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20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil
ÁNALISE DE TRANSMITÂNCIA E REFLETÂNCIA APÓS O BENEFICIAMENTO DE
TECIDOS PLANOS
Miashita, A.S. 1, Barreto, M.R. 1, Rossato, R. 1, Scacchetti, F.A.P. 1, Silva, L.H. 2
1 Universidade
2
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Apucarana – Brasil – 86812-460.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Santa Helena– Brasil – 85892-000.
Resumo
Os estudos acerca da proteção de radiação proporcionada por têxteis vêm ganhando destaque em
nível mundial devido ao aumento alarmante da incidência de câncer de pele. Embora alguns
parâmetros afetem a transmissão da radiação ultravioleta em tecidos, como o tipo de fibra ou
características estruturais do tecido, a maioria dos estudos esta voltada para uma abordagem
química para reforçar a proteção contra os raios ultravioletas, tal como, processos de tingimento ou
a presença de agentes absorventes ou bloqueadores da luz ultravioleta. O presente trabalho teve
como objetivo avaliar sete amostras têxteis que se diferenciaram quanto ao beneficiamento químico,
a fim de avaliar os valores de transmitância e refletância. Os resultados experimentais obtidos
através de espectroscopia UV/visível mostraram a influência dos processos de beneficiamento
primário e secundário na transmitância e refletância de raios ultravioletas em têxteis.
Palavras chaves: Radiação Ultravioleta; Transmitância; Refletância; Fator de proteção.
Abstract
The studies on radiation protection provided by textile have been gaining prominence globally due
to the alarming increase of skin cancer. Although some parameters affect the transmission of
ultraviolet radiation in tissues such as the type of fiber or the structural characteristics of tissue,
most researches are focused on a chemical approach to enhance protection against ultraviolet rays,
such as either the dyeing processes or the presence of blocking agents absorbents or ultraviolet
light. This study aims to evaluate seven textile samples that differed as to chemical processing in
order to evaluate the values of transmittance and reflectance. The experimental results obtained
using UV / visible spectroscopy showed the influence from the primary and secondary beneficiation
processes on transmittance and reflectance of ultraviolet rays in textiles.
Keywords: Ultraviolet Radiation; Transmittance; Reflectance; Protection factor.
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1. RAIOS ULTRAVIOLETAS: CARACTERÍSTICAS E PROTEÇÃO
Com a tecnologia e a informação chegando cada vez mais rápido à população, as pessoas
começaram a conscientizar-se da necessidade de protegerem-se do aumento da radiação ultravioleta
(UVR), que são prejudiciais à saúde. Os efeitos benéficos da exposição humana à UVR é bem
conhecida. O principal benefício é a síntese da vitamina D a partir de precursores na pele. Outros
efeitos benéficos da UVR são principalmente terapêuticos (SNEZANA et al., 2009). No entanto, um
prolongado e repetitivo tempo exposto ao sol causam alguns efeitos prejudiciais à saúde da
população.
Quando a pele desprotegida é exposta aos raios ultravioletas (UV), diversas moléculas da
pele podem absorver a radiação e sofrer alterações químicas. O DNA, principalmente, é uma das
moléculas que mais absorvem esse tipo de radiação e pode sofrer mutações. Devido a esses
impactos causados pelo excesso de UVR, tem aumentado a conscientização pública sobre a
necessidade de adotar estratégias de proteção, tais como, o uso de filtros solares (fotoprotetores) nas
partes do corpo que estão expostas ao sol. No entanto, a proteção fornecida pelos protetores solares
não é de longa duração e exige que seja feito um complemento frequente a cada período de tempo.
O uso de fotoprotetores, vestimentas protetoras e exposição moderada a luz solar, são
algumas das maneiras de evitar as consequências ao excesso de exposição à UVR. Os fotoprotetores
são compostos de diversos tipos de filtros orgânicos, que funcionam como absorvedores químicos e,
inorgânicos, que funcionam como bloqueadores químicos. Através da metodologia in vivo, pode-se
medir a eficácia por meio do fator de proteção solar (FPS) (BALOGH et al., 2011). O conceito de
FPS foi popularizado em 1984, por Franz Greiter, que também estudou e descreveu a metodologia
de desenvolvimento e avaliação de fotoprotetores que apresentam resistência à água (GREITER &
GSCHNAIT, 1984).
