barragem de camará - Procuradoria da República no Estado da
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barragem de camará - Procuradoria da República no Estado da
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA BARRAGEM DE CAMARÁ Eng. Civil Prof. Normando Perazzo Barbosa Eng. Civil Prof. Dr. Ângelo Vieira Mendonça Eng. Civil Prof. Dr. Celso Augusto Guimarães Santos Eng. de Minas Prof. Dr. Belarmino Barbosa Lira João Pessoa, novembro de 2004 PREÂMBULO No início da noite do dia 17 de junho de 2004, ocorreu uma brusca ruptura de um trecho da Barragem Barra do Camará,. Onze dias depois, a parte remanescente sobre o orifício que causou o esvaziamento rápido da barragem, também ruiu. Um acidente desta monta em obra pública não acontece costumeiramente. Assim a sociedade passou a exigir esclarecimentos sobre: - como foi construída essa barragem; - como ocorreu o acidente; - se teria sido possível esvaziar o lago a tempo de evitar a catástrofe Os Ministérios Públicos Federal e Estadual promoveram uma investigação. Um grupo de Engenheiros da Universidade Federal da Paraíba foi encarregado de analisar o projeto e verificar o que se passou durante a construção da obra, como também calcular o tempo de esvaziamento do lago. Dois outros Geólogos de São Paulo, Drs. Milton Kanji e Carlos Nieble, encarregaram-se de analisar a geologia e explicar como aconteceu o sinistro. A análise da documentação mostrou: que o acidente ocorreu por conta de uma má interpretação de um problema geológico que se tentou sem sucesso corrigir; que a barragem foi construída por firmas consorciadas que, pela legislação não poderiam fazê-lo; que houve indefinição de responsabilidades com o Proprietário omitindo-se completamente da fiscalização; que mais de 8 mil metros cúbicos de concretos lançados foram dosados com pá carregadeira; que ao final da construção não se tinha ensaios suficientes para uma análise estatística consistente das resistências dos concretos; que o 1 paramento de montante apresentou-se muito permeável; que a barragem antes mesmo de ser entregue já apresentou defeitos; que com a subida da água no lago evidenciou-se o mal funcionamento da barragem; que o Proprietário não se mobilizou para acompanhar o primeiro enchimento e foi muito lento em tomar as providências para correção das patologias; que se a tubulação de 800 mm tivesse sido aberta a tempo a água poderia não ter atingido o nível que provocou a ruptura. Por tudo isto e pelo que é apresentado nos relatórios técnicos que fazem parte do inquérito do Ministérios Públicos, pode-se dizer que a Barragem de Camará não foi construída segundo os bons princípios da engenharia, tão pouco foi considerada após sua entrega como uma obra importante que deveria ser acompanhada no seu primeiro enchimento. João Pessoa, 26 de novembro de 2004. Eng. Civil Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa Eng. Civil Prof. Dr. Ângelo Vieira Mendonça Eng. Civil Prof. Dr. Celso Augusto Guimarães Santos Eng. De Minas Prof. Dr. Belarmino Barbosa Lira 2 1. Introdução A Universidade Federal da Paraíba foi convocada pelo Ministério Público para auxiliá-lo na missão de inquirir os envolvidos no acidente da barragem de Barra do Camará, em Alagoa Nova PB, tendo em vista a necessidade de apoio técnico por parte do corpo jurídico daquele órgão. A Instituição indicou então uma equipe multidisciplinar composta pelos engenheiros que assinam este documento. A equipe acompanhou o depoimento dos convocados nas procuradorias federal e estadual, fez algumas visitas ao local, analisou os documentos técnicos relativos à barragem e aqui apresenta um relatório procurando usar uma linguagem compreensível para todos, daí a apresentação de alguns conceitos que vão parecer óbvios aos engenheiros. O fato é que ocorreu o insucesso em uma obra de engenharia. Como neste campo, e de resto em todas as atividades humanas, a certeza não existe, os engenheiros lidam com probabilidades e devem fazer com que a probabilidade de acontecer o insucesso seja a menor possível, norteado pelos regulamentos técnicos, pela experiência e também pela economia. Como aqui essa probabilidade foi atingida, deve-se então procurar identificar fatores que contribuíram para o ocorrido, com o fim de se aprender e evitar insucessos futuros. Uma razão principal existe, porém outros detalhes merecem ser analisados. Uma barragem é uma obra que deve ser projetada para durar no mínimo um século, daí valer a pena examinar tudo que, do ponto de vista da engenharia, possa ter concorrido para o colapso tão prematuro. O que aqui se deseja é apenas apresentar e comentar fatos que foram constatados, sem a menor intenção de fomentar animosidades. No sentido de contribuir para que o Estado, proprietário de tantas obras de vulto passadas e futuras, aprenda com o acidente da barragem de Camará e possa melhor se articular nas construções futuras, aqui também se apresenta um procedimento que minimizaria a possibilidade de insucesso das obras, em beneficio de toda a comunidade, sendo feita comparação com o que se passou com a edificação da citada barragem. 2. Generalidades sobre construção de uma barragem A construção de uma barragem, em um determinado lugar, como de resto qualquer obra de vulto, deveria ser composta de duas grandes fases distintas: a de projeto e a de construção. Esta obviedade infelizmente muitas vezes não é cumprida no Brasil, sendo comum projetos serem feitos concomitantemente com a construção. 2.1 – Fase de projeto Pode dizer-se que, resumidamente, a fase de projeto seria composta pelas seguintes etapas: a- estudo hidrológico: feito com o fim de se conhecer a disponibilidade de água na bacia correspondente à barragem em questão e estabelecer os parâmetros necessários ao projeto do corpo 3 da barramento, como sua altura, largura, dimensões necessárias para o vertedouro, altura de sangria, etc. b- estudo das topografia e geologia local: feito para se locar e para se conhecer a pequena parcela da superfície da crosta terrestre onde vai ser assente a barragem, visto a necessidade de uma base firme para ela. Nesta etapa procede-se a sondagens, com especial atenção no local do eixo do barramento, definido ou estabelecido com base nos próprios estudos topográficos e geológicos. Em locais geologicamente complexos, podem ser necessários estudos geofísicos e de geologia estrutural. c- estudo das jazidas dos materiais a serem usados na construção, estabelecendo-se sua localização, volume e forma de exploração; d - elaboração de um projeto básico com definição preliminar da obra e informações sobre sua viabilidade técnica; e - estudo dos impactos ambientais causados pela construção da barragem, com base no projeto básico, contratado a terceiros, se o proprietário, em geral, o Estado, não dispõe de quadros técnicos para tal; f - elaboração do projeto executivo ou detalhamento do projeto básico. Este feito com base nas informações das etapas anteriores, deveria, como manda a lógica, ser contratado pelo proprietário a terceiros com experiência no ramo, uma vez aceita pelos órgãos ambientais a proposição da barragem. Tal projeto, deve ser composto por: - memória de cálculos: documento onde se registram todos os parâmetros utilizados para o projeto, os critérios e as hipóteses adotadas, os cálculos efetuados; - conjunto de plantas: desenhos onde constam todos os detalhes construtivos que permitam a execução da obra; - especificações técnicas: documento que define as normas a que devem obedecer os materiais de construção envolvidos, os procedimentos para sua aplicação, controle de qualidade dos produtos e serviços e demais informações necessárias à construção; - orçamento: planilha com todos os serviços, materiais, equipamentos, e seus quantitativos. O orçamento pode ser feito não obrigatoriamente pelo encarregado pelo projeto, podendo ser realizado por terceiros mas fará parte do Projeto Executivo. No orçamento dever-se-ia incluir um item relativo ao acompanhamento periódico do desenrolar da obra por parte do responsável pelo projeto, e também um outro item destinado a uma firma de fiscalização como um todo, ao longo de toda a sua construção; g – avaliação de conformidade do projeto. De posse do projeto executivo, o que hoje recomenda a NBR 6118, norma relativa a estruturas de concreto, é que se faça uma avaliação de conformidade do projeto que deve ser requerida e contratada pelo contratante (no caso o Governo do Estado) a um profissional habilitado, devendo ser registrada em documento especifico que 4 acompanha a documentação do projeto (em outras palavras, expedida ART do CREA). E diz mais que: a avaliação da conformidade do projeto deve ser realizada antes da fase de construção e, de preferência, simultaneamente com a fase de projeto, como condição essencial para que seus resultados se tornem efetivos e conseqüentes. Esta avaliação de conformidade destina-se à busca da qualidade, da durabilidade e a tornar extremamente improvável que o insucesso advenha nas obras de engenharia. Assim, o proprietário da obra, quando encomendar o projeto deve prever também recursos para essa avaliação de conformidade. Muitos organismos públicos e privados já utilizam essa prática há bastante tempo. A avaliação de conformidade do projeto deveria ser obrigatória para as obras públicas, sobretudo para aquelas de maior vulto. 2.2 – Fase de construção Para se proceder à construção em si, é necessária a escolha dos construtores, os quais devem estar devidamente habilitados para a execução dos trabalhos descritos no projeto executivo. Para tanto é que é organizado o processo licitatório. A licitação deveria, portanto, acontecer já se tendo como referência o projeto executivo e não, como soi acontecer, apenas com o projeto básico para posterior detalhamento. Isto poderia até não evitar completamente, mas minimizaria enormemente a necessidade dos aditivos tão comuns às obras públicas. Evidentemente ter-se-ia que gastar muito mais no projeto, mas, no fim das contas, poderia ser vantajoso técnica e economicamente. Evidentemente, ao longo do processo construtivo, pequenas modificações são por vezes necessárias, devendo, estas, serem sempre aprovadas por todas as partes envolvidas. Assim, o projetista deve acompanhar, de tempos em tempos, o desenvolvimento da obra. É por conta dessas modificações que ao final da construção, deve reorganizar-se um conjunto de plantas conhecido como “as built” (como construído). Em se tratando de obra pública, cujo proprietário é o Estado, na fase de construção deveriam envolvidos estar: - as empresas construtoras para a materialização física da obra - o projetista para acompanhamento do desenvolvimento do projeto e pequenas adaptações que se façam necessárias - uma empresa de consultoria para proceder ao controle tecnológico dos materiais, definir os traços de concreto e seu modo de aplicação, acompanhamento da construção como um todo, com a função também de fiscalizar as construtoras, zelando para a obtenção de uma obra de qualidade. Esta empresa deveria ser contratada pelo Estado, proprietário da construção, e não pelas próprias empresas construtoras. No entanto, como normalmente estes serviços constam na planilha licitada, verifica-se que, muitas vezes, os construtores é que indicam a empresa de consultoria, havendo a concordância explícita do Estado, evidentemente. . 5 - o Estado, com presença de engenheiro residente permanentemente na obra, e corpo técnico que deve ser mobilizado quando particularidades ocorrem ao longo do período construtivo. O engenheiro residente dever ter voz ativa e todo o respaldo para contestar possíveis não conformidades constatadas ao longo do desenvolvimento dos trabalhos. Deve, pois, ter uma ação fiscalizadora tanto sobre a própria empresa de consultoria e de fiscalização, se for o caso, quanto das empresas construtoras. Evidentemente tem que se tratar de pessoa com experiência na área. 2.3 Resumo dos procedimentos Na Figura 1 pode-se ver o resumo das seqüências mais lógicas para o Órgão Público construir as obras públicas, na Figura 2 tem-se o procedimento usualmente adotado. FASE DE PROJETO a- estudo hidrológico b- estudo das topografia e geologia local c- estudo das jazidas dos materiais d - elaboração de um projeto básico e - estudo dos impactos ambientais a construção é viável ? sim f - elaboração do projeto executivo g – avaliação de conformidade do projeto licitação FASE DE CONSTRUÇÃO Empresas construtoras Empresa de consultoria e fiscalização Acompanhamento do Projetista Fiscalização do proprietário Figura 1 - Procedimento mais lógico para a construção de obras públicas 6 FASE DE PROJETO a- estudo hidrológico b- estudo das topografia e geologia local c- estudo das jazidas dos materiais d - elaboração de um projeto básico e - estudo dos impactos ambientais viável a construção ? sim licitação FASE DE CONSTRUÇÃO f - detalhamento do projeto Empresas construtoras Empresa de consultoria e fiscalização Acompanhamento do Projetista Fiscalização do proprietário Figura 2- Procedimento usual de construção de obras pública 3. O caso da Barragem de Barra do Camará A barragem de Camará apresentou algumas peculiaridades, visto que houve uma mudança de uma barragem de terra para de concreto compactado com rolo. Resumindo, as etapas acima apresentadas podem ser listadas como indicado na Figura 3. 