Relatório Parcial – Produto 2 O baixo rio Tocantins

Transcrição

Relatório Parcial – Produto 2 O baixo rio Tocantins
Fundo Para o Meio
Ambiente Mundial
Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente
PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS
RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO
RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E
MUDANÇA CLIMÁTICA
OTCA/GEF/PNUMA
Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de
recursos naturais da bacia do Rio Amazonas
Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos
amazônicos
Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots
Foto: Roberto E. Reis
Relatório Parcial – Produto 2
O baixo rio Tocantins
Porto Alegre, Brasil
1
PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS
RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO
RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E A
MUDANÇA CLIMÁTICA
OTCA/GEF/PNUMA
Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de
recursos naturais da bacia do Rio Amazonas
Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos
amazônicos
Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots
Relatório Parcial – Produto 2
O baixo rio Tocantins
Coordenador dos Componentes
Cleber J. R. Alho
Coordenação da Atividade
Norbert Fenzl
Consultor
Roberto E. Reis
Julho/2013
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O BAIXO RIO TOCANTINS
RESUMO EXECUTIVO
O rio Tocantins é um dos principais tributários da bacia Amazônica e drena, em sua maior parte,
o Escudo Brasileiro. Sua bacia de captação drena uma área de 767.000 km2, sendo bastante
canalizado e com uma planície de inundação relativamente estreita e densidade de drenagem
moderadamente alta. A maior parte da bacia do rio Tocantins é caracterizada pelo clima tropical
quente e úmido, com uma precipitação anual variando de 1.200 a 2.400 mm. A temperatura
média é de 25.5oC, variando entre a mínima de 17 e a máxima de 33oC. Como em outros
tributários da margem sul do Amazonas, a estação de cheias dura de janeiro a maio, com o pico
de inundação entre março e abril.
A fauna de peixes do rio Tocantins contém cerca de 400 espécies distribuídas em 40
famílias. Historicamente, até a construção da UHE Tucuruí, a bacia do rio Tocantins abrigava
espécies migratórias de peixes em sua piracema rio acima para a desova. A porção da bacia do
rio Tocantins ao norte da UHE Tucuruí, por estar livremente conectada ao restante na bacia
Amazônica, abriga algumas espécies de peixes ausente ou raras na porção hoje isolada pela
represa. A porção baixa do Tocantins, assim como toda a área do delta do Amazonas no entorno
da ilha de Marajó, fornece importantes hábitats de berçário para os grandes bagres migradores da
Amazônia. A Usina Hidrelétrica de Tucuruí foi construída na porção baixa do rio Tocantins e
inaugurada em 1984, com o fechamento da represa e consequente formação do reservatório. O
lago que se formou tem cerca de 200 km de extensão e aproximadamente 2.875 km2 de área de
superfície. Com a inauguração da segunda fase da UHE Tucuruí em 2008, a capacidade instala
de geração de energia passou a ser de 7.960 MW de potência. A pesca comercial na região da
UHE Tucuruí, tanto no reservatório como no rio a jusante da represa, é basicamente artesanal,
com mínima organização de pescadores independentes em Colônias de Pesca.
Nesta expedição, três pontos de desembarque de pescado dentro do reservatório da UHE
Tucuruí foram visitados, o Porto do Onze, no extremo norte do reservatório, junto à represa, o
Porto Novo de Jacundá, e o Porto de Santa Rosa, no terço superior do reservatório. Dois pontos
de desembarque de pescado a jusante do reservatório da UHE Tucuruí foram visitados, o
mercado de Tucuruí, imediatamente abaixo da represa, e o mercado da cidade de Baião, a cerca
de 130 km ao norte de Tucuruí. Nestes locais foram entrevistados pescadores, atravessadores,
vendedores, etc., e identificadas as espécies de peixe desembarcadas ou estocadas no momento
da visita. De maneira geral, havia muita abundância de peixes e diversidade de espécies, fartura
típica da estação, mas incomum ao longo do restante do ano. Três espécies contribuem com 87%
do total de desembarque na região do reservatório: o mapará (60%), a pescada (15%) e o
tucunaré (12%). Ainda, durante este trabalho visitamos e entrevistamos funcionários de três
Colônias de Pescadores da região do baixo rio Tucuruí: a Colônia Z-53 de Breu Branco, a
Colônia Z-43 de Porto Novo de Jacundá, ambas no interior do reservatório, e a Colônia Z-34 de
Baião, a jusante do reservatório.
A expedição ao baixo rio Tocantins foi conduzida durante a vazante, período no qual os
peixes estão saindo das áreas alagáveis e retornando ao leito do rio e, portanto, de grande fartura
para a pesca. Os ambientes aquáticos visitados foram o reservatório da UHE Tucuruí,
especialmente as suas áreas de margem e inúmeras ilhas cobertas de mata que se formaram como
enchimento do lago. As áreas abertas do lago, mais profundas e que formam ambientes abertos
habitados por peixes pelágicos, como o mapará, também foram visitadas. Na porção a jusante da
represa, vários locais de pesca foram visitados ao longo do leito do rio entre Tucuruí e Baião.
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Planícies de inundação que são utilizadas como áreas de desova e berçário por muitas espécies
de peixes também foram inspecionadas. Diversas ameaças aos peixes e seus ambientes aquáticos
foram identificadas nesta viagem. Entre elas destacam-se a pesca esportiva, o crescimento da
pesca comercial, a pesca predatória com arpão, a falta de fiscalização da pesca, a não observação
do período de defeso da pesca, o desmatamento extensivo, a regulação do fluxo do rio Tocantins
pela operação da UHE Tucuruí, a construção de novas UHEs e PCHs, e mudanças climáticas.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada com os principais pontos referidos no texto.
Figura 2. Barco tipo “voadeira” cedida pela Eletronorte para trabalho da expedição. Foto: Roberto Reis.
Figura 3. Vista parcial da represa da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Foto: Roberto Reis.
Figura 4. Vista parcial do Porto do Onze, local de desembarque de pescado do reservatório de Tucuruí. Foto:
Roberto Reis.
Figura 5. Vista interna do Porto de Novo de Jacundá, local de desembarque de pescado do reservatório da UHE
Tucuruí. Foto: Roberto Reis.
Figura 6. Vista parcial do mercado de peixes de Baião. Foto: Roberto Reis.
Figura 7. Área próxima à margem direita do reservatório da UHE Tucuruí, mostrando ilhas de vegetação e arvores
mortas remanescentes da antiga floresta. Foto: Roberto Reis.
Figura 8. Local de pesca no rio Tocantins, a jusante da UHE Tucuruí. Foto: Roberto Reis.
Figura 9. Área de várzea no baixo rio Tocantins, alagada no período de cheia onde peixes desovam e utilizam como
berçário para juvenis. Foto: Roberto Reis.
Figura 10. Potencial hidrelétrico do rio Tocantins. A) Localização das UHEs em operação no rio Tocantins; B)
Localização das UHEs em operação mais as planejadas e em construção no rio Tocantins; e C) Localização das
UHEs em operação, planejadas e em construção e PCHs (em vermelho escuro) em operação e planejadas para o rio
Tocantins. 1) UHE Tucuruí, 2) UHE Estreito, 3) UHE Luiz Eduardo Magalhães, 4) UHE São Salvador, 5) Serra da
Mesa, e 6) UHE Cana Brava. Fonte: Reis (2012).
Figura 11. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial na região do baixo rio
Tapajós. A) Apapá-branco; B) Branquinhas; C) Curimba; D) Jaraqui; E) Piau-vara; F) Piau-branco; G) Piauflamengo; H) Piabanha; I) Pacu-manteiga; J) Pirapitanga; K) Piranha-caju. Fotos: Roberto Reis
Figura 12. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial na região do baixo rio
Tapajós. L) Acari-chicote; M) Piramutaba; N) Filhote (Foto: Pedro Podesta); O) Surubim; P) Pirarara; Q) Mapará;
R) Pirá-tocandira; S) Pescada (alto) e pescada-preta (baixo); T) Tucunaré-tinga (alto), Tucunaré-açu (meio) e
Tucunaré-putanga (baixo); U) Acará-tinga; V) Jacundá-coroa; X) Acará-branco. Fotos: Roberto Reis.
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O presente relatório refere-se ao Produto 2, sobre a segunda viagem ao campo (segundo hotspot),
confrontando os dados existentes na literatura sobre ameaças aos ecossistemas aquáticos, à
biologia pesqueira, à questões relacionadas à pesca e degradação ambiental. Os hotspots, como
utilizados neste projeto, são as cabeceiras do rio Xingu, o baixo rio Tocantins, nas proximidades
de Tucuruí e o médio rio Negro, nas proximidades de Barcelos. Esses hotspot foram definidos
pelo projeto do Banco Mundial-Global Environment Fund “Manejo Integrado dos Recursos
Aquáticos da Amazônia – Aquabio”.
I. A BACIA DO RIO TOCANTINS
A bacia hidrográfica.
O rio Tocantins é um dos principais tributários da bacia Amazônica e drena, em sua maior parte,
o Escudo Brasileiro, juntamente com o Xingu, Tapajós e parte do rio Madeira. A bacia de
captação do rio Tocantins drena uma área de 767.000 km2, sendo 343.000 correspondem ao rio
Tocantins e 382.000 ao rio Araguaia, seu principal afluente. O rio Tocantins é bastante
canalizado, com planície de inundação relativamente estreita e densidade de drenagem
moderadamente alta (Mérona et al. 2010). A bacia do rio Tocantins está contida em duas
ecorregiões bastante distintas do mapa das ecorregiões de água doce do mundo de Abell et al.
