da revista em pdf - Centro do Comércio de Café do Rio

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Revista do Café
Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro
Ano 93 - Junho 2014 - Nº 850
Bodas de Diamante de
Jônice e Ilza Tristão
14
Revista do Café |
junho 2014
Sumário
Revista do Café
Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro
Ano 92 - Junho 2013 - Nº 846
Créditos: Divulgação ACS / José Luiz Borges
Coordenadora
04
06
10
14
18
Alessandra Rodrigues de Almeida
Editorial
Natália Fernandes, Paulo A.C. Kawasaki e Thâmara Malfatti
Seminário Internacional de Santos
Colaboradores
Inauguração do Museu da Imigração
Adriana Damiani Correa Campos, Celso Luís Rodrigues Vegro,
Eliana Anceles, J. B. Matiello, Luiz Otavio Araripe, Leila Vilela
Alegrio, Rubens Barbosa e Xico Graziano
Bodas de Diamantes – Jônice Tristão
Brasil aproxima compradores
internacionais de seus cafés especiais
21
22
Reportagens
Capa
06
Jônice e Ilza Tristão
Diagramação, Arte e Projeto Gráfico
Créditos: Raul Fonseca e Diego Santoro
Hands-on Editoração Eletrônica
EPAMIG 40 anos
Impressão Gráfica
52 Gráfica e Editora Ltda.
http://www.52grafica.com.br
Brasil - Ucrânia: Comédia de Erros -
Centro do Comércio de
Café do Rio de Janeiro
Rubens Barbosa
24
Ferrugem, seca e preços baixos afetam
Diretoria Biênio 2013/2015
Presidente: Guilherme Braga Abreu Pires Filho
Diretor-Secretário: Batista Mancini
Diretor-Tesoureiro: Alexandre Pires
Diretor de Patrimônio: Ruy Barreto Filho
Gerente Geral: Guilherme Braga Abreu Pires Neto
safras na América Central
30
Eduardo Castanho esclarece dúvidas
sobre o CAR
34
36
38
42
10
Conselho Administrativo
Créditos: Guilherme Bergamini
CSB Trading S/A Exp. e Importação
Warrant Exp. Importação Ltda.
Sumatra Comércio Exterior Ltda.
Agropecuária São Francisco de Paula Ltda.
GBP Consultoria Empresarial
Unicafé Comércio Exterior
EISA Empresa Interagrícola S/A
Stockler Comercial e Exportadora Ltda.
Halley Exp. e Imp. Ltda.
Três Aranhas Com. e Ind. Ltda.
Valorização Empresa de Café S/A
Agropecuária Pedra Lisa S/A
Álbum Naumann Gepp
Mordida na Banana – Xico Graziano
A repercussão das decisões do CARF
Desoneração do Imposto de Importação
de Café Industrializado
44
Audiência Pública na Assembleia de
MG, para discutir rotulagem
46
50
58
42
Sindicato do Comércio Atacadista de
Café do Município do Rio de Janeiro
Créditos: Juh Guedes
Diretoria Quadriênio 2014/2018
Presidente: Guilherme Braga Abreu Pires Neto
Secretário: Batista Mancini
Tesoureiro: Ruy Barreto Filho
Diretor de Patrimônio: Alexandre Todeschini Pires
Fazenda São Fernando
Panorama
Storino, um nome que
Rua Quitanda, 191 - 8º andar - Centro - CEP: 20091-000
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Fone: (21) 2516-3399 / Fax: (21) 2253-4873
[email protected] / www.cccrj.com.br
deixará saudades
51
Revista
do
Café |
junho 2014
A volatilidade preço no
mercado de café
4
O
café verde tem uma
alta volatilidade preço.
Aspectos fundamentais da produção e consumo
explicam essa característica.
Nós economistas, diríamos
que a oferta e a demanda de
café verde são inelásticas,
portanto, qualquer variação
na quantidade gera uma maior
variação no preço.
Do ponto de vista da oferta, o café, uma cultura perene
e com um ciclo de produção
bianual, variações de preço
ajustam a oferta apenas em
períodos maiores que um ano.
Aumentos ou reduções de área
plantada em função do preço,
normalmente só acontecem
em ciclos de preços longos e
acentuados. Em períodos menores do que um ano, variações da quantidade produzida
acontecem apenas marginalmente por aumento ou redução dos tratos culturais. No
caso de aumento de preços o
aumento da área plantada em
produção só acontece em 2
Revista do Café |
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ou 3 anos, e em casos extremos de preços baixos, mesmo
quando o preço está abaixo do
custo de produção, a redução
da área plantada só acontece
quando o preço da saca de
café cai abaixo do custo variável de produção, (quando
existe a possibilidade de utilização alternativa da terra).
Também do ponto de vista da demanda, o café verde
é um produto inelástico . O
preço da matéria prima café
verde, representa apenas uma
parcela do preço do café líquido consumido. Nos casos
de café torrado e moído distribuído pelo grande varejo,
o componente de custo café
verde representa menos de
50% do preço final . No consumo fora de casa, a participação do preço do café verde
no preço da xícara de café é
ainda menor representando
em muitos casos cerca de 5%
do custo final total. E ainda,
mesmo no consumo doméstico, na medida em que os consumidores sofisticam os métodos de preparo, a correlação
preço de café verde e custo
para o consumidor tende a reduzir. A inelasticidade preço
da demanda de café ainda tem
outros dois fatores importantes, a saber: Café é consumido
em sua maioria por consumidores de renda media e alta,
e portanto, a demanda tende a
ser inelástica, além disso café
não tem um produto de substituição muito claro .
Apesar da volatilidade histórica do café, todos nós, participantes do mercado, temos
a impressão que a volatilidade tem aumentado. Tomando
como base os fechamentos do
contrato ‘C’ de café de Nova
York de 1975 até 12 de Junho de 2014 as médias anuais
corroboram essa percepção.
Utilizando como uma medida da volatilidade a média da
variação intradiária (diferença
entre a mínima e a máxima do
dia, em percentual do valor de
fechamento) no corrente ano
temos 4,1%. No período dos
39 anos avaliados apenas em
1997 tivemos um valor superior (4.3%). E ainda, a interpolação de uma tendência linear
demonstra a tendência do aumento desta variação intradiária. A grande variação intradiárias, além de um indicador da
volatilidade do mercado, é um
parâmetro de indicação da incerteza da tendência.
Calculando
a
média anual das variações diárias percentuais
(variação
diária absoluta em
relação ao valor do
fechamento do dia
anterior) 2014 é o
terceiro mais volátil
ano nos ultimos 39
anos. Na média a variação diária está em
2.2%. A maior média
anual também é a de
1997 com 2.8% e a segunda
em 1994 com 2.3%.
A tendência estrutural da
volatilidade do preço do café
atrai um forte interesse de
especuladores nos mercado
futuros. A maior atenção dos
especuladores no mercado de
café em muitos momentos
serve para aumentar a própria volatilidade, se tornando assim uma “self fullfiling
profecy”. De acordo com a
CFTC nos últimos 10 anos
a participação no mercado
futuro de café, do agregado
das empresas e pessoas físicas não comerciais tem aumentado de forma significativa alcançando regularmente
mais do que 50% da posição
em aberto. Mais importante,
existem indicações de que
essa participação, se medida
pelo número de contratos negociados diariamente, supera
75% do volume de negócios.
A definição clássica de
que a participação de agentes
de mercado não comerciais
seriam um fator de estabilização, e portanto, redução de
volatilidade e de distribuição
de risco, parece também não
se aplicar no mercado do café.
Não parece existir um motivo único para o aumento da
volatilidade-preço no mercado de café. A única ação
possível seriam melhores fontes estatísticas de produção e
consumo mundial, que servisse pelo menos para reduzir a
incerteza dos dados no mercado de café.
Luiz Otavio Araripe, Diretor da
Valorização Empresa de Café S/A
1
É importante não confundir a inelasticidade da demanda do agregado de café com a quase perfeita elasticidade de troca entre qualidades
diversas de café através do “blend”.
2
Em países da OECD este percentual é ainda menor.
3
A exceção é o chá.
4
Dados de mínima, máxima e fechamento da segunda posição em aberto.
5
Até 12 de Junho
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Commodities Futures Trading Commission
7
Participantes não envolvidos em atividades comerciais com café.
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Crédito das fotos: Divulgação ACS / José Luiz Borges
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20º Seminário
Internacional do Café de
Santos
Natália Fernandes
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Café do Brasil –
Sustentabilidade na
Produção e no Comércio
Empresários, executivos e profissionais do setor cafeeiro fomentam
a importância da sustentabilidade do campo à xícara.
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R
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eunindo profissionais
de mais de 14 países
envolvidos no mercado cafeeiro, a 20ª edição
do Seminário Internacional
de Café de Santos aconteceu
nos dias 07 e 08 de maio,
com objetivo de apresentar tendências da produção
e consumo, expor diversos
pontos de vista, além de debater e trocar informações
sobre a sustentabilidade na
produção e comércio do
maior país produtor e exportador de café do mundo, o
Brasil.
Com iniciativa e realização da Associação Comercial de Santos, o presidente
da instituição, Roberto Clemente Santini, fez questão
de destacar a importância do
Porto de Santos nas exportações de café do País, responsável por cerca de 75%
do total embarcado anualmente, volume maior do que
é produzido em cada um dos
principais países concorrentes, como a Indonésia por
exemplo.
Com mais de 320 inscritos, o principal seminário do
setor no País contou com a
participação do governador
Geraldo Alckmin (PSDB),
que ressaltou a relevância do
café para a economia bra-
Governador Geraldo Alckmin
Presidente Roberto Santini
discursando na abertura do
evento
sileira e paulista, bem como
para a saúde e melhora do humor. “Não há saúde sem geração de emprego, renda, riqueza e oportunidade. O café gera
tudo isso”, complementa.
Alckmin comentou ainda
que São Paulo é um dos Estados que tem o maior número
de propriedades que produzem
cafés sustentáveis, o que gera
segurança para o consumidor e
para o produtor.
Indústrias
que apoiam
e incentivam
a produção
sustentável de
café
Avançando na jornada da
sustentabilidade,
representantes de grandes indústrias
de café do mundo apresentaram as ações que vem sendo
desenvolvidas para apoiar e
promover a produção de cafés
sustentáveis.
De acordo
com o diretor
de
desenvol-
vimento de fornecimento de
produtos da Nestlè, Orlando
Garcia, muitos consumidores
ainda não sabem a realidade
do mundo do café. Diante disso a empresa tem trabalhado
estratégias de educação e engajamento dos consumidores,
visando a valorização dos cafés produzidos com responsabilidade ambiental e social.
Ainda visando criar valores, a Nestlè tem se comprometido com mais de 170 mil
cafeicultores em todo o mundo
nas compras diretas de café.
Para Tim Scharrer, diretor de trading e operações da
Starbucks Coffee, a sustentabilidade se trata de uma obrigação, de uma necessidade, do
futuro da produção cafeeira.
Resultado da valorização da
produção de cafés sustentáveis, atualmente mais de 90%
do café que a empresa compra
é certificado e até 2015 espera-se que 100% dos grãos adquiridos sejam certificados ou
verificados.
A Starbucks Coffee se
preocupa em comprar seus
cafés respeitando as pessoas
e os locais que os produzem.
Para isso criaram um programa de diretrizes que ajudam
os cafeicultores a produzir de
uma forma que seja melhor
para as pessoas e o planeta. O
programa se chama Práticas de
Equidade na Produção de Café
(C.A.F.E., Coffee and Farmer
Equity), e segundo Tim Scharrer já é um sucesso.
A realidade
brasileira
Considerada uma questão
de educação e sobrevivência, a
sustentabilidade já está inserida
na cafeicultura brasileira. Contudo, ainda há um grande desafio para implantação da sustentabilidade no campo e para o
desenvolvimento do consumo
desse tipo de produto.
De acordo com coordenadores de programas sustentáveis de empresas e instituições
da cadeia, o setor produtivo no
País ainda é bastante conservador, o que cria a necessidade de
se trabalhar com grande transparência quanto às exigências
dos programas de certificação
e verificação e seus resultados,
para então se ter a fidelização do
produtor.
Feito isso, acredita-se que o
segundo passo é a capacitação
e formação de uma equipe para
controle de custos e definição
de um plano de trabalho, em
que a disponibilidade de tempo
e pessoas é primordial. Concomitantemente deve ser trabalhada a educação do consumidor.
a sustentabilidade da cafeicultura deverá ser comprometida em função dos prejuízos
à renda do produtor. Frente à
isso, José Braz Matiello, Engenheiro Agrônomo da Fundação Procafé, fez questão
de esclarecer os prejuízos às
lavouras cafeeiras, bem como
quantificar as possíveis perdas
para a safra a ser colhida em
2014 e 2015.
De acordo com Matiello,
as perdas estimadas para a safra 2014 variam de 25 a 37,4%
para o café arábica, e de 11 a
12,6% para o café conilon, estimando assim uma colheita de
40 a 43 milhões de sacas em
2014 e para 2015, uma produção de 38,7 a 43,6 milhões de
sacas.
Orlando Garcia,
Nestlé
Tim Scharrer,
Starbucks Coffee
Grandes feitos
ao Café do
Brasil
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Durante o evento, Luiz
Marcos Suplicy Hafers, conselheiro da Sociedade Rural
Brasileira foi homenageado
pela sua vida dedicada ao café.
Após a homenagem, emocionado e muito grato, Hafers
comenta que o café é o centro
de sua família e de sua vida há
muitos anos. “Café é paixão,
paixão que não passa, às vezes
é ilusão, outras vezes termina
em casamento”, explanou.
Prof. José Braz
Matiello
Sustentabilidade
econômica da
safra brasileira
deve ser afetada
pelos efeitos da
estiagem
Com a estiagem afetando
boa parte das regiões produtoras de café no Brasil em 2014,
O homenageado, Luiz Hafers,
Roberto Santini e Roberto
Rodrigues
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Créditos: Raul Fonseca e Diego Santoro
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Museu da Imigração
reabre com público de 4
mil pessoas
Thâmara Malfatti
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Completamente reformulada, instituição reinaugura as instalações
com nova exposição e programação cultural diversificada
C
erca de quatro mil visitantes prestigiaram a reabertura do Museu da Imigração, instituição da Secretaria de Estado
da Cultura, no dia 31 de maio. A solenidade contou com a presença do governador Geraldo Alckmin, de Marcelo
Mattos Araujo, secretário de Estado da Cultura, do ex-governador de São Paulo, José Serra, do ex-secretário da
Cultura, Andrea Matarazzo, e da coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico, Renata Vieira da
Motta. Compondo a abertura solene, estiveram na cerimônia os representantes do Instituto de Preservação e Difusão da
História do Café e da Imigração (INCI) - organização social gestora do Museu da Imigração e do Museu do Café -, Roberto
Ticoulat, presidente do Conselho de Administração, Luiz Marcos Suplicy Hafers, ex-presidente do Conselho de Administração e Marília Bonas, diretora executiva dos museus.
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Governador Geraldo Alckmin
discursando na solenidade de abertura
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Projeção nas mesas cenográficas do refeitório
Sala que recria o dormitórioRda
Hospedaria
evista
do Café |
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Após período de restauro,
a instituição abriu as portas ao
público completamente reformulada e com a nova exposição de longa duração: “Migrar: experiências, memórias e
identidades”, também inaugurada na ocasião da reabertura.
No discurso, Alckmin ressaltou
a importância do prédio que
acolheu mais de 2,5 milhões de
imigrantes e migrantes. “Hoje
é um dia de grande emoção e
muita alegria. São Paulo foi
fundada em 1554 pelos padres
jesuítas e renasceu aqui, com a
Hospedaria de Imigrantes, em
1887. Essas paredes ouviram
mais de 70 línguas diferentes,
gente do mundo inteiro que
veio para São Paulo no período
áureo do café e depois se dedicou também à indústria e aplicou muitos sonhos. Esse é o
DNA de São Paulo. De pessoas
que vieram em busca de trabalho, de oportunidades, de coração partido, e desse sacrifício
para construir a grandeza do
nosso estado, do nosso país”.