7 Licitação de barragem de terra a- estudo hidrológico: aproveitado da Atecel b- estudo das topografia e geologia local: aproveitado da Atecell c- estudo das jazidas dos materiais: Holanda Enga. d - elaboração de um projeto básico em CCR: Holanda Enga. FASE DE CONSTRUÇÃO f – detalhamento do projeto e - estudo dos impactos ambientais Construtoras: CRE-Andrade Galvão Empresa de consultoria e fiscalização: Holanda Enga. Acompanhamento do projetista: Eng. Holanda Fiscalização do proprietário: confiada inteiramente à Holanda Enga. Figura 3 – Procedimento ocorrido na Barragem de Camará Aqui quando se fala de proprietário, entenda-se não apenas o Estado da Paraíba mas também o próprio Governo Federal que enviou os recursos. 3.1 – Considerações iniciais O exame da documentação disponível no Ministério Público mostrou que foi a Companhia de Águas e Esgotos do Estado da Paraíba (CAGEPA) que em 1997 solicitou da ATECEL um estudo hidrológico, um estudo da geologia local e um projeto executivo para a construção de uma barragem de terra. De posse desse projeto foi feita uma licitação para barragem de terra tendo saído vencedora a empresa CRE. Quando tiveram inicio as obras, segundo relatório de auditoria do TCU, datado de 24/07/2001, após primeiros cortes da fundação...presença de material rochoso e em decomposição nas ombreiras, abaixo de áreas detectada na sondagem como rocha sã...bem como jazidas de areia 8 ...de pouca espessura... exigência de áreas grandes de desmatamento... aumentando impacto ambiental, concluiu-se inviável o modelo inicialmente apresentado (ou seja, barragem de terra). Mediante novo estudo de solo com sondagem mais acurada... houve mudança para barragem Concreto Compactado com Rolo (CCR). Segundo o próprio TCU, (folha 72 Vol 1 do inquérito) este órgão foi informado que se houvesse a decisão pela continuidade da barragem de terra, o preço seria elevado para R$17.767.462,25 enquanto que com a mudança do projeto para barragem CCR, o custo ficaria em torno de R$16.738.799,77. Para essa mudança, concorreram também pareceres técnicos favoráveis da CEC Engenharia e da Holanda Engenharia. Como a CRE, vencedora da licitação para uma barragem de terra, não tinha habilitação técnica para construção de barragem de CCR, consorciou-se com a construtora Andrade Galvão. Assim, o projeto da barragem de CCR que ruiu começou a ser feito quando os construtores já estavam no campo, executando os serviços preliminares, como desmatamento, limpeza, construção de acessos, instalação de equipamentos etc. Como não se dispunha do projeto executivo, tornou-se impossível definir o custo final, e evidentemente não se pôde seguir a lógica seqüência dos passos aqui anteriormente apresentados. Ficou mantido exatamente o mesmo orçamento inicial da barragem de terra, de aproximadamente 9 milhões e quinhentos mil reais, e assim não foi feita nova licitação. Essa situação resultou em aditivos financeiros ao longo da construção da obra, o primeiro para reajustar o preço para o valor acima citado (R$16.738.799,77), o segundo que levou o valor da obra a R$19.705.603,59. Posteriormente atualizações monetárias foram ainda feitas, levando o montante final para cerca de 24 milhões de reais. Assim, no caso da Barragem de Camará, houve um desacerto entre fases de projeto e de construção, com mudanças radicais no objeto original da licitação e variação do valor final da obra. No depoimento dos envolvidos, uma certa indefinição de responsabilidades ficou patente. Segundo os engenheiros da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, SEMARH, a fiscalização da obra estava totalmente a cargo da Holanda Engenharia. Já a Holanda Engenharia cita que foi contratada pela CRE, com anuência da SEMARH, para o controle tecnológico dos materiais aplicados na obra, não tendo a incumbência de fiscalização. A Engenheira que consta nos relatórios da Holanda Engenharia (e, em nome dela assina-os), afirma que não pertence à essa firma e sim à Andrade Galvão, sendo responsável apenas pelo controle de qualidade da obra, contratada por esta última. Os engenheiros da SEMARH dizem que a Engenharia pertencia à Holanda Engenharia. Se assim fosse, estaria fiscalizando a si própria! O projetista e o encarregado pelo controle são a mesma empresa! Examinando-se o contrato entre a CRE Engenharia Ltda e a Holanda Engenharia, verifica-se que a Holanda teria as seguintes responsabilidades: execução de dosagens experimentais de todos os traços de concreto; caracterização de todo o agregado e materiais de construção; elaboração de estudos de estrutura de CCR experimental; acompanhamento de todos os trabalhos de campo no que se refere a preparo de fundações; acompanhamento de todos os trabalhos envolvendo montagem de forma antes da aplicação dos concretos; acompanhamento de todos os trabalhos envolvendo colocação de armaduras; acompanhamento de todos os trabalhos envolvendo montagem de embutimentos metálicos e de tubulações; acompanhamento e verificação de todos os trabalhos envolvendo limpeza e preparo de fundações para aplicação de concreto convencional, instalação dos sistemas de drenagens, 9 instalação dos sistemas de aterramento e instrumentação; acompanhamento de todos os trabalhos envolvendo limpeza e preparo de juntas em concreto; acompanhamento de todos os trabalhos de lançamento de concreto; elaborar com equipe de construção plano de concretagem para cada peça, acompanhamento de todo o processo de cura do concreto; acompanhamento de todos os serviços de reparo necessários; análise e estudos dos projetos viabilizando de maneira econômica a aplicação das especificações técnicas; elaboração de relatórios mensais sobre as atividades de controle de qualidade; definição de materiais aglomerantes mais adequados, estudos de propriedades de caracterização de agregados; acompanhamento dos serviços de lançamento e compactação de CCR; fornecimento e instalação dos equipamentos necessários à rotina de acompanhamento e realização de ensaios de laboratório e campo; inspeção dos lotes de materiais industrializados quando do seu recebimento; visita à obra no mínimo uma vez a cada 45 dias (despesas por conta da contratante). Estas atividades correspondem à de uma empresa também com o papel de fiscalizar a construção. Convém lembrar que o valor do contrato pelos 12 primeiros meses entre a CRE e a Holanda Engenharia para prestação dos serviços acima envolvidos foi de R$80.800,00 (oitenta mil e oitocentos reais) o que corresponde a um valor mensal de R$ 6.733,33. Como se vê, impossível é o cumprimento do supra especificado sem a presença de um engenheiro permanentemente na obra. A Holanda Engenharia tinha no canteiro dois laboratoristas, que não poderiam assumir todas as funções citadas. O valor mensal apresentado seria de tudo insuficiente para a contratação de um profissional com experiência para assumir funções de tanta responsabilidade! O intervalo entre visitas, também é excessivo nesse tipo de obra que avança rapidamente. Aqui nota-se a omissão do Estado, que como proprietário, deveria exigir presença permanente de um engenheiro da consultoria, e atentar para o fato de que o valor do contrato seria insuficiente para tal. Cabe, no entanto, voltar a relatar que se estabeleceu uma certa confusão entre a consultoria, uma das construtoras e o Estado. A engenheira da Queiroz Galvão era considerada como pertencente aos quadros da Holanda Engenharia (e seu nome consta nos relatórios mensais). Na realidade, a mesma afirmou que não cumpria as funções que foram acima citadas, apenas coletava os resultados de ensaios e os enviava, por correio eletrônico, à Holanda para elaboração dos relatórios. Assim, de fato, a Holanda não tinha engenheiro na obra! Ou se tinha, não teria sentido ser a mesma engenheira contratada, também, pela construtora. E o Estado não se deu conta deste fato! 3.2 A barragem em CCR Conforme já citado, a Holanda Engenharia foi contratada pelo Consórcio, com autorização SEMARH, para detalhamento do projeto executivo a partir de um projeto básico por ela mesma desenvolvido. O valor do contrato foi de R$ 67.300,00, segundo informações colhidas na documentação. Considerando-se o valor inicial estimado para a obra de CCR de R$17.767.462,25, o projeto não atinge a 0,4% daquele valor, percentagem muito pequena considerada a responsabilidade e a 10 importância da construção, qual seja: uma barragem com 50 metros de altura, situada a montante de cidades. O projeto final da Holanda Engenharia definiu a uma barragem com as seguintes características: Tipo: Gravidade em concreto compactado com rolo Altura do maciço: 50 m Comprimento do coroamento: 296 m Largura do coroamento: 5,5 m Largura do sangradouro: 39 m Revanche: 4m (cota do topo menos conta do sangradouro) Lâmina máxima de sangria: 2,30 m Paramento de montante: vertical Paramento de jusante: em degraus Capacidade aproximada: 26,5 milhões de m3 A Figura 4 indica a seção transversal no trecho central da barragem e uma vista de montante. Após a catástrofe, teve-se acesso ao projeto que foi executado bem como a relatórios da Holanda Engenharia e outros documentos e sobre eles alguns comentários são feitos. Figura 4- Seção transversal típica da barragem Barra do Camará e vista de montante 11 a-estudos hidrológicos Foram considerados pela Holanda Engenharia os estudos anteriores feitos pela ATECEL para a barragem de terra. Com eles fez-se o dimensionamento hidráulico do sistema de desvio do rio durante a construção e definiram-se os parâmetros como largura de vertedor, altura de sangria, geometria da crista vertente, etc. b-estudos geológicos Conforme atestado pelo depoimento da Holanda Engenharia, foi aproveitado o estudo geológico da ATECEL, e feitas complementações. Na análise da geologia pela ATECEL, foram feitas sondagens e foram constatadas fraturas nas rochas que tendem ao desaparecimento com a profundidade. ... as fraturas ocorrem até uma profundidade de cerca de 14 m no domínio das ombreiras e cerca de 4,3 m no vale....Com relação à estabilidade e à estanqueidade: não há ocorrência destes problemas pois são rochas altamente resistentes aos esforços de tração, compressão, torção, etc. Todavia em razão da sua compartimentação em maciços rochosos pelas fraturas de lasqueamento, a estabilidade e a estanqueidade da barragem está condicionada à remoção não somente destes blocos de rocha no domínio do eixo do barramento como também da capa intempérica, inclusive solo das áreas do eixo, do sangradouro e da bacia hidráulica.... Na Figura 5 pode-se ver o aspecto da geologia local, na região onde foi construída a barragem. Figura 5- Camada superficial no local da barragem, composta por solo, rochas em decomposição entre blocos: características da geologia local Continua o trabalho da ATECEL: As condições topográficas ... são favoráveis à implantação de barragem de terra ou de enrocamento ou mesmo de concreto compactado a rolo. Os taludes das ombreiras são íngremes e apresentam blocos soltos, aos quais deve ser dispensada especial atenção tendo em vista que a estabilidade do barramento está condicionada à remoção desses blocos. 12 Muitos blocos foram retirados, inclusive com explosivos. A escavação foi até maior que a prevista inicialmente. Porém após o acidente, ficou visível que, apesar de tudo, a barragem foi assente sobre blocos praticamente soltos não removidos. Pode-se alegar que na ocasião da construção não se podia percebê-los, mas com a descrição geológica feita, maiores cuidados deveriam ter-se tido antes do lançamento de concreto sobre a fundação. Figura 6 – Parte da ombreira esquerda construída sobre rocha intemperizada e blocos soltos Também é dito que a estanqueidade das fundações apresenta-se como um problema a ser solucionado... indispensável o tratamento das fundações por meio de injeção de calda da água e cimento... no mínimo entre as estacas 2 e 10, em três linhas de furos espaçadas de 3 m ... a linha central deve coincidir com o eixo da obra. Na Figura 7 percebe-se que o projeto de CCR adotou apenas uma linha de furos para injeção. O espaçamento foi superior ao especificado, sendo adotado 3,5 m. Na realidade é comum que tres linhas de injeção sejam usadas em barragens de terra e uma em barragem de concreto. Também se sabe que as injeções de cimento são mais eficazes quando os vazios entre rochas são preenchidos com solo de granulometria grossa. Quando se tem considerável fração de silte e argila no material entre os blocos, como parece ser o caso, outros produtos (bem mais caros) seriam mais adequados. Com o resultado das injeções mostrando pequena penetração de calda de cimento na maioria dos furos, sabendo-se que se tinha material excessivamente compartimentado, talvez tivesse merecido a pena se investigar mais como estabilizar melhor os blocos. 13 Como a ruptura da barragem ocorreu nas fundações, é conveniente lembrar que quando ocorreu a mudança de uma barragem de terra para uma de CCR seriam necessários estudos geológicos mais aprofundados para o assentamento seguro da obra. Uma barragem de terra tem os paramentos de montante e de jusante com pequena inclinação, o peso do material que a compõe se distribui em uma grande área. A barragem de CCR tem o paramento de montante vertical, grande inclinação a jusante, o peso do concreto é bem superior ao do solo compactado, distribuindo-se em uma área cerca de cinco vezes menor que a da barragem de terra (Figura 8). Figura 7 – Indicação no projeto de apenas uma linha de injeção Figura 8 – Área de fundação muito maior na barragem de terra Além disto, uma barragem de terra é flexível, permitindo maiores deformações e acomodações, enquanto a de CCR é uma estrutura muito rígida. Logo, preciso seria complementar os estudos geológicos para se dar uma solução de engenharia capaz de oferecer segurança às fundações da barragem. 