Leia - Associação Brasileira de Angus

Transcrição

Leia - Associação Brasileira de Angus
Impresso
Março/Abril de 2009
Especial
1
2219/03 – DR/RS
Associação
Brasileira de Angus
CORREIOS
2
Março/Abril de 2009
Associação Brasileira de Angus
Diretoria Biênio 2009/2010
Diretoria Executiva
Diretor Presidente
Joaquim Francisco Bordagorry
de Assumpção Mello
Diretor 1º Vice-Presidente
Fábio Luiz Gomes
Diretor vice-presidente
Mariana Franco Tellechea
Diretor vice-presidente
José Roberto Pires Weber
Diretor vice-presidente
Paulo de Castro Marques
Diretor Financeiro
Marco Antônio Gomes da Costa
Diretor Administrativo
Angelo Bastos Tellechea
Diretor de Marketing
João Francisco Bade Wolf
Diretor de Núcleos
Ignacio Silva Tellechea
Diretor sem Designação Específica
Ronaldo Zechlinski de Oliveira
Conselho de Administração
Membros Eleitos
Afonso Motta
Antônio dos Santos Maciel Neto
Cristopher Filippon
Renato Zancanaro
Washington Humberto Cinel
Membros Natos – (Ex-Presidentes da ABA)
Angelo Bastos Tellechea
Antonio Martins Bastos Filho
Fernando Bonotto
Hermes Pinto
João Vieira de Macedo Neto
José Roberto Pires Weber
José Paulo Dornelles Cairoli
Reynaldo Titoff Salvador
Conselho Fiscal
Membros Efetivos
Eduardo Macedo Linhares
Roberto Soares Beck
Ruy Alves Filho
Membros Suplentes
Elizabeth Linhares Torelly
Carla Sandra Staiger Schneider
Roberta Riemke Leon
Conselho Técnico
Susana Macedo Salvador – Presidente
[email protected]
Antônio Martins Bastos Filho
[email protected]
Luis Felipe Ferreira da Costa
[email protected]
Luiz Alberto Muller
[email protected]
Sérgio Tellechea
[email protected]
Ulisses Amaral
[email protected]
Amilton Cardoso Elias - Representante ANC
[email protected]
Coordenação
Tânia Gomes Ferraz
[email protected]
Jornalistas Responsáveis
Eduardo Fehn Teixeira - MTb/RS 4655
e Horst Knak - MTB/RS 4834
Colaboradores: jorn. Nelson Moreira e jorn.
Luciana Radicione
Apoio: Assessoria de Imprensa da ABA - jorn.
Luciana Bueno
Diagramação: Jorge Macedo
Departamento Comercial: Daniela Manfron
51 3231.6210 // 51 8116.9784
Edição, Diagramação, Arte e Finalização
Agência Ciranda - Fone 51 3231.6210
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CEP 90.150-002 - Porto Alegre - RS
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Associação Brasileira de Angus
Av. Carlos Gomes, 141 / conj. 501
CEP 90.480-003 - Porto Alegre - RS
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Fone: 51 3328.9122
* Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
Fotos de capa: ABA / Divulgação
EDITORIAL
Responsabilidade e desafios
Prezados amigos da raça Angus,
sócios e parceiros.
Reforço os agradecimentos da indicação do meu nome pelos associados e diretoria, em especial ao Dr. José
Paulo Dornelles Cairoli, nosso ex-presidente, neste início de gestão na Associação Brasileira de Angus para o
biênio 2009/2010.
É com muita responsabilidade, e
desafio, que assumo a Associação Brasileira de Angus em um momento de
expansão, tanto da entidade quanto
da raça, no país.
Nos últimos anos, a Associação
Brasileira de Angus galgou patamares expressivos de reconhecimento nacional, com um forte trabalho técnico
HUMOR
e de divulgação, sobretudo no Rio
Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná e São Paulo. Através desses resultados obtidos, e do apoio de uma diretoria forte e competente, temos, daqui para a frente, a missão de fomentar ainda mais a carne Angus e exaltar
seu conjunto de características – como
o marmoreio, que lhe confere maciez e
sabor inigualáveis –, que a fazem nobre, única e diferenciada em relação às
demais.
ciado, de severa crise nos mercados produtores, exportadores e compradores de
carne, precisamos estar atentos, ainda
mais, à gestão rural, pois a organização dentro da propriedade pode ser a
chave de ouro do nosso negócio, nesse
período de instabilidade global.
Os cortes Angus são reconhecidos nos
mercados mais exigentes, nacional e internacionalmente, e é esse potencial que
precisamos explorar e manter como foco
do nosso trabalho.
O pecuarista tem de seguir atuando e dando atenção especial aos custos
de produção, encarando sua propriedade como uma verdadeira empresa para
manter qualidade e produtividade. Os
investimentos fundamentais devem ser
mantidos e a estrutura da propriedade
usada ao máximo, aliando à compra
de sêmen de qualidade e a boa alimentação para o gado.
Como estamos em um ano diferen-
Nesta edição do Angus@newS va-
mos mostrar, entre outros, como está
a demanda nacional da carne Angus,
através de uma entrevista com um dos
nossos parceiros, o Frigorífico
Mercosul; a preferência do gado Angus
nos embarques de gado em pé, ao Líbano, e o valor diferenciado pago à
raça; como também a importância
comercial da rastreabilidade.
Com os melhores votos de um ano
repleto de realizações, convido a que
participem das nossas atividades em
2009.
Boa leitura a todos!
Joaquim Francisco Bordagorry
de Assumpção Mello
Presidente da Associação
Brasileira de Angus
Março/Abril de 2009
MOVIMENTO
3
EXPOSIÇÕES RANQUEADAS 2009
Angus na Expolondrina 2009
ABRIL
49º EXPOSIÇÃO DE LONDRINA
07/04/2009 a 12/04/2009
JULGAMENTO MACHOS: 10/04 – SEXTA – TARDE
JULGAMENTO FÊMEAS: 11/04 – SÁBADO – MANHÃ E TARDE
40º EXPOAGRO ITAPETININGA
16/04/2009 a 26/04/2009
7º EXPOSIÇÃO DE OUTONO DE URUGUAIANA
06/05/2009 a 10/05/2009
MAIO
5º OUTONO ANGUS SHOW
27/05/2009 a 31/05/2009
JULGAMENTO DE RÚSTICOS: 28/05 - 9H
JULGAMENTO MACHOS: 29/05 – SEXTA – MANHÃ E TARDE
JULGAMENTO FÊMEAS: 30/05 – SÁBADO – MANHÃ
JUNHO
15º FEICORTE
16/06/2009 a 29/06/2009
JULHO
50º EXPO ARAÇATUBA
A Associação Brasileira de Angus
– ABA coordena a participação da
raça Aberdeen Angus no segundo
turno da 49ª Exposição Agropecuária
e Industrial de Londrina, que se realiza de 7 a 12 de abril, no Parque de
Exposições Ney Braga, na cidade de
Londrina, PR.
O zootecnista Roberto Vilhena
Vieira irá julgar os machos da raça
no dia 10 de abril. Já a escolha das
melhores fêmeas da exposição será
realizada no dia 11 de abril. Vilhena
já atuou como jurado da raça em
outras ocasiões, como na Exposição
de Araçatuba em 2008. Ele relata que
conhece a raça Aberdeen Angus no
exterior e fica satisfeito ao ver como
a raça no Brasil está competitiva, com
um excelente nível de apresentação
nas exposições.
A novidade deste ano será a realização do Curso de Jurado Jovem Introdução ao julgamento na raça
Angus, no dia 9 de abril, durante a
exposição. O curso terá aulas teóricas sobre padrão racial, preparo e
avaliação dos animais, características
importantes da raça para observar e
premiar nas pistas, programas da
ABA, além de aulas práticas durante
o julgamento oficial da Angus na
mostra. O objetivo é a maior
integração dos estudantes com a raça
e a entidade, mostrando aos futuros
criadores os benefícios e qualidades
da raça.
Outra inovação será um restaurante Angus dentro do parque de exposições, que irá comercializar Carne Angus Certificada.
A Expolondrina 2009 contará
com dois leilões chancelados pela
ABA. No dia 9 de abril será o 2º Leilão Conexão Angus, no Abdelkarim
Janene. Já no dia 10, acontece o 1º
Leilão GB Corticeira, no Recinto
Garcia Molina.
Inscrições para Uruguaiana
estão abertas até 26 de abril
AGOSTO
EXPOINTER
29/08/2009 a 06/09/2009
JULGAMENTO FÊMEAS ARGOLA – 01/09 – TERÇA – MANHÃ
JULGAMENTO MACHOS ARGOLA – 02/09 – QUARTA – MANHÃ
GUARAPUAVA
SETEMBRO
73º EXPOSIÇÃO DE URUGUAIANA
28/09/2009 a 04/10/2009
OUTUBRO
59º FEAPEC – EXPOSIÇÃO DE CACHOEIRA DO SUL
01/10/2009 a 11/10/2009
EXPOSIÇÃO DE PELOTAS
02/10/2009 a 15/10/2009
48º EXPO RIO PRETO
EXPOFEIRA DE BAGÉ
EXPOFEIRA DE DOM PEDRITO
67° EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE ALEGRETE
12/10/2009 a 31/10/2009
EXPOFEIRA DE RIO GRANDE
13/10/2009 a 19/10/2009
EXPOSIÇÃO DE LIVRAMENTO
15/10/2009 a 16/10/2009
43° EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE SÃO FRANCISCO
DE ASSIS
22/10/2009 a 26/10/2009
Exposição de Outono
é uma promoção da
ABA e Núcleo Angus
Três Fronteiras
Já estão abertas as inscrições
para a 7ª Exposição de Outono
de Uruguaiana, que será realizada de 4 a 9 de maio de 2009, no
parque de Exposições de Uruguaiana, RS, numa promoção da
Associação Brasileira de Criadores de Angus e Núcleo Angus Três
Fronteiras. Até o dia 26 de abril,
os animais podem ser inscritos di-
retamente na associação, telefone
51.33289122.
A programação da raça na exposição tem prevista a admissão dos
animais em 6 de maio. No dia 7 de
maio acontece o julgamento de rústicos, seguido do Remate Gado
Rústico, agendado para as 18 horas.
O dia 8 de maio é destinado ao
julgamento de classificação dos
animais de argola e às 19 horas
do mesmo dia ocorre a entrega
de prêmios. Ainda no mesmo
dia, às 20 horas, será realizado o
Remate Raça e Tradição, com
oferta de animais de elite Angus
e Brangus.
No sábado, dia 9, será realizada uma feira de terneiros.
EXPOSIÇÃO DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR
30/10/2009
NOVEMBRO
EXPOVEL - CASCAVEL
OUTROS EVENTOS
103ª EXPOSIÇÃO DO PRADO
10 A 21/09/2009
EXPOSIÇÃO DE PALERMO
23/07/2009 A 04/08/2009
XXXVIII EXPOSIÇÃO RURAL DE SÃO BORJA
03/10
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Março/Abril de 2009
CARNE
ProSafeBeef: Investigando as atitudes e as preferências
dos consumidores europeus em relação à carne bovina
Por Marcia Dutra de Barcellos
No início de 2007, a Comissão Européia
aprovou o ProSafeBeef, um projeto integrado
de cinco anos que envolve o estudo de aspectos competitivos de produção e processamento
de carne bovina. O projeto é financiado pelo
6th Framework Programme, dentro da área
temática prioritária de Qualidade e Segurança dos Alimentos. A expectativa é que, ao final
do projeto, em 2012, a cadeia produtiva de
carne bovina na Europa possa oferecer produtos mais seguros, nutritivos e com maior
valor agregado, atendendo as demandas do seu
exigente consumidor (Miles & Caswell,
2008)..
E
ntre as diversas áreas de pesquisa, existe um módulo dedicado aos consumidores, chamado Pilar 5. Neste módulo
de pesquisa procura-se basicamente investigar as percepções, atitudes, expectativas e a
aceitação ou a rejeição de tecnologias de
processamento aplicadas à carne bovina.
Assim, para a realização da primeira etapa de pesquisa com consumidores foram realizados oito grupos de discussão nas capitais da Alemanha, Espanha, França e Inglaterra. No total 65 pessoas participaram ativamente das discussões, que seguiram um
roteiro pré-determinado que abrangeu as
opiniões dos participantes sobre segurança da
carne bovina, aspectos de saúde e informações sobre o consumo de carne, além de obter a opinião dos entrevistados sobre sistemas de garantia de qualidade de carne bovina. Finalmente, foram investigadas as atitudes dos participantes quanto à inovações
tecnológicas em carne bovina.
Antes das discussões, os participantes responderam a um questionário onde foram
investigadas: 1) sua propensão à inovação, 2)
sua atitude geral em relação à carne bovina,
3) seu envolvimento em relação à carne bovina, e 4) sua atitude em relação ao bem-estar animal. Especificamente quanto às inovações tecnológicas em carne bovina, foram
avaliadas suas atitudes (aceitação / saudabilidade / segurança / nutrição) em relação a
quatro tecnologias de processamento:
1) Carne marinada por submersão em
temperos/conservantes/palatabilizantes;
2) Carne marinada por injeção de temperos/conservantes/palatabilizantes;
3) Carne com adição de ômega 3 para
melhoria nutricional, e finalmente;
Agregar valor aos produtos através de melhorias tecnológicas
não é tarefa fácil, face à postura relativamente negativa
apresentada pelos consumidores de carne bovina. O
consumidor aceita tecnologias aplicadas à carne bovina desde
que mantida a naturalidade e qualidade do produto
4) Carne com adição de enzimas ou
microorganismos para aumentar a vida de
prateleira do produto.
Assim, serão apresentados a seguir os resultados obtidos através deste questionário
preliminar, que nos fornece uma visão inicial sobre a percepção do consumidor europeu
em relação à inovações tecnológicas na cadeia da carne. Os resultados obtidos nas discussões dos grupos de foco estão sendo analisados e serão apresentados em futuras publicações.
Resultados Preliminares
Questionário Adicional
Os resultados indicam que os participantes apresentam atitudes bastante positivas em
relação à carne bovina, seguido por atitudes
também fortes e positivas em relação ao bemestar animal. Possuem grau moderadamente
elevado de envolvimento com o produto e
ainda podem ser considerados relativamente
favoráveis quanto ao consumo de alimentos
inovadores. Veja Tabela 1.
rejeitada (médias abaixo de 3.5) por serem
excessivamente “invasivas” ou “arriscadas” em
termos de contaminação, segundo relataram
os participantes na discussão que seguiu ao
preenchimento do questionário. Nesse sentido, houve uma preferência pelo “natural” e
pela menor intervenção tecnológica possível
no produto carne bovina.
Assim, “marinar através de submersão” e
“melhorar nutricionalmente a carne bovina
através da adição de ômega 3” obtiveram a
aceitação dos participantes, sendo consideradas ainda tecnologias seguras, saudáveis e
nutrivas, enquanto que “marinar através de
injeções” e “adicionar enzimas ou microorganismos para aumentar a vida de prateleira da
carne bovina” foram rejeitadas. Esta última,
segundo os participantes, somente beneficiaria a indústria processadora de carne e os
varejistas, que acabariam vendendo produtos “não frescos” aos consumidores. Veja Tabela 2
abaixo:
Em relação à aceitação de tecnologias aplicadas à carne bovina, os participantes mostraram-se bastante céticos, sendo que a metade das tecnologias propostas nesta etapa foi
Considerações finais
Os resultados preliminares aqui apresentados e aqueles que estão em análise e desenvolvimento implicam em grandes desafios
para a indústria processadora de carne bovina. Agregar valor aos produtos através de
melhorias tecnológicas não é tarefa fácil, face
à postura relativamente negativa apresentada pelos consumidores de carne bovina. O
que fica claro, no entanto, é que os consumidores aceitam tecnologias aplicadas à carne
bovina desde que se mantenha a proposta de
“naturalidade” e qualidade do produto. O excesso de manipulação não é aceito pelos consumidores europeus.
No Brasil, pretende-se investigar também
estas questões, dando continuidade a pesquisas em andamento e já publicadas sobre o
tema (vide De Barcellos et al., 2009, 2008).
Aqui também é fundamental que melhor
compreenda as necessidades do mercado consumidor. Vale lembrar que independente dos
tempos de crise e dólar alto, mais do que
nunca a indústria processadora brasileira deve
bem tratar de seus consumidores do mercado doméstico, oferecendo produtos inovadores, seguros e com garantia de qualidade. Aos
produtores, continua o desafio de produzir
com sustentabilidade, mantendo os olhos
sempre abertos às demandas do mercado.
Agradecimentos
Este trabalho foi realizado pela UE FP6
Projeto Integrado ProSafeBeef, contrato n.
FOOD-CT-2006-036241. Agradecemos o financiamento deste trabalho pela União
Européia. A visão expressa nessa publicação é de responsabilidade exclusiva da autora e não necessariamente
expressa a visão da Comissão Européia.
Referências
De Barcellos, M.D., Aguiar, L.K.,
Ferreira, G.C. & Vieira, L.M. Willingness to
Try Innovative Food Products: A Comparison
between British and Brazilian Consumers.
Brazilian Administration Review, vol. 6, n.1,
p. 50-61, Jan-Março de 2009.
De Barcellos, M. D., Ferreira, G.C.,
Vieira, L.M. & Aguiar, L.K. Food Innovation:
Perspectives for the Poultry Chain in Brazil.
Em: International Agri-Food and Chains
Network Management Conference,
Wageningen, Holanda, Maio de 2008.
Miles, L. & Caswell, H. Advancing beef
safety and quality: ProSafeBeef. Nutrition
Bulletin, vol. 33, p. 140-114, 2008.
Marcia Dutra de Barcellos (Professora da
Faculdade de Administracao, Contabilidade e
Economia da PUCRS) é Médica Veterinária,
Mestre e Doutora em Agronegócios (UFRGS),
ex-Coordenadora e ex-Diretora do Programa
Carne Angus Certificada. Em 2008 realizou
seu Pós-Doutorado na Dinamarca e teve a
oportunidade de trabalhar como pesquisadora
no projeto ProSafeBeef, entre outros projetos
financiados pela União Européia.
CARNE
Março/Abril de 2009
5
Exportação de gado em pé
Mercado de gado vivo é um novo filão para Angus
Fotos: Alan Bastos/Divulgação
Os mais de 380 mil bovinos vivos exportados em 2008 confirmam a viabilidade do negócio: vender gado em
pé se tornou uma excelente opção para os criadores brasileiros em momentos de preços “achatados”. Venezuela e
Líbano são os maiores compradores dos animais, e embora a perspectiva hoje não seja tão animadora como no
passado recente – reflexo da crise que tomou conta das economias mundiais -, tem muita gente apostando e
produzindo, visando colocar seus animais nos porões dos navios rumo a esses mercados.
Por Luciana Radicione
Que o diga Ronaldo Zechlinski
de Oliveira, da Estância Campos da
Barra, localizada em Rio Grande, RS.
Desde 2005 ele comercializa cabeças
de gado por meio desta operação. Foi
o primeiro a negociar o embarque de
100 terneiros através de uma empresa exportadora. “Tenho a nota fiscal
número 001”, conta. Na época, a
venda foi paga à vista, diferentemente do que ocorre hoje com a
comercialização dos animais para o
mercado interno, quando muitas vezes o pagamento é feito em “prazos
esticados”.
Preferência por Angus
Zechlinski conta que o negócio
se tornou uma opção muita atrativa
para ele (e por certo para vários outros), especialmente porque os compradores internacionais remuneram
melhor – de 5% a 10% mais do que
à venda doméstica -, não exigem animais acabados e, o diferencial, valorizam muito o sangue das raças britânicas. “Eles têm preferência pelos
britânicos, especialmente o Angus.
Pagam mais e não carregam quando
Quando a exportação de gado vivo
é bem remunerada, torna-se uma
válvula de escape ao produtor
há sangue zebu”, afirma o criador.
Preto ou vermelho, a preferência
é mesmo grande pelo gado Angus,
confirma André Crespo, da Casarão
Remates, com sede em Pelotas, RS,
corretora autorizada para a exportação de bovinos no Rio Grande do Sul.
O fato de esse tipo de negócio começar a ganhar espaço entre os
pecuaristas (já foram vários embarques) tem, de uma certa forma,
“aquecido” o mercado interno também. Quando os criadores não conseguem embarcar seus animais até
mesmo em função da grande oferta,
os compradores locais acabam remunerando o gado não embarcado pelo
mesmo preço dos navios, que normalmente atracam a cada 70 dias no
porto do Rio Grande.
Todos ganham
Terneiros, bois, novilhas. Os
embarques são bem diferenciados
e obedece a demanda dos mercados compradores, mas nada que os
criadores não possam ofertar. Para
Zechlinski, esse tipo de negócio
tem muitas vantagens, e lista: “os
compradores têm o produto que
procuram, os embarques enxugam
o mercado, valorizam internamente o que fica e pagam mais pelo sangue Angus e suas cruzas”, garante,
satisfeito, o criador, que em quatro anos deixou de vender animais
em apenas uma ocasião. “Os produtores perceberam essa janela de
mercado e veem nela uma oportunidade de aumentar seus rendimentos”, constata o pecuarista.
a expectativa é de um certo recuo
nos preços pagos pelo gado vivo. Se
no ano passado, por exemplo, foram
pagos R$ 3,00 pelo kg, neste ano o
valor está em R$ 2,40.
“O Brasil segue a tendência dos
mercados internacionais, mas a cotação
atual
continua
compensadora”, afirma ela. É o que
confirma um levantamento da Scot
Consultoria, para quem os preços
médios de bovinos exportados pelo
Brasil, para engorda e abate, recuou
entre fevereiro de 2008 e fevereiro
de 2009, em dólares: o valor médio
de fevereiro ficou em US$ 635,00/
cabeça contra US$ 827,00/cabeça
em fevereiro de 2008. Já o valor
médio da arroba em fevereiro do ano
passado era US$ 50,42 contra US$
44,25 em fevereiro deste ano.
