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| 189 AS ORIGENS CRISTÃS E O MISTICISMO APOCALÍPTICO. UMA LEITURA DE ATOS 2,1-4 Kenner Roger Cazotto Terra1 RESUMO (VWH DUWLJR DQDOLVD DOJXPDV LPDJHQV SUHVHQWHV HP$WRV DSUR[LPDQGRDVjVLPDJHQVGDDSRFDOtSWLFDMXGDLFDHPHVSHFLDOGRV WH[WRVSURGX]LGRVSHORPRYLPHQWRRXMXGDtVPRHQRTXLWD$SURSRVta é apresentar elementos da tradição judaica que serviram para desFULomRHOHJLWLPDomRGRVFXOWRVH[WiWLFRVGDVSULPHLUDVFRPXQLGDGHV cristãs. PALAVRAS-CHAVE /tQJXDVGHIRJRr[WDVHUHOLJLRVR&ULVWLDQLVPRVRULJLQiULRVHDSRcalíptica. ABSTRACT 7KLVSDSHUDQDO\]HVVRPHLPDJHVRI$FWVDSSURDFKLQJWKHP WRWKHLPDJHVRIWKH-HZLVKDSRFDO\SWLFHVSHFLDOO\WRWKRVHWH[WVWKDW belong to Judaism represented by Enoch tradition. The proposal is to SUHVHQWHOHPHQWVRI-HZLVKWUDGLWLRQWKDWZHUHXVHGWRGHVFULEHDQGOHgitimize the ecstatic cults of the early Christian communities. 1 Kenner Roger Cazotto Terra é mestre em Ciências da Religião (UMESP), doutorando em Ciência da Religião (UMESP), membro do Grupo Oracula de Pesquisa em Apocalíptica (UMESP) e da ABIB (Associação Brasileira de Interpretação Bíblica). 190 | Revista Reflexus KEYWORDS Fire tongues, religious ecstasy, early Christianities, and apocalyptic. Introdução “O Cristianismo Antigo nasceu como um movimento apocalíptico QR-XGDtVPR´5RZODQGS(VVDD¿UPDomRUHSURGX]UHVXPLdamente os resultados de anos de pesquisas a respeito do Cristianismo, ou melhor, dos Cristianismos das origens. É consenso, como as atuais pesquisas reconhecem, que o imaginário religioso da apocalíptica judaica serviu símbolos, temas, motivos literários e códigos para váULDVSUiWLFDVHWH[WRVGRPRYLPHQWRLQDXJXUDGRSRU-HVXVXPSURIHWD apocalíptico que anunciou a chegada do reino escatológico de Deus no período do segundo templo. $¿UPDU TXH R &ULVWLDQLVPR LQFLSLHQWH p XP ³PRYLPHQWR DSRFDOtSWLFR MXGDLFR´ SULPHLUR SUHVVXS}HVH D H[LVWrQFLD GH YDULDGRV JUXpos dentro do plural judaísmo, entre os quais aquele é um deles. Como WDPEpPpHQWHQGHUTXHDVRULJHQVFULVWmVHVWmRLQWLPDPHQWHOLJDGDVj DSRFDOtSWLFDMXGDLFD&ROOLQVSDTXDOHPFRQVWDQWHFRQWDWRFRPFXOWXUDVEDELO{QLFDVSHUVDVHKHOrQLFDVSURGX]LXWH[WRVTXH UHÀHWHPXPDLQWHUSUHWDomRGDYLGDjOX]GHH[SHULrQFLDVUHOLJLRVDVGH r[WDVHTXHSHUPLWLDPRDFHVVRjVUHDOLGDGHVFHOHVWLDLV5RZODQG +LPPHOIDUEHFULDYDPDHVSHUDQoDVGDLPLQHQWHLQWHUYHQomRGLYLQD&ROOLQVSS ,QVHULUDRULJHPFULVWmQRMXGDtVPRDSRFDOtSWLFRpD¿UPDUDFRQWLnuidade, mesmo que criativa e intercambiável, entre o mundo religioso do judaísmo e o movimento cristão dos primeiros séculos. Desta forma, SRGHPRV HQWHQGHU SRU H[HPSOR D D¿UPDomR GH 5RZODQG ³HVVD p D QRVVDD¿UPDomRTXHXPDERDFRPSUHHQVmRGD7HRORJLDGR1RYR7HVtamento e Cristianismo das origens é incompleta se o material místico HDSRFDOtSWLFRQmRIRUHPWUDWDGRVVHULDPHQWH´5RZODQGS Neste sentido, o movimento cristão, ou os Cristianismos, testemunhado QD OLWHUDWXUD QHRWHVWDPHQWiULD GHYH PXLWR j DSRFDOtSWLFD HP HVSHFLDO em seu âmbito de “perspectiva religiosa”, ou o que Paul Hanson chama de escatologia apocalíptica. Para esse pesquisador, que divide a apoca- Kenner Roger Cazotto Terra | 191 líptica judaica em três âmbitos (gênero, movimento social e perspectiva religiosa)2, a escatologia apocalíptica é como uma forma de ver os plaQRVGLYLQRVHPUHODomRjVUHDOLGDGHVWHUUHQDVQDTXDORPXQGRHQFRQtra-se na iminência da transformação para o novo eon (VGUDV o reino de Deus, em detrimento do atual, que está corrompido e cheios GHGHP{QLRV-XELOHXV+DQVRQSS Com os manuscritos encontrados em Qumran, desde a década de quarenta do século passado, as pesquisas sobre a relação do movimento cristão com o judaísmo apocalíptico – os Manuscritos do Mar Morto paUHFHPUHÀHWLUXPDFRPXQLGDGHMXGDLFDFRPFDUDFWHUtVWLFDVDSRFDOtSWLFDV*DUFtD0DUWtQH]S±IRUDPPDLVIUXWtIHUDVSULPHLUDPHQte porque se encontraram temas comuns ao Cristianismo em Qumran, revelando inquestionáveis relações de dependência e apropriação imaJLQiULD&KDUOHVZRUWKS[YLLLHFRQVHTXHQWHPHQWHUHYHODUDP DPDWUL]MXGDLFDGHRQGHVXUJHR&ULVWLDQLVPR%DUUHUDS (VVHFUX]DPHQWRFXOWXUDOWHVWHPXQKDGRQRVWH[WRV±GHPRQVWUDQGR FRQWLQXLGDGH H GHVFRQWLQXLGDGH DSUHHQVmR H UH VLJQL¿FDomR GH conceitos e imagens religiosas –, é possível ou quase necessário, por H[HPSORQDGH¿QLomRGHFXOWXUDH[SRVWDSHODHVFRODUXVVDGHVHPLyWLFD da cultura. A cultura é interpretada por seus teóricos como “fenômeno