14 Além das sondagens, técnicas existem que podem ajudar a complementar as dados que permitem se ter uma idéia mais precisa da estrutura rochosa. Com recursos ecográficos, por exemplo, pode-se obter algumas informações da presença de fraturas, foliações, planos preferenciais de deslizamento (Figura 9). Associados à sondagem rotativas e com apoio da geologia estrutural terse-ia muito maior chance de definir corretamente o modelo geológico. A partir dele, e com analise granulométrica do material entre os blocos, providencias podem ser tomadas para a consolidação total da fundação através de um número adequado de furos de injeção de pasta de cimento, concreto, betonita, poliuretano, acrilato, etc. Figura 9 - Resultado de imageamento ecográfico bidimensional de subsuperfície por reflexão eletromagnética (GPR) (Fonte relatório SEMARH) Os relatórios da Holanda Engenharia mostram que foram feitas injeções de cimento ao longo do eixo da barragem, porém tudo leva a crer que em quantidade insuficiente e sem maiores preocupações sobre sua eficácia ou não. c - estudo das jazidas dos materiais A Holanda Engenharia encarregou-se da escolha e estudo das jazidas dos materiais para serem usados na construção da barragem. Apresenta um bom trabalho indicando as especificações e como controlar a qualidade dos agregados. d - elaboração de um projeto básico Existiram duas proposições de projeto básico: uma da CEC Engenharia, de Fortaleza, Ce, outro feito pela Holanda Engenharia, tendo este último sido escolhido para dar seguimento ao processo. Estes projetos básicos foram feitos a partir do momento em que se pensou em substituir o projeto original em terra pelo em CCR. 15 e - estudo dos impactos ambientais Foram feitos pela já com a barragem em construção, contrariando a ordem natural das coisas. f - elaboração do projeto executivo/ detalhamento do projeto Como já apresentado anteriormente o projeto é composto por - memória de cálculo - conjunto de plantas - especificações - orçamento O projeto foi bem detalhado pela Holanda Engenharia apesar de se estranhar o sagradouro com uma mudança brusca na geometria, apresentando uma angulosidade não recomendada pelos princípios da Hidráulica. Foram apresentadas as memórias de cálculo relativas à parte envolvendo os parâmetros hidrológicos, dimensionamento da galeria da tomada d’água e à análise da estabilidade do maciço.. O conjunto de plantas foi bem elaborado com os detalhes necessários à boa execução da obra. No que diz respeito às especificações técnicas, elas estão bem redigidas, atualizadas e corretamente apresentadas (resta a discutir se são todas adequadas). Lá se indicam claramente os requisitos necessários para os concretos atingirem as resistências de projeto. Também são indicadas de forma objetiva como fazer o controle da qualidade dos agregados, além de mostrar detalhes sobre o procedimento para limpeza e tratamento da fundação. Ressalve-se que não foi considerada a complexidade da geologia local. O orçamento não vai aqui ser discutido, no entanto, alguns aspectos parecem interessantes para serem comentados. Por exemplo, na planilha apresentada para licitação, tem-se especificações para alguns concretos em função do consumo de cimento por metro cúbico (Tabela 1): Tabela 1- Extrato da planilha orçamentária 4.0 4.2 4.3 4.4 MACIÇO Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de regularização com consumo mínimo de cimento de 250 Kg/m³ Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de impermeabilização do contato com a fundação com consumo mínimo de cimento de 350 Kg/m³ Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de face com consumo mínimo de cimento de 300 Kg/m³, usado no paramento de montante unidade m³ m³ m³ Analisando-se as composições dos concretos fornecidos pelo Eng. Holanda em trabalho intitulado Barragem de Barra do Camará, publicado nos anais do Congresso Brasileiro do Concreto 16 do Instituto Brasileiro do Concreto, em Vitórias, ES, em agosto de 2003, e também os relatórios mensais da Holanda Engenharia, vê-se que no concreto correspondente ao item 4.2 foi utilizado 200 kg/m3, no do item 4.3, 338 kg/m3 e finalmente no correspondente ao item 4.4, 190 kg/m3. Na realidade esses valores não se mantêm obrigatoriamente fixos, variando um pouco no decorrer da obra por conta até de variação da composição dos agregados. No entanto, eles podem ser tomados como base. Aqui cabe uma discussão que deveria ser estendida a todas as obras públicas de vulto. Não se pode imputar culpa ao tecnologista de concreto (no caso a Holanda Enga.) se foram atingidas as características desejadas para o concreto com um menor consumo de cimento. O projetista especificou, no caso do concreto do item 4.4 da Tabela 1 uma resistência característica de 10 MPa aos 90 dias. Ora, essa baixa resistência pode ser obtida com muito menos cimento que os 300 kg/m3 preconizados. Além disso, pode o projetista também justificar sua decisão em reduzir o consumo de cimento com base no fato que a liberação de calor de hidratação (capaz de gerar fissuras de origem térmica) é maior num concreto com um consumo mais alto. Daí adotar um consumo bem menor, que o previsto na planilha. No caso da Barragem Camará, embora com justificativa técnica, resta um constrangimento: o projetista e o tecnologista são a mesma pessoa! Assim, o projetista especifica um concreto de baixa resistência e o tecnologista consegue reduzir o consumo de cimento de 300 para 190 kg/m3. Essa redução é comumente considerada como um ganho técnico, e a medição (pagamento) é feita com base no que está indicado na planilha. Embora sejam usados 190 kg/m3 de cimento o pagamento é feito sobre 300 kg/m3. Este procedimento é adotado corriqueiramente em outras obras, portanto, não se quer absolutamente dizer que houve má fé, mas apenas expor o fato para esses procedimentos serem mais discutidos. Também merece debate o fato de se reduzir muito o consumo de cimento em concretos de maior importância, como é o caso do concreto de face de montante e o das superfícies em contato com água em movimento. Adiante vai-se ver como isto influenciou no desempenho da barragem. Particularidades do projeto No que se segue, vão-se apresentar alguns comentários relativos a alguns itens do projeto. O próprio projetista salientou como aspectos importantes: - utilização de concreto com adição de fibras na construção do perfil Creager (parte superior do sangradouro) e na laje da bacias de dissipação do vertedor em substituição às armaduras convencionais - muros laterais do vertedor fazendo parte do próprio maciço do CCR, envelopados por concretos convencionais nas zonas de exposição ao fluxo hidráulico (Figura 10) 17 Figura 10 – Muros laterais do vertedor fazendo parte do maciço - paramento de jusante das seções não submersíveis (fora da região do vertedor) feito com a combinação de duas declividades diferentes, eliminando-se o trecho superior usualmente vertical com aplicação de faceamento de concreto convencional. Resultou em uma bela construção. Galeria de drenagem Foi projetada uma galeria de inspeção e de drenagem ao longo do corpo de parte da barragem. Na Figura 11 pode ver-se o seu posicionamento. As dimensões da entrada da galeria parecem ser relativamente grandes (Figura 12), causando redução da seção útil. Se for feito um corte transversal no trecho inclinado da galeria de 2,6 m de largura, a distância entre o piso e o teto chega a 4,20 m! Note-se que foi na entrada da galeria e propagando-se através dela que a ruptura aconteceu (Figura 13). Lógico que não foi a galeria a responsável pelo colapso, porém vale o alerta para se pensar melhor neste detalhe de enfraquecimento do maciço por conta do vazio da galeria. Note-se que perto da zona em que rompeu (à esquerda do vertedouro na Figura 11), há um trecho vertical da galeria atingindo uma altura de 12 m! Não deixa de ser um valor significativo, fazendo com que seja necessária uma análise de tensões pois quando se tem um vazio num maciço comprimido, normalmente por ali aparecem tensões de tração. Figura 11 – Vista de montante da galeria de drenagem projetada 18 Figura 12 – Entrada da galeria de drenagem e seu interior Figura 13 – Ruptura envolvendo a entrada da galeria de drenagem propagando-se através dela Resistência especificada para o CCR O projetista fixou uma única resistência para o concreto compactado com rolo, qual seja, 7 MPa aos 90 dias, consumo de 80 kg de cimento por metro cúbico de concreto. Foi estabelecido um peso específico teórico de 2412 kgf/m3. Apesar de a altura máxima da barragem chegar aos 50 m, a resistência e o consumo de cimento indicados correspondem a valores corriqueiramente usados em barragens de CCR no Brasil. Nos Estados Unidos, por questões de durabilidade, são recomendadas resistências mínimas da ordem do dobro (2000 psi) da aqui citada (EP110-2-12 Seismic design provisisons for roller compacted concrete dams- Corps of Eng. 30 set 1995). 19 Na análise da estabilidade feita pelo projetista aparece tensão máxima de compressão de 0,38 MPa na seção vertedoura na face jusante e 0,707 MPa na cota 420. O fator de segurança é mais que adequado, se a resistência real do CCR atingir realmente os 7 MPa. Não foi apresentada pela Holanda Engenharia uma análise de tensões ao longo do corpo da barragem. Porém, conforme já citado, nas vizinhanças da galeria, por conta do vazio por ela causado, é comum aparecerem tensões de tração no material. Através de uma análise pelo Método dos Elementos Finitos pode-se perceber este fato. Resultados para diversas situações são apresentadas no Anexo. Aqui foi considerada a seção indicada na Figura 14 (praticamente onde houve ruptura). Foi considerado estado plano de deformações, módulo de elasticidade do CCR de 12,6 GPa, coeficiente de Poisson 0,2, peso específico 23.5 kN/m3, altura d`água correspondente ao dia da ruptura, sem sub-pressão. Na Figura 14 pode-se ver que aparecem, por exemplo, tensões de tração na direção x, (direção horizontal no plano da seção transversal) da ordem de 0,3 MPa e picos de compressão de 1,85 MPa (Figura 14). Se for considerado que a resistência à tração do CCR seja 10% da resistência à compressão, se esta não atingir os 7 MPa, como se verá no anexo, está-se em níveis de tensão sem a adequada segurança. Figura 14– Tensões σx nas vizinhanças da galeria (valores em tf/m2) Resistência especificada para o concreto de face de montante Numa barragem de CCR são empregados diversos tipos de concreto. Na parte em contato direto com a água tem-se o chamado concreto convencional de face de montante (CCV de face montante). Este deve ser um concreto de baixa permeabilidade que tem a função de reduzir ao máximo a percolação de água através do maciço. Valores típicos de resistência para estes concretos 20 são da ordem de 18 MPa a 25 MPa. Também a espessura não deve ser muito pequena, pois, o caminho de percolação sendo menor, mais água atravessa-o no mesmo intervalo de tempo. Valores típicos da espessura do concreto de face vão de 80 cm -120 cm na parte inferior das barragens, próximas ao fundo do lago, a cerca de 50 – 60 cm nas partes superiores onde é menor a pressão de água. Embora a resistência à compressão não esteja diretamente ligada à permeabilidade, em principio um concreto mais resistente é menos permeável. No caso, foi especificada uma resistência característica à compressão aos 90 dias de idade de apenas 10 MPa. Em seu depoimento, a Holanda Engenharia justificou a baixa resistência indicada com base no consumo de cimento especificado, de 190 kg/m3, que, segundo ela, conduziria a um concreto de baixa permeabilidade, mesmo tendo sido usado uma relação água/cimento de 0,74. Difícil é acreditar, como se verá adiante, que um concreto com essas características seja capaz de apresentar permeabilidade suficientemente baixa pra reduzir a níveis desejados a percolação de água através dele sob pressão de uma coluna d´água de 50 m de altura! A espessura da camada de concreto de face adotada foi variável, entre 20 e 55 cm, conforme detalhe mostrado na Figura 15, retirada do projeto da Holanda Engenharia. Figura 15 – Detalhe do concreto de face Na prática, no paramento de montante assim projetado, ocorrem estrangulamentos que reduzem a espessura a valores menores que 20 cm (Figura 16) facilitando a passagem da água. 21 Figura 16 – Concreto de face da barragem com espessura variável e estrangulamentos Na Figura 17 vê-se que a idéia de evitar a percolação de água através do maciço com os dados do projeto relativos ao concreto de face não funcionou. A jusante se consegue identificar qual o nível de água a montante da barragem, isto cinco dias antes do colapso. Em pouquíssimo tempo a água atravessou a barragem! Figura 17 – Percolação de água pelo corpo da barragem, 5 dias antes do infortúnio, mostrando que o paramento de montante está trabalhando de forma ineficaz 22 Compare-se com uma outra barragem também de CCR que, apesar acumular água a nível elevado, não deixa transparecer a jusante o nível em que ela se encontra (Figura 18). Figura 18 – Barragem de CCR em que não se percebe por jusante o nível d’água a montante Um exame do concreto de face da parte da barragem que não ruiu mostra que se trata de um concreto permeável, de baixa resistência e com imperfeições como as mostradas na Figura 19. A fissura vertical provavelmente coincide com uma junta e é normal, porém a inclinada corresponde a uma patologia. Pode alegar-se que se tratam de pontos localizados na imensa área do paramento de montante, que