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Ano XI · Nº 124 · Junho/2009 · R$ 9,90 www.panrural.com.br Especial – Agricultura orgânica – O pujante mercado dos produtos verdes As novas estrelas da Agrishow Código Florestal Tabapuã brilha na Expozebu Democracia da engorda? O país da agroenergia O potencial brasileiro para produzir biocombustíveis e elevar a produção de alimentos Panorama Rural Junho 2009 1 2 Panorama Rural Junho 2009 Conversa pra boi dormir Diretores: Plínio César e Marco Baldan Gerente de Comunicação: Fábio Soares Rodrigues Gerente Administrativo: Paulo Cézar Consultor Técnico: Neriberto Simões Administrativo: Layla Furtado Publicação mensal da PC&Baldan / Abimaq / Agrishow www.panrural.com.br Podem parar de blá, blá, blá, até os bois não caem mais nessa Filiada a: Editora Chefe: Luciana Paiva Editor Gráfico: Thiago Gallo Arte: Caio Ingegneri e João Domingos Outras publicações da PC & Baldan: Guia Oficial de Compras do Setor Sucroalcooleiro Revista CanaMix Portal Direto da Usina Publicidade: [email protected] [email protected] [email protected] Assinaturas: Mirian Domingues: [email protected] Vanessa Cassimiro: [email protected] Contatos com a Redação: [email protected] Impressão: Gráfica São Francisco Tiragem auditada por: Distribuição em bancas para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A PC & Baldan Consultoria e Marketing Av. Independência, 3.262 CEP 14.025-230 - Ribeirão Preto - SP (16) 3620.0555 / 3234.0377 www.pcebaldan.net Para assinar, esclarecer dúvidas sobre sua assinatura ou adquirir números atrasados: SAC: (16) 3620.0555 - 2ª a 6ª feira, das 9 às 12 hs e das 13:30 as 18 hs. É permitida a reprodução total ou parcial dos textos, desde que citada a fonte. O uso de combustíveis renováveis oferece a oportunidade de reduzir as emissões de gases poluentes e, com isso, minorar o efeito estufa. Também é a chance de a humanidade passar a depender menos do petróleo e dos humores dos países produtores, já que a maioria se encontra em regiões de conflito. No entanto, bastou o mundo despertar para o fato de que o biocombustível é uma alternativa viável aos combustíveis fósseis, para que os opositores da energia verde criassem obstáculos ao seu avanço. Eles devem ter levado um susto quando perceberam o tamanho do apetite dos investidores de peso interessados em entrar no negócio do etanol. Susto maior deve ter sido a possibilidade de o Brasil ascender como grande produtor energético, ainda mais depois da descoberta do pré-sal. Então, o jeito que eles tiveram foi falar mal dos biocombustíveis, vieram com a conversa de que a produção de energia verde vem desmatando a Amazônia brasileira, e mais, era o responsável pelo aumento de preço dos produtos alimentícios e sua expansão pode ampliar a fome no mundo. Estão querendo minar até mesmo a soberania tecnológica brasileira para a produção de etanol. Pesquisadores estrangeiros passaram a dizer que ela é ultrapassada e que já estão investindo em etanol de segunda geração, produzido a partir da celulose, muito mais eficiente do que a nossa. Frente a toda essa conversa, o físico José Goldemberg, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e hoje, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo, sentiu a necessidade de examinar o tema e preparou um estudo provando que ainda há muito espaço para crescer com a atual tecnologia empregada pelas usinas brasileiras. “Os americanos estão excitados pela tecnologia de segunda geração porque não têm cana-de-açúcar nos EUA. Querem mostrar que a tecnologia atual não tem futuro, mas não é nada disso”, salienta o professor. Pois é, toda essa falação é como dizem na roça: conversa pra boi dormir. O Brasil tem o maior potencial na produção de energia por meio da biomassa. Comparado com a gasolina, o etanol de cana-de-açúcar emite 90% menos gases de efeito estufa. E somos o único País onde a gasolina perdeu o posto de principal combustível para o etanol. Os contrários aos biocombustíveis querem nos desacreditar, mostrar que não somos bons e assim dominar a nossa tecnologia. Portanto, não podemos deixar de investir continuamente em pesquisas científicas para aprimorar ainda mais a eficiência das usinas. Também é primordial proporcionar o tempo necessário para que os pesquisadores façam com que o biodiesel seja tão viável quanto é o etanol. Assim como é fundamental o produtor brasileiro continuar produzindo e os empreendedores ousando, mas isso tudo poderia ser um pouquinho mais fácil, com mais crédito, menos juros, mais oportunidades. Isso não é conversa pra boi dormir, é fato. Correção: As fotos da matéria Delírios de João Louco - publicada na edição passada são de autoria de Toninho Cury Luciana Paiva Editora Panorama Rural Junho 2009 3 Capa O país da agroenergia 22 4 Panorama Rural O potencial brasileiro para produzir biocombustíveis e elevar a produção de alimentos Junho 2009 Especial Agricultura Orgânica Mercado em ascensão Página 42 Agrishow As novas estrelas da Agrishow Página 64 cultura Rolando Boldrin A lida do Sr.Brasil Página 75 curiosidades Procura-se um leão, desesperadamente Página 26 Chegou a democracia da engorda? Página 84 Leia também 8 12 14 18 20 30 Entrevista Estratégia Gestão Beira D’Água Opinião Economia 34 36 38 78 82 84 Estrelas Rurais Tendências Negócios Ambiental Biblioteca Rural Marketing Rural Panorama Rural Junho 2009 5 6 Panorama Rural Junho 2009 Panorama Rural Junho 2009 7 ENTREVISTA João Sampaio: Secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo Luciana Paiva Um otimista incorrigível Como empresário rural, Sampaio aposta na diversificação de produtos e na agregação de valor. Como Secretário defende investimento em pesquisa, informação, mais crédito e menos juros Luciana Paiva T odo ano o sistema Agrishow elege uma personalidade do agronegócio, nesta edição da feira o eleito foi João de Almeida Sampaio Filho, secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Sampaio tem o agronegócio no sangue, tanto do lado materno como paterno. Nasceu na capital paulista, mas a família tem origens em Barretos, Jaú e Uberaba. Formado em Direito e Economia, quis mesmo é ser produtor rural. “Formei em Economia em novembro, em dezembro já estava cuidando da fazenda”, ressalta o Secretário, que em 1987 mudou-se para Jaciara, MT, onde morou por 11 8 Panorama Rural Junho 2009 anos, para administrar uma propriedade voltada para a pecuária e produção de borracha. Sampaio apostou na transformação da matéria-prima para agregar valor ao produto, assim, montou uma mini-usina para o processamento do látex. O negócio prosperou e virou uma usina com alta produção. Foi aí que resolveu entrar para uma entidade de classe, a Associação de Produtores de Borracha de Mato Grosso, da qual foi presidente. A partir daí esteve à frente de diversas entidades ligadas ao agronegócio, como a Sociedade Rural Brasileira (SRB), onde ocupou a presidência de 2002 a 2008. Mesmo com toda essa atividade política classista, não descuidou de seus negócios, pelo contrário, os diversificou, além da bor- ENTREVISTA racha e a pecuária, produz laranja e cana-de-açúcar. Em 2007, tornou-se Secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Nesta fase de retração do comércio exterior, o Secretário salienta que é prioritário estimular o mercado interno, que consome 80% da produção agropecuária brasileira, incluindo o etanol, suco de laranja, grãos, carne e leite, dentre outros produtos. Para isso, Sampaio alerta o governo federal sobre a necessidade de tomar medidas ágeis e eficazes para fortalecer a demanda nacional, ampliando o crédito – para produtores e compradores –, reduzindo os juros e alargando os prazos de resgate. Também ressalta ser fundamental multiplicar o acesso ao seguro rural e viabilizar a produção dos agropecuaristas endividados. “Isto é inexorável, pois se não conseguirem plantar e colher, quebrarão de modo irreversível, além do impacto negativo no volume total da produção”, salienta o entrevistado desta edição. PanRural – São Paulo é o Estado mais industrializado do País, mas qual a importância do agronegócio para São Paulo? Sampaio – Não é errado dizer que São Paulo é o que é por causa da agricultura. Foi a monocultura cafeeira que financiou a industrialização no Estado. E, hoje, a importância do agronegócio para São Paulo não está somente nos números de produção, mas nos índices de desenvolvimento humano, o interior paulista tem qualidade de vida comparada a de países ricos. É o melhor lugar do Brasil para se viver. E isso é resultado do agronegócio, que gera renda e distribui riqueza. PanRural – O Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária apontou, entre outras coisas, que as propriedades rurais paulistas estão menores, porém mais tecnificadas. É esta a tendência? Sampaio – Sim. Propriedade com menor área, porém mais produtiva, pois os produtores estão com mais acesso às tecnologias, às sementes e mudas adaptadas as suas condições. Os produtores também têm maior escolaridade, mais acesso às informações, a cursos que vão desde técnica de plantio, cultivo, até como transformar a matéria-prima e agregar valor ao produto, aumentando a renda da propriedade. A diversificação de produção é outro ponto forte, São Paulo tem grandes áreas com cana, laranja, pecuária bovina, mas também é grande produtor de frangos, milho, café, produtores de frutas de mesa. Por isso, é fundamental investir em pesquisa. No último ano, realizamos os maiores investimentos em pesquisa agropecuária dos últimos 25 anos. Entre 2007 e 2008, foram aproximadamente R$ 30 milhões aplicados na modernização e adequação de laboratórios. Temos também priorizado a contratação de pesquisadores. PanRural – Em relação a canade-açúcar, o Estado e os produtores de cana firmaram um Protocolo Agroambiental, como foi isso? Sampaio – A cana ocupa 5 mi- “ ” Os tratores com potência menor que 50 cavalos também farão parte do Pró-trator ovo, frutas, verduras, legumes, flores, ovinocultura e tantas coisas mais. A tendência do agronegócio é ser cada vez mais produtivo, tecnificado e com produtores profissionais. PanRural – O Estado tem ampliado os investimentos em pesquisas agrícolas, por favor, fale sobre isso? Sampaio – São Paulo há 200 anos conta com o serviço do Instituto Agronômico (IAC), esse pioneirismo em pesquisas agronômicas, é peça fundamental na evolução da agropecuária paulista. Nesses anos todos, os estudos não foram apenas sobre o café ou a cana, mas diversas outras culturas agrícolas. As pesquisas contribuíram e contribuem para que São Paulo seja o maior produtor de cana, açúcar e álcool do País, mas também somos os maiores produtores de laranja, respondemos por 60% da borracha natural, somos o terceiro maior produtor de frango, de café e grandes lhões de hectares, o que representa em torno de 25% da área utilizada na atividade agrícola no Estado. Por questões ambientais, sociais e até agronômicas é necessário introduzir práticas mais modernas nessa atividade, como a extinção da queima da palha da cana. O governador José Serra foi muito competente nas negociações, buscou o diálogo com os produtores e saiu esse protocolo de livre adesão que, entre outros avanços, antecipa o fim da queima para 2014. Mais de 90% das usinas aderiram ao protocolo. E ainda estão qualificando os cortadores de cana para atuarem em outras áreas. Agora trabalhamos na realização do zoneamento agrícola da cana, laranja e café, é uma forma moderna de crescer com responsabilidade. PanRural – E a criação do PróTrator? Sampaio – Falei com o governador Serra sobre a possibilidade de criarmos um programa de incentivos Panorama Rural Junho 2009 9 ENTREVISTA para a compra de tratores novos com juros de 3%. Ele me perguntou: ‘Por que não juros zero?’. Acatei na hora. E criamos esse programa inédito e que superou as expectativas, esperávamos que em dois anos fossem vendidos seis mil tratores, mas de dezembro de 2008 até final de abril já foram comercializados três mil e duzentos tratores. PanRural – Mas por que tratores de potência menor que 50 cavalos não fazem parte do programa e nem os implementos agrícolas? Sampaio – Os nossos técnicos avaliaram que a maior procura por parte dos produtores é para tratores lança o seguro de renda. Como será? Sampaio – Acredito que o seguro deve ser considerado item de consumo nas contas do produtor. Por isso, desde 2004, somos pioneiros em subvencionar o prêmio e ainda mantemos essa opção, onde o produtor pode pagar apenas 25% da apólice. O projeto de Seguro de Renda, programado para 2010, se diferencia do seguro agrícola porque não garante apenas a produção, mas também o ganho. Quando o produtor toma o financiamento, automaticamente faz a opção de venda do produto no mercado futuro. O custo dessa operação, que se chama “prêmio”, será subsidiado pela metade. Esse novo seguro deve beneficiar pro- “ ” A prefeita Dárcy Vera foi uma verdadeira guerreira, lutou com todas as armas para manter a Agrishow em Ribeirão Preto de 50 a 120 cavalos de potência, por isso, direcionamos o Pró-Trator para atender a essa faixa. No entanto, passamos a receber muitos pedidos de produtores e de fabricantes para liberar a entrada de tratores com menor potência. Já estamos estudando essa possibilidade e isso deverá ocorrer. Sobre os implementos, inclusive, aqui mesmo na Agrishow, o Chiquinho Maturro, da Tatu Marchesan, pediu-me a criação de um programa de juro zero para os implementos. Temos a intenção de criá-lo, porém, no momento, em decorrência da crise financeira, nosso orçamento para 2009 não permite, então esse programa não será criado imediatamente, mas também está nos nossos planos. PanRural – O senhor é um defensor do seguro agrícola, e agora 10 Panorama Rural Junho 2009 dutores de café, soja, milho, feijão e criadores de boi gordo e será atrelado ao crédito de custeio, com cerca de R$ 150 milhões destinado a essa operação. Imaginamos que São Paulo subsidie 50%, o governo federal mais 25% e o produtor rural entre apenas com 25%. Também é um projeto inovador e está em fase final de elaboração. PanRural – Qual a importância para o agronegócio a realização de feiras como a Agrishow? Sampaio – É uma enorme contribuição para a difusão de novas tecnologias, facilitando o avanço da produção rural. A Agrishow é a mais importante feira de tecnologia agrícola do País e uma das três maiores do mundo, assim, é o principal espaço para o produtor acessar conhecimento. É o maior ponto de encontro entre fabricantes, produtores, pesquisadores, enfim, dos integrantes do agronegócio. PanRural – Para o senhor, a Agrishow deve permanecer em Ribeirão Preto? Sampaio – Ribeirão Preto é a capital do agronegócio, aqui está a sede da área de agronegócios do Banco do Brasil. Aqui residem grandes produtores rurais que investem não só na região, aqui estão instalados escritórios de grandes grupos do agronegócio, como de multinacionais ligadas a área, e mais, Ribeirão tem tradição agrícola. Por isso tudo, defendo a permanência da Agrishow em Ribeirão. Sobre esse episódio, preciso salientar o empenho da prefeita Dárcy Vera para que a feira ficasse na cidade. A Prefeita foi uma verdadeira guerreira, lutou com todas as armas, mobilizou as lideranças. Incrível, recebi telefones de líderes políticos de todo o Brasil pedindo para que a Agrishow ficasse em Ribeirão. Também quero deixar claro, que não sou filiado a nenhum partido político, por isso, não tomo decisões pensando em favorecer um ou outro. O projeto da Cidade da Bioenergia apresentado por São Carlos é muito bom e defendo sua criação, tanto que nos colocamos à disposição para cooperar com sua realização. Mas, se, infelizmente, os organizadores da Agrishow optarem por sair, a feira vai ser mantida em Ribeirão Preto e será organizada por outras entidades. PanRural – E o agronegócio e a crise econômica mundial? Sampaio – A crise econômica afeta todos os segmentos, inclusive o do agronegócio. O maior problema é a falta de acesso ao crédito e também a falta de liquidez para tocar o negócio. Mas, sou um otimista incorrigível, acredito que alguns setores já deverão se recuperar ainda este ano. Não podemos esquecer o potencial do agronegócio brasileiro e do poder de superação dos produtores rurais. PR Panorama Rural Junho 2009 11 F Saúde suína oi lançado em abril deste ano no Brasil um novo antibiótico de ação “extra-longa” para utilização na criação de suínos. Trata-se do “Excede” que, como o próprio nome sugere, apresenta ação terapêutica prolongada de sete dias. A Pfizer - responsável pela colocação do produto no mercado – garante que a novidade previne diversas doenças contagiosas além de reduzir índices de resistência bacteriana. A aplicação é injetável, na proporção de 1 ml para cada 20 kg de animal. Divulgação Excede Promessa de eficiência, sobretudo na fase de maternidade 12 Panorama Rural Junho 2009 L Gripe suína não! A denominação inicial de “gripe suína” para a virose surgida no México e que se espalha pelo mundo, foi rebatida durante a realização da AveSui Regiões 2009 – feira da indústria de aves e suínos – no final de abril, em São Paulo, SP. Esta expressão inicial foi reprovada por palestrantes, técnicos e executivos do setor, sob a argumentação de que não há plantel suíno infectado no mundo pelo fato do vírus ser transmitido entre os seres humanos. A preocupação é em função de que o nome possa provocar um colapso na suinocultura mundial. Segundo os organizadores, a AveSui 2009 recebeu mais de 15 mil visitantes e movimentou negócios da ordem de R$ 300 miAveSui 2009 - muita movimentação lhões. e polêmica com a gripe Divulgação A John Deere dividiu os atributos e responsabilidades do serviço de relacionamento com a imprensa no Brasil. A partir de agora, a comunicação institucional da empresa fica a cargo da CDI Comunicação Corporativa. A comunicação dos produtos (máquinas, tratores e colheitadeiras, dentre outros) permanece sob a batuta da Engenho & Texto Comunicação. A John Deere é uma das principais empresas mundiais no fornecimento de produtos e serviços agrícolas. ucro aumenta e receita cai. Este é o perfil do balanço do grupo Kepler Weber no primeiro trimestre deste ano em comparação aos três primeiros meses de 2008. O desempenho deste ano apresentou lucro de R$ 6,8 milhões, 30% superior ao mesmo período do ano passado. No entanto, a receita bruta de R$ 35,9 milhões foi 28% inferior ao primeiro trimestre de 2008 resultado, segundo a direção da empresa, da contenção de investimentos do agronegócio mundial em função da redução de liquidez. A Kepler produz, dentre outras coisas, silos e equipamentos para armazenagem de grãos. A mosca, o detergente e a mandioca U ma mistura de detergente líquido e água vem sendo utilizada por pequenos agricultores da região de Jardim, no Mato Grosso do Sul, para combater a incidência da mosca-branca em mandiocais. A orientação é do técnico agrícola Antonio Minari, coordenador do Projeto de Apoio à Produção Sustentável no Território da Reforma. A proporção do preparado é de 2% a 5% de detergente para um litro de água. A mistura, segundo ele, deve ser borrifada na parte baixa da planta onde ficam os insetos. A incidência da praga atrapalha o processo metabólico e respiratório do pé de mandioca comprometendo a qualidade, o sabor e sua utilização industrial. Divulgação Comunicação Equilíbrio Mandioca_praga: As folhas da planta ficaram amareladas, sinal da presença do fungo. Pantanal seco Ariosto Mesquita Novo presidente Passados 60 anos após fundar as empresas Randon, no Rio Grande do Sul, o empresário Raul Anselmo Randon deixa o cargo de diretor-presidente do grupo. No lugar assume seu filho mais velho, David Abramo Randon, de 49 anos. O patriarca, no entanto, permanece na presidência do Conselho, órgão colegiado de direção da Companhia. A Randon é uma empresa brasileira com unidades de montagem também no exterior. Suas estruturas são responsáveis, dentre outras coisas, por boa parte do escoamento das safras David Abramo, o novo diretorbrasileiras de grãos pelas rodovias. presidente do Grupo Randon Divulgação O alerta está ligado. O Pantanal começa a atravessar o seu período mais seco dos últimos 35 anos. Os proprietários rurais da região já sabem que existe o risco de perda de gado para quem não fizer reserva de água, sobretudo no alto Pantanal. Os rios já estão com níveis bem abaixo de suas médias, mas o pior ainda deve estar por vir uma vez que o pico da seca está previsto para agosto. Além da carência de água, o frio também pode agravar a situação de rebanhos. Outros efeitos previstos: aumento do número de focos de incêndio nas fazendas e redução do estoque pesqueiro nos rios. Já nas regiões mais baixas (geralmente alagadas) pode haver um aumento na área disponível para pastagens. Trem dos grãos Em recente visita ao Pantanal, o presidente da Ferroeste (Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A.), Samuel Gomes, confidenciou à “Panorama Rural” que o Governo do Mato Grosso do Sul vai assumir o custo da elaboração do projeto da ampliação da ferrovia no trecho que ligará Maracaju, MS a Cascavel, PR e, consequentemente ao Porto de Paranaguá. “Isso é um passo muito importante para a efetivação deste corredor de exportação”, garantiu. Enquanto isso, o presidente Lula anunciava, em Campo Grande, MS, a liberação de R$ 2,3 bilhões para a construção dos 450 km da ferrovia. A estrutura será utilizada, sobretudo, para o escoamento de grãos produzidos no Centro-Oeste. Rio Miranda, no Pantanal, no último dia 10 de maio - reduzido volume de água Fale com o editor desta coluna: [email protected] Extensão ferroviária possibilitará escoamento de boa parte dos grãos produzidos no Centro-Oeste Panorama Rural Junho 2009 13 Oswaldo Maricato O proprietário precisa definir como se dará a condução do negócio Sucessão bem-sucedida Com a governança corporativa o negócio é transformado em empresa e os herdeiros se tornam sócios Celso Paraguaçu Q uando o empreendimento agropecuário atinge um porte tal que o proprietário perceba ser o único capaz de conduzi-lo sozinho é hora de examinar a possibilidade de adotar a governança corporativa. A governança é um modelo desenvolvido para dirigir e monitorar as sociedades. O negócio é transformado em empresa e os herdeiros se tornam sócios. Os sócios – acionistas ou cotistas – compõem um conselho familiar e elegem um conselho de administração. Este último será o principal agente da go14 Panorama Rural Junho 2009 vernança corporativa. Pode também haver um presidente da empresa (executivo) e um presidente do conselho de administração. A governança define a estrutura, as regras de convivência – onde cada tema é discutido e o papel de cada um – e as diretrizes estratégicas da empresa. O conselho de administração é o fórum em que os interesses dos acionistas são transformados em diretrizes para a gestão corporativa. Logo abaixo vem a diretoria, com os gerentes necessários. A diretoria cuida da gestão corporativa, ou seja, conduz as operações da empresa de acordo com as determina- ções do conselho de administração. E tem de executar exatamente o que os acionistas decidiram. A estrutura instituída pela governança corporativa é uma via de mão dupla. De cima para baixo vêm as decisões do conselho de administração (CA), para que os executivos as ponham em prática. De baixo para cima vêm os relatórios da diretoria. O CA avalia os resultados, verifica se o grau de risco é o adequado, e toma decisões para corrigir o que não estiver alinhado com os desejos dos acionistas. A governança envolve também o relacionamento dos sócios com os di- não, se correm risco de perder o emprego, não estarão comprometidos. Empresas cujo dono era concentrador e guardava para si todas as informações não se tornam transparentes da noite para o dia. É preciso preparar a empresa aos poucos, para que chegue ao ponto de ser transparente e saudável. Se vai haver transparência convém não haver sujeiras e coisas difíceis de explicar. A equidade é o segundo pilar da governança. Todos os grupos são tratados de modo justo e igualitário, sejam acionistas minoritários, funcionários, clientes, fornecedores ou credores. Atitudes ou políticas discriminatórias são inaceitáveis, seja qual for o pretexto. O terceiro dos quatro pilares é a prestação de contas. Os agentes da governança corporativa prestam contas de sua atuação a quem os elegeu e respondem integralmente por todos os atos que praticarem durante seus mandatos. Da mesma forma, os diretores prestam contas ao conselho de administração. “Prestar contas faz parte do jogo da governança”, diz Marcatti. Todavia nas empresas familiares é comum a prestação de contas desaparecer quando há disputa de poder entre irmãos. A responsabilidade corporativa é o quarto e último pilar da governança corporativa. Todas as ações decididas pelos acionistas têm em vista o que vai ocorrer quando forem postas em prática. Trata-se de prever como isso afetará os outros acionistas, os funcionários, os fornecedores, os clientes, o ambiente, a relação com órgãos governamentais, etc. Os sócios têm de ter ampla visão da estratégia empresarial, sabendo para onde conduzem o negócio. Têm de pensar na geração de empregos na região em que a empresa atua, bem como na qualificação e na diversidade da força de trabalho. Cabeças bem preparadas são cada vez mais importantes que mais braços. Os recursos humanos oferecidos pela própria comunidade têm preferência na contratação. O desenvolvimento científico não pode ser esquecido nem a melhoria da qualidade de vida de todos os públicos envolvidos. Não é boa política tratar bem os funcionários e prejudicar a sociedade, Divulgação versos públicos. Afinal, as decisões do CA afetam os funcionários, os sócios, os fornecedores, os clientes, a comunidade em que o negócio está instalado e até as relações com as três esferas de governo. Diretoria bem informada – o consultor Luiz Marcatti, da Mesa Corporate Governance, lembra que a diretoria tem de estar muito bem informada sobre os resultados que se pretende atingir. Só assim saberá o que pode ou não pode e o que deve ou não deve fazer. Na outra via, o CA tem de monitorar o que o executivo está fazendo. No recente episódio das quebras de instituições financeiras americanas, que deflagrou a crise mundial, houve falha de comando dos conselhos de administração. Talvez as diretorias não tenham prestado contas adequadamente, mas os