o que fosse necessário. Para o espanto da mestranda, todas as adolescentes estavam morando com os “maridos”. Talvez para um avanço na questão da reincidência de gravidez na adolescência, deva-se valorizar e entender os pais das crianças, pois na maioria das pesquisas eles são excluídos. Incluir dados dos pais da criança talvez possa trazer alguma “pista” para encontrar as respostas para essa falha na reincidência, pois nesta pesquisa os pais estavam sempre por perto. Vale recordar o que diz o documento da UNFPA (2014, p. 2): 68 Nunca antes houve tantos jovens. É provável que nunca mais tenhamos tamanho potencial para o progresso econômico e social. A forma como atendemos as necessidades e aspirações desses jovens vai definir nosso futuro comum. A educação é fundamental. As habilidades e conhecimentos que as pessoas jovens adquirem devem ser relevantes para a economia atual e permitir que eles e elas se tornem inovadores, pensadores e solucionadores de problemas. Os investimentos em saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, também são fundamentais. Quando jovens conseguem fazer uma transição saudável da adolescência para a idade adulta, aumentam suas opções para o futuro. 2.4.6 A ACOLHIDA NO HOSPITAL JÚLIA KUBISTCHEK: SIGNIFICADO PARA AS ADOLESCENTES Esta seção narra o significado de ser acolhida no HJK. É nítida a tranquilidade expressa de forma verbal e corporal pelas adolescentes. Esse sentimento circunscreve também o pai da criança e a avó materna, sempre presentes, na enfermaria do HJK. Talvez essa presença dos membros da família, que traz segurança, carinho e consideração, tenha contribuído para essa paz. Inicialmente, as adolescentes se referem aos cuidados recebidos no HJK, como: Muito importante, estou sendo muito bem tratada (A6). Muito importante, o ambiente é bom, a gente conversa com as psicólogas, enfermeiras e com a funcionária do comitê de aleitamento materno (A7). Acho tudo aqui bom, o atendimento (A4). Gratificante. Significa tudo, pois foi onde tudo começou (A9). O HJK, como é referência estadual em gravidez em adolescência, tem um trabalho diferenciado para atender as jovens mães. Esse atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar, composta de médicos, enfermeiros, funcionária do comitê de aleitamento materno, psicólogas, assistentes sociais, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, doulas, entre outros. O cuidado é ministrado de forma individualizada a cada nova mãe que chega à maternidade. Os funcionários do HJK têm como finalidade acolher bem as gestantes, em especial as adolescentes, como estratégia de otimizar a ascensão dos usuários aos serviços de saúde. No que tange à questão da 69 humanização e de seus benefícios, realizam-se acolhida, escuta aos pacientes, aos familiares, valorizando suas queixas e seus elogios. Infere-se que os funcionários da maternidade são conhecedores da política de humanização da assistência, uma vez que executam suas ações balizadas nessa política. Também suas ações encontram eco nos dizeres de Moreira et al. (2008, p. 315): Trabalhar com adolescentes grávidas implica em desafios para compreender este mundo repleto de subjetividade e contradições. Por isso, os profissionais que lidam com esta problemática precisam de um olhar mais apurado, detalhado e sensibilizado, para melhor aplicar os programas existentes e criar outros necessários para a resolução deste quadro que se agrava a cada dia. Em relação à vivência da gravidez e do parto é mister pensar que a mulher adolescente enfrenta um momento obscuro e merece ser compreendida. A reflexão desse acolhimento não se limita ao aspecto da dimensão biológica, mas também a psicológica, a social e a cultural; fornecem um trabalho em equipe buscando sempre o conforto das adolescentes mães. Existe uma lei federal, Lei nº 11.108 – de 07 de abril de 2005 –, que reza que a gestante e a puérpera tenham um acompanhante de livre escolha. Fica claro que o HJK faz valer essa Lei. Essa reflexão se evidencia nas respostas dadas pelas jovens mães pelo prazer de estarem em um ambiente onde elas são tão bem acolhidas, tão bem cuidadas. A equipe multiprofissional cumpre o que Ministério da Saúde (BRASIL, 2014, p. 29) apresenta em relação ao parto e nascimento: As atitudes dos membros da equipe de atenção em relação à mulher devem buscar a valorização e o fortalecimento da sua dignidade, aumentando a sua autoestima e encorajando a sua participação no planejamento do seu cuidado. Deve ficar claro para ela que suas visões e desejos são importantes e serão respeitados, desde que não redundem em riscos substanciais para si ou para seu filho ou sua filha, riscos estes que deverão ser adequadamente explicitados em um comprometimento ético com a expressão da verdade. Minayo (2008, p. 56), ao escrever sobre humanização, diz que alguns profissionais de saúde apesar de todas as intempéries “cultivam uma ética do cuidado pleno e, como diria o grande sociólogo Weber, encaram e encarnam seu trabalho como vocação”. Que esses profissionais, de diversas formações, “são o gérmen e a semente dos pensamentos, dos sentimentos e das ações portadoras das transformações humanizadoras”. 70 Apesar de tecerem elogios ao atendimento por parte de grande parte dos profissionais da saúde do HJK, as adolescentes pesquisadas também perpetraram algumas reclamações concernentes a alguns membros da equipe, segundo unidades de registro a seguir: A pediatra demorou muito para atender, o bebê, mas tirando isso tudo é bom (A1). Eu gostei de tudo, mas as pediatras demoram a dar alta para o bebê. (A3). As reivindicações das adolescentes dizem respeito ao tempo de espera... para atendimento, para a alta.... há de se lembrar que o “esperar” , por si só traz angústia e assim, as horas aprecem não passar. Além do mais o tempo cronológico do adolescer anda na contramão do tempo da pessoa adulta: corre mais rápido. Outra reclamação é referente ao espaço físico. Acham-no muito limitado, pequeno o que gera falta de privacidade, colchões inadequados e falta de manutenção dos materiais, assim como apenas um banheiro para atender muitas mulheres e o horário do almoço para uma adolescente não atende, essa mesma adolescente disse que a linguagem dos profissionais da saúde é muito técnica, e que eles deveriam falar de forma mais clara de forma que eles acendessem suas necessidades. Eu penso que deveria ter mais um banheiro no Pré parto, só um banheiro lá, para esse tanto de mulheres aqui é pouco, eu gostaria também de ir mais longe, a gente só pode ir no corredor, eu queria ir para fora do Hospital (A2). Eu gostaria de um quarto com menos gente, é muita gente conversando, a gente quer descansar e não tem jeito (A5). O tratamento é ótimo, mas falta manutenção nos leitos, modificação nos leitos (A7). Se eu pudesse sugerir, eu ia falar para trocar o almoço para as 12 horas. E que os médicos falassem de forma que a gente conseguisse entender (A9). Se eu pudesse modificar alguma coisa eu ia pedir um colchão mais duro, o daqui é muito mole (A11). Nesses registros estão claras as reivindicações das adolescentes em relação ao local onde são cuidadas. Trata-se de um ambiente com regras e horários a ser 71 seguidos, dentre outros. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) recomenda que o espaço físico deve oportunizar às mães a expressão de seus sentimentos, suas necessidades e os cuidados de forma individualizada e flexível de acordo com suas demandas. E que a linguagem da equipe de saúde seja inteligível e não que houvesse necessidade “que os médicos falassem de forma que a gente conseguisse entender (A9). 2.4.7 VOLTAR NO TEMPO, “FARIA ALGO DIFERENTE!” Nessa temática, o discurso se mostra ambivalente ao dizerem sobre o fazer algo diferente em relação à questão de ficar ou não grávida. Uma das primeiras respostas ao questionário foi de que “a maioria levou um susto ao receber a notícia, mas que ficou feliz, pois estava se preparando para ficar grávida novamente” Entretanto, as falas se mostram contraditórias se pudessem voltar no tempo: Sim, eu não teria engravidado nem do primeiro e nem do segundo, não é que eu não goste deles, gosto muito, mas vai demorar para eu voltar a estudar (A1). Bom. Ah! Não sei (A2). Sim eu ia cuidar para não ter engravidado da primeira vez e nem da segunda, mas não arrependo não (A4). Sim eu teria tomado mais cuidado, não ia engravidar (A8). Sim, eu não teria engravidado, ia tomar mais cuidado, tomar o remédio certo (A7). Não, eu sempre quis ser mãe nova, apesar de tudo o que dizem a respeito de ser mãe jovem. (A12). Esses dizeres mostram que a maioria das adolescentes mudaria o rumo de sua história se pudesse voltar no tempo. Acredita-se que um fator de recorrência de gravidez em adolescentes sejam as mudanças no comportamento sexual, cada dia mais precoce, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil! Uma das adolescentes reportou que teria tomado mais cuidado em relação à troca de medicamentos e não teria engravidado. Isso expõe a falta de conhecimento sobre métodos contraceptivos ou falta de acesso a eles. Não é satisfatório só conhecer os métodos contraceptivos, é preciso saber usar. 72 Alguns estudiosos sinalizam que as adolescentes se confundem ou não respeitam o intervalo entre as cartelas de anticoncepcionais. É importante também conhecer as várias opções de métodos contraceptivos que existem no mercado e identificar, com ajuda de uma profissional da saúde, o que melhor se adapta à adolescente. Outra jovem mãe disse: “Não, eu sempre quis ser mãe nova, apesar de tudo o que dizem a respeito de ser mãe jovem”; ou “Sim, eu ia cuidar para não ter engravidado da primeira vez e nem da segunda, mas não arrependo não”. O desejo de engravidar fica claro no primeiro depoimento e no segundo: “não me arrependo....”; o que leva à reflexão sobre a gravidez (in)desejada entre os adolescentes. Como nós profissionais devemos agir com elas? Que motivos despertam nelas o desejo de ser mãe? Cada adolescente tem sua história e essa história requer ser conhecida para se dialogar e educar a partir da demanda expressa pela adolescente. Infere-se que um dos motivos seja a oportunidade de união a um companheiro que pode lhe trazer independência financeira, e a construção de sua identidade feminina como mulher; ser mãe é uma tarefa apreciada socialmente e é uma opção plausível e duradoura que propicia prestígio pessoal em sua comunidade na qual existem poucas opções de ascensão social, como por exemplo; estudar fora do país através de um intercambio, ou com recursos próprios, fazer faculdade; construir uma carreira profissional, estabilizar- se profissionalmente, viajar entre outras. 