Baixar este arquivo PDF

Transcrição

Baixar este arquivo PDF
|
189
AS ORIGENS CRISTÃS E O
MISTICISMO APOCALÍPTICO.
UMA LEITURA DE ATOS 2,1-4
Kenner Roger Cazotto Terra1
RESUMO
(VWH DUWLJR DQDOLVD DOJXPDV LPDJHQV SUHVHQWHV HP$WRV DSUR[LPDQGRDVjVLPDJHQVGDDSRFDOtSWLFDMXGDLFDHPHVSHFLDOGRV
WH[WRVSURGX]LGRVSHORPRYLPHQWRRXMXGDtVPRHQRTXLWD$SURSRVta é apresentar elementos da tradição judaica que serviram para desFULomRHOHJLWLPDomRGRVFXOWRVH[WiWLFRVGDVSULPHLUDVFRPXQLGDGHV
cristãs.
PALAVRAS-CHAVE
/tQJXDVGHIRJRr[WDVHUHOLJLRVR&ULVWLDQLVPRVRULJLQiULRVHDSRcalíptica.
ABSTRACT
7KLVSDSHUDQDO\]HVVRPHLPDJHVRI$FWVDSSURDFKLQJWKHP
WRWKHLPDJHVRIWKH-HZLVKDSRFDO\SWLFHVSHFLDOO\WRWKRVHWH[WVWKDW
belong to Judaism represented by Enoch tradition. The proposal is to
SUHVHQWHOHPHQWVRI-HZLVKWUDGLWLRQWKDWZHUHXVHGWRGHVFULEHDQGOHgitimize the ecstatic cults of the early Christian communities.
1
Kenner Roger Cazotto Terra é mestre em Ciências da Religião (UMESP), doutorando em Ciência da Religião (UMESP), membro do Grupo Oracula de Pesquisa
em Apocalíptica (UMESP) e da ABIB (Associação Brasileira de Interpretação Bíblica).
190
|
Revista Reflexus
KEYWORDS
Fire tongues, religious ecstasy, early Christianities, and apocalyptic.
Introdução
“O Cristianismo Antigo nasceu como um movimento apocalíptico
QR-XGDtVPR´5RZODQGS(VVDD¿UPDomRUHSURGX]UHVXPLdamente os resultados de anos de pesquisas a respeito do Cristianismo,
ou melhor, dos Cristianismos das origens. É consenso, como as atuais pesquisas reconhecem, que o imaginário religioso da apocalíptica
judaica serviu símbolos, temas, motivos literários e códigos para váULDVSUiWLFDVHWH[WRVGRPRYLPHQWRLQDXJXUDGRSRU-HVXVXPSURIHWD
apocalíptico que anunciou a chegada do reino escatológico de Deus no
período do segundo templo.
$¿UPDU TXH R &ULVWLDQLVPR LQFLSLHQWH p XP ³PRYLPHQWR DSRFDOtSWLFR MXGDLFR´ SULPHLUR SUHVVXS}HVH D H[LVWrQFLD GH YDULDGRV JUXpos dentro do plural judaísmo, entre os quais aquele é um deles. Como
WDPEpPpHQWHQGHUTXHDVRULJHQVFULVWmVHVWmRLQWLPDPHQWHOLJDGDVj
DSRFDOtSWLFDMXGDLFD&ROOLQVSDTXDOHPFRQVWDQWHFRQWDWRFRPFXOWXUDVEDELO{QLFDVSHUVDVHKHOrQLFDVSURGX]LXWH[WRVTXH
UHÀHWHPXPDLQWHUSUHWDomRGDYLGDjOX]GHH[SHULrQFLDVUHOLJLRVDVGH
r[WDVHTXHSHUPLWLDPRDFHVVRjVUHDOLGDGHVFHOHVWLDLV5RZODQG
+LPPHOIDUEHFULDYDPDHVSHUDQoDVGDLPLQHQWHLQWHUYHQomRGLYLQD&ROOLQVSS
,QVHULUDRULJHPFULVWmQRMXGDtVPRDSRFDOtSWLFRpD¿UPDUDFRQWLnuidade, mesmo que criativa e intercambiável, entre o mundo religioso
do judaísmo e o movimento cristão dos primeiros séculos. Desta forma,
SRGHPRV HQWHQGHU SRU H[HPSOR D D¿UPDomR GH 5RZODQG ³HVVD p D
QRVVDD¿UPDomRTXHXPDERDFRPSUHHQVmRGD7HRORJLDGR1RYR7HVtamento e Cristianismo das origens é incompleta se o material místico
HDSRFDOtSWLFRQmRIRUHPWUDWDGRVVHULDPHQWH´5RZODQGS
Neste sentido, o movimento cristão, ou os Cristianismos, testemunhado
QD OLWHUDWXUD QHRWHVWDPHQWiULD GHYH PXLWR j DSRFDOtSWLFD HP HVSHFLDO
em seu âmbito de “perspectiva religiosa”, ou o que Paul Hanson chama
de escatologia apocalíptica. Para esse pesquisador, que divide a apoca-
Kenner Roger Cazotto Terra
|
191
líptica judaica em três âmbitos (gênero, movimento social e perspectiva
religiosa)2, a escatologia apocalíptica é como uma forma de ver os plaQRVGLYLQRVHPUHODomRjVUHDOLGDGHVWHUUHQDVQDTXDORPXQGRHQFRQtra-se na iminência da transformação para o novo eon (VGUDV
o reino de Deus, em detrimento do atual, que está corrompido e cheios
GHGHP{QLRV-XELOHXV+DQVRQSS
Com os manuscritos encontrados em Qumran, desde a década de
quarenta do século passado, as pesquisas sobre a relação do movimento
cristão com o judaísmo apocalíptico – os Manuscritos do Mar Morto paUHFHPUHÀHWLUXPDFRPXQLGDGHMXGDLFDFRPFDUDFWHUtVWLFDVDSRFDOtSWLFDV*DUFtD0DUWtQH]S±IRUDPPDLVIUXWtIHUDVSULPHLUDPHQte porque se encontraram temas comuns ao Cristianismo em Qumran,
revelando inquestionáveis relações de dependência e apropriação imaJLQiULD&KDUOHVZRUWKS[YLLLHFRQVHTXHQWHPHQWHUHYHODUDP
DPDWUL]MXGDLFDGHRQGHVXUJHR&ULVWLDQLVPR%DUUHUDS
(VVHFUX]DPHQWRFXOWXUDOWHVWHPXQKDGRQRVWH[WRV±GHPRQVWUDQGR FRQWLQXLGDGH H GHVFRQWLQXLGDGH DSUHHQVmR H UH VLJQL¿FDomR GH
conceitos e imagens religiosas –, é possível ou quase necessário, por
H[HPSORQDGH¿QLomRGHFXOWXUDH[SRVWDSHODHVFRODUXVVDGHVHPLyWLFD
da cultura. A cultura é interpretada por seus teóricos como “fenômeno
LQWHUDWLYRVHPH[LVWrQFLDLVRODGDHFRPXPFDPSRFRQFHLWXDOXQL¿FDGR
fundado no processamento, na troca e na armazenagem de informao}HV´0DFKDGRS2SUySULRFRQFHLWROLQJXtVWLFRVGHdiscurso acaba levando-nos ao mesmo pressuposto, pois percebe que ele é
VHPSUHYD]DGRSRURXWURVGLVFXUVRV)LRULQSFRPRWDPEpP
no nível dialógico da linguagem (Bakhtin, 1988).
