As crianças de 0 a 8 anos e o HIV

Transcrição

As crianças de 0 a 8 anos e o HIV
Apoio à acção comunitária contra o SIDA em países em vias de desenvolvimento
As crianças do amanhã
Notas temáticas na África vasta
As crianças de 0 a 8 anos e o HIV
Fortalecendo a família e o apoio comunitário
AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS
E O HIV
Agradecimentos
O que é a International HIV/AIDS
Alliance?
A Aliança gostaria de agradecer a todos aqueles que contribuiram
para esta publicação, incluindo:
Fundada em 1993, a International
HIV/AIDS Alliance (a Aliança) é uma
parceria global de organizações de base
comunitária que trabalha para apoiar a
acção comunitária contra o SIDA. A
nossa missão é reduzir a propagação do
HIV e minimizar o impacto do SIDA.
Christoforos Mallouris, UNESCO, França; Cynthia Curtis, Alliance
Nationale contre le SIDA en Côte d’Ivoire (ANS-CI), Costa do Marfim;
Faith Mmola, REPSSI, África do Sul; Geoff Foster, Zimbabué; Grace
Njeru, Kenya AIDS NGOs Consortium (KANCO), Quénia; Jonathan
Morgan, REPSSI, África do Sul; Mark Rabudi, KANCO, Quénia;
Dr Ngagne Mbaye, Synergie pour l’enfance, Senegal; Paul Roux,
África do Sul; Robert Gass, UNICEF, Estados Unidos; Siobhan Crowley,
WHO, Suíça; Stefan Germann, World Vision, África do Sul; Tapfuma
Murove, World Vision, Quénia; Timothy Ahimbisibwe, Save the
Children UK, Uganda; Tom Ellman, MSF, Reino Unido; Achiro Joyce
Stella, Health Alert Ouganda (HAU), Uganda, Obutu Francis (HAU),
Uganda, Ochora Michael (HAU), Uganda, Dr. George Openytho
(HAU/Gulu Regional Referral Hospital), Uganda, Kertho Edmound,
Save the Children in Uganda, Uganda; Clotaire Ouedraogo, AXIOS,
Burkina Faso, Alimata Konaté, Initiative Privée et Communautaire
(IPC), Burkina Faso, Konan Amenan Lucile, L’Alliance Nationale contre
le SIDA (ANS-CI), Costa do Marfim, Alioune Fall, Hope for the African
Child Initiative (HACI), Senegal, Marie Cissé Thioye, Association
d'Assistance aux Enfants en Situation Difficile (AASED), Senegal,
Léopold Gaston Boissy, Centre Hospitalier National Psychiatrique,
(CHN), Senegal, Maty Diouf Sakho, Synergie pour l'Enfance, Senegal,
Charles Becker, Centre National de Recherche au Sénégal (CNRS),
Senegal, Amadou Seck, UNICEF, Senegal, Ndeye Astou Diop Coulibaly,
And Bokk Yakaar (ABOYA), Senegal, Doroteia J Balane, Associação
Reencontro, Moçambique, Felismina Chiziane, Reencontro,
Moçambique, Elvira de Jesus, Reencontro, Moçambique, Sonia
Romão, UNICEF, Moçambique, Adriano Afonso Pelembe, Associação
Tinhena, Moçambique, Filomena João, Alliance Moçambique, Clara
Chinaca, Kubatsirana, Moçambique, Elisa Mazivila, MMAS,
Moçambique, Conceição Valls, ASIDH, Centro de Saúde Polana
Caniço, Moçambique, Ana Paula Ferreira, MMAS - DANS,
Moçambique, Nelia Vera Taimo, consultora local, Moçambique, Ernest
Maswera, HACI, Moçambique, Celso Mabunda, HACI, Moçambique, e
ainda funcionários e consultores da Aliança Internacional contra o
HIV/SIDA.
Até hoje, a Aliança já canalizou cerca de
$140 milhões para mais de 40 países em
vias de desenvolvimento e apoiou mais
de 3000 projectos, chegando a algumas
das comunidades mais pobres e
vulneráveis com programas de
prevenção do HIV, prestação de cuidados
e apoio e proporcionando um melhor
acesso a tratamento.
Para mais informação acerca do trabalho
da Alliance visite o nosso site em
www.aidsalliance.org
© Copyright texto: International HIV/AIDS
Alliance, 2006
© Copyright ilustrações: Dandi Palmer, 2006
As informações e ilustrações desta publicação
podem ser reproduzidas livremente,
publicadas ou usadas de qualquer outra
maneira sem permissão da International
HIV/AIDS Alliance. Contudo, a International
HIV/AIDS Alliance pede para ser citada como
sendo a fonte da informação.
Esta publicação foi possível graças às
contribuições financeiras de Bernard van Leer
Foundation e UNICEF. Contudo, as opiniões
expressadas nesta publicação não reflectem
necessariamente as suas políticas e visões.
AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS
E O HIV
Índice
Agradecimentos
Introdução
02
SECÇÃO 1:
Como atender às necessidades do desenvolvimento das crianças 03
infectadas e afectadas pelo HIV
Questões
1
Porque é que as crianças pequenas precisam de atenção especial? 03
2
Porque é preciso ir de encontro às necessidades do
desenvolvimento das crianças?
03
3
Como é que o HIV afecta o desenvolvimento das crianças?
03
Princípios e estratégias
1
Promover a acção familiar e comunitária
05
2
Ajudar as crianças a aprender
08
3
Satisfazer as necessidades emocionais e sociais das crianças
09
4
Comunicar com as crianças e ajudá-las a enfrentar as
suas circunstâncias
11
5
Desenvolver resiliência
16
6
Promover a participação das crianças
17
Cuidados e tratamentos para as crianças
pequenas com HIV
21
SECÇÃO 2:
Questões
1
Como é que as crianças são infectadas pelo HIV?
21
2
Como se faz o diagnóstico do HIV nas crianças pequenas?
22
3
Como é que a infecção pelo HIV afecta a saúde das crianças?
22
4
O que se pode fazer para ajudar as crianças infectadas pelo HIV?
23
Princípios e estratégias
1
Promover o teste do HIV para todas as mulheres grávidas
24
2
Aconselhar as mães grávidas sobre a prevenção da
transmissão do HIV da mãe para a criança
24
3
Detectar a infecção do HIV o mais cedo possível
25
4
Promover o acesso ao tratamento e ajudar as crianças a
tomarem os medicamentos antiretrovirais
27
5
Ajudar as crianças a manterem-se saudáveis
32
6
Providenciar boa nutrição
36
7
Cuidar das doenças comuns
40
8
Providenciar cuidados e apoio para crianças que
estejam gravemente doentes ou próximo da morte
42
9
Ajudar os provedores de cuidados a enfrentar o medo
e as preocupações com a morte
45
Conclusão
46
Referéncias
47
Fontes Bibliográficas
48
01
AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS
E O HIV
Introdução
Esta brochura fornece conselhos práticos para ir ao encontro das
necessidades do desenvolvimento das crianças afectadas pelo HIV, e
para organizar os cuidados e tratamentos necessários para as
crianças infectadas pelo HIV, com particular incidência nas crianças
menores de 8 anos de idade. O objectivo da brochura é assistir as
organizações locais e os provedores de serviços a reforçar o seu
apoio às famílias e às comunidades que cuidam dessas crianças. A
brochura é organizada da seguinte maneira:
•
A Secção 1 descreve o impacto do HIV no desenvolvimento
intelectual, emocional, psicológico e social das crianças e fornece
sugestões sobre o que as organizações podem fazer para ajudar as
famílias e comunidades a responder às necessidades de
desenvolvimento dessas crianças.
•
A Secção 2 descreve o impacto da infecção do HIV na saúde física
das crianças e fornece sugestões às organizações para apoiarem as
famílias e comunidades a providenciar bons cuidados e tratamentos
às crianças infectadas pelo HIV.
A preparação desta brochura foi liderada por um comité consultivo
internacional e inclui comentários e estudos de casos fornecidos por
organizações que trabalham com crianças vulneráveis em vários
países africanos, assim como estudos de casos apresentados em
encontros consultivos realizados no Quénia, Uganda, Senegal e
Moçambique. Informações sobre os estudos de casos encontram-se
na secção das referências. Estas e mais referências estão disponíveis
no CD-Rom Orphans and Vulnerable Children Toolkit, e na internet,
na página www.ovcsupport.net.
Esta brochura faz parte duma série de recursos práticos
desenvolvidos pela International HIV/AIDS Alliance (Aliança
Internacional contra o HIV/SIDA) sobre as crianças afectadas pelo
HIV. Faz parte da colecção As crianças do Amanhã: Notas
Temáticas na África Vasta, que abrange os seguintes sete tópicos:
•
•
•
•
•
•
•
02
Educação
Saúde e nutrição
Apoio psicossocial
Inclusão social,
Reforço económico
Apoio aos idosos provedores de cuidados
Crianças pequenas e HIV
Como atender às necessidades do desenvolvimento
das crianças infectadas e afectadas pelo HIV
SECÇÃO 1
Questões
Impacto do HIV no desenvolvimento
das crianças
• Falta de atenção e estímulos. Pais
doentes, avós idosos e irmãos mais
velhos podem não ter tempo e energia
suficiente para dar às crianças a
atenção e os estímulos de que elas
precisam.
• Falta de consistência dos provedores
de cuidados e no ambiente familiar.
Mudanças repentinas ou frequentes de
provedores de cuidados e no ambiente
doméstico podem afectar o
desenvolvimento emocional e social das
crianças. As crianças que são enviadas
para viver com outros familiares perdem
a sua casa e às vezes o contacto com
seus irmãos, o que pode ser causa de
grande perturbação.
• Falta de cuidados de boa qualidade.
As crianças negligenciadas ou abusadas
sofrem danos psicológicos e emocionais
e não se desenvolvem bem do ponto de
vista físico. Mesmo quando alimentadas
adequadamente, crianças infelizes não
se desenvolvem tão bem quanto as
outras crianças.
• Falta de tempo e energia para as
actividades normais da infância.
Crianças que cuidam de pais doentes ou
de irmãos mais novos, ou que têm HIV
elas próprias, podem não ter o tempo
ou a energia para actividades como
brincar com seus amigos. O estigma e a
discriminação limitam as oportunidades
para actividades sociais e para a criança
fazer e manter boas amizades. O sentirse só e isolado afecta a confiança, a
auto-estima e as habilidades sociais das
crianças.
1
PORQUE É QUE AS CRIANÇAS PEQUENAS PRECISAM DE
ATENÇÃO ESPECIAL?
As crianças desenvolvem-se mais rapidamente nos primeiros anos de
vida. Esta fase é a mais importante para o seu desenvolvimento
intelectual, emocional e social. Experiências negativas e positivas na
primeira infância têm efeitos a longo prazo.
•
Desenvolvimento intelectual Estímulos atenção na primeira
infância são essenciais para ajudar as crianças a aprender sobre o
mundo à sua volta, entender e usar as palavras e desenvolver a
capacidade de tomar decisões e resolver problemas.
•
Desenvolvimento emocional Amor, carinho e atenção constante por
parte de um ou dois provedores de cuidados na primeira infância são
essenciais para as crianças se sentirem seguras e felizes e para que
elas se tornem capazes de desenvolver boas relações com outras
pessoas durante seu crescimento.
•
Desenvolvimento social Bons cuidados e oportunidades de brincar
e tomar parte em actividades sociais na primeira infância são
essenciais para ajudar as crianças mais novas a desenvolver
habilidades sociais e habilidades de viver e trabalhar com outros
membros da comunidade.
2
PORQUE É PRECISO IR DE ENCONTRO ÀS NECESSIDADES DO
DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS?
As necessidades intelectuais, emocionais e sociais das crianças são
tão importantes quanto suas necessidades físicas. As crianças de
idades diferentes enfrentam etapas de crescimento diferentes e têm
necessidades de desenvolvimento diferentes.
3
COMO É QUE O HIV AFECTA O DESENVOLVIMENTO
DAS CRIANÇAS?
O impacto do HIV nas famílias tem efeitos negativos no
desenvolvimento intelectual, emocional e social das crianças.
03
SECÇÃO 1
Questões
IDADES E FASES DE DESENVOLVIMENTO
0-1 ano consistência e continuidade
Nesta fase as crianças aprendem sobre o mundo mediante os seus sentidos. Elas respondem às expressões dos
rostos, às vozes e às cores vivas, descobrem suas próprias mãos e seus pés, sorriem, começam a entender e
pronunciar algumas palavras, sentam-se, gatinham, ficam de pé e começam a explorar e brincar com objectos.
Elas precisam de:
• Provedores de cuidados que cuidem delas de uma
maneira sensível e que estejam atentos às suas
necessidades físicas e psicológicas.
• Afeição física, como serem abraçadas e
acarinhadas, para se sentirem seguras
• Conversas e contos
• Coisas para observar, tocar, ouvir e brincar
• Protecção física e ambientes que possam
explorar com segurança.
1-3 anos encorajamento, entusiasmo e independência
Nesta fase as crianças aprendem a andar e correr, a entender e falar algumas palavras, a comunicar suas
ideias e a alimentarem-se. Elas tornam-se mais independentes, mas preferem ter à sua volta rostos
familiares. Gostam de ajudar, conseguem resolver alguns problemas simples, gostam de desenvolver novas
habilidades e orgulham-se de seus sucessos, mas ficam frustradas quando não conseguem fazer algo.
Desenvolvem amizades e começam a simular, imitando o que acontece ao seu redor. As crianças podem
sentir-se envergonhadas e duvidar de si próprias se forem criticadas pelos provedores de cuidados.
Elas precisam de:
• Oportunidades de brincar com outras crianças e
desenvolver sua independência
• Encorajamento e elogios
• Ajuda para aprenderem a cuidarem de si próprias
e controlarem seu comportamento
• Alguém que as escute e converse com elas.
3-5 anos iniciativa e inspiração
Nesta fase as crianças falam bastante, fazem perguntas, gostam de brincar com amigos, aprendem a
compartilhar, zangam-se ou sentem-se culpadas se acreditam ter fracassado e tornam-se competitivas,
especialmente com seus irmãos e amiguinhos. Elas tornam-se também mais aventureiras e começam a imitar
os adultos.
Estas crianças precisam de:
• Oportunidades de participar em actividades,
explorar e escolher
• Ajuda para aprenderem a usar bem a linguagem,
através de leituras, conversas e canções
• Elogios quando conseguem fazer algo de novo e
quando fazem algo bem.
6-8 anos curiosidade e aprendizagem
Nesta fase as crianças demonstram um aumento de interesse pelo mundo, por pessoas, letras e números,
tornam-se mais confiantes do ponto de vista físico, começam a assumir responsabilidades, brincam em grupo,
desenvolvem relações de confiança com amigos e utilizam palavras para expressar seus sentimentos.
Estas crianças precisam de:
• Apoio para desenvolverem
habilidades adicionais nas áreas da
linguagem, do pensamento e na área física
• Encorajamento com os trabalhos escolares
04
• Oportunidades para aprenderem a
colaborar com outros e praticarem auto controle,
tomarem responsabilidades e cumprirem tarefas.
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Quais os sinais que indicam que uma
criança precisa de ajuda?
• Não brincar com outras crianças, não
demonstrar interesse no que
acontece ao seu redor
• Tristeza, medo, introversão, não falar
• Falar excessivamente, agressividade,
hiperactividade, repetição constante
da mesma actividade
• Chorar, irritar-se e zangar-se
facilmente
• Sono agitado, alterações da micção
(como fazer xixi na cama)
Media in Education Trust.
Esta secção descreve os princípios e as estratégias com eles
relacionadas, que as organizações podem utilizar para apoiarem as
comunidades e as famílias (nestas brochuras por ‘família’ entende-se
os pais e outros provedores de cuidados) a irem ao encontro das
necessidades do desenvolvimento das crianças pequenas com HIV e
das crianças pequenas afectadas pelo HIV.