2.4.8 O EDUCAR-SE PARA TRABALHAR COM AS ADOLESCENTES Perpassa em todos os discursos que o trabalho educativo em relação à sexualidade, tanto nas escolas quanto nas famílias e outros setores, não está se processando. Uma das possíveis razões para a não ocorrência do educar para a vida no que tange à sexualidade seja o não saber o como fazer, até que ponto ir às informações, o medo de se expor, de não saber as respostas caso surjam e de manter o pensamento ainda antigo: “ninguém me ensinou e eu estou aqui.” A não realização de atividades educativas acerca da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, de forma efetiva, assenta- se no despreparo do corpo docente, pois a maioria dos professores não foi capacitada para trabalhar essa 73 temática nas escolas, não se sentindo seguros para isso. Muitos educadores, principalmente do gênero feminino, uma vez que o universo da pedagogia ainda é mais de mulheres, não se sentem bem discutindo o assunto. Não vivenciaram e não receberam de seus mestres essas orientações. Ninguém consegue dar o que não tem, portanto, como ensinar o que não se aprendeu? Como ensinar o que não me é natural abordar? Os adolescentes de ontem são os educadores de hoje que sofreram coibição sexual, silêncio dos pais e das escolas em relação à sexualidade, que pode ter deixado marcas em seu modo de pensar e atuar. Foi uma época de cunho moral muito acentuado e os valores também eram outros. Esses professores de hoje carregam tabus e apegos que lhes foram transmitidos pelos seus professores, pela família e pela sociedade. Assim, acabam influenciando a sua prática pedagógica e sua história. Del Priore (2012, p. 118), a esse respeito, diz: A repressão sexual era profunda entre mulheres e estava relacionada com a moral tradicional. A palavra “sexo” não era nunca pronunciada, e saber alguma coisa ou ter conhecimento sobre a matéria fazia com que elas se sentissem culpadas. Um distanciamento da vida real criava um abismo entre fantasia e realidade. Obrigava a ostentar valores ligados a castidade e a pureza, identificadas pelo comportamento recatado e passivo. As falas das adolescentes contextualizam essas reflexões pontuadas anteriormente: Olha, o caso que penso que deveria ensinar usar camisinha; as colegas falam, que se ter relações sexuais sem camisinha dá mais tesão, então ensinar mais sobre camisinha. Falar que não deve ficar com muitos meninos, hoje estou mais madura penso assim, mas não época não pensava não (A3). Ah! Os professores deviam conversar mais com os alunos né? Deveria também falar da presença dos pais da criança que deveria ficar mais próximos no pré-natal, acompanhar a gente (A4). Eu falaria com as professoras para conversar mais sobre remédios para evitar gravidez, que fosse ensinado mais cedo (A5). Mais orientações na escola e na família, falar muitas vezes na escola (A6). Mais informações na escola, o que a escola ensina é muito pouco (A7). 74 Esclarecer mais sobre as coisas de sexo, para as meninas e os meninos também. Os meninos acham que sabem muito, pois ficam vendo vídeos pornográficos na Internet (A8). Esses dizeres expressam que o desconhecimento, o discurso não dito, o ensinamento não processado, o silêncio da escola e da família são coadjuvantes no fenômeno da gravidez na adolescente e também sua reincidência, atrelados com grande foco na escola. É evidente a necessidade de se investir na formação dos docentes e dos profissionais da saúde a partir de atividades educativas e estratégias de ensino facilitadoras de abertura pessoal para investimento em si mesmo com vistas ao investimento na educação do outro. Não é tarefa fácil e rápida, mas possível de se concretizar. Os Ministérios da Educação e da Saúde estão unificados nessa missão com a criação de políticas públicas integradoras. E os programas que já existem devem deixar de ser apenas SIGLAS e tornarem-se ações eficazes. Dar prioridade para programas de prevenção de gravidez reincidente entre jovens mães, ações também com adultos que participam da vida dessas jovens, no conjunto familiar, escolar, cultural e social. Os primeiros passos foram dados e o caminho se descortinou com a esperança de se conseguir educação sexual e reprodutiva efetiva nas escolas e nas unidades de saúde (grifo meu). Abrir espaços e trazer os adolescentes para que possam tirar suas dúvidas, seus medos, seus anseios e exercitar a troca de conhecimentos entre seus pares pode ser feito por meio de oficinas e grupos educativos. O trabalho com as famílias dos adolescentes deve ser pensado com carinho, atenção e dar oportunidade aos pais/responsáveis para dizerem de suas expectativas, de seus medos, de se conseguem ou não orientar as filhas e de quem gostariam de receber ajuda. Criar vínculos com os familiares é a primeira estratégia. A confiança abre janelas para o diálogo, para mostrar-se e para buscar o entendimento. 2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito se aprendeu da pesquisa e leitura do material bibliográfico identificado para este capítulo. Contudo, a riqueza do aprendizado se fez muito mais perante as 75 adolescentes, que descreveram seu mundo por meio de um corpo ainda em mudança pela idade e pela maternidade; pelos olhares brilhantes e orgulhosos de serem mães; pelo companheiro ao lado apoiando e pela família presente. Anexa-se a tudo isso o dizer de ser mãe adolescente e reincidente na gravidez. Apesar dos vários programas do governo disponibilizados para os adolescentes objetivando ampará-los e orientá-los sobre a saúde sexual e a saúde reprodutiva, a gravidez é fato. É reincidente. Percebeu-se que os programas do governo sobre saúde dos adolescentes são bem elaborados e abrangentes, mas quem os implanta e implementa, às vezes, não foi capacitado para tal. Constatou-se que as ações delineadas devem ter como foco o adolescente ou a adolescente de acordo com suas expectativas, momentos vividos, angústias, desejos e grupos de amigos, invertendo a lógica posta e em vigor: deve-se horizontalizar o diálogo, tornar o adolescente sujeito ativo e ser facilitador de sua aprendizagem. A análise das entrevistas mostrou que a maioria das adolescentes aspirava ao segundo filho, programando-o, desejando-o. Ao contrário do pensado anteriormente, a gravidez é fruto de união feliz e equilibrada. As adolescentes, inclusive, nomeiam seus parceiros como “maridos”. Detecta-se que grande parte dos relatos dos sujeitos desta pesquisa revelou ser normal, natural, ficar grávida, ainda adolescente, na família. Pode-se dizer, ser a reprodução, o espelho refletido dos acontecimentos cotidianos vividos não apenas na família, mas também na comunidade. A realidade desnudada pelas adolescentes mostra falhas nas orientações acerca da educação sexual, que é frágil ou inexistente nas famílias e nas escolas, por incrível que pareça, deixam a desejar no que se relaciona à educação sexual e reprodutiva: as que pensam que oferecem educação o fazem de forma fragmentada ou pautada mais no biológico, e algumas ainda tateiam com o Programa Saúde na Escola. Enfim, é um começo! Destaca-se, entretanto, que a maioria das adolescentes diz ter recebido algum tipo de informação sobre a sua saúde sexual na escola, mas que essas informações não foram suficientes para adquirirem novos significados para sua vida. Algumas jovens expuseram que as escolas tratam o assunto de forma superficial e o importante não é discutido de forma a tornar o conhecimento assimilado, o que as leva à procura 76 de informações de amigas ou de forma individualizada, principalmente por meio da mídia. No que diz respeito às famílias, é imperativo convidá-las a se integrarem às unidades de saúde ou às escolas, com vistas a que se envolvam e participem da vida integral de seus filhos, ou seja, criar espaços favoráveis a sua inserção no processo educativo. Talvez essa participação possa vir das comunidades, dos encontros nos bairros e das igrejas. As adolescentes mães falaram com altivez do cuidado dos filhos e da casa. Gostam tanto do que fazem que se põem em último lugar no processo de cuidar de si. Citaram que os pais de seus filhos demonstraram felicidade com a notícia da paternidade e são envolvidos com os bebês; que de forma geral, contribuem com as despesas. Em relação ao acolhimento no HJK, são nítidas a satisfação e a tranquilidade das jovens mães. Esses sentimentos são também extensivos aos pais e familiares. Ser acolhida no sentido exato da palavra traz segurança, conforto e paz. Houve relatos de elogios em relação aos cuidados recebidos por toda a equipe médica do Hospital, com exceção dos médicos plantonistas dos fins de semana. Desfavoravelmente descreveram sobre o espaço físico, taxando-o de delimitado e de estarem “presas” em determinado espaço. Um dos grandes problemas trazidos pelo espaço limitado é a falta de privacidade e o horário das refeições, que deveria ser mais flexível, dentre outros pequenos reclames. Ficou claro que uma das razões para engravidar-se e que fala fundo no ser profissional da saúde e da educação é o desconhecimento relativo ao uso de métodos contraceptivos. Ou seja, falta educação sexual para os adolescentes. É obvio que outros motivos cerceiam a gravidez na adolescência, alguns de foro íntimo, de escolhas, de desejos e sonhos, mas destacou-se aquele que é de corresponsabilidade nossa. Esta pesquisa não se esgota aqui, porém ela contribuiu muito com alertas instigadores de ações a serem planejadas, programadas e concretizadas. Educar-se é permitir-se fazer escolhas conscientes. 77 REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto nº 6.826, de 5 de dezembro de 2007. Seção 1, p. 2-3. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 6 dez. 2007. _______. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento/ Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. _______. Ministério da Saúde. Adolescente grávida e os serviços de saúde no município. Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. BRANDÃO, C. R. O que é educação. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. BRUNO, Z. V. et al. Reincidência de gravidez em adolescentes. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., v. 31, n. 10, p. 480-4, 2009. CARBONELL, J. A aventura de inovar. A mudança na escola. Porto Alegre: Artmed, 2002. (Coleção Inovação Pedagógica) CARVALHO, G. M.; MERIGHI, M. A. B.; JESUS, M. C. P. 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Cadernos de Saúde Pública, v. 25, n. 3, p. 645-654, 2009. 80 3 PRODUTO TÉCNICO: RELATÓRIO PARA OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DO HOSPITAL JÚLIA KUBISTCHEK E APLICATIVO VOLTADO PARA A SAÚDE DO ADOLESCENTE Marcia Auxiliadora Fonseca5 Matilde Meire Miranda Cadete6 RESUMO Este capítulo apresenta dois produtos técnicos: um relatório e um aplicativo com diretrizes sobre a saúde reprodutiva das adolescentes construídos a partir da apropriação da demanda sugerida por elas. O relatório busca contribuir com os profissionais da saúde que atendem adolescentes grávidas e reincidentes no Hospital Júlia Kubistchek (HJK). Ele aponta sugestões e ações a respeito do cuidado da saúde sexual reprodutiva, com ênfase na prevenção de gravidez e pautado nas razões/motivações expressas pelas próprias adolescentes. O outro produto técnico é um aplicativo que intenciona fornecer informações necessárias acerca da saúde sexual do adolescente. Pretende-se instrumentalizar os jovens sobre diversas questões ligadas à sexualidade, à educação sexual e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em uma ferramenta interativa e conectada com as ferramentas utilizadas usualmente em seu cotidiano – os aplicativos. Espera-se que esses produtos possam contribuir para melhorar o atendimento às adolescentes no HJK e promover o educar-se para a vida, de forma geral e, por conseguinte, o desenvolvimento local. Palavras- chave: Relatório. Saúde reprodutiva. Adolescente. Desenvolvimento local. Educação. 5Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UMA. 6Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UMA. 81 ASTRACT This article presents two technical items: a report and an application with guidelines on reproductive health of adolescents built from the demand ownership suggested by them. The report seeks to contribute to the health professionals who care for pregnant teenagers and repeat at Hospital Júlia Kubitschek. He points out suggestions and actions regarding the care of sexual reproductive health, with emphasis on preventing pregnancy and guided the reasons / motivations expressed by the adolescents themselves. The other technical product is an application that intends to provide necessary information about adolescent sexual health. It is intended to equip young people on issues related to sexuality, sex education and prevention of sexually transmitted diseases in an interactive and connected tool with the tools commonly used in their daily lives - the applications. It is hoped that with these products can contribute to improve care for adolescents in HJK and promote educating themselves for life in general and therefore local development. Keywords: Report. Reproductive health. Teenager. Local development. Education. 82 3.1 INTRODUÇÃO Este capítulo tem o propósito de apresentar duas propostas de produtos técnicos: o primeiro é um relatório com diretrizes e sugestões de ações para o cuidado das adolescentes atendidas no Hospital Júlia Kubitscheck (HJK) a partir dos depoimentos expressos por 16 adolescentes, sujeitos de uma pesquisa qualitativa realizada nesse hospital. Ao responderem o questionário, instrumento da coleta de dados, destacaram-se as perguntas pautadas na vivência cotidiana dos cuidados aí recebidos e desveladores de situações que acreditam requererem melhorias. O segundo é um aplicativo para jovens e foi organizado com informações necessárias sobre a saúde sexual do adolescente. O aplicativo se baseia na intencionalidade de apoiar adolescentes sobre distintos pontos ligados à sexualidade, à educação sexual e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em uma ferramenta interativa e atrelada aos instrumentos utilizados habitualmente em seu dia a dia – os aplicativos, graças à cultura digital, também chamada “cibercultura”, “revolução digital”, “era digital”. 3.2 DESCRIÇÃO DETALHADA SOBRE O RELATÓRIO TÉCNICO Para França e Vasconcellos (2011), um relatório versa sobre fatos constatados a partir de pesquisas ou se descreve a situação de uma questão técnica ou científica como serviços, atividades e experiências concretizadas. Pode ser acompanhado de documentos demonstrativos, como tabelas, figuras e outros. O relatório técnicocientífico proporciona, metodicamente, informações satisfatórias, delineia considerações e faz sugestões/recomendações. Neste relatório, são apresentados os dizeres das adolescentes sobre os cuidados recebidos no HJK e sugestões expostas por elas. Um relatório técnico constitui-se, portanto, de um documento com vistas à socialização da informação, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Com base na Norma Brasileira de Referência (NBR 10719), que versa sobre informação e documentação-relatório técnico, o Relatório foi organizado de acordo com a ABNT (2011). 83 A dificuldade na execução de um relatório técnico é normalmente proporcional à complexidade e amplitude do tema, no caso desta pesquisa, a saúde sexual e reprodutiva das adolescentes assistidas no HJK. O tema ainda é muito complexo e rodeado de tabus. Acredita-se que se o assunto fosse mais difundido nas escolas e espaços de comunicação talvez o número de jovens grávidas fosse menor. Fechar os olhos para a questão da sexualidade entre os jovens é negar essa energia presente no seu dia a dia, negando um problema de saúde pública. Este relatório, além de informar os resultados parciais da pesquisa realizada com 16 adolescentes reincidentes em gravidez e atendidas no Hospital Júlia Kubistchek, com destaque para os depoimentos pertinentes ao como elas avaliam os cuidados recebidos, propõe caminhos/sugestões para os profissionais envolvidos no atendimento das adolescentes. Acredita-se que o resultado do relatório possa interferir de forma significativa para os profissionais envolvidos com o cuidado das adolescentes de forma a reavaliar suas condutas no que se refere aos cuidados com a mesma, pois a primeira gestação (in)desejada não trouxe um apelo expressivo para precaver o episódio de outra gravidez. O relatório encontra-se descrito logo após as figuras do aplicativo Teen. 3.3 CONHECENDO O PRODUTO TÉCNICO: APLICATIVO PARA A SAÚDE DO ADOLESCENTE – UMA REDE DE MUITOS LETRAMENTOS O que é um aplicativo de celular? É um tipo de software que trabalha com uma reunião de ferramentas desenhadas para obter serviços específicos no seu celular. App é um codinome para o termo “aplicativo” (que origina do inglês application). Atualmente vivemos em um mundo no qual o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) torna-se cada vez mais necessário para a participação em diversas instâncias sociais. As relações do homem com a informação e o conhecimento estão sendo modificadas pelo uso do computador e outros dispositivos digitais conectados à internet (SAITO; RIBEIRO, 2013, p. 39). Espera-se que os adolescentes (os nativos digitais) interajam com o mundo virtual de uma forma natural, pois são instrumentos usados por eles para diversos fins: 84 comunicarem, buscarem informações para uso das atividades escolares, para namoros, conhecer novas pessoas, vender, comprar objetos, ver vídeos, entre outros. A maioria dos jovens brasileiros está conectado nas redes sociais e emprega no seu cotidiano o uso do Facebook, E-mail, Blogs, Twitter, WhatsApp, Snapchat,e para esses fins os aplicativos estão presentes. Sendo assim, algumas crianças, adultos e a maioria dos jovens possuem e buscam recursos disponíveis no mundo virtual, estando familiarizados com as tecnologias digitais. Com a popularidade das novas mídias digitais, como smartphones e tablets, muitos aplicativos estão sendo desenvolvidos. Muitos desses ambientes são criados com foco em crianças e adolescentes, e objetivam ajudar esses públicos em suas atividades de aprendizado (OBLINGER, 2008, p. 32). Dessa forma, a ideia de desenvolver um aplicativo com contribuições sobre a saúde reprodutiva do adolescente, tendo como umas das suas premissas cooperar com informações, indispensáveis sobre a saúde sexual do mesmo, mostrou-se pertinente, atual e convidativo ao jovem a navegar nessa ferramenta. A função desse aplicativo é ser mais uma fonte de conhecimento para jovens, no que tange aos seus direitos reprodutivos, contribuindo como um instrumento didático e acessível à linguagem desse público. A criação desse aplicativo teve como premissa o quão é importante educar/informar importância de informar os jovens sobre diversas questões ligadas à sexualidade, educação sexual, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, direitos do adolescente, violência sexual contra adolescente, cartilha do adolescente, (criado pela Secretaria Estadual de Saúde) e fontes onde buscar ajuda médica quando necessárias. Contém, ainda, informações sobre a Unidade de Saúde mais próxima de sua casa, caso aconteça o rompimento da camisinha e seja necessário a orientação para o uso da pílula do dia seguinte, dentre outras. Busca-se, pelo aplicativo, “conversar" com os jovens sobre questões que ele vivencia ou pode vivenciar, que muitas vezes ele não encontra em um canal de comunicação aberto e com informações confiáveis em seus locais de convivência: escola, comunidade, família e amigos. A presença dos artefatos tecnológicos da Era Digital e sua contínua perversão na sociedade, processo que parece inexorável, posicionam o homem em meio a um mundo altamente informatizado, repleto de 85 computadores e dispositivos digitais “inteligentes”, capazes de falar uma “língua digital”, que opera em uma lógica binária capaz de traduzir as várias linguagens humanas: verbais e não verbais (LEVY, 1999, p. 255). Espera-se que o aplicativo possa se tornar um “guia”, contribuindo com elementos necessários para que possa ser usado no cotidiano dos jovens, dos professores, dos pais, e dos profissionais da saúde. E que possa ajudar profissionais envolvidos com adolescentes como um instrumento para auxiliá-los no processo de educação desses jovens, encurtando, assim, a relação entre eles, quebrando alguns tabus sociais de que sexualidade não pode ser um assunto debatido entre jovens, adultos, educadores e profissionais da saúde com a mesma efetividade e confiabilidade nas informações. A educação não se reduz à técnica, mas não se faz educação sem ela, utilizar computadores na educação, em lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas. Depende de quem o usa, a favor de que e de quem, e para quê. O homem concreto deve se instrumentalizar com os recursos da ciência e da tecnologia para melhor lutar pela causa de sua humanização e de sua libertação (FREIRE, 2007, p. 22). A saúde de jovens se vê atrelada à educação, uma vez que existem vários programas sobre a temática “sexualidade” que são divulgados em espaços escolares ou extraescolar. A educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientadas para a prevenção de doenças e promoção da saúde. Essas discussões chegam às escolas muito lentamente e “adaptadas” ou “formatadas” na linguagem da escola (PEREGRINO, 2000, p. 21). De acordo com Alves (2005, p.30), [...] o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, intermediado por profissionais de saúde ou de educação, é levado até as escolas para que possam compreender o processo saúde-doença oferecendo subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde. Em uma cartilha produzida pelo Instituto Promundo Brasil (2007) é afirmado que mesmo o sexo sendo pauta comum em conversas no nosso país, ainda existe resistência à implantação de projetos e programas voltados para as questões acerca da sexualidade e reprodução na adolescência, pois esses assuntos ainda causam 86 polêmica. Estas são geradas pelas crenças inclusive de que falar sobre sexo estimula o início da vida sexual do adolescente. A discussão sobre sexualidade, reprodução e saúde na adolescência tem sido estudada, mas segundo alguns autores ainda existe uma lacuna no que tange às políticas públicas e privadas em relação ao cuidado dos adolescentes, sobre o desenvolvimento sexual do adolescente. O aplicativo foi “batizado” pela autora desse produto por Teen, nome que surge como ideia de “interação”, “informação” e como um instrumento que poderá ser usado pelos profissionais da saúde e educação para interação com esse público-alvo que possui tanta energia. Na visão de Carrano e Dayrell (2014), o começo da juventude é o que chamamos hoje de adolescência, fase marcada por transformações biológicas, psicológicas e inserção social. É o período em que há alteração do esquema corporal, produzindo mudanças no corpo. É também um período emocionalmente conturbado, no qual o adolescente busca uma identidade própria, tentando desvincular-se do mundo infantil e enfrentando o mundo adulto. De acordo com o Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010), existe no Brasil uma população de 10.399.484 adolescentes com idade de 15 a 17 anos, sendo 4.283.720 moradores da região Sudeste. Há um número crescente de adolescentes e jovens, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) e com base nos dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde realizada em 2006, a mulher, a partir dos 12 anos, tem iniciado sua primeira relação sexual e há um pico dessa relação aos 16 anos de idade, reduzindo levemente aos 18 anos e caindo a partir dos 21 anos. Já o homem, a primeira relação sexual se concentra entre 15 e 17 anos, sendo poucos a terem a relação posterior a essa idade. Um dado preocupante da vivência da relação sexual entre os jovens é trazido pelo Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais: a faixa etária de contaminação da AIDS é mais incidente entre os jovens a partir dos 25 anos, mas as mulheres mais contaminadas pela relação sexual estão entre 13 e 19 anos (BRASIL 2009). Esses dados são importantes para alertar as políticas públicas acerca da importância de se trabalhar com os adolescentes o cuidado integral à sua saúde, que de acordo com o Ministério da Saúde é uma das prioridades nacionais (FIO CRUZ 2013). 