poderiam ser reparados, é verdade. Porém o fato é que a barragem foi entregue e os reparos não foram feitos. É difícil admitir que seja considerado normal o que mostra a citada Figura. Merece até melhor análise a origem das fissuras inclinadas pois podem representar pequenos deslocamentos de fundação. A percolação contínua de água no concreto provoca lixiviação (dissolução e transporte) (Figura 20) do hidróxido de cálcio oriundo da reação química dos silicatos do cimento com a água, deixando vazios e diminuindo a resistência já baixa do concreto. Costuma dizer-se que com o tempo as fissuras e os poros maiores colmatam (o hidróxido de cálcio reage com o CO2 do ar formando carbonato de cálcio que preenche e veda os poros). Isto pode até ser verdade em alguns casos, mas num concreto pobre em cimento, com poucos finos, muito permeável, é pouco provável que a percolação visível na Figura 24 seja estancada pela carbonatação. Note-se que se trata de uma barragem nova que pela primeira vez está recebendo um nível de água significativo. Os fatos mostram que ela não foi projetada e construída pensando na durabilidade 23 Figura 19 – Imperfeições no concreto de face que permitem percolação mais intensa de água Figura 20 – Trecho jusante no vertedor com intensa lixiviação provocada pela percolação da água através do maciço 24 A lixiviação do hidróxido de cálcio da pasta endurecida produz vazios no seu interior. Além disso, quando aquele material, que é uma base, sai da massa de concreto, vai reduzir a alcalinidade da matriz cujo pH diminui. Isto facilita o desencandeamento do processo corrosivo das armaduras que começam a se estragar, como se vê na Figura 21, na galeria por onde passa a tubulação da tomada d’água da barragem de Camará. Figura 21 – Concreto com lixiviação e processo corrosivo desencadeado 25 Comentados alguns aspectos do projeto e do que se passava na barragem, passa-se a tecer algumas considerações sobre a fase construtiva da obra. Fase de construção e implicações com o acidente O problema geológico e suas consequências Pela análise da documentação não se tem informação de estudos geológicos adicionais além dos feitos pela ATECEL, para uma barragem de terra. Ao que consta nenhum estudo de geofísico ou de geologia estrutural foi executado. Sem maiores informações, no início da construção da barragem, quando se procedia à limpeza para executar fundação, percebeu-se um grande bloco de rocha fraturado, em posição instável, cujo desenho, fora de escala, é apresentado na Figura 22 que também mostra uma visão do local. Figura 22 – Esquema de rocha instável na ombreira esquerda e vista do orifício preenchido com solo residual (fonte: relatórios da Holanda Enga.) No relatório de dezembro de 2000, o relatório da Holanda Enga. se refere à falha citada. A falha detectada se revelou como contato não soldado, com preenchimento de material arenoso e de alteração, na região do contato da rocha no leito do rio e o talude esquerdo. Foi trazido um Engenheiro Geotécnico que propôs um procedimento para estabilização do grande bloco. O relatório relativo a abril de 2001 mostra a preocupação da Holanda com o bloco de pedra, que ela esperava conter também pelo confinamento provocado pelo maciço de CCR: 26 Durante o mês de Abril, foi dada continuidade a execução das recomendações do Eng. Geotécnico Alexandre Sagnoli, com a finalidade de minimizar os riscos de instabilidade da superfície rochosa, decorrente da infiltração das águas das chuvas nas falhas das ombreiras direita e esquerda. Conforme já comunicado por carta, na data de 17 de abril de 2001, é observada a necessidade de ser iniciada e concluída a construção do maciço de CCR até a elevação correspondente ao piso da bacia de dissipação do sangradouro da barragem, de modo a promover o tratamento do maciço rochoso da Ombreira Esquerda, na região da descontinuidade geológica detectada no sentido do fluxo. Esta necessidade deve ser observada, haja visto que um deslizamento que eventualmente possa ocorrer naquele local, poderá acarretar em trabalhos adicionais para remoção de rocha sã e recomposição em volume de concreto (CCR e CCV), com conseqüentes impactos em termos de prazo de execução da obra e custos decorrentes. O procedimento proposto consistia em se retirar o material sob a rocha (Figura 23), limpar e preencher com concreto. Para tanto foi construído um muro de arrimo escalonado como se vê na Figura 23. Figura 23 – Retirada do material intemperizado sob o bloco de rocha Na figura 24 pode-se ver o aspecto geral durante e após o trabalho. 27 Figura 24 – Vista geral durante e após execução da solução proposta para contenção do bloco (Fonte: relatórios da Holanda Enga.) O relatório de maio de 2001 da Holanda Engenharia volta a insistir: Considera-se fundamental que haja o confinamento da fundação, principalmente o trecho do talude da ombreira esquerda, onde ocorre a descontinuidade no sentido do fluxo. Os tratamentos previstos e aprovados para o enchimento da falha, terão a dupla finalidade de estabilizar a massa 28 de rocha da ombreira como também evitará que seja formado um caminho preferencial de percolação através do material. A solução de engenharia proposta foi infeliz, não sendo capaz de conter o deslizamento da rocha e de sua contenção (Figura 25). Figura 25 – Deslizamento dos blocos sob a barragem: a solução adotada e o confinamento do maciço não foi capaz de contê-lo Segundo palavras do Dr. Milton Assis Kanji, que também fez uma análise do acidente de Camará para o Ministério Publico, e consta em relatório complementar a este, a solução proposta foi ineficaz porque houve julgamento inadequado na interpretação geológica da extensão da falha. Imaginava-se que ela se estendia apenas cerca de 3 m para o interior do maciço rochoso, quando na realidade ela ia muito mais além. Maiores explicações constam no citado relatório, mas aqui ainda se tecem algumas considerações sobre a solução adotada. 29 Foi indicado para preencher o vazio sob a rocha já referida um concreto de regularização de resistência à compressão de apenas 10 MPa. Ora, esse concreto é bem menos resistente que as rochas e apresenta módulo de elasticidade bem inferior ao do material pétreo. Conseqüentemente é mais deformável. Talvez valha a pena em se pensar no fato, apesar de as tensões de compressão não serem de grande monta. Além disto, num caso deste, o preenchimento do vazio para assegurar o contato completo do concreto com a parte inferior da rocha não é simples. Note-se que o assentamento do concreto fresco e a própria retração do material pode ocasionar a separação das superfícies de contato concreto-rocha na parte inferior dela, ainda mais num volume grande como o do caso. Para corrigir isto foram feitas injeções de consolidação, conforme atesta documentação da barragem. Se a interpretação geológica feita fosse real, possivelmente a solução proposta teria sido eficaz. No corpo da barragem, a ruptura ocorreu nas proximidades da ombreira esquerda e está esquematizada na Figura 26. A verdade é que a barragem foi assente em rochas fraturadas com material intemperizado entre os blocos. Com a elevação do nível de água, as injeções de calda de cimento foram insuficientes para impedir a permeabilidade do maciço rochoso. A pressão da água paulatinamente foi expulsando o material intemperizado entre os blocos de forma a facilitar o escoamento. Chegou-se a um ponto em que os blocos ficaram sem apoio o empuxo horizontal da água empurrou-os, fazendo um trecho da barragem perder o equilíbrio. A Figura 26 evidencia alguns blocos remanescentes, percebendo-se que a água retirou o material que lhes dava apoio. Figura 26 – Blocos remanescentes sem apoio Ocorreu também a desestabilização dos blocos enormes mais abaixo da região mostrada na Figura 26. Assim, o trecho em questão passou a ter liberdade de movimento horizontal na sua extremidade inferior, passando a ter o comportamento de uma placa engastada no maciço e com borda livre (Figura 27). Essa parte da parede passou a ser flexionada pelo empuxo horizontal da água (Figura 28). A barragem foi projetada para trabalhar como um corpo rígido, apoiada na base, não estando dimensionada para receber momentos fletores. As tensões previstas de trabalho são majoritariamente de compressão. No instante em que faltou o apoio na base, mudou completamente o comportamento estrutural daquela parte da construção. Apareceu o momento que provocou tensões de tração no pedaço a montante na ligação com o trecho restante da barragem. Como a 30 resistência à tração do concreto é relativamente baixa, principalmente num concreto especificado para ter apenas 10 MPa e pequena espessura, as tensões trativas superaram-nas, provocando a ruptura. Note-se que o colapso ocorreu de forma inclinada, acompanhando a galeria (Figura 29). Isto porque ali é diminuída a capacidade resistente do maciço. Os esforços de tração arrancaram a parede da galeria no lado de montante, a ruptura parando na seção plena. No lado de jusante isto não ocorreu, o que atesta que de fato a ruptura ocorreu por tração a montante da galeria, provocada pela flexão indicada. É de se perguntar se em vez de um paramento de montante de baixa resistência e pouca espessura se tivesse um outro com concreto de 25 MPa e 60 cm de espessura se tal ruptura aconteceria! Figura 27 – Esquema da barragem Figura 28 – Flexão no trecho da barragem que perdeu apoio 31 TRAÇÃO COMPRESSÃO Figura 29 – Vista de montante mostrando que a ruptura ocorreu acompanhando a galeria Ligação CCR-Fundação Uma recomendação da Holanda Engenharia é que nos maciços de CCR, apoiados sobre fundação de rocha, primeiramente será lançado um concreto de regularização do tipo convencional com espessura mínima de 0.30 m. Também é dito que no caso de áreas muito planas, que não é o caso da Figura 30, essa espessura poderá ser reduzida mas nunca inferior a 5 cm. Foram lançados mais de 5 mil metros cúbicos de concreto de regularização mas, mesmo assim, após a catástrofe, notam-se áreas em que ele está ausente, conforme indica Figura 30. 32 Figura 30 –Trechos com CCR diretamente em contato com a rocha: ausência do concreto de regularização especificado 33 Análise dos controles dos concretos Como já citado, há vários tipos de concreto empregados na barragem. O controle de qualidade deste material consta nos relatórios mensais, apresentados pela Holanda Engenharia. A leitura dos relatórios permite que alguns comentários sejam feitos. O controle de qualidade do concreto nas obras de engenharia se faz com base em parâmetros estatísticos. Convém então lembrar que resistência característica (que é a especificada nos projetos) é aquela que tem uma certa probabilidade de acontecer em um determinado lote de concreto. Para se atingir a resistência característica especificada, é necessário que a resistência média lhe seja superior, pois as resistências dos corpos de prova de um mesmo concreto apresentam sempre uma variação que pode ser considerável. Essa variação é pequena em concretos bem controlados e grande, caso contrário. Assim, a resistência característica está ligada à resistência média e ao desvio padrão (ou coeficiente de variação) da amostra, assim como à percentagem tolerada de resultados que se admite que possam ser inferiores à resistência característica. Por exemplo, nos concretos estruturais de edificações correntes, admite-se que 5 % dos corpos de prova que compõem um determinado lote podem ter resistência inferior à característica. No caso de barragens esse quantil pode passar a 10% ou mesmo 20%. No caso, o projetista fixou para os diversos concretos os parâmetros para se estabelecer a resistência característica. Assim, a Holanda engenharia estabeleceu que a resistência média (fcj) necessária para ser atingida a resistência característica (fck) é dada pela expressão: fcj = fck/(1-t.Vn) onde t é um parâmetro função da probabilidade de ocorrência admitida de valores abaixo da resistência característica; Vn é o coeficiente de variação da amostra (desvio padrão dividido pela média) Desta forma, a Holanda Engenharia admitiu, conforme consta no documento Procedimento para avaliação de resultados de ensaios de resistência dos concretos aplicados na barragem de CCR, o que está indicado no Tabela 2, para os principais concretos da barragem de Camará. Note-se que o projetista faz uma previsão para o coeficiente de variação dos diversos concretos, no caso entre 15% e 18 %. Posteriormente vai-se ver que na prática, em alguns concretos, chegaram-se a valores bem superiores aos estimados.. 