Princípios
• Promover a acção familiar e comunitária
• Ajudar as crianças a aprender
• Satisfazer as necessidades emocionais e sociais das crianças
• Comunicar com as crianças e ajudá-las a enfrentar as suas
circunstâncias
• Desenvolver resiliência
• Promover a participação das crianças
1
PROMOVER A ACÇÃO FAMILIAR E COMUNITÁRIA
Consciencializar as comunidades e as famílias
As famílias e as comunidades precisam ter conhecimentos sobre o
desenvolvimento das crianças e as necessidades especiais das
crianças mais novas.
•
Para isso é preciso:
Promover o diálogo na comunidade e educar as famílias sobre as
necessidades de desenvolvimento das crianças pequenas, e sobre o
impacto do HIV no desenvolvimento das crianças.
•
Trabalhar com as comunidades na identificação das crianças que
precisam de ajuda, e de maneiras de ir ao encontro das suas
necessidades de desenvolvimento, incluindo abordagens baseadas
em métodos tradicionais de transmissão de conhecimentos e
habilidades duma geração para outra.
•
Encorajar os comités para Crianças Órfãs e Vulneráveis (COV) a
considerar tanto as necessidades materiais como as necessidades
de desenvolvimento intelectual, social e emocional das crianças
infectadas e afectadas pelo HIV e a identificar as que precisam de
ajuda.
•
Encorajar as organizações comunitárias e religiosas a procurar
satisfazer as necessidades das crianças mais novas através das suas
actividades.
05
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
No Quénia, o projecto Speak for the
Child (Fale pela Criança) pesquisou as
crenças locais sobre os efeitos nas
crianças de ter pais com HIV, sobre as
razões dos problemas comportamentais
das crianças e sobre os efeitos do luto e
do pesar nas crianças. Os resultados
foram utilizados para desenvolver
intervenções comunitárias adequadas
para apoiar as crianças afectadas.
Training and Resources in Early
Education (Formação e Recursos em
Educação Infantil - TREE), uma ONG
sul-africana, treina mulheres na
avaliação das necessidades das crianças
pequenas, no aconselhamento e na
identificação de recursos para ajuda a
nível da comunidade. TREE também
encoraja as famílias a brincar com as
crianças utilizando brinquedos e jogos
tradicionais.
Apoiar os provedores de cuidados
As famílias (incluindo os avós e/ou irmãos mais velhos) são os
principais provedores de cuidados para as crianças infectadas e
afectadas pelo HIV. Apoiar esses provedores a cuidar devidamente
das crianças é essencial.
•
Seria recomendável:
Identificar voluntários nas comunidades que ajudem as famílias a
cuidar das crianças, especialmente para as famílias que enfrentam
problemas de pobreza e doença.
•
Encorajar os membros da comunidade a visitar as famílias afectadas
para lhes oferecer apoio emocional e reduzir seu isolamento social.
•
Estabelecer grupos de apoio para os que cuidam das crianças.
•
Promover a organização de cuidados colectivos, como centros
comunitários ou creches.
•
Providenciar aconselhamento e formação sobre desenvolvimento
infantil e maneiras correctas de cuidar das crianças.
Em Moçambique, activistas da
organização “Reencontro” utilizam
desenhos e brincadeiras para identificar
as necessidades psicossociais das
crianças. A maneira como as crianças se
expressam através dos desenhos e
brincadeiras demonstra os problemas
que elas têm e ajuda os activistas a
encontrarem formas de ajudar a criança
a superar as suas dificuldades.
Em Moçambique, a ONG “Dores Sem
Fronteiras” apoia o Centro de
Reabilitação Infantil de Chokwe,
situado na Cidade de Chokwe (CRIC),
onde são oferecidas oportunidades de
recreio e lazer, e de atendimento e
reabilitação às crianças com diferentes
tipos de dificuldades. As crianças são
referidas ao CRIC pelo Centro de Saúde,
pela escola ou pelos próprios pais. O
centro conta com cinco educadores que
receberam um treino básico para
observar e fazer uma breve avaliação do
desenvolvimento geral dessas crianças.
06
Figura 1: Encorajar os membros da comunidade a visitar as famílias afectadas
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Os casos que precisam de atenção
especial são encaminhados aos
psicólogos clínicos, que fazem a
supervisão regular dos educadores e
treinam os pais.
A mesma ONG oferece diversos cursos
aos líderes comunitários, às OCBs, aos
professores, e a voluntários e familiares
no sentido de encorajar um melhor
atendimento e cuidados às crianças em
situação de maior vulnerabilidade no
seio da família e de prevenir que mais
crianças fiquem doentes (em particular
com as doenças mais comuns naquela
província: malária cerebral, epilepsia e
HIV/SIDA).
‘Compreendendo e Desafiando o
Estigma do HIV’ é um kit prático, que
inclui uma actividade que leva os
adultos a considerar como suas atitudes
e comportamento afectam a vida das
crianças. A cada participante é entregue
um papel com uma frase, e ele deve
dizer se a afirmação é verdadeira ou
falsa (exemplos incluem: ‘as crianças
podem tomar conta de si próprias’, ‘as
crianças deveriam sempre fazer o que os
adultos dizem’, ‘as crianças deveriam ser
encorajadas a serem o mais
independentes possível’), e justificar
porque pensa assim. Isso gera uma
discussão sobre a dependência das
crianças em relação aos adultos e como
algumas percepções sobre as crianças
influenciam a maneira como os adultos
as tratam, e por consequência
influenciam o desenvolvimento das
crianças.
Kidd and Clay, 2003.
Neste documento “Aconselhamento” significa o
processo de ajudar a pessoa a processar as suas
dificuldades, ouvindo-a e reflectindo juntos
sobre a situação e as opções disponíveis e
apoiando a pessoa a tomar as suas próprias
decisões ( sem dar conselhos nem fazer
julgamentos). “Conselheiro” é a pessoa que ajuda
neste processo.
Na Suazilândia, grupos de mulheres da organização Valley Charity
fazem visitas semanais a famílias afectadas dando apoio espiritual
e emocional principalmente, mas também contribuindo com
alimentos e propinas escolares no caso de famílias mais
necessitadas.
O projecto Likhaya Lemphilo Lensha (Lares para crianças órfãs)
tem sessões semanais de formação para as suas mães; estas sessões
provaram tão úteis que outros provedores de cuidados pediram
para serem incluídos periodicamente; este projecto realiza agora,
duas vezes por ano, workshops abertos a outros provedores de
cuidados, não só para formação em assuntos específicos e muito
práticos, mas também para troca de experiências e encorajamento.
Em Moçambique o Ministério da Mulher e Acção Social tem
assistentes sociais que visitam as famílias afectadas e tentam, na
medida possível, encaminhá-las para os serviços públicos
apropriados. O facto de a família receber a visita de alguém que
representa um organismo do Estado tem um impacto positivo, e
fá-la sentir que alguém se interessa por ela.
No Uganda, o programa domiciliário Mildmay’s Jajja Home
Children’s Programme administra programas rurais de cuidados de
dia e clubes de actividades para as crianças. Estes oferecem apoio
psicossocial para crianças infectadas pelo HIV e seus provedores de
cuidados, e trabalham com as comunidades locais para que sejam
capazes de apoiar famílias chefiadas por crianças.
(www.mildmay.org).
A Speak for the Child organiza visitas domiciliárias de conselheiros
treinados, forma grupos de apoio a provedores de cuidados e cria
ligações entre as famílias e os grupos comunitários de apoio. Os
encontros de apoio têm ajudado os provedores de cuidados a
resolver problemas e a melhorar a maneira como cuidam das
crianças.
No Uganda, Action for Children (Acção pelas Crianças) organiza
Grandmothers Action Support (Acção de Apoio às Avós), que
desenvolve a capacidade das avós de cuidarem de crianças
infectadas ou afectadas pelo HIV.
Prolongar a vida dos pais e dos provedores de cuidados
Prolongando a vida dos pais e provedores de cuidados prolongamos
também o relacionamento entre criança e pais, um elemento
importante no desenvolvimento da personalidade e maturidade da
criança. A morte de um dos pais ou de uma pessoa próxima é a
experiência mais traumática que pode ocorrer na vida de uma
criança. Mesmo as crianças mais novas experimentam grande
angústia durante a doença e a separação ou a morte de um dos pais
07
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
A Speak for the Child observou que as
habilidades sociais das crianças
melhoram quando estas começam a
frequentar a pré-escola. As famílias
explicaram que as crianças aprenderam
a brincar e cooperar com outras
crianças e a cumprimentar as visitas. A
nutrição das crianças também melhorou
porque as famílias tinham mais tempo
para ir trabalhar nos campos e preparar
as refeições.
Em Moçambique, na Província de Gaza,
com o apoio da Save the Children USA,
os membros da comunidade
organizaram uma escolinha para
crianças pequenas. A escolinha oferece
condições para as crianças brincarem e
assegura que as crianças tenham pelo
menos uma boa refeição por dia. Para
isso, a comunidade contribui com
produtos da machamba, como milho e
amendoim.
Na Zâmbia, um dos parceiros da
Christian Aid, o Centro de Cuidados de
Dia de Kondwa, oferece cuidados para
crianças afectadas pelo HIV até aos sete
anos de idade. Os serviços oferecidos
incluem aconselhamento e apoio
emocional para ajudar as crianças a
fazer face à doença e à morte de seus
pais, e a prepararem-se para a escola
primária.
ou pessoa querida, seja qual for a doença. Portanto o acesso ao
tratamento, particularmente para pais vivendo com HIV, não é
somente a melhor maneira de reduzir o número de órfãos, mas
também de assegurar uma vida familiar estável e de qualidade.
2
AJUDAR AS CRIANÇAS A APRENDER
Manter as crianças em boa saúde
As crianças bem alimentadas e descansadas são mais saudáveis e
aprendem melhor que crianças com fome, cansadas ou doentes.
•
Conselhos práticos para as famílias incluem:
Assegurar que as crianças tenham descanso suficiente e comida de
boa qualidade (ver página 36 Providenciar boa nutrição), pois isso
ajuda o seu cérebro a crescer e a desenvolver.
•
Providenciar bons cuidados no lar para as crianças doentes ou levá-las
ao posto de saúde quando estiverem muito doentes (ver página 40
Cuidar das doenças comuns).
Oferecer estímulos e atenção
As crianças precisam de atenção e dum ambiente estimulante que as
ajude a aprender. Sugestões práticas para as famílias incluem:
•
Dedicar tempo à conversa, às histórias, às canções e às danças com as
crianças.
•
Permitir que as crianças brinquem, pois isso favorece sua
aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades necessárias para
resolver problemas.
•
Apoiar artistas/artesãos locais na criação de brinquedos simples para
as crianças ou organizar uma área para brincar na creche local ou na
sede do centro aberto para as crianças.
Promover o acesso aos cuidados pré-escolares
A pré-escola e os centros abertos, ou de dia, podem beneficiar o
desenvolvimento intelectual e social das crianças.
•
08
Seria recomendável:
Apoiar as famílias a matricular e enviar as crianças para a escolinha, se
houver uma na comunidade.
•
Ajudar a comunidade a estabelecer escolinhas ou centros abertos para
as crianças e a recrutar professores ou voluntários comunitários.
•
Encorajar as escolas primárias a oferecer serviços pré-escolares para as
crianças pequenas.
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
A Speak for the Child notou que o apoio
dos conselheiros comunitários ajuda os
provedores de cuidados a mudarem a
forma como cuidam das crianças. Visitas
regulares ajudaram os provedores de
cuidados a sentirem-se menos stressados,
isolados e deprimidos. Uma abordagem
virada para a solução conjunta de
problemas ajuda os provedores de
cuidados a sentirem-se mais confiantes e
respeitados e tem impacto positivo na
qualidade dos cuidados. Os provedores de
cuidados explicaram que, com a ajuda
dos conselheiros, eles pararam de bater
nas crianças para as disciplinarem e
passam agora mais tempo falando com os
pequenos e respondendo às suas
perguntas. Eles também passaram a
dedicar mais tempo a escutar as crianças,
e falam com elas com gentileza em vez
de gritarem.
3
SATISFAZER AS NECESSIDADES EMOCIONAIS
E SOCIAIS DAS CRIANÇAS
Dar amor e carinho às crianças
Receber amor e carinho é muitas vezes mais importante para as
crianças infectadas pelo HIV do que o conforto material.
•
Seria recomendável:
Explicar às famílias que amor e carinho ajudam as crianças a crescer
e a recuperar-se quando doentes, assim como a desenvolver-se
intelectual, emocional e socialmente.
Tomar o género em consideração
Em certos contextos culturais, o género de uma criança pode expô-la
a riscos particulares, por exemplo, os meninos são frequentemente
alvos de tráfico para trabalho na agricultura, ou podem acabar a
pedir esmolas ou viver nas ruas. As meninas podem ser exploradas
em trabalhos domésticos pesados, desistir da escola ou ficar expostas
ao abuso sexual.
Envolver as crianças nas actividades sociais
As crianças infectadas ou afectadas pelo HIV precisam sentir que
fazem parte de suas famílias e suas comunidades, fazem as mesmas
coisas que as outras crianças de sua idade, e têm amigos. Tomar
parte nas actividades sociais é essencial para o desenvolvimento
emocional e social das crianças, pois isso ajuda a aprender mais
sobre si próprias e a estabelecer relações com os outros. Brincar com
outras crianças da mesma idade ajuda-as a aprender sobre
cooperação, ter confiança e compartilhar, assim como a desenvolver
habilidades sociais.
No Uganda, a Health Alert notou que
crianças infectadas pelo HIV que recebem
amor e carinho dos adultos que cuidam
delas são mais saudáveis e respondem
melhor ao tratamento do HIV do que as
que não têm amor e carinho.
•
Por isso, seria recomendável:
Organizar actividades recreativas e desportivas para todas as crianças
da comunidade.
•
Aconselhar as famílias sobre maneiras de envolver crianças doentes
nas actividades diárias para que se sintam incluídas na vida da
família em vez de as deixarem sozinhas num quarto escuro.
•
Encorajar outras crianças a envolver as crianças doentes,
identificando jogos a que as crianças doentes possam assistir ou em
que possam tomar parte.
•
Oferecer oportunidades para que as crianças infectadas ou afectadas
pelo HIV possam expressar seus sentimentos e trocar ideias com
outras crianças na mesma situação.
09
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Para promover atitudes de compaixão e
carinho a nível da comunidade, uma ONG
da Namíbia chamada CAFO encoraja os
líderes religiosos a integrar em seus
sermões histórias de crianças afectadas
pelo HIV. A CAFO ajuda os líderes
religiosos a seleccionar um assunto
mensalmente, com leituras da Bíblia e
exemplos tirados da vida real das
crianças, e fornecidos pelos comités de
apoio às crianças.
Building Blocks Development Group.
Figura 2: Crianças alegres que
brincam juntas
No manual Prático HIV positive: A book
for caregivers (HIV Positivo: um livro para
provedores de cuidados) encontra-se uma
história que pode ser utilizada para
estimular as crianças a pensar sobre
assuntos como as atitudes da
comunidade para com as pessoas com
HIV, os sentimentos das outras pessoas e
a possibilidade de escolher entre um
comportamento caridoso ou um
comportamento cruel.
“Nandi e seus amigos estavam brincando
no parque. Buhle estava sentada
sozinha. Nandi disse às suas amigas:
“Vamos convidar a Buhle para brincar
connosco”. Mas as suas amigas não
queriam brincar com a Buhle. Uma delas
respondeu: “Não, ela é HIV positiva e vai
nos dar SIDA. Tenho medo de brincar
com ela”. Assim, a Buhle foi deixada
sozinha. No caminho da escola para casa
a Nandi caiu e magoou-se no braço. A
Buhle ia a passar perto e viu o que
aconteceu. Ela perguntou: “O que se
passa? Posso te ajudar?”. Ela ajudou a
Nandi a chegar a casa e a mãe da Nandi
ficou-lhe muito agradecida. A seguir, a
mãe levou a Nandi para o posto de
saúde, para verificar se havia lesões
graves no braço. Durante a consulta a
Nandi perguntou ao Médico sobre o HIV.
