homilia da missa do dia 14 de abril de 2016 54ª
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homilia da missa do dia 14 de abril de 2016 54ª
DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará HOMILIA DA MISSA DO DIA 14 DE ABRIL DE 2016 54ª ASSEMBLÉIA GERAL DA CNBB 14 de abril de 2016 Santuário de Aparecida -SP Irmãos e irmãs, quis a Providência que nesta quinta-feira, penúltimo dia de nossa Assembleia, coubesse a mim a presidência da Eucaristia, pelo fato de ter sido entregue à Arquidiocese de Santa Maria de Belém do Grão Pará a organização do XVII Congresso Eucarístico Nacional, justamente no ano em que, com outros irmãos bispos, completo vinte e cinco anos de ordenação episcopal. E o lema de minha vida episcopal está no Evangelho de hoje: “O Pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”.1 Aqui se encontram os Bispos do Regional Norte II, Pará e Amapá, que junto com a Arquidiocese de Belém e comigo e o Bispo Auxiliar Dom Irineu Roman, abrimos as portas de Belém e da Amazônia e fazemos ressoar palavras de outros pastores: “Quando os anjos se afastaram deles, para o céu, os pastores disseram uns aos outros: ‘Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou’”.2 E o Congresso Eucarístico será uma estação da Igreja de Belém para a qual convidamos todo o Brasil, aqui representado em seus pastores. Ouvimos hoje nos Atos dos Apóstolos um episódio pitoresco e significativo: a difusão do Evangelho, pelo ministério dos primeiros discípulos, a pessoas cada vez mais distantes. Depois dos samaritanos3, alguém que vem de longe, "um eunuco etíope, ministro de Candace, rainha da Etiópia e administrador geral do seu tesouro". Era simpatizante dos hebreus4, mas havia dificuldades 5para um "eunuco" fazer parte da Comunidade de Israel, ainda que Isaías anunciasse o acolhimento de tais pessoas e não sua exclusão. Tinha boa vontade, viera a Jerusalém para rezar e adorar a Deus. Certamente sua experiência religiosa era pouco madura, mas havia grande inquietação na sua alma. A este personagem Deus envia Filipe, e por meio do Espírito Santo o conduz à obra que deve realizar. É a partir da profecia sobre o Servo Sofredor que Filipe anuncia o Evangelho, abrindo os olhos à compreensão da Escritura. A pergunta de Página Jo 6, 51 Lc 2,15 3 At 8, 4-25 4 Is 56,3-6 5 Dt 23, 2 2 1 1 sempre, desde o início, é feita pelo Eunuco: "Peço que me expliques de quem o profeta está dizendo isso. Ele fala de si mesmo ou se refere a algum outro?". Com a mediação da Igreja e com a graça de Deus é possível dissipar as dúvidas de quem busca a verdade, mesmo no meio de tantas dificuldades. Ao dom da fé se segue o Batismo e a salvação. Um texto acrescentado posteriormente à redação original dos Atos dos Apóstolos descreve o que acontece em todo processo de iniciação cristã: "Se crês de todo o coração, é possível. E ele respondeu: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus".6 O principal ator é "o Espírito que falou por meio dos profetas" e faz o Eunuco entender que o Servo é Jesus. O mesmo Espírito que conduziu Filipe7 e o fez aproximar-se do Eunuco8 para depois, levá-lo para outro lugar. Tudo acontece ao longo do caminho. O funcionário da rainha da Etiópia estava em viagem. Filipe, inspirado pelo Espírito, colocou-se em caminho para encontrá-lo e, ao longo do caminho, o evangelizou. Na estrada encontram a água para o Batismo. E o etíope prosseguiu com alegria o seu caminho, e certamente terá levado consigo, a lugares distantes, a Boa Nova do Evangelho! Com a entrada do etíope na Comunidade Cristã, é mais um povo que se une ao coro festivo dos que louvam o Senhor. O motivo do louvor, cantado no Salmo Responsorial, é que Deus "dá vida à nossa vida"9. Até hoje, cada pessoa batizada, com suas etapas de busca e de perguntas, escuta e descoberta, experiências de vida e festa é alguém que prossegue cheio de alegria seu caminho de fé e de comunhão com Cristo. É o que acontece ao funcionário da rainha, e é o que ocorreu em nosso Batismo! Da mesma forma que a água do Batismo, que mergulha na vida nova de Cristo, assim o pão eucarístico pressupõe a fé para que seja em nós a carne de Cristo que faz fermentar no Espírito a nossa carne e abre à fermentação da graça toda a nossa realidade humana, “para a vida do mundo”10, na força missionária do Evangelho que ouvimos. "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede. Contudo, eu