34 Tabela 2 – Informações sobre alguns concretos e resistência média necessária segundo a Holanda Engenharia Local de aplicação Regularização Vertedor Face montante Face jusante Galeria de desvio Argamassa de selo CCR Resist. característica e idade de controle 10 MPa a 90 dias 25 MPa a 28 dias 10 MPa a 90 dias 7 MPa a 90 dias 15 MPa a 90 dias Consumo de cimento (kg/m3) 200 350 190 170 280 12 MPa a 90 dias 7 MPa a 90 dias t Vn Resistência média (%) necessária (MPa) 0,854 15 11,5 1,282 15 32,5 0,854 18 11,8 0,854 18 17,7 338 1,282 15 14,9 80 - - 7,0 No mês de fevereiro de 2001 começou-se a lançar concreto de regularização, em março de 2001 já se lançava concreto de face de montante. O relatório de maio de 2001 da Holanda Engenharia diz: A obra, para a execução dos concretos, nesta fase inicial, conta com situação ainda improvisada, sendo que os concretos são dosados com auxílio de uma pá carregadeira. A admissão da água e dos agregados para misturas é feita volumetricamente. Inicialmente, os aditivos foram empregados apenas nos concretos bombeados. Note-se, conforme indicado na Tabela 3, que já tinham sido lançados 8635 m3 de concreto dosados com pá carregadeira! E logo nas partes inferiores da barragem! Só no paramento de montante, 246 m3 de concreto tinham sido preparados desta forma. Apesar de tais concretos serem inteiramente inadequados, louve-se a atitude da Holanda Engenharia em relatar o fato. Porém mais correto seria ela não aceitar o lançamento desse concreto, mesmo que o cronograma ficasse comprometido. Também é de admirar a omissão do pessoal da SEMARH. É sabido que posteriormente foram postas em funcionamento modernas usinas para a dosagem dos concretos convencional e compactado com rolo. 35 Tabela 3 – Concretos medidos no mês de maio de 2001, dosados com pá carregadeira Item 4.0 4.2 4.3 4.4 4.6 Descrição Un MACIÇO Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de regularização com consumo mínimo de cimento de 250 Kg/m³ Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de impermeabilização do contato com a fundação com consumo mínimo de cimento de 350 Kg/m³ Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de face com consumo mínimo de cimento de 300 Kg/m³, usado no paramento de montante Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto armado de face Fck >= 18 MPA, usado nas alas e paramento de jusante do sangradouro Quantidade executada No Acumulada Período - 7.588,58 73,54 73,54 - 246,00 409,47 727,55 m³ m³ m³ m³ No mesmo relatório de maio, é dito: O julgamento estatístico das misturas de concreto, não pôde ser efetuado para todos os traços de concreto, nesta fase, pelo fato de não estarem ainda disponíveis resultados de ruptura em quantidade superior a 30 amostras na idade de controle especificada para a classe, conforme estabelecido no critério de avaliação de resultados de ruptura elaborado para a obra. Assim, após mais de 8 mil metros cúbicos de concreto lançados, não se tinha resultados de controle adequado de resistência! O máximo de que se dispunha eram resistências médias, com coeficiente de variação elevados como adiante se verá. No relatório de julho de 2001 o volume de concreto lançado já passava de 9 mil metros cúbicos. Continua-se a dizer: O julgamento estatístico das misturas de concreto, não pôde ser efetuado para todos os traços de concreto nesta fase, pelo fato de não estarem ainda disponíveis resultados de ruptura em quantidade superior a 30 amostras, na idade de controle especificada para a classe, conforme estabelecido no critério de avaliação de resultados de ruptura elaborado para a obra. A seguir, convém analisar alguns tipos de concreto para verificar o que se passava com seu controle, sempre com base nos relatórios da Holanda Engenharia. 36 Concreto de regularização Examinando-se as partes dos relatórios relativas à resistência do concreto de regularização vê-se que ela apresenta uma variação relativamente elevada (Figura 31). No início, vêem-se resistências elevadas, posteriormente há certos lotes onde a resistência é muito baixa. Os lotes com resistência aos 7 dias inferior a 5 MPa ou mesmo menos têm pouca aderência às rochas e baixa resistência ao cisalhamento. Figura 31 – Resultados de resistência à compressão do concreto de regularização (Relatório de junho de 2002: obra acabada) Note-se que o coeficiente de variação foi de quase 30 % aos 90 dias, distante dos 15 % ou 18% imaginados e adotados na Tabela 2. Conforme indica a Holanda Eng. (Figura 32) um 37 coeficiente de variação maior que 20 % indica controle deficiente, no entanto está escrito “controle de produção razoável” na Figura 32. Figura 32 – Qualidade do controle do concreto em função do coeficiente de variação dos ensaios Com o coeficiente de variação de 30 %, a resistência média necessária para ser atingida a resistência característica desejada passaria a ser: fcj = fck/(1-t.Vn) = 10/(1-0,854.0,3) = 13,4 MPa superior ao valor médio de 12,7 MPa encontrado nos ensaios. Teoricamente o concreto não estaria conforme. Sabe-se perfeitamente que essa diferença não é importante em se tratando de concreto de regularização. No entanto, já que se está fazendo um controle, o mais lógico seria que uma vez detectado pelo acompanhamento da obra que o concreto não estava obedecendo ao especificado, correções fossem feitas para evitar a não conformidade. Ao final da obra, no relatório de junho de 2002, a análise feita pela Holanda Enga. sobre esse concreto é a que segue: Traço Reg. 002 Esta mistura, apresenta resultados de ensaios na idade de 7 dias, indicando um valor de 6,3 MPa, na idade de 28 dias um valor de 10,1 MPa, e na idade de 90 dias um valor de 12,7 MPa, atendendo ao valor característico de projeto de 10 MPa na idade de 90 dias. Esta mistura está em conformidade com as exigências de Projeto, apresentando um padrão de produção classificado como RAZOÁVEL e um padrão de controle de laboratório BOM. Vê-se que um engano foi cometido! Confunde-se resistência média com resistência característica! Classifica-se um concreto com 30 % de coeficiente de variação como padrão razoável de controle quando na realidade seria deficiente. Concreto das superfícies hidráulicas (vertedor: ogiva, degraus, muros laterais) Analise-se agora o concreto das superfícies hidráulicas, projetados para terem uma resistência característica de 25 MPa aos 28 dias, e uma resistência média, naquela idade, de 32,5 MPa. Na Figura 33 vêem-se os resultados dos ensaios. O valor médio obtido é menos de metade do teoricamente desejado. 38 Estranho é que, ao final da obra, como a resistência não foi atingida, a Holanda Engenharia justifique-se da seguinte forma: Considerando que a mistura de concreto tem aplicação principal nas estruturas hidráulicas da barragem, a resistência característica de campo não é um fator determinante para a aceitação do concreto. O que a Holanda Enga. quer dizer é que a resistência é secundária, em relação ao consumo de cimento do traço empregado. Mas é de se questionar, se foi previsto, aos 28 dias, 32 MPa de resistência e chegou-se a 15,7 MPa, não será isto porque o consumo de cimento não está correspondendo ao especificado de 350 kg/m3 ? A menos que não haja controle da relação água/cimento, a resistência de 15,7 MPa pode ser conseguida com muito menor consumo de cimento que o especificado. O coeficiente de variação agora foi menor que 20%, porém note-se que os valores iniciais são incompatíveis com uma superfície onde vai haver fluxo de água sobre ela. A durabilidade estaria comprometida. Figura 33 - Resultados de resistência à compressão do concreto para superfícies hidráulicas (Relatório de junho de 2002: obra praticamente acabada) 39 Aqui torna a questão da mistura de responsabilidades. O projetista especificou uma resistência de 32,4 MPa aos 28 dias e o tecnologista chegou apenas a 15,7. Seria o caso de o projetista não aceitar o concreto, recusando o trabalho do tecnologista e exigindo que atendesse ao desejado. Ora, mas aqui o projetista e o tecnologista são a mesma pessoa, assim, um não poderia recusar o trabalho dele próprio. Então, o projetista diz que aceita o concreto e acha uma desculpa para tal, acatada pela SEMARH e por outros engenheiros que acreditam que agir assim é fazer uso das boas práticas da engenharia. Desta forma, um concreto de muita importância, destinado receber água em velocidade, com partículas sólidas em suspensão, em nenhum instante atingiu a resistência desejada e não sofreu nenhuma correção para se tornar conforme! Concreto de face de montante O concreto de face de montante começou a ser lançado em março de 2001, conforme Tabela 4 extraída do relatório relativo àquele mês. Tabela 4 - Volume de concreto de face lançado em março de 2001 no mês Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto d e face com 4.4 consumo mínimo de cimento de 300 Kg/m³, usado no paramento de montante m³ 206,00 acumulado 206,00 No relatório de janeiro de 2002, a Tabela 5 indica que já tinham sido aplicados mais de 3400 m3 de concreto de face. 4.4 Tabela 5 – Concreto de face aplicado e acumulado em janeiro de 2002 no mês Preparo, carga, descarga, transporte, lançamento, espalhamento e adensamento de concreto de face com consumo mínimo de cimento de 300 Kg/m³, usado no m³ 262,70 paramento de montante acumulado 3.439,92 Apesar disto, 8 meses depois do primeiro lançamento deste concreto, ainda se lê no citado relatório: Esta mistura, de aplicação na Face de Montante, apresenta resultados de ensaios de ruptura insuficientes para uma análise estatística consistente. Os valores de ensaio indicam valores médios da ordem de 6,1 MPa na idade de 07 dias, de 7,8 MPa na idade de 28 dias e de 10,6 MPa na idade de 90 dias. O valor característico de projeto é de 10 MPa na idade de 90 dias. No relatório de junho de 2002, com a barragem concluída lê-se: Esta mistura, de aplicação na Face de Montante, apresenta resultados de ensaios de ruptura insuficientes para uma análise estatística consistente. Os valores de ensaio indicam valores médios 40 da ordem de 5,7 MPa na idade de 07 dias, de 7,7 MPa na idade de 28 dias e de 10,5 MPa na idade de 90 dias. O valor característico de projeto é de 10 MPa na idade de 90. A mistura apresenta conformidade com as exigências de projeto. O padrão de controle da produção e o padrão de controle de laboratório são classificados como excelentes, segundo... Assim, está-se a dizer que foi terminada a aplicação do concreto de face de montante e o número de ensaios de corpo de prova foi insuficiente para análise estatística. É de se perguntar que controle é este? E o estanho é que são apresentados resultados como os indicados na Figura 34, onde inclusive o desvio padrão foi menor, da ordem de 10% aos 90 dias. Figura 34 – Resistência do concreto de face de montante Assim, usando o procedimento já descrito, seria necessária uma resistência média de: fcj = fck/(1-t.Vn) = 10/(1-0,854.0,1) = 10,9 MPa A resistência média obtida de 10,5 MPa, foi ainda inferior à necessária de 10,9 MPa, embora a diferença seja pouco significativa. Teoricamente, tem-se uma não conformidade. Mais uma vez, confunde-se resistências médias e características! Aos 28 dias esse concreto tem uma resistência média de apenas 7,7 MPa. É muito baixa para a missão a que estaria destinado. 41 Concreto compactado com rolo Em setembro de 2001, começou-se o lançamento do CCR. Neste mês, foram aplicados mais de 12,5 mil metros cúbicos, com o respectivo controle de compactação das camadas. Os valores apresentados satisfazem ao que foi preconizado. No entanto, no que se refere a resistência à compressão, não deixam de ser preocupantes os valores apresentados na Figura 35. Mesmo que se diga que a energia de compactação no ensaio foi inferior à da obra, não se sabe se as camadas iniciais aplicadas correspondem ao citado. Veja-se que se está em patamares inferiores a 2 MPa aos 7 dias, e mesmo que a resistência triplique até os noventa dias (o que é de tudo improvável) o material ainda estaria não conforme. A esperança é que essas resistências não sejam equivalentes à do concreto aplicado. Figura 35 – Resistências iniciais aos 7 dias do CCR apresentadas Veja-se agora o que está escrito no relatório de Holanda Engenharia de junho de 2002, meses após terem sido concluídos lançamentos de concretos. O próprio controle da obra não confia no que fez! a) Traço CCR1 Esta mistura de CCR apresenta poucos resultados de ensaios de ruptura para uma análise estatística consistente. Os valores de ensaio indicam valores médios de resistência da ordem de 1,7 MPa na idade de 07 dias, de 3,8 MPa na idade de 28 dias e de 6,5 MPa na idade de 90 dias. O valor característico de projeto é de 7 MPa na idade de 90 dias. Essa mistura apresentou no início da obra algumas deficiências no processo de moldagem que refletiram nos valores mais baixos de ruptura. Na realidade os valores deverão corresponder a níveis de resistência compatíveis com a energia de compactação adotada no processo de moldagem dos corpos de prova conforme confirmado nos controles subseqüentes executados (como exemplo cita-se o traço modificado já controlado nessa condição, que é comentado a seguir). 