No entanto, mesmo com a diminuição do preço de exportação em
dólares e a valorização do boi gordo
no mercado interno, a diferença entre os preços é, hoje, maior do que
em fevereiro de 2008. Isso significa
que continua interessante a exportação de bovinos vivos se analisados os
preços.
Tendo Angus, ganha
De acordo com a Scot
Consultoria, o mercado do boi gordo está em baixa desde outubro do
ano passado – quando a crise foi
deflagrada, e o mercado seguirá sob
pressão de baixa. O cenário, no entanto, não desanima quem tem produtos que se encaixam no perfil do
comprador. Segundo Denise, em fevereiro passado foram negociados 7
mil terneiros e agora outro carregamento está sendo feito, com previsão de navio cheio.
Embora não tenha vendido sequer um exemplar para o Oriente
Médio, o presidente do Sindicato
Rural de Rio Grande, Eduardo Braga
Cardoso, conhece bem as vantagens
do negócio, especialmente quando o
mercado interno não remunera adequadamente o criador. “É uma válvula de escape do produtor, especialmente em nossa região, onde há poucos invernadores”, constata. Cardoso acompanha a lógica do mercado:
se não está bom vender para o mercado interno, é preciso arranjar alternativas mais compensadoras. “Se
a exportação de gado vivo é melhor
remunerada, então vamos incentivar”, diz o criador e proprietário do
escritório de remates Querência Negócios Rurais.
Cardoso é taxativo ao analisar o
mercado da pecuária e as oportunidades que se abrem com a demanda
dos mercados do Oriente Médio.
“Quando a cadeia da carne estiver
organizada não haverá mais margem
para esse tipo de negócio, pois o produtor vai se dedicar a vender cortes
selecionados e de maior valor agregado”, afirma.
G ir
eloz
iroo mais vveloz
Outro aspecto importante – e
válido – das exportações de gado em
pé, é a possibilidade de passar adiante uma grande quantidade de
terneiros, o que enxuga os campos e
abre espaço para os ventres. “Há um
melhor aproveitamento da atividade
já que com a venda de terneiros, o
criador não precisa mandar para o
gancho suas fêmeas”, salienta o dirigente. “É melhor vender 10 terneiros,
do que 4 novilhas pelo mesmo valor”, exemplifica.
Embar
ques dev
em continuar
mbarques
devem
As oscilações do mercado internacional podem comprometer um
pouco os ganhos e a frequência desse tipo de operação, mas nada que
deva afetar a continuidade dos embarques. De acordo com Denise
Afra, de uma das empresas exportadoras que faz a compra dos animais
no Rio Grande do Sul, entretanto,
Navios atracam a cada 70 dias no porto de Rio Grande, RS
6
Março/Abril de 2009
CARNE
Qual a percepção do consumidor de
carne sobre as indicações geográficas?
Por Fernanda Scharnberg Brandão
Para suprir as necessidades de consumidores cada vez mais exigentes por qualidade e
variedade de produtos, os diferentes setores
da economia buscam centrar esforços que os
diferenciem e possibilitem explorar essas demandas do mercado. Diante desse contexto,
selos de certificação de produto e/ou processo, cuja reputação seja idônea - como as indicações geográficas (IG) - são alternativas para
dar credibilidade às informações transmitidas
nos rótulos dos produtos e reforçar a imagem
do produto (e de sua marca) junto aos consumidores.
E
sse tipo de certificação constitui uma
forma especial de apropriação ao produto através da diferenciação, visando
distinção por meio da identificação do seu território de produção. Tais certificações têm
apresentado uma crescente demanda, sendo
utilizadas como ferramenta de marketing, oferecendo maior segurança ao consumidor e garantia de qualidade e procedência ao produto.
Entretanto, para efetivar o aumento da
competitividade desses produtos com IG no
mercado, é necessário verificar o que o consumidor pensa a respeito desse produto e sua
disposição em valorizar e pagar por essa diferenciação. Nesse sentido surgiram algumas
questões que foram centrais para realização de
uma recente pesquisa acadêmica: o consumi-
dor tem consciência do conceito de IG? Existe interesse do consumidor de carne por produtos com IG? O consumidor pagaria a mais
por esse atributo de IG?
Para responder a tais questionamentos foram realizadas entrevistas com consumidores
de carne bovina, a fim de avaliar suas percepções sobre as IG, abordando especificamente
o caso da Indicação de Procedência (um tipo
de IG) da Carne do pampa Gaúcho da Campanha Meridional.
Por que a Carne do Pampa Gaúcho da
Campanha Meridional?
Primeiramente pela tradição cultural da
campanha gaúcha na produção pecuária, que
é o objeto de estudo desta pesquisa. A produção de bovinos está fortemente associada, portanto, a imagem da cultura gaúcha.
Em segundo lugar pela exclusividade da
região, proporcionada pelo Bioma Pampa. São
poucas regiões no mundo que apresentam uma
diversidade de espécies campestres como as
encontradas no Pampa Gaúcho da Campanha
Meridional. Segundo o IBAMA (2007), no
bioma pampa ocorrem formações campestres
e florestais distintas de outras formações existentes no Brasil. O Bioma Pampa é caracterizado como um ambiente diferenciado pela
oferta de alimentação natural, num
ecossistema preservado e ligado à tradição, história e cultura gaúcha, condicionantes do reconhecimento da região no Brasil e no mundo pela produção de bovinos, de carne e derivados (VARGAS, 2008).
Em terceiro lugar, pelo recente reconhecimento da carne com a Indicação de Procedência chamada “Carne do Pampa Gaúcho da
Campanha Meridional”, pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (BRASIL,
2008), como uma estratégia competitiva para
a pecuária gaúcha. Há interesse especial para
os produtores de gado Angus, já que esta é uma
das raças aceitas entre os pré-requisitos do programa.
Localização Região da Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional, Rio Grande do Sul.
Fonte: Carne do Pampa Gaúcho (2008)
Qual é a hierarquia da percepção ?
Foi realizada uma pesquisa para identificar a possível valorização e disposição a pagar pelo atributo da IG pelos consumidores
de carne bovina. Os dados foram obtidos
entre setembro e novembro de 2008, através
de um questionário disponibilizado via
internet.
A partir dos resultados foi possível avaliar que a percepção do consumidor sobre as
indicações geográficas em carnes é bem positiva, sendo este atributo reconhecido como
um indicador de qualidade. No entanto, mais
de 60% dos consumidores não conheciam a
indicação geográfica e justificaram que não
consumiram esse produto porque não o conheciam. Mesmo assim, fica clara a intenção de compra do consumidor pelas carnes
com selo de indicação geográfica.
Outra percepção importante refere-se aos
atributos de qualidade associados à carne com
IG, que foram hierarquizados da seguinte
maneira pelos consumidores: 1º - Qualidade sensorial, 2º - Manejo, 3º - Corte da car-
ne, 4º - Preço do produto, 5º - Sistema de
produção, 6º - Embalagem, 7º - Raça do animal, 8º - Marca do produto.
Como sugestão ao quadro apresentado,
além do estímulo ao marketing no mercado
nacional, seria oportuno utilizar esses produtos com selo de indicação geográfica para
impulsionar a exportação de produtos nacionais dotados de diferencial competitivo.
Desse modo, a IG poderia ser considerada
como uma ferramenta bem sucedida para o
desenvolvimento dos produtos alimentares.
Entretanto, a IG não deve ser considerada isoladamente. Isso porque a IG se insere
no mercado com um sentido mais amplo:
tanto como estratégia de diferenciação, visando aumentar a competitividade, como de
promoção de uma característica coletiva no
desenvolvimento rural, que é o apelo à origem.
Médica Veterinária – Ufrgs (2006)
Mestre em Agronegócios – Cepan/Ufrgs (2009)
Doutoranda em Agronegócios – Cepan/Ufrgs
Foto: JG Martini
Março/Abril de 2009
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Março/Abril de 2009
CARNE
Programa Carne Angus
é apresentado no I-UMA
De 3 a 5 de março, o diretor de marketing
da Associação Brasileira de Angus, João Francisco Bade Wolf, juntamente com o técnico do
Programa Carne Angus, Fábio Medeiros e o
gerente Carne Angus Certificada, Fernando
Velloso participou do curso Marketing aplicado à comercialização de bovinos, promovido
pelo Instituto Universal de Marketing em
Agribusiness – I-UMA, em Porto Alegre, RS.
Fábio Medeiros realizou apresentação do
Programa Carne Angus para um grupo de alunos do curso Mulheres no Agronegócio. Participaram também os proprietários das casas de
carne Moussale e Angus da Gruta.
Ministrado pelo professor Júlio Otávio
Barcellos, o curso teve o objetivo de proporcionar aos participantes uma visão sistêmica sobre
os mecanismos de comercialização de bovinos
no Brasil, enfatizando a utilização das ferramentas do marketing, além de criar estratégias específicas destinadas à formulação de programas
de marketing especializado para leilões de bovinos.
Wolf ficou bastante satisfeito com o curso e
acredita que seu conteúdo poderá ser utilizado
no planejamento estratégico da ABA, especificamente para remates e outros eventos. “A idéia
é ver o que podemos inovar, conhecendo cada
vez melhor nosso cliente, e escolhendo certo os
SERVIÇO CARNE ANGUS
ONDE VENDER O GADO
(Frigoríficos com Certificação Carne Angus)
Estado
Frigorífico
Telefone
RS
RS
SP
GO
MERCOSUL (RS)
NOSSA SENHORA DA GRUTA
MARFRIG
VPJ BEEF
(53) 3240.5700
(53) 3267.1717
(14) 3541.0099
(19) 9159.3839
ONDE COMPRAR A CARNE ANGUS
(P
ontos de comercialização de Carne Angus Certificada)
(Pontos
Comercialização de bovinos foi o
tema principal do curso
canais de venda”, prospecta o diretor de
marketing da ABA, destacando que o programa de leilões da entidade funciona muito bem,
mas que ainda assim é possível estabelecer uma
relação mais forte com os clientes durante o ano
todo.
O dirigente acredita que as perspectivas de
negócios para 2009 são bastante reais. Para ele
o “Terneiro Angus Certificado” e o Programa
Carne Angus Certificada crescerão e se consolidarão ainda mais neste período em que é preciso um foco de atuação bem definido. João Wolf
relatou ainda que entre os participantes do curso, surgiram muitos interessados em obter informações sobre a raça Aberdeen Angus o que
qualificou ainda mais o investimento.
ESTADO
RS
RS
RS
RS
SP
SP
SP
SP
SP
SP
RJ
EMPRESA
PRODUTO/MARCA
CIA ZAFFARI (RS)
MARCA ZAFFARI ANGUS
- Zaffari Bordini (Porto Alegre)
- Zaffari Ipiranga (Porto Alegre)
- Zaffari Higienópolis (Porto Alegre)
- Zaffari Cristóvão Colombo (Porto Alegre)
- Zaffari Otto Niemeyer (Porto Alegre)
- Bourbon Assis Brasil (Porto Alegre)
- Bourbon Ipiranga (Porto Alegre)
- Bourbon Country (Porto Alegre)
- Bourbon Novo Hamburgo (Novo Hamburgo)
RESTAURANTE BARRANCO
MARCA MERCOBEEF ANGUS
Porto Alegre, RS
BOUTIQUE MOUSSALLE
MARCA MERCOBEEF ANGUS
Porto Alegre, RS
CASA DE CARNES ANGUS DA GRUTA
MARCA ANGUS DA GRUTA
Porto Alegre, RS
CALL CENTER VPJ BEEF
Marca VPJ ANGUS PRIME
FONE - 0800 77 11 875
BOUTIQUE CARNE ANGUS VPJ
Marca VPJ ANGUS PRIME
Jaguariúna, SP
VARANDA FRUTAS
Marca VPJ ANGUS PRIME
São Paulo, SP
SUPERMERCADO WALLMART
STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME
Lojas Tamboré, Granja Viana,
Osasco, Pacaembu, Indianápolis
REDE NATURAL DA TERRA
STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME
(São Paulo, SP)
EMPÓRIO SÃO PAULO
STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME
(São Paulo, SP)
REDE HORTIFRUTI
STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME
(Rio de Janeiro, RJ)
FEIRAS DE TERNEIROS
ANGUS CERTIFICADOS
1º Remate de Produção PAP Vilamill de Castro
Data: 24 de abril
Contato: 53 32433045
Local: Sindicato Rural de Dom Pedrito - RS
Feira de Terneiros Angus de Uruguaiana
Data: 9 de maio
Local: Sindicato Rural de Uruguaiana - RS
Feira de Terneiros e Ventres Angus
Data: 16 de maio
Leiloeira: Balcão
Contato: 55 32412000
Local: Parque Sindicato Rural de Livramento - RS
Transmissão: Agrocanal
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CONSELHO TÉCNICO
Relembrando algumas alterações do regulamento para 2009
Fotos: Divulgação/ABA
Aproveitando a primeira edição do Angus@newS de 2009, o
Conselho Técnico alerta para mais algumas modificações do
Regulamento da ABA que estará em vigor no ano de 2009. Na
edição passada abordamos o assunto das alterações nas categorias de julgamento, nesta edição iremos falar das modificações
para registros de filhos de fêmeas “AD”, além de frisar como
serão distribuídas as categorias de julgamento para animais rústicos, e também a respeito das alterações das avaliações do
Promebo.
Machos filhos de vacas AD
Esta alteração já constava no Regulamento do ano de 2008 da ABA,
onde dizia que filhos (machos) de
vacas AD nascidos a partir de Julho
de 2008, não poderão mais ser
registrados como PC (CA).
A justificativa para esta decisão é
qualificar os touros comercializados
nos remates.
Como as vacas mães não possuem gerações controladas (mães e pais
registrados) estas podem não possuir
a consistência genética de vacas que
já possuem um controle como é o
caso das CA ou PO. Sabemos que
para manter a qualidade genética da
raça temos que trabalhar com os
melhores animais, assim estaremos
sempre aumentando o nível dos rebanhos. Baseado nisto, estamos diminuindo a oferta de touros para rebanho comercial, sendo mais rigorosos na sua seleção, mas ao mesmo
tempo oferecendo animais mais qualificados ao mercado.
Os touros nascidos anteriormente a esta data ainda podem ser
registrados? Sim, estes poderão ser
registrados deste que estejam dentro
do padrão da raça e apresentem desempenho superior da avaliação genética (DECA 1 a 4).
E para registrar filhos de vacas
CA? Para os filhos de vacas CA serem
registrados, tanto machos como fêmeas, as vacas tem que ser acasaladas
com touros PO (P ou PP) ou CA (somente CACA), além disso o criador
não pode esquecer de enviar os comunicados de cobertura e nascimento
destes animais à ANC.
E o touro CA? Quando posso
utilizá-lo? Os touros CA são indicados somente para padreação de rebanhos comerciais, onde não se trabalhe com rebanhos controlados
(registrados).
Lembre-se: Fêmeas marcadas AD
são animais base para iniciar uma boa
criação de Aberdeen Angus, pois foram selecionadas pelos critérios
fenotípicos da raça. No ano de 2008,
estes animais tiveram uma valorização importante nos remates mostrando que são um produto muito procurado e valorizado pelo mercado.
ABA aumenta rigor na seleção de reprodutores PC
O objetivo da ABA é elevar o nível de seleção, para que o criador ofereça ao mercado animais sempre melhores
Categorias de julgamento
de animais rústicos
Para 2009, houve uma alteração nas categorias de julgamento para
exposições de argola e rústicos.
Nos rústicos a idade final para participação também foi alterada,
agora animais de até 1.170 dias de vida poderão participar e não somente até 1.140 como nas exposições de argola.
Veja na Tabela 1 as categorias para animais rústicos.
Não esqueça de preparar seus animais para participarem das exposições, e disponibilizar ao mercado sempre animais superiores, com avaliação genética!!!
Mudança nas
avaliações do
Promebo
Por decisão do Comitê de Melhoramento Genético, junto ao
Conselho Técnico,para estimular o
incremento nas avaliações das fêmeas, para este ano haverá uma alteração na emissão de Relatório de
Recursos Genéticos do Promebo.
A partir do ano de 2010, só poderão participar do Relatório de
Recursos Genéticos (o qual gera informação dos animais que deverão
receber a dupla marca), os criadores que avaliarem machos e fêmeas
em seus rebanhos.
Não esqueça que no ano de
2009, deverão ser realizadas, também nas fêmeas, as avaliações no
desmame.
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CONSELHO TÉCNICO
Fêmeas doadoras: manejo é
aliado dos bons resultados
A melhoria dos índices reprodutivos é essencial para
a viabilização econômica da bovinocultura no
Brasil. Mas é preciso considerar que a muito que
investir nas propriedades em gerenciamento,
nutrição, sanidade, manejo e processos de seleção. As
biotecnologias da reprodução – Transferência de
Embriões (TE) e Fertilização in Vitro (FIV) somente
poderão gerar resultados desejados quando a
propriedade está estruturada em seu sistema de
produção. Mas trabalhar com genética é utilizar
todos os conhecimentos e ferramentas disponíveis na
área de seleção, buscando estreitar ao máximo as
margens de erro. Mas vale lembrar que, em genética,
dois mais dois pode não ser necessariamente quatro.
Fotos: Divulgação/ABA
Em sumário, a ABA já contabiliza 50 fêmeas PO e 50 PC de diversos rebanhos brasileiros
Foto: Horst Knak/Agência Ciranda
A
Associação Brasileira de
Angus (ABA) vem investindo na identificação
das fêmeas superiores do rebanho nacional. Uma boa doadora
é avaliada pela sua precocidade
sexual, pela sua capacidade em
produzir bons terneiros – para
que no futuro seus descendentes
Susana Macedo Salvador
s e j a m b o n s re p r o d u t o r e s o u
mães-, e pela capacidade de repetição de cria. Todos esses aspectos são tradicionalmente avaliados pelo Promebo, programa
de avaliação genética da raça. No
entanto, as fêmeas que se sobressaem nas pistas de julgamento
em suas categorias também podem apresentar condições de se
tornar uma boa doadora.
Se g u n d o L u í s M ü l l e r, d o
Conselho Técnico da ABA, o
fato de os animais de julgamento serem preparados muito cedo
para frequentar exposições, dificulta uma comparação com os
indivíduos avaliados em programas genéticos. “Para isso, a ABA
vem aplicando ferramentas de
avaliação e de multiplicação de
fêmeas que mereçam ir à transferência de embriões, seja por
meio de julgamentos, seja por
meio
de
avaliação
de
performance. O que se quer é
identificar essas vacas produtivas”, explica.
Atualmente, constam em sumário 50 fêmeas PO e outras 50
PC de diversos rebanhos brasileiros aptas à reprodução. Müller
informa que ainda neste ano o
Comitê de Melhoramento Genético do Conselho Técnico da
ABA vai lançar um programa de
promoção de embriões viáveis
que serão disponibilizados aos
sócios. “Esse será mais um canal
com vistas á promoção do melhoramento genético do rebanho
Angus”, afirma Müller.
“A transferência de embriões
( TI) e a fer tilização in vitro
(FIV) podem ser excelentes ferramentas de seleção ou apenas
um meio rápido de multiplicação de animais. Tudo vai depender do critério utilizado na escolha das doadoras”, posiciona a
Vacinação contra a Febre Aftosa no RS
A Secretaria da Agricultura,
Pecuária, Pesca e Agronegócio do
RS, através de seu Departamento de Produção Animal/Divisão
de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal - DFDSA, informou
no início de março que a solicitação de mudança das datas da
etapa de vacinação contra a Febre Aftosa no RS foi aprovada
pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
(MAPA), e assim, as etapas de vacinação contra a doença no Estado ocorrerão nos meses de maio e
novembro.
A partir de maio ocorrerá a
vacinaçãode todos os bovinos e
bubalinos e no mês de novembro
ocorrerá a vacinaçã de bovinos e
bubalinos até 24 meses de idade.
As feiras oficiais de bovinos
(terneiros) que ocorrerem durante
as etapas de vacinação contra a Fe-
bre Aftosa deverão respeitar as regras estabelecidas pela Instrução
Normativa nº 44/2007, em que
é obrigatório que os animais estejam vacinados para realizar a
movimentação animal, e no caso
de animais primovacinados ou
com duas vacinas, além da vacinação, deverão respeitar os prazos de carência de 15 e 17 dias,
respectivamente, para a realização
da movimentação animal.
presidente do Conselho Técnico
d a A s s o c i a ç ã o Br a s i l e i r a d e
Angus (ABA), veterinária e criadora Susana Macedo Salvador.
O uso de tecnologias capazes
de disseminar a genética de fêmeas de alta produção no Brasil
é fato. Seja por meio da Transferência de Embriões (TE) ou da
Fertilização in Vitro (FIV), os
resultados obtidos por alguns
criadores superam expectativas e
dinamizam ainda mais a pecuária nacional, com a produção de
animais de qualidade genética
comprovada. Atualmente é a forma mais rápida de obter filhos
de animais superiores, caso contrário, a natureza se encarregaria de viabilizar a produção de
apenas um terneiro por ano.
Embora a aplicação dessas
biotecnologias esteja dominada,
- o Brasil é líder mundial em
produção de embriões e no uso
das tecnologias de reprodução
animal como TE e FIV -, ainda
são poucos os criadores beneficiados por essas técnicas. “Ainda temos muito a crescer”, afirma Rednilson Moreli Góis, médico veterinário especializado
em Reprodução de Ruminantes
pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). As tecnologias de
reprodução em bovinos, segundo ele, que é técnico credenciado
d a A s s o c i a ç ã o Br a s i l e i r a d e
Angus (ABA), devem ser usadas
para que o criador consiga explorar ao máximo o potencial de
suas doadoras. Gois frisa, no en-
Luis Alberto Müller
tanto, que a ânsia por resultados
muitas vezes pode atropelar esse
processo e resultar em desempenhos não-esperados.