A luz solar é composta por um espectro contínuo de radiação eletromagnética e é dividida e
caracterizada de acordo com o comprimento de onda. A proporção da região de UV (100-400nm) é
cerca de 5-6% do total da radiação incidente e pode ser classificada pelo comprimento de onda em
três regiões: UVC (100-280nm), UVB (280-320nm) e UVA (320-400nm) (JUAN, 2001).
Há diversos fatores ambientais que influenciam na intensidade da UVR sobre a superfície
terrestre, que são: níveis de ozônio, cobertura das nuvens, poluentes, etc. O ozônio é uma molécula
capaz de realizar fotoabsorção e sua concentração varia de acordo com o tempo, temperatura,
latitude e altitude. A camada de ozônio absorve totalmente a radiação UVC, 90% da radiação UVB
e, quase não absorve radiação UVA. Em outro meio como a água, a radiação UV não é refletida,
portanto, a radiação que ultrapassa a camada de ozônio em contato com água líquida é absorvida
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pela mesma. Nas demais condições (neve, por exemplo) a radiação UV pode gerar uma taxa de
reflexão.
Com o passar do tempo, o nível de ozônio na estratosfera tem diminuído constantemente
devido ao uso de substâncias capazes de enfraquecer esta camada, e a diminuição do nível de
ozônio, faz com que uma maior intensidade de radiação UV atinja a superfície terrestre, resultando
em uma série de consequências inclusive o aumento do risco de câncer de pele, entre outras doenças
(VELASCO et al., 2011).
Globalmente, foram encontradas evidências que há um aumento no número de pessoas que
morrem de câncer de pele a cada ano. Um a cada três casos diagnosticados em todo mundo é de
câncer de pele, e é evidente que o excesso de exposição à UVR é considerado como uma das
principais razões (WONG et al., 2013). A Austrália tem o maior índice de câncer de pele do mundo,
o qual a taxa é quase quatro vezes maior que do Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
Uma das maneiras de evitar a exposição excessiva da pele à radiação, já citada
anteriormente, é a fotoproteção por vestimentas. Exposições de pessoas aos UVRs ocorrem em
lugares de trabalho e lazer, casas e ao ar livre. Portanto, a proteção a UVR oferecida por roupas
torna-se um assunto de considerável interesse. O problema surge quando tais materiais não
apresentam proteção adequada.
Roupas e acessórios são itens acessíveis e eficazes para a defesa contra os efeitos nocivos da
UVR, em geral, tecidos fabricados com fibras mais rígidas, espessos e mais escuros, protegem
melhor a pele. Muitos pesquisadores têm estudado vários parâmetros de tecidos que influenciam na
transmissão da UVR, tais como a composição das fibras, construção do tecido, torção do fio,
espessura, peso, umidade ou índice de umidade, alongamento, tratamento químico, aditivos e
coloração (WONG et al., 2013). Diante dessas pesquisas, muitos fabricantes de tecidos tentam
melhorar a eficiência da proteção da UVR em peças de vestuário melhorando o beneficiamento
têxtil utilizando-se de produtos químicos, como corantes, agentes bloqueadores e absorvedores de
UV, tais como o dióxido de titânio ou óxido de zinco, incluindo um aumento da poluição e consumo
excessivo de água, dando origens a preocupações ambientais. No entanto, estudos recentes indicam
que há uma degradação da eficiência dos produtos químicos e até do próprio tecido na proteção da
UVR (KHAZOVA et al., 2007) após uma exposição prolongada a UVR, mas ainda é desconhecido
o risco da fotodegradação para o corpo humano.