Partindo desse ponto de vista metodológico, analisaremos um
WH[WRQHRWHVWDPHQWiULRTXHHVTXHPDWL]DRXFRQVWUyLXPGLVFXUVRWH-
3DUDRXWUDVREUDVTXHWUDEDOKDPHVVHVFRQFHLWRVYHU'LWRPPDVRSS
&ROOLQV%RHUSS--&ROOLQVIH]DGLVWLQomRHQWUHDSRFDlipsismo como visão de mundo e apocalipse como forma literária (COLLINS, 2010,
SS3DUDXPUHVXPRGDGLVFXVVmR&ROOLQVSS3DUDDVRULJHQVH
QDWXUH]DGDDSRFDOtSWLFDMXGDLFDYHU+DQVRQ3DUDGH¿QLomRGRWHUPRDSRFDlipse, mas em uma perspective crítica aos trabalhos de J. J. Collins e P. Hanson, ver:
*UDEEH+DDNSS
2
192
|
Revista Reflexus
ológico sobre a origem da igreja, a saber, o livro bíblico Atos dos
Apóstolos. Logo no segundo capítulo, ele apresenta de maneira esTXHPDWL]DGD D FRQKHFLGD QDUUDWLYD GH$W ³D GHVFLGD GR (Vpírito”, na qual o autor apresenta uma proposta de origem da igreja.
9DOHOHPEUDUTXHRUHGDWRUQmRSRGHVHUDQDOLVDGRjOX]GRVSUHVVXSRVWRV PRGHUQRV GD KLVWRULRJUD¿D GH SHUVSHFWLYDV SRVLWLYLVWDV SRLV
cria, como qualquer historiador, por interesses redacionais claros, a
história das origens cristãs. O interessante está na presença da linguaJHPH[WiWLFDGRWH[WRHFRPRHVVDH[SHULrQFLDpGHVFULWDODGHDGDSRU
temas e imagens já presentes na literatura apocalíptica, em especial
a enoquita. Pelo menos, três temas saltam os olhos: línguas (como)
de fogo, som de ventos e glossolalia. Além da nítida relação com as
teofanias veterotestamentárias, esses temas também estão em diálogo
com os apocalipses de tipo viagem celestial, nos quais encontramos
visionários que são levados até o trono de Deus, onde contemplam o
templo celestial.
Para percebermos essa relação entre as imagens de Atos e a liWHUDWXUD TXH D DQWHFHGH SULPHLUDPHQWH IDUVHi XPD DQiOLVH H[HJpWLFDGRWH[WRGHVWDFDQGRVHXVWHPDVHDH[SHULrQFLDGHr[WDVHUHOLJLRVR
UHÀHWLGD HP VXD OLQJXDJHP 'HSRLV HQVDLDUVHi DOJXPDV FRQFOXV}HV
VREUHDUHODomRGHVVHWH[WRFRPDSRVVtYHOFRPXQLGDGHFULVWmTXHHOH
representa.
Domesticação redacional do êxtase em Atos 2, 1-13
$WRVVHJXHXPDIRUPDOLWHUiULDGRPLQDQWHQDSULPHLUDPHtade da obra lucana, como também no livro Apócrifo de Atos, que pode
ser chamada de “narrativa de propaganda religiosa” (Pervo; Attridge,
S1DSULPHLUDSDUWHGHVVDPROGXUDDDQiOLVHOLWHUiULDSRGHUHYHODUFRPFHUWRJUDXGHFHUWH]DGRLVQtWLGRVEORFRV
&RPREHPH[SOLFRX3HGUR3DXOR)XQDULH*OD\GVRQ-RVpGD6LOYDRSDVVDGRpFULDGRSHORKLVWRULDGRUHRUJDQL]DGRHPWH[WR)XQDUL6LOYDSS2SUySULR
conceito de enredo nos ajuda na “desmitologização” da ideia de neutralidade e objeWLYLGDGHQDVXSRVWDGHVFREHUWDHDSUHVHQWDomRGRSDVVDGR0DUJXHUDWS
Kenner Roger Cazotto Terra
|
193
r[WDVH H JORVVRODOLD H DQ~QFLR jV QDo}HV 2V YHUVRV VmR
emoldurados sob a ideia de “todos”: “todos reunidos” (v.1) e “todos
FKHLRV´Y3HUYR$WWULGJHS&RPRGL]3DXOR1RJXHLUD
Inicialmente nossa abordagem do fenômeno aponta para o fato de
TXH/XFDVµPDVFDUD¶DJORVVRODOLDGHVORFDQGRDGHFRQWH[WR(P$W
HOHWUDQVIRUPDRIDODUHPµRXWUDVOtQJXDV¶GRr[WDVHFXOWXDOHP
início da pregação do Evangelho. Isso cabe muito bem no propósito
teológico e literário de Lucas. O fato de que judeus e prosélitos
ouvissem ‘em sua própria língua – ou seja, na língua da diáspora
±DSUHJDomRGRVGLVFtSXORVVHUYLULDGHDEHUWXUDH[HPSODUGDHYDQgelização do Império desde Jerusalém até Roma. Essa reformulação
redacional do fenômeno é realizada pela mudança sutil de cenário:
se antes os discípulos estavam reunidos em ‘um mesmo lugar’, o
que indicaria um lugar central de Jerusalém no qual se convertiam
HHUDPEDWL]DGRVPLOSHVVRDV2WH[WRGRVYHUVRVSRGHULDWHU
FDELGRSHUIHLWDPHQWHHPXPFRQWH[WRGHFXOWRVGDVSULPHLUDVFRPXQLGDGHV1RJXHLUDS
$ UHIRUPXODomR UHGDFLRQDO GRPHVWLFD R IHQ{PHQR GH r[WDVH H
OtQJXDVFRPDX[tOLRGDVWUDGLo}HVMXGDLFDV:LWKHULQJWRQ,,,S
$IHVWDGHSHQWHFRVWHVpRQRPHGDGRQR1RYR7HVWDPHQWRSDUD
a celebração da Festa das Semanas, e era realizada no quinquagésimo
GLDGHSRLVGD3iVFRD:LWKHULQJWRQ,,,S1ROLYURGH-XELleus (Jub. 6), importante obra judaica do Séc. II a.C (Witherington III,
SSHQFRQWUDPRVDFRQH[mRGHVVDIHVWDFRPDUHQRYDomR
da aliança de Noé e de Moisés. Fílon, ao falar da entrega da Lei, diz: “e
uma voz soou do fogo que descia do céu, uma voz muito maravilhosa e
terrível. A chama foi dotada de linguagem familiar para seus ouvintes”
(Decalapud<RQJHS1DWUDGLomRUDEtQLFDb. Shab.