(2008). A maior parte da bacia do rio Tocantins compõe a Ecorregião Aquática 324 (TocantinsAraguaia), que é limitada ao norte pela barragem da UHE Tucuruí, justamente nossa base de
operações nesta expedição. Limita-se a oeste pelas serras do Roncador e dos Gradaús, divisores
de água entre as bacias dos rios Araguaia e Xingu, e ao sul pelo divisor de águas com o rio
Paraná no Planalto Central e pela formação Chapada dos Guimarães, que o separa da bacia do rio
Paraguai. Ao leste é separada de bacias costeiras como o rio São Francisco e rio Parnaíba, pela
Chapada das Mangabeiras e pela Serra Geral de Goiás. A topografia ondulada da bacia do rio
Tocantins varia de 1.600 m no Planalto Central até cerca de 25 m nas terras baixas do Amazonas,
junto à sua foz. Corredeiras e cachoeiras são os hábitats mais comuns ao longo do curso superior,
sendo estes hábitats mais esparsos nos cursos médio e inferior. O último desses ambientes está
hoje submerso pela UHE Tucuruí. Ilhas rochosas e arenosas e extensas praias são características
e predominantes da estação seca no curso médio do rio Tocantins, ao passo que ilhas aluviais
predominam no curso inferior (Mérona et al., 2010). A maior parte da ecorregião é caracterizada
pelo clima tropical quente e úmido, com uma precipitação anual variando de 1.200 a 2.400 mm.
A temperatura média é de 25.5oC, variando entre a mínima de 17 e a máxima de 33oC (Hales &
Petry, 2013).
A parte norte da bacia do rio Tocantins, a jusante da UHE Tucuruí está incluída na
Ecorregião Aquática 323 (Amazonas Estuary & Coastal Drainages), que inclui a área do estuário
do rio Amazonas e bacias costeiras adjacentes, com limite sudeste na bacia do rio Itapicuru e
limite noroeste na bacia do rio Caciporé, na costa do Amapá. Esta região situa-se inteiramente
sobre a planície aluvial, com altitudes máximas abaixo de 100 m. O pico das chuvas nesta
ecorregião ocorre entre março e abril, mas essas chuvas sazonais tem pouca influência nos níveis
da planície de inundação, devido à influência das marés. A água salgada não chega até o rio
Tocantins, mas o represamento das águas do rio Amazonas pelas marés oceânicas, faz com que
estas sejam percebidas na ria do Tocantins. O estuário do rio Amazonas é enorme em tamanho e
volume, descarregando entre 180 e 220 mil m3/s no Oceano Atlântico, o que corresponde a cerca
de 20% de toda a água doce despejada nos oceanos. Por causa da magnitude dessa descarga,
praticamente não há entrada de água salgada no estuário e a mistura da descarga do rio
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Amazonas com a água salgada ocorre até 160 km mar adentro, sobre a plataforma continental.
Somente durante períodos de água baixa a água salobra chega até Belém, mas nunca até o rio
Tocantins (Hales & Petry, 2013).
Hábitats aquáticos. A bacia do rio Tocantins é a terceira maior sub-bacia do rio Amazonas, com
uma descarga média anual de 11.000 m3/s. Da mesma forma que o Tapajós e Xingu, suas águas
são claras e pobres em nutrientes em virtude de drenarem os terrenos cristalinos do Escudo
Brasileiro. Na parte superior da bacia, existem numerosas cataratas e corredeiras, refletindo a
geologia desse antigo escudo. Entretanto, ao contrário do Xingu e Tapajós, que deságuam
diretamente no rio Amazonas, o rio Tocantins deságua no rio Pará, ao sul da ilha de Marajó. Seu
principal tributário, o rio Araguaia, apresenta uma descarga média anual de 6.170m3/s. O rio
Araguaia possui muitas lagoas sazonais, extensas áreas alagadas, e ilhas, incluindo a ilha do
Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Essa é uma área de savana úmida localizada entre os
dois ramos do rio Araguaia, que fica inundada seis meses por ano com menos de dois metros de
água. Outros ambientes aquáticos importantes na bacia do rio Tocantins incluem o reservatório
da UHE Tucuruí e a porção do rio a jusante desse reservatório (Fig. 1). Na parte mais baixa da
bacia, a norte de Tucuruí, o nível da água é influenciado pelas marés oceânicas, apesar de que
nunca ocorre entrada de água salgada. Como em outros tributários da margem sul do Amazonas,
a estação de cheias dura de janeiro a maio, com o pico a inundação entre março e abril. A
variação média anual do nível do rio é de cerca de 5-6 m (Hales & Petry, 2013).
Figura 1. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada com os principais pontos referidos no
texto.
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A fauna de peixes do rio Tocantins
Da mesma forma que o rio Xingu, a bacia do rio Tocantins está dentro da região ictiogeográfica
Guyano-Amazônica, e mais especificamente na província ictiogeográfica Amazônica (Gery,
1969; Ringuelet, 1975). A sua fauna de peixes contém cerca de 400 espécies distribuídas em 40
famílias, dominadas por Characidae (73 espécies), Loricariidae (39) e Rivulidae (32). Mais de
175 espécies são endêmicas do rio Tocantins, representando um nível de endemismo maior do
que 40%. Famílias com maior grau de endemismo são Characidae (36 espécies), Rivulidae (30) e
Loricariidae (26). Os gêneros de Rivulidae Rivulus e Simpsonichthys são bem representados
entre as espécies endêmicas, com nove e oito espécies, respectivamente. Este último inclui várias
espécies ameaçadas de extinção. Como uma curiosidade, a região superior da bacia do rio
Tocantins contém a mais diversa fauna de peixes de caverna da América do Sul. Historicamente
a bacia do rio Tocantins abrigava espécies migratórias de peixes em sua migração rio acima para
a desova. A construção da UHE Tucuruí impediu a continuidade dessa migração e isolou os
locais de desova de muitas espécies.
A porção da bacia do rio Tocantins ao norte da UHE Tucuruí, por estar livremente
conectada ao restante na bacia Amazônica, abriga algumas espécies de peixes ausente ou raras na
porção hoje isolada pela represa. A porção baixa do Tocantins, assim como toda a área do delta
do Amazonas no entorno da ilha de Marajó, fornece importantes hábitats de berçário para os
grande bagres migradores da Amazônia, como o filhote ou piraíba (Brachyplatystoma
filamentosum), a piramutaba (B. vaillantii), a dourada (B. rousseauxii), e o jaú (Zungaro
zungaro), que fazem grandes migrações reprodutivas desde o estuário do Amazonas até suas
cabeceiras. Algumas famílias de peixes relictuais que ocorrem na Amazônia estão presentes no
baixo rio Tocantins. Estas incluem a piramboia, ou peixe pulmonado sul americano (Lepidosiren
paradoxa), único representante da família Lepidosirenidae, que é um respirador aéreo
obrigatório e hiberna sob o lodo na estação seca. Outros peixes relictuais incluem o pirarucu
(Arapaima gigas, Arapaimidae), um dos maiores peixes de água doce do mundo com mais de 2
m de comprimento, e o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum, Osteoglossidae).
II. O HOTSPOT DO BAIXO RIO TOCANTINS
Durante a viagem a campo para o baixo rio Tocantins priorizou-se a estratégia de inspeção
ambiental direta, através de deslocamento por voadeira (barco de alumínio com motor de popa;
Fig. 2) ou carro. A equipe ficou hospedada no hotel CRT, na Vila Permanente da Eletronorte
junto à Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no município de Tucuruí, Pará. A partir desse ponto
diversas excursões em voadeira foram empreendidas a diferentes áreas do lago da UHE Tucuruí,
como Porto Novo de Jacundá e Santa Rosa, locais com importantes entrepostos de pescado, bem
como a vilas e cidades na beira do rio Tocantins a jusante da represa, como Joana Peres, na
RESEX Ipaú-Anilzinho e a cidade de Baião. Em deslocamentos de carro foram visitados o
mercado de peixes de Tucuruí e o marcado de peixes do Igarapé do Onze, ao sul de Tucuruí. Em
cada um desses locais foram feitas entrevistas com pescadores, atravessadores de pescado,
vendedores de peixe, administradores de colônias de pescadores e demais integrantes da cadeia
produtiva da pesca. Da mesma forma, entrevistas e discussões foram desenvolvidas com o Sr.
Tacashi, responsável pelo setor de Ictiologia e Pesca da Eletronorte em Tucuruí, que coordena o
trabalho de inventário e estudo de parâmetros alimentares e reprodutivos dos peixes da região de
influência da UHE Tucuruí, tanto a montante como a jusante da represa, e controla o
desembarque de pescado nos diversos portos da região. Todo o trabalho foi registrado
fotograficamente e as áreas visitadas no lago e no rio foram georeferenciadas através de GPS.
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Figura 2. Barco tipo “voadeira” cedida pela Eletronorte para trabalho da expedição. Foto: Roberto Reis.
A floresta do rio Tocantins.
A transição de florestas úmidas das terras baixas da Amazônia para a vegetação de florestas
secas e savanas (cerrado) no Planalto Central reflete a heterogeneidade da paisagem da bacia do
rio Tocantins. O cerrado domina as partes mais altas da bacia, enquanto que matas de galeria e
florestas de inundação com buritizais (Mauritia flexuosa) acompanham o curso dos rios e
igarapés. Floresta amazônica de terra firme ocupa as áreas fora das planícies de inundação ao
longo da bacia do rio Tocantins (Hales & Petry, 2013).
A maior parte das áreas de terra firme no entorno do lago da UHE Tucuruí, no entanto, já
apresenta profunda modificação antrópica com retirada da floresta para atividades econômicas,
principalmente a pecuária extensiva (Fig. 1). As florestas do baixo rio Tucuruí, ao norte da UHE,
encontram-se melhor preservadas. A área visitada nesta expedição situa-se exatamente no
entorno da represa de Tucuruí, ponto original das quedas que delimitavam o médio do baixo rio
Tocantins, e local a transição entre a área mais preservada, ao norte, e mais antropizada, ao sul.
