INVENTÁRIO DO GRUPO DA PAZ 1996 A 2002
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INVENTÁRIO DO GRUPO DA PAZ 1996 A 2002
TUDO O QUE FAZEMOS TEM DE SER MOVIDO PELO DESEJO DE LEVAR A MENSAGEM AO ADICTO QUE AINDA SOFRE. Sobre a Aventura de Levar a mensagem: Grupo da Paz! Reunir as partilhas de alguns companheiros que vivenciaram esta aventura e publicá-las com o objetivo não apenas de registrar nossa história, mas com o intuito de incentivar nossos membros a levar a mensagem ao adicto que ainda sofre. Especialmente, os milhares que se encontram presos, porque foram apanhados. Levar a reunião de NA até eles, fazer com que (os que tiverem o desejo) o programa de 12 passos possa ser conhecido e experimentado. Para que nenhum adicto, em nenhum lugar, precise morrer dos horrores da adicção ativa sem ter a chance de encontrar recuperação. Nós acreditamos! Somos adictos e o nosso problema é a adicção. A única coisa que NA promete é a libertação da doença da adicção. Nós nos recuperamos! Nada se compara ao valor terapêutico da ajuda de um adicto a outro. Nós nos importamos! Por isso e após lerem as partilhas do Grupo da Paz, leiam algumas histórias do Projeto Cartas que dá continuidade ao serviço de H&I que não para e fazem deste livro uma visão de esperança. Ao encontrar este livro, se você for um adicto e tiver o desejo de servir, procure uma estrutura de H&I e ou de Longo Alcance e prepara-te para uma aventura! ATENÇÃO AO BREVE RECADO: ESTE TRABALHO ESTÁ EM ANDAMENTO E POR DECISÃO DOS MCR’S DAS ÁREAS QUE COMPÕE O COMITÊ DE SERVIÇO DA REGIÃO GRANDE SÃO PAULO ESTÁ SENDO ENVIADO NO PROPÓSITO DE INCENTIVAR O CRESCIMENTO DOS SERVIÇOS DE H&I, IP e ESFORÇOS DE LONGO ALCANCE, BEM COMO DE LINHA DE AJUDA E OUTROS. ------------------------------------------------------------------POR NÃO TRATAR-SE DE LITERATURA APROVADA DE NARCÓTICOS ANÔNIMOS POR FAVOR, ORIENTE-SE COM UM SERVIDOR DE NA ANTES DE IMPRIMIR OU DIVULGAR. OS SERVIDORES DE NA ESTÃO TRABALHANDO PARA QUE A PUBLICAÇÃO VENHA A SER AUTORIZADA, TALVEZ COMO “POR DETRÁS DAS GRADES – OU OUTRO TÍTULO A SER AINDA DEFINIDO.” ------------------------------------------------------------------OBRIGADO POR RESPEITAR NOSSOS PRINCIPIOS! ------------------------------------------------------------------OS NOMES DOS COMPANHEIROS QUE ENVIARAM SUAS PARTILHAS FORAM RETIRADOS E AGRADECERMOS POR DOAREM SEUS DIREITOS AUTORAIS A NARCÓTICOS ANÔNIMOS – REGIÃO GRANDE SÃO PAULO. INFORMAÇÃO AO PÚBLICO PARA FAMILIARES – NO CARANDIRU Ingressei em abril de 1994, num dos grupos do CSA SUL, que ficava localizado em Curitiba – PR. Um mês e meio depois, formou-se por lá um novo CSA. (CSA = Comitê de Serviço de Área. É formado pelos grupos para desenvolver serviços direcionados a levar a mensagem ao adicto que ainda sofre, de modo que mais adictos possam saber da existência de NA e encontrarem vida após as drogas). Aos 90 dias limpos, recebi o convite para fazer um treinamento de H&I – IP. O Vice-coordenador do Comitê recém-formado fez o convite. Tudo era novo em NA. Havia orientações, mas não tínhamos ainda os Manuais aprovados. Mas éramos movidos pelo desejo de levar a mensagem ao adicto que ainda sofre e tive o privilégio de receber meus primeiros treinamentos. Um tanto de mistério rodeava aquela reunião. Levei um gravador para ouvir uma fita com a orientação. Mas a fita não foi levada. Disseram-me para falar por dez minutos. Quatro minutos para falar de ativa e seis minutos para falar de recuperação. Assim fiz, com o tempo controlado por outro companheiro. Após minha partilha, os companheiros fizeram várias perguntas. Respondi-as. Disseram-me então que fariam os comentários e que eu deveria apenas ouvir, não contestar. Portanto não haveria retorno, nem espaço para justificativas. Nem espaço para debates. Por causa disso, continuei voltando. Quinze dias após fui de novo, levei o gravador. Nunca ouvi a fita. (rsrsrs) Continuei voltando... Alguma coisa estaria para acontecer e eu senti que precisava fazer parte. Estavam se desenvolvendo a maneira de treinarmos, de nos prepararmos para o serviço em NA. Chegaram os Manuais – de H&I, de IP, de Linha de Ajuda. Envolvi-me no serviço, coordenei subcomitês, liderei painéis, coordenei painéis. Fui orador. Continuo orador. Desde aquele primeiro treinamento, sou orador. Sempre que chamado e tenho a disponibilidade, vou partilhar. Treinamentos periódicos. Reciclagem. É uma parte importante para manter-me atualizado e em dia para poder quando chamado, participar. Participar é ajudar a levar a mensagem. Dessa forma participei de Informação ao Público para familiares de presos no Carandiru. Naquela tarde, tive o contato com mães, mulheres, filhos e filhas. Pais de presos. Amigos e amigas. Já sabíamos que estavam chegando aos grupos, adictos que tinham ouvido falar de nós através de familiares dos presos e através das cartas de adictos presos que contavam aos parentes que tinham problemas com drogas, que existia NA e que funcionava. Respondíamos perguntas e percebíamos que mais alguém iria chegar. As Informações ao Público para familiares eram regulares. Uma vez conversei animadamente com o companheiro Valente sobre isso. Divulgamos o Grupo da Paz no Boletim Só Por Hoje. Incentivamos que outras ações fossem feitas em outras áreas. Ele (o companheiro Valente) teve uma atuação importante no Grupo da Paz, que de painel de H&I virou grupo institucional. Longo Alcance, este é o nome do subcomitê que trata de grupo institucional. Valente são os companheiros que continuam o serviço de NA, animados pelo encorajamento de um membro cuja liderança efetiva, nós valorizamos. De fato, nossos líderes são apenas servidores de confiança, eles não governam. Mas nos mostram o caminho. Encorajam-nos a voltar, a não desanimar. Muitos membros anônimos participaram, participam ou vão participar desse serviço. São animados na maneira simples de servir NA. Boa vontade e algum tempo limpo, são os principais requisitos. Todos reunidos com o mesmo propósito: levar a mensagem ao adicto que ainda sofre. Especialmente aos que estão privados da liberdade, reclusos por terem sido “apanhados”. Enquanto cumprem suas penas, nós da irmandade de Narcóticos Anônimos pensamos em alcançar adictos que precisem de NA. Porque só dando podemos manter o que temos. E temos: Fé, força e esperança para oferecer. Nesta primeira edição recomeça o trabalho de Literatura da Região Grande São Paulo que quer encorajar os membros de NA a participarem desta Aventura, porque funciona! O programa de NA é libertador. Liberta da adicção ativa. Conheça as Literaturas disponíveis e se você for um adicto, junte-se a nós. Recuperação é o que acontece nas reuniões de NA. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de usar. O único requisito para o serviço voluntário em NA é a Boa Vontade e o engajamento nos subcomitês. Informação ao Público, Hospitais & Instituições, Longo Alcance, Linha de Ajuda, Eventos, Literatura. Escolha um e participe. Tudo para que mais alguém chegue num grupo de NA. O grupo, principal veículo de levar a mensagem. Boa Leitura! Se o leitor não for de um membro NA, esperamos que aprecie e que divulgue NARCÓTICOS ANÔNIMOS, um programa viável de recuperação. Funciona! INVENTÁRIO DO GRUPO DA PAZ 1996 A 2002 O serviço na Casa de Detenção só se iniciou, porque uma companheira tinha seu marido detido. O serviço de H&I na área simplesmente não existia, não tinha material, não tinha guias, não existia reunião... O que existia na época, eram apenas alguns companheiros que realizavam reuniões em instituições, mas tratavam-se apenas de iniciativas próprias e pessoais dos companheiros. Com o incentivo desses companheiros iniciaram as reuniões de estudos de H&I e IP que eram realizadas alternadamente as sextasférias nas dependências do Grupo São Luiz (na antiga sala) na Rua Haddock Lobo. Ainda sim, era tudo muito primitivo: reuníamo-nos apenas para os companheiros explicarem como eram as reuniões, que neste momento eram no Bezerra de Menezes onde um companheiro realizava as reuniões e na Vila Serena que era visitada por outro companheiro, porém esta na época era um grupo de N.A, mas com algumas restrições de freqüência de membros o que começou a gerar algumas discussões sobre o assunto. Nesta altura em meados de 1994, aconteceu uma Convenção ou um fórum de serviço mundial não me lembro de muito ao certo, porém devido à necessidade de uma direção para o serviço de H&I foi pedido para a companheira que iria nos representar, que se possível, nos trouxessem algum material traduzido ainda que para o português de Portugal. E assim foi a companheira voltou e trouxe consigo, uma pequena apostila que continha “O QUE FAZER E O QUE NÃO FAZER EM UMA INSTITUIÇAO DE TRATAMENTO”, era apenas três folhas, porém era tudo que precisávamos para conversar. Nessa mesma época foi realizada troca de servidores da mesa do CSA Sul que era o único existente na cidade e Grande São Paulo, e junto com outros companheiros e companheiras ganhamos um local para funcionamento do subcomitê de H&I, que era as sextas-feiras na “casinha”, anexo ao Grupo Alvorada. Com o avanço dos estudos começamos atender as instituições. Primeiro assumimos as que os companheiros iam sozinhos, depois começamos a expandir para outras, porém não se passava uma semana se quer, sem se falar na Casa de Detenção, na maioria das vezes era a companheira que iniciava o assunto que sempre acabava com muita polêmica e discussão. Havia na época um medo enorme de se visitar um presídio não havia companheiros com experiência e a cada reunião em que o assunto era discutido, uma correnteza de absurdos era falado. Falava se de tudo, que os companheiros seriam mantidos refém, que nós não tínhamos que freqüentar aquele lugar, mas no final a companheira sempre dizia que nós tínhamos era medo..., e que aquele lugar estava repleto de nosso povo, adictos que tinham o direito de conhecer nossa mensagem... E depois de muita, mas muita discussão decidiu-se realizar o primeiro contato com a direção da Casa. Elaboramos um oficio explicando nosso serviço e nos oferecendo para realizá-lo, como o guia de serviço ainda estava em processo de tradução, esse oficio foi levado na reunião de Área para aprovação, “nossa quanta discussão”... Devido ao contato que a companheira já tinha com a direção da casa, a formalização foi muito simples por parte da Casa de Detenção, e se colocaram a nossa disposição para a realização das reuniões... Nessa altura a tradução do manual ou guia de H&I ficou pronta e começávamos a estudá-lo nas reuniões, porém uma nova discussão surgiu, as companheiras que freqüentavam o subcomitê queriam participar da reunião que seria realizada. Para a solução desta discussão até agressão física aconteceu, me lembro que uma companheira inconformada com o impedimento de ir à reunião, jogou uma cadeira nos companheiros na reunião do CSA. Mas como somente o que é espiritual sobrevive em nossa irmandade, às personalidades foram se acalmando e conseguimos marcar a primeira reunião, que por orientação da Direção deveria seguir o seguinte modelo: Nós passaríamos nas escolas dos pavilhões avisando que na próxima semana em horário certo haveria a reunião, e assim foi lembro que neste primeiro dia visitamos as escolas, interrompíamos as aulas, explicávamos um pouco sobre adicção, sobre nossa recuperação, deixávamos um cartaz afixado e convidávamos todos a nos conhecerem melhor na próxima semana no local e horário agendado, que se não me engano era no Pavilhão 04. Ao final desse dia fomos convidados pelo agente penitenciário, que representava a administração da Casa perante nós, a conhecermos as dependências da Casa. Ele nos levou na maioria dos pavilhões nos mostrando e explicando como cada pavilhão funcionava, com suas escolas, oficinas, igrejas etc.. Mas o que, mas me impressionou nesse dia e que talvez nunca mais consiga esquecer, foi quando ele nos levou a enfermaria do pavilhão 05, que de enfermaria só tinha o nome, aquilo era um verdadeiro depósito de doentes: um local escuro; úmido, sem ventilação. Cheirando podre. Realmente uma visão sombria. Fomos entrando nos corredores e era incrível o carinho que as pessoas tinham com aquele senhor, enquanto todos os presos até então eram chamados de “ladrão”, aqueles doentes; este agente os chamava pelo nome, explicava para eles quem éramos nós e também nos explicavam o que cada um tinha. Devia ter mais ou menos uns 150 doentes na sua maioria doentes terminais, que se contaminaram ou adquiram suas doenças através da adicção. Lembro-me que chegamos próximo de um leito, que na verdade era um colchão no chão, onde estava um preso muito, mas muito debilitado, o agente tentou acordá-lo, mas ele não respondia, até que ele se mexeu um pouco, o senhor conversou com ele explicou quem éramos nós, o rapaz nos chamou para perto dele, o agente como que autorizando nossa aproximação me fez um sinal com a cabeça como quem diz “Não precisa ter medo”, e me aproximando o rapaz sussurrou: “VOCES SÃO ANJOS ENVIADOS POR DEUS, PENA QUE PARA MIM JÁ É TARDE”, fiquei paralisado no momento e o agente penitenciário percebendo, brincou com o rapaz para quebrar o gelo: “Não fale bobagem, semana que vem você vai à reunião com eles”..., e em seguida continuamos no corredor. Quando começamos a realizar as reuniões esperávamos encontrar muita resistência dos presos, mas após algumas reuniões percebemos que aquele local se tratava de um verdadeiro depósito de adictos. Que, a maioria ali detida tratava-se de nossos irmãos, pessoas encarceradas muito mais pela adicção, do que pelos muros que as rodeavam... As reuniões começaram a ser realizadas, mensais, que passaram para quinzenais e enfim semanais. Nesta altura começaram as discussões sobre a possibilidade das reuniões de HI virarem um grupo de NA institucional. Ocorreu então mais um grande movimento envolvendo toda a estrutura de serviço, pois o Longo Alcance foi envolvido, a tesouraria do CSA devido ao consumo de material e recursos financeiros e todos os membros que participavam do serviço. Exatamente neste momento, em minha vida pessoal ocorreram importantes mudanças, o meu encargo terminou, e juntamente com isso fui transferido para outra cidade distante de São Paulo. Precisei me afastar deste serviço então, mas o serviço não parou, pelo contrario só prosperou..., outros companheiros continuaram e expandiram ainda mais nossa mensagem dentro da Casa de Detenção. Em todo este tempo de recuperação e serviço, à irmandade, muitas experiências foram somadas em minha vida, e este serviço foi a maior delas... Espero que possa ter contribuindo para a soma de mais uma experiência... Em espírito de irmandade e amor... ------------------------------------------------------------------------------Com apenas três meses limpo fui chamado pelo meu padrinho para frequentar as reuniões de HI na recém-inaugurada Oficina Nova Esperança. Pude participar de alguns treinamentos e fui como ouvinte em alguns painéis. Depois de algum tempo comecei a partilhar nos painéis e me apaixonei por HI. Vi que neste subcomitê teria a chance de ver bem de perto dois ou três finais prováveis da minha doença. Visitei hospitais psiquiátricos e vi pessoas que perderam o contato com a realidade devido ao uso de drogas. Identifiquei-me bastante, pois no final da minha ativa tive algumas alucinações, me via em cada interno e gostava muito por ter contato com companheiros mais experientes a cada painel. Minha gratidão só aumentava por ter conhecido NA e me mantido limpo, pois tenho certeza que se voltar ao uso, irei passar por estas instituições certamente. NA tinha um contato com alguns funcionários da Casa de detenção que gostariam que nós implantássemos nosso programa de recuperação para os detentos. Depois de algumas reuniões entre os subcomitês de Longo Alcance, Hospitais e Instituições e Informação ao Público, foi escolhido um modelo de divulgação para avisar que nós estaríamos a realizar painéis através das salas de aula. Decidimos que era melhor juntar os modelos de partilha do HI para que a mensagem ficasse bem clara. Foi muito emocionante, pois ficamos alguns dias indo a todas as escolas em todos os pavilhões e em todos os horários de aula para avisar que nós nos reuniríamos lá em determinado dia. Explicaríamos quem somos e nossas histórias pessoais. O Manual tinha que ser seguido à risca para que não colocasse em risco todo trabalho. Depois de ser exaustivamente divulgado, montamos nosso primeiro painel com a ajuda de um funcionário do departamento de esportes. Usamos toda e qualquer estrutura da cadeia, realizando painéis em igrejas, centros de