88b), século II d.C, com origens mais antigas, encontramos a crença na
inicial proclamação da Lei a setenta nações (Witherington III, 1998, p.
7DOYH]/XFDVWHQKDGRPHVWLFDGRRIHQ{PHQRGHr[WDVHXVDQGRD
WUDGLomRGDSURFODPDomRGD/HLjVQDo}HVTXHHP$WRVVmRRVMXGHXV
GD GLiVSRUD RFXOWDQGR R FDUiWHU H[WiWLFR GD H[SHULrQFLD GD QDUUDWLYD
mais antiga.
194
|
Revista Reflexus
,VRODQGR$WWRUQDVHSRVVtYHODSUR[LPiORDRXWURVWH[WRVTXH
WHVWHPXQKDP DV H[SHULrQFLDV GH glossolalia e profecia da comunidade
cristã. Na lista dos carismas de 1 Co 12,1-11, o fenômeno de İ&IJȑȡĮȚȢ
ȖȜȫııĮȚȢ (outras línguas) está entre os demais dons disponibilizados
SHOR(VStULWR(QTXDQWRHP$WRVHVVDPHVPDH[SHULrQFLDpVHPSUHSRVVtYHOSRULQWHUPpGLRGRVDSyVWRORVQDFRPXQLGDGHFULVWm
HP&RULQWRQmRKiLQWHUPHGLiULRV(VVDDSDUHQWHOLEHUGDGHGHH[SUHVVmR
e acesso ao fenômeno, não pode ofuscar o nítido desejo de Paulo em
GRPHVWLFiOR HVSHFLDOPHQWH QRV FXOWRV S~EOLFRV &R SRLV
a maior preocupação era a oikodoméHGL¿FDomR&RSRVVtYHO
através da inteligibilidade da mensagem. Por isso, ele fala da superioriGDGHGDSURIHFLDRXDQHFHVVLGDGHGHLQWHUSUHWDomR&R³
aquele que fala em línguas não fala a homens, mas a Deus; ninguém enWHQGHPDVDTXHOHTXHSURIHWL]DIDODDRVKRPHQV´³FDVRQmR
KDMDLQWpUSUHWHDJXDUGHPHPVLOrQFLR´8PDYH]TXHDSUySULD
interpretação também é um dom (1 Co 12, 10), a própria inteligibilidade
é disponibilizada carismaticamente pelo Espírito.
$SUR[LPDQGRHVVDVWHVWHPXQKDVWH[WXDLVSRGHPRVFRORFiODVHP
um mesmo locus GHH[SHULrQFLDVFULVWmVSULPLWLYDVGHr[WDVHUHOLJLRVR
7DQWR$WRV FRPR &R UHÀHWHP R IHQ{PHQR GD glossolalia
FRPRH[SUHVVmRQmRFRPSUHHQVtYHOjOLQJXDJHPGDVQDo}HVFRQKHFLGDV SRLV GL] UHVSHLWR j GLPHQVmR QmR UDFLRQDO GDV H[SHULrQFLDV FRP
R(VStULWRSRUPDLVTXHSXGHVVHVHUUHJXODGD&R2TXH
LVVRVLJQL¿FDSDUDDKLVWyULDGDVFRPXQLGDGHVFULVWmVRULJLQiULDV"(VVD
pergunta poderá ser respondida com o destaque e análise de alguns inGtFLRVGHH[SHULrQFLDVUHOLJLRVDVQRWH[WR
At 2,1-4: línguas de fogo, som de vento e êxtase religioso
2WH[WRQDUUDDH[SHULrQFLDDVVLP
1. ȀĮiV e*ȞIJ-~ ıȣȝʌȜȘȡȠX~ıșĮȚIJhVȞh&ȝȑȡĮȞIJh~ȢʌİȞIJȘțȠıIJh~Ȣ
਷ıĮȞʌȐȞIJİȢo&ȝȠX~İ*ʌiVIJoVĮu*IJȩ
ȀĮiV e*ȖȑȞİIJȠ a!ijȞȦ e*ț IJȠX~ ȠX*ȡĮȞȠX~ ਷ȤȠȢ w@ıʌİȡ
ijİȡȠȝȑȞȘȢ ʌȞȠh~Ȣ ȕȚĮȓĮȢ țĮiV e*ʌȜȒȡȦıİȞ o@ȜȠȞ IJoVȞ ȠੇțȠȞ Ƞ੤
਷ıĮȞțĮșȒȝİȞȠȚ
Kenner Roger Cazotto Terra
|
195
țĮ੿ ੭ijșȘıĮȞ Į੝IJȠ૙Ȣ įȚĮȝİȡȚȗȩȝİȞĮȚ ȖȜ૵ııĮȚ ੪ıİ੿
ʌȣȡઁȢțĮ੿ਥțȐșȚıİȞਥij¶ਪȞĮਪțĮıIJȠȞĮ੝IJ૵Ȟ
țĮ੿ ਥʌȜȒıșȘıĮȞ ʌȐȞIJİȢ ʌȞİȪȝĮIJȠȢ ਖȖȓȠȣ țĮ੿
ਵȡȟĮȞIJȠ ȜĮȜİ૙Ȟ ਦIJȑȡĮȚȢ ȖȜȫııĮȚȢ țĮșઅȢ IJઁ ʌȞİ૨ȝĮ ਥįȓįȠȣ
ਕʌȠijșȑȖȖİıșĮȚĮ੝IJȠ૙Ȣ
1. E se completando o dia de Pentecostes estavam todos
juntos sobre o mesmo lugar.
