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Ano XI · Nº 124 · Junho/2009 · R$ 9,90
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Especial – Agricultura orgânica – O pujante mercado dos produtos verdes
As novas estrelas
da Agrishow
Código Florestal
Tabapuã brilha
na Expozebu
Democracia
da engorda?
O país da
agroenergia
O potencial brasileiro para produzir biocombustíveis
e elevar a produção de alimentos
Panorama Rural
Junho 2009
1
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Panorama Rural
Junho 2009
Conversa pra
boi dormir
Diretores: Plínio César e Marco Baldan
Gerente de Comunicação: Fábio Soares Rodrigues
Gerente Administrativo: Paulo Cézar
Consultor Técnico: Neriberto Simões
Administrativo: Layla Furtado
Publicação mensal da
PC&Baldan / Abimaq / Agrishow
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Podem parar de blá,
blá, blá, até os bois
não caem mais nessa
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É permitida a reprodução total ou parcial
dos textos, desde que citada a fonte.
O
uso de combustíveis renováveis oferece a oportunidade de reduzir as emissões de gases poluentes e, com isso, minorar o efeito estufa. Também é a
chance de a humanidade passar a depender menos do petróleo e dos humores dos países produtores, já que a maioria se encontra em regiões de conflito.
No entanto, bastou o mundo despertar para o fato de que o biocombustível é uma
alternativa viável aos combustíveis fósseis, para que os opositores da energia verde
criassem obstáculos ao seu avanço.
Eles devem ter levado um susto quando perceberam o tamanho do apetite
dos investidores de peso interessados em entrar no negócio do etanol. Susto maior
deve ter sido a possibilidade de o Brasil ascender como grande produtor energético, ainda mais depois da descoberta do pré-sal.
Então, o jeito que eles tiveram foi falar mal dos biocombustíveis, vieram com
a conversa de que a produção de energia verde vem desmatando a Amazônia brasileira, e mais, era o responsável pelo aumento de preço dos produtos alimentícios
e sua expansão pode ampliar a fome no mundo.
Estão querendo minar até mesmo a soberania tecnológica brasileira para a
produção de etanol. Pesquisadores estrangeiros passaram a dizer que ela é ultrapassada e que já estão investindo em etanol de segunda geração, produzido a partir da
celulose, muito mais eficiente do que a nossa. Frente a toda essa conversa, o físico
José Goldemberg, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e hoje, professor e pesquisador
da Universidade de São Paulo, sentiu a necessidade de examinar o tema e preparou
um estudo provando que ainda há muito espaço para crescer com a atual tecnologia
empregada pelas usinas brasileiras. “Os americanos estão excitados pela tecnologia
de segunda geração porque não têm cana-de-açúcar nos EUA. Querem mostrar que a
tecnologia atual não tem futuro, mas não é nada disso”, salienta o professor.
Pois é, toda essa falação é como dizem na roça: conversa pra boi dormir.
O Brasil tem o maior potencial na produção de energia por meio da biomassa.
Comparado com a gasolina, o etanol de cana-de-açúcar emite 90% menos gases
de efeito estufa. E somos o único País onde a gasolina perdeu o posto de principal
combustível para o etanol.
Os contrários aos biocombustíveis querem nos desacreditar, mostrar que não
somos bons e assim dominar a nossa tecnologia. Portanto, não podemos deixar
de investir continuamente em pesquisas científicas para aprimorar ainda mais a
eficiência das usinas. Também é primordial proporcionar o tempo necessário para
que os pesquisadores façam com que o biodiesel seja tão viável quanto é o etanol.
Assim como é fundamental o produtor brasileiro continuar produzindo e os empreendedores ousando, mas isso tudo poderia ser um pouquinho mais fácil, com mais
crédito, menos juros, mais oportunidades. Isso não é conversa pra boi dormir, é fato.
Correção: As fotos da matéria Delírios
de João Louco - publicada na edição
passada são de autoria de Toninho Cury
Luciana Paiva
Editora
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Capa
O país da
agroenergia
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Panorama Rural
O potencial brasileiro para
produzir biocombustíveis e
elevar a produção de alimentos
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Especial
Agricultura Orgânica
Mercado em ascensão
Página 42
Agrishow
As novas estrelas da Agrishow
Página 64
cultura
Rolando Boldrin
A lida do Sr.Brasil
Página 75
curiosidades
Procura-se um leão,
desesperadamente
Página 26
Chegou a democracia
da engorda?
Página 84
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Beira D’Água
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Economia
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Tendências
Negócios
Ambiental
Biblioteca Rural
Marketing Rural
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Panorama Rural
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ENTREVISTA
João Sampaio: Secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Luciana Paiva
Um otimista
incorrigível
Como empresário
rural, Sampaio aposta
na diversificação
de produtos e na
agregação de valor.
Como Secretário
defende investimento
em pesquisa,
informação, mais
crédito e menos juros
Luciana Paiva
T
odo ano o sistema Agrishow
elege uma personalidade do
agronegócio, nesta edição da
feira o eleito foi João de Almeida
Sampaio Filho, secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo. Sampaio tem o agronegócio no sangue, tanto do lado materno
como paterno. Nasceu na capital paulista, mas a família tem origens em
Barretos, Jaú e Uberaba. Formado
em Direito e Economia, quis mesmo é
ser produtor rural. “Formei em Economia em novembro, em dezembro já
estava cuidando da fazenda”, ressalta
o Secretário, que em 1987 mudou-se
para Jaciara, MT, onde morou por 11
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anos, para administrar uma propriedade voltada para a pecuária e produção de borracha.
Sampaio apostou na transformação da matéria-prima para agregar valor ao produto, assim, montou
uma mini-usina para o processamento
do látex. O negócio prosperou e virou
uma usina com alta produção. Foi aí
que resolveu entrar para uma entidade
de classe, a Associação de Produtores
de Borracha de Mato Grosso, da qual
foi presidente. A partir daí esteve à
frente de diversas entidades ligadas ao
agronegócio, como a Sociedade Rural
Brasileira (SRB), onde ocupou a presidência de 2002 a 2008. Mesmo com
toda essa atividade política classista,
não descuidou de seus negócios, pelo
contrário, os diversificou, além da bor-
ENTREVISTA
racha e a pecuária, produz laranja e
cana-de-açúcar.
Em 2007, tornou-se Secretário
da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Nesta fase de retração do comércio exterior, o Secretário
salienta que é prioritário estimular o
mercado interno, que consome 80%
da produção agropecuária brasileira, incluindo o etanol, suco de laranja, grãos, carne e leite, dentre outros
produtos. Para isso, Sampaio alerta
o governo federal sobre a necessidade de tomar medidas ágeis e eficazes
para fortalecer a demanda nacional,
ampliando o crédito – para produtores
e compradores –, reduzindo os juros e
alargando os prazos de resgate.
Também ressalta ser fundamental multiplicar o acesso ao seguro rural
e viabilizar a produção dos agropecuaristas endividados. “Isto é inexorável,
pois se não conseguirem plantar e colher, quebrarão de modo irreversível,
além do impacto negativo no volume
total da produção”, salienta o entrevistado desta edição.
PanRural – São Paulo é o Estado mais industrializado do País,
mas qual a importância do agronegócio para São Paulo?
Sampaio – Não é errado dizer
que São Paulo é o que é por causa da
agricultura. Foi a monocultura cafeeira que financiou a industrialização
no Estado. E, hoje, a importância do
agronegócio para São Paulo não está
somente nos números de produção,
mas nos índices de desenvolvimento
humano, o interior paulista tem qualidade de vida comparada a de países ricos. É o melhor lugar do Brasil para se
viver. E isso é resultado do agronegócio, que gera renda e distribui riqueza.
PanRural – O Levantamento
Censitário das Unidades de Produção Agropecuária apontou, entre
outras coisas, que as propriedades
rurais paulistas estão menores, porém mais tecnificadas. É esta a tendência?
Sampaio – Sim. Propriedade
com menor área, porém mais produtiva, pois os produtores estão com mais
acesso às tecnologias, às sementes e
mudas adaptadas as suas condições.
Os produtores também têm maior escolaridade, mais acesso às informações, a cursos que vão desde técnica
de plantio, cultivo, até como transformar a matéria-prima e agregar valor
ao produto, aumentando a renda da
propriedade. A diversificação de produção é outro ponto forte, São Paulo
tem grandes áreas com cana, laranja,
pecuária bovina, mas também é grande produtor de frangos, milho, café,
produtores de frutas de mesa. Por isso,
é fundamental investir em pesquisa.
No último ano, realizamos os maiores
investimentos em pesquisa agropecuária dos últimos 25 anos. Entre 2007
e 2008, foram aproximadamente R$
30 milhões aplicados na modernização
e adequação de laboratórios. Temos
também priorizado a contratação de
pesquisadores.
PanRural – Em relação a canade-açúcar, o Estado e os produtores
de cana firmaram um Protocolo
Agroambiental, como foi isso?
Sampaio – A cana ocupa 5 mi-
“ ”
Os tratores com potência
menor que 50 cavalos também
farão parte do Pró-trator
ovo, frutas, verduras, legumes, flores,
ovinocultura e tantas coisas mais. A
tendência do agronegócio é ser cada
vez mais produtivo, tecnificado e com
produtores profissionais.
PanRural – O Estado tem ampliado os investimentos em pesquisas agrícolas, por favor, fale sobre
isso?
Sampaio – São Paulo há 200
anos conta com o serviço do Instituto
Agronômico (IAC), esse pioneirismo
em pesquisas agronômicas, é peça
fundamental na evolução da agropecuária paulista. Nesses anos todos,
os estudos não foram apenas sobre o
café ou a cana, mas diversas outras
culturas agrícolas. As pesquisas contribuíram e contribuem para que São
Paulo seja o maior produtor de cana,
açúcar e álcool do País, mas também
somos os maiores produtores de laranja, respondemos por 60% da borracha natural, somos o terceiro maior
produtor de frango, de café e grandes
lhões de hectares, o que representa em
torno de 25% da área utilizada na atividade agrícola no Estado. Por questões ambientais, sociais e até agronômicas é necessário introduzir práticas
mais modernas nessa atividade, como
a extinção da queima da palha da
cana. O governador José Serra foi muito competente nas negociações, buscou
o diálogo com os produtores e saiu esse
protocolo de livre adesão que, entre outros avanços, antecipa o fim da queima
para 2014. Mais de 90% das usinas
aderiram ao protocolo. E ainda estão
qualificando os cortadores de cana
para atuarem em outras áreas. Agora
trabalhamos na realização do zoneamento agrícola da cana, laranja e café,
é uma forma moderna de crescer com
responsabilidade.
PanRural – E a criação do PróTrator?
Sampaio – Falei com o governador Serra sobre a possibilidade de
criarmos um programa de incentivos
Panorama Rural
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ENTREVISTA
para a compra de tratores novos com
juros de 3%. Ele me perguntou: ‘Por
que não juros zero?’. Acatei na hora.
E criamos esse programa inédito e
que superou as expectativas, esperávamos que em dois anos fossem
vendidos seis mil tratores, mas de dezembro de 2008 até final de abril já
foram comercializados três mil e duzentos tratores.
PanRural – Mas por que tratores de potência menor que 50 cavalos não fazem parte do programa e
nem os implementos agrícolas?
Sampaio – Os nossos técnicos
avaliaram que a maior procura por
parte dos produtores é para tratores
lança o seguro de renda. Como será?
Sampaio – Acredito que o seguro deve ser considerado item de consumo nas contas do produtor. Por isso,
desde 2004, somos pioneiros em subvencionar o prêmio e ainda mantemos
essa opção, onde o produtor pode pagar apenas 25% da apólice. O projeto
de Seguro de Renda, programado para
2010, se diferencia do seguro agrícola
porque não garante apenas a produção, mas também o ganho. Quando o
produtor toma o financiamento, automaticamente faz a opção de venda do
produto no mercado futuro. O custo
dessa operação, que se chama “prêmio”, será subsidiado pela metade.
Esse novo seguro deve beneficiar pro-
“ ”
A prefeita Dárcy Vera foi uma
verdadeira guerreira, lutou com
todas as armas para manter a
Agrishow em Ribeirão Preto
de 50 a 120 cavalos de potência, por
isso, direcionamos o Pró-Trator para
atender a essa faixa. No entanto, passamos a receber muitos pedidos de
produtores e de fabricantes para liberar a entrada de tratores com menor
potência. Já estamos estudando essa
possibilidade e isso deverá ocorrer.
Sobre os implementos, inclusive, aqui
mesmo na Agrishow, o Chiquinho Maturro, da Tatu Marchesan, pediu-me a
criação de um programa de juro zero
para os implementos. Temos a intenção de criá-lo, porém, no momento, em
decorrência da crise financeira, nosso
orçamento para 2009 não permite,
então esse programa não será criado
imediatamente, mas também está nos
nossos planos.
PanRural – O senhor é um defensor do seguro agrícola, e agora
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Panorama Rural
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dutores de café, soja, milho, feijão e
criadores de boi gordo e será atrelado
ao crédito de custeio, com cerca de R$
150 milhões destinado a essa operação. Imaginamos que São Paulo subsidie 50%, o governo federal mais 25%
e o produtor rural entre apenas com
25%. Também é um projeto inovador e
está em fase final de elaboração.
PanRural – Qual a importância
para o agronegócio a realização de
feiras como a Agrishow?
Sampaio – É uma enorme contribuição para a difusão de novas
tecnologias, facilitando o avanço da
produção rural. A Agrishow é a mais
importante feira de tecnologia agrícola do País e uma das três maiores do
mundo, assim, é o principal espaço
para o produtor acessar conhecimento. É o maior ponto de encontro entre
fabricantes, produtores, pesquisadores,
enfim, dos integrantes do agronegócio.
PanRural – Para o senhor, a
Agrishow deve permanecer em Ribeirão Preto?
Sampaio – Ribeirão Preto é a
capital do agronegócio, aqui está a
sede da área de agronegócios do Banco
do Brasil. Aqui residem grandes produtores rurais que investem não só na
região, aqui estão instalados escritórios de grandes grupos do agronegócio,
como de multinacionais ligadas a área,
e mais, Ribeirão tem tradição agrícola.
Por isso tudo, defendo a permanência
da Agrishow em Ribeirão. Sobre esse
episódio, preciso salientar o empenho
da prefeita Dárcy Vera para que a
feira ficasse na cidade. A Prefeita foi
uma verdadeira guerreira, lutou com
todas as armas, mobilizou as lideranças. Incrível, recebi telefones de líderes
políticos de todo o Brasil pedindo para
que a Agrishow ficasse em Ribeirão.
Também quero deixar claro, que não
sou filiado a nenhum partido político,
por isso, não tomo decisões pensando
em favorecer um ou outro. O projeto
da Cidade da Bioenergia apresentado
por São Carlos é muito bom e defendo
sua criação, tanto que nos colocamos
à disposição para cooperar com sua
realização. Mas, se, infelizmente, os
organizadores da Agrishow optarem
por sair, a feira vai ser mantida em
Ribeirão Preto e será organizada por
outras entidades.
PanRural – E o agronegócio e
a crise econômica mundial?
Sampaio – A crise econômica
afeta todos os segmentos, inclusive o
do agronegócio. O maior problema é
a falta de acesso ao crédito e também
a falta de liquidez para tocar o negócio. Mas, sou um otimista incorrigível,
acredito que alguns setores já deverão
se recuperar ainda este ano. Não podemos esquecer o potencial do agronegócio brasileiro e do poder de superação
dos produtores rurais. PR
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F
Saúde suína
oi lançado em abril deste ano
no Brasil um novo antibiótico de ação “extra-longa”
para utilização na criação de suínos.
Trata-se do “Excede” que, como o
próprio nome sugere, apresenta ação
terapêutica prolongada de sete dias.
A Pfizer - responsável pela colocação
do produto no mercado – garante que
a novidade previne diversas doenças contagiosas
além de reduzir índices de
resistência bacteriana. A aplicação é
injetável, na proporção de 1 ml
para cada 20 kg
de animal.
Divulgação
Excede Promessa de
eficiência,
sobretudo
na fase de
maternidade
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L
Gripe suína não!
A
denominação inicial de “gripe suína” para a virose surgida no México e que se espalha pelo mundo, foi rebatida durante a realização da
AveSui Regiões 2009 – feira da indústria de aves e suínos – no final de
abril, em São Paulo, SP. Esta expressão inicial foi reprovada por palestrantes,
técnicos e executivos do setor, sob a argumentação de que não há plantel suíno
infectado no mundo pelo fato do
vírus ser transmitido entre os seres humanos. A preocupação é em
função de que o nome possa provocar um colapso na suinocultura
mundial. Segundo os organizadores, a AveSui 2009 recebeu mais
de 15 mil visitantes e movimentou
negócios da ordem de R$ 300 miAveSui 2009 - muita movimentação
lhões.
e polêmica com a gripe
Divulgação
A
John Deere dividiu os
atributos e responsabilidades do serviço de
relacionamento com a imprensa
no Brasil. A partir de agora, a
comunicação institucional da
empresa fica a cargo da CDI Comunicação Corporativa. A comunicação dos produtos (máquinas,
tratores e colheitadeiras, dentre
outros) permanece sob a batuta
da Engenho & Texto Comunicação. A John Deere é uma das
principais empresas mundiais no
fornecimento de produtos e serviços agrícolas.
ucro aumenta e receita cai. Este é o perfil do balanço do grupo
Kepler Weber no primeiro trimestre deste ano em comparação aos
três primeiros meses de 2008. O desempenho deste ano apresentou
lucro de R$ 6,8 milhões, 30% superior ao mesmo período do ano passado. No entanto, a receita bruta de R$ 35,9 milhões foi 28% inferior ao
primeiro trimestre de 2008 resultado, segundo a direção da empresa, da
contenção de investimentos do agronegócio mundial em função da redução
de liquidez. A Kepler produz, dentre outras coisas, silos e equipamentos
para armazenagem de grãos.
A mosca, o detergente e a mandioca
U
ma mistura de detergente líquido e água vem sendo utilizada por
pequenos agricultores da região de Jardim, no Mato Grosso do
Sul, para combater a incidência da mosca-branca em mandiocais. A orientação é do técnico agrícola Antonio Minari, coordenador do
Projeto de Apoio à Produção Sustentável no Território da Reforma. A proporção do preparado é de 2% a 5% de detergente para um litro de água.
A mistura, segundo ele, deve ser borrifada na parte baixa da planta onde
ficam os insetos. A incidência da praga atrapalha o processo metabólico
e respiratório do pé de
mandioca comprometendo a qualidade, o
sabor e sua utilização
industrial.
Divulgação
Comunicação
Equilíbrio
Mandioca_praga: As
folhas da planta ficaram
amareladas, sinal da
presença do fungo.
Pantanal seco
Ariosto Mesquita
Novo presidente
Passados 60 anos após fundar as empresas Randon,
no Rio Grande do Sul, o empresário Raul Anselmo Randon deixa o cargo de diretor-presidente do
grupo. No lugar assume seu filho mais velho, David
Abramo Randon, de 49 anos. O patriarca, no entanto,
permanece na presidência do Conselho, órgão
colegiado de direção da Companhia. A Randon é uma empresa brasileira com unidades
de montagem também no exterior. Suas estruturas são responsáveis, dentre outras coisas, por boa parte do escoamento das safras
David Abramo, o novo diretorbrasileiras de grãos pelas rodovias.
presidente do Grupo Randon
Divulgação
O
alerta está ligado. O
Pantanal começa a atravessar o seu período
mais seco dos últimos 35 anos.
Os proprietários rurais da região
já sabem que existe o risco de
perda de gado para quem não
fizer reserva de água, sobretudo
no alto Pantanal. Os rios já estão
com níveis bem abaixo de suas
médias, mas o pior ainda deve
estar por vir uma vez que o pico
da seca está previsto para agosto. Além da carência de água, o
frio também pode agravar a situação de rebanhos. Outros efeitos
previstos: aumento do número de
focos de incêndio nas fazendas
e redução do estoque pesqueiro
nos rios. Já nas regiões mais baixas (geralmente alagadas) pode
haver um aumento na área disponível para pastagens.
Trem dos grãos
Em recente visita ao Pantanal, o presidente da Ferroeste (Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A.), Samuel Gomes, confidenciou à “Panorama Rural” que
o Governo do Mato Grosso do Sul vai assumir o custo da elaboração do projeto
da ampliação da ferrovia no trecho que ligará Maracaju, MS a Cascavel, PR e,
consequentemente ao Porto de Paranaguá. “Isso é um passo muito importante para a efetivação deste corredor de exportação”, garantiu. Enquanto isso,
o presidente Lula anunciava, em Campo Grande, MS, a liberação de R$ 2,3
bilhões para a construção dos 450 km da ferrovia. A estrutura será utilizada,
sobretudo, para o escoamento de grãos produzidos no Centro-Oeste.
Rio Miranda, no Pantanal, no último dia
10 de maio - reduzido volume de água
Fale com o editor desta coluna:
[email protected]
Extensão ferroviária possibilitará escoamento de boa parte dos grãos produzidos no Centro-Oeste
Panorama Rural
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Oswaldo Maricato
O proprietário precisa
definir como se dará a
condução do negócio
Sucessão
bem-sucedida
Com a governança corporativa o negócio é
transformado em empresa e os herdeiros se tornam sócios
Celso Paraguaçu
Q
uando o empreendimento agropecuário atinge um porte tal
que o proprietário perceba ser
o único capaz de conduzi-lo sozinho é
hora de examinar a possibilidade de
adotar a governança corporativa. A
governança é um modelo desenvolvido
para dirigir e monitorar as sociedades.
O negócio é transformado em empresa e os herdeiros se tornam sócios. Os
sócios – acionistas ou cotistas – compõem um conselho familiar e elegem
um conselho de administração. Este
último será o principal agente da go14
Panorama Rural
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vernança corporativa. Pode também
haver um presidente da empresa (executivo) e um presidente do conselho de
administração.
A governança define a estrutura,
as regras de convivência – onde cada
tema é discutido e o papel de cada um
– e as diretrizes estratégicas da empresa. O conselho de administração é o fórum em que os interesses dos acionistas
são transformados em diretrizes para a
gestão corporativa. Logo abaixo vem a
diretoria, com os gerentes necessários.
A diretoria cuida da gestão corporativa, ou seja, conduz as operações da
empresa de acordo com as determina-
ções do conselho de administração. E
tem de executar exatamente o que os
acionistas decidiram.
A estrutura instituída pela governança corporativa é uma via de mão
dupla. De cima para baixo vêm as decisões do conselho de administração
(CA), para que os executivos as ponham em prática. De baixo para cima
vêm os relatórios da diretoria. O CA
avalia os resultados, verifica se o grau
de risco é o adequado, e toma decisões
para corrigir o que não estiver alinhado com os desejos dos acionistas.
A governança envolve também o
relacionamento dos sócios com os di-
não, se correm risco de perder o emprego, não estarão comprometidos.
Empresas cujo dono era concentrador e guardava para si todas as
informações não se tornam transparentes da noite para o dia. É preciso
preparar a empresa aos poucos, para
que chegue ao ponto de ser transparente e saudável. Se vai haver transparência convém não haver sujeiras e coisas
difíceis de explicar.
A equidade é o segundo pilar da
governança. Todos os grupos são tratados de modo justo e igualitário, sejam
acionistas minoritários, funcionários,
clientes, fornecedores ou credores. Atitudes ou políticas discriminatórias são
inaceitáveis, seja qual for o pretexto.
O terceiro dos quatro pilares é
a prestação de contas. Os agentes da
governança corporativa prestam contas de sua atuação a quem os elegeu e
respondem integralmente por todos os
atos que praticarem durante seus mandatos. Da mesma forma, os diretores
prestam contas ao conselho de administração. “Prestar contas faz parte
do jogo da governança”, diz Marcatti.
Todavia nas empresas familiares é comum a prestação de contas desaparecer quando há disputa de poder entre
irmãos.
A responsabilidade corporativa é
o quarto e último pilar da governança
corporativa. Todas as ações decididas
pelos acionistas têm em vista o que
vai ocorrer quando forem postas em
prática. Trata-se de prever como isso
afetará os outros acionistas, os funcionários, os fornecedores, os clientes, o
ambiente, a relação com órgãos governamentais, etc.
Os sócios têm de ter ampla visão
da estratégia empresarial, sabendo
para onde conduzem o negócio. Têm
de pensar na geração de empregos na
região em que a empresa atua, bem
como na qualificação e na diversidade
da força de trabalho. Cabeças bem preparadas são cada vez mais importantes
que mais braços. Os recursos humanos
oferecidos pela própria comunidade
têm preferência na contratação. O desenvolvimento científico não pode ser
esquecido nem a melhoria da qualidade de vida de todos os públicos envolvidos. Não é boa política tratar bem os
funcionários e prejudicar a sociedade,
Divulgação
versos públicos. Afinal, as decisões do
CA afetam os funcionários, os sócios,
os fornecedores, os clientes, a comunidade em que o negócio está instalado e
até as relações com as três esferas de
governo.
Diretoria bem informada – o
consultor Luiz Marcatti, da Mesa Corporate Governance, lembra que a diretoria tem de estar muito bem informada sobre os resultados que se pretende
atingir. Só assim saberá o que pode
ou não pode e o que deve ou não deve
fazer. Na outra via, o CA tem de monitorar o que o executivo está fazendo.
No recente episódio das quebras
de instituições financeiras americanas,
que deflagrou a crise mundial, houve
falha de comando dos conselhos de administração. Talvez as diretorias não
tenham prestado contas adequadamente, mas os conselheiros deixaram
de pedir explicações aos diretores. Os
acionistas ganhavam muito dinheiro,
os executivos recebiam grandes bonificações e os conselheiros não abriam o
bico. Quando o CA se cala, o executivo
não muda o modo de operação. “Faltou governança corporativa”, sentencia Marcatti.
Algumas empresas têm conselho
de administração, diretores e gerentes, mas não obedecem ao modelo de
governança corporativa. Faltam-lhes
o que Marcatti chama de “os quatro
pilares da governança corporativa”.
O primeiro pilar é a transparência – A administração cultiva o hábito de informar. A comunicação não
se limita aos balanços e balancetes de
publicação obrigatória. Contempla todos os fatores que norteiam a ação da
empresa e levam à criação dos valores.
Quanto mais claras forem as regras
do jogo, maior será a chance do time
jogar do lado da administração. Se os
funcionários não souberem qual o propósito da empresa, se esta vai bem ou
“A diretoria tem de estar muito bem
informada sobre os resultados que se pretende
atingir”, salienta Marcatti
agredindo o ambiente. A empresa com
governança corporativa tem de ser um
fator de desenvolvimento da região.
Pontos críticos do modelo –
a governança corporativa não é uma
desculpa para atender a exigências
de algumas instituições. É um modelo
formal muito sério, o mais complexo e
abrangente do mundo empresarial. Os
conselhos familiares e as assembléias
de acionistas não podem ser confundidos com festas de confraternização da
família. Quem tiver essa visão não está
preparado para a governança corporativa.
Separar papéis, por mais difícil
que seja, é essencial. Uma coisa é ser
acionista, outra é ser executivo. A mesPanorama Rural
Junho 2009
15
ma pessoa pode ter os dois papéis, mas
há o local e o momento de exercer um
ou outro. Como executivo, obedecerá
às diretrizes do conselho de administração; como acionista dirá ao conselho que expectativas espera ver atendidas. As relações familiares, da mesma
forma, são diferentes das societárias.
Os acionistas precisam expressar
suas expectativas com a máxima clareza e têm de entender do negócio, para
saber o que podem esperar. Só assim
poderá haver consenso nas decisões.