conselheiros deixaram de pedir explicações aos diretores. Os acionistas ganhavam muito dinheiro, os executivos recebiam grandes bonificações e os conselheiros não abriam o bico. Quando o CA se cala, o executivo não muda o modo de operação. “Faltou governança corporativa”, sentencia Marcatti. Algumas empresas têm conselho de administração, diretores e gerentes, mas não obedecem ao modelo de governança corporativa. Faltam-lhes o que Marcatti chama de “os quatro pilares da governança corporativa”. O primeiro pilar é a transparência – A administração cultiva o hábito de informar. A comunicação não se limita aos balanços e balancetes de publicação obrigatória. Contempla todos os fatores que norteiam a ação da empresa e levam à criação dos valores. Quanto mais claras forem as regras do jogo, maior será a chance do time jogar do lado da administração. Se os funcionários não souberem qual o propósito da empresa, se esta vai bem ou “A diretoria tem de estar muito bem informada sobre os resultados que se pretende atingir”, salienta Marcatti agredindo o ambiente. A empresa com governança corporativa tem de ser um fator de desenvolvimento da região. Pontos críticos do modelo – a governança corporativa não é uma desculpa para atender a exigências de algumas instituições. É um modelo formal muito sério, o mais complexo e abrangente do mundo empresarial. Os conselhos familiares e as assembléias de acionistas não podem ser confundidos com festas de confraternização da família. Quem tiver essa visão não está preparado para a governança corporativa. Separar papéis, por mais difícil que seja, é essencial. Uma coisa é ser acionista, outra é ser executivo. A mesPanorama Rural Junho 2009 15 ma pessoa pode ter os dois papéis, mas há o local e o momento de exercer um ou outro. Como executivo, obedecerá às diretrizes do conselho de administração; como acionista dirá ao conselho que expectativas espera ver atendidas. As relações familiares, da mesma forma, são diferentes das societárias. Os acionistas precisam expressar suas expectativas com a máxima clareza e têm de entender do negócio, para saber o que podem esperar. Só assim poderá haver consenso nas decisões. A unanimidade não é benéfica, pois a opinião contrária é que conduz à reflexão. Mas as decisões precisam ter em vista o que for melhor para todos na busca do melhor resultado do negócio. E não para este ou aquele acionista. As visões, os objetivos e a comunicação têm de estar perfeitamente alinhados entre os acionistas, os conselheiros e a diretoria. Por mais experientes e bem formados que sejam, executivos que não partilham o mesmo pensamento, a mesma visão e os mesmos valores do conselho e dos acionistas não são indicados para a empresa. É preciso reconhecer o momento de substituir pessoas cujas características sejam incompatíveis com os planos da empresa. A governança corporativa supervisiona o relacionamento da empresa com seus diversos públicos e avalia riscos. Um fornecedor que opere de modo irregular ou ilegal pode comprometer seriamente a imagem da empresa. Ademais, empresas que crescem atraem olhares diferentes e investigativos. Pode-se plantar espadas-de-são-jorge em torno das lavouras, amarrar fitas vermelhas no pescoço do gado ou fazer qualquer outra simpatia contra olhogordo, mas o que funciona mesmo é prever que impacto as decisões tomadas causarão na sociedade. A gestão de riscos merece aten16 Panorama Rural Junho 2009 ção especial. Atualmente há usinas que fazem exame médico dos cortadores de cana para saber de suas condições de saúde antes do início da colheita. A ocorrência de algumas mortes mudou a visão e a atuação dos empresários. O custo de certificar-se da boa saúde dos funcionários é menor que o risco de ser acusado de levar algum empregado à morte por exaustão. As intenções que levam à governança – a melhoria da competên- As coisas começam a se misturar. O filho do dono leva um carro da empresa para casa, um funcionário leva o neto do dono para a escola no carro da empresa, etc. A empresa acaba arcando com custos que não são seus. O caixa da empresa não deve pagar o supermercado da casa do proprietário. A separação entre o patrimônio e o negócio é benéfica para a transparência da empresa e facilita a condução do empreendimento. O gestor teme conseguir bons resultados para depois ver o filho do dono assumir a direção cia no negócio é uma das mais fortes razões que levam ao modelo de governança corporativa. A competência costuma ser expressa como profissionalização. Para alguns donos de negócios, profissionalizar é uma desculpa para demitir os parentes. “Mas não se trata disso”, diz Marcatti. Trata-se de definir as competências necessárias para que o negócio continue crescendo, e procurá-las na família, preferencialmente. Se não houver na família as competências necessárias, será preciso procurá-las fora. À medida que a empresa vai crescendo, a família cresce também. Em muitos segmentos de negócio a sobrevivência pode depender de se juntar a outro. São as fusões, aquisições, alianças e parcerias, que tiveram papel importantíssimo no setor industrial há pouco mais de dez anos e agora chegam à agropecuária, começando pelas usinas e fazendas de cana-de-açúcar. Entre ter concorrentes muito fortes e juntar-se a outro empreendimento para se tornar também um concorrente forte, a segunda opção é bem mais conveniente. Com a governança corporativa as alianças são mais fáceis. O crédito anda escasso nestes tempos, a despeito das ações do governo para aumentar a oferta. Mas há fundos de pensão, private equity, BNDES e algumas outras instituições com interesse em participar de alguns projetos. Tais instituições não têm interesse em negócios individuais; preferem uma empresa estruturada, com visão de futuro, que age de forma transparente, ou seja, que tenha adotado o modelo de governança corporativa. Outra forma de aumentar o capital da empresa é lançar ações na bolsa de valores. E a Comissão de Valores Mobiliários exige o modelo de governança corporativa. Muitos modelos foram criados a toque de caixa, porque o banco de investimentos informou que se perdessem determinada oportunidade seria tarde demais. Como consequência, há vários arremedos de governança, fei- tos para cumprir uma exigência e não para promover o crescimento do negócio. Não se confunda lambança comparativa com governança corporativa. Particularmente no caso das empresas familiares é grande a dificuldade para atrair e manter gestores competentes. Como as regras não são claras, o profissional não sabe o que orienta as decisões do proprietário. Teme dedicar-se à empresa, conseguir bons resultados, para depois ver o filho do dono assumir a direção. O processo sucessório é outra forte razão para a adoção do modelo, no caso de empreendimentos agropecuários de grande porte. Com vários herdeiros como cotistas, o negócio começa a requerer uma estrutura administrativa mais atual. A necessidade se acentua quando há várias frentes de atuação, como produção de grãos, pecuária e cana. Muitas vezes o patriarca investiu também em agroindústrias, transportadoras, revendas de máquinas e outras atividades do agronegócio. A governança corporativa facilita a integração de todos os negócios do grupo, mantendo-o coeso. Há livros e mais livros sobre a governança corporativa. Seria muita pretensão querer explicá-la toda neste espaço. O que parece certo é o aumento de proprietários rurais recorrendo a esse modelo para solucionar a sucessão familiar, sobretudo se houver aprovação do Simples Rural. Luiz Marcatti lembra, no entanto, que a governança corporativa é um processo e não um evento. A implantação do modelo leva no mínimo um ano e pode passar de três. PR Panorama Rural Junho 2009 17 Piranha: o maior predador do Pantanal Arquivo Walter Piranha, a hora do espanto !!! Walter do Valle Q uem viu a primeira piranha foi o Talo. Ferrou um cachara, tava tirando quando a piranha atacou. No salto do desespero para escapar do cardume, o peixe trouxe 18 Panorama Rural Junho 2009 consigo algumas piranhas pra cima. E o pescador viu a cena do horror: seu peixe em pedaços virar cabeça e espinha. Era só o começo. Quem olhava o rio Miranda não acreditava que sob águas tão serenas havia um exército do maior predador do Pantanal. Pira- e do Vall nhas pequenas, médias, taludas, um palmo de beleza prateada e dentes em serrilha, dezenas, centenas, milhares. Seria piracema de piranha? Ou haviam combinado um encontro naquela curva de rio? – Nunca tinha visto nada igual, céu aberto, barbado e piranha voando pra todo lado. “Vamos ficar mais um pouco, não é todo dia que acontece esse troço. Quero ver mais!”, falou. E as piranhas atacando. Finalmente, Taiadeira convenceu a turma a recolher a chata onde estavam quatro dos onze companheiros. E foi assistir à luta de longe, do alto da segurança da chalana Jandira. Engraçado: lá de cima o Miranda parecia um lago na calmaria da superfície. Mas sabíamos o que havia por baixo do falso espelho: uma legião de piranhas do Pantanal, redondas, um palmo de voracidade. Graças a Deus ninguém se feriu, mas o tema da volta foi um só: o que teria levado as piranhas a se reunir naquela curva de rio? O promotor José Vieira, especialista em causa e efeito, achou que os culpados eram os caçadores de jacarés: “Jacaré come piranha, e sem jacaré piranha é que nem coelho pra piranhar o rio!”. Mas o barranco desmentia o homem dos tribunais: dormindo de boca aberta no areião jeitoso, centenas de jacarés tomavam banho de sol. Estariam eles também com medo das piranhas prateadas? PR Arquivo Walter do Valle disse Batata, sócio e parceiro do Talo. Era só ferrar peixe e a piranhada dava em cima. Não conseguimos tirar um pacu, um pintado inteiro: chegavam faltando pedaços, sangrando. Barbado de 8 kg veio no puçá pela metade. A turma de São José do Rio Preto e Votuporanga era grande, estava em três chatas. A jornada prometia: a água estava turva, boa pra peixe de couro. “Água suja, isca branca, água limpa, tuvira como isca”, ensinou Taiadeira, um dos pirangueiros da região. Quando o coronel Romeiro fisgou um pacu de 4kg e ele veio com uma piranha pendurada no rabo, Taiadeira rolou de rir. Mas a coisa não era pra rir. “Cuidado, gente, ninguém na água. Nem pra lavar as mãos!”, gritou o negro Beiçada. “Melhor a gente ir embora, procurar outro ponto de rio”, sugeriu Simão. “Esse troço dá medo!” – Que nada, respondeu Taiadeira. Quando o peixe ferrar, tira rápido! Aí a piranha dança... Todos tentaram, mas o ataque era geral, orquestrado, e abarcava raio de dois quilômetros. De onde teria saído tanta piranha? Subimos o rio na esperança de paz, mas o piranhal bateu atrás. Ou seriam outras, posicionadas pra acabar com a gente? O doutor Fuza gritou de longe: “É melhor voltar para a chalana, gente! Estou com os nervos à flor da pele!” Mas Talo, excitado, meio dividido entre sumir e ficar, começou a brincar com a tragédia: ferrava peixe e ficava esperando a piranha atacar. Aí um puxão e trazia, a Taiadeira e um peixe devorado pelas piranhas. Só ficaram cabeça e rabo Panorama Rural Junho 2009 19 OPINIÃO O que nós podemos “A participação da indústria brasileira no PIB, por exemplo, registra queda desde o início dos anos 80” * Luiz Aubert Neto A s grandes mudanças da humanidade em geral, e das pessoas em particular, sempre ocorrem por dois motivos: pelo amor ou pela dor. Acredito que a dor causada pela crise que o País vem atravessando está antecipando um período de grandes mudanças e quero, nesta edição, fazer um apelo. O governo e a sociedade civil organizada precisam se sensibilizar com as perdas do País e, em especial, dos setores produtivos, que são geradores de empregos e riquezas. Precisamos de mudanças rápidas. Necessitamos de medidas que compensem as dificuldades que nos são impos20 Panorama Rural Junho 2009 tas. No caso específico do setor de bens de capital, temos investido tempo, energia e recursos financeiros no sentido de criar uma massa pensante capaz de sugerir medidas que possam, de certa forma, minimizar os danos às empresas do nosso setor. Precisamos que o governo nos ouça, que viabilize algumas mudanças de forma efetiva, pois um recente e importante estudo desenvolvido pelo grupo de Competitividade da nossa entidade apresenta dados alarmantes, referentes ao desempenho da indústria brasileira nas últimas décadas. A participação da indústria brasileira no PIB, por exemplo, registra queda desde o início dos anos 80, sendo que a participação da indústria de bens de capital no PIB, teve queda, passando de aproximadamente 45% para cerca de 23% em 2005. Temos que considerar que, na prática, esses números apenas refletem o processo de desindustrialização imposto pela equivocada política econômica do nosso País, que continua, há décadas, prestigiando o mercado financeiro, em detrimento do setor produtivo. O fato é que o nosso País parou no tempo em termos de investimentos em desenvolvimento tecnológico, inovação e capacitação da mão de obra, situação agravada pela pesada carga tributária que recai sobre o setor produtivo, afinal nunca é demais ressaltar que somos o único País que tributa investimentos, além de possuir uma das maiores taxas de juros do mundo. fazer? Segundo dados do IBGE, nos últimos dez anos, o investimento médio no setor de bens de capital no Brasil (Formação Bruta de Capital Fixo) foi de 16,9% do PIB, ficando atrás da média da América Latina (18,7%) e muito abaixo da média mundial (23,7%). Comparado aos demais países considerados como emergentes (Rússia, Índia e China), o Brasil investiu menos da metade, uma vez que esses países investiram, em média, 34% de seus PIB’s na industrialização. Sempre digo e repito: Não existe país desenvolvido que não tenha setor de bens e capital desenvolvido. E, na realidade, estamos indo na contramão de outros países, como por exemplo, a Coréia do Sul, Índia e China, que desenvolveram sua indústria e aumentaram a renda da população. A realidade do empresário de bens de capital no Brasil é composta por juros altos, carga tributária excessiva, uma política cambial desfavorável e, o “ “ ” Precisamos que o governo se sensibilize e desonere o investimento produtivo nesse País mais grave de todos os males, a falta de investimento em educação. Essa fórmula aplicada ao longo de décadas está conduzindo o País a uma desindustrialização que acaba com um parque instalado e desemprega milhares de pessoas. Para lembrarmos, no ano passado, o Brasil pagou mais de R$ 168 bilhões de reais somente com juros da dívida, e menos de 5% desse valor com educação, e menos ainda com investimentos em infraestrutura. Como podemos ter um Brasil forte, um futuro digno para nossa população, com uma formula perversa como essa? Mas temos alternativas, ainda há tempo. E é nisso que estamos nos debruçando, com a realização de estudos fundamentados e sugestões de propostas factíveis para mudar o rumo do nosso País. O nosso País parou no tempo em termos de investimentos em desenvolvimento tecnológico, inovação e capacitação da mão de obra Temos buscado alianças e precisamos que o governo se sensibilize e desonere o investimento produtivo nesse País. Ninguém compra máquina por status, as máquinas servem para produzir, para gerar emprego, riqueza e, mais do que tudo, promover o desenvolvimento. Sendo assim, se nesse momento de crise, não conseguirmos iniciar um processo de mudança nessa estrutura, que vem nos condenando durante décadas a termos índices de desenvolvimento humanos abaixo de qualquer crítica, continuaremos a ser o país das oportunidades perdidas. Ainda há tempo! * Luiz Aubert Neto Presidente do Sistema Abimaq (Abimaq, Sindimaq e Trademaq) Lucas Mill Panorama Rural Junho 2009 21 Luciana Paiva O girassol possui 38% de óleo na semente e sua torta não é tóxica: bom candidato para a produção de biodiesel O país da agroenergia O potencial brasileiro para produzir biocombustíveis e elevar a produção de alimentos Luciana Paiva N os três primeiros dias deste mês de junho, a capital paulista vai se transformar no palco para o principal evento internacional sobre etanol - o biocombustível 22 Panorama Rural Junho 2009 mais utilizado do mundo. O Ethanol Summit está em sua segunda edição e é um seminário bianual promovido pela União da Indústria da Cana-deAçúcar (Unica), principal entidade representativa do setor. Quase 150 palestrantes do Brasil e de todos os continentes participarão de 25 painéis e seis sessões plenárias. O evento contará com a presença do presidente Lula, de José Serra, governador de São Paulo, e de Bill Clinton ex-presidente dos Estados Unidos. Clinton criou a Fundação William Arquivo Embrapa J. Clinton, um dos projetos da Fundação reúne lideres globais para desenvolver e implementar soluções inovadoras para alguns dos problemas mais graves do mundo, entre eles, o aquecimento global e a geração de alimentos. Dois temas que envolvem diretamente a produção de biocombustíveis. O assunto é tão relevante, que em uma das plenárias do Ethanol Summit a discussão será: A agricultura poderá abastecer o mundo com alimento e combustível? Quem responderá a esta e outras questões é Kjell Aleklett, físico e professor do Departamento de Física, Astronomia e Sistemas Globais de Energia da Uppsala University. Aleklett participou de um estudo que avalia o total de energia oriunda da agricultura disponível para o mundo. Enquanto o mundo apresenta dúvidas se é possível produzir alimentos e energia, pesquisadores brasileiros têm certeza de que o Brasil é um dos países com maior potencial para a produção de combustíveis a partir de biomassa. Aqui ainda há muito a ser aproveitado, pois, atualmente, o País explora menos de um terço de sua área agriculturável, o que constitui a maior fronteira para expansão agrícola do mundo, cerca de 150 milhões de hectares. Desta forma, temos a possibilidade de incorporar novas áreas à agricultura para geração de energia sem competir com a agricultura para “Certamente podemos chamar o Brasil de país da agroenergia”, afirma Frederico Durães, chefe geral da Embrapa Agroenergia alimentação e com impactos ambientais limitados ao socialmente aceito. O Brasil é campeão – Frederico Durães, chefe geral da Embrapa Agroenergia, salienta que o Brasil detém a maior diversidade biológica do mundo (Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado), diversidade de clima e de solo, além de poder contar com água, área, sol e equipes de excelência, nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação agronômica e de processos de conversão industrial. “O mundo pede mudanças na sua matriz energética, não é mais possível ficar dependente de combustíveis fósseis. O biocombustível é uma alternativa totalmente viável, o nosso etanol de cana-de-açúcar é a melhor prova concreta sobre isso”, afirma. Segundo Durães, o Brasil apresenta 851 milhões de hectares, dos A soja responde por 80% do biodiesel produzido no Brasil quais de 350 a 400 milhões são considerados agricultáveis, a agricultura ocupa 65 milhões, desse total, 23,5 milhões são ocupados por soja e 8,5 milhões por cana. Da soja tira-se o óleo comestível, o farelo e ainda assim, é responsável por 80% do biodiesel produzido no País. No Brasil é consumido 40 bilhões de litros de diesel por ano, a adição de biodiesel é de 3%, então são 1,5 bilhão de litros de biodiesel, desse total 1,2 bilhão de litros é proveniente da soja. Da cana são produzidos 28,5 bilhões de litros de etanol e mais 32 milhões de toneladas de açúcar. Isso significa que não plantamos soja apenas para produzir biodiesel e nem cana só para produzir etanol, temos capacidade tranquilamente para fazer as duas coisas e vamos aumentar muito a produção, seja com o aumento de área, seja com o avanço tecnológico permitindo maior produtividade e maior eficiência industrial”, explica Durães. A agroenergia é muito ampla – Durães observa que a agroenergia é muito ampla, a Embrapa Agroenergia, criada em 2006, desenvolve estudos na produção de etanol, biodiesel, biogás, florestas energéticas e resíduos agropecuários e florestais, Panorama Rural Junho 2009 23 Luciana Paiva O pinhão manso é uma das culturas em estudo para a produção de biodiesel. As pesquisas demoram cerca de 10 anos para apresentar resultados, por isso, é preciso dar tempo aos pesquisadores 24 Panorama Rural Junho 2009 vel renovável do mundo, o etanol de cana-de-açúcar tem uma redução confirmada de até 90% de emissões de gases de efeito estufa em comparação com a gasolina. Hoje, mais de 90% dos veículos novos vendidos no País são com a tecnologia flex que permite abastecer com álcool ou gasolina ou os dois. Tecnologia brasileira. A produção de etanol da cana também é uma tecnologia brasileira, mas nos últimos tempos, depois que os Divulgação mas cada um desses tópicos apresentam várias vertentes, por exemplo, no caso do etanol, existem o de cana, de grãos, celulósico... O objetivo das pesquisas é apurar as alternativas economicamente viáveis, socialmente responsáveis e ambientalmente corretas, ou seja, que apresentem os princípios da sustentabilidade. O fundamental, alerta Durães, é o investimento e a continuidade das pesquisas, pois, vários países, apesar de aparentemente “torcerem o nariz” já estão “de olho” nos biocombustíveis como alternativa para crise do campo, diversificando mercados, melhorando a rentabilidade dos produtores de grãos, cana e outras oleaginosas; e para a crise ambiental, visando a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Segundo estimativas da International Energy Agency (IEA), pode-se prever que 20% de decréscimo nas emissões desses gases, até 2030, virá por conta do aumento do uso de combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel brasileiros. O exemplo concreto do etanol – em 30 anos, o Brasil desenvolveu o maior e melhor projeto de combustí- O etanol da cana-de-açúcar tem uma redução confirmada de até 90% de emissões de gases de efeito estufa em comparação com a gasolina holofotes se voltaram para o etanol, começou-se a falar que essa tecnologia é ultrapassada, o negócio é o tal do etanol de segunda geração, muito mais eficiente. No entanto, um estudo realizado pelo o físico José Goldemberg, ex-ministro da ciência e tecnologia e hoje professor e pesquisador da Universidade de São Paulo, mostra que ainda há muito espaço para crescer com a atual tecnologia empregada pelas usinas brasileiras. Goldemberg sentiu a necessidade de examinar o tema ao constatar que existe um grande movimento nos Estados Unidos e na Europa a favor de investimentos na tecnologia de segunda geração, ou a busca pelo chamado etanol celulósico. Neste caso, o combustível é produzido a partir da celulose, que, ao invés da cana ou do milho, pode vir de inúmeras fontes de cascas de árvores, resíduos vegetais e capim, a pneus e lixo urbano. “Os americanos estão excitados pela tecnologia de segunda geração porque não têm cana-de-açúcar nos EUA. Querem mostrar que a tecnologia atual não tem futuro”, explica o professor. Ele destaca que mesmo no Brasil, os investimentos em busca do etanol celulósico já consomem entre R$50 e R$100 milhões por ano em pesquisas, enquanto os valores investidos só nos Estados Unidos atingem centenas de milhões de dólares. Goldemberg defende que a chegada do etanol de segunda geração não decretará o fim da tecnologia existente, como alguns imaginam. “Há muita área no mundo que poderia aumentar a plantação de cana, assim como países que hoje praticamente só produzem açúcar, como África do Sul e Colômbia, que poderiam se voltar também para o etanol”, sugere o professor. A cana produz biocombustível e gera alimentos – o sucesso do etanol despertou a ira de seus concorrentes, e passou a correr o mundo a notícia de que a cana rouba espaço dos alimentos. Apresentamos dois exemplos de que se pode produzir cana e cereais na mesma área. Desde a década de 80, os produtores de cana da região de Ribeirão Preto optaram pelo amendoim como opção de rotação de cultura na época de renovação dos canaviais. Quando o preço do amendoim está bom, o lucro cobre os custos de implantação do canavial, ou no mínimo a redução de custos é de 30%. Segundo Denizart Bolonhezi, engenheiro agrônomo e pesquisador Arquivo do Pólo Regional do Centro Leste coordenado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), essa prática permite a melhoria da fertilidade do solo, por meio do fornecimento de nitrogênio para cana seguinte; redução da população de nematóides; diversificação da renda do agricultor; e o auxílio no controle de plantas daninhas na cana seguinte. Na região de Ribeirão Preto o amendoim ocupa aproximadamente uma extensão de 40 mil hectares, e apenas é cultivado em áreas de renovação de cana, a cada ano, aproximadamente 20% dos canaviais são testada em canavial de três cortes foi plantada em área irrigada, no sistema de plantio direto sobre palhada de cana crua, pois dispensa técnicas de revolvimento do solo. O pesquisador Denizart informa que a meta do projeto é transformar essa região produtora de cana em também produtora de alimentos. “O ‘Feijão Doce’ prevê o cultivo do alimento em meio aos canaviais em crescimento. Uma prova de que é possível Arquivo IAC Cana-de-açúcar: alimento e energia Feijão Doce – na mesma região, pesquisadores e produtores investem na prática de cereais, mais especificamente feijão, nas entrelinhas da cana. O projeto chama-se Feijão Doce, e utiliza a variedade IAC Alvorada. O experimento pioneiro iniciou em agosto de 2008 em parceria com o proprietário José Luiz Balardim, na Fazenda São José, em Barrinha, SP, e tem apresentado resultados preliminares aceitáveis. O feijão é plantado Variedade Alvorada do IAC: o feijão doce Luciana Paiva Além da diversificação de renda, o cultivo de amendoim nas áreas de reforma da cana ajuda na reciclagem de nutrientes do solo e na fixação do nitrogênio renovados. A região é responsável por 40% da produção nacional de amendoim, o Estado de São Paulo é o maior produtor do Brasil e este ano a produção foi superior a 5 milhões de sacas (25 kg). na entrelinha da cana e tem um ciclo de 90 dias. De acordo com o pesquisador Denizart, o projeto objetiva analisar o desempenho das lavouras e fornecer dados para os canavicultores que desejam iniciar a produção em consórcio em suas propriedades. Benefícios – de acordo com o engenheiro agrônomo e também pesquisador do Pólo Regional do Centro Leste/APTA, José