A programação cultural do
dia contou com dança e música
de comunidades de imigrantes
e descendentes da Lituânia,
Rússia, Itália, Paraguai e Bolívia, além de apresentação de
música instrumental brasileira,
DJ´s que trouxeram ritmos latino-americanos, intervenção do
grupo Teatro dos Narradores e
show de cantor e compositor
Arnaldo Antunes. Como destaque, os visitantes puderam
conferir a exposição de longa
duração que, em oito módulos,
apresenta um percurso panorâmico sobre o processo migratório, abordando a experiência
do deslocamento e as heranças
imigrantes e migrantes presentes em São Paulo. A história da
Hospedaria do Brás é o foco de
três módulos, que tratam sobre
os serviços, experiências e usos
do edifício. A sala “Hospedaria
em Movimento”, um espaço de
convivência que trará pequenas
mostras, também foi aberta ao
apresentação da comunidade paraguaia
público. O local abriga o último módulo da exposição de
longa duração, com uma maquete do edifício e objetos do
acervo relacionados à construção do prédio, como telha, filtro e ladrilhos hidráulicos. Os
visitantes também encontraram nesse espaço a exposição
temporária “SER Imigrante: o
mesmo e o outro”, que estimula a reflexão sobre o conjunto
de condições que determinam a
aceitação ou não de quem migra para o Brasil, em caráter
temporário ou permanente.
Obra de
Restauro
O primeiro restauro completo da antiga Hospedaria de Imigrantes foi um trabalho minucioso
que promoveu a recuperação e modernização do edifício. Com investimento de R$ 20 milhões do
Governo do Estado de São Paulo, a obra teve início em dezembro de 2010. Foram completamente
recuperadas a fachada e ambientes internos, cobertura, pisos, esquadrias (portas e janelas) instalações
hidráulicas, elétricas e de dados; foi instalada climatização e iluminação interna e externa; escadas de
emergência e equipamentos de acessibilidade e sistema de segurança eletrônica.
O Museu da Imigração fica localizado na Rua Visconde de Parnaíba, 1316, no bairro da Mooca,
em São Paulo. O horário de funcionamento é de terça a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos das
10h às 17h. Durante os meses de junho e julho o acesso aos espaços expositivos é gratuito. Quinzenalmente, às sextas-feiras, o MI oferece visitação noturna, ampliando seu horário de atendimento até
às 21h. Outras informações estão disponíveis no site www.museudaimigracao.org.br.
evista doBonas,
Café |Nuno
junho
2014 e Takamitsu Sato
Guilherme Braga, Roberto Ticoulat, Marcelo Mattos, Eduardo Carvalhaes, Luiz Hafers, RMarília
Ramos
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Casal Ilza e Jônice Tristão
comemoram Bodas de
Diamante
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Créditos: Monica Zorzanelli e KD Imagem
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C
om a presença de um grande grupo de amigos, empresários do café, autoridades, políticos e da comunidade capixaba, em Pedra Azul, recanto turístico próximo a Vitória/ES, Jônice e Ilza, ao lado de seus familiares, filhos, noras,
genro e netos, celebraram o transcurso de suas Bodas de Diamante, 60 anos de união feliz e exemplar, em uma linda
festa, carregada de muita emoção.
Casal com presença marcante no mundo do café, Jônice Tristão teve uma atuação destacada nos negócios do café, desenvolvendo e transformando a Casa Misael, empreendimento iniciado por seu pai, José Ribeiro Tristão, no Grupo Tristão,
importante conjunto de empresas que se tornaram líderes não só no comércio e exportação de café, mas também no ramo
industrial de torrefação e moagem e indústria de café solúvel, e financeiro. Neste período de 60 anos, com o dedicado apoio
de seus filhos Ronaldo, Sérgio, Ricardo e Patrícia, cada um liderando uma das áreas de atividades, Ilza e Jônice construíram uma invejável união familiar, em casa e nos negócios, consolidando uma bela história de amor e de vida. Os discursos
de seu filho mais velho, Ronaldo, e de sua primeira neta, Carolina, transmitiram de modo emocionante os sentimentos de
amor, respeito e gratidão que caracterizam a família.
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Presentes, acompanhados de suas esposas, o Governador Renato Casagrande, o Presidente da
Assembleia Legislativa Theodorico Ferraço, o Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador
Sérgio Bizzotto, o ex-Governador Paulo Hartung e Elcio Alvarez, o Arcebispo de Vitória Dom Luiz
Mancilha, que abençoou o casal,o Deputado Cesar Colnago, o Diretor Executivo da OIC, Robério
Silva, Embaixador Jório Dauster, Antonio Oliveira Santos, Presidente da CNC, Enio Bergoli da
Costa, Secretário de Agricultura do ES, Jair Coser, Presidente da Unicafé, o Presidente do Banco
Safra, Carlos Alberto Vieira, o Presidente do Centro do Comércio de Café do RJ e Diretor Geral do
CECAFÉ, Guilherme Braga Abreu Pires Filho, Bertrand Bouvery e Wagner Wakayama (Ueshima
Coffee), o artista Juarez Machado, o cirurgião Mauro Galvão, empresários Otacilio Coser, Américo
Madeira, e outros.
Governador Renato Casagrande e Luiz Paulo
Vellozo Lucas
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Otacilio e Marilia Coser
Família Tristão
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Créditos: Monica Zorzanelli e KD Imagem
Créditos: Hélio Dórea
Bruno e Talita de Pinho, Eduarda Buaiz e Claudio Rezende
O casal Cecile e Bertrand Bouvery
e Diva Michelini
Anamaria Castro, Virginia Casagrande, primeira dama do Estado,
e Sueli Chieppe.
Rita Rocio Tristão e Juarez Machado.
Jair Coser, Carmen e Carlos Alberto Vieira, Beatriz Pires e Guilherme Braga.
Américo e Mariana Buaiz
Brasil aproxima compradores
internacionais de seus cafés
especiais
Empresários nacionais detalharam regiões
cafeeiras e processos de produção na maior feira
mundial do setor
Paulo André Colucci Kawasaki
18
A
BSCA, por meio do
projeto setorial Bra
zilian Specialty and
Sustainable Coffees, desenvolvido em parceria com a
Apex-Brasil, e com o apoio
do MAPA e do SEBRAE, levou empresários associados
e seus produtos para a maior
feira do setor no mundo, a 26ª
Exposição Anual da Specialty
Coffee Association of America (SCAA), realizada pela
entidade norte-americana em
Seattle (EUA).
O estande elaborado para
o evento localizou-se estrategicamente no corredor junto à
entrada do pavilhão e foi um
dos mais movimentados. O
destaque da delegação brasileira ficou por conta da apresentação do novo mapa das
origens produtoras do grão
no Brasil. Elaborado pela
BSCA após consulta a órgãos
estaduais e federais, ele traz
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20 origens produtoras, com
a delimitação por município.
“Sempre pensamos em avançar no que diz respeito à promoção internacional dos cafés
brasileiros. Como o País não
possuía uma atualização da
discrição de suas áreas de
produção,
desenvolvemos
essa geografia para que todo
o mundo conheça a diversidade do nosso parque cafeeiro”,
explica Vanusia Nogueira,
diretora-executiva da Associação.
De acordo com ela, a estruturação do mapa é fundamental para que o Brasil
apresente ao mundo que tem
capacidade para produzir uma
grande diversidade de cafés,
aliando quantidade à qualidade. “A intenção da BSCA é
promover os cafés nacionais e
suas origens, destacando que
cada uma possui características únicas e é capaz de colher
um produto que proporcione
excelentes bebidas na xícara”,
comenta. Vanusia completa
recordando que o Brasil é um
país continental, com ampla
diversidade de topografia e
clima entre suas regiões produtoras. “Esse ambiente faz
com que os cafés de cada
uma dessas origens tenham
características diferenciadas
e únicas, fato que não ocorre
em nenhuma outra nação que
produz o grão no mundo”.
O espaço do Brasil na exposição contou com o “Espresso Bar”, onde um barista
americano contratado serviu
dois blends compostos por
café das diversas origens produtoras brasileiras. Além disso, foram realizadas degustações da bebida filtrada, com
explicações sobre cada uma
das áreas produtoras nacionais, no “Brew Bar”. “Ambas as atividades suscitaram
enorme interesse do público
e contribuíram, dessa maneira, para fortalecer a imagem
de qualidade dos cafés brasileiros junto a profissionais e
consumidores de todo o mundo”, comenta a diretora-executiva da BSCA.
O lançamento da versão
em inglês do livro “Pós-colheita do café” (“Handbook
of coffee post-harvest technology”), de autoria do professor Flávio Meira Borém
e que contém um capítulo
escrito por Silvio Leite, um
dos idealizadores do concurso Cup of Excellence, e outro
por Vanusia Nogueira, também teve o estande nacional
como palco. “É uma obra
fundamental para se entender
e por em prática os processos
de pós-colheita. Entre outros
pontos, aborda os trabalhos
realizados no Brasil, as tendências mundiais e as metodologias de classificação de
cafés commodity e specialty”,
relata Vanusia.
Além das atividades no estande, a delegação brasileira
realizou sessões de cupping
três vezes ao dia, com uma
delas sendo dedicadas aos
cafés de “comércio justo” da
Associação das Organizações
de Produtores Fairtrade do
Brasil (BR Fair), que contou
com o apoio do SEBRAE.
A BSCA também organizou diariamente uma sessão
“Taste of the Harvest”, contendo 29 cafés certificados
pela Associação à disposição
dos participantes do evento.
“Em geral, as sessões foram
bastante disputadas por compradores internacionais, não
apenas dos EUA, mas de todo
o mundo, valendo destacar a
quantidade de asiáticos que
se interessaram por nossos
cafés”, comenta Javier Faus
Neto, presidente da BSCA.
Robério Silva no estande Cafés do Brasil
19
Javier Faus Neto recebendo visitantes na feira
Silvio Leite na sessão de Taste of the Haverst
Crédito: BSCA divulgação
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Denominação de origem
região do Cerrado
Mineiro
Outro ponto alto do Brasil na 26ª Exposição
Anual da SCAA foi o lançamento internacional da
Denominação de Origem (DO) da Região do Cerrado
Mineiro, realizado em um almoço, para cerca de 100
convidados, entre autoridades, torrefadores, exportadores, imprensa especializada e produtores de café de todo o
Planeta. Na oportunidade, o presidente e o superintendente
da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Francisco Sérgio
de Assis e Juliano Tarabal, respectivamente, apresentaram a região, suas características e o trabalho
de rastreabilidade que é desenvolvido pela entidade, que é um dos pilares do café de atitude: ético,
rastreável e de elevada qualidade.
A conquista da DO é recente, concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
em 31 de dezembro de 2013. Trata-se do resultado de um trabalho de anos dirigido pela Federação
e que coloca a Região do Cerrado Mineiro para o café nas mesmas condições que Champagne-Ardenne, na França, está para os espumantes e Parma, na Itália, está para os presuntos. Isso porque
a Denominação de Origem atesta que o café produzido no Cerrado Mineiro tem características
únicas, as quais não podem ser encontradas em nenhuma outra parte do mundo.
Crédito: BSCA divulgação
Com a denominação “Brazilian Coffee Origins”, o mapa apresenta as 20 áreas de produção de café no País, sendo seis em Minas
Gerais, quatro em São Paulo, uma entre MG e
20 SP, três na Bahia, duas no Espírito Santo, duas
no Paraná, uma em Rondônia e uma no Rio de
Janeiro. Entre elas, estão incluídas a Denominação de Origem do Cerrado Mineiro e as Indicações Geográficas da Mantiqueira de Minas,
Alta Mogiana e do Norte Pioneiro do Paraná. O
mapa e as especificações de cada uma das áreas
de produção podem ser conferidos no site da
BSCA (www.bsca.com.br).
Participação do Brasil
A delegação nacional contou com a participação de aproximadamente 200 pessoas. “O número de brasileiros interessados
em estreitar relacionamentos e efetuar negócios na principal feira
internacional de cafés especiais do planeta vem em uma crescente ao longo dos anos, o que amplia a visibilidade e a promoção
e confirma a aceitação do produto do País internacionalmente”,
aponta Javier.
Sobre o evento
A Exposição Anual da SCAA é considerada o maior evento do mundo sobre cafés
especiais, tanto pelo número de expositores
e visitantes, quanto por ser um ponto de encontro já consolidado entre atores-chave do
setor, o que o constitui em um espaço privilegiado para relacionamento e acompanhamento de novas tendências. Este ano, a feira
foi realizada em Seattle, berço histórico e
cidade sede da Starbucks, o que a tornou
simbólica para o surgimento e o desenvolvimento do setor de cafés especiais.
Revista do Café |
junho 2014
40 anos EPAMIG
créditos: Divulgação Epamig
Descerramento placa 40 anos
Com a participação especial do
Omar Peres - Governo de Minas
governador Alberto Pinto Coelho,
a comemoração dos 40 anos da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)
foi marcada pelo início de uma
nova parceria que permitirá o trabalho de presos nas fazendas da
empresa. Houve também lançamento do novo Sistema de Gestão
da Pesquisa, descerramento de
placa comemorativa, entrega de
diplomas a funcionários que estão
completando 10, 20, 30 e 40 anos
de dedicação à empresa, sessão solene na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e troféu para
parceiros e colaboradores estratégicos.
Em seu discurso, o Governador destacou a contribuição da EPAMIG para os avanços no setor
agropecuário. “O Brasil precisa se colocar em uma posição vanguardista, vencer e romper essas
barreiras, para que possamos construir uma grande nação. Portanto, estar aqui hoje representa
o reconhecimento do Governo de Minas e de toda sociedade mineira e brasileira, ao trabalho
de cada técnico da Epamig. O dever dos senhores, apesar das dificuldades e dos desafios, está
sendo cumprido e é o que faz o Brasil caminhar”, disse.
O secretário de Estado de Agricultura, André Merlo, ressaltou que o setor agropecuário é quem
sustenta a economia do país, gerando emprego e renda. “Se a agropecuária vai bem, outros setores da economia vão bem”, completou.
21
O presidente da EPAMIG, Marcelo Lana (foto), discorreu
ainda sobre os desafios da Epamig após quatro décadas
de atuação. Ele lembrou que a pesquisa agropecuária tornou possível o desenvolvimento de cultivares adaptadas
às condições de clima e solo do Estado e a geração de tecnologias e informações que propiciaram aumento de produtividade em segmentos tradicionais e também novas
inclusões no processo produtivo. “Mudanças climáticas
também irão impor complexas condições e exigir novos
métodos de pesquisa, novas estratégias de produção e daí
a necessidade do desenvolvimento de tecnologias para
superar as mudanças no clima”, disse.
Dentre a programação, destaque para o ônibus itinerante
“Ciência Móvel” da EPAMIG, que traz um pequeno laboratório para demonstração de pesquisas, no qual serão apresentados resultados de estudos com produtos para a cafeicultura produzidos a partir de microorganismos.
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junho 2014
História da
EPAMIG
A EPAMIG foi criada em 8 de maio de
1974 com o objetivo
de reformulação institucional da pesquisa
agropecuária no Brasil, iniciado anteriormente, com Programa
Integrado de Pesquisas
Agropecuárias do Estado de Minas Gerais
(Pipaemg). A partir de
6 de agosto de 1974,
por meio do convênio celebrado entre o
Governo do Estado,
MAPA e Embrapa,
começou a funcionar
a Epamig, com atribuição de executar e
coordenar a pesquisa
agropecuária em Minas Gerais vinculada
às demandas dos produtores rurais.
Brasil - Ucrânia: Comédia
de Erros
E
m razão dos possíveis
desdobramentos
nos
campos militar, político
e econômico, a crise na Ucrânia tem gerado forte preocupação. Ao confrontar a Rússia,
EUA e Europa ressuscitam
considerações
geopolíticas
que gostariam de deixar para
trás. Consumada a incorporação da Criméia ao território
russo, o mundo espera o desfecho das disputas pelos territórios do leste da Ucrânia, na
fronteira com a Rússia, onde
se concentra a maioria da população de origem e de língua
russas.