LQWHUDWLYRVHPH[LVWrQFLDLVRODGDHFRPXPFDPSRFRQFHLWXDOXQL¿FDGR fundado no processamento, na troca e na armazenagem de informao}HV´0DFKDGRS2SUySULRFRQFHLWROLQJXtVWLFRVGHdiscurso acaba levando-nos ao mesmo pressuposto, pois percebe que ele é VHPSUHYD]DGRSRURXWURVGLVFXUVRV)LRULQSFRPRWDPEpP no nível dialógico da linguagem (Bakhtin, 1988). Partindo desse ponto de vista metodológico, analisaremos um WH[WRQHRWHVWDPHQWiULRTXHHVTXHPDWL]DRXFRQVWUyLXPGLVFXUVRWH- 3DUDRXWUDVREUDVTXHWUDEDOKDPHVVHVFRQFHLWRVYHU'LWRPPDVRSS &ROOLQV%RHUSS--&ROOLQVIH]DGLVWLQomRHQWUHDSRFDlipsismo como visão de mundo e apocalipse como forma literária (COLLINS, 2010, SS3DUDXPUHVXPRGDGLVFXVVmR&ROOLQVSS3DUDDVRULJHQVH QDWXUH]DGDDSRFDOtSWLFDMXGDLFDYHU+DQVRQ3DUDGH¿QLomRGRWHUPRDSRFDlipse, mas em uma perspective crítica aos trabalhos de J. J. Collins e P. Hanson, ver: *UDEEH+DDNSS 2 192 | Revista Reflexus ológico sobre a origem da igreja, a saber, o livro bíblico Atos dos Apóstolos. Logo no segundo capítulo, ele apresenta de maneira esTXHPDWL]DGD D FRQKHFLGD QDUUDWLYD GH$W ³D GHVFLGD GR (Vpírito”, na qual o autor apresenta uma proposta de origem da igreja. 9DOHOHPEUDUTXHRUHGDWRUQmRSRGHVHUDQDOLVDGRjOX]GRVSUHVVXSRVWRV PRGHUQRV GD KLVWRULRJUD¿D GH SHUVSHFWLYDV SRVLWLYLVWDV SRLV cria, como qualquer historiador, por interesses redacionais claros, a história das origens cristãs. O interessante está na presença da linguaJHPH[WiWLFDGRWH[WRHFRPRHVVDH[SHULrQFLDpGHVFULWDODGHDGDSRU temas e imagens já presentes na literatura apocalíptica, em especial a enoquita. Pelo menos, três temas saltam os olhos: línguas (como) de fogo, som de ventos e glossolalia. Além da nítida relação com as teofanias veterotestamentárias, esses temas também estão em diálogo com os apocalipses de tipo viagem celestial, nos quais encontramos visionários que são levados até o trono de Deus, onde contemplam o templo celestial. Para percebermos essa relação entre as imagens de Atos e a liWHUDWXUD TXH D DQWHFHGH SULPHLUDPHQWH IDUVHi XPD DQiOLVH H[HJpWLFDGRWH[WRGHVWDFDQGRVHXVWHPDVHDH[SHULrQFLDGHr[WDVHUHOLJLRVR UHÀHWLGD HP VXD OLQJXDJHP 'HSRLV HQVDLDUVHi DOJXPDV FRQFOXV}HV VREUHDUHODomRGHVVHWH[WRFRPDSRVVtYHOFRPXQLGDGHFULVWmTXHHOH representa. Domesticação redacional do êxtase em Atos 2, 1-13 $WRVVHJXHXPDIRUPDOLWHUiULDGRPLQDQWHQDSULPHLUDPHtade da obra lucana, como também no livro Apócrifo de Atos, que pode ser chamada de “narrativa de propaganda religiosa” (Pervo; Attridge, S1DSULPHLUDSDUWHGHVVDPROGXUDDDQiOLVHOLWHUiULDSRGHUHYHODUFRPFHUWRJUDXGHFHUWH]DGRLVQtWLGRVEORFRV &RPREHPH[SOLFRX3HGUR3DXOR)XQDULH*OD\GVRQ-RVpGD6LOYDRSDVVDGRpFULDGRSHORKLVWRULDGRUHRUJDQL]DGRHPWH[WR)XQDUL6LOYDSS2SUySULR conceito de enredo nos ajuda na “desmitologização” da ideia de neutralidade e objeWLYLGDGHQDVXSRVWDGHVFREHUWDHDSUHVHQWDomRGRSDVVDGR0DUJXHUDWS Kenner Roger Cazotto Terra | 193 r[WDVH H JORVVRODOLD H DQ~QFLR jV QDo}HV 2V YHUVRV VmR emoldurados sob a ideia de “todos”: “todos reunidos” (v.1) e “todos FKHLRV´Y3HUYR$WWULGJHS&RPRGL]3DXOR1RJXHLUD Inicialmente nossa abordagem do fenômeno aponta para o fato de TXH/XFDVµPDVFDUD¶DJORVVRODOLDGHVORFDQGRDGHFRQWH[WR(P$W HOHWUDQVIRUPDRIDODUHPµRXWUDVOtQJXDV¶GRr[WDVHFXOWXDOHP início da pregação do Evangelho. Isso cabe muito bem no propósito teológico e literário de Lucas. O fato de que judeus e prosélitos ouvissem ‘em sua própria língua – ou seja, na língua da diáspora ±DSUHJDomRGRVGLVFtSXORVVHUYLULDGHDEHUWXUDH[HPSODUGDHYDQgelização do Império desde Jerusalém até Roma. Essa reformulação redacional do fenômeno é realizada pela mudança sutil de cenário: se antes os discípulos estavam reunidos em ‘um mesmo lugar’, o que indicaria um lugar central de Jerusalém no qual se convertiam HHUDPEDWL]DGRVPLOSHVVRDV2WH[WRGRVYHUVRVSRGHULDWHU FDELGRSHUIHLWDPHQWHHPXPFRQWH[WRGHFXOWRVGDVSULPHLUDVFRPXQLGDGHV1RJXHLUDS $ UHIRUPXODomR UHGDFLRQDO GRPHVWLFD R IHQ{PHQR GH r[WDVH H OtQJXDVFRPDX[tOLRGDVWUDGLo}HVMXGDLFDV:LWKHULQJWRQ,,,S $IHVWDGHSHQWHFRVWHVpRQRPHGDGRQR1RYR7HVWDPHQWRSDUD a celebração da Festa das Semanas, e era realizada no quinquagésimo GLDGHSRLVGD3iVFRD:LWKHULQJWRQ,,,S1ROLYURGH-XELleus (Jub. 6), importante obra judaica do Séc. II a.C (Witherington III, SSHQFRQWUDPRVDFRQH[mRGHVVDIHVWDFRPDUHQRYDomR da aliança de Noé e de Moisés. Fílon, ao falar da entrega da Lei, diz: “e uma voz soou do fogo que descia do céu, uma voz muito maravilhosa e terrível. A chama foi dotada de linguagem familiar para seus ouvintes” (Decalapud<RQJHS1DWUDGLomRUDEtQLFDb. Shab. 88b), século II d.C, com origens mais antigas, encontramos a crença na inicial proclamação da Lei a setenta nações (Witherington III, 1998, p. 7DOYH]/XFDVWHQKDGRPHVWLFDGRRIHQ{PHQRGHr[WDVHXVDQGRD WUDGLomRGDSURFODPDomRGD/HLjVQDo}HVTXHHP$WRVVmRRVMXGHXV GD GLiVSRUD RFXOWDQGR R FDUiWHU H[WiWLFR GD H[SHULrQFLD GD QDUUDWLYD mais antiga. 