87 Mas, discutir sobre esse cuidado é antes de mais nada discutir os direitos sexuais e reprodutivos, já adquiridos desde a infância, que é um conjunto de direitos relacionados à sexualidade. Este é um componente intrínseco da pessoa e fundamental na saúde de adolescentes e jovens que “transcende o aspecto meramente biológico, manifestando-se também como um fenômeno psicológico e social, fortemente influenciado pelas crenças e valores pessoais e familiares, normas morais e tabus da sociedade” (BRASIL, 2010, p. 32). Viver essa sexualidade é, então, segundo os tratados assinados pelo Brasil, um direito de todos os adolescentes e jovens, assegurando um desenvolvimento saudável e seguro, sendo fundamental o acesso e a garantia à informação. 3.3.1 DESCRIÇÃO DETALHADA SOBRE O APLICATIVO TEEN Este aplicativo teve seu desenvolvimento fundamentado pela ferramenta da Fábrica de Aplicativos, que é um site autoexplicativo que direciona você para que construa seu próprio aplicativo. O aplicativo recebeu o nome de Teen, que é a abreviação de teenager, que em inglês significa adolescente. Trata-se de uma nomenclatura muito utilizada pelos meios de comunicação para atrair jovens, quando se refere ao estilo de roupas, livros, sapatos, entre outros, e faz parte do universo dos jovens. O Teen foi dividido em 10 seções que constam de informações sobre a saúde reprodutiva do adolescente e está disponível: http://galeria.fabricadeaplicativos.com.br/saude_reprodutiva_do_adolescente#gsc.ta b=0. Quando se clica nos ícones desejados, o aplicativo vai abrindo e explicando cada um dos assuntos de interesse do adolescente. O adolescente pode clicar na imagem ou na palavra. À manipulação do aplicativo, encontram-se links para que o adolescente possa clicar e ir direto para o site com mais informações à sua disposição. No final do aplicativo, encontram-se alguns vídeos para ajudá-lo(la) de forma bem interativa. 88 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados estatísticos do Ministério da Saúde demonstram o número de jovens que existem no Brasil e quantos deles são infectados por doenças sexualmente transmissíveis, bem como por gravidez na adolescência. Variados artigos, conforme constam nesta dissertação, também corroboram esses dados. Este cenário evoca às instituições de saúde, de educação, social e profissionais com diferentes formações a se mexerem e assumirem uma faceta de cuidado com os adolescentes brasileiros. Assim, surgiu a necessidade de desenvolver ferramentas aplicáveis ao universo do adolescente que discutam questões relacionadas à sexualidade de maneira efetiva, de fácil acesso, interativa e que o faça se sentir motivado em consultar e se apropriar das informações neles contidas. Espera-se que, por meio do aplicativo Teen, os adolescentes sintam-se mais confiantes e com propriedade para fazer suas escolhas em relação a sua saúde sexual e reprodutiva. A expectativa é que o aplicativo possa se tornar um “guia” para os jovens no seu cotidiano e que professores, pais, profissionais da saúde possam indicá-lo como uma ferramenta para auxiliá-los no processo de educação desses jovens, encurtando, assim, a relação entre eles, dissolvendo alguns tabus sociais de que sexualidade não pode ser debatida entre jovens, adultos, educadores e profissionais da saúde com a mesma efetividade e confiabilidade de outras informações. Em relação ao relatório acredita-se que o resultado possa contribuir de forma expressiva para os profissionais envolvidos com a saúde reprodutiva das adolescentes de forma a reavaliar, repensar e refazer suas condutas no que se refere aos cuidados com a mesma. De forma geral, os dois produtos técnicos procuram, pelo conhecimento e educação, tornar a vida das adolescentes, da comunidade, das instituições de saúde e outras mais voltadas para o conhecimento de si, do outro e do coletivo. Implica, por conseguinte, cumprir uma de suas funções precípuas: provocar melhorias na qualidade de vida das pessoas, mais confiança no devir e contribuir, com a comunidade onde moram, de forma significativa. Contribuindo com o desenvolvimento local. Dowbor (2007, p. 88) afirma que 89 [...] são visões que vão se concretizando gradualmente, com experiências que buscam de forma diferenciada, segundo as realidades locais e regionais, caminhos práticos que permitam dar à educação um papel mais amplo de irradiador de conhecimentos para o desenvolvimento local, formando uma nova geração de pessoas conhecedoras dos desafios que terão de enfrentar. Acredita-se que as contribuições aqui relatadas não se esgotam com esta pesquisa, mas se espera que as reflexões suscitadas possam ser indícios para que outros professores e profissionais da saúde deem continuidade e busquem outros tipos de ajuda para essa fase tão cheia de energia, tão vibrante que é adolescência. 90 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) NBR 10719: Apresentação de relatórios técnico-científicos. NORMA ABNT NBR BRASILEIRA © ABNT, 2011. ALVES, V. S. Um modelo de educação em saúde para o Programa de Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, v. 9, n. 16, 2005. AZEVEDO BOTELHO, V.; FELIPE, G. M. S.; SOUTO, V. T. Design de Aplicativo de Educação Financeira para Adolescentes. 29 de setembro a 2 de outubro de 2014, Gramado-RS. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Ministério da Saúde. Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. CARRANO, P.; DAYRELL, J. Juventude e ensino médio: Quem é este aluno que chega à escola. In: CARRANO, P.; DAYRELL, J.; MAIA, C. L. (Org.). Juventude e Ensino Médio. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. DOWBOR, L. Educação e apropriação da realidade local. Estud. Av. [on-line], v. 21, n. 60, p. 75-90, 2007. DA FIOCRUZ, Agencia Fiocruz de notícias saúde e Ciência para Todos. http://agencia.fiocruz.br/aids -2013 FRANÇA, J. L.; VASCONCELLOS, A. C. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 8. ed. rev. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. FREIRE, P. Educação e mudança. 31. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. INSTITUTO PROMUNDO. Adolescentes, jovens e educação em sexualidade: um guia para ação. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).Censo demográfico, 2010. Disponível em: 91 <ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Criancas_e_Adolescentes/1997/Caracterist icas_Gerais/>. LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. OBLINGER, D. G. Growingupwith Google What it Meansto Education. Emerging technologies for learning. EDUCAUSE, v. 3. 2008. PEREGRINO, M. Uma questão de saúde: saber escolar e saber popular. In: VALLA, V. V. (Org.) Saúde e educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. SAITO, F. S.; RIBEIRO, P. N. S. (Multi)letramento(s) digital(is) e teoria do posicionamento: análise das práticas discursivas de professoras que se relacionaram com as tecnologias da informação e comunicação no ensino público. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 13, n. 1, p. 37-65, 2013. 92 93 94 RELATÓRIO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: motivos e razões expressas pelas adolescentes atendidas em um hospital público de Belo Horizonte Relatório técnico apresentado aos profissionais de saúde que trabalham com adolescentes no Hospital Júlia Kubistchek, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais. Márcia Auxiliadora Fonseca 1 Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete.2 Belo Horizonte 2015 1 2 Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................80 2 METODOLOGIA .......................................................................................................81 3 UM POUCO DE LITERATURA..................................................................................82 4 RESULTADOS DA PESQUISA.................................................................................85 5 PROPOSTAS QUE POSSAM CONTRIBUIR COM OS PROFISSIONAIS DO HOSPITAL JÚLIA KUBITSCHECK.............................................................................89 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................91 REFERÊNCIAS.............................................................................................................93 96 1 INTRODUÇÃO Este relatório técnico é oriundo da pesquisa “Gravidez reincidente em adolescentes: motivos e razões expressas pelas adolescentes atendidas em um hospital público de Belo Horizonte”, que apresenta contribuições a partir de informações narradas pelas adolescentes que vivenciaram cuidados no Hospital Júlia Kubistchek (HJK). No cotidiano do atendimento hospitalar, as adolescentes desvelaram situações positivas, humanas, éticas e de solicitude que lhes concederam cuidar de si e de seu filho. Em paralelo, expuseram fragilidades percebidas e vividas que acreditam requerer melhorias. Assim, este relatório tem a finalidade trazer à luz a equipe de saúde do HJK os pontos fortes e frágeis na perspectiva do processo de cuidar das adolescentes internadas por motivo de nova gravidez. Sabe-se que a hospitalização, por si só, independente da faixa etária, traz transtornos para a pessoa internada, quanto para seus familiares. Torna-se imperativo que a visão sistêmica desse processo seja o foco do atendimento prestado pela equipe de saúde. Não se cuida apenas da mãe adolescente, inclui-se, nesse processo, o bebê, o (possível) pai, e até algum familiar. A dinâmica familiar sofre alterações por motivos diversos e conhecê-las ajuda na relação e na criação de vínculo com a adolescente. Com isso, é importante que a equipe de saúde do HJK trabalhe de forma coerente e lógica, conquiste e mantenha interação efetiva e dialógica com suas pacientes e famílias para que as informações transmitidas permitam a criação de vínculo de confiança entre todos os envolvidos O cuidado com e para as adolescentes requer profissionais com afinidade e habilidade com essas, e que tenham preparo técnico-científico abrangente com destaque para a escuta qualificada, a compreensão do adolescer e, neste caso específico, o adolescer mãe de mais de uma criança. A escuta das necessidades dessas adolescentes por parte desses profissionais é um passo enorme na direção do sucesso dos cuidados a serem implementados, pois, além do conhecimento sobre as mudanças inerentes à adolescência, a compreensão de seu viver atual o capacita 97 para tomar, delegar e fazer, dependendo do caso, atitudes e ações com sensibilidade e atenção. É bom lembrar que atitudes que fogem ao diálogo, à compreensão da fase vivida pela adolescente ou ao saber acadêmico em detrimento do saber empírico desconstroem a possibilidade de obter relações intersubjetivas, de fato. De acordo com Santos e Ressel (2013, p. 54), o profissional de saúde [...] estabelece uma relação vertical com o adolescente, impondo-lhe normas de conduta, acreditando que, assim fazendo, proporciona ao usuário qualidade no atendimento. Essa postura coloca o adolescente em uma posição de inferioridade e de passividade, retirando dele não só a liberdade de escolha, como também a responsabilidade por seus atos. Reafirma-se, portanto, que um espaço de escuta que permita ao adolescente expressar seus sentimentos, expectativas e dúvidas pode contribuir para oportunidades de crescimento pessoal para ambos: um atendimento integral, holístico, horizontalizado e melhoria do desempenho profissional e pessoal. Nesses desafios de cuidar da adolescente mãe, novos conhecimentos e novas aquisições se impõem. Afinal, na sociedade moderna, mudanças nas formas de relacionamento alteram-se a todo instante. Novos conhecimentos e informações se fazem uma constante. Contudo, as relações afetivas e éticas permanecem. São valores que devem ser agregados e transpassar todo o cuidado humano. Este relatório objetiva oferecer à equipe dos profissionais trabalhadores no hospital Júlia Kubistchek informações advindas das próprias adolescentes atendidas por eles com vistas à melhoria do cuidado então prestado. 