A capacidade protetora de UV do tecido depende da quantidade de UVR refletidas ou
absorvidas por materiais fibrosos, transmissão através de poros entre fibras e fios, e também, da
dispersão dentro da camada do tecido. Para avaliar o grau de proteção de vestimentas, tem-se o
Fator de Proteção Ultravioleta (UPF), semelhante ao FPS (fator de proteção solar) quando se refere
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aos fotoprotetores, porém, ao contrário do FPS que protege apenas contra radiação UVB, o UPF
protege tanto de radiação UVA, quanto radiação UVB (INMETRO, 2010). Assim, quando se aplica
o conceito de fator de proteção solar a cremes e este é determinado in vivo, a expressão utilizada é
SPF, quando aplicado a têxteis e determinado in vitro, usa-se a expressão UPF (fator de proteção
ultravioleta) (JUAN, 2001).
A ARPANSA (Agência Australiana de Proteção à Radiação Solar) realizou os primeiros
estudos a respeito do UPF, em 1996, na Austrália, onde foram formalizadas as exigências em
tecidos protetores usados próximos à pele. O teste, utilizado para avaliar e classificar um tecido de
acordo com o seu UPF ficou regulamentado pela norma AS/NZS 4399:1996 – Sun protection
clothing – Evaluation and Classification (ARPANSA, 1996).
O índice do UPF indica a UVR que é absorvida pelo têxtil. Um têxtil com UPF de 50
permite que somente 1/50 da radiação ultravioleta que atinge a superfície do material têxtil passe
através dele. Isto é, o UPF 50 reduz a exposição da radiação ultravioleta sobre a pele em 20 vezes,
ou seja, absorve e/ou reflete 98% da radiação ultravioleta, quando o material têxtil for utilizado
(ARPANSA, 1996). Através desta analogia, podemos concluir que a propriedade chave para
determinar a qualidade de proteção do vestuário é a transmitância. A transmitância de UVR através
do material têxtil é definida como a relação da quantidade total de raios UV incidentes em um
intervalo de comprimento de onda definido para uma quantidade de raios UV transmitidos que
atingem a pele.
Para o cálculo desse UPF são utilizadas fórmulas que consideram a faixa de medição entre
290 nm até 400 nm, largura de banda espectral de 5 nm, a ação eritematosa (utilizando os valores
internacionais da CIE – Comissão Internacional de Iluminantes), a distribuição espectral do
iluminante (SOL) e a transmitância do item para cada comprimento de onda (FILHO, 2013).
Assim, o UPF utiliza a seguinte fórmula para seu cálculo (GIES, 1994):
400
UPF 
 E  S    
290
400
 E  S  T   
.
290
Obtendo-se então o valor do UPF, utiliza-se uma tabela de referência certificada pela ARPANSA
para a classificação da eficiência da proteção, da seguinte forma:
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Tabela 1: Fator de proteção.
Faixa de UPF
Categoria de proteção UV
Classificação
15 até 24
Boa Proteção
15, 20
25 até 39
Muito Boa Proteção
25, 30, 35
40 até 50, +50
Excelente Proteção
40, 45, 50, 50+
Fonte: AS/NZS 4399:1996.
Ensaios in vitro alternativos foram desenvolvidos com espectrofotômetros, e baseiam-se na
análise do espectro de absorção ou de transmissão da UVR de soluções diluídas dos fotoprotetores
em solvente adequado, ou na determinação do espectro de transmissão ou reflexão obtido em
espectrofotômetro de refletância (BALOGH et al., 2011). O espectrofotômetro de refletância é
capaz de medir a transmissão dos raios UV direto ou difuso de forma eficiente. Sendo que uma
parte penetra no tecido e é transmitida para o outro lado de forma difusa, parte é absorvida pelo
tecido, e parte é refletida.
Figura 1. Transmissão da radiação ultravioleta.
Fonte: Juan, 2001.
O aparelho utilizado para o estudo da transmitância difusa e da refletância para futuramente
ser calculado o UPF das amostras foi o espectrofotômetro LAMBDA 1050 UV/Vis/NIR com esfera
integradora. Este acessório é o principal instrumento utilizado na caracterização das propriedades de
refletância ótica de materiais e transmitância difusa em todo o mundo. A importância deste
acessório pode ser observada em experimentos realizados por grandes laboratórios, como o Instituto
Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), o Laboratório Nacional de Física (NPL), Conselho
Nacional de Pesquisa (NRC), NiTi (Taiwan), a Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB) e o
Instituto Federal para Testes e Pesquisas em Materiais (BAM).