Roberto Scarpellini, esse cultivo pode trazer vários benefícios. “Acrescenta nitrogênio naturalmente na cultura da cana, o preço é vantajoso e utiliza melhor a área”, esclarece. A cultura que está sendo O feijão é plantado nas entrelinhas da cana produzir etanol e na mesma área alimentos, assim combatemos as críticas internacionais”, observa. Na próxima edição terá sequência o tema O país da agroenergia, com destaque para a soja na produção do biodiesel. Panorama Rural Junho 2009 25 Alessandra e o leãozinho Simba: paixão infantil Procura-se um leão, desesperadamente Quem tiver notícias de Simba, por favor, entre em contato com Alessandra ou com nossa redação Walter do Valle Fotos: Toninho Cury E m 1998 a loirinha Alessandra Tavares, normalista, 17 anos, se apaixona perdidamente por um leãozinho que tinha acabado de nascer no Circo Sandriara, estacionado na pequena cidade de Adolfo, região de São José do Rio Preto. Alessandra tira do banco a minguada poupança, R$ 1.600, e compra o caçula da leoa Adelaide, batizando-o com o nome de Simba. Alessandra mora num sobrado sem quintal, perto da praça da ma- Alessandra tirou o dinheiro da poupança para comprar o leãozinho 26 Panorama Rural Junho 2009 triz, com os pais, Romildo e Donância, mais um casal de irmãos. Claro, o leãozinho é criado dentro de casa. No começo, mamadeira. Dez mamadeiras por dia. Simba cresce, deixa a mamadeira e passa a comer carne. Muita carne. Aos oito meses já é um leãozão. Adora Alessandra. De dia rola com ela pelo chão, à noite dorme na cama dela o sono dos justos, abraçado a protetora. E o óbvio acontece: vizinhança com medo, Simba liberando instintos, urros varando a madrugada. Carteiro com medo de esticar a mão para deixar a correspondência. Pânico na outrora pacata Vila Adolfo. Claro, chamam a polícia. Claro, fazem um BO (Boletim de Ocorrência). Mas Simba não fez nada, não ameaçou ninguém. Por que tanta perseguição? Na verdade o leãozinho só apronta dentro de casa. Acaba com os pratos, quebra a cristaleira de dona Donância, destrói a mordidas a cadeira do papai Romildo, o sofá de couro da sala de visitas. E dá “carreirão” no coitado do papagaio Mané, que não tem mais sossego. Não é caso de polícia, é para o Ibama – a polícia quer saber o que se passa. Mas não vê. Nenhum machão entra na casa para encarar o leão. O delegado deixa barato: “Isso não é caso de polícia, é caso do Ibama”. E vem o Ibama. Mas nem o Ibama tem coragem de entrar na casa do leão, digo, dos Tavares. O veredicto: “Não temos nada com isso! Leão não é da fauna brasileira!”, sentencia o agente. E Simba continua numa boa, quebrando pratos, mordendo sofá, perseguindo o papagaio Mané e rolando pelo chão com Alessandra. O tempo é cruel, muito cruel. Simba cresce nos braços de Alessan- O leãozinho vai se transformando em um leãozão dra, mas a vizinhança anda cabreira, assustada com urros na calada da noite. Simba vai para o frigorífico Bertin – a pressão aumenta, a família, aos prantos, resolve doar o leãozinho que virou leãozão. Mas para quem? Do nada aparece o dono do Frigorífico Bertin, de Lins. Vem com jaula, ferros e capangas. E leva, na marra, Simba pra sua fazenda. Não devia ter levado: longe dos carinhos de Alessandra, Simba vira o inferno. Ataca quem chega perto, refuga carne de primeira, faz greve de fome como Garotinho e Evo Morales. E entra em profunda depressão. Sete dias depois Bertin dá a ordem: “Devolvam o demônio à bonita garota! Já!” Simba é recebido com festa, bolo e queima de fogos. A felicidade volta ao lar dos Tavares. Mas por pouco tempo. A vizinhança, de novo, faz cara feia e um abaixo assinado: “Fora Simba! Fora leãozinho que virou leãozão!” Pressão, muita pressão. Sob chuva de lágrimas Alessandra doa Simba ao zoológico de Andradina. A viagem é de 200 km, demora duas horas. E Simba é recebido com festa por três lindas leoas que lhe fazem a corte. Que leoa, que nada! Simba quer Alessandra, paixão infantil. Espanta as parceiras com patadas e urros que fazem tremer o viaduto. E mergulha no silêncio dos inocentes, resignado com a sina da maldição. “Diga ao povo que fico, mas não esperem alegria!” A distância aumenta a angús- Panorama Rural Junho 2009 27 A população reclama e Simba vai para o zoológico de Andradina tia. E Alessandra vai ao encontro da paixão. Uma, duas, 20 vezes. As visitas transformam a fera em bichinho dócil, quase de pelúcia. Ao redor, aves, feras, muares, e roedores não acreditam no que vêm: família Tavares dentro da jaula trocando carícias com Simba. Que é só felicidade. Separados pela distância – claro, não há bem que sempre dure, não há mal que não se acabe. Nem Rockfeller teria cacife pra bancar viagem de carro todo fim de semana. Realidade cruel: Simba está só e Alessandra tenta esquecer. Mas nem o tempo apaga a tristeza. As noites de Alessandra são de choro e angústia. As de Simba, 28 Panorama Rural Junho 2009 de amargor atroz. Os anos passam, o zôo de Andradina manda Simba embora. Pra que vale um leão triste e melancólico? Crueldade: Simba viaja e não avisam Alessandra. A professorinha não sabe para onde foi sua paixão. Chega ao zôo e encontra a cela vazia. Um torpor envolve a moça, que chora um pranto assustador. Quer saber para onde foi o leãozinho que criou na mamadeira. Mas ninguém lhe diz. Maldade? Ignorância? Ninguém conta Só achando o leão a loirinha terá paz para onde Simba foi despachado de mala e cuia. Alguém chuta: “A fera está no zoológico de Leme, entre Ribeirão Preto e São Carlos.” E é para lá que viaja a professorinha. Decepção, o leão da jaula não é Simba, é um outro qualquer. Um biólogo jura que o leão veio de Americana e atende pelo nome de Corisco. A moça chora, mas o choro não salva o leite derramado. Simba está sumido e ninguém pode fazer nada. Ajudem, por favor – Alessandra Tavares, diretora de escola, 27 anos, bonita e solteira, procura Simba, desesperadamente. Está tensa, nervosa, estressada. E jura: enquanto não encontrar Simba, não terá sossego. Por isso, amigo leitor, se você souber do paradeiro de um leão lindo, olhos cor de mel, juba escarlate, dentes perfeitos e dois metros de músculos e de fúria, ligue para Alessandra em Barueri: (11) 8453-8011 ou para a redação da Panorama Rural (16) 3620-0555. Quem achar o Simba e nos avisar em primeira mão, ganha por um ano a assinatura da revista. Só achando o leão a loirinha terá paz. PR Panorama Rural Junho 2009 29 Economia Haja produtividade cobrir custos nesta O clima em lavouras norte-americanas ou argentinas, por exemplo, pode impactar fortemente nos preços internos do milho e da soja *Mauro Osaki N a hora da decisão do semeio de milho e/ou de soja, produtores brasileiros atentam-se às movimentações do mercado internacional dessas commodities. O clima em lavouras norte-americanas ou argentinas, por exemplo, pode impactar fortemente nos preços internos do milho e da soja. Além disso, a oferta e a demanda mundiais de determinados insumos também influenciam o poder de compra do produtor e, portanto, sua decisão sobre plantio. O primeiro semestre de 2008 foi marcado por sucessivas altas no mercado internacional de milho. O impulso vinha da maior demanda, principalmente da China – por proteína animal – e dos Estados Unidos – para produção do etanol. Com isso, o contrato futuro do milho com vencimento em Março/08, negocia- do na CBOT (Chicago Board on Trade), teve média de US$ 4,89/bushel ou de US$ 11,54/saca de 60 kg em janeiro/08. A notícia da maior enchente dos últimos 120 anos na região de Iowa (EUA) no início da produção de grãos também motivou altas expressivas em junho do ano passado, quando o contrato Julho/08 da CBOT atingiu os US$ 6,99/bushel ou US$ 16,51/saca de 60 kg. Já no segundo semestre de 2008, Figura 1. Evolução do primeiro vencimento do contrato futuro do milho na CBOT Fonte: CBOT – elaborado por Cepea-Esalq/USP para safrinha! os preços internacionais do milho recuaram, por conta da crise imobiliária dos Estados Unidos. O movimento de baixa do cereal foi intensificado quando o senado norte-americano recusou o primeiro pacote de ajuda bilionária aos agentes financeiros daquele país. Tal a decisão gerou grande incerteza no sistema financeiro mundial, escassez de crédito, elevação da taxa de juro para empréstimos, aumento na exigência ou garantia para o empréstimo, desvalorização do câmbio com a saída de capitais de países em desenvolvimento para compra de títulos mais seguros e desconfiança so- bre o desempenho da economia mundial. Nesse cenário, o primeiro vencimento do contrato futuro do milho passou de US$ 5,48/bushel em setembro 2008 para US$ 3,76/bushel em março/09, queda de 30,3% no período. No Brasil, o agravamento da crise no final de 2008 dificultou as negociações de milho, visto que coincidiu com o período de compra de fertilizantes e outros insumos para o plantio da safrinha. No momento de decisão do plantio (segundo semestre de 2008), o preço interno do milho registrava sucessivas quedas, ao passo que os valores dos fer- tilizantes estavam elevados. Em Sorriso, MT, de agosto a novembro de 2008, quando geralmente é verificado grande volume de compras, poucos agricultores adquiriram maiores quantidades de insumos. As aquisições para a safrinha foram intensificadas apenas em dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Com a supervalorização dos insumos e com a queda nos preços do milho, o poder de compra de produtores diminuiu no segundo semestre de 2008. Entre julho e setembro/08, o produtor de Sorriso precisava de 25 a 29 sacas de milho para adquirir 200 kg do adubo Figura 2. Relação de troca entre saca de 60 kg de milho e 200 kg de adubo 08-18-18 na região de Sorriso (MT) Fonte: Cepea-Esalq/USP Economia Tabela 1. Sacas de milho necessárias para adquirir os insumos básicos para o plantio ¹ SIDRA/IBGE (2009) 08-18-18 para a base do plantio (quantidade por hectare usual nesta região), de 10 a 14 sacas a mais em relação à média das últimas três safras, de acordo com cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq, USP. Já o produtor que deixou para adquirir na última hora (janeiro e fevereiro/09), conseguiu melhores relações de troca que aqueles que tomaram decisão em agosto e setembro de 2008. Ainda assim, piores que a média das três safras anteriores – por volta de 15 sc/200 kg. Em janeiro e fevereiro de 2009, foram necessárias 24 e 18 sacas de milho, respectivamente, para a compra de 200 kg do adubo 08-18-18 que seria usado na safrinha na região de Sorriso, segundo pesquisas do Cepea. Em março, a troca se dava por 22 sacas. Além do adubo utilizado na base do plantio, produtores acrescentaram o fertilizante nitrogenado, sementes de média e/ou alta tecnologia, atrazina (herbicida) e dois inseticidas (lufenuron e metamidofós) para compor a cesta mínima para o semeio do milho safrinha nas regiões de Sorriso, Cascavel, PR e Rio Verde, GO, entre novembro/08 e janeiro/09 (Tabela 1). Desse modo, considerando o valor médio da saca de milho em novembro/08 (decisão de plantio), de R$ 10,62/sc, em Sorriso, o produtor dessa região teria que atingir uma produtivi32 Panorama Rural Junho 2009 dade de 80,2 sacas de 60 kg de milho para cobrir os custos com a cesta citada - não foram incluídos gastos com diesel, mão-de-obra, tributos e frete. A produtividade média das últimas cinco safras na região, no entanto, é 61 sacas/ha, segundo o IBGE. Em novembro/08, somente o fertilizante para base e o nitrogenado comprometeram 73,04 sacas, 19,72% a mais que a produtividade média das últimas cinco safras. Por outro lado, produtores que arriscaram comprar a cesta de insumos em janeiro/09 foram favorecidos. Isso porque foram necessárias 21 sacas de milho para a aquisição da cesta, 26,25% a menos que em novembro/08. Com isso, em janeiro, bastaria a produção de 59,11 sacas por hectare para cobrir esse custo. Já se considerado os gastos com diesel, mão-de-obra, tributos e frete, produtores teriam que aumentar fortemente a produtividade ou os preços do milho teriam que registrar expressivas altas. Em Cascavel e em Rio Verde a aplicação de adubo na base é, geralmente, de 300 kg de 08-20-20 por hectare e de 350 kg de 08-20-16 por hectare, respectivamente. Assim, o comprometimento da produção com fertilizante básico também é relativamente alto nessas regiões. Em novembro/08, por exemplo, produtores de Cascavel precisaram de 39,95 sacas de milho por hectare para a aplicação de adubo na base e de 39,37 Fonte: Cepea-Esalq /USP sacas em Rio Verde – naquele período, a saca de milho era negociada a R$ 15,44 em Cascavel e a R$ 15,28 em Rio Verde. Em novembro, muitos produtores não estavam animados para o plantio de milho safrinha, principalmente na região do Mato Grosso. A projeção inicial era de redução significativa em relação à safrinha passada, mas a queda dos preços dos fertilizantes em dezembro e janeiro animou os produtores. Segundo estimativa da Conab, o Estado do Mato Grosso deve ter cultivado área 5,3% menor que a da safra anterior, passando de 1,65 para 1,56 milhão de hectares. Para o Brasil, o recuo deve ter sido de 4,3%. Nesta safrinha, que deve ser colhida a partir de junho, o produtor que deixou para última hora saiu favorecido, mas nem sempre essa estratégia é a melhor. No caso da soja, por exemplo, verificou-se o oposto. Quem decidiu comprar insumos na última hora (entre setembro e outubro/08) gastou mais vis-à-vis os que decidiram semear no início deste ano (janeiro a março). O produtor tem que conviver com essas variações, mas, reitera-se, um planejamento de produção da fazenda que assegure a sustentabilidade da atividade na propriedade tem muito a contribuir para os resultados em médio e longo prazo. PR *Mauro Osaki Pesquisador do Cepea; TES Esalq/USP [email protected] Panorama Rural Junho 2009 33 , r e e n o i P e r r o M a x i e d mas erdeiros h s o l e b Com apenas oito anos de idade e no auge de sua vida produtiva, faleceu Pioneer, o melhor reprodutor Simental do ranking brasileiro dos últimos quatro anos P ioneer, touro de linhagem 100% sul-africana, gerou negócios superiores a US$ 1,5 milhão em venda de genética (sêmen, embriões e filhos). Trata-se de um resultado fantástico que coloca o animal em um seleto grupo de reprodutores 34 Panorama Rural Junho 2009 de destaque no cenário mundial da raça Simental. O reprodutor Simental da Casa Branca Agropastoril também produziu dezenas de filhos grandes campeões ou campeões de categorias nas disputadas pistas de julgamentos e outro tanto de filhos recordistas de preços nos leilões top do Brasil. O maior mérito de Pioneer , no entanto, é ser a base da produção de touros comerciais da Casa Branca, com a multiplicação de machos altamente produtivos e férteis que intensificam a oferta de bezerros pesados e precoces. Além disso, a venda de sêmen e embriões do reprodutor também contribuem para disseminar sua genética diferenciada. “Estamos falando em mais bezerros a campo, que crescem mais rápido, gerando carne de qualidade. Os pecuaristas que usam genética de Pioneer em seus rebanhos comprovadamente têm mais receita com a venda de animais para recria, engorda ou diretamente para abate”, explica Paulo de Castro Marques, proprietário da Casa Branca. Reconhecimento internacional – a qualidade ultrapassou fronteiras – essa qualidade genética indiscutível ultrapassou fronteiras, chegando aos Estados Unidos, diversos países da América Latina e Canadá, onde Pioneer foi escolhido o touro número 1 para marmoreio. Marques adquiriu Pioneer no Canadá, em 2002. Ainda com 14 meses de idade, o bezerro Simental já se destacava: peso ao desmame: 445 kg; peso a 1 ano: 660 kg; perímetro escrotal com menos de 1 ano: 41 cm. Pioneer começou a despertar interesse dos criadores brasileiros de Simental já em 2003, logo após o nascimento de seus primeiros filhos. Nos anos seguintes, o desempenho em pista dos filhos de Pioneer atraiu ainda mais atenção sobre o reprodutor e sua genética diferenciada. Em 2004, ele já foi o 2º melhor reprodutor do ranking. Em 2005, a consagração de Pioneer. O título de melhor touro do ranking e o mais utilizado no Brasil em gado PO comprovavam a performance inquestionável do reprodutor da Casa Branca. A preferência dos criadores consolidou-se pelos títulos em 2006, 2007 e 2008. “O que mais impressiona em Pioneer é a homogeneidade dos seus filhos. Todos com pelagem zero, perfeitamente adaptados e altamente produtivos”, ressalta Marques. “Ele certamente fará falta à pecuária brasileira, mas a Casa Branca conta com um banco genético de Pioneer suficiente para atender as suas necessidades e a de projetos pecuários que, assim como nós, apostam na alta produtividade de um dos reprodutores mais importantes da história do Simental no Brasil”. PR Panorama Rural Junho 2009 35 Plante refúgio Quem planta milho Bt deve adotar a prática do refúgio, assim, continuará usufruindo todos os benefícios dessa tecnologia N a edição anterior da Panorama Rural trouxemos a matéria: “Foi dada a largada” – enfocando a primeira safra de milho transgênico no Brasil, que possibilita a aplicação de menos defensivos e mais milho por hectare. No entanto, para que a tecnologia continue eficiente, é preciso respeitar a norma do Plante Refúgio, que consiste no plantio de milho não-Bt como parte da área a ser plantada com milho Bt. O plantio de áreas de refúgio tem sido a principal recomendação de Manejo de Resistência de Insetos em todos os países em que as culturas Bt são cultivadas. No caso do milho Bt o plantio de 10% de refúgio tem sido a recomendação atual de todas as empresas que compõem a indústria de sementes e biotecnologia no Brasil. Segundo Cássio Camargo, diretor-executivo da Associação Paulista dos Produtores de Plantas e Mudas (APPS), em decorrência dos ganhos de produção com o milho Bt, a tendência é que essa prática cresça rapidamente, muito mais do que foi com a soja. E mais, muitos produtores podem não seguir a indicação de realizar o plantio da área com o não Bt, uma vez que a produtividade é menor e o gasto maior. 36 Panorama Rural Junho 2009 “Mas, o produtor precisa saber que para preservar esses ganhos, é fundamental plantar a área de refúgio”, salienta Camargo. Para conscientizá-los sobre essa necessidade, e uniformizar a comunicação sobre as recomendações de refúgio, foi oficializado o Grupo Técnico sobre Refúgio dentro da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrassem). Criou-se também a Campanha Plante Refúgio. “É uma campanha educativa, com material explicativo, folder, banner, placas ilustrativas nas estradas, com o objetivo de envolver os produtores rurais. Eles precisam saber que é melhor, por exemplo, ter cinco hecta- 10% da área deve ser plantada com milho não Bt res com menor produtividade com o produto não Bt, e ter o restante da propriedade produzindo bem com o Bt, do que não implementar o refúgio e com o tempo comprometer a produção”, observa Camargo. Além da Abrassem e outras associações da área, as empresas que oferecem a tecnologia Bt também apóiam a campanha que será desenvolvida até os meses de verão. Mais informações no site: www.planterefugio.com.br PR O que é refúgio? A área de refúgio consiste no plantio de milho não-Bt com um híbrido de ciclo vegetativo similar ao da parte da área plantada com milho Bt. Por que plantar refúgio? O objetivo do refúgio é preservar a eficiência e consequentemente os benefícios da tecnologia do milho Bt, mantendo uma população de pragasalvo sensível às proteínas, com efeito, inseticida do milho Bt. Assim, indivíduos da população de praga do refúgio irão acasalar com qualquer indivíduo resistente que possa ter sobrevivido na lavoura de milho Bt e transmitir a suscetibilidade ao Bt para as gerações futuras das pragas-alvo. O refúgio funciona com uma fonte de indivíduos suscetíveis. Com a preservação da característica de suscetibilidade, a proporção inicial de indivíduos suscetíveis e resistentes dentro da população é mantida e se previne o desenvolvimento de resistência, preservando-se assim a tecnologia Bt. O que é resistência de insetos? A evolução da resistência em populações de insetos-praga a práticas de controle é uma realidade e tem sido uma área de atenção em todos os segmentos de controle de pragas. A resistência pode ser definida como um fenômeno biológico que ocorre em resposta à pressão de seleção exercida pelo diferentes métodos de controle. A evolução da resistência consiste na seleção dos indivíduos resistentes e no aumento da frequência destes indivíduos ou de seus genes na população da praga, e, portanto na limitação da eficiência das tecnologias para o manejo de pragas. • No caso específico do milho Bt, as lagartas naturalmente resistentes podem sobreviver no campo e transmitir a resistência para gerações futuras. Entretanto, o risco de aumento da resistência pode ser minimizado com a adoção de medidas apropriadas. • A melhor maneira de preservar o benefício da tecnologia Bt é adotar o uso do refúgio como ferramenta do Manejo de Resistência de Insetos (MRI) que é um conjunto de medidas que devem ser adotadas com o objetivo de reduzir o risco para a evolução da resistência na população das pragas-alvo. Recomendações para o plantio da área de refúgio • O tamanho do refúgio deve ser representado por uma porcentagem da área total do milho plantado em uma propriedade rural, de acordo com o recomendado pela empresa registrante. No caso do milho Bt, a recomendação atual é que a cada 9 hectares semeados com milho Bt, 1 hectare adicional deve ser semeado com milho não-Bt para a manutenção do refúgio, ou seja, 10% da área; • Recomenda-se que o refúgio seja plantado com um híbrido de ciclo vegetativo similar, o mais próximo possível e ao mesmo tempo que o milho Bt; • O refúgio deve ser formado por um bloco de milho não-Bt que se encontre a menos de 800 metros do milho Bt; • A distância máxima entre qualquer planta de milho Bt do campo e uma planta da área de refúgio deve ser de 800 metros; • O refúgio deve ser plantado na mesma propriedade do cultivo do milho Bt e manejado pelo mesmo agricultor; • Não deve ser realizada a mistura de sementes de milho não-Bt com milho Bt. ATENÇÃO: • Fazer primeiramente a semeadura da área de refúgio com as sementes de milho não-Bt; • Caso a população de pragasalvo atinja o nível de dano econômico na área de refúgio, o controle poderá ser realizado com inseticidas que não sejam formulados à base de Bt; • A área de refúgio deve estar presente na área irrigada, quando for o caso, para que tenha as mesmas condições de manejo. Distribuição do refúgio no campo Bt Panorama Rural Junho 2009 37 Negócios “Iang Fiv de Tabapuã: Grande Campeão e Campeão Júnior Maior, da Feicorte 2008, em Araçatuba, repetiu o feito em Uberaba Tabapuã brilha na Expozebu, de Uberaba Walter do Valle A primeira raça de gado genuinamente brasileira, Tabapuã, da Fazenda Água Milagrosa na pequena cidade de Tabapuã, a 50 quilômetros de São José do Rio Preto, fez grande sucesso na 75ª Expozebu, encerrada no último dia 10 de maio, em Uberaba, MG. A raça zebuína 38 Panorama Rural Junho 2009 Tabapuã concorreu com 20 animais, filhos e filhas de grandes raçadores, como Viúvo, Tarolo, Iluminismo e Numeral, além de progênies de matrizes produtivas, Vanguarda, Acossada, Adivinha e Tarântula. A presença imponente de “Iang Fiv de Tabapuã”, 1.060 kg, nascido em agosto de 2006, eleito melhor reprodutor do Ranking da ABCT 2008, impressionou públi- A primeira raça de gado genuinamente brasileira, Tabapuã, é fértil e precoce sexualmente, extremamente rústica e de fácil adaptação co e jurados. Ele detém o título de Grande Campeão e Campeão Júnior Maior, da Feicorte 2008, em Araçatuba, e repetiu o feito em Uberaba, e levou mais um troféu para a coleção da Fazenda Milagrosa. Agora já são 1.394 taças e troféus conquistados nas maiores exposições do País e em controle de desenvolvimento ponderal e ganho de peso no Sumário de Tou- Panorama Rural Junho 2009 39 Negócios ros, da Embrapa e da Associação dos Criadores de Zebus, ABCZ. A raça Tabapuã vem conseguindo provar que o peso médio dos seus bezerros é 11,24 kg superior do que e muito, da nutrição animal. A aposta foi feita em cima de uma forrageira híbrida conhecida como capim mulato, resultado de pesquisas desenvolvidas pelo Centro Internacional A raça Tabapuã vem conseguindo provar que o peso médio dos seus bezerros é 11,24 kg superior do que outras raças de zebus outras raças de zebus. Aos 240 dias a média de peso dos bezerros é de 192,42 kg, aproximadamente 20 kg a mais do que seus competidores. É impressionante o ganho de peso médio da raça Tabapuã. Nas últimas 40 provas, desde 1992, cada animal adulto ganhou de 913 gramas a 1 quilo e 300 gramas por dia. Com detalhe importante: a Fazenda Água Milagrosa dispensa o manejo artificial dos reprodutores colocados à venda, machos e fêmeas, considerando que o Brasil apresenta as mais diversas condições de manejo e meio ambiente. A suplementação alimentar na entressafra é feita apenas com o uso de sal proteinado. O sucesso da genética aplicada na Fazenda Água Milagrosa depende, A progenitora Acossada de Tabapuã, mãe de campeões 40 Panorama Rural Junho 2009 de Agricultura Tropical, com sede na Colômbia. No pasto consorciado tem ainda brachiara brizantha, capim mombaça, guandu e milheto, variedades que o gado adora simplesmente. A família Zucchi Rodas, que comprou a Fazenda Água Milagrosa em março de 2005, não cria boi para abate, apenas vende reprodutores e faz parcerias com criadores, que podem arrendar as melhores matrizes e pagar o arrendamento com uma parte da bezerrada que nasce. Mas, as transações não param aí: “A Fazenda Água Milagrosa oferece ao comprador e ao arrendatário, suporte informatizado de gestão do rebanho. É possível cruzar dezenas de dados e índices de reprodutores à venda e dos descendentes deles”, explica Camargo. Ortemblad criou o mocho de orelhas grandes – para o sucesso da raça Tabapuã sobram argumentos: é fértil e precoce sexualmente, extremamente rústica e de fácil adaptação. As matrizes são dotadas de ótima habilidade materna, ganham peso rapidamente e são imbatíveis quanto ao aproveitamento da carcaça. “É um zebuíno dócil, bonito e imponente. Pelagem branca, com um cinza claro que vira marrom escuro, quase preto, do lombo a cabeça. É totalmente mocho (sem chifres) e orelhas bem grandes”, explica Paulo Camargo. O criador da raça Tabapuã, Alberto Ortemblad, falecido em 1994, contou em