Jose Feldman

Transcrição

Jose Feldman
Discurso do Professor José Feldman proferido na posse como membro
honorário da Academia de Medicina do Rio de Janeiro
Boa noite.
Excelentíssimo senhor Presidente da Academia de Medicina do Rio de
Janeiro – Acadêmico Francisco de Paula Amarante Neto
Excelentíssimas Autoridades
Senhores que compõem a mesa desta sessão solene
Senhoras e senhores acadêmicos
Senhoras e senhores
Queridos colegas e amigos
“Sem objetivos somos como navios sem leme”
Thomas Carlyle
Todos aqui presentes certamente procuraram alcançar as metas que
desejavam e teriam muitas histórias para contar. Neste momento, eu
gostaria de dividir brevemente, com todos vocês, aqui presentes, a minha
trajetória profissional e minha história de vida.
Meus pais emigraram da Ucrânia para o Brasil no início do século XX. O
destino os uniu no novo país, e casaram-se em 1922. Nasci em 1927.
Iniciei meus estudos primários na Escola Miguel Couto, dirigida pelas
sobrinhas do professor Miguel Couto, de quem tive a honra de receber de
suas próprias mãos, uma medalha de mérito escolar que, até hoje, guardo
com carinho.
No colégio Pedro II realizei meus estudos secundários, ingressando na
Faculdade Nacional de Medicina em 1946.
No 3º ano médico, passei a frequentar a 22ª enfermaria da Santa Casa da
Misericórdia, chefiada então pelo professor Antônio Austragésilo. Às 4as.
feiras, acompanhando as suas visitas semanais, me impressionava que,
com apenas a história clínica e a inspeção do paciente, o professor sugeria
uma possibilidade diagnóstica que em geral era confirmada. Foi o meu
primeiro aprendizado.
“Você pode enxergar bastante observando”
Yoge Berra
Em 1952, já formado e trabalhando na 22ª enfermaria da Santa Casa da
Misericórdia, conheci a acadêmica de medicina Flora Kandelman, que
estagiava no laboratório da enfermaria do professor Clementino Fraga
Filho. Está ao meu lado há 60 anos. E, apesar das dificuldades, conseguiu
equilibrar sua atividade médica com a dedicação incondicional à família.
Graças à sua dedicação, consegui me entregar inteiramente à minha
profissão.
Temos dois filhos Silvia e Claudio e quatro netos, Fernanda, Leonardo,
Felipe, Guilherme e uma bisneta Raquel.
Com orgulho, posso dizer que formamos uma família unida com sete
médicos.
“Os dois presentes que podemos dar aos filhos são raízes e asas”
Carter
Em 1954, fui convidado pelo professor Weber Pimenta Bueno, chefe de
clínica da 22ª enfermaria, já então chefiada pelo prof. Edgard Magalhães
Gomes, para trabalhar ao seu lado, nos cuidados de pré e pós operatório
na Casa de Saúde São Miguel do professor Fernando Paulino. Na ocasião,
ao lado dos professores e amigos Domingos Junqueira de Moraes e
Waldyr Jasbik, demos início à expansão da cirurgia cardíaca no Rio de
Janeiro.
O primeiro caso operado pelo nosso grupo, com circulação extra-corpórea,
foi de comunicação inter-ventricular. O diagnóstico foi feito por mim apenas
com exame clínico, cardiológico, radiológico e eletro-cardiográfico sem
estudo hemodinâmico. A operação foi realizada com sucesso.
Anos depois, nossa atividade continuou no Hospital Adventista Silvestre,
que nos deu a oportunidade de sermos pioneiros em assistência
cardiológica, pré, trans e pós operatória com cuidados em terapia
intensiva, tendo sido realizadas, em 15 anos, mais de 2.000 cirurgias
cardíacas.
Um grande marco em minha formação profissional foi a obtenção de bolsa
de estudos como investigador no Instituto Nacional de Cardiologia do
México, sob a orientação dos professores Demétrio Sodi Palhares e
Henrique Cabrera. O Instituto Nacional de Cardiologia do México era
referência mundial e pólo de convergência dos principais estudiosos em
eletro-cardiografia.
Ao regressar do México, fui chefiar o serviço de eletro-cardiografia da 7ª
enfermaria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro – serviço do
professor Carlos Cruz Lima.