Outra vantagem do LAMBDA 1050 é que ele permite uma geometria ótica em linha reta, na
qual os feixes passam direto através do compartimento da amostra para a esfera integradora usando
o sistema ótico refletor. Isto evita o uso indesejável de lentes para orientar o feixe para o detector,
garantindo que a homogeneidade, colimação e uniformidade dos feixes sejam em boa parte
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mantidos.
2. FATORES QUE INFLUENCIAM NO FATOR DE PROTEÇÃO UV
Diversos fatores influenciam na determinação da atividade fotoprotetora dos tecidos, como
composição do fio/tecido, estrutura do tecido, cor, umidade, etc. (KADOLPH, 2009; BISWA,
2010).
2.1.
Composição do tecido
As fibras têxteis utilizadas na confecção dos tecidos podem ser de origem natural (vegetal,
animal e mineral) ou artificial, produzidas por substâncias com propriedades diversas (polímeros
sintetizados, polímeros naturais modificados e de base inorgânica) (AGUIAR NETO, 1996).
Dependendo da fibra utilizada na confecção do tecido, os valores de UPF podem variar.
Além do tipo de fibra, a abertura da estrutura do tecido é um parâmetro crítico que afeta as
propriedades de proteção UV. Tecidos de algodão apresentam uma capacidade de proteção inferior
comparado aos tecidos de fibras artificiais.
2.2.
Estrutura e densidade
As principais variáveis em relação à estrutura do tecido são a porosidade e a espessura
(WILSON, 2006). Estudos anteriores descobriram que a porosidade é um importante indicador de
desempenho da proteção UV em um tecido (CREWS, 1999). Quanto maior a porosidade, mais
radiação passará pelo têxtil e quanto mais denso, maior a capacidade de proteção como se observa
na Figura 2.
Quanto mais apertada for a malha, ou seja, menor distância entre as fibras, menos raios irão
passar entre elas aumentando assim a proteção ultravioleta, obtendo um UPF superior (FILHO,
2013). Esses têxteis são normalmente mais pesados e, geralmente, escolhidos para vestuários de
trabalhadores externos que necessitam de uma maior proteção solar.
20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil
Figura 2: Variação do UPF de acordo com a densidade.
Fonte: ARPANSA
2.3.
Cor:
A cor é uma das variáveis mais influentes na proteção fornecida por um tecido contra a
UVR. Os corantes utilizados nos artigos têxteis atuam na proteção da radiação ultravioleta. Quanto
mais escura for a cor do tecido, maior será o nível de proteção, sendo que, a proteção aumenta com
o aumento da concentração de corante, elevando-se seu UPF (FILHO, 2013). Portanto, como a
proteção contra a UVR depende da presença dos corantes, logo estes devem ser resistentes à
lavagem, à luz, etc., para que o tecido mantenha o mesmo fator de proteção (JUAN, 2001).
2.4.
Umidade
O valor do UPF de um tecido molhado é significativamente menor que o mesmo seco
(FERNANDES, 2003). Isso, porque a água ocupa espaços livres da fibra e torna o tecido mais
permeável aos raios ultravioletas, diminuindo a capacidade de proteção. Portanto, quanto maior a
umidade, menor é a eficiência de proteção (FILHO, 2013). Outros processos (branqueamento, o uso
de absorvedores de UV) também podem afetar a capacidade de bloqueio da UVR do vestuário, bem
como outros parâmetros relacionados com a utilização e o desgaste.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho se fez por meio do estudo e análise de transmitância e refletância de sete
substratos têxteis, tecidos essencialmente utilizados na confecção de uniformes profissionais
(workwear). O estudo foi subdividido em três etapas: a caracterização das amostras, a aplicação de
processos químicos e posteriormente a análise de transmitância e refletância.
Na primeira etapa, foram comprovadas a composição química das amostras utilizadas, por
meio de análise qualitativa e quantitativa. Ficou comprovada a composição das amostras em 100%
CO. Posteriormente realizou-se análise estrutural dessas amostras, de acordo com a NBR ABNT
12996/1993, na qual constatou que as amostras são classificadas como Sarja 3X1, diagonal “S”.