livro que tudo começou em Negócios Casarão construído em 1934 1940: “Ganhei de presente um bezerro mestiço, resultado de cruzamentos entre zebuínos Nelore com Guzerá, e um pouco de Gir. Ele viria a ser o touro Tabapuã T-0, o pai de todos, com a característica de ser mocho. Seus acasalamentos começaram em 1942”. No final da década de 50, Ortemblad se emociona: fica comprovado o sucesso do sistema que adotou, de acasalamento em linha reta (“in and breeding”). Os filhos de T-0 eram simplesmente maravilhosos. Em 1961 o Tabapuã passa a ter um padrão racial e registro genealógico. Participa de exposições e provas de ganho de peso, cujas vitórias sucessivas sobre as demais raças zebuínas lhe conferem valor e prestígio. Em 1968, Alberto Ortemblad funda a Associação Brasileira dos Criadores do Tabapuã. No ano seguinte, a raça é reconhecida e registrada pelo Ministério da Agricultura. Em 1970, o Conselho Técnico da ABCZ aprova o padrão racial do “Tipo Tabapuã”. Juntas, grandiosidade e beleza – com 3.050 h, a Fazenda Água Milagrosa é uma das maiores e mais belas propriedades rurais de São Paulo. Ali estão 28 casas de alvenaria para os empregados, mais cancha de bocha e campo de futebol. Quase dentro da ci- dade de Tabapuã (da entrada se avista o lugarejo que emprestou nome à nova raça) a fazenda tem 2 km de caminho arborizado do portão principal até a sede. Um casarão maravilhoso, construído por Alberto Ortemblad em 1934, dá um toque de classe à propriedade. A 50 metros fica a moderna capelinha em forma de pirâmide, construída em 2007, erguida onde havia uma antiga máquina de arroz. A capela foi inspirada no Museu do Louvre, quando Fábio Zucchi Rodas esteve na França, é toda de vidro azul e pode abrigar 12 pessoas nos três bancos de madeira. Rodas morreu um ano após a inauguração da capela, em outubro de 2007. Em 2005, a família de Zucchi Rodas adquiriu a propriedade e não foi preciso fazer milagre algum para dar continuidade à produção de frutas, seringueira, cana-de-açúcar e a genética da raça Tabapuã, A escolha do nome Tabapuã obedeceu a uma tradição mundial de denominação, que privilegia a cidade onde a raça nasceu. PR Capelinha em forma de pirâmide construída em 2007 Panorama Rural Junho 2009 41 Arquivo Itaipu Um dos produtores de orgânicos beneficiados pelo Programa Desenvolvimento Rural Sustentável realizado pela Itaipu Binacional Mercado em ascensão 42 Panorama Rural Junho 2009 A demanda por produtos orgânicos é crescente em nosso País e no exterior. Com mais incentivos e informações o Brasil pode ampliar seu espaço nesse atraente mercado V árias culturas agrícolas passaram a adotar práticas orgânicas durante o processo de produção, como por exemplo, o controle biológico de pragas, doenças e ervas daninhas, alguns exemplos poderão ser conferidos em outras duas reportagens que estão neste especial. A adoção dessas ações já é louvável e contribui para a manutenção do equilíbrio natural nas lavouras, no entanto, para um produto ser considerado orgânico não basta ser produzido sem agrotóxicos. Há muito mais por trás desse conceito. Produzir um alimento orgânico implica em adotar um sistema de produção agrícola cuidadosamente planejado para manejar o solo e os recursos naturais de forma equilibrada. O produtor orgânico é aquele que se preocupa em preservar a água, plantas, animais, insetos e toda a biodiversidade ao redor da sua propriedade, mantendo todos estes elementos num estado de equilíbrio entre si e com os seres humanos. O alcance ecológico deste conceito é bastante amplo, além disso, há também um resultado social inestimável que é alcançado pela agricultura orgânica, seja através da adoção de metodologias científicas que contribuem para que as lavouras se tornem sustentáveis no longo prazo, seja por meio da melhoria das condições de trabalho e de saúde dos produtores. Diferentemente da agricultura convencional dirigida para a grande escala de produção e com a finalidade de alimentar multidões, a agricultura orgânica atende nichos de mercado, principalmente, pessoas que valorizam essa concepção sustentável e têm poder aquisitivo para pagar por isso, uma vez que os orgânicos são mais caros que os não orgânicos. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2007, a movimentação mundial do mercado de orgânicos foi de US$ 40 bilhões. A Europa, a maior detentora desse mercado movimentou US$ 17 bilhões, seguido dos EUA, com US$ 15,5 bilhões e o Japão, 1,2 bilhão. Nesse mesmo ano, o Brasil contabilizou uma movimentação de US$ 250 milhões. O mercado de orgânicos no Brasil, que cresce a uma taxa de 30% ao ano, é um dos grandes nichos de mercado que aumenta cada vez mais no País, principalmente nas grandes cidades brasileiras. A procura por esses alimentos tem sido elevada, devido a sua concepção de produto exclusivo, sem a adição de nenhum elemento químico que possa acelerar o processo de produção. A aparência física de um produto orgânico é bem diferente de um alimento convencional. A banana, por exemplo, que o consumidor costuma encontrar em feiras livres ou supermercados, tem uma característica visual bem diferente, pois elas são menores e de cores mais vivas. Outro grande “filão” deste mercado são as hortaliças, também de menor tamanho e cores mais fortes. Uma das principais reivindicações do setor é a criação de um selo de qualidade nacional. O Ministério da Agricultura já estuda a criação de um certificado, o que poderia viabilizar ainda mais o Luciana Paiva Luciana Paiva e Ricardo Barbosa O alimento orgânico, como esse quiabo, tem produção limitada e atende nichos de mercado Panorama Rural Junho 2009 43 incentivos porque, muitas vezes, não têm como comprovar renda fixa. Um exemplo disso é Antonio Malta, produtor de bananas da região de Itapirai, no Vale de Ribeira, interior de São Paulo, que iniciou a sua produção Luciana Paiva comercio desses produtos. Apesar do crescimento, os produtos orgânicos chegam caro na mesa do consumidor. Plínio da Silva Telles, presidente da Associação da Agricultura Orgânica, AAO, diz que esse O alimento orgânico, por não receber defensivos químicos, não é tão bonito e perfeito como os convencionais, mas a doçura desse caqui é inigualável preço elevado é devido à influência do mercado, que vendem os produtos mais caros, por terem alta procura e pouca oferta. “Um dos grandes problemas é que há um alto valor agregado sobre os produtos orgânicos que chegam ao produtor”, esclarece Telles. Atualmente, grandes cidades brasileiras, como Porto Alegre e São Paulo contém lojas e feiras especializadas nesses tipos de produtos, onde a procura, segundo o presidente da AAO, tem aumentado de uma forma contínua. Adversidade orgânica – mesmo com o mercado em ascensão, os produtores enfrentam problemas, como a falta de crédito. Por serem produtores muito pequenos, não conseguem 44 Panorama Rural Junho 2009 apenas com recursos próprios, pois não conseguiu nenhum incentivo. Dono de 33 hectares de terra, hoje, Malta planta quinze mil pés de banana, que vende em sua banca na feira de orgânicos que acontece aos sábados no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo. “Para minha produção, dependo exclusivamente da natureza. Tentei me ingressar no Pronaf, mas não consegui, porque não tinha como comprovar renda. Os programas de auxílio aos produtores são para aqueles que têm grandes quantidades de terras”, desabafa. O produtor orgânico João Carlos Fontes Bastos, da região de Jundiaí, SP, concorda com o seu colega, e diz que o pequeno deve ser sempre auxiliado. Em 2001, Bastos perdeu quase toda a sua produção de caqui, devido a uma chuva de granizo. Hoje, ele sofre as consequências, pois os investimentos que queria fazer em sua propriedade de um mil m² é inviável, porque não tem crédito na praça. No entanto, ele se esforça para ampliar a sua produção, pois não tem dado conta de atender toda a demanda. De acordo com o presidente da AAO, por causa do grande crescimento do mercado orgânico, o setor conquistou linhas de créditos, o que deverá possibilitar novos investimentos. Insumos orgânicos – além dos produtos orgânicos, o setor de adubos também tem aderido à prática mais convencional de agricultura. De acordo com Carlos Augusto Pimentel Mendes, membro do conselho consultivo da Associação das Indústrias de Fertilizantes Orgânicos, Organominerais, Biofertilizantes, Adubos Foliares, Substratos e Condicionadores de Solo (Abisolo), o mercado interno de orgânicos ainda é pequeno, o que gira em torno de 12%, sendo que o setor de fertilizantes, em comparação com o de origem química gira em torno de 6%. “O setor de orgânicos ainda não se organizou e a função da Abisolo é exatamente trazer a organização para o segmento”, diz o representante da associação. De acordo com ele, todos os elos do setor não estão unidos, isso atrapalha principalmente o desenvolvimento tecnológico, “além do mais, existe pouco incentivo fiscal e de capital para que este segmento cresça”, completa. Outro problema apontado por ele é a falta de uma logística de distribuição de insumos que funcione, porque isso acarreta prejuízos tanto para a agricultura convencional, quanto ao orgânico. Toda ajuda é bem-vinda – no Luciana Paiva Luciana Paiva As galinhas tratadas com milho, frutas e verduras produzem muito menos que as de granja... Arquivo Itaipu Brasil, a agricultura orgânica, em grande parte, acontece em decorrência do incentivo de empresas e instituições a pequenos produtores, como uma forma de estimular a agricultura sustentável, visando a agregar valor aos produtos, aumentar a geração de renda e preservar o ambiente. Um desses casos é o realizado pela Itaipu Binacional que promove o programa Desenvolvimento Rural Sustentável, uma das ações do Cultivando Água Boa, programa socioambiental da Itaipu, desenvolvido nos 29 municípios que fazem parte da Bacia do Pa- ... para equilibrar os custos de produção, o preço dos ovos orgânicos é mais caro, mas vale raná 3 (parte da bacia do Rio Paraná que está conectada ao reservatório da usina). Os agricultores recebem assistência técnica, participam de cursos de agrotransformação e recebem apoio para a obtenção da certificação dos produtos orgânicos. O apoio também se dá na forma da realização de feiras orgânicas e no estímulo ao consumo, como, por exemplo, com a capacitação de merendeiras para a utilização de produtos orgânicos na merenda escolar. “O pro- Alguns alimentos produzidos pelos agricultores que fazem parte do programa Desenvolvimento Rural Sustentável, da Itaipu Binacional grama tem um componente educativo muito forte que é contribuir para que desde a idade escolar as pessoas conheçam os benefícios dos produtos orgânicos, que são muito mais saudáveis para os consumidores e também para o meio ambiente”, afirma o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Miguel Friedrich. Desde o início do programa, em 2003, mais de mil agricultores convencionais foram convertidos para as práticas orgânicas. Além de apoiar o desenvolvimento da agricultura orgânica, o “Desenvolvimento Rural Sustentável”, reúne outras iniciativas voltadas à agricultura familiar, turismo rural e culturas alternativas. A principal motivação da Itaipu é reduzir a contaminação de seu reservatório por agrotóxicos e outros efluentes da agropecuária, contribuindo assim para os usos múltiplos do lago, que além de gePanorama Rural Junho 2009 45 Divulgação Divulgação A Organics Brasil participa de feiras orgânicas em diversos países rar energia, fornece água para o lazer, a pesca e o abastecimento urbano. Conquista do mercado externo – o primeiro quadrimestre de 2009 tem sido de excelentes resul- A O interesse pelos produtos orgânicos do Brasil está em alta e nosso potencial de crescimento é muito expressivo Agrifam debate crescimento da agricultura orgânica Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural, Agrifam, que ocorrerá entre os dias 31 de julho a 2 de agosto, no Instituto Técnico Educacional dos Trabalhadores Rurais do Estado de São Paulo, sede da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo, Fetaesp, localizada na município de Agudos, SP, terá, entre os seus diversos temas, uma discussão sobre a produção e o cultivo de orgânicos. O seminário, cujo tema principal é a agroecologia, debaterá o crescimento do setor no mercado agrícola nacional. Marcos Macedo, organizador do seminário, diz que um alimento orgânico é muito mais do que um produto sem agrotóxicos, A agricultura orgânica contribui para aumentar a renda dos pequenos e médios produtores, mas é preciso incentivos e informação 46 Panorama Rural Junho 2009 pois envolve todo um processo produtivo, incluindo a preparação do solo. O Seminário abordará as práticas culturais, explanação de conceitos, métodos e controle de pragas e doenças, explicará sobre o retorno econômico para migração do manejo convencional para o orgânico, além de apresentar toda legislação vigente e financiamentos para a produção orgânica. As palestras serão ministradas por cinco especialistas na área: professor Dr. Francisco Câmara, da Unesp de Botucatu; o engenheiro agrônomo Dr. Marcelo Laurindo; fiscal Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a professora do Centro Paula Souza, Dra Raquel Fabri Souza; o engenheiro agrônomo Ricardo Cerveiro, do Instituto Biosistêmico e a secretária executiva estadual do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Pronaf, Dra. Marly Teresinha Pereira. tados para o Projeto Organics Brasil, que reúne empresas de produtos orgânicos para exportação. O volume negociado já ultrapassou US$ 37 milhões e a participação nas feiras do setor indica que a crise econômica mundial ainda não afetou os negócios de orgânicos, sendo que o Brasil continua prestigiado com seus ingredientes e frutas exóticas, cosméticos de alta qualidade, confecção em algodão orgânico e os produtos industrializados. O Projeto Organics Brasil surgiu para promover os produtos orgânicos brasileiros no mercado internacional, reunindo empresas e produtores em torno de uma marca única, atendendo aos mais exigentes padrões de adequação sócio-ambiental. O Organics Brasil é resultado de uma ação conjunta da iniciativa privada (Instituto de Promoção do Desenvolvimento e da Federação das Indústrias do Estado do Paraná) e entidade governamental (Apex-Brasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), compondo uma sólida base institucional criada para fortalecer o setor brasileiro de orgânicos e viabilizar sua expansão no mercado internacional. Pela credibilidade das entidades ligadas ao Projeto, aliada a identidade visual do estande e a qualidade dos produtos, a participação nas principais Feiras internacionais do setor tem tido excelente retorno financeiro e institucional para a marca Brasil: “Este ano já estivemos na Biofach em Nuremberg (Alemanha), na Expo West, na Califórnia (Estados Unidos), na SIAL, em Toronto (Canadá) e vi- sitamos a feira Natural & Organics Products Europe em Londres. Conseguimos fechar pouco mais de US$ 37 milhões em negócios para exportação para os próximos 12 meses. Numa economia mundial em crise, percebemos que o interesse pelos produtos orgânicos do Brasil está em alta e nosso potencial de crescimento é muito expressivo. Quem consome orgânicos, compra conceito de sustentabilidade social e qualidade de vida”, explica Ming Liu, coordenador executivo do Projeto Organics Brasil. As 71 empresas do Projeto Organics Brasil participam, ainda no primeiro semestre, da feira americana All Things Organics, de 16 a 18 de junho, em Chicago. Mais informações com Organics Brasil - www.organicsbrasil.org PR Panorama Rural Junho 2009 47 De acordo natureza das Exigência do mercado por produtos sem substâncias tóxicas impulsiona no Brasil a pesquisa e o uso de mecanismos de controle biológico de pragas agrícolas Geraldo Hasse À sombra da intensa guerra comercial dos gigantes da agroquímica, crescem no Brasil a pesquisa e o uso de mecanismos de controle biológico de pragas agrícolas – não tanto por uma evolução da consciência ambiental dos agricultores, mas pela exigência dos consumidores estrangeiros que reclamam alimentos isentos de substâncias tóxicas. Em alguns países, o temor dos consumidores já se converteu em barreiras sanitárias contra importações indiscriminadas. Em 2004, a China recusou uma carga de soja brasileira, alegando que os grãos continham resíduos de fungicidas, provavelmente aqueles usados para tratar a última grande praga da sojicultura – a ferrugem, causada por um fungo de origem asiática. Em Presidente Lula com representantes da BrasilBio 48 Panorama Rural Junho 2009 com a coisas Ungla ivancruzi é capaz de devorar mais de 200 pulgões por dia: nova aliada no controle biológico 2006, o mel brasileiro foi embargado na Europa por motivo semelhante. Em consequência desses problemas, os produtores obrigam-se a reduzir ou eliminar o uso de agroquímicos em suas lavouras, adotando métodos mais ecológicos de produção. Atualmente, existem no Brasil cinco empresas de certificação de ações ou produtos ecologicamente corretas. Todas nasceram sob inspiração de exigências européias, mas seguem as normas brasileiras da agricultura orgânica, regulamentada em dezembro de 2007, quando o pessoal do setor (organizado sob a sigla BrasilBio) foi recebido com um café-da-manhã pelo presidente Lula, no Palácio do Planalto, em Brasília. O mais antigo certificador do Brasil é o Instituto Biodinâmico, com sede na Fazenda Demétria, em Botucatu, SP, que produz ervas medicinais e difunde os princípios da agricultura biodinâmica, baseada na Alemanha. Outras certificadoras têm como referências a Suíça, a Holanda e a França. Fundada em 2001 em Porto Alegre e hoje com sede em Florianópolis, a francófila Eco Cert tem atualmente Panorama Rural Junho 2009 49 1600 produtores certificados, mais concentrados nos Estados do Sul, embora haja também fornecedores de essências medicinais e cosméticas na Amazônia. “No começo a gente mal ganhava para se sustentar, mas agora esse mercado está crescendo tanto que temos dificuldade em acompanhálo”, diz o agrônomo João Vieira de Oliveira, sócio-fundador da Eco Cert. Pesquisas – tanto em valores quanto em volumes, os negócios envolvendo o controle biológico de pragas representam uma fração mínima das compras de agroquímicos, um mercado estimado em US$ 7 bilhões em 2008 no Brasil. Mas em todas as principais lavouras – de grãos, folhas, frutas, fibras e raízes – há pelo menos uma linha de produtos biológicos à venda ou uma pesquisa em andamento. A empresa mais engajada no desenvolvimento desses sistemas é a onipresente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que Ponto Final: um inseticida totalmente biológico lançado pela Embrapa para o controle da lagarta da soja, lagarta das hortaliças e a lagarta do cartucho do milho 50 Panorama Rural Junho 2009 Ivan Cruz: “os inseticidas têm dizimado muitos inimigos naturais. É preciso reverter este quadro” possui mais de 40 centros de pesquisa no Brasil. Embora seja francamente favorável ao uso de sementes transgênicas, a Embrapa tem dezenas de cientistas trabalhando nas fronteiras da agricultura biológica, numa busca incessante para produzir alimentos livres de produtos químicos perigosos para a saúde humana e malignos para o meio ambiente. Até alguns anos atrás, os agrônomos adeptos do controle biológico eram discriminados pelos colegas engajados na difusão dos insumos da indústria química. A separação ficou patente no vocabulário de ambos. Enquanto os quimicistas tratam os insetos como “pragas”, os biologistas os consideram simplesmente “inimigos” das lavouras. Da mesma forma, para os primeiros, usamse herbicidas para combater as “ervas daninhas”, que os outros tratam como “invasoras”. A animosidade entre os dois lados foi bastante exacerbada pelo agrônomo gaúcho José Lutzenberger, que traba- lhou duas décadas para uma indústria química alemã antes de se tornar líder ecológico no Rio Grande do Sul. Apontados como ingênuos ou românticos, os biologistas consideram os quimicistas escravos da indústria de insumos agrícolas. O método químico não é a única alternativa – de fato, tornarse vendedor de adubos e produtos químicos foi durante as últimas décadas do século XX a principal escolha profissional de centenas de agrônomos recém-formados nas faculdades brasileiras de agronomia. “A maioria dos meus colegas da agronomia se tornou PhD – Picaretas habilitados em Defensivos”, disse em 2003, com uma pitada de veneno, o agrônomo-agricultor Fernando Yokozawa, campeão de produtividade do milho no Paraná naquele ano. Hoje os profissionais do setor saem das faculdades conscientes de que os métodos químicos estão longe de ser os únicos disponíveis, como faz crer a propaganda das indústrias. A pesquisa biológica já exerce mesmo grande atrativo sobre os recém- formados. Porém, falta convencer a maioria dos agricultores de que existem alternativas. “Hoje, muitos agricultores, por desconhecimento, buscam métodos imediatos no controle de pragas. No entanto, os inseticidas têm dizimado muitos inimigos naturais. É preciso reverter este quadro, como já fazem o número de aplicações e, até, dos inseticidas disponíveis no mercado. Entretanto, ainda não há tratamento biológico para todos os inimigos das lavouras. Em fevereiro de 2008, num encontro técnico sobre milho-safrinha em Dourados, MS, o pesquisador Crebio Ávila listou as principais pragas cada vez mais cedo. A precocidade do seu ataque levou os técnicos a recomendar a aplicação preventiva de inseticidas nas sementes e nos sulcos de semeadura. Entretanto, está provado que, além de ser desperdício de dinheiro, isso só contribui para degradar a biodiversidade. Baculovírus, 25 anos de sucesso nos sojais – a soja é a lavoura que mais consome agrotóxicos no Brasil. Em 2008, foram mais de US$ 2 bilhões apenas para controlar a lagarta e o percevejo. Atualmente, os gastos com agroquímicos representam cerca de 50% dos custos de produção com a cultura da soja, onde o equipamento mais usado é o pulverizador. Ao mesmo tempo, 10% das lavouras de soja são manejadas sem uso de produtos químicos. Em dois milhões de hectares, os agricultores usam o Baculovírus anticarsia como forma de controlar a população da lagarta-da-soja, a Anticarsia gemmatalis. Lagarta-do-cartucho, a mais danosa das inimigas da lavoura do milho, pode ser controlada biologicamente outros países”, afirma o agrônomo Ivan Cruz, veterano pesquisador da Embrapa de Sete Lagoas, voltada para o melhoramento do milho e do sorgo. Atualmente, com as pesquisas mostrando os pontos negativos do uso indiscriminado de produtos químicos, como a ocorrência de novas pragas ou a resistência das já existentes aos inseticidas, os cientistas dos dois lados começam a abrir-se para a colaboração recíproca, retomando o chamado Manejo Integrado de Pragas (MIP). É consenso que a busca por tratamentos mais saudáveis tende a diminuir dos milharais. São tantas que se dividem em subterrâneas, de superfície e aéreas: percevejo castanho, corós, larva-alfinete, lagarta-elasmo, tripes, cigarrinhas-das-pastagens, piolho-decobra, caracóis e lesmas, percevejo barriga-verde e lagarta-do-cartucho, a mais danosa das inimigas dessa lavoura. Essa mudou seu comportamento, tornando-se mais voraz e atacando A soja é a lavoura que mais consome agrotóxicos no Brasil Panorama Rural Junho 2009 51 A lagarta da soja (foto) e o percevejo demandam mais de 90% das medidas de controle A promissora ungla A Ungla poderá se tornar chave no controle biológico de pragas do milho O controle biológico de pragas deixou de ser o primo pobre da pesquisa científica ou o último da fila na distribuição das verbas. Em muitos casos, a pesquisa biológica está na mão de dirigentes, como é o caso de Ivan Cruz, da Embrapa de Sete Lagoas. Em 2006 ele descobriu um inseto novo em experimentos de milho. Nunca visto anteriormente num ecossistema brasileiro, o bichinho foi batizado como Ungla ivancruzi em homenagem ao seu descobridor. Foi um grande achado. A Ungla é um crisopídeo que poderá se tornar chave no controle biológico de pragas do milho, como ácaros, pulgões, lagartas e até a broca-da-cana, que está atacando os milharais. Além de ser capaz de devorar mais de 200 pulgões por dia, ele põe 20 a 30 vezes mais ovos do que os outros crisopídeos e pode ser criado e multiplicado em laboratório usando tecnologias já conhecidas. O caso da Ungla ivancruzi é apenas um exemplo do que vem acontecendo nos bastidores da pesquisa agronômica brasileira. 