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí foi construída na porção baixa do rio Tocantins e inaugurada em
1984, com o fechamento da represa e consequente formação do reservatório (Fig. 3). O lago que
se formou tem cerca de 200 km de extensão e aproximadamente 2.875 km2 de área de superfície.
Com a inauguração da segunda fase da UHE Tucuruí em 2008, a capacidade instala de geração
de energia passou a ser de 7.960 MW de potência.
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Figura 3. Vista parcial da represa da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Foto: Roberto Reis.
Após o fechamento da represa registrou-se uma diminuição na diversidade da ictiofauna
na região alagada. Essa diminuição na diversidade na área do reservatório é um fenômeno
conhecido e foi estudado por Mérona et al. (2010). A transformação de um ambiente lótico em
um lago erradica ou reduz significativamente as populações das espécies reofílicas e ao mesmo
tempo fornece as condições para que as espécies lênticas proliferem, dessa forma alterando a
composição da comunidade local. Por estes motivos, peixes detritívoros, herbívoros e insetívoros
foram prejudicados e tiveram a sua abundância na área do reservatório diminuída após o
enchimento do lago. Ao mesmo tempo, espécies piscívoras, carnívoras, onívoras e planctívoras
foram favorecidas e aumentaram a sua abundância na área do reservatório após o enchimento do
lago (Mérona et al., 2010). A jusante da represa a diminuição na abundância das espécies de
peixes é devida, principalmente, a regulação do fluxo do rio, que perturba imensamente os ciclos
anuais de alimentação e, principalmente, reprodução dos peixes, e a interrupção de rotas
migratórias, uma vez que os peixes migradores não conseguem atravessar a barreira criada pela
represa para reproduzir.
A pesca comercial na região da UHE Tucuruí, tanto no reservatório como no rio a jusante
da represa, é basicamente artesanal, com mínima organização de pescadores independentes em
Colônias de Pesca. Não existem cooperativas organizadas de pescadores e a cadeia produtiva do
pescado passa dos pescadores para marreteiros, ou atravessadores, que compram o produto da
pesca nos portos de desembarque e comercializam nos mercados locais ou os transportam para
outras cidades para venda ou beneficiamento.
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Mercados e áreas de desembarque de pescado visitados.
No reservatório da UHE Tucuruí. Três pontos de desembarque de pescado dentro do
reservatório da UHE Tucuruí foram visitados, o Porto do Onze (Fig. 4), no extremo norte do
reservatório, junto à represa, o Porto Novo de Jacundá (Fig. 5), e o Porto de Santa Rosa, no terço
superior do reservatório. Nestes locais foram identificadas as espécies de peixe desembarcadas
ou estocadas no momento da visita, sendo registradas por fotografia. A lista das espécies
identificadas nos portos de desembarque dentro do reservatório encontra-se no Apêndice 1. De
maneira geral, havia muita abundância de peixes e diversidade de espécies, fartura típica da
estação, mas incomum ao longo do restante do ano. Três espécies contribuem com 87% do total
de desembarque na região do reservatório: o mapará (60%), a pescada (15%) e o tucunaré (12%)
(Sr.Tacashi, Eletronorte, comunicação pessoal). Tucunaré, no entanto, corresponde a três
espécies – vide lista abaixo.
Figura 4. Vista parcial do Porto do Onze, local de desembarque de pescado do reservatório de Tucuruí.
Foto: Roberto Reis.
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Figura 5. Vista interna do Porto de Novo de Jacundá, local de desembarque de pescado do reservatório da
UHE Tucuruí. Foto: Roberto Reis.
Também, foram feitas entrevistas com pescadores, vendedores, atravessadores e demais
trabalhadores da pesca, com a finalidade de entender o funcionamento da cadeia produtiva do
pescado em cada local, entender os tipos de pesca e apetrechos utilizados localmente, e formar
uma imagem da percepção dos trabalhadores locais sobre as mudanças temporais de longo prazo
na comunidade de peixes e das ameaças sofridas pelos peixes e pelo ambiente aquático. De
maneira geral os pescadores do reservatório consideram o aumento do número de pescadores na
última década e as práticas de pesca predatória, como os principais responsáveis pelo declínio na
diversidade e quantidade de peixes. Há relatos de que algumas espécies como o pacu-manteiga, o
jaraqui e o pirarucu, antes abundantes, praticamente não ocorrem mais no reservatório.
Pescadores mais antigos relatam uma abundância de peixes muito superior a atual há 20-30 anos,
e notam um declínio mais acentuado nos últimos 10-12 anos. Vários entrevistados condenam o
uso do arpão em pesca subaquática, prática que tem se tornado comum na última década, pois
permite a captura das matrizes de tucunaré – adultos que pouco se alimentam ou se movem
durante o período em que estão incubando ovos ou cuidando da prole, e por este motivo não são
capturados por apetrechos usuais como redes e anzóis. A captura desses indivíduos em
reprodução compromete toda a prole e tem, assim, grande efeito predatório. Da mesma forma, a
maior parte dos entrevistados reclama da ausência de fiscalização da pesca por parte do IBAMA,
relatando que fiscais raramente aparecem ao longo do ano ou do período do defeso. Por outro
lado, todos os entrevistados afirmaram que o período do defeso (novembro a fevereiro) não é
observado pela maioria dos pescadores da região.
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A jusante do reservatório da UHE Tucuruí. Dois pontos de desembarque de pescado a jusante
do reservatório da UHE Tucuruí foram visitados, o mercado de Tucuruí, imediatamente abaixo
da represa, e o mercado da cidade de Baião (Fig. 6), a cerca de 130 km ao norte de Tucuruí. Da
mesma forma que nos outros pontos, foram identificadas e fotografadas as espécies de peixe
desembarcadas ou estocadas no momento da visita. A lista das espécies identificadas nos portos
de desembarque a jusante do reservatório encontra-se no Apêndice 2. Da mesma forma que na
área do reservatório, havia muita abundância de peixes e diversidade de espécies, quantidade
incomum ao longo do restante do ano. Nota-se que na região do rio Tocantins a jusante do
reservatório a diversidade de espécies encontrada foi maior (90% a mais de espécies foram
observadas a jusante do que no reservatório).
Figura 6. Vista parcial do mercado de peixes de Baião. Foto: Roberto Reis.
Igualmente à porção superior, foram feitas entrevistas com pescadores, vendedores,
atravessadores e demais trabalhadores, para conhecer o funcionamento da cadeia produtiva do
pescado, os tipos de pesca e apetrechos utilizados localmente, e entender a percepção dos
trabalhadores locais sobre as modificações na comunidade de peixes e as ameaças a que peixes e
o ambiente aquático estão submetidos. Apesar de haver ocorrido um significativo aumento do
número de pescadores nos últimos 10-15 anos, os pescadores não atribuem a isso o severo
declínio percebido na quantidade média de espécies. As mesmas espécies, pacu-manteiga,
jaraqui e pirarucu, antes abundantes, são agora consideradas raras a jusante do reservatório. A
utilização do arpão em pesca subaquática também tem se tornado comum nesta área e é
condenada pela maioria dos pescadores. Da mesma forma, a maior parte dos entrevistados
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reclama da ausência de fiscalização da pesca por parte do IBAMA e afirmaram que o período do
defeso não é observado pela maioria dos pescadores da região.
De acordo com a maioria dos pescadores entrevistados, entretanto, o principal
responsável pelo acentuado declínio da abundância de peixes após o fechamento da represa da
UHE Tucuruí são as flutuações diárias e, especialmente, as semanais do nível do rio por conta da
regulação do fluxo de água nas turbinas geradoras. Essas variações perturbam os ciclos naturais
de alimentação e, especialmente, reprodução, sendo especialmente destrutivas na época da
desova (outubro-março).
Colônias de pescadores visitadas.
Durante este trabalho visitamos e entrevistamos funcionários de três Colônias de Pescadores da
região do baixo rio Tucuruí: a Colônia Z-53 de Breu Branco, a Colônia Z-43 de Porto Novo de
Jacundá, ambas no interior do reservatório, e a Colônia Z-34 de Baião, a jusante do reservatório.
Os entrevistados afirmaram que houve sensível diminuição na abundância de peixes, tanto no
lago como à jusante deste, especialmente nos últimos 10-15 anos. Todos atribuem a diminuição
na abundância ao aumento de pescadores, a falta de fiscalização e a não observância do período
de defeso. Funcionários da Colônia Z-43 mencionaram, ainda, desorganização administrativa nos
municípios como um impedimento ao adequado ordenamento e organização da cadeia produtiva
da pesca. Como um exemplo, citaram a construção de uma pequena usina de beneficiamento de
pescado em Jacundá, concluída há anos, mas nunca operada por causa de desorganização e
disputas políticas.
Figura 7. Área próxima à margem direita do reservatório da UHE Tucuruí, mostrando ilhas de vegetação e
árvores mortas remanescentes da antiga floresta. Foto: Roberto Reis.
