(BEN) em vacas leiteiras

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(BEN) em vacas leiteiras
REDVET. Revista electrónica de Veterinaria 1695-7504
2008 Volumen 10 Número 4
REDVET Rev. electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet - http://revista.veterinaria.org
Vol. 10, Nº 4, Abril/2009 – http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n040409.html
Medicina da produção: monitorização do balanço
energético negativo (BEN) em vacas leiteiras - Herd
health management: negative energy balance (NEB) evaluation
in dairy cattle
Castro, Dália (1) ; Ribeiro, Carlos (1) ; Simões, João (2)
(1) Centro Veterinário de Aveiro. Rua da República, 97.
3810 Aveiro, Portugal.
(2) CECAV/DCV/DZ – Escola de Ciências Agrárias e
Veterinárias. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
5000 Vila Real, Portugal.
Autor a quem dirigir a correspondência: Carlos Ribeiro. Email:
[email protected]; tel. 234 314 080
Resumo
O balanço energético negativo (BEN) ocorre invariavelmente de forma
significativa em vacas leiteiras de alta produção, no pós-parto, devido ao
desfasamento entre o pico de lactação e o pico de ingestão. O presente
trabalho descreve os principais métodos de avaliação e monitorização do
BEN com aplicabilidade em explorações de bovinos leiteiros. A avaliação
periódica da condição corporal dos animais associada à da produção e
composição do leite através das folhas de contraste leiteiro são
ferramentas básicas de monitorização. A detecção de corpos cetónicos na
urina ou leite permite a realização do screening do complexo cetoseesteatose hepática na própria exploração. Já a análise laboratorial dos
parâmetros bioquímicos, “os perfis metabólicos”, poderá confirmar
orientações de programas alimentares e de prevenção de doenças
metabólicas, se correctamente interpretada.
Palavras chave: Balanço Energético Negativo | Diagnóstico | Pós-parto |
Perfis Metabólicos | Bovinos leiteiros
Abstract
A significant negative energy balance (NEB) occurs in high-producing
dairy cows due to the delay between the peak lactation and peak intake.
In the present work, the main techniques were described in order to
evaluate the NEB as a practical tool in dairy farms. The body condition
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and milk production and composition records are primordial tools for NEB
control. A rapid screening of fatty liver-ketosis complex can be done by
ketone analysis in situ. The metabolic profiles are used for orientation and
confirmation of nutritional and metabolic diseases programs, if correctly
interpreted.
Keywords: Negative Energy Balance | Diagnosis | Postpartum |
Metabolic Profiles | Dairy cattle
Introdução
As vacas leiteiras de alta produção necessitam imediatamente
após o parto, de ingerir grande quantidade de nutrientes, particularmente
energia e proteína para serem capazes de sustentar a síntese de leite que
aumenta linearmente até atingir um pico entre as 4 e 8 semanas pósparto (Lucy et al., 1994; Simões et al., 2006). No entanto, o pico de
ingestão de matéria seca (MS) ocorre somente por volta das 10 a 12
semanas pós-parto. Este atraso no pico de ingestão de MS relativamente
ao de produção leiteira resulta num balanço (desequilíbrio) energético
negativo (BEN) que dura cerca de 60 dias (Santos et al., 1993).
Deste modo, até que os nutrientes fornecidos através da ingestão
de MS igualem no mínimo as necessidades nutricionais de produção, a
vaca irá mobilizar energia a partir das reservas corporais acumuladas no
final da lactação anterior ao período seco, alguma proteína muscular e
cálcio dos ossos (Chilliard et al., 1983), resultando daí uma perda
considerável de condição corporal (CC).
As principais repercursões do BEN estão relacionadas com o
desencadeamento do complexo cetose-estatose hepática (Simões et al.,
2006), com o atraso da (primeira) ovulação pós-parto (Beam and Butler,
1998) e diminuição da eficiência reprodutiva, que consequentemente
originam atrasos na concepção com um alargamento do intervalo entre
partos.