2 METODOLOGIA Os depoimentos de 16 adolescentes reincidentes em gravidez na adolescência formam o arcabouço desse relatório. Elas foram entrevistadas por meio de questionário semiestruturado, no próprio HJK, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Por se tratarem de jovens com menos de 18 anos, também assinaram o TCLE os pais ou responsáveis pela adolescente. O início das entrevistas deu-se após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética do Centro Universitário UNA sob a CAAE, nº 45940715.0.0000.5098. 98 3 UM POUCO DE LITERATURA A gravidez na adolescência é um fenômeno que circunda a vida de muitas jovens e um fato constante e cotidiano nos diversos espaços públicos e privados. Percebe-se que o exercício sexual tem iniciado de maneira cada vez mais precoce, levando as adolescentes a adentrarem, quase que abruptamente, na vida adulta, mesmo ainda com corpo e percepções de uma criança. Moreira et al. (2008) relatam que no mundo contemporâneo, o adolescente se vê às voltas com sua sexualidade em meio à cultura do espetáculo e convocado a consumir imagens mais do que pensar e refletir. E alertam que “dentro desse contexto de impulso social culminando em impulso sexual, espera-se que existam serviços e campanhas que orientem os jovens sobre seus problemas, conflitos ou questionamentos cotidianos”. Alertam ainda que as informações, nessa seara, são escassas tanto nos setores públicos quanto privados. E mais: que os pais, por não conhecerem ou por constrangimento, não falam de sexo com os filhos, não cumprindo assim, seu papel de educador e orientador. Dessa forma, O desabrochar da sexualidade é seguido de desconhecimento (MOREIRA et al. 2008, p. 315). Esse despertar prematuro da sexualidade, principalmente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, acaba, em grande maioria, resultando em reincidência de gravidez entre os adolescentes. Não é atual a preocupação com a gravidez na adolescência. Sempre houveram discursos nesse sentido, embora o foco primeiro fossemos riscos biológicos advindos de uma gravidez em idade precoce. Conforme especificam Manfré, Queiroz e Matthes (2010), pesquisas relacionadas com a reincidência da gravidez na adolescência ainda são incipientes e essa reincidência vem aumentando e, junto com ela, advém o abandono da escola, do trabalho assim como a não adesão do pré-natal, seja por desconhecimento de sua importância ou mesmo por falta de interesse. Justifica-se, assim, conhecer o viver das adolescentes, na perspectiva delas, o porquê optaram ou não por mais uma gravidez. Agrega-se ao conhecimento das razões para a reincidência da gravidez as ponderações e visões que as adolescentes mães, atendidas no HJK, têm do serviço no que concerne aos cuidados com a sua saúde sexual e reprodutiva. Pretende-se, portanto, aprofundar os conhecimentos 99 acerca do debate sobre adolescência e sexualidade que discute para além das questões da anatomia do corpo e suas funções, mas também sobre a saúde sexual e a própria sexualidade. A atual geração se verá às voltas com a questão do controle sobre o corpo e da sua autonomia. Não será fácil produzir respostas. Não lhe bastará compreender tais dilemas e ter informações técnicas sobre a vida reprodutiva. Será preciso que as explicações venham de sua própria prática, reconstruindo os significados herdados em função daquilo que virá a vivenciar em suas trajetórias (AFONSO, 2001, p. 217). Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), o número de adolescentes grávidas está em constante crescimento no país. De 2011 a 2012, o total de filhos gerados quando as mães tinham entre 15 e 19 anos quase dobrou: de 4.500 para 8.300. Nessa faixa de idade, 18% das mulheres já engravidaram ao menos uma vez. Com isso, é perceptível e visível a importância de se desenvolver projetos relacionados com a saúde integral do adolescente. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010, p. 48): Investir na saúde da população adolescente e jovem é custo efetivo porque garante também a energia, espírito criativo, inovador e construtivo dessas pessoas, que devem ser consideradas como um rico potencial capaz de influenciar, de forma positiva, o desenvolvimento do país. Para Bruno et al. (2009), a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a gravidez na adolescência como um problema de saúde pública e social, tendo em vista que a análise, tanto de trabalhos nacionais quanto internacionais, delega pior desempenho obstétrico e repercussões para o recém-nascido à idade materna, à pobreza e baixa escolaridade, além de uma inadequada assistência pré-natal. Esses autores complementam afirmando que as condições econômicas e sociais das adolescentes devem ser avaliadas. Esta afirmativa leva em conta que se descobriu que 60% das adolescentes grávidas não estudavam e, entre as que ainda o faziam, a maioria tinha baixa escolaridade. Trata-se, portanto, de implicações desfavoráveis da gravidez na e para a adolescência. Na região do Barreiro, em Belo Horizonte, o número de adolescentes reincidentes na gravidez precoce é fato e convida a sociedade, setor público, universidades, para estudos com vistas à busca de suas razões/motivações que possam minimizar o problema através de um trabalho mais efetivo. 100 O relatório da Situação da População Mundial elaborado pelo Fundo de População das Nações Unidas aponta que, Todos os dias, 20 mil meninas com menos de 18 anos dão à luz em países em desenvolvimento. Do total anual de 7,3 milhões de novas mães adolescentes, 2 milhões têm menos de 15 anos; se persistirem as tendências atuais, o número de nascimentos advindos de meninas com menos de 15 pode chegar a 3 milhões por ano em 2030 (UNFPA, 2013, p. 1). Salienta-se que esse relatório (UNFPA, 2013, p. 58) aponta que se deve “formar capital humano a partir das meninas, empoderará-las para tomarem decisões de vida e defenderem os seus direitos humanos”. Há diversos espaços que se propõem a cuidar das adolescentes grávidas e em outros contextos de vulnerabilidade social. Trata-se de um fenômeno complexo, multifacetado e que requer ações intersetoriais. Contudo, ainda se tem resultados frágeis e que demandam maior compreensão e aprimoramento na busca de se conhecer a raiz de sua ineficiência, ou não. O HJK, enquanto cenário da pesquisa que possibilitou a preparação deste relatório, e um dos espaços de acolhimento de adolescentes grávidas em Belo Horizonte é referência nos cuidados ao tema. Por isso, espera-se oferecer ao HJK, em especial, aos seus profissionais, o retorno do que desvelaram as adolescentes ao serem inquiridas a respeito dos cuidados recebidos na instituição. Tendo como meta o desenvolvimento de ações efetivas e produtivas no programa já realizado pelo Hospital. Pretende-se salientar a importância dos cuidados e do atendimento que as adolescentes recebem e, assim, tentar contribuir com dados sistematizados e efetivos, com a equipe que os materializa. O propósito deste relatório, assegura-se, é encaminhar diretrizes e pareceres de ações para o cuidado da saúde sexual reprodutiva de adolescentes, com destaque na anticoncepção de gravidez e pautado nas razões/motivações expressas pelas próprias jovens atendidas no HJK. Para auxiliar as jovens no entendimento tangente a própria saúde reprodutiva, seja nos aspectos biológicos, sociais e até culturais, necessita-se observar seu comportamento, escutá-las, entender suas necessidades sem julgamentos prévios. Com autoridade necessária é plausível auxiliá-las nas suas escolhas em relação às questões sexuais e, maternidade precoce, ajudando-as a entender de forma consciente que ela é a responsável por si e por uma gravidez, desejada ou não. 101 Para compreender a reincidência de gravidez na adolescência, várias perguntas foram feitas às jovens mães, mas aqui registram-se apenas as consideradas importantes para atender as demandas dos profissionais do Hospital Júlia Kubitscheck . 4 RESULTADOS DA PESQUISA Neste relatório, priorizou-se apresentar apenas os questionamentos relacionados ao HJK e fornecedores de elementos para atender ao objetivo aqui proposto. As falas das adolescentes, quando exemplificadas, foram mantidas na sua originalidade. 4.1 FATORES QUE VOCÊ ACREDITA QUE CONTRIBUEM PARA UMA GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA A essa questão as adolescentes responderam com linguagem diferenciada, porém com o mesmo sentido, podendo-se inferir que se circunscrevem em um mesmo fator: falta de conhecimento, conforme expressam: “foi descuido, falta de informação, má amizades, sair para as baladas, falta de responsabilidade e troca de remédios, dentre outros. Tendo em vista que a falta de informação está presente nessas falas, ela é indicativa da necessidade de pensar e materializar ações sistematizadas, educativas, conscientizadoras para que as adolescentes possam fazer suas escolhas de forma mais sensata e sabendo o porquê de tais escolhas, assumindo-se como protagonista da própria vida, as consequências de seu pensar, sentir e agir. A maioria das adolescentes verbalizou que tanto em casa quanto na escola quase não houve aquisição de esclarecimentos sobre sexualidade. Essa insuficiência de informação fora suprida com conhecimento “adquirido” de forma autônoma, prático, na maioria das vezes, resultando em gravidez (in)desejada. Quando as orientações eram transmitidas, eram de forma fragmentada: “Sim, recebi orientação na escola, mas as professoras parecem que não gostam de falar sobre o assunto, falam pouco; Na minha família não recebi, pois não tenho mãe e não ia conversar sobre isso com meu pai, minhas irmãs são mais novas do que eu; Não, só por alto, só escutando conversa atrás das portas; Na escola recebi orientações, mas só que nunca falou direitinho como são as coisas. Sempre falavam de forma superficial, nunca o que a 102 gente precisa mesmo aprender; Em casa não recebi, sempre fui muito fechada. Mas na escola sim, um pouco as professoras, não gostavam de dar essa aula, os meninos ficavam rindo à toa, ela tinha que ficar brava para explicar” A falta de capacitação, de preparação e de conhecimento formais campeiam a voz das adolescentes. Se as instituições familiares e escolares não cumprem seu papel, como ficam as instituições de saúde? 