194 | Revista Reflexus ,VRODQGR$WWRUQDVHSRVVtYHODSUR[LPiORDRXWURVWH[WRVTXH WHVWHPXQKDP DV H[SHULrQFLDV GH glossolalia e profecia da comunidade cristã. Na lista dos carismas de 1 Co 12,1-11, o fenômeno de İ&IJȑȡĮȚȢ ȖȜȫııĮȚȢ (outras línguas) está entre os demais dons disponibilizados SHOR(VStULWR(QTXDQWRHP$WRVHVVDPHVPDH[SHULrQFLDpVHPSUHSRVVtYHOSRULQWHUPpGLRGRVDSyVWRORVQDFRPXQLGDGHFULVWm HP&RULQWRQmRKiLQWHUPHGLiULRV(VVDDSDUHQWHOLEHUGDGHGHH[SUHVVmR e acesso ao fenômeno, não pode ofuscar o nítido desejo de Paulo em GRPHVWLFiOR HVSHFLDOPHQWH QRV FXOWRV S~EOLFRV &R SRLV a maior preocupação era a oikodoméHGL¿FDomR&RSRVVtYHO através da inteligibilidade da mensagem. Por isso, ele fala da superioriGDGHGDSURIHFLDRXDQHFHVVLGDGHGHLQWHUSUHWDomR&R³ aquele que fala em línguas não fala a homens, mas a Deus; ninguém enWHQGHPDVDTXHOHTXHSURIHWL]DIDODDRVKRPHQV´³FDVRQmR KDMDLQWpUSUHWHDJXDUGHPHPVLOrQFLR´8PDYH]TXHDSUySULD interpretação também é um dom (1 Co 12, 10), a própria inteligibilidade é disponibilizada carismaticamente pelo Espírito. $SUR[LPDQGRHVVDVWHVWHPXQKDVWH[WXDLVSRGHPRVFRORFiODVHP um mesmo locus GHH[SHULrQFLDVFULVWmVSULPLWLYDVGHr[WDVHUHOLJLRVR 7DQWR$WRV FRPR &R UHÀHWHP R IHQ{PHQR GD glossolalia FRPRH[SUHVVmRQmRFRPSUHHQVtYHOjOLQJXDJHPGDVQDo}HVFRQKHFLGDV SRLV GL] UHVSHLWR j GLPHQVmR QmR UDFLRQDO GDV H[SHULrQFLDV FRP R(VStULWRSRUPDLVTXHSXGHVVHVHUUHJXODGD&R2TXH LVVRVLJQL¿FDSDUDDKLVWyULDGDVFRPXQLGDGHVFULVWmVRULJLQiULDV"(VVD pergunta poderá ser respondida com o destaque e análise de alguns inGtFLRVGHH[SHULrQFLDVUHOLJLRVDVQRWH[WR At 2,1-4: línguas de fogo, som de vento e êxtase religioso 2WH[WRQDUUDDH[SHULrQFLDDVVLP 1. ȀĮiV e*ȞIJ-~ ıȣȝʌȜȘȡȠX~ıșĮȚIJhVȞh&ȝȑȡĮȞIJh~ȢʌİȞIJȘțȠıIJh~Ȣ ıĮȞʌȐȞIJİȢo&ȝȠX~İ*ʌiVIJoVĮu*IJȩ ȀĮiV e*ȖȑȞİIJȠ a!ijȞȦ e*ț IJȠX~ ȠX*ȡĮȞȠX~ ȤȠȢ w@ıʌİȡ ijİȡȠȝȑȞȘȢ ʌȞȠh~Ȣ ȕȚĮȓĮȢ țĮiV e*ʌȜȒȡȦıİȞ o@ȜȠȞ IJoVȞ ȠੇțȠȞ Ƞ ıĮȞțĮșȒȝİȞȠȚ Kenner Roger Cazotto Terra | 195 țĮ ੭ijșȘıĮȞ ĮIJȠȢ įȚĮȝİȡȚȗȩȝİȞĮȚ ȖȜııĮȚ ੪ıİ ʌȣȡઁȢțĮਥțȐșȚıİȞਥij¶ਪȞĮਪțĮıIJȠȞĮIJȞ țĮ ਥʌȜȒıșȘıĮȞ ʌȐȞIJİȢ ʌȞİȪȝĮIJȠȢ ਖȖȓȠȣ țĮ ਵȡȟĮȞIJȠ ȜĮȜİȞ ਦIJȑȡĮȚȢ ȖȜȫııĮȚȢ țĮșઅȢ IJઁ ʌȞİ૨ȝĮ ਥįȓįȠȣ ਕʌȠijșȑȖȖİıșĮȚĮIJȠȢ 1. E se completando o dia de Pentecostes estavam todos juntos sobre o mesmo lugar. 2. E ocorreu inesperadamente do céu um ruído parecido com um violento vento desencadeado e encheu toda casa onde estavam assentados HIRUDPYLVWDVSRUHOHVOtQJXDVGLYLGLGDVHPSDUWHOtQguas como de fogo, e pousou-se sobre cada um deles, HWRGRVIRUDPSUHHQFKLGRVGR(VStULWR6DQWRHFRPHoDUDPIDODUGLIHUHQWHVRXWUDVOtQJXDVGHDFRUGRFRPRRHVStULWR capacitava-lhes falar (tradução pessoal). 2 WH[WR GH$W FRPHoD GL]HQGR TXH QR GLD GH 3HQWHFRVWHV cinquenta dias depois da páscoa, os discípulos estavam reunidos. “De repente” (ਙijȞȦ), surgiu do céu um som, ou eco (ȤȠȢ), como de um desencadeado vento violento e encheu ou preencheu toda a casa onde estavam assentados (2,1-2). Lucas não fala de vento real, mas do som parecido com um vento forte, um barulho. A imagem do vento lembra DVWHRIDQLDVGDWUDGLomRMXGDLFD([5V,V (VG3HUYR$WWULGJHS2LQWHUHVVDQWHpRIDWRGHR VRPHQFKHUDFDVD,VVROHPEUDDPHVPDH[SUHVVmRGHr[WDVHGRYLVLRnário João do Apocalipse: “virei-me para ‘ver’ a ‘voz’” (ȕȜȑʌİȚȞ IJȞ ijȦȞȞ$S³9HUDYR]´H³VRPTXHHQFKH´VmRH[SUHVV}HVGH WUDQVHRXr[WDVHUHOLJLRVR 'DH[SHULrQFLDDXGLWLYDRXPHOKRUVHPLDXGLWLYDRVRP³HQche” o lugar), são vistas por eles línguas como de fogo. Estas são GLYLGLGDVVREUHFDGDXPGHOHV2WH[WRFRQWLQXDGL]HQGRTXH foram preenchidos do Espírito Santo e por isso começaram a falar em “outras línguas”, conforme o mesmo Espírito dava-lhes capaciGDGHSDUDIDODUYRXGHDFRUGRFRPR(OHFRQFHGLD6HJXQGR)Hlicitas Goodman, a glossolalia não é um comportamento natural diá- 196 | Revista Reflexus ULRPDVXPHVWDGRDOWHUDGRGDFRQVFLrQFLD*RRGPDQS $TXLFKHJDPRVDRDXJHGDH[SHULrQFLDH[WiWLFDGDFHQD'HSRLVGH