“
Quais os interesses do
Brasil na relação com a Ucrânia? Poucos talvez possam
identificar assuntos em comum com pais tão distante.
O Brasil no governo Lula
se associou a Ucrânia para a
cessão de espaço para lançamento de satélites comerciais
do Centro de Lançamento de
Satélites em Alcântara. Para
isso, foi criada a empresa
mista, Alcântara Cyclone
Space (ACS), formada em
partes iguais, que já consumiu US$ 918 milhões do lado
brasileiro, tendo sido metade
aportada em meados de 2013,
sob a forma de aumento de
capital, sem qualquer resultado concreto até aqui. A
ideia era aproveitar o programa ucraniano para, se tudo
desse certo, desenvolver uma
indústria voltada para lançamentos no Brasil. Toda essa
negociação com a Ucrânia
está cercada de circunstâncias que mostram a maneira
descoordenada como muitos
projetos de grande relevância
estratégica foram tratados
nos últimos anos.
O programa espacial brasileiro de desenvolvimento
de Veículos Lançadores de
Fica cada vez mais evidente a necessidade de uma
nova política externa que restaure a influência do
Itamaraty, para evitar situações como a da Ucrânia,
e restabeleça a voz e a presença do Brasil no exterior.
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junho 2014
“
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Satélites (VLS) e de aproveitamento comercial da
Base de Alcântara colocaria
o Brasil no mercado global,
dominado em mais de 85%
por lançamentos de satélites
de comunicação de empresas norte-americanas. Para
viabilizar a entrada do Brasil nesse mercado, o governo FHC negociou acordo de
salvaguarda tecnológica com
os EUA. Por questões ideológicas, o PT na oposição e, depois, no governo ficou contra
o acordo que, paralisado no
Congresso, foi abandonado.
O governo Lula, no entanto,
para viabilizar a cooperação
com a Ucrânia, teve de assinar um acordo de salvaguardas tecnológicas com o governo de Kiev. O acordo com
a Ucrânia, traduzido quase
literalmente do firmado com
os EUA, foi rapidamente
aprovado pelo Congresso
com o apoio entusiasmado
do PT. Chegou-se mesmo a
discutir um segundo acordo,
que atenuasse cláusulas draconianas que restringiam o
acesso das autoridades brasileiras aos equipamentos
ucranianos e ampliasse a cooperação para o desenvolvimento conjunto de um novo
VLS (Ciclone V).
Soube no ano passado que
a Ucrânia havia feito gestões
junto ao governo de Washington para que o acordo de
salvaguarda tecnológica com
o Brasil fosse retomado, porque o foguete ucraniano incorpora peças e componentes
americanos. Assim sendo, o
VLS Ciclone só poderia ser
lançado de Alcântara se o
acordo Brasil-EUA estivesse
em vigor.
Essa comédia de erros está
atrasando por mais de 15 anos
o programa brasileiro de utilização comercial da Base de
Alcântara. Será que as autoridades brasileiras não sabiam
que o acordo com os EUA
era indispensável para levar
adiante o projeto com a Ucrânia?
O quiproquó não termina
aí. A empresa que teoricamente produziria o foguete lançador dos satélites comerciais
de Alcântara está localizada
na área industrial da Ucrânia,
exatamente no território agora conflagrado pela presença
de população russa, transferida para a região para operar
o complexo industrial militar que Moscou havia criado
naquele país, então parte da
URSS. O que acontecerá se
esse território for incorporado
à Rússia?
Além disso, a Ucrânia, sem
condições de fazer os aportes
financeiros necessários, pela
precária situação de sua economia, contribuiu para reduzir
o projeto a um sonho de uma
noite de verão. A negociação
com a Ucrânia teve clara motivação ideológica para evitar
a dependência dos EUA. A
maneira desastrada como todo
o processo foi operado é mais
um exemplo de um equívoco
cometido por considerações
político-partidárias. Os investimentos feitos pelo governo
brasileiro não serão recuperados e o caos doméstico ucraniano inviabiliza qualquer
esforço para a retomada do
projeto.
O acordo de salvaguarda
tecnológica com os EUA, depois da visita do presidente
Barack Obama ao Brasil em
2011, estava sofrendo modificações para ser apresentado
`as autoridades norte-americanas. A negociação do acordo,
contudo, está paralisada, como
tudo o que é realmente importante na relação com os EUA.
A decisão da presidente Dilma
Rousseff de só normalizar as
relações bilaterais depois de
um eventual pedido de desculpas de Obama pelo monitoramento indevido da Agência
Nacional de Segurança (NSA)
dificulta o desenlace da crise
entre os dois países. Como o
pedido dificilmente será atendido, este e outros temas de
interesse brasileiro dormem
nos escaninhos da burocracia
itamaratiana.
Críticos cobram um posicionamento da política externa, outrora tão ativa e altiva,
em relação aos graves acontecimentos que culminaram
com a anexação da Crimeia `a
Rússia e com os distúrbios em
diversas cidades ucranianas.
A paralisia da diplomacia
brasileira pode ser explicada
por um conjunto de fatores: o
Brasil ser membro do BRICS,
hoje um bloco institucionalizado, com reuniões presidenciais (a próxima ocorrerá
em Fortaleza em julho) e ministeriais todos os anos; pela
dificuldade de lidar com o imbróglio em que nos metemos
com o acordo de cooperação
no Centro de Lançamento de
Alcântara e pela deliberada
política do governo Dilma de
encolhimento da política externa e da não participação do
Brasil na cena internacional.
Fica cada vez mais evidente a necessidade de uma
nova política externa que
restaure a influência do
Itamaraty, para evitar situações como a da Ucrânia, e
restabeleça a voz e a presença do Brasil no exterior.
Rubens Barbosa, é
Presidente
do Conselho de
Comércio Exterior da
Fiesp
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junho 2014
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Ferrugem, seca e preços
baixos afetaram safras de
café na América Central
24
J.B. Matiello, Eng Agr Mapa e Fundação Procafé
N
a 2ª semana de abril
corrente estive em visita aos 5 principais
países cafeeiros da América
Central, para transmitir, através de palestras, a experiência
brasileira no controle da ferrugem do cafeeiro. Aproveitei,
também, para observar as condições em que se encontram
os cafezais e a sua produção,
diante do ataque dessa doença
e de outros problemas pelos
quais a cafeicultura regional
tem passado nos 2 últimos
anos.
Verifiquei que, no geral,
a cafeicultura vem enfrentando dificuldades. Primeiro
foi a seca, em 2012, depois
muita chuva e depois a ferrugem. Isso tudo e, com certeza,
também o mal trato que vinha
sendo dispensado às lavouras,
em função dos preços baixos,
provocou perdas significativas
na safra de 2013. Para 2014,
agora está iniciando o período
de chuvas e de floração, preRevista do Café |
junho 2014
vendo-se uma pequena recuperação das safras. No entanto, as lavouras estão, em sua
maioria, bastante desfolhadas.
Vamos aos números que
apurei com os técnicos em
cada país.
Costa Rica
–
possui cerca de 93 mil ha de
cafezais, que produzem, anualmente, cerca de 2 milhões
de sacas, portanto, com produtividade de cerca de 21 scs/
ha. Em 2013, em função dos
problemas, houve uma redução de cerca de 15% na safra.
A ferrugem passou a ser grave
também em áreas de altitude
acima de 1200m, onde antes
não era. Houve constatação de
mais 2 raças novas do fungo, sendo que a raça
34 tem capacidade
de atacar também
os catimores(fatores v6...v8).
Guatemala
– a
cafeicultura ocupa cerca de
276 mil ha, produzindo 3 – 3,5
milhões de sacas/ano, portanto
com produtividade de 13 scs/
ha. Em 2013 a perda de safra
foi estimada em 500 mil sacas,
ou cerca de 14%. Neste país
sobressai a participação maior
de médios e grandes produtores, com melhor nível, sendo
responsáveis por cerca de 60%
da área de café.
Cafezal da variedade Caturra em bom
estado, com controle
da ferrugem, em uma
grande propriedade na
Guatemala, sombreado
por Grevilea, mantida
podada e, nas margens
dos caminhos, com
plantio de macadâmia.
Nesta plantação foi
aplicada, faz 2 anos,poda de esqueletamento.
Inóculo
residual,
por pústulas da ferrugem, em folhas velhas,
na variedade Bourbon,
na Guatemala.
25
El Salvador
–
a área cafeeira é de cerca de
150 mil ha e as safras normais
tem variado de 1,1 a 1,3 milhão de sacas/ano. Assim, a
produtividade média tem sido
muito baixa, na faixa de 8
scs/há. A área, em sua maioria(70%), está em pequenas
propriedades. A perda de safra em 2013 foi de cerca de
60% e em 2014 pode haver
uma recuperação, com perda
ainda de 25% sobre a safra
normal.
Vista geral de uma lavoura de café sombreada com ingazeiras, em El Salvador
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Lavoura de caturra sombreada, incluindo bananeiras, em área bem declivosa em El Salvador e nela viu-se plantas com
alta desfolha (ao lado) pela ferrugem.
26
Com a aplicação de um fungicida triazol as pústulas da ferrugem bem abortadas, em cafezal em El Salvador, indicando que o fungo está muito sensível a este tipo de fungicida.
Pequena renovação de
cafezal, com o plantio de variedade Catimor, em El Salvador
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junho 2014
Honduras
– possui uma área cafeeira de cerca de 280 mil ha e produz safra de cerca
de 4,6 milhões de sacas/ano, assim com produtividade de 16 scs/ha. Em 2013 a safra caiu cerca
de 17% e está prevista recuperação em 2014.
Nicarágua
– a área cafeeira no país é estimada em 110 mil há e as safras normais tem sido de
cerca de 1,5 milhão de sacas/ano. A produtividade das lavouras é de cerca de 13 scs/há. Em 2013 a perda foi
estimada em 25-30%. Para 2014 não deve haver boa recuperação produtiva devido à permanência do ataque de
ferrugem e pela grande área recepada em 2013.
Cafezal caturra, sombreado com árvores nativas e ingazeiras, na zona
de Matagalpa, Nicarágua
27
Folhas terminais dos ramos com total infecção pela ferrugem, provocando forte desfolha. Matagalpa, Nicarágua.
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junho 2014
Na Nicarágua, devido
ao forte ataque da ferrugem, cafeicultores, desorientados, praticaram recepa, neste caso seletiva,
mesmo em plantas jovens
de Caturra, ao invés de
proteger, com fungicidas,
a sua folhagem.
28
As condições de ambiente e de manejo observadas nas lavouras indicam que
ocorrem, em todos os países visitados, situações favoráveis à evolução da ferrugem,
destacando-se –
a) Variedades cultivadas muito susceptíveis à doença, sendo a maioria de Caturra
e Bourbon, apenas na Costa Rica e Honduras, havendo, já, uma boa participação
do Catuai. Têm tentado introduzir seleções de Catimores, como Cuscateclo, Lempira e CR 95, no entanto relatam sua bebida inferior e, já, ocorrência de infecções
nas plantas. No aspecto de variedade destacaram a boa qualidade e preço alto nos
cafés da var Pacamara. Alguns países como a CR e Honduras estão distribuindo
novas variedades para plantio, como o Obatã e outros.
b) Sistemas de espaçamentos adensados, normalmente na faixa de 1,7-2,0 X 1,01,20m, facilitando a manutenção de sombra e umidade dentro da lavoura, favorecendo a ferrugem e dificultando as aplicações de controle.
c) Uso de sombreamento, com sombra, no geral, muito fechada, à exceção de CR
que usa pouca sombra. Essa prática facilita a nutrição das plantas e a sustentabilidade da plantação, suportando o cultivo de variedades conhecidamente de pouco
vigor, como a Caturra. No entanto, reduze a produtividade e facilitam a evolução
da ferrugem. Foi observada a manutenção do inoculo da ferrugem, pela permanência de mais folhas velhas do ciclo produtivo anterior, por efeito da sombra, o que
dificulta o controle.
d) Cultivo em áreas, no geral, bastante declivosas, com ausência de caminhos nas
lavouras, agravado pelo adensamento dos plantios, tudo dificultando a operacionalização das aplicações para o controle químico.
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junho 2014
As condições favoráveis
aqui levantadas, e , mais, as
observações de campo, onde
vi, mesmo antes do período
infectivo, estando agora no
final do período seco, muita
infecção pela ferrugem, indicam que o problema da doença
tem tudo para persistir. Deste
modo, como ocorreu, a partir
de 1970, no Brasil, deve haver
uma significativa transformação na cafeicultura da América Central, com recuperação
e renovação de cafezais, com
novas tecnologias, pois a produtividade, no geral, tem sido
muito baixa.
Como nem tudo são espinhos, observei duas condições favoráveis, sendo o baixo custo da mão de obra, na
maioria das regiões pagandose, apenas, de US$ 3.00 - 5.00
por dia de trabalho no campo
e o grande cuidado dos cafeicultores com a qualidade dos
cafés, representando melhores
preços do produto.
Panorama do evento
créditos: Bruno Lavorato
EXPOCAFÉ apresenta incremento de
10% de público e de negócios
Estande da Secretaria de Agricultura de MG
29
Estimativa de fechamento de negócios é de
R$ 215 milhões e o total de público foi de
22 mil visitantes nos três dias de evento.
Revista do Café |
Francisco Miranda,
presidente da Cocatrel
junho 2014
créditos: Arquivo CCCRJ
Colhedora de café Safra Zero
Antes da abertura da Expocafé foi realizado o Simpósio de Mecanização da Lavoura Cafeeira, uma oportunidade para o
intercâmbio de informações sobre tecnologias e produção mecanizada.
O Simpósio reuniu pesquisadores, professores universitários, técnicos e cafeicultores de diversos estados brasileiros
para discussão de assuntos como sistema
de pulverização eletrostática do cafeeiro,
implantação de lavoura mecanizada e uso
mais eficiente das máquinas.
O coordenador do Simpósio, Gladyston
Carvalho, pesquisador da Epamig, ministrou uma palestra sobre “Tecnologias
para o manejo sustentável da lavoura
cafeeira”. Carvalho apresentou novas
variedades de café com tecnologia da
Epamig sobre os aspectos de produtividade, mecanização e qualidade.
créditos: Flávia Amaral
A 17ª Expocafé encerrou seus trabalhos com o incremento de 10% de público e de negócios,
em comparação à edição do ano passado. Foram 22 mil visitantes nos três dias de evento e
R$ 215 milhões de negócios. Foram 140 expositores e mais de 300 produtos distribuídos
numa área total de 25 mil metros quadrados. O evento foi palco de um grande encontro de
produtores, técnicos, empresários, entre outros interessados na melhoria de renda e da qualidade de vida do produtor rural, na geração de empregos e na fixação do homem no campo.
A Feira dispôs o que há de melhor e mais moderno no agronegócio café, contemplando
o ciclo completo, do plantio à colheita. Uma das novidades que chamaram a atenção dos
produtores foi a máquina Safra Zero da empresa TDI, de Araguari/MG. A máquina faz
três funções de uma só vez: decotamento, esqueletamento e colheita. Desenvolvida por
um produtor rural da região, a novidade custa R$ 620 mil. De acordo com Alzair Pontes, representante da TDI, a cada cinco pessoas que visitaram o estande, quatro pediram
para conhecer a Safra Zero. “Vamos fechar a feira com uma lista de oito pessoas que
manifestaram interesse em fechar negócio conosco”, comemora o expositor.
Outro destaque foi o Sistema de Pulverização Eletrostático da empresa SPE, de Porto Alegre/RS. O sistema foi desenvolvido no Brasil para atender à necessidade de
redução de calda e eficácia na aplicação de defensivos agrícolas. De acordo com o
expositor da SPE, Irair Lopes, estar na Expocafé foi a porta de
entrada no mercado cafeicultor do sul de Minas Gerais. “Recebemos muitas encomendas. Percebemos que o produtor local
teve muito interesse pelo nosso sistema eletrostático devido à
eficiência e à economia qu]e nosso produto oferece”, afirma.