2. E ocorreu inesperadamente do céu um ruído parecido
com um violento vento desencadeado e encheu toda casa onde
estavam assentados
HIRUDPYLVWDVSRUHOHVOtQJXDVGLYLGLGDVHPSDUWHOtQguas como de fogo, e pousou-se sobre cada um deles,
HWRGRVIRUDPSUHHQFKLGRVGR(VStULWR6DQWRHFRPHoDUDPIDODUGLIHUHQWHVRXWUDVOtQJXDVGHDFRUGRFRPRRHVStULWR
capacitava-lhes falar (tradução pessoal).
2 WH[WR GH$W FRPHoD GL]HQGR TXH QR GLD GH 3HQWHFRVWHV
cinquenta dias depois da páscoa, os discípulos estavam reunidos. “De
repente” (ਙijȞȦ), surgiu do céu um som, ou eco (਷ȤȠȢ), como de um
desencadeado vento violento e encheu ou preencheu toda a casa onde
estavam assentados (2,1-2). Lucas não fala de vento real, mas do som
parecido com um vento forte, um barulho. A imagem do vento lembra
DVWHRIDQLDVGDWUDGLomRMXGDLFD([5V,V
(VG3HUYR$WWULGJHS2LQWHUHVVDQWHpRIDWRGHR
VRPHQFKHUDFDVD,VVROHPEUDDPHVPDH[SUHVVmRGHr[WDVHGRYLVLRnário João do Apocalipse: “virei-me para ‘ver’ a ‘voz’” (ȕȜȑʌİȚȞ IJ੽Ȟ
ijȦȞ੽Ȟ$S³9HUDYR]´H³VRPTXHHQFKH´VmRH[SUHVV}HVGH
WUDQVHRXr[WDVHUHOLJLRVR
'DH[SHULrQFLDDXGLWLYDRXPHOKRUVHPLDXGLWLYDRVRP³HQche” o lugar), são vistas por eles línguas como de fogo. Estas são
GLYLGLGDVVREUHFDGDXPGHOHV2WH[WRFRQWLQXDGL]HQGRTXH
foram preenchidos do Espírito Santo e por isso começaram a falar
em “outras línguas”, conforme o mesmo Espírito dava-lhes capaciGDGHSDUDIDODUYRXGHDFRUGRFRPR(OHFRQFHGLD6HJXQGR)Hlicitas Goodman, a glossolalia não é um comportamento natural diá-
196
|
Revista Reflexus
ULRPDVXPHVWDGRDOWHUDGRGDFRQVFLrQFLD*RRGPDQS
$TXLFKHJDPRVDRDXJHGDH[SHULrQFLDH[WiWLFDGDFHQD'HSRLVGH
FRPSOHWDGRVSUHHQFKLGRVGR(VStULWRHOHVFRPHoDPDIDODUOtQJXDV
FRQFHGLGDV SHOR TXH GHVFHX GR FpX 2 WH[WR PRVWUD D ³SRVVHVVmR´
SDUDDH[SUHVVmRGDJORVVRODOLD³IRUDPSUHHQFKLGRVGR(VStULWR
6DQWRHFRPHoDUDPIDODUGLIHUHQWHVRXWUDVOtQJXDVGHDFRUGRFRPRR
(VStULWRFDSDFLWDYDOKHVIDODU´Y8PDGDVH[SUHVV}HVGRr[WDVH
QDUHOLJLRVLGDGHDQWLJDVHJXQGR,/HZLVpVHUWRPDGRSHODGLYLQGDGH/HZLVS
O quarto verso usa o verbo ਕʌȠijșȑȖȖȠȝĮȚ para se referir ao falar
FRPLQÀXrQFLDGR(VStULWR(VVDH[SUHVVmRVHUHIHUHDRIDODUSURIpWLFRRXLQVSLUDGRHPr[WDVH(SRGHVHUWUDGX]LGDFRPR³IDODUFRP
IRUoD´³FODUR´³FRPrQIDVH´.LWWHOS1D6HSWXDJLQWD
o verbo é usado no particípio para traduzir a palavra “profeta” em
0OFRPRWDPEpPDDomRGHSURIHWL]DUGH&U(P$WRV
é usada para caracterizar o discurso de Pedro depois do pentecostes
HRGH3DXORGLDQWHGH$JULSDTXHSRGHPVHUYLVWRV
tanto como um falar comum, como também uma fala inspirada ou
FRQGX]LGDSRUXPDH[SHULrQFLDGHr[WDVHRXWUDQVHHVSHFLDOPHQWH
HP$W
3HUFHEHPRVQRWH[WRDOJXPDVLPDJHQVLPSRUWDQWHVVRPGHYHQWR
OtQJXDVFRPRGHIRJRODGHDGDVSRUH[SUHVVmRGHr[WDVHHJORVVRODOLDSHOD
possessão do Espírito. Esses temas costumam a parecer na apocalíptica
Judaica, especialmente nos apocalipses de tipo viagem celestial.
Os Textos de Viagem Celestial
Na apocalíptica judaica, além do tema da escatologia, que é imSRUWDQWHSDUDHQWHQGHUHVVHPXQGROLWHUiULR&ROOLQVSHQcontramos a preocupação com as realidades celestiais. Collins chega
DIDODUHPXPWLSRHVSHFt¿FRGHDSRFDOLSVHviagem celestial, que é
PDUFDGRSRUHVSHFXODo}HVFRVPROyJLFDV&ROOLQVS1HVWHVWH[WRVRYLVLRQiULRpOHYDGRDWpUHJL}HVFHOHVWLDLVHFRQWHPSODD
organização cósmica, as funções dos anjos e o templo celestial, com a
Mercavah$WUDYpVGHVVDVH[SHULrQFLDVRYLVLRQiULRDOpPGHWHUDFHV-
Kenner Roger Cazotto Terra
|
197
so a uma sabedoria superior, passava por transformações angelomor¿FDV(Q.