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Ambientes aquáticos visitados. A expedição ao baixo rio Tocantins foi conduzida durante a
vazante, período no qual os peixes estão saindo das áreas alagáveis e retornando ao leito do rio e,
portanto, de grande fartura para a pesca. Os ambientes aquáticos visitados foram o reservatório
da UHE Tucuruí, especialmente as suas áreas de margem e inúmeras ilhas cobertas de mata que
se formaram como enchimento do lago (Fig. 7). As áreas abertas do lago, mais profundas e que
formam ambientes abertos habitados por peixes pelágicos, como o mapará, também foram
visitadas. Na porção a jusante da represa, vários locais de pesca (Fig. 8) foram visitados ao longo
do leito do rio entre Tucuruí e Baião. Planícies de inundação que são utilizadas como áreas de
desova e berçário por muitas espécies de peixes também foram inspecionadas (Fig. 9). Ainda, a
Reserva Extrativista Ipaú-Anilzinho, na margem esquerda do rio Tocantins, foi visitada até a vila
de Joanas Peres. Nessa área de reserva a água do rio é preta, demonstrando que esse sistema
nasce dentro da floresta, sem aporte de água da UHE Tucuruí. De maneira geral as margens,
tanto do reservatório, como do rio Tocantins a jusante dele, estão bem preservadas. Mata de terra
firme ladeia as margens do reservatório em praticamente toda a sua extensão. No trecho a
jusante, extensas áreas com matas alagáveis estão preservadas no entorno do rio.
Figura 8. Local de pesca no rio Tocantins, a jusante da UHE Tucuruí. Foto: Roberto Reis.
15
Figura 9. Área de várzea no baixo rio Tocantins, alagada no período de cheia onde peixes desovam e utilizam como
berçário para juvenis. Foto: Roberto Reis.
As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos. Diversas ameaças aos peixes e seus ambientes
aquáticos foram identificadas nesta viagem. As ameaças podem ser classificadas em diretas,
como as diversas modalidades de pesca, desmatamento e uso de defensivos e fertilizantes
agrícolas, com ação rápida diretamente sobre os peixes; e indiretas, como desmatamento
extensivo, construção e operação de usinas hidrelétricas e mudanças climáticas.
 Pesca esportiva. Tucunarés são as espécies mais visadas pela pesca esportiva no rio
Tocantins, especialmente no interior do reservatório da UHE Tucuruí. Apesar de haver
competições de pesca esportiva de tucunarés, essa não constitui uma ameaça importante
face à dimensão da pesca comercial na mesma região.
 Crescimento da pesca comercial. A pesca comercial no baixo rio Tocantins, tanto no
interior do reservatório da UHE Tucuruí como no trecho a jusante da represa, apresentou
um forte crescimento ao longo dos últimos 15-18 anos (Aviz, 2006). Na época da
construção da UHE Tucuruí existiam três Colônias de Pescadores na região a jusante de
Marabá. Atualmente existem 12 colônias na mesma região, das quais visitamos três. O
crescimento do número de pescadores afiliados a cada uma dessas Colônias dá uma ideia
do crescimento da atividade. Segundo Juras et al. (2004) no inicio da década de 2000
existiam 1.222 pescadores afiliados à Colônia Z-43 de Jacundá, 1.300 à Colônia Z-53 de
Breu Branco, e 2.460 a Colônia Z-34 de Baião. Em nossas visitas recentes a essas
16
Colônias identificamos os números de 2.300, 6.200, e aproximadamente 6.000
pescadores afiliados, respectivamente, registrando um crescimento de 290%. É possível
que parte desse crescimento seja em função da criação do auxílio-defeso, através do qual
cada pescador cadastrado recebe do governo federal o valor de um salário mínimo nos
meses de novembro a fevereiro.
 Pesca predatória com arpão. A pesca subaquática é feita com máscaras de mergulho e
com o uso de arpão a ar comprimido ou com armas de construção caseira com tiras de
borracha, e tem se tornado comum na região ao longo da última década. Esse tipo de
pesca permite a captura de indivíduos reprodutivos de espécies como os tucunarés –
adultos que pouco se alimentam ou se movem durante o período em que estão incubando
ovos ou cuidando da prole, e que por este motivo não são capturados por apetrechos
usuais como redes e anzóis. A captura desses indivíduos que estão incubando ovos ou
guardando os alevinos compromete de forma severa a população, pois tem grande efeito
destrutivo por matar as matrizes e todos os filhotes.
 Falta de fiscalização da pesca. A precariedade da fiscalização dos órgãos de controle da
pesca e, especialmente, do IBAMA, faz com que pescadores inescrupulosos utilizem
técnicas e malhas proibidas nas diferentes modalidades de pesca. Malhas de rede de
tamanho 4, 5 e 6 cm entre-nós são proibidas (apenas malhas acima de 7 cm entre-nós são
permitidas), mas são usadas regularmente por muitos pescadores.
 Não observação do defeso de pesca. O defeso, ou época de suspensão da pesca para a
migração reprodutiva (piracema) e desova dos peixes ocorre anualmente entre 1º de
novembro e 28 de fevereiro. Esse período é determinado em função da coincidência do
período médio de desova da maioria das espécies, mesmo tendo espécies que desovem
antes de novembro e depois de fevereiro. A observação da suspensão das atividades
pesqueiras nesse período é fundamental para que as populações possam se reproduzir. A
pesca dirigida sobre os adultos migradores é muito prejudicial, pois captura os peixes
antes da desova. De acordo com vários relatos na região de Tucuruí, a maioria dos
pescadores não observa o período de defeso, continuando as suas atividades de pesca
normalmente, apesar de receberem o auxílio-defeso do governo.
 Desmatamento extensivo. O desmatamento extensivo provavelmente representa o mais
importante fator de impacto sobre os ambientes terrestres, com consequências igualmente
importantes para os ambientes aquáticos envolvidos. A retirada da floresta aumenta
drasticamente a evaporação da água do solo, causando a diminuição de fluxo ou mesmo
desaparecimento de nascentes, culminando com a diminuição da vazão dos rios. O
desmatamento também desagrega o solo que será parcialmente carreado pelas chuvas,
especialmente quando a faixa de mata ciliar remanescente for pequena.
 Operação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. A operação e consequente regulação do fluxo
do rio Tocantins é provavelmente uma das mais sérias ameaças às populações de peixes a
jusante do reservatório. Como mencionado acima, as flutuações diárias e, especialmente,
as semanais, do nível do rio por conta da regulação do fluxo de água nas turbinas
geradoras, causa problemas nas áreas de desova a jusante da represa. A maior demanda
de energia elétrica no inicio da noite de cada dia, bem como a menor demanda pelas
indústrias do país nos finais de semana, acarretam uma regulação da quantidade de água
17
que passa pelas turbinas e é liberada no rio, causando um pequeno aumento no nível do
rio a cada noite, e uma razoável diminuição no nível a cada final de semana. Essas
variações perturbam os ciclos naturais de alimentação e, especialmente, reprodução,
sendo especialmente destrutivas na época da desova (outubro-março). A maioria das
espécies deixa o leito do rio na época de cheia, entrando na mata inundada ou áreas
temporariamente alagadas (Fig. 7) para efetuar a desova. Essas mesmas áreas servem de
berçário para os alevinos recém-eclodidos, pela alta produtividade e proteção que
apresentam. Grande parte dessas áreas são rasas e pequenas variações no nível do rio,
como aquelas produzidas pela retenção da água nos finais de semana, são suficientes para
expor ao ar e assim matar os juvenis e ovos colocados pelos peixes na massa de
vegetação. Há relatos de muitos casos onde mesmo os adultos de peixes, em grandes
números, são retidos sobre ambientes que secam nos finais de semana, causando grandes
mortandades.
Outro sério problema que as represas causam aos peixes migradores é a interrupção
das rotas migratórias e consequente falha ou diminuição acentuada da desova. Grandes
bagres da família Pimelodidae, como o filhote, a dourada, a piramutaba, o surubim, a
pirarara, e o jaú, são comuns e abundantes no trecho imediatamente a jusante da represa
da UHE Tucuruí. No entanto, nenhuma dessas espécies foi registrada nos pontos de
desembarque de pescado do reservatório, como o Porto do Onze, o Porto Novo de
Jacundá ou Santa Rosa. É possível que estas espécies ainda existam no rio Tocantins a
montante da represa, mas certamente em quantidades muito menores do que a jusante e
do que costumava ocorrer antes da construção da UHE Tucuruí.
 Construção de novas UHEs e PCHs. O rio Tocantins já possui diversas Usinas
Hidrelétricas em funcionamento, além de várias outras planejadas (Fig. 10). Com a
construção de novas UHEs os problemas existentes no momento deverão ser
intensificados. Se ainda existem populações de grandes bagres e outros peixes
migradores nos trechos acima da UHE Tucuruí, estas tendem a desaparecer com a
construção de novas UHEs, especialmente aquelas entre Tucuruí e Estreito, no curso
médio, e das muitas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) planejadas para o trecho
superior do rio Tocantins. Considera-se que as PCHs não sejam muito prejudiciais ao
meio ambiente, pelo seu pequeno tamanho, quase nula área de inundação e possibilidade
de permitir a migração reprodutiva dos peixes nos picos de cheia. No entanto, o conjunto
das PCHs planejadas para o rio Tocantins deverá ter um forte efeito nocivo em função do
grande número de empreendimentos planejados.
 Mudanças climáticas. Dados preliminares de um estudo em desenvolvimento pelo WWF
sobre o rio Xingu e outros rios que drenam o Escudo Brasileiro, sugerem que as
mudanças climáticas futuras não estão sendo consideradas de maneira adequada no
planejamento energético de longo prazo ou na avaliação da viabilidade de projetos
hidrelétricos da Amazônia. Secas severas como as que assolaram a Amazônia em 2005 e
2010 tendem a se tornar mais frequentes, e essas alterações climáticas, associadas ao
desmatamento generalizado da região, podem reduzir a vazão dos rios Amazônicos que
drenam o Escudo Brasileiro. Uma eventual redução na vazão do rio Tocantins poderá
afetar a produtividade em usinas hidrelétricas como a UHE Tucuruí, como sugerido pelo
estudo do WWF. As consequências de uma redução de vazão do rio Tocantins por causa
de mudanças climáticas, entretanto, poderão ser muito mais prejudiciais à fauna aquática,
uma vez que áreas de alimentação e refugio podem tornar-se menos acessíveis
18
anualmente e migrações reprodutivas podem não ser desencadeadas por uma vazão
reduzida em um ano de seca.