vos disse que me vistes, mas não credes. Todo aquele que o Pai me dá, virá a mim, e quem vem a mim eu não lançarei fora, porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.11 As palavras de Jesus revelam quem ele é e provocaram reações e protestos entre a multidão, que se torna hostil. É muito duro ultrapassar o obstáculo da origem humana de Jesus e reconhecê-lo como Deus. Jesus evita uma inútil discussão e conduz a conversa para uma reflexão sobre a dureza do coração, indicando as condições necessárias para crer nele. Ser atraídos pelo Pai: "Ninguém pode 6 Is 56,3-6 At 8, 26 8 At 8,29 9 Sl 65, 9 Jo 6, 51 11 Jo 6, 35-38 Página 10 2 7 vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair"12, dom e manifestação do amor de Deus pela humanidade. Quem é atraído pelo Pai chega à fé. Só o fato de levantar dentro do coração esta questão já é sinal de que o Pai nos atrai. Docilidade: "Está escrito nos Profetas: Todos serão discípulos de Deus".13 Escutar o Pai: "Todo aquele que escutou o ensinamento do Pai e o aprendeu vem a mim".14 A salvação está disponível para todos, mas é preciso deixar-se atrair por Ele, escutando com docilidade sua Palavra de vida. Só quem vive na comunhão com Jesus se realiza e se abre para uma vida duradoura e de felicidade. Só quem se alimenta de Jesus “que é pão” não morre! E Jesus, Pão da vida, dará a imortalidade a quem dele se nutre, a quem na fé interioriza sua palavra e acolhe a vida que vem dele. É a Cristo, Pão da Vida, aquele que dá a vida eterna, que se chega através da fé. Mas não nos alimentamos dele apenas pela fé. O Cristo anuncia de fato que o Pão que Ele dará é a sua carne para a vida do mundo. É o modo do quarto Evangelho para dizer “Isto é o meu Corpo, que será entregue por vós”! Acontece aqui uma virada radical no discurso do capítulo seis de São João: a carne que na Eucaristia se torna alimento é a mesma assumida pelo Verbo de Deus e entregue por Jesus em sua morte. É a semente que morre, triturada, jogada na terra, para gerar a espiga, sinal da paixão de Cristo, que, através de sua morte, chegou à ressurreição. Na Eucaristia entramos na redenção. Comungar seu Corpo entregue e seu Sangue derramado é condição para experimentar o sabor de sua ressurreição. E quem comunga tem a vocação de se tornar, por sua vez, Eucaristia para mundo, deixar-se consumir, entregar-se na liberdade do dom, pelas estradas do mundo, missão que nasce da Eucaristia. A Amazônia que o Brasil é convidado a conhecer no XVII Congresso Eucarístico Nacional é justamente esta terra que tem a vocação da partilha. Se nós recebemos muito da Igreja e de tantas partes do mundo, Deus nos deu a graça de sermos um povo vigoroso em sua fé, com tantos dons a serem compartilhados na Igreja e na sociedade. Por isso escolhemos o tema do Congresso Eucarístico: “Eucaristia e Partilha na Amazônia Missionária” e o lema “Eles o reconheceram no partir do pão”.15 Venham experimentar conosco a força da comunhão dos bens, os da natureza, de nossas populações e de nossas Igrejas. Jo 6, 44 Jo 6, 45a 14 Jo 6, 46 15 Cf. Lc 24, 35 13 Página 12 3 Em 1953, no VI Congresso Eucarístico Nacional, que antecedeu a primeira Assembleia da CNBB, criada um ano antes, a Amazônia cantou assim: “Ó Jesus, deste altar brasileiro os pecados do mundo destróis, com Tua carne, Divino Cordeiro, alimenta uma raça de heróis. Cristo-Rei deste verde cenário, o Amazonas se prostra a teus pés. Abençoa o Brasil Missionário, na epopeia dos igarapés. Amazonas barrento, florestas, índios, feras, ardente calor, bendizei nosso Deus, cantai festas! Valoriza a Amazônia, Senhor! Amazônia, desdobra o teu braço, para a pátria em teu seio apertar, e o Brasil e o Pará neste abraço oferece a Jesus, sobre o altar! Oferece a Jesus sobre o Altar!” Em 2016, queremos convidar a todos para cantarmos assim: “A Eucaristia nos reúne nesta mesa, eleva a Deus um Sacrifício de louvor. É missão de toda a Igreja viver no mundo a partilha do amor. O Brasil em Belém se faz um. no altar do Senhor, Comunhão, Cristo aponta para a Amazônia, missionária partilhando o pão. É Belém a casa do pão, é Brasil, Terra de Santa Cruz! na Amazônia o Brasil se reúne, a Eucaristia à missão nos conduz”. “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou”.16 16 Lc 2,15 Página 4 Dom Alberto Taveira Corrêa Arcebispo de Belém do Pará
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