$OpPGDWUDGLomRMXGDLFDQR0XQGR$QWLJRHPJHUDODH[SHULrQFLD[DPkQLFDGHr[WDVHHYLDMDUSDUDRFpXHUDFRPXP$GHOD&ROOLQV
S7DERU7DERUS. Para Tabor, o tema da
jornada celestial pode ser dividido em quatro tipos básicos ou categorias (Tabor, 1999). O primeiro, “ascensão como uma invasão do céu”, é
um tipo de ascensão celestial com ideia de invasão do reino celestial de
Deus. No segundo tipo, “Ascensão para receber revelação”, a ascensão
HQYROYHXPDYLDJHPGHLGDHYROWDGDWHUUDDRFpXRXGDH[SHULrQFLD
YLVLRQiULDGDFRUWHFHOHVWLDOGDTXDODOJXpPUHWRUQDjH[SHULrQFLDQRUPDOVXELGDGHVFLGD1HVWHWLSRGHYLDJHPFHOHVWLDOQmRKiDLGHLDGH
invasão, como no anterior. A terra é o lugar da morada dos homens, mas
o céu pode ser visitado. Esta compreensão de ascensão domina o Livro
dos Vigilantes(Q$¿JXUDOHQGiULDGH(QRTXHpOHYDGDSHORV
reinos celestes e descobre segredos cósmicos, aparecendo até mesmo
diante do sublime trono de Deus. A versão grega do Testamento de Levi
(Séc. II a.C.) utiliza o tema da ascensão de um modo semelhante, como
faz a Vida de Adão, em latim (século I d.C.) e o Apocalipse de Abraão.
(P FDGD XP GHVWHV WH[WRV D DVFHQVmR IXQFLRQD FRPR XP YHtFXOR GH
revelação e oferece autoridade divina para a sabedoria cósmica e escatológica, legitimando ideias de diferentes partidos.
No terceiro, “ascensão para a vida celeste imortal”, um mortal
obtém a imortalidade e vai morar entre os seres celestiais. Isso pode
acontecer de duas maneiras: (1) um personagem pode receber uma vida
divina imortal, ou (2) a alma, presa a mortalidade, pode receber a vida
divina imortal.
O quarto tipo, “ascensão como um antegozo do mundo divino”,
envolve uma jornada ou “visita” ao céu que funciona como antecipação
$QJHORPRU¿VPRpXPFRQFHLWRXWLOL]DGRSRUDOJXQVSHVTXLVDGRUHVGRMXGDtVPRGR
segundo templo para designar a transformação ocorrida por personagens em anjos ou seres divinos, por meio de divinação derivada do próprio Deus. Na tradição
judaica encontramos personagens veterotestamenários como Moisés, Melquisedec,
)LOKRGR+RPHP(QRTXHHWFFRPFDUDFWHUtVWLFDVDQJHORPyU¿FDV3DUDXPPDLRU
DSURIXQGDPHQWRGRDVVXQWRYHU*LHVFKHQSS
198
|
Revista Reflexus
GDDVFHQVmR¿QDOjYLGDFHOHVWH(PERUDUHODFLRQDGRjVHJXQGDFDWHgoria – a ascensão para receber revelação –, esta é fundamentalmente
GLIHUHQWH(P(QRTXHIDODVHFRPRRYLVLRQiULRIRLOHYDGRDRFpX
HVXDH[SHULrQFLDGHWUDQVIRUPDomRVHQGROKHGLWRTXHGHSRLV
ascenderia permanentemente ao céu e receberia glória e vida imortal
GLYLQDFDS(QRTXHWDPEpPUHÀHWHXPSDGUmRVHPHOKDQWH
A jornada de Enoque pelos sete céus, na qual permaneceu 60 dias (2
(QRTXHpVHJXLGDSRUXPUHWRUQRDWHUUD$H[SHULrQFLDRWUDQVIRUPDHIXQFLRQDFRPRDQWHFLSDomRGHVXDWUDQVODomR¿QDOSDUDRFpX
+iWDPEpPXPWH[WRLPSRUWDQWHHQWUHRV3DSLURV0iJLFRV*UHJRV
FKDPDGRGH³/LWXUJLDGH0LWUD´3*0QRTXDOKiXPLQLFLDGR
que deseja ascender ao céu para fazer a jornada com todos seus perigos e poWHQFLDOLGDGHV+iWH[WRVMXGDLFRVWDLVFRPRHekhalot Rabbati, que têm fortes
paralelos com tais materiais mágicos, mostrando que estamos lidando aqui
FRPXPIHQ{PHQRFRPXPQR0XQGR$QWLJR'DYLODSS
$RTXHSDUHFHDVH[SHULrQFLDVPtVWLFDVGHYLDJHQVDWpDVUHJL}HV
FHOHVWLDLVHRDFHVVRjVUHYHODo}HVHVSHFLDOPHQWHQRPLVWLFLVPRMXGDLFR HVWDYDP LQWLPDPHQWH OLJDGDV DR r[WDVH ou ao estado alterado de
FRQVFLrQFLD0DOLQDSS
3RUH[HPSORQR¿QDOGDSULPHLUDYLVmRDUHVSHLWRGDRULJHPGR
PDOQRPXQGR(VGUDVGL]³DFRUGHLFRPRFRUSRWUHPHQGRGHPHGRH
a alma tão fadigada de desmaiar; mas aquele anjo que veio e tinha falaGRFRPLJRPHVXVWHQWRXIRUWDOHFHQGRPHPHFRORFRXGHSp´
Enoque, no Livros das Parábolas de Enoque, depois de ver o Principal
GH'LDVHVWiHPr[WDVH³FDtGHURVWRQRFKmRHWRGDPLQKDFDUQHVH
dissolveu e meu espírito se transtornou. Gritei em alta voz com grande
IRUoDHXEHQGLVVHHORJLHLHH[DOWHL´(Q
No misticismo apocalíptico, entre outras coisas, o visionário vai
até o palácio divino e contempla coisas que lembram as imagens que
³DGLVWLQomRVLPLODULGDGHHQWUHDSRFDOtSWLFDHPtVWLFDMXGDLFDGL]UHVSHLWRDgêneros literáriosGLIHUHQWHVIDFLOPHQWHGLVWLQJXtYHLVPDVTXHUHODWDPH[SHULrQFLDVUHOLgiosas semelhantes. Assim, misticismo apocalíptico reúne gêneros literários distintos
TXHQDUUDPRXSUHVVXS}HPH[SHULrQFLDVHSUiWLFDVUHOLJLRVDVVLPLODUHVFRPRYLDJHQV
FHOHVWLDLVYLV}HVH[WiWLFDVHWUDQVIRUPDomR´0DFKDGRS1RSHUtRGRGR
segundo templo, o misticismo judaico era preponderantemente apocalíptico.