Para Francisco Miranda, presidente da Cocatrel, realizadora desta Expocafé. “Foi uma honra este desafio. Recebemos
muitos retornos positivos de expositores que manifestaram a
satisfação de terem participado desta edição e já confirmaram a presença para o próximo ano”, comemora .
5º Simpósio de Mecanização
da Lavoura Cafeeira
Pesquisador do IEA Eduardo
E
m entrevista concedida ao pesquisador Celso Vegro e à advogada
Adriana Damiani, ambos do
Instituto de Economia Agrícola – IEA, Eduardo Castanho,
também pesquisador do IEA,
esclarece dúvidas a respeito
do CAR – Cadastro Ambiental Rural, recentemente posto
em prática pela Instrução Normativa nº 02, do Ministério do
Meio Ambiente.
30
1 - Quais as principais
diferenças existentes nos
conceitos Recuperação, Recomposição, Regeneração e
Compensação. Quais os custos para o produtor rural ao
optar por uma das modalidades?
As ações ambientais caracterizadas como recuperação,
recomposição, regeneração, e
compensação possuem importantes diferenças tanto em termos operacionais quanto com
relação aos custos suportados
pelo agricultor. O conceito de
recuperação engloba os de recomposição e de regeneração.
Simplificadamente, a recomposição é recomendada para
glebas degradadas e com pouca ou sem vegetação natural,
implicando normalmente no
plantio por meio de sementes
ou de mudas de essências florestais. Por sua vez, a regeneração ocorre mediante o isolamento da área, propiciando o
retorno gradual da vegetação
natural, o que exige pré-condições: como a existência de
banco de sementes no solo;
caso contrário, a colocação de
sementes será necessária.
Na compensação, adotamse os mesmos procedimentos,
com a ressalva de que a área
em que a operação ocorre
não é de domínio próprio e,
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junho 2014
Adriana Damiani e o
Pesquisador Eduardo Castanho
somente poderá ser implementada após os proprietários
rurais terem efetuado seu Cadastro Ambiental Rural (CAR)
e optado pelos Programas de
Regularização
Ambientais
(PRA’s) Estaduais, os quais
deverão estar em funcionamento. Em termos de custos,
a recomposição é efetivamente a mais cara havendo estudos
que apontam para despesas entre R$2.000,00 e R$16.000,00
por hectare na formação e,
mais que o dobro dessas despesas após o transcurso do terceiro ano do plantio, no caso
do menor valor. Aparentemente esse valor é irreal, enquanto que o valor superior parece
abusivo. De qualquer modo,
custos existirão e o produtor
rural, embora esteja provendo
a sociedade com um bem público (formação de florestas
com funções ambientais) não
será subsidiado pelo Estado na
implementação de sua regularização ambiental. Todavia,
para os raros produtores que
possuem mais área natural do
que o exigido prevê-se a nego-
ciação do excedente em sistema de leilão dos CRA’s (Cotas
de Regularização Ambiental),
mas tudo isso será um desenvolvimento posterior à completa regularização exigida
pelo CAR.
2 – Sendo o CAR – Cadastro Ambiental Rural –
obrigatório para produtores/
proprietários rurais, quais
as punições a que estão sujeitos aqueles que não cumprirem as determinações no
prazo? Qual é esse prazo?
O prazo para a inscrição no CAR se encerra em
05/06/2015, mas poderá ser
prorrogado por mais doze meses, portanto até 05/06/2016,
dependendo das dificuldades
enfrentadas pelos técnicos
e produtores. Quanto às penalidades aos não aderentes
ao cadastro, existe tabela de
multas com valores por hectare, cabendo tanto à polícia
ambiental como à CETESB
(caso paulista) o poder de fiscalização e autuação dos não
cadastrados/regularizados. O
Castanho esclarece dúvidas sobre o
CAR – Cadastro Ambiental Rural
vínculo criado entre a regularização ambiental e a obtenção de crédito rural, aparentemente, não é obstáculo para
os grandes proprietários, pois,
os maiores volumes de crédito
rural acabam sendo destinados
a eles, que possuem ou contratam equipes técnicas capazes
de cumprir com a tarefa. Entretanto, para os pequenos e
médios produtores as dificuldades poderão vir a ser enormes.
3 – O CAR deve ser preenchido on line; assim há
a necessidade de acesso à
WEB, inclusive para a emissão do recibo final. Quais as
dificuldades que se vislumbram para que os produtores/proprietários tenham
esse acesso?
Os agricultores pouco familiarizados com rotinas computacionais poderão enfrentar
dificuldades com o preenchimento do CAR. O Decreto
7.830/2012 determina que,
para os produtores com menos
de 04 módulos fiscais, haja
apoio do Estado para preenchimento do formulário. Porém, a escassez de servidores
nos quadros das Secretarias
estaduais de Agricultura e de
Meio Ambiente para fazer
frente à demanda pelo serviço
de preenchimento do CAR é
realidade. Somente no Estado
de São Paulo, por exemplo,
encontram-se na condição de
receber essa assistência 273
mil imóveis rurais, para uma
equipe de engenheiros agrônomos, florestais, técnicos
agrícolas que não alcança se-
quer o milhar. O cenário de
produção de um colapso não
é implausível mediante a desproporção entre as quantidades assinaladas. A alternativa
de contratação de escritórios
de consultoria, normalmente
de contabilidade, é temerária,
pois, não se conhece ao certo
a competência técnica disponível para o serviço, o que
pode introduzir fonte espúria
de custo aos produtores. Ademais, o Decreto 8.235/2014
foi publicado antes que os
convênios entre as Prefeituras
e a Secretarias de Meio Ambiente estivessem formatados,
o que introduz perda de celeridade ao processo.
4 – O Programa de Regularização Ambiental – PRA
- foi instituído no Estado de
São Paulo? Quais os problemas e soluções advindos da
necessidade em aderir ao
PRA?
No caso paulista, o PRA
ainda não foi instituído e para
haver um plano será necessário antes que exista um cadastramento, no caso o CAR. Os
demais estados encontram-se
na mesma situação, com exceções dos Estados do Paraná
e Mato Grosso que, todavia,
terão que fazer convergir seus
sistemas com o nacional para
viabilizar de imediato seus
planos.
5 – Os produtores/proprietários que possuírem
Termos de Compromisso –
TC, anteriormente assinados poderão mantê-los e por
quanto tempo?
O chamado Termo de
Compromisso (TC) é assunto
para o qual cabe discussão,
inclusive jurídica. Por exemplo, aquele proprietário que já
averbou a reserva legal e/ou
área de proteção permanente
vai poder “desaverbar”? Também será possível pensar que
promotores de justiça da área
de meio ambiente poderão
obrigar o cumprimento dos
ajustamentos pactuados anteriormente. O mais provável
será que os agricultores poderão avaliar o que foi acordado
antes e o que passou a valer
pós CAR, optando por aquilo
que lhe for mais conveniente.
6 – No preenchimento do
CAR, o usuário se depara
com senhas de acesso. Se o
preenchimento se der através de representantes, como
evitar confusões de informações de usuários diversos?
É preciso reconhecer que
o sistema possui relativa
complexidade. As emissões
de senhas exigirão cuidadoso
controle por parte do representante legal encarregado de
preencher o CAR. Para contornar essa problemática creio
ser prudente a adoção de rotinas de trabalho bem formatadas.
7 – Um dos dados a
ser preenchido é o número do CIR. Será que todos
os produtores/proprietários possuem este
número? Caso contrário, qual será o custo para obtê-lo?
Revista do Café |
junho 2014
31
Todo declarante registrado
no INCRA possui o Código
do Imóvel Rural - CIR. Esse
número é fornecido após a
conclusão do cadastro no referido instituto. Aqueles proprietários não regulares no
INCRA certamente terão mais
esse custo (georefenciamento
do imóvel) para poder preencher o CAR. Poderá ocorrer
sobreposição de áreas quando
as divisas não são claramente
estabelecidas especialmente
naquelas em que há cobertura
florestal (Amazônia e Vale do
Ribeira, por exemplo). Esse
fenômeno criará um aspecto
nebuloso que será de difícil
resolução, notadamente se
houver áreas de vegetação natural nessas intersecções.
32
Celso Vegro
8 – O CAR se destina a
regularização ambiental e
não fundiária. Assim, não é
equivocado exigir dados que
somente são obtidos com os
competentes registros imobiliários?
A partir do momento em
que se exige o número de matrícula ou outro dado constante de documentos de posse
ou propriedade para a
inscrição no CAR,
estar-se-á, de certa
forma, obrigando
o produtor a fazer a regularização fundiária.
Há de se salientar que muito
imóveis
rurais
se encontram em
processo de
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junho 2014
inventário, o que pode demorar anos, atrasando o procedimento de cadastro.
9 – Por se tratar de ato
declaratório, caberá também aos produtores/proprietários desenhar o perímetro
da propriedade (latitude e
longitude, inclusive os cursos d’água, etc). Caso esses
dados não sejam de conhecimento onde consegui-los e a
que custos?
Sem dúvida que todo o
preenchimento do CAR é ato
declaratório. As coordenadas
de latitude e de longitude podem ser obtidas por meio do
emprego de um GPS ou com a
localização do imóvel nos mapas disponíveis na web. Nesse
último caso, pode ocorrer de
o agricultor não ser capaz de
manipular as ferramentas de
geolocalização, demandando
apoio técnico especializado
para auxiliá-lo.
10 – Após a conclusão do
prazo para a realização do
CAR, quais os cenários possíveis? Espera-se relevante
ganho na sustentabilidade
das explorações e sistemas
de produção? Haverá um
olhar diferenciado dos clientes internacionais com relação à produção agropecuária
brasileira?
Em termos de cenários
para pós CAR, pode-se imaginar um retrato atualizado
do uso do solo que pode ser
muito importante tanto para a
área ambiental como agrícola.
Viabilizaria ações de planejamento e de ação pública de
apoio ao segmento. Porém, a
iniciativa do CAR, na forma
como foi proposto, não está
devidamente conectado com
a ideia de instrumento para a
formatação de políticas públicas agropecuárias. Ademais, a
obrigatoriedade de RL e APP’s
não tem efeitos ambientais
substantivos para o meio am-
biente, ainda que a medida
propicie a recuperação de 2
milhões de hectares de margens de cursos d’água, apenas
no Estado de São Paulo. A exigência de RL por propriedade
é um equívoco técnico muito
grande porque se reveste de
pouca relevância ambiental. O
ideal seria aproveitar a lei para
implemantar uma política pública de Reservas Legais que
tivesse importância ambiental
em cada região do Estado. Pode-se imaginar que se formarão contínuos de mata ao longo desses cursos d’água, mas
isso aparentemente não confere condição ambiental mais
abrangente ao que aí está.
11 – Qual a atenção que
se deve ter quanto aos Programas de Regularização
Ambiental?
Quando os PRA’s forem
implementados, deve-se ter
certo cuidado com a definição
do que será considerado floresta, buscando aquela mais
abrangente, como o conceito
fornecido pelo Serviço Florestal Brasileiro – SFB. Esse
cuidado tem o potencial de
evitar que centenas de milhares de produtores rurais sejam
penalizados em decorrência de
conceitos muito mais restritivos ou ao sabor de decisões de
técnicos regionais.
Celso Luís Rodrigues Vegro, é
Engenheiro
de
Agrônomo
Economia
do
Agrícola
Instituto
–
IEA
Adriana Damiani Correia Campos,
é Advogada do Instituto de Economia
Agrícola – IEA
Panorama do evento
Fundação Procafé realiza Dias de Campo
33
Mais de 1600 pessoas, entre cafeicultores, técnicos e estudantes de agronomia, participaram dos Dias de Campo realizados
nos dias 28 e 29 de maio, na Fazenda Experimental da Fundação Procafé, em Varginha/MG, onde foram apresentadas as
novas tecnologias para melhoria das lavouras de café.
Em 08 diferentes estações de campo foram discutidos vários assuntos - Competição de cultivares com resistência à ferrugem; Incremento de produção e sistemas de irrigação de cafezais; Perdas com estiagem em cafezais; Emprego da estação
de avisos fitossanitários e manejo integrado; Condução de brotos em poda de cafeeiros; e, Demonstrações tecnológicas das
Empresas Basf, Adama e Syngenta, no controle de pragas e doenças do cafeeiro.
Também estiveram presentes
37 Empresas, com a montagem
de estandes no terreiro, onde
os participantes, nos intervalos
e no final das visitas a campo,
puderam obter mais informações, sobre maquinário exposto
e sobre o uso de adubos e de defensivos diversos.
O evento caracterizou, mais
uma vez, a grande importância
do trabalho desenvolvido pelo
Procafé, conduzido pelos agrônomos Jose Edgard Pinto Paiva,
José Braz Matiello e Antônio
Wander Rafael Garcia, que cada
vez mais se consolida como a
principal entidade atuante na
área da pesquisa voltada para a
experimentação.
Revista do Café |
junho 2014
Créditos: Divulgação Fundação Procafé
Álbum Naumann Gepp:
Café, fotografia e redes de
sociabilidade
N
o início do século XX, com o desenvolvimento da cafeicultura no Brasil, tornou-se prática comum a confecção
de álbuns fotográficos de grandes núcleos produtores, mostrando a fazenda do momento do plantio do café
até seu transporte e embarque. O Museu do Café conta em seu acervo com um exemplar particularmente
interessante, com a seguinte inscrição em sua capa:
“Mr. Geo W. Lawrence
WITH THE COMPLIMENTS OF MESSRS. NAUMANN, GEPP
& Co. LTD, SANTOS AND LONDON
OKTOBER 1928”
Pesquisas realizadas pelas equipes do Museu dão conta de que o Sr. Lawrence era um conhecido corretor de café em Nova York
e representante da Naumann Gepp, citado em jornal da época como melhor vendedor de café verde dos Estados Unidos.
( Sr. Lawrence está à frente da firma nova iorquina de comissão e corretagem Geo.W.Lawrence & Co. Ele tem a reputação de ser o melhor vendedor de café verde nos Estados
Unidos e é representante da Naumann Gepp & Co. de Santos e
da Vivaequa & Irmãos de Vitória).
Willemans Brazilian Review, p. 219-220
créditos: Acervo Museu do Café
O álbum dedicado ao sr. Lawrence conta com imagens do famoso fotógrafo alemão
Theodor Preising, que no período de 1927 a
1930 realizou trabalhos para a Secretaria de
Agricultura, documentando fazendas do interior do Estado de São Paulo. Nessas viagens,
Priesing aproveitou para produzir cartões postais além de realizar trabalhos sob encomenda
para fazendeiros da região.
O uso da fotografia como material de divulgação da transformação dos centros urbanos brasileiros – registrado em vários cartões
postais - assim como das principais atividades
econômicas como a cafeicultura, era comum
neste período.
As imagens do álbum dedicado ao Sr.
Lawrence mostram o processo de plantação,
colheita, secagem, beneficiamento e ensaque do café nas fazendas paulistas Boa Vista,
Canaã, Santa Maria, Santa Rita, Chapadão e
Guatapará. O álbum conta ainda com imagens
do transporte do café até a ferrovia, o rebeneficiamento nos armazéns já em Santos e o embarque no porto. Além disso, apresta imagens
panorâmicas da cidade de Santos e da fachada
da Bolsa Oficial de Café – importantes registros históricos para a cidade.
O estudo das informações contidas nesse conjunto de imagens
auxilia, por um lado, na compreensão do complexo cafeeiro em São
Paulo na década de 1920, a técnica e tecnologia aplicada na cafeicultura. Por outro, o álbum é um objeto testemunho que evidencia uma
rede de sociabilidade complexa: seu uso fortalecia laços entre produtores e exportadores com seus clientes no exterior – ação essencial
no competitivo mercado do café.
