Ecologia da Paisagem e Restauração
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Ecologia da Paisagem e Restauração
Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais – CBRN Projeto de Recuperação de Matas Ciliares Treinamento: Recuperação de Áreas Degradadas Ecologia da Paisagem e Restauração Leandro Reverberi Tambosi Jaú, 23 de Março de 2010 Quem? - Biólogo - Mestrado em ecologia - Doutorando em Ecologia – LEPaC - Análises de paisagem - LERF - Pesquisa - Aplicação da pesquisa – Interação Universidade Sociedade Créditos da apresentação Apresentação baseada em material desenvolvido por diversos pesquisadores do LEPaC – Jean Paul Metzger, Milton Cézar Ribeiro, Giordano Ciocheti, Leandro Reverberi Tambosi, Alexandre Igari, Vânia Pivello Estrutura da apresentação - Paisagem e ecologia de paisagem - Fragmentação - Elementos da paisagem - Biogeografia de Ilhas e Metapopulações - Conectividade - Restauração e conectividade - Escalas de planejamento Fornecer alguns conceitos básicos (mas nem tanto!) e importantes (e muito!) para incorporar no planejamento da restauração O que é paisagem? O que é paisagem? • Definição atual da “paisagem do ecólogo”: METZGER, J. P. (2001): “a paisagem é um mosaico heterogêneo formado por unidades interativas. Esta heterogeneidade existe para pelo menos um fator, segundo um observador e numa determinada escala” – Visão pelo olho do Homem – Visão pelo “olho” de outras espécies PERCEPÇÃO DAS ESPÉCIES Ecologia de paisagens Abordagem Geográfica: Disciplina integradora que analisa a influência do homem sobre a paisagem Voltada para o planejamento e gerenciamento territorial Abordagem Ecológica: Enfatiza a estrutura e a dinâmica de mosaicos e seus efeitos sobre os processos ecológicos. É uma ecologia espacialmente explícita Abordagem da paisagem sob uma visão ecológica, voltada para problemas de conservação Conservação de paisagens fragmentadas FRAGMENTAÇÃO HABITAT CONTÍNUO HABITAT FRAGMENTADO FLORESTA FLORESTA FRAGMENTAÇÃO X DESMATAMENTO Perda de habitat SEM fragmentação Perda de habitat COM fragmentação Diferentes processos de fragmentação Conceito de mancha-corredor-matriz Agricultura b Numa determinada Escala: c a1 Mancha: Área homogênea, restrita e não-linear da paisagem que se distin- gue das unidades vizinhas. Corredor: a2 e Área homogênea e linear da paisa- gem que se distingue das unidades vizinhas. d a3 Pastagem b Reflorestamento Matriz: Unidade dominante da paisagem (espacial e funcionalmente); ou conjunto de unidades de não-habitat Conceito de mancha-corredor-matriz Agricultura Efeito de borda b Numa determinada Escala: c a1 Mancha: Área homogênea, restrita e não-linear da paisagem que se distin- gue das unidades vizinhas. Corredor: a2 e Área homogênea e linear da paisa- gem que se distingue das unidades vizinhas. d a3 Pastagem b Reflorestamento Por que paisagem ??? Matriz: Unidade dominante da paisagem (espacial e funcionalmente); ou conjunto de unidades de não-habitat Área nuclear Biogeografia de Ilha – MacArthur & Wilson, 1967 Observações sobre a teoria da Biogeografia de Ilha • As comunidades das ilhas apresentam menor riqueza quando comparadas às comunidades continentais (Sc > S1) •A Riqueza das ilhas aumenta com seu tamanho S3 S4 S1 S2 •A Riqueza diminui com o afastamento do continente Sc > S1, S2, S3, S4 S1 > S3 S2 > S4 S2 > S1 S4 > S3 Sc Biogeografia de Ilha - Equilíbrio Dinâmico entre imigração e extinção Taxa de Taxa de Unidade =Espécie/tempo Imigração Extinção 0 Espécie nova chega à ilha Se Número de Espécies P Biogeografia de Ilha - Equilíbrio Dinâmico entre imigração e extinção Unidade =Espécie/tempo Taxa de Taxa de Imigração Extinção 0 Espécie com maior capacidade de deslocamento chegam mais rapidamente Se Número de Espécies P Predação e