No dia seguinte a Nandi e a Buhle
andaram juntas a caminho da escola. As
amigas da Nandi estavam chocadas. Elas
10
No Zimbabué, os Clubes das Crianças organizam actividades
desportivas e artísticas para ajudar as crianças a desenvolver relações
com outras crianças nas mesmas faixas etárias. Além disso, os clubes
envolvem a comunidade, para despertar a atenção para o papel da
recreação no desenvolvimento emocional e social das crianças.
Em Moçambique, a organização “Kubatsirana” promove retiros e
passeios com as crianças para que possam estar em contacto com a
natureza e brincar com outras crianças em situações semelhantes. Os
activistas verificam que esta actividade tem um impacto positivo pois
crianças que antes eram tristes tornam-se mais alegres e passam a
expressar seus sentimentos com mais facilidade.
Enfrentar o estigma e a discriminação
As crianças infectadas pelo HIV e as crianças cujas famílias são
afectadas pelo HIV muitas vezes são estigmatizadas e discriminadas.
Isto limita as suas oportunidades de fazerem amizades e torna-as
solitárias e tristes.
Para enfrentar o estigma e a discriminação é recomendável:
•
Discutir com os membros da comunidade por que razão e de que
forma as crianças são estigmatizadas, e os efeitos que isso tem sobre
as crianças.
•
Treinar os trabalhadores comunitários para identificarem sinais de
estigmatização no núcleo familiar e discutir o assunto com a família
ou enviá-la para os serviços de aconselhamento e apoio.
•
Encorajar os líderes comunitários e religiosos, professores e outros
adultos a dar o bom exemplo e envolver as crianças infectadas e
afectadas pelo HIV nos eventos comunitários, como cerimónias,
festivais e actividades recreativas, como jogos e desportos.
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
disseram: “O que estás a fazer na
companhia dessa menina? Como podes
ser amiga dela? Ela vai te fazer adoecer”.
A Nandi respondeu: “A Buhle é uma boa
amiga. Ela ajudou-me quando magoei o
meu braço. Ser amigas não transmite
SIDA. O médico já me explicou. Ele disse
que não é possível transmitir SIDA
comendo juntos, abraçando ou
brincando juntos”.
Depois de contar a história, o facilitador
pode perguntar às crianças como elas
acham que a Buhle se sentia quando
ninguém falava com ela e como as
próprias crianças se sentiriam no lugar da
Buhle. Poderá também perguntar o que
será que o médico disse sobre ser amigos
de alguém com HIV.
No Zimbabué, como parte de seus
serviços ao domicílio, o Island Hospice
fornece aconselhamento e explora com a
família as opções existentes para as
crianças após a morte dos pais. As
crianças participam em sessões de
aconselhamento antes e depois da morte
dos pais, e o serviço organiza também
sessões regulares para grupos de crianças
enlutadas. UNAIDS, 2001.
No Quénia um projecto da World Vision
treina os voluntários nas comunidades a
facilitar grupos de terapia interpessoal,
ou ‘conversas comunitárias’, com
crianças afectadas pelo HIV. A
abordagem leva em conta as práticas
culturais locais e as crenças sobre o HIV,
e promove a busca de soluções locais.
Estas conversas comunitárias têm
ajudado as crianças a se apoiarem
mutuamente e melhorado a
comunicação entre provedores de
cuidados e crianças necessitadas.
Building Blocks Development Group.
•
Trabalhar com pais e professores para enfrentar a estigmatização e a
discriminação pelas outras crianças, pois elas muitas vezes adquirem
as atitudes negativas dos adultos.
•
Envolver crianças na identificação de crianças excluídas e procurar
em conjunto as razões da exclusão. Para o efeito, podem utilizar-se
métodos criativos, como marionetas e teatro, que ajudem as crianças
a entender as razões do estigma e da discriminação e a trabalharem
conjuntamente para identificar formas de incluir as crianças doentes
e afectadas.
4
COMUNICAR COM AS CRIANÇAS E AJUDÁ-LAS A ENFRENTAR
AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
Providenciar aconselhamento para as crianças
O aconselhamento pode ser extremamente útil para as crianças
infectadas e afectadas pelo HIV. O aconselhamento de boa qualidade
ajuda a criança a contar as suas histórias, a fazer escolhas, a
identificar as suas habilidades, a desenvolver uma atitude positiva
sobre a vida e a enfrentar os seus problemas. Pode também ajudá-la
a lidar com medo e ansiedade sobre a sua doença ou doença e morte
no âmbito familiar.
•
Seria recomendável:
Advogar a favor da criação de serviços de aconselhamento para
crianças, incluindo o aconselhamento de crianças antes e depois da
morte dos pais.
•
Desenvolver a capacidade para o aconselhamento das crianças a
nível local, através do treinamento de professores, líderes das igrejas
e voluntários da comunidade
•
Encorajar os programas para crianças órfãs e vulneráveis e os
programas de cuidados domiciliários a treinarem voluntários no
aconselhamento das crianças e a envolvê-las nas sessões de
aconselhamento familiar.
•
Reforçar as formas tradicionais de aconselhamento que já existem na
comunidade e que não precisam de intervenção de profissionais e
agentes externos.
•
Promover abordagens como as de educação de pares e clubes que
vão ao encontro das necessidades de todas as crianças nas
comunidades afectadas pelo HIV.
11
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Pontos a considerar ao falar com as
crianças pequenas
• Escolha um lugar para conversar onde
a criança se sinta à vontade e segura.
• Use palavras simples. As crianças
pequenas precisam ser informadas
que algo não está bem, mas não
precisam de detalhes ou de
informação específica sobre o HIV.
Deixe que a criança absorva a
informação aos poucos. Para começar
poderia dizer-lhe que o pai ou a mãe
não estão bem e deixar que a criança
faça as suas perguntas. Depois fale
sobre a gravidade da doença do pai
ou da mãe num outro momento.
• Se uma criança não quiser falar,
sugira que a conversa possa ocorrer
numa outra altura, ou que a criança
possa falar com outra pessoa. Deixe
claro que ela não tem de conversar se
não quiser.
• Escute e fale à criança quando a
oportunidade se apresentar. Às vezes
as crianças fazem perguntas quando
estão executando uma tarefa com
alguém, como por exemplo, buscar
água.
• Preste atenção ao que a criança diz e
encoraje-a a expressar-se à sua
maneira.
• Responda às perguntas
honestamente. Tente identificar com
antecedência uma forma de lidar com
perguntas difíceis.
• Não demonstre tensão ou
aborrecimento caso a criança
reaja duma forma inesperada, por
exemplo, se parecer despreocupada
com a notícia ou se demonstrar
aborrecimento contra a pessoa
doente.
12
Assuntos a serem considerados no aconselhamento e na
comunicação com crianças
• Nalguns casos, para além das sessões individuais com a
criança, poderá ser necessário estabelecer contacto com um
dos pais ou provedor de cuidados para o aconselhar sobre
como melhor satisfazer as necessidades da criança.
• Ajude a criança a sentir-se segura e à vontade. Procure
conhecer a criança, não somente os problemas que ela tem.
Faça perguntas sobre suas actividades diárias e sobre o que
ela gosta de fazer.
• Lembre-se que as crianças expressam seus sentimentos
através de seu comportamento e não somente com suas
palavras. Os conselheiros podem aprender muito através da
observação da linguagem corporal, das expressões do rosto e
das brincadeiras duma criança; as crianças muitas vezes
representam seus sentimentos ou situações vividas quando
brincam.
• Considere a idade da criança, sua forma de entender e seu
estado emocional, e tente ver a situação do ponto de vista
dela.
• Tenha consciência de que poderá necessitar de uma
abordagem diferente para o aconselhamento e a
comunicação com crianças com necessidades especiais,
inclusive com as crianças que tenham dificuldades de
aprendizagem, de vista e de audição.
• Aceite os sentimentos das crianças e deixe que elas se
expressem como quiserem. Não tente apressar ou
interromper. As crianças podem sentir vergonha e levar
tempo para desenvolver confiança no conselheiro.
• Escute o que a criança tem a dizer, leve-a a sério e dê-lhe
toda a atenção.
• Use métodos apropriados para as crianças mais novas.
Brincar com bonecas, desenhar, fazer jogos, contar histórias
e usar marionetas são maneiras eficazes de ajudar a criança
a expressar seus sentimentos, por exemplo:
- A criança pode identificar-se nas personagens duma
história sem ter que se sentir exposta directamente.
- Peça à criança para contar uma história, por exemplo
sobre uma criança muito doente ou triste, porque pode
ajudar a falar de como a própria criança se sente.
- Use brinquedos como as marionetas para ajudar a
explorar assuntos difíceis, pois a criança pode utilizar o
brinquedo ou a marioneta para contar sua própria
história.
- Respeite as capacidades das crianças de resolverem os
seus problemas.
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Conversar com as crianças sobre doença e morte na família
É importante falar com as crianças sobre as doenças que afectam a
família. As crianças podem estar preocupadas que um dos pais esteja
para morrer, porque já viram outros adultos na comunidade morrer
com a mesma doença. Se um adulto estiver em tratamento
antiretroviral, a sua situação deveria melhorar e será importante
ajudar as crianças a enfrentarem seus medos e tranquilizá-las que
seu pai ou sua mãe irá melhorar. Foi observado na prática que as
crianças são capazes de ajudar os pais a lembrarem-se de tomar os
seus medicamentos.
É importante preparar as crianças e os adultos para a doença e a
morte. Os adultos podem pensar que, não contando o que está
acontecendo, estão a proteger a criança, mas mesmo crianças muito
pequenas têm a capacidade de entender que algo estranho está
ocorrendo. A falta de informação pode criar ansiedade e
perturbação.
Seria recomendável:
•
Explicar aos pais porque é importante preparar as crianças com
antecedência e responder às perguntas que elas colocam.
•
Preparar as crianças antes das suas visitas a um pai ou mãe que
esteja internado no hospital por doença grave ou perto da morte,
pois a experiência pode ser chocante. Não se deve forçar a
criança a permanecer no hospital se estiver angustiada.
Porque preparar a criança para a morte de um dos pais?
• Falar com as crianças com antecedência ajuda-as a
acostumarem-se à ideia e a enfrentar melhor a morte e o
pesar.
• As crianças dão valor à oportunidade de fazer perguntas
sobre como organizar suas vidas futuras e ouvir os últimos
conselhos de seus pais.
• Ter a oportunidade de se despedir é muito importante. Trocar
desejos e bênções pode evitar que mais tarde a criança se
sinta culpada pela morte do pai ou da mãe.
13
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Como é que as crianças reagem à
morte dum dos pais?
Planear o futuro
A preparação para a morte deveria incluir um plano para as crianças,
pois as crianças muitas vezes preocupam-se sobre o que lhes vai
acontecer após a morte de um dos pais.
Reacções comuns incluem:
• Medo, confusão e insegurança (por
exemplo, agarrar-se a algo ou
alguém, medo de ir dormir, pesadelos,
fazer xixi na cama).
• Tristeza, depressão e isolamento.
• Zanga, agressão e birras.
• Sentido de culpa (por exemplo, a
criança sente-se culpada pela morte).
• Negociação e negação (por exemplo,
“Se eu for bom a mamã vai voltar”).
• Regressão (por exemplo, falar como
um bebé ou esperar ser alimentada
em vez de se alimentar sozinha).
• Sintomas físicos (por exemplo, sentirse doente).
As reacções dependem da idade da
criança:
• Até aos 6 meses de idade, os bebés
agarram-se, choram, e podem recusar
serem confortados por outras
pessoas.
• As crianças de 6 meses a 3 anos
apresentam sinais físicos, como
problemas alimentares ou distúrbios
do sono, regressão (por exemplo,
parar de andar quando já o faziam),
hábitos de conforto como chupar o
dedo, chorar e se agarrar. Podem
também ser demasiado tristes ou
quietas.
• As crianças acima dos 3 anos
demonstram o seu pesar através de
sentimentos (por exemplo, sentido de
culpa, medo), comportamentos (por
exemplo, sendo agressivos ou
malandros) e também fisicamente.
14
Seria recomendável:
•
Ajudar os pais a preparar um livro ou uma caixa de memórias
para as crianças.
•
Encorajar os pais a identificar alguém que possa cuidar das crianças
após a sua morte e envolvê-las na escolha de seus futuros tutores.
•
Ajudar os pais a escrever os seus testamentos para que as crianças
não percam a sua herança e indicando a quem as crianças vão ser
confiadas.
•
Aconselhar os pais a tratar de todos os documentos importantes de
que as crianças possam vir a precisar, como as certidões de
nascimento, o testamento e outros papéis legais, incluindo
declarações das estruturas de bairro. As crianças deverão saber
onde se encontram tais documentos e ter acesso aos mesmos.
Sugestões práticas para as famílias incluem:
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
A capacidade das crianças de entender
a morte também depende de sua idade
e capacidade de compreensão:
Caixas ou livros de memórias ajudam os pais a discutir a sua morte
com as crianças e a preservar informações sobre a família e lembranças
da infância. Os pais podem escrever as suas recordações mais queridas
sobre a criança, desenhar a árvore genealógica, dar informações sobre
os familiares, as tradições seguidas pela família e os acontecimentos
importantes; podem escrever uma carta descrevendo seus desejos
especiais e sentimentos pelos filhos e incluir fotografias ou desenhos
que a criança fez. Preparar uma caixa ou um livro de recordações com
uma criança estimula a criança a perguntar sobre seu passado e sobre
os planos para o futuro. Estes instrumentos são especialmente valiosos
para as crianças cujos pais morrem quando elas são ainda muito novas,
pois fornecem informações sobre os pais de que elas não se poderão
lembrar e ajudam-nas a ter um sentido de identidade.
• Crianças de idade inferior aos 2 anos
não entendem o conceito de morte
ou o que aconteceu.
• Crianças de 3-5 anos podem ter
episódios breves, frequentes e
intensos de pesar, embora nos
intervalos entre estes momentos
aparentem não terem sido afectadas.
Elas podem não entender que a
morte não tem volta e muitas vezes
esperam o retorno do pai ou da mãe
que faleceu. Elas podem repetir a
mesma pergunta milhares de vezes.
• As crianças acima dos 5 anos de idade
podem aceitar a ideia que um dos
pais morreu e procurar uma forma de
guardar a pessoa querida em sua
memória (por exemplo, pensando que
o pai ou a mãe estão no céu ou
velando de longe pela criança).
Em Moçambique, uma associação chamada “Vukoxa”, que trabalha no
distrito do Chokwe com pessoas idosas, encoraja as famílias a terem
um livro de memórias onde ficam registadas as principais tradições da
família, como regras de casamento e de falecimento e os bens que a
família dispõe e os últimos desejos dos pais. Nesta região é costume os
homens irem trabalhar nas minas da África do Sul. Muitas vezes
voltam doentes e a viúva e as crianças acabam por ver os seus bens
espoliados pela família do marido. Os activistas e paralegais da
“Vukoxa” têm verificado que, com a existência do livro de memórias,
reduziram-se os casos de famílias que sofreram abusos por parte dos
familiares do marido, e assim os direitos das crianças foram protegidos.
Ajudar as crianças na perda dos pais ou outras pessoas queridas
As familias precisam de saber que o sofrimento afecta as crianças, e
como as ajudar. As crianças são afectadas pela doença e morte e
podem sentir ansiedade, angústia e sofrimento. Sem ajuda, a doença
e a morte dum dos pais podem causar problemas emocionais e
comportamentais durante muito tempo.
Figura 3: Envolver as crianças nos rituais
familiares, como plantar uma árvore em memória
dum ente querido
•
Falar com as crianças sobre a perda dum membro da família e
explicar que os adultos na família também estão tristes, mas que vai
ser preciso aceitar a realidade e buscar formas de aguentar a dor.
•
Explicar que a morte ocorreu por causa duma doença e tranquilizar a
criança assegurando que ela não tem nenhuma culpa do que
aconteceu.