Bruno Bortoloto do Carmo
e Pietro Marchesini Amorim,
são pesquisadores do Museu do Café
Mordida na Banana
Q
36
uando o lateral Daniel
Alves, jogador do Barcelona, deu uma mordida naquela banana atirada
dentro do campo de futebol,
esconjurando com seu inusitado gesto a intolerância humana, todos aplaudimos. Depois,
confesso, meu pensamento de
agrônomo se desviou para outro assunto: por que, afinal, a
coitada da fruta carrega essa
maledicência associada ao preconceito racial? Difícil explicar.
A família botânica das musáceas origina-se nas regiões
tropicais do Sudoeste Asiático.
A Índia lidera o ranking mundial da produção de bananas,
seguida por Filipinas, China,
Equador e Brasil. Certamente os cachos da Musa spp têm
sido descascados pelos peludos
símios naquelas terras de olhos
puxados desde seu surgimento
no planeta Terra. Acontece, porém, que o preconceito racista
se originou aqui, no Ocidente,
onde os macacos, como os nativos do Brasil, só conheceram
uma banana após o Descobrimento. A fruta, afinal, veio
trazida pelos
portugueses.
Um macaco-prego ou
Revista do Café |
junho 2014
um bugio gostam mesmo é de
coco babaçu ou de caroço de jerivá, ambos frutos de palmeiras
nativas. Mas pegou a fama de a
exótica banana ser seu alimento predileto. Vá entender. De
forma semelhante, ninguém jamais explicou ao certo por que
Carmen Miranda, ao se exibir
para plateias norte-americanas,
se empetecava da cabeça aos
pés com cachos e folhas, cantando seu inesquecível refrão
“yes, nós temos banana”. Os
gringos adoravam.
Curioso. A fruta serve também aqui, no Brasil, para figuras de linguagem inusitadas, algumas depreciativas. “Plantar
bananeira”, em certas regiões,
como em Araras (SP), minha
terra natal, significa ficar de
ponta-cabeça, ou seja, virar-se
com as pernas para cima. O sentido da expressão dá a entender,
obviamente, que nas plantações
de banana tal prática é comum.
Ledo engano. Na formação dos
pomares, as mudas, chamadas
perfilhos, são colocadas dentro
de profundas covas sempre em
sentido normal, com as raízes
para o solo e a gema apical para
cima. Ora, como se explica,
então, essa expressão popular?
Jamais encontrei respostas.
Noutro caso, a fruta serve ao
raciocínio irônico. Comumente
as pessoas, numa molecagem,
quando querem desdenhar algo,
fazem um conhecido sinal com
os braços entrelaçados, cruzando o punho com o antebraço: “Aqui, ó, uma banana para
você”. Soa, claro, como se a
fruta simbolizasse algo rejeitável. Pior de tudo, especialmente aos olhos dos bananicultores, é alguém
dizer
que
uma coisa qualquer, por barata na compra, está com “preço
de banana”. Imaginem como
se chateiam os agricultores do
ramo. É como se nada valessem.
Não tem sido fácil a vida
dos bananicultores nacionais.
Além da desvalorização da fruta no mercado, doenças terríveis
têm ameaçado as plantações há
tempos. A mais recente e preocupante delas, a Sigatoka negra,
causada por um fungo, chegou
ao Brasil em 1998, trazendo
pesadelos ao bananal. Técnicos
apressados chegaram a afirmar
que estariam liquidados os pomares e seria decretada a extinção das lavouras. Exagero. A
boa agronomia, embora arduamente, está conseguindo enfrentar mais essa peleja patogênica. Sorte dos consumidores.
Fruta mais consumida no
mundo, unindo sabor, sustância
e saúde, a banana é adorada pelos esportistas, pois estes creem
que suas benesses combatem as
cãibras. É verdadeiro. A falta
de potássio no organismo leva
os músculos a se contraírem e
uma banana média supre 30%
das necessidades diárias de potássio do corpo humano. Estudo
realizado nas Filipinas indica,
ademais, que ingerir duas a três
bananas por dia combate a depressão e melhora o humor das
pessoas. O efeito benéfico atribui-se ao elevado conteúdo de
trip-
tofano, responsável pela sensação de bem-estar.
Mal-estar. Nesse estado,
apreensivos, se encontram atualmente os bananicultores do
Vale do Ribeira (SP), tradicional região produtora da mais
gostosa fruta encontrada na quitanda. O grande temor desta vez
vem do Equador. Ou melhor,
da caneta do governo brasileiro. Acontece que, pressionado pelos interesses de grandes
empresas norte-americanas, o
Ministério da Agricultura cogita de autorizar a importação da
fruta oriunda desse país. Se concretizada, a medida poderá pôr
em risco a produção da banana
nacional. Razões da competitividade.
Apenas cinco multinacionais controlam a produção e
o comércio internacional das
excelentes bananas produzidas
no Equador. Trabalham com
elevada tecnologia, alta escala,
tudo mecanizado. O padrão impecável de qualidade permitiu
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conquistar o mercado da Europa e dos EUA, locais onde nada
se produz de banana por causa
do frio do inverno. Mas suas
exportações caíram em razão da
crise econômica lá fora e começou a sobrar banana no mundo.
Azar do Brasil.
Pelas regras do comércio
internacional - nosso próprio
país lutando há décadas para
derrubar as barreiras do protecionismo agrícola -, sabe-se ser
complicado fechar fronteiras.
Normalmente se utiliza uma
saída técnica para impasses
dessa natureza, invocando problemas fitossanitários, ou seja,
a ameaça, que sempre existe,
da introdução externa de patógenos (fungos, bactérias, vírus)
nas lavouras internas. Tenta-se,
assim, não escancarar as portas
das importações, dado o perigo
de elas arrasarem a produção local. No caso brasileiro, os produtores ainda padecem de uma
desgraça apelidada de “custo
Brasil”: elevada carga tributá-
ria, logística deficiente, legislação trabalhista, burocracia.
Concorrência desleal.
Nesse governo, que nunca decide nada, resta
uma alternativa:
ao contrário do
Daniel Alves,
se essa banana do Equador aparecer,
que ninguém
a morda. Seria
um boicote do
consumidor em
defesa do emprego no campo.
Xico Graziano, é agrônomo,
foi Secretário de Agricultura e
do Meio Ambiente do estado
de São Paulo.
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jurídico
A repercussão das decisões do CA
integrais do PIS/PASEP e COFINS
a continuidade na via judicial
A
s empresas exportadoras de café ainda
enfrentam obstáculos
ocasionados pela divergência
de interpretação da legislação anterior da Contribuição
para o PIS/PASEP e da COFINS (arts. 8º e 9º da Lei nº.
10.925/04). Dois assuntos
têm sido objeto de preocupações: glosas dessas contribuições nas aquisições de café
de sociedades cooperativas
38
Revista do Café |
de produção agroindustrial e
de pessoas jurídicas inidôneas, assim declaradas, após o
período das aquisições. Em
relação ao primeiro assunto, a publicação da Solução
de Consulta COSIT nº 65/14
veio a esclarecer os principais pontos de divergência
na interpretação da Lei nº.
10.925/04, possibilitando o
desfecho favorável ainda na
esfera administrativa. Não
obstante, o presente artigo
tem como objetivo trazer reflexões, na eventualidade de
decisão desfavorável em última instância (“CARF”), sobre
os meios judiciais cabíveis
para a continuidade da discussão do direito à manutenção e
ao ressarcimento, em espécie,
dos referidos créditos.
Partindo de uma visão
pessimista do desfecho dessas
questões no âmbito do CARF,
o principal reflexo seria, após
o trânsito em julgado administrativo, a exigibilidade do
crédito tributário, com os seus
efeitos pertinentes (impossibilidade de obter certidões
negativas de débito, execução
fiscal, inscrição nos cadastros restritivos, entre outros).
Encerrada a discussão na via
administrativa, sem a possibilidade de novas reclamações
ou recursos, nos termos do
processo administrativo fiscal
(cf. art. 151, III, do CTN), o
crédito tributário (obrigação
tributária) passa a condição
de líquido e certo.
Mas a discussão relativa
ao direito aos créditos da Con-
junho 2014
créditos: daniel dutra
tribuição para o PIS/PASEP e
COFINS não termina. É possível a continuidade da questão na via judicial, o que dependerá das particularidades
de cada processo. Mais especificamente, da forma como a
matéria transitar em julgado
no âmbito administrativo (tais
como questão meramente de
direito e/ou de prova). A imprescindibilidade do depósito
do montante integral da dívida (para evitar a cobrança
do valor glosado) merece ser
avaliada, principalmente em
casos de declarações de compensação não-homologadas,
nas hipóteses de ressarcimento acelerado (Portaria MF nº.
340/10), ou mesmo em relação à multa isolada de ofício
de 50% (artigo 74, § 15 e 16
da Lei nº. 9.430/96) - esta última, na inexistência de mandado de segurança preventivo
impetrado pelo contribuinte.
Em tais situações, origina-se
um débito tributário a pagar.
Após o vencimento dessa
obrigação tributária, e antes da
execução fiscal, é possível garantir o juízo de forma antecipada,
por meio de ação cautelar, para
o fim de obter certidão positiva
com efeito de negativa (REsp.
1123669/RS, Rel. Min. Luiz Fux,
1ª Seção, DJe 01/02/2010, submetido ao regime do art. 543-C
do CPC). No entanto, a garantia
do débito não gera o efeito de suspender a exigibilidade do crédito
tributário, uma vez que a caução
não está entre as hipóteses previstas no art. 151 do CTN, segundo a
orientação jurisprudencial.
ARF sobre o direito aos créditos
nas operações com café:
Partindo desse artigo, suspendem a exigibilidade do
crédito tributário: a moratória
(I) o depósito do montante integral (inciso II), a concessão
da medida liminar em Mandado de Segurança (inciso IV),
a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada,
em outras espécies de ação
judicial (inciso V) e o parcelamento (inciso VI).
Neste sentido, contra a
decisão administrativa desfavorável ao contribuinte, a
defesa judicial pode ser, em
tese: a) por meio da impetração de mandado de segurança; ou, b) ajuizamento de uma
ação ordinária. No mandado
de segurança, além da prova
pré-constituída, é necessária a configuração do direito
líquido e certo. Por direito
líquido e certo, entende-se
aquele demostrado de plano.
Assim, por exemplo, tratando
de glosa de créditos da Contribuição para o PIS/PASEP
e da COFINS, nas aquisições
de pessoas jurídicas declaradas inidôneas, o direito poderá ser líquido e certo quando
evidenciada a ofensa ao Representativo de Controvérsia
do Superior Tribunal de Justiça (RESP nº. 1148444/MG c/c
Súmula STJ nº. 509), ou seja,
aos entendimentos já consolidados na jurisprudência.
Não sendo cabível o Mandado de Segurança, sempre
será possível a ação ordinária
que permite a ampla instrução
probatória. Assim, por exemplo, se, no processo administrativo fiscal, envolvendo a glosa
de créditos integrais da Con-
tribuição para o PIS/PASEP
e da COFINS, não há provas
quanto ao exercício cumulativo
das atividades agroindustriais
pelas sociedades cooperativas
fornecedoras, nas aquisições
destas, a ação ordinária revelase mais apropriada.
Voltando à suspensão da
exigibilidade do crédito tributário. Para a obtenção da
liminar, em mandado de segurança (inciso IV), são necessários os seguintes requisitos:
a relevância dos motivos em
que se assenta o pedido na
inicial (fumus boni juris) e a
possibilidade da ocorrência
de lesão irreparável ou de
difícil reparação (periculum
in mora). Em relação ao primeiro pressuposto, e ilustrando com a glosa de créditos
da Contribuição para o PIS/
PASEP e da COFINS, nas
aquisições de pessoas jurídicas declaradas inidôneas, a
relevância pode ser configurada, se ficarem, devidamente, comprovados, no curso do
processo administrativo fiscal, os pressupostos da legislação, conforme o artigo 82
da Lei nº. 9.430/96, a exemplo da entrada da mercadoria
no estabelecimento e o pagamento do preço, sem a existência de quaisquer indícios
de fraude/dolo. Ou seja, neste
caso, a instrução probatória já
foi amplamente abordada na
esfera administrativa, sendo
possível adequar os fatos à
jurisprudência. Já em relação
à possibilidade de ocorrência
de lesão irreparável, esta dependerá da situação particular de cada contribuinte, por
exemplo, da necessidade de
obtenção da certidão negativa de débitos para obter um
financiamento ou para participar de processo de licitação.
Para a antecipação de tutela também é necessário o
preenchimento de pressupostos semelhantes à liminar do
rito mandamental, amparada
no art. 273 do CPC: a prova
inequívoca, a verossimilhança
das alegações (fumus boni juris) e o fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora).
A obtenção da liminar (inciso IV) ou da antecipação da
tutela (inciso V) possuem efeitos semelhantes em relação às
multas. Neste caso, em razão da
exigibilidade do crédito tributário estar suspensa, a autoridade
administrativa não poderá efetuar
o lançamento da multa de ofício.
Além disso, interrompe-se a incidência da multa de mora, desde a
concessão da medida judicial, até
30 dias após a data da publicação
da decisão judicial que considerar
devido o tributo ou contribuição
(ou seja, em caso da medida liminar/tutela antecipada ser deferida
dentro do mês do vencimento da
obrigação tributária exemplo, incidirá menor percentual da multa
de mora).
Revista do Café |
junho 2014
jurídico
39
jurídico
Neste contexto, o depósito do montante integral (inciso II), outra causa suspensiva da exigibilidade, pode
ser tanto uma opção “principal” quanto “acessória”. A
opção será principal quando o contribuinte pretende
não arriscar a obtenção da
liminar/ tutela antecipada,
diante da ausência de um
dos pressupostos autorizadores ou na insegurança de
sua configuração, a exemplo
de não conseguir demonstrar o risco de lesão irreparável. Por sua vez, a opção
será “acessória” quando o
contribuinte opta por ingressar com a medida judicial,
para o fim de tentar obter a
liminar, em mandado de segurança, ou a antecipação
da tutela, em ação ordinária. Sendo o pleito liminar/
antecipatório indeferido, o
contribuinte poderá realizar,
como condição subsidiária,
inclusive sem autorização
judicial, o depósito do montante integral para, ao final
da demanda, levantar os valores ou vê-los convertidos
em renda da União.
A par dessas situações,
o artigo não procurou esgotar todas as avaliações
possíveis, mas, muito antes, esclarecer alguns pontos relevantes da continuidade, na via judicial, da
discussão dos créditos da
Contribuição para o PIS/
PASEP e da COFINS. Além
disso, estabeleceu alternativas viáveis, antes da opção do depósito judicial do
montante integral (art. 150,
II, CTN), para a suspensão
da exigibilidade do crédito
tributário. Sempre poderá
ser avaliada a tentativa de
ingressar com o Mandado
de Segurança ou mesmo a
ação ordinária, para obter a
liminar (art. 151, IV, CTN)
ou a antecipação da tutela
(art. 151, V, CTN). Nessas
condições, toda precaução
é necessária na busca da
suspensão da exigibilidade
do crédito tributário, com
os efeitos que lhe são pertinentes, evitando, assim,
prejuízos operacionais no
desenvolvimento das atividades da pessoa jurídica.
Eliana Anceles, Advogada, Administradora,
Mestre em Ciências Contábeis e Sócia da E&E
Consultoria e Soluções Tributárias.
40
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Revista do Café |
junho 2014
SRB estranha declarações de Ministro
sobre produção de café
A SRB divulgou Nota à Imprensa em relação as
declarações do Ministro da Agricultura, Neri Geller,
sobre a necessidade de revisão das previsões de safra
divulgadas pela Conab, a saber:
Nota à imprensa:
41
Revista do Café |
junho 2014
“
“
Temos que tratar as informações
sobre a nossa produção de maneira
serena para que tenha o menor
impacto possível no agronegócio
brasileiro. Volatilidade de preços não
interessa ao produtor de alimentos,
não interessa ao consumidor e
tampouco ao Brasil.