Competição aumentam o risco de extinção Imigração 0 SeGR SePQ Número de Espécies Taxa de Gr an Pe qu en a Taxa de de Biogeografia de Ilha - Equilíbrio Dinâmico depende da área da ilha Extinção P Biogeografia de Ilha - Equilíbrio Dinâmico depende do isolamento im óx Pr Taxa de Extinção a Imigração Taxa de Di st 0 an te SeProx SeDist Número de Espécies P Biogeografia de Ilha Limitações para hábitats fragmentados 1. Não considera diferenças entre espécies 2. Não houve tempo para ocorrer equilíbrio biogeográfico 3. A analogia entre FRAGMENTOS e ILHAS é fraco 4. Isolamento não é a melhor medida de espaçamento 5. Não leva em consideração a qualidade do habitat Metapopulação Conjunto de sub-populações isoladas espacialmente em fragmentos de habitat e unidas funcionalmente por fluxos biológicos. Metapopulação Extinção e Recolonização Populações locais correm risco de extinção: existe uma dinâmica de extinções e recolonizações locais Fragmento Ocupado Fragmento Vazio Tempo 1 Tempo 2 Metapopulações: premissas Biologia de populações – premissas para a abordagem de Metapopulações 1. A estrutura reprodutiva é local 2. A migração entre as populações locais tem uma influência limitada na dinâmica local, permitindo principalmente o restabelecimento de populações locais extintas Metapopulações: premissas • As premissas são diferentes dos modelos clássicos onde a as populações são Panmíticas (todos os indivíduos tem a mesma chance de interagir) • Metapopulação considera a posição dos indivíduos no espaço e tempo Modelo Clássico Metapop de Levins (1969) • • • • • • Grande número de manchas de habitat As manchas são de mesmo tamanho Grau de isolamento similar entre as manchas Manchas unidas por migrações Ignora o tamanho populacional local Habitat está ou não ocupado? Proporção (P) de fragmentos ocupados = 10/14 Modelo Clássico Metapop de Levins (1969) Levins é um uma forma simples de descrever a dinâmica de ocupação das manchas de habitat : dp/dt Neste modelo: 1. Risco de extinção é considerado igual para todas as manchas [e] 2. Proporção de Fragmentos ocupados é [P] 3. Taxa de extinção no tempo [t] é [e.P] 4. Possibilidade de colonização é relacionada à proporção de manchas ocupadas “fontes colonizadoras” : [c.P] 5. Taxa de colonização no tempo (t) é de [c.P(1-P) ] dP/dt = cP (1-P) - eP A METAPOP se mantém se e/c < 1 ou se c>e Modelo Clássico Metapop de Levins A METAPOP se mantém se e/c < 1 ou se c>e A Metapopulação corre risco de extinção quando 1. O Tamanho médio dos fragmentos diminui; 2. Aumenta o isolamento entre os fragmentos (diminui a densidade de fragmentos) Tamanho Médio Maior Tamanho Médio Menor Tempo 1 Tempo 2 Modelo Clássico Metapop de Levins A METAPOP se mantém se e/c < 1 ou se c>e A Metapopulação corre risco de extinção quando 1. O Tamanho médio dos fragmentos diminui; 2. Aumenta o isolamento entre os fragmentos (diminui a densidade de fragmentos) Menor Isolamento Maior Isolamento Tempo 1 Tempo 2 Metapopulação Recursos Regionais e Extinção No modelo de Levins: 1.Os Recursos Regionais (P) interferem na colonização 2. A extinção é constante dP/dt = cP (1-P) - eP cP = constante de colinização Fragmento Ocupado cP cP Fragmento Vazio e e = constante de extinção cP e e Diferentes Tipos de Metapopulação Círculos preenchidos representam hábitat ocupado; Círculos vazios representam habitat disponível; Linhas pontilhadas representam vizinhança da população local; Setas representam dispersão. a) Modelo Clássico de Levins; b) Ilha Principal (fonte); c) população “dividida”; d) metapopulação em desequilíbrio; e) caso intermediário, combinando (a) (b) (c) e (d) Perda de Habitat, Fragmentação e a Paisagem Paisagem e Limiares ANDRÉN [1994] O ARRANJO ESPACIAL É IMPORTANTE quando o habitat ocupa menos de 30% da paisagem as manchas de habitat se dispõem de forma mais dispersa e isolada o padrão espacial é importante PAISAGENS FRAGMENTADAS em FAHRIG [1998] D3 O ARRANJO ESPACIAL É IMPORTANTE quando o deslocamento da espécie estudada é menor do que [D1 + D2 + D3] / 3 D2 D1 Conectividade Conectividade estrutural X funcional Espécie sensível a borda – efeito 30 m Conectividade estrutural X funcional Espécie se desloca pela matriz – 30 m Mundo Real – e agora??? 