e-Terra Da deformação finita à cinemática da zona de cisalhamento

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e-Terra Da deformação finita à cinemática da zona de cisalhamento
e-Terra
http://e-terra.geopor.pt
ISSN 1645-0388
Volume 11 – nº 27
2010
Revista Electrónica de Ciências da Terra
Geosciences On-line Journal
GEOTIC – Sociedade Geológica de Portugal
VIII Congresso Nacional de Geologia
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Da deformação finita à cinemática da zona de cisalhamento de
Aguelmous - Mrirt (Meseta central, Marrocos): implicações
geodinâmicas
From finite strain to the kinematics of the Aguelmous - Mrirt shear
zone: geodynamical implications
R. DIAS – [email protected] (Universidade de Évora, Departamento de Geociências, Laboratório de Investigação
de Rochas Industriais e Ornamentais e Centro de Geofísica de Évora)
H. EL OUARDI – [email protected] (Universidade de Meknès, Departamento de Geociências)
P. ALMEIDA – [email protected] (Universidade de Évora, Laboratório de Investigação de Rochas
Industriais e Ornamentais e Centro de Geofísica de Évora)
RESUMO: A zona de cisalhamento varisca de Tata no Anti-Atlas constitui um análogo menor das zonas de
cisalhamento direitas E-W variscas, tornando-a ideal para a compreensão cinemática deste orógeno. Esta
zona induz uma deflexão acentuada das estruturas NNE-SSW, associadas à principal fase de deformação
Varisca, para E-W. O facto da deformação varisca, neste caso, ter ocorrido em níveis estruturais
superiores, dificulta a compreensão da génese destes cisalhamentos. A quantificação da deformação finita
em quartzitos desta estrutura permite a compreensão dos processos associados à sua génese.
PALAVRAS-CHAVE: Varisco, Anti-Atlas, Marrocos, Zona de Cisalhamento de Tata, Quantificação da
deformação finita.
ABSTRACT: The Tata shear zone in the Anti-Atlas is a smaller analog of the major E-W dextral Variscan
shears zones; it is ideal for the understanding of the kinematics of this orogeny. This shear zone induces a
strong deflection of the regional NNE-SSW trend of structures related to the first and main variscan
deformation event, for a E-W trend. The Variscan deformation in the area is typical of the upper
structural levels, turning difficult the understanding the genesis of these shear zones. The finite strain
studies in quartzites along the shear zone allow a better understanding of its kinematics.
KEYWORDS: Paleozoic, Variscan, Central Massif, Morocco, Aguelmous Shear Zone.
1. INTRODUÇÃO
O Maciço Central marroquino apresenta uma orientação geral das estruturas variscas NE-SW
que é semelhante à generalidade do resto do orógeno Varisco em Marrocos. No entanto, esta
homogeneidade é quebrada ao nível da região de Aguelmous-Mrirt onde as estruturas são
rodadas adquirindo uma orientação geral E-W; esta deflexão é compatível com a existência de
uma zona de cisalhamento E-W direita, o que está de acordo com a cinemática da colisão oblíqua
entre a Laurência e a Gondwana durante o Paleozóico inferior (ver Almeida et al, neste
congresso para mais detalhes). Tendo em vista compreender melhor a cinemática desta zona de
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cisalhamento foram colhidas uma série de amostras nos quartzitos do Ordovícico inferior ao
longo da estrutura para quantificação da deformação finita; o padrão obtido ajuda a compreender
melhor, não só a génese desta estrutura, mas também a influência dos grandes acidentes E-W
direitos no Varisco marroquino.
2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO
O Maciço Central em Marrocos (Michard, 1976) pode ser subdividido em dois períodos: o
Paleozóico inferior caracterizado por uma sedimentação essencialmente detrítica e o Paleozóico
superior com uma sedimentação variada que indica desde uma plataforma carbonatada
(Devónico inferior e médio) até séries flyschóides (Viseano - Namuriano). No sector leste do
maciço, depois de uma lacuna do Câmbrico superior - Ordovícico inferior, o Ordovícico é
transgressivo com depósitos detríticos na base; é nesta última sequência que se integram as
rochas agora estudadas da região de Aguelmous.
Quanto à deformação varisca, no Maciço Central ela ocorre durante o Carbónico originando
dobras NNE-SSW a ENE-WSW sin-xistosas associadas a um metamorfismo regional baixo
(fácies dos xistos verdes). Os granitóides, com idades isotópicas variando entre 320 e 280 Ma
(Giuliani & Sonet, 1982 ; Cheilletz & Zimmerman, 1982 ; Cheilletz, 1984 ; Nerci, 2006),
intruem sob a forma de pequenos maciços circunscritos desenvolvendo um metamorfismo
térmico.