umbanda e barbearias. No primeiro painel de HI na Casa de detenção do Carandiru, tive contato com um companheiro que estava preso e que estava limpo há quatro anos. Eu que tinha ido ali para levar a mensagem para resgatar vidas, fiquei impressionado com a qualidade de recuperação deste companheiro, pois ele tinha uma disciplina, um modelo de recuperação que adotei pra mim e uso até hoje. Ele era extremamente participativo em tudo, desde as reuniões como no funcionamento da Casa de Detenção. Trabalhava no hospital e cuidava dos esgotos, tudo para se manter longe das drogas. Tinha uma boa vontade imensa e ficava muito feliz quando nos via chegando para mais uma reunião. Com ele aprendi que não importa onde e quais condições eu me encontro. Eu posso ficar limpo! Ajudou-me a ser mais grato. Se ele conseguiu praticar o programa, é porque a promessa de liberdade havia sido cumprida. Era um preso livre das obsessões e compulsões. Tive um despertar espiritual e uma consciência mais ampla de Deus e de minha responsabilidade sobre a minha recuperação. Bem cedo descobrimos que modelo de painel de HI, de partilha dos membros, perguntas e respostas estavam insuficientes, pois os residentes tinham necessidade de falar também de seus sentimentos, medos e aflições e chegamos através de consciência coletiva que seria melhor, criar um modelo de painel que se aproximasse de nossas reuniões de partilha fechada. Eles devoraram a literatura que distribuímos e se reuniram durante a semana entre eles. A cada visita meu espírito mergulhava em um mar de gratidão, vendo eles se esforçando para ficar um dia limpo em lugar com condições hostis. Eu não podia mais fazer corpo mole aqui fora. Graças ao Grupo da Paz, consegui encontrar a recuperação em NA. ------------------------------------------------------------------------------- referência. Sabíamos que era uma grande responsabilidade levar a mensagem para um local onde a droga foi o motivo de muitos terem ido parar lá. “Complexo Carandiru” era o nome do conglomerado de prédios e de pessoas, mas o sentido da palavra para nós que estávamos a iniciar os serviços de NA lá se tornou simples para mim após ter ido à primeira vez naquele lugar e entender que nós podíamos entrar e sair de lá tínhamos a mesma doença que eles com o privilégio de ter descoberto o programa antes de sofrer as conseqüências trágicas e chegar lá. DIVULGANDO OS PAINÉIS Sou um adicto em recuperação e graças a Deus e a N.A. encontrei uma nova maneira de viver. Considero-me fruto do serviço de HI, pois quando passei por um tratamento me lembro dos dias que esperava ansiosamente a visita de companheiros que percorriam mais de 100 km para partilhar suas experiências através da prática do programa e de N.A. Foi por eles que despertei o interesse e NA, e quando sai da instituição no meu primeiro dia na rua fui a uma reunião. Dessa forma não fui a uma reunião de área, ela foi a mim e pude entender que N.A. era maior que o grupo que costumava freqüentar. Ouvi sobre os serviços e descobri o que era HI. E lembrando-se daqueles companheiros que me visitavam para falar entusiasmados sobre a recuperação em N.A. vi que poderia retribuir o que me fizeram. O subcomitê de HI funcionava ao lado do grupo Alvorada eu aproveitava para pegar a reunião das 17h30 e depois participava do HI. Como poucos companheiros se dispunham a ir ao subcomitê, os que iam, eram bem recebidos. Muito bem recebidos. Como eu, que fui recebendo o encorajamento para fazer o treinamento para realizar painéis. Após três treinamentos eu estava apto. Lembro-me da primeira vez que confirmei minha presença em um painel. Aquele frio na barriga e o peso da responsabilidade em ser um mensageiro. De NA. A cada painel uma experiência nova e uma vontade maior de continuar a servir NA. Nas oficinas discutíamos sobre os serviços, o interesse da sociedade por informações sobre NA sempre crescendo. COMPLEXO CARANDIRU Apesar da oficina da área Sul atender instituições que trabalhavam os 12 passos, em uma das reuniões do comitê falamos sobre a importância em priorizar instituições que não aplicavam “12 passos” aos adictos em tratamento. Pensar em instituições carcerárias foi assustador. Não havia experiência nesse tipo de serviço, em nossa área e os companheiros de Campinas foram pioneiros na região Brasil. Nós fazíamos simulações para atender ao Carandiru, usando o manual (acho que de 1988) como Antes de formalizar nosso serviço de HI, fizemos ações para divulgar as reuniões. Visita nas escolas, igrejas, bibliotecas e no hospital (enfermaria). Nas escolas colávamos cartazes com o dia e o local onde seria a primeira reunião de HI. Percebemos que havia pessoas de outros países como europeus, latinos, africanos e sentimos a necessidade de fornecer literatura em outros idiomas e solicitamos a ACS ou mundial que nos atendeu prontamente. Na enfermaria conversamos com alguns presos e o agente penitenciário tinha o respeito dos presos por organizar a liga interna de futebol. Um preso estava lá para tirar água dos pulmões e pela 3ª vez. Muito debilitado fisicamente, nos falou que a prisão maior para ele era o vicio. A 1ª REUNIÃO DE HI Na primeira reunião de NA dentro do Carandiru éramos três companheiros. A reunião foi numa sala próxima ao campo de futebol e podíamos sentir alguém usando drogas e soprando para dentro da sala, ou seja, nem todos queriam nossa presença lá. Seguindo a reunião, conforme o manual (introdução, leitura de folheto, partilhas, perguntas e respostas). O fato que mais me marcou foi durante a partilha de um dos companheiros, um preso perguntou qual droga ele tinha usado. Na ocasião pelo manual a resposta seria “não importa o que ou quanto nós usávamos em NA”. Porém, não era isso que aquele preso queria escutar, então o companheiro falou de todas as drogas e então sentimos o respeito deles e a identificação pelo silêncio temporário. RECONHECIMENTO DA EFICÁCIA DO PROGRAMA Em um dos painéis antes de entrarmos nos pavilhões, encontramos um profissional da área da saúde que tinha muitos anos de serviços e conhecia muito bem o Carandiru. Um dos companheiros abordou-o e o apresentou ao texto básico. Ele falou que conhecia a eficácia do nosso programa, elogiou nosso trabalho e ressaltou que nosso serviço era muito bem vindo lá. ------------------------------------------------------------------------------Eu sou adicto tenho 49 anos e estou limpo há 12 anos e 2 meses, nascido em São Paulo, casado há 16 anos e pai de um filho. Minha história de adicção não é diferente da de muitos de nós. Medo paralisante angustia, mentiras, frustrações, culpa etc.. Bem, minha chegada em NA se deu em março de 1997. Ingresso no Grupo 5ª Tradição do Ipiranga, possuía uma frequencia regular as reuniões após uma internação, onde tive contato com pessoas de NA, que foram falar de suas experiências como ficar limpo na rua. Após 90 dias e 90 reuniões, todos os dias; conheci pessoas maravilhosas como meu padrinho, o coordenador de HI, entre outros da área sul e entre outros que já se foram. Um dia após uma reunião no Grupo Alvorada, fui abordado por um companheiro, dizendo pra mim que há algum tempo estava me acompanhando nas reuniões do Grupo e me perguntou se eu não gostaria de participar de um subcomitê de serviço chamado HI. Fiquei surpreso e ao mesmo tempo feliz, muito feliz, pois após 3 meses indo as reuniões, conheci outras pessoas maravilhosas. Na verdade fiquei com medo, pois tinha somente 3 meses limpo, mas já sentia a necessidade de falar para o mundo que tinha encontrado um lugar especial chamado Narcóticos Anônimos. Após dez dias fui conhecer esse tal de subcomitê, que tinha uma frequencia enorme, e comecei a participar das reuniões todas as sextas feiras nas dependências do Grupo Alvorada, na famosa “casinha”. Foi ali que iniciei a levar a mensagem a aquelas pessoas que não tinha livre acesso as nossas reuniões. Fiz alguns treinamentos e logo comecei a participar do processo de levar a mensagem. Foi e é uma aventura sem fronteiras. Comecei a perceber o quanto era importante esse trabalho. Fui eleito secretário deste subcomitê com 6 meses de tempo limpo, não faltei nenhuma reunião por um ano e fui a muitas instituições neste período. Acompanhei meu padrinho por 6 meses na psiquiatria da Água Funda onde aprendi a importância do comprometimento em NA e qual o nosso papel. Fui líder de painel desta instituição e depois vice-coordenador e coordenador do subcomitê de HI. Sobre a minha ida à Casa de Detenção, foi uma experiência maravilhosa que se encontra no centro do meu despertar para a vida. Agradeço de coração aos companheiros que participaram do início deste trabalho. Foi difícil no começo, pois os painéis aconteciam as 4ª feiras pela manhã. Não posso deixar de lembrar o amigo e funcionário da Casa que sempre nos recebeu com enorme carinho. Havia um interno estrangeiro que através de sua coragem, levava a mensagem de NA para adictos de outros pavilhões aos quais não tínhamos acesso. Registro meu agradecimento a todas estas pessoas de extrema importância para que o serviço fosse realizado. Após um período de painéis, chegamos a uma consciência dentro do subcomitê que estava na hora de passar a autonomia aos residentes da Detenção afim de que eles coordenassem as reuniões. Foi muito legal porque já nos painéis de HI, havia nosso incentivo a eles para realizar este trabalho, e eles aceitaram. Houve uma reunião de serviço no local, onde os internos escolheram o nome do Grupo que seria Grupo da Paz. Elegemos um secretário que por sinal era um companheiro que já colaborava na arrumação da sala, colocava a toalha e arrumava a literatura de NA. Este companheiro já idoso com seus cabelos brancos e uma enorme boa vontade em contribuir para que NA ficasse vivo naquele lugar. Tive o prazer de participar do aniversário do Grupo, com bolo, refrigerante e muitas trocas de fichas... Uma das vezes em que estive lá, acho que não estava muito bem de saúde entre outros problemas. Fui de metrô até lá com outro companheiro, que percebeu a minha situação. Através de exames descobri que estava com Hepatite C e precisava de tratamento. Graças a Deus hoje está tudo bem. Neste dia após sair da detenção, este companheiro me perguntou se eu estava melhor. Eu pensei um pouco pra responder e em seguida disse que sim. Ele voltou a perguntar se eu estava bem. Neste momento abracei-o e comecei a chorar e agradecê-lo por tudo o que ele fez por mim, e naquela calçada após alguns instantes, em frente aos portões da Casa de Detenção pude dizer a ele que minhas dificuldades tinham desaparecido como um piscar de mágica. Foi incrível e nunca mais me esqueci disso. Nessa reunião, um cara, membro de NA residente, falou para nós que ele era um “preso livre”, pois tinha conhecido NA há algum tempo e nunca mais usou drogas e que nós éramos muito importantes para ele. Tive o prazer e a honra de trocar sua ficha de 2 anos limpos. Na troca, ele disse que morava num “X” com mais 15 pessoas, 13 usando drogas na cela e soltando fumaça em sua cara. Eles o provocavam afim de que ele e outro residente usassem drogas também. Ele disse que NA é mais forte do que aqueles 13 caras usando e que ele não precisava mais usar só por aqueles momentos. Falou que mais seria revelado em sua vida através do programa. Na minha reflexão, percebi que se esse companheiro, nessas condições, não usava mais droga, qual era a minha dificuldade? Agradeço sempre a Deus àqueles companheiros que me incentivaram a fazer este trabalho que sempre me enriqueceu como ser humano filho de um Deus perfeito. As amizades e experiências que ninguém pode tirar porque estão dentro de mim, bem dentro e mais será revelado. ------------------------------------------------------------------------------- Sou um adicto em recuperação, estou limpo há 14 anos 5 meses e 12 dias. Tive contato com os serviços de Hospitais e Instituições muito cedo em minha recuperação, por sugestão de meu padrinho fui até ao comitê local. Cheguei com muitas reservas, pois não havia passado por nenhum centro de tratamento ou qualquer tipo de instituição correcional. Segundo a intuição de meu padrinho, precisa estar envolvido com o “serviço” em NA, porque dessa maneira também foi “passado pra ele”, e já vinha dando certo há a alguns anos (e até hoje ainda ele se encontra envolvido). Nosso subcomitê começava a passar por transformações, a Irmandade passava por grandes transformações, junto com outras Áreas formávamos um grupo de companheiros apaixonados, ansiosos por entrar em toda e qualquer instituição em nosso País. (para levar a mensagem de esperança a adictos que ainda sofrem) Levamos a mensagem de Narcóticos Anônimos em Centros de Tratamento, Hospitais Psiquiátricos, Organizações Não Governamentais Instituições Religiosas e Correcionais. Mas existia uma que chamava mais a atenção, porque em si mesma era emblemática. Um universo de mais ou menos 7000 homens no centro urbano de São Paulo, ao lado da maior via de chegada a capital paulista, a rodoviária do Tietê, estava lá impassível diante das inúmeras tentativas de rebelião, a Casa de Detenção ou simplesmente “Carandiru”. Ouvi muitas discussões dentro do comitê, nas reuniões de área, reuniões regionais e até mesmo em convenções, como foi o caso da primeira Convenção de NA que participei – Penedo - RJ 1995. O embate era se mulheres podiam levar a mensagem em instituições masculinas e vice-versa, e obviamente o Carandiru fazia parte da pauta. Momentos em que deixamos nossas emoções saltarem sem pedirem licença, e mesmo não entendendo o que o “companheiro dos serviços mundiais” falava, podiam ser visto nos rostos de todos que aquele lugar iria nos trazer grandes experiências. Neste momento consulto apenas minhas lembranças e confesso que a ordem cronológica dos acontecimentos me confunde, mas estas mesmas lembranças me levam a ouvir o ruído dos portões sendo aberto, do senhor contato vindo ao nosso encontro, e ali as pessoas que começávamos a encontrar já não tinham mais tanta vaidade. Vestiam as mesmas roupas das mesmas cores, em cada semblante uma história, uma incógnita, em muitos à vontade de ter uma vida transformada pelo poder da mensagem do 12º passo. Em meio à mística do lugar, misturada muitas vezes com a frustração de ver o local das reuniões vazio, paradoxalmente num universo de tantas pessoas, era difícil reunir um numero mínimo de “companheiros”, e também a dependência de ter um clima “bom” dentro da cadeia para realização das reuniões. Precisávamos de mais tempo lá dentro, mais pessoas envolvidas, despejar literatura, cometer menos erros, treinar mais membros, ler mais nossos manuais, precisávamos de um grupo de NA dentro do maior presídio da América Latina. Prioridade absoluta do comitê uma questão obvia, pois se conseguíssemos permanecer dentro do Carandiru, nenhuma porta de qualquer outro presídio se fecharia, desta maneira cumpriríamos nosso propósito de levar a mensagem a quem não tivesse o mínimo de contato com Narcóticos Anônimos. “Sejam todos bem vindos à primeira reunião do Grupo da Paz de Narcóticos Anônimos”. Uma das experiências que mais marcaram minha recuperação foi receber membros recém-saídos da instituição, que ingressaram em NA no Grupo da Paz, começando a frequentar reuniões “na rua”. (em liberdade) Se eu fechar meus olhos e ficar em silêncio ainda consigo ouvir o barulho dos portões se fechando atrás de nossas costas e também o coro dos companheiros do Grupo da Paz dizendo; “DEUS CONCEDA-ME SERENIDADE, PARA ACEITAR AS COISAS QUE NÃO POSSO MODIFICAR CORAGEM PARA MODIFICAR AQUELAS QUE (EU) POSSO E SABEDORIA PARA RECONHECER A DIFERENÇA, SÓ POR HOJE”. ------------------------------------------------------------------------------Sou um adicto em recuperação e Graças a Deus e a Narcóticos Anônimos como um todo estou limpo desde 25 de outubro de 1996. Havia participado de algumas reuniões de Painel de HI mais sem muita constância. Meu irmão, pouco tempo depois da Instituição tornar-se de HI para Grupo Institucional, passou a convidar-me para ir às reuniões e vez ou outra eu aceitava. Ele estava servindo como RSG do Grupo da Paz e contava histórias que me atraiam para este serviço. Lembro-me de um companheiro envolvido também com o Grupo, tanto que acabou tornandose RSG depois. Meu padrinho vestia a camisa do Grupo e vivia incentivando para eu ir às reuniões. Houve um tempo que passei a freqüentar mais o Grupo mais ficava preocupado em envolver-me de forma maior por conta do meu trabalho, afinal de contas ficávamos uma manhã toda em um dia da semana. LONGO ALCANCE Aproveito a oportunidade para agradecer o Sub Comitê de