A unanimidade não é benéfica, pois a
opinião contrária é que conduz à reflexão. Mas as decisões precisam ter em
vista o que for melhor para todos na
busca do melhor resultado do negócio.
E não para este ou aquele acionista.
As visões, os objetivos e a comunicação têm de estar perfeitamente
alinhados entre os acionistas, os conselheiros e a diretoria. Por mais experientes e bem formados que sejam,
executivos que não partilham o mesmo
pensamento, a mesma visão e os mesmos valores do conselho e dos acionistas não são indicados para a empresa.
É preciso reconhecer o momento de
substituir pessoas cujas características
sejam incompatíveis com os planos da
empresa.
A governança corporativa supervisiona o relacionamento da empresa
com seus diversos públicos e avalia riscos. Um fornecedor que opere de modo
irregular ou ilegal pode comprometer
seriamente a imagem da empresa.
Ademais, empresas que crescem atraem olhares diferentes e investigativos.
Pode-se plantar espadas-de-são-jorge
em torno das lavouras, amarrar fitas
vermelhas no pescoço do gado ou fazer
qualquer outra simpatia contra olhogordo, mas o que funciona mesmo é
prever que impacto as decisões tomadas causarão na sociedade.
A gestão de riscos merece aten16
Panorama Rural
Junho 2009
ção especial. Atualmente há usinas que
fazem exame médico dos cortadores
de cana para saber de suas condições
de saúde antes do início da colheita. A
ocorrência de algumas mortes mudou
a visão e a atuação dos empresários. O
custo de certificar-se da boa saúde dos
funcionários é menor que o risco de ser
acusado de levar algum empregado à
morte por exaustão.
As intenções que levam à governança – a melhoria da competên-
As coisas começam a se misturar. O
filho do dono leva um carro da empresa para casa, um funcionário leva
o neto do dono para a escola no carro da empresa, etc. A empresa acaba
arcando com custos que não são seus.
O caixa da empresa não deve pagar o
supermercado da casa do proprietário.
A separação entre o patrimônio e o negócio é benéfica para a transparência
da empresa e facilita a condução do
empreendimento.
O gestor teme conseguir bons resultados para depois ver o filho do dono assumir a direção
cia no negócio é uma das mais fortes
razões que levam ao modelo de governança corporativa. A competência
costuma ser expressa como profissionalização. Para alguns donos de negócios, profissionalizar é uma desculpa
para demitir os parentes. “Mas não
se trata disso”, diz Marcatti. Trata-se
de definir as competências necessárias
para que o negócio continue crescendo,
e procurá-las na família, preferencialmente. Se não houver na família as
competências necessárias, será preciso
procurá-las fora.
À medida que a empresa vai
crescendo, a família cresce também.
Em muitos segmentos de negócio a sobrevivência pode depender de
se juntar a outro. São as fusões, aquisições, alianças e parcerias, que tiveram papel importantíssimo no setor
industrial há pouco mais de dez anos
e agora chegam à agropecuária, começando pelas usinas e fazendas de
cana-de-açúcar. Entre ter concorrentes muito fortes e juntar-se a outro empreendimento para se tornar também
um concorrente forte, a segunda opção
é bem mais conveniente. Com a governança corporativa as alianças são mais
fáceis.
O crédito anda escasso nestes
tempos, a despeito das ações do governo para aumentar a oferta. Mas há
fundos de pensão, private equity, BNDES e algumas outras instituições com
interesse em participar de alguns projetos. Tais instituições não têm interesse em negócios individuais; preferem
uma empresa estruturada, com visão
de futuro, que age de forma transparente, ou seja, que tenha adotado o modelo de governança corporativa.
Outra forma de aumentar o capital da empresa é lançar ações na bolsa
de valores. E a Comissão de Valores
Mobiliários exige o modelo de governança corporativa. Muitos modelos foram criados a toque de caixa, porque o
banco de investimentos informou que se
perdessem determinada oportunidade
seria tarde demais. Como consequência,
há vários arremedos de governança, fei-
tos para cumprir uma exigência e não
para promover o crescimento do negócio. Não se confunda lambança comparativa com governança corporativa.
Particularmente no caso das
empresas familiares é grande a dificuldade para atrair e manter gestores
competentes. Como as regras não são
claras, o profissional não sabe o que
orienta as decisões do proprietário.
Teme dedicar-se à empresa, conseguir
bons resultados, para depois ver o filho
do dono assumir a direção.
O processo sucessório é outra
forte razão para a adoção do modelo,
no caso de empreendimentos agropecuários de grande porte. Com vários
herdeiros como cotistas, o negócio
começa a requerer uma estrutura administrativa mais atual. A necessidade
se acentua quando há várias frentes de
atuação, como produção de grãos, pecuária e cana. Muitas vezes o patriarca investiu também em agroindústrias,
transportadoras, revendas de máquinas e outras atividades do agronegócio. A governança corporativa facilita
a integração de todos os negócios do
grupo, mantendo-o coeso.
Há livros e mais livros sobre a
governança corporativa. Seria muita
pretensão querer explicá-la toda neste
espaço. O que parece certo é o aumento de proprietários rurais recorrendo a
esse modelo para solucionar a sucessão
familiar, sobretudo se houver aprovação do Simples Rural. Luiz Marcatti
lembra, no entanto, que a governança
corporativa é um processo e não um
evento. A implantação do modelo leva
no mínimo um ano e pode passar de
três. PR
Panorama Rural
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Piranha: o maior
predador do Pantanal
Arquivo
Walter
Piranha, a hora
do espanto !!!
Walter do Valle
Q
uem viu a primeira piranha foi
o Talo. Ferrou um cachara,
tava tirando quando a piranha
atacou. No salto do desespero para
escapar do cardume, o peixe trouxe
18
Panorama Rural
Junho 2009
consigo algumas piranhas pra cima.
E o pescador viu a cena do horror: seu
peixe em pedaços virar cabeça e espinha. Era só o começo. Quem olhava
o rio Miranda não acreditava que sob
águas tão serenas havia um exército
do maior predador do Pantanal. Pira-
e
do Vall
nhas pequenas, médias, taludas, um
palmo de beleza prateada e dentes em
serrilha, dezenas, centenas, milhares.
Seria piracema de piranha? Ou haviam combinado um encontro naquela
curva de rio?
– Nunca tinha visto nada igual,
céu aberto, barbado e piranha voando
pra todo lado. “Vamos ficar mais um
pouco, não é todo dia que acontece
esse troço. Quero ver mais!”, falou. E
as piranhas atacando.
Finalmente, Taiadeira convenceu a turma a recolher a chata onde
estavam quatro dos onze companheiros. E foi assistir à luta de longe, do
alto da segurança da chalana Jandira.
Engraçado: lá de cima o Miranda parecia um lago na calmaria da superfície. Mas sabíamos o que havia por
baixo do falso espelho: uma legião de
piranhas do Pantanal, redondas, um
palmo de voracidade. Graças a Deus
ninguém se feriu, mas o tema da volta
foi um só: o que teria levado as piranhas a se reunir naquela curva de rio?
O promotor José Vieira, especialista
em causa e efeito, achou que os culpados eram os caçadores de jacarés:
“Jacaré come piranha, e sem jacaré
piranha é que nem coelho pra piranhar o rio!”. Mas o barranco desmentia o homem dos tribunais: dormindo
de boca aberta no areião jeitoso, centenas de jacarés tomavam banho de
sol. Estariam eles também com medo
das piranhas prateadas? PR
Arquivo Walter do Valle
disse Batata, sócio e parceiro do Talo.
Era só ferrar peixe e a piranhada dava
em cima. Não conseguimos tirar um
pacu, um pintado inteiro: chegavam
faltando pedaços, sangrando. Barbado de 8 kg veio no puçá pela metade.
A turma de São José do Rio Preto e Votuporanga era grande, estava
em três chatas. A jornada prometia:
a água estava turva, boa pra peixe
de couro. “Água suja, isca branca,
água limpa, tuvira como isca”, ensinou Taiadeira, um dos pirangueiros
da região. Quando o coronel Romeiro fisgou um pacu de 4kg e ele veio
com uma piranha pendurada no rabo,
Taiadeira rolou de rir. Mas a coisa
não era pra rir.
“Cuidado, gente, ninguém na
água. Nem pra lavar as mãos!”,
gritou o negro Beiçada. “Melhor
a gente ir embora, procurar outro ponto de rio”, sugeriu Simão.
“Esse troço dá medo!”
– Que nada, respondeu
Taiadeira. Quando o peixe ferrar, tira rápido! Aí a piranha
dança...
Todos tentaram, mas o ataque
era geral, orquestrado, e abarcava
raio de dois quilômetros. De onde teria saído tanta piranha?
Subimos o rio na esperança de
paz, mas o piranhal bateu atrás. Ou
seriam outras, posicionadas pra acabar com a gente? O doutor Fuza gritou de longe: “É melhor voltar para a
chalana, gente! Estou com os nervos
à flor da pele!” Mas Talo, excitado,
meio dividido entre sumir e ficar, começou a brincar com a tragédia: ferrava peixe e ficava esperando a piranha atacar. Aí um puxão e trazia, a
Taiadeira e um peixe devorado pelas
piranhas. Só ficaram cabeça e rabo
Panorama Rural
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OPINIÃO
O que nós podemos
“A participação
da indústria
brasileira no PIB,
por exemplo,
registra queda
desde o início dos
anos 80”
* Luiz Aubert Neto
A
s grandes mudanças da humanidade em geral, e das pessoas
em particular, sempre ocorrem
por dois motivos: pelo amor ou pela dor.
Acredito que a dor causada pela
crise que o País vem atravessando está
antecipando um período de grandes mudanças e quero, nesta edição, fazer um
apelo.
O governo e a sociedade civil organizada precisam se sensibilizar com
as perdas do País e, em especial, dos setores produtivos, que são geradores de
empregos e riquezas.
Precisamos de mudanças rápidas.
Necessitamos de medidas que compensem as dificuldades que nos são impos20
Panorama Rural
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tas. No caso específico do setor de bens
de capital, temos investido tempo, energia e recursos financeiros no sentido
de criar uma massa pensante capaz de
sugerir medidas que possam, de certa
forma, minimizar os danos às empresas
do nosso setor.
Precisamos que o governo nos
ouça, que viabilize algumas mudanças
de forma efetiva, pois um recente e importante estudo desenvolvido pelo grupo
de Competitividade da nossa entidade
apresenta dados alarmantes, referentes
ao desempenho da indústria brasileira
nas últimas décadas. A participação da
indústria brasileira no PIB, por exemplo, registra queda desde o início dos
anos 80, sendo que a participação da
indústria de bens de capital no PIB, teve
queda, passando de aproximadamente
45% para cerca de 23% em 2005.
Temos que considerar que, na
prática, esses números apenas refletem o processo de desindustrialização
imposto pela equivocada política econômica do nosso País, que continua, há
décadas, prestigiando o mercado financeiro, em detrimento do setor produtivo. O fato é que o nosso País parou no
tempo em termos de investimentos em
desenvolvimento tecnológico, inovação
e capacitação da mão de obra, situação
agravada pela pesada carga tributária
que recai sobre o setor produtivo, afinal
nunca é demais ressaltar que somos o
único País que tributa investimentos,
além de possuir uma das maiores taxas
de juros do mundo.
fazer?
Segundo dados do IBGE, nos últimos dez anos, o investimento médio
no setor de bens de capital no Brasil
(Formação Bruta de Capital Fixo) foi
de 16,9% do PIB, ficando atrás da média da América Latina (18,7%) e muito abaixo da média mundial (23,7%).
Comparado aos demais países considerados como emergentes (Rússia, Índia e China), o Brasil investiu menos
da metade, uma vez que esses países
investiram, em média, 34% de seus
PIB’s na industrialização. Sempre
digo e repito: Não existe país desenvolvido que não tenha setor de bens e
capital desenvolvido. E, na realidade,
estamos indo na contramão de outros
países, como por exemplo, a Coréia do
Sul, Índia e China, que desenvolveram
sua indústria e aumentaram a renda da
população.
A realidade do empresário de bens
de capital no Brasil é composta por juros altos, carga tributária excessiva,
uma política cambial desfavorável e, o
“
“ ”
Precisamos que o
governo se sensibilize e
desonere o investimento
produtivo nesse País
mais grave de todos os males, a falta
de investimento em educação. Essa fórmula aplicada ao longo de décadas está
conduzindo o País a uma desindustrialização que acaba com um parque instalado e desemprega milhares de pessoas.
Para lembrarmos, no ano passado, o
Brasil pagou mais de R$ 168 bilhões
de reais somente com juros da dívida,
e menos de 5% desse valor com educação, e menos ainda com investimentos
em infraestrutura. Como podemos ter
um Brasil forte, um futuro digno para
nossa população, com uma formula perversa como essa?
Mas temos alternativas, ainda há
tempo. E é nisso que estamos nos debruçando, com a realização de estudos
fundamentados e sugestões de propostas factíveis para mudar o rumo do nosso País.
O nosso País parou no
tempo em termos
de investimentos em
desenvolvimento
tecnológico, inovação e
capacitação da mão de obra
Temos buscado alianças e precisamos que o governo se sensibilize
e desonere o investimento produtivo
nesse País. Ninguém compra máquina
por status, as máquinas servem para
produzir, para gerar emprego, riqueza
e, mais do que tudo, promover o desenvolvimento.
Sendo assim, se nesse momento
de crise, não conseguirmos iniciar um
processo de mudança nessa estrutura,
que vem nos condenando durante décadas a termos índices de desenvolvimento humanos abaixo de qualquer crítica,
continuaremos a ser o país das oportunidades perdidas.
Ainda há tempo!
* Luiz Aubert Neto
Presidente do Sistema Abimaq
(Abimaq, Sindimaq e Trademaq)
Lucas Mill
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Luciana Paiva
O girassol possui 38% de
óleo na semente e sua torta
não é tóxica: bom candidato
para a produção de biodiesel
O país da
agroenergia
O potencial brasileiro para produzir
biocombustíveis e elevar a produção de alimentos
Luciana Paiva
N
os três primeiros dias deste
mês de junho, a capital paulista vai se transformar no
palco para o principal evento internacional sobre etanol - o biocombustível
22
Panorama Rural
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mais utilizado do mundo. O Ethanol
Summit está em sua segunda edição
e é um seminário bianual promovido
pela União da Indústria da Cana-deAçúcar (Unica), principal entidade
representativa do setor. Quase 150
palestrantes do Brasil e de todos os
continentes participarão de 25 painéis e seis sessões plenárias. O evento
contará com a presença do presidente
Lula, de José Serra, governador de
São Paulo, e de Bill Clinton ex-presidente dos Estados Unidos.
Clinton criou a Fundação William
Arquivo Embrapa
J. Clinton, um dos projetos da Fundação reúne lideres globais para desenvolver e implementar soluções inovadoras para alguns dos problemas mais
graves do mundo, entre eles, o aquecimento global e a geração de alimentos. Dois temas que envolvem diretamente a produção de biocombustíveis.
O assunto é tão relevante, que em uma
das plenárias do Ethanol Summit a
discussão será: A agricultura poderá
abastecer o mundo com alimento e
combustível? Quem responderá a esta
e outras questões é Kjell Aleklett, físico e professor do Departamento de Física, Astronomia e Sistemas Globais
de Energia da Uppsala University.
Aleklett participou de um estudo que
avalia o total de energia oriunda da
agricultura disponível para o mundo.
Enquanto o mundo apresenta
dúvidas se é possível produzir alimentos e energia, pesquisadores brasileiros têm certeza de que o Brasil é um
dos países com maior potencial para a
produção de combustíveis a partir de
biomassa. Aqui ainda há muito a ser
aproveitado, pois, atualmente, o País
explora menos de um terço de sua
área agriculturável, o que constitui a
maior fronteira para expansão agrícola do mundo, cerca de 150 milhões de
hectares. Desta forma, temos a possibilidade de incorporar novas áreas à
agricultura para geração de energia
sem competir com a agricultura para
“Certamente podemos chamar o Brasil de país da agroenergia”, afirma Frederico Durães, chefe
geral da Embrapa Agroenergia
alimentação e com impactos ambientais limitados ao socialmente aceito.
O Brasil é campeão – Frederico
Durães, chefe geral da Embrapa Agroenergia, salienta que o Brasil detém a
maior diversidade biológica do mundo
(Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado), diversidade de clima e de solo, além de poder
contar com água, área, sol e equipes
de excelência, nas áreas de pesquisa,
desenvolvimento e inovação agronômica e de processos de conversão
industrial. “O mundo pede mudanças
na sua matriz energética, não é mais
possível ficar dependente de combustíveis fósseis. O biocombustível é uma
alternativa totalmente viável, o nosso
etanol de cana-de-açúcar é a melhor
prova concreta sobre isso”, afirma.
Segundo Durães, o Brasil apresenta 851 milhões de hectares, dos
A soja responde por 80% do
biodiesel produzido no Brasil
quais de 350 a 400 milhões são considerados agricultáveis, a agricultura
ocupa 65 milhões, desse total, 23,5
milhões são ocupados por soja e 8,5
milhões por cana. Da soja tira-se o
óleo comestível, o farelo e ainda assim, é responsável por 80% do biodiesel produzido no País. No Brasil
é consumido 40 bilhões de litros de
diesel por ano, a adição de biodiesel é
de 3%, então são 1,5 bilhão de litros
de biodiesel, desse total 1,2 bilhão de
litros é proveniente da soja. Da cana
são produzidos 28,5 bilhões de litros
de etanol e mais 32 milhões de toneladas de açúcar. Isso significa que não
plantamos soja apenas para produzir
biodiesel e nem cana só para produzir
etanol, temos capacidade tranquilamente para fazer as duas coisas e vamos aumentar muito a produção, seja
com o aumento de área, seja com o
avanço tecnológico permitindo maior
produtividade e maior eficiência industrial”, explica Durães.
A agroenergia é muito ampla
– Durães observa que a agroenergia
é muito ampla, a Embrapa Agroenergia, criada em 2006, desenvolve
estudos na produção de etanol, biodiesel, biogás, florestas energéticas
e resíduos agropecuários e florestais,
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23
Luciana Paiva
O pinhão manso é uma das culturas em estudo
para a produção de biodiesel. As pesquisas
demoram cerca de 10 anos para apresentar
resultados, por isso, é preciso dar tempo aos
pesquisadores
24
Panorama Rural
Junho 2009
vel renovável do mundo, o etanol de
cana-de-açúcar tem uma redução confirmada de até 90% de emissões de
gases de efeito estufa em comparação
com a gasolina. Hoje, mais de 90%
dos veículos novos vendidos no País
são com a tecnologia flex que permite
abastecer com álcool ou gasolina ou
os dois. Tecnologia brasileira.
A produção de etanol da cana
também é uma tecnologia brasileira,
mas nos últimos tempos, depois que os
Divulgação
mas cada um desses tópicos apresentam várias vertentes, por exemplo, no
caso do etanol, existem o de cana, de
grãos, celulósico...
O objetivo das pesquisas é apurar as alternativas economicamente
viáveis, socialmente responsáveis e
ambientalmente corretas, ou seja, que
apresentem os princípios da sustentabilidade. O fundamental, alerta Durães, é o investimento e a continuidade das pesquisas, pois, vários países,
apesar de aparentemente “torcerem
o nariz” já estão “de olho” nos biocombustíveis como alternativa para
crise do campo, diversificando mercados, melhorando a rentabilidade dos
produtores de grãos, cana e outras
oleaginosas; e para a crise ambiental,
visando a diminuição da emissão de
gases de efeito estufa.
Segundo estimativas da International Energy Agency (IEA), pode-se
prever que 20% de decréscimo nas
emissões desses gases, até 2030, virá
por conta do aumento do uso de combustíveis renováveis, como o etanol e
o biodiesel brasileiros.
O exemplo concreto do etanol
– em 30 anos, o Brasil desenvolveu o
maior e melhor projeto de combustí-
O etanol da cana-de-açúcar tem uma redução
confirmada de até 90% de emissões de gases de
efeito estufa em comparação com a gasolina
holofotes se voltaram para o etanol,
começou-se a falar que essa tecnologia é ultrapassada, o negócio é o tal
do etanol de segunda geração, muito
mais eficiente. No entanto, um estudo
realizado pelo o físico José Goldemberg, ex-ministro da ciência e tecnologia e hoje professor e pesquisador da
Universidade de São Paulo, mostra
que ainda há muito espaço para crescer com a atual tecnologia empregada
pelas usinas brasileiras.
Goldemberg sentiu a necessidade de examinar o tema ao constatar
que existe um grande movimento nos
Estados Unidos e na Europa a favor
de investimentos na tecnologia de segunda geração, ou a busca pelo chamado etanol celulósico. Neste caso, o
combustível é produzido a partir da
celulose, que, ao invés da cana ou do
milho, pode vir de inúmeras fontes de cascas de árvores, resíduos vegetais e capim, a pneus e lixo urbano.
“Os americanos estão excitados pela
tecnologia de segunda geração porque
não têm cana-de-açúcar nos EUA.
Querem mostrar que a tecnologia atual não tem futuro”, explica o professor.
Ele destaca que mesmo no Brasil, os investimentos em busca do
etanol celulósico já consomem entre
R$50 e R$100 milhões por ano em
pesquisas, enquanto os valores investidos só nos Estados Unidos atingem
centenas de milhões de dólares. Goldemberg defende que a chegada do
etanol de segunda geração não decretará o fim da tecnologia existente,
como alguns imaginam. “Há muita
área no mundo que poderia aumentar a plantação de cana, assim como
países que hoje praticamente só produzem açúcar, como África do Sul
e Colômbia, que poderiam se voltar
também para o etanol”, sugere o professor.
A cana produz biocombustível
e gera alimentos – o sucesso do etanol despertou a ira de seus concorrentes, e passou a correr o mundo a notícia de que a cana rouba espaço dos
alimentos. Apresentamos dois exemplos de que se pode produzir cana e
cereais na mesma área. Desde a década de 80, os produtores de cana da região de Ribeirão Preto optaram pelo
amendoim como opção de rotação de
cultura na época de renovação dos canaviais. Quando o preço do amendoim
está bom, o lucro cobre os custos de
implantação do canavial, ou no mínimo a redução de custos é de 30%.
Segundo Denizart Bolonhezi,
engenheiro agrônomo e pesquisador
Arquivo
do Pólo Regional do Centro Leste coordenado pela Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios (APTA),
essa prática permite a melhoria da
fertilidade do solo, por meio do fornecimento de nitrogênio para cana
seguinte; redução da população de nematóides; diversificação da renda do
agricultor; e o auxílio no controle de
plantas daninhas na cana seguinte.
Na região de Ribeirão Preto o
amendoim ocupa aproximadamente
uma extensão de 40 mil hectares, e
apenas é cultivado em áreas de renovação de cana, a cada ano, aproximadamente 20% dos canaviais são
testada em canavial de três cortes foi
plantada em área irrigada, no sistema de plantio direto sobre palhada de
cana crua, pois dispensa técnicas de
revolvimento do solo.
O pesquisador Denizart informa
que a meta do projeto é transformar
essa região produtora de cana em
também produtora de alimentos. “O
‘Feijão Doce’ prevê o cultivo do alimento em meio aos canaviais em crescimento. Uma prova de que é possível
Arquivo IAC
Cana-de-açúcar: alimento e energia
Feijão Doce – na mesma região,
pesquisadores e produtores investem
na prática de cereais, mais especificamente feijão, nas entrelinhas da cana.
O projeto chama-se Feijão Doce, e utiliza a variedade IAC Alvorada.
O experimento pioneiro iniciou
em agosto de 2008 em parceria com
o proprietário José Luiz Balardim, na
Fazenda São José, em Barrinha, SP,
e tem apresentado resultados preliminares aceitáveis. O feijão é plantado
Variedade Alvorada do IAC:
o feijão doce
Luciana Paiva
Além da diversificação de renda, o cultivo
de amendoim nas áreas de reforma da cana
ajuda na reciclagem de nutrientes do solo e na
fixação do nitrogênio
renovados. A região é responsável
por 40% da produção nacional de
amendoim, o Estado de São Paulo é o
maior produtor do Brasil e este ano a
produção foi superior a 5 milhões de
sacas (25 kg).
na entrelinha da cana e tem um ciclo
de 90 dias. De acordo com o pesquisador Denizart, o projeto objetiva
analisar o desempenho das lavouras e
fornecer dados para os canavicultores
que desejam iniciar a produção em
consórcio em suas propriedades.
Benefícios – de acordo com o
engenheiro agrônomo e também pesquisador do Pólo Regional do Centro
Leste/APTA, José Roberto Scarpellini, esse cultivo pode trazer vários benefícios. “Acrescenta nitrogênio naturalmente na cultura da cana, o preço
é vantajoso e utiliza melhor a área”,
esclarece. A cultura que está sendo
O feijão é plantado nas entrelinhas da cana
produzir etanol e na mesma área alimentos, assim combatemos as críticas
internacionais”, observa.
Na próxima edição terá sequência
o tema O país da agroenergia,
com destaque para a soja
na produção do biodiesel.
Panorama Rural
Junho 2009
25
Alessandra e o
leãozinho Simba:
paixão infantil
Procura-se um leão,
desesperadamente
Quem tiver notícias de Simba, por favor, entre em
contato com Alessandra ou com nossa redação
Walter do Valle
Fotos: Toninho Cury
E
m 1998 a loirinha Alessandra
Tavares, normalista, 17 anos,
se apaixona perdidamente
por um leãozinho que tinha acabado
de nascer no Circo Sandriara, estacionado na pequena cidade de Adolfo, região de São José do Rio Preto.
Alessandra tira do banco a minguada
poupança, R$ 1.600, e compra o caçula da leoa Adelaide, batizando-o
com o nome de Simba.
Alessandra mora num sobrado
sem quintal, perto da praça da ma-
Alessandra tirou o dinheiro da
poupança para comprar o leãozinho
26
Panorama Rural
Junho 2009
triz, com os pais, Romildo e Donância, mais um casal de irmãos. Claro, o
leãozinho é criado dentro de casa. No
começo, mamadeira. Dez mamadeiras
por dia. Simba cresce, deixa a mamadeira e passa a comer carne. Muita
carne.
Aos oito meses já é um leãozão.
Adora Alessandra. De dia rola com ela
pelo chão, à noite dorme na cama dela
o sono dos justos, abraçado a protetora. E o óbvio acontece: vizinhança
com medo, Simba liberando instintos,
urros varando a madrugada. Carteiro com medo de esticar a mão para
deixar a correspondência. Pânico na
outrora pacata Vila Adolfo.
Claro, chamam a polícia. Claro,
fazem um BO (Boletim de Ocorrência). Mas Simba não fez nada, não
ameaçou ninguém. Por que tanta perseguição?
Na verdade o leãozinho só
apronta dentro de casa. Acaba com os
pratos, quebra a cristaleira de dona
Donância, destrói a mordidas a cadeira do papai Romildo, o sofá de couro
da sala de visitas. E dá “carreirão”
no coitado do papagaio Mané, que
não tem mais sossego.
Não é caso de polícia, é para
o Ibama – a polícia quer saber o
que se passa. Mas não vê. Nenhum
machão entra na casa para encarar
o leão. O delegado deixa barato:
“Isso não é caso de polícia, é caso
do Ibama”. E vem o Ibama. Mas
nem o Ibama tem coragem de entrar
na casa do leão, digo, dos Tavares.