Esta deformação origina estruturas com uma orientação geral NE-SW (Fig. 1) que, na região
de Aguelmous sofrem uma brusca inflexão local adquirindo uma orientação E-W a ENE-WSW,
bem marcada na geomorfologia pela existência da barra quartzítica do Ordovícico. Esta rotação
das estruturas, bem visível ao nível das formações flyschóides de um lado e doutro do maciço
granítico de Ment (Fig. 2), é uma das manifestações mais evidentes da zona de cisalhamento de
Aguelmous (zcAguelmous), enfatizando a sua cinemática direita; os estudos de quantificação da
deformação finita agora realizados nos quartzitos do Ordovícico contribuem para compreender
melhor a génese desta virgação.
Figura 1 - Zonamento estrutural do maciço central marroquino (adapt. Bouabdelli, 1989). 1- anticlinal do
bloco costeiro; 2- sinclinal ocidental; 3- anticlinal de Khouribga – Oulmes; 4- sinclinal de Fourhal - Telt;
5- anticlinal de Kasbat - Tadla - Azrou
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Figura 2 - Esquema estrutural do sector oriental do maciço central marroquino com a localização das
amostras recolhidas tendo em vista a quantificação da deformação finita (adapt. Bouabdelli, 1989).
3. RESULTADOS
Os elipsóides de deformação finita obtidos apresentam um predomínio das atitudes dos eixos
maiores em torno da direcção N-S, situação que à partida não seria de esperar tendo em conta a
forte rotação das estruturas induzida pela zcAguelmous. No entanto, a interpretação dos padrões
de deformação não é um processo linear, visto que os elipsóides obtidos são o resultado da
conjugação de uma série de processos de processos de deformação, dos quais importa realçar a
compactação diagenética, os mecanismos de dobramento que estiveram activos durante a
deformação varisca, bem como os fenómenos de partição da deformação, que podem levar a que
bancadas adjacentes apresentem comportamentos diferentes. O facto do padrão obtido ser
diferente e mais complexo do que o obtido para a zona de cisalhamento de Tata (almeida & Dias,
2010), uma estrutura varisca semelhante existente no Anti Atlas de Marrocos, reflectirá
essencialmente as diferenças regionais na deformação dos dois locais, em especial a diferença
entre uma situação de deformação essencialmente monofásica característica de um andar
estrutural superior de Tata e a deformação mais complexa com dobras e carreamentos da região
de Aguelmous.
Agradecimentos
Parte deste trabalho foi financiado pelo Projecto de Cooperação CNRST(MARROCOS)/ GRICES
(Portugal) - Importância dos Cisalhamentos direitos E-W; de Tantan à Ibéria.
Referências
Almeida, P. & Dias, R. (2010) – Zona de cisalhamento direita de Tata (Anti Atlas, Marrocos): um análogo menor
das grandes estruturas E-W variscas? Resumos ao VIII Congresso Nacional de Geologia, Braga.
Bouabdelli M. (1989) – Tectonique et sédimentation dans un bassin orogénique : le sillon viséen d’Azrou-Khénifra
(Est du massif hercynien central du Maroc). Thèse de Doctorat ès-Sciences, Univ. Louis Pasteur, Strasbourg,
262 p.
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Cheilletz A. (1984) – Contribution à la gîtologie du district polymétallique (W, Mo, Cu, Pb, Zn, Ag) du Jebel Aouam
(Maroc central, Application à la prospection des gisements de tungstène). Thèse de Doctorat ès-Sciences, I. N.
P. L. Nancy, 250 p.
Cheilletz A. & Zimmerman J. L. (1982) – Datation par la méthode K-Ar du complexe intrusif et des minéralisations
en tungstène du Jebel Aouam (Maroc central). C. R. Acad. Sc. Paris, 295, pp. 255-258.
Giuliani G. & Sonet J. (1982,) – Contribution à l’étude géochronologique du massif granitique hercynien des Zaër
(massif central marocain). C. R. Acad. Sc. Paris, 294, II, pp. 139-143.
Michard A. (1976) – Eléments de géologie marocaine. Notes et Mém. Serv. Géol. Maroc, 252, 422 p.
Nerci K. (2006) – Les minéralisations aurifères du district polymétallique de Tighza (Maroc central) : un exemple
de mise en place périgranitique tardi-hercynienne. Thèse de 3ème cycle, Univ. d’Orléans et Fac. Sci., 210 p.
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