•
Manter uma rotina o mais normal possível, pois isso ajuda a criança
a sentir-se mais segura. Tentar não transferir as crianças para um
novo ambiente.
15
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
No Zimbabué, o Masiye Camp da
Salvation Army (Exército da Salvação)
organiza acampamentos para crianças
afectadas menores de 5 anos e para seus
provedores de cuidados. Usam
actividades recreativas e teatro para
ajudar as crianças a expressar seus
sentimentos e desenvolver habilidades
sociais. O aconselhamento, as discussões
em grupo e o ensino (por ex., sobre os
efeitos do abuso da criança, sobre viver
positivamente com HIV, como cuidar de
crianças doentes, como reforçar as
habilidades de pai/mãe/tutor, e sobre
como preparar um livro de memórias)
ajudam os provedores de cuidados a
entender as necessidades das crianças e
fornecer cuidados e apoio apropriado
para crianças infectadas pelo HIV
(UNAIDS, 2001).
Também no Zimbabué, a iniciativa Young
People We Care (Somos Jovens
Provedores de Cuidados) encoraja os
jovens da comunidade a dar apoio
prático e emocional às crianças
pequenas, inclusive ajuda com os
trabalhos escolares e com actividades
recreativas.
JSI UK Zimbabué.
•
Assegurar que a criança se sinta segura e amada, cuidando dela,
dando-lhe atenção e carinho duma forma constante.
•
Envolver as crianças nas cerimónias familiares – pois isso ajuda-as a
sentir que não estão sozinhas no seu pesar – mas não obrigar as
crianças a tomar parte nos funerais se não quiserem ou se tiverem
medo. As crianças poderiam ser encorajadas a terem sua própria
cerimónia para o membro da família que morreu, ou a plantar uma
árvore, ou a fazer um jardim em memória da pessoa.
•
Quando tiverem de sair de casa por algum tempo, os adultos devem
explicar às crianças aonde vão e o que vão fazer, e deixar as crianças
com alguém que elas já conheçam bem.
•
Aceitar as reacções e os comportamentos das crianças. Tentar ser
paciente e não se aborrecer se uma criança não obedecer, fizer birras,
fizer xixi na cama ou se comportar como um bebé.
•
Confortar a criança quando ela for para a cama ou acordar no meio
da noite.
•
Deixar que a criança expresse seus sentimentos. Falar com ela sobre a
perda e sobre a pessoa que morreu. Ajudar a criança a guardar
recordações dos momentos felizes que passou com os pais. Responder
a quaisquer perguntas que ela tenha sobre os pais falecidos.
5
DESENVOLVER RESILIÊNCIA
Por resiliência entende-se a capacidade de enfrentar e superar as
dificuldades da vida de forma a sair fortalecido pela experiência
adquirida. Uma criança resiliente acredita que pode lidar com um
O que torna uma criança resiliente?
• O que a criança tem – ‘Eu tenho’ – a criança tem mais probabilidades de ser resiliente se tiver por perto pessoas
que a amam e que estabeleçam limites para prevenir que a criança se ponha em perigo ou em situações
problemáticas; que lhe dão o exemplo de bom comportamento, que a encorajam a tornar-se independente e a
elogiam ao demonstrar iniciativa; e que a apoiam quando precisa de acesso aos serviços públicos e sociais.
• Quem a criança é –‘Eu sou’ – a criança tem mais probabilidades de ser resiliente se tiver um sentido de quem
ela é, se sentir que os outros podem gostar dela e amá-la; se puder fazer algo para os outros; se se sentir orgulhosa
de si mesma; se tomar responsabilidade por suas acções e se pensar que no futuro as coisas vão correr bem.
• O que a criança pode fazer ‘Eu posso’ – uma criança tem mais possibilidade de ser resiliente se puder conversar
com os outros sobre suas preocupações e se puder resolver seus problemas; se controlar seus sentimentos, entender
como os outros se sentem e estabelecer relações: e se encontrar alguém que a ajude quando ela precisar.
16
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Na Tanzânia, a HUMULIZA treina ONGs
e professores na identificação dos
problemas e na comunicação com as
crianças; também organiza o
aconselhamento entre pares para
permitir que as crianças compartilhem
suas experiências e se apoiem
mutuamente. Sessões semanais em grupo
ajudam as crianças a sentir que não
estão sozinhas com seus problemas e a
enfrentar melhor seus sentimentos de
isolamento. As sessões começam pedindo
a cada criança que conte algo
importante que lhe aconteceu durante a
semana. São usados teatro e marionetas
para ajudar as crianças a falarem de seus
problemas. Jogos, canções e actividades
são utilizados para desenvolver a autoestima.
acontecimento difícil porque tem algum poder sobre sua vida. Uma
família carinhosa oferece o melhor ambiente para o desenvolvimento
de resiliência na criança. O apoio emocional e social da família, das
outras crianças e dos vizinhos é de importância vital para que a
criança aprenda a lidar com as adversidades.
O Mothers Support Group (Grupo de
Apoio das Mães) na Nigéria organiza
clubes e acampamentos para as crianças.
Nestes lugares seguros as crianças podem
pensar nos seus problemas e elaborar
soluções, com o apoio de adultos
carinhosos. www.healthlink.org.uk
Os projectos da CCATH (Child-Centred Approaches to HIV and
AIDS) no Quénia e Uganda desenvolvem a resiliência das
crianças através do desenvolvimento de suas capacidades de
enfrentar as dificuldades, facilitando a comunicação entre pais
e filhos, promovendo a elaboração de livros de memórias,
estabelecendo clubes de crianças e apoiando crianças mais
crescidas a dar apoio emocional às crianças mais novas.
No Ruanda, a CARE International apoia
a Nkundabana Initiative for Psychosocial
Support (Iniciativa da Nkundabana para
o Apoio Psicossocial), no treinamento de
600 tutores (Nkundabana) na tarefa de
substitutos dos pais para 3000 famílias
chefiadas por crianças. O seu objectivo é
ir ao encontro das necessidades
emocionais e psicossociais dessas
crianças. Os tutores seleccionados a nível
da comunidade devem ser aprovados
pelas crianças.
REPSSI.
Por isso, as organizações locais precisam trabalhar também com toda
a comunidade no desenvolvimento da resiliência das crianças.
Fazer um livro do herói, onde a criança escreve e faz desenhos
e onde ela própria é a personagem principal, é um processo
que tem por objectivo reforçar a resiliência da criança. A
criança conta sua história com palavras e desenhos e, no papel
de ‘herói’, é ajudada a sentir que ela própria tem algum
controle dos problemas e dos desafios da sua vida. Porém,
resolver problemas não é somente responsabilidade da criança e
os livros de heróis salientam a necessidade de sensibilizar a
comunidade no apoio às crianças. Morgan, 2004.
O manual prático HIV positive: A book for caregivers inclui
jogos e actividades para desenvolver a autoconfiança das
crianças. No Jogo de Roda, o facilitador pede que as crianças se
sentem num círculo e a seguir que cada criança diga algo de
bom sobre si própria. A seguir, as crianças devem dizer algo de
bom sobre a criança ao seu lado. Isto leva a uma discussão
sobre o facto de que cada pessoa tem potenciais e qualidades,
todas são diferentes, mas todas são igualmente valiosas.
Media in Education Trust.
6
PROMOVER A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS
Por muito nova que seja a criança, é importante descobrir o que ela
pensa e o que é importante para ela, antes de se decidir como a
ajudar. Somente a própria criança pode descrever sua situação e
dizer como se sente.
A participação das crianças poderá não só assegurar que as
actividades sejam apropriadas às suas necessidades, mas também
melhorar o seu bem-estar psicossocial e desenvolver a sua resiliência.
17
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
Porque é importante a participação das
crianças?
• A participação envolve as crianças na
tomada de decisões sobre assuntos
que as afectam.
• Participação significa trabalhar com
as crianças em vez de trabalhar para
elas.
• A participação reconhece os
conhecimentos e as habilidades das
crianças e constrói a partir dessa
base.
• A participação desenvolve as
habilidades e a confiança das
crianças.
• A participação ajuda as crianças a
aprenderem sobre cooperação e
responsabilidade social.
• A participação ajuda as crianças a
obterem apoio de seus pares.
Para trabalhar com crianças é preciso:
• Aprender a escutar as crianças, dar
tempo para as conhecer e ganhar sua
confiança.
• Utilizar actividades divertidas, fazer
vários tipos de jogos para as envolver.
• Descobrir o que é importante para as
crianças em vez de impor o plano dos
adultos.
• Assegurar-se que a criança saiba o
que o envolvimento dela significa.
• Ser realístico sobre a quantidade de
tempo que a criança tem para
participar.
• Proteger a confidencialidade das
crianças infectadas pelo HIV.
• Estimular as crianças a participarem
em grupos de apoio de pares como
os clubes.
18
No Malawi, o programa STEPS efectuou uma pesquisa que
indica que as crianças pequenas infectadas e as crianças
afectadas pelo HIV tinham ideias muito claras sobre quem elas
preferiam que cuidasse delas após a morte dum dos pais. As
mesmas crianças queriam fazer novas amizades e conviver com
outras crianças, mas não tinham oportunidades para o fazer e
achavam que os adultos não entendiam a importância da
amizade entre crianças.
As ferramentas participativas utilizadas pela CCATH para
investigar a situação das crianças incluem:
• Mapas de comunicação – as crianças desenham-se a si
próprias e desenham as pessoas importantes nas suas vidas.
Dependendo do grau de importância de cada pessoa, a criança
pode desenhar até três linhas de ligação entre si própria e a
pessoa, e explicar quais são os assuntos de conversa com esta
pessoa. Este jogo permite identificar as relações significativas
das crianças, quem lhes dá apoio e a quem elas apoiam.
• O rio da vida – as crianças desenham um rio e dentro dele
suas vidas, desde o nascimento até cinco anos no futuro. O rio
corre para cima quando as coisas correm bem e para baixo em
tempos de dificuldade. Isto fornece indicações sobre os
problemas das crianças.
• Feliz e triste – as crianças desenham o que as torna felizes e
o que as entristece. Isso fornece indicações quanto ao ambiente
social da criança, inclusive sobre a exclusão das crianças
afectadas ou positivas, e sobre os comportamentos dos adultos
para com as crianças.
• Árvore da vida – as crianças desenham uma árvore que
representa vários aspectos de suas vidas: terra – lugar de
origem; raízes – antepassados, informação sobre antecedentes
culturais ou étnicos; tronco – pessoas, lugares e acontecimentos
que influenciaram suas vidas quando mais novas; ramos –
pessoas, lugares e acontecimentos que influenciam actualmente
as suas vidas; frutas – o que torna suas vidas bonitas
presentemente; insectos/pragas – problemas e desafios; folhas
no chão – perdas e dificuldades em suas vidas. Isto ajuda as
crianças a entenderem-se a si próprias e a entenderem mais
especificamente suas forças e fraquezas.
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
•
irmão
amiga
Figura 4: Mapa de Comunicaçâo
mãe
irmã
Seria recomendável:
Compartilhar com a comunidade as informações (adquiridas através
destas actividades) sobre as necessidades e as prioridades das
crianças.
•
Sensibilizar os líderes e os comités da comunidade sobre o valor da
participação das crianças e encorajá-los a envolverem as crianças
duma forma significativa.
•
Desenvolver a confiança e as habilidades das crianças para que elas
tomem parte nas discussões dos adultos, ou facilitar encontros
separados para crianças, onde elas possam expressar suas ideias e
identificar alguém que possa apresentar essas ideias aos líderes da
comunidade.
Assegurar uma protecção reforçada para as crianças
Em muitas comunidades, a infecção pelo HIV continua a ser
percebida como uma doença que traz vergonha e mesmo como uma
punição infligida a um indivíduo ou família. Os seus modos de
transmissão ainda insuficientemente conhecidos provocam medos
injustificados de ser contaminado ao ter contacto com pessoas
seropositivas. Assim, as crianças com HIV/SIDA ou afectadas podem
ser rejeitadas ou isoladas e por consequência terem os seus direitos
essenciais violados, por ex., o direito à vida, ao registo, à educação, à
saúde e a participação nas decisões que as afectam.
Embora o espírito de várias convenções e declarações incluam a
protecção das crianças vivendo com HIV ou afectadas, estas nem
sempre são respeitadas, mesmo nos países onde estão ratificadas há
muito tempo. Uma vez que estas não são conhecidas pelas
comunidades, a falta de uma tradição de recorrer à justiça pública, a
precariedade social das famílias afectadas pelo HIV e o medo da
quebra do segredo da seropositividade impedem as crianças e suas
famílias de beneficiar realmente da protecção teoricamente
garantida pelos textos legislativos. Por isso o respeito aos Direitos
Humanos tem que ser uma preocupação sistemática dentro de todas
as intervenções que dizem respeito às crianças vivendo com HIV ou
afectadas.
As seguintes estratégias podem contribuir muito:
Promover um quadro favorável ao apoio jurídico, tanto ao nível
institucional como comunitário: os textos legislativos têm de ser
divulgados dentro de formatos acessíveis e culturalmente aceitáveis
para as comunidades; as estruturas de base comunitárias, os líderes
religiosos e temporais, as escolas e as instituições que lutam
localmente para a protecção dos Direitos Humanos têm que jogar um
papel importante.
19
SECÇÃO 1
Princípios e estratégias
20
•
Fornecer um apoio às famílias mais pobres e vulneráveis, e não
somente às que são afectadas pelo HIV: os programas de apoio têm
de ser dirigidos às crianças consideradas mais vulneráveis pela
comunidade, e que precisam de uma atenção prioritária. Este tipo de
abordagem valida o apoio às crianças dentro das famílias afectadas
pelo HIV, mas também assegura a protecção de todas as crianças
vulneráveis e ajuda a prevenção da estigmatização.
•
Ajudar as famílias e as crianças a fazerem face à estigmatização e à
discriminação: dar apoio aos pares, ao envolvimento dos lideres de
opinião na advocacia pelo respeito dos Direitos das Crianças e se for
necessário apoio jurídico.
•
Estabelecer alianças e contactos formais entre estruturas
responsáveis pelo apoio médico e social às crianças vivendo com HIV
ou afectadas e as estruturas públicas ou associativas de protecção
aos Direitos Humanos.
Cuidados e tratamentos para crianças
pequenas com HIV
SECÇÃO 2
Questões
A maior parte das crianças infectadas
pelo HIV são infectadas mediante
transmissão de mãe para filho. As
maneiras mais eficazes para prevenir essa
transmissão são: prevenir a infecção nas
mulheres e assegurar que as mulheres
que são HIV positivo tenham acesso a
intervenções que previnem a transmissão
de mãe para criança (PTMC).
É importante também assegurar que os
pais de crianças infectadas pelo HIV
recebam cuidados e tratamento
adequado, pois as probabilidades de as
crianças serem bem cuidadas aumentam
quando os pais estão em condições de
cuidar delas.
1
COMO É QUE AS CRIANÇAS SÃO INFECTADAS PELO HIV?
Os bebés e as crianças pequenas podem ser infectados pelo HIV de três
formas principais: mediante transmissão do vírus da mãe infectada
para o bebé durante a gravidez, o nascimento ou a amamentação;
através de transfusões de sangue infectado, ou mediante o uso de
agulhas e seringas não esterilizadas; e ainda se a criança for abusada
sexualmente por uma pessoa infectada.
Numa clínica em Moçambique, uma médica deparou-se com o
seguinte caso:
“Desde o primeiro ano de vida, um paciente mostrou sinais e
sintomas que me fizeram pensar numa tuberculose pulmonar, e
depois de ver os resultados dos exames radiológicos e
hematológicos, ele foi assim diagnosticado. Os pais procuraram
uma segunda opinião médica, que infelizmente não considerou
tratar-se desta patologia, e a criança fez apenas tratamento
antibiótico. Como continuou piorando, voltou à nossa consulta
um ano depois, e iniciámos imediatamente o tratamento
específico para Tuberculose. Mas a criança não mostrava a
melhoria que seria de desejar. Supusemos que uma das causas
fosse a demora no início do tratamento. Como sabíamos que
ambos os pais eram HIV negativos, a ideia de a criança ser
seropositiva estava em princípio fora de questão.