A Sociedade Rural Brasileira (SRB) estranha as declarações dadas pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, à agência de notícias
“Bloomberg’, no dia 03/06, sobre o impacto da pior
seca registrada nas principais regiões cafeeiras no
Brasil em 50 anos.
Mesmo diante de relatos de grandes perdas no rendimento e na qualidade dos cafés colhidos, vindos de
cafeicultores de todo o país, o Ministro informou que
previsões de safra divulgadas pela Conab, que apontavam para uma produção de 44 milhões de sacas, deverão ser revisadas, já que o impacto da seca teria sido
“amenizado” por chuvas ocorridas nos últimos dias.
Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira
(SRB), Gustavo Diniz Junqueira, as recentes chuvas
ajudaram as plantas, mas não alteram a produção desse ano que deve ficar entre 44 e 46 milhões de sacas.
“É precipitado assumir que essas chuvas irão alterar
os danos sofridos pelas plantas nos últimos meses.
A seca e o calor intenso afetaram os pés de café de
maneira profunda e os impactos serão sentidos pelas
próximas safras”, sentenciou.
Segundo Junqueira, o posicionamento do Ministro,
sem o devido embasamento, é incabível especialmente com os mercados abertos. “Isso pode levar a
tomada de decisões equivocadas por parte de muitos
players que não estão no campo acompanhando o que
está acontecendo”.
Ele lembrou que todas as informações oriundas do
Brasil tem repercussão mundial, assim como acontece
nos Estados Unidos. “Temos que tratar as informações sobre a nossa produção de maneira serena para
que tenha o menor impacto possível no agronegócio
brasileiro. Volatilidade de preços não interessa ao
produtor de alimentos, não interessa ao consumidor e
tampouco ao Brasil.”
Créditos: Divulgação SRB
Desoneração do imposto de
importação para Café em cápsulas
Demanda traz novos elementos para a importação de café
em grão cru
42
R
ecentemente, o MDIC
– Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comercio Exterior recebeu uma
demanda para a desoneração do
imposto de importação para o
café industrializado, torrado e
moído, porcionado em cápsulas.
A Associação Brasileira da
Indústria de Café – ABIC, manifesta sua preocupação com este
pleito, pelas consequências que
poderá trazer para as empresas
nacionais que estão investindo na
produção de cápsulas aqui no País,
e que ganham expressão e volume
crescentes, ao mesmo tempo em
que não se opõe à isenção do imposto de importação para as máquinas de extração do café, que
não tenham similar nacional.
De fato, pesquisas mostram
que o segmento de cápsulas evoluiu 36,5% em volume e 46,5%
em valor, no ano de 2013, no Brasil. A expectativa é que esse crescimento se mantenha nos próximos anos. Na França, o mercado
de cápsulas já representa 35% do
Revista do Café |
junho 2014
consumo. Este mercado de alto
valor agregado pode representar importante alternativa para
empresas nacionais de todos os
portes, notadamente as menores,
para reposicionarem-se no negócio, oferecendo alternativas inovadoras e diferenciadas.
A grande questão a considerar
é a iniciativa de inúmeras empresas brasileiras que estão atuando
ou entrando no ramo, seja pela
importação e distribuição interna
de cápsulas de café, em caráter
temporário, seja pela produção
interna de cápsulas e sua distribuição. Além disso, há vários
investimentos sendo realizados
para a construção e operação de
fábricas e máquinas de envasamento de cápsulas de café, que
atenderão tanto o mercado interno quanto a exportação do produto, no curtíssimo prazo.
Assim, já existe produção
nacional equivalente desses
produtos, o que torna a isenção do imposto de importação
injustificável.
A empresa Lucca Cafés Especiais, de Curitiba, por exemplo, produz há meses as cápsulas
DOP, com blends de várias origens brasileiras. Temos notícia de
que outras empresas brasileiras
já estão produzindo e comercializando suas cápsulas, como é o
caso da Baggio Cafés, de Araras,
em São Paulo, que oferece o produto em embalagem sofisticada,
em formato de latas, que protegem as cápsulas por muito tempo, sendo esta uma inovação.
Outra empresa que já produz
seus cafés porcionados é o Café
Orfeu, de Minas Gerais, e também o Café Seleto, com as cápsulas denominadas DOM, ambas
com produtos já sendo distribuídos no mercado nacional.
Como se percebe, em pouco
tempo surgiram inúmeras iniciativas, que se somarão a outras que
estão em finalização de desenvolvimento.
Por outro lado, outras empresas importam cápsulas hoje, mas
estão iniciando investimentos
grandes para construírem suas
próprias fabricas. É o caso do
Café UTAM, de Ribeirão Preto
- SP, que comercializa a marca
UNO e cujo parceiro de Portugal, que as produz hoje, a
empresa CAFFA, já tem as
instalações físicas prontas
naquela cidade e iniciará a
produção de cápsulas brasileiras
em julho deste ano.
É também o caso do Café 3
Corações, empresa líder do setor
de café torrado e moído no Brasil,
que já distribui seu sistema exclusivo denominado TRÊS, hoje
importado, e até o início de 2015
inaugurará a operação de uma
grande unidade industrial para produzir suas cápsulas. Além delas há
as cápsulas importadas L´Or, da
Master Blenders e as cápsulas e
máquinas de extração do café da
empresa DELTA, de Portugal.
Sob este ponto de vista - o
da exportação de cápsulas –,
considero que esta será a grande
oportunidade de transformar o
Brasil em plataforma exportadora de café industrializado, reequilibrando a balança do setor,
ganhando mercados externos que
hoje consomem grande volume
de cápsulas e oferecendo blends
nacionais e opções com cafés
originados em outros países produtores. Assim, a atenção aos esforços que estão sendo feitos por
empreendedores brasileiros no
País se justifica plenamente.
Efetivamente, a ABIC entende que não há por que estimular
a importação desonerada de cápsulas, pois isto poderá desestimular tanto o investimento que está
sendo feito atualmente, quanto
poderá inibir e desequilibrar
a exportação, em futuro muito
próximo, das cápsulas feitas aqui
no País. Melhor seria o governo
considerar o apoio efetivo à exportação de café torrado e moído,
porcionados ou não, a partir de
unidades industriais de alta tec-
nologia e elevada produtividade,
com parcela do investimento proveniente de bancos de fomento.
Na base deste posicionamento contrário à isenção do imposto
de importação, estão a vantagem
tributária conferida a produto importado, que não teria correspondência do mesmo benefício para
o produto nacional exportado, o
que não é aceitável, e, principalmente, o fato de criar um perigoso precedente ao se isentar a importação de CAFÉ TORRADO
E MOÍDO, uma vez que as cápsulas, atualmente, figuram com
NCM de café torrado e moído.
Assim, por semelhança, o
mercado nacional de café, que já
apresenta a concorrência de marcas estrangeiras de café T&M,
poderia ser “invadido” por outras
marcas importadas, não monodose, e com isenção tributária, pondo em risco a operação de muitas
empresas.
Além disso, a desoneração,
mesmo que temporária, de cafés porcionados produzidos com
cafés de outras origens, não iria
na direção contrária daquilo que
pregam os setores que não aceitam a importação e internalização ou o draw back de cafés de
outros países produtores? Como
justificar isto ao agronegócio e à
opinião publica, sendo o Brasil o
maior produtor mundial do grão
cru, a estimular com isenção de
impostos, a importação de café
industrializado?
Por outro lado, a produção
nacional de cápsulas de café,
porcionadas, irá trazer um novo
elemento à discussão, qual seja,
a autorização para importação de
cafés em grão cru de alta qualidade de outras origens produtoras.
Neste mercado, a composição de
blends diferenciados com
cafés brasileiros combinados com cafés de outras origens é fundamental
para assegurar diferenciação e preferência de um público consumidor altamente sensível e exigente, que aceita pagar
mais caro, mas exige cada vez
mais qualidade e inovação. Esta
importação seguramente seria de
quantidades pequenas, que não
oferecem qualquer risco para a
cafeicultura nacional, mas que
trazem ao blend certas características somente possíveis com o
uso desses grãos.
A ABIC é favorável à importação de café em grão cru de alta
qualidade, mas se opõe vigorosamente à isenção do imposto de
importação para o café torrado e
moído, empacotado ou porcionado, em cápsulas ou outras apresentações.
43
Takamitsu Sato,
é presidente da ABIC
créditos: Arquivo CCCRJ
Revista do Café |
junho 2014
Audiência Pública na
Assembleia de MG,
para discutir rotulagem
Especialistas consideram o projeto inexequível, desfavorável para
a cafeicultura, partindo de premissas equivocadas
44
N
o último dia 29 de
maio, a Assembleia
Legislativa realizou
uma audiência pública para
debater o Projeto de Lei nº
4.703/13, de autoria do Deputado Mário Henrique Costa
(PCdoB), que prevê a obrigatoriedade de que conste,
nos rótulos das embalagens
dos cafés torrados e moídos
comercializados no Estado, a variedade (arábica ou
robusta) e a sua participação percentual, no caso de
blend, no produto oferecido.
Além disso, devem constar
também, quando do uso de
café da variedade arábica, a
percentagem de PVA (grãos
pretos, verdes e ardidos) ali
contidos, bem como no caso
de plantas hibridas. Segundo
o projeto, a obrigatoriedade
destas informações se aplica
a todos os cafés t&m e solúveis comercializados em MG,
independentemente do local
de sua fabricação.
Revista do Café |
junho 2014
O autor do projeto fundamenta
a sua inédita proposta no objetivo
de “referenciar e valorizar o café
industrializado no Estado e que o
consumidor precisa saber o que
está comprando”. Em apoio à
proposta, o Presidente do SINCAL – Sindicato Nacional das Regiões Produtoras de Café, Armando Matielli sustenta que “ o café
brasileiro é de péssima qualidade.
São blends, misturas com quantidades significativas de conillon
(robustas), mais baratas e de qualidade baixa”. Denunciou também “
a presença de toxinas nos resíduos
(PVAs) do café arábica que compõem muitos produtos”. Fernando
Camargo, também do SINCAL,
afirmou que “a EMBRAPA tem
tecnologia para cumprir a tarefa
de atestar as variedades e PVA”.
Proposta
Inexequível
Manifestaram-se contrariamente à proposta, pela sua
inexequibilidade, o Diretor da
FAEMG, João Roberto Puliti, o Superintendente Regional
do Ministério da Agricultura,
Marcilio Magalhães, e o Deputado Federal Diego Andrade
(PSD-MG), todos indicando a
impossibilidade de se verificar a
percentagem de cada espécie de
grãos e de PVA e a inexistência
de tecnologia para a verificação
conclusiva de participação das
variedades.
Carlos Alberto Paulino, Presidente da COOXUPÉ, acrescentou a sua preocupação quanto às possíveis dificuldades e
perda de competitividade que a
medida poderia acarretar para a
indústria local, que seria a única
sujeita a tais normas restritivas,
e encarecimento para o consumidor de café mineiro, no que
foi contraditado pelo Sub-Secretário de Estado do Agronegócio , Antônio Gama, que sustentou que qualquer café, para
ser vendido em MG, teria de
atender as regras da lei local.
Crédito: Guilherme Bergamini
Os representantes da
ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café,
foram enfáticos quanto à inconveniência da proposta.
Américo Sato, Presidente da
ABIC, citou a falta de tecnologia para atestar, com precisão, a variedade usada na
formação do blend, os altos
custos envolvidos de se colocar tal tipo de informação
na embalagem, uma vez que
a composição é frequentemente alterada. Destacou
também que “o gosto do brasileiro, que prefere um café
mais forte, fruto da mistura
do café arábica com o robusta, o que torna desnecessário
diferenciar os blends”.
Nathan Herszkowicz, Diretor Executivo da ABIC criticou as declarações negativas
sobre a qualidade do café oferecido ao consumidor brasileiro, afirmando que não tem
qualquer procedência. Garantiu que a ABIC fiscaliza cerca
de 75% do café comercializado e pode atestar a sua qualidade e pureza, fatores que
são indiscutivelmente responsáveis pelos expressivos
aumentos no consumo interno
observados nos últimos anos,
na ordem de 4% anuais. Disse
ainda que “acusar a presença
de toxinas no café com PVA é
irresponsabilidade”.
O Deputado Adalclever
Lopes (PMDB), informou
que protocolou pedido para
que o PL 4703/13, seja também discutido na Comissão
de Fiscalização Orçamentária, por conta dos impactos
diretos que pode trazer ao
custo de produção e de venda
ao consumidor.
O Presidente da Comissão, Deputado Antônio Carlos Arantes, disse que em
face da complexidade do assunto, o debate deverá continuar em futuras audiências
públicas, e atestou a qualidade do café brasileiro.
Deputados Antônio Carlos Arantes (PSDB/MG), Mário Henrique Caixa (PcdoB/MG),
Diego Andrade (PSD/MG)
45
Américo Sato enumerou pontos do projeto que, segundo ele, precisam ser revistos.
Audiência pública promovida pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da
Assembleia Legislativa de MG
Revista do Café | junho 2014
fazendas
Fazenda São Fernando: da cultura de
alimentos de subsistência ao apogeu
das plantações de café e seu declínio
Profª. Leila Vilela Alegrio
A
política do reinado brasileiro para a interiorização da população das
terras brasileiras levou às primeiras ocupações do médio Vale
do Paraíba, no século XVIII.
Lá, inicialmente, pequenos agricultores, em condições bastante
Sede da Fazenda
precárias, se instalaram com suas
famílias e deram início ao cultivo de gêneros alimentícios para
sua subsistência e para abastecer
a cidade do Rio de Janeiro.
Antonio Luis dos Santos
já habitava a região quando
solicitou terras em sesmaria,
46
em 1789, a qual foi confirmada no ano de 1805.
Parte das terras adquiridas
por Antonio Luis foi doada a seu
filho, Fernando, que fundou a fazenda São Fernando.
Como o pai, Fernando começou a plantar principalmente
cana-de-açúcar, arroz, feijão,
alguns pés de café, hortaliças,
além de ter dado início a uma
criação de pequenos animais.
Antonio Luis dos Santos casouSede da Fazenda
Revista do Café |
junho 2014
se com uma das filhas do capitão
Ignacio de Souza Werneck, Luísa Maria Angélica. O casamento, entretanto, não durou muito,
pois Luísa Maria faleceu em
1825, em consequência de parto.
Conforme constata-se em seu
inventário post-mortem, a fazenda ainda não possuía luxo algum,
como se vê nas descrições dos bens
deixados: casa de vivenda coberta
de palha, móveis que restringiamse a dois catres, dois tamboretes de
campanha e caixas, algumas jóias,
duas mesas e outros utensílios, um
pequeno número da animais e apenas 3.500 pés de café.
Após o falecimento de d. Luisa Maria, Fernando tornou a se
casar, agora, com d. Jesuina Polucena, filha do sargento-mor José
Maria de Guadalupe e Maria Luisa d’Oliveira, e deste consórcio tiveram 12 filhos. Alguns anos mais
tarde, já no período do apogeu da
cultura do café, a fazenda começava a atingir sua maturidade.
Quando Fernando faleceu, em
1850, a fazenda já possuía toda a
infraestrutura necessária para a
produção e cultivo de café como
seu principal produto. Lá estavam
instalados 33 lances de senzalas,
paiol, terreiro para secar café, casa
para armazenar café, casas para
empregados e tropas, chiqueiros
murados, 189 escravos, e a plantação de café contava com 87 mil
pés da rubiácea, além de empregar
médico, capelão, arreador, feitores
e administradores. O mais importante é constatar que viviam com
grande conforto, pois a casa de
vivenda possuía mobiliário do que
de melhor existia na época, feitos
em jacarandá, vinhático e cabiúna
(mesa de jantar e jogo, aparadores,
piano, estante de livros, marquesas, guarda-roupas, cômodas, toucadores, lavatórios, canapés). Nas
refeições do dia-a-dia, talvez não
ostentasse a riqueza dos dias festivos e recepções, com as visitas
mais ilustres, quando os aparelhos
de porcelana, os cristais, os faqueiros de prata, os talheres com cabo
de marfim etc. eram colocados à
mesa. Era também nessas ocasiões
que aproveitavam a oportunidade
de usar as joias em ouro e prata.