Esta noite, recebo, com humildade, a honra que me é concedida, como
membro honorário da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro,
fundada por médicos de grande saber, com ideal de proporcionar ao nosso
estado, uma associação que estimulasse o aprimoramento profissional e
ético.
Rendo as minhas homenagens a todos os acadêmicos, na pessoa do
excelentíssimo presidente da Academia de Medicina do Estado do Rio de
Janeiro – acadêmico Francisco de Paula Amarante Neto.
Acadêmico Igor Borges de Abrantes Junior. Tenho acompanhado a sua
brilhante carreira, não só de médico como também de membro de maior
importância na Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro, e na
Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro. É um visionário, um
aglutinador incansável, um idealista.
O meu sincero e afetuoso obrigado.
Neste momento, meus sentimentos estão voltados para as figuras
admiráveis de meus mestres com quem trabalhei.
“O reconhecimento é a memória do coração”
Massieu
- Professor Edgard Magalhães Gomes
Carismático, didata excepcional. Em razão de sua extensa cultura geral e
médica, tornou-se um símbolo da clínica médica e da cardiologia. Usou o
método anátomo-clínico para o entendimento dos sintomas e sinais
resultantes da patologia existente.
- Professor Carlos Cruz Lima
Competentíssimo clínico, emanava simpatia. Em função destas
características, mantinha uma excepcional relação médico – paciente e
aluno - professor.
- Professor Nelson Botelho Reis
Médico com extraordinária sede de conhecimentos. Transmitiu a uma
numerosa geração de cardiologistas o entendimento das patologias
cardíacas através da análise das condições hemodinâmicas.
- Demétrio Sodi Palhares e Henrique Cabrera, com quem tive a
oportunidade de trabalhar no Instituto Nacional de Cardiologia do México.
Foram pioneiros na análise dedutiva da eletrocardiografia.
- Professor Fernando Paulino – “O cirurgião”
Professor “honoris causa” da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Professou o lema que aprendeu com seu pai “A medicina não é uma arte
de enriquecer, mas a ciência de fazer o bem”. Mantinha uma enfermaria
para os doentes sem recursos, o que permitiu a expansão da cirurgia
cardíaca em nosso estado. Todas as despesas eram custeadas por ele,
dono e gestor da Casa de Saúde São Miguel. O professor Fernando
Paulino foi pioneiro no suporte nutricional, parenteral e enteral e contribuiu
de uma forma contundente ao estudo dos desequilíbrios hidro-eletrolíticos.
Pedro Nava, médico e escritor laureado, no livro “Círio Perfeito”, o
considerou como o mais completo cirurgião brasileiro de todos os tempos.
Todos eles marcaram em sua trajetória médica um marco de luz. Em todos
existia um traço comum, a Grandeza.
Se não alcançamos, como desejaríamos, sermos impregnados de sua
grandeza, neles nos inspiramos no transcurso de nossa vida profissional.
O destino foi dadivoso comigo proporcionando o convívio com estes
mestres da ciência hipocrática.
Faço neste instante uma sincera e respeitosa homenagem aos meus
mestres, cujos exemplos me deram coragem e entusiasmo para
prosseguir.
Cada paciente espera uma solução para os seus problemas de saúde. É
necessário que tenhamos conhecimentos, valores, técnicas, atitudes e
amor.
“Se não pudermos fazer grandes coisas, façamos coisas com grande
amor”
Madre Teresa de Calcutá
Meus agradecimentos ao Dr. Renato Villela e Dr.José Balli que durante
anos me acompanharam na minha atividade médica.
Ao meu querido filho Claudio, médico cardiologista intervencionista, meu
reconhecimento pela ajuda que me proporciona em nosso dia a dia.
Gostaria de fazer um agradecimento especial a Igreja Adventista do 7º.
Dia, Hospital Adventista Silvestre, meu segundo lar nos últimos 50 anos.
Lá, sempre encontrei o apoio para que a atividade médica fosse exercida
com dignidade e ética, e onde sempre estivemos presentes como parte de
uma grande família.
Quero agradecer ao Hospital Pró-Cardíaco e Hospital Samaritano, que
tanto representam em minha atividade médica, pela sua qualidade
assistencial e atividade científica.
Um agradecimento especial à minha filha Sílvia, a minha nora Lílian, ao
meu colega Marcelo Fabrício, a Anna Bentes Bloch e a Maria Goretti
Mourão Diniz, pelo incentivo e pela ajuda que me proporcionaram.