FRPSOHWDGRVSUHHQFKLGRVGR(VStULWRHOHVFRPHoDPDIDODUOtQJXDV FRQFHGLGDV SHOR TXH GHVFHX GR FpX 2 WH[WR PRVWUD D ³SRVVHVVmR´ SDUDDH[SUHVVmRGDJORVVRODOLD³IRUDPSUHHQFKLGRVGR(VStULWR 6DQWRHFRPHoDUDPIDODUGLIHUHQWHVRXWUDVOtQJXDVGHDFRUGRFRPRR (VStULWRFDSDFLWDYDOKHVIDODU´Y8PDGDVH[SUHVV}HVGRr[WDVH QDUHOLJLRVLGDGHDQWLJDVHJXQGR,/HZLVpVHUWRPDGRSHODGLYLQGDGH/HZLVS O quarto verso usa o verbo ਕʌȠijșȑȖȖȠȝĮȚ para se referir ao falar FRPLQÀXrQFLDGR(VStULWR(VVDH[SUHVVmRVHUHIHUHDRIDODUSURIpWLFRRXLQVSLUDGRHPr[WDVH(SRGHVHUWUDGX]LGDFRPR³IDODUFRP IRUoD´³FODUR´³FRPrQIDVH´.LWWHOS1D6HSWXDJLQWD o verbo é usado no particípio para traduzir a palavra “profeta” em 0OFRPRWDPEpPDDomRGHSURIHWL]DUGH&U(P$WRV é usada para caracterizar o discurso de Pedro depois do pentecostes HRGH3DXORGLDQWHGH$JULSDTXHSRGHPVHUYLVWRV tanto como um falar comum, como também uma fala inspirada ou FRQGX]LGDSRUXPDH[SHULrQFLDGHr[WDVHRXWUDQVHHVSHFLDOPHQWH HP$W 3HUFHEHPRVQRWH[WRDOJXPDVLPDJHQVLPSRUWDQWHVVRPGHYHQWR OtQJXDVFRPRGHIRJRODGHDGDVSRUH[SUHVVmRGHr[WDVHHJORVVRODOLDSHOD possessão do Espírito. Esses temas costumam a parecer na apocalíptica Judaica, especialmente nos apocalipses de tipo viagem celestial. Os Textos de Viagem Celestial Na apocalíptica judaica, além do tema da escatologia, que é imSRUWDQWHSDUDHQWHQGHUHVVHPXQGROLWHUiULR&ROOLQVSHQcontramos a preocupação com as realidades celestiais. Collins chega DIDODUHPXPWLSRHVSHFt¿FRGHDSRFDOLSVHviagem celestial, que é PDUFDGRSRUHVSHFXODo}HVFRVPROyJLFDV&ROOLQVS1HVWHVWH[WRVRYLVLRQiULRpOHYDGRDWpUHJL}HVFHOHVWLDLVHFRQWHPSODD organização cósmica, as funções dos anjos e o templo celestial, com a Mercavah$WUDYpVGHVVDVH[SHULrQFLDVRYLVLRQiULRDOpPGHWHUDFHV- Kenner Roger Cazotto Terra | 197 so a uma sabedoria superior, passava por transformações angelomor¿FDV(Q. $OpPGDWUDGLomRMXGDLFDQR0XQGR$QWLJRHPJHUDODH[SHULrQFLD[DPkQLFDGHr[WDVHHYLDMDUSDUDRFpXHUDFRPXP$GHOD&ROOLQV S7DERU7DERUS. Para Tabor, o tema da jornada celestial pode ser dividido em quatro tipos básicos ou categorias (Tabor, 1999). O primeiro, “ascensão como uma invasão do céu”, é um tipo de ascensão celestial com ideia de invasão do reino celestial de Deus. No segundo tipo, “Ascensão para receber revelação”, a ascensão HQYROYHXPDYLDJHPGHLGDHYROWDGDWHUUDDRFpXRXGDH[SHULrQFLD YLVLRQiULDGDFRUWHFHOHVWLDOGDTXDODOJXpPUHWRUQDjH[SHULrQFLDQRUPDOVXELGDGHVFLGD1HVWHWLSRGHYLDJHPFHOHVWLDOQmRKiDLGHLDGH invasão, como no anterior. A terra é o lugar da morada dos homens, mas o céu pode ser visitado. Esta compreensão de ascensão domina o Livro dos Vigilantes(Q$¿JXUDOHQGiULDGH(QRTXHpOHYDGDSHORV reinos celestes e descobre segredos cósmicos, aparecendo até mesmo diante do sublime trono de Deus. A versão grega do Testamento de Levi (Séc. II a.C.) utiliza o tema da ascensão de um modo semelhante, como faz a Vida de Adão, em latim (século I d.C.) e o Apocalipse de Abraão. (P FDGD XP GHVWHV WH[WRV D DVFHQVmR IXQFLRQD FRPR XP YHtFXOR GH revelação e oferece autoridade divina para a sabedoria cósmica e escatológica, legitimando ideias de diferentes partidos. No terceiro, “ascensão para a vida celeste imortal”, um mortal obtém a imortalidade e vai morar entre os seres celestiais. Isso pode acontecer de duas maneiras: (1) um personagem pode receber uma vida divina imortal, ou (2) a alma, presa a mortalidade, pode receber a vida divina imortal. O quarto tipo, “ascensão como um antegozo do mundo divino”, envolve uma jornada ou “visita” ao céu que funciona como antecipação $QJHORPRU¿VPRpXPFRQFHLWRXWLOL]DGRSRUDOJXQVSHVTXLVDGRUHVGRMXGDtVPRGR segundo templo para designar a transformação ocorrida por personagens em anjos ou seres divinos, por meio de divinação derivada do próprio Deus. Na tradição judaica encontramos personagens veterotestamenários como Moisés, Melquisedec, )LOKRGR+RPHP(QRTXHHWFFRPFDUDFWHUtVWLFDVDQJHORPyU¿FDV3DUDXPPDLRU DSURIXQGDPHQWRGRDVVXQWRYHU*LHVFKHQSS 198 | Revista Reflexus GDDVFHQVmR¿QDOjYLGDFHOHVWH(PERUDUHODFLRQDGRjVHJXQGDFDWHgoria – a ascensão para receber revelação –, esta é fundamentalmente GLIHUHQWH(P(QRTXHIDODVHFRPRRYLVLRQiULRIRLOHYDGRDRFpX HVXDH[SHULrQFLDGHWUDQVIRUPDomRVHQGROKHGLWRTXHGHSRLV ascenderia permanentemente ao céu e receberia glória e vida imortal GLYLQDFDS(QRTXHWDPEpPUHÀHWHXPSDGUmRVHPHOKDQWH A jornada de