Kenner Roger Cazotto Terra
|
199
HVWmRUHODFLRQDGDVjH[SHULrQFLDGHr[WDVHGH$WFRPRPRVWUDUHPRVDVHJXLU3RGHPRVDGLDQWDUTXHRWH[WROXFDQRQmRWHPFDUDFWHUtVWLFDVGHXPDH[SHULrQFLDGHYLDJHPFHOHVWLDOPDVFLWDDOJRTXH(QRTXH
encontrou no céu durante sua viagem.
1 Enoque e a chegada ao céu:
movimento enoquita e o templo celestial
O livro de 1 Enoque é uma obra composta por cinco livros: Livros
GRV9LJLODQWHV3DUiERODVGH(QRTXH/LYUR$VWURQ{PLFR/LYURGRV6RQKRV>FRPRDSRFDOLSVHGRV$QLPDLV@
H(StVWRODGH(QRTXH'HQWURGD(StVWRODGH(QRTXHHQFRQtramos o Apocalipse das Semanas(P4XPUDQ
foram achados em aramaico pedaços de todos esses livros6±FRPH[ceção ao livro das Parábolas. Em Qumran, do Livro Astronômico, por
H[HPSORIRUDPHQFRQWUDGDVTXDWURFRSLDVHPOXJDUHVGLIHUHQWHV8P
fato intrigante para os pesquisadores é a presença de onze cópias do
³/LYURGRV*LJDQWHV´44444&ROOLQV
DS.
1 Enoque pertence a uma antiga e autônoma vertente do judaísmo
GRVHJXQGRWHPSORRMXGDtVPRHQRTXLWD'HVGHQXPDUWLJRGD
revista Henoch, Paolo Sacchi apresentou Enoque não somente como um
protótipo do gênero apocalíptico, mas também de uma distinta variante
GRMXGDtVPR%RFFDFFLQLS(PRPHVPR6DFFKLID]D
primeira tentativa de escrever uma história deste movimento enóquico.
/LYUR$VWURQ{PLFR4/LYURGRV9LJLODQWHV4FRPELQDomRGR
/LYURGRV6RQKRVH/LYURGRV9LJLODQWHV44WHPIUDJPHQWRVGR
Livro dos Vigilantes, Livro dos Sonhos, Epistola de Enoque e o Livro de Noé (1 En
$LQGDWHPRVRXWURVIUDJPHQWRVGROLYURGRV6RQKRV4HGD(StVWROD
GH(QRTXH4
2/LYURGRV*LJDQWHVQmRHVWDULDQDFROHomRHWtRSHSRUTXHWHPDDXGiFLDGHD¿UPDU
o arrependimento de Semiaza e dos anjos caídos, que em outro lugar aparecem como
FRQGHQDGRVHVHPSHUGmR6XDKHWHURGR[LDOHYRXR/LYURGDV3DUiERODVD¿FDUHP
VHXOXJDU3DUDXPDH[SRVLomRGHWDOKDGDGR/LYURGRV*LJDQWHVYHU*DUFtD0DUWtQH]SS
6
200
|
Revista Reflexus
Segundo ele, o conceito do mal seria sua principal particularidade (SacFKLSS3RVWHULRUPHQWHQRVHXFRPHQWiULRD(QRTXH
HP1LFNHOVEXUJFRQ¿UPDDH[LVWrQFLDGHVVHPRYLPHQWRHFRPplementa dizendo que a lei de Moisés não tinha papel de norma universal no enoquismo (Nickelsburg, 2001, passim). A partir dos trabalhos
GRV~OWLPRVDQRV%RFFDFFLQLGHIHQGHDH[LVWrQFLDGHVVHPRYLPHQWRH
avança, relacionando-o com o essenismo. Esse autor chega dizer que o
³SUySULRWH[WRGH(QRTXHQRVVHXVFDStWXORVPRVWUDHYLGrQFLDV
de uma comunidade ou grupo por causa dos termos coletivos: os justos,
os escolhidos, os santos, que indicam uma consciência de comunidade, que tem o Mito dos Vigilantes como centro narrativo” (Boccaccini,
S
- - &ROOLQV DR D¿UPDU TXH ³XP PRYLPHQWR RX FRPXQLGDGH
pode também ser apocalíptico se este for formado, em certo grau, por
XPDHVSHFt¿FDWUDGLomRDSRFDOtSWLFD´&ROOLQVESSRVVLbilita García Martínez falar de uma “tradição apocalíptica enoquita”,
pois tem o livro de 1 Enoque como sua base. Mesmo com diferentes
FRPSRVLo}HVH[SOLFD*DUFtD0DUWtQH]RVWH[WRVIRUPDPXPPHVPR
movimento, ou estão alicerçados em uma mesma tradição; suas diferenças servem para ampliar, na verdade, a visão de mundo de uma
REUDSDUDRXWUD*DUFtD0DUWtQH]S8. Por isso, a contradição
HQWUH/LYURGRV9LJLODQWHVH(StVWRODGH(QRTXHFRQFHUQHQWHjRULJHP GR PDO UHÀHWHP XPD PHVPD WUDGLomR LGHROyJLFD FKDPDGD GH
HVFRODHQRTXLWD0HVPRFRPDVFRQWUDGLo}HVRVWH[WRVID]HPSDUWH
de um mesmo fundo tradicional, ou melhor, de uma mesma escola
*DUFtD 0DUWtQH] S &DPLQKDQGR QHVVD SHUVSHFWLYD %RFcaccine parte da hipótese de Groningen para origem de Qumran, e
ID] XPD FRQYLQFHQWH DSUHVHQWDomR GD H[LVWrQFLD GH XP PRYLPHQWR
escriba sacerdotal conhecido como judaísmo enóquico ou enoquita,
TXHWHYHJUDQGHLQÀXrQFLDQRPXQGRMXGDLFRGRVHJXQGRWHPSORHQRV
Cristianismos (Boccaccini,1998).