longo Alcance, pelo suporte e responsabilidade nas cartas que eram recebidas pelos internos do Grupo bem como o envio de cartas de membros, divulgação e cartazes incentivando esta importante ferramenta de comunicação feita por membros que não podiam freqüentar o Grupo mais partilhavam suas experiências. Nosso Muito Obrigado também pelos treinamentos de Longo Alcance Institucional para Instituições Carcerárias e pelos treinamentos do Sub Comitê de Hospitais e Instituições também por estes treinamentos que tinha sua peculiaridade. É importante citar também o CSA Sul, Comitê de Serviço que apoiou a existência do Grupo, e não poupou esforços em disponibilizar diversos materiais sem nunca questionar o volume principalmente de folhetos (Kit’s para recém-chegados que levávamos ao Grupo). Obrigado ao tesoureiro na época. ANIVERSÁRIOS DO GRUPO No primeiro aniversário do Grupo em 1998 eu apesar de já frequentar, como ia pouco não me senti a vontade de ir à festa, pois achei que seria egocentrismo de minha parte. Minha surpresa foi quando olhei as fotos, e percebi muita gente estava indo pela primeira vez no Grupo justamente naquela festa e outros que tinham ido apenas uma ou duas vezes. Fiquei na raiva com eles e comigo mesmo e ainda tomei um puxão de orelhas do meu padrinho, por não ter ido. Também não deixei barato, estive não só participando mais do grupo como ajudei na organização da segunda e terceira festa de aniversário, onde arrecadamos dinheiro e doações de salgadinhos para confraternização. Muito legal! Que espiritualidade! Nossos companheiros internos fizeram um bolo (veja foto no final do livro) com a seguinte frase: - Obrigado pela dedicação. - Deus está aqui! Preciso falar mais alguma coisa. O bolo tinha as cores de NA, azul e branco. Fizeram um pagode pra nós. Fizemos até fotos e naquele segundo aniversário até a minha ficha de quatro anos troquei lá, pois calhou de ser no mesmo dia do meu aniversário de tempo limpo. Este aniversário aconteceu no pavilhão seis. Nestas festas aproveitávamos a oportunidade para informar, falar do nosso propósito, pois vinham pessoas de outros pavilhões para participar. No ano seguinte, a festa de aniversário aconteceu no pavilhão oito, onde estiveram presentes vários presos que não tinham por hábito freqüentar as nossas reuniões mais conheciam nosso trabalho na cadeia. Ficamos sabendo que entre eles haviam inclusive traficantes. Alguns chegaram a partilhar dizendo que mesmo usando drogas, sabiam da eficácia do programa, pois deixaram de “machucar” adictos na ativa que buscavam a recuperação em nossas reuniões. Um grupo de rap deste pavilhão, que chegou a lançar um cd e ainda saiam da cadeia para realizar shows na rua, cantou lá neste aniversário. Na verdade a maior festa era nossa por saber que ali se passava mais um ano de nosso trabalho de sucesso, do Grupo que funcionava no maior Presídio da América Latina com mais de 7000 homens divididos em imensos pavilhões. Nós não levávamos apenas a mensagem e sim a recebíamos também, através de partilhas inspiradas e respeitosas divididas, compartilhadas nas reuniões. Aprendi a agradecer mais porque o que eu passava aqui na rua não era nada se comparado às histórias assistidas no Grupo. Meu Poder Superior queria que eu estivesse ali para me ensinar o privilégio de não ter sido pego em inúmeras insanidades ao longo de minha adicção ativa. Minha diferença se dava somente pela cor das calças, aliás, muitas vezes nossas próprias eram beges, tamanhas as identificações com os irmãos. Palmas a todos que tiveram o privilégio de experimentar desta “marmelada especial” cujo gosto está espalhado pelo Brasil afora. PAVILHÃO 9 Sempre escutei que na cadeia homem não chora. Bom, isto não valia para o Carandiru. Era raro realizarmos reunião no pavilhão 9. Este pavilhão recebia os chamados “cabeças de bagre” que na maioria eram presos mais novos que não se preocupavam tanto com a conseqüência de suas atitudes, muitas vezes deixando as leis da cadeia de lado e comprometendo o próprio futuro. Vale lembrar que a chacina que aconteceu no Carandiru, onde morreram centenas de presos, ocorreu neste pavilhão. Numa de nossas reuniões, ao ler um capítulo do texto básico me emocionei e quando conclui a leitura percebi outros presos com lágrimas nos olhos e na seqüência durante sua partilha, um deles chorou feito uma criança. Ficamos impressionados com a cena, porém com a certeza de que a mensagem estava de fato transformando os membros daquele grupo. PAVILHÃO 5 Este era o pavilhão do seguro. Normalmente os presos recémchegados na cadeia, se não tinham condições de alugar ou comprar um barraco (cela) eram alocados neste pavilhão. Dentro dele existia o “Amarelo”, local das celas distribuídas ao longo de alguns andares do prédio, onde presos que não podiam se misturar com os outros por correrem risco de vida, moravam. Era comum quando fazíamos reunião na capela do pavilhão 5, próximo à sala de prótese dentária, assistirmos as chamadas “teresas” que eram pedaços de panos amarrados uns aos outros, que eram atirados janela abaixo na intenção de conseguir cigarros entre outras coisas com os demais presos que circulavam livremente neste pavilhão. Numa situação fazendo reunião no Pavilhão Nove, eu estava empolgado, pois naquela semana iria para Convenção Regional de Narcóticos Anônimos, e resolvi partilhar. Um dos participantes partilhou em seguida “na raiva” mais ou menos assim: LEMBRANÇAS DE MENSAGENS (dos presos residentes) Aprendi e reparei-me. Ele tinha razão. Alguns dos nossos que iam ao Grupo da Paz confundiam o Grupo Institucional como um Grupo normal onde sento e partilho sobre o que me vem na cabeça. Pensamento errado. O Grupo da Paz era freqüentado por pessoas que passavam por um treinamento específico parecido com de HI, com mais de 6 meses de tempo limpo, que deveriam, não era sugerido, ir com vestimentas adequadas, ou seja, sem calça bege ou de campana, sem blusas com cordões ou cordas, sem jóias ou pertences que chamassem muita atenção, sem roupas que fizessem algum endosso a religião, time de futebol, banda ou conjuntos musical, que estivessem com a situação pendente com a justiça para poder sair de lá e assim por diante. Certa vez no inverno; demos uma blusa de frio a um membro do Grupo. Na outra semana havia mais ou menos umas três pessoas que foram até a reunião pegar roupas achando que este era nosso papel ao invés da 5ª Tradição. Demos cigarros aos internos, e alguns iam pra fumar no Grupo (cigarro é uma moeda/dinheiro na cadeia). Procurávamos não levar nem trazer cartas ou bilhetes nem de dentro pra fora nem de fora pra dentro, não era nosso papel. Numa ocasião fazendo reuniões numa capela no pavilhão 5, o coordenador do local disse estar em reforma e pediu-nos um saco de cimento ou outra forma de contribuição e tivemos que dizer não, que não podíamos ajudá-los. Foi difícil. Naquele local tínhamos que prestar atenção no que falávamos e como falávamos. Mais do que qualquer outro local, não podíamos desenvolver preferências pelos internos, missão difícil uma vez que recebíamos até pedidos de apadrinhamento. Força, fé e esperança! Se conseguíssemos nos centrar nesta forma de partilhar tudo estaria bem, mas nem sempre isto acontecia. É claro que ninguém pedia pra partilharmos uma história que não havíamos vivido, mas também não precisávamos ter passado por uma prisão nem tampouco termos roubado, matado. Enfim, nossa história já bastava. Muitos pensavam que a partilha tinha que ser diferente, mais só precisava ser a “nossa partilha”. Nossa literatura nos ensina que, nosso verdadeiro valor está em sermos nós mesmos, então falemos de nós pura e simplesmente. - “Esta noite passei com mais nove no X (cela), e todos estavam usando! Ajoelhei-me com meu texto básico na mão, fiz a oração e não usei. Estou com meus joelhos esfolados, mas limpo para mais uma reunião”. - “Pediram para que eu fizesse uma “limpeza, um serviço”, mais não queria mais fazer aquilo”. Só tinha uma forma de contrariar a ordem. Dei uma marretada na mão! Com a mão quebrada não posso “trabalhar” (matar). Liberaram-me. “Por isto estou na reunião.” - “Quero continuar sendo o coordenador do Grupo, mais estou sendo cobrado pela minha igreja por estar envolvido com Narcóticos Anônimos”. - “Se eu soubesse que era tão bom ficar limpo já teria parado há muito tempo”. - “Estou aqui por causa da droga. O traficante pulou o muro lá de casa e eu o matei”. - “Eu estou freqüentando as reuniões para dar uma força, mais eu não tenho problema com drogas”. - “Não quis parar e hoje tenho uma pena de 19 anos para cumprir. Aqui é muito sofrimento”. - “Começo a usar e não consigo parar. Aqui não tem perdão. Fez dívida tem que pagar. Se quiserem usar, os caras ”dão“. Uso para esquecer a vida. Aqui o tempo não passa. Todo mundo da cadeia fuma (uma determinada droga). A casa libera pra cadeia não virar”. O QUE NÃO FAZER Por vezes deparávamos com situações onde éramos pegos de surpresa. - “Tamu” no maior veneno aqui dentro e se houve falar de Convenção, festa e “o caramba...”. Falarmos das insanidades e dificuldades que ainda estávamos enfrentando por vezes desviou nossa mensagem, como dizermos que frequentávamos um “puteiro na rua?”. Muitos ali não sabiam mais o que era sexo, nem sexo pago, havia tempos. Aprofundamos-nos em relações familiares, afetivas e também isso era sutil, pois muitos não recebiam uma visita, nem sequer uma carta há muitos anos. Querer convidar os internos, assim que saírem para frequentar nossas reuniões (como falamos no serviço de HI quando levamos a mensagem num painel normal), era um grande equívoco nosso, porque muitos não sairiam dali ou ficariam ali até 30 anos pelo menos, conforme previam suas penas. Mas esperem aí! Com tantos pormenores, com tantos cuidados a serem tomados, será que a mensagem chegava mesmo? Graças a Deus chegava. Houve um ano em que tivemos 70 ingressos no Grupo da Paz com apenas 1 reunião por semana. O único Grupo que teve mais ingressos naquela ocasião foi o Grupo Jardins com 72 ingressos, contando com 22 reuniões por semana. O serviço de NA: funciona! Muitos pensam que em 2002 foi realmente o fim do Grupo da Paz. Mais eu tenho um segredo para dividir com todos vocês. O grupo da Paz não fechou e nunca fechará suas portas. Quem dirigiu este serviço foi um Deus amoroso que através de todos os participantes que foram transferidos (foram de bonde) dali para outros presídios pudessem levar com eles muitas vezes a única coisa além das vestes do corpo. A mensagem de NA. Recebemos uma carta de um Presídio em Mongaguá, onde o diretor requisitava nossa presença para ali iniciarmos nosso trabalho. Entramos em contato com os companheiros de HI da Área Caminho do Mar que prontamente iniciaram o contato e vieram a descobrir que um dos nossos companheiros participantes do Grupo da Paz, havia feito uma carta e encaminhado lá de dentro para diretoria. Caramba! Demais é pouco. Pegando uma reunião no Grupo Liberdade num dia desses encontrei-me com outro companheiro recém-liberto. Fiquei alegre em revêlo e fui almoçar com ele. Ele me disse que estava morando no interior de São Paulo, coordenando uma oficina de IP, com a família restaurada. Estava gordo, corado; que satisfação! Numa Convenção em Poços de Caldas, encontramos com um companheiro que também juntamente com sua companheira, membro de NA, estavam ali passeando se divertindo. Dias atrás o companheiro que foi RSG Suplente, correndo no Parque do Ibirapuera, encontrou-se com um companheiro com uma camisa de NA que o chamou e se apresentou dizendo estar na rua, agora aproveitando a vida. Aguardávamos no Pavilhão 5 uma sala para realizarmos a reunião. Um interno na sala da prótese conversava, conosco a respeito do dia a dia lá. Falava sobre a composição de “Rap`s” que ajudava há passar o tempo. O letrista era seu amigo conhecido como um personagem do cinema infantil, e que acabara de chegar ao local onde estávamos. Nossa maior surpresa e falando de mim. Um entusiasmo em convidá-lo a participar da reunião que estava para acontecer, e que se deu por conta da sua história. Em poucos minutos de conversa ele partilhou: - Estou limpo das drogas há 1 ano, sete meses e alguns dias graças aqueles “Rap’s”. “O “Rap” me libertou das drogas”! Foi o bastante para que ficássemos entusiasmados para convidá-lo a compartilhar suas experiências conosco. Afinal de contas, parecia haver alguma identificação no quesito vir a acreditar, pois sua crença e talvez por que não falar que seu Poder Superior era o “Rap”? Realizamos a reunião por ali mesmo. Uma sala improvisada, onde o banheiro era um buraco no chão. Havia uma “gambiarra” para conseguir energia para funcionar a cafeteira e pudéssemos tomar nosso tradicional cafezinho. Show de bola! Que reunião bacana. Ingressos. Partilhas de força fé e esperança e o presente de Deus no ponto de vista particular, foi o ingressante cantar o Rap em homenagem ao que ele havia recebido de NA durante aquela reunião em que se identificou, era mais ou menos assim: - “NA, NA sua vida vai salvar...” - “NA, você pode acreditar...”. “... Preciso continuar...” ORAÇÃO NA DIVINÉIA A primeira vez que fui ao Carandiru ainda como painel de HI, percebi que havia todo um procedimento para entrar no presídio. Principalmente pela questão de nossa segurança, dos funcionários e dos próprios internos. Chegávamos e ficávamos aguardando na calçada da rua do lado de fora do complexo. Só entrávamos na hora em que nosso responsável interno nos chamava. Em algumas ocasiões em que a cadeia estava meio estranha, nos mandavam voltar em outro dia. Apresentávamos-nos na 1ª portaria dando documento que eram verificados e registrados. Houve época que fizemos até uma carteirinha para aqueles que tinham maior freqüência. Logo em seguida passávamos por mais um portão e parávamos muitas vezes ali... ou quando seguíamos por mais outro portão, seguido da revista e do detector de metais, parávamos num lugar chamado Divinéia. Um local arborizado com um grande jardim, sombra, bem arrumado e fazíamos lá a oração da Serenidade. Aquilo era mágico, pois havia sempre um grande suspense em cada nova entrada. Nunca sabíamos o que iríamos encontrar. A concentração era alta e a fé nas palavras proclamadas, nem se fala. Principalmente a parte da oração que fala de Coragem. Tomava um sentido mais amplo que a abordagem normalmente feita na oração. Sentíamos após este momento meio que como protegidos pelo Poder Superior e também incumbidos de uma responsabilidade enorme e um compromisso que ia além de nossa própria recuperação. Concentrávamos-nos principalmente em nosso propósito e tínhamos absoluta certeza que acontecesse o que acontecesse ele seria cumprido. Havendo reunião ou não, nos acomodando em uma sala improvisada ou na quadra ao lado da sala de musculação iríamos realizar mais uma reunião. Quando isso não era possível, o fato de estarmos presentes já era relevante, pois a mensagem de que estivemos por ali e o que estávamos a realizar chegava pra todos que quisessem ouvir, e isto também era a nossa mensagem. Mensagem que muitas vezes iam com vozes embargadas pela emoção e pelo clima espiritual que se formava dentro das reuniões. Deus falava conosco através dos partilhadores internos e externos, bem como em olhares curiosos, atentos e fixos. Extremamente respeitosos também, pois éramos tidos como uma “regalia” para os internos que recebiam visitas somente aos domingos; aqueles que recebiam. Equilibrávamos-nos nas tradições para não distorcermos a simplicidade e importância de nossa maravilhosa mensagem: Que um adicto, qualquer adicto, esteja onde estiver pode Parar de Usar, Perder o Desejo e Encontrar Uma Nova Maneira de Viver através do Programa de Narcóticos Anônimos. Levávamos para nossos irmãos impossibilitados de saírem e freqüentarem uma reunião na rua, a única coisa de mais importante que tínhamos: - Nossa esperança! E isso bastava porque por conta de um passado “condenoso”, acredito que éramos um dos poucos que depositavam votos de confiança em cada um que entrava em nossas reuniões. Levávamos a risca nossa 3ª tradição, pois saber o que eles fizeram nos passado poderia impedir de levarmos a mensagem sem distinção nem julgamentos. Nosso Poder Superior partilhava em todas as reuniões, pois ouvíamos as minúcias e as pequenas sutilezas que aconteciam durante aqueles momentos reunidos. Tivemos compaixão e choramos por muitas vezes. Soubemos nos segurar em momentos que nada mais podíamos fazer. Falávamos do coração, ou melhor, quem falava era o próprio coração. Nossa maior vontade era encontrar alguns deles, limpos na próxima 4ª feira (na reunião). Eles