4.2 O QUE MUDOU COM A GRAVIDEZ, ESCOLA, TRABALHO, VIDA SOCIAL Não é novidade que a atividade sexual dos adolescentes está começando cada vez mais cedo, com decorrências indesejáveis como as DST, a própria gravidez precoce etc. Ocorrências que, muitas vezes, limita boas oportunidades de inserção no mercado do trabalho e consequentemente leva ao abandono escolar. Entretanto, a maioria das adolescentes internadas no HJK disse que não sofreu grandes reviravoltas em seu cotidiano, pois já estava sem estudar e sem um trabalho ou já cuidava de outro bebê. Essa imutabilidade fática mostra que a grande maioria das adolescentes que teve sua vida modificada, em relação à escola, trabalho ou vida social, o teve há mais tempo. Percebe-se certa descrença (em que?), uma vida sem idealizações como se, apesar de viverem a fase de um imaginário “rico e senhor de tudo”, elas não esperavam muito da vida, que a maternidade ia chegar mais cedo ou mais tarde. A maioria das adolescentes disse que não engravidaria de novo, não pelos filhos, isso fica bem claro em suas falas, mas pelas consequências que o nascimento de uma criança traz. 4.3 O QUE VOCÊ GOSTA E O QUE NÃO GOSTA NO HJK? As adolescentes foram unânimes em dizer que gostaram muito do atendimento recebido no Hospital. “Que as enfermeiras são muito atenciosas, que estão sempre de “carinha boa”; que receberam muitas informações sobre o aleitamento materno feito pela funcionária do Comitê de aleitamento materno do hospital, que isso vai fazer diferença para elas e principalmente para o bebê; muito importante, estou sendo muito bem tratada, Muito importante, o ambiente é bom a gente conversar com as psicólogas, enfermeiras e com a fonoaudióloga, acho tudo aqui bom, o atendimento” 103 No que concerne ao ponto negativo ou frágil do atendimento no HJK, grande parte das adolescentes disse que o espaço físico é muito limitado, com acompanhantes de outro gênero que as deixam inibidas, além de horários para alimentação um pouco inapropriados. Fica evidente nas reclamações que as fragilidades do atendimento no HJK se ligam quase que exclusivamente aos recursos físicos e materiais. Devido a sua importância, registra-se que o depoimento das adolescentes (no que diz respeito à equipe médica de plantão), apareceu uma diferença enorme quando se trata de atendimento durante a semana e o que acontece nos fins de semana. Houve muitos elogios às pediatras dos plantões diurnos, diversamente em relação às pediatras e obstetras do plantão do fim de semana, havendo muitas reclamações. Algumas adolescentes descreveram que os obstetras dos plantões de domingo deixaram-nas sofrer quando já estavam em trabalho de parto. Que esses obstetras não fizeram nada para minimizar seu sofrimento e, consequentemente, o do bebê. Acredita-se que as adolescentes são corresponsáveis pelos cuidados, mesmo em instituição de saúde, a pergunta a seguir intencionou colocá-las como arquitetas de seu próprio cuidar. 4.4 SE PUDESSE MODIFICAR ALGUMA COISA AQUI NO HJK, QUAL SERIA SUA SUGESTÃO? As sugestões oferecidas pelas adolescentes foram: Ter um espaço livre para andar no hospital. O espaço é muito limitado. Gostariam de ir para o exterior da maternidade. O espaço no alojamento é muito pequeno para tantas mães e acompanhantes, e que os acompanhantes do sexo masculino as deixam inibidas. Houve reclamações dos colchões que eram muito moles. Os leitos também precisam de manutenção. Deveria ter mais um banheiro no pré parto, pois só um banheiro para tantas mulheres não é o suficiente. Os banheiros também precisam de manutenção. O almoço é servido muito tarde, sendo que o ideal é que fosse servido às 12 horas. 104 Necessidade de limite para pacientes nos quartos. Muitas pessoas conversando ao mesmo tempo não as deixam descansar e que isto é um fator de estresse muito grande, prejudicando o aleitamento materno. Alguns profissionais da saúde usam uma linguagem muito técnica. Deveriam falar de forma que elas entendessem, para que as informações fossem transmitidas de maneira mais clara. Em relação ao espaço físico, sabe-se que um espaço que garanta privacidade às adolescentes é o mais adequado. As enfermarias, no sentido de socialização, favorecem as trocas de experiências entres as jovens mães, permitem aprendizagem, preenchimento do tempo e estabelecimento de importantes vínculos de amizade. 4.5 COMO TOMOU CONHECIMENTO DO HOSPITAL JÚLIA KUBISTCHEK? O Hospital é referência para os moradores da região do Barreiro e, também, referência nas orientações aos casos de gravidez na adolescência. As falas das jovens sobre esse aspecto explicitam que: A informação veio da família A irmã de uma das adolescentes ganhou bebê na instituição e a indicou. Algumas adolescentes relataram que tiveram o primeiro bebê na instituição e que retornaram para ganhar o segundo bebê. Informações vieram das vizinhas que disseram que o hospital é muito bom. O posto de saúde a encaminhou, pois necessitaria de cuidados pontuais, sendo adolescente, e o Hospital é referência estadual no assunto Uma amiga disse que era bom e a mãe levou. Uma prima ganhou bebê na instituição ou a indicação partiu de amigas Uma adolescente disse que nasceu nesse Hospital. Percebe-se que a qualidade do atendimento no HJK é propagadora e indutora de continuidade de busca de atendimento nesse local. 105 4.6 QUAL O SIGNIFICADO DE SER ACOLHIDA AQUI NESSE ESPAÇO? O QUE ESSE ESPAÇO SIGNIFICA PARA A SUA VIDA E DE SEU BEBÊ? Percebeu-se certa tranquilidade nas adolescentes ao responderem essa pergunta, talvez suscitada pela presença do pai da criança ou da avó materna. Algumas relataram que foram muito bem acolhidas nesse ambiente, que era muito importante na vida delas e do bebê, pois era ali que começava tudo, vida nova. Que elas estavam muito felizes. A expressão de felicidade foi comprovada por todas as adolescentes. Algumas disseram da importância do alojamento conjunto que as garantia permanecer com seu bebê por todo o tempo. Que o ambiente é muito apropriado, muito bom, que podiam conversar com as psicólogas, enfermeiras e outros profissionais. Que a maioria dos profissionais teve muita atenção, paciência, tanto com elas como com seus filhos. Que é tudo muito gratificante. Sentiram-se respeitadas pelas enfermeiras e pelos demais profissionais e o que os problemas que iam surgindo iam sendo solucionados, na medida do possível. Os dizeres de Moreira et al. (2008, p. 315) propiciam e desencadeiam reflexões acerca do cuidado com adolescentes: Trabalhar com adolescentes grávidas implica em desafios para compreender este mundo repleto de subjetividade e contradições. Por isso, os profissionais que lidam com esta problemática precisam de um olhar mais apurado, detalhado e sensibilizado, para melhor aplicar os programas existentes e criar outros necessários para a resolução deste quadro que se agrava a cada dia. Em relação à vivência da gravidez e do parto é mister pensar que a mulher adolescente enfrenta um momento obscuro e merece ser compreendida. A partir do conhecimento de todo esse contexto, algumas propostas foram elaboradas com base em sugestões feitas pelas adolescentes e observações, vivenciadas pela mestranda, foram desenhadas e apresentadas no próximo tópico. 5 PROPOSTAS QUE POSSAM CONTRIBUIR COM OS PROFISSIONAIS DO HOSPITAL JÚLIA KUBITSCHECK - Na Casa da Criança e do Adolescente, enquanto as jovens mães esperam para ser atendidas pela equipe, seria interessante que fosse passando, em uma TV, vídeos curtos e objetivos sobre métodos contraceptivos, DST, propagandas de AIDS entre outros. 106 - Durante as palestras sobre casal grávido oferecido pelo Hospital e sobre amamentação, sugere-se que também fossem propostas palestras sobre os métodos contraceptivos e DST de forma a reforçar o planejamento familiar já feito no Hospital. - Sugere-se que o planejamento familiar, desenvolvido no hospital, em forma de palestras, acontecesse também durante o pré-natal, criando-se uma parceria intersetorial (HJK e Unidade de saúde da adolescente) uma vez que muitas mães depois do nascimento do bebê não voltam ao Hospital. - O Hospital disponibiliza, gratuitamente, camisinhas femininas e masculinas. Entretanto, elas são distribuídas em lugares sempre próximos a um funcionário do Hospital, inibindo que o adolescente leve o preservativo para casa. Há de se pensar em outro espaço físico, como por exemplo, próximo da porta de saída. - Que os profissionais da saúde atentassem para as adolescentes que pudessem ser multiplicadoras de informações confiáveis e assertivas de sua saúde sexual e reprodutiva, com uma linguagem mais próxima de suas colegas, para divulgar seu conhecimento em sua comunidade. - Destaca-se que a pesquisadora desenvolveu um aplicativo de celular que deverá ser aprovado pela diretoria e ser divulgado no Hospital, com a consentimento dos profissionais. Este aplicativo contém todas as informações necessárias para contribuir com a saúde sexual e reprodutiva do adolescente. - Que fosse distribuída a cartilha do e da adolescente, pois nela encontram-se informações claras e necessárias para o desenvolvimento dos jovens. - Sugere-se, ainda, a criação de um projeto de Extensão Universitária com algumas Faculdades/Universidades da região que têm alunos de graduação em estágio, cujas atividades de Extensão buscassem intensificar a interação entre estudantes, profissionais e professores das instituições de ensino superior e as comunidades onde moram as adolescentes. Essa parceria poderia diminuir o índice de gravidez precoce e de DST, uma vez que a educação é transformadora e qualificadora de uma vida com escolhas mais conscientes. Uma estratégia bem-vinda e aceita com o trabalho com adolescentes são as oficinas. Estas permitem aos adolescentes expressarem-se, trocar ideias, pensarem, refletirem, proporem ações e aprenderem. Tornam-se proativos, sujeitos e multiplicadores de conhecimentos. "Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade" (Cora Coralina). 