O veredicto: “Não temos nada com
isso! Leão não é da fauna brasileira!”, sentencia o agente. E Simba
continua numa boa, quebrando pratos, mordendo sofá, perseguindo o
papagaio Mané e rolando pelo chão
com Alessandra.
O tempo é cruel, muito cruel.
Simba cresce nos braços de Alessan-
O leãozinho vai
se transformando
em um leãozão
dra, mas a vizinhança anda cabreira,
assustada com urros na calada da noite.
Simba vai para o frigorífico
Bertin – a pressão aumenta, a família, aos prantos, resolve doar o leãozinho que virou leãozão. Mas para
quem? Do nada aparece o dono do
Frigorífico Bertin, de Lins. Vem com
jaula, ferros e capangas. E leva, na
marra, Simba pra sua fazenda.
Não devia ter levado: longe dos
carinhos de Alessandra, Simba vira o
inferno. Ataca quem chega perto, refuga carne de primeira, faz greve de
fome como Garotinho e Evo Morales.
E entra em profunda depressão.
Sete dias depois Bertin dá a ordem: “Devolvam o demônio à bonita
garota! Já!”
Simba é recebido com festa,
bolo e queima de fogos. A felicidade volta ao lar dos Tavares. Mas por
pouco tempo. A vizinhança, de novo,
faz cara feia e um abaixo assinado:
“Fora Simba! Fora leãozinho que virou leãozão!”
Pressão, muita pressão. Sob
chuva de lágrimas Alessandra doa
Simba ao zoológico de Andradina.
A viagem é de 200 km, demora duas
horas. E Simba é recebido com festa
por três lindas leoas que lhe fazem a
corte. Que leoa, que nada! Simba quer
Alessandra, paixão infantil. Espanta
as parceiras com patadas e urros que
fazem tremer o viaduto. E mergulha
no silêncio dos inocentes, resignado
com a sina da maldição. “Diga ao
povo que fico, mas não esperem alegria!”
A distância aumenta a angús-
Panorama Rural
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A população
reclama e
Simba vai para
o zoológico de
Andradina
tia. E Alessandra vai ao encontro
da paixão. Uma, duas, 20 vezes. As
visitas transformam a fera em bichinho dócil, quase de pelúcia. Ao redor, aves, feras, muares, e roedores
não acreditam no que vêm: família
Tavares dentro da jaula trocando
carícias com Simba. Que é só felicidade.
Separados pela distância –
claro, não há bem que sempre dure,
não há mal que não se acabe. Nem
Rockfeller teria cacife pra bancar
viagem de carro todo fim de semana.
Realidade cruel: Simba está só e Alessandra tenta esquecer.
Mas nem o tempo apaga a tristeza. As noites de Alessandra são
de choro e angústia. As de Simba,
28
Panorama Rural
Junho 2009
de amargor atroz. Os anos passam,
o zôo de Andradina manda Simba
embora. Pra que vale um leão triste
e melancólico? Crueldade: Simba
viaja e não avisam Alessandra. A
professorinha não sabe para onde
foi sua paixão. Chega ao zôo e encontra a cela vazia. Um torpor envolve a moça, que chora um pranto
assustador. Quer saber para onde
foi o leãozinho que criou na mamadeira. Mas ninguém lhe diz. Maldade? Ignorância? Ninguém conta
Só achando o leão a
loirinha terá paz
para onde Simba foi despachado de
mala e cuia.
Alguém chuta: “A fera está no
zoológico de Leme, entre Ribeirão
Preto e São Carlos.” E é para lá que
viaja a professorinha. Decepção, o
leão da jaula não é Simba, é um outro qualquer. Um biólogo jura que o
leão veio de Americana e atende pelo
nome de Corisco. A moça chora, mas
o choro não salva o leite derramado.
Simba está sumido e ninguém pode
fazer nada.
Ajudem, por favor – Alessandra Tavares, diretora de escola, 27
anos, bonita e solteira, procura Simba, desesperadamente. Está tensa,
nervosa, estressada. E jura: enquanto
não encontrar Simba, não terá sossego.
Por isso, amigo leitor, se você
souber do paradeiro de um leão lindo,
olhos cor de mel, juba escarlate, dentes perfeitos e dois metros de músculos e de fúria, ligue para Alessandra
em Barueri: (11) 8453-8011 ou
para a redação da Panorama Rural (16) 3620-0555. Quem achar
o Simba e nos avisar em primeira
mão, ganha por um ano a assinatura da revista. Só achando o leão a
loirinha terá paz. PR
Panorama Rural
Junho 2009
29
Economia
Haja produtividade
cobrir custos nesta
O clima em lavouras norte-americanas ou
argentinas, por exemplo, pode impactar
fortemente nos preços internos do milho e da soja
*Mauro Osaki
N
a hora da decisão do semeio de
milho e/ou de soja, produtores
brasileiros atentam-se às movimentações do mercado internacional
dessas commodities. O clima em lavouras norte-americanas ou argentinas, por
exemplo, pode impactar fortemente nos
preços internos do milho e da soja. Além
disso, a oferta e a demanda mundiais de
determinados insumos também influenciam o poder de compra do produtor e,
portanto, sua decisão sobre plantio.
O primeiro semestre de 2008 foi
marcado por sucessivas altas no mercado internacional de milho. O impulso vinha da maior demanda, principalmente
da China – por proteína animal – e dos
Estados Unidos – para produção do etanol. Com isso, o contrato futuro do milho
com vencimento em Março/08, negocia-
do na CBOT (Chicago Board on Trade),
teve média de US$ 4,89/bushel ou de
US$ 11,54/saca de 60 kg em janeiro/08.
A notícia da maior enchente dos últimos
120 anos na região de Iowa (EUA) no
início da produção de grãos também motivou altas expressivas em junho do ano
passado, quando o contrato Julho/08 da
CBOT atingiu os US$ 6,99/bushel ou
US$ 16,51/saca de 60 kg.
Já no segundo semestre de 2008,
Figura 1. Evolução do primeiro vencimento do contrato futuro do milho na CBOT
Fonte: CBOT – elaborado por Cepea-Esalq/USP
para
safrinha!
os preços internacionais do milho recuaram, por conta da crise imobiliária dos
Estados Unidos. O movimento de baixa
do cereal foi intensificado quando o senado norte-americano recusou o primeiro pacote de ajuda bilionária aos agentes
financeiros daquele país. Tal a decisão
gerou grande incerteza no sistema financeiro mundial, escassez de crédito,
elevação da taxa de juro para empréstimos, aumento na exigência ou garantia
para o empréstimo, desvalorização do
câmbio com a saída de capitais de países em desenvolvimento para compra de
títulos mais seguros e desconfiança so-
bre o desempenho da economia mundial.
Nesse cenário, o primeiro vencimento do
contrato futuro do milho passou de US$
5,48/bushel em setembro 2008 para
US$ 3,76/bushel em março/09, queda
de 30,3% no período.
No Brasil, o agravamento da crise
no final de 2008 dificultou as negociações de milho, visto que coincidiu com
o período de compra de fertilizantes e
outros insumos para o plantio da safrinha. No momento de decisão do plantio
(segundo semestre de 2008), o preço
interno do milho registrava sucessivas
quedas, ao passo que os valores dos fer-
tilizantes estavam elevados. Em Sorriso,
MT, de agosto a novembro de 2008,
quando geralmente é verificado grande
volume de compras, poucos agricultores adquiriram maiores quantidades de
insumos. As aquisições para a safrinha
foram intensificadas apenas em dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
Com a supervalorização dos insumos e com a queda nos preços do milho, o poder de compra de produtores
diminuiu no segundo semestre de 2008.
Entre julho e setembro/08, o produtor
de Sorriso precisava de 25 a 29 sacas
de milho para adquirir 200 kg do adubo
Figura 2. Relação de troca entre saca de 60 kg de milho e 200 kg de adubo 08-18-18 na região de Sorriso (MT)
Fonte: Cepea-Esalq/USP
Economia
Tabela 1. Sacas de milho necessárias para adquirir os insumos básicos para o plantio
¹ SIDRA/IBGE (2009)
08-18-18 para a base do plantio (quantidade por hectare usual nesta região), de
10 a 14 sacas a mais em relação à média
das últimas três safras, de acordo com
cálculos do Cepea (Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada), da
Esalq, USP.
Já o produtor que deixou para adquirir na última hora (janeiro e fevereiro/09), conseguiu melhores relações de
troca que aqueles que tomaram decisão
em agosto e setembro de 2008. Ainda
assim, piores que a média das três safras
anteriores – por volta de 15 sc/200 kg.
Em janeiro e fevereiro de 2009, foram
necessárias 24 e 18 sacas de milho, respectivamente, para a compra de 200 kg
do adubo 08-18-18 que seria usado na
safrinha na região de Sorriso, segundo
pesquisas do Cepea. Em março, a troca
se dava por 22 sacas.
Além do adubo utilizado na base
do plantio, produtores acrescentaram
o fertilizante nitrogenado, sementes de
média e/ou alta tecnologia, atrazina
(herbicida) e dois inseticidas (lufenuron e
metamidofós) para compor a cesta mínima para o semeio do milho safrinha nas
regiões de Sorriso, Cascavel, PR e Rio
Verde, GO, entre novembro/08 e janeiro/09 (Tabela 1).
Desse modo, considerando o
valor médio da saca de milho em novembro/08 (decisão de plantio), de R$
10,62/sc, em Sorriso, o produtor dessa
região teria que atingir uma produtivi32
Panorama Rural
Junho 2009
dade de 80,2 sacas de 60 kg de milho
para cobrir os custos com a cesta citada
- não foram incluídos gastos com diesel,
mão-de-obra, tributos e frete. A produtividade média das últimas cinco safras
na região, no entanto, é 61 sacas/ha,
segundo o IBGE.
Em novembro/08, somente o fertilizante para base e o nitrogenado comprometeram 73,04 sacas, 19,72% a
mais que a produtividade média das últimas cinco safras. Por outro lado, produtores que arriscaram comprar a cesta
de insumos em janeiro/09 foram favorecidos. Isso porque foram necessárias 21
sacas de milho para a aquisição da cesta,
26,25% a menos que em novembro/08.
Com isso, em janeiro, bastaria a produção de 59,11 sacas por hectare para cobrir esse custo.
Já se considerado os gastos com
diesel, mão-de-obra, tributos e frete, produtores teriam que aumentar fortemente
a produtividade ou os preços do milho teriam que registrar expressivas altas.
Em Cascavel e em Rio Verde a
aplicação de adubo na base é, geralmente, de 300 kg de 08-20-20 por hectare
e de 350 kg de 08-20-16 por hectare,
respectivamente. Assim, o comprometimento da produção com fertilizante básico também é relativamente alto nessas
regiões. Em novembro/08, por exemplo,
produtores de Cascavel precisaram de
39,95 sacas de milho por hectare para
a aplicação de adubo na base e de 39,37
Fonte: Cepea-Esalq /USP
sacas em Rio Verde – naquele período, a
saca de milho era negociada a R$ 15,44
em Cascavel e a R$ 15,28 em Rio Verde.
Em novembro, muitos produtores
não estavam animados para o plantio de
milho safrinha, principalmente na região
do Mato Grosso. A projeção inicial era
de redução significativa em relação à safrinha passada, mas a queda dos preços
dos fertilizantes em dezembro e janeiro
animou os produtores. Segundo estimativa da Conab, o Estado do Mato Grosso
deve ter cultivado área 5,3% menor que
a da safra anterior, passando de 1,65
para 1,56 milhão de hectares. Para o
Brasil, o recuo deve ter sido de 4,3%.
Nesta safrinha, que deve ser colhida a partir de junho, o produtor que
deixou para última hora saiu favorecido,
mas nem sempre essa estratégia é a melhor. No caso da soja, por exemplo, verificou-se o oposto. Quem decidiu comprar
insumos na última hora (entre setembro
e outubro/08) gastou mais vis-à-vis os
que decidiram semear no início deste ano
(janeiro a março). O produtor tem que
conviver com essas variações, mas, reitera-se, um planejamento de produção da
fazenda que assegure a sustentabilidade
da atividade na propriedade tem muito a
contribuir para os resultados em médio e
longo prazo. PR
*Mauro Osaki
Pesquisador do Cepea; TES Esalq/USP
[email protected]
Panorama Rural
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33
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mas erdeiros
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s
o
l
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b
Com apenas oito anos de idade e no auge de sua
vida produtiva, faleceu Pioneer, o melhor reprodutor
Simental do ranking brasileiro dos últimos quatro anos
P
ioneer, touro de linhagem
100% sul-africana, gerou negócios superiores a US$ 1,5
milhão em venda de genética (sêmen,
embriões e filhos). Trata-se de um resultado fantástico que coloca o animal
em um seleto grupo de reprodutores
34
Panorama Rural
Junho 2009
de destaque no cenário mundial da
raça Simental.
O reprodutor Simental da Casa
Branca Agropastoril também produziu dezenas de filhos grandes campeões ou campeões de categorias nas
disputadas pistas de julgamentos e
outro tanto de filhos recordistas de
preços nos leilões top do Brasil.
O maior mérito de Pioneer , no
entanto, é ser a base da produção
de touros comerciais da Casa Branca, com a multiplicação de machos
altamente produtivos e férteis que
intensificam a oferta de bezerros pesados e precoces. Além disso, a venda
de sêmen e embriões do reprodutor
também contribuem para disseminar
sua genética diferenciada. “Estamos
falando em mais bezerros a campo,
que crescem mais rápido, gerando
carne de qualidade. Os pecuaristas
que usam genética de Pioneer em
seus rebanhos comprovadamente têm
mais receita com a venda de animais
para recria, engorda ou diretamente
para abate”, explica Paulo de Castro
Marques, proprietário da Casa Branca.
Reconhecimento internacional – a qualidade ultrapassou fronteiras – essa qualidade genética indiscutível ultrapassou fronteiras, chegando
aos Estados Unidos, diversos países
da América Latina e Canadá, onde
Pioneer foi escolhido o touro número
1 para marmoreio.
Marques adquiriu Pioneer no
Canadá, em 2002. Ainda com 14 meses de idade, o bezerro Simental já se
destacava: peso ao desmame: 445 kg;
peso a 1 ano: 660 kg; perímetro escrotal com menos de 1 ano: 41 cm.
Pioneer começou a despertar
interesse dos criadores brasileiros de
Simental já em 2003, logo após o
nascimento de seus primeiros filhos.
Nos anos seguintes, o desempenho em
pista dos filhos de Pioneer atraiu ainda mais atenção sobre o reprodutor e
sua genética diferenciada. Em 2004,
ele já foi o 2º melhor reprodutor do
ranking. Em 2005, a consagração de
Pioneer. O título de melhor touro do
ranking e o mais utilizado no Brasil
em gado PO comprovavam a performance inquestionável do reprodutor
da Casa Branca. A preferência dos
criadores consolidou-se pelos títulos
em 2006, 2007 e 2008.
“O que mais impressiona em
Pioneer é a homogeneidade dos seus
filhos. Todos com pelagem zero, perfeitamente adaptados e altamente
produtivos”, ressalta Marques. “Ele
certamente fará falta à pecuária
brasileira, mas a Casa Branca conta
com um banco genético de Pioneer
suficiente para atender as suas necessidades e a de projetos pecuários
que, assim como nós, apostam na alta
produtividade de um dos reprodutores
mais importantes da história do Simental no Brasil”. PR
Panorama Rural
Junho 2009
35
Plante refúgio
Quem planta milho Bt deve adotar a prática
do refúgio, assim, continuará usufruindo
todos os benefícios dessa tecnologia
N
a edição anterior da Panorama Rural trouxemos a matéria: “Foi dada a largada”
– enfocando a primeira safra de milho
transgênico no Brasil, que possibilita a aplicação de menos defensivos e
mais milho por hectare. No entanto,
para que a tecnologia continue eficiente, é preciso respeitar a norma
do Plante Refúgio, que consiste no
plantio de milho não-Bt como parte
da área a ser plantada com milho Bt.
O plantio de áreas de refúgio
tem sido a principal recomendação
de Manejo de Resistência de Insetos
em todos os países em que as culturas
Bt são cultivadas. No caso do milho
Bt o plantio de 10% de refúgio tem
sido a recomendação atual de todas
as empresas que compõem a indústria
de sementes e biotecnologia no Brasil.
Segundo Cássio Camargo, diretor-executivo da Associação Paulista
dos Produtores de Plantas e Mudas
(APPS), em decorrência dos ganhos de
produção com o milho Bt, a tendência
é que essa prática cresça rapidamente, muito mais do que foi com a soja.
E mais, muitos produtores podem não
seguir a indicação de realizar o plantio
da área com o não Bt, uma vez que a
produtividade é menor e o gasto maior.
36
Panorama Rural
Junho 2009
“Mas, o produtor precisa saber
que para preservar esses ganhos, é
fundamental plantar a área de refúgio”, salienta Camargo. Para conscientizá-los sobre essa necessidade, e
uniformizar a comunicação sobre as
recomendações de refúgio, foi oficializado o Grupo Técnico sobre Refúgio dentro da Associação Brasileira
de Sementes e Mudas (Abrassem).
Criou-se também a Campanha Plante
Refúgio. “É uma campanha educativa, com material
explicativo, folder,
banner, placas ilustrativas nas estradas, com o objetivo
de envolver os produtores rurais. Eles
precisam saber que
é melhor, por exemplo, ter cinco hecta-
10% da área deve
ser plantada com
milho não Bt
res com menor produtividade com o
produto não Bt, e ter o restante da
propriedade produzindo bem com o
Bt, do que não implementar o refúgio
e com o tempo comprometer a produção”, observa Camargo.
Além da Abrassem e outras associações da área, as empresas que oferecem a tecnologia Bt também apóiam
a campanha que será desenvolvida até
os meses de verão. Mais informações
no site: www.planterefugio.com.br PR
O que é refúgio?
A área de refúgio consiste no
plantio de milho não-Bt com um híbrido de ciclo vegetativo similar ao da
parte da área plantada com milho Bt.
Por que plantar refúgio?
O objetivo do refúgio é preservar
a eficiência e consequentemente os
benefícios da tecnologia do milho Bt,
mantendo uma população de pragasalvo sensível às proteínas, com efeito,
inseticida do milho Bt. Assim, indivíduos da população de praga do refúgio
irão acasalar com qualquer indivíduo
resistente que possa ter sobrevivido
na lavoura de milho Bt e transmitir a
suscetibilidade ao Bt para as gerações
futuras das pragas-alvo.
O refúgio funciona com uma fonte
de indivíduos suscetíveis. Com a preservação da característica de suscetibilidade, a proporção inicial de indivíduos
suscetíveis e resistentes dentro da população é mantida e se previne o desenvolvimento de resistência, preservando-se
assim a tecnologia Bt.
O que é resistência de insetos?
A evolução da resistência em
populações de insetos-praga a práticas de controle é uma realidade e
tem sido uma área de atenção em
todos os segmentos de controle de
pragas. A resistência pode ser definida como um fenômeno biológico que
ocorre em resposta à pressão de seleção exercida pelo diferentes métodos
de controle. A evolução da resistência consiste na seleção dos indivíduos
resistentes e no aumento da frequência destes indivíduos ou de seus genes
na população da praga, e, portanto
na limitação da eficiência das tecnologias para o manejo de pragas.
• No caso específico do milho Bt,
as lagartas naturalmente resistentes podem sobreviver no campo e transmitir
a resistência para gerações futuras. Entretanto, o risco de aumento da resistência pode ser minimizado com a adoção
de medidas apropriadas.
• A melhor maneira de preservar o benefício da tecnologia Bt é adotar o uso do refúgio como ferramenta
do Manejo de Resistência de Insetos
(MRI) que é um conjunto de medidas
que devem ser adotadas com o objetivo de reduzir o risco para a evolução da resistência na população das
pragas-alvo.
Recomendações para o
plantio da área de refúgio
• O tamanho do refúgio deve
ser representado por uma porcentagem da área total do milho plantado
em uma propriedade rural, de acordo
com o recomendado pela empresa
registrante. No caso do milho Bt, a
recomendação atual é que a cada 9
hectares semeados com milho Bt, 1
hectare adicional deve ser semeado
com milho não-Bt para a manutenção
do refúgio, ou seja, 10% da área;
• Recomenda-se que o refúgio
seja plantado com um híbrido de ciclo vegetativo similar, o mais próximo possível e ao mesmo tempo que o
milho Bt;
• O refúgio deve ser formado
por um bloco de milho não-Bt que se
encontre a menos de 800 metros do
milho Bt;
• A distância máxima entre
qualquer planta de milho Bt do campo
e uma planta da área de refúgio deve
ser de 800 metros;
• O refúgio deve ser plantado na
mesma propriedade do cultivo do milho
Bt e manejado pelo mesmo agricultor;
• Não deve ser realizada a mistura de sementes de milho não-Bt com
milho Bt.
ATENÇÃO:
• Fazer primeiramente a semeadura da área de refúgio com as
sementes de milho não-Bt;
• Caso a população de pragasalvo atinja o nível de dano econômico
na área de refúgio, o controle poderá
ser realizado com inseticidas que não
sejam formulados à base de Bt;
• A área de refúgio deve estar
presente na área irrigada, quando for
o caso, para que tenha as mesmas
condições de manejo.
Distribuição do refúgio no campo Bt
Panorama Rural
Junho 2009
37
Negócios
“Iang Fiv de Tabapuã:
Grande Campeão e Campeão
Júnior Maior, da Feicorte
2008, em Araçatuba, repetiu
o feito em Uberaba
Tabapuã
brilha na
Expozebu,
de Uberaba
Walter do Valle
A
primeira raça de gado genuinamente brasileira, Tabapuã,
da Fazenda Água Milagrosa
na pequena cidade de Tabapuã, a 50
quilômetros de São José do Rio Preto,
fez grande sucesso na 75ª Expozebu,
encerrada no último dia 10 de maio,
em Uberaba, MG. A raça zebuína
38
Panorama Rural
Junho 2009
Tabapuã concorreu com 20 animais,
filhos e filhas de grandes raçadores,
como Viúvo, Tarolo, Iluminismo e Numeral, além de progênies de matrizes
produtivas, Vanguarda, Acossada,
Adivinha e Tarântula. A presença imponente de “Iang Fiv de Tabapuã”,
1.060 kg, nascido em agosto de 2006,
eleito melhor reprodutor do Ranking
da ABCT 2008, impressionou públi-
A primeira raça de gado
genuinamente brasileira,
Tabapuã, é fértil e
precoce sexualmente,
extremamente rústica e
de fácil adaptação
co e jurados. Ele detém o título de
Grande Campeão e Campeão Júnior
Maior, da Feicorte 2008, em Araçatuba, e repetiu o feito em Uberaba, e
levou mais um troféu para a coleção
da Fazenda Milagrosa. Agora já são
1.394 taças e troféus conquistados
nas maiores exposições do País e em
controle de desenvolvimento ponderal
e ganho de peso no Sumário de Tou-
Panorama Rural
Junho 2009
39
Negócios
ros, da Embrapa e da Associação dos
Criadores de Zebus, ABCZ.
A raça Tabapuã vem conseguindo provar que o peso médio dos seus
bezerros é 11,24 kg superior do que
e muito, da nutrição animal. A aposta
foi feita em cima de uma forrageira
híbrida conhecida como capim mulato, resultado de pesquisas desenvolvidas pelo Centro Internacional
A raça Tabapuã vem conseguindo provar que o peso médio dos seus bezerros é 11,24 kg superior
do que outras raças de zebus
outras raças de zebus. Aos 240 dias
a média de peso dos bezerros é de
192,42 kg, aproximadamente 20 kg
a mais do que seus competidores. É
impressionante o ganho de peso médio
da raça Tabapuã. Nas últimas 40 provas, desde 1992, cada animal adulto
ganhou de 913 gramas a 1 quilo e
300 gramas por dia. Com detalhe importante: a Fazenda Água Milagrosa
dispensa o manejo artificial dos reprodutores colocados à venda, machos
e fêmeas, considerando que o Brasil
apresenta as mais diversas condições
de manejo e meio ambiente. A suplementação alimentar na entressafra é
feita apenas com o uso de sal proteinado.
O sucesso da genética aplicada
na Fazenda Água Milagrosa depende,
A progenitora Acossada de
Tabapuã, mãe de campeões
40
Panorama Rural
Junho 2009
de Agricultura Tropical, com sede na
Colômbia. No pasto consorciado tem
ainda brachiara brizantha, capim
mombaça, guandu e milheto, variedades que o gado adora simplesmente.
A família Zucchi Rodas, que
comprou a Fazenda Água Milagrosa
em março de 2005, não cria boi para
abate, apenas vende reprodutores e
faz parcerias com criadores, que podem arrendar as melhores matrizes e
pagar o arrendamento com uma parte da bezerrada que nasce. Mas, as
transações não param aí: “A Fazenda
Água Milagrosa oferece ao comprador
e ao arrendatário, suporte informatizado de gestão do rebanho. É possível
cruzar dezenas de dados e índices de
reprodutores à venda e dos descendentes deles”, explica Camargo.
Ortemblad criou o mocho de
orelhas grandes – para o sucesso da
raça Tabapuã sobram argumentos: é
fértil e precoce sexualmente, extremamente rústica e de fácil adaptação.
As matrizes são dotadas de ótima habilidade materna, ganham peso rapidamente e são imbatíveis quanto ao
aproveitamento da carcaça. “É um
zebuíno dócil, bonito e imponente.
Pelagem branca, com um cinza claro
que vira marrom escuro, quase preto,
do lombo a cabeça. É totalmente mocho (sem chifres) e orelhas bem grandes”, explica Paulo Camargo.
O criador da raça Tabapuã, Alberto Ortemblad, falecido em 1994,
contou em livro que tudo começou em
Negócios
Casarão construído em 1934
1940: “Ganhei de presente um bezerro mestiço, resultado de cruzamentos
entre zebuínos Nelore com Guzerá,
e um pouco de Gir. Ele viria a ser o
touro Tabapuã T-0, o pai de todos,
com a característica de ser mocho.
Seus acasalamentos começaram em
1942”. No final da década de 50,
Ortemblad se emociona: fica comprovado o sucesso do sistema que adotou,
de acasalamento em linha reta (“in
and breeding”). Os filhos de T-0 eram
simplesmente maravilhosos. Em 1961
o Tabapuã passa a ter um padrão racial e registro genealógico. Participa
de exposições e provas de ganho de
peso, cujas vitórias sucessivas sobre
as demais raças zebuínas lhe conferem valor e prestígio. Em 1968, Alberto Ortemblad funda a Associação
Brasileira dos Criadores do Tabapuã.
No ano seguinte, a raça é reconhecida
e registrada pelo Ministério da Agricultura. Em 1970, o Conselho Técnico da ABCZ aprova o padrão racial
do “Tipo Tabapuã”.
Juntas, grandiosidade e beleza
– com 3.050 h, a Fazenda Água Milagrosa é uma das maiores e mais belas
propriedades rurais de São Paulo. Ali
estão 28 casas de alvenaria para os
empregados, mais cancha de bocha e
campo de futebol. Quase dentro da ci-
dade de Tabapuã (da entrada se avista
o lugarejo que emprestou nome à nova
raça) a fazenda tem 2 km de caminho arborizado do portão principal
até a sede. Um casarão maravilhoso,
construído por Alberto Ortemblad em
1934, dá um toque de classe à propriedade. A 50 metros fica a moderna capelinha em forma de pirâmide,
construída em 2007, erguida onde
havia uma antiga máquina de arroz.
A capela foi inspirada no Museu do
Louvre, quando Fábio Zucchi Rodas
esteve na França, é toda de vidro azul
e pode abrigar 12 pessoas nos três
bancos de madeira. Rodas morreu um
ano após a inauguração da capela, em
outubro de 2007.