nos perguntavam de nossas famílias porque já se sentiam parte! Quando íamos embora, não era um adeus. Falávamos até a próxima! Companheiro. Continue voltando, funciona... SERVIDORES DE CONFIANÇA Vale lembrar-se de alguns dos companheiros que tive o privilégio de servir junto, sendo que estes servidores eram internos da instituição e muitas vezes tinham que passar pela intimidação da igreja a qual faziam parte e não era tão amiga do nosso trabalho. Das atribuições que estes internos tinham como trabalho e até mesmo de relações com outros internos que não freqüentavam o grupo. Lembro-me do companheiro trocando sua ficha de 4 anos limpos e servindo como secretário do Grupo, no dia em que fui eleito RSG do Grupo. Havia também um que apoiava nosso trabalho dividindo-se entre as aulas que ministrava e as reuniões. Outro senhor de cabelos grisalhos era responsável pelas cartas que enviávamos da rua e pelos cartazes de divulgação das reuniões que eram colados pelos pavilhões. Tenho que citar a importância de um companheiro, que em umas de suas atuações no serviço de NA lá de dentro, ele foi transferido para outro complexo na baixada santista e chegando, sabendo da necessidade de frequentar reuniões para manter-se limpo, fez uma Informação ao Público (IP) com os carcereiros e redigiu uma carta endereçada ao Diretor da Instituição que de imediato entrou em contato conosco para que iniciássemos o serviço de HI naquela instituição, que inclusive, é atendida até hoje pela Área Caminho do Mar. Na verdade todos que freqüentavam as reuniões já estavam prestando um serviço, pois eram vistos como membros de NA, na Detenção. Todo o complexo sabia quem freqüentava o Grupo e o porquê que estávamos ali. Estes companheiros eram verdadeiros servidores de confiança que carregavam nosso propósito custasse o que custar. Meu agradecimento pessoal a estes companheiros que com toda certeza, aonde quer que se encontrem levaram esta mensagem de força, fé e esperança. CARTAS Acho importante dividir neste material, aquilo que serviu e muito como apoio em levar esta mensagem. As cartas inseridas neste livro estão na integra e traduzem um pouco deste trabalho nas palavras dos próprios internos que estavam se recuperando conosco nas reuniões do Grupo da Paz. FUTURO DE NA Alguns companheiros dizem que o futuro de nossa irmandade encontra-se nos presídios. (futuro dos serviços de NA cujo propósito é que qualquer adicto – esteja onde estiver – possa ter uma chance de encontrar NA) Quero dizer que acredito muito nisso, pois mais da metade da população das cadeias estão ali por algum crime que tem relação com as drogas. Fica ai uma reflexão para que através do serviço de HI e Longo Alcance e IP passemos a priorizar também os pedidos oriundos das Fundação Casa, penitenciarias, detenções e colônias penais. Na edição da NA WAY Magazine de outubro de 2008, li um artigo interessantíssimo onde falava que nosso escritório mundial recebia de 80 a 100 cartas por semana de instituições carcerárias. Quanto a mim só resta agradecer muito a Deus pelas oportunidades que a recuperação me deu. Este trabalho que visa documentar parte da nossa história tem como único propósito levar a mensagem para companheiros que estão presos e para servidores de HI que pretendem atender uma instituição carcerária. Em espírito de irmandade. ------------------------------------------------------------------------------As experiências obtidas em instituições carcerárias, e especialmente no Carandiru que veio proporcionar a abertura do grupo da paz; são variadas e reveladoras, no sentido de haver a possibilidade de recuperação da adicção ativa, independente do lugar ou das dificuldades adicionais existentes. Porém, uma reunião específica marcou mais intensamente: Um jovem que participava do painel do HI como residente, e quando foi aberto para perguntas e respostas, esse jovem pediu a palavra, e ao invés de perguntar resolveu fazer uma declaração. Disse: "eu não acreditei em vocês, pois freqüentava um grupo e acreditei que vocês não sabiam se divertir....não sabiam das coisas então resolvi me afastar, e voltei a fazer as mesmas coisas que fazia antes de ingressar em NA com meus "amigos" antigos. Hoje estou aqui em conseqüência da adicção ativa, e estou sujeito a ter de cumprir 16 anos de pena. "Meu Deus como fui ingênuo, burro, por que não acreditei" e começou a chorar. Essa partilha tem servido até hoje para que eu reflita sobre as sugestões que recebo na irmandade, e o que estou fazendo para minha própria recuperação. Independente do que tenha acontecido com esse companheiro, à mensagem ficou, e ele tornou-se um dos servidores do grupo da paz, podendo transmitir sua experiência, força e esperança a vários outros adictos que procuraram recuperação. ------------------------------------------------------------------------------Olá, companheiros, sou um adicto em recuperação e, graças a Deus e NA, estou limpo hoje. Minha experiência no GRUPO DA PAZ foi ao início, no começo da minha recuperação, um companheiro sugeriu que eu freqüentasse uma oficina de HI (Oficina Nova Esperança) que ficava nas dependências do GRUPO SÃO JOSÉ. Eu já estava limpo há alguns meses, fiz os treinamentos e comecei a levar a mensagem de NA aos adictos que ainda sofrem nas instituições atendidas por esta oficina. Quando cheguei ao serviço de HI o GRUPO DA PAZ já era um grupo institucional com secretário, RSG etc. Mas na oficina faziam uma espécie de reciclagem para poder partilhar no GRUPO DA PAZ, pois se tratava de uma instituição carcerária. Tive dois companheiros, que considero como amigos até hoje, que serviram como RSG no GRUPO DA PAZ. Eles sempre me faziam um convite para ir com eles até a detenção para partilhar minha experiência, força, fé e esperança. Mas eu achava que não tinha muito a oferecer àquelas pessoas que estavam presas, pois ainda não tinha passado por uma prisão, minha experiência era com instituição de tratamento (clínica de recuperação), mas como diz a literatura HI e o membro de NA, a única diferença entre eles e eu, é que eles foram pegos. Um dia criei coragem e fui até o GRUPO DA PAZ com os companheiros. As reuniões, se eu não me engano, eram às quartas-feiras pela manhã, nos reuníamos na porta da casa de detenção. Chegávamos no horário correto, passávamos pela revista e então, pelos enormes portões. A sensação era impactante! O cheiro de esgoto era horrível, o clima era de terror, era um lugar que normalmente as pessoas não queriam nem passar pela frente e, estávamos lá dentro. Mas eu acreditava que aquelas pessoas que estavam presas poderiam encontrar uma nova maneira de viver mesmo dentro da cadeia, poderiam tratar da doença da adicção e ficar limpas. Voltei ao GRUPO DA PAZ outras vezes (várias), presenciei alguns ingressos e muitas trocas de fichas, o programa estava funcionando para eles também. Mas uma partilha que me emociona até hoje, foi a de um companheiro que, infelizmente não me lembro o nome, mostrou seus joelhos calejados e disse que estavam daquele jeito para que ele se mantivesse limpo, pois na cela em que ele estava, “ficava a droga” e “uns caras” que ficavam usando a noite inteira. Então ele ficava de joelhos coberto com uma manta, orando pedindo a Deus que o ajudasse para tirar a vontade de usar pois queria muito ficar limpo. Isso me mostrou que quando um adicto tem o desejo de ficar limpo (3ª TRADIÇÃO) e esse desejo é maior que à vontade de usar, ele fica limpo independente do lugar e da situação. Outra coisa que me lembro, era do carinho e respeito que eles tinham conosco, membros de NA, todas as vezes que fui até lá, sempre fui bem tratado e respeitado. As reuniões eram realizadas na capela e sempre sai de lá me sentindo muito bem, com a sensação de estar fazendo a coisa certa pelo motivo certo. Hoje continuo servindo o HI porque o que preenche o meu vazio e me faz sentir útil é esse serviço abnegado. O amor incondicional, que nós servidores passamos a ter, acreditando naqueles em que a sociedade discrimina, julga e muitas vezes, condena como casos perdidos. Levando a mensagem até eles e mostrando que existe uma nova maneira de viver (NA). ------------------------------------------------------------------------------Sou um adicto em recuperação só por hoje. No ano de 2000 estava trabalhando em uma Clinica Terapêutica e estava eu e outro companheiro que naquele dia me chamou para partilhar, pois precisava de ajuda. Começamos a conversar e ele me perguntou se eu poderia ir com ele até São Paulo para irmos ao Grupo da Paz; me senti feliz, combinamos e no caminho perguntei onde era e ele me respondeu: no Carandiru. Senti medo e falei: só vou te levar e te espero no carro. Chegando lá os companheiros me convidaram para participar da reunião. Fiquei apreensivo, eu não queria, mas uma força maior me fez adentrar naquela grande muralha. Estava assustado. Chegamos a uma sala e deixamos todos os nossos objetos. Naquele momento disse para eu mesmo “vou encarar esse desafio”. Estava com vergonha, não sabia o que partilhar. Sentia muitos sentimentos. Os companheiros me ajudaram, me deram força e entramos. Um lugar frio e sujo, mas ao mesmo tempo senti uma enorme gratidão por estar com os companheiros ali encarcerados, mas em recuperação. Sentime “só mais um” e estava muito feliz. Ao lado daquela sala, havia pessoas usando drogas, mas a reunião estava acontecendo e o PS, ali presente. Foi uma sensação. A mais maravilhosa que senti naquele momento. A mensagem da recuperação. Sou muito grato! Obrigado PS. Sou um adicto e graças a um Deus Amoroso e Bondoso e NA estou limpo só por hoje 11 anos e 21 dias. ------------------------------------------------------------------------------Quando cheguei ao subcomitê de HI em 1997 eram realizados painéis na Casa de Detenção, e estava em discussão, a possível abertura de um grupo institucional dentro daquela penitenciária. Os companheiros dos subcomitês de Longo Alcance e HI se juntaram para que esta idéia se tornasse realidade, não me lembro de exatamente quando foi fundado o Grupo da Paz, mas me lembro das partilhas de companheiros que foram lá na 1ª reunião, e assim “atiçou minha curiosidade” para conhecer aquela instituição. Passado o tempo comecei a ir ao Grupo da Paz, pois estava desempregado, e a primeira vez que fui lá foi muito emocionante, e fiquei com um pouco de medo, pois, ao entrar eu via aqueles portões enormes se fechando por trás de mim, dando a impressão que a qualquer momento pudesse haver alguma rebelião ali dentro, e a pergunta que eu me fazia era a do que poderia me acontecer se isto acontecesse, mas eu era sempre lembrado que ao entrarmos naquele lugar, nós membros de NA estávamos protegidos pelo “Governador da nossa irmandade” (o Poder Superior), e nunca houve nada que pudesse me desestimular para voltar. Aconteceram fatos curiosos dentro daquelas reuniões, todas aconteciam com muito respeito; bem diferente dos grupos do lado de fora. Costumava falar que dava para ouvir o ponteiro do relógio que ficava preso na parede, lembro também que naqueles períodos de dificuldade que eu estava passando (desemprego e muito medo de morar na rua); nada se comparava às histórias dos companheiros que estavam presos e que por muitas vezes estavam gratos por estarem conseguindo ficar limpos. Naquele lugar era muito difícil um adicto não usar. Muitas vezes os companheiros partilhavam que tinham de dormir com pessoas usando drogas ao seu lado, e neste momento eu agradecia por poder ter a minha liberdade, e poder escolher para onde ir ou estar. Escutei algumas vezes que existiam companheiros que acabavam indo para “o castigo” ficando em celas separadas, e os outros companheiros faziam de tudo para que eles além de continuarem limpos ficassem em contato com a nossa irmandade através da literatura que era levada por membros através dos dutos de ventilação ou de maneira clandestina, e eu me perguntava, como pessoas que estão presas podem se importar umas com outras a este ponto? Sendo que aqui fora a nossa irmandade estava sempre com os nossos grupos cheios, e muito poucos companheiros interessados em levar adiante a nossa mensagem para outras pessoas como nós, pois eles também eram adictos querendo estar em recuperação. Lembro-me de um companheiro interno ter se candidatado ao encargo de secretário do grupo. A emoção que ele sentiu ao ter sido eleito, e depois de alguns anos ele estava trocando de ficha de 03 anos limpos, partilhando que tinha encontrado a liberdade dentro da prisão; a particularidade era a de que este companheiro já era uma pessoa com mais de 65 anos, mais uma vez mostrando que a nossa irmandade não deve discriminar quem quer que seja. Em outras oportunidades, eu me lembro da emoção de companheiros que nos pediam para que voltássemos, pois, eles precisavam da nossa força, fé e esperança, para que eles pudessem encontrar a esperança que um dia eu também não tive e que por causa de pessoas como eu; acabei encontrando não só a esperança, mas principalmente a liberdade da adicção ativa, e por isto eu continuo sendo muito grato. Queria agradecer aos companheiros que tiveram a idéia de fazer um livro com as histórias do Grupo da Paz, pois foi um momento importante na história de NA no Brasil, e o motivo que me fez escrever este depoimento foi uma história que eu li na publicação NA NEWS que dizia que em uma prisão do Bahrein, um país da Ásia aonde NA existe há pouco tempo o diretor daquela prisão incentiva o serviço de NA como também quase todos os dias, faz a leitura no alto-falante daquela instituição da meditação do dia do nosso livro Só Por Hoje - Meditações Diárias, e por este e todos outros motivos que vejo diariamente é que NA funciona! - Obrigado companheiros, pelo serviço! ------------------------------------------------------------------------------- Eu sou mais um adicto e estou limpo graças a NA há nove anos, onze meses e quatro dias só por hoje! Quando cheguei em NA ouvia falar de HI e tinha muita curiosidade em conhecer mas morava muito longe do subcomitê local, mais de trinta km, e a condução era ônibus (duas horas) e mais metrô, mas mesmo assim fui com um companheiro mais antigo conhecer. Daquele dia em diante minha vida mudou e minha recuperação também, pra treinar tinha uma simulação com trinta companheiros em média e até tremia nos primeiros treinamentos. Sentimento indescritível! Com dois meses fui pela primeira vez em uma clínica que utilizava o método de doze passos e era pra ser apenas um ouvinte, mas acabei por partilhar e também o fiz tremendo. Ouvia falar no HI de uma clínica psiquiátrica e que pra ir lá, mesmo se fosse de ouvinte tinha que ter mais de seis meses limpos e também ouvia falar de um grupo dentro do maior presídio da América Latina (Carandiru) e que esse grupo se chamava Grupo da Paz e sentia até arrepio só de pensar em um dia ir lá. Mas falava pra eu mesmo que iria ficar limpo e iria chegar o momento de poder ir nessas instituições. Com seis meses e três dias fui à psiquiatria e foi uma experiência e tanto, já que vim da rua, sem passar por instituição. Com dez meses limpo e envolvido no serviço da irmandade me senti preparado e marquei com os servidores do HI. Acordei bem cedo e pedi ao Poder Superior pra me usar naquele dia como instrumento da Sua Vontade e fui: ônibus (duas horas) e metrô, não queria que os companheiros percebessem meu nervosismo e tinha um companheiro que não está mais nesse plano. Ele tinha muita experiência e ele me acalmou bastante com sua tranqüilidade e agia normal, como se fosse a uma clínica qualquer, ao passar. Eram vários portões e a cada portão que se fechava eu pensava: "MEU DEUS, CUIDA DE MIM", entramos e fomos para o pavilhão onde aconteciam às reuniões e ficou marcada na minha memória: um senhor com uma ficha preta pendurada no peito como pingente em uma correntinha e ele era o responsável em chamar os presos que queriam fazer parte da reunião, ou que queriam conhecer a reunião. Quase no meio dessa reunião chegou um companheiro apressado e fez uma partilha que até hoje eu falo dela onde quer que eu vá! Na noite anterior, os parceiros de cela dele haviam usado a mesma droga de escolha dele durante a noite inteira e ele tinha que passar a droga para um parceiro do lado, e de joelhos pedia a DEUS pra não usar, que queria trocar de ficha de seis meses no outro dia, e ao acordar, ele ficou muito triste porque ouviu dizer que no pavilhão dele ninguém poderia sair pra nada, mais uma vez ele falou com Deus: Se for sua vontade, que seja... Mas Deus agiu naquele dia e deu tempo dele fazer todos nós chorarmos, como estou nesse momento: chorando lembrando