107 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das entrevistas revelou informações que resultaram no relatório e esperar-se que possa contribuir com ações efetivas para minimizar a gravidez precoce em adolescentes. Acredita-se que esse relatório contenha informações importantes para cooperar com a equipe do Hospital Júlia Kubistchek. Para auxiliar os jovens no entendimento no que tange à própria saúde reprodutiva nos aspectos biológicos, sociais e culturais, necessita-se observar seu comportamento, escutá-los, entender suas necessidades, sem julgamentos prévios. Com autoridade necessária, é plausível auxiliá-los nas suas escolhas em relação às questões sexuais, maternidade e paternidade precoce, ajudando-os a entender, de forma consciente, que ele é o responsável por si e por uma gravidez, desejada ou não. Para compreender a reincidência de gravidez na adolescência, várias perguntas foram feitas às jovens mães, mas aqui se registram apenas as consideradas importantes para atender as demandas para os profissionais do Hospital Júlia Kubitscheck na construção do relatório. Sobre o cotidiano do atendimento hospitalar, as adolescentes desvelaram situações positivas, humanas e éticas que lhes possibilitaram cuidar de si e de seu filho. Destaca-se que, conforme registrado no presente relatório, fazem-se imprescindíveis o envolvimento do pai desde cedo nos cuidados com a companheira e com o próprio filho, e que, por direito, a adolescente deve e pode ter alguém significativo ao seu lado. Em relação ao espaço físico, sabe-se que um espaço apropriado e que permita privacidade às adolescentes é o mais adequado. As enfermarias, no que tange à socialização, favorecem as trocas de experiências entres as jovens mães estabelecendo importantes vínculos de amizade. Percebe-se que a qualidade do atendimento no HJK é propagadora e indutora de continuidade de busca de atendimento nesse local. Estudos indicam que a atividade sexual tem iniciado mais precocemente, levando as adolescentes a adentrarem, quase que abruptamente, na vida adulta, mesmo que ainda com corpo de criança. O relatório da Situação da População Mundial, elaborado pelo Fundo de População das Nações Unidas, aponta que “todos os dias, 20 mil meninas com menos 108 de 18 anos dão à luz em países em desenvolvimento”. Esse relatório (UNFPA, 2013, p. 58) aponta ainda que se deve “formar capital humano a partir das meninas, empoderará-las para tomarem decisões de vida e defenderem os seus direitos humanos”. O que se procura, por meio desse relatório, é que os profissionais que trabalham com as adolescentes grávidas, com destaque para as reincidentes, sintamse mais confiantes e com propriedades suficientes para apresentarem informações, bem como conduzir diálogos direcionados a esse nicho específico para tentar minimizar esse problema de saúde pública. Espera-se que a partir desse relatório os profissionais alcancem resultados mais efetivos e propiciem às adolescentes realizarem escolhas mais sensatas, certeiras e criteriosas acerca de sua saúde sexual e reprodutiva. A falta de capacitação, de preparação e de conhecimento formais campeia a voz das adolescentes. Se as instituições familiares e escolares não cumprirem seu papel, como ficam as instituições de saúde? Registra-se que apenas essas contribuições não são suficientes para abolir a gravidez na adolescência atendidas no Hospital Júlia Kubistchek. Os profissionais de saúde e da educação têm grande responsabilidade em suas mãos, amparar para essa fase da adolescência que é tão cheia de energia, tão vibrante e que não deveria ser interrompida por uma gravidez, ou uma DST. 109 REFERÊNCIAS AFONSO, L. A polêmica sobre adolescência e sexualidade. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2001. v. 1. BORDIGNON, S. S. et al. Aspectos educacionais e a parentalidade na adolescência. R. Pesq.: Cuid. Fundam. [on-line], v. 5, n. 1, p. 3285-92, 2013. ______. Ministério da Saúde. Adolescente grávida e os serviços de saúde no município. Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. BRUNO, Z. V. et al. Reincidência de gravidez em adolescentes. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., v. 31, n. 10, p. 480-4, 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Perfil Estatístico de Crianças e Mães no Brasil, 2012. MANFRÉ, C. C.; QUEIRÓZ, S. G.; MATTHES, Â. C. S. Considerações atuais sobre gravidez na adolescência. R. Bras. Med. 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Esse contexto suscitou diversas indagações, dentre as quais se destacam: como é possível ainda hoje adolescentes de tenra idade ficarem grávidas se existem tantos métodos para evitar a gravidez? Como processam as informações sobre esse tema, se estão a um clique na tela do computador? Se há métodos contraceptivos disponíveis em unidades de saúde, por que não os procuram? E como questão norteadora insurge a pergunta: o que dizem as adolescentes a respeito da reincidência de gravidez na adolescência? Essas e outras perguntas foram ventiladas neste estudo. O cenário para o encontro com as adolescentes mães reincidentes na gravidez foi o Hospital Júlia Kubitscheck (HJK), pertencente à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG). Sua escolha foi intencional, tendo em vista se tratar de um hospital de referência no atendimento à gravidez nessa faixa etária. O capítulo relativo ao referencial teórico mostrou um pouco o estado da arte da sexualidade desde tempos remotos até os dias atuais para se entender melhor as mudanças operadas, inclusive, em relação à educação sexual ao longo dos tempos. Apreende-se que a sexualidade acompanha as transformações correntes da época e das quais a sociedade se apropria em acordo com seus valores, modo de vida e identidade estrutural. Na Era Vitoriana, por exemplo, as mulheres não podiam falar de sexo, mesmo quando estavam entre um grupo de mesmo gênero, e os homens não se sentiam à vontade para ter relações sexuais com suas esposas, pois as consideravam o “anjo do lar”, “guardiã do lar”. Na época do Brasil colônia, as “ocorrências sobre sexualidade aconteciam às escondidas”, mas com a evolução da Internet e outros meios de comunicação, os grupos de convívio, associados à forte influência da mídia, ditam modos de comportamento em massa, principalmente nas roupas e nas músicas, além de outras influências, o que faz com que essa época seja marcada de mistérios, fazendo com que os adolescentes sejam caracterizados como “enigmáticos”. 111 Alguns autores relatam que a precocidade emocional pode acarretar dificuldades na relação entre mãe e filho, além da evasão escolar. Tal como em uma queda de uma cascata de um jogo de dominó, muitas são as consequências de uma gravidez (in) desejada, entre elas a não qualificação profissional dessas adolescentes, impedindo que elas possam competir com seus pares no mercado de trabalho. Nos anos de 1980, pesquisas mostraram o aumento de gravidez na adolescência e das doenças sexualmente transmissíveis (DST), o que se fez necessário a capacitação de profissionais da educação para clarificar nas escolas e outros meios de educação, o discorrer sobre a saúde reprodutiva do adolescente. Em seguida, com a evolução dos meios de comunicação, especialmente a Internet, esse complexo mundo tecnológico, admirável, encantador e de extrema importância na socialização do conhecimento que se inscreve uma interrogação provocante e instigadora, e apesar da facilidade de se obter informações e de processá-las, o fenômeno reincidência de gravidez na adolescência é fato. Por que esse fenômeno está presente nos dias hoje se há tantas informações veiculadas pelas imprensas, tanto falada quanto escrita? Quem não orienta/educa as adolescentes que se engravidam novamente? Que instituições se responsabilizam pela educação das crianças e adolescentes ou se corresponsabilizam: a família, a escola, a Igreja, a comunidade, dentre outras? Como vivem essas adolescentes mães pela segunda ou terceira vez? Com quem residem ou dividem os ônus e os bônus da maternidade? São tantas interrogações!!! Contudo, para o espanto da pesquisadora, que acreditava que as gravidezes eram (in)desejadas por causa da pouca idade, não foi isso que a investigação constatou, ou seja, a pesquisadora versou, a desconstrução de um imaginário que foi criado, pensado, trabalhado a partir de algumas experiências em relação à reincidência da gravidez na adolescência. Acreditava-se, a princípio, que as adolescentes engravidavam por descuido, falta de acesso e de conhecimento sobre os métodos contraceptivos ou por falta de responsabilidade, mas não foi isso que a pesquisa mostrou. Segundo as adolescentes entrevistadas, a primeira gravidez aconteceu, às vezes, por acaso. Mas a segunda gravidez foi planejada, e a maioria das adolescentes está “casada” com o pai da segunda criança, que assume o primeiro filho que, na maioria dos relatos, não é dele. 112 A maioria das adolescentes foi criada em um ambiente onde a mãe, as tias, as avós, as irmãs, as primas, enfim, as mulheres da família, também ficaram grávidas com 15, 16 anos de idade, sendo essa situação tão comum em seu meio de convívio que algumas relataram que não acham nada de mais ser grávida adolescente. Muitos autores dizem que a gravidez na adolescência está atrelada à falta de conhecimento sobre os métodos contraceptivos, à falta de diálogo com a família; mas pelos relatos desvelados pelas adolescentes desta pesquisa, não foi isso que se constatou, ou seja, algumas adolescentes relataram que não havia diálogo com a família, que a escola divulga pouco o assunto, mas precisaremos de mais dados para tentar desvendar o porquê da gravidez reincidente na adolescência, e tudo indica que a maioria tem o desejo em engravidar com pouca idade e que gostam de cuidar de crianças. Em relação ao acolhimento dos profissionais do Hospital Júlia Kubitscheck, as adolescentes desvelaram elogios no que tange aos cuidados recebidos por toda a equipe médica, com exceção dos médicos plantonistas dos fins de semana; mas houve também algumas reclamações, mais precisamente sobre o espaço físico e materiais; elas gostariam de um espaço externo do hospital, talvez por ser bem arborizado e mais silencioso em relação ao espaço das enfermarias. Acredita-se que a educação formal tenha importante papel na formação dos adolescentes e o tema “sexualidade” precisa ser bem trabalhado nas escolas, pois integra o currículo escolar da Educação Básica. É indispensável pensar maneiras mais dinâmicas e atrativas para inserir os jovens nos diversos espaços formais e informais da educação, para que possam ser partícipes e protagonistas da própria vida sexual afetiva, social, espiritual, dentre outras dimensões. Pesquisas mostram que a precocidade sexual é um fato; algumas adolescentes iniciam sua vida sexual aos 12, 13, 14 de idade, e quando fazem 15 anos, conhecido como “debut sexual”, acreditam que têm maturidade sexual para adentrar no mundo de adultos. Sendo assim, é preciso mais investimentos, tanto na área da saúde, como na educação, para clarificar sobre a saúde sexual do adolescente, evitando assim a evasão escolar, contribuindo para o aumento o ciclo da pobreza. É visível a necessidade de se investir na formação dos docentes, dos profissionais da saúde, abrindo espaços para que estes jovens possam tirar suas 113 dúvidas, seus medos entre seus pares. Fica aí um convite para os programas que já existem sobre essa temática, tanto das esferas federal, estadual e municipal, e também em setores privados, deixarem de ser apenas SIGLAS e tornarem-se ações eficazes. Fica evidente também que se deve priorizar os programas de prevenção de gravidez reincidente entre jovens mães, uma vez que os programas existentes não foram suficientes para evitar a segunda ou a 3ª gravidez (in)desejada das adolescentes. É importante também pensar em ações para inserção dessas adolescentes reincidentes no mercado de trabalho, com qualificação profissional para que elas tenham chances de competir com seus pares. Para tentar contribuir com a diminuição da gravidez de adolescente na região do Barreiro, a mestranda criou um aplicativo para celular, para que possa se tornar um “guia” para os jovens. A ideia desse aplicativo é também contribuir com professores, pais, profissionais da saúde para que eles divulguem a ferramenta auxiliando-os no processo de educação desses jovens, encurtando, assim, a relação entre eles. Criou-se também um Relatório com os depoimentos das adolescentes, sobre a acolhida no Hospital Julia Kubitscheck, esperando que o resultado possa contribuir de forma expressiva para os profissionais envolvidos com a saúde reprodutiva das adolescentes de forma a reavaliar, repensar e refazer suas condutas no que se refere aos cuidados com as mesmas. Talvez a falha da reincidência da maternidade em adolescentes realmente venha das escolas, pois os adolescentes de ontem são os educadores de hoje que sofreram inibição sexual, falta