icon-download Jornal Público [30 de Junho de 2013]

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O Porto tem um clube de costura à
antiga que até é uma coisa modernaça
Vintage for a Cause tem em Katty Xiomara uma das madrinhas e é um projecto de empreendedorismo
social, contra a solidão de mulheres com mais de 50 anos. Vai alargar-se a Lisboa e outras cidades
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
Solidariedade
Sara Dias Oliveira
Fernanda Magalhães é a primeira a
chegar a este 2.º andar da Rua Santa
Catarina, no Porto. Na mesa estão
os instrumentos de que precisa:
tesouras, botões antigos, alfinetes,
rendas. Fernanda tem 50 anos e é
a mais nova do grupo de senhoras
do projecto de empreendedorismo
social Vintage for a Cause. É um clube de costura que reúne dez costureiras de circunstância, duas tardes
por semana.
Dedicam-se a transformar roupas
vintage em peças únicas. É o que fazem entre conversas sobre o último
jantar que fizeram juntas, a produção fotográfica feita para o projecto,
os 60 centavos que no seu tempo
pagavam se quisessem mudar o nome de solteira, as fotos que os mais
novos tiram com o telemóvel e que
ficam maravilhosas.
Fernanda não saía do sofá lá de
casa desde que enviuvou. Costureira
de marroquinaria, desempregada,
foi desafiada a espreitar o que se passa aqui. “Agora tenho este compromisso, agora saio de casa.” Tirou do
armário a saia preta de veludo que
há anos deixou de lhe servir. Mudoulhe o botão, colocou-lhe uma franja,
doou a peça ao projecto.
Ivone Pinho, 65 anos, admite que
a costura não é a sua praia. Pouco
importa. Dá ideias para alterações
de peças que são partilhadas com os
estilistas que apadrinham o projecto – Katty Xiomara, André Gandra,
Mariana da Fonseca, Carolina Veloso
e Lia Oliveira – entre outros parceiros
que, voluntariamente, contribuem
com conhecimentos e talento. Escutam as sugestões das mulheres,
orientam-nas. Ivone aprecia essa
parte e também pega na agulha.
Conta que está a fazer um trabalho
de cerâmica. Um casal de minhotos
estilizado. “Quando estiver pronto,
trago fotografias”, promete.
Maria das Dores, 66 anos, esteve
quatro décadas ao serviço da Câmara do Porto, tem um curso industrial
para dar aulas de lavores e é fã de
ponto de cruz. Trouxe a máquina de
costura e acabou por ficar no clube.
“Gosto muito de conviver. Cheguei
cá e não conhecia ninguém.” Numa
pausa da costura, passa a uma colega
a receita de um bolo de cenoura.
As promotoras do projecto garantem que os resultados desta fase-piloto superaram as expectativas
Cada peça tem uma história
C
ada peça de roupa do
Vintage for a Cause tem
uma etiqueta bordada à
mão por Teresa Monteiro,
de 65 anos, outra das senhoras
do grupo. Uma mão e um braço
vermelhos bordados por uma
mulher que foi costureira de
alfaiate. Além da etiqueta,
cada peça é acompanhada por
um pequeno texto que conta
a sua história. Márcia Coelho
mostra um exemplo: “Uma saia
condenada ao esquecimento no
armário da D. Alice, costureira
de profissão...” Os pormenores
emocionais são importantes
para o projecto Vintage for
a Cause. As memórias não
se querem esquecidas, são
chamadas a integrar o processo.
O texto contará a história da
peça de vestuário em questão
e da pessoa que a doou, bem
como referência a quem a
transformou e um convite à
futura dona para partilhar a
continuidade do seu percurso
na Internet. “Roupa única
com história”, resume Márcia
Coelho. E já há mais uma
ideia em concretização: uma
colecção de brincos feitos a
partir de botões de vestidos de
noiva que funcionará com um
cartão de visita do projecto. O
clube de costura já pensa no
merchandising.
Ana Maria Ribeiro, 63 anos, nascida e criada na Foz, ouviu falar do
Vintage. Ficou curiosa. “Vou ver o
que é. Gostei e fiquei. É muito criativo”, comenta esta ex-técnica administrativa. “Fiz novas amigas e gosto
de modificar coisas. Basta mudar os
botões e a roupa já fica completamente diferente.”
A advogada Helena Antónia, a
educóloga Márcia Coelho e a gestora Isabel Fontes conheceram-se
numa pós-graduação de Empreendedorismo Social. Idealizaram o
Vintage for a Cause nos três dias de
um bootcamp (encontro para fazer
preparação física ao estilo militar)
da Fundação Porto Social (FSP), da
Câmara do Porto.
A fase-piloto do Vintage começou em Fevereiro e está prestes a
terminar. A 20 de Julho, na Quinta
da Bonjóia, sede da FSP, o projecto
é formalmente apresentado com as
senhoras e 50 peças que irão a leilão.
A receita será reinvestida. “O objectivo é que o Vintage seja auto-sustentável”, sublinha Márcia Coelho.
Projecto premiado
O impacto do projecto, um dos 51
premiados no Concurso EDP Solidária, está a ser avaliado por psicólogos
em entrevistas individuais. Mas há
sinais positivas. Relações de amizade, jantares em comum, alegrias e
tristezas partilhadas, auto-estima revigorada. Em Setembro, o Vintage
vai ganhar escala, ficando com núcleos no Porto, Lisboa, Santo Tirso
e Maia, para, no espaço de um ano,
trabalhar com 200 mulheres e apresentar quatro colecções. “Teremos
manhãs e tardes ocupadas”, adianta
Isabel Fontes. Helena Antónia está
satisfeita com a evolução do Vintage.
“Superou as expectativas e queremos provar que é sustentável.”