Embora o BEN possa ser minimizado através de um correcto
maneio do período seco e do período de transição da vaca (Castro et al.
2008a e 2008b), é necessário proceder à sua monitorização nos primeiros
meses pós-parto.
No presente trabalho descrevemos os principais métodos usados
na avaliação do BEN, em explorações de bovinos leiteiros de alta
produção, alguns dos quais devendo ser aplicados simultaneamente para
uma correcta monitorização.
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Avaliação periódica da Condição Corporal
Uma vez que após o parto, o pico da lactação ocorre antes do
pico de ingestão de MS, as necessidades energéticas para a produção de
leite excedem a energia ingerida entre estes dois picos, e o organismo da
vaca vê-se obrigado a mobilizar as suas reservas corporais (Shaver and
Howard, 1988). Assim sendo, durante este período de BEN a vaca irá
perder peso e CC, com possível comprometimento da sua eficiência
reprodutiva, sobretudo quando de forma acentuada e prolongada no
tempo, como podemos observar na tabela 1.
Tabela 1: Efeito da variação da condição corporal na performance
reprodutiva das vacas leiteiras após o parto. Adaptado de Smith (1986).
Variação da
CC
Pequena
(<0,4)
Moderada
(0,5-1,0)
Grande
(> 1,0)
Concepção
à 1ª IA (%)
Dias à 1ª
ovulação
Dias até ao
1º cio
conhecido
Dias à
concepção
65
27
48
73
53
31
41
90
17
42
62
116
De realçar que o peso vivo do animal não deve ser utilizado para a
avaliação do BEN, na fase inicial da lactação, porque as vacas perdem
reservas corporais enquanto aumentam a capacidade de ingestão, o que
pode resultar numa subestimação da CC (Enjalbert, 2006).
A avaliação da CC é um método rápido, prático e barato de
medição das reservas principalmente de gordura do animal, embora
apresente alguma subjectividade (Wright and Russel, 1984; Ferguson and
Otto, 1989). Para tal são utilizadas escalas (notas) de 1 (ou 0) a 5
unidades (Wildman et al., 1982; Edmonson et al., 1989). Uma vaca com
uma nota de CC de 1 é considerada emaciada, 2 magra, 3 média, 4 gorda
e 5 obesa. Frequentemente, esta escala é dividida em quartos de unidade
para uma determinação tão precisa quanto possível.
No final da lactação até ao parto, as vacas devem possuir uma CC
de 3,5 a 4,0 pontos sem que ocorram alterações significativas durante
este período. Desta forma, assegura-se que as vacas possuam reservas
corporais suficientes para o arranque da lactação sem prejuízo do
consumo de alimento no pós-parto.
Na primeira fase da lactação (primeiros 60 dias pós-parto) a perda
de peso vivo deve ser inferior a 1Kg/dia ou o equivalente a um ponto de
CC (escala de 1 a 5 pontos) (Chase, 1992), para que não haja influência
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significativa no retorno à actividade reprodutiva e nos resultados de
fertilidade.
A partir dos 90 dias pós-parto, o desejável é que o animal comece a
recuperar CC de modo a estar em boas condições no final da lactação e
início do novo período seco.
A perda de peso vivo da vaca no início da lactação está relacionada
com a capacidade individual de produção, uma vez que o organismo
mobiliza a sua reserva corporal para alcançar o seu potencial genético de
produção, resultando em perdas de peso consideráveis (Santos et al.,
2003). Estas perdas podem ser superiores a 70 kg de peso vivo em vacas
altas produtoras. No entanto, deve ter-se em consideração que a elevada
produção de leite não causa excessiva perda de peso quando é aplicado
um programa alimentar equilibrado (Grant and Keown, 1993), sendo a
ingestão de energia factor primordial no controlo da perda de CC.
A monitorização da CC nesta fase inicial da lactação permite avaliar
a extensão do BEN. Para que não haja prejuízo de uma produção elevada
e persistente, e do desempenho reprodutivo das vacas em início de
lactação dever-se-á considerar os ajustes nutricionais e energéticos
necessários ainda antes da perda de CC (Grant and Keown, 1993).