Figura 10. Potencial hidrelétrico do rio Tocantins. A) Localização das UHEs em operação no rio Tocantins; B)
Localização das UHEs em operação mais as planejadas e em construção no rio Tocantins; e C) Localização das
UHEs em operação, planejadas e em construção e PCHs (em vermelho escuro) em operação e planejadas para o rio
Tocantins. 1) UHE Tucuruí, 2) UHE Estreito, 3) UHE Luiz Eduardo Magalhães, 4) UHE São Salvador, 5) Serra da
Mesa, e 6) UHE Cana Brava. Fonte: Reis (2012).
A fauna de peixes importante para a pesca comercial. A pesca comercial constitui-se em uma
atividade de elevada importância econômica e social no baixo rio Tocantins, tanto no interior do
reservatório da UHE Tucuruí como no trecho do rio a jusante da represa.
As espécies listadas abaixo foram levantadas como parte das principais espécies alvo da
pesca comercial na região do baixo rio Tocantins, e a sua ocorrência foi confirmada através de
identificação taxonômica positiva em visitas a mercados e entrepostos de pescado durante o
trabalho de campo. No total, 63 espécies de importância para pesca comercial do baixo rio
Tocantins são apresentadas abaixo, listadas em uma classificação seguindo Reis et al. (2003). Os
dados apresentados sobre as famílias dessas espécies são amplamente adaptados de Reis et al.
(2003) e de referências nesse livro, e os autores dos capítulos individuais são citados ao final do
texto de cada família. Como várias espécies são comuns àquelas encontradas no rio Xingu, os
blocos de texto entre colchetes são repetidos do Relatório Parcial – Produto 1: O Alto rio Xingu.
Espécies marcadas com um asterisco foram registradas apenas a jusante da UHE Tucuruí. As
espécies são ilustradas nas Figs. 11 e 12.
Condrichthyes
MYLIOBATIFORMES
Potamotrygonidae
Potamotrygon sp. – Raia, arraia *
Quatro gêneros e cerca de 20 espécies de raias de água doce ocorrem nos rios da América do Sul
que drenam para o oceano Atlântico ou mar do Caribe. O esporão caudal apresentado por essas
espécies é um derivado dérmico rígido, localizado sobre a superfície dorsal da cauda, contendo
pequenas serrilhas laterais voltadas para a sua base e uma ponta distal aguda. O esporão pode
conter ranhuras longitudinais para conduzir veneno produzido em glândulas especiais nas suas
bases, e são continuamente desgastadas, perdidos e substituídos; até quatro esporões podem estar
19
presentes em um indivíduo. Acidentes produzidos por estes esporões são comuns entre os
ribeirinhos e verificamos cicatrizes nos pés de canelas de pescadores nesta viagem.
Potamotrigonídeos são ovoviviparous (vivíparos aplacentários), e os embriões em
desenvolvimento são nutridos pelo “leite” uterino secretado pelo trofonemata, filamentos que se
formam da parede do útero e penetram na boca e fendas branquiais dos embriões e aí se
desfazem. Ambos os úteros são funcionais e parecem ser síncronos. A gestação pode ser
restringida a determinadas estações ou ocorrer o longo do ano, e o número de jovens produzido
em cada gestação varia entre as espécies, mas é geralmente de dois a sete (Carvalho et al. 2003).
Apesar de ser frequentemente relatada por pescadores na área, apenas um exemplar já limpo e
fileteado foi examinado no mercado de Tucuruí.
Actinopterygii
OSTEOGLOSSIFORMES
Osteoglossidae
Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã *
Osteoglossidae consiste em cinco espécies de peixes de água doce tropicais. Duas dessas
espécies ocorrem na região Neotropical, uma nas águas doces do sudeste da Ásia, e as duas
restantes na Austrália e Nova Guiné. Osteoglossídeos são semelhantes em aparência aos
Arapaimídeos e foram, até recentemente, consideradas como fazendo parte de uma família.
Espécies de ambas as famílias são alongados, tem corpos delgados e com grandes escamas, mas
diferem por várias outras características. Na América do Sul a distribuição das duas espécies é
bastante diferente. Uma espécie, Osteoglossum ferreirai, parece estar restrita ao sistema do rio
Negro da bacia do Amazonas. A segunda espécie, O. bicirrhosum, ao contrário, ocorre
amplamente através das águas da planície da bacia amazônica, bem como os rios da Guiana, e no
rio Oiapoque. Ambas espécies são importantes como pescado, bem como para o mercado de
peixes ornamentais (Ferraris, 2003). O aruanã, apesar de atingir até 90 centímetros de
comprimento, não é uma espécie muito apreciada pelos pescadores.
CLUPEIFORMES
Pristigasteridae
Pellona flavipinnis – Apapá-branco *
Espécies de Pristigasteridae são sardinhas superficialmente semelhantes aos Clupeidae, as
sardinhas verdadeiras. Pristigasteridae inclui sardinhas marinhas costeiras, distribuídas em todos
os oceanos tropicais e nas águas doces da América do Sul e do Sudeste Asiático.
Pristigasterídeos podem ser distinguidos externamente das sardinhas verdadeiras, por sua
nadadeira anal longa, com pelo menos 30 raios. Além disso, em quase todos os Pristigasterídeos,
a pequena nadadeira pélvica é marcadamente deslocada anteriormente, de modo que a ponta da
nadadeira peitoral atinge ou ultrapassa a vertical que passa pela base da nadadeira pélvica (de
Pinna & Di Dário, 2003). As duas espécies mais comuns e apreciadas pela pesca comercial dessa
família são o apapá-branco (Pellona flavipinnis), mais comum e abundante e que foi registrado
na região de Tucuruí, e o apapá-amarelo (Pellona castelneana), menos frequente.
CHARACIFORMES
Curimatidae
Curimata cyprinoides – Branquinha, baião *
20
Psectrogaster amazonica – Branquinha
Psectrogaster sp. – Branquinha
A família Curimatidae é distinguível de todos os outros Characiformes pela combinação da
ausência de dentição em adultos e uma série de caracteres internos em vários sistemas corporais.
As espécies de Curimatidae são amplamente distribuídas pelo sul da América Central e grande
parte da América do Sul tropical e temperada. Muitas espécies de curimatídeos vivem em
grandes cardumes, que normalmente constituem a maior parte da biomassa de peixe em habitats
fluviais e lacustres. Curimatídeos têm uma série de modificações na boca, arcos branquiais, e
trato digestivo que lhes permitem utilizar eficientemente a matéria orgânica floculada, detritos, e
algas, que são comuns nos habitats de rios e lagos neotropicais. Alguns membros da família são
conhecidos por fazerem migrações massivas para desova. No decurso das suas migrações anuais
várias espécies de curimatídeos são exploradas pela pesca comercial e de subsistência em
diversos locais da Amazônia no Brasil, Colômbia, Venezuela, Bolívia e Argentina. Curimatídeos
também são importantes como alimentos para as grandes espécies de peixes predadores, que são
comercialmente importantes (Vari, 2003).
Prochilodontidae
Prochilodus nigricans – Curimba
Semaprochilodus brama – Jaraqui
Os membros da família Prochilodontidae são de tamanho moderado a grande (até 74 cm de
comprimento total) e podem ser distinguidos de outros peixes pelos seus lábios carnosos
equipados com duas séries de numerosos dentes pequenos, falciformes ou espatulados,
frouxamente inseridos nos lábios. Os lábios, quando protraídos, formam um disco oral
arredondado e circundado por dentes, que os peixes utilizam para explorar detritos e perifíton em
superfícies subaquáticas. A prevalência desses recursos em águas doces permanentes e na
floresta periodicamente inundada (Goulding et al, 1988) é provavelmente responsável pela
abundância de Prochilodontidae na região Neotropical. Como consequência do hábito de se
alimentar de detritos e de suas grandes populações, os Prochilodontidae possuem um importante
papel no fluxo de energia nos sistemas aquáticos que habitam (Winemiller, 1996) sendo
funcionalmente dominantes e alguns ecossistemas aquáticos. Espécies de Prochilodontidae
fazem migrações massivas associadas com alimentação e reprodução, com alguns indivíduos
viajando pelo menos 1.500 km entre locais de marcação e recaptura. Prochilodontidae são
famosos pela sua habilidade de ultrapassar obstáculos encontrados durante a migração com
natação vigorosa e saltos dramáticos de vários metros (Castro & Vari, 2003).
Membros de Prochilodontidae são muito importantes na pesca comercial e de
subsistência em toda a área de ocorrência da família. No baixo rio Negro, mais de 90% da pesca
comercial consiste de duas espécies de Semaprochilodus (Goulding, 1988) e os Prochilodontidae
estão se tornando progressivamente mais importantes na pesca comercial na porção central da
bacia Amazônica (Ribeiro & Petrere, 1990).] Apesar do curimba ser abundante no baixo rio
Tocantins, inclusive dentro do reservatório da UHE Tucuruí, o jaraqui é uma espécie considerada
rara hoje em dia.