A casa era sempre iluminada com
castiçais e arandelas de cobre,
lamparinas de porcelana, e possuía alguns objetos de decoração
como jarros para flores e quadros.
As roupas de cama eram de linho,
algodão americano e cretone; as
toalhas de mesa, o adamascado
fazendas
e os guardanapos, de musselina.
Toda essa riqueza no viver nada
mais era que o símbolo da ascensão socioeconômica que a família
tinha atingido, que a lavoura de
café trouxera.
Como herdeira e meeira
dos bens de Fernando, a viúva,
após partilha com seus filhos,
ficou com boa parte das terras,
a sede da fazenda, com suas
benfeitorias, 95 escravos e a
maior parte dos cafezais.
D. Jesuína Polucena não chorou por muito tempo a morte do
marido, pois cinco meses após a
morte de Fernando voltou a casar-se, em regime de comunhão
de bens, com o Dr. João Arsênio
Moreira Serra, considerado, por
quem o conhecia, como um homem culto, que proporcionou aos
enteados educação previlegiada,
em colégios na corte. Enriqueceu
a pequena estante de livros com
obras em português, mas também
em francês, espanhol e italiano,
sobre engenharia, medicina e literatura, além de um globo terrestre
e mapas geográficos.
Modernizou as instalações da
fazenda construindo enfermaria,
casa para mantimentos —assobradadas, forradas, coberta de telhas,
assoalhadas e com vidraças —,
olaria e tenda de ferreiros, para a
fabricação de telhas, tijolos, cravos, pregos etc., para garantir a autossuficiência da propriedade. Para
o beneficiamento de café, instalou
um engenho a vapor, com força de
oito cavalos, ventiladores, engenho de pilões de 15 mãos, além de
engenho de cana e moenda, roda
para cevar mandioca, prensa e forno de cobre.
Houve ainda uma pequena
modificação no trato com os cativos, que a partir de então prioriza
uma alimentação complementar
aos negros enfermos com carne
de galinha; e no Natal e em outras
festividades servia-se carne de
vaca, por considerar a alimentação e o tratamento mais humano
fatores determinantes para o rendimento do trabalho escravo, bem
como para a diminuição da mortalidade e das enfermidades. Mas
fica claro que não devemos nos
enganar que lá também não havia
castigos, e que este tratamento
“privilegiado” nada mais era do
que interesse econômico do que
propriamente humanitário.
Pode-se dizer, ainda, que as
condições de moradia dos escravos
também sofreram algumas melhorias. O número de negros, que em
1850 era de 189, abrigados em 33
lances de senzala, o que totalizava, em média, seis indivíduos por
compartimento, foi diminuído para
95 cativos com a partilha, e erguidos mais três lances de senzalas,
permitindo acomodar, então, três
escravos em cada unidade. Mas os
87 mil cafeeiros existentes quase
que dobraram, passando para mais
de 122.000 entre os anos de 1850
e 1855, e atingindo 207mil pés até
1865, o que fez com que o trabalho
nos cafezais também aumentasse.
D. Jesuína Polucena, entretanto, não pôde desfrutar por muitos
anos de todas as melhorias feitas
por João Arsênio — jardins, móveis, joias, belos cafezais —, pois
faleceu cinco anos após essas segundas núpcias, em 1855.
Em 1865, com a fazenda entrando em declínio, João Arsênio
falece, e deixa como sua herdeira
universal a enteada Guilhermina
Leopoldina d’0liveira Werneck,
que a vende seis meses mais tarde
ao sr. Mathias Bernardino Alexan-
dre, que a conservou por apenas
dois anos.
A fazenda foi adquirida por
José Ferreira Neves, que a impulsionou, aumentando a área territorial, o número de escravos (155) e
a plantação de café para cerca de
385 mil pés. No entanto, a situação da cultura do café começa seu
declínio, pelos fatores tantas vezes já mencionados —escotamento do solo, pragas, falta de braços.
Em 1878, a fazenda é hipotecada
ao Banco do Brasil, em 1879, o
sr. José vem a falecer, deixando a
viúva e os herdeiros com a dívida
contraída com o banco. Assim, ela
casa-se com José Benedicto Marcondes Machado, que passou a dirigir a São Fernando, assessorado
por um administrador, feitores e
capatazes.
A partir de então, a fazenda passou por grandes dificuldades, principalmente com os
escravos, com as rebeliões e até
mesmo homicídios.
Em 1887, chegava ao fim o
apogeu da fazenda São Fernando, pois o Banco do Brasil executa hipoteca, e nas descrições
dos bens do Edital publicado
no periódico O Vassourense, os
termos mais encontrados são:
“arruinados”, “muito arruinados”, “estragados” ou “cobertos
de capim”, caracterizando bem a
decadência da propriedade.
A fazenda São Fernando e sua
bela sede foram recuperadas, apenas, em 1983, por obra de seu novo
proprietário, que a reergueu. Mas o
café não faz mais parte dela, só a
sua história.
Revista do Café |
junho 2014
Jardins
47
Sustentabilidade Empresarial:
Dia de Campo
520 Produtores atendidos
Produtor Informado
838 Produtores capacitados
48
Revista do Café |
dezembro 2013
“O verdadeiro sabor do café”
Café Seguro
10.000 Produtores capacitados
Jovem Empreendedor
250 Jovens capacitados
Criança do Café na Escola
131 Laboratórios Digitais
40.000 Alunos e Adolescentes beneficiados.
Revista do Café |
dezembro 2013
49
panorama
PANORAMA
Roberto Ticoulat assume a
presidência do Conselho de
Administração do INCI
INCI
br eg a
INC
s: Ca ro
li n e N ó
50
cr éd ito
Roberto Penteado de Camargo Ticoulat foi eleito o novo presidente do Conselho de Administração da Associação dos Amigos do Museu do Café AAMC, sucedendo a Luiz Hafers que ocupou o cargo nos últimos 06 anos.
Instituto de Preservação e Difusão
Permanece na vice-presidência, Guilherme Braga, diretor
geral
doe daCecafé,
da História
do Café
Imigração
e Eduardo Carvalhaes Jr. como presidente do Comitê Executivo do Conselho de Administração da entidade.
Por exigência da legislação, a AAMC passou a se chamar Instituto de Preservação e Difusão da História do Café e da Imigração (INCI). Esta Organização Social é responsável pela gestão de dois importantes equipamentos
culturais do Estado de São Paulo, o Museu do Café e o Museu da Imigração. Instituto de Preserv
Ticoulat faz parte do Conselho Superior da Sociedade Rural Brasileira, é da História do Café
presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras, vice-presidente da
Associação Comercial de São Paulo, diretor da empresa Três Marias Exportação
Importação Ltda, entre outros cargos.
ulat
erto Tico
rs e Rob
Luiz Hafe
INCI
Instituto de Preservação e Difusão
da História do Café e da Imigração
Drink da Copa
O concurso cultural Drink da Copa promovido pelo Museu do Café recebeu oito baristas profissionais que disputaram com suas receitas elaboradas à base de café e ingredientes brasileiros,
criadas especialmente para o concurso, o título de melhor bebida do mundial.
“Show de Bola” do bartender e barista Rogério Rabbit foi
o drink campeão. A bebida é um refrigerante composto por
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ingredientes brasileiros, com café orgânico e guaraná, e um
leve toque de laranja. O drink faz parte do cardápio da Cafeteria do Museu durante o período da Copa do Mundo.
Revista
do Café | junho 2014
O campeão do concurso, Rogério Rabbit
O drink “Show de Bola”
créditos: Juh Guedes
panorama
Descerramento da fita inaugural
Museu do Café inaugura
exposição sobre design do café
O Museu do Café inaugurou, no dia 11 de junho, uma nova exposição temporária intitulada “Forma: objetos
do café”. A mostra aborda diferentes maneiras de preparo do produto, desde a moagem e torra do grão até sua
infusão, ressaltando as traduções estéticas dos diversos objetos utilizados durante esse processo. A
exposição fica em cartaz no primeiro andar do Museu até o dia 14 de setembro.
Durante o século XX, correntes da arquitetura, do desenho industrial e do design começaram
a projetar objetos que, além de obedecer a requisitos tecnológicos para extração da bebida,
possuíssem valor estético em seus formatos, estimulando a percepção visual de modo a caracterizar de maneira singular seus produtos.Com foco nos traços, formas e estruturas a mostra
traz diferentes objetos do acervo relacionados à torrefação e moagem manual, utilizados no
processo de industrialização e em estabelecimentos comerciais que servem a bebida coada.
A exposição também aborda o universo do cafezinho servido em lojas especializadas e cada
vez mais comum nos lares dos apaixonados pelo grão, graças à praticidade das cafeteiras
elétricas e das cápsulas de espresso. O visitante pode ver três tipos de cafeteiras desmontadas e compreender o funcionamento de cada máquina: a cafeteira Globinho, Moka e a Napolitana (essa última, por exemplo, foi criada há mais de 300 anos, em Nápoles, na Itália).
A exposição conta também com uma instalação cênica, com cerca de 200 xícaras, de vários modelos, penduradas no teto (foto). Os interessados em se aprofundar mais sobre o tema do design e a história da evolução
das máquinas de café, encontrarão no Centro de Preservação, Pesquisa e Referência do Museu, livros especializados no assunto para consulta.
ICONA CAFÉ Celebra seu
60º Aniversário
Fernando Navarro,
CEO da Icona Café
Uma das mais tradicionais Casas de comercialização internacional do
café, a ICONA CAFÉ, celebrou no último dia 14 de junho, em Pamplona,
Navarra, o seu 60º aniversário. A empresa espanhola, que mantém com o
Brasil laços comerciais muito fortes, tem sido, desde 2004, um parceiro
importante do CECAFÉ no fomento de programas de responsabilidade
social e de sustentabilidade. Com efeito, a ICONA prestigiou, desde o seu
lançamento, o Programa de Inclusão Digital – Criança do Café na Escola,
auxiliando a montagem de laboratórios de informática em escolas rurais,
voltado para crianças filhas de pequenos produtores e de trabalhadores rurais. O Diretor Geral do CECAFÉ, Guilherme Braga Pires, na impossibilidade de estar presente ao evento, apresentou à empresa os cumprimentos
do comércio exportador de café do Brasil.
Revista
créditos: Claudio Arouca/Edu Cesar
do
Café |
junho 2014
51
panorama
Sabor da Colheita 2014
A plantação do IB é o maior cafezal urbano paulista. O café produzido
por lá já foi disponibilizado ao público em outras edições. Nesta, os grãos
colhidos no Instituto foram doados ao Fundo Social de Solidariedade do
Estado de São Paulo, conduzido pela primeira-dama, Lu Alckmin.
Nathan Herszkowicz, Jânio Zeferino e Mônika Bergamaschi
Créditos: Divulgação Sindicafesp
O já tradicional evento “Sabor da Colheita”, que
marca o início da atividade em todas as lavouras
do Estado São Paulo, foi realizado no Instituto Biológico - IB com a presença de diversas lideranças
do setor, destacando-se Nathan Herszkowicz, presidente da Câmara Setorial de Café de São Paulo e
Jânio Zeferino, diretor do Departamento de Café do
MAPA . O encontro apresentou estágios da produção, contou com uma degustação de cafés, moda de
viola e a colheita – com direito a chapéu e balaio.
A secretária de Agricultura de SP, Mônika Bergamaschi, esteve presente e ressaltou a importância do Estado no setor. “Não é por acaso que nosso brasão está
rodeado por dois ramos de café. Hoje, São Paulo não
é mais o maior produtor do país, mas temos cafés de
qualidade. As indústrias, os portos, e o maior número
de consumidores do produto estão aqui”, afirmou.
Café: El Salvador decreta estado de
emergencia por causa da ferrugem
52
El Salvador decretou emergência fitossanitária pela ferrugem que afeta os
cafezais do país. Por causa do fungo, a previsão é de que a produção seja
de somente 536 mil sacas de 60 quilos na atual colheita, informaram fontes
oficiais.
O Ministério de Agricultura e Pecuária (MAG) de El Salvador disse em um
comunicado que a medida para combater o fungo da ferrugem nos cafezais
está vigente desde 30 de maio. Um porta-voz do MAG afirmou que se busca
“prevenir” que a atual época de
chuvas afete mais os cafezais,
já que com a medida serão facilitadas as compras de fungicidas de uma forma mais rápida
e a ajuda de países amigos. O
MAG, através dos técnicos da
Cadeia de Café, estabelecerá
as medidas de prevenção e supressão de focos da praga, bem
como a eliminação ou manejo
fitossanitário de plantas infestadas, controle biológico, cultural
e químico, entre outras coisas.
Na colheita passada, a produção de café foi de 1,32 milhão
de sacas e, em outubro passado, o Conselho Salvadorenho de Café (CSC)
projetava que a atual colheita seria de 820 mil sacas, mas em fevereiro,
reduziu para 554,3 mil sacas e, na semana passada, baixou ainda mais essa
estimativa para 536,6 mil sacas devido ao fungo. A previsão dos produtores
é pior, pois estimaram que, com sorte, a colheita chegará a 460 mil sacas,
declarou recentemente o presidente da Associação Cafeeira de El Salvador,
Sergio Ticas. A reportagem é da agência EFE.
Revista
do
Café |
junho 2014
Loja em Taiwan
imprime fotos na
espuma do café
Uma novidade de uma rede de cafeterias
está atraindo a curiosidade dos clientes e
fazendo sucesso em Taiwan: a impressão
de fotos na espuma do café.
Quando o cliente compra um café tamanho
médio, sua foto é capturada por uma câmera. A imagem é editada e, em seguida, impressa na espuma da xícara de café com leite. O processo leva cerca de cinco minutos.
panorama
Créditos: Luiz Prado/Agência Luz
Seminário Perspectivas para o
Agribusiness em 2014 e 2015
A BM&FBOVESPA e o MAPA realizaram, em São Paulo/SP, a 13ª edição do Seminário Perspectivas para o Agribusiness
em 2014 e 2015. O encontro reuniu nomes que são referência para o agronegócio, a economia e o mercado financeiro,
em um grande debate sobre as tendências das principais cadeias produtivas do país e os reflexos macroeconômicos sobre
o setor agropecuário. O evento também teve como objetivo a divulgação do mercado de derivativos de commodities e
sua função de gestão de risco de preços no agronegócio.
A solenidade de abertura do Seminário contou com a presença do ministro da Agricultura, Neri Geller; do diretor presidente da BM&FBOVESPA, Edemir Pinto; do presidente do Conselho de Administração da Bolsa Brasileira de Mercadorias, Luís Carlos Guedes Pinto; do presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Carlos Corrêa Carvalho;
da secretária da Agricultura e Abastecimento de SP, Mônika Bergamaschi; e do membro do Conselho de Administração
do CME Group, Charles Carey.
O painel “Perspectivas do mercado de café”, conduzido pelo jornalista Mauro Zafalon teve a participação de Gil Carlos
Barabach, Safra & Mercados; Moises Angelo, Três Corações; e, Carlos Alberto Fernandes Santana Jr., Empresa Interagrícola S.A (foto).
BM&FBovespa lançará novo contrato
de café em busca de mais liquidez
A BM&FBovespa vai lançar no segundo semestre deste ano um novo contrato futuro de café, com objetivo de aumentar
a liquidez da commodity na bolsa, cuja movimentação vem caindo gradativamente nos últimos anos.
A informação foi divulgada pelo diretor Comercial e de Desenvolvimento de
Mercado da BM&FBovespa, Fábio Dutra, durante evento do setor em São Paulo.
A única alteração do novo contrato será a especificação do tipo de qualidade do café, que passará de tipo 4/5 para 6/7, mas manterá as demais
características do contrato anterior, como quantidade e meses de vencimento, havendo negociação de ambos na Bolsa.