Enoque pelos sete céus, na qual permaneceu 60 dias (2 (QRTXHpVHJXLGDSRUXPUHWRUQRDWHUUD$H[SHULrQFLDRWUDQVIRUPDHIXQFLRQDFRPRDQWHFLSDomRGHVXDWUDQVODomR¿QDOSDUDRFpX +iWDPEpPXPWH[WRLPSRUWDQWHHQWUHRV3DSLURV0iJLFRV*UHJRV FKDPDGRGH³/LWXUJLDGH0LWUD´3*0QRTXDOKiXPLQLFLDGR que deseja ascender ao céu para fazer a jornada com todos seus perigos e poWHQFLDOLGDGHV+iWH[WRVMXGDLFRVWDLVFRPRHekhalot Rabbati, que têm fortes paralelos com tais materiais mágicos, mostrando que estamos lidando aqui FRPXPIHQ{PHQRFRPXPQR0XQGR$QWLJR'DYLODSS $RTXHSDUHFHDVH[SHULrQFLDVPtVWLFDVGHYLDJHQVDWpDVUHJL}HV FHOHVWLDLVHRDFHVVRjVUHYHODo}HVHVSHFLDOPHQWHQRPLVWLFLVPRMXGDLFR HVWDYDP LQWLPDPHQWH OLJDGDV DR r[WDVH ou ao estado alterado de FRQVFLrQFLD0DOLQDSS 3RUH[HPSORQR¿QDOGDSULPHLUDYLVmRDUHVSHLWRGDRULJHPGR PDOQRPXQGR(VGUDVGL]³DFRUGHLFRPRFRUSRWUHPHQGRGHPHGRH a alma tão fadigada de desmaiar; mas aquele anjo que veio e tinha falaGRFRPLJRPHVXVWHQWRXIRUWDOHFHQGRPHPHFRORFRXGHSp´ Enoque, no Livros das Parábolas de Enoque, depois de ver o Principal GH'LDVHVWiHPr[WDVH³FDtGHURVWRQRFKmRHWRGDPLQKDFDUQHVH dissolveu e meu espírito se transtornou. Gritei em alta voz com grande IRUoDHXEHQGLVVHHORJLHLHH[DOWHL´(Q No misticismo apocalíptico, entre outras coisas, o visionário vai até o palácio divino e contempla coisas que lembram as imagens que ³DGLVWLQomRVLPLODULGDGHHQWUHDSRFDOtSWLFDHPtVWLFDMXGDLFDGL]UHVSHLWRDgêneros literáriosGLIHUHQWHVIDFLOPHQWHGLVWLQJXtYHLVPDVTXHUHODWDPH[SHULrQFLDVUHOLgiosas semelhantes. Assim, misticismo apocalíptico reúne gêneros literários distintos TXHQDUUDPRXSUHVVXS}HPH[SHULrQFLDVHSUiWLFDVUHOLJLRVDVVLPLODUHVFRPRYLDJHQV FHOHVWLDLVYLV}HVH[WiWLFDVHWUDQVIRUPDomR´0DFKDGRS1RSHUtRGRGR segundo templo, o misticismo judaico era preponderantemente apocalíptico. Kenner Roger Cazotto Terra | 199 HVWmRUHODFLRQDGDVjH[SHULrQFLDGHr[WDVHGH$WFRPRPRVWUDUHPRVDVHJXLU3RGHPRVDGLDQWDUTXHRWH[WROXFDQRQmRWHPFDUDFWHUtVWLFDVGHXPDH[SHULrQFLDGHYLDJHPFHOHVWLDOPDVFLWDDOJRTXH(QRTXH encontrou no céu durante sua viagem. 1 Enoque e a chegada ao céu: movimento enoquita e o templo celestial O livro de 1 Enoque é uma obra composta por cinco livros: Livros GRV9LJLODQWHV3DUiERODVGH(QRTXH/LYUR$VWURQ{PLFR/LYURGRV6RQKRV>FRPRDSRFDOLSVHGRV$QLPDLV@ H(StVWRODGH(QRTXH'HQWURGD(StVWRODGH(QRTXHHQFRQtramos o Apocalipse das Semanas(P4XPUDQ foram achados em aramaico pedaços de todos esses livros6±FRPH[ceção ao livro das Parábolas. Em Qumran, do Livro Astronômico, por H[HPSORIRUDPHQFRQWUDGDVTXDWURFRSLDVHPOXJDUHVGLIHUHQWHV8P fato intrigante para os pesquisadores é a presença de onze cópias do ³/LYURGRV*LJDQWHV´44444&ROOLQV DS. 1 Enoque pertence a uma antiga e autônoma vertente do judaísmo GRVHJXQGRWHPSORRMXGDtVPRHQRTXLWD'HVGHQXPDUWLJRGD revista Henoch, Paolo Sacchi apresentou Enoque não somente como um protótipo do gênero apocalíptico, mas também de uma distinta variante GRMXGDtVPR%RFFDFFLQLS(PRPHVPR6DFFKLID]D primeira tentativa de escrever uma história deste movimento enóquico. /LYUR$VWURQ{PLFR4/LYURGRV9LJLODQWHV4FRPELQDomRGR /LYURGRV6RQKRVH/LYURGRV9LJLODQWHV44WHPIUDJPHQWRVGR Livro dos Vigilantes, Livro dos Sonhos, Epistola de Enoque e o Livro de Noé (1 En $LQGDWHPRVRXWURVIUDJPHQWRVGROLYURGRV6RQKRV4HGD(StVWROD GH(QRTXH4 2/LYURGRV*LJDQWHVQmRHVWDULDQDFROHomRHWtRSHSRUTXHWHPDDXGiFLDGHD¿UPDU o arrependimento de Semiaza e dos anjos caídos, que em outro lugar aparecem como FRQGHQDGRVHVHPSHUGmR6XDKHWHURGR[LDOHYRXR/LYURGDV3DUiERODVD¿FDUHP VHXOXJDU3DUDXPDH[SRVLomRGHWDOKDGDGR/LYURGRV*LJDQWHVYHU*DUFtD0DUWtQH]SS 6 200 | Revista Reflexus Segundo ele, o conceito do mal seria sua principal particularidade (SacFKLSS3RVWHULRUPHQWHQRVHXFRPHQWiULRD(QRTXH HP1LFNHOVEXUJFRQ¿UPDDH[LVWrQFLDGHVVHPRYLPHQWRHFRPplementa dizendo que a lei de Moisés não tinha papel de norma universal no enoquismo (Nickelsburg, 2001, passim). A partir dos trabalhos GRV~OWLPRVDQRV%RFFDFFLQLGHIHQGHDH[LVWrQFLDGHVVHPRYLPHQWRH avança, relacionando-o com o essenismo. Esse autor chega dizer que o ³SUySULRWH[WRGH(QRTXHQRVVHXVFDStWXORVPRVWUDHYLGrQFLDV de uma comunidade ou grupo por causa dos termos coletivos: os justos, os escolhidos, os santos, que indicam uma consciência de comunidade, que tem o Mito dos Vigilantes como centro narrativo” (Boccaccini, S - - &ROOLQV DR D¿UPDU TXH ³XP PRYLPHQWR RX FRPXQLGDGH