Anostomidae
Laemolyta taeniata – Piau-pinima *
Leporinus affinis – Piau-flamengo *
Leporinus friderici – Piau-branco
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Schizodon vittatum – Piau-vara, piau-pororoca
Os Anostomidae se distinguem de todos os demais Characiformes pela presença de uma única
série de três ou quatro dentes em cada premaxila ou dentário, dispostos em escada. A maxila é
pequena e excluída da borda da boca. Espécies desta família são amplamente distribuídos do sul
da América Central até as regiões sub-tropicais da América do Sul. Os Anostomidae são todos
fusiformes e incluem espécies que variam de 10 a 80 cm de comprimento. Muitas espécies são
conhecidas pelo seu hábito de se alimentar em posição inclinada e constituem uma porção
significativa da biomassa de peixes em diversos hábitas aquáticos. Graças a posição variável da
sua boca e longos intestinos, os Anostomidae são eficientes em utilizar esponjas, detritos, insetos
e itens vegetais como sementes, folhas e algas filamentosas. Algumas espécies de grande
tamanho dos gêneros Leporinus e Schizodon são conhecidos por fazer migrações reprodutivas na
bacia Amazônica. Por causa dessas migrações anuais, essas espécies são exploradas pela pesca
comercial e de subsistência como um importante item na América do Sul (Garavello & Britski
2003).] O piau-vara e o piau-branco são especialmente importantes na pesca comercial na região
do baixo rio Tucuruí, ocorrendo em grandes quantidades nos desembarques acompanhados.
Hemiodontidae
Hemiodus microlepis – Jatuarana-escama-fina
Hemiodus unimaculatus – Jatuarana-escama-grossa
Hemiodontids são nadadores rápidos com um corpo fusiforme e aerodinâmico, variando de
tamanho entre 7 e 30 cm de comprimento padrão. Uma pálpebra adiposa bem desenvolvida, um
sulco suprapeitoral e 9-11 raios ramificados na nadadeira pélvica são alguns dos caracteres que
definem of Hemiodontidae. A maioria de seus membros pode ser distinguida de outros
Characiformes por uma mancha no meio do corpo e uma faixa longitudinal no lobo inferior da
nadadeira caudal. Vinte e oito espécies são reconhecidas na família. Espécies ocorrem na maioria
dos rios e bacias do norte da América do Sul, como Amazonas, Orinoco, Tocantins, rios das
Guianas, e algumas drenagens menores e independentes (Amapá, Araguari, Itapecuru, Mearim e
Parnaíba), e também na bacia do Paraná-Paraguai. Hemiodontídeos são pelágicos, alimentandose de detritos, lama, algas filamentosas, plantas superiores, larvas de insetos e excrementos de
peixes. As espécies desta família formam cardumes pequenos ou grandes, e habitam
principalmente águas abertas em lagos e grandes rios, enquanto algumas espécies vivem em
ambientes menores, como riachos e igarapés. Algumas espécies de Hemiodus, chamados de
cruzeiros-do-sul, são apreciados pelos aquaristas, e algumas espécies de Anodus, Argonectes e
Hemiodus, entre as espécies que alcançam os maiores tamanhos, são utilizados como alimento
em vários locais da América do Sul (Langeani, 2003). As duas espécies de jatuaranas
encontradas na região de Tucuruí são muito comuns e abundantes e são muito apreciadas pelos
pescadores e população.
Characidae
Acnodon normani – Branquinha-dentuda *
Brycon goldingi – Piabanha *
Colossoma macropomum – Tambaqui (cultivo) *
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-listrado *
Mylossoma duriventre – Pacu-manteiga
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Piaractus mesopotamicus – Pacu-caranha, pirapitinga
Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju
Serrasalmus gibbus – Piranha-branca
Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta
Triportheus albus – Sardinha-comprida
Triportheus rotundatus – Sardinha-papuda
Por causa do tamanho extremamente grande da família Characidae e a sua natureza
extremamente heterogênea, as suas espécies são agrupadas em subfamílias. A subfamília
Serrasalminae tem corpo alto, comprimido lateralmente e com uma série de espinhos abdominais
na linha média e, exceto os gêneros Colossoma, Piaractu e Mylossoma, um espinho dirigido
anteriormente na frente da nadadeira dorsal. Algumas espécies possuem uma única fileira de
dentes em cada maxila – as piranhas. Esses dentes muito afiados e pontiagudos, tricúspides em
Pygocentrus, Pristobrycon e Serrasalmus, e pentacúspides em Pygopristys. Em Acnodon,
Colossoma, Piaractus, Metynnis, Myleus, Mylossoma e Utiaritichthys – os pacus e tambaquis, os
dentes são molariformes e fortemente implantados nas maxilas, e principalmente usados para
quebrar frutos e sementes. Em Mylesinus, Ossubtus and Tometes – pacus de cachoeiras, os
dentes são incisiviformes e tricúspides, fracamente implantados e principalmente utilizados para
cortar folhas. As maiores espécies desse grupo chegam a 70 ou 80 cm de comprimento, e
pertencem aos gêneros Colossoma e Piaractus, e juntamente com Mylossoma, são considerados
como peixes de alta qualidade da América do Sul. Estas espécies são as mais importantes da
subfamília na pesca comercial e na piscicultura (Jégu, 2003).]
No baixo rio Tocantins o pacu-caranha ou pirapitinga é o mais importante dos pacus em
termos de produção pesqueira, seguido do pacu-branco. O pacu-manteiga, antes comum, é
considerado raro na região nos dias de hoje. Além dos pacus, a região do baixo rio Tocantins
produz uma grande quantidade de piranhas, especialmente a piranha-vermelha e a piranhabranca, que são desembarcadas em grandes quantidades. As sardinhas do gênero Triportheus não
são verdadeiras sardinhas, mas sim parentes das piabas. São abundantes e aparecem em grande
número nos desembarques pesqueiros.
As espécies da subfamília Bryconinae são peixes de tamanho médio a grande, com
espécies entre 15 e 70 cm de comprimento. Os Bryconinae não podem ser diagnosticados por um
conjunto único de caracteres, mas a combinação de três fileiras de dentes na premaxila, a
presença de dentes maiores na fileira interna, e a presença de um dente sinfiseal atrás da fileira
principal de dentes são incomuns entre os demais Characidae. As espécies de Brycon são
importantes na pesca por toda a América do Sul e Central. Algumas espécies são importantes em
pescarias comerciais em muitas bacias hidrográficas e são também cultivados em vários países
da América do Sul. As espécies de Brycon são omnívoras, utilizando principalmente itens
alóctones como frutas, sementes e insetos. Estas espécies são conhecidas por fazer migrações
reprodutivas, algumas delas em grandes distâncias (Lima, 2003). Como outras espécies de
Brycon, a piabanha é um peixe altamente móvel e utiliza uma grande variedade de hábitats
incluindo o canal de grandes rios, floresta inundada, planícies de inundação e pequenos
tributários (Flávio Lima, Comunicação Pessoal).] A espécie não é abundante no baixo Tocantins,
possivelmente pela interrupção da sua migração reprodutiva causada pela construção da UHE
Tucuruí.
Acestrorhynchidae
Acestrorhynchus microlepis – Ueua *
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Os peixes desta família são caracterizados por serem muito alongados e cobertos com escamas
relativamente pequenas e possuírem muitos dentes caninos e cônicos. O único gênero na família
é Acestrorhynchus, que possui 15 espécies que medem entre 35 e 400 mm de comprimento
padrão. Espécies de acestrorhynchídeos são inteiramente confinadas à América do Sul e a maior
diversidade de espécies ocorre na Amazonas e Orinoco. Três espécies ocorrem mais ao sul, nas
bacias do São Francisco, Paraná, Paraguai e La Plata. Eles são encontrados em uma variedade de
habitats, mas vivem principalmente em lagos, lagoas, e rios, mas uma poucas espécies são
encontradas principalmente em igarapés da bacia amazônica. A dentição peculiar faz dos
acestrorhynchídeos predadores muito especializados e a maioria espécies alimentam-se de outros
peixes. Espécies de Acestrorhynchus não são comercialmente importantes como alimento e duas
das menores espécies (A. nasutus e A. minimus) podem ser eventualmente encontrados em lojas
de aquário (Menezes, 2003). Na região de Tucuruí apenas uma espécie foi encontrada e em baixa
frequência.
Cynodontidae
Hydrolycus armatus – Cachorra *
Os peixes desta subfamília compõem um grupo muito distinto de Characiformes Neotropicais
não migradores, facilmente reconhecíveis pela sua boca oblíqua com dentes caninos bem
desenvolvidos no dentário e nadadeiras peitorais relativamente expandidas. Os maiores membros
da subfamília são do gênero Hydrolycus, e chegam a 65 cm de comprimento. Eles vivem junto à
superfície e meia-água de rios, lagos e floresta inundada de todos os tipos de água, são
predadores, principalmente piscívoros, usando seus grande dentes caninos para perfurar as
presas. Apesar de não serem muito valorizados como alimento, algumas espécies tem
importância na pesca de subsistência (Toledo-Piza, 2003).] Ao contrário da região visitada no
alto rio Xingu, onde a cachorra era muito comum, a espécie é pouco abundante no baixo rio
Tocantins.
Erythrinidae
Hoplias malabaricus – Traíra
Hoplias sp. – Traíra
Hoplerythrinus unitaeniatus – Jeju *
Os peixes da família Erythrinidae são caracterizados por possuir o corpo cilíndrico, nadadeira
caudal arredondada, nadadeira dorsal com 8 a 15 raios, nadadeira anal curta, com 10 ou 11 raios,
nadadeira adiposa ausente, e numerosos dentes no palato. As espécies de Hoplias são de
tamanho médio a grande, variando de 30 a 100 cm de comprimento. Eles são encontrados em
uma grande variedade de hábitats como lagos, lagoas, e pequenos e grandes rios, e são
relativamente importantes como alimento em muitas regiões da América do Sul (Oyakawa,
2003). São espécies residentes (não migradoras) que depositam seus ovos em ninhos de
vegetação em locais rasos e os cuidam até a eclosão.] O jeju é uma espécie distribuída
largamente no continente, é pouco comum na pesca e atinge tamanho de no máximo 30 cm.