essa situação (que nunca quero esquecer). Ele trocou de ficha de seis meses limpo e foi “a” troca de ficha. A mais emocionante que já vi até hoje! Fiquei tão emocionado que queria voltar mais vezes, mas meu horário de serviço não permitia e nessa época estava freqüentando o subcomitê de HI e vi que bem na minha folga seria a comemoração de quatro anos do grupo e me envolvi. Novamente senti tudo de novo. Aquele medo, e fui com medo mesmo e foi outra experiência maravilhosa! Liberaram todos os pavilhões pra participarem da reunião e lotou o local. E depois os presos fizeram até um samba pra nós, tinha bolo e os membros de NA presos tinham o mesmo brilho nos olhos dos que estão aqui fora, e estavam muito felizes, porque mesmo presos, estavam libertos da pior prisão que existe, que é a prisão da adicção ativa. Como mencionei anteriormente: após eu ir ao Grupo da Paz minha recuperação nunca mais foi a mesma! Hoje, haja o que houver não tenho do que reclamar! Obrigado pela oportunidade de poder partilhar e um grande beijo no coração! ------------------------------------------------------------------------------ADICTO, LIMPO DESDE 18/06/1996! SPH! No final de 1996, um bando de loucos se reuniu no propósito de levar a mensagem de NA ao maior presídio em população do mundo: A Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru). Em principio foram alguns painéis de HI atingindo as tão famosas salas de aulas da instituição (inclusive algumas tinham sido celas de castigo, outrora), com isso e aos poucos todos os detentos ficaram sabendo que de 15 em 15 dias haveria reuniões de NA no Pavilhão 03. No começo muita duvida muita resistência por parte dos internos, mas, o mais impressionante era o respeito entre os membros (internos e externos) e a vontade que tínhamos de que “aqueles caras” (adictos presos) soubessem que era possível o que estávamos propondo a eles e não éramos especialistas no assunto nem profissionais da área da saúde, falávamos de “igual para igual” e todos se faziam entender. Um mês depois já tínhamos conquistado a confiança do agente penitenciário responsável por nós (O nosso Anjo da Guarda) o chefe da liga esportiva da Casa, diga-se de passagem, que eu nunca vi ninguém ser tão respeitado como era aquele homem. Tivemos a oportunidade de conhecer algumas pessoas que já haviam passado por NA. Outras tivemos a infelicidade de rever, que em decorrência da adicção ativa estavam exclusos da sociedade. Aos poucos fomos ganhando espaço e com o passar do tempo muitos internos se juntaram a nós e levantaram a nossa bandeira com a certeza de que estavam fazendo parte de algo possível e fácil de praticar em qualquer lugar, pois o que mais deixava os companheiros à vontade era a certeza que todos que participavam daquelas reuniões que fazíamos; já tinham feito de algum modo, parte da marginalidade um dia, o que contava muito ao nosso favor. Lembro-me que em certa época que íamos às quartas-feiras e ficávamos aguardando horas na porta do presídio para sermos atendidos, mas quando nosso Anjo protetor aparecia tudo virava festa, pois sabíamos que nossa reunião já começaria dentro de alguns minutos. Lembro-me com muita tristeza quando deixava meu RG na porta para entrar, pois já tinha feito aquele trajeto varias vezes para visitar meu irmão (morto em Dez/96 em decorrência da adicção ativa), então éramos revistados com muito respeito e carinho pelos funcionários. Parávamos no Jardim da Divinéia para fazer nossa oração e entravamos antes de passarmos pelo primeiro portão; todos da cadeia já sabiam que estávamos lá íamos direto para o Pavilhão 03, e normalmente já tinham 02 ou 03 companheiros nos esperando para o inicio da reunião. Normalmente éramos 05 ou 06 externos e mais ou menos 12 a 15 internos. No inicio os externos falavam primeiro e depois os internos falavam, normalmente muito pouco, até que chegou um rapaz na sala que já tinha ficado limpo por alguns anos em NA e começou a ser o nosso divulgador de reuniões na instituição. Com seu retorno a NA acontecido na Instituição ganhamos mais força e crédito, pois alguém deles já nos conhecia e pôde comprovar o que falávamos. Toda semana aquela angustia, pois tínhamos que contar com a sorte e a paz interna da Casa para podermos entrar, então tinha dia que não podíamos entrar por causa de rebelião ou por falta de lugar e também tinham as revistas periódicas que a policia fazia, nesses dias nem pensar. Por mais recuperação, que vivêssemos aqui fora não se comparava aos membros internos, pois eles tinham que conviver da mesma maneira e com as mesmas pessoas lá dentro então eles aplicavam muito plenamente o programa em suas vidas e conseguiam todo dia trazer pelo menos um novo interno para as reuniões. Havia um companheiro, que era um senhorzinho negro de fala mansa. E muito educado que foi um dos nossos primeiros ingressos, se não o primeiro, este homem cuidava das nossas literaturas com tanto amor que parecia uma coleção de cartas de amor que tivera recebido da sua amada. E com o passar do tempo já éramos muitos que freqüentavam o Grupo da Paz. Tive a oportunidade de diversas vezes me deparar com situações que me gelavam o coração, mas estávamos lá para fazer com que eles entendessem que tudo que nós propúnhamos era totalmente aplicável em qualquer lugar independente da situação, e tivemos diversas provas disso quando conseguíamos realizar uma troca de fichas ou até mesmo a festa de aniversario do grupo que foi um grande acontecimento tanto para Irmandade quanto para instituição. Durante as reuniões tive oportunidade de conhecer o outro lado da marginalidade e também pude mudar muitas coisas na minha vida e valorizar coisas comuns e amar os meus próximos muito mais do que já amava. Já conhecia aquele lugar, porém, nunca tinha ido para tentar ajudar um desconhecido. “Teve uma vez se não me engano a segunda vez, que fui com os companheiros e estava esperando no meio do pavilhão quando me jogaram uma TEREZA (corda feita pelos presos para comunicação ou para fuga) com um bilhete amarrado na ponta:” ME TIRE “DAQUI ESTOU NA TRANCA FAZ QUATRO MESES, NÃO TOMO BANHO A MAIS DE UMA SEMANA, SE FICAR AQUI VOU MORRER, POR FAVOR, ME TIRE DAQUI”, peguei o recado e não pude fazer nada, pois nossa proposta não era ajudar diretamente ninguém nem privilegiar ninguém, conforme treinamentos de HI e Longo Alcance. Noutra vez viram um rapaz pedindo desesperado para não ir para uma determinada unidade, pois tinha muitos inimigos por lá, porém foi em vão. Dias depois fiquei sabendo que tinha sido morto na tal unidade. Mas a melhor de todas foi que havia um companheiro que a todo final de reunião me pedia para dar um beijo especial na minha mãe, e na semana seguinte ele me cobrava o tal beijo. Passado alguns meses, perguntei por que me pedia para dar o tal beijo sendo que ele nem conhecia minha mãe. Ele me disse apesar de não conhecê-la eu não podia perder tal oportunidade, pois a mãe dele, ele já não a beijava há 17 anos (tempo que estava preso). O mais importante desse Grupo foi a oportunidade que tivemos de entender que independente da situação a 3ª Tradição garante liberdade Mental e Espiritual e Comportamental a todos que praticam o programa de NA. Sem distinção. Não sei se ensinei alguma coisa, mas tenho certeza que aprendi muito. “E, como dizia um saudoso amigo, quando tudo parecer ruim, sinta-se numa caixa d’água cheia, reze incansavelmente, pois a água vai baixar e você vai sair da caixa seco e pronto para viver outra dificuldade”. (Saudades de todos os companheiros que compunham o time e que me deram a oportunidade de aprender tanto com ELES). Muito obrigado pela oportunidade de fazer parte dessas histórias e também de poder contá-la. ------------------------------------------------------------------------------Sou um adicto em recuperação e participei das reuniões do Grupo da Paz. Estive em algumas quartas feiras das 09h30min h às 12h30min h. Quero falar de muitas coisas que Narcóticos Anônimos vêm me ensinando e com as experiências das pessoas que vem se recuperando da adicção ativa. Muitas vezes quando eu ia às reuniões do Grupo da Paz, marcava com os companheiros para fazer o painel de HI. Vi muitas experiências de pessoas que estavam se recuperando através do programa de Narcóticos Anônimos, dentro da Casa de Detenção no Grupo da Paz de Narcóticos Anônimos. Todas as reuniões que eu ia, ouvia várias experiências e fui aprendendo com os companheiros que estavam presos e que eram servidores do Grupo da Paz, como o secretário. A estrutura de serviço do Grupo mantinha a 5 ª Tradição o propósito primordial e a 3ª tradição para que os recém chegados pudessem ingressar e recuperar-se da adicção ativa. Só por hoje estes foram os meus sentimentos ao escrever um pouco de experiência de ter aprendido com o adicto em recuperação, os caminhos de Narcóticos Anônimos. ------------------------------------------------------------------------------Grupo da Paz – Lição de vida, determinação, igualdade e fé. Sou um adicto em recuperação e estou limpo a pouco mais de 9 anos. Esta vitória diária sobre minha ativa deve-se a minha presença constante em sala e ao serviço de NA, entre eles o de partilhador de HI, que logo no inicio de minha recuperação permitiu-me conhecer o Grupo da Paz, situado dentro da extinta Casa de Detenção de São Paulo no bairro do Carandiru. Logo de manhã nós, quatro companheiros, nos encontramos no portão principal. De inicio notamos alguns poucos familiares de detentos davam entrada em alguns “jumbos” na portaria, apesar de não ser dia de visita. Em seguida o Senhor Responsável por nós lá dentro, veio nos receber e, como sempre com um sorriso aberto e estampado em seu rosto. Grande personagem da vida este senhor, ao qual sempre agradecíamos pelos esforços que fez para permitir que a Irmandade de NA obtivesse sucesso no projeto de abrir e manter um grupo dentro daquela instituição. Íamos entrando, as trancas batendo às nossas costas com um som frio e sofrido, porém repleto de esperanças. Chegamos ao local e, se não me engano, era no Pavilhão 4 ou 5 que se baseava a sala onde se dava a reunião semanal. Conheci o interno, mulato alto, forte que detinha, dentro de si, um coração enorme. Imaginem vocês que este detento, graças a sua grande resistência física, literalmente escorregava dentro da tubulação de ar e ia jogando alguns folhetos de recuperação dentro de algumas celas, principalmente as do “seguro”, pois os detentos que lá se encontravam não podiam sair nem mesmo para o banho de sol, sabiam que estavam “marcados para morrer”. A reunião fluia normalmente e o que me chamava mais à atenção era a forma de tratamento que estes detentos nos reservavam. Sempre atenciosos dificilmente pronunciavam sequer um palavrão ou mesmo falavam alto. A educação deles destoava-se do local. No final de uma reunião, percebemos que um detento retirou sua camiseta e começou a copiar algumas frases do Texto Básico, havia apenas dois exemplares circulando internamente. — Tem muita gente usando no meu “xis” e isso me ajuda a não usar. Voltei mais algumas vezes àquele grupo e só não fui mais porque era sugerido, pelo subcomitê de H&I, o revezamento constante dos membros, evitando assim a possibilidade de criação de qualquer tipo de vinculo entre nós publico externo com os internos. O Grupo da Paz, apesar de hoje inexistente, deixou muitos frutos, tanto aos detentos quanto para nós. Para mim, me permitiu perceber o quanto de pré-conceito carregava dentro de mim e o quanto teria que lutar para ficar livre desse inútil sentimento. Ensinou-me que independente “das grades que nos separam não existem diferenças entre nós, somos todos adictos buscando recuperação”. ------------------------------------------------------------------------------Meu nome é adicto em recuperação e estou limpo a 8 anos e alguns dias e é graças a Narcóticos Anônimos como um todo e os companheiros de NA. Estou aqui para falar de minhas experiências no Grupo da Paz de NA. Um grupo que funcionou alguns anos na Casa de Detenção, na Avenida Cruzeira do Sul, no Carandiru. Tudo começou no meu grupo de escolha que é no bairro Jaçanã em SP. Estava limpo fazia uns 6 meses e estava servindo o grupo como secretário nas 3ª, 5ª e 6ª feiras. Durante as reuniões os companheiros falavam de levar a mensagem de NA adiante em hospitais, presídios, instituições, aos adictos que ainda estavam sofrendo nos horrores da adicção ativa. Senti que estava faltando isso na minha recuperação e resolvi procurar o subcomitê de HI que funcionava no Grupo São José e na época tinha o nome de Oficina Nova Esperança de Hospitais e Instituições. Chegando, logo de cara, comecei a fazer os treinamentos e fiquei sabendo que funcionava um “painel de HI” dentro da Casa de Detenção as 4ª feiras às 9h00 manhã e resolvi conhecer o grupo. Eu estava com medo no inicio. Mas um Poder Maior me auxiliou e consegui superar esse medo e entrei na casa para levar a mensagem de NA junto dos companheiros. O que me chamou a atenção é que fazíamos a oração da serenidade antes de entrar no grupo. E tinha um carcereiro que participava da oração. Chegando ao painel pela 1ª vez eu reparei que o Grupo estava cheio de gente já sentada nas cadeiras. Tinham alguns senhores de idade mais avançada e alguns jovens e todos estavam sentados de calça bege e camisa branca. O coordenador do painel tinha alguma intimidade com aquelas pessoas que eram moradores do local. A reunião foi maravilhosa e serviu para reforçar o propósito de não usar droga naquele dia. Eu continuei voltando nas quartas-feiras seguintes daquele mês. O companheiro falava sempre nas reuniões que aquele painel de HI ia deixar de ser painel para transformar-se num grupo de Narcóticos Anônimos e através dos subcomitês de HI e Longo Alcance esse objetivo foi alcançado no mesmo mês. O coordenador tinha concluído seu encargo e tinha em aberto para o substituto ser o primeiro representante do grupo (RSG). Eu resolvi levantar a mão na primeira reunião de serviço naquele grupo e os companheiros votaram em mim para RSG e num outro companheiro residente para secretário do Grupo da Paz. O grupo funcionava no pavilhão seis na capela da Igreja Católica. Os companheiros do outro pavilhão tinham que ter autorização dos diretores para circular em outros pavilhões, por escrito. O responsável para pedir essas autorizações outro interno, já era um senhor residente que morava no pavilhão cinco. Existia uma diversidade de gente adicta muito grande naquele grupo e os companheiros estavam conseguindo ficar limpo apesar das dificuldades. A dificuldade as quartas-feiras era achar membros de fora da instituição para levar a mensagem para aquele lugar. Os companheiros da zona norte e sul solidarizavam com o grupo da paz e ajudavam sempre que podiam mandando sempre alguns membros através do subcomitê de longo alcance e HI. Existiam algumas normas para levar a mensagem, exemplo: não estar devendo para a justiça e tempo mínimo de seis meses limpo, mulher também não podia participar. Nós éramos “as calças azuis” da mensagem de NA. As reuniões em média de quinze a vinte pessoas, incluindo o Poder Superior e sempre tinha recém-chegados e pessoas há anos limpas. Existiam espiritualidade e respeito que eu não via igual no grupo de fora da instituição. Alguns de dentro do local esperavam ansiosos este momento de ter as reuniões para desabar os acontecimentos dos dias seguintes. Uns não tinham visitas ao domingo por motivos diversos. Eles gostavam do nosso cafezinho da cafeteira e das literaturas de NA, das nossas partilhas de força, fé e esperança, também tinha pessoas que conseguiam autorização para ir para Narcóticos Anônimos, mas iam fazer “outras correrias”. Achava tudo aquilo novo e desconhecido. Fui me acostumando com tudo aquilo que eu presenciava e continuei voltando e fui ficando limpo também. Alguns dias depois o secretário recaiu. O companheiro que estava limpo a mais de um ano e meio pegou o encargo de secretário e melhorou muito as reuniões do Grupo da Paz. Tivemos o primeiro aniversário do grupo da paz em novembro. As doações foram dos companheiros de fora do grupo que colocavam na sacola para comemorar essa primeira festa. Um interno me pediu uns dias antes para trocar a ficha de seis meses limpos lá dentro. Eu tinha acabado de chegar da minha primeira convenção que foi a única até hoje, que foi em Poços de Calda. E resolvi trazer de lá aquela ficha azul. Um companheiro doou uns 700 salgadinhos e resolveu ir também naquela festa juntos de uns 10 companheiros de fora da instituição e umas 300 pessoas lá de dentro comemoramos aquele aniversário. Na