Em 2005, a família de Zucchi
Rodas adquiriu a propriedade e não
foi preciso fazer milagre algum para
dar continuidade à produção de frutas, seringueira, cana-de-açúcar e a
genética da raça Tabapuã, A escolha
do nome Tabapuã obedeceu a uma
tradição mundial de denominação,
que privilegia a cidade onde a raça
nasceu. PR
Capelinha em forma de pirâmide construída em 2007
Panorama Rural
Junho 2009
41
Arquivo Itaipu
Um dos produtores de
orgânicos beneficiados pelo
Programa Desenvolvimento
Rural Sustentável realizado
pela Itaipu Binacional
Mercado em
ascensão
42
Panorama Rural
Junho 2009
A demanda por produtos orgânicos é crescente em
nosso País e no exterior. Com mais incentivos e informações
o Brasil pode ampliar seu espaço nesse atraente mercado
V
árias culturas agrícolas passaram a adotar práticas orgânicas durante o processo
de produção, como por exemplo, o
controle biológico de pragas, doenças
e ervas daninhas, alguns exemplos poderão ser conferidos em outras duas
reportagens que estão neste especial.
A adoção dessas ações já é louvável e
contribui para a manutenção do equilíbrio natural nas lavouras, no entanto, para um produto ser considerado
orgânico não basta ser produzido sem
agrotóxicos. Há muito mais por trás
desse conceito. Produzir um alimento
orgânico implica em adotar um sistema de produção agrícola cuidadosamente planejado para manejar o solo
e os recursos naturais de forma equilibrada.
O produtor orgânico é aquele
que se preocupa em preservar a água,
plantas, animais, insetos e toda a biodiversidade ao redor da sua propriedade, mantendo todos estes elementos num estado de equilíbrio entre si
e com os seres humanos. O alcance
ecológico deste conceito é bastante
amplo, além disso, há também um
resultado social inestimável que é alcançado pela agricultura orgânica,
seja através da adoção de metodologias científicas que contribuem para
que as lavouras se tornem sustentáveis no longo prazo, seja por meio da
melhoria das condições de trabalho e
de saúde dos produtores.
Diferentemente da agricultura
convencional dirigida para a grande
escala de produção e com a finalidade
de alimentar multidões, a agricultura
orgânica atende nichos de mercado,
principalmente, pessoas que valorizam essa concepção sustentável e têm
poder aquisitivo para pagar por isso,
uma vez que os orgânicos são mais caros que os não orgânicos.
De acordo com o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2007, a movimentação mundial do mercado de orgânicos
foi de US$ 40 bilhões. A Europa, a
maior detentora desse mercado movimentou US$ 17 bilhões, seguido dos
EUA, com US$ 15,5 bilhões e o Japão, 1,2 bilhão. Nesse mesmo ano, o
Brasil contabilizou uma movimentação de US$ 250 milhões.
O mercado de orgânicos no Brasil, que cresce a uma taxa de 30% ao
ano, é um dos grandes nichos de mercado que aumenta cada vez mais no
País, principalmente nas grandes cidades brasileiras. A procura por esses
alimentos tem sido elevada, devido a
sua concepção de produto exclusivo,
sem a adição de nenhum elemento
químico que possa acelerar o processo
de produção.
A aparência física de um produto orgânico é bem diferente de um
alimento convencional. A banana,
por exemplo, que o consumidor costuma encontrar em feiras livres ou
supermercados, tem uma característica visual bem diferente, pois elas
são menores e de cores mais vivas.
Outro grande “filão” deste mercado
são as hortaliças, também de menor
tamanho e cores mais fortes. Uma
das principais reivindicações do setor
é a criação de um selo de qualidade
nacional. O Ministério da Agricultura
já estuda a criação de um certificado,
o que poderia viabilizar ainda mais o
Luciana Paiva
Luciana Paiva e Ricardo Barbosa
O alimento orgânico,
como esse quiabo, tem
produção limitada e
atende nichos de mercado
Panorama Rural
Junho 2009
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incentivos porque, muitas vezes, não
têm como comprovar renda fixa. Um
exemplo disso é Antonio Malta, produtor de bananas da região de Itapirai, no Vale de Ribeira, interior de
São Paulo, que iniciou a sua produção
Luciana Paiva
comercio desses produtos.
Apesar do crescimento, os produtos orgânicos chegam caro na mesa
do consumidor. Plínio da Silva Telles,
presidente da Associação da Agricultura Orgânica, AAO, diz que esse
O alimento orgânico, por não receber defensivos químicos, não é tão bonito e perfeito como os
convencionais, mas a doçura desse caqui é inigualável
preço elevado é devido à influência
do mercado, que vendem os produtos
mais caros, por terem alta procura e
pouca oferta. “Um dos grandes problemas é que há um alto valor agregado sobre os produtos orgânicos que
chegam ao produtor”, esclarece Telles.
Atualmente, grandes cidades
brasileiras, como Porto Alegre e São
Paulo contém lojas e feiras especializadas nesses tipos de produtos, onde
a procura, segundo o presidente da
AAO, tem aumentado de uma forma
contínua.
Adversidade orgânica – mesmo
com o mercado em ascensão, os produtores enfrentam problemas, como
a falta de crédito. Por serem produtores muito pequenos, não conseguem
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Panorama Rural
Junho 2009
apenas com recursos próprios, pois
não conseguiu nenhum incentivo.
Dono de 33 hectares de terra,
hoje, Malta planta quinze mil pés de
banana, que vende em sua banca na
feira de orgânicos que acontece aos
sábados no Parque da Água Branca,
zona oeste de São Paulo. “Para minha produção, dependo exclusivamente da natureza. Tentei me ingressar no
Pronaf, mas não consegui, porque não
tinha como comprovar renda. Os programas de auxílio aos produtores são
para aqueles que têm grandes quantidades de terras”, desabafa.
O produtor orgânico João Carlos Fontes Bastos, da região de Jundiaí, SP, concorda com o seu colega,
e diz que o pequeno deve ser sempre
auxiliado. Em 2001, Bastos perdeu
quase toda a sua produção de caqui,
devido a uma chuva de granizo. Hoje,
ele sofre as consequências, pois os investimentos que queria fazer em sua
propriedade de um mil m² é inviável,
porque não tem crédito na praça. No
entanto, ele se esforça para ampliar
a sua produção, pois não tem dado
conta de atender toda a demanda.
De acordo com o presidente da AAO,
por causa do grande crescimento do
mercado orgânico, o setor conquistou
linhas de créditos, o que deverá possibilitar novos investimentos.
Insumos orgânicos – além dos
produtos orgânicos, o setor de adubos também tem aderido à prática
mais convencional de agricultura. De
acordo com Carlos Augusto Pimentel
Mendes, membro do conselho consultivo da Associação das Indústrias de
Fertilizantes Orgânicos, Organominerais, Biofertilizantes, Adubos Foliares, Substratos e Condicionadores de
Solo (Abisolo), o mercado interno de
orgânicos ainda é pequeno, o que gira
em torno de 12%, sendo que o setor
de fertilizantes, em comparação com
o de origem química gira em torno de
6%.
“O setor de orgânicos ainda não
se organizou e a função da Abisolo é
exatamente trazer a organização para
o segmento”, diz o representante da
associação. De acordo com ele, todos
os elos do setor não estão unidos, isso
atrapalha principalmente o desenvolvimento tecnológico, “além do mais,
existe pouco incentivo fiscal e de capital para que este segmento cresça”,
completa.
Outro problema apontado por
ele é a falta de uma logística de distribuição de insumos que funcione, porque isso acarreta prejuízos tanto para
a agricultura convencional, quanto ao
orgânico.
Toda ajuda é bem-vinda – no
Luciana Paiva
Luciana Paiva
As galinhas tratadas com
milho, frutas e verduras
produzem muito menos
que as de granja...
Arquivo Itaipu
Brasil, a agricultura orgânica, em
grande parte, acontece em decorrência do incentivo de empresas e instituições a pequenos produtores, como
uma forma de estimular a agricultura
sustentável, visando a agregar valor
aos produtos, aumentar a geração
de renda e preservar o ambiente. Um
desses casos é o realizado pela Itaipu
Binacional que promove o programa
Desenvolvimento Rural Sustentável,
uma das ações do Cultivando Água
Boa, programa socioambiental da
Itaipu, desenvolvido nos 29 municípios que fazem parte da Bacia do Pa-
... para equilibrar os custos de produção, o preço
dos ovos orgânicos é mais caro, mas vale
raná 3 (parte da bacia do Rio Paraná
que está conectada ao reservatório da
usina). Os agricultores recebem assistência técnica, participam de cursos de agrotransformação e recebem
apoio para a obtenção da
certificação dos produtos
orgânicos.
O apoio também se
dá na forma da realização de feiras orgânicas e
no estímulo ao consumo,
como, por exemplo, com
a capacitação de merendeiras para a utilização
de produtos orgânicos na
merenda escolar. “O pro-
Alguns alimentos produzidos
pelos agricultores que
fazem parte do programa
Desenvolvimento Rural
Sustentável, da Itaipu
Binacional
grama tem um componente educativo
muito forte que é contribuir para que
desde a idade escolar as pessoas conheçam os benefícios dos produtos orgânicos, que são muito mais saudáveis
para os consumidores e também para
o meio ambiente”, afirma o diretor
de Coordenação e Meio Ambiente da
Itaipu, Nelton Miguel Friedrich.
Desde o início do programa,
em 2003, mais de mil agricultores
convencionais foram convertidos
para as práticas orgânicas. Além de
apoiar o desenvolvimento da agricultura orgânica, o “Desenvolvimento Rural Sustentável”, reúne outras
iniciativas voltadas à agricultura
familiar, turismo rural e culturas
alternativas. A principal motivação
da Itaipu é reduzir a contaminação
de seu reservatório por agrotóxicos
e outros efluentes da agropecuária,
contribuindo assim para os usos
múltiplos do lago, que além de gePanorama Rural
Junho 2009
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Divulgação
Divulgação
A Organics Brasil participa de feiras orgânicas em diversos países
rar energia, fornece água para o lazer, a pesca e o
abastecimento urbano.
Conquista do mercado externo – o primeiro
quadrimestre de 2009 tem sido de excelentes resul-
A
O interesse pelos produtos orgânicos do Brasil está em alta e nosso potencial
de crescimento é muito expressivo
Agrifam debate crescimento da agricultura orgânica
Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural,
Agrifam, que ocorrerá entre
os dias 31 de julho a 2 de agosto, no
Instituto Técnico Educacional dos
Trabalhadores Rurais do Estado de
São Paulo, sede da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo, Fetaesp, localizada na município de Agudos, SP, terá,
entre os seus diversos temas, uma discussão sobre a produção e o cultivo
de orgânicos.
O seminário, cujo tema principal é a agroecologia, debaterá o
crescimento do setor no mercado
agrícola nacional. Marcos Macedo,
organizador do seminário, diz que
um alimento orgânico é muito mais
do que um produto sem agrotóxicos,
A agricultura orgânica contribui para aumentar a renda dos pequenos e médios produtores,
mas é preciso incentivos e informação
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Panorama Rural
Junho 2009
pois envolve todo um processo produtivo, incluindo a preparação do
solo.
O Seminário abordará as práticas culturais, explanação de conceitos, métodos e controle de pragas
e doenças, explicará sobre o retorno
econômico para migração do manejo
convencional para o orgânico, além
de apresentar toda legislação vigente
e financiamentos para a produção orgânica. As palestras serão ministradas por cinco especialistas na área:
professor Dr. Francisco Câmara, da
Unesp de Botucatu; o engenheiro
agrônomo Dr. Marcelo Laurindo;
fiscal Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), a professora do Centro Paula Souza, Dra Raquel Fabri Souza; o engenheiro agrônomo Ricardo
Cerveiro, do Instituto Biosistêmico
e a secretária executiva estadual do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Pronaf,
Dra. Marly Teresinha Pereira.
tados para o Projeto Organics Brasil,
que reúne empresas de produtos orgânicos para exportação. O volume
negociado já ultrapassou US$ 37
milhões e a participação nas feiras
do setor indica que a crise econômica
mundial ainda não afetou os negócios
de orgânicos, sendo que o Brasil continua prestigiado com seus ingredientes
e frutas exóticas, cosméticos de alta
qualidade, confecção em algodão orgânico e os produtos industrializados.
O Projeto Organics Brasil surgiu
para promover os produtos orgânicos
brasileiros no mercado internacional,
reunindo empresas e produtores em
torno de uma marca única, atendendo
aos mais exigentes padrões de adequação sócio-ambiental. O Organics
Brasil é resultado de uma ação conjunta da iniciativa privada (Instituto
de Promoção do Desenvolvimento e da
Federação das Indústrias do Estado
do Paraná) e entidade governamental
(Apex-Brasil - Agência Brasileira de
Promoção de Exportações e Investimentos), compondo uma sólida base
institucional criada para fortalecer o
setor brasileiro de orgânicos e viabilizar sua expansão no mercado internacional.
Pela credibilidade das entidades ligadas ao Projeto, aliada a identidade visual do estande e a qualidade
dos produtos, a participação nas principais Feiras internacionais do setor
tem tido excelente retorno financeiro
e institucional para a marca Brasil:
“Este ano já estivemos na Biofach
em Nuremberg (Alemanha), na Expo
West, na Califórnia (Estados Unidos),
na SIAL, em Toronto (Canadá) e vi-
sitamos a feira Natural & Organics
Products Europe em Londres. Conseguimos fechar pouco mais de US$ 37
milhões em negócios para exportação
para os próximos 12 meses. Numa
economia mundial em crise, percebemos que o interesse pelos produtos orgânicos do Brasil está em alta e nosso
potencial de crescimento é muito expressivo. Quem consome orgânicos,
compra conceito de sustentabilidade
social e qualidade de vida”, explica
Ming Liu, coordenador executivo do
Projeto Organics Brasil.
As 71 empresas do Projeto Organics Brasil participam, ainda no
primeiro semestre, da feira americana All Things Organics, de 16 a 18 de
junho, em Chicago.
Mais informações com Organics
Brasil - www.organicsbrasil.org PR
Panorama Rural
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47
De acordo
natureza das
Exigência do mercado por produtos sem
substâncias tóxicas impulsiona no Brasil
a pesquisa e o uso de mecanismos de
controle biológico de pragas agrícolas
Geraldo Hasse
À
sombra da intensa guerra comercial dos gigantes da agroquímica, crescem no Brasil
a pesquisa e o uso de mecanismos de
controle biológico de pragas agrícolas
– não tanto por uma evolução da consciência ambiental dos agricultores,
mas pela exigência dos consumidores
estrangeiros que reclamam alimentos
isentos de substâncias tóxicas. Em alguns países, o temor dos consumidores
já se converteu em barreiras sanitárias contra importações indiscriminadas. Em 2004, a China recusou uma
carga de soja brasileira, alegando que
os grãos continham resíduos de fungicidas, provavelmente aqueles usados
para tratar a última grande praga
da sojicultura – a ferrugem, causada
por um fungo de origem asiática. Em
Presidente
Lula com
representantes
da BrasilBio
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Panorama Rural
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com a
coisas
Ungla ivancruzi é capaz de devorar mais de 200
pulgões por dia: nova aliada no controle biológico
2006, o mel brasileiro foi embargado
na Europa por motivo semelhante.
Em consequência desses problemas, os produtores obrigam-se a
reduzir ou eliminar o uso de agroquímicos em suas lavouras, adotando
métodos mais ecológicos de produção.
Atualmente, existem no Brasil cinco
empresas de certificação de ações ou
produtos ecologicamente corretas.
Todas nasceram sob inspiração de
exigências européias, mas seguem as
normas brasileiras da agricultura orgânica, regulamentada em dezembro
de 2007, quando o pessoal do setor
(organizado sob a sigla BrasilBio) foi
recebido com um café-da-manhã pelo
presidente Lula, no Palácio do Planalto, em Brasília.
O mais antigo certificador do
Brasil é o Instituto Biodinâmico, com
sede na Fazenda Demétria, em Botucatu, SP, que produz ervas medicinais
e difunde os princípios da agricultura
biodinâmica, baseada na Alemanha.
Outras certificadoras têm como referências a Suíça, a Holanda e a França. Fundada em 2001 em Porto Alegre e hoje com sede em Florianópolis,
a francófila Eco Cert tem atualmente
Panorama Rural
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1600 produtores certificados, mais
concentrados nos Estados do Sul,
embora haja também fornecedores de
essências medicinais e cosméticas na
Amazônia. “No começo a gente mal
ganhava para se sustentar, mas agora esse mercado está crescendo tanto
que temos dificuldade em acompanhálo”, diz o agrônomo João Vieira de
Oliveira, sócio-fundador da Eco Cert.
Pesquisas – tanto em valores
quanto em volumes, os negócios envolvendo o controle biológico de pragas representam uma fração mínima
das compras de agroquímicos, um
mercado estimado em US$ 7 bilhões
em 2008 no Brasil. Mas em todas as
principais lavouras – de grãos, folhas,
frutas, fibras e raízes – há pelo menos
uma linha de produtos biológicos à
venda ou uma pesquisa em andamento.
A empresa mais engajada no desenvolvimento desses sistemas é a onipresente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que
Ponto Final: um inseticida
totalmente biológico lançado
pela Embrapa para o
controle da lagarta da soja,
lagarta das hortaliças e a
lagarta do cartucho do milho
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Panorama Rural
Junho 2009
Ivan Cruz: “os inseticidas têm dizimado muitos inimigos naturais. É preciso reverter este quadro”
possui mais de 40 centros de pesquisa
no Brasil. Embora seja francamente
favorável ao uso de sementes transgênicas, a Embrapa tem dezenas de
cientistas trabalhando nas fronteiras
da agricultura biológica, numa busca
incessante para produzir alimentos
livres de produtos químicos perigosos
para a saúde humana e malignos para
o meio ambiente.
Até alguns anos atrás, os agrônomos adeptos do controle biológico
eram discriminados pelos colegas
engajados na difusão dos insumos da
indústria química. A separação ficou
patente no vocabulário de ambos. Enquanto os quimicistas tratam os insetos como “pragas”, os biologistas
os consideram simplesmente “inimigos” das lavouras. Da mesma
forma, para os primeiros, usamse herbicidas para combater as
“ervas daninhas”, que os outros
tratam como “invasoras”. A
animosidade entre os dois lados foi bastante exacerbada
pelo agrônomo gaúcho José
Lutzenberger, que traba-
lhou duas décadas para uma indústria
química alemã antes de se tornar líder ecológico no Rio Grande do Sul.
Apontados como ingênuos ou românticos, os biologistas consideram os
quimicistas escravos da indústria de
insumos agrícolas.
O método químico não é a
única alternativa – de fato, tornarse vendedor de adubos e produtos químicos foi durante as últimas décadas
do século XX a principal escolha profissional de centenas de agrônomos
recém-formados nas faculdades brasileiras de agronomia. “A maioria dos
meus colegas da agronomia se tornou
PhD – Picaretas habilitados em Defensivos”, disse em 2003, com uma
pitada de veneno, o agrônomo-agricultor Fernando Yokozawa, campeão
de produtividade do milho no Paraná
naquele ano. Hoje os profissionais do
setor saem das faculdades conscientes
de que os métodos químicos estão longe de ser os únicos disponíveis, como
faz crer a propaganda das indústrias.
A pesquisa biológica já exerce mesmo grande atrativo sobre os recém-
formados. Porém, falta convencer a
maioria dos agricultores de que existem alternativas.
“Hoje, muitos agricultores, por
desconhecimento, buscam métodos
imediatos no controle de pragas. No
entanto, os inseticidas têm dizimado
muitos inimigos naturais. É preciso
reverter este quadro, como já fazem
o número de aplicações e, até, dos
inseticidas disponíveis no mercado.
Entretanto, ainda não há tratamento
biológico para todos os inimigos das
lavouras.
Em fevereiro de 2008, num encontro técnico sobre milho-safrinha
em Dourados, MS, o pesquisador Crebio Ávila listou as principais pragas
cada vez mais cedo. A precocidade
do seu ataque levou os técnicos a recomendar a aplicação preventiva de
inseticidas nas sementes e nos sulcos
de semeadura. Entretanto, está provado que, além de ser desperdício de
dinheiro, isso só contribui para degradar a biodiversidade.
Baculovírus, 25 anos de sucesso nos sojais – a soja é a lavoura que
mais consome agrotóxicos no Brasil.
Em 2008, foram mais de US$ 2 bilhões apenas para controlar a lagarta
e o percevejo. Atualmente, os gastos
com agroquímicos representam cerca
de 50% dos custos de produção com a
cultura da soja, onde o equipamento
mais usado é o pulverizador. Ao mesmo tempo, 10% das lavouras de soja
são manejadas sem uso de produtos
químicos. Em dois milhões de hectares, os agricultores usam o Baculovírus anticarsia como forma de controlar a população da lagarta-da-soja, a
Anticarsia gemmatalis.
Lagarta-do-cartucho, a mais danosa das inimigas da lavoura do milho, pode ser controlada
biologicamente
outros países”, afirma o agrônomo
Ivan Cruz, veterano pesquisador da
Embrapa de Sete Lagoas, voltada
para o melhoramento do milho e do
sorgo. Atualmente, com as pesquisas
mostrando os pontos negativos do uso
indiscriminado de produtos químicos,
como a ocorrência de novas pragas ou
a resistência das já existentes aos inseticidas, os cientistas dos dois lados
começam a abrir-se para a colaboração recíproca, retomando o chamado
Manejo Integrado de Pragas (MIP).
É consenso que a busca por tratamentos mais saudáveis tende a diminuir
dos milharais. São tantas que se dividem em subterrâneas, de superfície
e aéreas: percevejo castanho, corós,
larva-alfinete, lagarta-elasmo, tripes,
cigarrinhas-das-pastagens, piolho-decobra, caracóis e lesmas, percevejo
barriga-verde e lagarta-do-cartucho,
a mais danosa das inimigas dessa lavoura. Essa mudou seu comportamento, tornando-se mais voraz e atacando
A soja é a lavoura que mais
consome agrotóxicos no Brasil
Panorama Rural
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A lagarta da soja (foto) e o percevejo demandam mais de 90% das medidas de controle
A promissora ungla
A Ungla poderá se tornar chave no
controle biológico de pragas do milho
O
controle biológico de pragas deixou de ser o primo pobre da pesquisa científica ou o último da fila na distribuição das verbas. Em
muitos casos, a pesquisa biológica está na mão de dirigentes, como
é o caso de Ivan Cruz, da Embrapa de Sete Lagoas. Em 2006 ele descobriu um inseto novo em experimentos de milho. Nunca visto anteriormente
num ecossistema brasileiro, o bichinho foi batizado como Ungla ivancruzi
em homenagem ao seu descobridor. Foi um grande achado. A Ungla é um
crisopídeo que poderá se tornar chave no controle biológico de pragas do
milho, como ácaros, pulgões, lagartas e até a broca-da-cana, que está atacando os milharais. Além de ser capaz de devorar mais de 200 pulgões por
dia, ele põe 20 a 30 vezes mais ovos do que os outros crisopídeos e pode
ser criado e multiplicado em laboratório usando tecnologias já conhecidas.
O caso da Ungla ivancruzi é apenas um exemplo do que vem acontecendo
nos bastidores da pesquisa agronômica brasileira.
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Panorama Rural
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Comercializado em forma de pó,
o baculovírus evita o uso de dois milhões de litros de inseticida químico,
a cada ano. Ele começou a ser usado
em 1983 como resultado de uma pesquisa do agrônomo Flavio Moscardi,
da Embrapa de Londrina. É um caso
raro de eficiência no campo e de boa
aceitação pelos produtores. Na comparação com os inseticidas químicos,
é 70% mais econômico. Por atacar
apenas a lagarta, esse bioinseticida
não interfere na população de outros
seres vivos, insetos ou microorganismos, que podem ser úteis no controle
de outras pragas.
Pela sua larga distribuição geográfica, a lagarta é considerada a
principal praga desfolhadora dos sojais. Dependendo do seu estágio de
crescimento, a planta pode tolerar
desfolha de até 100% sem reduzir a
produtividade. O momento mais sensível é quando a vagem está se formando. Já o percevejo (fede-fede,
em algumas regiões) suga os grãos,
diminuindo a quantidade de óleo e
deixando a porta aberta para fungos e
bactérias. A Embrapa está desenvolvendo uma tecnologia para o controle
biológico do percevejo da soja, usando
vespas como predadoras.
A aplicação indiscriminada de
inseticidas químicos é fruto de uma
combinação da ignorância dos agricultores com o prevalecimento técnico dos vendedores de agroquímicos.
Além de acreditar no poder da química, os produtores não acreditam
na capacidade de recuperação natural
das plantas. Ao menor sinal de ataque
de um inimigo da lavoura, eles se apavoram com o risco de perdas e aplicam um inseticida químico sem necessidade, provocando um desequilíbrio
ecológico que faz os insetos voltarem
mais fortes.
As duas pragas juntas, lagarta
e percevejo, demandam mais de 90%
das medidas de controle. A cada safra, os agricultores fazem em média
duas pulverizações contra a lagarta e
seis contra o percevejo. Outros insetos e microorganismos atacam a soja,
mas são regionais ou sazonais e só demandam ações específicas quando há
infestação.
O sucesso do baculovírus tem
O pesquisador Paulo Afonso Viana, da Embrapa, prepara extrato com a planta nim para o
controle de lagartas
a ver também com o baixo custo de
seu uso. O programa começou no Rio
Grande do Sul e no Paraná e está hoje
em todas as regiões produtoras. Para
que o produto não faltasse, a Embrapa
de Londrina desenvolveu e repassou a
empresas privadas uma tecnologia de
produção em larga escala do bioinseticida. A difusão foi feita inicialmente
por cinco empresas.
Flavio Moscardi guardou o baculovírus como idéia para o futuro
A descoberta da potencialidade
do Baculovírus anticarsia como inimigo natural da lagarta-da-soja, nos
anos 70, deve-se ao norte-americano
Roger Williams, professor da Universidade da Flórida convidado para
pesquisar soja na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba. Ele mandou examinar lagartas encontradas mortas em lavouras
brasileiras de soja. A causa da morte
era um vírus da família baculoviridae.
Aluno de Williams, Flavio Moscardi guardou o baculovírus como idéia
para o futuro. Em 1975, pesquisador
da Embrapa, ele foi para os EUA fazer cursos de mestrado e doutorado
em ecologia de insetos. Ao voltar para
o Brasil, em 1979, tinha um projeto
para transformar o baculovírus em inseticida biológico. As pesquisas foram
realizadas em parceria com as empresas estaduais de assistência técnica do
Paraná e do Rio Grande do Sul.
No começo, em 1986, o vírus
começou a ser “produzido” artesanalmente pelos produtores. Eles coletavam as lagartas, punham no freezer para congelar. Depois, na hora
de usar, as lagartas eram maceradas
Panorama Rural
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e a pasta resultante era diluída em
água para aspersão na lavoura. Logo
em seguida a Embrapa lançou uma
formulação em pó, solúvel em água.
Mesmo com a oferta do produto no
mercado, muitos agricultores prefe-
rem manipular seu próprio bioinseticida na propriedade.