pode também ser apocalíptico se este for formado, em certo grau, por XPDHVSHFt¿FDWUDGLomRDSRFDOtSWLFD´&ROOLQVESSRVVLbilita García Martínez falar de uma “tradição apocalíptica enoquita”, pois tem o livro de 1 Enoque como sua base. Mesmo com diferentes FRPSRVLo}HVH[SOLFD*DUFtD0DUWtQH]RVWH[WRVIRUPDPXPPHVPR movimento, ou estão alicerçados em uma mesma tradição; suas diferenças servem para ampliar, na verdade, a visão de mundo de uma REUDSDUDRXWUD*DUFtD0DUWtQH]S8. Por isso, a contradição HQWUH/LYURGRV9LJLODQWHVH(StVWRODGH(QRTXHFRQFHUQHQWHjRULJHP GR PDO UHÀHWHP XPD PHVPD WUDGLomR LGHROyJLFD FKDPDGD GH HVFRODHQRTXLWD0HVPRFRPDVFRQWUDGLo}HVRVWH[WRVID]HPSDUWH de um mesmo fundo tradicional, ou melhor, de uma mesma escola *DUFtD 0DUWtQH] S &DPLQKDQGR QHVVD SHUVSHFWLYD %RFcaccine parte da hipótese de Groningen para origem de Qumran, e ID] XPD FRQYLQFHQWH DSUHVHQWDomR GD H[LVWrQFLD GH XP PRYLPHQWR escriba sacerdotal conhecido como judaísmo enóquico ou enoquita, TXHWHYHJUDQGHLQÀXrQFLDQRPXQGRMXGDLFRGRVHJXQGRWHPSORHQRV Cristianismos (Boccaccini,1998). (VVD REUD GH SRVVXL GRLV WH[WRV GH *DUFtD 0DUWtQH] Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls e Qumran Origins and Early History: A Groningen Hypothesis), que me foram disponibilizados pelo próprio autor via e-mail. Por isso, utilizarei a ELEOLRJUD¿DGROLYURLPSUHVVRHDQXPHUDomRGRWH[WRHQYLDGR 8 Kenner Roger Cazotto Terra | 201 Esse grupo ou comunidade acreditava que possuir a divina sabeGRULDFRQWLGDQRVWH[WRVGH(QRTXHWRUQDYDVHXVPHPEURVXPDFRmunidade escatológica de escolhidos, que esperavam o julgamento e a FRQVXPDomRGR¿PGRVWHPSRV1DYHUGDGHQmRSRGHPRVVDEHUFRPR se chamavam ou se autodenominavam, mas certamente tinham Enoque FRPR¿JXUDFHQWUDO%RFFDFFLQLSS 6HJXQGR %RFFDFFLQL HVVHV WH[WRV GH (QRTXH IRUDP HVFULWRV SRU membros do sacerdócio de Jerusalém, mas um grupo antisadoquita. Uma espécie de movimento sacerdotal dissidente, ativo em Israel no ¿PGRSHUtRGRSHUVDHLQtFLRGRKHOrQLFR,9VpF&RQWXGR%RFFDFFLQLGHL[DFODURTXHRHQRTXLVPRHUDXPJUXSRGHRSRVLomRHQWUHDHOLWH do templo, e não um simples grupo de separatistas. No entanto, o centro do judaísmo enoquita não era a Torah nem o Templo (Boccaccini, 1998, S2VGRLVJUXSRV]DGRTXLWDHHQRTXLWDLQWHUSUHWDYDP(]HTXLHO GLIHUHQWHPHQWH%RFFDFFLQLSHWLQKDPLGHLDVFRPSOHWDPHQte contrastantes sobre a origem do Mal. Até cerca de 200 a.C, enoquismo e zadoquismo eram duas linhas distintas e paralelas de pensamentos QRMXGDtVPR%RFFDFFLQLS Segundo Martha Himmelfarb, a origem da tradição de ascensão de (QRTXHWH[WRLPSRUWDQWHSDUDRMXGDtVPRHQRTXLWDHVWiQDYLVmR GRWURQRFDUUXDJHPGH(]HTXLHOSRLVPDUFDRLQtFLRGDWHQGrQFLDSDUD dissociar a casa celestial de Deus do templo em Jerusalém (Himmelfarb, S(P(]HTXLHORWHPSORGHL[DGHVHUDSWRSDUDSUHVHUYDUD glória de Deus. As viagens celestiais serviriam para acessar o verdadeiURWHPSOR+LPPHOIDUES$DVFHQVmRGH(QRTXHSUHVHUYDGD no Livro dos Vigilantes serviu de modelo para outros apocalipses de viagem celestial – inclusive para o 2 Enoque – porque apresenta o céu FRPRRWHPSORGH'HXV+LPPHOIDUES O mundo da Mercavah e as línguas de fogo em 1 Enoque 14 0HUFDYDK p XPD H[SUHVVmR KHEUDLFD TXH VLJQL¿FD ³FDUUXDJHP´ Há uma literatura do mundo judaico conhecida como “misticismo da Mercavah”, que tem suas raízes em Ez 1 e se desenvolveu no judaísmo 202 | Revista Reflexus posterior. (VVHJUXSRGHWH[WRVJLUDHPWRUQDGRDFHVVRPtVWLFRDRWURno-carruagem de Deus, acessado por viagens celestiais, como acontece HP(QRTXH A partir do capítulo 12 de 1 Enoque, o visionário está entre os anjos (QRVTXDLVSHFDUDPFRPDV¿OKDVGRVKRPHQV(Q Os mesmos pedem a Enoque que interceda a Deus por seus destinos e GHVHXV¿OKRVPDVVXDLQWHUVHomRQmRIRLDFDWDGDHDFRQGHQDomRVHULD LQHYLWiYHO(Q/RJRDGLDQWHGHPDQHLUDLQHVSHUDGDRWH[WR GL]³PRVWURXPHXPDYLVmRDVVLP´(Q'HSRLV(QRTXHpOHYDGRDRFpX$RFKHJDUOiHOHSDVVDSRUDOJXQVFRPSDUWLPHQWRVH FRQWHPSODDPDMHVWDGHGDUHDOLGDGHFHOHVWLDO+LPPHOIDUES H1LFNHOVEXUJSSHUFHEHUDPTXHQRWH[WRRFpXHGLYLGLGR em três partes, lembrando o templo. Primeiro, Enoque passa pelo pátio: Entrei até chegar-me ao muro construído com pedras de granizo, que é rodeado por uma língua de fogo, e comecei assustar-me. Entrei na língua de fogoHPHDSUR[LPHLDWpDFDVDFRQVWUXtGDFRPSHdras de granizo, cujo muro e pavimento são lápidas pedras de granizo. Seu solo é também de