troca de ficha do companheiro, o que me impressionou foi ele ter falado que a liberdade ele tinha encontrado lá dentro através de Narcóticos Anônimos. O companheiro na hora de cortar aquele bolo não agüentou a emoção e chorou muito. Estavam no final da reunião todas abraçadas para oração final, umas 300 pessoas, todos estavam felizes gritando – “Ah”! Hoje eu tô limpo! Dezembro era o mês de festa de fim de ano e por isso não tinha reunião nesta data. Em janeiro nós voltamos a participar novamente das reuniões do Grupo da Paz. Eu tinha conseguido pela primeira vez na minha vida ficar sem usar drogas e álcool. Como aquele gesto fortaleceu minha recuperação. Comecei como RSG a voltar a freqüentar reuniões diárias novamente depois do recesso de fim de ano. E eu pude perceber que alimentava o interesse dos companheiros de Narcóticos Anônimos a ajudar aquele grupo, também reparei dentro do grupo que alguns companheiros de lá dentro não estavam mais no presídio do Carandiru, eles tinham pegado o bonde para outros locais e outras cidades. O secretário e o RSG eram os mesmos. O material do grupo foi desviado incluindo a toalha azul e as literaturas e a cafeteira. E a Área doou tudo novamente para podermos ter nossas reuniões novamente. Naquele ano eu aprendi muito nas reuniões do Grupo da Paz e parei de reclamar de algumas dificuldades que eu tinha. Havia muitos recém-chegados, em média 3 ingressos por reunião. Os depoimentos dos companheiros de lá de dentro me fortalecia cada vez mais a ficar limpo. Pessoas que falavam que estavam sem usar drogas e no local de moradia tinha uns 8 usando ao seu redor e eu continuei voltando. Passado alguns meses de reuniões o companheiro que servia como secretario entregou o seu encargo na irmandade. O motivo: a religião dele pediu para ele se desligar do grupo de Narcóticos Anônimos e ele atendeu prontamente. Era meio complicado arrumar secretário no Grupo. O motivo é alguns moravam em outros pavilhões e não podiam ficar circulando nos pavilhões sem autorização escrita. Foi eleito numa reunião de serviço o novo secretário do Grupo da Paz. Esse companheiro era tão inteligente e prestativo e ajudou muito o Grupo Também. Ele era um poeta nas horas vagas e ganhou um concurso de poesias do Jornal Noticias Populares; no valor de R$ 3.000,00. Ele não agüentou e recaiu logo após. Mas ele voltou e recomeçou novamente sua caminhada de recuperação. Com dez meses de serviço prestado ao Grupo entreguei meu encargo por motivos de forças maiores. Outro companheiro foi eleito para novo RSG do Grupo da Paz e eu estava como membro do Grupo. Sempre que podia comparecia nas reuniões. Foi eleito um secretário que não lembro o nome. No final do ano eu pude participar por mais uma festa de NA, o 2º aniversário do Grupo da Paz. Depois das festas de fim de ano o companheiro RSG entregou seu encargo e dois novos companheiros foram eleitos RSG e RSG Suplente. Eu tive que continuar voltando às reuniões e pude ajudar esses companheiros a levar a mensagem. Pude no começo do ano, percorrer as escolas que funcionavam lá dentro de cada pavilhão e falar que reuniões de Narcóticos Anônimos existiam lá dentro e convidava os detentos para ir conhecer o Grupo da Paz. As 4ª feiras as 9h00 h da manhã. Esses dois companheiros eleitos mais o secretário eleito foram os que mais contribuíram levando a mensagem de NA. Eles inclusive conseguiram concluir os encargos de RSG e RSG Suplente. O companheiro; secretario do Grupo não conseguiu por motivo de recaídas, mais não desistiu da recuperação e continuou voltando pra secretariar as reuniões e mesmo nessa condição ele era aceito. As reuniões estavam acontecendo no Pavilhão 5, nessa época era considerado o lugar do seguro na cadeia. Teve uma reunião que me chamou a atenção, onde durante a reunião neste pavilhão e não sei por qual motivo; mas parece que teve lá dentro, um acerto de contas e alguns indivíduos encapuzados e com facas nas mãos invadiu o local da reunião e pediu educadamente para nós deixarmos aquele local porque ia ter talvez uma briga. Agradecemos e deixamos o Grupo da Paz. Não deu tempo pra guardar nada do Grupo naquele momento. Inclusive o companheiro se esqueceu de pegar sua blusa e o dinheiro que estava no bolso que era R$ 50,00 na época. Saímos do presídio sem saber o que estava acontecendo. Uma semana depois voltamos mais uma vez para reunião do Grupo. Eis o milagre, os companheiros detentos guardaram o material do Grupo, a blusa e o dinheiro. A partir daí eu comecei a ver como NA era respeitado por todos naquele lugar. Foram mais ou menos uns 3 anos de frequencia no Grupo da Paz minha participação. Foram 3 festas de aniversário. Inclusive a última reunião que fui foi a de aniversário. Muitas coisas que eu presenciei me ajudaram na minha recuperação. RESUMO DO GRUPO DA PAZ Assim como na reunião de encerramento do Grupo da Paz, agradeço a todos que por lá passaram para levar ou receber a mensagem de Narcóticos Anônimos. O Grupo terminou suas atividades por motivo de desativação da Casa de Detenção. O último secretário eleito, e que tinha dificuldade de ficar limpo naquele local, mas sempre acreditávamos no seu serviço. Temos notícias dele: Hoje ele está limpo há uns 3 anos. Cartaz divulgando o Grupo da Paz e incentivando os membros de NA a participar! SOBREVIVENTE DO INFERNO DE REPENTE ACORDEI NO INFERNO: De uma vida destinada a curtir desde os doze anos em contato com as drogas de todos os tipos, cercado de amigos que só queriam desfrutar Chegou o momento em que eu já não conseguia manter meu vício como usuário, a quantidade de drogas que eu consumia era muito grande, já não conseguia o dinheiro pra comprar, então aos 38 anos de idade parti para o tráfico, já tinha alguma experiência, visto que, já havia feito alguns “aviões” durante minha jornada no mundo das drogas, sempre coisa pequena nunca tive uma “boca” ou “biqueira” (ponto de venda de drogas), neste momento eu estava totalmente viciado e trabalhando com táxi no Centro de São Paulo, conheci a “Boca do Lixo”, bairro do Centro de São Paulo, onde existem muitos Teatros de strip-tease e muitos bares noturnos freqüentados por pessoas com um nível social baixo, cheio de ladrões, estelionatários, traficantes e prostitutas. Foi onde comecei a fazer corridas de táxi para traficantes. Um dia a casa caiu de vez e fui parar na delegacia. Fui indiciado no artigo 12 – tráfico, considerado crime hediondo - assinei e não teve acerto, aqui começou a minha jornada para o inferno. Passei por várias Delegacias onde as drogas existiam em fartura. Adoeci, adquiri uma infecção pulmonar, e quase morri. Fui transferido para outro “CDP” – Centro de Detenção Provisória - onde recebi tratamento médico adequado e consegui curar e ficar bem, foi lá que chegou a notícia da minha condenação. Esta notícia foi à “passagem para o inferno”, porque quando dei por mim, já estava no Carandiru, havia sido condenado e não poderia ficar mais no CDP. Fiquei apreensivo na minha chegada ao Carandiru, sempre ouvi histórias terríveis em relação a este presídio, tem até um Rap que diz “Carandiru Casa do Diabo Velho”, era realmente um lugar terrível mais de 8.000 detentos amontoados em 8 pavilhões. A rotina era esta: logo que você chegava, ficava na “Triagem” que eram celas de mais ou menos 4 x 4 metros, que abrigavam uns 50 detentos, era terrível enquanto uns dormiam outros tinham que ficar em pé, fora o fato que os presos mais velhos ficavam te olhando o tempo todo por um buraco, para te reconhecer e ver se você devia alguma coisa para o crime. Se tivesse algum “cagueta”, se era de alguma facção rival, se fosse um “talarico” - malandro que sai com mulher de malandro preso - ou se no DP – Distrito Policial - você extorquiu os mais humildes, você estava ferrado: ia ter que se explicar quando saísse da triagem. Depois de algum tempo na triagem, você era transferido aos pavilhões, se não tivesse amigos pra arrumar vaga nos “barracos” – celas você ficava em outra triagem do pavilhão, eram celas menores ainda, que ficavam cerca de 30 detentos, não eram abertas para o sol, você ficava na “tranca” –fechado - o dia inteiro, estas celas ficavam no lugar onde era o uma vida de prazeres, fui hippie, fiz muito artesanato, viajei muito às praias, fui a muitos festivais de rock, sempre envolvido com drogas e álcool. Assim os anos foram passando, foram passando e o consumo de drogas aumentando a cada dia. castigo também, ai o motivo para não serem abertas para o sol, se passasse algum tempo e você não conseguisse lugar pra morar, você era transferido para o seguro no 5º andar e continuava na “tranca” o dia inteiro. Você só tinha 2 opções, conseguir lugar num “barraco” de amigos ou comprar um “barraco” - celas que ficavam os preso já fora da triagem e eram abertas diariamente das 08h00 as 16h30 -, os “barracos” eram vendidos de R$ 600,00 a R$ 1.200,00. Impressionante, você tinha que comprar o lugar para “tirar sua cadeia” - cumprir a pena. Devo dizer que lá era terra de ninguém mesmo, os seguranças só subiam no pavilhão na hora da “tranca” - colocar os presos de volta nas celas - já que tinham medo dos presos. Fui “pago” – colocado - no pavilhão 5, que abrigava mais ou menos 1.600 detentos e tinha fama de seguro, porque lá ficavam os homossexuais e os detentos que aprontaram em outros pavilhões. O pavilhão 5, era também como o Supermercado da Cadeia, já que os presos que lá moravam compravam mercadoria na rua e estas mercadorias chegavam através de “jumbos” - sacolas de alimentos levadas aos presos, pelas famílias ou através de algum funcionário. A droga rolava solta. Nas escadas e galerias havia barracas de alimentos, vestuário e drogas, o quarto andar do pavilhão 5 era como um “puteiro”, os homossexuais preparavam seus “barracos” com luzes escuras e cortinas, se transvertiam para parecerem mulheres, tinham aparelhos tocando musicas o dia todo e faziam programas pagos pelos detentos, a moeda em circulação era o cigarro: o Hollywood valia R$ 1,00 e o THE valia R$ 0,50. Durante o horário de sol os detentos andavam por todo lado, não tinha uniforme, era um verdadeiro desfile de moda a malandragem só andava de roupa de grife, principalmente os “patrões”, com “bombetas” (bonés) caros de grife, relógios de 1º linha, tênis nem se fala só ultimo modelo, no Carandiru tinha de tudo só não tinha mulher a todo o momento e todos os dias, porém no Pavilhão 5 tinha o bordel de homossexuais, com alguns maços de cigarro quem fosse a fim, poderia satisfazer seus instintos sexuais, era só ir até lá. A “bóia” – refeição - era um sufoco, muitas vezes vinha azeda e agente tinha que fazer o famoso “recortado” - refazer a bóia - que consistia em lavar toda a mistura e a comida, retemperar, cozinhar e fritar de novo nas bigornas - fogões elétricos feitos com um molde de barro e resistência elétrica - tudo era precário. O que “livrava a cara”, é que tinha a feira diária, onde você; com alguns maços de cigarro, comprava alimentos vindos “da rua”, também era permitido que a família mandasse alimentos para serem preparados no “barraco”. Era uma verdadeira Babilônia, eu estava completamente viciado e logo arrumei um “trampo” (trabalho) pra ganhar uns maços de cigarro e comprar minha droga, vendia desinfetante, começava a vender dois dias antes do dia da visita porque os malandros queriam que o barraco estivesse bem cheiroso pra receber as visitas, vendia 2 litros por 1 moeda (um maço de cigarros) mas mesmo assim, não dava pra pagar a droga que eu usava, às vezes tinha que pedir dinheiro para a família, para pagar as dívidas senão o “bicho pegava”. Lá os traficantes, mesmo sabendo que você não tinha dinheiro te vendiam a quantidade de droga que você quisesse, porque você teria que pagar de qualquer jeito, não tinha pra onde correr: ou pagava, morria pela dívida ou viravam “lagarto” (teria que segurar a morte de alguém quando isto ocorresse, arrastava o cadáver pela galeria), os patrões quando você devia te levavam para seus barracos te davam um “orelhinha” - celular - e obrigavam você a ligar para sua família para saldar a dívida, era o inferno mesmo, e eu cada vez mais viciado. Foi quando surgiu uma luz no fim do túnel, minha irmã que era do NA - Narcóticos Anônimos, membro e prestava serviços como tesoureiro, tinha bastante conhecimento e contato com todos os grupos de São Paulo, ela me mandou uma pipa – bilhete - dizendo que no Carandiru tinha um grupo de NA, com nome de “Grupo da Paz”, que seria uma maneira de eu tentar abandonar as drogas lá dentro, pra não ficar correndo perigo, era pra procurar um carcereiro responsável pelo Grupo, e entrar para este grupo de autoajuda. Eu estava totalmente perdido, habituado a usar muita droga, a qualquer momento poderia não conseguir o dinheiro pra pagar a dívida, então teria que me tornar “lagarto”, assinar um homicídio cometido por outro “malandro”, e não conseguiria mais sair da cadeia, ou seria morto e arrastado por alguém. Lá os malandros levavam muito a sério, dívida de droga. Procurei este carcereiro, um verdadeiro Guerreiro Solitário dentro daquele inferno que era o Carandiru, só ele procurava ajudar os presos. Só pra terem uma idéia os ratos punham os gatos para correr, tinha ratazana maior que gato Siamês à noite e ficávamos fazendo aposta e olhando o campo pela janela, para ver os ratos porem os gatos pra correr. O agente penitenciário responsável por NA, homem de caráter, sempre batalhava para melhorar a qualidade de vida dos detentos, sempre procurando trazer atividades culturais e Assistência Social ao Presídio. Consegui o passe para participar da Reunião do Grupo da Paz e encontrar mais 5 ou 6 Guerreiros da Luz, que toda semana visitavam o Carandiru, não se importando com as dificuldades que encontravam, fizesse chuva ou sol. Estes Guerreiros da Luz, sempre estavam lá, passando pela humilhante revista que era feita para se adentrar ao Presídio, sem medo de serem seqüestrados pelos detentos e que começasse uma rebelião, lá era um barril de pólvora, a qualquer momento se desencadeava uma rebelião, mesmo assim eles sempre estavam lá, com suas partilhas trazendo mensagens de esperança e um entendimento num “Poder Superior” que pode nos ajudar no combate aos vícios, trazendo palavras de Fé e Esperança, nos dando exemplos que é possível, porque às vezes participavam das reuniões ex-detentos, que eram membros de NA e tinham conseguido largar as drogas e o álcool, não tinham medo de levar a “Mensagem de NA” aos adictos do Carandiru que tinham o desejo de abandonar o uso de drogas. Fiquei muito emocionado ao os ouvir partilharem e falar de um “Poder Superior” que poderia nos ajudar na luta contra o vício, ao ouvir a “Oração da Serenidade” dentro daquele inferno fiquei todo arrepiado, já tinha ouvido em algumas reuniões que fui com minha irmã, porém não tinha prestado atenção, senti que alguma coisa mudava dentro do meu ser: “Senhor conceda-me Serenidade para aceitar as coisas que eu não posso modificar coragem para modificar aquelas que posso modificar e sabedoria para reconhecer a diferença. Só por Hoje”, foi muito bom ouvir isto lá, naquele lugar, foi muito bom ouvir os companheiros partilharem, saber que era possível abandonar as drogas, eu que imaginava nunca parar de usar drogas, achava impossível tinha vergonha de partilhar, não conseguia me imaginar parando, estava lá no inferno ouvindo pessoas que como eu que usaram muita droga e que já estavam limpos há anos. Na época o Grupo da Paz estava sem secretário, sem uma pessoa interna para arrumar a mesa das reuniões, guardar os folhetos e organizar as reuniões para todas as terças-feiras, receber os Guerreiros da Luz, tão nobres visitantes que traziam mensagens de esperança e amor para aquele lugar tão sofrido. Na reunião eles precisavam eleger um secretário e eu levantei a mão e me tornei o último secretário do Grupo da Paz, porque dois meses depois ele viria a se dissolver com a desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru. Mesmo assim, consegui coordenar várias reuniões, nas reuniões era o maior respeito, os traficantes sempre ficavam a espreitar para ver do que se tratavam, eles até gostavam porque nós acolhíamos os viciados desesperados, prestes a serem mortos por dívidas dentro do presídio e numa última tentativa de se libertar das drogas, procuravam as reuniões de NA onde podiam falar a vontade sobre suas dificuldades diárias, podiam desabafar, dar um grito no escuro, ou seja, partilhar entre pessoas iguais que compreendiam suas dificuldades e os respeitavam como irmãos e companheiros. Os “patrões” não gostavam de ficar matando gente, mas tinham que manter o