Durante a década de 1970,
quando se iniciou o cultivo de soja no
Paraná, o número médio de aplicações de inseticidas químicos contra a
Quase um
século de
experiência
Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado estudam o chinchilho, também conhecido
como erva-fedorenta, no controle da tiririca
A
o contrário do que se imagina, o controle biológico é anterior à
massificação dos agroquímicos, ocorrida nos anos 1950. O primeiro grande esforço para controlar pragas agrícolas com a ajuda
de meios biológicos foi realizado nos anos 1920, quando se buscou na
África um inimigo natural da broca do cafeeiro. Nos anos 1930, os citricultores importaram predadores a mosca das frutas (Ceratitis capitata),
por exigência de importadores europeus. Já a tecnologia de controle biológico da broca da cana foi importada de Cuba e introduzida logo depois da
Segunda Guerra Mundial em canaviais do Estado de São Paulo. Nos anos
1970, a Embrapa importou parasitóides para controlar os pulgões dos
trigais do Sul. Na década de 1990, a Embrapa de Petrolina, PE, importou
a vespinha Trichogramma pretiosum da Colômbia para o controle da traça
do tomateiro, uma das plantas mais pulverizadas por agroquímicos. Na
maior parte dos casos, os tratamentos biológicos deram bons resultados,
mas faltou continuidade, até porque os defensores desses métodos não tiveram força para contrariar as campanhas pelo uso de produtos químicos.
A retomada do emprego de agentes biológicos no combate a pragas agrícolas no Brasil mostra que há um enorme campo para intercâmbio técnicocientífico com outros países.
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Panorama Rural
Junho 2009
lagarta era de quatro a seis por safra.
Com a prática do controle biológico,
o número de aplicações caiu para menos de duas vezes no final da década
de 1990. Nesse período, os inseticidas
organoclorados foram substituídos
por outros menos agressivos ao meio
ambiente. Entretanto, a combinação
de métodos químicos e biológicos foi
negligenciada nos últimos anos, permitindo uma intensificação no uso dos
agroquímicos. A partir de 2000, as
aplicações de inseticidas na cultura
da soja aumentaram novamente, num
ritmo de 8% ao ano, segundo avaliação da Emater-PR.
Um dos fatores do retrocesso do
Manejo Integrado de Pragas, segundo os técnicos, foram certas práticas
equivocadas de controle, relacionadas
com o plantio direto, que exige o uso
de herbicidas ou dessecantes vegetais.
Com a intenção de economizar em
mão-de-obra e mecanização, muitos
produtores passaram a misturar herbicida e inseticida, aplicando uma
dose altamente tóxica que acaba com
os inimigos naturais das pragas e provoca o desequilíbrio na lavoura.
Segundo Moscardi, essa mistura
faz com que pragas antes secundárias
e combatidas pelos inimigos naturais
passem a se tornar importantes nas
lavouras, levando a um gasto ainda
maior para o controle da população
– cada vez mais elevada – de insetos
e fungos. O produtor entra num círculo vicioso, aumentando a aplicação
de agrotóxicos porque a população de
pragas aumentou. “Isso leva ao risco
que houve na década de 70, quando
soou o alarme do uso descontrolado de agrotóxicos nas lavouras”, diz
Moscardi. O uso “preventivo” de
agrotóxicos é antieconômico, antiecológico e contraproducente.
A doença mais preocupante na
lavoura de soja, atualmente, é a fer-
rugem asiática. Ela apareceu há dez
anos no oeste da Bahia, de onde se
alastrou para outras regiões. A Embrapa de Londrina comanda um verdadeiro exército de pesquisadores
para estudar o assunto. Recentemente, surgiu a suspeita de que os produtos usados no controle químico da
ferrugem asiática podem estar afetando as populações do fungo Nomurea
riley, que é benéfico para a cultura da
soja, pois atua no controle biológico
de várias lagartas. O alerta foi dado
pelo agrônomo Daniel Sosa-Gomez,
que observou um aumento da população de lagartas após a aplicação
“preventiva” de fungicidas.
A ferrugem da soja tem sido
tratada exclusivamente à base de produtos químicos, mas já existem experimentos alternativos. Em 2007, a
agrônoma Regiane Medice ganhou o
título de mestre em fitopatologia na
Universidade Federal de Lavras com
um trabalho pioneiro sobre o uso de
extrato de alho e óleos essenciais de
eucalipto, tomilho, nim e outras plantas no tratamento da ferrugem. Ela
obteve resultados positivos.
Rotenona, feromônios etc. –
os produtos químicos foram difundidos amplamente depois da II Guerra
O controle biológico preserva os inimigos
naturais das pragas como a joaninha
Mundial, colocando de lado substâncias naturais usadas na medicina ou
na agricultura, como a tradicional
rotenona, extraída do timbó, a árvore
da qual os índios brasileiros se valiam
para tontear os peixes nos rios e lagoas. Mesmo com a difusão maciça
dos agrotóxicos, a pesquisa natural
ou biológica nunca parou. Numa de
suas circulares, a Embrapa cita Salen Ahmed, botânico de Honolulu,
que coordena uma pesquisa de 2000
plantas reconhecidas como tóxicas
para diversos insetos. Trata-se de um
conhecimento represado que tende a
vir à tona, caso a indústria química
perca seu salvo-conduto para matar
insetos, ervas e outros seres vivos. Por
isso é interessante observar o que a
agricultura orgânica e a pesquisa biológica vêm desenvolvendo para que os
produtores rurais não dependam só de
produtos químicos.
Em várias culturas como as da
maçã, pêra, pêssego, cítricos, algodão
e tomate, os feromônios sexuais vêm
sendo adotados com sucesso. Existentes em todos os animais, os feromônios sexuais já foram detectados em
pelo menos 12 espécies de insetos,
incluindo formigas, aranhas, baratas
e ácaros. Na agricultura, já se produzem feromônios sintéticos que são
usados como monitores do grau de
infestação dos inimigos das lavouras,
como armadilhas ou como instrumento para confundir os machos, numa
verdadeira guerra biológica. Entretanto, se a infestação de inimigos
chega a um nível perigoso, recorre-se
Em culturas como a da maçã,
os feromônios sexuais vêm
sendo adotados com sucesso
Panorama Rural
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55
ao arsenal químico, mas sempre com
moderação. Mais ou menos como a
homeopatia, que recorre à alopatia
em casos extremos.
Já em 2000, os técnicos da Epagri-SC esboçavam um esforço para
introduzir o controle biológico nos
pomares de maçã, que passavam por
15 pulverizações anuais de diversos
produtos químicos – acaricidas, inseticidas, fungicidas, herbicidas. Quem
mais se adiantou no assunto foi a Sanjo, uma cooperativa de descendentes
de japoneses em São Joaquim. O Brasil luta com as exigências dos importadores de frutas desde os anos 1920,
quando os exportadores de laranjas
do interior paulista foram obrigados
a adotar mecanismos de combate à
mosca das frutas, o mais internacional dos insetos-praga da agricultura
(veja o box 1).
Vassoura-de-bruxa – graças a
uma pesquisa conduzida em Belém
pelo agrônomo Cleber Bastos, começou a ser empregado o controle biológico da terrível vassoura-de-bruxa
do cacaueiro, doença provocada pelo
fungo Moniliophthora perniciosa, que
reduziu a 20% a produção brasileira
de cacau. A partir de outro fungo,
Trichoderma stromaticum, Bastos
criou um produto chamado Tricovab,
que vem sendo aplicado com êxito em
material infectado pela causadora da
Adubação verde adotada na usina
São Francisco, em Sertãozinho, SP,
para a produção do açúcar Native
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Panorama Rural
Junho 2009
O extraordinário nim
A
Embrapa de Sete
Lagoas está difundindo o uso do extrato de nim para o controle da lagarta do cartucho,
a principal praga do milho
no Brasil. Cultivado nas
Américas nas últimas décadas, o nim é usado desde
1928 em lavouras de arroz
e cana na Índia, sua terra
natal. O extrato das sementes ou das folhas paralisa o desenvolvimento das
lagartas, matando-as em
quatro ou cinco dias, sem
causar danos colaterais
ao meio ambiente. A proporção recomendada pela
Embrapa é de 7,5 quilos
de sementes trituradas por
A árvore Nim é utilizada desde 1928 na
Índia, sua terra natal, no controle de pragas
200 litros de água. Depois
das lavouras de arroz e cana-de-açúcar
de 12 horas, o líquido pode
ser aplicado sobre milharais de agricultores familiares. Para evitar o entupimento dos bicos dos aspersores, a Embrapa recomenda coar bem o
extrato da borra do produto. Da mesma família do cinamomo e do cedro,
o nim cresce rápido e dá boa madeira.
vassoura-de-bruxa.
Um dos mais extraordinários
exemplos do futuro do controle bio-
lógico na agricultura brasileira é a
Native, projeto do agrônomo Leontino
Balbo Jr em canaviais de sua famí-
Aplicação do Metarril no controle
da cigarrinha de pastagens
lia em Sertãozinho, SP. Ao
dispensar a queima
da palha e adotar
diversas práticas
orgânicas, ele se
colocou dez anos
à frente da concorrência, mostrando que esse tipo de
manejo do solo e das plantas pode ser
executado em larga escala, com bons
rendimentos agrícolas e ótimos dividendos ambientais.
Mesmo com a evolução da pesquisa biológica, a indústria química
ainda tem a faca e o queijo na mão.
Segundo um relatório da FAO, as
pragas agrícolas provocam perdas de
30% nas lavouras tropicais; a cultura
mais afetada é o milho, com 19% de
perdas. Se essas perdas fossem zeradas, isso representaria 10 milhões de
toneladas a mais de milho, todo o ano,
no Brasil. Graças ao pavor das perdas
com pragas, porém, a indústria química engoliu as companhias de sementes
e vem lançando sementes transgênicas das principais culturas.
Uma geração de trabalho –
uma das mais antigas empresas a
operar no ramo dos biopesticidas é a
Itaforte, fundada há 13 anos em Itapetininga, SP. O produto mais vendido
da empresa, que tem 60 funcionários,
é um inseticida chamado Metarril, o
primeiro produto microbiano a base
de fungo para o controle da cigarrinha de pastagens no Brasil. Outro
inseticida é o Boveril, que tem como
ingrediente ativo esporos do fungo Beauveria bassiana, que ocorre na natureza. Ele é usado no controle do ácaro
da ferrugem dos citros, no combate ao
gorgulho do eucalipto e no controle da
mosca branca em cultivos de pepino e
tomate em estufas.
A empresa também produz o
Trichodermil. Primeiro biofungicida
registrado no Ministério da Agricultu-
Adulto de
cigarrinha da
raiz da cana
infectada
pelo fungo
Metarhizium
anisopliae
ra, ele é feito a base do fungo Trichoderma harzianum e atua no controle
de outros fungos de raízes ou de solo,
causadores de podridões vasculares,
murchamentos e tombamentos de
plantas. O produto não é recomendado para doenças foliares, como as ferrugens, o que o exclui da luta contra o
fungo da ferrugem da soja.
Ao contrário do que possa parecer, a aplicação de produtos biológicos exige mais controle do que os
químicos, cuja difusão foi facilitada
pela indústria de máquinas e imple-
mentos rurais. Mas a falta de fomento e de assistência técnica no campo
não impede que os produtos biológicos
sejam usados em larga escala, como
vem acontecendo em propriedades
agrícolas do Brasil Central. Se no
combate aos insetos-praga já se conseguiu avançar bastante, no controle
das chamadas ervas invasoras das lavouras a pesquisa está praticamente
na estaca zero. “Infelizmente, ainda
não há métodos biológicos para substituir os herbicidas”, diz o engenheiro
florestal Ariclenis Balarotti, fundador
da Itaforte. Além de ser marginal no
sistema global de produção, a pesquisa de microrganismos pouco avança
porque, ao contrário do que acontece
na área de sementes, a legislação brasileira não prevê patente para bactérias. PR
Fungo Metarhizium anisopliae produzido na biofábrica (aspecto antes da formulação)
Panorama Rural
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As vespinhas Cotésia nos copinhos:
prontas para liberação nos canaviais
As
vespinhas
protegem o campo
A Cotésia flavipes, a vespinha que controla a broca
da cana, já é famosa, agora surge outra vespinha a
Trichogramma Prestiosum para controlar lagartas da soja
Luciana Paiva
N
os canaviais brasileiros a vespinha Cotésia flavipes faz o
maior sucesso como inimiga
natural da broca Diatraea saccharalis,
considerada a principal praga da canade-açúcar. Como a natureza não consegue produzir vespas suficientes para
controlar a broca dos extensos canaviais, existem laboratórios que produzem e comercializam a Cotésia.
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Recentemente, o mundo rural
recebeu a notícia que mais uma vespinha vai salvar a lavoura, dessa vez a
de soja. A nova heroína chamada oficialmente de Trichogramma Prestiosu
é menor ainda que a Cotésia, na verdade é microscópica, e aparece como
inimiga natural de duas lagartas que
atacam os campos de soja no CentroOeste do Brasil.
A novidade é resultado de um
estudo de Regiane de Freitas Bueno,
bolsista da Embrapa Soja, unidade
localizada em Londrina, PR. Segundo
informações da assessoria da Embrapa, no trabalho, iniciado por ela no
programa de doutorado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(ESALQ), Regiane aponta a estratégia do manejo biológico do inseto no
controle das lagartas Pseudoplusia
includens e a Anticarsia gemmatalis
– também conhecidas como lagarta
falsa medideira e lagarta da soja, res-
Adulto da lagarta
falsa medideira
pectivamente. A Pseudoplusia includens e a Anticarsia gemmatalis são
as responsáveis pelo não desenvolvimento dos grãos da oleaginosa. Estes
dois tipos de pragas se alimentam das
folhas da planta, enfraquecendo-a e
impedindo o grão de crescer.
Debruçada em bancadas do laboratório de entomologia da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio
de Goiás, GO, onde parte da pesquisa
foi desenvolvida, Regiane testou o
desempenho de 17 linhagens de vespas capazes de controlar as pragas.
Do total de linhagens investigadas, a
bolsista concluiu que a Trichogramma prestiosum resolve o problema
de vez. Basta colocar a vespinha (fêmea) em ovos das lagartas. O resultado não pode ser melhor: a vespinha
“liquida” a lagarta ainda no ovo.
“Em vez de nascerem novas lagartas,
nascem novas vespas. A Trichogramma prestiosum impede a lagarta de
se desenvolver”, comemora a jovem
pesquisadora.
Trabalho merece prêmio –
esse estudo da bolsista da Embrapa
Soja, chamado Bases biológicas para
utilização de Trichogramma prestiosum para controle de lagartas em
soja, é tão interessante que conquistou o primeiro lugar do 1º Prêmio
Agroambiental Monsanto, na categoria pesquisador, modalidade técnica.
Entusiasmada com o trabalho, agora
Regiane dá ênfase a uma outra fase
desse mesmo tema: as vantagens econômicas do uso do controle biológico
das pragas nas lavouras de soja. Esta
nova etapa faz parte do estudo que a
pesquisadora começa ainda neste semestre na Embrapa Soja, em programa de pós-doutorado.
Faltam Cotésias no mercado
– com a expansão da lavoura canavieira, a demanda por vespas se intensificou e nas novas fronteiras da cana
o produto chega a estar em falta. A
instalação de laboratórios biológicos
especializados na produção da Coté-
sia passou a ser um negócio atraente.
No final de outubro de 2007, Araçatuba, SP, ganhou seu primeiro laboratório de produção da Cotésia flavipes.
“Montamos o laboratório conforme
projeto do professor Newton Macedo,
o maior especialista na área, que nos
orientou acerca de as melhores práticas para a produção de vespas que
oferecem um controle eficiente da
broca”, conta Bianca Rípoli Lara,
uma das sócias do Bioeste Soluções
Integradas.
O Bioeste iniciou suas atividades
com seis funcionários, seis meses depois já contava com 26 funcionários,
e mesmo assim não conseguia atender
a todos os clientes. “A área de cana
cresceu muito na região, e também
aumentou a conscientização entre os
fornecedores de cana sobre a necessidade do controle biológico da broca.
Por isso, a procura é intensa, quando
não conseguimos atender a demanda,
encaminho os clientes para laboratórios concorrentes, pois o fundamental é que não fiquem sem o produto”,
comenta Bianca. Atualmente, outros
Adulto da lagarta
da soja Anticarsia
gemmatalis
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Lagarta dentro
da cana: prejuízo
laboratórios de controle biológico das
pragas da cana já se instalaram em
Araçatuba.
A eficiência da vespinha – Leandro Aurélio Rossini, engenheiro
agrônomo do departamento técnico
e comercial da Biocontrol, empresa
localizada em Sertãozinho, que atua
há 16 anos no seguimento de controle biológico das pragas da cana, salienta que são vários os motivos da
maior demanda: o aumento do plantio
de variedades de canas susceptíveis
à broca; a desativação de alguns laboratórios de usinas devido à baixa
densidade de broca encontrada nos
últimos seis anos; a falta de planejamento de algumas usinas e produtores
que não têm controlado a broca logo
em sua primeira geração – durante o
ano ela passa por cinco gerações.
Mas de acordo com Rossini, o
principal motivo da procura pela Cotésia está relacionado à sua eficiência
no campo. “A vespinha fêmea procura pela lagarta
através do cheiro
característico de
suas fezes até dentro da cana, não
tem como escapar”, afirma Rossini.
A vespa insere seus ovos dentro da
lagarta, suas larvas se alimentam da
broca e quando estão desenvolvidas
saem da broca perfurando-a e matando-a. Transformam-se em um casulo
de onde sairão novas vespinhas que
vão parasitar outras lagartas. É tudo
natural, sem danos ao ambiente. “Já
o produto químico oferece ação apenas às lagartas pequenas que estão
fora da cana, além de ser mais caro”,
argumenta.
São necessárias 20 bilhões de
vespas – Rossini explica que atualmente no Brasil existem aproximadamente 7 milhões de hectares de cana
plantada, para proteger esses canaviais da broca, são necessárias perto de 20 bilhões de vespas. Há uma
defasagem entre oferta e demanda de
18%.
Para produzir as vespas, os laboratórios também desenvolvem brocas.
Aqui a broca na fase de crisálida
Preparo do meio de cultura onde
se desenvolverá a larva da broca
60
Panorama Rural
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“Existem aproximadamente 70
laboratórios de criação desses parasitóides, contando os instalados
em usinas e os particulares, existem
condições de produzir o volume que o
mercado precisa, mas para isso, é fundamental melhorar os rendimentos de
produção”, salienta Rossini. Investir
em estrutura adequada, equipamento
correto, matrizes de boa procedência
e qualificação dos funcionários são
pontos essenciais para o bom andamento do negócio.
As mulheres são melhores – o
trabalho de inoculação envolve paciência, observação e movimentos
repetitivos. Consiste em pegar uma
lagarta da broca, colocá-la próxima
ao copinho em que estão as vespas,
aguardar a vespa picar a lagarta, observar se realmente isso aconteceu,
separar a lagarta parasitada e repetir
a tarefa inúmeras vezes no decorrer
do dia. Normalmente, a picada é imediata, coisa de segundos, mas existem
dias que as vespinhas não estão muito
interessadas em colocar seus ovinhos
na broca, aí é preciso ter mais paciência.
A broca na fase de mariposa põe os ovos no papel
Os homens não são aptos para a
função, é por isso que a Bioeste tem
26 funcionárias. “Só temos mulheres,
o único homem é o meu sócio que é
biólogo. Para esse tipo de trabalho a
mulher é mais eficiente e compromissada”, conta Bianca. Inicialmente,
produzir vespas e mexer com lagartas
eram coisas meio estranhas para as
funcionárias da Bioeste, quase todas
ex-donas de casa ou empregadas do-
As biólogas cortando os papéis para separar os ovos da broca
mésticas. Mas, depois do treinamento e, principalmente, ao conhecer a
importância do trabalho que vão realizar, passam a valorizar a tarefa
e sabem que se forem eficazes serão
profissionais concorridas no mercado.
As perdas com a broca – as
lagartas causam prejuízos diretos,
pela abertura de galerias, ocasionando perda de peso da cana. Em canas
novas podem causar a morte da planta, sintoma conhecido como “coração
morto”. Os danos são observados em
brotos, perfilhos ou colmos que têm
sua gema apical afetada pelas larvas da praga, resultando na morte da
gema, e morte da cana atacada. Nos
colmos em desenvolvimento, os danos
podem induzir a brotação das gemas
laterais e enraizamento aéreo.
Esse ataque à cana provoca estragos indiretos consideráveis, causados por microrganismos que invadem
o entrenó através do orifício aberto na
casca pela lagarta. Esses microrganismos, predominantemente, fungos
(Fusarium e Colletotricum), invertem
a sacarose armazenada na planta,
provocando perdas pelo consumo de
Panorama Rural
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Proporção: o cálculo do número de parasitóides liberado leva em conta a densidade populacional de brocas, aptas a serem parasitadas
Número
de brocas
Número
de cotésia
2 a 4 brocas
1 vespa/broca
De 1000 a 3000 brocas/ha
6000 Cotésia/ha
Acima de 3000 a 10000 brocas/ha 2 vespas/broca
Trabalho
feminino
energia no metabolismo de inversão
e pelo fato dos açúcares resultantes
desse desdobramento não se cristalizarem no processo industrial. Entretanto, quando a matéria-prima se destina à produção de álcool, o problema
é mais grave, pois os microrganismos
que penetram no entrenó aberto contaminam o caldo e concorrem com as
leveduras na fermentação alcoólica.
Com apenas 1% de colmos atacados, uma lavoura com produtividade de 80 toneladas/ha, pode resultar
em perdas na indústria de 30 quilos
de açúcar e 25 litros de álcool, em
média. As perdas de campo são representadas pelas canas quebradas e
mortas que permanecem no canavial e
as perdas em açúcar e álcool referemse aos danos do complexo broca +
podridão vermelha que ocorrem nas
canas danificadas que são levadas à
indústria.
Não é só fornecer a vespa –
Bianca ressalta que a função do laboratório de controle biológico de
pragas da cana não é apenas fornecer a vespa, mas também orientar o
cliente a exercer o controle adequado,
como e quando realizar a liberação
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Panorama Rural
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De 10000 a 15000
3 vespas/broca
Acima de 15000
4 vespas/broca
das vespas. Neste caso, a indicação é
que deve ocorrer no início da manhã
e/ou final da tarde, (evitar sol, frio,
chuva e orvalho), quando 70 a 80%
já emergiram nos copos de acondicionamento. Entrar no talhão, no sentido
das linhas de cana, caminhando com o
copo ABERTO e a cada 41 passos (±
30m) depositá-lo, aberto, na bainha
da cana com a abertura contrária à
luz do sol, na posição horizontal.
Outra informação importante
diz respeito às práticas preventivas.
Algumas medidas culturais auxiliares devem ser adotadas para reduzir
a incidência da broca, como o uso de
variedades resistentes; cortar a cana
o mais rente possível do solo; evitar o
plantio de hospedeiras (arroz, milho,
sorgo e outras gramíneas) nas proximidades do canavial; e queimadas
desnecessárias. PR
Segurando a larva da broca para ser picada pela vespa
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Thiago Albuquerque
As novas
estrelas da
Agrishow
Tratores de pequeno porte, implementos
agrícolas e pequenos e médios produtores
se destacaram na Agrishow 2009
Ricardo Barbosa, Luciana Paiva e
Jaqueline Stamato
A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera,
o governador de São Paulo, José Serra e
João Sampaio, secretário da Agricultura
do Estado, em caminhada pela feira: a
prefeita transferiu seu gabinete para a
Agrishow e permaneceu a semana toda
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Panorama Rural
Junho 2009
Carlos Natal
A
pesar de o Brasil ter um dos
maiores potenciais agrícolas do mundo, com recordes
sucessivos de safras de grãos, a indústria de máquinas e equipamentos
agrícolas sofre os efeitos da crise econômica mundial, a restrição de crédito reduziu a demanda e provocou a
desaceleração das vendas desses produtos. A estiagem em Estados do Sul
do País – que reduziu a produção de
soja e milho –, e a crise interna em setores como o de laranja e cana, também contribuem para a redução do
Jaqueline Stamato
A Agrishow 2009 contou com
725 expositores e ocupou uma
área total de 240 mil m²
consumo de máquinas agrícolas.
Esse cenário baixista refletiu
no desempenho da Feira Internacional da Tecnologia Agrícola em Ação
(Agrishow), realizada em Ribeirão
Preto, SP, de 27 de abril a 02 de maio
de 2009. Segundo levantamento feito
junto aos bancos participantes – Banco do Brasil, Bradesco, Nossa Caixa
e Santander – e às empresas expositoras, a movimentação de negócios
gerada pela feira deverá ser na ordem
Cesário Ramalho:
“A Agrishow atingiu o seu objetivo”
Panorama Rural
Junho 2009
65
Luciana Paiva
Luciana Paiva
que a Agrishow 2009 nas estão aquecidas”, diz.
Zancopé se diz satisfeito com os
desenvolvesse um novo
perfil: o da democra- atuais resultados da empresa, porque
tização do agrone- nos seis meses pós o estopim da crigócio. Neste ano, o se econômica mundial, dada no início
implemento agrícola, de outubro de 2008, a empresa parou
que normalmente era bruscamente a produção, pois houve
o coadjuvante do show uma queda significativa na demanda
passou a ser a estrela. por tratores. “No entanto, no segE programas governa- mento de tratores, as vendas em 2009
mentais de financia- deverão crescer acima de 100% refemento, como o Mais rente ao ano passado”, salienta.
Tramontini não perdeu com o
Alimentos, do governo
federal e o Pró-Trator, público menor – de acordo com JuPúblico interessado no sulcador da Baldan que desarma quando
encontra pedra e rearma automaticamente
do governo paulista, lio Cesar Cercal, gerente comercial da
propiciaram maior po- Tramontini, a diminuição no número
de R$ 680 milhões, em 2008 foram der de compra aos pequenos e médios de público da feira não afetou a emLuciana Paiva
800 milhões. O público visitante foi de produtores, com isso, nesta
aproximadamente 120 mil pessoas, edição da feira, eles não só
contra 140 mil do ano passado.
visitaram a Agrishow, mas
Mesmo com a queda em volume foram às compras.
de negócios e de público a Agrishow,
Bom ano para a Lande acordo com o presidente da feira, dini – com a não participaCesário Ramalho, conseguiu alcan- ção das grandes empresas
çar o seu objetivo, que é de chamar fabricantes de tratores e coà atenção dos produtores rurais que lhedoras, houve mais espaço
queiram investir em novas tecno- para os pequenos e médios
logias, além do evento fomentar a fabricantes. De acordo com
agricultura mecanizada ao pequeno o presidente da Landini, Gileste ano a empresa estima crescer 30% no
produtor rural. De acordo com Juan berto Junqueira Zancopé, Tramontini:
volume do seu faturamento
Pablo Rivera, presidente da Alcânta- a empresa foi beneficiada
ra Machado, empresa organizadora com essa ausência. “O público que presa. “O grande público que vinha
do evento, a feira refletiu a recessão se interessa por tratores vem direta- à feira até o ano passado, tinha o indo setor econômico mundial, por isso mente tratar conosco. Apesar da crise teresse de ver apenas os lançamentos
essa queda expressiva.
econômica, estamos em um bom ano das grandes empresas de tratores,
A ausência dos grandes fabri- agrícola, as nossas vendas de máqui- como nós somos voltados à agriculcantes associadas
tura familiar, não vimos uma grande
à Associação Nadiferença, pois o nosso volume de necional dos Fabrigócios continuou”, explica Cercal. O
cantes de Veícusetor de tratores representa hoje 60%
los
Automotores
do faturamento da empresa.