200000 205000 210000 215000 220000 230000 235000 240000 245000 250000 255000 Legenda 3 SP-3 SP -25 3 Hidrografia 0 7625000 225000 Rodovia Limite da Unidade de Conservação 7625000 195000 7620000 7620000 Vegetação arbustiva/arbórea Floresta ribeirinha Silvicultura Cana-de-açúcar SP255 Vegetação herbácea de área alagável Pastagem 7615000 Vegetação herbácea não alagável Corpo d'água 7610000 Instalação rural 7610000 7615000 Citricultura Área urbanizada Instalação industrial Área de mineração 7605000 7605000 Depósito de lixo 7600000 7600000 Outra classe 195000 7595000 7590000 2,5 5 10 Projeção: UTM Quilômetros Datum: SAD-69 Zona: 23S 7585000 7590000 7585000 8 7595000 31 SP- ± 0 Mapeamento realizado em escala 1:15.000 200000 205000 210000 215000 220000 225000 230000 235000 240000 245000 250000 255000 Mundo Real – a matriz importa? A matriz importa Foto: Marcelo Awade 2009 A matriz importa • Aves florestais na Amazônia: matriz com diferentes características afetam a movimentação • Falconiformes na região de Itirapina: preferência por fisionomias de cerrado aberto. • Diferentes matrizes influenciam área de vida e uso de habitat Tema central Restauração Por que Paisagem???? • Pouca área de remanescentes naturais Isolamento médio Isolamento (1) >1.000m (2) 500-1000m (3) 250-500m (4) 100-250m (5) <100m Fonte: www.lerf.esalq.usp.br Tambosi Tambosi Tambosi Quando restaurar? • Quando a paisagem não percola • Quando a paisagem apresenta alto grau de isolamento • Quando a área de vegetação < que área de vida mínima • Redução de efeito de borda Degradação das APPs Fonte: www.lerf.esalq.usp.br Estratégias para a paisagem Restauração de mata ciliar melhora a paisagem?? Situação dos fragmentos antes da restauração das matas ciliares Vegetação Florestal 6 ENN até 30 m ENNENN deaté3030am60 m ENN de 30 a 60 m ENNENN dede60 90mm 60 a a 90 5 log(prox+1) 4 3 2 1 0 0 0,5 Fonte: Tambosi 2008 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 3 3,5 4 4,5 Situação dos fragmentos antes da restauração das matas ciliares Vegetação Florestal 6 ENN até 30 m ENNENN deaté3030am60 m ENN de 30 a 60 m ENNENN dede60 90mm 60 a a 90 5 log(prox+1) 4 3 2 1 0 0 0,5 Fonte: Tambosi 2008 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 3 3,5 4 4,5 Situação dos fragmentos antes da restauração das matas ciliares Vegetação Florestal 6 ENN de a 180 ENN de9090 a m180 m ENN de 180 a 500 m ENN a 500 m ENN >de 500180 m ENN > 500 m 5 log(prox+1) 4 3 2 1 0 0 0,5 Fonte: Tambosi 2008 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 3 3,5 4 4,5 Situação dos fragmentos após a restauração • APPs de vegetação arbórea ENN até 30m ENN de 30 até 60m ENN de 60 até 90m ENN de 90 até 180m ENN de 180m até 500m ENN > 500m 6 ENN até 30 m ENN de 30 a 60 m ENN de 60 a 90 m 5 4 log(prox+1) 6 3 2 5 1 0 4 0 5 3 4 log(prox+1) log(prox+1) 6 2 0,5 1 1,5 2 2,5 ENN até 30m log(área+1) ENN de 30 até 60m ENN de 60 até 90m ENN de 90 até 180m ENN de 180m até 500m ENN > 500m 3 3,5 4 4,5 ENN de 90 a 180 m ENN de 180 a 500 m ENN > 500 m 3 2 1 1 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 0 0 0,5 Fonte: Tambosi 2008 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 3 3,5 4 4,5 3 3,5 4 4,5 Situação dos fragmentos após a restauração • APPs de vegetação arbórea ENN até 30m ENN de 30 até 60m ENN de 60 até 90m ENN de 90 até 180m