De acordo com ele, os principais erros cometidos no processo de manejo são a utilização
de doadoras superalimentadas
(para regime de exposição), excesso no número de coletas, utilização de doadoras novas ou
com idade muito avançada, além
da realização de coletas em períodos do ano com clima desfavorável. “A grande maioria das doadoras é mal manejada e pouco
explorada. Com isso temos um
desperdício de genética de animais com grande potencial, e
isso ocorre por vários motivos e
muitas vezes inclui a falta de informação sobre as técnicas de TE
ou FIV”, afirma o especialista e
técnico de campo.
>>>
Ciranda
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CONSELHO TÉCNICO
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Quando a pressa atropela a ciência
Foto: Divulgação/ABA
O desconhecimento do poder multiplicador que essas tecnologias têm, quando utilizadas de maneira
sistemática em programas de melhoramento genético, está associado à maior parte dos equívocos cometidos por quem faz uso da técnica de reprodução. “A pressa em iniciar esses programas e a busca por
resultados imediatos são as causas mais comuns de fracassos nos programas de TE”, avalia o doutor em
Reprodução Animal e professor da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio grande do
Sul (UFRGS), João Batista Borges.
a outra ponta, diz, o uso de
TE ou FIV em rebanhos
com baixos índices
reprodutivos ou problemas sanitários apresenta também resultados
desastrosos. Embora a tecnologia esteja consolidada, a maior parte dos
criadores ainda não tem critérios claramente definidos para o aproveitamento das doadoras nos programas
de TE. “O uso das doadoras fica
condicionado à produção de embriões e histórico nas pistas, não considerando índices de avaliação genética dos indivíduos ou sua progênie”, aprofunda Borges.
Na seleção de fêmeas doadoras recomendam os técnicos - os criadores devem optar por exemplares
geneticamente superiores, com desempenho comprovado através de
provas individuais (fenótipo, exemplo exposições) e prova de avaliação
de progênie (CDP, Promebo, etc).
“ Temos que lev
ar em consideralevar
ção aspectos impor
tantes para
importantes
cada raça e suas características de
p rrodução
odução
odução.. Boas doadoras são
também boas pr
odutoras, com
produtoras,
N
habilidade materna e sem pr
prooepr
odução
eprodução
odução”” , enumera
blemas de rrepr
Gois.
Para Rednilson Góis, o Brasil tem
valorizado muito animais de grande
desempenho e com isso a tendência
é de continuidade de um mercado
aquecido para doadoras. Sempre haverá interesse em fêmeas de qualidade superior. O fato é que a possibilidade de multiplicar o potencial
reprodutivo de animais comprovadamente superiores permite ganhar
tempo na formação dos planteis para
Foto: Felipe Ulbrich/ABA
Ulisses Amaral
produção de reprodutores ou para a
participação em feiras, em busca de
premiações de pista. No entanto, na
avaliação de João Batista Borges, da
UFRGS, o uso da TE para produção
de animais de pista ainda é o mais
frequente porque, economicamente,
se mostra mais interessante para o
criador no curto prazo. “Por outro
lado, os programas de avaliação genética no Brasil ainda contam com
um pequeno número de criadores
participantes, o que restringe a possibilidade de selecionar os animais
mais produtivos e, conseqüentemente, reduz a eficiência do melhoramento genético”, afirma.
Se por um lado alguns produtores conseguem bons resultados com
a seleção de fêmeas jovens para o trabalho, por outro ainda se preconiza
o uso apenas de fêmeas com uma
vida reprodutiva mais longa (a partir da segunda cria). “Na minha opinião, o uso de novilhas como doadoras pode se tornar um loteria”,
destaca Artur Cademartori, veterinário e proprietário da Central Gaúcha de Reprodução Bovina (CRB),
As vacas que são boas doadoras são também boas produtoras,
com habilidade materna e sem problemas de reprodução
com sede em Porto Alegre. Na lista
de procedimentos que podem afetar os resultados, segundo o técnico, aparece ainda a escolha incorreta dos reprodutores e a opção por
fêmeas com condição corporal acima do normal (animais de cabanha).
“Boas doadoras fornecem de cinco a seis embriões viáv
eis por
viáveis
coleta e uma taxa de concepção
de 50% a 60% dos embriões
i m p l a n t a d o ss”” ,
explica
Cademartori.
Mérito genético
O criador de Angus Ulisses
Amaral, da Cabanha Santa Joana,
de Santa Vitória do Palmar, RS,
acrescenta que antes de partir para
a reprodução assistida, é importante que as fêmeas comprovem a sua
superioridade genética e de alguns
descendentes. “É essencial avaliar
se ela produz dentro das características raciais e se seus filhos vão
carregar o mesmo mérito genético”,
salienta.
O número de embriões viáveis,
segundo o criador, depende de
muitas variáveis, como época em
que foi feita a coleta, a condição
corporal das fêmeas e até mesmo o
tipo de pasto utilizado. Na Santa
Joana, o índice de viabilidade de
embriões já chegou a 80%, embora normalmente esteja na média de
50% a 60%.
Seleção rigorosa para pista e produção
Se as biotecnologias da reprodução somente podem gerar os resultados desejados quando a propriedade está estruturada em seu sistema de produção, podemos dizer que
no Brasil não faltam bom exemplos
nesse quesito, especialmente entre os
criadores de Angus. Com os dois
olhos na progênie, a GAP Genética,
de Uruguaiana, RS, define quais indivíduos têm condições de transmitir a seus descendentes as suas melhores características.
A
tualmente a cabanha possui
10 animais em coleta, incluindo vacas com idade de seis
a sete anos – todas apresentando os
melhores dados de produtividade do
rebanho. “Cada uma vai nos deixar
até 40 filhos, animais com genética
superior que vão também imprimir
suas características aos seus descendentes”, afirma a veterinária e uma
das proprietárias, Ângela Linhares.
Dos muitos nascidos por meio da
biotecnologia, ela cita a fêmea PC
Angus tatuagem L574, ranqueada em
sumário da raça. Além de a
comercialização dos terneiros se manter aquecida, ela percebe um aumento na demanda por embriões incentivada pela restrição da venda de animais vivos para Santa Catarina.
De Paranapanema, interior de
São Paulo, vem outro bom exemplo.
A Agropecuária Fumaça mantém um
plantel de doadoras que varia entre
30 a 40 animais, que geram anualmente entre 150 e 180 filhos de alto
padrão genético. Segundo o proprietário, selecionador Elio Sacco, as fêmeas são mantidas em regime de
campo, sendo submetidas a duas coletas de embriões por ano. “Uma das
grandes características que a raça
Angus tem é sua precocidade na reprodução. É isso que nos possibilita
um grande e rápido aproveitamento
deste potencial, em torno dos 14
meses. As técnicas disponíveis hoje
nos ajudam muito na reprodução e,
consequentemente, na rápida seleção”, constata o criador.
A Agropecuária Fumaça mantém
o foco na produção, mas alguns são
levados periodicamente às pistas de
julgamento. “Dessa forma podemos
avaliar o trabalho que estamos desenvolvendo com a seleção permanente
da raça”, afirma Elio Sacco.
Atualmente com 80 matrizes
Angus em trabalho, a ABN
Agropecuária, de Santiago, RS, seleciona suas fêmeas a partir do segundo ou terceiro cio para iniciar na reprodução. Junto, faz uso de touros
excepcionais visando garantir ótimos
filhos que são direcionados tanto para
a produção de campo quanto para as
pistas de exposição.
Fernando Bonotto, titular da
ABN, não dispensa critérios rigorosos na seleção das doadoras. “É fundamental apresentar as melhores notas em marcadores moleculares e as
melhores notas dentro do Promebo”,
destaca. O manejo – e a gestão - desenvolvidos na ABN faz que com a
cabanha mantenha hoje 14 touros
em central de inseminação artificial.
Fruto de transferência de embriões,
figura com o primeiro, o segundo e
o quarto lugar no ranking dos 10
animais com maior número de filhos
nascidos no Brasil.
Ranking da ANC - Vacas com maior número de filhos nascidos
Animal
Ottono B349 TEI Heavenly
Miss Franco’s 840 de Sanbará
Bela Vista 246 Águia
Angélica da Reconquista 100 Mombo Independence
Red Meadow Ck Umpirette 12H
Admiral Gold Maverick 17 Del Paraná
São Bibiano Lucky Ida 4416
Carlota da Reconquista 194 Stryker Play
Don Pancho 52 Tarzan Harrison
Aurora da Corticeira A029
Propriedade
ABN Agropecuária
Cabanha Santa Bárbara
Fazenda São Francisco
Agropecuária Fumaça
Itacumbí Agrícola e Pastoril
Estância Del Paraná
Cabanha São Bibiano
Cabanha Santa Eulália
Angus Bela Vista
Cabanha da Corticeira
Filhos
71
69
52
48
46
42
41
40
39
37
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MOVIMENTO
Março/Abril de 2009
Angus com blindagem anticrise
Foto: Divulgação/ABA
Os criadores do centro do País
garantem que a raça Angus está literalmente blindada contra qualquer
tipo de crise. Falando sobre as perspectivas para a raça neste 2009, o
presidente do Núcleo de Criadores
de Angus de São Paulo (Angus São
Paulo), Renato Segura Ramires
Júnior, não tem dúvidas de que a crise que começou nos Estados Unidos
e Europa e que já atinge certos segmentos mundo afora e também no
Brasil, simplesmente não fará diferença para a raça Angus, que seguirá
liderando e com demanda ativa.
“O momento para a Angus segue
ótimo. E depois que a cadeia produtiva descobriu os ganhos em qualidade e produtividade da utilização da
genética Angus, todo o que precisamos é produzir mais reprodutores
para podermos atender a toda a demanda do mercado”, define o dirigente.
Na mesma balada argumenta o
vice-presidente do Núcleo Angus São
Paulo, criador Paulo de Castro Mar-
Renato Ramires Júnior
Paulo de Castro Marques
Elio Sacco
Valdomiro Polizelli Júnior
ques. Vice-presidente da Associação
Brasileira de Angus (ABA) e considerado um dos pioneiros na criação
de Angus em São Paulo, Castro Marques se diz um otimista por natureza. “A julgar pelos resultados obtidos
em 2008, especialmente na
comercialização de machos, este ano
será mais um período promissor para
a genética Angus”, avalia.
Segundo ele, na temporada de
2008, os criadores de São Paulo sim-
plesmente venderam todos os touros
em idade reprodutiva que possuíam
em suas propriedades. “Eu mesmo
lamentei, mas perdi negócios por não
ter mais produtos em oferta”, disse.
Paulo Marques observa que o
Angus do Sul do Brasil já tem larga
tradição. Mas que os criadores do
Brasil Central dão preferência aos
animais já nascidos em São Paulo.
“Aqui somos desbravadores, mas a
cada momento a genética Angus ga-
nha mais admiradores”, comentou.
Outro criador que também está
na lista dos que desde o início apostaram na genética Angus em São Paulo é Elio Sacco. E, a exemplo de seus
companheiros, ele também crê num
2009 totalmente favorável à raça
Angus. “A pecuária, de modo geral,
não deverá sofrer os efeitos desta crise. E a raça Angus, então, muito
menos, porque à medida que criadores e investidores passam conhecer
melhor as qualidades e os ganhos de
se produzir com Angus, mais aumenta a demanda por nossos animais”,
revela o criador.
Outro que desde o início aposta
firme em Angus é o criador
Valdomiro Poliselli Júnior. “Angus é
a melhor saída para qualquer crise”,
garante ele, que inclusive já produz e
comercializa carne Angus certificada
pelo programa de carne de qualidade da ABA em São Paulo.
ABA lançou Anuário Angus
e mostrou performance da raça
Em almoço na churrascaria Barranco, em Porto Alegre, RS, no dia
6 de março, a diretoria da Associação Brasileira de Angus – ABA reuniu a Imprensa especializada para
apresentar os dados de desempenho
da raça em 2008, assim como flashes a agenda de eventos para este
ano. Na ocasião foi distribuído o
Anuário da raça Aberdeen Angus
durante a 97ª
Expofeira de Bagé,
RS. Lançada em
2008, a mostra de
rústicos tem como
objetivo valorizar
os animais comerciais assim como o
produtor que prioriza reprodutores
com destino à produção de carne.
A Associação
Brasileira de Angus já tem dez leiImprensa e convidados prestigiaram o lançamento do Anuário
lões chancelados
agendados para o
O novo presidente da entidade, primeiro semestre do ano. O primei2008/2009 aos particiJoaquim Francisco Bordagorry de ro ocorre na Expo Londrina 2009,
pantes.
A raça Aberdeen Assumpção Mello conduziu a apre- no dia 10 de abril.
Angus começou o ano com a respon- sentação das atividades da raça em
Sobre a comercialização de anisabilidade de seguir liderando o mer- 2009, com destaque para as dispu- mais, a expectativa de Joaquim
cado das raças europeias (taurinas), tas do 10º Ranking Oficial de Ex- Mello é de superar os números do
a exemplo de 2008. Segundo o Anu- positores e Criadores da ABA. No Terneiro Angus Certificado obtidos
ário DBO 2009, publicado no iní- total serão 21 exposições, entre ar- em 2008, quando 3.220 terneiros
cio do ano, a raça movimentou R$ gola e a campo, que pontuarão nas foram certificados. O programa bus23,256 milhões com a venda de categorias “A” e “B” do ranking.
ca fomentar e promover a
Também está confirmada para ou- comercialização de terneiros dos
5.094 lotes no ano passado. O preço
médio obtido nas pistas foi R$ 5,979 tubro de 2009 a realização da II Expo- usuários da genética Angus, além de
sição Nacional de Rústicos – Angus, ser foco do produtor do Programa
mil para os touros.
Carne Angus Certificada e daquele
que busca atuar como novo fornecedor de carne de qualidade.
Nas pistas de feiras de outono e
primavera, os terneiros Angus certificados fixaram médias entre 3%
a 5% superiores ao preço médio
pago por outros terneiros nos recintos de leilões.
Já o Programa Carne Angus Certificada entra para seu sexto ano com
parceiros no Rio Grande do Sul e
Centro do País. Além do Frigorífico Mercosul e do Grupo Marfrig, o
programa de carnes da Associação
Brasileira de Angus certifica carnes
Angus no Frigorífico Nossa Senhora da Gruta, RS, e na VPJ Beef (VPJ
Pecuária), no Brasil Central.
No varejo, a carne Angus é encontrada na rede de supermercados
Zaffari-Bourbon, Casa de Carnes
Angus da Gruta, Moussalle
Boutique de Carnes, ambas em Porto Alegre, RS e na rede Wall Mart,
na capital paulista, via VPJ Beef. A
carne Angus também é servida na
Churrascaria Barranco, Porto Alegre, RS e em restaurantes de São
Paulo e do Rio de Janeiro.
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Quando a prevenção é o melhor investimento
Março/Abril de 2009
INFORME PUBLICITÁRIO
Foto: Divulgação
Por Octaviano Alves Pereira Neto
É comum ainda se observar produtores desesperados atrás de soluções
para o controle do carrapato de seus
bovinos, mesmo com os avanços que
a indústria veterinária ofereceu no
transcorrer dos anos para o combate
dos carrapatos. O uso intenso destes
princípios ativos acabou desenvolvendo mecanismos de resistência no carrapato e a perda de eficácia da grande
maioria das moléculas.
E
sta situação foi vista para os
produtos arsenicais, organoclorados, carbamatos, organofosforados, piretróides sintéticos, amidinas e, mais recentemente, também
para o fipronil. Nem mesmo os endectocidas, como as avermectinas, foram
capazes de superar em definitivo estes
mecanismos de sobrevivência dos parasitos.
As causas apontadas como predis-
No controle de carrapatos, não há espaço para empirismo ou amadorismo
ponentes à formação da resistência parasitária dos carrapatos e demais parasitos da pecuária são: o uso contínuo e
sem orientação de uma mesma molécula, as formulações de “fundo de quintal” (caseiras) e falhas na estimativa de
peso ou momento ideal de aplicação
(permitindo infestações excessivas). O
assunto é muito sério para ser tratado
com empirismo e amadorismo.
Na atualidade, o princípio ativo
que ainda apresenta resultados
satisfatórios e contundentes contra os
carrapatos é o fluazuron (Acatak®),
membro do grupo das benzoil fenil
uréias, o qual possui um mecanismo
de ação distinto aos demais princípios
ativos. No entanto, uma parcela dos
produtores ainda considera seu uso
como a última opção, quando os outros produtos não funcionarem mais.
Essa prática é um sério equívoco,
pois, em primeiro lugar, enquanto o
produtor espera “o fim” da molécula
que está usando, acaba sofrendo perdas produtivas pela constante
infestação; perdas essas jamais recompensadas. Em segundo lugar, é sabido
que o rodízio entre moléculas é a melhor alternativa para retardar o avanço
da resistência parasitária, portanto,
variar princípios enquanto ainda funcionam é a recomendação correta para
controle dos parasitas e preservação dos
princípios ativos em uso.
Quando um produto “não funciona mais” significa que, em poucas palavras, aquela molécula não deve mais
ser usada naquele estabelecimento e
que as alternativas para o controle do
carrapato se reduzem definitivamente.
Como não há previsão de lançamento
de novos princípios ativos carrapaticidas para os próximos anos, os produtos em uso são as formas conhecidas de controle e o produtor fica cada
vez mais dependente de apenas um ou
dois princípios ativos.
O correto, portanto, é alternar as
moléculas em uso (não confunda com
variar marcas comerciais), pois cada
uma tem mecanismos de ação diferentes. Assim, famílias de parasitos que são
resistentes a um tipo de produto, podem seguir sensíveis a outro, sendo afetadas e reduzindo sua incidência.
A maioria das moléculas carrapaticidas convencionais, descritas acima,
agem no sistema nervoso do parasita.
Por outro lado, o fluazuron bloqueia a
síntese da quitina, principal componente da cutícula externa que reveste
o parasito. Sem esta estrutura o carrapato morre, impedindo que larvas e
ninfas atinjam a fase adulta. Além de
eliminar a espoliação do bovino não
há indivíduos para realizar a ovopostura, que formaria as novas gerações, e
ainda, pelo longo poder residual da
formulação, o bovino tratado age como
“aspirador” de larvas da pastagem, re-
duzindo a infestação da mesma.
O tratamento no momento adequado e os benefícios do frio ou seca
observados no inverno cooperam para
a redução natural da infestação da pastagem. Assim, quando chega a estação
da primavera grande parte das larvas
foram eliminadas e há menos capacidade de infestação do rebanho.
A adoção de medidas preventivas
contra doenças infecciosas e parasitárias no Brasil se encontra abaixo do esperado. É um hábito tomarmos medidas corretivas quando os problemas se
avolumam ou assumem impactos exagerados. Assim sendo, quando é o melhor momento de combater os parasitos que afetam a produtividade do rebanho? O mais coerente é sempre tratar quando o problema tem dimensões
menores e, portanto, melhores condições de impactar sobre a população de
parasitos em fase de vida livre.
Méd. Vet., Mestre em Zootecnia
Gerente Técnico - Bovinos
®
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Basiléia, Suíça.
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a reprodução total ou parcial do
conteúdo desta publicação sem a
autorização da Novartis Saúde Animal
Março/Abril de 2009
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ENTREVISTA
Março/Abril de 2009
Joaquim Mello assume presidência da ABA
Fotos: Divulgação/ABA
Como já é tradição no Angus@newS, o novo presidente da
ABA foi entrevistado com exclusividade pelo editor, jornalista
Eduardo Fehn Teixeira. Vejam o que pensa e quem é Joaquim
Francisco Bordagorry de Assumpção Mello. Joaquim Mello
assume a ABA com honra, emoção, prazer, comprometimento
e enorme responsabilidade. “Sou um criador que escolheu a
raça Angus para produzir. E agora, anos depois, fui indicado
para dirigir esta raça. Isto me traz, a um só tempo, muita
emoção e um enorme prazer”, sintetiza o agrônomo e experiente agropecuarista Joaquim Bordagorry de Assumpção Mello,
falando sobre seu novo desafio como presidente da Associação
Brasileira de Criadores de Angus (ABA). Titular da Estância
Santa Eulália, em Pelotas, na zona Sul do Rio Grande do
Sul, ele também se sente altamente comprometido com esta
atividade e cargo, que classifica como “uma enorme responsabilidade”.
ocupado com esta responsabilidade,
ao formar sua equipe, Mello convidou um grupo de pessoas competentes e experientes.
Carne Angus:
a base da raça
“Hoje a Associação de Angus é
uma entidade cujo porte acompanha
a importância que a raça Angus conquistou no cenário da pecuária nacional”, define. E não deixa por menos: lembra que no Brasil a Angus é
a raça mais criada, só perdendo para
o zebuínos Nelore. E entre as européias é, disparado, a raça mais criada
no Brasil.
Palmas
para Cairoli
Empossado oficialmente no dia
4 de dezembro de 2008, durante o V
Leilão Angus Nora Era e a concorrida festa de confraternização de final
de ano do mundo Angus, no
Country Club, em Porto Alegre, RS,
Joaquim Mello faz questão de
enfatizar que recebe a direção da ABA
das mãos de José Paulo Dornelles
Cairoli, “que foi um excelente presidente, que colocou a ABA num patamar de grande destaque, o que aumenta ainda mais a minha responsabilidade, juntamente com minha diretoria e equipe. Mas também nos
motiva para trabalharmos no sentido de elevar ainda mais a raça
Angus”, faz questão de registrar. Pre-
Os que têm boa memória, certamente lembram que lá em dezembro,
ao tomar posse na presidência da
ABA, ao lado de Cairoli, Joaquim
Mello, quando deu sua primeira declaração na condição de presidente
da entidade, disse, em alto e bom
som: “a qualidade da carne é o pilar
mestre de nossa raça, e por isto vamos cuidar muito bem do Programa
Carne Angus Certificada”.
Na verdade, com este foco, Mello
deixa muito bem entendido que a
grande meta é explorar ao máximo
esta qualidade da raça Angus (a sua
capacidade de produzir uma carne
diferenciada, superior), buscando
uma expansão máxima para os
reprodutores Angus em todos os cantos do território nacional.