Para a segunda etapa, submetemos as sete amostras a processos químicos: amostra 1: tecido
cru; amostra 2: tecido submetido ao processo de desengomagem oxidativa e purga; amostra 3:
tecido submetido ao processo de desengomagem oxidativa, purga e alvejamento; amostra 4: tecido
submetido ao processo de desengomagem oxidativa, purga e tingimento reativo na cor laranja;
amostra 5: tecido submetido ao processo de desengomagem oxidativa, purga, alvejamento e
tingimento reativo na cor laranja; amostra 6: tecido submetido ao processo de desengomagem
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oxidativa, purga e tingimento reativo na cor azul marinho; amostra 7: tecido submetido ao processo
de desengomagem oxidativa, purga, alvejamento e tingimento reativo na cor azul marinho.
Na terceira etapa, submetemos as amostras à medidas de transmitância difusa e refletância
em um espectrofotômetro LAMBDA 1050 UV/Vis/NIR com esfera integradora de 150mm, com
passo de 2 nm na faixa de (200-400)nm. Todas as amostras de tecido foram analisadas em um
estado seco, plano e sem tensão, com o feixe incidindo perpendicular ao tecido. Espectros das
amostras de tecidos foram coletados de (200-400)nm utilizando o software UV WinlabTM. Embora
as definições da UVR começam em 200nm, as medidas de transmitância e refletância são
analisadas de (280-400)nm, uma vez que, a UVR com comprimentos de onda abaixo de 290 nm não
é utilizada em cálculos de UPF, devido aos comprimentos de onda não alcançarem a superfície da
Terra.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Conforme descrito anteriormente, as amostras utilizadas no presente estudo são de mesma
matéria prima e estrutura, diferenciando-se desta forma apenas quanto aos beneficiamentos
primários e secundários aplicados. Para um melhor entendimento, as amostras foram agrupadas para
a construção dos gráficos de transmitância e refletância UV. Cabe salientar que as amostras serão
avaliadas nas faixas UVB (280-320)nm e UVA (320- 400)nm, tendo em vista que, a faixa de UVC
(100-280)nm são absorvidos pela camada de ozônio.
Cru
Desengomagem oxidativa / Purga
Desengomagem oxidativa / Purga / Alvejamento
9
8
7
6
%T
5
4
3
2
1
0
-1
200
250
300
350
400
 (nm)
Figura 3: Transmitância UV no beneficiamento primário.
A Figura 3 apresenta o gráfico de transmitância UV para as amostras de tecido cru, tecido
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desengomado e purgado e, por fim, o tecido desengomado, purgado e alvejado. É possível averiguar
que, o comportamento das amostras quanto à transmitância UV modifica-se com os processos de
beneficiamento primário. Para a transmitância de UVB a amostra cru apresentou um valor de
aproximadamente
0,6%,
enquanto
que
as
outras
amostras,
desengomada/purgada
e
desengomada/purgada/alvejada estão entre 1,9% e 2,1%, respectivamente. Todavia, para a
transmitância na faixa de UVA, a amostra desengomada/purgada/alvejada apresentou um escore de
3% a 8%, enquanto a amostra desengomada/purgada de 2% a 6% e a amostra cru de 1% a 5%.
A Figura 4 demonstra os valores para refletância UV para as amostras de tecido cru, tecido
desengomado e purgado e tecido desengomado, purgado e alvejado. Nota-se um comportamento
semelhante para a refletância de acordo com os processos de beneficiamento primário. Para a
refletância em UVB, as amostras cru e desengomada/purgada apresentam uma variação de 25% a
30 %, já a amostra desengomada/purgada/alvejada de 35% a 47%, aproximadamente. Para a
refletância em UVA, as amostras cru e desengomada/purgada apresentam uma variação de 30% a
34% e a amostra desengomada/purgada/alvejada de 42% a 57% de refletância.
Cru
Desengomagem oxidativa / Purga
Desengomagem oxidativa / Purga / Alvejamento
60
55
50
45
%R
40
35
30
25
20
15
10
200
250
300
350
400
 (nm)
Figura 4: Refletância UV no beneficiamento primário.