(Anfavea) fez com
Um dos lançamentos da empresa foi o novo trator de 32cv, novidade
em termos de potência, além do trator de 50cv. Outro foco da Tramontini são os tratores utilizados em aviAs vendas de
máquinas da
ários, plantação de uvas em morros,
Landini estão
aquecidas
os quais exigem tratores de menor
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Panorama Rural
Junho 2009
Jaqueline Stamato
Pavarina e a Oficina Rural móvel: vendas superarão as expectativas
locomoção. O custo do equipamento é
de R$ 16.500.
Lançado o primeiro trator
brasileiro – a GreenHorse lançou seu
primeiro trator brasileiro, sem peças
importadas da China, ou outros países
da Ásia. O trator, modelo 454 compact, pode ser financiado pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, e também
está inserido no Programa Nacional
da Agricultura Familiar, Pronaf.
De acordo com o presidente da
empresa, Irajá Andara Rodrigues, um
dos objetivos principais da empresa
é atender o pequeno produtor rural,
com máquinas que adaptem às suas
necessidades. “O trabalho da pequena
Luciana Paiva
potência e máquinas mais estreitas
para as hortaliças. Este ano, a empresa estima crescer 30% no volume do
seu faturamento.
Público qualificado e vendas
na feira – “O público da Agrishow
pode estar menor, porém está mais
qualificado, porque quem visita nosso
estande são pessoas interessadas no
produto e com boas intenções de compra”, disse Marcos Pavarina, gerente
de marketing do Grupo Bambozzi. A
intenção de compra era tão real, que
surpreendeu a empresa. “A idéia era
fazer apenas um institucional do produto, no entanto, conseguimos realizar bons negócios na Feira o que superou nossa expectativa de vendas”,
conta Pavarina.
O produto em questão é a Oficina Rural modelo MDC 335, lançado na feira. Trata-se de uma oficina
móvel para manutenção agrícola para
ambiente onde não tem energia elétrica.
A bancada de serviço (mesa) é
dotada de morsa, furadeira de coluna, moto-esmeril, compressor de ar,
engraxadeira, pneumático e painel de
comando. A oficina tipo implemento
necessita de energia acoplada à tomada de força do trator. A diferença
da Oficina móvel é porque tem mais
agilidade na operação e facilidade de
propriedade rural sempre esteve baseada na mão de obra manual, mas isso
tem que ser mudado, porque o arado
puxado por boi deve deixar de existir”, aponta.
Pró-Trator também para os
pequenos – uma das principais reivindicações dos pequenos fabricantes
de tratores na Agrishow foi a não
adesão ao programa Pró-Trator do
governo do Estado de São Paulo. O
programa, o qual está inserido apenas
nas grandes fabricantes de tratores,
exige que os equipamentos tenham,
no mínimo, 50cv. Empresas como a
GreenHorse, Landini e Tramontini,
dizem que muitos agricultores não
necessitam de máquinas tão potentes,
sendo que uma máquina de 20cv pode
atender o pequeno produtor.
É o caso de Benedito Marcos e
Sandro Donizete, produtores de uva,
pêssego e nectarina, de Itupeva, SP,
eles queriam comprar um trator de
25 cv, mas programas como o Mais
Alimentos e o Pró-Trator atendem
apenas os equipamentos com mais
cilindradas. “Para fruticultura não
precisamos de maior potência. É preciso incluir os tratores menores nesses
programas, e também os implementos, como arado e grades”, observa
O revendedor da
GreenHorse de
São Sebastião do
Paraíso, MG, Paulo
César Santos, em
negociação com
Edgar de Melo,
de Ribeirão Preto
e que produz
eucalipto na região
de Passos, MG
Panorama Rural
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Luciana Paiva
Luciana Paiva
Benedito Marcos e Sandro Donizete: “É preciso incluir os tratores
menores nesses programas de incentivos”
Benedito.
De acordo com a assessoria de
imprensa da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, o secretário João Sampaio disse que deverá
reavaliar o programa para atender os
tratores de menor potência.
Incluir os implementos nos
programas de incentivo – Mário
Wagner, diretor-geral da Kuhn Metasa, fabricante de Implementos
Agrícolas, ressaltou a necessidade da
inclusão dos implementos nos programas de incentivo, afinal, sem eles, o
trator só serve para passear. Há quatro anos a francesa Kuhn adquiriu a
brasielira Metasa, especializada em
equipamentos para a prática do plan-
tio direto. “Com a Kuhn aprimoramos
a tecnologia e passamos a atender
outras linhas como tratores, plantadoras, pulverizadores, enfardadoras
e alimentação animal”, diz Wagner.
Há Kuhn existe há 180 anos.
Para Wagner, pelo menos nos
Estados do Sul do País, a seca que
derrubou a produção de soja e milho
causou mais estragos que a crise mundial financeira, por isso, mais do que
nunca, os produtores precisam de incentivos, mas o governo precisa contemplar os equipamentos que fazem
parte de todo o processo. “Para produzir mais alimentos, é fundamental
aumentar a tecnificação da lavoura
brasileira, por isso, os implementos
Luiz Aubert: “a Selic é um morcego tirando o dinheiro da indústria”
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Panorama Rural
Junho 2009
Wagner: “sem os implementos agrícolas, o trator só serve para
passear”
agrícolas precisam ser incluídos nos
programas de incentivos”, argumenta.
Os altos impostos – uma das
principais reivindicações realizadas
pela Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq), durante a Agrishow, foi a
questão das altas cargas tributárias
pagas pela indústria de máquinas e
equipamentos. Segundo dados da associação, desde o início da crise financeira, as indústrias de máquinas e
equipamentos demitiram mais de 51
mil funcionários, devido à queda de
até 60% de faturamento em algumas
empresas do setor.
O presidente da Abimaq, Luiz
Aubert Neto, disse que falta na economia brasileira o maior investimento
de capital fixo nas empresas. “Estamos perdendo terreno para o mundo
todo, porque o PIB per capita no Brasil está caindo dia após dia”, explica
o presidente. Uma das reivindicações
dele é a total isonomia do PIS / Confins sobre o setor.
As indústrias de máquinas e
equipamentos tiveram, em média,
uma queda de 44% no faturamento no
primeiro trimestre de 2009, se comparado com o mesmo período do ano
anterior. Outra reivindicação do setor
é o aumento da taxa básica de juros,
rios lançamentos para a Agrishow e
também implementos que são a maior
sensação no programa Mais Alimentos, como a NSH Nano
Luciana Paiva
semeadora hidráulica de
três linhas”, salienta Celso Antonio Ruiz, superintendente executivo da
ATB Baldan.
A Baldan foi a primeira empresa a investir no Mais Alimentos.
“Desenvolvemos cartilha
explicativa sobre o programa e realizamos caravanas pelo Brasil com
técnicos da Emater em
visitas a cooperativas
Celso Antonio Ruiz com a NSH Nano semeadora hidráulica de
e associações para, por
três linhas: sensação do “Mais Alimentos”
meio de palestras, mosmostrados pela Abimaq, de cada 1% trar aos produtores como podem se
de juros retirados da Selic, economi- beneficiar com o programa”, diz Luzamos R$ 13 bilhões, além do ICMS, ciana Antoniosi, gerente de marketing
que em alguns Estados chegam a inci- da Baldan. A iniciativa está dando
muito certo, tanto que a empresa desdir em 12%.
A Baldan comemora – a Agritillage do Brasil – Baldan, veio com
força total nesta Agrishow, ocupou
uma área nobre na rua principal para
mostrar todo o potencial da marca.
A empresa expôs 48 implementos,
como roçadoras, grades, plantadoras, semeadoras e plainas. Linha
completa, para pequeno, médios e
grandes produtores. “Trouxemos váa Selic, “essa taxa é um morcego tirando o dinheiro da indústria”, diz
Luiz Aubert. De acordo com cálculos
conhece a crise e a Agrishow, a Baldan não tem do que reclamar, foi uma
das líderes em visitação e negócios.
“Nos outros anos, com a presença das
grandes fabricantes, a atenção do visitante ia diretamente para os tratores e máquinas, só depois se dirigiam
aos implementos, este ano, somos a
atração da feira”, comenta.
Para participar da festa, no dia
1° de maio a Baldan levou à Agrishow
a Caravana Sou Mais Baldan, composta por 400 colaboradores das diversas áreas da empresa. Segundo
Aparecido Donizete Gomes, gerente
de recursos humanos da Baldan, o
objetivo da ação foi valorizar os colaboradores que tiveram a oportunidade de observar o resultado final de
seu trabalho. A Caravana foi recebida
pela direção, equipe comercial, técnica e clientes da Baldan que aplaudiram a chegada dos honrosos visitantes
ao estande.
“A Baldan inova a Agrishow
Caravana Sou Mais Baldan:
400 funcionários visitam a Agrishow
Luciana Antoniosi, gerente
de marketing da Baldan e
a Semeadora MegaFlex,
lançada na feira
Panorama Rural
Junho 2009
69
Jaqueline Stamato
Test drive com pick-ups
atraem os visitantes
com este tipo de ação institucional.
Acreditamos que a valorização o reconhecimento e o conhecimento dos
produtos concorrentes pelos nossos
colaboradores são fatores fundamentais para o desenvolvimento de produtos com qualidade”, afirma Luciana.
Test drive em pista off-road
agita a Agrishow – em 2009 a ausência de grandes máquinas, as pick-ups
tornaram-se o sonho de consumo dos
visitantes da Agrishow. Seis montadoras automotivas participaram da feira,
e três delas promoveram test-drive de
seus principais modelos de pick-ups e
fora de estrada. Os visitantes puderam
percorrer percursos íngremes e com
Demonstrações
de campo
obstáculos e experimentar toda a potência e robustez dos veículos.
Entre os modelos disponíveis
estavam a Ford F250 cabine dupla e
simples 4x4 e o Ford Ranger 4x4, da
Marcos Vaz
Apresentação de colheita de milho
N
este ano, a área para demonstrações de campo (Dinâmica) ocupou 100 hectares e foram realizadas cerca de 800 demonstrações
abrangendo as culturas de cana-de-açúcar, feijão, milho, soja e
forrageiras: milho forrageira, cana forrageira, capim mombaça e capim
cost cross. No local, também acontecem demonstrações de tecnologia de
manejo animal, inseminação, procedimento de ordenha, toque e ultrassom,
além de test-drive operacional de plantio de grãos e cana, colheita de feijão e milho e máquinas para pequena propriedade.
70
Panorama Rural
Junho 2009
Ford, o Scorpio SUV 4x4 e a pickup Scorpio cabine dupla (4x4) e cabine simples (4x2), da Mahindra, e o
Toyota Hilux Diesel 4x4, Hilux SW4
Diesel 4x4, Hilux SW4 à gasolina e
Hilux à gasolina, da Toyota.
“A Agrishow é um evento de
suma importânica para nós, uma vez
que as regiões onde o agronegócio
predomina têm apresentado índices
significativos de crescimento nas vendas da nossa marca”, afirma Frank
Gundiach, diretor comercial da Toyota do Brasil, primeira montadora de
veículos a expôr na Agrishow.
Dez anos da Itália na Agrishow
– a Itália completou dez anos de participação oficial na Agrishow. Neste
período, o Pavilhão Italiano promoveu a vinda de mais de 150 empresas
na feira, com o objetivo de fortalecer
os acordos de cooperação entre os
dois países. Neste ano, o Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE)
e Associação Italiana dos Fabricantes
de Máquinas Agrícolas (UNACOMA)
reuniram 19 empresas produtoras de
máquinas e implementos agrícolas no
Pavilhão Italiano. Segundo o analista do setor Emilio Pelizzon, a Itália
apresenta tecnologia de ponta como
tratores e componentes para máqui-
nas agrícolas, de jardinagem e terraplanagem.
“A agricultura italiana é centrada em pequenas propriedades altamente tecnificadas, seus fabricantes são especialistas em desenvolver
equipamentos que possibilitam maior
rendimento e facilidade operacional,
utilizando pouca mão de obra”, diz
Pelizon. Segundo o analista, talvez
por causa da grande quantidade de
descendentes de italianos no Brasil,
há uma grande empatia entre os dois
países, o que facilita os negócios. O
objetvo do pavilhão é servir de intercâmbio entre fabricantes italianos
e fabricantes brasileiros, e não realizar vendas diretas ao produtor, os
italianos buscam no País, empresas
parceiras para representarem ou desenvolver seus produtos no Brasil ou
fabricantes para adquirirem componentes para máquinas.
“O Italiano é bastante flexível,
estuda com os parceiros as adaptações necessárias para atender o cliente brasileiro. Muitas empresas que
já participaram conosco, hoje participam da feira nos estandes com as
empresas que se tornaram parceiras.
No Pavilhão, estamos com 19 repre-
Stephanes visita Agrishow e pede
mudanças no Código Florestal
O
Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes visitou a Agrishow e defendeu alterações do Código Florestal Brasileiro, argumentando que hoje a produção agropecuária
está mais sustentável do que quando foi instituída, em 1965. “As tecnologias de manejo vêm sendo alteradas ao longo do tempo. Plantar soja 20,
30 anos atrás, por exemplo, não era sustentável. Hoje já é altamente sustentável, uma vez que protege e recupera o solo e sequestra mais dióxido
de carbono. Da mesma forma tivemos diversos avanços na cana”, destacou
Stephanes. Segundo ele, “o Código precisa ser corrigido, pois algumas das
proibições são absurdas e não têm sentido técnico”. Entre as alterações
estão a permissão para o plantio de arroz em várzea e de café, uva e maçã
em topo de morros, em áreas já consolidadas. Para fazer as alterações no
Código Florestal, Stephanes defende que é preciso ter racionalidade, equilíbrio e fundamentação técnica para aquilo que se exige. “Quero deixar
claro que sou a favor de criar condições para o desmatamento zero no bioma da Amazônia e Mata
Paulo Vargas
Atlântica. Também sou a
favor de recompor as margens dos rios e nascentes,
porém, especialmente os
pequenos produtores não
têm recursos para isso”,
afirmou o Ministro.
“Hoje as leis não deixam
produzir e também não
protegem”, criticou o Ministro
Luciana Paiva
Emílio
Pelizzon: “o
agronegócio
brasileiro
evoluiu muito”
sentantes, mas expondo na Agrishow
deve ter em torno de 50 empresas italianas”, ressalta Pelizon. Com a experiência de 10 anos de participação na
feira, o analista diz que é fantástica
a evolução no agronegócio brasileiro,
além disso, está mais fácil para fazer
negócios, pois há mais linhas de créditos disponíveis, o que aumenta o acesso do produtor às tecnologias.
A primeira vez da França – neste ano da França no Brasil, a Missão
Econômica da França marcou presença pela primeira vez na Agrishow.
O objetivo da participação da rede é
desenvolver parcerias comerciais e inPanorama Rural
Junho 2009
71
Luciana Paiva
dustriais entre empresas brasileiras e
francesas do setor agrícola.
Segundo o chefe da Missão Econômica da França, Dominique Mauppin, as autoridades francesas acredi-
Os visitantes da Agrishow –
são muitos, vindo de todas as partes,
mas com objetivos comuns: fazer negócios, conhecer as novas tecnologias
e adquirir informações. No meio desse
Pavilhão Italiano
na Agrishow:
agricutlura
tecnificada
tam que o Brasil é um grande gerador
de oportunidades de negócios e que
cada vez mais empresas francesas
se mostram interessadas em realizar
essas parcerias. “No ano passado,
atraímos quase 900 empresas para o
Brasil e, este ano, nossa expectativa é
atender a 1000 empresas francesas”,
ressaltou Mauppin, que para chegar a
esse número conta com o maior intercâmbio na área agrícola entre os dois
países. João Sampaio, secretário da
Agricultura de São Paulo, salientou
que juntos: França e Brasil têm muito
a ganhar, por isso, é fundamental deixar de lado a “rivalidade” nos assuntos referente ao agronegócio.
Césario Ramalho, presidente da
Agrishow, João Sampaio, secretário
da Agricultura de São Paulo e
Dominique Mauppin, chefe da
Missão Econômica da França,
brindam os negócios que virão
72
Panorama Rural
Junho 2009
universo, pincelamos alguns desses visitantes para passar ao leitor um pouquinho do perfil do público que visita
a Agrishow.
Marilda Martins Elias e o marido Valdir Solto Elias, são de Campina Verde, MG, pecuaristas, visitam a
Agrishow há cinco anos, atrás de uma
informação e negócios. Já adquiriram
vários equipamentos de ordenha mecânica. Mas, o que mais atrai Marilda
são os estandes da Cati e da Embrapa.
“Sempre consigo muitas informações
úteis. Aprendi na Embrapa que meus
pés de figo produziriam bem mais se
eu colocasse esterco de galinha próximo ao pé. Realmente funcionou, além
do mais, passei a aproveitar os resíduos dos frangos”, salienta Marilda.
Dona Darci Brasil Serrão, de
Potirendaba, SP, visitou a Agrishow
pela quinta vez, ela produz 10 mil pés
de eucalipto em uma propriedade de
3 hectares. Visita a Agrishow para
fazer negócios, já comprou cortador
de grama e poço artesiano, mas o que
mais lhe atrai é poder ficar por dentro das novidades tecnológicas. Dona
Darci sabe o quanto é fundamental
estar bem informada, por isso, não
deixa de participar dos cursos promovidos pelo Senar em sua cidade,
onde ajudou a criar a Associação dos
Produtores Rurais. “Unidos, os produtores rurais têm mais condições de
acesso aos benefícios”, alerta.
Pelo terceiro ano consecutivo
o cantor sertanejo Teodoro – integrante da dupla Teodoro e Sampaio
– visita à Agrishow para conferir de
perto as novidades. Este ano comprou
uma balança bovina eletrônica e tronco de contenção da marca Coimma
para sua fazenda de gado em Dracena, SP. Segundo o cantor, ao investir
Marcelo Tomba é empresário da área de
construção civil em São José dos Campos e
também pecuarista. É a segunda vez que vai
a feira, já comprou trator. O amigo Fábio
Lupon, também de São José, é pecuarista e
silvicultor. Visitam a Agrishow para ficarem
bem atualizados sobre tecnologias e fazer
negócios. Para aproveitar a feira, ficam na
cidade por dois dias.
O agrônomo português Henrique Simões veio
pela primeira vez à Agrishow, sua empresa
realiza trabalhos em Angola, país de Manoel
da Silva, técnico agrícola, também pela
primeira vez na feira. Eles vieram para
conhecer a tecnologia e fazer negócios, pois
80% da tecnologia agrícola produzida no
Brasil atende as necessidades de Angola,
como, por exemplo, trituradores de milho, e
implementos para trato cultural.
sua pequena propriedade não vai pra
frente, segundo ele, os testes de sanidade realizados nos laboratórios do
IAC apontam a presença excessiva de
flúor. A contaminação, de acordo com
sítio. Com um calhamaço de laudos,
ele acionou a empresa várias vezes,
mas até o momento, nenhuma providência foi tomada.
Então, vai um alô para o pessoal da Bunge: Confiram o caso do seu
Raimundo Pereira, lá de Guaíra para
ver se procede. Como vocês sabem,
responsabilidade socioambiental faz
parte do agronegócio. PR
Jaqueline Stamato
Luciana Paiva
em tecnologia o produtor deixa seu
negócio mais eficiente e competitivo.
Por exemplo, com uma balança eletrônica, o pecuarista tem a disposição
muito mais recursos, a começar pela
conexão a computador e impressora
para transmissão e impressão de dados como relatórios e gráficos. Além
de grande versatilidade de uso com
Barras de Pesagem de diferentes ta-
Luciana Paiva
Luciana Paiva
Luciana Paiva
Marilda e o marido Valdir Elias: negócios e
informação
Darci Serrão: o valor da informação
manhos e aplicação em plataformas,
gaiolas e troncos de contenção.
Humberto Santos Pereira, de
Guaíra, SP, aproveitou nossa reportagem para fazer uma reclamação.
Há 12 anos ele tenta ser um produtor rural, mas tudo que planta em
Pereira, é resultado de uma piscina de
flúor que fica em uma área de reposição da Bunge, há 250 metros de seu
O cantor sertanejo Teodoro:
“Para o negócio dar certo é preciso
acompanhar a evolução tecnológica”
Panorama Rural
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73
Paulo Coutinho, técnico agrícola e João Paulo Pastrelo,
produtor de café em Bariri, SP. Os dois são frequentadores
assíduos da feira. Pastrelo já fechou negócio com trator,
mas na maioria das vezes, utiliza a feira para pesquisar e
depois com calma, em casa, define o que vai comprar.
Otávio Leonel, Rubens Leonel e Oswaldo Simões,
produtores de cana e amendoim em Dumont, cidade
próxima a Ribeirão Preto. Todos os anos visitam a feira.
Dessa vez, as compras iam se resumir a mudas de plantas
frutíferas, pois o caixa anda minguado, a produção foi boa,
o problema é o baixo preço da cana e do amendoim.
Alunos do curso técnico de agropecuária de
Uberlândia, MG. Vieram em um grupo de 47 jovens.
É grande e importante a presença de estudantes
universitários e técnicos na Agrishow
Julio Antonio Fontebasso, produtor de uva, caqui e morango em
Jundiaí, SP, vem todo ano na Agrishow, comprou um trator, os
implementos vai comprar de segunda mão. “Uma roçadora nova,
sai por uns R$ 7 mil, reformada sai por R$ 2 mil”, observa
Humberto
Santos
Pereira, de
Guaíra, SP,
reclama da
Bunge
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Panorama Rural
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Produtores rurais de Potirendaba,SP, uma das muitas
caravanas de produtores organizadas pelo Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural no Estado de São Paulo (SENAR/
SP) para visitar a Agrishow
A próxima edição
da Agrishow está agendada
para o período de 26 de abril a
1º de maio de 2010, em Ribeirão Preto
Pierre Yves Refalo/Divulgação
Cultura
A lida do
Rolando Boldrin
comemora 50
anos de carreira
dedicados a
apresentar a
música de todas
as regiões e as
histórias de todas
as pessoas
Sr.Brasil
Da redação
N
o próximo mês de agosto,
em homenagem ao Dia dos
Pais, o artista Rolando Boldrin lançará seu primeiro DVD, um
trabalho especial, pois retratará seus
50 anos de carreira. Boldrin nasceu
em São Joaquim da Barra, interior de
São Paulo, em 1936. “Justamente no
atravanco da época braba da segunda
grande guerra, quando havia até racionamento de açúcar, farinha e automóvel movido a gasogênio. Lembro
da casa de quarto e cozinha de chão
batido, sem fogão a gás, sem geladeira nem rádio”, conta.
É o sétimo filho do seu Amadeu
e de Dona Alzira que chegaram a ter
uma dúzia de filhos. “Doze crianças,
seis homens e seis mulheres, esparramados em ‘riba’ de colchões de palha
de milho com travesseiros de pena de
galinha. E eu acabei sendo o único na
família, por força do destino, encarregado de cantar e contar a minha terra
em verso e prosa desde muito cedo”,
relata. A viola o acompanhava nas
brincadeiras de moleque, assim como
o sonho de se apresentar, de cantar,
de contar histórias e de viver personagens.
Em 1948, formou com seu irmão Leili, a dupla Boy e Formiga.
E se apresentavam em programa de
auditório em São Joaquim da Barra.
“O Boy era eu”, informa Rolando e já
emenda a contar o seu caso. “Onze ho-
ras da manhã, as vozes dos locutores
Lafayette Leandro e Airton Gouveia
se faziam ouvir. – ‘E com vocês...a
dupla de ouro...a dupla que vale
ouro, a dupla que é um verdadeiro...
tesourooooooo: BOY e FORRRRR...
MIGA!’ Era o programa de auditório
de uma hora de duração, com direito
até a jingle do patrocinador e cachê
artístico.”
A fama dos dois meninos de vozes ardidas cresceu tanto que passaram a ser convidados para apresentações em palcos de cinemas de outras
cidades. O Boy, na sua infantilidade
varonil, fazia sua exigência determinante: “O filme da tela tem de ser
brasileiro, senão não canto.”
A ida para a capital – aos 16
Panorama Rural
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75
Cultura
A viola acompanha
Boldrin desde os
tempos de menino
anos, ainda moleque, Boldrin seguiu
para a capital. Relembra que seu pai,
num surpreendente gesto de apoio, tirou do bolso lá dele uma nota de 100
mil réis, entregou ao menino para em
seguida estender as costas da mão direita de mecânico cheirando a gasolina, insinuando um beijo de “benção”.
Ainda, com forças emocionais, recomendou carinhosamente:
- Vá, caboclinho. E muito juízo
por lá.
O desembarque em São Paulo,
foi às 6 horas da madrugada do dia seguinte na barulhenta Estação da Luz.
A procura de um emprego qualquer de
sapateiro, profissão iniciada em São
Joaquim, ou de entregador de roupas
de tinturaria, nas imediações do bairro
da Luz, foi como tinha de ser. A pé.
“E eu...bem, eu como não “sonhava”
outra coisa senão ser um ATOR, continuei perseguindo este destino.”
Enfrentou empregos diferentes
como os de: sapateiro, frentista de
posto de gasolina de bêra de estrada,
auxiliar de armazém na área cerealista de São Paulo, este último emprego
inaugurando a carteira de trabalho
novinha. E depois de muitas idas e
voltas pelo interior, lendo, cantando e
declamando coisas que emocionam...
Foi procurar as emissoras de São
76
Panorama Rural
Junho 2009
Paulo para testes do que
desse e viesse. “Podia ser
de cantor ou ator de novelas de rádio, ou mesmo de
programas humorísticos,
o que, aliás, não faltava.
Nas rádios de São Paulo,
América,
Itapetininga,
Record, em todas elas,
deixava minha voz registrada para teste, e durante meses
aguardava ansiosamente algum retorno de notícia que não veio”, relembra.
Artista profissional – a última
tentativa foi em 1958, na Rádio e TV
Tupi, a pioneira no Brasil, quando,
aos 22 anos, consegue seu primeiro
trabalho de artista profissional: figurante de teleteatros na TV Tupi. Desde então o ator Rolando Boldrin não
parou mais. Foram centenas de atuações em rádios, teleteatros, novelas,
teatros e cinemas. Como ator nunca
se separou do seu violão. Compôs músicas, gravou discos, fez shows e participou dos grandes festivais.
Com o ator e cantador veio então o grande sonho, os musicais na
televisão, que teve início em 1981, na
TV Globo com o Som Brasil (19811982-1983). Rolando seguiu com o
projeto de divulgar a música genuinamente brasileira para a TV Bandeirantes, com o Empório Brasileiro
(1984), para o SBT, com o Empório
Brasil (1989), para a CNT, com a Estação Brasil (1997) e atualmente na
TV Cultura, com o Sr. Brasil, no ar
desde 2005. Programa premiado pela
crítica e querido pelo público.
Boldrin é um divulgador da cultura brasileira. Ao falar com a Panorama Rural, fez questão de deixar
claro que não canta o sertanejo, mas
a música de todas as regiões e as histórias de todas as pessoas. É um ator
que apesar de inúmeros papéis jamais
deixou de representar o próprio personagem, o brasileiro.
O escritor Érico Veríssimo soube como ninguém definir Boldrin: “E
Vendo e Ouvindo este campeiro tão
íntimo da terra e da vida tão iluminado pela sabedoria do coração, você
compreenderá que o homem brasileiro é milagrosamente um só de norte
a sul de leste a oeste, a despeito de
suas distâncias geográficas, um só no
que possui de essencial: a cordialidade, o horror à violência, a capacidade
de dar-se e também de rir da vida dos
outros e de si mesmo.”
Shows – esse artista que mostra os quatro cantos do Brasil vive na
maior metrópole do País há 56 anos.