(VVD REUD GH SRVVXL GRLV WH[WRV GH *DUFtD 0DUWtQH] Apocalypticism in the
Dead Sea Scrolls e Qumran Origins and Early History: A Groningen Hypothesis),
que me foram disponibilizados pelo próprio autor via e-mail. Por isso, utilizarei a
ELEOLRJUD¿DGROLYURLPSUHVVRHDQXPHUDomRGRWH[WRHQYLDGR
8
Kenner Roger Cazotto Terra
|
201
Esse grupo ou comunidade acreditava que possuir a divina sabeGRULDFRQWLGDQRVWH[WRVGH(QRTXHWRUQDYDVHXVPHPEURVXPDFRmunidade escatológica de escolhidos, que esperavam o julgamento e a
FRQVXPDomRGR¿PGRVWHPSRV1DYHUGDGHQmRSRGHPRVVDEHUFRPR
se chamavam ou se autodenominavam, mas certamente tinham Enoque
FRPR¿JXUDFHQWUDO%RFFDFFLQLSS
6HJXQGR %RFFDFFLQL HVVHV WH[WRV GH (QRTXH IRUDP HVFULWRV SRU
membros do sacerdócio de Jerusalém, mas um grupo antisadoquita.
Uma espécie de movimento sacerdotal dissidente, ativo em Israel no
¿PGRSHUtRGRSHUVDHLQtFLRGRKHOrQLFR,9VpF&RQWXGR%RFFDFFLQLGHL[DFODURTXHRHQRTXLVPRHUDXPJUXSRGHRSRVLomRHQWUHDHOLWH
do templo, e não um simples grupo de separatistas. No entanto, o centro
do judaísmo enoquita não era a Torah nem o Templo (Boccaccini, 1998,
S2VGRLVJUXSRV]DGRTXLWDHHQRTXLWDLQWHUSUHWDYDP(]HTXLHO
GLIHUHQWHPHQWH%RFFDFFLQLSHWLQKDPLGHLDVFRPSOHWDPHQte contrastantes sobre a origem do Mal. Até cerca de 200 a.C, enoquismo e zadoquismo eram duas linhas distintas e paralelas de pensamentos
QRMXGDtVPR%RFFDFFLQLS
Segundo Martha Himmelfarb, a origem da tradição de ascensão de
(QRTXHWH[WRLPSRUWDQWHSDUDRMXGDtVPRHQRTXLWDHVWiQDYLVmR
GRWURQRFDUUXDJHPGH(]HTXLHOSRLVPDUFDRLQtFLRGDWHQGrQFLDSDUD
dissociar a casa celestial de Deus do templo em Jerusalém (Himmelfarb,
S(P(]HTXLHORWHPSORGHL[DGHVHUDSWRSDUDSUHVHUYDUD
glória de Deus. As viagens celestiais serviriam para acessar o verdadeiURWHPSOR+LPPHOIDUES$DVFHQVmRGH(QRTXHSUHVHUYDGD
no Livro dos Vigilantes serviu de modelo para outros apocalipses de
viagem celestial – inclusive para o 2 Enoque – porque apresenta o céu
FRPRRWHPSORGH'HXV+LPPHOIDUES
O mundo da Mercavah e as
línguas de fogo em 1 Enoque 14
0HUFDYDK p XPD H[SUHVVmR KHEUDLFD TXH VLJQL¿FD ³FDUUXDJHP´
Há uma literatura do mundo judaico conhecida como “misticismo da
Mercavah”, que tem suas raízes em Ez 1 e se desenvolveu no judaísmo
202
|
Revista Reflexus
posterior. (VVHJUXSRGHWH[WRVJLUDHPWRUQDGRDFHVVRPtVWLFRDRWURno-carruagem de Deus, acessado por viagens celestiais, como acontece
HP(QRTXH
A partir do capítulo 12 de 1 Enoque, o visionário está entre os anjos
(QRVTXDLVSHFDUDPFRPDV¿OKDVGRVKRPHQV(Q
Os mesmos pedem a Enoque que interceda a Deus por seus destinos e
GHVHXV¿OKRVPDVVXDLQWHUVHomRQmRIRLDFDWDGDHDFRQGHQDomRVHULD
LQHYLWiYHO(Q/RJRDGLDQWHGHPDQHLUDLQHVSHUDGDRWH[WR
GL]³PRVWURXPHXPDYLVmRDVVLP´(Q'HSRLV(QRTXHpOHYDGRDRFpX$RFKHJDUOiHOHSDVVDSRUDOJXQVFRPSDUWLPHQWRVH
FRQWHPSODDPDMHVWDGHGDUHDOLGDGHFHOHVWLDO+LPPHOIDUES
H1LFNHOVEXUJSSHUFHEHUDPTXHQRWH[WRRFpXHGLYLGLGR
em três partes, lembrando o templo.
Primeiro, Enoque passa pelo pátio:
Entrei até chegar-me ao muro construído com pedras de granizo,
que é rodeado por uma língua de fogo, e comecei assustar-me. Entrei na língua de fogoHPHDSUR[LPHLDWpDFDVDFRQVWUXtGDFRPSHdras de granizo, cujo muro e pavimento são lápidas pedras de granizo. Seu solo é também de granizo. Seus tetos, claros como estrelas e
relâmpagos, onde estão os ígneos querubins; e seus céus são como
água. Havia fogo ardente ao redor das paredes e também a porta se
DEUDVDYDHPIRJR(Q'LH]0DFKRS
Depois ele entra na casa, a qual estava cercada por esses muros
com línguas de fogo, e lá cai e tem a visão de outra casa maior:
Entrei nesta casa que ardia como fogo e fria como granizo, onde
não havia nenhum prazer ou vida, e o medo tomou-me e o terror
oprimiu-me. Caí com a face no chão e tive uma visão: eis que havia
outra casa, maior que esta, a qual as portas estavam abertas diante
de mim, construídas de línguas de fogo – era tudo tão esplêndido,
ilustre e grande que não posso contar o tamanho da glória e grandeza. Seu solo era de fogo; por cima tinham relâmpagos e órbitas
DVWUDLVVHXWHWRGHIRJRDEUDVDGRU(Q'LH]0DFKR
S
Kenner Roger Cazotto Terra
|
203
Nessa casa o visionário contempla o trono de Deus:
Mirei e vi em um alto trono, com um aspecto de esplendor, e (tinha
ao seu redor) um circulo, com sol brilhante e voz de querubins.