Mas, por o estado da saúde da criança continuar a piorar
apesar do tratamento adequado que estava a receber, decidimos
fazer o teste do HIV, e deu positivo. Voltámos a repetir o teste
do HIV dos pais e eles eram definitivamente negativos.
Tentámos então fazer uma análise retrospectiva dos primeiros
anos do paciente, e observámos dos factos que poderiam
explicar a infecção iatrogénica que, na altura do nascimento,
teve que passar umas horas no berçário por problemas
perinatais, e que noutra ocasião foi ao Hospital por um quadro
respiratório obstrutivo, durante o qual recebeu soro com
medicamentos broncodilatadores.
Não podemos saber ao certo quando o miúdo foi infectado, mas
sabemos que a infecção pelo HIV lhe foi inoculada por algum
procedimento clínico feito nos primeiros meses de vida.
21
SECÇÃO 2
Questões
2
COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO DO HIV NAS CRIANÇAS PEQUENAS?
Até há pouco tempo tempo atrás era difícil reconhecer ou
diagnosticar a presença do HIV em bebés muito novos. O teste
diagnóstico mais usado em África não era de confiança nas crianças
abaixo dos 18 meses, porque detectava a presença de anticorpos
contra o HIV e não o próprio vírus. As crianças até essa idade porém
podiam ter anticorpos contra o vírus, transmitidos da mãe para o bebé,
mas não estar infectadas pelo HIV. Esta situação está mudando e
muitos países estão promovendo e difundindo a utilização de testes
que detectam o próprio vírus ou seus componentes, e que permitem
fazer-se o diagnóstico imediato dos bebés.
3
COMO É QUE A INFECÇÃO PELO HIV AFECTA A SAÚDE DAS CRIANÇAS?
As crianças infectadas pelo HIV podem adoecer das doenças comuns
que afectam qualquer criança, mas no seu caso estas doenças são
muitas vezes mais graves e podem não responder bem ao tratamento
convencional. A pneumonia, a malária e a falta de crescimento são
problemas sérios nas crianças infectadas pelo HIV.
As crianças infectadas pelo HIV estão também expostas às infecções
oportunistas, pois o HIV reduz a capacidade do organismo de lutar
contra as infecções, e o risco de contrair a tuberculose (TB) é muito
elevado. As crianças que vivem em casas onde haja um adulto com TB
– doença que frequentemente afecta os indivíduos positivos ao HIV –
estão em risco de contrair a TB. Sem tratamento, a taxa de
mortalidade por TB é muito elevada nas crianças pequenas.
22
SECÇÃO 2
Questões
4
O QUE SE PODE FAZER PARA AJUDAR AS CRIANÇAS
INFECTADAS PELO HIV?
As crianças infectadas pelo HIV podem continuar saudáveis e viver por
muitos anos se a infecção do HIV for detectada cedo e se receberem
bons cuidados, tratamento e apoio. O tratamento com medicamentos
antiretrovirais (TARV) previne doenças e morte das crianças e permite
que estas tenham uma vida saudável e feliz. Mas é importante
salientar que o tratamento antiretroviral por si só não é suficiente
para tal, se as condições de saneamento e nutrição e o ambiente geral
em casa não forem adequados.
23
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Princípios
• Promover o teste de HIV para todas
as mulheres grávidas
• Aconselhar mulheres grávidas sobre
prevenção da transmissão do HIV de
mãe para criança (PTMC)
• Detectar a infecção do HIV tão cedo
quanto possível
• Promover o acesso ao tratamento e
ajudar as crianças a tomarem os
medicamentos antiretrovirais
• Ajudar as crianças a manterem-se
saudáveis
• Providenciar boa nutrição
• Cuidar das doenças comuns
• Providenciar cuidados e apoio para
as crianças que estejam gravemente
doentes e próximo da morte
• Ajudar os provedores de cuidados a
enfrentar o medo e as preocupações
com a morte
Esta secção descreve os princípios e as estratégias que as organizações
podem usar para apoiar as comunidades e as famílias a ajudar as
crianças infectadas pelo HIV a permanecerem saudáveis.
1
PROMOVER O TESTE DE HIV PARA TODAS AS MULHERES GRÁVIDAS
Identificar o estado serológico das mulheres grávidas permite, nos
casos positivos, fazer um tratamento que pode salvar a vida da
criança. Se não se conhecer o estado serológico com antecedência a
criança poderá morrer ou passar grande parte de sua vida doente.
2
ACONSELHAR AS MULHERES GRÁVIDAS SOBRE A PREVENÇÃO DA
TRANSMISSÃO DO HIV DE MÃE PARA CRIANÇA
Sem intervenção preventiva da transmissão do HIV de mãe para
criança (PTMC), um em cada três bebés de mães positivas será
infectado. Existem porém intervenções que podem reduzir duma
forma significativa o risco de transmissão de mãe para filho. Estas
intervenções incluem: a profilaxia (tomar um medicamento para evitar
a ocorrência duma infecção) com medicamentos antiretrovirais (TARV)
para a mãe durante a gravidez e para o bebé ao nascer; a cirurgia
cesariana evitando o parto natural; e a alimentação artificial para o
bebé, evitando a amamentação.
Os bebés só poderão beneficiar da profilaxia antiretroviral caso as
mães conheçam o seu estado de HIV e tenham acesso a serviços que
administrem antiretrovirais. As cesarianas e a alimentação artificial
não são acessíveis à maioria das mães nos países mais pobres, por
causa de seus custos e pelos riscos para a mãe e a criança (veja abaixo
Providenciar boa nutrição para mais informações sobre alimentação
dos bebés).
Os tratamentos e cuidados de PTMC por si sós não são suficientes.
Também é importante providenciar terapia ARV a prazo ilimitado para
as mães, para que elas continuem saudáveis e possam cuidar de seus
bebés e de suas crianças. Os serviços que oferecem profilaxia TARV
deveriam também oferecer terapia ARV a longo prazo para as mães
positivas ou enviá-las para serviços que ofereçam este tipo de
tratamento.
Seria também recomendável:
•
24
Educar as comunidades sobre a prevenção da infecção pelo HIV nas
mulheres durante a gravidez.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
•
Oferecer às comunidades informações básicas sobre a importância dos
testes para detectar o HIV nas mulheres grávidas e seus parceiros, e
indicar onde os casais possam encontrar serviços de aconselhamento e
testagem voluntária.
•
Promover a consciencialização das comunidades sobre as intervenções
que podem prevenir a transmissão do HIV de mãe para criança,
especialmente a profilaxia TARV, e informar a comunidade sobre a
existência de programas e centros que oferecem serviços de PTMC.
3
DETECTAR A INFECÇÃO DO HIV O MAIS CEDO POSSÍVEL
Melhorar o diagnóstico de crianças infectadas pelo HIV
É importante diagnosticar as crianças infectadas pelo HIV para que
elas possam receber os cuidados apropriados e passem a beneficiar do
tratamento antiretroviral que poderá salvar as suas vidas.
Seria recomendável:
•
Dar informações simples e claras às comunidades sobre a importância
do diagnóstico das crianças infectadas pelo HIV e sobre os cuidados e
o tratamento apropriados para estas crianças.
•
Treinar os responsáveis e os voluntários dos programas para crianças
órfãs e vulneráveis em cuidados domiciliários e de TB, na identificação
de crianças em risco da infecção por HIV (por exemplo, crianças em
famílias onde existe um adulto seropositivo ou com TB), e de crianças
que apresentam sinais e sintomas de infecção por HIV.
•
Assegurar que os trabalhadores comunitários saibam aconselhar as
famílias sobre a importância de procurar o diagnóstico e indicar onde
a criança possa fazer o teste do HIV.
Apoiar as famílias na decisão de fazer o teste
de HIV nas suas crianças
Descobrir que uma criança tem HIV ajudará a família a receber
aconselhamento sobre como manter a criança saudável, sobre o acesso
aos serviços de tratamento e sobre a possibilidade de receber apoio de
outras pessoas que se encontram na mesma situação.
Seria recomendável:
•
Advogar a favor de serviços de aconselhamento familiar e serviços de
testagem adequados a crianças, que ofereçam aconselhamento antes e
25
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
As histórias são uma forma apropriada
de lidar com o medo que as crianças
têm das análises de sangue. Esta
história foi adaptada de HIV positive:
A book for caregivers. Siyabonga precisa
fazer uma análise de sangue na clínica.
Ele tem muito medo. A enfermeira
explica o que vai fazer para lhe tirar o
medo.
Siyabonga: Tenho medo.
Enfermeira: Todos têm medo de coisas
novas mas não é preciso
preocupar-se por uma
análise de sangue. Eu já fiz
muitas destas análises e sei
que tudo vai correr bem.
Siyabonga: O que é que a senhora
enfermeira está a fazer
agora?
Enfermeira: Estou a limpar um
pedacinho da tua pele para
não permitir que os germes
entrem. Vou enfiar esta
agulhinha na tua veia.
Poderás sentir uma
picadela. Aqui está o
sangue na seringa. Agora
tenho o sangue que
precisamos. Não foi tão
mau, foi?
Siyabonga: Foi mais ou menos. Só
senti uma picadela, mas
agora já não sinto nada.
Como é que o sangue vai
parar?
Enfermeira: Vou por um pouco de
algodão no ponto onde
piquei e este adesivo para
segurar o algodão. Quando
chegares a casa podes tirar
o adesivo e o sangue já
terá parado de sair.
Siyabonga: Posso mostrar a picada aos
meus amigos?
26
depois dos testes, e ajudem a família a tomar uma decisão ponderada
e entender as implicações da testagem duma criança. Os factores que
a família precisa considerar são:
• Se o resultado for positivo, haverá possibilidade de a criança ter
acesso à profilaxia com cotrimoxazol (ver página 32 Dar profilaxia
com cotrimoxazol) e à terapia antiretroviral?
• Os pais conhecem o seu próprio estado quanto ao HIV? Se forem
positivos, querem falar sobre isso? Se não o conhecem, estão
preparados para serem testados?
• Se o diagnóstico for positivo, há risco de a criança ser
negligenciada ou discriminada ou de a família ser objecto de
estigma e discriminação?
•
Dar conselhos práticos à família sobre o que é oportuno dizer à
criança que vai fazer o teste. As crianças que tenham idade suficiente
para entender precisam ser informadas com antecedência que um
pouco de sangue será tirado e que isso poderá doer um pouco (um
exemplo é apresentado no quadro à esquerda).
•
Explicar que um dos pais ou o tutor deverão dar seu consentimento
antes que a criança faça o teste e que seria importante obter o
consentimento da própria criança, se ela tiver idade para entender o
que está acontecendo.
•
Ajudar as famílias a entrar em contacto com grupos de apoio onde
seja possível discutir as suas ansiedades sobre o teste e sobre a forma
de revelar os resultados a outras pessoas, e trocar ideias sobre suas
experiências.
Ajudar as famílias a decidir quando e como contar a uma criança
Se o resultado do teste da criança pequena for positivo, a família
deverá decidir quando e como lhe contar. Tal informação nunca
deveria ser dada forçosamente a uma criança que não esteja pronta
para recebê-la. Não existe uma idade ideal para uma criança vir a
conhecer o seu estado quanto ao HIV. O momento certo depende da
idade da criança, da sua maturidade e da sua capacidade de entender
as coisas.
O revelar à criança que ela é HIV positivo deveria ocorrer
progressivamente. As crianças pequenas podem ser informadas usando
palavras muito simples, explicando que elas têm uma doença crónica,
mas sem mencionar o HIV. Com o passar do tempo, quando a criança
desenvolver a faculdade de entender melhor e de encarar as
consequências da sua situação, ela poderá receber mais informações.
Seria recomendável:
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Enfermeira: Claro. Deixa o
algodãozinho e o adesivo
até à hora de mostrares aos
teus amigos. Foste um
menino muito bom e
corajoso. Parabéns.
Logo que chegou a casa, Siyabonga
correu para mostrar a picadela aos seus
amigos. Ele contou que a enfermeira
disse que ele foi um menino muito mas
muito corajoso. Ele sentiu-se muito
orgulhoso.
Media in Education Trust.
Em Moçambique a associação de
pessoas vivendo com HIV, “Tinhena”,
utiliza 15 cartazes elaborados pelos
Médicos Sem Fronteiras de Luxemburgo,
que ajudam a comunicar melhor com a
criança e de uma forma lúdica e assim
facilita a compreensão sobre a
transmissão e o desenvolvimento da
doença. A maioria dos cartazes tem
ilustrações que mostram como o sistema
imunológico do corpo humano
funciona, e assim as crianças podem
entender melhor a importância de
tomar o medicamento na dose e hora
correcta.
•
Explicar à família que seria melhor que fosse um dos pais ou alguém
em quem a criança confie a dar-lhe a informação, e aconselhar esta
pessoa sobre a maneira de informar a criança com muito cuidado e
sensibilidade.
•
Enviar a família para o serviço de aconselhamento ou para um grupo
de apoio onde ela possa ter conselhos sobre o que dizer e quando
informar a criança.
•
Encorajar a pessoa a falar com a criança a dar toda a informação
necessária da forma mais honesta possível.
•
Enviar a criança para o aconselhamento, se esse serviço existir, ou
organizar grupos de apoio de pares ou clubes onde ela possa
compartilhar seus sentimentos e problemas com outras crianças na
mesma situação.
4
PROMOVER O ACESSO AO TRATAMENTO E AJUDAR AS CRIANÇAS A
TOMAREM OS MEDICAMENTOS ANTIRETROVIRAIS
Difundir a informação e sensibilizar as famílias sobre o tratamento
As famílias precisam saber que a terapia ARV pode prevenir a morte e
as doenças relacionadas com o HIV nas crianças. As crianças infectadas
pelo HIV deveriam ter acesso aos medicamentos ARV como parte dum
pacote de serviços de saúde e nutrição.
Seria recomendável:
•
Informar as famílias, a escola, os líderes e as organizações
comunitárias sobre o tratamento, os serviços que oferecem tratamento
e a importância de iniciar o TARV o quanto antes.
•
Apoiar as famílias, a escola, os líderes e as organizações comunitárias a
fazer advocacia por um maior acesso aos medicamentos TARV para
crianças infectadas pelo HIV.
•
Promover os contactos entre as famílias, a escola, os líderes e as
organizações comunitárias e os serviços que oferecem TARV. Os
comités específicos para HIV/SIDA e crianças, os programas de
cuidados domiciliários e os comités para crianças órfãs e vulneráveis
podem desempenhar um papel importante no encaminhamento das
crianças infectadas pelo HIV para os serviços de tratamento.
•
Explicar às famílias quando e porque o tratamento deve começar e
explicar quais os medicamentos utilizados.
27
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Segundo um estudo efectuado na África
do Sul, os factores que mais dificultam o
cumprimento do tratamento nas crianças
são os seguintes: o pessoal de saúde dar
informação incorrecta ou inadequada às
famílias; o número elevado ou troca
frequente de provedores de cuidados; os
problemas com o sistema de
refrigeração; as dificuldades na leitura
dos rótulos dos medicamentos, na
abertura das cápsulas e de misturar os
medicamentos na comida ou na água; o
deixar cair as garrafas e derramar seus
conteúdos, e compartilhar os
medicamentos entre diferentes pessoas
na família.
Population Council and UCT, 2005.
No Malawi, os provedores de cuidados
tiveram problemas semelhantes. Por
exemplo, as avós disseram que tinham
dificuldades em abrir e esmagar os
comprimidos dos adultos para poder dar
as doses correctas às crianças.
MSF, 2005.
Em Moçambique, as organizações
“Tinhena”, “Kubatsirana” e o Centro de
Saúde do Polana Caniço encontram
problemas semelhantes e verificam maior
dificuldade quando os provedores são
avós que precisam de cuidados elas
mesmas e/ou não sabem ler e escrever.