Vez ou outra visita São Joaquim da
Barra para rever parentes e amigos.
Não tem e nunca teve um pedacinho de terra, algo tão comum
entre os artistas. Seu negócio
é o palco, a viola, a música, a
cultura brasileira. Apresenta-se
pelo País todo, não em grandes
shows, mas, principalmente,
em convenções de empresas e
comemorações. Assim, os inteAs “coisas” do Brasil ficam mais
realçadas com sua interpretação
ressados em contratar esse Sr. Brasil
– um ser rico de esperança, sabedoria, emoção e ritmos – basta contatar
Rolando Boldrin pelos telefones: (11)
4702-9134 ou (11) 4612-4614 (fax).
Não se esqueçam que em agosto será lançado seu primeiro DVD.
“É uma boa opção de presente para
o Dia dos Pais, salienta Boldrin.
Mas nós sabemos que será um pre-
sentão para todo mundo.
E uma vez que essa é uma revista de agronegócios, trazemos um
causo de Boldrin com o enfoque em
avicultura. PR
a
n
a
c
i
r
e
m
A
a
h
A Galin
N
hô Tico era um cumpadi
meu muito querido. Vou
contar um causo muito engraçado com Nhô Tico, Nhá
Tuda (muié dele) e um montão de
galinha! Foi assim:
NHÔ TICO (gritando do
terrreiro) – Nhá Tuda? Vô mudá
de ramo. Vô criá galinha!
NHÁ TUDA (estranhando)
– Uai... nóis já temo criação de
galinha! Lá no nosso galinhêro ta
apinhocado delas. Tem bem umas
50...
NHÔ TICO (explicando) –
Não, Nhá Tuda. O que nóis temo
é galinha brasileira. Umas merdica magrela, ponhando uns ovico
de nada. Tô falando que vô mudá
de ramo pruquê vou criá galinha
americana, que é o que ta fazendo
o japonês. Eles tão tudo podre de
rico. Ocê há de vê só uma coisa.
Nhô Tico diz isso e parte pra
cidade, onde vai buscar a única
galinha americana que seu dinheiro guardado por muito tempo deu
pra comprar.
NHÔ TICO (chegando, carregando debaixo do braço uma
galinha gorda e branca, linda
como uma pluma) –Óia só, Nhá
Tuda! Isso sim é que é galinha.
Ocê vai vê agora a nossa produção.
A galinha era deveras bonita.
Tinha uma crista enorme e vermelha
cor de sangue. Os olhos da dita cuja,
podem acreditar, eram verdes. Galinha pra desfilar.
Nhô Tico, depois de mostrar orgulhosamente a galinha pra mulher
dele, solta a dita cuja no galinheiro,
juntamente com as tais 50 outras galinhas – brasileiras e cada uma mais
depauperada que a outra.
Dizendo a pura verdade, as galinhas de Nhá Tuda eram a vergonha da
nossa raça. Uma estava cambaleando
manquitola, outra se coçando de tanto
piolho, outra com um olho cego. Enfim, uma tristeza.
E ali estava agora, em meio a
esta pocilga, uma raridade americana.
GALINHA AMERICANA (com
nojo, olhando a sujeira) – As senhorras morram aqui? Ahnn? My God!!!
GALINHA 1 (respondendo com
sotaque caipira) – Nóis véve aqui. Por
quê?
GALINHA AMERICANA (sempre com desprezo) – E as senhorras...
porr acaso botam???
GALINHA 1 (sempre encarando a arrogância da forasteira) – De
vez im quando a gente põe um ovo.
Por quê?
GALINHA AMERICANA – E
quanto custarrr um ovo de vocês?
GALINHA 1 (olhando pra
uma cumadi) – Oh cumadi? Quanto
é que tá um ovo nosso no mercado?
GALINHA 2 – Um rear...
mai ô mêno, uai.
GALINHA AMERICANA –
Posso usar um ninho de vocês para
uma demonstraçon?
GALINHA 1 – Pode ocupá o
meu. Se quisé, pode inté morá nele
a vida toda.
A americana se ajeita no
ninho, fecha os olhinhos verdes e
sonha com os States pra depois
de uns 15 minutos sair cantando e
dançando uns passos de balé.
GALINHA AMERICANA –
Cócó dé... cócó dé... Vejam o meu
produto!
Ela aponta para um ovo botado ali e agora, de aproximadamente meio quilo, lindo de se ver.
GALINHA AMERICANA
(com arrogância) – Se um ovo
de vocês custarrr 1 realll, para o
meu ovo vão terr que pagar no mínimo...5 reaisss.
GALINHA 1 (olhando para
a cumadi brasileira) – Oh cumadi!
Vê lá se nóis ia se arrebentá tudo
só pru causa de 4 rear... Sai pra
lá siô!
por Rolando Boldrin
Panorama Rural
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77
Arquivo Mapa
Reinhold Stephanes:
“se a legislação ambiental
for cumprida conforme
estabelecida no documento,
toda a produção brasileira
de alimentos pode ser
comprometida”
Legislação
para inglês ver
A legislação ambiental brasileira, estabelecida no Brasil
na década de 60, se mantém parcialmente atualizada
somente por meio de emendas constitucionais
Ricardo Barbosa
O
Ministro do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, disse durante uma visita à Sociedade Rural Brasileira, que ocorreu no
mês de abril, na cidade de São Paulo, que se a legislação ambiental for
78
Panorama Rural
Junho 2009
cumprida conforme estabelecida no
documento, toda a produção brasileira de alimentos pode ser comprometida, pois a maioria dos produtores não
atende aos critérios estabelecidos pela
lei ambiental.
De acordo com o Ministro, a agricultura brasileira representa quase um
terço dos empregos no Brasil e respon-
de por 100% da divisas em exportações
que o País possui. “A agropecuária
brasileira é um dos setores que tem
sobrevivido melhor à crise econômica
mundial”, diz o ministro. Stephanes salientou que toda e qualquer legislação
ambiental que prejudica diretamente o
produtor rural, não teve a participação
do Ministério da Agricultura.
A legislação ambiental diz que
o dono da terra tem o dever de preservar 20% da propriedade com mata
nativa, mas de acordo com dados do
Ministério da Agricultura, áreas como
topos de morro, várzeas, entre outros,
também são proibidas pela legislação
ambiental, mas, normalmente, são
utilizadas para o cultivo de café, produção de arroz, entre outros. “Foram
criadas muitas restrições com muita racionalidade e pouco equilíbrio,
pois muitos códigos da legislação foram estabelecidos, muitas vezes, por
pressões ideológicas, políticas, ou até
mesmo pressões externas”, diz Stephanes.
Umas das questões abordadas
pelo ministro, é que quando foi criada a atual legislação ambiental, não
foram estudados os impactos que ela
poderia trazer para o País, em termos
econômicos, além de sua impossibilidade prática de utilização. Dados do
Ministério estimam que cerca de 3
milhões de produtores rurais do Brasil
poderão ser prejudicados com a aplicação plena da legislação ambiental.
O mapa da terra – um dos problemas apontados por Stephanes,
A legislação ambiental diz que o dono da terra tem o dever de preservar 20% da propriedade com
mata nativa
quanto à obrigatoriedade do cumprimento das leis ambientais, é quanto
ao pequeno produtor que, na irregularidade, não pode contratar um
profissional que o defenda perante a
lei, pois, segundo ele, muitos proprie-
tários não terão condições de arcar
com as multas que deverão receber,
ou com o pagamento de suas dívidas
que poderá ter, devido à diminuição
de sua produção.
Dados do Mapa revelam que o
Panorama Rural
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79
Brasil tem 150 milhões de hectares,
dos quais 16% são direcionadas às
unidades de conservação, 12% para
as terras indígenas, 22% de reservas
legais e 26% de áreas de preservação
permanente. Somando todas as áreas, resultam 67% do espaço que não
podem ser utilizados para a agropecuária. No entanto, neste estudo não
estão incluídas as áreas indígenas e
quilombolas.
De acordo com o secretário da
Agricultura do Estado de São Paulo,
João Sampaio, com a legislação ambiental, o Estado poderá perder mais
de 3 milhões de hectares. A cana-deaçúcar deverá ser o setor que mais vai
se prejudicar com a vigência da legislação ambiental.
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Panorama Rural
Junho 2009
Luciana Paiva
No Estado paulista, a cana-de-açúcar deverá
ser a cultura que mais vai se prejudicar com
a vigência da legislação ambiental
O secretário aponta que essa
questão deve ser discutida de forma
consciente, sem ideologias e com mais
racionalismo. João Sampaio espera
que produtores, que estejam com uma
situação definida em suas propriedades não sejam penalizados.
O viés ecológico – de acordo
com o secretário de Extrativismo e
Desenvolvimento Rural Sustentável do
Ministério do Meio Ambiente, MMA,
Egon Krakhecke, a questão da legislação ambiental deve ser bem discutida,
porque, segundo ele, a princípio há
um exagero nos números publicados
sobre a disponibilidade de áreas de
preservação ambiental, o que inclui
as áreas de preservação permanente
(APPs).
“Esses números publicados na
mídia não correspondem à realidade”, diz o secretário. Segundo um
levantamento realizado pelo MMA,
houve nos últimos anos uma crescente ocupação agropecuária de áreas de
preservação permanente, onde o desmatamento, principalmente realizado
por meio das queimadas, ainda é o
principal problema do setor. “Temos
133 milhões de hectares em áreas de
preservação, mas somente 30% são
de proteção integral”, comenta.
O secretário acredita que o bom
senso pode conseguir uma harmonia
entre os dois lados. Um exemplo citado por ele é a utilização, por parte dos
produtores, das reservas legais que
podem ser utilizadas pela agricultura,
mas de uma forma sustentável.
“Outro ponto que eu contesto os
dados fornecidos pelo setor agropecuário são as áreas indígenas,
sendo que isso não tem nada a
ver com o nosso trabalho, pois
é uma questão social e não ambiental”, explica.
Brasil sustentável – com
o advento da mecanização e da
tecnologia, o Brasil tornou-se
um dos países de agricultura
mais sustentável do mundo. Um
exemplo disso é a utilização do
sistema de plantio direto utilizado nas lavouras brasileiras,
principalmente as de grãos. O
sistema permite que a terra não
fique exposta às condições climáticas vigentes de uma determinada região. Nos Estados Unidos,
por exemplo, o plantio direto não
é utilizado, pois eles queimam as
folhas secas antes de passar com
as máquinas, isso contribui, logicamente, para a emissão de gases
nocivos ao meio ambiente. PR
Plantio direto de soja
em área de cana:
prática sustentável
Panorama Rural
Junho 2009
81
Sugestões de publicações que não podem faltar na biblioteca
Acrissul – 70 anos de exposições
(Moreli Teixeira Arantes)
m trabalho de pesquisa da
professora e pecuarista, lançado em março deste ano, que
conta detalhes de sete décadas da
história daquela que ainda é uma
das maiores exposições agropecuárias do Centro-Oeste brasileiro: A
Expogrande. Além de relatar fatos,
a autora os contextualiza politicamente. Foram 17 anos de levantamento de dados, incluindo fotos,
documentos, textos ainda escritos a
bico de pena e entrevistas. Contato:
[email protected] e (67)
3345-4200
U
pectos ecológicos
no
surgimento
de pragas
e apresenta métodos
de controle. Dentre
eles estão
as plantas iscas,
rotação
de culturas e inseticidas botânicos. Em suas 256 páginas também
aborda a utilização de animais úteis
ao controle biológico das pragas na
agricultura como ácaros, insetos e
aves. Contato com o autor através do
e-mail: [email protected]
plantada. A obra, em 486 páginas,
relata experiências e resultados de
pesquisas dos autores. A primeira
edição tinha apenas 146 páginas.
O café irrigado hoje ocupa aproximadamente 10% da área total da
cultura no Brasil. O livro aborda
os principais aspectos da cafeicultura irrigada, da escolha da área
aos aspectos da qualidade do café
irrigado. O preço promocional de
lançamento, segundo informa a
Universidade de Uberaba (UNIUBE) é de R$ 50,00, com custos
de envio de R$ 15,00 (impresso
do correio, com seguro). Contato:
[email protected] e (34)
3319-8963.
***
***
Irrigação na Cultura do Café
(Roberto Santinato, André L. T.
Fernandes e Durval R. Fernandes)
sta segunda edição, de 2008,
revisada e ampliada (obra original data de 1996) foi praticamente obrigatória uma vez que a tecnologia de irrigação do café passou,
no período, de
10
mil
hectares
para mais
de
230
mil hectares de área
E
***
Zoologia Agrícola – Manejo
Ecológico de Pragas
(Flávio Roberto Mello Garcia)
bra, em terceira edição, finalizada em 2008, mostra as-
O
IV Encontro Confinamento:
Gestão Técnica e Econômica
(Rogério Coan)
Coan Consultoria disponibiliza um novo livro em sua Loja
Virtual através do site www.coanconsultoria.com.br. Trata-se do livro do “IV Encontro Confinamento: Gestão Técnica e Econômica”,
realizado recentemente na Unesp
de Jaboticabal. A publicação, editada pela Coan em parceria com
a Scot Consultoria, apresenta 243
páginas. Entre os temas abordados
estão: carne bovina (o que o mundo
quer consumir e o que o Brasil pode
produzir até 2020), manipulação
de dietas em confinamento, merca-
A
das pessoas que são do campo ou gostam das coisas da terra
do futuro na prática, confinamento
x semiconfinamento, perspectivas
do mercado de confinamento para
2009, o uso
do confinamento na
recuperação de pastagens, fatores que
influenciam no
desempenho de
animais
em confinamento e manejo sanitário de bovinos confinados.
tras. Os estudos têm mostrado que
ele pode ser explorado comercialmente, mas a divulgação de informações, até então recente, sobre o
potencial de exploração desta oleaginosa ainda é raro.
O exemplar da coleção pode
ser adquirido na Biblioteca ou por
envio postal. Outros títulos já publicados podem ser obtidos pelo
telefone (19) 3429.4140, e-mail:
[email protected] ou pelo site
http://dibd.esalq.usp.br em “Publicações para Venda”.
***
Série Produtor Rural aborda
cultura do Pinhão Manso
série Produtor Rural, editada
pela Divisão de Biblioteca e
Documentação (DIBD), da Escola
Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (USP/ESALQ), acaba de
lançar um novo título. “A cultura do
Pinhão Manso” é o tema do exemplar nº 42 da publicação. A edição
traz desde a classificação botânica,
origem e distribuição geográfica da
planta, passa pelas características
anatômicas e morfológicas e aborda as propriedades medicinais e aspectos de manejo.
Segundo os autores, inicialmente o pinhão manso era apenas
uma planta nativa como tantas ou-
A
***
Pequeno Manual Prático
de Instalações Elétricas em
Atmosferas Explosivas
Associação Brasileira para
Prevenção
de
Explosões
(ABP-Ex) criou uma cartilha em
forma de livreto de bolso com o título “Pequeno Manual Prático de
A
Instalações Elétricas em Atmosferas Explosivas”. A publicação tem
70 paginas, com quatro cores e nele
pode se encontrar as informações
como: o que são, como se formam,
como se tratam, como se instalam,
como se mantém as instalações elétricas em atmosferas explosivas. A
distribuição é gratuita e destinada
aos profissionais das áreas de segurança, seguros, projetos elétricos
e de instrumentação, suprimentos,
montagem, manutenção etc. Basta
solicitar a ABP-Ex. O interessado
deve apenas enviar um envelope
selado, endereçado a seu nome,
contendo seus dados para cadastro, (empresa onde trabalha, cargo, telefone, e-mail) para envio de
futuras edições, pois o Manual será
revisado anualmente. Para mais informações, se necessário entrar em
contato com ABP-Ex pelo e-mail
[email protected] ou telefone (11) 5071-1324.
Chegou a democracia
da engorda?
Itamar Sandoval
Brasil inova
e lança o
confinamento
a pasto sem
volumoso
Na Fazenda Barreiro, pasto sem volumoso e pequena estrutura para alimentação do gado
Ariosto Mesquita (*)
A
inacessibilidade do confinamento de gado para a maioria dos pecuaristas brasileiros pode estar chegando ao fim. As
argumentações de que este sistema
monitorado de engorda na entressafra tem um alto custo e apresenta
grandes riscos também pode estar
com os dias contados. A Escola de
Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade
São Marcos e a empresa de nutrição animal Agrocria, lançaram no
84
Panorama Rural
Maio 2009
último dia 14 de maio o sistema de
engorda batizado como “Confinamento a pasto sem volumoso”. As
três partes garantem que o processo
é inédito no mundo, uma evolução
do sistema de confinamento sem volumoso surgido nos anos 70 nos Estados Unidos e de regular utilização
na Argentina.
A diferença está na possibilidade de deixar os animais a campo
com dieta controlada, e o baixo custo de implantação em função de uma
mínima estrutura exigida. Antecedendo seu lançamento, os experi-
mentos desenvolvidos por pesquisadores comprovaram bons resultados
em ganho de peso, consumo de alimento, conversão alimentar, rendimento e acabamento de carcaça. O
chamado “detalhamento técnico”
deste sistema foi tese de doutorado
do professor Hélio Louredo (UFG),
defendida e aprovada no início deste
ano, após aproximadamente 18 meses de estudos.
“Trata-se de um trabalho de
extensionismo rural, pois estamos
levando uma nova tecnologia de produção e democratizando o seu acesso
para o pecuarista brasileiro”, comenta o professor e pesquisador da UFG.
“Este sistema, no entanto, é viável
apenas para regiões onde se produz
milho a custo adequado”, completa.
Ariosto Mesquita
Prof. Louredo:
“Sistema é viável
apenas para
regiões onde se
produz milho”
Ariosto Mesquita
Castro: “sistema
envolve uma dieta
de oportunidade”
Imprensa especializada –
diante do ineditismo da proposta,
as três frentes de desenvolvimento
do sistema decidiram apresentá-la
nacionalmente. Para isso, reuniram
a imprensa especializada brasileira
na Fazenda Barreiro, em Silvânia,
GO, – distante 55 km de Goiânia –
na manhã do dia 14 de maio. Lá,
detalharam a novidade através de
uma apresentação técnica e também
a campo, para a visualização do resultado do desempenho de evolução
dos animais.
Os bois foram divididos em
grupos que passaram por seis dietas
diferenciadas. Ao final, diante de todos os desempenhos, foi proposta a
adoção do sistema de confinamento
a pasto sem volumoso com dieta a
base de 85% de milho grão inteiro
e 15% de núcleo protéico-mineral-
vitamínico peletizado. De
acordo com o doutor em
Ciência Animal e Pastagem
pela Esalq/USP e gerente
de produtos da Agrocria,
Flávio Geraldo Ferreira Castro, esta
mistura evita que o consumo exclusivo do milho, que é rico em amido,
provoque a queda do pH ruminal,
provocando diarréia, indisposição e
perda de peso nos animais.
Dieta de milho inteiro e núcleo protéico peletizado – a pesquisa, no entanto, constatou que
uma mudança abrupta na dieta dos
animais na adoção de um sistema
tradicional de confinamento em currais gerava um choque alimentar,
prejudicando a engorda. A partir
daí surgiu a idéia de se manter os
animais a pasto permitindo o acesso tanto à ração quanto a volumoso (capim) durante os 15 primeiros
dias de confinamento. Após este período o gado continua a pasto (mas
sem volumoso) e passa a se alimentar exclusivamente a base da dieta
com milho inteiro e núcleo protéico
peletizado.
A adaptação à dieta é um dos
segredos dos bons resultados deste
novo programa de engorda. A oferta
do composto de milho e núcleo protéico deve ser gradual. “Inicialmente, oferecemos a dieta na proporção
de 1,2% do peso vivo do animal;
com ajustes mediante a observação
diária do cocho, durante 15 dias,
chegamos ao índice de 2% de oferta
diária de dieta por peso vivo”, explica Castro.
Este sistema foi considerado
pelos pesquisadores o mais funcional com bons resultados diante de
um baixo custo de investimento por
parte do proprietário rural. “Os animais apresentam bom acabamento
de carcaça – média de 3,9 mm de
espessura de gordura subcutânea
-, baixo consumo, ganhos médios e
alta conversão alimentar”, garante
Ariosto Mesquita
Dieta: 85% de milho grão inteiro e 15% de núcleo protéico peletizado
Panorama Rural
Maio 2009
85
R$ 57,00 – mostrou-se altamente
rentável. “No entanto, quero lembrar que é durante a entressafra que
o preço da arroba sempre melhora”,
frisou.
Baixo investimento – Coutinho considera que a partir de agora
o pecuarista brasileiro ganha acesso
a um sistema de engorda em contraposição a uma estrutura que até então apresentava riscos e demandava
alto investimento. “No confinamento a pasto sem volumoso há uma
baixa necessidade de instalações, de
equipamentos e de mão-de-obra; por
isso entendemos que estamos democratizando o acesso ao confinamento no Brasil, abrindo as portas para
grandes, médios e pequenos pecuaristas”, garante.
Esta nova alternativa de confinamento busca também eliminar um
outro problema de investimento do
pecuarista: a necessidade de iniciar
a atividade um ano antes do confinamento propriamente dito. Isso
acontece em função da obrigatoriedade de se produzir volumoso na
propriedade. “Em um confinamento convencional um rebanho de mil
bois provoca investimento próximo
de 50 hectares de lavoura”, lembra
Coutinho.
Castro aponta mais outros núItamar Sandoval
Castro. Segundo ele, para ganhar
uma arroba o animal consome uma
média de 113 kg de milho inteiro,
contra 122,4 kg e 137,3 kg de outros grãos e compostos testados em
outras dietas. “O boi entra com 10
arrobas e sai com 18 arrobas 100
dias depois”, afirma o gerente de
produtos da Agrocria.
40 bois por hectare – a grande diferença estrutural desta nova
proposta brasileira sobre o semiconfinamento tradicional é exatamente o volume de animal por área.
“Enquanto este acomoda um animal
por hectare, conseguimos alocar 40
bois em cada hectare de terra, além
de atingir o dobro de ganho de peso
do semi-confinamento”, ressalta
o veterinário, diretor comercial e
proprietário da Agrocria, Ricardo
Scartezini Azeredo Coutinho. Ele
também garante que a dieta suporta oscilações no preço do milho e da
carcaça bovina.
Castro confirma, mas mantém
cautela: “trata-se de uma dieta de
oportunidade onde se deve levar em
conta o preço do milho e da arroba”. Diante de um quadro de preço
baixo ou médio para o milho e de um
valor para a arroba na faixa de R$
70,00, o custo de produção de 15
quilos/boi - que ficou na média de
É uma dieta de
oportunidade
onde se deve
levar em conta o
preço do milho e
da arroba
Ariosto Mesquita
Coutinho: “estamos democratizando o
acesso ao confinamento no Brasil”
meros importantes: o ganho médio
diário de 1,4 kg e rendimento médio de carcaça de 55% com apenas
dois tratos diários e um consumo de
8,5kg/cabeça/dia. Para o investimento em estrutura de alimentação
no pasto, o gerente da Agrocria garante: “para montar a estrutura de
cocho o pecuarista vai dispor de algo
em torno de R$ 5,00 por cabeça”.
Os técnicos das universidades
envolvidas no desenvolvimento deste
sistema, assim como a Agrocria, garantem que esta modalidade de confinamento está plenamente adaptada às condições do Brasil Central.
No entanto, as distâncias geográficas ainda dificultarão o acesso de
alguns pecuaristas brasileiros à correta formulação alimentar desenvolvida pela pesquisa.
O núcleo protéico – componente da dieta – é produzido pela
Agrocria em Goiânia, GO e Cuiabá,
MT. Para este ano a empresa garante
ter condições de atender até 50 mil
bois em cada uma das duas fábricas.
O atendimento é limitado ainda a um
raio de 200 km das duas capitais. PR
(*) Viajou à Silvânia, GO,
a convite da Agrocria.
86
Panorama Rural
Maio 2009
Vipal fecha parceria com a Fate e
entra para o mercado de pneus
A parceria prevê a comercialização no País da
linha completa da Fate: passeio, carga e agrícola
Pneu FateCargo DR400
P
ioneira na tecnologia de vulcanização a frio no Brasil,
a Vipal, uma das principias
marcas mundiais de produtos para
reforma de pneus, irá atuar também
no mercado de pneus novos.
A partir de um acordo com a
marca Fate será distribuidora dos
pneus argentinos no Brasil. Principal produtora e exportadora de
pneus da Argentina, a empresa reúne 1600 colaboradores em sua
planta em San Fernando, província
de Buenos Aires, onde produz pneus
para automóveis, caminhonetes,
ônibus, caminhões, tratores, entre
outros veículos. Desde 1970 a Fate
fornece pneus para as principais
montadoras de automóveis e caminhões do mundo.
A parceria prevê a comercialização no País da linha completa da
Fate: passeio, carga e agrícola.
Com a utilização da rede de
distribuição da Vipal, juntas as
marcas serão responsáveis por uma
ampla rede de comercialização de
pneus do Mercosul.
Garantia estendida e exclusiva – quando reformados pela Vipal,
os pneus Fate passam a contar com
a Reforma Qualificada e Garantida
(RQG). E mais, a Vipal , especialista em reforma e conhecedora da
performance das diversas marcas
de pneus em todas as suas “vidas”,
avaliza o pneu Fate através de uma
garantia exclusiva e diferenciada,
com valor de reposição do pneu reformado 20% superior ao oferecido
às demais marcas de pneu. Trata-se
do “RQG +20”.
O Sistema RQG consiste em
um compromisso desenvolvido em
parceria com sua rede composta por
mais de 230 Reformadores Autorizados espalhados por todo o Brasil e
outros 54 em 14 países da América
Latina. “Graças à condição técnica
diferenciada dos nossos Reformadores Autorizados, asseguramos a
reposição imediata em caso de falha de produto ou de processo, tanto
para reformas a frio ou a quente,
cobrindo a maioria dos pneus radiais e convencionais disponíveis no
mercado. Garantimos não somente
a reforma, mas também a carcaça.
No caso da garantia da reforma dos
pneus Fate, o valor da reposição
ficou 20% maior ”, explica João
Carlos Paludo, Presidente da Borrachas Vipal.
“Através dessa parceria com
a Fate, passamos a oferecer aos
transportadores brasileiros uma
solução completa em termos de
pneus, dos produtos para consertos
de pneus até as soluções para reforma, passando pela oferta do pneu
novo”, afirma João Carlos.
A oferta integrada da solução
“pneu novo Fate” com a “reforma
Vipal” vai contar com o suporte
técnico às frotas da equipe Vipal e
de sua Rede de Reformadores Autorizados.
A Vipal disponibilizou o
0800-7070-234 para atendimento
relativo aos pneus Fate. PR
Pneu FateCargo SR200
Panorama Rural
Maio 2009
87
Serrarias portáteis trazem
soluções eficientes e práticas
Lucas Mill apresentou na Agrishow sua linha de serrarias
A
Lucas Mill Brasil esteve presente na Agrishow
2009, realizada de 27 de
abril a 2 de maio em Ribeirão Preto,
SP, e apresentou os seus três tipos
de serrarias portáteis:
- Lucas Mill, que são serras
de disco recomendada para madeira dura e grossa, apresenta três
modelos, o 614, o 618 e o 830. A
614 possui a capacidade de serrar
de dois a quatro metros cúbicos de
madeira por dia e o investimento no
maquinário é de R$ 26.900,00. A
618 serra de três a seis metros cúbicos de madeira por dia e o seu valor
é de R$ 34.400,00. Esses dois modelos tiram a bitola (peça) máxima
de 16 cm x 16 cm. O maior modelo da linha Lucas Mill é o 830, e é
também o mais vendido no Brasil. O
modelo 830 serra bitola de 21,5 cm
x 21,5 cm e custa R$ 48.000,00.