42 b) Traço CCR1.2 Esta mistura de CCR apresenta resultados de ensaios de ruptura insuficientes para uma análise estatística consistente. Os valores de ensaio indicam valores médios de resistência da ordem de 3,5 MPa na idade de 7 dias, de 5,3 MPa na idade de 28 dias e de 7,5 MPa na idade de 90 dias. O valor característico de projeto é de 7 MPa na idade de 90 dias. O valor médio do peso unitário obtido para este traço é igual a 2279 kg/m3. Note-se que o de projeto é mais de 2400 kg/m3! Alguma coisa deve estar errada pois não é possível se pagar a uma empresa de controle de qualidade para no final ela dizer que tem resultados insuficientes. Outros concretos Os concretos de face de jusante e a argamassa de selo, satisfizeram as resistências desejadas. O relatório de março de 2002 diz: No mês de Março, foram concluídos todos os trabalhos no Açude Barra do Camará, com a concretagem do bloco de apoio da casa de comando da válvula dispersora, das vigas e pilares da estrutura de acionamento da comporta de montante, e da montagem do descarregador de fundo. Neste relatório não há Boletim de Medição devido ao esgotamento do valor contratual Já no relatório de Junho de 2002 da Holanda está escrito: No mês de Junho, foram concluídos todos os trabalhos no Açude Barra do Camará, com a concretagem do bloco de apoio da casa de comando da válvula dispersora, das vigas e pilares da estrutura de acionamento da comporta de montante, e da montagem do descarregador de fundo. Portanto, desde março não se lançava concreto, no entanto, aparece em junho a seguinte análise (entre outras já discutidas): Traço A1.25.4 Esta mistura, de aplicação nas estruturas do pórtico e da casa de comando apresenta resultados de ensaios que indicam valor de resistência média de 17,5 MPa aos 7 dias. O valor característico de projeto é de 25 MPa na idade de 28 dias. Certamente a resistência característica não seria atingida na idade de 28 dias. Seria mais um concreto não conforme. Traço F.25.1 43 Os resultados de ensaios na idade de 28 dias apresentam resistência média da ordem de 20,5 MPa, indicando um excesso de resistência quando comparada à necessidade de Projeto. Esta mistura está em conformidade com as exigências de Projeto. Traço F.50.1 Esta mistura apresenta poucos resultados de ensaios de ruptura para uma análise estatística consistente. Os valores de ensaio indicam valores médios da ordem de 12,2 MPa na idade de 7 dias, 16,7 MPa na idade de 28 dias, e 18,8 MPa aos 90 dias indicando um excesso de resistência quando comparada à necessidade de Projeto. Esta mistura está em conformidade com as exigências de Projeto Traço B.25.1 Esta mistura de concreto de bomba indica valores médios de resistência da ordem de 10,4 MPa aos 7 dias, de 13,9 MPa aos 28 dias e de 16,6 MPa aos 90 dias. A resistência de controle desta mistura é de 15 MPa aos 90 dias. O resultado médio de resistência obtido aos 90 dias teve uma queda em relação ao período anterior, de 17,0 MPa para 16,6 MPa, conduzindo a um valor que conforme o documento BC-002 – Procedimento para avaliação de resultados de ensaios de resistência dos concretos aplicados na barragem de CCR, aprovado para uso na obra, apresenta uma não conformidade com as exigências de Projeto. Esta queda do valor médio de resistência na idade de 90 dias se deve as amostras de concreto aplicado na parede da galeria da tomada d’água, no dia 18 de maio, que apresentaram valores individuais abaixo do esperado, sendo ainda valores abaixo dos valores obtidos na idade de 28 dias. O fck est para o controle desta mistura indicou, na idade de 90 dias, o valor de 13,4 MPa. Considerando que o carregamento da estrutura e posta em serviço não ocorrerá em idade anterior a 180 dias para os concretos executados nesta estrutura, considerando os atrasos havidos, o concreto em questão poderá ser aceito conforme condições ensaiadas. Veja-se que em vez de correções nos traços, quando a resistência obtida não satisfaz, procura-se outra justificativa. Traço JF.50.1 Esta mistura, de aplicação na Face de Jusante, apresenta resultados de ensaios de ruptura insuficientes para uma análise estatística consistente. Os valores de ensaio indicam valores médios da ordem de 4,9 MPa na idade de 07 dias, de 5,9 MPa na idade de 28 dias e de 7,7 MPa na idade de 90 dias. O valor característico de projeto é de 7 MPa na idade de 90 dias. Traço “Coroamento” 44 Esta mistura, de aplicação no Coroamento da barragem, apresenta poucos resultados de ensaios de ruptura. Os valores de ensaio indicam um valor médio da ordem de 5,2 MPa na idade de 07 dias. O valor característico de projeto é de 10 MPa na idade de 90 dias. c )Traço Arg 4,8.1 Esta mistura de argamassa apresenta poucos resultados de ensaios de ruptura. Os valores de ensaio indicam valores médios da ordem de 6,6 MPa na idade de 07 dias, de 9,0 MPa na idade de 28 dias e de 12,2 MPa na idade de 90 dias. O valor característico de projeto é de 12,0 MPa na idade de 90 dias. Mais uma vez, confundida resistência média com característica! Assim, a barragem já terminada há mais de três meses e diversos traços apresentavam poucos resultados, resultados insuficientes, não conformidades. A Holanda Enga. em vez de corrigir as não conformidades, forçou a aceitação com outros argumentos que não o previamente estabelecido. Outras considerações A Figura 36 mostra o aspecto do muro da bacia de dissipação. Vê-se que a armadura estava exposta, assim lançou-se uma camada de argamassa para encobri-la. Seria pois uma construção pouco durável. 45 Figura 36 – Muro da bacia de dissipação com pouco cobrimento de armadura A Figura 37 mostra o aspecto da galeria por onde passa a tubulação da válvula dispersora e de onde sairia a adutora. Vê-se que ali já está instalada a corrosão das armaduras do concreto armado. Num local como este, que pode ser considerado de classe de agressividade ambiental de ordem III ou IV, deveria ser especificado e aplicado um concreto de muito melhor performance, no mínimo um concreto de classe C30, e até mais! Uma obra pública como uma barragem é para durar 100 anos, pelo menos, então tem que ser projetada para a durabilidade. Seria necessário cobrimentos de armadura maiores e limitada a relação água/materiais cimentícios. Se, com apenas dois anos a performance da parede da galeria é a indicada na Figura 37 já se vê que os critérios de durabilidade não foram sequer ventilados. Figura 37 – Aspecto da galeria já com problemas de corrosão Antes de se passar para o que se segue, fica claro que o aqui exposto não representa a boa prática da engenharia! 46 Desempenho da barragem após a construção A análise da barragem após a construção é mais detalhadamente feita nos relatórios dos professores Nieble e Kanji que também participaram da comissão de técnicos que auxiliaram os Ministérios Públicos Federal e Estadual na investigação sobre a Barragem de Camará. E No entanto, aqui pode-se dizer que antes mesmo de ser entregue, a barragem de Camaá começou a apresentar problemas, ou seja a barragem já nasceu doente. Vistoria da Holanda após conclusão da obra constatou que, mesmo com nível muito baixo havia água em excesso na galeria (suspeita de trinca no paramento de montante) e drenos com artesianismos, a ponto de ser sugerida investigação com presença de mergulhadores! A Barragem recebida em dezembro de 2002. Em 2003 pouca chuva houve na região e o nível d’água permaneceu baixo. Apesar de doente, a barragem ficou esquecida e abandonada à própria sorte! Em janeiro 2004 começou a chover mais intensamente no local onde estava construída a barragem. O doente começou a dar sinais mais fortes de sua doença, e o proprietário não foi ágil o suficiente para bloquear a propagação do mal. Os relatórios já citados explicam com detalhes o que ocorreu. Mas convém mostrar as possibilidades que se tinha de esvaziamento do lago quando do agravamento do problema. Na Figura 37 pode-se ver o o Hietograma e o esvaziamento da barragem se tivesse sido aberta a válvula de 400 mm. Na Figura 38 tem-se o caso de desmonte da válvula para vazão completa no tubo de 800mm. Vê-se que era possível baixar o nível do lago para cota de segurança, se decisões houvessem sido tomadas neste sentido com uma certa antecedência em relação ao dia da tragédia. Houve, pois, imprudência do Proprietário! Maiores detalhes sobre a obtenção dos diagramas de esvaziamento encontram-se no Anexo II. 47 Figura 37 – Hietograma e esvaziamento do lago com abertura de válvula de 400 mm Figura 38 - Hietograma e esvaziamento do lago com abertura de válvula de 400 mm 48 Considerações finais Considerando que a barragem de Barra do Camará foi construída: • Pelas empresas CRE e Andrade Galvão, que oficialmente não poderiam fazê-lo, a primeira sem acervo técnico para construir em CCR, a segunda por não ter participado da licitação e sendo vedada a formação de consórcio; • Com preços de projeto e de controle tecnológico aviltados; • Com uma absurda indefinição de responsabilidades; • Com ausência completa de fiscalização por parte do proprietário;; • Com engenheiro do Estado designado para fiscalizar a construção sendo engenheiro residente em outras obras; • Com avaliação errônea de um problema geológico; • Com oito mil e quinhentos m3 de concreto dosados com pá carregadeira e sem aditivos; • Com ausência de engenheiro oficial da consultoria na obra; • Com as funções de projeto e consultoria de controle dos materiais (e fiscalização) exercida pela mesma empresa; • Com concreto de face de montante de baixa resistência, de pequena e variável espessura, com defeitos localizados e permeável; • Com inúmeros concretos ao final da construção com resultados de ensaios insuficientes para uma avaliação estatística consistente; • Com visitas esporádicas do responsável pelo controle dos materiais que terminou sendo realizado à distância, sem correção das não conformidades quando detectadas; • Com “enxugamento” excessivo de parâmetros de resistência e de espessura do paramento de montante já apresentou defeitos antes mesmo antes de ser entregue, pode-se afirmar que a Barragem de Camará não foi construída conforme os bons princípios da Engenharia. O desprezo a ela dedicado após a construção vai de encontro aos princípios básicos daquela ciência! 49 ANEXO I Análise de tensões na barragem 50 Análise numérica bidimensional da barragem de Camará Apresentação Nesta seção estão discutidos alguns aspectos das simulações numéricas, feitas pela comissão dos Ministérios Públicos Estadual e Federal (MPE/F), no maciço de Concreto Compactado com Rolo (CCR) da barragem de Camará. Generalidades Na elaboração de um projeto visando o dimensionamento dos componentes estruturais de uma construção, as normas técnicas, em geral, prescrevem o atendimento simultâneo de dois grupos de condições: o primeiro, chamado de estado limite último, está associado ao estágio em que a construção torna-se imprópria para finalidade para qual foi projetada e o segundo, denominado de estado limite de serviço, está vinculado aos níveis limites para que se tenha uma boa operacionalidade da estrutura. Estado Limite Último(ELU) Convém notar que sua simples ocorrência do ELU determina a paralização, no todo ou em parte, do uso da construção para a finalidade especificada de projeto. Dentre os fatores cruciais que provocam a inoperância da construção, tem-se: a)Esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais; b)Instabilidade mecânica (flambagem); c) Perda de equilíbrio total ou parcial da estrutura considerada como corpo rígido; d)Transformação da estrutura em um mecanismo; e)Fadiga (diminuição da resistência devido a cargas cíclicas); f) Outros estados limites que possam ocorrer em casos especiais ( por exemplo, falta de estanqueidade em reservatórios) 51 Vale ressaltar que os fatores acima mencionados cobrem um vasto espectro de finalidades em conjunção do sistema estrutural adotado pelo projetista, contudo, não é difícil perceber que parte desses fatores se aplica, sim, ao caso de barragens, por exemplo, itens a, c, f. A partir de inspeções na documentação técnica apresentada pela projetista percebeu-se que houve um estudo relativo a estabilidade da construção (item c), em que foi analisado maciço da barragem (considerado como um corpo rígido), em relação ao deslizamento, tombamento e flutuação. Convém ainda, ressaltar que a projetista determinou as tensões de contato da base do maciço de concreto e o maciço rochoso da fundação. Para este cálculo foi utilizada a teoria de flexão composta normal, cujos fundamentos são amplamente discutidos nos cursos de graduação em engenharia. Uma das hipóteses assumida neste modelo é que a seção transversal da peça permanece plana ao longo de todo o processo de carregamento. Tal procedimento é plenamente aceitável, se for admitido o material como rígido, isto é, com módulo de elasticidade infinito (pelo menos 104 vezes maior que a do aço). Por outro, se o material for deformável, a hipótese de manutenção das seções planas é um tanto questionável, principalmente quando as dimensões envolvidas são consideráveis como no caso da base da barragem de Camará. Isto pode acarretar alterações nos valores dos campos de tensões obtidos via teoria clássica de flexão composta. Além do mais, a barragem de Camará apresenta uma galeria de inspeção peculiar. Os trechos verticais assinalados com uma seta na Figura 1 constitui-se num orifício com nada menos que 12 m de altura e 2,6 m de largura. Um corte transversal no trecho inclinado indica uma altura para a galeria de 4,2 m! Figura 1 – Galeria da Barragem de Camará Assim, é prudente e recomendável empregar outras técnicas, tais como as simulações numéricas, para estudar os campos de tensões, não só na base de apoio do maciço de concreto, mas também em 52 todo seu domínio, sobretudo nas vizinhanças da galeria onde é comum o aparecimento de tensões de tração. Estado Limite de Serviço O segundo grupo de condições que as normas, em geral, prescrevem é aquele relacionados à operacionalidade da estrutura, tais como: durabilidade, aparência, conforto, boa utilização funcional da estrutura, seja em relação aos usuários, seja em relação às máquinas e aos equipamentos conectados à ela. Aqui as recomendações normativas são, em princípio, destinadas às estruturas em geral, contudo, não se precisa fazer um exercício hercúleo de atividade mental, para perceber que o maciço da barragem deve oferecer durabilidade (manutenção das propriedades físicas e mecânicas durante sua vida útil); além disso, as deformações impostas ao maciço não devem prejudicar operação adequada de equipamentos instalados no interior ou exterior a ele, tais como: tubulações, comportas, etc. Análise Numérica do maciço de concreto Conforme apontado anteriormente, uma das alternativas para o estudo dos campos de tensões em maciço deformável de concreto é via simulações numéricas, que são construídas a partir de modelos matemáticos que requerem idealizações no meio contínuo do problema em questão. Modelização do contínuo do maciço Nas análises numéricas, dos campos de tensões no maciço de concreto, realizadas pela comissão técnica dos Ministérios Públicos Estadual e Federal (MPE/F) foram admitidas as seguintes hipóteses para o modelo matemático: a)Comportamento elástico e linear, isótropo, homogêneo para o CCR; b)Regime cinemático da estrutura do maciço com pequenas deformações e rotações; c)Carregamentos externos de superfície(hidrostático) e/ou volumétrico( gravitacional) estaticamente aplicados. 