Qualidades precisam
ser mais conhecidas
Mello não tem dúvidas de que
entre todos os diferenciais dos animais Angus, a qualidade da carne,
com seu marmoreio, maciez e sabor
únicos, é o ponto alto da raça. Mas
também para que aqueles que ainda
não sabiam possam tomar conhecimento, ele vai bem mais além, até de
forma didática, falando de forma incansável sobre o perfil Angus.
“A fêmea é muito precoce, é uma
Empresário e campeiro: o novo presidente da ABA fala com propriedade sobre as qualidades da raça Angus
excelente mãe, que cuida de seu
terneiro, não apresentando problema
algum em distocia de partos. Angus
é um bezerro que nasce pequeno de
uma fêmea que emprenha com baixa idade, mas este terneiro cresce
muito rápido, transformando-se num
novilho que engorda e se apronta
com velocidade, estando apto ao abate entre 18 a 24 meses, atingindo
peso de carcaça que atende às exigências do mercado, de 230 kg a 250
kg”, sintetiza o novo presidente da
ABA, acrescentando que os touros,
ao redor dos 14 meses de idade já
podem trabalhar em rebanhos a campo.
pido, gerando reflexo imediato na
maior rentabilidade do negócio”, resume.
Programa Carne
Angus é top
Voltando ao Programa Carne
Angus Certificada, segmento que
Joaquim Mello teve a oportunidade de dirigir durante a primeira
gestão de José Paulo Cairoli, ele
ressalta que hoje este trabalho já
alcança âmbito nacional e conta
com uma estrutura operacional
muito bem montada e que se de-
Desbravando
novas fronteiras
Perseverando e mesmo deixando
transparecer sua verdadeira paixão
pelo gado Angus, Joaquim Mello
enfatiza que “essas informações sobre o perfil e a performance da genética Angus não podem circular somente entre os criadores da raça, e
sim serem declamadas, repetidas,
para a conquista de novas fronteiras,
incentivando criadores e investidores
de todo o Brasil, tanto para a formação de planteis puros, como para uso
em cruzamentos.
Para Mello, todo esse desempenho da genética Angus reúne as mais
eficientes condições de contribuir de
forma marcante para o melhoramento genético dos rebanhos nacionais,
caminhando rumo à solução de um
dos maiores problemas da pecuária
nacional, que é a produção de carcaças de maior qualidade de carne em
menor tempo. “O giro fica mais rá-
senvolve com eficiência na produção e certificação da afamada Carne Angus.
“Temos como parceiros para os
abates, no RS, os Frigoríficos
Mercosul e da Gruta e em São Paulo o Marfrig, além da VPJ Pecuária, onde trabalham, contratados
pelo Programa Carne Angus, uma
rede de técnicos que realizam a
certificação da carne. E a Carne
Angus é comercializada nos supermercados Zaffari e em mais duas
casas de carnes em Porto Alegre –
a Angus da Gruta e a Moussale,
além de a carne estar sendo servida
em vários cortes especiais pela
churrascaria Barranco, um ponto
quase único na capital gaúcha”, revela Mello. “Aqui no Barranco, os
clientes já pedem a Carne Angus,
apesar de ser mais cara”, comprova
o diretor da churrascaria e ponto
de encontro da cidade, Elson
Furini. Além desses pontos, em São
Paulo e também no Rio de Janeiro, a VPJ Pecuária já fornece a Carne Angus a alguns bem frequentados restaurantes.
Ao fomentar a expansão da raça
Angus no cenário nacional, Joaquim
Mello primeiramente lembra que
esta é uma das principais missões da
Associação Brasileira de Angus –
fazer com que as pessoas tomem conhecimento de todas as qualidades
que a raça tem e pode transferir a
rebanhos comerciais.
Mas ele argumenta que a genética Angus já tem e terá cada vez
mais um papel de crescente importância para o mercado brasileiro da
carne bovina.
Expansão da genética Angus
é remuneração ao produtor
“O Brasil já é o maior exportador do mundo em quilos de carne,
mas ainda não tem os melhores preços pelo produto, o que está nas
mãos de países como Estados Unidos, Austrália, Uruguai e Argentina. Mas à medida que o gado Angus
vai sendo utilizado em programas de
cruzamentos, a carne gerada ganha
cada vez mais qualificação e assim
os melhores preços pela carne brasileira também virão. É só uma ques-
>>>
Março/Abril de 2009
ENTREVISTA
21
Fotos: Divulgação/ABA
tão de tempo. E isso vai resultar em
melhores remunerações ao produtor
desta carne”, garante o dirigente.
terneiros, que nas feiras alcançam
sobrepreços pagos aos seus produtores.
Terneiro Angus Certificado:
o novilho de amanhã
Conselho Técnico:
o cuidado com a seleção
Pois para Mello, justamente aí
está a importância do Programa
Terneiro Angus Certificado, lançado pela ABA em 2007 e que ano passado já apresentou crescimento fantástico, ultrapassando a marca dos
3 mil terneiros certificados. “O
terneiro (ou bezerro) Angus certificado é um forte candidato a ser o
novilho abatido logo adiante pelo
Programa Carne Angus Certificaca”,
diz Mello, apontando a importância do incremento cada vez maior
deste programa de certificação de
O novo dirigente da ABA igualmente enfatiza a importância do trabalho que vem sendo implementado
pelo Conselho Técnico da entidade, que hoje tem na presidência a
veterinária e criadora Susana
Macedo Salvador. “Esse seleto grupo de profissionais é que determina, a cada momento, como trabalhar para aprimorar cada vez mais a
seleção genética de nossos animais
e vai determinar qual o tipo ideal
de Angus para o Brasil”, valoriza.
Nas pistas, a genética
que dá show
Joaquim Mello não tem dúvida
de que o reprodutor de pista, seja
macho ou fêmea, hiperselecionado e
bem nutrido é, a um só tempo, a base
da genética da raça e também uma
das mais eficientes vitrines para atrair criadores e novos investidores. E
sobre as críticas que alguns fazem, de
dizer que os exemplares de show não
Em evento do Programa Carne Angus Certificada, seu estabelecimento foi visitado pelos produtores integrantes do programa
representam a realidade de campo da
raça, porque estão supercuidados e
superalimentados, Mello contrapõe:
se esses animais não tivessem uma
excelente genética, não responderiam
positivamente a uma superalimentação”.
Para ele, os produtos de pista vão
produzir sêmen ou filhos que serão
utilizados pelos criadores como ferramentas para o melhoramento de
plantéis ou rebanhos, de olho na geração de novilhos cada vez melhores.
“O aprimoramento de nosso
gado nas pistas das exposições é um
estágio importantíssimo da cadeia
produtiva, cujos reflexos precisam,
cada vez mais rapidamente, chegar na
outra ponta, que é o campo,
Joaquim Mello
num flash
Casado com a Sra. Anna Helena e
pai de quatro filhos, Joaquim Francisco Bordagorry de Assumpção Mello
reside em Pelotas, RS e opera suas propriedades naquela região, do Sul do
Rio Grande do Sul. Em pecuária, ficou conhecido como competente
selecionador, em sua Estância Santa
Eulália. É também produtor de gado
comercial, fazendo o ciclo completo.
Paralelamente, desenvolve lavouras
comerciais de soja e de arroz é também é criador de cavalos Crioulo.
Em sua bagagem pessoal, Mello
já exerceu cargos como diretor da
Associação Brasileira de Criadores
de Cavalos Crioulos, presidente da
Associação Rural de Pelotas, é vicepresidente da Associação Nacional
de Criadores – Herd Book Collares
e membro do Conselho Superior da
Associação Comercial de Pelotas.
Ele foi pioneiro em sua região na utilização da técnica do plantio direto
e é um dos agropecuaristas brasileiros que ostenta a enorme distinção
representada pela Comenda Assis
Brasil.
Joaquim Mello representa a quinta geração de uma família dedicada
ao campo. No Brasil, já em 1840, os
Assumpção se destacavam no segmento e em 1905, os Bordagorry já
criavam Angus no Uruguai.
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Março/Abril de 2009
MOVIMENTO
Março/Abril de 2009
Reconquista arrasa em Avaré
Realizado dia 14 de março, durante a 44ª Exposição Municipal Agropecuária de Avaré (Emapa), em Avaré, SP, o julgamento de classificação consagrou a Reconquista
Agropecuária, em Alegrete, RS, como grande favorita da mostra. A propriedade de José Paulo Dornelles Cairoli faturou os
campeonatos tanto nos machos como nas fêmeas.
O jurado, criador e ex-diretor de Núcleos da ABA Flávio
Montenegro Alves destacou a disputa acirrada e a evolução da
raça nas pistas após ter avaliado também a mostra de Avaré
em 2008. Entre os animais escolhidos, observou a pureza racial da grande campeã e o volume carniceiro do grande campeão. “A grande campeã é uma vaca impecável com tamanho
ideal, bom úbere, carniceira e habilidade materna. Já o gran-
de campeão impressiona, tem 800 quilos, genética apurada e
pode ser um futuro doador de sêmen.”
A exposição abriu o Ranking Oficial de Expositores e Criadores da Associação Brasileira de Angus (ABA) de 2009. Ao
final do evento, os criadores e expositores participantes, técnicos e a equipe Angus presente foram recepcionados pelo associado Vicente Júlio Costa, morador de Avaré, para a entrega de
prêmios. A confraternização ocorreu com um jantar oferecido
por Costa. A participação da raça, em Avaré, foi organizada
pela Associação Brasileira de Angus com apoio do Núcleo de
Criadores de Angus de São Paulo.
Confira abaixo a relação dos campeões de Avaré 2009:
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Ronaldo Camargo foi
escolhido melhor cabanheiro
Ronaldo Camargo, da GB Agropecuária, em Porecatu, PR, foi
eleito o Melhor Cabanheiro da 44ª Emapa Avaré. A premiação foi
entregue no dia 13 de março, durante churrasco de confraternização
que a Associação Brasileira de Angus ofereceu aos cabanheiros.
A escolha do “Melhor Cabanheiro” é realizada pela equipe técnica da ABA em todas as exposições de categoria A e os mesmos recebem um “kit” de presentes além de uma placa de homenagem.
Grande Campeã - Reconquista 1220 Marca Payador
Reservada de Grande Campeã - Reconquista 1290 Nair Beef G Canyon
Terceira Melhor Fêmea - Rincon Esfinge 1092 Del Sarandy
Grande Campeão - Reconquista 1301 Naco Cachafaz
Reservado Grande Campeão - Reconquista 1292 Zorzal G. Canyon
3º Melhor Macho - Rincon Intruso 1248 Del Sarandy
EXPOSIÇÃO ANGUS DE AVARÉ - DADOS DOS ANIMAIS CAMPEÕES
Grande Campeã
RECONQUISTA 1220 MARCA PAYADOR HBB:
116167 Pel: P
Tatuagem: 1220 Nascimento: 02/07/2006
Idade: 984d
Pai: TRES MARIAS 6241 PAYADOR TE
HBB: IA848
Mãe: ANGUS DA RECONQUISTA 146
HBB: 73015
Peso: 781 Frame: 6.04
Expositor: José Paulo D. Cairoli,
Reconquista Agropecuária Ltda, Alegrete/RS
Criador: José Paulo Dornelles Cairoli
Reservada Grande Campeã
RECONQUISTA 1290 NAIR BEEF G CANYON
HBB: 120729 Pel: V
Tatuagem: TE1290 Nascimento: 20/01/2007
Idade: 782d
Pai: BADLANDS ME BEEF 805
HBB: IA637
Mãe: RECONQUISTA 592 GLEBA CANYON
HBB: 93050
Peso: 679 Frame: 5.03
Expositor: Parc.José Cairoli/
Rubens Zogbi/Clovis dos Santos
Criador: José Paulo Dornelles Cairoli
3º Melhor Fêmea
RINCON ESFINGE 1092 DEL SARANDY
HBB: 115865 Pel: V
Tatuagem..: 1092 Nascimento: 13/09/2006
Idade: 911d
Pai: PASTORIZA 565 BRIGADIER TE
HBB: IA796
Mãe: RINCON RICADONA 0639 DEL SARANDY
HBB: 92136
Peso: 675 Frame: 4.99
Expositor.: Cabanha Rincon Del Sarandy,
Cabanha Rincon Del Sarandy, Uruguaiana/RS
Criador: Cabanha Rincon Del Sarandy
Grande Campeão
RECONQUISTA 1301 NACO CACHAFAZ
HBB: 122718 Pel: V
Tatuagem..: TE1301 Nascimento: 24/06/2007
Idade: 627d
Pai: TRES MARIAS 7031 CACHAFAZ 6556 TE
HBB: 745150
Mãe: TRES MARIAS 6972 FENOMENA 5494 TE
HBB: 741868
Peso: 854 C.E.: 43 Frame: 5.01
AOL: 114,2 EGS: 7.6 P8: 16.3
Expositor.: José Paulo D. Cairoli, Reconquista
Agropecuária Ltda, Alegrete/RS
Criador: José Paulo Dornelles Cairoli
Reservado Grande Campeão
RECONQUISTA 1292 ZORZAL G. CANYON
HBB: 121376 Pel: P
Tatuagem: TE1292 Nascimento: 11/03/2007
Idade: 732d
Pai: TRES MARIAS ZORZAL TE
HBB: IA850
Mãe: RECONQUISTA 592 GLEBA CANYON
BARTOLOME HBB: 93050
Peso: 894 C.E.: 45 Frame: 5.00
AOL: 127.4 EGS: 12.5 P8: 14.7
Expositor: José Paulo D. Cairoli, Reconquista
Agropecuária Ltda, Alegrete/RS
Criador: José Paulo Dornelles Cairoli
3º Melhor Macho
RINCON INTRUSO 1248 DEL SARANDY
HBB: 121584 Pel: P
Tatuagem: 1248 Nascimento: 07/09/2007
Idade: 552d
Pai: TRES MARIAS 6301 ZORZAL TE
HBB: IA850
Mãe: RINCON DESTEMIDA TE013 FULL DEL
SARANDY HBB: 99953
Peso: 709 C.E.: 39 Frame: 4.91
AOL: 101.0 EGS: 11.4 P8: 14.1
Expositor: Cab. Rincon Del Sarandy, Cabanha
Rincon Del Sarandy, Uruguaiana/RS
Criador: Cabanha Rincon Del Sarandy
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Março/Abril de 2009
INFORME PUBLICITÁRIO
Select Sires apresenta genética focada na Carne Angus
Por Felipe Escobar
O potencial genético do bovino abatido é um dos aspectos mais importantes no momento de produzir carne de
qualidade. Este é o pensamento com o
qual concordam a Semeia/Select Sires e
a CAB - Certified Angus Beef (Carne
Angus Certificada Americana). No catálogo que apresenta a bateria de touros
Angus da Select Sires para o ano de
2009, os criadores irão encontrar uma
grande porcentagem de touros que igualam ou superam as recomendações da
CAB para marmoreio ou $ G (Índice
Econômico de Seleção desenvolvido
pela Associação Americana de Angus
que combina as três características genéticas que influenciam a taxa de aceitação de carcaças ao Programa Carne
Angus Certificada).
Nos EUA não basta o produtor utilizar genética Angus para ter seu animal
abatido e certificado pelo Programa Carne Angus. Além da genética Angus, a
carcaça do novilho deve preencher determinados requisitos como: apresentar
no mínimo um grau moderado de
Marmoreio, Área de Olho de Lombo
adequada às especificações. Para alcançar este padrão de carcaça, o CAB lançou um “Manual de Boas Práticas”,
onde estão apresentados os parâmetros
mínimos que um reprodutor deve apresentar para que sua progênie alcance a
certificação ao abate.
“A Semeia/Select Sires sentem-se orgulhosas em oferecer uma bateria de
touros geneticamente focados na carne
de qualidade, como a Carne Angus Certificada”, afirma Aaron Arnett, especialista em genética de corte da Select Sires.
“Touros que agregam valor desde a concepção até o consumo é uma tradição
na Select Sires, e agora nossos clientes
podem aumentar sua rentabilidade selecionando touros compatíveis com os
exigentes parâmetros exigidos pela
CAB”. Mark A. McCully, diretor de desenvolvimento e distribuição do Programa CAB, enfatiza que o potencial genético é mais eficaz que qualquer forma
de manejo no momento de se produzir
carne de qualidade. “Ao manter o foco
no marmoreio, a Semeia/Select Sires
apresenta reprodutores que podem e devem contribuir com o progresso da indústria da carne, satisfazendo os consumidores e aumentando a participação
da carne bovina no mercado. O CAB
parabeniza a Semeia/Select Sires por este
enfoque”, afirma McCully.
Segundo McCully, o Marmoreio,
uma característica de alta herdabilidade,
é a característica pela qual aproximadamente 90% das carcaças são excluídas
do Programa CAB. “Com o aumento
dos custos e conseqüente redução das
margens, os criadores necessitam procurar formas de incrementar suas receitas”, disse McCully. Segundo ele, os
confinamentos americanos estão procurando animais que ganhem peso e apresentem uma carcaça de alta qualidade.
“Com esta mentalidade, a CAB estimula
os criadores a colocarem o foco das decisões genéticas na qualidade do produto
final, utilizando assim os touros
ofertados pela Semeia/Select Sires”.
No catálogo 2009 da Select Sires,
41 touros contêm os requisitos mínimos
estipulados pelo Manual de Boas Práticas do CAB. Além disso, entre os Top
10 para o Índice Econômico Final desenvolvido pela Associação Americana,5
touros são genética Select Sires, com destaque para 7AN222 Predestined,
7AN255 5050 e 7AN258 Total. Os
pecuaristas brasileiros têm acesso a este
potencial genético através da Semeia
Genética, empresa parceira da Select
Sires há 30 anos, que possui 16 destes
touros a pronta entrega. Conheça os
touros da Semeia e seja você também
um produtor de carne com alto padrão
de qualidade.
Médico Veterinário
Departamento Técnico Semeia
Cabanha Seival Del Toro é a mais
nova participante do Programa
Parceria da Semeia Genética
A Semeia Genética ampliou neste início
de ano parceria com
criadores para desenvolver um programa
de seleção de bovinos
de corte visando a excelência no desempenho dos reprodutores utilizados. O
objetivo é formar rebanhos com alto valor genético, através da utilização de
reprodutores que estejam em prova nos
EUA, possibilitando que os parceiros
utilizem a genética americana atual, e
também mensurar o desempenho da
progênie destes touros em condições
brasileiras. O contrato mais recente,
protocolado neste início de ano, com a
Cabanha Seival Del Toro (Cachoeira do
Sul/RS), de Luís Henrique Sesti, começou a ser implementado na temporada
de inseminação artificial da Primavera
2008, realizada em dezembro, com genética Semeia/Select Sires. Os produtos que irão nascer a partir de agosto
serão avaliados no Promebo/Angus
(Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne) onde será feita uma seleção objetiva do rebanho. Segundo o sócio-gerente da Semeia Genética, Léo
Fraga Warszawsky, a parceria busca desenvolver um rebanho eficiente e com
melhores resultados econômicos atra-
vés da utilização da
genética Select Sires.
“A Cabanha Seival
del Toro terá preferência no uso da genética Select Sires
para obter melhores resultados econômicos e deverá contar com assistência
técnica qualificada da Semeia Genética, avaliação no Promebo e utilização
de até 20% de sêmen de touros que estão em prova”, ressaltou. Para Sesti, a
aproximação com a Semeia Genética
possibilitará mais eficiência na progênie dos touros da Seival. “A Semeia
prioriza o melhoramento genético e
oportuniza a utilização de reprodutores com consistência genética bastante
consagrada nos Estados Unidos”, avaliou. Luís Henrique Sesti tem um
plantel de Angus Puro por Cruza (PC)
e o objetivo da cabanha é a produção
de touros rústicos.
Esta é a quarta parceria da Semeia
Genética que já firmou protocolos técnicos com a Cabanha Don Messias (São
Gabriel/RS), de Carlos Messias Marques Antunes; Cabanha Santa Joana
(Santa Vitória do Palmar/RS), de Ulisses
Amaral, e a Estância do Silêncio de São
José (Dom Pedrito/RS), de Ayrto
Schvan.
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Março/Abril de 2009
MOVIMENTO
REPORTAGEM
Março/Abril de 2009
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Combate à miíase avança no Brasil
Fotos: Divulgação
Impacto da zoonose motivou
transferência de tecnologia
Angus@newS antecipou a campanha
contra mosca na edição de maio 2008
A mosca da Miíase
Projeto da Comexa financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vai permitir a redução de moscas causadoras da bicheira.
A liberação de espécies estéreis do parasita em uma área piloto na fronteira
Brasil-Uruguai iniciada em fevereiro é o grande passo para a América Latina reduzir a infestação da mosca. O passo seguinte será mostrar a viabilidade da técnica aos envolvidos da cadeia produtiva e fazer a experiência inédita se tornar praxe nos campos brasileiros
Alta produtividade, aumento das
taxas de natalidade e a redução do intervalo entre partos e da idade de abate. Graças à tecnologia, a cada ano a
pecuária brasileira vem incrementando os índices que a tornam uma
das atividades mais eficientes do mundo. A tecnologia também vem sendo
utilizada para combater um importante inimigo da produção do País: a
mosca da miíase, causadora da
bicheira, considerada um dos mais
danosos parasitos da pecuária nacional e responsável por aumentar os custos de quem produz: estima-se um
gasto de US$ 6,00 por cabeça/ano
para se manter um controle eficiente.
Essa é a conta paga pelos criadores da região de fronteira Brasil-Uruguai, que no País inclui os municípios de Quaraí, Barra do Quaraí e
Santana do Livramento. É lá que está
sendo desenvolvido o projeto regional que visa à futura erradicação da
mosca causadora da bicheira. O projeto-piloto, inédito no Brasil, utiliza
a dispersão, em uma área delimitada
de 60 quilômetros entre o Brasil e o
Uruguai, de moscas esterilizadas
(inférteis) através da energia nuclear.