A diferença na transmitância é devido aos processos químicos aos quais as amostras foram
submetidas, o tecido cru tem uma barreira natural que hipoteticamente aumenta a absorção UV,
reduzindo a transmitância e refletância. O principal objetivo do beneficiamento primário é efetuar a
limpeza do substrato têxtil para os processos posteriores. O processo de desengomagem e purga
eliminam a goma proveniente de tecelagem e algo em torno de 5 % de impurezas contidas na fibra
de algodão, respectivamente. Desta forma, a transmitância e refletância de UV tem maior facilidade
após o alvejamento, que elimina a pigmentação natural da fibra por meio de oxidação, elevando os
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valores dos índices de transmitância e refletância.
Para o segundo agrupamento, as amostras submetidas ao beneficiamento primário, amostra
desengomada/purgada e desengomada/purgada/alvejada passaram pelo processo de tingimento, ou
seja, beneficiamento secundário.
A Figura 5 apresenta a leitura de transmitância para as amostras desengomada/purgada e
desengomada/purgada/alvejada, ambas com tingimento na cor laranja. Após o beneficiamento,
nota-se a diminuição da transmitância nas duas amostras. A transmitância das amostras
desengomada/purgada oscilam entre 0% e 0,5% e as amostras desengomada/purgada/alvejada
oscilam entre 0% e 0,6% nas faixas UVB e UVA. A amostra com alvejamento apresentou uma
transmitância maior, como justificado anteriormente.
Desengomagem oxidativa / Purga / Alvejamento + Tingimento (laranja)
Desengomagem oxidativa / Purga + Tingimento (laranja)
2,0
1,5
%T
1,0
0,5
0,0
-0,5
-1,0
200
250
300
350
400
(nm)
Figura 5: Transmitância UV no beneficiamento secundário.
A Figura 6 mostra as medidas de refletância das respectivas amostras após o beneficiamento
secundário. Para o gráfico de refletância UV, as amostras apresentaram um comportamento
semelhante, em UVB partem de 6% e oscilam até o valor de 4%, e ocorre então, uma ascendência
até 10% aproximadamente. Já para a refletância em UVA, esta oscilação se inicia em torno de 10%,
atinge 15% e retorna ao valor de 10%. Desta forma, destaca-se que o processo de tingimento tem
influência direta na transmitância e refletância, todavia, essa diferença no beneficiamento primário
das amostras não apresentou diferença significativa para a cor em estudo.
20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil
Tecido c/ Desengomagem oxidativa/purga + Tingimento (laranja)
Tecido c/ Desengomagem oxidativa/purga/alvejamento + Tingimento (laranja)
18
16
14
%R
12
10
8
6
4
200
250
300
350
400
 (nm)
Figura 6: Refletância UV no beneficiamento secundário.
No terceiro e último agrupamento, as amostras submetidas ao beneficiamento primário,
amostra desengomada/purgada e desengomada/purgada/alvejada passaram também pelo processo
de tingimento, no qual a diferença entre os tingimentos foi apenas o corante utilizado, mantendo os
outros parâmetros como temperatura, tempo entre outros, constante.
A Figura 7 apresenta a leitura de transmitância para as amostras desengomada/purgada e
desengomada/purgada/alvejada, ambas com o tingimento na cor azul marinho. Ressalta-se que,
assim como no tingimento anterior, houve uma redução na transmitância de UV para as duas
amostras. A transmitância em ambas as amostras oscilaram entre 0% e 0,4% dentro da faixa do
UVB, todavia, a amostra com processo de alvejamento apresentou um pico em 0,5%, elevando a
transmitância em torno de 0,8% na faixa do UVA. A amostra desengomada/purgada apresentou uma
oscilação
entre
0%
e
0,4%,
com
pico
em
0,6%,
entretanto,
a
amostra
desengomada/purgada/alvejada apresentou uma oscilação entre 0,1% e 0,6%, com pico em 0,9%.
20 a 22 de maio de 2014 – São Paulo - Brasil
Desengomagem oxidativa / Purga + Tingimento (Marinho)
Desengomagem oxidativa / Purga / Alvejamento + Tingimento (Marinho)
2,0
1,5
%T
1,0
0,5
0,0
-0,5
-1,0
200
250
300
350
400
 (nm)
Figura 7: Transmitância UV no beneficiamento secundário.
