contra a corrente

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contra a corrente
CONTRA A
CORRENTE
Escolhas ousadas de cores denunciam: neste apartamento, em Milão, vive uma pessoa de
estilo. Impacto e refinamento surgem da mistura de revestimentos, objetos e arte de diferentes
décadas. Ideia do morador, o estilista Antonio Ponte
por Marina Moretti
fotos Joanna McLennan / Living Inside / Photodepartments
O piso de mármore foi recuperado no corredor, que
tem abajur Fornasetti. Papel de parede, da Cole & Son, faz
fundo para o pendente sueco. Na pág. ao lado, na sala, colagens
criadas pelo morador e almofadas feitas com pulls Missoni
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Sobriedade em vermelho, preto e branco na sala de jantar. Os papéis de parede do apartamento são da loja milanesa
Il Posto delle Fragole. Na pág. ao lado, o espelho Ultrafragola, anos 1970, de Ettore Sottsass, é a estrela do corredor
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E
m Milão, não há nada mais fácil do que se deparar com a moda, mesmo
fora dos itinerários habituais do prêt-à-porter. Um belo exemplo é o
apartamento de Antonio Ponte, estilista que desenha para grandes
grifes made in Italy (a mais recente é Iceberg) e que mora com animais de
estimação esplêndidos, as gatas Lola e Bibi, em um palacete dos anos 1930
entre os quartieri de Navigli e Porta Genova. Lá, não há luxo exacerbado
ou ostentação. De qualquer forma, é uma ambientação que fala de estilo,
como se fosse uma coleção fashion: brinca com cores nunca banais, tecidos
e papéis especiais e dezenas de obras de arte e peças de design escolhidas
com olhar treinado e criterioso.
“Durante a reestruturação, o primeiro passo foi a seleção de uma paleta
de cores fora do normal e com muito grafismo”, revela Antonio. “Eu resgatei
tecidos e papéis de parede no Il Posto delle Fragole, um endereço histórico
de Milão, cujo proprietário me confessou que ninguém jamais havia ousado
lançar-se nessas tonalidades”, diz. A combinação é corajosa: preto com o
vermelho de Pompeia, o verde-escuro, o cinza e o amarelo. Essas nuances
dão um ar de sofisticação e excentricidade até mesmo ao corredor – além de
destacar cada um dos objetos expostos. Com relação ao corredor, a segunda
decisão “contra a corrente” de Antonio foi justamente mantê-lo, mesmo
sendo uma área em via de extinção nas casas contemporâneas, onde os espaços integrados são quase obrigatórios.
A cabeceira da cama é de pele zebrada;
na parede com papel da Cole & Son, obra de
Shirin Neshat. Na pág. ao lado, sobre a cômoda
de Paul Evans, luvas criadas por Richard Ginori
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Tradução: Jusmar Gomes
“Não derrubei nenhuma parede. Mantive a entrada, com os dormitórios
que se abrem dos dois lados, a sala de jantar separada das saletas, e a sala de
estar ao lado do dormitório. E recuperei os pisos originais, com mármore
dos anos 1930”, conta o estilista. Uma restauração fiel, ligada à tradição,
mas pensada sob critérios modernos. Ao entrar no apartamento, tem-se
a impressão de estar em uma espécie de galeria, onde se alternam peças
únicas, como o espelho Ultrafragola, dos anos 1970, de Ettore Sottsass, as
esculturas de madeira do designer Thomas Roberts, os retratos contemporâneos de Federico Guida.
Cada objeto tem sua alma. Normalmente são obras de amigos criativos,
como um grande quadro pop na cozinha, assinado pelo ilustrador Giacon.
Outras obras de arte foram adquiridas nos anos 1980, como a estante pintada com símbolos afro, de Prospero Rasulo, ou a obra de Shirin Neshat,
quando as cotações da arte contemporânea “ainda estavam à altura dos
simples mortais”, afirma Antonio. “Sempre fui um frequentador ávido e
curioso de mostras e galerias, amo o modernismo e gosto de misturar de
tudo – móveis africanos, maquetes de arquitetura, fotografias...” Elementos refinados que decoram as paredes de cada ambiente junto ao ex-voto
do século 18 (outra paixão de Antonio) e as famosas colagens de sua própria
autoria: caricaturas irreverentes e irresistíveis, que não poupam parceiros e
amigos e arrancam sorrisos das visitas.
O estilista Antonio Ponte e sua gata Bibi.
Papel de parede Malachite, design
Fornasetti para Cole & Son, à venda na Celina
Dias. Na pág. ao lado, cubo de cristal Cattelan
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