Para tentar ultrapassar este problema a
“Tinhena” realiza encontros semestrais
com os chamados “confidentes”, que são
as pessoas encarregadas de ajudar a
pessoa em tratamento a cumprir com
ele.
Em Moçambique, educadores e
psicólogos afectos ao Centro de
Reabilitação Infantil do Chokwe (CRIC),
e apoiados pela ONG “Dor Sem
Fronteiras”, atendem regularmente as
crianças que estão em tratamento com
antiretrovirais providenciados pelo
Hospital Carmelo e que frequentam
diariamente aquele Centro aberto. Aqui
28
•
Avisar as famílias que outros medicamentos das farmácias, das lojas ou
dos médicos tradicionais podem interferir com os medicamentos
antiretrovirais; por isso, antes de dar outros medicamentos às crianças é
importante consultar os profissionais de saúde para saber se é
aconselhável tomar esse medicamento adicional.
•
Alertar as famílias para que nunca partilhem os medicamentos
antiretrovirais dos adultos com as crianças.
Ajudar as crianças a cumprirem o seu tratamento
Cumprir o tratamento significa tomar os medicamentos como indicado,
isto é: da forma correcta, na dose correcta e à hora certa. As famílias
precisam saber que a eficácia dos antiretrovirais depende da criança
tomar seu medicamento na quantidade certa e à hora certa. Dar o
medicamento em dose menor que a dose indicada não vai sortir efeito e
vai criar resistência ao medicamento. Dar mais que o necessário vai fazer
mal à criança.
É importante salientar que a dose deveria ser tomada no máximo dentro
de 30 minutos da hora marcada – e nunca se deveria esquecer de tomar
nenhuma dose. As famílias precisam de informação e apoio para superar
os problemas que podem surgir na administração dos medicamentos,
como por exemplo o número de comprimidos que devem ser tomados, o
sabor amargo do remédio e seus efeitos colaterais.
Os provedores de cuidados podem incentivar as crianças a cumprir
com o tratamento tomando a responsabilidade de supervisar e
encorajar as crianças sempre que elas tenham que tomar o remédio.
Sugestões práticas incluem:
Dar à criança uma explicação clara e apropriada para sua idade e
esclarecer porque é preciso que ela tome o medicamento todos os dias
e à mesma hora.
Organizar os horários de tomar os medicamentos de forma compatível
com as actividades diárias do provedor de cuidados e da criança.
As crianças acham mais simples ter uma rotina que permita tomar os
medicamentos à mesma hora e da mesma forma todos os dias.
Identificar formas de se lembrar do horário de tomar o medicamento.
Por exemplo, colocar um calendário ou uma lista num lugar visível e
depois da criança ter tomado o medicamento fazer um sinal na lista
para confirmar que já se cumpriu com a dose nesse dia. Usar um
despertador ou um marcador de tempo para não se esquecer e não
atrasar com a administração do medicamento.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
os educadores reforçam com actividades
lúdicas e ocupacionais a socialização
dessas crianças com outras que
espontaneamente vêm brincar no CRIC, a
aprendizagem de habilidades práticas e
de conhecimentos escolares e incentivam
as manifestações dos seus sentimentos
através do teatro e de contos de
histórias. Este trabalho tem tido como
resultados positivos a reconquista da
auto-estima e auto-valorização, a perda
gradual do negativismo. Faz parte das
visitas ensinar as crianças a partir dos
sete anos a tomar os medicamentos na
hora certa e na dose certa. Formas
simples de auto-controle da toma dos
medicamentos são ensinadas
individualmente e em grupo, de modo a
estimular a ajuda mútua e a
solidariedade entre as crianças. Por
exemplo, amarrando no pulso um cordão
de cor semelhante ao do medicamento
que costuma ser mais esquecido, ou a
hora de tomar medicamento mais
esquecida, para lembrar que tem de
tomar determinado remédio numa certa
hora; e ensinam a dosagem correcta
através de jogos tradicionais com
pedrinhas.
Para assegurar que o tratamento seja
cumprido de maneira correcta, a Clínica
Pediátrica Baylor, na Suazilândia, que
atende crianças infectadas pelo HIV,
exige nas sessões de aconselhamento a
presença de uma pessoa capaz de fazer o
acompanhamento do tratamento da
criança, para o caso de o provedor de
cuidados não ser capaz de o fazer.
Com o apoio da Save the Children, a ONG Health Alert trabalha
no distrito de Gulu, no norte do Uganda, para promover o acesso
aos cuidados e ao tratamento das crianças infectadas pelo HIV e
para promover o apoio às crianças que já recebem tratamento
TARV e profilaxia com cotrimoxazol. As actividades específicas
incluem: estabelecer contactos entre as comunidades e os
serviços de saúde; despertar atenção quanto à importância das
crianças fazerem o teste de HIV e de tratar as crianças que
precisam; informar as famílias sobre os medicamentos TARVs e
sua administração para as crianças e como lidar com os efeitos
colaterais; treinar as crianças como educadoras de pares para
adesão ao tratamento; apoiar as crianças infectadas pelo HIV a
comunicar suas necessidades a um público mais vasto através de
programas na rádio e estabelecer grupos de apoio de pares e
clubes de crianças sem que sejam necessariamente HIV positivas;
Este projecto tem mostrado que aumentar o acesso ao
tratamento e tratar as crianças com TARV em casa são ambas
actividades possíveis em situações pobres em recursos. As
comunidades compreenderam melhor a importância da testagem
e do tratamento para as crianças, e os pais e as crianças
ganharam consciência da importância de tomarem os
medicamentos. Os grupos de apoio de pares têm sido muito
eficazes em ajudar os pais a contarem a seus filhos que têm HIV,
em estimular as crianças a cumprirem com seu tratamento e em
reduzir o nível de estigma que afectava as crianças infectadas
pelo HIV. Building Blocks Development Group.
•
Colocar medicamentos diferentes em frascos de cores diferentes para
evitar confundi-los.
•
Utilizar uma chávena marcada ou uma colher de medidas para medir a
quantidade certa de xarope.
•
Separar os medicamentos em doses semanais para poder controlar no
fim de cada semana se todas as doses foram tomadas.
•
Dizer à criança com antecedência que o medicamento poderá ter mau
sabor, mas explicar que o sabor não vai permanecer muito tempo na
boca e que o remédio vai ajudá-la a manter-se saudável.
•
Inventar uma história ou uma canção para a hora do remédio para
distrair a criança do mau sabor.
29
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Na África do Sul, os conselheiros
infantis usam adesivos para ajudar as
crianças a entender porque precisam
tomar os medicamentos.
“Vuli, tens um germe no teu sangue.
Se tomares os medicamentos cada dia
na dose certa vais te sentir bem. Vamos
utilizar estes adesivos coloridos para te
mostrar o que acontece:
• Os adesivos vermelhos são o sangue
(pôr muitos adesivos vermelhos na
mesa limpa). O teu sangue tem
soldados que te protegem das
doenças.
• O germe quer atacar os soldados e
enfraquecê-los. Os adesivos pretos
são o germe (pôr alguns adesivos
pretos na mesa. Pode acrescentar
mais para mostrar que o vírus se
reproduz).
• O remédio ajuda os soldados do teu
corpo a tornarem-se mais fortes (pôr
alguns adesivos verdes na mesa).
• Quando tomas o teu remédio, ajudas
os soldados a lutar contra o germe
(tirar os adesivos pretos aos poucos).
• Quando esqueces de tomar o teu
remédio os adesivos pretos atacam
rapidamente os soldados no teu
sangue e começas a sentir-te doente
(tirar adesivos verdes e acrescentar
mais adesivos pretos)”.
Durante esta explicação a criança pode
fazer perguntas e o conselheiro
explicará à criança e provedores de
cuidados como se podem lembrar da
hora certa para tomar os remédios.
Building Blocks Development Group.
30
•
Dar um pedacinho de gelo para a criança chupar antes de tomar o
remédio. O gelo ajuda a adormecer a boca e normalmente as crianças
gostam de gelo. Pode ser gelo simples ou “gelinho” (receita caseira em
vários sabores, vendida nos bairros por muitas famílias para aumentar
o rendimento familiar e muito apreciado pelas crianças).
•
Misturar o medicamento com pequenas quantidades de leite ou sumo,
se a criança se recusar a tomar sua dose, e a seguir dar algo que possa
tirar o sabor rapidamente.
•
Dar água, leite ou sumo para ajudar a criança a engolir os
comprimidos e as cápsulas.
•
Assegurar-se que a criança engoliu a sua dose, e envolver as crianças
mais velhas na administração do seu próprio tratamento, de forma a
responsabilizá-las sobre a gestão da sua doença.
•
Dar sumo de limão ou chá de gengibre se o remédio causar náusea, ou
uma dose de paracetamol se causar dor de cabeça (ver abaixo os
efeitos colaterais).
•
Elogiar a criança por ter tomado o remédio cada vez que isso
acontecer.
•
Conversar com outras famílias sobre as estratégias que utilizam para
ajudar as suas crianças a tomarem os medicamentos e se possível
verificar se há outras crianças tomando os mesmos medicamentos. Às
vezes pode ser útil que uma criança veja outras tomando os remédios
e dando o bom exemplo.
Figura 5: Uso da colher de medida para dar
o medicamento na dose certa
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Algumas das ferramentas desenvolvidas
pela MSF na Tailândia para ajudar a
cumprir com o tratamento nas crianças
incluem: histórias de fadas e bonecos
utilizados para explicar como o vírus se
desenvolve no corpo e como tomando o
remédio esse desenvolvimento pode ser
travado; um calendário de parede com o
plano semanal dos horários dos remédios
com as várias doses por cada manhã e
cada noite preparadas em saquinhos
presos no lugar do dia e da hora certa;
uma caixinha de remédios com forma
dum pequeno prédio e os medicamentos
de cada dia num andar diferente; e um
cartão com vários adesivos que explica
quando deve tomar os medicamentos, e
onde cada medicamento é representado
por um adesivo diferente. A MSF convida
as crianças e seus provedores de
cuidados a participar nas reuniões a cada
3 meses para conversar com outras
pessoas sobre seus problemas (Ponnet,
2002). No Malawi, a MSF utiliza diários,
calendários e histórias de saúde para
ajudar as crianças infectadas pelo HIV a
tomarem seus medicamentos.
MSF, 2005.
Monitorar o progresso e procurar os sinais dos efeitos colaterais
Os profissionais de saúde podem monitorar a resposta à TARV
controlando as mudanças de peso e altura das crianças e a
frequência das infecções. Os provedores de cuidados deveriam:
•
Registar se a criança come bem e com que frequência ela adoece.
•
Perguntar aos profissionais de saúde sobre os efeitos colaterais e
como enfrentá-los.
Efeitos colaterais da terapia TARV
Os efeitos colaterais são os efeitos indesejáveis dos
medicamentos. A maior parte das crianças que fazem TARV
apresenta pequenos efeitos colaterais, mas estes são apenas
temporários. Os efeitos colaterais mais comuns incluem:
náusea, diarreia, dor de cabeça, alergias e distúrbios do sono.
Mais raramente as crianças podem ter efeitos colaterais sérios.
Estes incluem: dor aguda do estômago, anemia, olhos
amarelos, irritação da pele, cansaço e falta de ar. Embora raro,
um efeito colateral perigoso é uma doença chamada de
Stevens-Johnson e neste caso a criança deve parar o
tratamento imediatamente pois corre sério risco de morte.
Stevens-Johnson é uma forma grave de erupção cutânea e
pode provocar bolhas grandes na boca, na garganta, na pele,
em volta do ânus ou órgãos genitais e até nos olhos. Estas
bolhas podem rachar e provocar muita dor. A inflamação dos
olhos pode deixar cicatrizes e até provocar cegueira.
As crianças que têm qualquer um destes últimos sintomas
devem ser levadas para o hospital ou posto de saúde
imediatamente.
31
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
A profilaxia com cotrimoxazol para as
crianças infectadas pelo HIV
Segundo uma pesquisa na Zâmbia, a
profilaxia com cotrimoxazol nas
crianças infectadas pelo HIV reduziu as
mortes em 43% e os internamentos no
hospital em 23%. Outras pesquisas na
África indicam que a profilaxia com
cotrimoxazol pode reduzir as mortes
entre 25% e 46% e reduzir os episódios
de diarreia e malária nas crianças
infectadas pelo HIV.
Chintu et al, 2004; Mermin et al,
2004; 2005.
5
Fazer a profilaxia com cotrimoxazol
O cotrimoxazol é um medicamento barato e fácil de se encontrar. A
palavra profilaxia significa dar um medicamento para prevenir uma
doença. A profilaxia com cotrimoxazol ajuda as crianças infectadas
pelo HIV a manterem-se saudáveis. Uma dose diária de cotrimoxazol
previne as infecções como a malária e a diarreia e a pneumonia
pneumocystis carinii (PCP), que é uma forma grave de pneumonia que
provoca muitas mortes nas crianças infectadas pelo HIV.
Seria recomendável:
•
Consciencializar a comunidade sobre os benefícios da profilaxia com
cotrimoxazol para as crianças infectadas pelo HIV.
•
Encorajar os programas de cuidados domiciliários a identificar crianças
que poderiam beneficiar da profilaxia com cotrimoxazol.
•
Pressionar os serviços de saúde para que as crianças tenham acesso
gratuito à profilaxia com cotrimoxazol.
•
Aconselhar as famílias dando informações básicas sobre as doses
certas diárias para suas crianças.
A profilaxia com cotrimoxazol deveria
ser administrada a:
• Todos os bebés de mães HIV positivas
a partir de 6 semanas de idade até se
poder confirmar que a criança não
esteja infectada (15-18 meses após
seu nascimento) e quando não
houver mais risco de infecção (a
criança já não seja amamentada pela
mãe).
• Todos bebés e crianças confirmados
como HIV positivos, com ou sem os
sintomas da doença.
32
AJUDAR AS CRIANÇAS A MANTEREM-SE SAUDÁVEIS
Assegurar que as crianças infectadas pelo HIV sejam vacinadas
As vacinas protegem as crianças das doenças da infância que podem
ser prevenidas. Nas crianças infectadas pelo HIV as vacinas são mais
importantes ainda, pois estas crianças são mais vulneráveis às
infecções do que as outras crianças. Por isso seria recomendável:
•
Explicar às famílias a importância das vacinas para as crianças
infectadas pelo HIV.
•
Visitar os postos de saúde na área e pedir informações sobre os dias
em que as crianças são vacinadas; encorajar as famílias a levarem as
crianças infectadas pelo HIV e as crianças em risco de contrair o HIV
para serem vacinadas.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Vacinas para as crianças infectadas
pelo HIV
As recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS) são:
• As crianças com suspeita de infecção
pelo HIV, ou com HIV mas sem
sintomas, deveriam ser vacinadas
como todas as outras crianças.
• As crianças com suspeita de infecção
pelo HIV, ou com HIV e com sintomas
de doenças relacionadas com o HIV,
deveriam receber todas as vacinas da
infância, a não ser a vacina da febre
amarela, e deveriam ser vacinadas
com a forma injectável da vacina da
poliomielite e não com as gotinhas
orais.
• Todos os bebés HIV positivos ou
expostos à infecção pelo HIV (filhos
de mães positivas, mas cujo estado
quanto ao HIV não é conhecido), com
ou sem sintomas do HIV, deveriam ser
vacinados contra o sarampo aos 6
meses de idade, além da dose normal
dessa vacina aos 9 meses de idade.
•
Aconselhar as famílias a manterem os cartões de vacinas das crianças
num lugar seguro e encorajar os pais no estágio avançado da doença a
passar os cartões de vacina à pessoa que vai tomar conta das crianças
após sua morte.
•
Assegurar que os trabalhadores de saúde conheçam as vantagens da
vacinação para as crianças infectadas pelo HIV (veja quadro à
esquerda).