52 Panorama Rural Junho 2009 Comercializado em forma de pó, o baculovírus evita o uso de dois milhões de litros de inseticida químico, a cada ano. Ele começou a ser usado em 1983 como resultado de uma pesquisa do agrônomo Flavio Moscardi, da Embrapa de Londrina. É um caso raro de eficiência no campo e de boa aceitação pelos produtores. Na comparação com os inseticidas químicos, é 70% mais econômico. Por atacar apenas a lagarta, esse bioinseticida não interfere na população de outros seres vivos, insetos ou microorganismos, que podem ser úteis no controle de outras pragas. Pela sua larga distribuição geográfica, a lagarta é considerada a principal praga desfolhadora dos sojais. Dependendo do seu estágio de crescimento, a planta pode tolerar desfolha de até 100% sem reduzir a produtividade. O momento mais sensível é quando a vagem está se formando. Já o percevejo (fede-fede, em algumas regiões) suga os grãos, diminuindo a quantidade de óleo e deixando a porta aberta para fungos e bactérias. A Embrapa está desenvolvendo uma tecnologia para o controle biológico do percevejo da soja, usando vespas como predadoras. A aplicação indiscriminada de inseticidas químicos é fruto de uma combinação da ignorância dos agricultores com o prevalecimento técnico dos vendedores de agroquímicos. Além de acreditar no poder da química, os produtores não acreditam na capacidade de recuperação natural das plantas. Ao menor sinal de ataque de um inimigo da lavoura, eles se apavoram com o risco de perdas e aplicam um inseticida químico sem necessidade, provocando um desequilíbrio ecológico que faz os insetos voltarem mais fortes. As duas pragas juntas, lagarta e percevejo, demandam mais de 90% das medidas de controle. A cada safra, os agricultores fazem em média duas pulverizações contra a lagarta e seis contra o percevejo. Outros insetos e microorganismos atacam a soja, mas são regionais ou sazonais e só demandam ações específicas quando há infestação. O sucesso do baculovírus tem O pesquisador Paulo Afonso Viana, da Embrapa, prepara extrato com a planta nim para o controle de lagartas a ver também com o baixo custo de seu uso. O programa começou no Rio Grande do Sul e no Paraná e está hoje em todas as regiões produtoras. Para que o produto não faltasse, a Embrapa de Londrina desenvolveu e repassou a empresas privadas uma tecnologia de produção em larga escala do bioinseticida. A difusão foi feita inicialmente por cinco empresas. Flavio Moscardi guardou o baculovírus como idéia para o futuro A descoberta da potencialidade do Baculovírus anticarsia como inimigo natural da lagarta-da-soja, nos anos 70, deve-se ao norte-americano Roger Williams, professor da Universidade da Flórida convidado para pesquisar soja na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba. Ele mandou examinar lagartas encontradas mortas em lavouras brasileiras de soja. A causa da morte era um vírus da família baculoviridae. Aluno de Williams, Flavio Moscardi guardou o baculovírus como idéia para o futuro. Em 1975, pesquisador da Embrapa, ele foi para os EUA fazer cursos de mestrado e doutorado em ecologia de insetos. Ao voltar para o Brasil, em 1979, tinha um projeto para transformar o baculovírus em inseticida biológico. As pesquisas foram realizadas em parceria com as empresas estaduais de assistência técnica do Paraná e do Rio Grande do Sul. No começo, em 1986, o vírus começou a ser “produzido” artesanalmente pelos produtores. Eles coletavam as lagartas, punham no freezer para congelar. Depois, na hora de usar, as lagartas eram maceradas Panorama Rural Junho 2009 53 e a pasta resultante era diluída em água para aspersão na lavoura. Logo em seguida a Embrapa lançou uma formulação em pó, solúvel em água. Mesmo com a oferta do produto no mercado, muitos agricultores prefe- rem manipular seu próprio bioinseticida na propriedade. Durante a década de 1970, quando se iniciou o cultivo de soja no Paraná, o número médio de aplicações de inseticidas químicos contra a Quase um século de experiência Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado estudam o chinchilho, também conhecido como erva-fedorenta, no controle da tiririca A o contrário do que se imagina, o controle biológico é anterior à massificação dos agroquímicos, ocorrida nos anos 1950. O primeiro grande esforço para controlar pragas agrícolas com a ajuda de meios biológicos foi realizado nos anos 1920, quando se buscou na África um inimigo natural da broca do cafeeiro. Nos anos 1930, os citricultores importaram predadores a mosca das frutas (Ceratitis capitata), por exigência de importadores europeus. Já a tecnologia de controle biológico da broca da cana foi importada de Cuba e introduzida logo depois da Segunda Guerra Mundial em canaviais do Estado de São Paulo. Nos anos 1970, a Embrapa importou parasitóides para controlar os pulgões dos trigais do Sul. Na década de 1990, a Embrapa de Petrolina, PE, importou a vespinha Trichogramma pretiosum da Colômbia para o controle da traça do tomateiro, uma das plantas mais pulverizadas por agroquímicos. Na maior parte dos casos, os tratamentos biológicos deram bons resultados, mas faltou continuidade, até porque os defensores desses métodos não tiveram força para contrariar as campanhas pelo uso de produtos químicos. A retomada do emprego de agentes biológicos no combate a pragas agrícolas no Brasil mostra que há um enorme campo para intercâmbio técnicocientífico com outros países. 54 Panorama Rural Junho 2009 lagarta era de quatro a seis por safra. Com a prática do controle biológico, o número de aplicações caiu para menos de duas vezes no final da década de 1990. Nesse período, os inseticidas organoclorados foram substituídos por outros menos agressivos ao meio ambiente. Entretanto, a combinação de métodos químicos e biológicos foi negligenciada nos últimos anos, permitindo uma intensificação no uso dos agroquímicos. A partir de 2000, as aplicações de inseticidas na cultura da soja aumentaram novamente, num ritmo de 8% ao ano, segundo avaliação da Emater-PR. Um dos fatores do retrocesso do Manejo Integrado de Pragas, segundo os técnicos, foram certas práticas equivocadas de controle, relacionadas com o plantio direto, que exige o uso de herbicidas ou dessecantes vegetais. Com a intenção de economizar em mão-de-obra e mecanização, muitos produtores passaram a misturar herbicida e inseticida, aplicando uma dose altamente tóxica que acaba com os inimigos naturais das pragas e provoca o desequilíbrio na lavoura. Segundo Moscardi, essa mistura faz com que pragas antes secundárias e combatidas pelos inimigos naturais passem a se tornar importantes nas lavouras, levando a um gasto ainda maior para o controle da população – cada vez mais elevada – de insetos e fungos. O produtor entra num círculo vicioso, aumentando a aplicação de agrotóxicos porque a população de pragas aumentou. “Isso leva ao risco que houve na década de 70, quando soou o alarme do uso descontrolado de agrotóxicos nas lavouras”, diz Moscardi. O uso “preventivo” de agrotóxicos é antieconômico, antiecológico e contraproducente. A doença mais preocupante na lavoura de soja, atualmente, é a fer- rugem asiática. Ela apareceu há dez anos no oeste da Bahia, de onde se alastrou para outras regiões. A Embrapa de Londrina comanda um verdadeiro exército de pesquisadores para estudar o assunto. Recentemente, surgiu a suspeita de que os produtos usados no controle químico da ferrugem asiática podem estar afetando as populações do fungo Nomurea riley, que é benéfico para a cultura da soja, pois atua no controle biológico de várias lagartas. O alerta foi dado pelo agrônomo Daniel Sosa-Gomez, que observou um aumento da população de lagartas após a aplicação “preventiva” de fungicidas. A ferrugem da soja tem sido tratada exclusivamente à base de produtos químicos, mas já existem experimentos alternativos. Em 2007, a agrônoma Regiane Medice ganhou o título de mestre em fitopatologia na Universidade Federal de Lavras com um trabalho pioneiro sobre o uso de extrato de alho e óleos essenciais de eucalipto, tomilho, nim e outras plantas no tratamento da ferrugem. Ela obteve resultados positivos. Rotenona, feromônios etc. – os produtos químicos foram difundidos amplamente depois da II Guerra O controle biológico preserva os inimigos naturais das pragas como a joaninha Mundial, colocando de lado substâncias naturais usadas na medicina ou na agricultura, como a tradicional rotenona, extraída do timbó, a árvore da qual os índios brasileiros se valiam para tontear os peixes nos rios e lagoas. Mesmo com a difusão maciça dos agrotóxicos, a pesquisa natural ou biológica nunca parou. Numa de suas circulares, a Embrapa cita Salen Ahmed, botânico de Honolulu, que coordena uma pesquisa de 2000 plantas reconhecidas como tóxicas para diversos insetos. Trata-se de um conhecimento represado que tende a vir à tona, caso a indústria química perca seu salvo-conduto para matar insetos, ervas e outros seres vivos. Por isso é interessante observar o que a agricultura orgânica e a pesquisa biológica vêm desenvolvendo para que os produtores rurais não dependam só de produtos químicos. Em várias culturas como as da maçã, pêra, pêssego, cítricos, algodão e tomate, os feromônios sexuais vêm sendo adotados com sucesso. Existentes em todos os animais, os feromônios sexuais já foram detectados em pelo menos 12 espécies de insetos, incluindo formigas, aranhas, baratas e ácaros. Na agricultura, já se produzem feromônios sintéticos que são usados como monitores do grau de infestação dos inimigos das lavouras, como armadilhas ou como instrumento para confundir os machos, numa verdadeira guerra biológica. Entretanto, se a infestação de inimigos chega a um nível perigoso, recorre-se Em culturas como a da maçã, os feromônios sexuais vêm sendo adotados com sucesso Panorama Rural Junho 2009 55 ao arsenal químico, mas sempre com moderação. Mais ou menos como a homeopatia, que recorre à alopatia em casos extremos. Já em 2000, os técnicos da Epagri-SC esboçavam um esforço para introduzir o controle biológico nos pomares de maçã, que passavam por 15 pulverizações anuais de diversos produtos químicos – acaricidas, inseticidas, fungicidas, herbicidas. Quem mais se adiantou no assunto foi a Sanjo, uma cooperativa de descendentes de japoneses em São Joaquim. O Brasil luta com as exigências dos importadores de frutas desde os anos 1920, quando os exportadores de laranjas do interior paulista foram obrigados a adotar mecanismos de combate à mosca das frutas, o mais internacional dos insetos-praga da agricultura (veja o box 1). Vassoura-de-bruxa – graças a uma pesquisa conduzida em Belém pelo agrônomo Cleber Bastos, começou a ser empregado o controle biológico da terrível vassoura-de-bruxa do cacaueiro, doença provocada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, que reduziu a 20% a produção brasileira de cacau. A partir de outro fungo, Trichoderma stromaticum, Bastos criou um produto chamado Tricovab, que vem sendo aplicado com êxito em material infectado pela causadora da Adubação verde adotada na usina São Francisco, em Sertãozinho, SP, para a produção do açúcar Native 56 Panorama Rural Junho 2009 O extraordinário nim A Embrapa de Sete Lagoas está difundindo o uso do extrato de nim para o controle da lagarta do cartucho, a principal praga do milho no Brasil. Cultivado nas Américas nas últimas décadas, o nim é usado desde 1928 em lavouras de arroz e cana na Índia, sua terra natal. O extrato das sementes ou das folhas paralisa o desenvolvimento das lagartas, matando-as em quatro ou cinco dias, sem causar danos colaterais ao meio ambiente. A proporção recomendada pela Embrapa é de 7,5 quilos de sementes trituradas por A árvore Nim é utilizada desde 1928 na Índia, sua terra natal, no controle de pragas 200 litros de água. Depois das lavouras de arroz e cana-de-açúcar de 12 horas, o líquido pode ser aplicado sobre milharais de agricultores familiares. Para evitar o entupimento dos bicos dos aspersores, a Embrapa recomenda coar bem o extrato da borra do produto. Da mesma família do cinamomo e do cedro, o nim cresce rápido e dá boa madeira. vassoura-de-bruxa. Um dos mais extraordinários exemplos do futuro do controle bio- lógico na agricultura brasileira é a Native, projeto do agrônomo Leontino Balbo Jr em canaviais de sua famí- Aplicação do Metarril no controle da cigarrinha de pastagens lia em Sertãozinho, SP. Ao dispensar a queima da palha e adotar diversas práticas orgânicas, ele se colocou dez anos à frente da concorrência, mostrando que esse tipo de manejo do solo e das plantas pode ser executado em larga escala, com bons rendimentos agrícolas e ótimos dividendos ambientais. Mesmo com a evolução da pesquisa biológica, a indústria química ainda tem a faca e o queijo na mão. Segundo um relatório da FAO, as pragas agrícolas provocam perdas de 30% nas lavouras tropicais; a cultura mais afetada é o milho, com 19% de perdas. Se essas perdas fossem zeradas, isso representaria 10 milhões de toneladas a mais de milho, todo o ano, no Brasil. Graças ao pavor das perdas com pragas, porém, a indústria química engoliu as companhias de sementes e vem lançando sementes transgênicas das principais culturas. Uma geração de trabalho – uma das mais antigas empresas a operar no ramo dos biopesticidas é a Itaforte, fundada há 13 anos em Itapetininga, SP. O produto mais vendido da empresa, que tem 60 funcionários, é um inseticida chamado Metarril, o primeiro produto microbiano a base de fungo para o controle da cigarrinha de pastagens no Brasil. Outro inseticida é o Boveril, que tem como ingrediente ativo esporos do fungo Beauveria bassiana, que ocorre na natureza. Ele é usado no controle do ácaro da ferrugem dos citros, no combate ao gorgulho do eucalipto e no controle da mosca branca em cultivos de pepino e tomate em estufas. A empresa também produz o Trichodermil. Primeiro biofungicida registrado no Ministério da Agricultu- Adulto de cigarrinha da raiz da cana infectada pelo fungo Metarhizium anisopliae ra, ele é feito a base do fungo Trichoderma harzianum e atua no controle de outros fungos de raízes ou de solo, causadores de podridões vasculares, murchamentos e tombamentos de plantas. O produto não é recomendado para doenças foliares, como as ferrugens, o que o exclui da luta contra o fungo da ferrugem da soja. Ao contrário do que possa parecer, a aplicação de produtos biológicos exige mais controle do que os químicos, cuja difusão foi facilitada pela indústria de máquinas e imple- mentos rurais. Mas a falta de fomento e de assistência técnica no campo não impede que os produtos biológicos sejam usados em larga escala, como vem acontecendo em propriedades agrícolas do Brasil Central. Se no combate aos insetos-praga já se conseguiu avançar bastante, no controle das chamadas ervas invasoras das lavouras a pesquisa está praticamente na estaca zero. “Infelizmente, ainda não há métodos biológicos para substituir os herbicidas”, diz o engenheiro florestal Ariclenis Balarotti, fundador da Itaforte. Além de ser marginal no sistema global de produção, a pesquisa de microrganismos pouco avança porque, ao contrário do que acontece na área de sementes, a legislação brasileira não prevê patente para bactérias. PR Fungo Metarhizium anisopliae produzido na biofábrica (aspecto antes da formulação) Panorama Rural Junho 2009 57 As vespinhas Cotésia nos copinhos: prontas para liberação nos canaviais As vespinhas protegem o campo A Cotésia flavipes, a vespinha que controla a broca da cana, já é famosa, agora surge outra vespinha a Trichogramma Prestiosum para controlar lagartas da soja Luciana Paiva N os canaviais brasileiros a vespinha Cotésia flavipes faz o maior sucesso como inimiga natural da broca Diatraea saccharalis, considerada a principal praga da canade-açúcar. Como a natureza não consegue produzir vespas suficientes para controlar a broca dos extensos canaviais, existem laboratórios que produzem e comercializam a Cotésia. 58 Panorama Rural Junho 2009 Recentemente, o mundo rural recebeu a notícia que mais uma vespinha vai salvar a lavoura, dessa vez a de soja. A nova heroína chamada oficialmente de Trichogramma Prestiosu é menor ainda que a Cotésia, na verdade é microscópica, e aparece como inimiga natural de duas lagartas que atacam os campos de soja no CentroOeste do Brasil. A novidade é resultado de um estudo de Regiane de Freitas Bueno, bolsista da Embrapa Soja, unidade localizada em Londrina, PR. Segundo informações da assessoria da Embrapa, no trabalho, iniciado por ela no programa de doutorado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Regiane aponta a estratégia do manejo biológico do inseto no controle das lagartas Pseudoplusia includens e a Anticarsia gemmatalis – também conhecidas como lagarta falsa medideira e lagarta da soja, res- Adulto da lagarta falsa medideira pectivamente. A Pseudoplusia includens e a Anticarsia gemmatalis são as responsáveis pelo não desenvolvimento dos grãos da oleaginosa. Estes dois tipos de pragas se alimentam das folhas da planta, enfraquecendo-a e impedindo o grão de crescer. Debruçada em bancadas do laboratório de entomologia da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás, GO, onde parte da pesquisa foi desenvolvida, Regiane testou o desempenho de 17 linhagens de vespas capazes de controlar as pragas. Do total de linhagens investigadas, a bolsista concluiu que a Trichogramma prestiosum resolve o problema de vez. Basta colocar a vespinha (fêmea) em ovos das lagartas. O resultado não pode ser melhor: a vespinha “liquida” a lagarta ainda no ovo. “Em vez de nascerem novas lagartas, nascem novas vespas. A Trichogramma prestiosum impede a lagarta de se desenvolver”, comemora a jovem pesquisadora. Trabalho merece prêmio – esse estudo da bolsista da Embrapa Soja, chamado Bases biológicas para utilização de Trichogramma prestiosum para controle de lagartas em soja, é tão interessante que conquistou o primeiro lugar do 1º Prêmio Agroambiental Monsanto, na categoria pesquisador, modalidade técnica. Entusiasmada com o trabalho, agora Regiane dá ênfase a uma outra fase desse mesmo tema: as vantagens econômicas do uso do controle biológico das pragas nas lavouras de soja. Esta nova etapa faz parte do estudo que a pesquisadora começa ainda neste semestre na Embrapa Soja, em programa de pós-doutorado. Faltam Cotésias no mercado – com a expansão da lavoura canavieira, a demanda por vespas se intensificou e nas novas fronteiras da cana o produto chega a estar em falta. A instalação de laboratórios biológicos especializados na produção da Coté- sia passou a ser um negócio atraente. No final de outubro de 2007, Araçatuba, SP, ganhou seu primeiro laboratório de produção da Cotésia flavipes. “Montamos o laboratório conforme projeto do professor Newton Macedo, o maior especialista na área, que nos orientou acerca de as melhores práticas para a produção de vespas que oferecem um controle eficiente da broca”, conta Bianca Rípoli Lara, uma das sócias do Bioeste Soluções Integradas. O Bioeste iniciou suas atividades com seis funcionários, seis meses depois já contava com 26 funcionários, e mesmo assim não conseguia atender a todos os clientes. “A área de cana cresceu muito na região, e também aumentou a conscientização entre os fornecedores de cana sobre a necessidade do controle biológico da broca. Por isso, a procura é intensa, quando não conseguimos atender a demanda, encaminho os clientes para laboratórios concorrentes, pois o fundamental é que não fiquem sem o produto”, comenta Bianca. Atualmente, outros Adulto da lagarta da soja Anticarsia gemmatalis Panorama Rural Junho 2009 59 Lagarta dentro da cana: prejuízo laboratórios de controle biológico das pragas da cana já se instalaram em Araçatuba. A eficiência da vespinha – Leandro Aurélio Rossini, engenheiro agrônomo do departamento técnico e comercial da Biocontrol, empresa localizada em Sertãozinho, que atua há 16 anos no seguimento de controle biológico das pragas da cana, salienta que são vários os motivos da maior demanda: o aumento do plantio de variedades de canas susceptíveis à broca; a desativação de alguns laboratórios de usinas devido à baixa densidade de broca encontrada nos últimos seis anos; a falta de planejamento de algumas usinas e produtores que não têm controlado a broca logo em sua primeira geração – durante o ano ela passa por cinco gerações. Mas de acordo com Rossini, o principal motivo da procura pela Cotésia está relacionado à sua eficiência no campo. “A vespinha fêmea procura pela lagarta através do cheiro característico de suas fezes até dentro da cana, não tem como escapar”, afirma Rossini. A vespa insere seus ovos dentro da lagarta, suas larvas se alimentam da broca e quando estão desenvolvidas saem da broca perfurando-a e matando-a. Transformam-se em um casulo de onde sairão novas vespinhas que vão parasitar outras lagartas. É tudo natural, sem danos ao ambiente. “Já o produto químico oferece ação apenas às lagartas pequenas que estão fora da cana, além de ser mais caro”, argumenta. São necessárias 20 bilhões de vespas – Rossini explica que atualmente no Brasil existem aproximadamente 7 milhões de hectares de cana plantada, para proteger esses canaviais da broca, são necessárias perto de 20 bilhões de vespas. Há uma defasagem entre oferta e demanda de 18%. Para produzir as vespas, os laboratórios também desenvolvem brocas. Aqui a broca na fase de crisálida Preparo do meio de cultura onde se desenvolverá a larva da broca 60 Panorama Rural Junho 2009 “Existem aproximadamente 70 laboratórios de criação desses parasitóides, contando os instalados em usinas e os particulares, existem condições de produzir o volume que o mercado precisa, mas para isso, é fundamental melhorar os rendimentos de produção”, salienta Rossini. Investir em estrutura adequada, equipamento correto, matrizes de boa procedência e qualificação dos funcionários são pontos essenciais para o bom andamento do negócio. As mulheres são melhores – o trabalho de inoculação envolve paciência, observação e movimentos repetitivos. Consiste em pegar uma lagarta da broca, colocá-la próxima ao copinho em que estão as vespas, aguardar a vespa picar a lagarta, observar se realmente isso aconteceu, separar a lagarta parasitada e repetir a tarefa inúmeras vezes no decorrer do dia. Normalmente, a picada é imediata, coisa de segundos, mas existem dias que as vespinhas não estão muito interessadas em colocar seus ovinhos na broca, aí é preciso ter mais paciência. A broca na fase de mariposa põe os ovos no papel Os homens não são aptos para a função, é por isso que a Bioeste tem 26 funcionárias. “Só temos mulheres, o único homem é o meu sócio que é biólogo. Para esse tipo de trabalho a mulher é mais eficiente e compromissada”, conta Bianca. Inicialmente, produzir vespas e mexer com lagartas eram coisas meio estranhas para as funcionárias da Bioeste, quase todas ex-donas de casa ou empregadas do- As biólogas cortando os papéis para separar os ovos da broca mésticas. Mas, depois do treinamento e, principalmente, ao conhecer a importância do trabalho que vão realizar, passam a valorizar a tarefa e sabem que se forem eficazes serão profissionais concorridas no mercado. As perdas com a broca – as lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionando perda de peso da cana. Em canas novas podem causar a morte da planta, sintoma conhecido como “coração morto”. Os danos são observados em brotos, perfilhos ou colmos que têm sua gema apical afetada pelas larvas da praga, resultando na morte da gema, e morte da cana atacada. Nos colmos em desenvolvimento, os danos podem induzir a brotação das gemas laterais e enraizamento aéreo. Esse ataque à cana provoca estragos indiretos consideráveis, causados por microrganismos que invadem o entrenó através do orifício aberto na casca pela lagarta. Esses microrganismos, predominantemente, fungos (Fusarium e Colletotricum), invertem a sacarose armazenada na planta, provocando perdas pelo consumo de Panorama Rural Junho 2009 61 Proporção: o cálculo do número de parasitóides liberado leva em conta a densidade populacional de brocas, aptas a serem parasitadas Número de brocas Número de cotésia 2 a 4 brocas 1 vespa/broca De 1000 a 3000 brocas/ha 6000 Cotésia/ha Acima de 3000 a 10000 brocas/ha 2 vespas/broca Trabalho feminino energia no metabolismo de inversão e pelo fato dos açúcares resultantes desse desdobramento não se cristalizarem no processo industrial. Entretanto, quando a matéria-prima se destina à produção de álcool, o problema é mais grave, pois os microrganismos que penetram no entrenó aberto contaminam o caldo e concorrem com as leveduras na fermentação alcoólica. Com apenas 1% de colmos atacados, uma lavoura com produtividade de 80 toneladas/ha, pode resultar em perdas na indústria de 30 quilos de açúcar e 25 litros de álcool, em média. As perdas de campo são representadas pelas canas quebradas e mortas que permanecem no canavial e as perdas em açúcar e álcool referemse aos danos do complexo broca + podridão vermelha que ocorrem nas canas danificadas que são levadas à indústria. Não é só fornecer a vespa – Bianca ressalta que a função do laboratório de controle biológico de pragas da cana não é apenas fornecer a vespa, mas também orientar o cliente a exercer o controle adequado, como e quando realizar a liberação 62 Panorama Rural Junho 2009 De 10000 a 15000 3 vespas/broca Acima de 15000 4 vespas/broca das vespas. Neste caso, a indicação é que deve ocorrer no início da manhã e/ou final da tarde, (evitar sol, frio, chuva e orvalho), quando 70 a 80% já emergiram nos copos de acondicionamento. Entrar no talhão, no sentido das linhas de cana, caminhando com o copo ABERTO e a cada 41 passos (± 30m) depositá-lo, aberto, na bainha da cana com a abertura contrária à luz do sol, na posição horizontal. Outra informação importante diz respeito às práticas preventivas. Algumas medidas culturais auxiliares devem ser adotadas para reduzir a incidência da broca, como o uso de variedades resistentes; cortar a cana o mais rente possível do solo; evitar o plantio de hospedeiras (arroz, milho, sorgo e outras gramíneas) nas proximidades do canavial; e queimadas desnecessárias. PR Segurando a larva da broca para ser picada pela vespa Panorama Rural Junho 2009 63 Thiago Albuquerque As novas estrelas da Agrishow Tratores de pequeno porte, implementos agrícolas e pequenos e médios produtores se destacaram na Agrishow 2009 Ricardo Barbosa, Luciana Paiva e Jaqueline Stamato A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, o governador de São Paulo, José Serra e João Sampaio, secretário da Agricultura do Estado, em caminhada pela feira: a prefeita transferiu seu gabinete para a Agrishow e permaneceu a semana toda 64 Panorama Rural Junho 2009 Carlos Natal A pesar de o Brasil ter um dos maiores potenciais agrícolas do mundo, com recordes sucessivos de safras de grãos, a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas sofre os efeitos da crise econômica mundial, a restrição de crédito reduziu a demanda e provocou a desaceleração das vendas desses produtos. A estiagem em Estados do Sul do País – que reduziu a produção de soja e milho –, e a crise interna em setores como o de laranja e cana, também contribuem para a redução do Jaqueline Stamato A Agrishow 2009 contou com 725 expositores e ocupou uma área total de 240 mil m² consumo de máquinas agrícolas. Esse cenário baixista refletiu no desempenho da Feira Internacional da Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), realizada em Ribeirão Preto, SP, de 27 de abril a 02 de maio de 2009. Segundo levantamento feito junto aos bancos participantes – Banco do Brasil, Bradesco, Nossa Caixa e Santander – e às empresas expositoras, a movimentação de negócios gerada pela feira deverá ser na ordem Cesário Ramalho: “A Agrishow atingiu o seu objetivo” Panorama Rural Junho 2009 65 Luciana Paiva Luciana Paiva que a Agrishow 2009 nas estão aquecidas”, diz. Zancopé se diz satisfeito com os desenvolvesse um novo perfil: o da democra- atuais resultados da empresa, porque tização do agrone- nos seis meses pós o estopim da crigócio. Neste ano, o se econômica mundial, dada no início implemento agrícola, de outubro de 2008, a empresa parou que normalmente era