ENN de 180m até 500m ENN > 500m 6 ENN até 30 m ENN de 30 a 60 m ENN de 60 a 90 m 5 6 log(prox+1) 4 5 3 2 1 4 log(prox+1) 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 log(área+1) 6 3 ENN de 90 a 180 m ENN de 180 a 500 m ENN > 500 m 5 4 log(prox+1) 2 1 3 2 1 0 0 0 0,5 Fonte: Tambosi 2008 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 3 3,5 4 0 0,5 1 1,5 2 2,5 log(área+1) 3 3,5 4 4,5 Restauração de matas ciliares e a conectividade funcional Cenário atual Fonte: Tambosi 2008 APP restaurada Resultados – Conectividade funcional Cenário atual – 30 metros Fonte: Tambosi 2008 Resultados – Conectividade funcional Cenário atual – 30 metros Fonte: Tambosi 2008 Resultados – Conectividade funcional Cenário restaurado – 30 metros Fonte: Tambosi 2008 Resultados – Conectividade funcional Cenário atual – 500 metros Fonte: Tambosi 2008 Resultados – Conectividade funcional Cenário restaurado – 500 metros Fonte: Tambosi 2008 Escalas para planejar a restauração Escala Regional Escala local Subsídios para o planejamento regional Como foi feito? – Como pode ser usado? Todos os 7 grupos biológicos indicaram áreas para incremento da conectividade O grupo de paisagem indicou fragmentos importantes para o incremento da conectividade Manchas com 7 indicações foram indicadas por todos os grupos biológicos e devem conter fragmentos destacados com 8 indicações que foram selecionados pelo grupo de paisagem Manchas com 5 indicações não foram indicadas por apenas 2 grupos biológicos Manchas com 4 indicações foram indicadas por mais de 50% dos grupos biológicos Aplicação em escala local voltada para Restauração Florestal Definição do cronograma de restauração florestal a partir de análises de paisagem Onde restaurar ? Situação da área a ser restaurada e esforço necessário para restaurar Área dos fragmentos existentes Área do fragmento restaurado Restauração Ordem de restauração Priorizar conexão entre fragmentos 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Ótima Porcentagem da restauração concluída Tempo acumulado (dias) 10834 10784 10701 10554 10478 10426 10284 9589 8887 8364 7693 6620 5658 Aleatória 0 Área conectada acumulada Área conectada X Tempo de restauração Diferentes estratégias Etapasde restauração • Localização das propriedades no mapa para incremento de conectividade • Verificar a presença de UCs • Complementar o mapeamento fora das propriedades (mapeamento IF-SP) • Identificação das áreas formadas após a restauração • Riqueza das áreas formadas • Definição do cronograma Seleção da melhor estratégia de restauração Porcentagem executada das áreas a serem restauradas 100 90 80 70 60 Cenário 1 Cenário 2 50 Cenário 3 40 30 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 70 Porcentagem do tempo de restauração 80 90 100 Diferentes estratégias Etapasde restauração • Localização das propriedades no mapa para incremento de conectividade • Verificar a presença de UCs • Complementar o mapeamento fora das propriedades (mapeamento IF-SP) • Identificação das áreas formadas após a restauração • Riqueza das áreas formadas • Definição do cronograma Etapas • Localização das propriedades no mapa para incremento de conectividade • Verificar a presença de UCs Área de vegetação após restauração • Complementar o mapeamento fora das propriedades (mapeamento IF-SP) • Identificação das áreas formadas após a restauração • Riqueza das áreas formadas • Definição do cronograma IAR = Área a ser restaurada na propriedade Área de vegetação após a restauração Estratégias de restauração Quais as possíveis ameaças? Que tipo de impacto essas ameaças causam? Quais as estratégias para restauração? Propor a criação de uma reserva legal -onde, porque e como recuperar? Muito Obrigado!! Leandro Reverberi Tambosi [email protected]