20131214 Meia de Rock AO #5

Transcrição

20131214 Meia de Rock AO #5
30 Sábado
AÇORIANO ORIENTAL
SÁBADO, 14 DE DEZEMBRO DE 2013
COORDENAÇÃO HUGO GONÇALVES, JOÃO CORDEIRO E LÁZARO RAPOSO
GONÇALO F. SANTOS
o Zambujo. São duas pessoas que eu admiro. Não é por ele ser internacionalmente conhecido que é mais especial. É especial pelo
que ele é. Eu pensei: ‘eu gosto desta canção
e gostava de cantá-la com o Jamie, se ele disser que não, diz que não…’ Nunca o pus num
pedestal. Esse normalmente é o nosso maior
problema: é nós acharmos que somos ‘pequeninos’. Só por termos nascido aqui? Não
faz sentido nenhum.
A internacionalização tem sido uma
aposta bem sucedida. Acha que a colaboração de Jamie Cullum no disco deu
um ‘empurrão’?
Sim, está a correr bem. Mas acho que [a
participação do Jamie Cullum] não deu esse
‘empurrão’, e eu fico contente com isso. Não
é uma canção que tenha sido um êxito e por
isso me tenha levado a ter mais concertos.
Muita gente me perguntou se ter o Jamie no
disco era estratégia: não foi. Aliás, eu não
gostava de ficar conhecida por ter cantado
com o Jamie. Eu gostava de ser reconhecida
por as pessoas gostarem de mim. Não vou
estar com hipocrisias do tipo: ‘Não, não, não.
Se é por causa do Jamie não quero dar este
concerto em Copenhaga’, por exemplo. Mas
gosto mais da forma como as coisas aconteceram: as pessoas gostam do disco e dizem
‘que engraçado, cantaste com o Jamie
Cullum’ e não ‘vou ouvir o disco porque ela
canta uma canção com o Jamie Cullum’.
Quando atua no estrangeiro como é
que o público reage às músicas cantadas
em português?
“There’s a flower in my bedroom” é o mais recente disco de Luísa Sobral
Entrevista
Luísa Sobral Pela primeira vez em São Miguel, atua hoje
no Teatro Micaelense e promete um espetáculo muito dinâmico
centrado no último disco, mas com alguns temas do primeiro
Por vezes “o nosso maior
problema é acharmos
que somos pequeninos”
JOÃO CORDEIRO
[email protected]
O que é que alguém que nunca viu a Luísa Sobral ao vivo pode esperar do espetáculo?
Eu toco um estilo próximo do Jazz. Temos um concerto super dinâmico. Acho
que as pessoas normalmente se divertem.
Pelo menos é isso que me dizem no fim. Podem esperar um bom ambiente em cima
do palco, que espero que também contagie
o público. Podem esperar um bocadinho
do primeiro disco e mais do segundo. Acima de tudo é um concerto muito dinâmico, que nunca se torna aborrecido. Está
construído para ser um concerto que estimule vários sentidos. Eu gosto muito da
parte visual… por acaso acho que não vamos conseguir levar o cenário todo. Vamos
ter que inventar aí algumas coisas.
Li numa entrevista que no primeiro
concerto de promoção do álbum de es-
treia tocou uma música que viria a estar
no segundo disco. Iremos ouvir em Ponta Delgada algum tema de um eventual
terceiro álbum?
Estou a tentar fazer isso menos. O meu
manager ralha comigo por eu estar sempre a querer mostrar músicas novas. Vamos tocar uma canção de natal que eu escrevi este ano. Acho que não vai estar no
próximo disco - por ser uma canção de natal - mas como só a vou tocar durante este
mês, e provavelmente só este ano, acho que
isso a torna mais especial.
Uma das grandes surpresas de “There´s a flower in my bedroom” foi a participação de Jamie Cullum. Como é que ele
aparece neste disco?
Fiz a primeira parte do Jamie no Cool Jazz,
aqui em Lisboa, e ele aí ficou a conhecer-me.
Quando comecei a trabalhar neste disco pensei em alguns convidados: pensei logo no
Zambujo porque já tinha cantado aquela
música comigo, pensei no Mário Laginha
porque é o meu pianista preferido, e pensei
também no Jamie, para ter alguma pessoa
de fora, e porque, de certa maneira, ele faz
uma coisa parecido com o que eu faço - não
na sonoridade, mas na mistura de Pop com
Jazz. Gosto muito da voz dele, e sempre gostei do trabalho dele. Por isso pensei, ‘porque
não?’ Eu não gosto muito de duetos românticos - as canções românticas prefiro cantá-las sozinha - e esta não é uma canção assim, não tinha ‘aquela coisa da paixão’… por
isso achei que seria a canção perfeita. Enviei-lhe a canção, perguntei se ele gostava,
e ele disse que sim.
Acreditou logo que ele iria aceitar ou
pensou que seria um sonho arrojado?
Esse é, normalmente, o problema dos portugueses: acharmo-nos ‘pequeninos’. Eu
nunca pensei assim. O Jamie Cullum é um
músico mais conhecido do que eu, mas eu
sou tão músico como ele. Nunca pensei que
cantar com ele fosse o meu maior sonho. Para
mim é igual cantar com ele ou cantar com
Gostava de ficar algum
tempo nos Açores só a
aproveitar a natureza e a
compor. Acho que os Açores
são super inspiradores
Reage muito bem. Eu tenho menos canções em português do que em inglês, mas
levo sempre canções em português. Faz parte da minha identidade. Sou portuguesa e
tenho um orgulho enorme em ser portuguesa. As pessoas gostam de conhecer melhor quem está em cima do palco, e ser portuguesa é parte que quem eu sou. Canto
muitas vezes o “Senhor Vinho”, uma canção
que fala de três personagens do Fado. Há
uma parte na música que é para cantar ‘la
la la’, e então eu digo às pessoas para cantarem comigo para sentirem que estão a
cantar em português [risos].
Continua a publicar, esporadicamente, vídeos caseiros no youtube, tal como
fazia quando ainda não tinha iniciado uma
carreira profissional. Qual é a motivação?
Publiquei um agora mesmo. Eu gosto
muito de voltar às raízes. Hoje, muito pouca música é realmente orgânica e verdadeira.
Muitos vídeos que vejo hoje em dia são super produzidos. E eu adoro ver quando um
artista qualquer que eu gosto mostra um vídeo em que está a cantar em casa, porque
é um regresso às coisas mais verdadeiras e
mais cruas. Foi assim que eu comecei, e apesar de estar a dar concertos e de estar a correr bem, eu tenho mesmo prazer em cantar.
Tenho prazer em estar em casa e mostrar
coisas muito simples. Não tenho medo de
mostrar coisas muito cruas e nuas. Gosto de
mostrar que isto continua a ser um prazer
e não só um trabalho.