- Serra Flex trata-se de uma
motoserra destinada a produtores
de baixo volume de madeira. A linha Norwood – serras de fita são
destinadas a produtores de madeira
fina e não tão densa, como madeira
de pinos e alguns tipos de eucalipto.
- Ecoserra flex, uma serraria
de baixo custo (R$ 1.650,00) indicada para serrar pouca madeira,
pois do contrário sua economicidade
não seria viável. A linha de serraria
Norwood - Serra de fita possui dois
modelos, a Lumber Lite, exposta
88
Panorama Rural
Maio 2009
Divulgação
Equipe da Lucas Mill na Agrishow 2009
na Agrishow e a Lumber Mate. A
Lumber Lite possui um porte menor
e custa R$ 17.200,00, enquanto a
Lumber Mate com motor de 13 cavalos custa R$ 25.200,00 ou R$
29.200,00 com motor de 23 cavalos.
De acordo com a sócia-gerente
da Lucas Mill Brasil, Heide Seidler,
a vantagem da serraria portátil é que
com a serraria na propriedade não é
preciso transportar a tora da madeira até a cidade para ser serrada. “A
serraria portátil vai até onde a tora
está, o que traz para o produtor uma
economia de tempo e dinheiro, pois
se a madeira é levada para a serraria
na cidade há o custo de transporte e
também da terceirização do serviço,
e dependendo do negócio feito entre
as partes a serraria ainda fica com a
melhor parte da madeira”, argumenta Seidler. Além disso, as serrarias
portáteis se pagam relativamente
rápido de acordo com o destino que
é dado à madeira. PR
GTS lança colhedora modelo
Flexer FD70 na Bahia Farm Show
nos perda de grãos. “Essa máquina
colhe plantas tombadas, trabalha em
qualquer horário e tempo, possui plataformas flutuáveis, mede 12 metros
de comprimento em peça única (ou
40 pés) e pesa 2.650 quilos.”
Outro importante diferencial
é o sistema de recolhimento por esteiras ao invés de caracol como das
plataformas convencionais o que permite que o fluxo do material cortado
para a área central da colhedora seja
suave e contínuo, evitando o acúmulo
e ‘embuchamento’ (triângulo morto). “Essa máquina lambe o chão e
colhe quase 89,7 hectares de grãos
por dia em quase 12 horas”, salienta
Zanchetta. A tecnologia Flexer opera com desempenho satisfatório em
diversos tipos de relevos. PR
Lateral da
Plataforma
Flexer FD70:
menor perda
de grãos
Divulgação
A
GTS do Brasil, com sede
em Lages, SC, participará de 02 a 06 de junho, da
Bahia Farm Show – Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios, em Luís
Eduardo Magalhães – BA. Claudecir José Zanchetta, responsável pela
área de exportação, informou que a
empresa lançará na feira a colhedora de soja, feijão, sorgo, trigo e canola, modelo Flexer FD70.
Os diferenciais dessa Plataforma Flexer, segundo Zanchetta, são
praticidade e rendimento no seu dia
a dia, economia de combustível e me-
Panther Precision
Vence Tudo lança na Agrishow 2009 a primeira plantadora no mercado que faz
aplicação de adubos a taxa variável em dois reservatórios - Fósforo e Potássio
A
Indústria de Implementos Agrícolas Vence Tudo, da cidade
de Ibirubá, no RS, foi responsável por uma das atrações da
Agrishow 2009, realizada de 27 de abril a 2 de maio em Ribeirão Preto, SP, a empresa lançou a plantadora Panther Precision. De
acordo com o coordenador do departamento de Agricultura de Precisão, Ismael L. Mari, a
plantadora da Vence
Tudo, Panther Precision, é a primeira no
mercado que faz aplicação de adubos a taxa
variável em dois reservatórios (Fósforo e Potássio), vindo a ser uma
grande ferramenta para
agricultores que buscam
na tecnologia formas de
aumentar sua produção
reduzindo custos.
na feira
nção do público
De acordo com Is- A plantadora chamou a ate
mael, existem vários trabalhos de pesquisas que somam positivamente à questão da adubação
no sulco por Taxa Variável, com um maior aproveitamento do fertilizante pela planta, deixando-a com um sistema radicular mais profundo
e resistente a estiagens prolongadas.
Ismael salienta que a Panther Precision é uma máquina pantográfica versátil que pode vir nas configurações de 6 a 16 linhas para
grãos grossos e que se no momento o agricultor ainda não possui toda
as áreas mapeadas pode trabalhar com a regulagem digital instantânea de sementes e adubo.
Fotos: Divulgaçã
o
Panther Precisio
n: lançada na Ag
rishow 2009
Novo ritmo no MS
No Estado, sistema
já representa 9% do
PIB, cresceu 18%
em 2008, tem o forte
no agronegócio,
ainda ‘ignora’ a crise,
mas não convence a
pecuária de corte
MS ainda não abriga nenhuma cooperativa de pecuária bovina de corte para abate
Ariosto Mesquita
S
urgido em Minas Gerais no
início do século passado e
forte no Sudeste, sobretudo,
na Região Sul do Brasil, o cooperativismo agropecuário começa a
deslanchar no Centro-Oeste, fundamentalmente como uma ferramenta
para eficiência produtiva e ampliação de mercado. Um dos exemplos é
o Mato Grosso do Sul. Das suas 102
cooperativas filiadas à OCB, 49%
são voltadas às atividades agrícola e
pecuária. O setor cooperativista vem
ampliando sua participação na economia regional. No início da década
representava 7% do PIB estadual;
este índice agora é de 9% (a média
nacional é de 6%) e a previsão é de
que atinja 12% dentro dos próximos
10 anos. Além disso, o faturamento
90
Panorama Rural
Maio 2009
médio das cooperativas do Estado
cresceu 18% em 2008, mesmo índice médio do Centro-Oeste, conforme
dados da Organização das Cooperativas Brasileiras no MS (OCB/MS).
No entanto, uma pedrinha no
sapato ainda incomoda os cooperativistas sul-mato-grossenses. Um
dos maiores produtores de carne
do Brasil – juntamente com Mato
Grosso – o Estado ainda não abriga nenhuma cooperativa de pecuária bovina de corte para abate,
processamento e comercialização.
“Enquanto o sistema cooperativo é
responsável hoje por 80% do algodão, 40% da soja e 50% do milho
produzidos e comercializados no
Mato Grosso do Sul, este índice é
zero na bovinocultura de corte”, revela o presidente da OCB/MS, Celso
Ramos Régis.
“O criador de gado para corte
olha o vizinho de cerca como concorrente e não como possível parceiro; e de certa forma é até natural,
pois enquanto o pequeno produtor
de leite precisa da produção do vizinho para que a coleta por caminhão
seja viável na região, o frigorífico
vai buscar o boi na propriedade do
criador, independente de outra fazenda”, compara.
A preocupação ganha legitimidade maior diante do quadro recente de suspensão de abates, fechamento de indústrias frigoríficas e
“calotes” a pecuaristas registrados
em vários estados brasileiros e com
forte grau no Mato Grosso do Sul.
Excetuando a bovinocultura
de corte, a OCB/MS tem como filiadas 25 cooperativas agrícolas, quatro de piscicultura, três de avicultu-
ra, 12 de pecuária leiteira, quatro
de suinocultura e duas de estrutiocultura. “Estamos tentando viabilizar uma parceria com a Embrapa
Gado de Corte para tentar reverter
esta situação e mostrar as vantagens do sistema cooperativo, principalmente para processamento e
comercialização do gado produzido
pelos pecuaristas”, revela Régis. A
idéia, segundo ele, é trabalhar para
a estruturação de uma unidade processadora que seria administrada
por uma futura cooperativa de criadores. Esta possibilidade também é
vislumbrada pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura
(CNA), senadora Kátia Abreu que,
viajando pelo País, vem defendendo
a implantação, por produtores, de
indústrias cooperadas, administradas por executivos competentes e de
confiança.
Para o vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária
do Mato Grosso do Sul (Famasul),
Eduardo Riedel, o problema é muito
mais do que cultural e extrapola o
Mato Grosso do Sul. “É uma ques-
Celso Ramos Régis: “índice é zero na bovinocultura de corte”
tão também histórica e que envolve a estrutura fundiária brasileira
além das características da própria
cadeia produtiva”, garante. Ele
admite os benefícios que o sistema
cooperativo pode trazer à bovinocultura de corte, mas faz um alerta: “o
meio ainda não ajuda; alguns elos,
por exemplo, têm características sonegadoras que não atendem o perfil
de uma estrutura de cooperativa que
Riedel:
“o meio ainda não ajuda”
pressupõe transparência e equilíbrio
aos envolvidos”.
Riedel considera que somente
uma nova e forte estrutura poderia
romper com o que hoje está estabelecido. “Temos exemplo de atividade cooperativada no processamento
e comercialização da bovinocultura
de corte no Brasil, mas boa parte ainda está no vermelho; somente muita organização pode romper
isso”, alerta.
Números crescentes – mas
independente do ainda fraco envolvimento da pecuária bovina de corte, alguns números mostram que o
cooperativismo tende a ampliar sua
participação no agronegócio. O setor, inclusive, parece que ainda não
sentiu – como outros – os efeitos da
crise financeira mundial. Em recente balanço relativo ao ano de 2008,
o presidente da OCB Brasil, Márcio
Lopes de Freitas, mostrou que as cooperativas filiadas registraram um
faturamento de R$ 83 bilhões, um
crescimento de 15% sobre os R$ 72
bilhões de 2007. O faturamento do
Centro-Oeste foi de R$ 6,41 bilhões.
Panorama Rural
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Cooperativa abasteceu Festa do
Peixe 2009 em Dourados, MS...
A OCB fechou 2008 com 7.672 cooperativas filiadas e 7.687.568 produtores associados.
O governo federal também
tremula a bandeira do cooperativismo aliado a uma concorrência
leal como alternativa mais segura
ao setor agropecuário. “Produtores
brasileiros devem competir e cooperar ao mesmo tempo”, declarou em
fevereiro, em Maracaju, MS, o ministro Extraordinário para Assuntos
Estratégicos, Roberto Mangabeira
Unger.
E, ao que tudo indica, a atividade no Mato Grosso do Sul vai sentir os efeitos da crise de forma bem
mais amena do que se esperava. A
OCB/MS não vem percebendo retração nos primeiros meses de 2009,
ao contrário. “Estamos detectando
maior demanda pela atividade cooperada neste ano, mesmo com esta
crise financeira, até pelo fato de
que diante desta retração mundial o
cooperativismo é uma das soluções
para melhor estabilidade na atividade econômica; esperamos manter
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o mesmo índice de crescimento de
2008”, aposta Régis.
Setor de Grãos o mais atuante – o índice de participação no
PIB estadual de 9% garante ao cooperativismo sul-mato-grossense,
segundo o presidente da OCB/MS, a
presença na lista dos cinco Estados
com maior arrecadação média em
relação ao desempenho da economia
geral. “Mas ainda temos de evoluir muito, principalmente o Brasil
como um todo, pois a média mundial
na participação do PIB é de 21%”,
afirma.
O setor de grãos, de longe, é
o mais atuante no cooperativismo
sul-mato-grossense, mas outros seguimentos vão se estruturando. “Só
no ano passado, por exemplo, foram
organizadas três cooperativas de
caminhoneiros para o transporte de
produção agrícola, sobretudo de cana-de-açúcar, o que se explica pelo
franco crescimento da atividade sucroalcooleira por aqui”, revela.
Todo este bom desempenho, no
entanto, não faz esquecer o baque
provocado em todo o sistema pela
...e comercializou 29 toneladas de pescado direto ao consumidor
crise – financeira e de gestão - da
segunda maior cooperativa agropecuária do Centro-Oeste e a sétima
(até 2007) no ranking das maiores
exportadoras do Brasil. Em 2008, a
Cooperativa Agropecuária e Industrial - Cooagri -, com sede em Dourados, MS, se viu no fundo do poço,
sem crédito no mercado e com dívidas de R$ 220 milhões a curto prazo. A situação só se amenizou quando a multinacional norte-americana
Archer Daniels Midland Company
(ADM) assumiu o gerenciamento
das 17 unidades da cooperativa em
fevereiro deste ano. Régis, no entanto, lembra: “o problema vem desde
o surgimento da Cooagri no início
dos anos 90, quando herdou um
passivo da gaúcha Cotrijuí, de onde
nasceu”. Este passivo, na época, seria de US$ 12 milhões.
Piscicultura – mas outros setores vão dando bons exemplos. Outra
atividade cooperativada de destaque
no Mato Grosso do Sul é a piscicultura. Cooperativas nos municípios de
Dourados e Mundo Novo estão próximas às regiões consideradas integrantes de um novo pólo de produção
de peixe de cultivo no Brasil e já são
referência no Centro-Oeste.
O vice-presidente da Cooperativa de Aquicultores do Mato Grosso
do Sul (MSPeixe), Ademar Ferreira,
evita falar em faturamento ou mesmo
em volume total de produção dos cooperativados, mas não esconde o otimismo com a atividade: “não temos
notado, como produtores de pescado,
nenhum sinal de crise por aqui, muito pelo contrário; alguns piscicultores que também trabalham com gado
de corte e agricultura nos dizem que
nos últimos anos o que tem salvado a
situação é o cultivo de peixe”.
A cooperativa reúne 41 piscicultores
A cooperativa reúne 41 piscicultores, a maioria pequenos produtores, atende ao mercado sul-matogrossense e abastece laboratórios
que vendem alevinos para todo o
Brasil. Além de investimentos em
estrutura logística, treinamentos e
qualificação de cooperativados, a
MSPeixe se prepara para construir
– com recursos do Governo Federal – o seu entreposto de peixe em
um terreno de 42 mil m² doado pela
Prefeitura de Dourados
A integração com a sociedade
também é política da MSPeixe. Há
seis anos é parceira na realização
da Festa do Peixe de Dourados. Na
sexta edição, em abril deste ano, a
cooperativa comercializou 28 toneladas de peixe vivo diretamente ao
consumidor. Além disso, promoveu
competições de pesca e “escondeu” em cada uma de 10 unidades
premiadas de pacu, um vale de R$
200,00. “Foi um sucesso total”,
afirma Ferreira. PR
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Eventos
Universidade de Viçosa realiza
a 80ª Semana do Fazendeiro
R
uralistas de diversas regiões do
país são esperados em Viçosa, no período de 12 a 17 de julho de
2009, para a realização
da 80ª Semana do Fazendeiro, que terá como tema
central “80 Anos de Diálogo com o Campo”. Coordenado pela Pró-Reitoria
de Extensão e Cultura, o
evento é uma oportunidade
de oferecer conhecimentos
da ciência e tecnologias relacionadas com o agronegócio. Estão programados
Exposição de máquinas e implementos agrícolas durante Semana do Fazendeiro
vários cursos de curta ducada de 20, a Semana do Fazendeiração, com extenso leque de opções.
compartilhar os resultados de suas
ro tem sido utilizada pela UFV para
Realizada desde o final da déatividades de ensino, pesquisa e extensão, contribuindo para o desenvolvimento do agronegócio e para o
bem-estar social do produtor rural e
de sua família. Durante o evento, são
promovidas exposição de máquinas
e implementos agrícolas, exposição
de artesanato, atividades de lazer e
variada programação cultural.
Poderão se inscrever na Semana do Fazendeiro produtores rurais
acima de 18 anos, interessados em
adquirir conhecimentos técnicos nas
áreas temáticas dos cursos e obter
consultoria técnica e tecnológica
prestada por especialistas na Clínica Tecnológica. A inscrição também é aberta aos familiares diretos
dos produtores rurais, até segundo
Durante a semana são realizados diversos cursos de curta duração
grau, trabalhadores do setor agro94
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Eventos
pecuário, estudantes de escolas agrotécnicas (filhos
de produtores rurais e, ou,
menores aprendizes do meio
rural), acima de 16 anos
ou a completar até julho de
2009, mediante comprovação documental.
Informações mais detalhadas poderão ser obtidas
pelos telefones (31) 38991701/2156 e pelos endereços www.ufv.br e [email protected] PR
Cursos de produção de
doces, como alternativa para
diversificação de renda, também
fazem parte da programação
Especialistas do Brasil e do exterior
debatem geração de energia a partir
de resíduos agrícolas
E
specialistas de quatro países e de diversas instituições de pesquisa do Brasil estarão presentes
no IV Seminário Nacional de Gestão de Resíduos e no I Seminário Internacional de Sustentabilidade Energética, cuja temática é Tecnologias Ambientais:
Energia Renovável a partir de Biomassa e Resíduos
Agrícolas. O evento acontece no auditório do CREA, em
Belo Horizonte, MG, nos dias 23 e 24 de julho.
A questão dos resíduos agrícolas e as possibilidades de aproveitamento para a produção de energia renovável têm se transformado em um tema sobre o qual
pesquisadores se debruçam, buscando soluções que contribuam para a matriz energética nacional. O Seminário
vai contribuir para esse debate, reunindo pesquisadores
e cientistas de organizações nacionais e internacionais.
As Câmaras de Comércio Brasil-Estados Unidos e
Brasil-Alemanha, as universidades de Viçosa (UFV/Brasil) e de Bornim, Alemanha, além da Associação Mineira
de Municípios (AMM), o Canal Rural e a Ruralminas
apóiam esse seminário.
As inscrições são limitadas e começam no dia 30 de
março. Outras informações podem ser obtidas através do
site do evento: www.institutobrasil.com/bioenergia. PR
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Feiras & Exposições
IV Frutal Amazônia e
IX Flor Pará
Local: Hangar - Centro de Convenções e
Feiras da Amazônia – Belém, PA
Data: 25 a 28 de junho de 2009
Contato: (91) 4006-1260 e
[email protected]
Hortitec 2009 – Exposição
Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas
Local: Holambra, SP
Data: 10 a 12 de junho de 2009
Contato: (19) 3802-4196 e
www.hortitec.com.br
Bahia Farm Show 2009
Local: Luis Eduardo Magalhães, BA
Data: 02 a 06 de junho de 2009
Contato: (71) 3379-1777 e
www.bahiafarmshow.com.br
Feicorte 2009 – 15ª Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne
Local: Centro de Exposições Imigrantes –
São Paulo, SP
Data: 16 a 20 de junho de 2009
Contato: (11) 5067-6767 e
[email protected]
12ª Expocachaça – Feira e Festival Internacional da Cachaça
Local: Expominas – Pavilhões 2 e 3 –
Belo Horizonte, MG
Data: 04 a 07 de junho de 2009
Contato: (31) 3284-6315 e
[email protected]
6ª Megaleite – Exposição Brasileira do Agronegócio do Leite
Local: Parque Fernando Costa – Uberaba, MG
Data: 29 de junho a 05 de julho de 2009
Contato: (34) 3331-6000 e
[email protected]
Brazil Ethanol Trade Show
2009 – Feira Internacional de
Tecnologia para a Produção
de Etanol
Local: WTC Golden Hall – São Paulo, SP
Data: 01 a 03 de junho de 2009
Contato: [email protected]
Eco Bahia 2009 – Feira de
Educação Ambiental
Local: Estádio do Pituaçu – Salvador, BA
Data: 03 a 06 de junho de 2009
Contato: delfim@feirabrasilpetroleoegas
.com.br
Feira da Indústria Comércio e
Serviços de Bento Gonçalves
Local: CIC – Bento Gonçalves, RS
fale com o editor:
[email protected]
Data: 04 a 14 de junho de 2009
Contato: [email protected]
Femap 2009 – Feira da Tecnologia Moveleira
Local: Pavilhão do Horto Florestal – Ubá,
MG
Data: 16 a 19 de junho de 2009
Contato: [email protected]
R Energy 2009 – Expo Internacional de Energias Renováveis
Local: São Paulo, SP
Data: 17 a 19 de junho de 2009
Contato: [email protected]
Ambiental Expo 2009 – Feira Internacional de Soluções
para Saneamento e Meio Ambiente
Local: Anhembi – São Paulo, SP
Data: 30 de junho a 02 de julho de 2009
Contato: daniel.zanetti@reedalcantara.
com.br
Expocafé 2009
Local: Três Pontas, MG
Data: 17 a 19 de junho de 2009
Contato: (35) 3829-1674 e expocafe@
ufla.br
Eventos & Leilões
1º Seminário de Aquicultura
do Estado do Amapá
Contato: (51) 3594-7000 e opiniao@
opiniaomagazine.com.br
Local: Auditório da UEAP – Macapá, AP
Data: 09 e 10 de junho de 2009
Contato: (96) 4009-9550 e aqü[email protected]
VI Simpósio de Pesquisa dos
Cafés do Brasil
Congresso Nacional de
Aviação Agrícola 2009
Local: Hotel Fazenda mato Grosso e Estância Santa Rica – Cuiabá, MT
Data: 17 a 19 de junho de 2009
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Panorama Rural
Junho 2009
Local: Centro de Convenções de Vitória,
ES
Data: 02 a 05 de junho de 2009
4º Congresso Internacional
de Bioenergia
1º Congresso Brasileiro de
Geração Distribuída e Energias Renováveis
BIO Tech Fair 2009 - 2ª Feira
Internacional de Tecnologia
em Bioenergia e Biocombustível
Local: Expotrade Convention Center – Pinhais, PR (Região Metropolitana de Curitiba)
Data: 16 a 19 de junho de 2009
Contato: (41) 3072-3131
Eventos & Leilões
1º Congresso Brasileiro sobre
Florestas Energéticas
Contato: (85) 3535-8000 e [email protected]
Local: Expominas – Belo Horizonte, MG
Data: 02 a 05 de junho de 2009
Contato: (43) 3025-5223 e [email protected]
10ª Encontro de Plantio Direto no Cerrado
Simtec 2009 – Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira
Local: Engenho Central – Piracicaba, SP
Data: 30 de junho a 03 de julho de 2009
Contato: (19) 3417-8604 e [email protected]
PecNordeste – XIII Seminário
Nordestino de Pecuária
Local: Centro de Convenções do Ceará –
Fortaleza, CE
Data: 15 a 18 de junho de 2009
Local: Salão de Eventos da Unigran –
Dourados, MS
Data: 14 a 26 de junho de 2009
Contato: (67) 3416-9739 e [email protected]
4º Prêmio Emater/MG de
Criatividade Rural
Participantes: agricultores e pecuaristas
(pessoas físicas) do Estado de Minas Gerais
Inscrições: 30 de março a 31 de julho de
2009
Informações: (31) 3349-8273 e [email protected]
Regulamento pelo site: www.emater.
mg.gov.br
fale com o editor:
[email protected]
Leilão Virtual Fazendas Paulistas
Oferta: vacas, novilhas e bezerras Girolando
Cidade: Guaiçara, SP
Data: 07 de junho de 2009
Horário: 20 horas
Transmissão: Agrocanal
Leilão Virtual Fazenda Primavera
Oferta: fêmeas Girolando
Cidade: Avaré, SP
Data: 07 de junho de 2009
Horário: 15 horas
Transmissão: Agrocanal
Leilão Virtual Fazenda Bom
Retiro
Oferta: vacas em lactação e novilhas prenhas Girolando
Eventos & Leilões
Cidade: Pedranópolis, SP
Data: 07 de junho de 2009
Horário: 11 horas
Transmissão: Agrocanal
Leilão Puro Leite
Oferta: fêmeas Girolando
Cidade: São Gonçalo do Sapucaí, MG
Data: 11 de junho de 2009
Horário: 14 horas
Transmissão: Agrocanal
2º Leilão Virtual Fazenda Vila
Rica
Oferta: vacas, novilhas e bezerras Girolando
Cidade: Cocalzinho de Goiás, GO
Data: 22 de junho de 2009
Horário: 20 horas
Transmissão: Agrocanal
2º Leilão Inconfidência
Oferta: Santa Inês
Local: Restaurante La Vitória – Belo Horizonte, MG
Data: 04 de junho de 2009
Horário: 21h30min
Transmissão: TerraViva
Informações: (87) 9114-0546
10º Leilão Virtual Tradição &
Inovação
Oferta: Santa Inês
Data: 09 de junho de 2009
Horário: 21 horas
Transmissão: TerraViva
Contato: (87) 9114-0546
1º Leilão Terra dos Inhamuns
Baby
Oferta: Santa Inês, Dorper, Anglonubiano e Bôer
Local: Parque de Exposições de Tauá, CE
Data: 12 de junho de 2009
Horário: 20 horas
3º Leilão Terra dos Inhamuns
Oferta: Santa Inês, Dorper, Anglonubiano e Bôer
Local: Parque de Exposições de Tauá, CE
Data: 13 de junho de 2009
Horário: 21 horas
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Transmissão: TerraViva
3º Leilão Virtual 3 Ases e 1
Curinga
Oferta: Santa Inês, Bôer e Dorper
Data: 14 de junho de 2009
Horário: 21 horas
Transmissão: TerraViva
Contato: (83) 9941-5649
6º Leilão Virtual Cabanha
Caretta
Oferta: Dorper
Data: 21 de junho de 2009
Horário: 21 horas
Transmissão: TerraViva
Contato: (15) 9107-7539
1º Leilão Virtual Parceiros do
Sim
Oferta: Santa Inês
Data: 23 de junho de 2009
Horário: 21 horas
Transmissão: TerraViva
Contato: (87) 9114-0546
2º. Leilão Natal Quarter Horse
Oferta: Quarto de Milha
Local: Parque de Exposições Aristófanes
Fernandes – Parnamirim, RN
Data: 27 de junho de 2009
Horário: 14 horas
Transmissão: Agrocanal
Leilão de Corte
Oferta: gado cria, recria e engorda
Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad
– S. J. Rio Preto, SP
Data: 04 de junho de 2009
Horário: 18 horas
Leilão de Corte
Oferta: gado cria, recria e engorda
Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad
– S. J. Rio Preto, SP
Data: 11 de junho de 2009
Horário: 18 horas
Leilão de Corte
Oferta: gado cria, recria e engorda
Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad
– S. J. Rio Preto, SP
fale com o editor:
[email protected]
Data: 18 de junho de 2009
Horário: 18 horas
Leilão de Corte
Oferta: gado cria, recria e engorda
Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad
– S. J. Rio Preto, SP
Data: 25 de junho de 2009
Horário: 18 horas
2º. Leilão Produção M.H.
Oferta: bezerros e bezerras de cruzamento industrial
Local: Recinto de Leilões Anísio Haddad
– S. J. Rio Preto, SP
Data: 30 de junho de 2009
Horário: 18 horas
Leilão Produção Serra de
Maracaju
Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS
Data: 06 de junho de 2009
Horário: 21 horas (oficial de Brasília)
22º Leilão Serra de Maracaju
Oferta: machos Nelore PO
Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS
Data: 07 de junho de 2009
Horário: 21 horas (oficial de Brasília)
Leilão Produtoras de Maracaju Corte
Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS
Data: 09 de junho de 2009
Horário: 21 horas (oficial de Brasília)
7º Leilão da Filó Maracaju
Oferta: machos e fêmeas leiteiras
Local: Parque de Exposições de Maracaju, MS
Data: 10 de junho de 2009
Horário: 21 horas (oficial de Brasília)
8º Leilão Touro Jovem
Oferta: reprodutores Nelore PO
Local: Estância Orsi – Campo Grande,
MS
Data: 27 de junho de 2009
Horário: 13 horas (oficial de Brasília)
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