EUA, Nigéria e Boko Haram: tentativas para estabilizar a África

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EUA, Nigéria e Boko Haram: tentativas para estabilizar a África
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EUA, Nigéria e Boko Haram: tentativas para estabilizar a África
Subsaariana
Author : Victor José Portella Checchia - Colaborador Voluntário Júnior 1
Categories : ÁFRICA, AMÉRICA DO NORTE, ANÁLISES DE CONJUNTURA
Date : 22 de dezembro de 2014
Ao longo das últimas duas décadas, o Continente Africano passou de continente
esquecido para continente com grande potencial para fomentar negócios, de acordo com
movimentações feitas pelas principais potências ocidentais e também por países que
compõem os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Com grandes
reservas naturais, desde o coltan (mineral utilizado na fabricação de celulares), na
República Democrática do Congo, até as ricas bacias petrolíferas no Delta do Níger, as
dicotomias presentes no cotidiano africano serviram para aprofundar as crises internas em
alguns Estados que mesmo com a pujança em recursos naturais ainda são explorados e
pouco recompensados pela extração de seus recursos.
No contexto além-fronteiras africano, o país que tem recebido grande destaque da
comunidade internacional e que por certa medida se enquadra nessas percepções da
conjuntura africana é a Nigéria, estado cravado no seio da África Ocidental, ou África
Subsaariana fazendo fronteira com Benin, a oeste; Níger ao norte; Camarões, ao sul e
com o Chade, com uma pequena porção de fronteira do território, a nordeste.
A Nigéria concentra uma das maiores densidades demográficas do mundo. É rica em
recursos petrolíferos ao sul de seu território e já é classificada pelo economista do
Goldman Sachs, Jim O’Neill*, como país com potencial de prosperidade socioeconômica
e membro de um novo grupo de nações desenvolvimentistas, similar aos BRICS, mas que
receberia como parte de um novo ideário macroeconômico internacional a abreviação de
MINT (México, Indonésia, Nigéria e Turquia).
Entretanto seu potencial para alcançar a prosperidade socioeconômica esbarra em fatores
escusos e muito comuns, em se tratando de nações africanas: o alto grau de corrupção
governamental que envolve em grande parte as multinacionais que ingressam em seus
territórios, com a prerrogativa exclusiva de exploração, e as divisões étnicas, fruto da
divisão fomentada por europeus no século XIX e início do século XX, algo que gera
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inúmeros
conflitos e atrocidades humanitárias desde então.
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No cerne das questões nigerianas, que foi colônia britânica, o destaque dado pela
imprensa internacional e pelos principais políticos tomadores de decisão está atrelado à
corrente religiosa fundamentalista Boko Haram. Esse grupo segue uma corrente islâmica
radical. Para especialistas em África, sua ascensão está atrelada as péssimas condições
de vida da população, má gestão pública e pobreza extrema, principalmente no norte do
país.
O fundador do grupo extremista, Mohammed Yusuf, morto em 2009 por forças de
segurança nigeriana adotava uma linha com uma agenda islâmica sectária, de cunho
radical e utilização de violência. A delimitação dos objetivos era direcionada primeiramente
pelo estabelecimento da lei islâmica, a Sharia, em toda extensão do Estado, aos moldes
do califado estruturado pelos sunitas do autoproclamado Estado Islâmico, que controlam
porções significativas da Síria e do Iraque. De doutrinação wahabbita, similar ao regime
na Arábia Saudita, os membros da organização tendem a concentrar seus esforços no
norte, por acreditarem que essa região adota um regime islâmico mais moderado, portanto
de oposição ao modelo que desejam adotar.
No que tange aos desdobramentos que podem ser ofertados para reduzir a influência
negativa do Boko Haram na sociedade nigeriana, almejando assim um equilíbrio
sustentável para o desenvolvimento do país, o ex-embaixador norte-americano em Abuja
e atualmente pesquisador sênior do Council on Foreign Relations para assuntos
africanos, John Campbell, através de seu relatório intitulado “U.S. Policy to Counter
Nigeria’s Boko Haram”, apresenta que, ao invés de fazer frente através do uso da força,
uma cooperação bilateral entre os governos de Washington e Abuja seria de
fundamental importância para corrigir a alienação dos muçulmanos na Nigéria. Ou seja,
Washington, no curto prazo, deveria pressionar o governo do presidente
Goodluck Jonathan a criar medidas contra os abusos dos direitos humanos, realizar
eleições democráticas em 2015 e buscar sanar as necessidades imediatas dos refugiados
e deslocados internos.