Dar suplementos de vitamina A
Os suplementos de vitamina A reduzem o risco de doenças e morte em
todas as crianças, e também nas crianças infectadas pelo HIV. A
vitamina A protege contra a diarreia e as infecções respiratórias,
previne as doenças graves da vista e a cegueira e ajuda o crescimento
das crianças. Por isso seria recomendável:
•
Dar às famílias informações simples sobre a importância dos
suplementos de vitamina A para as crianças infectadas pelo HIV e
ajudá-las a ter acesso aos serviços que ofereçam os suplementos
vitamínicos.
•
Pressionar os serviços de saúde para oferecerem suplementos de
vitamina A para as crianças pequenas.
As recomendações para a vacina BCG
(que previne a tuberculose) dependem da
prevalência da TB num país (e também
das políticas nacionais):
• Em países onde a prevalência de TB é
elevada (onde os benefícios da vacina
são maiores do que seus riscos), a
vacina BCG deveria ser aplicada a
todas as crianças (inclusive as
crianças infectadas pelo HIV) a não
ser as crianças com sintomas de
doenças relacionadas com o HIV.
• Nos países onde a prevalência de TB é
baixa, a vacina BCG deve ser aplicada
a todas as crianças, a não ser as
crianças infectadas pelo HIV e com
sintomas de doenças relacionadas
com o HIV.
33
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Em Moçambique, a organização
“Kubatsirana” distribui redes
mosquiteiras para crianças órfãs e
vulneráveis. A rede mosquiteira já vem
incluída no projecto de construção de
casa para crianças órfãs e vulneráveis.
O Centro de Saúde do Polana Caniço,
em conjunto com a Comunidade de
Santo Egídio, distribui redes mosquiteiras
para as mulheres grávidas e crianças
menores de 5 anos.
Proteger as crianças da malária e da tuberculose
As crianças infectadas pelo HIV correm mais riscos de contrair a
malária. É muito importante proteger as crianças infectadas pelo HIV
das picadas de mosquito. Dormir debaixo da rede mosquiteira tratada
com insecticida reduz para a metade a probabilidade duma criança ter
malária. As crianças infectadas pelo HIV correm um risco maior de ter
TB se viverem numa casa onde haja um adulto com TB.
É recomendável:
•
Aconselhar a família para que todas as crianças durmam protegidas
por uma rede mosquiteira tratada com insecticida, e procurar saber
onde as famílias podem obter redes tratadas gratuitas ou subsidiadas.
Normalmente estas redes são distribuídas pelos programas nacionais
de malária.
•
Estabelecer contactos entre a família e os programas de tuberculose na
comunidade e assegurar que os serviços de diagnóstico, prevenção e
tratamento da tuberculose sejam oferecidos a crianças e adultos.
Figura 6: Dormir debaixo da rede mosquiteira tratada com insecticida
ajuda a prevenir a malária
34
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Boas práticas de higiene
Para prevenir a diarreia:
• As crianças devem lavar as mãos
com sabão, areia ou cinzas depois de
irem à casa de banho e antes de
comer ou de preparar comida.
• Os adultos também devem lavar as
mãos com sabão, areia ou cinzas
antes de preparar a comida e depois
de utilizar a casa de banho, de trocar
lençóis, roupas ou fraldas.
• Manter as unhas das crianças curtas
e limpas.
• Manter as áreas onde as crianças
brincam livres de fezes de animais.
• Conservar a comida em recipientes
limpos e cobertos
• Reaquecer bem a comida para matar
todos os germes e evitar conservar a
comida já preparada por mais de 24
horas.
• Despejar as fezes do bebé na latrina
porque são muito contagiosas.
Para prevenir as infecções da pele, dos
olhos e da boca:
• Dar banho às crianças todos os dias.
• Lavar regularmente as roupas, os
lençóis e os cobertores.
• Limpar regularmente as camas, os
colchões e os ambientes onde as
crianças dormem.
• Ajudar as crianças pequenas com a
higiene da boca e mostrar às
crianças mais velhas como manter a
boca e os dentes limpos.
Promover o uso de água potável e a higiene
As crianças infectadas pelo HIV correm mais riscos de ter diarreia do
que as outras crianças. O uso de água potável e uma boa higiene
ajudam a proteger estas crianças dos germes que causam a diarreia.
Por isso é recomendável:
•
Aconselhar a família a utilizar água potável para beber e preparar
alimentos; a conservar água em recipientes limpos e cobertos; a ferver
a água para beber e preparar alimentos caso não haja uma fonte de
água potável perto de casa; ou a usar métodos simples de purificação
da água se não for possível fervê-la. Um método simples para
purificação da água utilizado pelas organizações comunitárias, é o de
colocar bidões ou garrafas transparentes limpas, com água filtrada, ao
sol durante 24 horas, ou então utilizar filtros de areia.
•
Dar informações básicas à família sobre as boas práticas higiénicas que
podem prevenir a diarreia e outras infecções (veja quadro à esquerda).
•
Apoiar os esforços da comunidade para melhorar o acesso à água
limpa, também pressionando o governo local e entrando em contacto
com os programas de água.
Levar as crianças para controlos regulares
Os controlos regulares para as crianças infectadas pelo HIV deveriam
incluir controlar o peso, ver se o cartão de vacinas está em dia, avaliar
o estado nutricional e verificar se elas receberam suplementos de
vitamina A. Os profissionais de saúde deveriam também controlar os
marcos de desenvolvimento das crianças e controlar a sua vista e
audição. Seria recomendável:
•
Encorajar a família a levar as crianças infectadas pelo HIV para
controlos frequentes.
•
Verificar que os trabalhadores de saúde tenham conhecimento das
medidas preventivas para ajudar as crianças infectadas pelo HIV a
manter-se em boa saúde.
•
Encorajar os serviços de saúde a criar ambientes de tratamento que
sejam agradáveis e adequados para as crianças.
•
Identificar voluntários na comunidade que levem as crianças
infectadas pelo HIV para o controle quando os pais estiverem
demasiado doentes para se deslocarem às consultas, e treinar estes
voluntários para que seu apoio seja eficaz e de boa qualidade.
35
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
As mulheres com HIV e a alimentação
dos bebés
6
Promover a alimentação segura para os bebés
As famílias e as mulheres com HIV precisam saber como alimentar os
bebés de maneira a reduzir o risco de transmissão do HIV e assegurar
que as crianças tenham a melhor nutrição possível. No quadro à
esquerda estão resumidas as recomendações da Política de
Alimentação Infantil em Moçambique.
Recomenda-se:
• A prática do aleitamento materno
exclusivo (leite materno apenas, sem
dar outros líquidos nem alimentos,
nem mesmo água ou sumo) nos
primeiros 6 meses de vida, e uma
rápida transição para alimentação
substituta. Isto caso a alimentação
substituta não seja aceitável, viável,
possível de pagar, sustentável e segura
(AVASS). Desta forma, o bebé recebe os
benefícios da amamentação. A
amamentação exclusiva tem menor
risco de transmissão do HIV que a
alimentação mista.
• A alimentação substituta (com
fórmula ou leite animal), em vez da
amamentação, se ela for aceitável,
viável, possível de pagar, sustentável e
segura (AVASS). Este método de
alimentar não tem o risco de
transmissão do HIV, mas também não
oferece os benefícios protectores da
amamentação.
• Não dar alimentação mista, isto é,
não combinar a amamentação com
nenhum outro alimento, pois o risco da
transmissão do HIV, da malnutrição e da
diarreia é muito maior do que
praticando a amamentação exclusiva.
• Aos 6 meses, cessar a
amamentação completamente (ver
quadro à esquerda). Introduzir então
um a um os diferentes alimentos da
família, começando com as papinhas e
purés. A partir dos 9 meses o bebé já
pode comer a maioria dos alimentos e
aos 12 meses a maioria das crianças é
capaz de comer os mesmos alimentos
que o resto da família.
OMS, UNICEF e ONUSIDA, 2005.
36
PROVIDENCIAR BOA NUTRIÇÃO
Seria recomendável:
•
Dar informações práticas às famílias sobre o HIV e a alimentação dos
bebés.
•
Encaminhar as mulheres positivas para o Programa de Transmissão
Vertical (PTV).
•
Encorajar as mulheres positivas que estejam amamentando seus
bebés a cuidar bem dos seus seios e a procurar ajuda caso os
mamilos se rachem, pois isso aumenta o risco de transmissão do HIV.
•
Dar apoio às mães positivas quanto à alimentação segura para seus
bebés, qualquer que seja a opção alimentar que elas escolherem.
Como cessar completamente a amamentação em apenas
alguns dias
• No 1º dia, ensine o seu bebé a beber o leite extraído do seio
de uma chávena.
• No 2º dia, poderá substituir uma das mamadas pela chávena.
No 3º dia substitua mais uma mamada pela chávena. Repita
até que o bebé tome todas as mamadas da chávena ao fim
de uns dias.
• Gradualmente substitua o leite materno por leite animal
modificado ou fórmula.
• Pare de pôr o bebé no seio logo que ele se tenha
acostumado a beber pela chávena.
• Continue a extrair leite do seio para evitar o inchaço e
deite-o fora.
• Não recomece a amamentar uma vez que tenha parado.
Adaptado dos panfletos da OMS sobre conselhos para a
alimentação do bebé.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Consciencializar sobre a subnutrição e sua prevenção
As crianças pequenas com HIV correm alto risco de subnutrição.
Embora a subnutrição nas crianças infectadas pelo HIV possa ser
tratada com bons cuidados e alimentação no hospital ou mesmo em
casa, estas crianças levam mais tempo para se recuperar do que as
crianças não infectadas.
Porque é que o risco de subnutrição é
mais elevado nas crianças infectadas
pelo HIV?
• As crianças infectadas pelo HIV
precisam de mais comida do que as
crianças da mesma idade não
infectadas porque seu corpo precisa
de mais energia para lutar contra a
infecção.
• As crianças infectadas pelo HIV
podem não receber comida suficiente
porque seus pais são demasiado
pobres ou doentes para comprar ou
cultivar alimentos ou não têm o
tempo e a energia necessários para
preparar a comida e dar de comer às
crianças.
• As crianças muito pequenas que não
são ajudadas durante as refeições, ou
que têm que competir com outras
crianças pela mesma comida, podem
acabar não se alimentando
suficientemente.
• As doenças relacionadas com o HIV,
como a diarreia e as feridas/úlceras
na boca, causam perda de apetite e
dificultam a alimentação.
• As crianças pequenas precisam de
vegetais e de frutas que contêm
substâncias importantes como o zinco
e a vitamina A, mas certas crianças
são alimentadas somente com
papinhas de arroz ou pão, que não
têm essas substâncias (micro
nutrientes).
Figura 7: Assegurar que as crianças
pequenas sejam bem alimentadas
Seria recomendável:
•
Aconselhar sobre uma boa alimentação para as crianças infectadas
pelo HIV.
•
Encorajar a família a ajudar as crianças mais novas a alimentarem-se
e a supervisá-las durante as refeições para assegurar que elas
comam.
•
Dar conselhos práticos sobre a alimentação das crianças doentes
(ver página 38).
•
Aconselhar a família sobre os cuidados a ter com crianças que
tenham feridas na boca e a procurar ajuda para crianças que não se
alimentem bem ou apresentem sinais de mal nutrição.
37
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
• Comidas energéticas – milho, arroz,
amendoim, coco, papinhas de cereais,
mandioca, inhame, batata doce,
banana e pão. As gorduras animais e
os óleos vegetais são fontes de
energia concentrada.
• Comidas que constroem o
corpo – leite, feijão, peixe, castanhas,
galinha e outras carnes, fígado e
ervilhas.
• Comidas protectoras – os vegetais,
principalmente os de cor verde
escura, e as frutas amarelas ou cor de
laranja como tomate, cenoura e
manga.
Os bebés não precisam receber todos
estes alimentos ao mesmo tempo, mas
devem receber cada dia alguns alimentos
com energia, alguns que ajudem no
crescimento e alguns que tenham
vitaminas para os ajudarem a crescer
saudáveis.
38
•
Encorajar as famílias a alimentarem as crianças frequentemente, com
alimentos ricos em substâncias energéticas e nutritivas para tratar a
subnutrição. As crianças devem ser levadas frequentemente ao
controle médico.
•
Apoiar os programas de alimentação nas escolinhas ou nos centros
para crianças organizados pela comunidade.
Aconselhar sobre boa nutrição
A boa nutrição ajuda a criança infectada pelo HIV a crescer e a
manter-se saudável. As crianças bem alimentadas têm menos
infecções e têm menos probabilidades de contraírem doenças
relacionadas com o HIV. Elas precisam duma dieta que inclua
comidas energéticas, comidas que constroem o corpo e que
protegem contras as doenças. Estas crianças precisam de maior
quantidades de comida do que as crianças que não têm HIV.
Por isso seria recomendável:
•
Explicar à família como escolher uma boa dieta para as crianças
pequenas com HIV, baseada em alimentos que sejam disponíveis
localmente. A partir dos 6 meses e até aos dois anos, as crianças
devem ser alimentadas com comidas complementares: além do leite
animal e das papinhas de milho, batata-doce, arroz e outros cereais,
deve introduzir-se a mesma comida que a família come. Aos dois
anos as crianças já deverão comer todos os alimentos da família.
•
Indicar formas de tornar mais nutritivas as comidas complementares
e as comidas que a família come. Acrescentar óleo ou margarina
dará energia, adicionar ovos, leite, feijão passado ou amendoim dará
proteínas para construir o corpo da criança, e acrescentar vegetais
de folha verde ou frutas passadas dará vitaminas e minerais.
•
Explicar que as crianças infectadas pelo HIV precisam comer uma
variedade de comidas e comer mais frequentemente que as outras
crianças e os adultos. Dê somente conselhos que sejam práticos e
que a família possa implementar. Aconselhar que ofereçam comida
às crianças mesmo fora do horário das refeições, como por exemplo
bananas, que não precisam ser cozinhadas.
•
Encorajar a família a utilizar comidas locais, baratas e fáceis de
preparar, e apoiar as famílias e as comunidades a cultivar uma
variedade de produtos nutritivos.
•
Encaminhar as famílias mais necessitadas para os programas de
assistência alimentar.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Prestar atenção especial à alimentação das crianças doentes
Assegurar que as crianças comam, mesmo quando estão doentes ou
perderam o apetite, ajuda a prevenir a subnutrição e facilita a
recuperação mais rápida da saúde. Por isso é recomendável
aconselhar as famílias que:
Papa de Farinha de Milho Fermentada
(para uma criança)
Ingredientes:
/2 chávena de farinha de milho
1 a 2 colheres de açúcar (mel, fruta ou
cana doce)
1 colherinha de óleo
1
Modo de Preparar
• Misturar a farinha de milho com um
pouco de água limpa, deixar durante
1 a 2 dias a temperatura ambiente,
num recipiente com tampa.
• Depois cozinhar a farinha durante
uns 5 minutos.
• Uma vez cozida, juntar açúcar, mel
ou banana à papa.
Também se pode juntar a esta papa
2 colheres de amendoim ou castanha
torrada e pilada, ou feijão cozido e
passado, com um pouco de óleo.
A Speak for the Child organizou um
curso para tutores que têm ajudado os
provedores de cuidados a identificar
maneiras práticas de melhorar a
nutrição das crianças. Isso inclui por
exemplo: servir a comida das crianças
pequenas em pratos individuais, para
que elas não precisem competir com as
outras crianças para comer, alimentar as
crianças mais frequentemente e plantar
hortaliças entre os pés de milho para ter
uma dieta mais variada.
AED e USAID.
•
Continuem a alimentar uma criança doente e a encorajá-la a comer.
•
Sejam pacientes, pois alimentar uma criança doente leva tempo.
•
Dêem de comer quantidades pequenas, mas frequentemente, e
escolham alimentos de que a criança goste e que sejam fáceis de
comer.
•
Dêem sumo de limão ou chá de gengibre diluído se a criança estiver
com náusea, e iogurte e papinha fermentada se a criança tiver
feridas na boca.