Soltas no ambiente, elas cruzam com
os parasitos nativos, reduzindo, assim, a população de moscas na área.
As primeiras dispersões por avião
das moscas estéreis se iniciaram em
3 de fevereiro, trabalho que desde
então é realizado com sol ou chuva.
De acordo com o fiscal federal
agropecuário do Ministério da Agricultura em Quaraí, Eduardo Flores,
a liberação das pupas no ambiente
ocorre nas terças, quartas, sextas e
sábados. “São oito vôos semanais,
quatro do lado brasileiro e quatro do
lado uruguaio”, explica. Cada vôo,
realizado com o apoio de aeronave
da Força Aérea Uruguaia, joga no
campo 1.500 caixas, cada uma contendo 1.800 pupas. Segundo Flores,
o trabalho experimental se estenderá
até o dia 4 de abril, mas próximo da
sétima semana, já será possível conhecer o resultado do trabalho. “A tendência é de que a redução da população de moscas nessa área seja muito bem-sucedida, assim como já foi
Equipe binacional realiza a triagem das amostras
Área piloto é na fronteira Brasil Uruguai
comprovado em outros países”, relata.
A iniciativa, que no passado exterminou com a população de moscas na América do Norte e na América Central, tem grande chance de
ser estendida para outras regiões brasileiras onde se produz carne: seja
bovina, ovina, suína, caprina ou aves.
“Não estamos testando a tecnologia,
ela já existe e está pronta”, afirma o
coordenador de campo do projeto
para o lado brasileiro, Joal Pontes. De
acordo com ele, o próximo passo do
projeto-piloto será demonstrar a viabilidade do trabalho de controle e a
futura erradicação da mosca da
miíase na América Latina. A adoção
dessa tecnologia em maior escala, segundo Pontes, vai depender de ações
da iniciativa privada – leiam-se associações de raças, federações de agricultura e órgãos governamentais.
“Eles é que vão dizer se essa
tecnologia será ou não viável economicamente de ser aplicada nos campos brasileiros”, afirma Pontes, que
atua como supervisor regional do
Departamento de Produção Animal
(DPA), da Secretaria Estadual da
Agricultura (Seappa).
Pontes afirma que o apoio das associações de raças terá um peso importante para a continuidade do projeto em outras regiões afetadas, e lembra que a Associação Brasileira de
Angus (ABA) foi a primeira a incentivar o início do projeto piloto no Rio
Grande do Sul. “A ABA nos cobrou
esse trabalho e reconheceu a importância dele”, recorda o técnico. O controle efetivo da mosca da miíase, segundo ele, será um importante passo
para a conquista de novos mercados
para a pecuária brasileira, seja na exportação de gado em pé ou na venda
de carne. “O parasito é uma barreira
comercial, pois é considerada uma
praga exótica. Por isso o seu combate
é fundamental para abrirmos o leque
de mercados para o nosso produto”,
afirma Pontes. Outro benefício já
mencionado é a redução de custos de
produção, hoje um dos grandes gargalos da pecuária nacional.
Aviões da Força Aérea Uruguaia realiza o transporte das amostras
A Cochliomya hominivorax, ou
mosca da bicheira, integra lista dos
principais organismos internacionais,
como a FAO e a OIE, como zoonose
prioritária de combate em países da
América devido ao seu impacto na
saúde pública, especialmente na população de baixa renda, moradora de
regiões sem as mínimas estruturas de
saneamento. A primeira experiência
nacional de combate teve início em
2006 quando a Comissão MéxicoAmericana para a Erradicação do
Gusano Barrenador Del Ganado
(Comexa) abriu a possibilidade à Superintendência Federal do Ministério
da Agricultura no Rio Grande do Sul
(SFA/RS/Mapa), para que o trabalho
fosse realizado em uma área experimental. A região da fronteira com o
Uruguai foi escolhida por possuir pecuária extensiva.
De acordo com Bernardo
Todeschini, chefe do Serviço de Sanidade Agropecuária (Sedesa) do
Mapa/RS, o projeto da Comexa foi
trazido para o Brasil em função da
preocupação com a saúde pública e
pela necessidade de redução dos prejuízos na pecuária, com custos de
mão-de-obra e medicamentos, queda na produção de leite, carne e desvalorização do couro e peles dos animais infectados.
Mesmo sem estatísticas oficiais
sobre perdas e prejuízos causados pela
mosca no Brasil, números extraídos
de um questionário aplicado junto aos
proprietários dos 277 estabelecimentos rurais na fronteira do Brasil com
o Uruguai, demonstraram a necessidade de uma ação urgente. Todos os
criadores relataram a ocorrência da
bicheira em seus animais. Na área, de
acordo com o levantamento, 7% dos
exemplares foram afetados pela enfermidade, entre bovinos e ovinos – de
uma população total de 134.204 ovinos e 126.724 bovinos.
O ciclo biológico da Cochliomya
hominivorax leva em torno de 21
dias, e exige condições ótimas de temperatura, entre 20 e 30 graus, já que
o calor favorece a proliferação. No
inverno o inseto permanece por até
50 dias em estágio de pupa. Em estágio de pupa fica entre 7 a 10 dias na
terra. A fêmea só copula uma vez e
coloca até 300 ovos na ferida aberta.
Dos ovos, no período de 24 horas,
nascem as larvas que vão penetrar nos
tecidos vivos e sedimentar. A larva
madura cai na terra e novamente se
transforma em pupa. Em sete dias, se
transforma em mosca.
As larvas da mosca submetidas à
radiação por Césio 137 são trazidas
de Chiapa, no México, para o Montevidéu, no Uruguai, e de lá são
reembarcadas para Artigas, também
no Uruguai. Antes de estarem prontas para a liberação no ambiente, são
armazenadas em câmaras a 28 graus,
local onde eclodem. Em 48 horas de
manipulação por técnicos, ficam
prontas para serem jogadas por avião.
A etapa final, e mais importante, é o
cruzamento dessas espécies estéreis
com as espécies nativas. A redução da
população de moscas é possível já que
as espécies nativas passam a produzir
ovos sem fertilidade.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é o organismo
internacional financiador do projeto,
que incluiu a etapa de aplicação do
questionário de diagnóstico de campo em área pré-definida, capacitação
de técnicos e agora a dispersão de
moscas estéreis na área piloto. O custo da iniciativa é de US$ 1 milhão a
fundo perdido, sendo que a contrapartida dos países envolvidos é o trabalho e o engajamento das equipes.
28
REPORTAGEM
Março/Abril de 2009
Rastrear ou não: eis a questão
Fotos: Divulgação/ABA
Por Eduardo Fehn Teixeira
Desinformação e diferenças de valores
praticados pelos mercados interno e externo pela carne bovina. Basicamente são esses os principais fatores que estão resultando na lentidão, e até em certo desinteresse
por parte dos produtores, pela efetiva implantação da Rastreabilidade nas propriedades brasileiras na atualidade. É óbvio que,
guardadas as condições e práticas de preços pagos pela carne em cada região, num
País continental como o Brasil.
O Brasil tem volume de animais, tem
clima, genética, técnicos e produtores competentes, enfim, um potencial inestimável,
invejável. Mas ainda há muito a fazer. Os
pecuaristas precisam padronizar e elevar o
nível genético de seus rebanhos, cuidar da
sanidade e aperfeiçoar os métodos de manejo, para não depreciar o produto final
nas linhas de matança dos frigoríficos, que
por sua vez já imprimem modernidade em
seus processos técnicos.
Grande parte dos produtores que optaram pela implantação da rastreabilidade
(a adesão é voluntária, opcional), e que tem
Estabelecimentos Rurais Aprovados
(ERAS) no Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e
Bubalina – Sisbov, estão satisfeitos. Afirmam que este é o caminho rumo ao futuro, que o investimento retorna rápido, que
isto possibilita o ingresso em novos mercados que melhor remuneram, e alegam que
ainda têm o ganho da implantação de um
sistema rígido de controle e gerenciamento
em seus negócios. Isto além de contribuírem para a melhoria da imagem do Brasil
no exterior.
Mas de outro lado, esses e outros produtores que ainda não implantaram a
rastreabilidade em suas propriedades também fazem criticas às constantes mudanças de regras e a uma postura beirando o
cartorial nos relacionamentos entre produtor, certificadora e autoridades oficiais. Portanto, há controvérsias sobre a questão, ou
no mínimo sobre como ela está sendo
conduzida no Brasil.
Os técnicos vêem a implantação dos
processos da rastrabilidade nas propriedades como grandes ganhos também para a
sanidade dos animais. Isto sem falar nos
controles e na elevação do nível e da imagem do produtor brasileiro no exterior. E
como no Brasil é difícil encontrar números e percentuais exatos, fica difícil estimar.
Mas se sabe que até este momento somente uma minoria está habilitada a exportar.
Via de regra, todos concordam que é preciso rastrear os rebanhos
No início, erros e desconhecimento geraram enorme resistência
Fotos: Divulgação
Primeiramente, lá no início, nos
anos 2002/2004, houve uma enorme resistência por parte do setor à
então novidade, especialmente em
função, primeiramente, de ser algo
totalmente novo, mas que logo teve
o reforço negativo dos equívocos gerados pelos primeiros métodos e sistemas implementados. Também é
preciso registrar que, na ótica dos
criadores, rastrear a propriedade significa também um custo a mais, que
num primeiro momento é sempre
mal recebido, porque avaliado como
despesa, não como investimento.
E junto com esse “pé atrás” dos
produtores, os técnicos do Ministério da Agricultura, desde o início,
também vem lidando com as pressões e procurando atender das melhores maneiras (tecnicamente corretas) às exigências que surgem, de
tempos em tempos, de parte dos
compradores estrangeiros, dos importadores de nossa carne. As famosas (e até temidas) missões do Mercado Comum Europeu, que constan-
Luciano Médici Antunes
temente vêm ao Brasil para vistoriar
e identificar propriedades aptas a exportar, já se transformaram num verdadeiro bicho papão, pelo rigor de
suas atuações e pelas sempre novas
exigências que fazem.
M as o que é rastr
eabilidade
rastreabilidade
Antes de mais nada, é importante registrar que, por definição,
rastreabilidade é o processo de identificação que se faz necessário para o
acompanhamento de todos os eventos, ocorrências, manejos, transferências e movimentações na vida do animal. A característica de individualidade da identificação é fundamental
devido às facilidades na realização dos
registros de acompanhamento que se
fazem necessários e a simplicidade e
rapidez exigida para o acesso a estas
informações. A maneira mais simples
e barata de se identificar individualmente os animais hoje é através da
aplicação de brincos e bottons contendo os códigos do S.I.R.B./Sisbov.
Sisbov é o Ser viço de
Rastreabilidade da Cadeia Produtiva
de Bovinos e Bubalinos. Tem como
objetivo o controle e rastreabilidade
do processo produtivo no âmbito das
propriedades rurais de bovinos e
bubalinos. É de adesão voluntária
para os produtores rurais, mas também é exigência obrigatória no caso
de comercialização de carne bovina
e bubalina para mercados que exijam
a rastreabilidade.
R egramento é o mesmo
“As regras que estão vigentes hoje
para todos os produtores que optarem por realizar a rastreabilidade de
seus animais/rebanhos foram fixadas
pelo Ministério da Agricultura
(MAPA) em 13 de julho de 2006,
através da instrução normativa de
número 17”, esclarece, de pronto, o
diretor geral da certificadora Plane-
jar, agrônomo Luciano Médici
Antunes. Ao contrário do que muitos pensam e alguns dizem, segundo
o técnico todo o processo para a implantação da rastreabilidade de bovinos e de bubalinos está claramente
estabelecido e não há perspectivas de
novas mudanças.
“O que há é uma certa
desinformação de alguns produtores
e técnicos, o que gera uma imagem
distorcida desta questão, chegando a
induzir certas pessoas a acreditar que
ainda não foi estabelecido um
regramento claro para a tarefa e que,
com possíveis mudanças, há risco de
perda de investimentos já realizados”,
observa o dirigente.
“O que mudou de lá para cá foram
aperfeiçoamentos que passaram a ser
agregados ao sistema, com o intuito de
aperfeiçoá-lo. Mas nada do que foi feito antes foi perdido”, esclarece o especialista, observando que a maior parte
desses aperfeiçoamentos foram apontados pelas missões da Comunidade
Econômica Européia, em suas visitas
ao País para inspecionar propriedades
e se reunir com os técnicos do Ministério da Agricultura.
Ainda há críticas aos constantes aperfeiçoamentos do sistema
REPORTAGEM
Março/Abril de 2009
29
O diretor técnico da Superintendência Federal da Agricultura no Rio
Grande do Sul, veterinário José
Euclides Vieira Severo, vai mais além,
agregando mais conhecimento e uma
inovadora cultura ao processo. Ele também vê a rastreabilidade como a maneira mais eficiente de organizar e implantar um sistema de gestão nas propriedades.
“Não se trata somente de se habilitar a exportar. Mas de ter uma propriedade totalmente sob controle, o
que também é bastante útil para os
controles sanitários dos órgãos oficiais
e assim para a saúde de toda a pecuária nacional. Em resumo, é bom para
o dono, para os técnicos, para os negócios e para a imagem da carne brasileira no exterior”, define, com
abrangência e autoridade, o experiente técnico.
E xigências do mer
cado
mercado
Assessor da Comissão de
Bovinocultura de Corte da Federação
da Agricultura do Rio Grande do Sul
(Farsul), o agrônomo e produtor rural
Carlos Simm diz que a demora especialmente dos pecuaristas gaúchos em
implantar a rastreabilidade é mesmo
incompreensível. Para ele, se o
pecuarista quer ter preço diferenciado
para a carne que produz, então também
precisa apresentar um produto igualmente diferenciado, que no mínimo
atenda a todas as exigências dos melhores mercados importadores do mundo.
“Tradicionalmente o Rio Grande
do Sul, pela base de seu gado (genética
européia, britânica) produz uma carne
diferenciada na comparação com o res-
Fotos: Divulgação/ABA
Rastrear é implantar gestão
Fábio Gomes
João Wolf
to do Brasil e também produz mais
carne do que consome. Precisa exportar. E para vender carne para a União
Européia e outros mercados sofisticados, que pagam mais pelo produto, tem
que atender as exigências desses clientes, que exigem gado rastreado”, insiste O técnico. E diz também que até
2010 o Uruguai já terá todo o seu rebanho rastreado através de chip eletrônico, e que Santa Catarina já identificou e brincou todos os seus animais.
do de encontro em Brasília, que reuniu os nove estados que estão habilitados a exportar para a União Européia
– Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo. Segundo o técnico, no Brasil são mais de 800 propriedades habilitadas, a maior parte no
Brasil Central. E faz críticas profundas à lentidão com que o assunto vem
sendo tratado por um grande número
de produtores. Gilson Evangelista de
Souza chega a dizer que “quem não é a
favor da rastreabilidade é favorável ao
abigeato, ao abate clandestino, à falta
de controle sanitário, à reintrodução
da Febre Aftosa e à posse de animais
ilegais”, sentencia.
Não há como ser contra
Já o Fiscal Federal Agropecuário do
Ministério da Agricultura Gilson
Evangelista de Souza, responsável pelo
Sisbov no Rio Grande do Sul, acha
mesmo difícil que alguém seja contrário à rastreabilidade. Ele critica de
modo forte a demora dos produtores
em providenciarem na implantação do
sistema, mas não crê que alguém possa não concordar ou achar que não seja
algo bom para todos.
Ele esteve recentemente participan-
G aúchos largaram na fr
ente
frente
Isto mesmo. A Cabanha dos Tapes,
propriedade do criador e atual diretor
de Marketing da Associação Brasileira
de Angus (ABA), João Francisco Bade
Wolf, em Arambaré, RS, foi o primeiro
estabelecimento rural no Brasil a implantar o sistema oficial de
rastreabilidade – Sisbov. “Realizamos
esta tarefa em 2 de dezembro de 2006”,
recorda, com orgulho, João Wolf. Para
ele, este é um caminho sem volta e os
que já estão nele, estão à frente dos demais. Tudo é uma questão de tempo”,
condiciona o criador gaúcho. Mas Wolf,
apesar de ser totalmente favorável à implantação do sistema, também faz críticas às sucessivas mudanças que vem sendo realizadas pelo Ministério da Agricultura e também ao formato do lançamento dos dados no sistema. “Nós, produtores, informamos à certificadora, e
esta ao sistema. Mas o boi não espera.
Quando está gordo, precisa ir ao abate
e não pode esperar pela demora no lançamento dos dados ...”, exemplifica.
João Wolf defende que o próprio produtor realize o lançamento dos dados
no sistema, simplificando a operação.
“Afinal, o produtor é o responsável pelos dados, mas quem os lança é a
certificadora e nessa manobra é que
podem ocorrer as falhas”, questiona, alegando que o modelo precisa ser mais
prático e menos cartorial.
Rastr
ear significa ganhar mais
Rastrear
Por sua vez, o produtor Vandi
Coradini, à frente de 10 propriedades
da família em Dom Pedrito e Bagé, no
RS, argumenta que no momento a
rastreabilidade é a melhor saída para a
melhoria do mercado e da remuneração ao produtor. “A implantação é trabalhosa, mas as regras são claras”, diz
ele, alertando que em todos os passos
do processo o produtor precisa ter
acompanhamento técnico, comuni-
cando-se com a certificadora, com a
inspetoria veterinária e com os profissionais do Ministério da Agricultura,
para evitar erros. “Tudo precisa estar
corretíssimo e documentado”, resume.
Para Coradini, os brincos dos animais precisam estar corretos e bater
com as documentações. Por isso, todo
o cuidado é pouco”, adverte Coradini,
calculando entre R$ 80,00 a R$ 100,00
o sobrepreço que está sendo alcançado
pelos animais rastreados, e observando que “isto é para médias e grandes
propriedades. As pequenas precisam ser
subsidiadas”. Coradini alerta que o
mercado é o cliente e por isto o produtor precisa rapidamente se adaptar a ele
para elevar o seu faturamento, a rentabilidade de seu negócio.
“A reastreabilidade é um assunto
importante e sério, na medida em que
viabiliza e valoriza a carne na hora da
exportação”, começa dizendo o
selecionador Fábio Gomes, titular da
Cabanha Catanduva, em Cachoeira do
Sul, RS. Segundo ele, que é o atual
vice-presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA), o Uruguai resolveu bem a questão, de modo que os
custos são devolvidos aos produtores
no momento da venda dos animais.
“Mas aqui no Brasil a rastreabilidade começou mal, onerando os
pecuaristas e faltando maior organização”, diz Gomes.
E observa que há ainda a questão
dos animais registrados, cujo registro
é mais seguro, em termos de comprovação de origem, do que o rastreamento, de modo que isso deveria ser
ressalvado para não onerar duplamente os produtores.
Atender e proteger o consumidor
Recentemente o técnico da Associação Brasileira de Angus
Fernando Velloso esteve no Reino
Unido, onde foi recebido pelo diretor executivo da British Livestock
Genetics (BLG), Robert Wills. Indagado sobre a rastreabilidade no
rebanho do Reino UInido, Wills
disse que lá o sistema funciona
muito bem e é resultado de dez
anos de história e aprendizado.
“Em nosso início os produtores
também não concordavam muito
e alegavam que seria muito difícil
de executar em nível de fazenda.
Mas hoje isso é assunto vencido,
porque nossos produtores entenderam a necessidade de atender e
de proteger o consumidor”, revela
Wills, que é graduado em Administração Rural e descendente da
sexta geração de uma família de produtores do condado de Devon, na Inglaterra.
“Nós temos que conquistar e manter a confiança da dona de casa. E com
a rastreabilidade nós conseguimos fazer isto, pois podemos controlar e a
qualquer momento suspender toda e
qualquer movimentação de gado e
assim bloquear a disseminação de doenças”, explica Rob Wills, como é mais
conhecido em seu país. E para ele, justamente em épocas de crise, a
rastreabilidade é a sua melhor amiga.
“Hoje nós olhamos outros países,
como os Estados Unidos, e sabemos
que esses países estão muito expostos
a problemas sanitários em função da
falta de um sistema de rastreabilidade”,
sustenta o experiente técnico e produtor inglês.
Indústrias estão à fr
ente
frente
De caráter bem mais técnico e por
certo com um foco mais abrangente
que a simples implantação de um sistema de rastreabilidade, o Frigorífico
Marfrig (parceiro da ABA em seu Programa Carne Angus Certificada), com
plantas industriais no interior de São
Paulo e Brasil Central, já trabalha num
projeto próprio, que faz a rastreabilidade dos amimais que abate “do pasto à mesa”. É o que explica a engenheira
de alimentos com especialização em
Segurança Alimentar Elaine Bedeschi.
Segundo a especialista, responsável por uma equipe multidisciplinar
que atua nesta área nas plantas industriais do Marfrig, o projeto desenvolvido com exclusividade para a empresa resulta em total segurança do trabalho realizado em todas as etapas
dentro dos frigoríficos. “É o
gerenciamento de todo o processo,
com o envolvimento de todos, como
uma equipe”, sintetiza.
O Marfrig trabalhou na reestruturação de todo o sistema que já existia, a partir de dezembro de 2007 e
desde março de 2008 o novo sistema
está sendo implantado em todas as
unidades do grupo.
Já o Frigorífico Mercosul (também
integrante do Programa Carne Angus
Certificada), se preocupa com todos
os elos da cadeia. “No Mercosul a
rastreabilidade é um caminho sem
volta”, define o técnico Taulni Rosa
(o Chico), um dos responsáveis por
esta área na empresa, com plantas do
Rio Grande do Sul. “Quem quiser
sair do monopólio representado pelo
mercado interno, e assim buscar me-
lhores remunerações para seus animais precisa, antes de mais nada, ter
o rebanho rastreado”, sentencia.