SILURIFORMES
Loricariidae
Hypostomus emarginatus – Acari-chicote
Pterygoplichthys joselimaianus – Acari-bodó *
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Os Loricariidae, ou cascudos e acaris, como são popularmente conhecidos, constituem a maior
família de bagres na região Neotropical e, de fato, no mundo. Atualmente, mais de 800 espécies
são reconhecidas e várias novas espécies são descritas a cada ano. Loricariídeos são distribuídos
ao longo da região neotropical, desde a Costa Rica ao norte de Argentina. A grande maioria das
espécies é encontrada no lado oriental dos Andes, e habitam praticamente todos os tipos de
ambientes aquáticos do continente. Os loricariídeos são principalmente herbívoros, raspadores de
perifíton, com espécies de hábitos diurnos e outras de hábito noturno. Os loricariídeos são
ovíparos e, com raras exceções, colocam poucos ovos adesivos e apresentam cuidados parentais,
cuidando dos ovos e dos estágios iniciais da prole. Loricariídeos apresentam diversos tipos de
interesses econômicos, uma vez que várias espécies são suficientemente grandes para serem
importantes para a alimentação, como os dois acaris identificados na região de Tucuruí, enquanto
que outras atingem alto preço no comércio de peixes ornamentais.
Pimelodidae
Brachyplatystoma filamentosum – Piraíba, filhote *
Brachyplatystoma rousseauxii – Dourada *
Brachyplatystoma vaillantii – Piramutaba *
Hemisorubim platythynchos – Liro, Duído, Jurupoca *
Hypophthalmus marginatus – Mapará
Phractocephalus hemiolioterus – Pirarara *
Pimelodina flavipinnis – Piranambu-galinha, mandi-moela
Pimelodus blochii – Mandi-branco *
Pinirampus pirinampu – Piranambu, barbado, barba-chata *
Platynematichthys notatus – Pirá-tocandira, piracatinga
Pseudoplatystoma punctifer – Surubim *
Zungaro zungaro – Jaú *
Ainda que os Pimelodidae não possuam uma única característica visível externamente, seus
membros podem ser identificados dentre outros Siluriformes Sul Americanos por uma
combinação de características: pele nua (poucas espécies possuem ossículos da linha lateral
levemente aumentados), canais laterosensoriais cutâneos ramificados, teto do crânio nunca
coberto por musculatura epaxial e sua pele usualmente fina, e ossos do teto do crânio
ornamentados com quilhas estriadas, pequenos tubérculos, ranhuras e nunca lisos. Os adultos de
muitos Pimelodidae situam-se na faixa de tamanho entre 20 e 80 cm de comprimento, mas
existem tamanhos extremos na família como por exemplo a piraíba, ou filhote
(Brachyplatystoma filamentosum), que atinge mais de 2 m de comprimento. A maioria dos
Pimelodidae são carnívoros ou omnívoros que consomem grandes números de pequenos peixes
ou invertebrados. Algumas espécies, como as do gênero Brachyplatystoma (piraíba, dourada,
piramutaba), são predadores de natação ativa, enquanto que outros como os Pseudoplatystoma
parecem ser mais sedentários, usando uma estratégia de ficar parados e esperar pelas presas.
Algumas espécies de Brachyplatystoma fazem longas migrações reprodutivas rio acima na bacia
Amazônica, as vezes de milhares de quilômetros. As larvas e juvenis dessas espécies flutuam rio
abaixo na estação de cheia até as áreas de planícies de inundação onde crescerão. Os
Pimelodidae habitam uma grande variedade de hábitats desde pequenos rios até grandes rios de
água branca, preta ou clara, como também lagos, onde eles estão entre os peixes mais
abundantes. Muitas espécies grandes de Pimelodidae, como Brachyplatystoma spp. e
Pseudoplatystoma spp., são recursos alimentarem muito importantes na maior parte da América
25
do Sul tropical, estando já sobreexplotadas em alguns lugares. Varias espécies de Sorubim e
Pimelodus são populares na indústria de peixes ornamentais enquanto outros como
Phractocephalus hemiolioterus e Brachyplatystoma tigrinus alcançam altos preços no mercado
de espécies ornamentais (Lundberg & Littmann 2003).]
Várias espécies desta família estão presentes na pesca da região do baixo rio Tocantins,
com destaque para o mapará, responsável por 60% dos desembarques no lago da UHE Tucuruí, e
para o filhote, a dourada e o suribim, entre os grande bagres. A pirarara e o jaú são também
muito procurados pelos pescadores em face do seu grande tamanho, mas não são tão abundantes
como as três espécies anteriores.
Doradidae
Hassar wilderi – Botinho *
Doradidae é uma família de bagres de água doce endêmica da América do Sul, que contem cerca
de 140 espécies. Os doradídeos podem ser reconhecidos pelos túbulos ossificados da linha lateral
que são expandido para formar uma linha visível de escudos médio-laterais, cada um com um
espinho retrorso. Os doradídeos variam consideravelmente em tamanho, de Physopyxis lyra, uma
forma especializada que raramente ultrapassa 3,5 centímetros, até Oxydoras niger, uma espécie
de ampla distribuição que atinge cerca de 1 m de comprimento e 20 kg. Algumas outras espécies
de grandes rios podem exceder 50 centímetros, mas a maioria das espécies atingem
comprimentos entre 10 e 20 cm. Doradídeos ocorrem em todas as principais bacias hidrográficas
da América do Sul, mas mais de 70% das espécies são encontrados na bacia do Amazonas e
cerca de 30 espécies são endêmicas desta bacia. O rio Tocantins é habitado por um pequeno
número de espécies amazônicas (sete) e uma espécie possivelmente endêmica dessa bacia
(Hassar wilderi). Os doradídeos são particularmente abundantes em grandes sistemas fluviais e
habitats de várzea que sofrem inundações sazonais. A maior parte das espécies é ativa durante a
noite e estas permanecem escondidas em cavidades submersas ou parcialmente enterradas em
praias de areia durante o dia. Algumas espécies são adaptadas para as correntes rápidas de
cachoeiras (Anduzedoras, Hassar). Doradídeos são geralmente considerados onívoros
oportunistas e são conhecidos por se alimentar de detritos, frutas e outras matérias vegetais,
moluscos, insetos aquáticos e anelídeos, crustáceos e pequenos peixes. Na natureza, Hassar
wilderi atinge a maturidade sexual com cerca de 15 cm e desova no rio Tocantins quando as
águas sobem de novembro a janeiro (Sabaj & Ferraris, 2003).
Auchenipteridae
Auchenipterus nuchalis – Carataí *
Membros desta família podem ser facilmente reconhecidos por possuir a região pré-dorsal do
corpo coberta por placas ósseas suturadas entre si e visíveis através de uma fina pele, barbilhão
nasal ausente, nadadeira adiposa pequena, mas raramente ausente, olho coberto por tecido
adiposo e sem uma margem orbital distinta. Os Auchenipteridae são únicos entre os bagres em
ao menos um aspecto da sua biologia reprodutiva – todas as espécies apresentam fertilização
interna e as fêmeas não necessariamente expelem os seus ovos imediatamente após a fertilização.
Em vez disso, carregam óvulos maduros, porém não fecundados, e pacotes de esperma dentro do
seu trato reprodutivo, por certo período de tempo, antes de iniciar a fecundação e liberação dos
ovos. Este comportamento presumivelmente permite que a fêmea tenha tempo de procurar um
local adequado para desovar após a fertilização. Os Auchenipteridae são tipicamente noturnos,
apesar de que espécies de Auchenipterus, Ageneiosus e alguns Centromochlus parecem
26
alimentar-se ativamente durante o dia. A maioria das espécies que tiveram seus hábitos
alimentares estudados se alimenta de insetos, especialmente aqueles que caem na superfície da
água. Algumas espécies da família, como por exemplo as do gênero Auchenipterus são
planctívoros, enquanto que espécies de Ageneiosus são primariamente piscívoros. Os maiores
Auchenipteridae são do gênero Ageneiosus, cujas maiores espécies chegam a cerca de meio
metro de comprimento. Umas poucas espécies desta família são exportadas como peixes
ornamentais (Ferraris, 2003).] Apesar de ser muito apreciado para o consumo e ser relativamente
comum ao longe de toda a bacia Amazônica, com menção de pescadores do baixo rio Tocantins,
nenhuma espécie de mandubé (Ageneiosus) foi registrado nesta viagem. O carataí é uma espécie
pequena e de pouca importância na pesca devido a sua baixa abundância e pequeno tamanho.
PERCIFORMES
Sciaenidae
Plagioscion squamosissimus – Pescada
Plagioscion magdalenae – Pescada-preta *
Cynoscion acoupa – Pescada-amarela (marinho) *
A família Sciaenidae inclui cerca de 78 gêneros e 300 espécies que habitam primariamente o
ambiente marinho. Seis gêneros, entretanto, são restrito a ambientes de água doce, podendo
também ocorrer em estuários. Entre estes, o gênero Plagioscion é endêmico dos rios da América
do Sul e suas espécies são conhecidas localmente como corvinas ou pescadas. As espécies de
Plagioscion são piscívoras e são encontradas principalmente em grandes rios, onde suportam
importantes pescarias comerciais e esportivas (Casatti, 2003).] Na região do baixo rio Tocantins
a pescada (mesma espécie conhecida como corvina no alto Xingu) é muito abundante e
responsável por 15% do desembarque na região do reservatório da UHE Tucuruí. A pescadapreta é pouco abundante e aparece eventualmente nas pescarias. A pescada-amarela é uma
espécie marinha, que é vendida nos mercados das cidades do rio Tocantins a jusante da UHE
Tucuruí, sendo trazida de ambientes costeiros.