respeito, porque existiam muitos viciados e muita dívida de drogas dentro do Complexo. Pra mim, foi muito bom ter conhecido NA naquele momento eu vi que era possível parar com as drogas. Dou graças aos companheiros, que como Guerreiros da Luz, levaram a mensagem de NA aos adictos que sofriam naquele lugar macabro. Importante dizer que é muito difícil à vida na prisão, eu mesmo não consegui parar naquele momento, mas alguma coisa tinha mudado dentro de mim, eu já não era o mesmo, porque sabia que era possível parar de usar drogas, mas dentro daquele inferno era a única coisa que eu acreditava que acalmava os ânimos. Fui transferido para um Presídio no Interior de São Paulo, pra tirar mais 1 ano e meio de cadeia. Lá a repressão era muito maior, agente já não tinha toda a liberdade como tinha no Carandiru, nós éramos vigiados mais de perto. Entre os presos tinha mais opressão, os “raios” – pavilhões - eram de 100 detentos e a qualquer vacilada o “coro comia solto”, tanto pelos policias como pelos presos da faxina - presos que tomam conta do raio, distribuem a “bóia”, fazem à limpeza e são pilotos do “raio”, mantém a ordem do raio dentro das regras da Faculdade do Crime como são chamados os Presídios de São Paulo - Eu era um faxina e comandava as atividades esportivas do raio. Era contador do tráfico interno, no meio de tanto sofrimento acabei esquecendo a mensagem de NA e caí nas drogas novamente, pois era a única coisa que deixava eu com calma lá dentro do inferno, que são os Presídios do Interior de São Paulo, onde a qualquer momento você é espancado com canos de ferro, por seguranças do presídio. Por outro lado, para não ser oprimido pelos “patrões”, você tem que estar junto com eles, os “pilotos da Faculdade” - piloto são os malandros que comandam toda a Faculdade. Estava eu comandando um torneio de futebol, foi uma euforia geral e uma surpresa pra mim, alguns dias antes eu soube que o Juiz tinha negado meu pedido de condicional e eu teria que cumprir a pena até o fim, e naquele dia eu seria libertado parecia brincadeira, mas era verdade. A euforia foi geral no “raio” porque eu era querido por todos, apesar de ser “faxina”, nunca bati em ninguém. Estava feliz, porque iria sair daquele lugar. Fiquei numa sala aguardando o meu Alvará de soltura, sozinho naquela sala prestes a obter a liberdade tão sonhada e desejada por todos os detentos, comecei a ter pensamentos de não sair de ficar lá mesmo, fiquei com medo de voltar para a rua, já não conseguia me imaginar vendendo droga nas esquinas da “Boca do Luxo”, algo havia mudado dentro do meu ser, não queria sair da cadeia, que coisa horrível na hora de ir embora, sair do inferno eu não queria sair, preferia ficar “enjaulado”. Não tinha alternativa, tinha que sair e sai. Cheguei a São Paulo e minha irmã foi me buscar na Rodoviária, o efeito da droga já havia passado e notei que já não era mais o mesmo em relação às drogas, ela não me fazia mais bem, comecei a raciocinar que na hora da liberdade tão sonhada, eu não queria sair queria ficar preso, que coisa estranha ficar enjaulado como animal. Fiquei mais ou menos dois meses sem usar, só dentro de casa, bem próximo da minha família, pois estava de condicional e a qualquer vacilada voltava pra “tranca”, uma vez que meu artigo era pesado: o 12. Mesmo assim numa noite, fui até um lugar de ativa e recai. Sentime o último, um trapo. Passei uma semana sem conseguir encarar meus familiares, foi ai que me lembrei da “Oração da Serenidade” e fui tocado por aquele “PODER SUPERIOR” que tanto ouvi falar no “GRUPO DA PAZ”, lembrei-me dos companheiros de NA, que com tanto carinho nos visitavam e levavam a mensagem de NA. Se para eles foi possível abandonar as drogas, então decidi parar com as drogas também, já não me faziam bem, não me deixavam com os pés no chão. .“Só Por Hoje estou limpo a 3 anos, 11 meses, 9 dias e algumas horas”, sem fazer uso de qualquer tipo de droga, e só por hoje eu não vou fazer uso de nenhuma substância química que altere o meu humor. Estamos juntos companheiros!Tente que dá certo! Namastê. (O Deus que habita o meu coração, saúda o Deus que habita o coração de todos vocês). História de uma vida, por um Bandeirante da Luz. ------------------------------------------------------------------------------- Mais um Cartaz divulgando o Grupo da Paz e como participar! Casa de Detenção – GRUPO DA PAZ Estou limpo a 12 anos, só por hoje, pela Graça de Deus, um pouco da minha boa vontade, um pouco da boa vontade de vocês, por poder ter e usar um Padrinho e me envolver com o serviço, onde tive também a oportunidade de servir o Grupo da Paz como RSG. *O Preconceito: Antes de chegar à Irmandade, maldizia os homossexuais, moradores de rua, deficientes, positivados, presidiários, etc. Era um preconceito como um todo. “Peguei gosto” não é a expressão correta para me referir ao sentimento que eu tinha quando estava participando das reuniões que ocorriam no Grupo da Paz. Eu me sentia melhor lá do que no meu grupo de ingresso, e só por hoje, ainda sinto muito a falta deste grupo que me ensinou muito e que derrubou muitos preconceitos que eu tinha sobre algumas situações e/ou pessoas. Hoje continuo tendo o encargo mais importante na nossa Irmandade, “o de Membro”. Sou muito grato por ter tido a oportunidade de frequentar e prestar um serviço neste grupo que tocou muito forte o meu coração, pois apliquei e continuo aplicando a experiência que lá eu tive! Só por Hoje em Espírito de Irmandade. ------------------------------------------------------------------------------- *O Padrinho: Sou um adicto afortunado por ter tido um padrinho, (hoje falecido), que me ajudou e muito a construir uma base na minha recuperação, um dia de cada vez. Ele já ia ao Presídio do Carandiru muito antes mesmo da formação do Grupo de Narcóticos Anônimos. O Convite: Meu Padrinho me convidou para eu ir ao Grupo Institucional (Grupo da Paz). E, na ocasião, encontrava-me desempregado e servindo o Sub Comitê de Longo Alcance que custeava minhas idas e vindas ao Grupo e ao Subcomitê. O Milagre: Fiz os treinamentos no Sub Comitê para saber como levar a mensagem dentro da Instituição. Minha experiência pessoal foi apenas uma prisão no Quartel do Exército por causa de um flagrante e outra vez no “corro” de uma delegacia. Fui à minha primeira reunião no Grupo da Paz com muito medo, mas confiante pela presença de meu padrinho que estaria lá. Companheiros e companheiras que estão tendo esta oportunidade como eu, de viver um milagre diário, sem usar droga um dia de cada vez e se modificando pelos 12 passos, servindo esta Irmandade com honestidade, mente aberta e boa vontade; as coisas acontecem e a identificação que eu tive foi total, a única diferença minha para com eles era a calça caqui, pois a identificação era o foco principal. (de se apegar nas semelhanças não nas diferenças). Bom dia, sou mais um em recuperação limpo só por hoje, tenho absoluta certeza que o serviço da irmandade me manteve limpo no início e ajudou a construir o alicerce para o dia de hoje. Agradeço a todos os companheiros que lá estiveram comigo e dois que continuam mandando forças de um lugar melhor (Valente e Carlos Rosa). Lembro-me do primeiro painel que participei no Carandiru, a época o grupo da paz estava sendo estudado, logo quando saí do metrô e olhei para o presídio. Senti medo. Aquela seria a primeira vez que entraria naquele lugar, respirei fundo e desci as escadas, quando olhei para frente vi alguns companheiros, então me senti mais seguro, chegada a hora 10h30, entramos, passamos pela revista e nos encontramos com o funcionário responsável por nós, uma pessoa incrível. Jamais quero me esquecer dele, fizemos a oração da serenidade em um espaço depois da portaria e antes do acesso aos pavilhões e entramos. O primeiro painel aconteceu no pavilhão 5 , conhecido também como “seguro”; as pessoas que lá estavam não circulavam por outros pavilhões por diversos motivos. Nosso painel seria no espaço de uma igreja evangélica. Chegamos lá e um companheiro nos recebeu, aquela foi à recepção digna do que repetimos no grupo a expressão do “estamos juntos”; os olhos brilhavam e após aquele abraço caloroso me senti mais calmo, porém recebemos alguns avisos que o espaço era santo, desta forma não poderíamos fumar e falar palavrões dentro daquele espaço, respondemos tranquilamente, nos nossos treinamentos não fumávamos e nas reuniões nem falávamos palavrões. Alguns minutos antes do painel começar foi avisado de que no pátio seria realizado um culto de uma igreja com aproximadamente 500 pessoas cantando hinos e louvores, puxa! Pensei estarmos perdidos, começaram a chegar mais companheiros para o painel, não podíamos simplesmente adiar o painel, vamos em frente disse o líder do painel, novamente fizemos mais uma oração e começamos nosso painel. Quando falávamos da existência de um Poder maior do que nós, que torna possível o que parece impossível, não levava muito a sério, mas a partir daquele dia eu tirei todas as minhas dúvidas. Aproximadamente 500 pessoas cantando com emoção não foram capazes de atrapalhar nosso painel e a mensagem conseguiu chegar para aquelas pessoas que estavam lá. Os painéis no Carandiru tinham algo a mais que os outros, porque todos que participaram na época que estavam desempregados como eu; conseguiram emprego, por algum tempo isso era lembrado no subcomitê, precisa de emprego vai servir, que você logo encontra! O acesso para nossas reuniões. Era difícil, pois o passe para circular entre os pavilhões era muito disputado, nossos companheiros internos conseguiam este privilégio para assistir o painel, porém alguns deles voltaram a usar e chegavam faltando 10 minutos no final da reunião, para conseguir manter o benefício. Começamos a fazer os painéis itinerantes cada semana em um pavilhão diferente, as reuniões aconteciam nos lugares mais diversos: igrejas, barbearia. Sempre éramos muito bem recebidos em qualquer lugar do complexo que passávamos. Lembro que uma vez, estávamos chegando e alguém gritou: o pessoal do NA chegou! Isso reforçava o compromisso de continuarmos voltando e alegria de servir a irmandade, pois alguns companheiros não recebiam mais visita da família e desta forma os companheiros acabavam assumindo este papel para alguns deles, todas as reuniões o número de membros crescia. Havia certa insegurança sobre o anonimato, lembro-me de muitas vezes alguns companheiros estarem com sérios problemas devido ao seu uso de drogas dentro do presídio e não conseguirem partilhar seu sentimento. Naquela altura o painel já tinha o formato de uma reunião, pois havia regularidade dos membros, então o espaço reservado para perguntas, na maioria das vezes era usado para partilhas dos internos. Com a divulgação do trabalho de HI, a idéia de abrir um grupo e continuar levando a mensagem, crescia, pois o presídio era muito grande e nós éramos poucos para atender a todos os pavilhões. O pavilhão 6, um dois mais organizados, tinha uma sala disponível. Que foi oferecida para nossa irmandade abrir um grupo, em meio a nossa já conhecida burocracia, demoramos, para realizar a abertura do grupo e aquela sala foi destinada para a FIFA (Federação Interna de Futebol Amador). Neste período a freqüência de membros colaboradores caiu a ponto de muitas vezes estarmos em 2 para realização do serviço, por outro lado, lá dentro, os companheiros com todas as adversidades possíveis continuavam voltando e alguns se mantinham limpos. Aproveito a oportunidade de partilhar com vocês um segredo que durante muito tempo ficou guardado com os companheiros que eram os coordenadores e vice-coordenadores do nosso subcomitê de HI, na época, na hora do preenchimento da agenda no subcomitê que acontecia sempre próximo das vinte e uma horas era o ultimo momento antes da sétima tradição, o segundo horário era sagrado para os treinamentos, quando falavam do painel do Carandiru os requisitos eram não estar devendo (ser procurado pela justiça) e calça marrom, infelizmente meu uso de drogas trouxe problemas com a justiça na minha adolescência, porém já estavam resolvidos, judicialmente, precisava apenas me perdoar, o que graças a Deus com ajuda do programa consegui fazer. Naquela época tinha 17 anos e alguns meses, para ser exato 8 meses, estava limpo há 7 meses, uma vez quando o Valente foi me devolver minha identidade, até comentei com ele que precisava trocar a foto pois aquela que estava no documento era da ativa ele olhou e arregalou os olhos, quem já me conhecia sabe do que estou relatando e então ele me disse “MEUUUUUU, VC É MENOR DE IDADE”. Não era a primeira vez que alguém se surpreendia com isso, fui espancado várias vezes pela polícia quando eles verificavam meu documento e respondi que sim, estávamos entrando para o painel naquele dia como muitos outros, mas éramos somente nós dois. Fizemos o painel, porém, percebi que ele estava estranho, quando fomos embora. Fizemos a oração como de costume e pegamos nosso documento assim que saímos. Ele disse “Graças a Deus”, sem entender, respondi: é mesmo mais um dia, ele sorriu e disse o que vamos fazer agora? E eu respondi - vamos comer alguma coisa e pegar a reunião das 18h00 no Alvorada. No caminho, ele me explicou que eu não poderia mais participar do painel por não ter 18 anos. Fiquei muito triste, mais na época bem como na atualidade não havia recursos humano para continuar o serviço e desta forma decidimos “correr o risco” e eu continuei frequentando o painel por mais 3 meses até quando consegui um emprego e o horário não mais permitia frequentar o painel. Foi aberto o Grupo da Paz. Uma vitória (conquista) para toda a irmandade. Mais companheiros entrando em recuperação e o milagre descrito em nossa literatura acontecendo, tive a oportunidade de retornar ao grupo no aniversário de 1 ano, uma reunião inesquecível, trocas de ficha, bolo e samba, estavam presentes mais de 100 pessoas, entre companheiros e visitantes, pessoas que não tinham problemas com drogas e apoiavam nosso trabalho dentro da instituição. Hoje vejo o que não tínhamos tanto naquela época e que poderia ter ajudado mais: - Literatura (na época toda nossa literatura vinha do WSO (Escritório Mundial de Serviços nos Estados Unidos); por isso o custo era muito caro para ser disponibilizada aos que quisessem). - Serviço de informação ao Publico, ser mais atuante em questões dos presídios como ter o nome limpo para poder entrar (lembrar que o programa é de mudança, por isso é que estamos limpos). ------------------------------------------------------------------------------- Adicto em recuperação limpo há 10 anos, 08 meses e 14 dias Só por hoje. O presídio do Carandiru trazia muitas místicas e a simples idéia de participar de um painel de H.I. No local, causava um frio na barriga. Muitas estórias eu já tinha escutado sobre o local tipo: O pavilhão 08 é “o cabuloso”, o pavilhão 09 é para os recém-chegados. O pavilhão 05 é o seguro; o 07 pra quem tem dinheiro é “mancada isto ou aquilo”, etc. O que eu não sabia que na minha vida em recuperação poderia experimentar na prática uma experiência incrível. Ouvia falar dos painéis que aconteciam no presídio Carandiru, intitulado como Grupo da Paz, na época em que eu morava em Praia Grande e participava do subcomitê de HI da área Caminho do Mar em Santos – SP. Ocorre que durante parte da minha vida fui nascido e criado na zona norte de São Paulo, e utilizei por um longo período para ir e vir do trabalho e lazer uma linha de ônibus que tinha o terminal final a Estação Carandiru do Metrô. Desta forma, invariavelmente os momentos de espera aguardando o ônibus em frente ao presídio, provocavam diversos pensamentos na mente, em função da movimentação sempre agitada da região, quase sempre carregada de viaturas policiais, entrando e saindo do local, bondes de presos, filas de visitas, imprensa, presos pendurados nas grades dos pavilhões, criando assim uma atmosfera de barril de pólvora e outras conotações que vagavam na mente numa mistura de medo, adrenalina, piedade e outros. Tinha mais ou menos dois anos na irmandade quando depois de ouvir vários recados da irmandade que apontavam a necessidade de mais companheiros participar do painel do Grupo da Paz, a fim de promover um rodízio dos companheiros que freqüentavam o painel, tendo em vista que o mesmo acontecia em dia útil, pela manhã fator que impossibilitava para muitos companheiros que trabalhavam neste horário de participar. PARTILHA Chegou o dia: Tinha participado de treinamento, o que falar o que não falar roupa apropriada, etc. No ponto de encontro lá estão os companheiros, vamos para a portaria nos