Segundo ele, no Mercosul as
equipes de extensão rural estão sempre junto aos produtores, orientando e apoiando a implantação e condução dos processos de rastreabilidade das fazendas. E chegando à indústria, o gado, já rastreado desde a
fazenda, é organizado em lotes, e no
abate os animais são identificados individualmente. “É feito um controle rigoroso a partir da numeração do
brinco fixado na orelha do animal, e
deste modo o frigorífico dispõe de
todos os dados registrados sobre cada
um dos animais no Sisbov. “Estamos
focados em sanidade e controle, visando à segurança alimentar”, resume Chico.
30
REPORTAGEM
Março/Abril de 2009
Foto: Divulgação/Bela Vista
Pecuária, sombra e água fresca
“Dizem que os zebuínos estão perfeitamente adaptados ao clima quente do Brasil. Eles podem ser adaptados,
mas não são bobos. Se houver uma sombra por perto, na hora mais quente do dia, é lá que eles estarão.” É com esta
frase que o professor de etologia e bem-estar animal da Unesp Jaboticabal, Mateus J. R. Paranhos da Costa, define
a importância do clima para a pecuária de corte. Segundo ele, que lidera o Grupo de Estudos e Pesquisas em
Etologia e Ecologia Animal (Grupo ETCO), hoje é inadmissível que o produtor credite perdas por mortes devido
ao clima como acidentes ou “normais”.
Por Hosrt Knak
O clima quente e seco, no Brasil,
é o principal obstáculo à criação de
bovinos a campo. Mesmo assim, frentes frias muito fortes podem provocar imensos prejuízos, como já ocorreu no Mato Grosso do Sul, quando
milhares de cabeças morreram após
uma forte onda de frio. A falta de
quebra-ventos e áreas de matas é
apontada como principal causa desta mortandade. Os produtores também tiveram sua parcela de culpa, por
não calcularem o rigor da frente fria
e recolherem o gado antes do ingresso em seus campos.
O stress provocado pelo clima
pode produzir enormes prejuízos que
muitas vezes são a diferença entre
lucro e prejuízo. Segundo o pesquisador norte americano George Leroy
Hahn, ligado ao Clay Center, no estado de Nebraska, o clima é um condicionador importante na performance e nos resultados obtidos na
pecuária de corte. Segundo ele, o produtor precisa criar as condições de
proteção aos efeitos climáticos como
seca, frio, tempestades, chuvas e outros desastres naturais.
G. L. Hahn também desenvolve
importantes linhas de pesquisa de
olho no aquecimento global. Ele busca indivíduos mais adaptados a condições adversas, inclusive com animais da raça Angus, identificando
níveis de risco para stress térmico –
calor ou frio.
Em 1977, exemplifica o prof. G.
L. Hahn, num vale da Califórnia, mais
700 vacas leiteiras morreram pelo calor provocado por uma forte onda de
calor associada a uma forte umidade
do ar seguida de uma tempestade tropical. As vacas que sobreviveram tiveram sua produção reduzida drasticamente nos meses que se sucederam.
Segundo Hahn, áreas adequadas de
sombras teriam reduzido as mortes em
33% e teriam reduzido a queda de
produção em 50%.
Em meados da década de 90, relata o professor de Unesp, uma frente fria provocou a morte de centenas de bovinos no Mato Grosso do
Sul. Também é comum o relato de
acidentes com raios, que podem
causar grande prejuízo pela tendência dos animais permanecerem próximos às cercas. Todos esses aconte-
cimentos são potencializados pela
falta de abrigos, que podem ser oferecidos através da manutenção de
bosques nas pastagens. Segundo ele,
está comprovado que, num
confinamento com sombreamento
artificial, é possível aumentar em no
mínimo 80 gramas/dia o ganho de
peso por unidade animal. “Imaginemos isso multiplicado por milhares de cabeças e teremos o lucro com
o controle térmico neste sistema de
criação”, projeta o professor da
Unesp.
O professor Mateus Paranhos da
Costa usa o termo ambiência – “o
espaço constituído por um meio físico, e ao mesmo tempo, por um
meio psicológico, preparado para o
exercício das atividades do animal
que nele vive. No Grupo ETCO, formado por 22 profissionais do meio
universitário, distribuídos em São
Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais e colaboradores em vários estados brasileiros, o objetivo é elevar
o nível de conforto para o bovino
criado em condições de campo e
confinamento.
Atualmente, vários integrantes do
ETCO prestam serviços de assessoria a
frigoríficos e produtos. “Isso nos permite colocar idéias em prática e, portanto, validar muitos resultados de pesquisa”, justifica Paranhos da Costa.
O bovino pede acesso amplo e fácil à sombra
Foto: Divulgação/Umbu
...implantou diversos bosques em sua propriedade em Uruguaiana, RS
Angelo Tellechea...
Na prática, qualquer organismo
pode viver em condições de conforto, mesmo em situações adversas de
clima. “Precisamos oferecer acesso
amplo e fácil à sombra e, no mesmo
grau de importância, à água. Em fazendas paulistas que criam animais
puros - portanto mais sujeitos ao
stress térmico - já é possível ver áreas
do estabelecimento (a cabanha) cobertas com telas de sombrite – que
produzem sombra artificial, além de
bosques cultivados, especialmente
com eucaliptos.
A intensidade com que os animais
procuram a sombra (definida pelo freqüência com que o fazem e pelo tempo de permanência no local sombreado), explica Mateus Paranhos da Costa, é controlada por diversos fatores,
destacando-se as condições climáticas,
os fatores sociais, envolvendo hierarquia e territorialismo, as diferenças
entre raças e as diferenças entre indivíduos dentro de raça.
“Com tantas variáveis influenciando o grau de utilização desse recurso, como definir o quanto devemos
ofertar de sombra para os animais?”,
indaga. A maneira mais simples de se
obter essa resposta é através da observação dos comportamentos dos animais, muitos dos quais representam
importantes mecanismos de termorregulação para animais criados a pasto e são facilmente mensuráveis em
situações a campo.
Segundo ele, “é difícil estabelecer
uma regra geral para categorias, raças
ou mesmo dentro de um grupo de
animais de um estabelecimento. Cabe
apenas a regra de que deve haver sombra suficiente para abrigar todos os
animais ao mesmo tempo a qualquer
hora do dia”. Isto porque os animais
procuram a sombra não apenas nas
horas mais quentes do dia, mas também a requerem em diferentes horas,
em busca de repouso ou conforto.
O criador gaúcho Angelo Bastos
Tellechea, proprietário da Cabanha
Umbu, em Uruguaiana, RS, identificou há muito tempo que o clima produz perdas irreparáveis no seu rebanho
Angus. O gado perde peso no verão, o
índice de concepção das fêmeas diminui muito e os terneiros acabam tendo
menor condição de aleitamento, fruto
do calor extremo de sua região – situada no Oeste gaúcho, junto à fronteira
com Uruguai e Argentina.
Angelo Tellechea introduziu bosques de sombra à base de eucaliptos
em seus campos, junto aos reservatórios de água, reduzindo o esforço dos
animais na busca da água. “Em três
anos, podemos liberar para acesso aos
animais”, revela.
Entretanto, ele propõe que os
Governo Federal, Estados e Municípios se empenhem em criar planos de
irrigação que contemplem a pecuária
de corte. “Precisamos produzir alimentos para suprir o gado durante o
período de calor. Mas apesar do calor
favorável à produção de volumoso, a
falta de água impede o plantio racional de pastagens”, diz o criador. Angelo propõe que os mananciais criados por programas de irrigação possam ser usados de forma coletiva, beneficiando criadores em toda a região.
A questão dos bosques como
abrigos remete a uma nova questão:
na Embrapa Florestas, situada em
Colombo, no Paraná, o pesquisador
Vanderlei Porfírio da Silva está desenvolvendo um trabalho de
integração silvopastoril. Neste caso,
além de promover o conforto térmico dos animais, as árvores (grevília,
pinus e eucalitus) também vão produzir uma renda alternativa, já que
sua madeira é de interesse da indústria moveleira.
REPORTAGEM
Março/Abril de 2009
31
Ampliar a oferta de água de boa qualidade
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Barreira de eucaliptos protege contra ventos e fornece sombra
Por outro lado, observa Mateus Paranhos da Costa, a água é um dos
mais importantes nutrientes também para o bovino, particularmente para
os animais mantidos em climas quentes. “A água exerce efeito no conforto
térmico pelo resfriamento direto - desde que a água esteja em temperatura
inferior à do corpo - e serve como veículo primário de transferência de
calor através da evaporação, cutânea e respiratória”, explica.
Até os 26 graus Celsius, salienta
Paranhos da Costa, os bovinos tendem a beber água com mais freqüência em torno do meio-dia, no final
da tarde e à noite; acima de 32 graus,
o intervalo de ingestão de água tende a ficar mais curto e os animais fazem-no pelo menos a cada 2 horas.
Por isso, a importância da disponibilidade água abundante e de boa
qualidade.
O técnico da Angus Antonio
Chaves Neto, que atua no Paraná e
Mato Grosso do Sul, destaca que o
calor é o fator limitante para o uso
de touros Angus. “Algumas linhagens
– especialmente com pêlo mais curto – estão melhor adaptadas e conseguem trabalhar melhor”, diz. “Tanto os animais pretos como os vermelhos vão para a sombra na mesma
hora”, constata. Já se sabe, diz Cha-
Antonio Chaves Neto
ves, "que reprodutores com escroto
alongado tem uma vida útil maior".
Mas estes são os aspectos genéticos:
“o criador que selecionar linhagens
que andem bem nestas condições extremas – para uso no Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Bahia, Pará, por exemplo – vai ganhar muito dinheiro”, prevê.
Somente a inter
intervvenção humana
garante sucesso da criação
Para Antonio Chaves, as altas
temperaturas exigem três providências – nesta ordem: sombras, água
boa e farta e pastagens de qualidade.
O criador que trabalhar com animais
cruzados, precisa reservar pedaços de
Cerrado com sombras, implantando
ainda algumas áreas com árvores de
maior porte para garantir proteção ao
gado nas horas mais quentes do dia.
“A mão humana vai garantir o sucesso da criação, porque o gado vai responder na hora a estas benfeitorias”,
sentencia.
Outro técnico da Angus no Sudeste e Centro-Oeste, Rednilson
Góis, observa que os períodos secos
estão cada vez mais agudos. “É preciso guardar comida para os períodos de escassez, bem marcados entre
maio e agosto”, diz. A falta de chuvas e o calor também exigiu de várias
cabanhas de Angus a implantação de
telas de sombrite no meio dos
potreiros e bolsões de eucaliptos. A
Rednilson Góis: sombras artificiais com tela de sombrite protegem os piquetes dos reprodutores
falta de florestas deve-se à intensa
exploração agrícola, especialmente
em São Paulo, onde o café e a canade-açúcar, especialmente esta última,
tomaram conta de vastas regiões.
Animais jo
jovv ens dev
devee m
ser pr
otegidos
protegidos
Rednilson destaca que os potreiros
devem ser pequenos, com áreas de
sombras e com acesso fácil à água. O
gado de cria e os animais mais novos
dever ser mais protegidos do calor, já
que os de mais idade tendem a identificar horários mais apropriados para
pastejo e reprodução.
Em Uberlândia, MG, os touros
costumam trabalhar à noite, mesmo
porque as manifestações de cio das
fêmeas ocorrem no início da manhã,
madrugada, ou mesmo no
entardecer. Em períodos de alto calor, a ovulação das fêmeas também
se reduz, o que obriga a modificar
alguns parâmetros na coleta de embriões. “Evitamos os meses quentes
e de alta umidade, porque o resultado cai muito”, explica Rednilson, que
faz este trabalho em São José do Rio
Preto, na sua Central Embrio Rio
Preto, Noroeste de São Paulo. Segundo ele, o manejo deve sempre proteger as doadoras de material genético
do stress térmico, que reduz a produtividade do ventre.
Além de buscar a adequação das
estratégias de criação aos recursos do
ambiente local, o professor Mateus
Paranhos da Costa entende que é
possível elevar gradualmente a oferta de itens de conforto ao bovino,
ajustando essas estratégias ao contexto econômico e social. “O importante é conhecer bem os animais que
criamos, o que vem sendo alcançado
através dos estudos do comportamento dos animais no ambiente de
criação”, justifica.
A vulnerabilidade dos animais ao
clima é bem conhecida. A sua
performance e mesmo sua sobrevivência estão fortemente influenciados pelos efeitos diretos do clima,
quer em sistemas extensivos ou intensivos, gerando prejuízos ao volu-
me e qualidade dos alimentos produzidos para o consumo humano.
Segundo G.L. Hahn, o uso de abrigos e tecnologias de manejo atualmente disponíveis podem reduzir os
impactos climáticos na pecuária de
corte, mas o uso racional das
tecnologias pode ser crucial para a
lucratividade e mesmo a sobrevivência das empresas do setor.
Foto: Grupo ETCO
Gado pasteja em área protegida por eucaliptos
Fotos: Horst Knak/Agência Ciranda
O terceiro ponto de apoio é a produção farta de comida para o gado
32
Março/Abril de 2009
INTERNACIONAL
Março/Abril de 2009
33
Genética brasileira presente Crise americana não tira brilho do
ao Fórum Mundial
Angus na Exposição de Denver 2009
Grande Campeão: EXAR Titlelist T011
Catanduva TE213 Nostradamus K. Rob TE12
Catanduva 533 Latina Delegado 1193
Entre 13 e 16 de Julho, realiza-se em
Calgary, estado de Alberta, no Canadá, o
World Angus Forum 2009, evento organizado pela Associação Canadense de Angus. Além
da importância para a raça no mundo, os criadores brasileiros têm muito a festejar: isto
porque pela primeira vez na história um criador brasileiro exporta embriões da raça Angus
para a América do Norte. “Foi uma exportação muito trabalhosa. Um técnico do governo
canadense visitou os estabelecimentos no Brasil
antes de aprová-las”, lembra o proprietário da
Cabanha Catanduva, Fábio Gomes, que enviou 10 embriões, que integrariam o
International Embryo Program Cattle Display.
O objetivo desta mostra de embriões é
apresentar exemplares que demonstram a genética utilizada e buscada em cada país, sempre dentro da raça Aberdeen Angus. Para a
realização do “International Embryo Program
Cattle Display”, foi realizada uma solicitação
a todas as associações de Aberdeen Angus do
mundo, para que enviassem para o Canadá embriões que demonstrassem a genética do seu
país.
No total foram enviados 98 embriões de 9
países: Argentina, Austrália, Brasil, Irlanda, Escócia, Inglaterra, Uruguai, Estados Unidos, Dinamarca, dos quais nasceram 26 terneiros. A
Cabanha Catanduva enviou 10 embriões do
acasalamento Catanduva 533 Latina Delegado 1193 (doadora) x Catanduva TE213
Nostradamus K. Rob TE12 (touro), sendo
todos implantados no Canadá. Infelizmente
nasceu somente 1 fêmea vermelha. Os dois
animais utilizados no acasalamento nasceram
no Brasil, sendo que Nostradamus foi bi-grande campeão da Expointer.
Por outro lado, destaca ainda Fábio Gomes, o Brasil também estará presente indiretamente, já que alguns dos embriões enviados
do Uruguai pertencem à Cabanha La Coqueta,
que também utilizou no acasalamento o sêmen de Nostradamus exportado ao Uruguai.
Todos os terneiros nascidos estão tendo o
mesmo manejo em Remington Cattle
Company em Del Bonita, Alberta. Estes
terneiros estarão à mostra alguns dias antes e
depois do evento. Na programação do Fórum
Mundial, constam ainda uma exposição de
animais, visitas a estabelecimento criadores de
Angus e conferências técnicas.
Remate Gala Angus foi sucesso em Punta del Este
Remate Gala Angus teve média de US$ 4.022
Com a presença de criadores argentinos,
brasileiros e uruguaios, realizou-se no dia 19
de fevereiro o 4º Remate Gala Angus, no Salão Montecarlo do Hotel Conrad, em Punta
Del Este, Uruguai. O evento foi muito bem
sucedido e teve como leiloeiro Gerardo
Zambrano, com administração do Banco Comercial. Os animais ofertados registraram
preço médio de U$S 4.022,80, sendo o valor
mais alto U$S 6.600,00.
O evento teve apoio da Prefeitura Muni-
cipal de Maldonado, Associação Rural do
Uruguai, Banco Comercial, Zambrano &
Cia., Selecta SRL, Accelgen S.A. Promega
S.A., ABS, Ruben F. Cánepa, Merial, El Pais
S.A., Atijas Weiss, El Retablo, Bodega Don
Pascual, El Observador, La Propaganda Rural, Gensur Ltda, CAAUSA e BPU. Representando a Associação Brasileira de Angus,
esteve presente o novo presidente da entidade Joaquim Francisco Bordagorry De
Assumpção Mello.
O número de exemplares Aberdeen Angus
na 103ª National Western Stock Show (NWSS),
em Denver (Colorado, Estados Unidos), surpreendeu aos mais pessimistas. De acordo com a
American Angus Association (AAA), foram expostos 376 animais de argola mais 123 exemplares rústicos, o que totaliza 499 produtos de
pelagem preta, pouco inferior a 2008. Consultada, a Red Angus Association of America (RAAA)
informou não possuir dados de julgamento a respeito da exposição de Denver para divulgar.
Ainda assim, a raça Angus repetiu a tradição
e foi novamente a mais numerosa na exposição
de Denver desse ano, realizada em Janeiro passado. Foram 306 fêmeas e 70 machos de argola
mais 31 trios rústicos e 3 Carloads de touros.
Grande Campeão: EXAR Titlelist T011
T011.
Nascido em Janeiro de 2007, ele é filho de BR
Midland e pertence ao Titleist Group (de Plain
City, Ohio) e à Express Angus Ranches (de
Yukon, Oklahoma).
Reservado de Grande Campeão: CJ PPrrestige
25T
25T. Ele pertence à parceria formada pela Dorrell
Farms (de Martinsville, Indiana), Wilson Cattle
Company (de Cloverdale, Indiana) e Cagwin &
Johnston (de Virginia, Illinois). Nascido em Janeiro de 2007, este reprodutor é filho de HSAF
Bando 1961.
Grande Campeã: G ambles WB Lady
6047
6047. Calli Bayer (de Ringle, Wisconsin) é a proprietária desta fêmea de menos de dois anos nascida em Junho de 2007 que, assim como o Grande Campeão, também é filha do touro BR
Midland.
Reservada de Grande Campeã: HCA Estella
782
782. Também com menos de dois anos de idade
em Denver 2009, ela é filha de Plainview Lutton
E102 e o seu proprietário é Zane Barragree (de
Absarokee, Montana).
Chan Phillips (de Maysville, Kentucky) foi o
juiz dos animais de argola neste ano. Ele foi assessorado por Ernie Wallace (de Stotts City,
Missouri).
Informações: American Angus Association e Red
Angus Association of America
Tradução: Stefan Staiger Schneider
34
PERFIL
Março/Abril de 2009
Um empresário de volta às origens
Fotos: Divulgação
A vontade de voltar ao campo sempre esteve presente na sua alma, mesmo quando a vida profissional o afastava, a cada momento, deste desejo.
“Mas sonhos e desejos ficam sempre grudados na gente como se fossem
uma segunda pele. E quando se persegue, se persiste, acabam se tornando
realidade”, define o empresário e animado criador de Angus Antônio Maciel
Neto.
M
as esta vontade não era um
simples capricho. Tem uma
forte razão de ser e uma origem. Nascido em uma família tradicional produtora de café e leite, do Sul de Minas Gerais, onde passou muitas férias, ele foi criado em Apucarana, no
Paraná, onde o pai foi trabalhar como
engenheiro agrônomo do Banco do
Brasil, e ainda mantinha uma pequena fazenda.
Mesmo com toda esta herança no
campo, Maciel Neto decidiu cursar
engenharia mecânica e, para isto, foi
para o Rio de Janeiro. Mais tarde entrou na Petrobrás, seguiu carreira, cresceu profissionalmente e se projetou no
mercado, tornando-se líder no meio
empresarial.
Com este objetivo realizado, já um
profissional reconhecido por sua liderança e competência, era hora do sonho não mais ficar guardado. Assim,
fazem 10 anos que a oportunidade
apareceu e Antonio Maciel Neto não
titubeou. Aproveitou. Comprou a
Fazenda São Luiz, em Itu, no interior
paulista, com a idéia de realizar um
projeto de pecuária integrada com
agricultura. “Mas o meu desejo maior
era fazer algo que fosse diferente da
maioria e que demonstrasse um valor
agregado ao produto, maior que o
normal”, salienta ele, com toda a bagagem que já trazia do meio empresarial.
Em conversas com amigos, principalmente com o nelorista José Carlos
Bunlai, um dos maiores criadores do
País, ele soube que a criação da raça
Angus no Sudeste brasileiro apresentava um grande futuro, “principalmente para fazer sua adaptação neste
clima que é diferente do Sul, e depois
esse gado ser comercializado para o
Centro-Oeste e outras regiões mais
quentes do Brasil”, relata o hoje articulado criador. Percebendo o potencial que esta perspectiva apontava,
decidiu investir na raça, surgindo aí a
FSL Angus Itu, que hoje é a sua marca.
Pai foi seu conselheir
conselheiroo maior
Devido ao “vício” profissional,
Antônio gosta de planejar e pesquisar
tudo em seus mínimos detalhes bem
antes de investir. Mas antes mesmo de
colocar o projeto em andamento, consultou seu conselheiro maior, seu pai,
que lhe deu boas recomendações sobre a raça e a atividade. Além disto,
em seus estudos viu que o Brasil é um
grande exportador de carne, mas percebeu que a receita advinda disto é
ainda baixa, pela falta de qualidade de
nossa carne, dos animais, das carcaças
Antônio Maciel Neto: pesquisa e planejamento o levaram naturalmente a optar pelo Angus
abatidas. E justamente isto é
encontrável na raça Angus, devido às
características já conhecidas mundialmente da sua carne. “A qualidade da
carne é justamente o grande diferencial da raça Angus”, diz.
Por isto, estudou bastante a raça,
buscou contatos com criadores no
Brasil e também fora, e definiu seu
plano de trabalho. Iria trabalhar na
seleção genética de alta qualidade,
porque tem maior valor de mercado.