Grandes alterações na CC são sempre factores de stresse para as vacas,
reduzindo o apetite e possibilitando a ocorrência de cetose e síndrome do
fígado gordo, e adiamento da fecundação por inactividade ovárica.
Figura 1: Vaca com 45 dias em lactação e nota de CC de 2,0 pontos.
Possivelmente, este animal ainda não tinha atingido o equilíbrio das suas
necessidades energéticas através da ingestão de alimento por essa altura
e por esse motivo continuou a perder CC.
Apesar da avaliação da CC ser uma ferramenta útil para o maneio
nutricional e reprodutivo, não pode ser utilizada de forma isolada (Sartori
e Mollo, 2007).
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A consistência na avaliação é a chave para a realização de uma boa
monitorização da CC pelo que é recomendável que seja efectuada
periodicamente por uma mesma pessoa com recurso a uma metodologia
de classificação padronizada (Fergusson, 1996) utilizando sempre uma
das 2 escalas de avaliação disponíveis (0 a 5 pontos ou 1 a 5 pontos).
Avaliação da produção e composição do leite
No início da lactação, o BEN e a cetose subclínica resultam na
supressão do pico de lactação ou mesmo num pico de leite invertido
(Gustafsson et al., 1993), isto é, numa diminuição gradual da produção
leiteira. No entanto, este critério de avaliação não é específico uma vez
que a deficiência de proteína também origina picos de leite mais baixos
(Enjalbert, 2006).
Na fase inicial da lactação, o BEN pode também revelar-se pelo
surgimento de uma elevada percentagem de gordura no leite.
Explorações em que mais de 10% das vacas até aos 60 Dias em lactação
apresentem uma percentagem de teor butiroso (TB) superior a 5,5% são
sugestivas da presença de cetose e lipidose hepática consequente a BEN
(Nordlund and Cook, 2004). O BEN também faz decrescer o valor do teor
proteico (TP) no leite, pelo que uma baixa percentagem do TP ou uma
elevada relação gordura/proteína são indicadores deste desequilíbrio
(Enjalbert, 2006). No entanto, a utilização da relação proteína/gordura
abaixo de 0,75 como teste para identificar a cetose subclínica tem um
interesse limitado uma vez que a sensibilidade é de apenas 58% e a
especificidade de 69% (Duffield, 2004). Além disso, é preciso ter em
consideração que a maior prevalência de cetose subclínica é observada
durante as duas semanas após o parto, quando a composição do leite da
maioria das vacas não é controlada. No entanto, ao nível da exploração,
poder-se-á considerar que existe um problema de cetose subclínica
quando mais de 40% das vacas, ao primeiro controlo, tem uma relação
proteína/gordura abaixo dos 0,75, com uma sensibilidade de 69% e uma
especificidade de 83% (Duffield et al., 1997; Duffield, 2003).
Um outro estudo, mostrou que uma relação gordura/proteína no
leite acima dos 1,5 no início da lactação está associada a um risco 1,8
vezes maior de perder peso acima dos 0,5 pontos de CC (Heuer et al.,
1999).
Avaliação de parâmetros bioquímicos (perfis metabólicos)
O BEN está associado a hipoglicemia (alta demanda de glucose
gerada pela necessidade da síntese de lactose). Isso faz com que os
níveis de glucagon aumentem, havendo aumento também do cAMP no
tecido adiposo, o que activa a lipase hormono-sensível, com mobilização
das reservas corporais (triglicerídeos), e consequente libertação de ácidos
gordos não esterificados (AGNE) e glicerol no sangue.