granizo. Seus tetos, claros como estrelas e relâmpagos, onde estão os ígneos querubins; e seus céus são como água. Havia fogo ardente ao redor das paredes e também a porta se DEUDVDYDHPIRJR(Q'LH]0DFKRS Depois ele entra na casa, a qual estava cercada por esses muros com línguas de fogo, e lá cai e tem a visão de outra casa maior: Entrei nesta casa que ardia como fogo e fria como granizo, onde não havia nenhum prazer ou vida, e o medo tomou-me e o terror oprimiu-me. Caí com a face no chão e tive uma visão: eis que havia outra casa, maior que esta, a qual as portas estavam abertas diante de mim, construídas de línguas de fogo – era tudo tão esplêndido, ilustre e grande que não posso contar o tamanho da glória e grandeza. Seu solo era de fogo; por cima tinham relâmpagos e órbitas DVWUDLVVHXWHWRGHIRJRDEUDVDGRU(Q'LH]0DFKR S Kenner Roger Cazotto Terra | 203 Nessa casa o visionário contempla o trono de Deus: Mirei e vi em um alto trono, com um aspecto de esplendor, e (tinha ao seu redor) um circulo, com sol brilhante e voz de querubins. 'HEDL[RGRWURQRVDLDPULRVGHIRJRDEUDVDGRUGHPRGRTXHHUD impossível olhar. A grande Majestade estava sentada sobre o trono, com uma túnica mais brilhante que o sol e mais resplandecente que o granizo, de modo que nenhum dos anjos poderia entrar na casa (1 (Q'LH]0DFKRS Enoque contempla o templo celeste. Ele é glorioso e a linguagem que o descreve é pesada e repetitiva. Os elementos que poderiam ser antagônicos na realidade terrestre lá convivem naturalmente (água, fogo, granizo). Um desses, em destaque na cena, é o fogo. Ele está nas portas, QDVSDUHGHVHGHEDL[RGRWURQRLQFOXVLYHFRPROtQJXDVGHIRJR(VVDV línguas estão sobre a parede da entrada e compunham as portas da casa RQGHHVWDYDRWURQR A imagem de línguas de fogo no ambiente do trono de Deus tamEpPDSDUHFHHPRXWURWH[WRGRMXGDtVPRHQRTXLWDParábolas de Enoque (QQDWHUFHLUDSDUiEROD(P(QRWH[WR diz que Enoque novamente é levado ao céu, onde contempla os anjos andando sobre chamas de fogo. Depois ele é arrebatado até o mais alto dos céus – como acontece com Levi (Testamento de Levi±H visualiza pedras de escarlate e no meio das pedras contempla línguas de fogoYLYDV1RYDPHQWHRIRJRHVWDYDQRDPELHQWHFHOHVWLDO ao lado de anjos. Na literatura enoquita, muito importante para o mundo judaico e FULVWmR7HUUDSS9DQGHUNDPSSDV línguas de fogo serviam para descrever o ambiente do templo celestial e estão nas paredes do palácio e nas portas da entrada da casa, onde Deus estava sentado no seu trono. 204 | Revista Reflexus Imagens apocalípticas do mundo celestial e a experiência de êxtase em At 2,1-4 Para entendermos a presença desses elementos do trono celestial QRWH[WRHQDH[SHULrQFLDUHOLJLRVDGDFRPXQLGDGHFULVWmFRPRDSDUHFH HP$WDVREUDVOLW~UJLFDVHQWUHRV0DQXVFULWRVGH4XPUDQVmR LPSRUWDQWHVSRLVUHÀHWHPDLGHLDFRPXPQR-XGDtVPR$QWLJRGDDVsociação com o mundo angélico (García Martínez, 2000, p. 188), em especial nos Cânticos do Sacrifício Sabático (Shîrôt ôlat ha-shabbat = 46KLULP¶2ORWKDVDEEDW 46KLURW6KDEEa-h), testemunhados em oito FySLDVQDFDYHUQDTXDWUR4XPDQDFDYHUQDRQ]H4 46KLU6KDEE H HP 0DVVDGD )OHWFKHU/RXLV SS “Os Cânticos WrP TXDOLGDGHV H[WiWLFDV H SRGHP HYRFDU H[SHULrQFLDV PtVWLFDVRXVHWHH[SHULrQFLDVYLVLRQiULDVGHPHPEURVGDFRPXQLGDGH´ $&ROOLQVS&RPRDOJXQVSHVTXLVDGRUHVD¿UPDPDOHLWXUD dos Shîrôt proporcionava aos membros da comunidade a participação nos sacrifícios sabáticos dos anjos no templo celeste, substituto do temSORGH-HUXVDOpP*DUFtD0DUWtQH]S&ROOLQVFKHJDDD¿UPDU TXHDH[SHULrQFLDGHOHLWXUDGHVVHVWH[WRVQRFRQWH[WROLW~UJLFRJHUDYD a mesma sensação da leitura dos apocalipses do tipo viagem celestial &ROOLQVDSSRUTXHFRQGX]LDDFRPXQLGDGHjFDPLQKDGD LPDJLQiULD QRV VDQWXiULRV FHOHVWHV H j SDUWLFLSDomR HQWUH RV DQMRV QR FXOWRQRVFpXV&DURO1HZVRPVHJXHRPHVPRUDFLRFtQLRHD¿UPDTXHD UHFLWDomRGRVFkQWLFRVJHUDYDH[SHULrQFLDGHr[WDVHHOHYDYDDFRPXQLGDGHjOLWXUJLDDQJpOLFD1HZVRPS3RULVVR1LFNOHVEXUJ VHJXLQGRHVVHVDXWRUHVD¿UPDTXH Em geral, seu conteúdo não é tecnicamente litúrgico, isto é, os cânticos não se dirigem a divindade. Em vez disso, eles descrevem a angélica adoração e apela para os anjos participarem nessa adoração. Então, podemos vê-los ‘como meio de comunicação com os anjos no ato do louvor, e uma forma de misticismo comuQLWiULR¶ (OHV FULDYDP XPD H[SHULrQFLD SHOD