53 Após admitidas as idealizações para o modelo matemático, indicadas nos itens (a até c), equações diferenciais governantes do problema são geradas, cujas soluções analíticas (exatas), infelizmente, só estão disponíveis na literatura técnica para casos de geometria e carregamentos mais simples. Assim, para análise dos campos de tensões em problemas de geometria mais complexa, tal como o da barragem de Camará, é necessário partir-se para soluções aproximadas utilizando técnicas numéricas, tais como: Método dos Elementos de Contorno (MEC), Método dos Elementos Finitos (MEF) e outros. Embora ambas técnicas numéricas estejam disponíveis nos laboratórios da Universidade Federal da Paraíba, a comissão técnica optou pelo MEF devido à existência de um software comercial, denominado ANSYS, que possui um pré e um pós-processamento muito versátil, aliado ainda a uma extensa biblioteca de classes de elementos. Convém ressaltar que diante dessas facilidades, diversas empresas e centros de pesquisa ao redor do mundo têm optado pelo citado programa para simulações numéricas de um grande espectro de problemas de Engenharia. Já a plataforma em elementos de contorno, embora muito eficiente matematicamente, possui uma entrada de dados mais trabalhosa, por se tratar de um programa que foi desenvolvido localmente para fins acadêmicos. Propriedades Mecânicas e Físicas do CCR Para que seja efetuada a análise numérica, é necessário alimentar o sistema com uma base de dados associada à geometria, carregamentos, propriedades físicas e/ou mecânicas dos materiais constituintes e condições de contorno. Especificamente em relação às propriedades físicas e mecânicas, por não existir uma norma técnica brasileira específica para o CCR, a comissão do MPE/F incorporou as recomendações técnicas do Corpo de Engenheiros do Exército Norte-Americano(USCE), publicado no panfleto de número 1110-2-12 intitulado “ Seismic design provision for roller compacted dams” publicado no dia 30 de Novembro de 1995. Nessa publicação estão descritos alguns procedimentos: a) No capítulo 3, item 3-5 diz: “ CCR usualmente proverá um módulo de elasticidade igual, ou maior, que o concreto massa convencional. Na ausência de ensaios, pode ser assumido igual a E = 57000 f ck [ACI committee-207] , com resistência dada em Psi”. (Se for transformada em MPa, a expressão se transforma em: E = 4900 f ck ). 54 b)No capítulo 3, item 3-6 diz: “ O coeficiente do CCR é o mesmo do concreto massa convencional. Para cargas estáticas, o intervalo de valores ficam entre (0,17 e 0,22), com o valor 0,20, quando não houver ensaios”. Se o item a do USCE for adotado, isto é, de que o módulo de elasticidade igual ou maior que o do concreto convencional de mesma resistência, então uma alternativa para estimar esse parâmetro pode ser feita via NBR 6118/1978 que estipula: E c = 0,9 * 6600 f c k + 3,5 ≡ 5940 f c k + 3,5 , onde fck é dado em MPa. Já a expressão do ACI torna-se E = 4900 f ck , se fck for dado em MPa ao invés de psi. O Coeficiente de Poisson tanto no item b das recomendações do USCE quanto na NBR 6118/1978 pode ser adotado com um valor igual a 0,2 para os casos em que não se efetuem ensaios. As dimensões da barragem, cota de fundo e nível do reservatório em diversas seções transversais foram obtidas diretamente dos projetos disponibilizados nos autos registrados nos MPE/F. As propriedades físicas e mecânicas do CCR efetivamente utilizadas na análise bidimensional no estado plano de deformações da barragem de Camará são indicadas na Tabela 1.. Módulo de elasticidade lontitudinal 12,6 GPa Coeficiente de Poisson 0,2 Peso específico 23,5 kN/m3 Resistência à compressão fck=7 MPa Tensão admissível à compressão 0,5.fck = 3,5 MPa Tensão admissível à tração 0,05.fck = 0,35 MPa Apresentação dos resultados Na Figura 2 está indicada as características geométricas da seção transversal localizada na estaca E04+03m, posicionada ao longo da barragem; além disso, a mesma figura mostra a 55 discretização do modelo em elementos finitos e as condições de contorno aplicadas. Convém ressaltar que nessa primeira etapa a análise de tensões da seção E04+03m será feita para o caso do reservatório vazio (sem água). Figura 2-Geometria, discretização da seção E04+00 Na Figura 3 têm-se as tensões principais σ1 e pode-se var que no topo do orifício da galeria aparecem tensões de tração. Elas estão destacadas na Figura 4 e há valores de até 0,6 MPa! Como o topo da galeria é feita com vigas pré-moldadas concreto convencional armado, essas tensões devem ser absorvidas sem maiores problemas. 56 Figrura 3 – Tensões principais σ1 (barragem vazia) 57 Figura 4 – Tensões no topo da galeria no trecho de 12 m (barragem vazia) Na Figura 5 tem-se agora o caso da barragem cheia com 2 metros de sangria. Veja-se agora que aparecem tensões de tração com valores superiores às admissíveis, à meia altura da galeria. 58 Figura 5 – Barragem com carga hidráulica 59 Figura 6 – Tensões principais σ1 (barragem cheia) 60 Figura 7 – Tensões principais nas paredes da galeria (barragem cheia) 61 Considere-se agora a seção transversal da barragem na estaca E04+10. As Figuras 8 a 10 indicam o as tensões. Novamente aparecem tensões de tração no topo da galeria. Nas paredes laterais quando a barragem está cheia as trações também aparecem! Figura 8 – Tensões principais σ1 (barragem vazia) 62 Figura 9 – Detalhe das tensões no topo da galeria (barragem vazia) 63 Figura 10 – Tensões no topo da galeria (barragem cheia) Nas Figuras 11 a 14 vêem-se as tensões principais na estaca 6 +02. Na barrem cheia, ocorre uma flexão na parede que conduz a tensões trativas que superam a resistência à tração admissível no CCR. 64 Figura 11 65 Figura 12 66 Figura 13 - 67 Figura 14 – Tensões de tração na parede lateral da galeria (barragem cheia) 68 Considerações finais Nas análises realizadas, não se obtiveram tensões de compressão superiores ao valor admissível de 0,5fck. Isto sugere que a resistência especificada no projeto de 7 MPa é suficiente para resistir às tensões de compressão solicitantes no maciço de CCR; Nas vizinhanças da galeria de drenagem e inspeção, as análises numéricas efetuadas indicaram valores de tensão de tração solicitantes superiores ao limite de resistência à tração de trabalho especificado para o CCR( 0,05 fck). Daí podem-se sugerir duas opções: a)Manter a resistência característica desde que o contorno da galeria de drenagem seja feito com concreto convencional com resistência à flexão que satisfaça à segurança b)Aumentar o fck para um valor que promova a segurança relativa às tensões trativas Nos casos em que se tem a galeria de drenagem com dimensões relativas não desprezíveis com respeito às dimensões da barragem, uma análise de tensões, mesmo bidimensional é um instrumento útil para se averiguar a segurança da construção e deve ser utilizado. 67 ANEXO II Esvaziamento da barragem 68 Esvaziamento da Barragem de Camará 1. Dados sobre a Barragem Barra de Camará A Tabela 1 mostra a área da bacia hidráulica da barragem de Câmara e o volume armazenado correspondentes a cada cota. Os valores das cotas e volumes foram plotados na Figura 1, na qual é fornecida uma curva de aproximação para cálculo da cota dado um certo volume. 2. Dados Observados Precipitação Os dados de precipitação obtidos, correspondem aos dados diários coletados no posto pluviométrico de Alagoa Nova, disponibilizados pelo LMRS, correspondentes ao período de janeiro a julho de 2004 (Tabela 2). Volume do Reservatório Os dados do volume da barragem de Camará observados pelo LMRS em 2004 estão listados na Tabela 3. 3. Cálculo do Esvaziamento da Barragem de Camará Para o cálculo do esvaziamento da barragem de Câmara, alguns coeficientes se fazem necessários e são listados na Tabela 4. A Figura 2 mostra a chuva observada (Tabela 2) e o volume observado da barragem de Camará (Tabela 3). Baseados nos coeficientes da Tabela 4 foi calculado o volume na barragem devido à precipitação ocorrida e descontados as possíveis perdas, definido aqui como o coeficiente de rendimento da bacia, o qual foi obtido através do ajustamento dos volumes observados e 69 calculados, dando prioridade aos últimos volumes observados. Estes volumes calculados são apresentados na mesma Figura 2, onde pode-se observar o ajuste destes volumes com os observados, principalmente para os volumes de maio e junho de 2004. Para o cálculo do esvaziamento foi usados primeiramente a opção com a válvula de 400 mm, e os respectivos cálculos são apresentados na Tabela 5, de onde pode-se observar a data limite (05/04/04) para iniciar o esvaziamento e se ter o esvaziamento completo na data do acidente (17/06/2004). A Figura 3 mostra a precipitação observada e a situação do reservatório para várias datas de início do esvaziamento (30/03, 19/04, 29/04, 09/05, 19/05, 29/05 e 07/06/04). Por exemplo, abrindo a válvula de 400 mm no dia 30/03/04, o reservatório estaria com menos de 5% do volume total da barragem. Para o cálculo do esvaziamento usando a válvula de 800 mm, os respectivos cálculos são apresentados na Tabela 6, de onde pode-se observar a data limite (06/06/04) para iniciar o esvaziamento e se ter o esvaziamento completo na data do acidente (17/06/2004). A Figura 4 mostra a precipitação observada e a situação do reservatório para várias datas de início do esvaziamento (30/03, 19/04, 29/04, 09/05, 19/05, 29/05 e 07/06/04). Por exemplo, abrindo a válvula de 800 mm no dia 29/05/04, o reservatório estaria com cerca de 5% do volume total da barragem. Tabela 1. Barragem Camará - Ozanete Duarte Gondim Cota (m) Área (m2) Volume (m3) 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 25,668 34,513 43,358 45,039 60,872 75,180 89,520 103,889 142,023 159,582 177,027 194,573 212,223 244,447 0,00 30,091 69,028 113,225 166,180 234,206 316,556 413,261 536,217 687,019 855,324 1,041,124 1,244,522 1,472,857 70 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 264,656 284,850 305,051 325,251 357,710 379,982 401,967 423,958 445,951 493,764 529,976 562,962 596,375 630,210 748,281 788,246 828,438 869,033 910,040 999,340 1,050,177 1,100,217 1,150,550 1,201,178 1,292,107 1,341,165 1,390,563 1,440,395 1,490,662 1,567,703 1,631,552 1,694,210 1,757,425 1,821,201 1,930,774 1,727,408 2,002,161 2,297,112 2,612,263 2,953,743 3,322,589 3,713,564 4,126,526 4,561,481 5,031,338 5,543,208 6,089,677 6,669,346 7,282,638 7,971,884 8,740,147 9,548,489 10,397,225 11,286,761 12,241,451 13,266,210 14,341,407 15,466,790 16,642,654 17,889,297 19,205,933 20,571,797 21,987,276 23,452,804 24,981,987 26,581,614 28,244,495 29,970,313 31,759,626 33,635,613 71 Capacidade 470 460 Cota (m) 450 440 430 420 Cota = - 0.00000000000018452518 vol.2 + 0.00000423268625570012 vol. + 422.08932344595500000000 410 0 5,000,000 10,000,000 15,000,000 20,000,000 25,000,000 30,000,000 Volum e (m ³) Figura 1. Curva Cota-Volume da Barragem de Câmara. 72 35,000,000 Tabela 2. Dados diários oficiais de precipitação de 2004 – ALAGOA NOVA Data P (mm) Data P (mm) 01-jan-04 0.0 01-fev-04 70.3 02-jan-04 1.6 02-fev-04 0.0 03-jan-04 0.0 03-fev-04 0.0 04-jan-04 0.0 04-fev-04 9.2 05-jan-04 0.0 05-fev-04 109.0 06-jan-04 6.0 06-fev-04 43.6 07-jan-04 0.0 07-fev-04 0.0 08-jan-04 0.0 08-fev-04 0.0 09-jan-04 0.0 09-fev-04 0.9 10-jan-04 1.8 10-fev-04 0.0 11-jan-04 0.0 11-fev-04 0.0 12-jan-04 2.9 12-fev-04 20.6 13-jan-04 5.7 13-fev-04 23.0 14-jan-04 33.1 14-fev-04 0.0 15-jan-04 14.5 15-fev-04 3.9 16-jan-04 2.0 16-fev-04 18.0 Data 01-mar04 02-mar04 03-mar04 04-mar04 05-mar04 06-mar04 07-mar04 08-mar04 09-mar04 10-mar04 11-mar04 12-mar04 13-mar04 14-mar04 15-mar04 16-mar04 P (mm) Data P (mm) 0.9 01-abr-04 0.0 4.2 02-abr-04 0.0 0.0 03-abr-04 0.0 0.0 04-abr-04 11.6 0.0 05-abr-04 5.0 0.0 06-abr-04 52.6 25.5 07-abr-04 0.0 28.6 08-abr-04 2.6 0.0 09-abr-04 4.5 1.9 10-abr-04 0.0 21.9 11-abr-04 0.0 0.0 12-abr-04 0.0 0.0 13-abr-04 5.7 0.0 14-abr-04 0.0 0.0 15-abr-04 0.0 10.8 16-abr-04 0.0 73 Data 01-mai04 02-mai04 03-mai04 04-mai04 05-mai04 06-mai04 07-mai04 08-mai04 09-mai04 10-mai04 11-mai04 12-mai04 13-mai04 14-mai04 15-mai04 16-mai04 P (mm) Data P (mm) Data P (mm) 9.5 01-jun-04 2.5 01-jul-04 8.1 3.0 02-jun-04 0.0 02-jul-04 0.0 0.0 03-jun-04 0.5 03-jul-04 23.2 0.0 04-jun-04 2.4 04-jul-04 27.4 33.5 05-jun-04 26.7 05-jul-04 2.6 6.4 06-jun-04 24.4 06-jul-04 0.9 6.5 07-jun-04 0.5 07-jul-04 0.0 9.9 08-jun-04 0.0 08-jul-04 2.0 22.4 09-jun-04 0.6 09-jul-04 7.3 2.9 10-jun-04 0.0 10-jul-04 0.0 60.4 11-jun-04 6.5 11-jul-04 0.0 0.0 12-jun-04 0.0 12-jul-04 0.0 0.0 13-jun-04 2.6 13-jul-04 2.9 0.0 14-jun-04 5.8 14-jul-04 2.6 0.0 15-jun-04 0.0 15-jul-04 0.0 0.0 16-jun-04 4.3 16-jul-04 38.0 17-jan-04 1.0 17-fev-04 0.0 18-jan-04 1.2 18-fev-04 0.0 19-jan-04 6.6 19-fev-04 0.0 20-jan-04 26.0 20-fev-04 0.4 21-jan-04 72.2 21-fev-04 0.0 22-jan-04 14.4 22-fev-04 0.0 23-jan-04 74.2 23-fev-04 0.0 24-jan-04 2.4 24-fev-04 0.0 25-jan-04 8.0 25-fev-04 0.0 26-jan-04 54.4 26-fev-04 0.0 27-jan-04 38.1 27-fev-04 1.6 28-jan-04 9.4 28-fev-04 26.5 29-jan-04 29.0 29-fev-04 4.6 30-jan-04 2.9 31-jan-04 4.2 17-mar04 18-mar04 19-mar04 