A Figura 8 ilustra os resultados das medidas de refletância das respectivas amostras. Para o
gráfico de refletância UV, diferentemente das amostras da cor laranja, as amostras apresentaram
uma diferença significativa na refletância.
Desengomagem oxidativa / Purga + Tingimento (Marinho)
Desengomagem oxidativa / Purga / Alvejamento + Tingimento (Marinho)
26
24
22
20
R%
18
16
14
12
10
8
200
250
300
350
400
 (nm)
Figura 8: Refletância UV no beneficiamento secundário.
Na faixa UVB, na amostra desengomada/purgada com tingimento reativo na cor azul marinho
houve um decréscimo de 14% para 10% na refletância ao se aproximar de 320nm, todavia, ao
adentrar na faixa de comprimento de onda do UVA, atinge o pico de 21% e, posteriormente,
diminui para 18%. Para a amostra desengomada/purgada/alvejada com tingimento reativo na cor
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azul marinho é possível verificar o mesmo comportamento no gráfico. Na faixa UVB, houve um
decréscimo de 18% para 14% na refletância ao se aproximar de 320nm, todavia, ao adentrar na
faixa de comprimento de onda do UVA, atinge o pico de 25% e, posteriormente diminui para 22%.
Desta forma é possível averiguar conforme os gráficos que, a principal influência na transmitância e
refletância se deu por meio dos diferentes processos de beneficiamento.
Para os gráficos de transmitância, os escores aumentaram na medida que os tratamentos
aumentavam. Como já foi comentado, a purga é responsável pela retirada de impurezas dos tecidos
e o alvejamento pela oxidação dos pigmentos contidos nas fibras, desta forma, as amostras
alvejadas também apresentaram um grau de refletância maior quando comparadas as amostras
apenas purgadas. No que tange as amostras com tingimento reativo não há uma diferença
significativa quanto a transmitância para artigos de mesmo beneficiamento primário, mas de
diferentes tingimentos reativos, provavelmente devido as amostras terem coloração escura. Quanto
a refletância, novamente as amostras com tingimennto reativo e alvejadas apresentaram um maior
escore, devido ao clareamento da coloração das amostras.
5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho foram analisadas sete amostras de tecidos que são usados essencialmente na
confecção de uniformes profissionais (workwear), de forma a se determinar a porcentagem de
transmitância e refletância dos tecidos que estão ligados diretamente com o UPF oferecido pelo
material têxtil. Foi possível observar que após o beneficiamento primário a refletância aumentou
drasticamente e a transmitância variou pouco. O aumento da refletância pode estar relacionado com
a limpeza do substrato têxtil proporcionada pelo beneficiamento primário, principalmente pelo
aumento do grau de branco do material atingido após a eliminação de impurezas e pigmentos
naturais. Com relação ao beneficiamento secundário, constatou-se que os tecidos conferem maior
proteção solar após o tingimento em diferentes cores, e foi possível comprovar ainda que, existem
cores que conferem ao tecido maior proteção solar. Assim, tecidos de cores mais escuras podem
oferecer maior proteção do que tecidos de cores claras para a mesma estrutura de tecido e fibra
utilizada.
Para uma pesquisa futura, seria interessante observar como varia os índices de transmitância
e refletância destes materiais têxteis expostos durante um longo período de tempo a UVR. Um outro
aspecto que também pode ser analisado futuramente é a fotodegradação, ou seja, submeter estas
amostras de materiais têxteis a um revestimento de óxido de zinco ou dióxido de titânio, e analisar a
transmitância e a refletância do material têxtil após um longo período de tempo exposto a UVR.
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Para uma complementação a estas duas análises futuras, sugere-se o cálculo do UPF como
parâmetro, conforme a norma AS/NZS 4399:1996, contribuindo para resultados mais concisos. Por
fim, esperamos que os resultados e a discussão apresentada aqui, possa ser útil para as situações
relacionadas à transmitância e refletância em tecidos planos.
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