•
Segurem a criança em posição adequada para comer caso ela esteja
fraca demais para se sentar sozinha, e usem uma chávena ou colher
para a alimentar se ela não conseguir alimentar-se sozinha.
•
Evitem dar alimentos muito temperados ou gordurosos, pois estes
provocam náusea.
•
Depois de a doença passar, tentem dar pelo menos uma refeição a
mais por dia, para ajudar a criança a se recuperar e a recuperar peso.
39
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Na Suazilândia os voluntários das
comunidades cuidam das crianças em
idade pré-escolar nos ‘Centros de
cuidados da área’. O seu objectivo é
melhorar a saúde e a nutrição, dar
apoio psicológico e dar possibilidade às
outras crianças na família de irem à
escola. A UNICEF fornece panelas e o
Programa Mundial de Alimentação
fornece uma mistura de milho e soja.
UNICEF, 2003
A CCATH utiliza a abordagem da
criança-para-criança para melhorar a
nutrição. As crianças aprendem sobre a
importância duma boa nutrição para as
pessoas com doenças relacionadas com
o HIV, e sobre comidas locais que fazem
bem às pessoas doentes e que ajudam
as crianças pequenas a comer (site
Internet da Healthlink Worldwide).
Em Moçambique, a associação
“Reencontro” tem actividades de
geração de rendimento como criação de
frangos e produção de ovos. Uma parte
da produção dos ovos é distribuída para
as famílias com crianças doentes.
A “Kubatsirana” promove hortas
familiares e plantio de árvores de fruto
para que cada família tenha acesso a
hortícolas e frutas em seu próprio
quintal. “Kubatsirana” apoia as famílias
distribuindo sementes, instrumentos
agrícolas e ensinando técnicas de
plantio.
A organização “Tinhena” tem obtido
sucesso na recuperação de doentes com
a papinha fermentada de milho,
utilizando frutas disponíveis localmente
como banana, manga e papaia. Ver no
quadro abaixo uma receita de papa
fermentada.
40
7
CUIDAR DAS DOENÇAS COMUNS
Como cuidar bem das crianças em casa
As famílias precisam saber o que podem fazer em casa para cuidar
das crianças infectadas pelo HIV quando elas estiverem doentes.
Alguns conselhos práticos para cuidar em casa das doenças mais
comuns incluem:
Febre - Dar muitos líquidos para beber (por exemplo, água ou sumos
de fruta) para prevenir a desidratação, e paracetamol para baixar a
febre.
Diarreia - Dar muitos líquidos para beber e prevenir a desidratação.
Líquidos apropriados são: soro de rehidratação oral (SRO), água de
arroz e sopa de cenoura. Os líquidos devem ser dados devagar, com
um copinho ou uma colher. Dar também alimentos ricos em potássio,
como espinafre, banana e água de coco. Os remédios da farmácia
não são adequados para tratar a maior parte das diarreias nas
crianças.
Constipação - Dar líquidos mornos para aliviar a dor de garganta.
Limpar o nariz bloqueado com um paninho embebido em água
salgada para amolecer as secreções. O pano e a água devem estar
bem limpos.
Problemas da pele - Verificar se há áreas irritadas, inflamações da
pele, bolhas ou abcessos doloridos, tinha, que são mais frequentes
nas crianças infectadas pelo HIV. Tentar evitar que a criança se coce,
pois isso pode levar a infecção. Manter a pele limpa dando banho à
criança uma vez por dia com água morna e sabão. Manter a pele
seca durante o dia. Se a pele estiver muito seca, lavar a criança com
menos frequência e aplicar vaselina ou óleo de coco. Evitar óleos
perfumados ou sabonetes, pois estes irritam a pele. Tratar as áreas
com herpes (irritação dolorosa com bolhas pequenas) com loção de
calamina (loção que pode ser comprada sem receita médica nas
farmácias) duas vezes ao dia para acalmar as irritações, e dar
paracetamol para tratar a dor.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Em Moçambique, a “Kubatsirana”
promove hortas medicinais familiares o
que ajuda as famílias a terem seus
próprios medicamentos no quintal e
ajuda a melhorar a ligação entre as
gerações pois nesta actividade as
pessoas mais velhas e as crianças
colaboram intimamente. Os mais velhos
transmitem o conhecimento acumulado
sobre as plantas e as crianças aprendem
as técnicas de plantio e a utilidade de
cada planta.
Feridas na boca
• Limpar a boca delicadamente com água morna salgada e com um
paninho limpo ou com algodão depois das refeições ou pelo
menos quatro vezes ao dia (dissolver meia colherzinha de sal num
copo de água fervida e deixar arrefecer).
• Mostrar às crianças mais crescidas como bochechar com a
água salgada.
• Dar líquidos, como leite, iogurte e sumos de fruta e comidas
passadas ou moles, que sejam fáceis de mastigar e engolir.
• Evitar comidas muito temperadas ou salgadas e frutas ácidas
como laranja e limão, que podem piorar a situação.
• Confortar a criança, pois ter feridas na boca é doloroso e
angustiante.
• Se a criança tem cândida (manchinhas brancas) e feridas, escovar
a língua e as mucosas da boca com uma escovinha macia várias
vezes ao dia e lavar com água salgada.
• Passar vaselina líquida, para as feridas não secarem e racharem,
o que causa muita dor.
Saber quando é preciso levar a criança à consulta médica
Aconselhe a família a levar a criança imediatamente para a consulta
caso ela esteja com um ou mais destes sintomas:
• Febre durante mais de 3 dias.
• Rigidez do pescoço ou convulsões (crises como de epilepsia).
• Tonturas (dificuldade de se manter acordada) ou irritabilidade.
• Dificuldade de respirar ou respiração mais frequente do normal.
• Problemas para engolir ou beber.
• Cuspo com sangue ou que cheira mal.
• Diarreia persistente muito grave ou sangue nas fezes.
• Sarampo.
• Infecção do ouvido ou pus a sair pelo ouvido.
41
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Aprender a dar os remédios às crianças
As crianças infectadas pelo HIV precisam tomar correctamente os
medicamentos receitados. Alguns conselhos práticos para ajudar as
crianças a tomar seus medicamentos são:
Quais são os sinais de dor nas crianças?
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Colocar os remédios líquidos na boca da criança com um
conta-gotas ou usando uma colher e dando o remédio lentamente.
•
Esmagar os comprimidos e mistura-los com mel de abelha ou um
pouco de papinha para que seja mais fácil tomá-los.
•
Avisar a criança que o remédio não tem bom sabor.
•
Manter a calma se a criança cuspir o remédio ou vomitar. Se isso
acontecer dentro de 20 minutos depois de dar o remédio, esperar um
pouco e tentar dar de novo e na mesma dosagem.
•
Elogiar a criança após esta ter tomado o remédio.
8
PROVIDENCIAR CUIDADOS E APOIO PARA CRIANÇAS QUE ESTEJAM
GRAVEMENTE DOENTES OU PRÓXIMO DA MORTE
Choro
Irritabilidade
Distúrbios do sono
Testa franzida
Agitação e recusa a ficar parada
Apatia
Falta de apetite
Falta de interesse em brincar
Revirar os olhos
Esfregar partes do corpo
42
Aliviar a dor
A dor é um sintoma comum nas crianças infectadas pelo HIV que
estejam muito doentes ou próximo da morte e provoca muita
angústia nas crianças e nas pessoas que cuidam delas. Nenhuma
criança deveria sofrer com dor e as famílias precisam de ajuda na
identificação e no tratamento da dor.
É importante:
•
Acreditar na criança quando ela se queixar de dor, e perguntar onde
é que ela sente dor.
•
Procurar sinais de dor numa criança pequena que não saiba explicar
sozinha.
•
Usar uma Escala com Rostos (veja quadro à esquerda) para
quantificar a dor, pois muitas crianças não sabem explicar com suas
palavras a intensidade da dor.
•
Dar remédios para aliviar e controlar a dor.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Qual é a intensidade da dor?
A Escala dos Rostos de Wong-Baker
apresenta seis rostos diferentes. O rosto 0
é um rosto feliz e significa que não há
dor. O rosto 6 é muito triste e significa
que a dor é terrível. A intensidade da dor
entre o rosto feliz e o rosto muito triste é
representada pelos rostos de 1 a 5, em
escala de menor para maior dor. Este
instrumento é utilizado para crianças de
3 anos em diante. Para utilizar a escala,
indicar os rostos e explicar o que cada
um deles significa. A seguir perguntar à
criança qual dos rostos indica melhor
como a criança se sente.
A Escala de Expressões
de Wong-Baker
0
Sem dor
1
Só dói um bocadinho
2
Dói um pouco
3
Dói um pouco mais
4
5
Se a criança estiver com uma dor de intensidade média
Dê paracetamol ou ibuprofen (analgésicos). É importante dar a dose
certa de analgésico à criança. Nunca dê aspirina porque nas crianças
pequenas ela pode provocar efeitos colaterais sérios (chamados
Sindroma de Reye). Os analgésicos deveriam ser dados antes da dor
se tornar insuportável, na frequência que o pessoal de saúde receitar
(paracetamol de 4 em 4 horas e ibuprofen cada 6-8 horas), e até a
dor desaparecer.
Se a dor não melhorar ou for aguda
Leve a criança ao posto de saúde, pois é possível que ela esteja a
precisar de analgésicos mais fortes. Não administre doses maiores ou
mais doses de paracetamol ou ibuprofen.
Alguns conselhos práticos para ajudar as crianças com dores incluem:
•
Permanecer com a criança, pois estar sozinho ou amedrontado torna
a dor mais difícil de aguentar.
•
Segurar ou embalar a criança, acarinhá-la ou massajá-la levemente.
•
Aplicar pachos frios na zona dolorida.
•
Falar com a criança e pedir para que ela imagine o seu lugar
preferido ou algo que a faça feliz.
•
Encorajar a criança a respirar profundamente.
Dói muito
Ajudar as crianças a encarar a doença e o internamento no hospital
As crianças que sabem que têm HIV podem ficar muito preocupadas
quando adoecem e precisam de apoio para enfrentar a sua doença.
Mesmo que não tenham sido informadas que têm HIV, as crianças
podem se aperceber que são de alguma forma diferentes de outras
crianças. As crianças que estejam muito doentes podem precisar de
ser internadas no hospital, o que pode ser uma experiência
traumática, especialmente se tiverem que ficar separadas dos seus
familiares mais próximos.
Dói muito mesmo
Em: Wong, DL, Hockenberry-Eaton M, Wison D,
Wilkinstein ML, Schwartz P: Wong’s Essentials of
Pediatric Nursing, ed. 6, St Louis, 2001, p.1301.
Copyrighted by Mosby, Inc. Publicado com
autorização.
É recomendável:
•
Aconselhar as crianças infectadas pelo HIV e ajudá-las a desenvolver
a sua resiliência.
•
Ajudar as crianças a enfrentar o internamento hospitalar.
43
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Como ajudar as crianças a enfrentar o
internamento
• Preparar a criança antes de a levar ao
hospital e explicar o que vai
acontecer.
• Levar um objecto preferido da
criança, um brinquedo ou uma
capulana, para seu conforto.
• Ficar com a criança. Se isso não for
possível, assegurar que todos os dias a
criança possa receber a visita de
alguém que ela conheça bem, e
dizer-lhe quando é que ela vai
receber visitas.
• Elogiar a criança depois de ela
enfrentar testes ou tratamentos
dolorosos.
• Conversar com a criança depois de
cada experiência e responder às suas
perguntas.
Figura 8: Levar um objecto
preferido da criança, um
brinquedo ou uma capulana,
para seu conforto
44
Prevenir e cuidar das escaras
Nas crianças que passam a maior parte do tempo na cama, ou que
não possam movimentar-se normalmente, podem aparecer escaras.
Isso acontece com maior intensidade nas partes do corpo onde há
mais pressão, por exemplo as partes mais ossudas que apoiam no
colchão ou na esteira. Conselhos práticos para prevenir e enfrentar
este problema podem ser:
•
Prevenir as escaras - Ajude a criança a levantar-se e a movimentarse o mais possível. Troque a posição da criança pelo menos de duas
em duas horas. Um profissional de saúde precisará mostrar à família
como movimentar a criança sem provocar dor. Coloque almofadas
abaixo da área afectada, para diminuir a pressão.
•
Cuidar das escaras - Previna o desenvolvimento das infecções
lavando as úlceras três vezes ao dia com água limpa e salgada.
Limpe as escaras infectadas com uma solução anti-séptica como o
permanganato de potássio.
Dar o maior conforto possível à criança
A família pode ajudar a aliviar os sintomas mais angustiantes e dar o
maior conforto possível à criança providenciando os seguintes
cuidados:
• Cuidando da boca da criança (ver página 41).
• Dando líquidos para prevenir a desidratação e manter a
boca húmida.
• Encorajando a criança a comer pouco e frequentemente
• Procurando ajuda se a criança desenvolver problemas
respiratórios.
SECÇÃO 2
Princípios e estratégias
Em Moçambique, a organização
“Tinhena” tem formado os activistas, as
familias e os líderes comunitários em
bio-segurança. Nesses cursos, as pessoas
aprendem a diminuir os riscos de
contágio, esterilizando as roupas com
água fervida ou lixívia e utilizando luvas
para lavar e tocar as feridas dos doentes.
Cada activista é responsável pela
transmissão deste conhecimento para 10
famílias. A experiência tem demonstrado
que esta iniciativa ajuda as famílias a
não isolarem o doente por receio de
contágio.
9
AJUDAR OS PROVEDORES DE CUIDADOS A ENFRENTAR O MEDO
E AS PREOCUPAÇÕES COM A MORTE
Uma família que tenha uma criança muito doente pode preocupar-se
com a transmissão da infecção do HIV aos outros membros do núcleo
familiar. È preciso portanto fornecer informações básicas sobre a
transmissão do HIV, assim como dar apoio prático adequado para a
situação.
•
Assegurar-se que a família tenha conhecimentos claros sobre como o
HIV se transmite e como não se transmite.
•
Explicar que o risco de infecção é pequeno para as pessoas que cuidam
duma criança doente, e que os familiares se podem proteger da
seguinte forma: limitando o contacto com o sangue e com os líquidos
corpóreos, cobrindo cortes e feridas, tomando cuidado na utilização de
instrumentos cortantes e enxaguando o sangue e as fezes nos lençóis
e nas roupas antes de lava-los com água quente e sabão.
•
Fornecer à família alguns produtos básicos, como o sabão, e
encorajar os programas de cuidados domiciliários a darem conselhos
práticos e apoio para cuidados de enfermagem.
Dar apoio emocional às crianças e às suas famílias
na fase final da vida
As famílias precisam de apoio emocional quando uma criança está
morrendo, e de ajuda para decidir quando é oportuno parar com os
esforços de prolongar a vida da criança (por exemplo, quando inserir
uma sonda para alimentação artificial se torna muito doloroso). As
crianças que estão em fase terminal também precisam de apoio
emocional.
É muito importante:
•
Oferecer aconselhamento ou encaminhar as famílias para os serviços
de aconselhamento ou grupos de apoio como associações de pessoas
vivendo com HIV.
•
Pôr as famílias em contacto com grupos religiosos que possam
oferecer apoio espiritual.
•
Ajudar a aproximação entre as famílias e os trabalhadores de saúde,
dos programas de cuidados domiciliários e da comunidade.
45
AS CRIANÇAS DE 0 A 8 ANOS
E O H I V
Conclusão
As crianças menores de 8 anos são as mais vulneráveis aos efeitos
negativos do HIV, especialmente a longo prazo, mas com bons
cuidados, estes efeitos podem ser reduzidos. A transmissão de mãe
para filho também pode ser reduzida especialmente se o estado HIV
positivo das mães grávidas for conhecido o mais cedo possível. Com
boa nutrição, água limpa, um ambiente saudável, bons cuidados
médicos e apoio psicosocial é possível proteger as crianças infectadas
e afectadas pelo HIV.
46
Referências
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49
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Publicado Setembro 2007

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