TXDO D FRPXQLGDGH na Terra era levada emocionalmente para a presença dos anjos e, FHUWDPHQWHGLDQWHGRWURQRGDGLYLQGDGH1LFNOHVEXUJS Kenner Roger Cazotto Terra | 205 Os Cânticos mostram a íntima relação das realidades celestial e terrena no imaginário do culto no mundo judaico-cristão. Além dessa função de associação, as realidades celestiais são reveladas para servirem de modelo para os cultos humanos, como se fosse possível contemplar o mundo da casa de Deus, servindo-se dele como paradigma da adoração na comunidade. Assim, os sacerdotes angélicos são modelos e legitimadores transcendentes da função sacerdotal da comunidade. (P$WRVHQFRQWUDPRVDSUHVHQoDGHHOHPHQWRVFHOHVWLDLVQR FXOWRFULVWmR(VVHWH[WRFRPRYLPRVSRGHVHUPDLVDQWLJRGRTXHVXD UHGDomROXFDQDHUHÀHWHDRODGRGHDOJXQVWH[WRVSDXOLQRVDLPDJHP GHXP&ULVWLDQLVPRFKHLRGHH[SHULrQFLDVGHWUDQVHUHOLJLRVRHr[WDVH 1D OLWHUDWXUD DSRFDOtSWLFD HVVD H[SHULrQFLD UHOLJLRVD HVWi YLQFXODGD D elementos que fazem parte da realidade celestial (Mercavah). Línguas de fogo é um dos elementos que compõem esse quadro, como citamos, porque estão nas paredes e portas do trono celestial na visão de Enoque – e o próprio fogo, que desde Ezequiel, como também na literatura de 4XPUDQHVWiYLQFXODGRjMercavah. Segundo Paulo Nogueira, a própria glossolalia fazia parte da realidade do culto celestial. Ele chega a essa conclusão com a leitura de 4 IUDJ 1RJXHLUD S 1HVVH WH[WR QD OLQKD DSDUHFHDH[SUHVVmRlíngua do pó em contraste com língua de conhecimento, da linha 11, que pode ser referência a algum idioma angelical. Nickelsburg percebe que este contraste claro entre o conhecimento do ser humano com o conhecimento dos seres celestes está no âmbito do WULEXWRGHORXYRUD'HXV1LFNHOVEXUJS2VDQMRVWHULDP XPDHVSpFLHGHOtQJXDH[FHSFLRQDOGHORXYRUQDWUDGLomRMXGDLFRFULVWm – como Nogueira indicou usando o Apocalipse de Paulo (Nogueira, S (P$WRVHVWDPRVGLDQWHGHXPWH[WRTXHUHYHODXPDFRPXQLGDGHFULVWmLQÀXHQFLDGDSRULPDJHQVDSRFDOtSWLFDVDFHVVDGDVSRUYLsionários em viagens celestiais vinculadas ao misticismo da Mercavah. 2WH[WRHPVLQmRQDUUDXPDviagem celestial, mas usa o imaginário do WHPSORFHOHVWLDOH[SRVWRSRUHVVHVXEJrQHURPXLWRFRPXPQDOLWHUDWXUD apocalíptica. As línguas de fogo e a própria glossolalia faziam parte da UHDOLGDGHFHOHVWHPDVjOX]GH$WHVWDYDPSUHVHQWHVQDIpGDVFRPXQLGDGHVFULVWmVHPFXOWRVFKHLRVGHr[WDVH 206 | Revista Reflexus $WRV GiQRV SLVWDV VREUH FRPR R PXQGR DSRFDOtSWLFR IRL DSURSULDGRHUHVLJQL¿FDGRQDVSUiWLFDVF~OWLFDVGRV&ULVWLDQLVPRV Originário (s). Talvez, como fez Paulo, Lucas domesticou propositalPHQWHHPQtYHOUHGDFLRQDOHVVDH[SHULrQFLDFRPRREMHWLYRGHFULDU fronteiras. Acredito, e isso precisa ser averiguado, que na pluralidade de Cristianismos das origens houvesse alguns grupos mais eufóricos, que VXSHUYDORUL]DYDPDVH[SHULrQFLDVH[WiWLFDVHRPXQGRDSRFDOtSWLFR( mais, é possível, como acontecia com os Cânticos do Sacrifício Sabático, que suas tradições fossem usadas para incentivo e legitimação de H[SHULrQFLDVFROHWLYDV Conclusão 5HD¿UPRDFRQFOXVmRGH&5RZODQGGHTXHpLPSRVVtYHOHQWHQdermos as origens dos Cristianismos das Origens sem tratarmos com FXLGDGR D DSRFDOtSWLFD MXGDLFD &RP UHVSHLWR D$WRV FUHLR VHU HVVDD¿UPDomRLQGLVSHQViYHOSRLVDQDUUDWLYDUHYHODDOJXQVLQGtFLRVGD presença de temas do imaginário apocalíptico das viagens celestiais. E PDLVDH[SHULrQFLDUHOLJLRVDUHÀHWLGDQDQDUUDWLYDUHYHODXP&ULVWLDQLVPRGHOLWXUJLDQmRFRQWURODGDFRPRDOJXQVH[HJHWDVSLQWDUDPGXUDQWH ERPWHPSRVREUHDRULJHPFULVWmPDVGHXPDFRPXQLGDGHFRPH[SHULrQFLDVH[WiWLFDVHTXHFRPSDUWLOKDYDDVUHDOLGDGHVFHOHVWLDLVWHVWHPXnhadas pela literatura apocalíptica. Depois de muito tempo após sua produção e circulação, o mesPRWH[WRVHUYLULDGXUDQWHRVpFXOR;;SDUDRXWURVPRYLPHQWRVFULVtãos carismáticos, tais como o Pentecostalismo Clássico e a Renovação &DULVPiWLFD &DWyOLFD ,VVR PRVWUD D GLQkPLFD GD UHFHSomR GRV WH[WRV religiosos e, como temas antiguíssimos, como os encontrados na literatura mística do Judaísmo do segundo templo, permanecem vivos na cultura. Kenner Roger Cazotto Terra | 207 5HIHUrQFLDV%LEOLRJUi¿FDV BAKHITIN, M. 4XHVW}HV GH HVWpWLFD H OLWHUDWXUD D WHRULD GR romance. São Paulo: HUCITEC, 1988. BARRERA, J. Trebolle. Os textos de Qumran e o Novo Testamento. In: García Martínez (org.). Os homens de Qumran. 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