Cichlidae
Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, Acará-açu, Apaiari *
Chaetobranchus flavescens – Acará-branco
Cichla pinima – Tucunaré-açu
Cichla kelberi – Tucunaré-tinga
Cichla monoculus – Tucunaré-putanga
Cichlasoma amazonensis – Acará *
Crenicichla lugubris – Jacundá-coroa
Crenicichla johanna – Jacundá-piranga
Geophagus proximus – Acará-tinga
Heros efasciatus – Acará-folha
Satanoperca jurupari – Acará-beré
Tilapia rendalli – Tilápia (exótica africana, de cultivo) *
Os Cichlidae representam a maior família de peixes de água doce não-Ostariophysii em
ambientes de água doce de todo o mundo e uma das maiores famílias de vertebrados com pelo
menos 1.300 espécies e estimativas se aproximando de 2.000 espécies. Na América do Sul
existem cerca de 480 espécies. Os Cichlidae são reconhecidos por vários caracteres
27
evolutivamente derivados, especialmente da sua anatomia óssea, mas podem ser facilmente
reconhecidos por possuir a linha lateral dividida em dois segmentos. A maioria das espécies
dessa família varia entre 5 e 20 cm de comprimento, mas alguns tucunarés podem alcançar até 1
m de comprimento. A maioria dos Cichlidae neotropicais ocupa hábitats lênticos em rios e
riachos, e se alimenta de uma variedade de invertebrados e matérias vegetais. Espécies de alguns
gêneros como Cichla, Crenicichla, Petenia e Astronotus, entre outros, se alimentam de peixes e
grandes invertebrados. A maioria dos Cichlidae neotropicais são moderadamente a fortemente
dimórficos sexualmente, e se reproduzem em pares. Ovos são tipicamente depositados no
substrato e ambos os pais guardam os juvenis por várias semanas. Por causa da diversidade de
comportamento e coloração usualmente atrativa, os Cichlidae são comumente exportados como
peixes ornamentais. A pesca esportiva é concentrada nos tucunarés, para os quais existe um forte
mercado incluindo safáris e concursos de pesca, predominantemente no norte do Brasil. Todas as
espécies de grande porte são utilizadas como alimento, com uma tradicional pesca artesanal e de
subsistência. Praticamente todos os mercados na Amazônia brasileira corriqueiramente oferecem
espécies de Cichla, Astronotus e outras espécies maiores de 10-15 cm que sejam disponíveis.
Espécies de Astronotus e, ainda de forma incipiente, Cichla, são utilizadas para aquacultura no
Brasil (Kullander, 2003).] As três espécies de tucunarés ocorrentes no baixo rio Tocantins são
bastante abundantes, constituindo 12% do desembarque pesqueiro na região do reservatório da
UHE Tucuruí. Dentre as demais espécies apenas o acara-tinga é abundante e aparece em grande
número nos mercados. As demais espécies são eventuais e aparecem de forma esporádica porém
não são raras. Ainda, merece destaque a venda de tilápias nos mercados do baixo rio Tocantins,
uma espécie exótica, africana, que é cultivada extensivamente em muitos locais do Brasil.
28
Figura 11. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial na região do baixo rio
Tapajós. A) Apapá-branco; B) Branquinhas; C) Curimba; D) Jaraqui; E) Piau-vara; F) Piau-branco; G) Piauflamengo; H) Piabanha; I) Pacu-manteiga; J) Pirapitanga; K) Piranha-caju. Fotos: Roberto Reis
29
Figura 12. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial na região do baixo rio
Tapajós. L) Acari-chicote; M) Piramutaba; N) Filhote (Foto: Pedro Podesta); O) Surubim; P) Pirarara; Q) Mapará;
R) Pirá-tocandira; S) Pescada (alto) e pescada-preta (baixo); T) Tucunaré-tinga (alto), Tucunaré-açu (meio) e
Tucunaré-putanga (baixo); U) Acará-tinga; V) Jacundá-coroa; X) Acará-branco. Fotos: Roberto Reis.
30
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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32
APÊNDICE I. Lista das espécies identificadas nos portos de desembarque dentro do reservatório
da UHE Tucuruí, classificados de acordo com Reis et al. (2003).
Actinopterygii
CHARACIFORMES
Curimatidae
Psectrogaster amazonica – Branquinha
Psectrogaster sp. – Branquinha
Prochilodontidae
Prochilodus nigricans – Curimba
Semaprochilodus brama – Jaraqui
Anostomidae
Leporinus friderici – Piau-branco
Schizodon vittatum – Piau-vara, piau-pororoca
Hemiodontidae
Hemiodus microlepis – Jatuarana-escama-fina
Hemiodus unimaculatus – Jatuarana-escama-grossa
Characidae
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-branco
Mylossoma duriventre – Pacu-manteiga
Piaractus mesopotamicus – Pacu-caranha, pirapitinga
Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju
Serrasalmus gibbus – Piranha-branca
Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta
Triportheus albus – Sardinha-comprida
Triportheus rotundatus – Sardinha-papuda
Erythrinidae
Hoplias malabaricus – Traíra
Hoplias sp. – Traíra
SILURIFORMES
Loricariidae
Hypostomus emarginatus – Acari-chicote
Pimelodidae
Hypophthalmus marginatus – Mapará
Pimelodina flavipinnis – Piranambu-galinha, mandi-moela
Platynematichthys notatus – Pirá-tocandira, piracatinga
PERCIFORMES
Sciaenidae
Plagioscion squamosissimus – Pescada
Cichlidae
Chaetobranchus flavescens – Acará-branco
Cichla pinima – Tucunaré-açu
Cichla kelberi – Tucunaré-tinga
Cichla monoculus – Tucunaré-putanga
Crenicichla lugubris – Jacundá-coroa
33
Crenicichla johanna – Jacundá-piranga
Geophagus proximus – Acará-tinga
Heros efasciatus – Acará-folha
Satanoperca jurupari – Acará-beré
APÊNDICE II. Lista das espécies identificadas nos portos de desembarque a jusante do
reservatório da UHE Tucuruí, classificados de acordo com Reis et al. (2003).
Condrichthyes
MYLIOBATIFORMES
Potamotrygonidae
Potamotrygon sp. – Raia, arraia
Actinopterygii
OSTEOGLOSSIFORMES
Osteoglossidae
Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã
CLUPEIFORMES
Pristigasteridae
Pellona flavipinnis – Apapá-branco
CHARACIFORMES
Curimatidae
Curimata cyprinoides – Branquinha, baião
Psectrogaster amazonica – Branquinha
Psectrogaster sp. – Branquinha
Prochilodontidae
Prochilodus nigricans – Curimba
Semaprochilodus brama – Jaraqui
Anostomidae
Laemolyta taeniata – Piau-pinima
Leporinus affinis – Piau-flamengo
Leporinus friderici – Piau-branco
Schizodon vittatum – Piau-vara, piau-pororoca
Hemiodontidae
Hemiodus microlepis – Jatuarana-escama-fina
Hemiodus unimaculatus – Jatuarana-escama-grossa
Characidae
Acnodon normani – Branquinha-dentuda
Brycon goldingi – Piabanha
Colossoma macropomum – Tambaqui (cultivo)
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-listrado
34
Mylossoma duriventre – Pacu-manteiga
Piaractus mesopotamicus – Pacu-caranha, pirapitinga
Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju
Serrasalmus gibbus – Piranha-branca
Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta
Triportheus albus – Sardinha-comprida
Triportheus rotundatus – Sardinha-papuda
Acestrorhynchidae
Acestrorhynchus microlepis – Ueua
Cynodontidae
Hydrolycus armatus – Cachorra
Erythrinidae
Hoplias malabaricus – Traíra
Hoplias sp. – Traíra
Hoplerythrinus unitaeniatus – Jeju
SILURIFORMES
Loricariidae
Hypostomus emarginatus – Acari-chicote
Pterygoplichthys joselimaianus – Acari-bodó
Pimelodidae
Brachyplatystoma filamentosum – Piraíba, filhote
Brachyplatystoma rousseauxii – Dourada
Brachyplatystoma vaillantii – Piramutaba
Hemisorubim platythynchos – Liro, Duído, Jurupoca
Hypophthalmus marginatus – Mapará
Phractocephalus hemiolioterus – Pirarara
Pimelodina flavipinnis – Piranambu-galinha, mandi-moela
Pimelodus blochii – Mandi-branco
Pinirampus pirinampu – Piranambu, barbado, barba-chata
Platynematichthys notatus – Pirá-tocandira, piracatinga
Pseudoplatystoma punctifer – Surubim
Zungaro zungaro – Jaú
Doradidae
Hassar wilderi – Botinho
Auchenipteridae
Auchenipterus nuchalis – Carataí
PERCIFORMES
Sciaenidae
Plagioscion squamosissimus – Pescada
Plagioscion magdalenae – Pescada-preta
Cynoscion acoupa – Pescada-amarela (marinho)
Cichlidae
Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, Acará-açu, Apaiari
Chaetobranchus flavescens – Acará-branco
Cichla pinima – Tucunaré-açu
Cichla kelberi – Tucunaré-tinga
35
Cichla monoculus – Tucunaré-putanga
Cichlasoma amazonensis – Acará
Crenicichla lugubris – Jacundá-coroa
Crenicichla johanna – Jacundá-piranga
Geophagus proximus – Acará-tinga
Heros efasciatus – Acará-folha
Satanoperca jurupari – Acará-beré
Tilapia rendalli – Tilápia (exótica africana, de cultivo)
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