20-mar04 21-mar04 22-mar04 23-mar04 24-mar04 25-mar04 26-mar04 27-mar04 28-mar04 29-mar04 30-mar04 31-mar04 3.2 17-abr-04 6.4 0.0 18-abr-04 7.6 23.0 19-abr-04 4.0 0.0 20-abr-04 0.0 0.0 21-abr-04 3.2 0.8 22-abr-04 43.0 27.4 23-abr-04 1.8 2.1 24-abr-04 16.6 0.0 25-abr-04 1.2 0.0 26-abr-04 1.0 0.0 27-abr-04 0.0 0.0 28-abr-04 0.0 0.0 29-abr-04 0.0 0.0 30-abr-04 0.0 0.0 74 17-mai04 18-mai04 19-mai04 20-mai04 21-mai04 22-mai04 23-mai04 24-mai04 25-mai04 26-mai04 27-mai04 28-mai04 29-mai04 30-mai04 31-mai04 2.8 17-jun-04 28.0 17-jul-04 16.8 0.0 18-jun-04 36.9 18-jul-04 22.7 38.0 19-jun-04 11.2 19-jul-04 0.0 1.8 20-jun-04 9.2 20-jul-04 0.0 0.0 21-jun-04 19.9 21-jul-04 0.0 0.0 22-jun-04 27.0 22-jul-04 0.0 0.0 23-jun-04 0.0 23-jul-04 0.0 0.0 24-jun-04 5.2 24-jul-04 0.0 17.3 25-jun-04 0.0 25-jul-04 2.7 0.0 26-jun-04 8.2 26-jul-04 0.0 0.0 27-jun-04 9.1 27-jul-04 0.5 0.0 28-jun-04 3.0 28-jul-04 0.0 12.7 29-jun-04 0.0 29-jul-04 5.0 0.0 30-jun-04 2.4 30-jul-04 5.2 31-jul-04 0.0 15.5 Tabela 3. Volume observados na barragem de Camará Data Cota (m) Volume observado (m³) 24-jan-04 26-jan-04 27-jan-04 28-jan-04 29-jan-04 09-fev-04 10-fev-04 11-fev-04 12-fev-04 13-fev-04 16-fev-04 17-fev-04 18-fev-04 19-fev-04 20-fev-04 18-mai-04 19-mai-04 20-mai-04 21-mai-04 22-mai-04 25-mai-04 27-mai-04 28-mai-04 31-mai-04 01-jun-04 02-jun-04 03-jun-04 04-jun-04 07-jun-04 08-jun-04 09-jun-04 11-jun-04 15-jun-04 16-jun-04 17-jun-04 437.53 439.39 440.46 440.72 441.49 446.87 446.87 446.87 447.26 447.67 448.05 448.05 448.05 448.05 448.06 454.05 454.32 454.33 454.33 454.33 454.45 454.45 454.45 454.64 454.66 454.66 454.66 454.67 454.99 454.99 454.99 455.03 455.08 455.11 455.26 1,559,404.00 1,925,230.00 2,235,172.00 2,435,778.00 2,561,839.00 8,087,123.00 8,171,632.00 8,332,968.00 8,394,429.00 9,120,068.00 9,854,034.00 10,100,167.00 10,227,478.00 10,329,326.00 10,486,179.00 15,129,175.00 15,151,683.00 15,241,713.00 15,399,267.00 15,560,859.00 15,643,170.00 15,760,756.00 15,796,032.00 15,984,170.00 16,054,722.00 16,101,757.00 16,137,032.00 16,172,308.00 16,655,120.00 16,717,120.00 16,792,251.00 16,904,449.00 17,066,513.00 17,116,378.00 17,216,110.00 Percent. (%) 16.74% 19.37% 20.98% 21.37% 22.59% 32.71% 32.71% 32.71% 33.58% 34.55% 35.47% 35.47% 35.47% 35.47% 35.49% 56.85% 58.45% 58.53% 58.53% 58.53% 59.26% 59.26% 59.26% 60.45% 60.55% 60.55% 60.57% 60.67% 62.85% 62.85% 62.87% 63.15% 63.50% 63.68% 64.86% Tabela 4. Coeficientes utilizados para o cálculo do esvaziamento Descrição Rendimento da bacia Coeficiente de descarga Cota de fundo Diâmetro Área da bacia Altura Capacidade Dia em segundo Símbolo Valores Unidade R 0.11 c 0.85 Cfundo 417.00 m D 400 ou 800 mm A 100,000,000.00 m² h 44.00 m Vol. Máx. 26,581,614.00 m³ Dia 86,400.00 seg 75 Vol. Calculados 76 Vol. Observados 29-jul-04 23-jul-04 17-jul-04 11-jul-04 05-jul-04 29-jun-04 23-jun-04 17-jun-04 11-jun-04 05-jun-04 30-mai-04 24-mai-04 18-mai-04 12-mai-04 06-mai-04 0.0 24,300,000.00 50.0 21,600,000.00 16,200,000.00 13,500,000.00 200.0 10,800,000.00 250.0 5,400,000.00 2,700,000.00 400.0 0.00 450.0 Chuva (mm/dia) 18,900,000.00 30-abr-04 24-abr-04 18-abr-04 12-abr-04 06-abr-04 31-mar-04 25-mar-04 19-mar-04 13-mar-04 07-mar-04 01-mar-04 24-fev-04 18-fev-04 12-fev-04 06-fev-04 31-jan-04 25-jan-04 19-jan-04 13-jan-04 07-jan-04 01-jan-04 Volume (m³) 27,000,000.00 100.0 Dia do arrombamento 150.0 8,100,000.00 300.0 350.0 Chuva Observada Figura 2. Hietograma Observado e Volumes Observados e Calculados na Barragem de Camará. Tabela 5. Esvaziamento da barragem com válvula de 400 mm de diâmetro No. de dias Data Precip. (mm) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 01-jan-04 02-jan-04 03-jan-04 04-jan-04 05-jan-04 06-jan-04 07-jan-04 08-jan-04 09-jan-04 10-jan-04 11-jan-04 12-jan-04 13-jan-04 14-jan-04 15-jan-04 16-jan-04 17-jan-04 18-jan-04 19-jan-04 20-jan-04 21-jan-04 22-jan-04 23-jan-04 24-jan-04 25-jan-04 26-jan-04 27-jan-04 28-jan-04 29-jan-04 0.0 1.6 0.0 0.0 0.0 6.0 0.0 0.0 0.0 1.8 0.0 2.9 5.7 33.1 14.5 2.0 1.0 1.2 6.6 26.0 72.2 14.4 74.2 2.4 8.0 54.4 38.1 9.4 29.0 Precip. (m³) P*R*A 0.00 17,920.00 0.00 0.00 0.00 67,200.00 0.00 0.00 0.00 20,160.00 0.00 32,480.00 63,840.00 370,720.00 162,400.00 22,400.00 11,200.00 13,440.00 73,920.00 291,200.00 808,640.00 161,280.00 831,040.00 26,880.00 89,600.00 609,280.00 426,720.00 105,280.00 324,800.00 Cota (m) 427.94 428.01 428.01 428.01 428.01 428.26 428.26 428.26 428.26 428.33 428.33 428.45 428.68 430.01 430.57 430.65 430.69 430.74 430.99 431.97 434.56 435.05 437.46 437.53 437.78 439.39 440.46 440.72 441.49 Volume (m³) 1,475,403.00 1,493,323.00 1,493,323.00 1,493,323.00 1,493,323.00 1,560,523.00 1,560,523.00 1,560,523.00 1,560,523.00 1,580,683.00 1,580,683.00 1,613,163.00 1,677,003.00 2,047,723.00 2,210,123.00 2,232,523.00 2,243,723.00 2,257,163.00 2,331,083.00 2,622,283.00 3,430,923.00 3,592,203.00 4,423,243.00 4,450,123.00 4,539,723.00 5,149,003.00 5,575,723.00 5,681,003.00 6,005,803.00 77 Volume observado (m³) Percent. (%) 5.55% 5.62% 5.62% 5.62% 5.62% 5.87% 5.87% 5.87% 5.87% 5.95% 5.95% 6.07% 6.31% 7.70% 8.31% 8.40% 8.44% 8.49% 8.77% 9.87% 12.91% 13.51% 16.64% 1,559,404.00 16.74% 17.08% 1,925,230.00 2,235,172.00 2,435,778.00 2,561,839.00 19.37% 20.98% 21.37% 22.59% Altura (m) 10.94 11.01 11.01 11.01 11.01 11.26 11.26 11.26 11.26 11.33 11.33 11.45 11.68 13.01 13.57 13.65 13.69 13.74 13.99 14.97 17.56 18.05 20.46 20.53 20.78 22.39 23.46 23.72 24.49 Q (m³/s) cA(2gh)^1/2 Q num dia (m³) Q*Dia 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 30-jan-04 31-jan-04 01-fev-04 02-fev-04 03-fev-04 04-fev-04 05-fev-04 06-fev-04 07-fev-04 08-fev-04 09-fev-04 10-fev-04 11-fev-04 12-fev-04 13-fev-04 14-fev-04 15-fev-04 16-fev-04 17-fev-04 18-fev-04 19-fev-04 20-fev-04 21-fev-04 22-fev-04 23-fev-04 24-fev-04 25-fev-04 26-fev-04 27-fev-04 28-fev-04 29-fev-04 01-mar-04 02-mar-04 2.9 4.2 70.3 0.0 0.0 9.2 109.0 43.6 0.0 0.0 0.9 0.0 0.0 20.6 23.0 0.0 3.9 18.0 0.0 0.0 0.0 0.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1.6 26.5 4.6 0.9 4.2 32,480.00 47,040.00 787,360.00 0.00 0.00 103,040.00 1,220,800.00 488,320.00 0.00 0.00 10,080.00 0.00 0.00 230,720.00 257,600.00 0.00 43,680.00 201,600.00 0.00 0.00 0.00 4,480.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 17,920.00 296,800.00 51,520.00 10,080.00 47,040.00 441.57 441.68 443.42 443.42 443.42 443.63 446.00 446.85 446.85 446.85 446.87 446.87 446.87 447.26 447.67 447.67 447.74 448.05 448.05 448.05 448.05 448.06 448.06 448.06 448.06 448.06 448.06 448.06 448.09 448.53 448.61 448.62 448.69 6,038,283.00 6,085,323.00 6,872,683.00 6,872,683.00 6,872,683.00 6,975,723.00 8,196,523.00 8,684,843.00 8,684,843.00 8,684,843.00 8,694,923.00 8,694,923.00 8,694,923.00 8,925,643.00 9,183,243.00 9,183,243.00 9,226,923.00 9,428,523.00 9,428,523.00 9,428,523.00 9,428,523.00 9,433,003.00 9,433,003.00 9,433,003.00 9,433,003.00 9,433,003.00 9,433,003.00 9,433,003.00 9,450,923.00 9,747,723.00 9,799,243.00 9,809,323.00 9,856,363.00 78 22.72% 22.89% 25.86% 25.86% 25.86% 26.24% 30.84% 32.67% 32.67% 32.67% 8,087,123.00 8,171,632.00 8,332,968.00 8,394,429.00 9,120,068.00 32.71% 32.71% 32.71% 33.58% 34.55% 34.55% 34.71% 9,854,034.00 10,100,167.00 10,227,478.00 10,329,326.00 10,486,179.00 35.47% 35.47% 35.47% 35.47% 35.49% 35.49% 35.49% 35.49% 35.49% 35.49% 35.49% 35.55% 36.67% 36.86% 36.90% 37.08% 24.57 24.68 26.42 26.42 26.42 26.63 29.00 29.85 29.85 29.85 29.87 29.87 29.87 30.26 30.67 30.67 30.74 31.05 31.05 31.05 31.05 31.06 31.06 31.06 31.06 31.06 31.06 31.06 31.09 31.53 31.61 31.62 31.69 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 03-mar-04 04-mar-04 05-mar-04 06-mar-04 07-mar-04 08-mar-04 09-mar-04 10-mar-04 11-mar-04 12-mar-04 13-mar-04 14-mar-04 15-mar-04 16-mar-04 17-mar-04 18-mar-04 19-mar-04 20-mar-04 21-mar-04 22-mar-04 23-mar-04 24-mar-04 25-mar-04 26-mar-04 27-mar-04 28-mar-04 29-mar-04 30-mar-04 31-mar-04 01-abr-04 02-abr-04 03-abr-04 04-abr-04 0.0 0.0 0.0 0.0 25.5 28.6 0.0 1.9 21.9 0.0 0.0 0.0 0.0 10.8 3.2 0.0 23.0 0.0 0.0 0.8 27.4 2.1 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 11.6 0.00 0.00 0.00 0.00 285,600.00 320,320.00 0.00 21,280.00 245,280.00 0.00 0.00 0.00 0.00 120,960.00 35,840.00 0.00 257,600.00 0.00 0.00 8,960.00 306,880.00 23,520.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 129,920.00 448.69 448.69 448.69 448.69 449.10 449.54 449.54 449.57 449.89 449.89 449.89 449.89 449.89 450.04 450.09 450.09 450.40 450.40 450.40 450.42 450.78 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.81 450.96 9,856,363.00 9,856,363.00 9,856,363.00 9,856,363.00 10,141,963.00 10,462,283.00 10,462,283.00 10,483,563.00 10,728,843.00 10,728,843.00 10,728,843.00 10,728,843.00 10,728,843.00 10,849,803.00 10,885,643.00 10,885,643.00 11,143,243.00 11,143,243.00 11,143,243.00 11,152,203.00 11,459,083.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,482,603.00 11,612,523.00 79 37.08% 37.08% 37.08% 37.08% 38.15% 39.36% 39.36% 39.44% 40.36% 40.36% 40.36% 40.36% 40.36% 40.82% 40.95% 40.95% 41.92% 41.92% 41.92% 41.95% 43.11% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.20% 43.69% 31.69 31.69 31.69 31.69 32.10 32.54 32.54 32.57 32.89 32.89 32.89 32.89 32.89 33.04 33.09 33.09 33.40 33.40 33.40 33.42 33.78 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.81 33.96 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 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0.0 2.7 0.0 0.5 0.0 5.0 5.2 0.0 32,480.00 29,120.00 0.00 425,600.00 188,160.00 254,240.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 30,240.00 0.00 5,600.00 0.00 56,000.00 58,240.00 0.00 425.84 425.48 425.01 426.22 426.47 426.96 426.47 425.98 425.50 425.03 424.57 424.11 423.79 423.36 422.95 422.54 422.37 422.21 421.82 922,187.10 829,780.96 710,768.81 1,020,707.16 1,084,739.10 1,213,200.93 1,084,203.92 958,439.42 835,946.72 716,764.51 600,930.88 488,483.27 409,698.46 303,158.54 205,703.13 105,971.90 65,792.52 29,330.84 -64,005.03 83 3.47% 3.12% 2.67% 3.84% 4.08% 4.56% 4.08% 3.61% 3.14% 2.70% 2.26% 1.84% 1.54% 1.14% 0.77% 0.40% 0.25% 0.11% -0.24% 8.84 8.48 8.01 9.22 9.47 9.96 9.47 8.98 8.50 8.03 7.57 7.11 6.79 6.36 5.95 5.54 5.37 5.21 4.82 1.41 1.38 1.34 1.44 1.46 1.49 1.46 1.42 1.38 1.34 1.30 1.26 1.23 1.19 1.15 1.11 1.10 1.08 1.04 121,526.14 119,012.15 115,661.65 124,128.07 125,778.17 128,997.00 125,764.50 122,492.70 119,182.21 115,833.63 112,447.61 109,024.81 106,539.91 103,055.42 99,731.23 96,179.37 94,701.68 93,335.87 89,724.16 Tempo fev mar abr mai jun 0.0 27,000,000.00 Cota 461 50.0 24,300,000.00 Cota 459 100.0 21,600,000.00 Cota 458 150.0 Chuva (mm/dia) 07/06 19/05 200.0 250.0 09/05 29/04 19/04 30/03 29/05 18,900,000.00 Cota 456 16,200,000.00 Cota 454 13,500,000.00 Cota 451 10,800,000.00 Cota 448 300.0 8,100,000.00 Cota 445 350.0 5,400,000.00 Cota 441 400.0 2,700,000.00 Cota 434 450.0 0.00 Cota 417 Figura 3. Hietograma Observado e Esvaziamento da Barragem de Camará com válvula de 400 mm 84 Volume (m³) jan Tabela 6. Esvaziamento da barragem com válvula de 800 mm de diâmetro No. de Data dias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 01-jan-04 02-jan-04 03-jan-04 04-jan-04 05-jan-04 06-jan-04 07-jan-04 08-jan-04 09-jan-04 10-jan-04 11-jan-04 12-jan-04 13-jan-04 14-jan-04 15-jan-04 16-jan-04 17-jan-04 18-jan-04 19-jan-04 20-jan-04 21-jan-04 22-jan-04 23-jan-04 24-jan-04 25-jan-04 26-jan-04 27-jan-04 28-jan-04 Precip . (mm) 0.0 1.6 0.0 0.0 0.0 6.0 0.0 0.0 0.0 1.8 0.0 2.9 5.7 33.1 14.5 2.0 1.0 1.2 6.6 26.0 72.2 14.4 74.2 2.4 8.0 54.4 38.1 9.4 Precip. Cota Volume Volume Percent. Altura Q Q num dia (m³) P*R*A 0.00 17,920.00 0.00 0.00 0.00 67,200.00 0.00 0.00 0.00 20,160.00 0.00 32,480.00 63,840.00 370,720.00 162,400.00 22,400.00 11,200.00 13,440.00 73,920.00 291,200.00 808,640.00 161,280.00 831,040.00 26,880.00 89,600.00 609,280.00 426,720.00 105,280.00 (m) (m³) observado (m³) (%) (m) (m³/s) cA(2gh)^1/2 (m³) Q*Dia 427.94 428.01 428.01 428.01 428.01 428.26 428.26 428.26 428.26 428.33 428.33 428.45 428.68 430.01 430.57 430.65 430.69 430.74 430.99 431.97 434.56 435.05 437.46 437.53 437.78 439.39 440.46 440.72 1,475,403.00 1,493,323.00 1,493,323.00 1,493,323.00 1,493,323.00 1,560,523.00 1,560,523.00 1,560,523.00 1,560,523.00 1,580,683.00 1,580,683.00 1,613,163.00 1,677,003.00 2,047,723.00 2,210,123.00 2,232,523.00 2,243,723.00 2,257,163.00 2,331,083.00 2,622,283.00 3,430,923.00 3,592,203.00 4,423,243.00 4,450,123.00 4,539,723.00 5,149,003.00 5,575,723.00 5,681,003.00 85 1,559,404.00 1,925,230.00 2,235,172.00 2,435,778.00 5.55% 5.62% 5.62% 5.62% 5.62% 5.87% 5.87% 5.87% 5.87% 5.95% 5.95% 6.07% 6.31% 7.70% 8.31% 8.40% 8.44% 8.49% 8.77% 9.87% 12.91% 13.51% 16.64% 16.74% 17.08% 19.37% 20.98% 21.37% 10.94 11.01 11.01 11.01 11.01 11.26 11.26 11.26 11.26 11.33 11.33 11.45 11.68 13.01 13.57 13.65 13.69 13.74 13.99 14.97 17.56 18.05 20.46 20.53 20.78 22.39 23.46 23.72 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 29 30 31 32 33 34 35 36 29-jan-04 30-jan-04 31-jan-04 01-fev-04 02-fev-04 03-fev-04 04-fev-04 05-fev-04 29.0 2.9 4.2 70.3 0.0 0.0 9.2 109.0 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 06-fev-04 07-fev-04 08-fev-04 09-fev-04 10-fev-04 11-fev-04 12-fev-04 13-fev-04 14-fev-04 15-fev-04 16-fev-04 17-fev-04 18-fev-04 19-fev-04 20-fev-04 21-fev-04 22-fev-04 23-fev-04 24-fev-04 25-fev-04 26-fev-04 27-fev-04 28-fev-04 29-fev-04 43.6 0.0 0.0 0.9 0.0 0.0 20.6 23.0 0.0 3.9 18.0 0.0 0.0 0.0 0.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1.6 26.5 4.6 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Hietograma Observado e Esvaziamento da Barragem de Camará com válvula de 800 mm Volume (m³) Chuva (mm/dia) 150.0