E também destinar os animais já adaptados para o mercado de cruzamento
FSL AIKA, um dos produtos recentes da empresa
industrial do Centro Oeste. “Porque
a F1 Nelore/Angus dá um animal de
excelente carcaça e qualidade de carne, que se torna imbatível se comparada com outros cruzamentos. Por isto
eu vi um potencial de mercado e ganhos muito significativos”, afirma o
criador, que não perde o entusiasmo e
a certeza de estar criando uma raça que
já tem um presente e por certo terá
um grande futuro no melhoramento
genético dos rebanhos de corte nacionais.
Produção própria de embriões
A FSL Angus Itu possui hoje em
seus 350 hectares, 50 matrizes principais, altamente selecionadas, que são
as doadoras de embriões, além de mais
60 mães para inseminação. Ligeiro e
com os olhos no horizonte, já se equipou para produzir seus próprios embriões na fazenda e firmou parceria na
Argentina com a Estância Três Marias,
onde mantém animais e também adquire embriões.
“Eles possuem um animal de
frame médio, moderno, que é o que o
mercado quer hoje”, assinala. A fazenda também estabeleceu metas de ter
cerca de 200 nascimentos puros por
ano, realizar um leilão de elite para
vendar a produção e comercializar
animais para o Centro do País.
Também faz parte do projeto de
Maciel Neto participar de feiras e exposições, principalmente as
ranqueadas, com o propósito de ganhar prêmios e projetar a fazenda neste
disputado mercado de animais de pis-
ta. “E já obtivemos êxito, com o grande campeonato da Feicorte 2007, justamente onde foi a nacional da raça
Angus, com um touro que nasceu na
fazenda, o FSL Oásis”, lembra Antônio, orgulhoso do feito.
Par
ticipação da família
articipação
O executivo e produtor rural diz
que neste projeto conta com a participação da esposa, da cunhada e de
um veterinário que também é administrador da propriedade. Mas conta
sempre as horas para que chegue o fim
de semana e ele possa ir para a São
Luiz. “É a minha grande realização
neste momento”, afirma, feliz porque
também a filha gosta de ir à fazenda.
Falando mais da sua escolha, Antônio lembra que também pesou na
decisão, o fato de a Associação Brasileira de Angus ter vários programas e
ações promocionais de marketing. Ele
dá como exemplo o programa de
comercialização da Carne Angus com
marca própria e todo o sistema de
certificação. Para ele, montar um sistema em que toda a cadeia esteja organizada, com a participação dos frigoríficos e com o produtor tendo ganhos superiores, estimula o mercado
como um todo. “Faz com que o produtor de gado de corte invista na raça
para ter direito a este plus e, ao final,
este investimento acaba trazendo benefícios para nós, produtores de alta
genética, porque também vai fazer o
nosso mercado se movimentar positivamente”, raciocina o criador de
Angus Antônio Maciel Neto.
35
Donald Trump amplia negócios com Carne Angus
ARTIGO
Março/Abril de 2009
Foto: S.Lovekin/Wireimage.com
Por Stefan Staiger Schneider
O magnata e bilionário americano Donald
Trump, que já era parceiro do programa
Certified Angus Beef (CAB) da American
Angus Association (AAA), expandiu os seus
negócios envolvendo o comércio do produto.
Desde o início da parceria entre os restaurantes dos seus hotéis-cassino Trump Taj Mahal
Casino Resort, Trump Plaza e Trump Marina
na cidade de Atlantic City, que equivale à Las
Vegas da costa leste dos Estados Unidos, as
vendas de pratos servindo carnes CAB têm
sido excelentes e sempre apresentado crescimento. Agora, Trump criou uma nova parceria com a empresa que administra o programa CAB, a Certified Angus Beef LLC, e também com a companhia The Sharper Image.
Essa nova parceria é independente da anterior, a qual continua em vigor.
amoso no mundo inteiro pela sua astúcia
comercial, Donald Trump decidiu criar a
sua própria marca de carnes, a Trump
Steaks. Direcionados a um público elitizado, os
Trump Steaks foram lançados à imprensa americana em Maio no coração de Manhattan, na filial da The Sharper Image no Rockefeller Plaza, e
atraíram importantes veículos da imprensa americana, como as revistas People, Gourmet e Home,
os jornais New York Daily News, The New York
Times e USA Today e os canais de televisão NBC
e ABC. Somado a isso, David Letterman, apresentador do programa Late Show (transmitido todas as noites pela CBS e que pode ser visto no
Brasil pelo canal GNT), e Jay Leno, apresentador do programa The Tonight Show (transmitido
todas as noites pela NBC), falaram sobre o novo
produto de Trump, sobre a raça Angus e a sua
nobre carne.
A The Sharper Image é uma rede com 187
lojas espalhadas pelos Estados Unidos e especializada na venda de alimentos, bebidas, artigos
para cozinhar, móveis e decoração de cozinhas,
salas de jantar, copas e áreas de lazer. Outro diferencial da The Sharper Image é o seu serviço de
tele entrega, muito utilizado em grandes cidades
como Boston, Nova York, Filadélfia, Washington/DC, Chicago, São Francisco e Los Angeles.
O catálogo que lista os cortes das carnes disponíveis e os preços também estão on-line no Site
www.trumpsteaks.com, através do qual também
se pode fazer encomendas. Para festas particulares, a The Sharper Image pode inclusive enviar
uma equipe de assadores, gourmets e garçons para
fazer o serviço.
“Desde que a carne CAB começou a ser vendida nos restaurantes dos meus hotéis-cassino,
pessoas têm me falado que a carne servida é in-
F
Donald Trump (ao Centro) criou uma marca própria de Carne Angus, a Trump Steaks
Para a AAA, a parceria beneficia todos os produtores
de Angus. Quando um grande nome é associado a um
determinado produto, a percepção de qualidade do
produto é elevada nos olhos dos consumidores.
crível, por isso faz sentido expandir as vendas e
oferecer essa carne em toda a parte a consumidores que já conhecem o produto”, disse Trump ao
jornal USA Today.
As carnes são vendidas em diferenciadas caixas térmicas em cor preta com o nome Trump
Steaks em letras douradas, o logotipo do programa Certified Angus Beef nas suas características
cores logo ao lado e o Slogan “The world’s greatest
steaks”, ou seja, “os melhores filés do mundo”.
Todos os cortes disponíveis preenchem 9 critérios a mais que os necessários para receber o selo
Prime do United States Department of Agriculture
(USDA), o Departamento da Agricultura dos
Estados Unidos, e pertencem ao grupo Top 1%
das carnes de todo o programa CAB. Trata-se,
portanto, do melhor naquilo que há de melhor.
Mas, e o preço? Nenhuma caixa é vendida por
menos de US$ 54,95 e a mais cara delas custa
US$ 999,00. Os valorem variam conforme o
corte da carne e o peso de cada caixa, já que há
caixas com diferentes tamanhos e propostas. Mas
quem irá comprar esses produtos? A aposta é num
segmento elitizado da sociedade que é habituado
a um alto custo de vida, vive em grandes centros
urbanos como Manhattan na cidade de Nova
York e gasta quantias digamos “expressivas” em
lazeres e prazeres.
Para o programa Certified Angus Beef da Associação Americana de Angus, a parceria com
Donald Trump e a The Sharper Image é um projeto racional, já que poderá levar a melhor carne
bovina do mundo até a porta das residências das
pessoas que pagam mais por essa qualidade, tornando, portanto, desnecessário que procurem
restaurantes. “Os parceiros criaram um triângulo de excelência, oferecem um produto de excelência a um público de excelência que conhece a
carne Angus através de restaurantes de excelência”, diz John Stika, Presidente do CAB.
A estratégia é, portanto, semelhante à dos
fabricantes de Home Theaters, ou seja, trazer um
cinema para a casa das pessoas que gostam de
filmes, mas não têm tempo de ir a cinemas e
podem pagar por um cinema residencial.
De acordo com análises realizadas pela AAA,
a parceria beneficia todos os produtores de Angus.
Essa conclusão parte do fato de que, quando um
grande nome é associado a um determinado produto, a percepção de qualidade desse produto é
elevada nos olhos dos consumidores. Um exemplo clássico é a associação da fabricante de relógios suíços Omega ao personagem do cinema James
Bond, que nos seus filmes sempre usa um relógio Omega e também integra a campanha de
marketing da empresa em mídia impressa.
Consequentemente, todos os produtores de
Angus, tanto os proprietários de rebanhos puros
quanto os de rebanhos comerciais, são beneficiados pela parceria, já que o valor agregado ao “produto Angus” e à carne CAB através dos Trump
Steaks favorecerá a todos. A parceria estimulará
também que mais produtores associados ao programa CAB produzam animais que preenchem
as especificações para receber a marca Trump
Steaks, a qual também paga um bônus aos produtores devido à qualidade superior da carne. Em
outras palavras, há uma demanda por produtos
de excelência que paga por essa excelência.
Quem é Donald Trump?
Donald Trump é americano e pertence à segunda geração de uma família que imigrou da
Alemanha em 1885. Nascido em 1946 na cidade de Nova York, Donald teve de prestar serviço
militar, porém não esteve em nenhuma batalha,
e estudou Economia. Depois de formado, começou a trabalhar na construtora e imobiliária
da família, a Trump Organization, juntamente
com o pai.
No início, ele concentrou o seu trabalho no
aluguel de imóveis da empresa distribuídos pelos
bairros do Brooklyn, Queens e Staten Island, na
cidade de Nova York. Em 1971, Donald decidiu
investir em Manhattan, motivado por uma crise
no mercado de imóveis dessa região naquela época. O investimento que tinha de ser feito precisava ser alto, mas o lucro também poderia ser. O
seu primeiro projeto foi a compra e reforma do
antigo Commodore Hotel. Esse negócio foi estimulado pela isenção de uma série de tributos,
dentre os quais o Imposto de Compra e Venda,
que a prefeitura de Nova York concedeu a ele,
além do abatimento de outros por um período
de 40 anos. Depois de reformado, o prédio teve
uma valorização fenomenal e a crise já havia passado, o que possibilitou que Trump vendesse o
imóvel à rede Hyatt de hotéis, que estabeleceu ali
o Grand Hyatt New York, um dos maiores 5 estrelas da Big Apple atualmente com 1.311 apartamentos.
Negócios semelhantes a esse foram realizados por Trump até 1989, período no qual, entre
outros, ele criou sua própria empresa aérea, a
Trump Shuttle, e construiu o célebre edifício
residencial com 58 andares Trump Tower na 5ª
Avenida. Mas, ele se habituou a pedir empréstimos bancários e a acumulá-los também. Naquele ano, o Citibank era credor de US$ 1,1 bilhão,
o Bank of America de US$ 400 milhões e o Bankers
Trust de US$ 164 milhões. O resultado foi a perda
de muito daquilo que ele havia conquistado.
Em 1997, com o pagamento das últimas dívidas, a baixa dos processos de falência das suas
empresas atingidas e o re-início dos trabalhos daquelas que restaram, Donald Trump começou
uma nova vida e a construção de um novo império. Conforme a edição da revista Forbes que apresentou a lista 2008 dos bilionários do mundo
(publicada no dia 3 de Maio desse ano), Trump
tem atualmente um patrimônio avaliado em US$
3 bilhões. Isso é produto, em grande parte, do
trabalho dos últimos 11 anos.
Hoje, ele não apenas se tornou sócio majoritário dos hotéis-cassino que lhe pertenceram integralmente em Atlantic City até 1989, mas reconquistou o Trump Tower, onde mora num
apartamento triplex de cobertura avaliado em
US$ 50 milhões, e construiu outros arranha-céus
em Manhattan e em outras partes do mundo,
como Las Vegas, Palm Beach, São Francisco e
Honolulu (nos EUA), Cidade do Panamá (Panamá), Seul (Coréia do Sul) e Dubai (Emirados
Árabes Unidos). Desde 2001, ele também é ator,
diretor e produtor de programas de televisão e
do reality show chamado The Apprentice, que é
transmitido uma vez por semana pelo canal NBC,
o qual paga US$ 3 milhões a Trump por episódio.
Donald Trump é também um dos proprietários do concurso Miss Universo, juntamente com
o canal de televisão NBC Universal, e desde 2007
tem uma estrela com o seu nome na famosa Calçada da Fama, em Hollywood.
Criador de Angus
[email protected]
36
Março/Abril de 2009
ENTREVISTA
As responsabilidades do criador inglês e brasileiro
Fotos: Divulgação/ABA
A entrevista a seguir foi concedida com exclusividade em janeiro deste
ano pelo Diretor Executivo da British
Livestock Genetics (BLG), Robert
Wills, ao médico veterinário e atual
gerente do Programa Carne Angus
Certificada, da Associação Brasileira de Angus (ABA), Fernando
Velloso, que realizou recente visita ao
Reino Unido. Nesta viagem Velloso
também participou da Cattle
Breeders Conference (em Telford, Inglaterra) e a teve a oportunidade de
conhecer diversos rebanhos na Inglaterra e na Escócia.
Conheça agora as visões e análises de Wills
sobre temas de flagrante interesse da raça
Aberdeen Angus e da pecuária brasileira de
modo geral.
Fernando Furtado Velloso (FFV) – O que é
a BLG e qual a sua função?
Roberto Wills (RW) – A BLG é uma organização pan industrial e tem por objetivo facilitar o
comércio para as companhias e indivíduos do
Reino Unido. É composta por 10 diretores entre
associações de raça de bovinos, ovinos, suínos,
caprinos e camelídeos. Foi inaugurada em 2001,
exatamente durante a crise da Aftosa no Reino
Unido, para coordenar e auxiliar a exportação de
genética. A facilitação do comércio, principalmente de genética bovina, a certificação de produtos e
processos e o auxílio aos produtores nos protocolos internacionais são nossas principais atividades.
A entidade vive do suporte de seus associados e
atualmente não conta mais com recursos do governo. Um trabalho que serviu de referência para
a criação da BLG é o da USLG (United States
Livestock Genetics).
FFV - Você conhece a Brazilian Cattle
Genetics (BCG*)?
* Brazilian Cattle Genetics (BCG) - Consórcio de exportação que conta com o apoio do governo brasileiro para divulgar a pecuária do País e
empresas do agronegócio no exterior. O BCG
conta com 18 empresas associadas, entre centrais
de inseminação e de embriões, empresas dos ramos de logística, de sementes, de nutrição, de pecuária e associações de criadores de gado.
RW – Não.
FFV – Este tipo de serviço é viável no Brasil?
RW – Sim, pois o Brasil tem boa genética de
diversas raças, como exemplo Angus (destaque à
variedade Red), Devon, Charolês Mocho. Porém
o status sanitário é um grande limitante. O
enfrentamento das questões sanitárias deve ser a
O enfrentamento das
questões sanitárias deve ser a
primeira tarefa a ser
realizada se o Brasil quiser
participar do mercado
internacional de genética
primeira tarefa a ser realizada se o Brasil quiser
participar do mercado internacional de genética.
Uma alternativa interessante para o Brasil é a produção de embriões em “rebanhos aprovados”. O
custo de produção de embriões no Brasil é muitíssimo menor que o que temos na Europa e este
pode ser um produto muito competitivo no mercado internacional. Na Inglaterra não conseguimos produzir embriões por menos de US$ 500,00
e sei que no Brasil estes custos são bem menores.
FFV – O modelo americano para este tipo
de serviço (USLG) é um bom modelo a ser seguido?
A grande diferença não está
somente no gado ou genética,
mas sim na abundância de
pasto e forragem que
oferecemos ao nosso gado
RW – Não, pois este serviço vive de recursos
do governo. No caso da BLG os recursos são todos privados (dos associados) e isto nos obriga a
sermos mais eficientes, pois nossos associados nos
cobram resultados efetivos.
FFV – Existe espaço para uso da genética do
Reino Unido no Brasil?
RW – Sim. O sistema de produção no Brasil é
baseado em pastagem e forragem. A produção de
gado no Reino Unido é exatamente da mesma forma: baseada em pastagem e forragem. Existem diferenças climáticas que devem ser consideradas, mas
os princípios são os mesmos. Nós temos custos de
produção altíssimos porque precisamos “encerrar”
grande parte do gado durante o inverno (para proteger o solo e o pasto, não para proteger o gado), o
custo do trabalho é muito alto e o combustível também é um insumo muito caro. Como exemplo,
saibam que 1 litro de diesel custa aproximadamente US$ 1,40 na Inglaterra. Com a mão de obra tão
cara as nossas propriedades são muito mecanizadas
e movidas a diesel. Qual é o princípio então? Somos obrigados a ter animais eficientes e que estejam prontos para o abate rapidamente.
FFV – E quais são as vantagens ou virtudes
da genética de gado de corte do Reino Unido?
RW – Eficiência, terminação rápida, qualidade de carne (potencial selecionado por via
genômica e por ultrassonografia), e genética “aberta” e com influência positiva de muitos países, pois
Robert Wills, de 59 anos, é graduado
em Administração Rural. Antes de iniciar sua carreira na Europa, trabalhou um
ano nos EUA com gado de corte e de leite. Por 20 anos trabalhou como produtor de leite na propriedade da família,
no Condado de Devon (Inglaterra): a
Narracombe Farm. Estas terras estão com
a sua família desde 1530 e já se vão seis
gerações vivendo do campo. Rob Wills
também atuou como diretor da Associação de Criadores de Gado Holandês da
Inglaterra por duas gestões. E desde 1991
passou a dedicar-se principalmente ao
mercado internacional de genética.
temos usado em uma base escocesa genética americana, principalmente, e em segundo lugar genética neozelandesa.
FFV - Com que idade e peso os animais são
abatidos?
BW – Com aproximadamente 18 meses (ou
menos) e com carcaças de 350kg ou mais.
FFV - Mas se vocês produzem carcaças tão
pesadas, como pode funcionar esta genética no
Brasil?
RW – A questão é que a grande diferença não
está somente no gado ou genética, mas sim na
abundância de pasto e forragem que oferecemos
ao nosso gado. Se o gado brasileiro tivesse o mesmo acesso que o nosso tem a qualidade e disponibilidade de alimento vocês também produziriam
carcaças bem pesadas. Eu tenho viajado ao Brasil
nos últimos 14 anos e conheço bem as condições
de criação no seu país.
FFV – Nosso gado é abatido com mais idade
e mais leve. Então nós estamos trabalhando mal
ou de forma errada?
RW – Não é tão simples. Vocês não estão totalmente errados, mas a questão é que vocês não
trabalham sob a mesma pressão que o produtor
britânico sofre por eficiência.
... vocês não têm a mesma
pressão que o produtor
britânico sofre por eficiência....
FFV – Pressão. Mas com subsídio? Fale-nos
mais sobre isto ...
RW – O mundo dos subsídios é um mundo
falso. Produtores com subsídios não pensam em
produção, mas sim em receber mais subsídios.
Desde 2004 perdemos os subsídios e aceleramos
o nosso trabalho com foco na eficiência. Buscamos a redução de custos, animais eficientes, terminação rápida, etc.
O mundo dos subsídios é um
mundo falso. Produtores
com subsídios não pensam
em produção, ma sim em
receber mais subsídio
FFV – Mas e os outros “dinheiros” que vem
do “envelope marrom” (Dinheiros na forma de
incentivos oficiais)? Estes recursos não são subsídios travestidos?
RW – Os subsídios eram baseados em “cabeças” de animais e agora são baseados em “área” e
com o objetivo de proteger o ambiente. Desta forma ocorre uma natural redução de lotação, porém este dinheiro vai acabar em 2011. Os produtores brasileiros também são subsidiados, pois após
o Protocolo de Kyoto, todos os países têm responsabilidade sobre os combustíveis fósseis e o
Brasil não está tributando suficientemente os combustíveis. Veja o valor do diesel no Brasil! Falar de
subsídios não é algo tão simples assim ...
Após o Protocolo de Kyoto, todos
os países têm responsabilidade
sobre os combustíveis fósseis e o
Brasil não está tributando
suficientemente os combustíveis
FFV – Mas e com toda esta pressão de custos o Reino Unido pode competir como um fornecedor de genética para o Brasil?
RW – Não é uma questão de poder competir,
pois nós temos que ser competitivos se quisermos
operar neste mercado. Temos condições, sim, de
sermos muito competitivos em preço e qualidade. Não falo somente em pequenos volumes para
projetos de genética, mas sim em grandes volumes para projetos comerciais e de cruzamento.
Você mesmo viu animais no
alto das montanhas na
Escócia e de “pelo fino”.
Não viu?
FFV – Mas genética de países tão frios irão
funcionar no Brasil em condições tropicais ou
subtropicais?
RW – Sim, pois temos uma variabilidade genética muito grande. De outra parte, o Reino
Unido não é tão frio como as pessoas pensam. A
temperatura média anual na Inglaterra é de 15°C.
De outra parte, o grande mercado é o cruzamento, e os animais F1 não apresentarão este tipo de
problema (falta de tolerância ao calor). Temos animais com muita facilidade para trocar de pelo nas
mudanças de estação. Você mesmo viu animais
>>>
ENTREVISTA
>>> no alto das montanhas na Escócia e de “pelo
fino”. Não viu?
FFV – Voltando à questão do produto final:
se nossos produtos (carcaças) são tão distintos,
pode haver espaço para esta genética no Brasil?
A criação no Reino Unido,
mesmo com gado confinado, é
baseada em silagem. Não é o
mesmo modelo americano,
que usa grãos e hormônios
RW - Sim. Na maioria das situações 100%
da genética britânica não poderá ser usada, mas a
influência de genética britânica e selecionada no
Reino Unido pode ser muito positiva para a qua-
lidade de carne e para a performance do gado brasileiro. A genética americana é baseada em grãos e
hormônios. Mas a criação no Reino Unido, mesmo com gado confinado, não usa hormônios e é
baseada em silagem. Não é o mesmo modelo
americano de confinamento.
FFV - Você sabe que os brasileiros não estão
muito felizes com o embargo a nossa carne.