Dutra afirmou que a liquidez no mercado futuro de café, ou seja, o número de negócios neste segmento, vem diminuindo ano a ano no café.
“Nos últimos cinco anos, a gente perdeu muito volume... Muito pelo
efeito do IOF, que incide na negociação para quem vai operar o contrato
futuro e afeta o investidor estrangeiro”, disse.
Revista
do
Café |
junho 2014
53
panorama
Créditos: DANIEL DUTRA
João Lian é reconduzido à Presidência
do Conselho Deliberativo do Cecafé
No mês de maio passado, o CECAFÉ realizou a sua Assembleia Geral
Ordinária, para exame e aprovação do Relatório da Diretoria e das demonstrações financeiras do exercício de 2013, e aprovação do Orçamento de 2014. Destaque para as ações de Responsabilidade Social, com um
orçamento de R$ 750 mil, para os programas de Inclusão Digital, Produtor Informado e Café Seguro. Os laboratórios de informática instalados
em escolas nas áreas rurais totalizaram 131 salas. Na mesma oportunidade, foram eleitos os membros do Conselho Deliberativo, reconduzindose João Antonio Lian (no destaque) e Jorge Esteve Jorge para os cargos
de Presidente e Vice-Presidente do Conselho. Deliberou-se também realizar em maio de 2015 a 6ª edição do Forum & Coffee Dinner.
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Fusão cria a maior
empresa de café
do mundo
A Mondelez International (Kraft-Foods) e a sua concorrente
D.E. Master Blenders 1753 (Sara Lee), formaram uma joint
venture a ser controlada pela holding Jacobs Dowe Egberts,
dona da Master Blends. A nova companhia, com um faturamento anual de US$ 7 bilhões, será a maior empresa do mundo exclusivamente operando o negócio café, embora ainda
menor que o da sua principal rival, a suíça Nestlé.
No Brasil, a nova empresa tem as marcas Pilão, Senseo, Café do Ponto e Caboclo, hoje da Masters Blenders, que passará
a dirigir os negócios de café. Já a Mondelez se dedicará mais aos snacks e biscoitos (no Brasil, o chocolate Sonho de
Valsa e o biscoito Clube Social). Não é conhecido ainda o sistema de operação das unidades industriais e das políticas
de compra de matéria prima. Com isso, o oligopsônio formado por 5 empresas que detém cerca de 60% do mercado
mundial, se estreita ainda mais.
Revista
do
Café |
junho 2014
panorama
Setor cafeeiro examina
alternativas de embalagens
para evitar o encarecimento
dos custos
Empilhamento da sacaria
modelo Klabin
A atual legislação sobre embalagem de produtos agrícolas prevê que o peso da saca não pode exceder o máximo de 60
kg. No caso do café, tem se alegado que o peso carregado pelo ensacador ultrapassa o limite estipulado ao se computar o peso da sacaria de juta (de aproximadamente 400gr).
Essa situação está gerando reclamações trabalhistas, fundamentadas no fato de que o peso
carregado excede o peso máximo legal (60 kg) e que, por vezes, estaria gerando lesões
físicas ao trabalhador.
Ao mesmo tempo, tramita no Congresso o Projeto de Lei n° 5.746/2005 estabelecendo que a embalagem dos produtos agrícolas ou não será de 30 kg. Caso esse
PL seja aprovado ocorreria um grande encarecimento no custo da embalagem e da
movimentação de café.
O setor cafeeiro procura se adaptar. A Cooxupé, por exemplo, já está alertando
seus cooperados que passou a receber sacas de café com o peso de 55 kg e não
mais de 60 kg e que, a partir de 2016, só irá operar com café a granel ou big bags.
Os exportadores, por sua vez, estão examinando outras opções como a sacaria de
polipropileno e, inclusive, a sacaria de papel, a partir de modelo desenvolvido pela
Klabin (30 kg), que mostrou bons resultados em testes realizados na Cooxupé.
Imagem modelo Klabin
Cecafé promove Seminário sobre
alterações tributárias
Dentro de seu programa de realização de Cursos na área tributária, o CECAFÉ, desenvolveu na cidade de São Paulo Seminário de Estudos sobre a Lei nº 12.973, resultado da conversão da MP 627, sob a coordenação do Prof. Pedro Anceles.
Foram introduzidas inúmeras alterações de natureza tributária nas questões relacionadas ao Imposto de Renda/CSLL das
pessoas jurídicas tributadas pelo Lucro Real, Presumido e Arbitrado, ao PIS/PASEP, à Cofins, ao RTT, à adaptação das
normas contábeis, à tributação em bases universais e ao parcelamento especial.
Revista
do
Café |
junho 2014
Créditos: DANIEL DUTRA
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panorama
Colômbia substitui plantas por
variedades resistentes à ferrugem
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Nas cordilheiras ocidentais da Colômbia, a 1.300 metros de altitude, em viveiros, germinam milhões de mudas de um programa que busca
renovar os cafezais do país com uma variedade mais produtiva e resistente ao fungo da ferrugem.
Cerca de 5.000 produtores do sudoeste do país já renovaram suas plantações graças a esse programa de desenvolvimento rural da iniciativa
privada, que substitui gradualmente as plantas das variedades Caturra, Borbón e Típica, as mais cultivadas na Colômbia, mas susceptíveis de
contrair a ferrugem, fungo que tem devastado os cafezais da América Central.
As plantas desse viveiro financiado pela multinacional Nestlé são da variedade castillo, desenvolvida no país pelo Centro Nacional de Pesquisas
de Café (Cenicafé) a partir de cepas de Híbrido de Timor e Caturra.
A renovação de cafezais começou em 2010 como parte do Plano Nescafé, iniciativa da Nestlé com o apoio da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia (FNC), no qual a companhia distribuiu gratuitamente a
5.000 cafeicultores mais de 15,5 milhões de plantas de café castillo, com
as quais se renovaram 2.724 hectares, enquanto que a Federação de Cafezais se encarregou de dar capacitação técnica aos produtores.
A primeira colheita, feita nesse ano, foi comprada pela companhia que, para celebrar o êxito do programa, lançou uma edição
limitada de um café solúvel chamado Nescafé Cosecha Selecta,
que sairá à venda no próximo mês. “Com isso, buscamos proteger o campo colombiano da ferrugem que tem acabado com os
cafezais da América Central e que os produtores obtenham mais
rendimento por hectare cultivado”, disse o presidente da Nestlé
para a Colômbia e Equador, o espanhol, Manuel Andrés.
A Nestlé é o maior comprador de café da Colômbia, com 1,3 milhão de sacas de 60 quilos, equivalentes a 13% da produção nacional,
matéria-prima com a qual abastece a maior parte de suas fábricas no mundo.
O Plano Nescafé é uma iniciativa da multinacional suíça a nível mundial para fomentar a produção de grãos de alta qualidade como forma de agregar valor a essa matéria-prima em sua origem. O programa, que prevê investimentos de US$ 350 milhões a nível mundial o
período de 2010-2020, foi lançado no México há quatro anos e, além da Colômbia, foi implantado na Costa do Marfim, Filipinas, Tailândia
e China, e em breve também será instalado no Brasil, Equador e América Central, segundo a companhia. A reportagem é da Agencia EFE.
Empresa inova com embalagem inteligente
de café que dispensa o uso do filtro
Grower’s Cup vende cafés de diversos lugares do mundo, inclusive
do Brasil
Uma empresa dinamarquesa inovou na maneira de preparar café. Nada de cápsulas
ou o tradicional filtro. A bebida é preparada na própria embalagem. Basta adicionar água quente, que a própria embalagem funciona como filtro. A Grower´s
Cup vende cafés de diversos lugares do País, inclusive do Brasil, e chás.
A ideia de criar o método foi do diretor da empresa, Ulrik Skovgaard Rasmussen. Em uma tarde de 2002, ele se deu conta que tinha
acabado os filtros de café da sua casa. Irritado com a situação, ele
resolveu investir no desenvolvimento de uma solução para preparar
a bebida sem máquinas ou equipamentos.
A solução encontrada foi vender o produto em sachês. Para preparar
a bebida, o consumidor coloca água quente na embalagem, espera
alguns minutos e pode se servir, já que a embalagem tem um sistema
de filtragem. Cada embalagem rende duas xícaras de café.
Revista
do
Café |
junho 2014
panorama
BSCA coordena as ações do setor cafeeiro
no Projeto Copa do Mundo
Profissionais de redes cafeeiras do exterior realizarão negócios e conhecerão processos de produção, armazenamento e
logística dos cafés brasileiros
Com o propósito de atrair cerca de 2.300 compradores, investidores e formadores de opinião de 104 nações ao País para
realizar agendas de negócios e acompanhar os jogos do mundial, a APEX – Brasil realiza o Projeto Copa do Mundo,
desenvolvendo ações de promoção comercial e atração de investimentos que visam estimular as exportações brasileiras,
promover vendas, bem como projetar a imagem comercial do Brasil no mercado internacional.
No setor cafeeiro, a BSCA trará ao País empresários do exterior para conhecerem os processos de produção, armazenamento, logística e, principalmente, realizar negócios. Entre as ações do setor cafeeiro no Projeto Copa, coordenadas pela BSCA, constam rodadas de negócios, visitas técnicas a fazendas produtoras, atividades de interação
para a promoção do café e das regiões onde é produzido, além de sessões de cupping e debates a respeito de
qualidade e volume das safras 2014 e 2015 do Brasil.
O presidente da BSCA, Javier Faus Neto, cita que o Projeto Copa é de vital importância para a abertura de
novos mercados, bem como para a ampliação e a consolidação da imagem de qualidade que os cafés especiais brasileiros possuem nos tradicionais compradores. “Certamente conseguiremos criar um maior vínculo
com esses clientes, solidificar o relacionamento, ilustrar a eles o que explicamos sobre nossa cafeicultura nos
eventos internacionais e, consequentemente, aumentarmos as vendas do produto”, relata.
As empresas nacionais envolvidas na Copa do Mundo da FIFATM são Camocim, SMC Comercial e
Exportadora, Ally Brazilian Coffee, Companhia Monte Alegre, Bourbon Specialty Coffees, Andrade
Bros e ABEX Exportação e Comércio de Café. Entre as estrangeiras, participarão como convidadas
as norte-americanas Metropolis Coffee, F. Gavina & Sons, Greenfolia, Wolthers Duque, Sustainable
Harvest e Café Imports; as inglesas Mercanta The Coffee Hunters e Has Bean Coffee; as japonesas
Camel Coffee e Wataru & Co.; as suíças Cofi Roasters e Ecom; as sul-coreanas Eland e BP Commerce; a alemã CTS Coffee Trading Steal; a francesa Da Rosa Comptoir; e a chinesa Milan Gold Coffee.
produtor informado
sustentabilidade empresarial | inclusão digital
Formatura do Projeto Produtor Informado
em Divinolândia/SP
A Associação dos Moradores do Bairro do Campestrinho, em Divinolândia/SP, foi palco de mais uma inauguração do Projeto
Produtor Informado, coordenado pelo Cecafé. Foram 29 produtores rurais que alcançaram a inclusão digital através do curso de
iniciação à informática, ministrado pela monitora Mariane Cristina Mapelli.
Presentes na cerimônia, Ronaldo Taboada, Luciana Alves e Juliana Buton, do Cecafé, Ismar Ernani de Oliveira, prefeito, Paulo
Roberto Aurilietti, vereador, Maria Zulmira Alves Pereira, presidente da AMB, alunos e comunidade em geral.
Créditos: Lara Carvalho
Revista
do
Café |
junho 2014
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Storino, um nome
que deixará saudades
Miguel Barbosa
Créditos: arquivo CCCRJ
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F
aleceu, no dia 8 de abril
de 2014, o empresário
José Carlos dos Santos
Storino, vítima de um derrame
cerebral hemorrágico. Tinha 70
anos e deixa uma esposa, Ana
Maria Saraiva Storino, e uma filha, Cristiana. Storino atuou durante 40 anos no café exercendo
praticamente todas as atividades do negócio e, nos últimos
anos, concentrou-se na área da
corretagem internacional.
“Era um homem acima de
tudo ético, incapaz de prejudicar outra pessoa”, lamenta
Nelson Salvaterra, seu amigo
e sócio na trader Coffee New
Selection. “E era um homem
de fazer muitos amigos. Tinha
o Mauro Malta, o Paula Motta,
o Sérgio Luiz, Batista Mancini,
Jair Coser, da Unicafé, o João
Renzo, da Sendas, todos esses
foram muito amigos do Zé”.
Na empresa, uma de suas
principais funções era fazer relações públicas com os principais clientes.
Nascido no Rio, em 11 de dezembro de 1943, Storino começou a trabalhar com café no antigo Banco do Comércio do Café.
Em seguida foi para o IBC, onde
trabalhou por quatro anos no Departamento de Comercialização,
antes de ser convidado para trabalhar na Bozzo, como assessor
de administração do presidente
da firma, Ermínio Bozzo.
Algum tempo depois, Renato Celidônio, um dos diretores
da Bozzo, convidou Storino para
Revista do Café |
junho 2014
abrirem uma trader em sociedade. Chamaram também Sonia
Muniz, que hoje permanecia sócia dele na New Selection.
A trader aberta pelo trio era
especializada sobretudo em vendas para o leste da Europa, além
de fazer negócios com a Tchibo e
a Mitsubishi.
Passados alguns anos, Storino
aceita outro desafio. Muda-se para
São Paulo para trabalhar a venda
de café solúvel para a Rússia, num
trabalho em parceria com a Cacique.
Storino comprou uma fazenda
no estado do Rio, onde cultivou
café do tipo conillon, com ajuda
do agrônomo José Braz Matiello,
outro amigo de longa data.
Dentre as coisas que apreciava
nos momentos de lazer estavam
cavalos, pescaria e carros. Sócio
do Jockey Club no Rio de Janeiro, costumava passear por lá para
assistir às corridas e observar os
animais.
Quanto a pescaria, saía com
amigos de barco, onde voltava
com histórias incríveis de enormes peixes capturados. Durante o
tempo em que teve uma casa em
Angra dos Reis, esses passeios de
barco, com amigos, eram muito
comuns.
Frequentava exposições de
carros antigos e nunca parou de
sentir saudades de uma Mercedez que possuiu algumas décadas
atrás.
Storino fez um trabalho muito
importante junto a Cocamig, uma
das principais cooperativas de café
no país, ajudando-a a montar um
departamento de exportação de
café.
Tinha uma vida sedentária e
gostava de comidas fortes e pesadas, em especial culinária mineira.
Era católico, bastante devoto da Nossa Senhora das Graças.
Nasceu na Gávea, perto da
sede de seu time de coração, o
Flamengo.
Segundo Sergio Luiz Gonçaves, um de seus amigos mais
próximos, e que conviveu com
ele por mais de 40 anos, Storino
era um “profissional sério, caráter íntegro”, que fundou seu
“próprio negócio” e o “dirigiu
até os últimos dias de sua vida,
se sobressaindo na exportação
de rubiácea para Europa, principalmente para o leste europeu
(Rússia, Polônia, Hungria, Eslováquia e República Tcheca),
onde conquistou o respeito dos
importadores e demais empresários do setor”.
Segundo seu sócio, Nelson
Salvaterra, a Coffee New Selection faz operações de trading de aproximadamente 20 a
25 mil sacas por mês, fazendo
negócios com EUA, Canadá,
Espanha, Itália, Síria, Turquia,
Suíça, Israel. Vende cafés do
Grupo I e II.
No dia 16 de março deste
ano, ele voltava da rua com sua
esposa, onde fora tomar um
café perto de casa, em Laranjeiras, e sentiu-se mal. Após alguns minutos, desmaiou. A ambulância o levou a um hospital,
onde detectaram a ocorrência
de um derrame hemorrágico.
Foi submetido a uma cirurgia
de emergência, mas não se recuperou. Faleceu oito dias depois.
Homem afável e bem humorado, deixará fortes saudades
entre os muitos amigos que fez
durante essas décadas ajudando
o Brasil a exportar café.

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