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Os AGNE entram no fígado e, ou são re-esterificados com o glicerol
para formar novamente triglicerídeos ou são utilizados pelos tecidos
periféricos para a produção de energia através da ß-oxidação com
produção de acetilcoenzima A (acetil-CoA), que posteriormente se
combina com o oxaloacetato para ser metabolizado no ciclo de Krebs
(Simões et al., 2006). Simultaneamente, a neoglicogénese está activa no
fígado, e com maior intensidade do que quando não há défice energético,
sendo a maioria do oxaloacetato utilizado para este fim. Logo, a sua
disposição está reduzida para entrar no ciclo de Krebs, gerando uma
acumulação de acetil-CoA, que é então desviada para a produção de
corpos cetónicos (ß-hidroxibutirato, acetoacetato e acetona).
Daqui se depreende que durante a mobilização das reservas
corporais, consequente ao BEN, se encontrarão níveis de glicose
sanguínea mais baixos, a par de um aumento nas concentrações de AGNE
e corpos cetónicos. Desta forma, a determinação destes metabolitos
podem, com maior ou menor fiabilidade, indicar-nos a existência ou não
de um BEN.
Corpos Cetónicos
Os corpos cetónicos são importantes em ruminantes como
indicadores de cetose subclínica, patologia derivada da mobilização de
gordura como resposta ao BEN. Foi sugerido que a concentração
sanguínea de corpos cetónicos deverá ser <10 mg/dl. Na cetose
subclínica os níveis de cetonas variam entre os 10 a 20 mg/dl no sangue
e 20 a 60 mg/dl na urina, sendo as escalas de valores para a cetose
clínica superiores a estas (Breukink, 1998).
A determinação dos corpos cetónicos pode inclusive ser realizada
em amostras de leite, sendo os níveis de corpos cetónicos neste fluido
menos variáveis (Radostits et al., 1994).
O ß-hidroxibutirato (BHB) é o parâmetro bioquímico de maior
fiabilidade devido à sua estabilidade, quando comparado com os outros
corpos cetónicos, podendo ser analisado a partir de amostras de sangue,
leite ou urina. Quando encontrado em níveis elevados, reflectem com boa
fiabilidade um quadro de défice energético grave.
Explorações em que cerca de 10% das vacas testadas possuem
uma concentração de BHB no sangue >1,4 mmol/l é indicativo de cetose
subclínica (Oetzel, 2004), consecutiva a um BEN excessivo.
A detecção de corpos cetónicos na urina ou leite pode ainda ser
efectuada com base no teste de Rothera, que detecta o acetoacetato, e
em menor grau, a acetona, sendo totalmente insensível ao BHB (Lean et
al., 1992). Este é um teste semi-quantitativo, uma vez que a reacção é
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tanto mais positiva quanto maior a concentração de corpos cetónicos da
amostra, não permitindo contudo a sua determinação exacta.
Quando utilizado em amostras de urina apresenta uma sensibilidade
de ~100% (inexistência de falsos negativos) e uma especificidade de
50%, o que, apesar do seu elevado número de falsos positivos, torna este
método ideal para a prospecção de cetose numa exploração.
Existem ainda outras possibilidades para a determinação do BHB
através de um método semi-quantitativo, baseado em química seca (uso
de fitas reagentes, fig. 2), no qual o BHB da amostra de leite ou da urina
reage com os reagentes da fita, produzindo uma reacção de cor violeta
cuja intensidade é proporcional à concentração do BHB na amostra.
Figura 2: Tiras reactivas para determinação dos corpos
cetónicos na urina.
Esta técnica fornece informação geral básica, de carácter primário,
para orientar a existência de cetose na vaca, devendo, em caso de
resultado positivo, ser comprovado através de métodos diagnósticos de
maior precisão. A determinação semi-quantitativa de BHB em amostras
de leite ou urina, mediante química seca, parece ser um método sensível,
simples, prático e rápido para realizar um controlo preventivo da cetose
subclínica em vacas leiteiras. Os resultados devem, no entanto, ser
considerados como uma ajuda preliminar complementar para um
diagnóstico definitivo de cetose destinado a estabelecer as
recomendações pertinentes para estabelecer um balanço energético.