de diálogo com os pais, a carência de informações das escolas em relação à sexualidade, que pode ter deixado marcas em seu modo de pensar e atuar. Assim, acabam influenciando a sua atual prática pedagógica. Sabe-se, também, que há muito o que fazer; alguns autores relatam que as pesquisas sobre reincidência em gravidez em adolescentes estão em fase embrionária, que precisamos aprender muito com eles, ter paciência, escutar, dialogar. Segundo pesquisas, nunca antes na história houve um registro demográfico com tantos jovens; eles estão com maior visibilidade no mercado e no momento potencializam o campo socioeconômico. É possível que isso não volte a ser repetir. O momento, portanto, é agora, para aproveitar o magnetismo e o impulso desses jovens 114 para o progresso, subsidiando-os com ferramentas que contemplem suas aspirações as quais resultará um futuro comum, coletivo. A educação é a mola mestra desse público para ampliar conhecimento, contribuir com a economia e com a capacidade de planejar, traçar metas, inovar, transformar, solucionar. Relevante também é a sua inclusão nos programas de saúde sexual, permitindo assim uma mudança de fase e faixa etária saudável, tendo como resultado a garantia de alternativas para escolherem o futuro que desejam. Espera-se que as ponderações expressas aqui estimulem profissionais da educação e da saúde na busca de um melhor envolvimento com os adolescentes e que este estudo possa chamar a atenção dos seus leitores, a fim de reconhecer os jovens e adolescentes de forma positiva frente à sociedade. Como cidadãos e profissionais da educação, nosso compromisso ético e humano nos impele a realizar atividades que norteiem e proporcionem conhecimento aos adolescentes. Conhecendo seus direitos e deveres, eles poderão escolher o caminho que querem trilhar e o futuro que almejam para si e para os seus, bem como para sua comunidade e os demais. 115 REFERÊNCIAS AFONSO, L. A polêmica sobre adolescência e sexualidade. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2001. v. 1. ALVES, V. S. Um modelo de educação em saúde para o Programa de Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, v. 9, n. 16, 2005. 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Se você não se sentir à vontade em responder algumas perguntas que vou lhe fazer no início de nossa conversa, podemos deixá-las para o final. Aqui, quem “manda” é você. Vamos lá!!!!! Dados de identificação: Iniciais: Idade: Número de gestações: Idade da primeira gestação: Idade da segunda gestação Escolaridade: Ensino Fundamental: série Ensino médio: série Trabalha:( ) sim. que______________________ ( ) não Residência: Mora com quem? ____________ Número de pessoas na casa______________ Na sua casa, quantas pessoas trabalham?______ Em Salário: _____________________ 123 Pai da criança: idade ______________ Trabalha em que? _________________________ Estuda? Série _____________________________ Contribui com as despesas da criança? ___________De que forma? _____________ Vamos agora passar para segunda parte de nossa conversa. 1- Como você se sente grávida novamente? 2- Como você recebeu a notícia que ia ser mãe novamente durante a sua adolescência? 3- Quais as razões ou motivos que levaram você a ficar grávida? 4- Quais são os fatores que você acredita que contribuem para uma gravidez não planejada? 5- Você costumava conversar com alguém, com colegas, vizinhas, parentes sobre relações sexuais? Se sim, vocês têm opiniões parecidas? Falam sobre como evitar a gravidez? 6- Já teve medo de ficar grávida ou isso nunca passou pela sua cabeça? 7- Tem mulheres na família, escola ou vizinhas que passavam por gravidez precoce? Como você as via? O que pensava sobre o fato de terem filhos tão moças? 8- Recebeu alguma orientação sexual na escola? O que achou disso? Por que isso não te ajudou? 9- Onde recebeu orientações acerca de sexualidade e de gravidez na adolescência? 10-E na sua família, que orientações recebeu sobre sexualidade? 11-Com tantas informações sobre o assunto, o que você acha que falta trabalhar mais com as adolescentes para evitar que fiquem grávidas? 12- Como o pai da criança reagiu ao receber a notícia da paternidade? Ele 124 acompanha sua gravidez? 13- O que mudou na sua vida com a gravidez, escola, trabalho, vida social? 14- O que você gosta e o que não gosta no HJK? 15- Se pudesse modificar alguma coisa aqui no HJK, qual seria sua sugestão? 16- E na escola, se pudesse sugerir alguma coisa, o que seria? 17-Como tomou conhecimento do Hospital Júlia Kubistchek? O que você faz aqui e o que gostaria de fazer? 18- Qual o significado de ser acolhida aqui nesse espaço? O que esse espaço significa para a sua vida e de seu bebê? 19-Se pudesse voltar no tempo, faria algo diferente? Se sim, o que? Se não por que? 20- Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? 125 Centro Universitário UNA APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (para os pais) GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: política do serviço de atenção integral aos adolescentes em um hospital público de Belo Horizonte. Nome da Pesquisadora: Marcia Auxiliadora Fonseca Nome da Orientadora: Dra. Matilde Meire Miranda Cadete Esclarecimentos sobre a pesquisa: 1. Natureza da Pesquisa: Sua filha (nome da entrevistada) está convidada a participar desta pesquisa que tem como finalidade analisar os motivos pela reincidência da gravidez na adolescência. 2. Participantes da Pesquisa: as adolescentes atendidas no programa de atendimento a adolescentes grávidas do HJK. 3. Envolvimento na pesquisa: sua filha, ao participar deste estudo, permitirá que o pesquisador colete dados que ofereçam informações para fundamentar a pesquisa. Sua filha tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para o Sr.(a). Sempre que quiser pedir mais informações sobre a pesquisa, pode fazê-lo por meio do telefone da pesquisadora do projeto e, se necessário, pelo telefone do Comitê de Ética em Pesquisa ou da orientadora do projeto. 4. Sobre as entrevistas: sua filha responderá algumas perguntas e não existe certo ou errado nas suas respostas, uma vez que o que nos importa é a visão que ela tem em relação à reincidência na gravidez. 5. Riscos e desconfortos: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Pode haver certo constrangimento/desconforto diante de alguma pergunta. Nesse caso, é de livre escolha da sua filha responder ou não a pergunta podendo inclusive cancelar sua participação na pesquisa no decorrer da entrevista. 126 6. Confidencialidade: o nome de sua filha será mantido em segredo e todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados. 7. Forma de Acompanhamento e Assistência: caso você queira nos procurar ou tirar dúvidas após sua filha participar desta pesquisa, colocamo-nos a sua inteira disposição. Pode também nos telefonar caso queira saber em que momento se encontra nosso trabalho. 8. Benefícios: sua filha ao participar desta pesquisa não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo possa trazer contribuições importantes para a construção de conhecimentos acadêmicos a respeito da temática em questão, e sirvam para subsidiar o relatório que será desenvolvido com sua contribuição. 9. Pagamento: sua filha não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Tendo em vista os itens acima apresentados, eu ( _________________________), responsável pela ( nome da adolescente) de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento para que minha filha participe da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. ___________________________________________ Assinatura do responsável pela Participante da Pesquisa Nome do Participante da Pesquisa __________________________________________ Assinatura da Pesquisadora ____________________________________________ 127 Pesquisadora: Márcia Auxiliadora Fonseca; Rua Artur Lourenço, 225 casa – Belo Horizonte/MG – Telefone: (31) 88534621 / (31) 33843069 Orientadora: Matilde Meire Miranda Cadete Telefone: (31) 99728033 (31) 34099687 Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajáras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG – Telefone: (31) 3508-9110 – Contato: [email protected] 128 Centro Universitário UNA APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Para a adolescente) GRAVIDEZ REINCIDENTE EM ADOLESCENTES: motivos e razões expressas pelas adolescentes atendidas em um hospital público de Belo Horizonte Nome da Pesquisadora: Marcia Auxiliadora Fonseca Nome da Orientadora: Dra. Matilde Meire Miranda Cadete Esclarecimentos sobre a pesquisa: 1. Natureza da Pesquisa: Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa/trabalho de aula que tem como finalidade analisar os motivos pela reincidência da gravidez na adolescência, isto é, para quem ficou grávida mais de uma vez. 2. Participantes da Pesquisa: as adolescentes atendidas no programa de atendimento a adolescentes grávidas do HJK. 3. Envolvimento na pesquisa: você, ao participar deste estudo, me permitirá coletar dados que ofereçam informações para fundamentar a pesquisa. Você tem liberdade de não aceitar a participar e ainda não aceitar continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você. Sempre que quiser pedir mais informações sobre a pesquisa, pode fazê-lo por meio do telefone da pesquisadora do projeto e, se necessário, pelo telefone do Comitê de Ética em Pesquisa ou da orientadora do projeto. 4. Sobre as entrevistas: Você responderá algumas perguntas e não existe certo ou errado nas suas respostas, uma vez que o que nos importa é a visão que você tem em relação à reincidência na gravidez. 5. Riscos e desconfortos: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Pode haver certo constrangimento/ desconforto diante de alguma pergunta. Nesse caso, é de sua livre escolha responder ou não a pergunta podendo inclusive cancelar sua participação na pesquisa no decorrer da entrevista. 129 6. Confidencialidade: seu nome será mantido em segredo e todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados. 7. Forma de Acompanhamento e Assistência: caso você queira nos procurar ou tirar dúvidas após participar desta pesquisa, colocamo-nos a sua inteira disposição. Pode também nos telefonar caso queira saber em que momento se encontra nosso trabalho. 8. Benefícios: você, ao participar desta pesquisa, não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo possa trazer contribuições importantes para a construção de conhecimentos acadêmicos a respeito da temática em questão, e sirvam para subsidiar o relatório que será desenvolvido com sua contribuição. 9. Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Tendo em vista os itens acima apresentados, eu(______________________),(nome da adolescente), de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento para participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. __________________________________________ Nome do Participante da Pesquisa ___________________________________________ Assinatura da Pesquisadora ____________________________________________ Pesquisadora: Márcia Auxiliadora Fonseca; Rua Artur Lourenço, 225 casa – Belo Horizonte/MG – Telefone: (31) 88534621 / (31) 33843069 130 Orientadora: Matilde Meire Miranda Cadete Telefone: (31) 99728033 (31) 34099687 Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajáras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG – Telefone: (31) 3508-9110 – Contato: [email protected] 131 ANEXO A 132 133 134 135