bruscamente a produção, pois houve o coadjuvante do show uma queda significativa na demanda passou a ser a estrela. por tratores. “No entanto, no segE programas governa- mento de tratores, as vendas em 2009 mentais de financia- deverão crescer acima de 100% refemento, como o Mais rente ao ano passado”, salienta. Tramontini não perdeu com o Alimentos, do governo federal e o Pró-Trator, público menor – de acordo com JuPúblico interessado no sulcador da Baldan que desarma quando encontra pedra e rearma automaticamente do governo paulista, lio Cesar Cercal, gerente comercial da propiciaram maior po- Tramontini, a diminuição no número de R$ 680 milhões, em 2008 foram der de compra aos pequenos e médios de público da feira não afetou a emLuciana Paiva 800 milhões. O público visitante foi de produtores, com isso, nesta aproximadamente 120 mil pessoas, edição da feira, eles não só contra 140 mil do ano passado. visitaram a Agrishow, mas Mesmo com a queda em volume foram às compras. de negócios e de público a Agrishow, Bom ano para a Lande acordo com o presidente da feira, dini – com a não participaCesário Ramalho, conseguiu alcan- ção das grandes empresas çar o seu objetivo, que é de chamar fabricantes de tratores e coà atenção dos produtores rurais que lhedoras, houve mais espaço queiram investir em novas tecno- para os pequenos e médios logias, além do evento fomentar a fabricantes. De acordo com agricultura mecanizada ao pequeno o presidente da Landini, Gileste ano a empresa estima crescer 30% no produtor rural. De acordo com Juan berto Junqueira Zancopé, Tramontini: volume do seu faturamento Pablo Rivera, presidente da Alcânta- a empresa foi beneficiada ra Machado, empresa organizadora com essa ausência. “O público que presa. “O grande público que vinha do evento, a feira refletiu a recessão se interessa por tratores vem direta- à feira até o ano passado, tinha o indo setor econômico mundial, por isso mente tratar conosco. Apesar da crise teresse de ver apenas os lançamentos essa queda expressiva. econômica, estamos em um bom ano das grandes empresas de tratores, A ausência dos grandes fabri- agrícola, as nossas vendas de máqui- como nós somos voltados à agriculcantes associadas tura familiar, não vimos uma grande à Associação Nadiferença, pois o nosso volume de necional dos Fabrigócios continuou”, explica Cercal. O cantes de Veícusetor de tratores representa hoje 60% los Automotores do faturamento da empresa. (Anfavea) fez com Um dos lançamentos da empresa foi o novo trator de 32cv, novidade em termos de potência, além do trator de 50cv. Outro foco da Tramontini são os tratores utilizados em aviAs vendas de máquinas da ários, plantação de uvas em morros, Landini estão aquecidas os quais exigem tratores de menor 66 Panorama Rural Junho 2009 Jaqueline Stamato Pavarina e a Oficina Rural móvel: vendas superarão as expectativas locomoção. O custo do equipamento é de R$ 16.500. Lançado o primeiro trator brasileiro – a GreenHorse lançou seu primeiro trator brasileiro, sem peças importadas da China, ou outros países da Ásia. O trator, modelo 454 compact, pode ser financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, e também está inserido no Programa Nacional da Agricultura Familiar, Pronaf. De acordo com o presidente da empresa, Irajá Andara Rodrigues, um dos objetivos principais da empresa é atender o pequeno produtor rural, com máquinas que adaptem às suas necessidades. “O trabalho da pequena Luciana Paiva potência e máquinas mais estreitas para as hortaliças. Este ano, a empresa estima crescer 30% no volume do seu faturamento. Público qualificado e vendas na feira – “O público da Agrishow pode estar menor, porém está mais qualificado, porque quem visita nosso estande são pessoas interessadas no produto e com boas intenções de compra”, disse Marcos Pavarina, gerente de marketing do Grupo Bambozzi. A intenção de compra era tão real, que surpreendeu a empresa. “A idéia era fazer apenas um institucional do produto, no entanto, conseguimos realizar bons negócios na Feira o que superou nossa expectativa de vendas”, conta Pavarina. O produto em questão é a Oficina Rural modelo MDC 335, lançado na feira. Trata-se de uma oficina móvel para manutenção agrícola para ambiente onde não tem energia elétrica. A bancada de serviço (mesa) é dotada de morsa, furadeira de coluna, moto-esmeril, compressor de ar, engraxadeira, pneumático e painel de comando. A oficina tipo implemento necessita de energia acoplada à tomada de força do trator. A diferença da Oficina móvel é porque tem mais agilidade na operação e facilidade de propriedade rural sempre esteve baseada na mão de obra manual, mas isso tem que ser mudado, porque o arado puxado por boi deve deixar de existir”, aponta. Pró-Trator também para os pequenos – uma das principais reivindicações dos pequenos fabricantes de tratores na Agrishow foi a não adesão ao programa Pró-Trator do governo do Estado de São Paulo. O programa, o qual está inserido apenas nas grandes fabricantes de tratores, exige que os equipamentos tenham, no mínimo, 50cv. Empresas como a GreenHorse, Landini e Tramontini, dizem que muitos agricultores não necessitam de máquinas tão potentes, sendo que uma máquina de 20cv pode atender o pequeno produtor. É o caso de Benedito Marcos e Sandro Donizete, produtores de uva, pêssego e nectarina, de Itupeva, SP, eles queriam comprar um trator de 25 cv, mas programas como o Mais Alimentos e o Pró-Trator atendem apenas os equipamentos com mais cilindradas. “Para fruticultura não precisamos de maior potência. É preciso incluir os tratores menores nesses programas, e também os implementos, como arado e grades”, observa O revendedor da GreenHorse de São Sebastião do Paraíso, MG, Paulo César Santos, em negociação com Edgar de Melo, de Ribeirão Preto e que produz eucalipto na região de Passos, MG Panorama Rural Junho 2009 67 Luciana Paiva Luciana Paiva Benedito Marcos e Sandro Donizete: “É preciso incluir os tratores menores nesses programas de incentivos” Benedito. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, o secretário João Sampaio disse que deverá reavaliar o programa para atender os tratores de menor potência. Incluir os implementos nos programas de incentivo – Mário Wagner, diretor-geral da Kuhn Metasa, fabricante de Implementos Agrícolas, ressaltou a necessidade da inclusão dos implementos nos programas de incentivo, afinal, sem eles, o trator só serve para passear. Há quatro anos a francesa Kuhn adquiriu a brasielira Metasa, especializada em equipamentos para a prática do plan- tio direto. “Com a Kuhn aprimoramos a tecnologia e passamos a atender outras linhas como tratores, plantadoras, pulverizadores, enfardadoras e alimentação animal”, diz Wagner. Há Kuhn existe há 180 anos. Para Wagner, pelo menos nos Estados do Sul do País, a seca que derrubou a produção de soja e milho causou mais estragos que a crise mundial financeira, por isso, mais do que nunca, os produtores precisam de incentivos, mas o governo precisa contemplar os equipamentos que fazem parte de todo o processo. “Para produzir mais alimentos, é fundamental aumentar a tecnificação da lavoura brasileira, por isso, os implementos Luiz Aubert: “a Selic é um morcego tirando o dinheiro da indústria” 68 Panorama Rural Junho 2009 Wagner: “sem os implementos agrícolas, o trator só serve para passear” agrícolas precisam ser incluídos nos programas de incentivos”, argumenta. Os altos impostos – uma das principais reivindicações realizadas pela Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), durante a Agrishow, foi a questão das altas cargas tributárias pagas pela indústria de máquinas e equipamentos. Segundo dados da associação, desde o início da crise financeira, as indústrias de máquinas e equipamentos demitiram mais de 51 mil funcionários, devido à queda de até 60% de faturamento em algumas empresas do setor. O presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, disse que falta na economia brasileira o maior investimento de capital fixo nas empresas. “Estamos perdendo terreno para o mundo todo, porque o PIB per capita no Brasil está caindo dia após dia”, explica o presidente. Uma das reivindicações dele é a total isonomia do PIS / Confins sobre o setor. As indústrias de máquinas e equipamentos tiveram, em média, uma queda de 44% no faturamento no primeiro trimestre de 2009, se comparado com o mesmo período do ano anterior. Outra reivindicação do setor é o aumento da taxa básica de juros, rios lançamentos para a Agrishow e também implementos que são a maior sensação no programa Mais Alimentos, como a NSH Nano Luciana Paiva semeadora hidráulica de três linhas”, salienta Celso Antonio Ruiz, superintendente executivo da ATB Baldan. A Baldan foi a primeira empresa a investir no Mais Alimentos. “Desenvolvemos cartilha explicativa sobre o programa e realizamos caravanas pelo Brasil com técnicos da Emater em visitas a cooperativas Celso Antonio Ruiz com a NSH Nano semeadora hidráulica de e associações para, por três linhas: sensação do “Mais Alimentos” meio de palestras, mosmostrados pela Abimaq, de cada 1% trar aos produtores como podem se de juros retirados da Selic, economi- beneficiar com o programa”, diz Luzamos R$ 13 bilhões, além do ICMS, ciana Antoniosi, gerente de marketing que em alguns Estados chegam a inci- da Baldan. A iniciativa está dando muito certo, tanto que a empresa desdir em 12%. A Baldan comemora – a Agritillage do Brasil – Baldan, veio com força total nesta Agrishow, ocupou uma área nobre na rua principal para mostrar todo o potencial da marca. A empresa expôs 48 implementos, como roçadoras, grades, plantadoras, semeadoras e plainas. Linha completa, para pequeno, médios e grandes produtores. “Trouxemos váa Selic, “essa taxa é um morcego tirando o dinheiro da indústria”, diz Luiz Aubert. De acordo com cálculos conhece a crise e a Agrishow, a Baldan não tem do que reclamar, foi uma das líderes em visitação e negócios. “Nos outros anos, com a presença das grandes fabricantes, a atenção do visitante ia diretamente para os tratores e máquinas, só depois se dirigiam aos implementos, este ano, somos a atração da feira”, comenta. Para participar da festa, no dia 1° de maio a Baldan levou à Agrishow a Caravana Sou Mais Baldan, composta por 400 colaboradores das diversas áreas da empresa. Segundo Aparecido Donizete Gomes, gerente de recursos humanos da Baldan, o objetivo da ação foi valorizar os colaboradores que tiveram a oportunidade de observar o resultado final de seu trabalho. A Caravana foi recebida pela direção, equipe comercial, técnica e clientes da Baldan que aplaudiram a chegada dos honrosos visitantes ao estande. “A Baldan inova a Agrishow Caravana Sou Mais Baldan: 400 funcionários visitam a Agrishow Luciana Antoniosi, gerente de marketing da Baldan e a Semeadora MegaFlex, lançada na feira Panorama Rural Junho 2009 69 Jaqueline Stamato Test drive com pick-ups atraem os visitantes com este tipo de ação institucional. Acreditamos que a valorização o reconhecimento e o conhecimento dos produtos concorrentes pelos nossos colaboradores são fatores fundamentais para o desenvolvimento de produtos com qualidade”, afirma Luciana. Test drive em pista off-road agita a Agrishow – em 2009 a ausência de grandes máquinas, as pick-ups tornaram-se o sonho de consumo dos visitantes da Agrishow. Seis montadoras automotivas participaram da feira, e três delas promoveram test-drive de seus principais modelos de pick-ups e fora de estrada. Os visitantes puderam percorrer percursos íngremes e com Demonstrações de campo obstáculos e experimentar toda a potência e robustez dos veículos. Entre os modelos disponíveis estavam a Ford F250 cabine dupla e simples 4x4 e o Ford Ranger 4x4, da Marcos Vaz Apresentação de colheita de milho N este ano, a área para demonstrações de campo (Dinâmica) ocupou 100 hectares e foram realizadas cerca de 800 demonstrações abrangendo as culturas de cana-de-açúcar, feijão, milho, soja e forrageiras: milho forrageira, cana forrageira, capim mombaça e capim cost cross. No local, também acontecem demonstrações de tecnologia de manejo animal, inseminação, procedimento de ordenha, toque e ultrassom, além de test-drive operacional de plantio de grãos e cana, colheita de feijão e milho e máquinas para pequena propriedade. 70 Panorama Rural Junho 2009 Ford, o Scorpio SUV 4x4 e a pickup Scorpio cabine dupla (4x4) e cabine simples (4x2), da Mahindra, e o Toyota Hilux Diesel 4x4, Hilux SW4 Diesel 4x4, Hilux SW4 à gasolina e Hilux à gasolina, da Toyota. “A Agrishow é um evento de suma importânica para nós, uma vez que as regiões onde o agronegócio predomina têm apresentado índices significativos de crescimento nas vendas da nossa marca”, afirma Frank Gundiach, diretor comercial da Toyota do Brasil, primeira montadora de veículos a expôr na Agrishow. Dez anos da Itália na Agrishow – a Itália completou dez anos de participação oficial na Agrishow. Neste período, o Pavilhão Italiano promoveu a vinda de mais de 150 empresas na feira, com o objetivo de fortalecer os acordos de cooperação entre os dois países. Neste ano, o Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE) e Associação Italiana dos Fabricantes de Máquinas Agrícolas (UNACOMA) reuniram 19 empresas produtoras de máquinas e implementos agrícolas no Pavilhão Italiano. Segundo o analista do setor Emilio Pelizzon, a Itália apresenta tecnologia de ponta como tratores e componentes para máqui- nas agrícolas, de jardinagem e terraplanagem. “A agricultura italiana é centrada em pequenas propriedades altamente tecnificadas, seus fabricantes são especialistas em desenvolver equipamentos que possibilitam maior rendimento e facilidade operacional, utilizando pouca mão de obra”, diz Pelizon. Segundo o analista, talvez por causa da grande quantidade de descendentes de italianos no Brasil, há uma grande empatia entre os dois países, o que facilita os negócios. O objetvo do pavilhão é servir de intercâmbio entre fabricantes italianos e fabricantes brasileiros, e não realizar vendas diretas ao produtor, os italianos buscam no País, empresas parceiras para representarem ou desenvolver seus produtos no Brasil ou fabricantes para adquirirem componentes para máquinas. “O Italiano é bastante flexível, estuda com os parceiros as adaptações necessárias para atender o cliente brasileiro. Muitas empresas que já participaram conosco, hoje participam da feira nos estandes com as empresas que se tornaram parceiras. No Pavilhão, estamos com 19 repre- Stephanes visita Agrishow e pede mudanças no Código Florestal O Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes visitou a Agrishow e defendeu alterações do Código Florestal Brasileiro, argumentando que hoje a produção agropecuária está mais sustentável do que quando foi instituída, em 1965. “As tecnologias de manejo vêm sendo alteradas ao longo do tempo. Plantar soja 20, 30 anos atrás, por exemplo, não era sustentável. Hoje já é altamente sustentável, uma vez que protege e recupera o solo e sequestra mais dióxido de carbono. Da mesma forma tivemos diversos avanços na cana”, destacou Stephanes. Segundo ele, “o Código precisa ser corrigido, pois algumas das proibições são absurdas e não têm sentido técnico”. Entre as alterações estão a permissão para o plantio de arroz em várzea e de café, uva e maçã em topo de morros, em áreas já consolidadas. Para fazer as alterações no Código Florestal, Stephanes defende que é preciso ter racionalidade, equilíbrio e fundamentação técnica para aquilo que se exige. “Quero deixar claro que sou a favor de criar condições para o desmatamento zero no bioma da Amazônia e Mata Paulo Vargas Atlântica. Também sou a favor de recompor as margens dos rios e nascentes, porém, especialmente os pequenos produtores não têm recursos para isso”, afirmou o Ministro. “Hoje as leis não deixam produzir e também não protegem”, criticou o Ministro Luciana Paiva Emílio Pelizzon: “o agronegócio brasileiro evoluiu muito” sentantes, mas expondo na Agrishow deve ter em torno de 50 empresas italianas”, ressalta Pelizon. Com a experiência de 10 anos de participação na feira, o analista diz que é fantástica a evolução no agronegócio brasileiro, além disso, está mais fácil para fazer negócios, pois há mais linhas de créditos disponíveis, o que aumenta o acesso do produtor às tecnologias. A primeira vez da França – neste ano da França no Brasil, a Missão Econômica da França marcou presença pela primeira vez na Agrishow. O objetivo da participação da rede é desenvolver parcerias comerciais e inPanorama Rural Junho 2009 71 Luciana Paiva dustriais entre empresas brasileiras e francesas do setor agrícola. Segundo o chefe da Missão Econômica da França, Dominique Mauppin, as autoridades francesas acredi- Os visitantes da Agrishow – são muitos, vindo de todas as partes, mas com objetivos comuns: fazer negócios, conhecer as novas tecnologias e adquirir informações. No meio desse Pavilhão Italiano na Agrishow: agricutlura tecnificada tam que o Brasil é um grande gerador de oportunidades de negócios e que cada vez mais empresas francesas se mostram interessadas em realizar essas parcerias. “No ano passado, atraímos quase 900 empresas para o Brasil e, este ano, nossa expectativa é atender a 1000 empresas francesas”, ressaltou Mauppin, que para chegar a esse número conta com o maior intercâmbio na área agrícola entre os dois países. João Sampaio, secretário da Agricultura de São Paulo, salientou que juntos: França e Brasil têm muito a ganhar, por isso, é fundamental deixar de lado a “rivalidade” nos assuntos referente ao agronegócio. Césario Ramalho, presidente da Agrishow, João Sampaio, secretário da Agricultura de São Paulo e Dominique Mauppin, chefe da Missão Econômica da França, brindam os negócios que virão 72 Panorama Rural Junho 2009 universo, pincelamos alguns desses visitantes para passar ao leitor um pouquinho do perfil do público que visita a Agrishow. Marilda Martins Elias e o marido Valdir Solto Elias, são de Campina Verde, MG, pecuaristas, visitam a Agrishow há cinco anos, atrás de uma informação e negócios. Já adquiriram vários equipamentos de ordenha mecânica. Mas, o que mais atrai Marilda são os estandes da Cati e da Embrapa. “Sempre consigo muitas informações úteis. Aprendi na Embrapa que meus pés de figo produziriam bem mais se eu colocasse esterco de galinha próximo ao pé. Realmente funcionou, além do mais, passei a aproveitar os resíduos dos frangos”, salienta Marilda. Dona Darci Brasil Serrão, de Potirendaba, SP, visitou a Agrishow pela quinta vez, ela produz 10 mil pés de eucalipto em uma propriedade de 3 hectares. Visita a Agrishow para fazer negócios, já comprou cortador de grama e poço artesiano, mas o que mais lhe atrai é poder ficar por dentro das novidades tecnológicas. Dona Darci sabe o quanto é fundamental estar bem informada, por isso, não deixa de participar dos cursos promovidos pelo Senar em sua cidade, onde ajudou a criar a Associação dos Produtores Rurais. “Unidos, os produtores rurais têm mais condições de acesso aos benefícios”, alerta. Pelo terceiro ano consecutivo o cantor sertanejo Teodoro – integrante da dupla Teodoro e Sampaio – visita à Agrishow para conferir de perto as novidades. Este ano comprou uma balança bovina eletrônica e tronco de contenção da marca Coimma para sua fazenda de gado em Dracena, SP. Segundo o cantor, ao investir Marcelo Tomba é empresário da área de construção civil em São José dos Campos e também pecuarista. É a segunda vez que vai a feira, já comprou trator. O amigo Fábio Lupon, também de São José, é pecuarista e silvicultor. Visitam a Agrishow para ficarem bem atualizados sobre tecnologias e fazer negócios. Para aproveitar a feira, ficam na cidade por dois dias. O agrônomo português Henrique Simões veio pela primeira vez à Agrishow, sua empresa realiza trabalhos em Angola, país de Manoel da Silva, técnico agrícola, também pela primeira vez na feira. Eles vieram para conhecer a tecnologia e fazer negócios, pois 80% da tecnologia agrícola produzida no Brasil atende as necessidades de Angola, como, por exemplo, trituradores de milho, e implementos para trato cultural. sua pequena propriedade não vai pra frente, segundo ele, os testes de sanidade realizados nos laboratórios do IAC apontam a presença excessiva de flúor. A contaminação, de acordo com sítio. Com um calhamaço de laudos, ele acionou a empresa várias vezes, mas até o momento, nenhuma providência foi tomada. Então, vai um alô para o pessoal da Bunge: Confiram o caso do seu Raimundo Pereira, lá de Guaíra para ver se procede. Como vocês sabem, responsabilidade socioambiental faz parte do agronegócio. PR Jaqueline Stamato Luciana Paiva em tecnologia o produtor deixa seu negócio mais eficiente e competitivo. Por exemplo, com uma balança eletrônica, o pecuarista tem a disposição muito mais recursos, a começar pela conexão a computador e impressora para transmissão e impressão de dados como relatórios e gráficos. Além de grande versatilidade de uso com Barras de Pesagem de diferentes ta- Luciana Paiva Luciana Paiva Luciana Paiva Marilda e o marido Valdir Elias: negócios e informação Darci Serrão: o valor da informação manhos e aplicação em plataformas, gaiolas e troncos de contenção. Humberto Santos Pereira, de Guaíra, SP, aproveitou nossa reportagem para fazer uma reclamação. Há 12 anos ele tenta ser um produtor rural, mas tudo que planta em Pereira, é resultado de uma piscina de flúor que fica em uma área de reposição da Bunge, há 250 metros de seu O cantor sertanejo Teodoro: “Para o negócio dar certo é preciso acompanhar a evolução tecnológica” Panorama Rural Junho 2009 73 Paulo Coutinho, técnico agrícola e João Paulo Pastrelo, produtor de café em Bariri, SP. Os dois são frequentadores assíduos da feira. Pastrelo já fechou negócio com trator, mas na maioria das vezes, utiliza a feira para pesquisar e depois com calma, em casa, define o que vai comprar. Otávio Leonel, Rubens Leonel e Oswaldo Simões, produtores de cana e amendoim em Dumont, cidade próxima a Ribeirão Preto. Todos os anos visitam a feira. Dessa vez, as compras iam se resumir a mudas de plantas frutíferas, pois o caixa anda minguado, a produção foi boa, o problema é o baixo preço da cana e do amendoim. Alunos do curso técnico de agropecuária de Uberlândia, MG. Vieram em um grupo de 47 jovens. É grande e importante a presença de estudantes universitários e técnicos na Agrishow Julio Antonio Fontebasso, produtor de uva, caqui e morango em Jundiaí, SP, vem todo ano na Agrishow, comprou um trator, os implementos vai comprar de segunda mão. “Uma roçadora nova, sai por uns R$ 7 mil, reformada sai por R$ 2 mil”, observa Humberto Santos Pereira, de Guaíra, SP, reclama da Bunge 74 Panorama Rural Junho 2009 Produtores rurais de Potirendaba,SP, uma das muitas caravanas de produtores organizadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Estado de São Paulo (SENAR/ SP) para visitar a Agrishow A próxima edição da Agrishow está agendada para o período de 26 de abril a 1º de maio de 2010, em Ribeirão Preto Pierre Yves Refalo/Divulgação Cultura A lida do Rolando Boldrin comemora 50 anos de carreira dedicados a apresentar a música de todas as regiões e as histórias de todas as pessoas Sr.Brasil Da redação N o próximo mês de agosto, em homenagem ao Dia dos Pais, o artista Rolando Boldrin lançará seu primeiro DVD, um trabalho especial, pois retratará seus 50 anos de carreira. Boldrin nasceu em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, em 1936. “Justamente no atravanco da época braba da segunda grande guerra, quando havia até racionamento de açúcar, farinha e automóvel movido a gasogênio. Lembro da casa de quarto e cozinha de chão batido, sem fogão a gás, sem geladeira nem rádio”, conta. É o sétimo filho do seu Amadeu e de Dona Alzira que chegaram a ter uma dúzia de filhos. “Doze crianças, seis homens e seis mulheres, esparramados em ‘riba’ de colchões de palha de milho com travesseiros de pena de galinha. E eu acabei sendo o único na família, por força do destino, encarregado de cantar e contar a minha terra em verso e prosa desde muito cedo”, relata. A viola o acompanhava nas brincadeiras de moleque, assim como o sonho de se apresentar, de cantar, de contar histórias e de viver personagens. Em 1948, formou com seu irmão Leili, a dupla Boy e Formiga. E se apresentavam em programa de auditório em São Joaquim da Barra. “O Boy era eu”, informa Rolando e já emenda a contar o seu caso. “Onze ho- ras da manhã, as vozes dos locutores Lafayette Leandro e Airton Gouveia se faziam ouvir. – ‘E com vocês...a dupla de ouro...a dupla que vale ouro, a dupla que é um verdadeiro... tesourooooooo: BOY e FORRRRR... MIGA!’ Era o programa de auditório de uma hora de duração, com direito até a jingle do patrocinador e cachê artístico.” A fama dos dois meninos de vozes ardidas cresceu tanto que passaram a ser convidados para apresentações em palcos de cinemas de outras cidades. O Boy, na sua infantilidade varonil, fazia sua exigência determinante: “O filme da tela tem de ser brasileiro, senão não canto.” A ida para a capital – aos 16 Panorama Rural Junho 2009 75 Cultura A viola acompanha Boldrin desde os tempos de menino anos, ainda moleque, Boldrin seguiu para a capital. Relembra que seu pai, num surpreendente gesto de apoio, tirou do bolso lá dele uma nota de 100 mil réis, entregou ao menino para em seguida estender as costas da mão direita de mecânico cheirando a gasolina, insinuando um beijo de “benção”. Ainda, com forças emocionais, recomendou carinhosamente: - Vá, caboclinho. E muito juízo por lá. O desembarque em São Paulo, foi às 6 horas da madrugada do dia seguinte na barulhenta Estação da Luz. A procura de um emprego qualquer de sapateiro, profissão iniciada em São Joaquim, ou de entregador de roupas de tinturaria, nas imediações do bairro da Luz, foi como tinha de ser. A pé. “E eu...bem, eu como não “sonhava” outra coisa senão ser um ATOR, continuei perseguindo este destino.” Enfrentou empregos diferentes como os de: sapateiro, frentista de posto de gasolina de bêra de estrada, auxiliar de armazém na área cerealista de São Paulo, este último emprego inaugurando a carteira de trabalho novinha. E depois de muitas idas e voltas pelo interior, lendo, cantando e declamando coisas que emocionam... Foi procurar as emissoras de São 76 Panorama Rural Junho 2009 Paulo para testes do que desse e viesse. “Podia ser de cantor ou ator de novelas de rádio, ou mesmo de programas humorísticos, o que, aliás, não faltava. Nas rádios de São Paulo, América, Itapetininga, Record, em todas elas, deixava minha voz registrada para teste, e durante meses aguardava ansiosamente algum retorno de notícia que não veio”, relembra. Artista profissional – a última tentativa foi em 1958, na Rádio e TV Tupi, a pioneira no Brasil, quando, aos 22 anos, consegue seu primeiro trabalho de artista profissional: figurante de teleteatros na TV Tupi. Desde então o ator Rolando Boldrin não parou mais. Foram centenas de atuações em rádios, teleteatros, novelas, teatros e cinemas. Como ator nunca se separou do seu violão. Compôs músicas, gravou discos, fez shows e participou dos grandes festivais. Com o ator e cantador veio então o grande sonho, os musicais na televisão, que teve início em 1981, na TV Globo com o Som Brasil (19811982-1983). Rolando seguiu com o projeto de divulgar a música genuinamente brasileira para a TV Bandeirantes, com o Empório Brasileiro (1984), para o SBT, com o Empório Brasil (1989), para a CNT, com a Estação Brasil (1997) e atualmente na TV Cultura, com o Sr. Brasil, no ar desde 2005. Programa premiado pela crítica e querido pelo público. Boldrin é um divulgador da cultura brasileira. Ao falar com a Panorama Rural, fez questão de deixar claro que não canta o sertanejo, mas a música de todas as regiões e as histórias de todas as pessoas. É um ator que apesar de inúmeros papéis jamais deixou de representar o próprio personagem, o brasileiro. O escritor Érico Veríssimo soube como ninguém definir Boldrin: “E Vendo e Ouvindo este campeiro tão íntimo da terra e da vida tão iluminado pela sabedoria do coração, você compreenderá que o homem brasileiro é milagrosamente um só de norte a sul de leste a oeste, a despeito de suas distâncias geográficas, um só no que possui de essencial: a cordialidade, o horror à violência, a capacidade de dar-se e também de rir da vida dos outros e de si mesmo.” Shows – esse artista que mostra os quatro cantos do Brasil vive na maior metrópole do País há 56 anos. Vez ou outra visita São Joaquim da Barra para rever parentes e amigos. Não tem e nunca teve um pedacinho de terra, algo tão comum entre os artistas. Seu negócio é o palco, a viola, a música, a cultura brasileira. Apresenta-se pelo País todo, não em grandes shows, mas, principalmente, em convenções de empresas e comemorações. Assim, os inteAs “coisas” do Brasil ficam mais realçadas com sua interpretação ressados em contratar esse Sr. Brasil – um ser rico de esperança, sabedoria, emoção e ritmos – basta contatar Rolando Boldrin pelos telefones: (11) 4702-9134 ou (11) 4612-4614 (fax). Não se esqueçam que em agosto será lançado seu primeiro DVD. “É uma boa opção de presente para o Dia dos Pais, salienta Boldrin. Mas nós sabemos que será um pre- sentão para todo mundo. E uma vez que essa é uma revista de agronegócios, trazemos um causo de Boldrin com o enfoque em avicultura. PR a n a c i r e m A a h A Galin N hô Tico era um cumpadi meu muito querido. Vou contar um causo muito engraçado com Nhô Tico, Nhá Tuda (muié dele) e um montão de galinha! Foi assim: NHÔ TICO (gritando do terrreiro) – Nhá Tuda? Vô mudá de ramo. Vô criá galinha! NHÁ TUDA (estranhando) – Uai... nóis já temo criação de galinha! Lá no nosso galinhêro ta apinhocado delas. Tem bem umas 50... NHÔ TICO (explicando) – Não, Nhá Tuda. O que nóis temo é galinha brasileira. Umas merdica magrela, ponhando uns ovico de nada. Tô falando que vô mudá de ramo pruquê vou criá galinha americana, que é o que ta fazendo o japonês. Eles tão tudo podre de rico. Ocê há de vê só uma coisa. Nhô Tico diz isso e parte pra cidade, onde vai buscar a única galinha americana que seu dinheiro guardado por muito tempo deu pra comprar. NHÔ TICO (chegando, carregando debaixo do braço uma galinha gorda e branca, linda como uma pluma) –Óia só, Nhá Tuda! Isso sim é que é galinha. Ocê vai vê agora a nossa produção. A galinha era deveras bonita. Tinha uma crista enorme e vermelha cor de sangue. Os olhos da dita cuja, podem acreditar, eram verdes. Galinha pra desfilar. Nhô Tico, depois de mostrar orgulhosamente a galinha pra mulher dele, solta a dita cuja no galinheiro, juntamente com as tais 50 outras galinhas – brasileiras e cada uma mais depauperada que a outra. Dizendo a pura verdade, as galinhas de Nhá Tuda eram a vergonha da nossa raça. Uma estava cambaleando manquitola, outra se coçando de tanto piolho, outra com um olho cego. Enfim, uma tristeza. E ali estava agora, em meio a esta pocilga, uma raridade americana. GALINHA AMERICANA (com nojo, olhando a sujeira) – As senhorras morram aqui? Ahnn? My God!!! GALINHA 1 (respondendo com sotaque caipira) – Nóis véve aqui. Por quê? GALINHA AMERICANA (sempre com desprezo) – E as senhorras... porr acaso botam??? GALINHA 1 (sempre encarando a arrogância da forasteira) – De vez im quando a gente põe um ovo. Por quê? GALINHA AMERICANA – E quanto custarrr um ovo de vocês? GALINHA 1 (olhando pra uma cumadi) – Oh cumadi? Quanto é que tá um ovo nosso no mercado? GALINHA 2 – Um rear... mai ô mêno, uai. GALINHA AMERICANA – Posso usar um ninho de vocês para uma demonstraçon? GALINHA 1 – Pode ocupá o meu. Se quisé, pode inté morá nele a vida toda. A americana se ajeita no ninho, fecha os olhinhos verdes e sonha com os States pra depois de uns 15 minutos sair cantando e dançando uns passos de balé. GALINHA AMERICANA – Cócó dé... cócó dé... Vejam o meu produto! Ela aponta para um ovo botado ali e agora, de aproximadamente meio quilo, lindo de se ver. GALINHA AMERICANA (com arrogância) – Se um ovo de vocês custarrr 1 realll, para o meu ovo vão terr que pagar no mínimo...5 reaisss. GALINHA 1 (olhando para a cumadi brasileira) – Oh cumadi! Vê lá se nóis ia se arrebentá tudo só pru causa de 4 rear... Sai pra lá siô! por Rolando Boldrin Panorama Rural Junho 2009 77 Arquivo Mapa Reinhold Stephanes: “se a legislação ambiental for cumprida conforme estabelecida no documento, toda a produção brasileira de alimentos pode ser comprometida” Legislação para inglês ver A legislação ambiental brasileira, estabelecida no Brasil na década de 60, se mantém parcialmente atualizada somente por meio de emendas constitucionais Ricardo Barbosa O Ministro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, disse durante uma visita à Sociedade Rural Brasileira, que ocorreu no mês de abril, na cidade de São Paulo, que se a legislação ambiental for 78 Panorama Rural Junho 2009 cumprida conforme estabelecida no documento, toda a produção brasileira de alimentos pode ser comprometida, pois a maioria dos produtores não atende aos critérios estabelecidos pela lei ambiental. De acordo com o Ministro, a agricultura brasileira representa quase um terço dos empregos no Brasil e respon- de por 100% da divisas em exportações que o País possui. “A agropecuária brasileira é um dos setores que tem sobrevivido melhor à crise econômica mundial”, diz o ministro. Stephanes salientou que toda e qualquer legislação ambiental que prejudica diretamente o produtor rural, não teve a participação do Ministério da Agricultura. A legislação ambiental diz que o dono da terra tem o dever de preservar 20% da propriedade com mata nativa, mas de acordo com dados do Ministério da Agricultura, áreas como topos de morro, várzeas, entre outros, também são proibidas pela legislação ambiental, mas, normalmente, são utilizadas para o cultivo de café, produção de arroz, entre outros. “Foram criadas muitas restrições com muita racionalidade e pouco equilíbrio, pois muitos códigos da legislação foram estabelecidos, muitas vezes, por pressões ideológicas, políticas, ou até mesmo pressões externas”, diz Stephanes. Umas das questões abordadas pelo ministro, é que quando foi criada a atual legislação ambiental, não foram estudados os impactos que ela poderia trazer para o País, em termos econômicos, além de sua impossibilidade prática de utilização. Dados do Ministério estimam que cerca de 3 milhões de produtores rurais do Brasil poderão ser prejudicados com a aplicação plena da legislação ambiental. O mapa da terra – um dos problemas apontados por Stephanes, A legislação ambiental diz que o dono da terra tem o dever de preservar 20% da propriedade com mata nativa quanto à obrigatoriedade do cumprimento das leis ambientais, é quanto ao pequeno produtor que, na irregularidade, não pode contratar um profissional que o defenda perante a lei, pois, segundo ele, muitos proprie- tários não terão condições de arcar com as multas que deverão receber, ou com o pagamento de suas dívidas que poderá ter, devido à diminuição de sua produção. Dados do Mapa revelam que o Panorama Rural Junho 2009 79 Brasil tem 150 milhões de hectares, dos quais 16% são direcionadas às unidades de conservação, 12% para as terras indígenas, 22% de reservas legais e 26% de áreas de preservação permanente. Somando todas as áreas, resultam 67% do espaço que não podem ser utilizados para a agropecuária. No entanto, neste estudo não estão incluídas as áreas indígenas e quilombolas. De acordo com o secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, João Sampaio, com a legislação ambiental, o Estado poderá perder mais de 3 milhões de hectares. A cana-deaçúcar deverá ser o setor que mais vai se prejudicar com a vigência da legislação ambiental. 80 Panorama Rural Junho 2009 Luciana Paiva No Estado paulista, a cana-de-açúcar deverá ser a cultura que mais vai se prejudicar com a vigência da legislação ambiental O secretário aponta que essa questão deve ser discutida de forma consciente, sem ideologias e com mais racionalismo. João Sampaio espera que produtores, que estejam com uma situação definida em suas propriedades não sejam penalizados. O viés ecológico – de acordo com o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, MMA, Egon Krakhecke, a questão da legislação ambiental deve ser bem discutida, porque, segundo ele, a princípio há um exagero nos números publicados sobre a disponibilidade de áreas de preservação ambiental, o que inclui as áreas de preservação permanente (APPs). “Esses números publicados na mídia não correspondem à realidade”, diz o secretário. Segundo um levantamento realizado pelo MMA, houve nos últimos anos uma crescente ocupação agropecuária de áreas de preservação permanente, onde o desmatamento, principalmente realizado por meio das queimadas, ainda é o principal problema do setor. “Temos 133 milhões de hectares em áreas de preservação, mas somente 30% são de proteção integral”, comenta. O secretário acredita que o bom senso pode conseguir uma harmonia entre os dois lados. Um exemplo citado por ele é a utilização, por parte dos produtores, das reservas legais que podem ser utilizadas pela agricultura, mas de uma forma sustentável. “Outro ponto que eu contesto os dados fornecidos pelo setor agropecuário são as áreas indígenas, sendo que isso não tem nada a ver com o nosso trabalho, pois é uma questão social e não ambiental”, explica. Brasil sustentável – com o advento da mecanização e da tecnologia, o Brasil tornou-se um dos países de agricultura mais sustentável do mundo. Um exemplo disso é a utilização do sistema de plantio direto utilizado nas lavouras brasileiras, principalmente as de grãos. O sistema permite que a terra não fique exposta às condições climáticas vigentes de uma determinada região. Nos Estados Unidos, por exemplo, o plantio direto não é utilizado, pois eles queimam as folhas secas antes de passar com as máquinas, isso contribui, logicamente, para a emissão de gases nocivos ao meio ambiente. PR Plantio direto de soja em área de cana: prática sustentável Panorama Rural Junho 2009 81 Sugestões de publicações que não podem faltar na biblioteca Acrissul – 70 anos de exposições (Moreli Teixeira Arantes) m trabalho de pesquisa da professora e pecuarista, lançado em março deste ano, que conta detalhes de sete décadas da história daquela que ainda é uma das maiores exposições agropecuárias do Centro-Oeste brasileiro: A Expogrande. Além de relatar fatos, a autora os contextualiza politicamente. Foram 17 anos de levantamento de dados, incluindo fotos, documentos, textos ainda escritos a bico de pena e entrevistas. Contato: [email protected] e (67) 3345-4200 U pectos ecológicos no surgimento de pragas e apresenta métodos de controle. Dentre eles estão as plantas iscas, rotação de culturas e inseticidas botânicos. Em suas 256 páginas também aborda a utilização de animais úteis ao controle biológico das pragas na agricultura como ácaros, insetos e aves. Contato com o autor através do e-mail: [email protected] plantada. A obra, em 486 páginas, relata experiências e resultados de pesquisas dos autores. A primeira edição tinha apenas 146 páginas. O café irrigado hoje ocupa aproximadamente 10% da área total da cultura no Brasil. O livro aborda os principais aspectos da cafeicultura irrigada, da escolha da área aos aspectos da qualidade do café irrigado. O preço promocional de lançamento, segundo informa a Universidade de Uberaba (UNIUBE) é de R$ 50,00, com custos de envio de R$ 15,00 (impresso do correio, com seguro). Contato: [email protected] e (34) 3319-8963. *** *** Irrigação na Cultura do Café (Roberto Santinato, André L. T. Fernandes e Durval R. Fernandes) sta segunda edição, de 2008, revisada e ampliada (obra original data de 1996) foi praticamente obrigatória uma vez que a tecnologia de irrigação do café passou, no período, de 10 mil hectares para mais de 230 mil hectares de área E *** Zoologia Agrícola – Manejo Ecológico de Pragas (Flávio Roberto Mello Garcia) bra, em terceira edição, finalizada em 2008, mostra as- O IV Encontro Confinamento: Gestão Técnica e Econômica (Rogério Coan) Coan Consultoria disponibiliza um novo livro em sua Loja Virtual através do site www.coanconsultoria.com.br. Trata-se do livro do “IV Encontro Confinamento: Gestão Técnica e Econômica”, realizado recentemente na Unesp de Jaboticabal. A publicação, editada pela Coan em parceria com a Scot Consultoria, apresenta 243 páginas. Entre os temas abordados estão: carne bovina (o que o mundo quer consumir e o que o Brasil pode produzir até 2020), manipulação de dietas em confinamento, merca- A das pessoas que são do campo ou gostam das coisas da terra do futuro na prática, confinamento x semiconfinamento, perspectivas do mercado de confinamento para 2009, o uso do confinamento na recuperação de pastagens, fatores que influenciam no desempenho de animais em confinamento e manejo sanitário de bovinos confinados. tras. Os estudos têm mostrado que ele pode ser explorado comercialmente, mas a divulgação de informações, até então recente, sobre o potencial de exploração desta oleaginosa ainda é raro. O exemplar da coleção pode ser adquirido na Biblioteca ou por envio postal. Outros títulos já publicados podem ser obtidos pelo telefone (19) 3429.4140, e-mail: [email protected] ou pelo site http://dibd.esalq.usp.br em “Publicações para Venda”. *** Série Produtor Rural aborda cultura do Pinhão Manso série Produtor Rural, editada pela Divisão de Biblioteca e Documentação (DIBD), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), acaba de lançar um novo título. “A cultura do Pinhão Manso” é o tema do exemplar nº 42 da publicação. A edição traz desde a classificação botânica, origem e distribuição geográfica da planta, passa pelas características anatômicas e morfológicas e aborda as propriedades medicinais e aspectos de manejo. Segundo os autores, inicialmente o pinhão manso era apenas uma planta nativa como tantas ou- A *** Pequeno Manual Prático de Instalações Elétricas em Atmosferas Explosivas Associação Brasileira para Prevenção de Explosões (ABP-Ex) criou uma cartilha em forma de livreto de bolso com o título “Pequeno Manual Prático de A Instalações Elétricas em Atmosferas Explosivas”. A publicação tem 70 paginas, com quatro cores e nele pode se encontrar as informações como: o que são, como se formam, como se tratam, como se instalam, como se mantém as instalações elétricas em atmosferas explosivas. A distribuição é gratuita e destinada aos profissionais das áreas de segurança, seguros, projetos elétricos e de instrumentação, suprimentos, montagem, manutenção etc. Basta solicitar a ABP-Ex. O interessado deve apenas enviar um envelope selado, endereçado a seu nome, contendo seus dados para cadastro, (empresa onde trabalha, cargo, telefone, e-mail) para envio de futuras edições, pois o Manual será revisado anualmente. Para mais informações, se necessário entrar em contato com ABP-Ex pelo e-mail [email protected] ou telefone (11) 5071-1324. Chegou a democracia da engorda? Itamar Sandoval Brasil inova e lança o confinamento a pasto sem volumoso Na Fazenda Barreiro, pasto sem volumoso e pequena estrutura para alimentação do gado Ariosto Mesquita (*) A inacessibilidade do confinamento de gado para a maioria dos pecuaristas brasileiros pode estar chegando ao fim. As argumentações de que este sistema monitorado de engorda na entressafra tem um alto custo e apresenta grandes riscos também pode estar com os dias contados. A Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade São Marcos e a empresa de nutrição animal Agrocria, lançaram no 84 Panorama Rural Maio 2009 último dia 14 de maio o sistema de engorda batizado como “Confinamento a pasto sem volumoso”. As três partes garantem que o processo é inédito no mundo, uma evolução do sistema de confinamento sem volumoso surgido nos anos 70 nos Estados Unidos e de regular utilização na Argentina. A diferença está na possibilidade de deixar os animais a campo com dieta controlada, e o baixo custo de implantação em função de uma mínima estrutura exigida. Antecedendo seu lançamento, os experi- mentos desenvolvidos por pesquisadores comprovaram bons resultados em ganho de peso, consumo de alimento, conversão alimentar, rendimento e acabamento de carcaça. O chamado “detalhamento técnico” deste sistema foi tese de doutorado do professor Hélio Louredo (UFG), defendida e aprovada no início deste ano, após aproximadamente 18 meses de estudos. “Trata-se de um trabalho de extensionismo rural, pois estamos levando uma nova tecnologia de produção e democratizando o seu acesso para o pecuarista brasileiro”, comenta o professor e pesquisador da UFG. “Este sistema, no entanto, é viável apenas para regiões onde se produz milho a custo adequado”, completa. Ariosto Mesquita Prof. Louredo: “Sistema é viável apenas para regiões onde se produz milho” Ariosto Mesquita Castro: “sistema envolve uma dieta de oportunidade” Imprensa especializada – diante do ineditismo da proposta, as três frentes de desenvolvimento do sistema decidiram apresentá-la nacionalmente. Para isso, reuniram a imprensa especializada brasileira na Fazenda Barreiro, em Silvânia, GO, – distante 55 km de Goiânia – na manhã do dia 14 de maio. Lá, detalharam a novidade através de uma apresentação técnica e também a campo, para a visualização do resultado do desempenho de evolução dos animais. Os bois foram divididos em grupos que passaram por seis dietas diferenciadas. Ao final, diante de todos os desempenhos, foi proposta a adoção do sistema de confinamento a pasto sem volumoso com dieta a base de 85% de milho grão inteiro e 15% de núcleo protéico-mineral- vitamínico peletizado. De acordo com o doutor em Ciência Animal e Pastagem pela Esalq/USP e gerente de produtos da Agrocria, Flávio Geraldo Ferreira Castro, esta mistura evita que o consumo exclusivo do milho, que é rico em amido, provoque a queda do pH ruminal, provocando diarréia, indisposição e perda de peso nos animais. Dieta de milho inteiro e núcleo protéico peletizado – a pesquisa, no entanto, constatou que uma mudança abrupta na dieta dos animais na adoção de um sistema tradicional de confinamento em currais gerava um choque alimentar, prejudicando a engorda. A partir daí surgiu a idéia de se manter os animais a pasto permitindo o acesso tanto à ração quanto a volumoso (capim) durante os 15 primeiros dias de confinamento. Após este período o gado continua a pasto (mas sem volumoso) e passa a se alimentar exclusivamente a base da dieta com milho inteiro e núcleo protéico peletizado. A adaptação à dieta é um dos segredos dos bons resultados deste novo programa de engorda. A oferta do composto de milho e núcleo protéico deve ser gradual. “Inicialmente, oferecemos a dieta na proporção de 1,2% do peso vivo do animal; com ajustes mediante a observação diária do cocho, durante 15 dias, chegamos ao índice de 2% de oferta diária de dieta por peso vivo”, explica Castro. Este sistema foi considerado pelos pesquisadores o mais funcional com bons resultados diante de um baixo custo de investimento por parte do proprietário rural. “Os animais apresentam bom acabamento de carcaça – média de 3,9 mm de espessura de gordura subcutânea -, baixo consumo, ganhos médios e alta conversão alimentar”, garante Ariosto Mesquita Dieta: 85% de milho grão inteiro e 15% de núcleo protéico peletizado Panorama Rural Maio 2009 85 R$ 57,00 – mostrou-se altamente rentável. “No entanto, quero lembrar que é durante a entressafra que o preço da arroba sempre melhora”, frisou. Baixo investimento – Coutinho considera que a partir de agora o pecuarista brasileiro ganha acesso a um sistema de engorda em contraposição a uma estrutura que até então apresentava riscos e demandava alto investimento. “No confinamento a pasto sem volumoso há uma baixa necessidade de instalações, de equipamentos e de mão-de-obra; por isso entendemos que estamos democratizando o acesso ao confinamento no Brasil, abrindo as portas para grandes, médios e pequenos pecuaristas”, garante. Esta nova alternativa de confinamento busca também eliminar um outro problema de investimento do pecuarista: a necessidade de iniciar a atividade um ano antes do confinamento propriamente dito. Isso acontece em função da obrigatoriedade de se produzir volumoso na propriedade. “Em um confinamento convencional um rebanho de mil bois provoca investimento próximo de 50 hectares de lavoura”, lembra Coutinho. Castro aponta mais outros núItamar Sandoval Castro. Segundo ele, para ganhar uma arroba o animal consome uma média de 113 kg de milho inteiro, contra 122,4 kg e 137,3 kg de outros grãos e compostos testados em outras dietas. “O boi entra com 10 arrobas e sai com 18 arrobas 100 dias depois”, afirma o gerente de produtos da Agrocria. 40 bois por hectare – a grande diferença estrutural desta nova proposta brasileira sobre o semiconfinamento tradicional é exatamente o volume de animal por área. “Enquanto este acomoda um animal por hectare, conseguimos alocar 40 bois em cada hectare de terra, além de atingir o dobro de ganho de peso do semi-confinamento”, ressalta o veterinário, diretor comercial e proprietário da Agrocria, Ricardo Scartezini Azeredo Coutinho. Ele também garante que a dieta suporta oscilações no preço do milho e da carcaça bovina. Castro confirma, mas mantém cautela: “trata-se de uma dieta de oportunidade onde se deve levar em conta o preço do milho e da arroba”. Diante de um quadro de preço baixo ou médio para o milho e de um valor para a arroba na faixa de R$ 70,00, o custo de produção de 15 quilos/boi - que ficou na média de É uma dieta de oportunidade onde se deve levar em conta o preço do milho e da arroba Ariosto Mesquita Coutinho: “estamos democratizando o acesso ao confinamento no Brasil” meros importantes: o ganho médio diário de 1,4 kg e rendimento médio de carcaça de 55% com apenas dois tratos diários e um consumo de 8,5kg/cabeça/dia. Para o investimento em estrutura de alimentação no pasto, o gerente da Agrocria garante: “para montar a estrutura de cocho o pecuarista vai dispor de algo em torno de R$ 5,00 por cabeça”. Os técnicos das universidades envolvidas no desenvolvimento deste sistema, assim como a Agrocria, garantem que esta modalidade de confinamento está plenamente adaptada às condições do Brasil Central. No entanto, as distâncias geográficas ainda dificultarão o acesso de alguns pecuaristas brasileiros à correta formulação alimentar desenvolvida pela pesquisa. O núcleo protéico – componente da dieta – é produzido pela Agrocria em Goiânia, GO e Cuiabá, MT. Para este ano a empresa garante ter condições de atender até 50 mil bois em cada uma das duas fábricas. O atendimento é limitado ainda a um raio de 200 km das duas capitais. PR (*) Viajou à Silvânia, GO, a convite da Agrocria. 