Não obstante, medidas em longo prazo também devem ser adotadas e, para isso, o exembaixador sugere: apoiar os nigerianos que trabalham pelos direitos humanos e pela
democracia; revogar vistos americanos detidos por nigerianos que promovem a violência
étnica e religiosa e cometem crimes financeiros; incentivar Abuja a renovar a cultura de
suas Forças Armadas e da Polícia.
Em outro estudo divulgado pela Norwegian Peacebuilding Resource Centre (Noref, na
sigla em inglês), intitulado “Boko Haram: origins, challengesand responses”, Mr.
Campbell enumera três recomendações políticas que predominantemente dependeriam de
ajuda internacional:
1. As ações devem ser integradas com a sociedade civil e governo fazendo frente às
atrocidades dos milicianos, não buscando apenas uma única solução que
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predominantemente
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a possibilidade de que ações externas possam ser interpretadas como ataques
contra o islã;
2. Foco em ações humanitárias, uma vez que há grande fluxo migratório para países
vizinhos como Camarões e Chade que não possuem estruturadas adequadas para
atender os deslocados;
3. Participação mais efetiva dos governos ocidentais, principalmente dos Estados
Unidos e da União Europeia. As questões humanitárias diante desse contexto
devem prevalecer para evitar cenários semelhantes aos vistos no Oriente Médio,
que interpretam a ingerência ocidental como uma guerra contra o islã.
--------------------------------------------------------------------------* Jim O´Neill é o economista que cunhou o termo BRIC em meados de 2001 para categorizar os países
em desenvolvimento representados pela letra inicial de Brasil, Rússia, Índia e China. Posteriormente foi
incluída a África do Sul, resultando na acrônimo BRICS.
--------------------------------------------------------------------------Imagem (Fonte):
http://cdn.cctv-america.com/wp-content/uploads/2014/07/NIGERIA-KIDNAPPING-MAP-800x500.jpg
--------------------------------------------------------------------------Fontes Consultadas:
Ver:
http://www.cfr.org/nigeria/boko-haram/p25739
Ver:
http://www.cfr.org/global/global-conflict-tracker/p32137#!/?marker=17
Ver:
http://www.cfr.org/nigeria/nigeria-security-tracker/p29483
Ver:
http://blogs.cfr.org/campbell/2014/11/20/can-the-u-s-help-nigeria-confront-boko-haram/
Ver:
http://www.brookings.edu/blogs/africa-in-focus/posts/2014/12/05-us-military-training-francophone-summitnelson-mandela-copley
Ver:
http://www.brookings.edu/blogs/africa-in-focus/posts/2014/12/10-african-priorities-us-treasury-global3/4
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agenda-sy
http://www.jornal.ceiri.com.br
Ver:
http://www.brookings.edu/research/reports/2013/04/africa-priority-united-states
Ver:
http://www.peacebuilding.no/Regions/Africa/Nigeria/Publications/Boko-Haram-origins-challenges-andresponses?hootPostID=9622fad49c53f601978b19362ec20c2e
Ver:
http://www.cfr.org/nigeria/boko-haram-origins-challenges-responses/p33643
Ver:
http://www.peacebuilding.no/var/ezflow_site/storage/original/application/5cf0ebc94fb36d66309681cda246
64f9.pdf
Ver:
http://www.cfr.org/nigeria/us-policy-counter-nigerias-boko-haram/p33806?co=C009601
Ver:
http://www.cartacapital.com.br/internacional/boko-haram-de-seita-extremista-a-grupo-armado-5968.html
Ver:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141211_ataques_jihad_lab
Ver:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141211_jihadismo_entenda_cc
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