identificamos, apresentamos documentos, passamos na revista e adentramos ao primeiro portão, fizemos uma oração (eu particularmente já tinha feito várias) e continuamos o acesso ao local. O grupo tinha acabado de mudar, face acontecimentos internos não me lembro direito, bem como o antigo local criava dificuldades para os internos que estavam no seguro de participarem, pois corriam riscos no caminho de acesso para o local. A passagem dos portões é um momento de frio na barriga, mas vamos lá o P. S. vai junto e com outros companheiros não temos mais medo, não estamos mais sozinhos. Chegamos ao local, os funcionários que até ali tinham nos acompanhado, nos deixam e encontramos os internos que já nos aguardavam. O grupo funcionava em um local que parece ter sido uma igrejinha, a mesa estava arrumada com a literatura bem como o café estava pronto. Ao fundo podíamos escutar o corre-corre do dia a dia do local, certo barulho, no grupo silêncio, muito silêncio e atenção, a literatura foi lida com grande participação coletiva. As partilhas são iniciadas e o respeito continua, o foco fica concentrado na pessoa que esta a falar. Estou energizado com a atmosfera da reunião, comecei a prestar atenção na pessoa que estava responsável pelo café, parece simples, mas muitas vezes nos nossos grupos verificamos o desleixo e a sujeira que fica no local, nos utensílios e até mesmo inacreditavelmente quando depois de dois dias ou mais sem reunião encontramos a cafeteira ainda com filtro e o café que foi utilizado na última reunião. Foi uma grande lição para a minha recuperação onde metodicamente o companheiro ao término da feitura do café realizava uma limpeza e um cuidado com os apetrechos de tirar o chapéu, show de bola. Aconteceu uma troca de ficha que foi muito emocionante. Ouvir a dificuldade do companheiro em ficar limpo dentro daquele ambiente, com certeza proporcionou o revés que ouvimos que vamos levar a mensagem e na prática recebemos. Tive a oportunidade de partilhar e agradecer ao Poder Superior por estar limpo. A reunião foi terminada antes do horário previsto face eminente rebelião que se encontrava em andamento, porém saímos sem nenhum problema e com a satisfação de fazer parte de uma irmandade que pode dar a liberdade da escravidão do uso de drogas até mesmo em lugares onde as grades impedem a liberdade da vida. ------------------------------------------------------------------------------Pela graça de Deus a irmandade de N.A e momentos como esse que me fazem relembrar de uma época muito especial na minha recuperação que eu não usei drogas (hoje) e digo pra todos que continua valendo a pena. Quando o companheiro me pediu para relatar minhas experiências sobre o grupo da paz fiquei muito feliz com a lembrança, mas por estar muito envolvido com outros projetos acabei não dando o devido valor ao pedido do companheiro. Mas quando li sua partilha, fui tomado por um sentimento de gratidão de uma lembrança boa e certa saudade que me fez sentar aqui no computador do escritório e começar a escrever e reviver esses grandes momentos que eu vivi na companhia de todos que participaram desse grupo tão especial. Lembro-me: meu primeiro dia no grupo e após meu padrinho partilhar varias das suas experiências emocionantes vivenciadas por ele, e a forma como ele via o grupo e o amor que sentia pelo mesmo, fez despertar uma curiosidade enorme em mim. Fui ao Subcomitê de H&I fiz os treinamentos e lá estava eu na manhã de quarta-feira no metrô sentido Carandiru, o maior presídio da América Latina em busca de mais um dia limpo. Ao chegar no local tomado pela adrenalina de entrar no presídio e achando que ia encontrar um ambiente pesado e uma energia ruim , logo fui surpreendido por um abraço de um senhor muito simpático que era o responsável pela nossa entrada no presídio. Entramos e fizemos a oração da serenidade ali na entrada antes de cruzarmos os portões. Pronto ali eu estava (sendo) guiado pelo meu poder superior. A adrenalina se transformou em gratidão e acabei me deparando com pessoas que davam um valor (maior) (que muitas vezes eu mesmo não dava) as reuniões de NA. Pessoas que haviam experimentado uma nova maneira de viver e a liberdade da adicção ativa de uma maneira diferente da minha, dentro da casa de detenção. Não precisa nem falar, que aquela energia me cativou e fez com que daquele dia em diante eu frequentasse o grupo até seus últimos dias. Ali tive experiências incríveis. Presenciamos companheiros tomando “invertidas feias” por falarem o que não deviam. Vi mos presos aos prantos emocionados com nossas partilhas e com a literatura de NA. Certa vez, ao ler o folheto Juventude e recuperação um interno que havia falado não ter problemas com drogas (frase comum entre eles) começou a chorar e me disse que se tivesse ouvido aquilo na rua não estaria ali. Pois foi preso em um assalto no desespero por mais uma dose. É impossível relatar todas as partilhas que me tocaram. Todas as experiências que me ensinaram todas as trocas de fichas que me emocionaram. Mas posso falar das experiências que eu mesmo vivi naquele grupo. Estava concluindo um encargo de RSG de um grupo e queria pegar outro encargo, falei com meu padrinho e ele me sugeriu que levantasse a mão no grupo da paz, no dia da reunião eletiva fui eu e outro companheiro disposto a levantar a mão. Um para RSG e outro para suplente. Primeiro foi à eleição para RSG. Depois outro companheiro levantou a mão comigo e ali estava eu sem esperar mais preste a viver uma das experiências mais emocionantes da minha vida no serviço de NA. Fomos retirados da sala para iniciar a eleição e lá fora já percebemos que o clima não estava muito bom na cadeia, ao voltar fui eleito (RSG suplente) e junto com as palmas dos companheiros uma barulheira surpreendente. Estava estourando uma rebelião à cadeia virada muita tensão: portas trancadas corpos no corredor e eu no meio daquilo e mais com o compromisso assumido de ficar ali por pelo menos mais dois anos, continuamos a reunião até que os responsáveis pela rebelião foram nos buscar e garantir nossa saída com segurança, e foi exatamente o que aconteceu outras pessoas que estavam na cadeia: Secretario de Segurança Pública e outras autoridades ficaram na cadeia e só nós saímos à contra gosto dos policiais que gritavam ou sai todo mundo ou não sai ninguém. Na outra quarta feira continuava aquela tensão. Entramos e os companheiros agradeceram e pediram mil desculpas pelo ocorrido e disseram que jamais era pra ter acontecido aquilo com a gente lá dentro. Muitos deles jamais receberam uma visita e nós éramos o único contato deles com o mundo aqui fora e eles ficaram muito preocupados com a possibilidade de não voltarmos mais. Aquilo fez com que meu respeito pela Irmandade de N.A. aumentasse vendo o respeito deles para conosco. Assim, com minha gratidão por estar limpo e com a chance de resgatar todos meus valores tendo em vista que muitas das coisas que fiz, poderiam ter me reservado o mesmo destino que o daqueles companheiros. O Grupo da Paz me fez ir ao subcomitê de Longo Alcance no inicio para cobrar o material do grupo e para fazer com que o grupo pudesse ser representado (com direito a voz e voto nas decisões de NA), depois comecei a ver que ali também tinha um serviço amoroso e acabei servindo esse subcomitê inclusive o coordenando em Florianópolis cidade que fui morar depois, e acabei participando da abertura de um grupo institucional lá nessa cidade (levando a mensagem). Agradeço ao meu padrinho “Valente” por ter me mostrado esse e outros diversos caminhos, a irmandade de NA, pois somente aqui vivi sentimentos tão verdadeiros e ao companheiro que me permitiu reviver esses momentos escrevendo e lendo esses textos. Até hoje sou convidado para partilhar em diversos lugares do País a respeito das experiências vividas no grupo da Paz. Em espírito de irmandade, Só Por Hoje. ------------------------------------------------------------------------------Eu sou mais um adicto em recuperação. Ingressei-me na irmandade em 98. Até então, eu estava muito confuso e em dúvida para onde minha vida estava caminhando, e se a vida era isso mesmo, viver sem usar drogas, me tornar um membro produtivo, seguir o caminho… e sem uma grande (perspectiva de) felicidade dentro de algo que fizesse um real e profundo sentido. Sentia ser muito difícil, senão impossível, alguém não se drogar sem ter um profundo sentido ou propósito de Vida. No ano de 99, um companheiro de longo período de abstinência, hoje falecido, explicou-me sobre a ida a um grupo institucional, chamado, grupo da Paz, eles iam semanalmente, e seria interessante para mim, e não para eles eu ir conhecer, e se possível participar regularmente. Fiquei pensando como seria lá dentro, pois embora tivesse feito uso de drogas, não fazia idéia de como era ficar preso por anos a fio numa das maiores penitenciárias do País. Como companheiros que estavam lá há um tempo significativos reagiriam as nossas visitas?, sendo que a maioria de nós, adictos no grupo visitante, nunca tinha estado preso? Como seria tentar passar a nossa experiência de “mamão com açúcar”, que estávamos sem usar drogas por certo período na sociedade, em plena liberdade, para um grupo de companheiros já calejados por anos a fio de um vivendo muito precariamente, presos dentro da cadeia? É algo fantástico alguém conseguir ficar limpo dentro de um ambiente sórdido e insalubre, onde o cheiro da podridão e do pão mofado reina. Toda vez que, eu passava perto de uma cela, dava para perceber o cheiro forte, e o total abandono pela maquina do estado, onde a escolha do “viver bem” e de “correr atrás do prejuízo” que tanto falávamos lá fora, não existia... Onde a facilidade de acesso às drogas era muito maior que fora, e todo um ambiente dificultoso misturado com 1.000 emoções negativas... Parecia impossível alguém ficar limpo nessas condições. Todas as vezes que íamos lá, ficávamos por cerca de 30 minutos esperando o carcereiro liberar nossa entrada, para levarmos a mensagem adentro. Na verdade era eu quem recebia a mensagem! Era notável à vontade de viver que os companheiros tinham lá dentro. Tinha um companheiro, que eu possuía mais proximidade, estava preso há 5 anos, e que iria completar 10 meses limpos, faltava mais um ano para sair para condicional. Era nítido o brilho em seus olhos; e a saudade que tinha de sua filha e de sua família, e que durante todo o momento em que ficou preso carregou um peso gigantesco de culpa, vergonha, remorso. Parecia que apenas o uso compulsivo de drogas poderia anestesiar sua dor até o seu fim miserável, e a morte. Mas parece que um dia qualquer, quando menos esperava, teve a sorte de ter um despertar e resolveu parar de usar e pedir ajuda aos companheiros. Ingressou no grupo da paz, e se manteve abstinente por 10 meses (eu estava há 7 meses limpo). Lá dentro tinha companheiro com 5 anos, 8 anos, 13 anos limpos… É inacreditável, aliás, totalmente Milagroso, o poder que a ajuda de um adicto a outro tem. Quem praticou o programa lá dentro, provou que a rendição e a humildade têm poder de transformar Vidas, e “descolar” do ambiente externo que provoca ou agride. Mostra que o verdadeiro poder, não vem de apoio e facilitação externa, e sim interna, de dentro para fora. E que essa centelha de amor e sobrevivência vem unicamente de nossa decisão de abrir minha mente e meu coração para que a Vida e o Poder Superior possa me guiar e dar poder sem limites seja pelos Vales da Paz e da Luz, ou pelos Vales da Escuridão e da Morte. E que o que reina é o aqui-agora, o Só Por Hoje; o passado e o futuro são ilusões. E que sempre poderei acreditar, confiar e entregar minha Vida a essa energia do Amor do Poder Superior. Pois quando me sinto perdido, sei que Poder me guia. Não do meu modo, mas da maneira que deve ser construída minha verdadeira natureza humana. Nunca tinha tido uma experiência com recuperação. Talvez a natureza exata de minha recuperação, seja um pleno sentimento de gratidão, por tudo que eu tenho, e que sempre dá para cavar mais um pouco o nosso “inferno” pessoal, usando ou não drogas. Por outro lado, sempre dá para elevar um pouco mais, nosso caminho espiritual, ficar mais próximo do Poder Superior de nossa compreensão, para enfim ter mais harmonia, paz e felicidade em recuperação. ----------------------------------------------------------------------------------Relatórios do Grupo da Paz (1) Relatórios do Grupo da Paz (2) Cartas de adictos que estiveram na casa de detenção GRUPO INSTITUCIONAL (SUBCOMITÊ DE LONGO ALCANCE) O intuito de publicarmos algumas e poucas cartas é possibilitar que mais alguém se identifique e venha somar no propósito de através delas, levarmos a mensagem para mais adictos, detidos em algum cárcere e que possamos comunicar que qualquer adicto, em qualquer lugar, pode encontrar o que nós encontramos. Pode parar de usar, perder o desejo de usar e encontrar uma nova maneira de viver. Não exercemos vigilância sobre nossos membros e para nós viver Só Por Hoje, funciona! A maior parte do serviço – de fato – é realizado pelos grupos de NA. PROJETO CARTAS! É o que nosso HI regional vem realizando através dos diversos subcomitês de HI (das áreas) formados ao longo dos anos. Um instrumento valioso para alcançar adictos que ainda sofrem e que ainda não encontraram o que temos pra oferecer: Recuperação da doença da adicção! Nas reuniões de área (dos Comitês de Serviços), os relatórios de serviço são apresentados. Um encontro mensal de RSG’s (Representantes de Serviço dos Grupos). Sempre no propósito primordial. Tradição 5. NA cresceu, hoje levamos a mensagem em Fundações Casas, em CDPs e em Hospitais de Custódia. Em Centros de tratamentos, albergues, Psiquiatrias, Comunidades terapêuticas. A literatura de NA é amplamente utilizada... A Aventura continua... Através da consciência coletiva dos grupos há o direcionamento dos serviços em NA. Serviço é levar a mensagem ao adicto que ainda sofre. GRUPOS INSTITUCIONAIS foram e estão sendo formados. Um dia de cada vez, nós nos recuperamos e nos importamos com os outros adictos. “Para que nenhum adicto em nenhum lugar precise morrer dos horrores da adicção ativa sem ter a chance de se recuperar.” Mas, por mais que fizemos, façamos ou venhamos a fazer é pouco pelo que já recebemos. Nas próximas páginas, cartas do tempo do grupo da paz, apenas uma amostra do poder da mensagem de NA. A maior parte do material e partilhas será sempre Anônima, mas o Amor da Irmandade é incondicional. Enquanto todos podem apreciar, informamos que este é um dos primeiros trabalhos de composição para Literatura (criação) de NA brasileira. Convidamos os membros que quiserem participar e contribuir para o crescimento desse serviço para procurarem uma estrutura de Revisão e Tradução de Literatura, funciona! Informe-se no Comitê de Serviço de Área mais perto. Obrigado! Esperamos ter sido úteis ao serviço amoroso do nosso Poder Superior, ao qual dedicamos esse trabalho. “Os eventos e as comemorações em NA são oportunidades de confraternização saudáveis. Há vida após as drogas. Alguns membros puderam estar lá e registrar para transmitir pra nós que o programa funciona e vale a pena servir”. Atualmente, NA realiza milhares de reuniões semanais no Brasil. São mais de mil e duzentos grupos. Não temos o número exato de reuniões de H&I e Grupos institucionais. Mas nossos esforços progridem, à medida que mais membros se juntam na aventura de servir a irmandade. Por gratidão. São muitas comemorações... há vida depois das drogas... “No quadro negro, como em tantos outros grupos de NA a mensagem clara; evite e procure”. Nossos agradecimentos a tantas pessoas de fora de NA... familiares, agentes penitenciários, autoridades, religiosos, médicos, assistentes sociais, psicólogos, educadores e outros tantos multiplicadoras da nossa mensagem, por acreditar em nós. Hoje nos relacionamos cada vez mais e melhor com a sociedade. Estamos limpos, temos nossa vida de volta, graças ao programa de Narcóticos Anônimos. Ninguém chegaria a um lugar que não tivesse ouvido falar. Nossa mensagem é bem simples: qualquer adicto pode parar de usar e encontrar uma nova maneira de viver, livre do uso de drogas só por hoje! (um dia de cada vez!). “O que NA (Narcóticos Anônimos) promete é a liberdade da adicção ativa”. Informações sobre Narcóticos Anônimos: www.nasp.org.br . Sobre o projeto cartas, ligue (11) 3101-9626 ou envie um e-mail para: [email protected] “Literatura não aprovada pela Conferência Mundial de NA” Trabalho em andamento – Edição produzida para visualização e amostra. Não pode ser reproduzida em todo ou em parte.