Glucose
A glucose é um parâmetro de grandes limitações no diagnóstico de
BEN. Isto porque, de modo geral o controlo homeostático hormonal
efectuado pelo organismo sobrepõe-se às alterações que a dieta possa
causar sobre este parâmetro.
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A glicemia é regulada por um complexo e eficiente sistema
endócrino, que inclui a insulina, hormona que estimula a captação de
glicose pelos tecidos, o glucagon e as catecolaminas que estimulam a
degradação do glicogénio e os corticoesteróides que são promotores da
neoglucogénese. A somatotropina diminui a oxidação da glicose a nível
tissular para permitir que esteja disponível para o úbere, incrementando
desta forma a produção de leite. Este controlo hormonal faz com que a
determinação de glicose ofereça pouca utilidade como indicador do
metabolismo energético (Payne and Payne, 1987). Em função disto, a
dieta tem pouco efeito sobre a glicemia, enquanto não ocorreram
deficiências ou excessos drásticos de energia (González, 1997).
Apesar
disso,
pode
encontrar-se
animais
hipoglicémicos,
principalmente no início da lactação, uma vez que estes animais podem
não estar aptos a enfrentar o défice energético que ocorre neste período
(Payne and Payne, 1987). A hipoglicemia acompanhada de mobilização
de reservas de gordura é indicadora do desequilíbrio energético que
ocorre no início da lactação. Normalmente a hipoglicemia é mais
pronunciada nas primeiras semanas de lactação, logo em seguida retorna
aos valores normais, como consequência do aumento do consumo de
alimentos e da acção hormonal no pós-parto, no sentido de estimular a
neoglucogénese.
No entanto, dever-se-á atender à ocorrência de diagnósticos de
falsas hipoglicemias (falsos positivos), uma vez que a glicólise continua a
processar-se in vitro após a colecta de sangue do animal.
Ácidos gordos não esterificados (AGNE)
Outra maneira de se avaliar o status energético é a medição dos
AGNE, produto da degradação dos lipidos. Entretanto, os níveis de AGNE
apresentam elevadas variações durante o dia, dependendo do tempo que
o animal esteja sem se alimentar e de factores ambientais, como o
stresse, por exemplo.
No entanto, está descrito que a sua determinação, especialmente
no pré-parto, é uma importante ferramenta na previsão da mobilização
das reservas corporais, permitindo-nos a detecção precoce de vacas de
risco para o desenvolvimento de patologias relacionadas com um grave
BEN. Concentrações de AGNE > 0,5 mEq/l têm sido propostas como
indicadores de um excessivo BEN no pré-parto, possibilitando-nos a
tomada de uma série de medidas preventivas relativamente ao mesmo
(Duffield, 2004).
Infelizmente, o elevado custo da técnica para a sua determinação
limita a sua utilização prática.
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Outros parâmetros
Algumas publicações sugerem a determinação do colesterol e da
enzima aspartato amino transferase (AST), aliada aos parâmetros
descritos anteriormente. O colesterol serviria como um indicador da
capacidade do animal em metabolizar as suas reservas corporais para a
lactogénese (Gonzalez e Rocha, 1998). Enquanto a AST ajudaria a
monitorizar a lesão hepato-celular secundária à excessiva mobilização
lipídica (Wittwer, 2000).
Pelo exposto, podemos concluir que facilmente obtemos
ferramentas suficientemente fiáveis e baratas de monitorização do BEN,
através da avaliação periódica da CC e da análise das folhas de contraste
leiteiro. A estas avaliações poder-se-ão ainda associar alguns parâmetros
bioquímicos, através de provas rápidas de estábulo ou laboratoriais para
aumentar o rigor da avaliação ou mesmo o estabelecimento de um
programa de prevenção.
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REDVET: 2009 Vol. 10, Nº 4
Recibido 21.02.09 – Ref. prov. F0926 - Aceptado 26.03.09
Ref. def. 040403REDVET Publicado: 14.04.09
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Medicina da produção: monitorização do balanço energético negativo (BEN) em vacas leiteiras
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