RW – Lógico que sei. Mas precisamos esclarecer alguns pontos. O embargo à carne brasileira
não é uma medida do Reino Unido, mas sim de
toda a Europa e de seus 27 países. De outra parte,
é nosso dever proteger os nossos consumidores e
produtores. O que estamos pedindo ao Brasil é
exatamente o mesmo que exigimos de nossos produtores. De qualquer forma, produzimos somente 62% da carne bovina que consumimos e teremos que comprar de outros países os outros 38%.
O Reino Unido aprecia muito a carne brasileira e
ainda mais agora que se observa a influência de
raças britânicas no gado do Brasil (cruzamento) e
conseqüentemente a oferta de carne de melhor
qualidade. Bem, mas é preciso grifar: o Brasil precisa resolver seus problemas de rastreabilidade.
FFV - E a rastreabilidade no rebanho do Reino Unido, como isso é feito?
RW – Funciona muito bem e isto é consequência de 10 anos de história e aprendizado. No
nosso início os produtores também não concor-
Março/Abril de 2009
davam muito e alegavam que seria muito difícil
de executar em nível de fazenda. Hoje é assunto
vencido, pois os nossos produtores entenderam a
necessidade de atender e proteger o consumidor.
Nós temos que conquistar e manter a confiança
da “dona de casa”. Com a rastreabilidade nós conseguimos fazer isso, pois podemos controlar e, a
qualquer momento, suspender toda e qualquer
movimentação de gado, e assim bloquear a disseminação das doenças. Em épocas de crise a
rastreabilidade é sua melhor amiga. Nós olhamos
outros países, como os EUA, e sabemos que estes
países estão muito expostos a problemas sanitários em função da falta de um sistema de
rastreabilidade.
FFV - Quais as etapas no dia a dia da
rastreabilidade no Reino Unido?
RW – O sistema é bem simples e unificado em toda a Europa, e não somente no Rei-
...é nosso dever proteger os
nossos consumidores e
produtores. O que estamos
pedindo ao Brasil é
exatamente o mesmo que
exigimos de nossos
produtores...
37
no Unido.
Funciona assim:
Etapa 1 - Identificar todos os bezerros no máximo até 48 horas após o nascimento. É utilizado um
Nós temos que conquistar e
manter a confiança da
“dona de casa”. Com a
rastreabilidade nós
conseguimos fazer isso...
brinco padrão em toda e a Europa.
Etapa 2 - Comunicar dentro das 48 horas após o
nascimento, aos órgãos oficiais. Este registro pode
ser feito via internet ou diretamente por telefone.
Etapa 3 - É emitido um passaporte individual
para cada animal. Neste documento constam informações de idade, raça, cruzamentos, movimentações,
etc.
Etapa 4 - O governo pode checar a qualquer
momento a sua propriedade e verificar se os animais
estão devidamente identificados, etc.
FFV – E os produtores aderiram a este sistema?
RW – Não há opção. Sem o passaporte não
são permitidas movimentações e comercialização
de animais e não há dinheiro. O sistema é simples, rígido e compulsório em toda Europa.
OPINIÃO
Quem compra nossa carne?
Tabela 1
Participação dos principais importadores de carne bovina in natura do Brasil e preço
médio pago em dólares no período de 2001 a 2008
Importador
Rússia
Por Julio Barcellos
e Paulo Rodrigo Pereira
O aumento da produção da pecuária bovina no Brasil, associado à diminuição da produção em outras regiões do planeta e ao aumento
da renda em vários países, são os possíveis fatores que contribuíram para o rápido crescimento das exportações brasileiras de carne bovina
nos últimos anos. No ano de 2007 foram exportados pelo país 2,4 milhões de toneladas
equivalente carcaça (EC) contra 290 mil toneladas em 1997, um aumento próximo a 730%
que impulsionou o Brasil de 6º para 1º lugar
no ranking dos maiores exportadores de carne
bovina. Esse crescimento é decorrente exclusivamente do aumento na comercialização de
carne in natura, que registrou uma elevação de
2344% nesse período.
bserva-se, no entanto, que a pujança da
cadeia produtiva da carne bovina se deve
principalmente ao segmento de carne
congelada, produto que responde por cerca de
85% da carne in natura exportada pelo Brasil.
Esse produto é geralmente destinado a indústria
de processamento e alcança um valor comercial
43% mais baixo do que a carne resfriada. A
Rússia, que em volume é o principal cliente do
O
% volume Importado
24,8
% Faturamento
22,5
Preço Médio US$
2.518
União Européia
18,3
29,5
4.473
Egito
12,5
8,8
1.994
Chile
6,0
4,6
2.131
Iran
4,7
4,4
2.585
Arábia Saudita
4,3
3,5
2.255
Venezuela
2,6
3,3
3.562
Outros
26,8
23,4
2.412
Brasil, importa quase que exclusivamente carne
congelada e paga cerca de 23% a menos que a
média do mercado, semelhante a clientes como
Egito, Iran, Arábia Saudita e outros. De maneira geral, os clientes brasileiros são países classificados como de menor desenvolvimento econômico, composto por uma população de baixa
renda e que não tem na carne bovina a sua principal fonte de proteína animal. Ao passo que
países desenvolvidos como Japão, EUA e Coréia
do Sul, não são clientes do Brasil em função das
demandas envolvendo questões sanitárias,
rastreabilidade e certificação. A exceção fica por
conta do Chile e da União Européia, sendo que
este último, até a suspensão das importações
ocorrida no início do ano de 2008 era o maior
cliente para carne resfriada, sendo responsável
por 29,5% do faturamento das exportações brasileiras de carne bovina (Tabela 1).
Embora a União Européia pague a outros
exportadores preços superiores aos que paga aos
Brasil, é com este parceiro comercial que se consegue obter a melhor relação entre preço e volume. A perda de um parceiro de tal importância
significa perder um mercado que rendeu ao Brasil nos últimos 10 anos um montante superior a
5,4 bilhões de dólares em divisas. O efeito da
suspensão das importações européias já pôde ser
observado na carne bovina mais valorizada, uma
vez que o volume exportado de carne resfriada
desossada foi reduzido em 62% de 2007 para
2008, e os reflexos na pauta de exportação da
pecuária bovina só não foram maiores em função do aumento geral de preços das commodities
observados no ano passado. Todavia, é possível
estimar que as receitas nas exportações de carne
bovina poderiam ser em torno de 15% maiores
em 2008 se o volume exportado para a União
Européia se mantivesse semelhante ao observado no ano de 2007, o que corresponderia a um
montante próximo a 500 milhões de dólares.
Essa suspensão das importações por parte da
UE foi motivada por questões relacionadas à
rastreabilidade e ao descumprimento dos requisitos necessários para o ingresso de carne bovina
neste mercado, e também relativa à inobservância
dos compromissos firmados junto a Comissão
Européia. No entanto, outros fatores que envolvem questões como sanidade, taxa de câmbio,
cotas e tarifas de importação vêm se configurando como um fator limitante ao acesso de mercados mais rentáveis.
Tais fragilidades, no entanto, não impactam
apenas o comércio exportador, mas refletem também no desempenho econômico de produtores
rurais e outros agentes envolvidos na cadeia produtiva, impedindo que o segmento do
agronegócio se desenvolva de maneira sustentada. O Brasil tem condições de não ser apenas
um fornecedor de carne barata para países de
baixa renda, e pode com certeza se tornar no
futuro referência para consumidores de produtos diferenciados. Os primeiros passos nesse sentido já estão sendo dados, como os programas
de certificação de carne por meio de alianças
mercadológicas entre produtores, associações de
criadores, frigoríficos e redes varejistas. No entanto, é imprescindível também que se priorize
de maneira política o contínuo fomento de pesquisa e tecnologia, buscando disseminar e
implementar técnicas produtivas viáveis, criar
metas e estabelecer estratégias para que
agronegócio pecuário brasileiro ganhe vantagens
competitivas que se convertam em vantagens
econômicas tanto para indústria como para o
produtor rural.
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegocios
e Departamento de Zootecnia – UFRGS
[email protected]
38
Março/Abril de 2009
ARTIGO
100 Anos de Melhoramento Bovino
Por Leonardo Talavera Campos
Em comemoração ao centenário
do I Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul, realizado em 1908 na cidade de Pelotas, a Associação Rural
Actas:
de Pelotas publicou o livro “Actas:
A Classe Rural Resgatando as Raízes
de sua História”, Editora Textos, tendo como organizadores: Darcy Trilho Otero e Elmar Carlos Hadler www.associacaoruraldepelotas.com.br.
ara mim é motivo de orgulho, que
meu bisavô Leonardo Brasil
Collares, fundador do nosso Herd
Book, tenha sido bastante participativo,
contribuindo em diversas das diferentes
“commissões” de congressistas, que resultaram nas 32 “theses”, que bem demonstram o alcance visionário de seus integrantes.
A essas “theses” agora foram elaborados e adicionados comentários de produtores rurais e especialistas ligados à área
agronômica, comparando duas realidades
extremas no transcorrer de 100 anos. A
seguir apresento o meu comentário a respeito do tema da 11 a These:
- Se há cem anos atrás, por ocasião do
I Congresso Agrícola, estivéssemos de
posse de todo o conhecimento de genética e melhoramento hoje disponível, o que
poderíamos indicar em relação a esta tese:
“O que convêm fazer mais para melhorar o
gado crioulo: selecionar ou cruzar? Nesta
última hipótese, quais as raças preferidas
para corte, leite e trabalho?”
Hoje sabemos que o nosso gado crioulo teve como origem animais introduzidos na fase de colonização por portugueses e espanhóis. Estes bovinos sacrifi-
P
caram, na definição de seu biótipo, os
aspectos produtivos, em termos de ganho de peso e características de carcaça, favorecendo os aspectos de reprodução e de
adaptação ao ambiente hostil e muito diferente em relação à sua região de origem
européia.
Em primeiro lugar indicaríamos a preservação de parte importante destes recursos genéticos representados pelo
“pool” de genes presente na população do
nosso gado crioulo primitivo seja através
da formação e manutenção de populações
controles, seja através do congelamento
de material genético – sêmen e embriões.
Adicionalmente destacaríamos a importância de combinar as duas ferramentas básicas para melhoramento da efici-
da seleção de touros pais. Como a maioria destes touros é adquirida nas cabanhas
(nestes estabelecimentos especializados na
produção de animais para reprodução), o
produtor comercial está à mercê de seus
colegas cabanheiros.
Infelizmente, hoje em dia, ainda existem muitos produtores, incluindo os
cabanheiros, que não medem características importantes economicamente e não
mantém registros, exceto para itens tais
como dia de nascimento, pai, mãe e sexo.
Assim, a ferramenta básica e mais simples
para o melhoramento genético não está
sendo usada de forma efetiva pelo segmento que, supostamente, deve suprir
com material genético melhorado o setor
comercial.
Actas, publicada em Pelotas para comemorar
os 100 anos de seleção genética
Às “theses” de 1908, agora foram elaborados e adicionados
comentários de produtores rurais e especialistas ligados
à área agronômica, comparando duas realidades
extremas no transcorrer de 100 anos
ência de produção dos rebanhos comerciais – seleção e cruzamentos.
A seleção de reprodutores é o instrumento básico para o melhoramento da
eficiência da produção de carne bovina,
e refere-se à decisão tomada pelo criador
de manter alguns animais como
reprodutores e eliminar outros, bem como
sua intensidade de utilização. Para a seleção ser efetiva é necessário um sistema
acurado para identificar os animais superiores. Isto exige que esta superioridade
seja julgada por algumas medidas objetivas, tomadas em características importantes economicamente, que sejam herdáveis.
Neste caso, um sistema de coleta de registros é absolutamente essencial.
Todo o melhoramento que o criador
de animais de raça pura - puros de origem e puros controlados (designados também como puros por cruzamento) - pode
conseguir é obtido através da seleção. As
tecnologias elaboradas atualmente disponíveis aos produtores de reprodutores
(chamados de cabanheiros) ajudam a melhorar a exatidão e a efetividade da seleção.
A maior parte do melhoramento que
o produtor comercial pode conseguir também é obtida pela seleção. Quase cem por
cento do melhoramento feito nos rebanhos comerciais através da seleção, vêm
Os sistemas de acasalamentos representam o segundo instrumento disponível para o criador elevar o potencial
genético de seu gado e referem-se à forma com que seus progenitores, previamente selecionados, são acasalados. Portanto, um sistema de acasalamentos é secundário a um sistema de seleção. O sistema de acasalamento mais importante,
em termos de produção comercial‚ é o
cruzamento entre raças.
uzamento tem sido amplamenO c rruzamento
te aceito como uma forma de utilizar a
heterose e também de obter a vantagem
da complementaridade entre raças. A base
para o cruzamento é a existência de raças
puras superiores geneticamente. Um ponto crítico, importante de ser lembrado, é
que o cruzamento não é um antídoto para
hereditariedade inferior. A máxima produtividade na produção comercial depende de maximizar tanto a heterose como a
freqüência de genes desejáveis (via seleção).
Para finalizar, gostaríamos de tecer a
seguir alguns comentários sobre algumas
das conclusões proferidas pelos autores da
11a Tese.
1 a conclusão: “Que o método de seleção
como base de melhoramento do gado crioulo não trará, na atualidade, os resultados
almejados, quer pelo tempo necessário para
o fim que se busca, quer pela falta de um
tipo aceitável, que sirva de guia”.
A luz do conhecimento que se tem
hoje, poderíamos recomendar a introdução na população de maior variabilidade,
heterose e características desejáveis e/ou
complementares através de cruzamentos
com raças taurinas e/ou zebuínas e seleção embasada em metodologia científica
como a disponibilizada pelo Programa de
Melhoramento de Bovinos de Carne –
PROMEBO ®.
2 a conclusão: “Aconselha o cruzamento contínuo com reprodutores puros
das raças mais preconizadas, entendendo
que a vantagem de uma raça depende: A)
das condições do campo que se vai
explorá-las, B) do fim da exploração”.
O cruzamento contínuo, entendido
como cruzamento de absorção, que foi
utilizado maciçamente durante o século
passado na maioria dos rebanhos comerciais, pode não ter sido a melhor alternativa. Em muitas situações, poder-se-ia
introduzir variabilidade e características
desejáveis através de cruzamentos. E não
seguir, continuamente, num processo de
absorção, mas sim selecionar, a partir daí,
biótipos mais adequados e específicos para
os diferentes sistemas de produção e condições ecológicas e ambientais do nosso
país.
Engenheiro Agrônomo
Coordenador Técnico do PROMEBO®
Superintendente da Associação Nacional de
Criadores “Herd-Book Collares”
([email protected])
OPINIÃO
Março/Abril de 2009
39
Carne bovina: cuidado com as meias verdades
Por Fabiano R. Tito Rosa
“Uma meia verdade é pior do que uma mentira”. Essa foi uma das primeiras e mais importantes lições que aprendi na Scot Consultoria.
Uma mentira é fácil de ser rebatida. Já as meias
verdades causam confusão e, muitas vezes, empurram discussões relevantes para o campo da
futilidade.
A
preocupação com as meias verdades é de extrema valia para quem trabalha com números, pois eles são (para o bem e para o mal)
manipuláveis. Sempre é possível ajusta-los para que
reforcem um argumento que, muitas vezes, não é
válido por inteiro. Trata-se, portanto, de uma meia
verdade.
A má fé, a falta de conhecimento, a preguiça ou
a incompetência pura e simples estão sempre por
traz da chamada meia verdade. Dois exemplos recentes:
1 – Para cada quilograma de carne bovina produzida são emitidos 13 quilogramas de CO2 equivalente. Isso significa que, ao se alimentar com um
quilo de bife, emite-se a mesma quantidade de gases
de efeito estufa de um vôo de 100 quilômetros (O
Rastro da Pecuária na Amazônia – relatório do
Greenpeace).
2 – Em um hectare, que poderia render 22.500
kg de batata ou outra hortaliça, são produzidos 185
kg de carne. Além disso, o consumo de água é impressionante. Para cada quilo de carne produzido,
são necessários 20 a 30 mil litros de água (Fazer churrasco é ruim para o meio ambiente? – matéria da
revista Galileu).
O boi não é só carne
O primeiro ato falho, dessas duas afirmações,
está no fato de relacionar a produção de CO2, a
ocupação de área e o consumo de água por parte
dos bovinos apenas à produção de carne. O boi,
como qualquer fornecedor de insumos
agropecuários, pecuarista ou profissional da indústria frigorífica sabe, é uma verdadeira fábrica de
matéria-prima.
Um bovino adulto, ao ser abatido, gera mais ou
menos 202 quilos de carne; 48 quilos de miúdos; 40
quilos de pele (couro); 27 quilos de farinha (de sangue e carne e ossos); 12 quilos de sebo; 0,25 quilos de
bile, cálculo biliar e coisas do gênero; 1,22 quilos de
pêlo de orelha, cascos, pêlo de rabo, etc. Esses derivados bovinos irão alimentar 49 segmentos industriais
diferentes: energia, alimentação, nutrição animal, higiene e limpeza, farmacêutico, moveleiro, calçados,
equipamentos de segurança e outros.
Vamos seguir apenas o couro, como exemplo.
As indústrias calçadistas, moveleiras, automotivas e
de artefatos diversos dependem do couro. As indústrias de gelatina, de cola e de dog toy dependem de
subprodutos do couro (raspas e aparas). As indústrias de alimentação, as farmacêuticas e as de cosméticos usam a gelatina. E por aí vai.
Quem quiser pode acessar um fluxograma simplificado dos derivados do abate no site do Serviço
de Informação da Carne (SIC): http://
www.sic.org.br/praqueserve.asp. Enquanto redigia
este texto eu estava olhando esse fluxograma e realmente me convenci de que a produção e o abate de
bovinos é uma maneira bastante eficiente de se usar
30 mil litros de água ou 13 quilogramas de CO2. É
bem melhor do que fazê-lo num ineficiente vôo de
100 quilômetros.
Outra escorregada, relacionada à emissão de
gases de efeito estufa pelos bovinos, está no fato de
“análises” desse tipo nunca considerarem o seqüestro de CO2 que é realizado pelas pastagens. Parece
que só vale inserir o pasto, dentro do sistema de produção de carne, se é para tratar do desmatamento.
Seqüestro de carbono não conta.
Aliás, por falar em desmatamento, números da
Scot Consultoria apontam que, entre 2001 e 2008,
a área de pastagem do Brasil encolheu 2%, o equivalente a mais de 2,7 milhões de hectares, reduzindo a pressão sobre as florestas e liberando mais espaço para a agricultura. Ao mesmo tempo, o rebanho
cresceu 10%, a produção de carne 39% e as exportações 161%, mesmo considerando o ajuste produtivo dos últimos dois anos.
Isso só foi possível graças à incorporação de
tecnologia. E é justamente esse o caminho para que
o agronegócio da carne bovina se mantenha em crescimento sustentado, tanto do ponto de vista econômico quanto no que diz respeito às questões sócioambientais.
Benefícios da tecnologia
A incorporação de tecnologia promove a
melhoria dos resultados econômicos, pois dilui custos fixos e gera aumento de receita. Sistemas
tecnificados também agridem menos o ambiente,
pois os animais são abatidos mais jovens e, portanto, emitem menos poluentes e utilizam menos água
por kg de carne produzida. É preciso considerar também que as pastagens adubadas são mais eficientes
no seqüestro de CO2 e que, quanto mais gado por
área, menos necessidade de terra.
O Brasil pode, facilmente, dobrar a produção
de carne sem aumentar em mais um ha a área de
pastagem. Aliás, pode dar esse salto mesmo cedendo ainda mais espaço para a agricultura, desde que
acelere o ritmo de adoção de tecnologia no campo.
Para tanto, o produtor de gado de corte precisa
estar bem informado (ter conhecimento dos benefícios relacionados ao aumento da produtividade e das
técnicas que se encaixam ao seu sistema de produção), motivado (através de preços remuneradores e
de linhas de crédito acessíveis) e, talvez o mais importante, amparado por um eficiente modelo de
gestão (que facilita a obtenção de recursos, permite
a realização de análises de benefício x custo e o auxilia na correta implantação e utilização das tecnologias
disponíveis).
A partir do momento em que se oferecem tais
condições aos pecuaristas, se torna mais fácil, e justo, cobrar contrapartidas ambientais. Todo mundo
sai ganhando.
B elo estrago
Para dar um “toque de glamour”, a matéria da
revista Galileu veio ilustrada com a foto de um gaúcho, em trajes típicos, fazendo churrasco. No canto
inferior esquerdo, o comentário: “o gaúcho prepara
seu churrasco e dá uma poluidinha no ambiente, o
que não é nada se comparado com o estrago feito
por quem criou o animal”.
É... o agronegócio da carne bovina sustenta, no
Brasil, algumas dezenas de segmentos industriais
diferentes, produz quase 10 milhões de toneladas
de alimento, responde por 20 milhões de empregos
e injeta US$5,1 bilhões, na economia, só através de
exportações. Se incluirmos nesse “bolo” o
agronegócio do couro, as exportações alcançam
US$9,2 bilhões. Belo estrago!
Existem ONGs e veículos de mídia não
especializados que buscam discutir, de forma responsável, a questão da produção de carne bovina no Brasil. Avaliam, de um lado, a importância econômica
da atividade e o seu potencial em termos de geração
de riqueza. De outro, analisam também os impactos
ambientais relacionados ao clima e à perda de
biodiversidade. Assim, contribuem para um debate
construtivo, com o objetivo de encontrar um caminho onde a produção de carne e o meio ambiente coexistam da forma mais harmoniosa (ou menos
conflituosa) possível. Afinal, precisamos de ambos.
Infelizmente, porém, alguns grupos estão interessados apenas em incitar polêmicas; e de forma
bastante irresponsável, diga-se de passagem. Portanto, cuidado com o que você anda lendo. Volto a
afirmar: meias verdades só servem para causar confusão e empurrar discussões relevantes para o campo da futilidade.
Não seja fútil.
Zootecnista- Scot Consultoria
[email protected]
40
Março/Abril de 2009

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