86 Panorama Rural Maio 2009 Vipal fecha parceria com a Fate e entra para o mercado de pneus A parceria prevê a comercialização no País da linha completa da Fate: passeio, carga e agrícola Pneu FateCargo DR400 P ioneira na tecnologia de vulcanização a frio no Brasil, a Vipal, uma das principias marcas mundiais de produtos para reforma de pneus, irá atuar também no mercado de pneus novos. A partir de um acordo com a marca Fate será distribuidora dos pneus argentinos no Brasil. Principal produtora e exportadora de pneus da Argentina, a empresa reúne 1600 colaboradores em sua planta em San Fernando, província de Buenos Aires, onde produz pneus para automóveis, caminhonetes, ônibus, caminhões, tratores, entre outros veículos. Desde 1970 a Fate fornece pneus para as principais montadoras de automóveis e caminhões do mundo. A parceria prevê a comercialização no País da linha completa da Fate: passeio, carga e agrícola. Com a utilização da rede de distribuição da Vipal, juntas as marcas serão responsáveis por uma ampla rede de comercialização de pneus do Mercosul. Garantia estendida e exclusiva – quando reformados pela Vipal, os pneus Fate passam a contar com a Reforma Qualificada e Garantida (RQG). E mais, a Vipal , especialista em reforma e conhecedora da performance das diversas marcas de pneus em todas as suas “vidas”, avaliza o pneu Fate através de uma garantia exclusiva e diferenciada, com valor de reposição do pneu reformado 20% superior ao oferecido às demais marcas de pneu. Trata-se do “RQG +20”. O Sistema RQG consiste em um compromisso desenvolvido em parceria com sua rede composta por mais de 230 Reformadores Autorizados espalhados por todo o Brasil e outros 54 em 14 países da América Latina. “Graças à condição técnica diferenciada dos nossos Reformadores Autorizados, asseguramos a reposição imediata em caso de falha de produto ou de processo, tanto para reformas a frio ou a quente, cobrindo a maioria dos pneus radiais e convencionais disponíveis no mercado. Garantimos não somente a reforma, mas também a carcaça. No caso da garantia da reforma dos pneus Fate, o valor da reposição ficou 20% maior ”, explica João Carlos Paludo, Presidente da Borrachas Vipal. “Através dessa parceria com a Fate, passamos a oferecer aos transportadores brasileiros uma solução completa em termos de pneus, dos produtos para consertos de pneus até as soluções para reforma, passando pela oferta do pneu novo”, afirma João Carlos. A oferta integrada da solução “pneu novo Fate” com a “reforma Vipal” vai contar com o suporte técnico às frotas da equipe Vipal e de sua Rede de Reformadores Autorizados. A Vipal disponibilizou o 0800-7070-234 para atendimento relativo aos pneus Fate. PR Pneu FateCargo SR200 Panorama Rural Maio 2009 87 Serrarias portáteis trazem soluções eficientes e práticas Lucas Mill apresentou na Agrishow sua linha de serrarias A Lucas Mill Brasil esteve presente na Agrishow 2009, realizada de 27 de abril a 2 de maio em Ribeirão Preto, SP, e apresentou os seus três tipos de serrarias portáteis: - Lucas Mill, que são serras de disco recomendada para madeira dura e grossa, apresenta três modelos, o 614, o 618 e o 830. A 614 possui a capacidade de serrar de dois a quatro metros cúbicos de madeira por dia e o investimento no maquinário é de R$ 26.900,00. A 618 serra de três a seis metros cúbicos de madeira por dia e o seu valor é de R$ 34.400,00. Esses dois modelos tiram a bitola (peça) máxima de 16 cm x 16 cm. O maior modelo da linha Lucas Mill é o 830, e é também o mais vendido no Brasil. O modelo 830 serra bitola de 21,5 cm x 21,5 cm e custa R$ 48.000,00. - Serra Flex trata-se de uma motoserra destinada a produtores de baixo volume de madeira. A linha Norwood – serras de fita são destinadas a produtores de madeira fina e não tão densa, como madeira de pinos e alguns tipos de eucalipto. - Ecoserra flex, uma serraria de baixo custo (R$ 1.650,00) indicada para serrar pouca madeira, pois do contrário sua economicidade não seria viável. A linha de serraria Norwood - Serra de fita possui dois modelos, a Lumber Lite, exposta 88 Panorama Rural Maio 2009 Divulgação Equipe da Lucas Mill na Agrishow 2009 na Agrishow e a Lumber Mate. A Lumber Lite possui um porte menor e custa R$ 17.200,00, enquanto a Lumber Mate com motor de 13 cavalos custa R$ 25.200,00 ou R$ 29.200,00 com motor de 23 cavalos. De acordo com a sócia-gerente da Lucas Mill Brasil, Heide Seidler, a vantagem da serraria portátil é que com a serraria na propriedade não é preciso transportar a tora da madeira até a cidade para ser serrada. “A serraria portátil vai até onde a tora está, o que traz para o produtor uma economia de tempo e dinheiro, pois se a madeira é levada para a serraria na cidade há o custo de transporte e também da terceirização do serviço, e dependendo do negócio feito entre as partes a serraria ainda fica com a melhor parte da madeira”, argumenta Seidler. Além disso, as serrarias portáteis se pagam relativamente rápido de acordo com o destino que é dado à madeira. PR GTS lança colhedora modelo Flexer FD70 na Bahia Farm Show nos perda de grãos. “Essa máquina colhe plantas tombadas, trabalha em qualquer horário e tempo, possui plataformas flutuáveis, mede 12 metros de comprimento em peça única (ou 40 pés) e pesa 2.650 quilos.” Outro importante diferencial é o sistema de recolhimento por esteiras ao invés de caracol como das plataformas convencionais o que permite que o fluxo do material cortado para a área central da colhedora seja suave e contínuo, evitando o acúmulo e ‘embuchamento’ (triângulo morto). “Essa máquina lambe o chão e colhe quase 89,7 hectares de grãos por dia em quase 12 horas”, salienta Zanchetta. A tecnologia Flexer opera com desempenho satisfatório em diversos tipos de relevos. PR Lateral da Plataforma Flexer FD70: menor perda de grãos Divulgação A GTS do Brasil, com sede em Lages, SC, participará de 02 a 06 de junho, da Bahia Farm Show – Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios, em Luís Eduardo Magalhães – BA. Claudecir José Zanchetta, responsável pela área de exportação, informou que a empresa lançará na feira a colhedora de soja, feijão, sorgo, trigo e canola, modelo Flexer FD70. Os diferenciais dessa Plataforma Flexer, segundo Zanchetta, são praticidade e rendimento no seu dia a dia, economia de combustível e me- Panther Precision Vence Tudo lança na Agrishow 2009 a primeira plantadora no mercado que faz aplicação de adubos a taxa variável em dois reservatórios - Fósforo e Potássio A Indústria de Implementos Agrícolas Vence Tudo, da cidade de Ibirubá, no RS, foi responsável por uma das atrações da Agrishow 2009, realizada de 27 de abril a 2 de maio em Ribeirão Preto, SP, a empresa lançou a plantadora Panther Precision. De acordo com o coordenador do departamento de Agricultura de Precisão, Ismael L. Mari, a plantadora da Vence Tudo, Panther Precision, é a primeira no mercado que faz aplicação de adubos a taxa variável em dois reservatórios (Fósforo e Potássio), vindo a ser uma grande ferramenta para agricultores que buscam na tecnologia formas de aumentar sua produção reduzindo custos. na feira nção do público De acordo com Is- A plantadora chamou a ate mael, existem vários trabalhos de pesquisas que somam positivamente à questão da adubação no sulco por Taxa Variável, com um maior aproveitamento do fertilizante pela planta, deixando-a com um sistema radicular mais profundo e resistente a estiagens prolongadas. Ismael salienta que a Panther Precision é uma máquina pantográfica versátil que pode vir nas configurações de 6 a 16 linhas para grãos grossos e que se no momento o agricultor ainda não possui toda as áreas mapeadas pode trabalhar com a regulagem digital instantânea de sementes e adubo. Fotos: Divulgaçã o Panther Precisio n: lançada na Ag rishow 2009 Novo ritmo no MS No Estado, sistema já representa 9% do PIB, cresceu 18% em 2008, tem o forte no agronegócio, ainda ‘ignora’ a crise, mas não convence a pecuária de corte MS ainda não abriga nenhuma cooperativa de pecuária bovina de corte para abate Ariosto Mesquita S urgido em Minas Gerais no início do século passado e forte no Sudeste, sobretudo, na Região Sul do Brasil, o cooperativismo agropecuário começa a deslanchar no Centro-Oeste, fundamentalmente como uma ferramenta para eficiência produtiva e ampliação de mercado. Um dos exemplos é o Mato Grosso do Sul. Das suas 102 cooperativas filiadas à OCB, 49% são voltadas às atividades agrícola e pecuária. O setor cooperativista vem ampliando sua participação na economia regional. No início da década representava 7% do PIB estadual; este índice agora é de 9% (a média nacional é de 6%) e a previsão é de que atinja 12% dentro dos próximos 10 anos. Além disso, o faturamento 90 Panorama Rural Maio 2009 médio das cooperativas do Estado cresceu 18% em 2008, mesmo índice médio do Centro-Oeste, conforme dados da Organização das Cooperativas Brasileiras no MS (OCB/MS). No entanto, uma pedrinha no sapato ainda incomoda os cooperativistas sul-mato-grossenses. Um dos maiores produtores de carne do Brasil – juntamente com Mato Grosso – o Estado ainda não abriga nenhuma cooperativa de pecuária bovina de corte para abate, processamento e comercialização. “Enquanto o sistema cooperativo é responsável hoje por 80% do algodão, 40% da soja e 50% do milho produzidos e comercializados no Mato Grosso do Sul, este índice é zero na bovinocultura de corte”, revela o presidente da OCB/MS, Celso Ramos Régis. “O criador de gado para corte olha o vizinho de cerca como concorrente e não como possível parceiro; e de certa forma é até natural, pois enquanto o pequeno produtor de leite precisa da produção do vizinho para que a coleta por caminhão seja viável na região, o frigorífico vai buscar o boi na propriedade do criador, independente de outra fazenda”, compara. A preocupação ganha legitimidade maior diante do quadro recente de suspensão de abates, fechamento de indústrias frigoríficas e “calotes” a pecuaristas registrados em vários estados brasileiros e com forte grau no Mato Grosso do Sul. Excetuando a bovinocultura de corte, a OCB/MS tem como filiadas 25 cooperativas agrícolas, quatro de piscicultura, três de avicultu- ra, 12 de pecuária leiteira, quatro de suinocultura e duas de estrutiocultura. “Estamos tentando viabilizar uma parceria com a Embrapa Gado de Corte para tentar reverter esta situação e mostrar as vantagens do sistema cooperativo, principalmente para processamento e comercialização do gado produzido pelos pecuaristas”, revela Régis. A idéia, segundo ele, é trabalhar para a estruturação de uma unidade processadora que seria administrada por uma futura cooperativa de criadores. Esta possibilidade também é vislumbrada pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu que, viajando pelo País, vem defendendo a implantação, por produtores, de indústrias cooperadas, administradas por executivos competentes e de confiança. Para o vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, o problema é muito mais do que cultural e extrapola o Mato Grosso do Sul. “É uma ques- Celso Ramos Régis: “índice é zero na bovinocultura de corte” tão também histórica e que envolve a estrutura fundiária brasileira além das características da própria cadeia produtiva”, garante. Ele admite os benefícios que o sistema cooperativo pode trazer à bovinocultura de corte, mas faz um alerta: “o meio ainda não ajuda; alguns elos, por exemplo, têm características sonegadoras que não atendem o perfil de uma estrutura de cooperativa que Riedel: “o meio ainda não ajuda” pressupõe transparência e equilíbrio aos envolvidos”. Riedel considera que somente uma nova e forte estrutura poderia romper com o que hoje está estabelecido. “Temos exemplo de atividade cooperativada no processamento e comercialização da bovinocultura de corte no Brasil, mas boa parte ainda está no vermelho; somente muita organização pode romper isso”, alerta. Números crescentes – mas independente do ainda fraco envolvimento da pecuária bovina de corte, alguns números mostram que o cooperativismo tende a ampliar sua participação no agronegócio. O setor, inclusive, parece que ainda não sentiu – como outros – os efeitos da crise financeira mundial. Em recente balanço relativo ao ano de 2008, o presidente da OCB Brasil, Márcio Lopes de Freitas, mostrou que as cooperativas filiadas registraram um faturamento de R$ 83 bilhões, um crescimento de 15% sobre os R$ 72 bilhões de 2007. O faturamento do Centro-Oeste foi de R$ 6,41 bilhões. Panorama Rural Maio 2009 91 Cooperativa abasteceu Festa do Peixe 2009 em Dourados, MS... A OCB fechou 2008 com 7.672 cooperativas filiadas e 7.687.568 produtores associados. O governo federal também tremula a bandeira do cooperativismo aliado a uma concorrência leal como alternativa mais segura ao setor agropecuário. “Produtores brasileiros devem competir e cooperar ao mesmo tempo”, declarou em fevereiro, em Maracaju, MS, o ministro Extraordinário para Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger. E, ao que tudo indica, a atividade no Mato Grosso do Sul vai sentir os efeitos da crise de forma bem mais amena do que se esperava. A OCB/MS não vem percebendo retração nos primeiros meses de 2009, ao contrário. “Estamos detectando maior demanda pela atividade cooperada neste ano, mesmo com esta crise financeira, até pelo fato de que diante desta retração mundial o cooperativismo é uma das soluções para melhor estabilidade na atividade econômica; esperamos manter 92 Panorama Rural Maio 2009 o mesmo índice de crescimento de 2008”, aposta Régis. Setor de Grãos o mais atuante – o índice de participação no PIB estadual de 9% garante ao cooperativismo sul-mato-grossense, segundo o presidente da OCB/MS, a presença na lista dos cinco Estados com maior arrecadação média em relação ao desempenho da economia geral. “Mas ainda temos de evoluir muito, principalmente o Brasil como um todo, pois a média mundial na participação do PIB é de 21%”, afirma. O setor de grãos, de longe, é o mais atuante no cooperativismo sul-mato-grossense, mas outros seguimentos vão se estruturando. “Só no ano passado, por exemplo, foram organizadas três cooperativas de caminhoneiros para o transporte de produção agrícola, sobretudo de cana-de-açúcar, o que se explica pelo franco crescimento da atividade sucroalcooleira por aqui”, revela. Todo este bom desempenho, no entanto, não faz esquecer o baque provocado em todo o sistema pela ...e comercializou 29 toneladas de pescado direto ao consumidor crise – financeira e de gestão - da segunda maior cooperativa agropecuária do Centro-Oeste e a sétima (até 2007) no ranking das maiores exportadoras do Brasil. Em 2008, a Cooperativa Agropecuária e Industrial - Cooagri -, com sede em Dourados, MS, se viu no fundo do poço, sem crédito no mercado e com dívidas de R$ 220 milhões a curto prazo. A situação só se amenizou quando a multinacional norte-americana Archer Daniels Midland Company (ADM) assumiu o gerenciamento das 17 unidades da cooperativa em fevereiro deste ano. Régis, no entanto, lembra: “o problema vem desde o surgimento da Cooagri no início dos anos 90, quando herdou um passivo da gaúcha Cotrijuí, de onde nasceu”. Este passivo, na época, seria de US$ 12 milhões. Piscicultura – mas outros setores vão dando bons exemplos. Outra atividade cooperativada de destaque no Mato Grosso do Sul é a piscicultura. Cooperativas nos municípios de Dourados e Mundo Novo estão próximas às regiões consideradas integrantes de um novo pólo de produção de peixe de cultivo no Brasil e já são referência no Centro-Oeste. O vice-presidente da Cooperativa de Aquicultores do Mato Grosso do Sul (MSPeixe), Ademar Ferreira, evita falar em faturamento ou mesmo em volume total de produção dos cooperativados, mas não esconde o otimismo com a atividade: “não temos notado, como produtores de pescado, nenhum sinal de crise por aqui, muito pelo contrário; alguns piscicultores que também trabalham com gado de corte e agricultura nos dizem que nos últimos anos o que tem salvado a situação é o cultivo de peixe”. A cooperativa reúne 41 piscicultores A cooperativa reúne 41 piscicultores, a maioria pequenos produtores, atende ao mercado sul-matogrossense e abastece laboratórios que vendem alevinos para todo o Brasil. Além de investimentos em estrutura logística, treinamentos e qualificação de cooperativados, a MSPeixe se prepara para construir – com recursos do Governo Federal – o seu entreposto de peixe em um terreno de 42 mil m² doado pela Prefeitura de Dourados A integração com a sociedade também é política da MSPeixe. Há seis anos é parceira na realização da Festa do Peixe de Dourados. Na sexta edição, em abril deste ano, a cooperativa comercializou 28 toneladas de peixe vivo diretamente ao consumidor. Além disso, promoveu competições de pesca e “escondeu” em cada uma de 10 unidades premiadas de pacu, um vale de R$ 200,00. “Foi um sucesso total”, afirma Ferreira. PR Panorama Rural Maio 2009 93 Eventos Universidade de Viçosa realiza a 80ª Semana do Fazendeiro R uralistas de diversas regiões do país são esperados em Viçosa, no período de 12 a 17 de julho de 2009, para a realização da 80ª Semana do Fazendeiro, que terá como tema central “80 Anos de Diálogo com o Campo”. Coordenado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, o evento é uma oportunidade de oferecer conhecimentos da ciência e tecnologias relacionadas com o agronegócio. Estão programados Exposição de máquinas e implementos agrícolas durante Semana do Fazendeiro vários cursos de curta ducada de 20, a Semana do Fazendeiração, com extenso leque de opções. compartilhar os resultados de suas ro tem sido utilizada pela UFV para Realizada desde o final da déatividades de ensino, pesquisa e extensão, contribuindo para o desenvolvimento do agronegócio e para o bem-estar social do produtor rural e de sua família. Durante o evento, são promovidas exposição de máquinas e implementos agrícolas, exposição de artesanato, atividades de lazer e variada programação cultural. Poderão se inscrever na Semana do Fazendeiro produtores rurais acima de 18 anos, interessados em adquirir conhecimentos técnicos nas áreas temáticas dos cursos e obter consultoria técnica e tecnológica prestada por especialistas na Clínica Tecnológica. A inscrição também é aberta aos familiares diretos dos produtores rurais, até segundo Durante a semana são realizados diversos cursos de curta duração grau, trabalhadores do setor agro94 Panorama Rural Maio 2009 Eventos pecuário, estudantes de escolas agrotécnicas (filhos de produtores rurais e, ou, menores aprendizes do meio rural), acima de 16 anos ou a completar até julho de 2009, mediante comprovação documental. Informações mais detalhadas poderão ser obtidas pelos telefones (31) 38991701/2156 e pelos endereços www.ufv.br e [email protected] PR Cursos de produção de doces, como alternativa para diversificação de renda, também fazem parte da programação Especialistas do Brasil e do exterior debatem geração de energia a partir de resíduos agrícolas E specialistas de quatro países e de diversas instituições de pesquisa do Brasil estarão presentes no IV Seminário Nacional de Gestão de Resíduos e no I Seminário Internacional de Sustentabilidade Energética, cuja temática é Tecnologias Ambientais: Energia Renovável a partir de Biomassa e Resíduos Agrícolas. O evento acontece no auditório do CREA, em Belo Horizonte, MG, nos dias 23 e 24 de julho. A questão dos resíduos agrícolas e as possibilidades de aproveitamento para a produção de energia renovável têm se transformado em um tema sobre o qual pesquisadores se debruçam, buscando soluções que contribuam para a matriz energética nacional. O Seminário vai contribuir para esse debate, reunindo pesquisadores e cientistas de organizações nacionais e internacionais. As Câmaras de Comércio Brasil-Estados Unidos e Brasil-Alemanha, as universidades de Viçosa (UFV/Brasil) e de Bornim, Alemanha, além da Associação Mineira de Municípios (AMM), o Canal Rural e a Ruralminas apóiam esse seminário. As inscrições são limitadas e começam no dia 30 de março. Outras informações podem ser obtidas através do site do evento: www.institutobrasil.com/bioenergia. PR Panorama Rural Maio 2009 95 Feiras & Exposições IV Frutal Amazônia e IX Flor Pará Local: Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia – Belém, PA Data: 25 a 28 de junho de 2009 Contato: (91) 4006-1260 e [email protected] Hortitec 2009 – Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas Local: Holambra, SP Data: 10 a 12 de junho de 2009 Contato: (19) 3802-4196 e www.hortitec.com.br Bahia Farm Show 2009 Local: Luis Eduardo Magalhães, BA Data: 02 a 06 de junho de 2009 Contato: (71) 3379-1777 e www.bahiafarmshow.com.br Feicorte 2009 – 15ª Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne Local: Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo, SP Data: 16 a 20 de junho de 2009 Contato: (11) 5067-6767 e [email protected] 12ª Expocachaça – Feira e Festival Internacional da Cachaça Local: Expominas – Pavilhões 2 e 3 – Belo Horizonte, MG Data: 04 a 07 de junho de 2009 Contato: (31) 3284-6315 e [email protected] 6ª Megaleite – Exposição Brasileira do Agronegócio do Leite Local: Parque Fernando Costa – Uberaba, MG Data: 29 de junho a 05 de julho de 2009 Contato: (34) 3331-6000 e [email protected] Brazil Ethanol Trade Show 2009 – Feira Internacional de Tecnologia para a Produção de Etanol Local: WTC Golden Hall – São Paulo, SP Data: 01 a 03 de junho de 2009 Contato: [email protected] Eco Bahia 2009 – Feira de Educação Ambiental Local: Estádio do Pituaçu – Salvador, BA Data: 03 a 06 de junho de 2009 Contato: delfim@feirabrasilpetroleoegas .com.br Feira da Indústria Comércio e Serviços de Bento Gonçalves Local: CIC – Bento Gonçalves, RS fale com o editor: [email protected] Data: 04 a 14 de junho de 2009 Contato: [email protected] Femap 2009 – Feira da Tecnologia Moveleira Local: Pavilhão do Horto Florestal – Ubá, MG Data: 16 a 19 de junho de 2009 Contato: [email protected] R Energy 2009 – Expo Internacional de Energias Renováveis Local: São Paulo, SP Data: 17 a 19 de junho de 2009 Contato: [email protected] Ambiental Expo 2009 – Feira Internacional de Soluções para Saneamento e Meio Ambiente Local: Anhembi – São Paulo, SP Data: 30 de junho a 02 de julho de 2009 Contato: daniel.zanetti@reedalcantara. com.br Expocafé 2009 Local: Três Pontas, MG Data: 17 a 19 de junho de 2009 Contato: (35) 3829-1674 e expocafe@ ufla.br Eventos & Leilões 1º Seminário de Aquicultura do Estado do Amapá Contato: (51) 3594-7000 e opiniao@ opiniaomagazine.com.br Local: Auditório da UEAP – Macapá, AP Data: 09 e 10 de junho de 2009 Contato: (96) 4009-9550 e aqü[email protected] VI Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil Congresso Nacional de Aviação Agrícola 2009 Local: Hotel Fazenda mato Grosso e Estância Santa Rica – Cuiabá, MT Data: 17 a 19 de junho de 2009 96 Panorama Rural Junho 2009 Local: Centro de Convenções de Vitória, ES Data: 02 a 05 de junho de 2009 4º Congresso Internacional de Bioenergia 1º Congresso Brasileiro de Geração Distribuída e Energias Renováveis BIO Tech Fair 2009 - 2ª Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustível Local: Expotrade Convention Center – Pinhais, PR (Região Metropolitana de Curitiba) Data: 16 a 19 de junho de 2009 Contato: (41) 3072-3131 Eventos & Leilões 1º Congresso Brasileiro sobre Florestas Energéticas Contato: (85) 3535-8000 e [email protected] Local: Expominas – Belo Horizonte, MG Data: 02 a 05 de junho de 2009 Contato: (43) 3025-5223 e [email protected] 10ª Encontro de Plantio Direto no Cerrado Simtec 2009 – Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira Local: Engenho Central – Piracicaba, SP Data: 30 de junho a 03 de julho de 2009 Contato: (19) 3417-8604 e [email protected] PecNordeste – XIII Seminário Nordestino de Pecuária Local: Centro de Convenções do Ceará – Fortaleza, CE Data: 15 a 18 de junho de 2009 Local: Salão de Eventos da Unigran – Dourados, MS Data: 14 a 26 de junho de 2009 Contato: (67) 3416-9739 e [email protected] 4º Prêmio Emater/MG de Criatividade Rural Participantes: agricultores e pecuaristas (pessoas físicas) do Estado de Minas Gerais Inscrições: 30 de março a 31 de julho de 2009 Informações: (31) 3349-8273 e [email protected] Regulamento pelo site: www.emater. mg.gov.br fale com o editor: [email protected] Leilão Virtual Fazendas Paulistas Oferta: vacas, novilhas e bezerras Girolando Cidade: Guaiçara, SP Data: 07 de junho de 2009 Horário: 20 horas Transmissão: Agrocanal Leilão Virtual Fazenda Primavera Oferta: fêmeas Girolando Cidade: Avaré, SP Data: 07 de junho de 2009 Horário: 15 horas Transmissão: Agrocanal Leilão Virtual Fazenda Bom Retiro Oferta: vacas em lactação e novilhas prenhas Girolando Eventos & Leilões Cidade: Pedranópolis, SP Data: 07 de junho de 2009 Horário: 11 horas Transmissão: Agrocanal Leilão Puro Leite Oferta: fêmeas Girolando Cidade: São Gonçalo do Sapucaí, MG Data: 11 de junho de 2009 Horário: 14 horas Transmissão: Agrocanal 2º Leilão Virtual Fazenda Vila Rica Oferta: vacas, novilhas e bezerras Girolando Cidade: Cocalzinho de Goiás, GO Data: 22 de junho de 2009 Horário: 20 horas Transmissão: Agrocanal 2º Leilão Inconfidência Oferta: Santa Inês Local: Restaurante La Vitória – Belo Horizonte, MG Data: 04 de junho de 2009 Horário: 21h30min Transmissão: TerraViva Informações: (87) 9114-0546 10º Leilão Virtual Tradição & Inovação Oferta: Santa Inês Data: 09 de junho de 2009 Horário: 21 horas Transmissão: TerraViva Contato: (87) 9114-0546 1º Leilão Terra dos Inhamuns Baby Oferta: Santa Inês, Dorper, Anglonubiano e Bôer Local: Parque de Exposições de Tauá, CE Data: 12 de junho de 2009 Horário: 20 horas 3º Leilão Terra dos Inhamuns Oferta: Santa Inês, Dorper, Anglonubiano e Bôer Local: Parque de Exposições de Tauá, CE Data: 13 de junho de 2009 Horário: 21 horas 98 Panorama Rural Junho 2009 Transmissão: TerraViva 3º Leilão Virtual 3 Ases e 1 Curinga Oferta: Santa Inês, Bôer e Dorper Data: 14 de junho de 2009 Horário: 21 horas Transmissão: TerraViva Contato: (83) 9941-5649 6º Leilão Virtual Cabanha Caretta Oferta: Dorper Data: 21 de junho de 2009 Horário: 21 horas Transmissão: TerraViva Contato: (15) 9107-7539 1º Leilão Virtual Parceiros do Sim Oferta: Santa Inês Data: 23 de junho de 2009 Horário: 21 horas Transmissão: TerraViva Contato: (87) 9114-0546 2º. Leilão Natal Quarter Horse Oferta: Quarto de Milha Local: Parque de Exposições Aristófanes Fernandes – Parnamirim, RN Data: 27 de junho de 2009 Horário: 14 horas Transmissão: Agrocanal Leilão de Corte Oferta: gado cria, recria e engorda Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad – S. J. Rio Preto, SP Data: 04 de junho de 2009 Horário: 18 horas Leilão de Corte Oferta: gado cria, recria e engorda Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad – S. J. Rio Preto, SP Data: 11 de junho de 2009 Horário: 18 horas Leilão de Corte Oferta: gado cria, recria e engorda Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad – S. J. Rio Preto, SP fale com o editor: [email protected] Data: 18 de junho de 2009 Horário: 18 horas Leilão de Corte Oferta: gado cria, recria e engorda Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad – S. J. Rio Preto, SP Data: 25 de junho de 2009 Horário: 18 horas 2º. Leilão Produção M.H. Oferta: bezerros e bezerras de cruzamento industrial Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad – S. J. Rio Preto, SP Data: 30 de junho de 2009 Horário: 18 horas Leilão Produção Serra de Maracaju Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS Data: 06 de junho de 2009 Horário: 21 horas (oficial de Brasília) 22º Leilão Serra de Maracaju Oferta: machos Nelore PO Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS Data: 07 de junho de 2009 Horário: 21 horas (oficial de Brasília) Leilão Produtoras de Maracaju Corte Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS Data: 09 de junho de 2009 Horário: 21 horas (oficial de Brasília) 7º Leilão da Filó Maracaju Oferta: machos e fêmeas leiteiras Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS Data: 10 de junho de 2009 Horário: 21 horas (oficial de Brasília) 8º Leilão Touro Jovem Oferta: reprodutores Nelore PO Local: Estância Orsi – Campo Grande, MS Data: 27 de junho de 2009 Horário: 13 horas (oficial de Brasília) Panorama Rural Junho 2009 99 100 Panorama Rural Junho 2009