'HEDL[RGRWURQRVDLDPULRVGHIRJRDEUDVDGRUGHPRGRTXHHUD
impossível olhar. A grande Majestade estava sentada sobre o trono,
com uma túnica mais brilhante que o sol e mais resplandecente que
o granizo, de modo que nenhum dos anjos poderia entrar na casa (1
(Q'LH]0DFKRS
Enoque contempla o templo celeste. Ele é glorioso e a linguagem
que o descreve é pesada e repetitiva. Os elementos que poderiam ser antagônicos na realidade terrestre lá convivem naturalmente (água, fogo,
granizo). Um desses, em destaque na cena, é o fogo. Ele está nas portas,
QDVSDUHGHVHGHEDL[RGRWURQRLQFOXVLYHFRPROtQJXDVGHIRJR(VVDV
línguas estão sobre a parede da entrada e compunham as portas da casa
RQGHHVWDYDRWURQR
A imagem de línguas de fogo no ambiente do trono de Deus tamEpPDSDUHFHHPRXWURWH[WRGRMXGDtVPRHQRTXLWDParábolas de Enoque (QQDWHUFHLUDSDUiEROD(P(QRWH[WR
diz que Enoque novamente é levado ao céu, onde contempla os anjos
andando sobre chamas de fogo. Depois ele é arrebatado até o mais alto
dos céus – como acontece com Levi (Testamento de Levi±H
visualiza pedras de escarlate e no meio das pedras contempla línguas
de fogoYLYDV1RYDPHQWHRIRJRHVWDYDQRDPELHQWHFHOHVWLDO
ao lado de anjos.
Na literatura enoquita, muito importante para o mundo judaico e
FULVWmR7HUUDSS9DQGHUNDPSSDV
línguas de fogo serviam para descrever o ambiente do templo celestial e
estão nas paredes do palácio e nas portas da entrada da casa, onde Deus
estava sentado no seu trono.
204
|
Revista Reflexus
Imagens apocalípticas do mundo celestial
e a experiência de êxtase em At 2,1-4
Para entendermos a presença desses elementos do trono celestial
QRWH[WRHQDH[SHULrQFLDUHOLJLRVDGDFRPXQLGDGHFULVWmFRPRDSDUHFH
HP$WDVREUDVOLW~UJLFDVHQWUHRV0DQXVFULWRVGH4XPUDQVmR
LPSRUWDQWHVSRLVUHÀHWHPDLGHLDFRPXPQR-XGDtVPR$QWLJRGDDVsociação com o mundo angélico (García Martínez, 2000, p. 188), em
especial nos Cânticos do Sacrifício Sabático (Shîrôt ôlat ha-shabbat =
46KLULP¶2ORWKDVDEEDW 46KLURW6KDEEa-h), testemunhados em oito
FySLDVQDFDYHUQDTXDWUR4XPDQDFDYHUQDRQ]H4
46KLU6KDEE H HP 0DVVDGD )OHWFKHU/RXLV SS “Os Cânticos WrP TXDOLGDGHV H[WiWLFDV H SRGHP HYRFDU H[SHULrQFLDV
PtVWLFDVRXVHWHH[SHULrQFLDVYLVLRQiULDVGHPHPEURVGDFRPXQLGDGH´
$&ROOLQVS&RPRDOJXQVSHVTXLVDGRUHVD¿UPDPDOHLWXUD
dos Shîrôt proporcionava aos membros da comunidade a participação
nos sacrifícios sabáticos dos anjos no templo celeste, substituto do temSORGH-HUXVDOpP*DUFtD0DUWtQH]S&ROOLQVFKHJDDD¿UPDU
TXHDH[SHULrQFLDGHOHLWXUDGHVVHVWH[WRVQRFRQWH[WROLW~UJLFRJHUDYD
a mesma sensação da leitura dos apocalipses do tipo viagem celestial
&ROOLQVDSSRUTXHFRQGX]LDDFRPXQLGDGHjFDPLQKDGD
LPDJLQiULD QRV VDQWXiULRV FHOHVWHV H j SDUWLFLSDomR HQWUH RV DQMRV QR
FXOWRQRVFpXV&DURO1HZVRPVHJXHRPHVPRUDFLRFtQLRHD¿UPDTXHD
UHFLWDomRGRVFkQWLFRVJHUDYDH[SHULrQFLDGHr[WDVHHOHYDYDDFRPXQLGDGHjOLWXUJLDDQJpOLFD1HZVRPS3RULVVR1LFNOHVEXUJ
VHJXLQGRHVVHVDXWRUHVD¿UPDTXH
Em geral, seu conteúdo não é tecnicamente litúrgico, isto é, os
cânticos não se dirigem a divindade. Em vez disso, eles descrevem a angélica adoração e apela para os anjos participarem nessa
adoração. Então, podemos vê-los ‘como meio de comunicação
com os anjos no ato do louvor, e uma forma de misticismo comuQLWiULR¶ (OHV FULDYDP XPD H[SHULrQFLD SHOD TXDO D FRPXQLGDGH
na Terra era levada emocionalmente para a presença dos anjos e,
FHUWDPHQWHGLDQWHGRWURQRGDGLYLQGDGH1LFNOHVEXUJS
Kenner Roger Cazotto Terra
|
205
Os Cânticos mostram a íntima relação das realidades celestial e
terrena no imaginário do culto no mundo judaico-cristão. Além dessa
função de associação, as realidades celestiais são reveladas para servirem de modelo para os cultos humanos, como se fosse possível contemplar o mundo da casa de Deus, servindo-se dele como paradigma da
adoração na comunidade. Assim, os sacerdotes angélicos são modelos e
legitimadores transcendentes da função sacerdotal da comunidade.
(P$WRVHQFRQWUDPRVDSUHVHQoDGHHOHPHQWRVFHOHVWLDLVQR
FXOWRFULVWmR(VVHWH[WRFRPRYLPRVSRGHVHUPDLVDQWLJRGRTXHVXD
UHGDomROXFDQDHUHÀHWHDRODGRGHDOJXQVWH[WRVSDXOLQRVDLPDJHP
GHXP&ULVWLDQLVPRFKHLRGHH[SHULrQFLDVGHWUDQVHUHOLJLRVRHr[WDVH
1D OLWHUDWXUD DSRFDOtSWLFD HVVD H[SHULrQFLD UHOLJLRVD HVWi YLQFXODGD D
elementos que fazem parte da realidade celestial (Mercavah). Línguas
de fogo é um dos elementos que compõem esse quadro, como citamos,
porque estão nas paredes e portas do trono celestial na visão de Enoque
– e o próprio fogo, que desde Ezequiel, como também na literatura de
4XPUDQHVWiYLQFXODGRjMercavah.
Segundo Paulo Nogueira, a própria glossolalia fazia parte da realidade do culto celestial. Ele chega a essa conclusão com a leitura de
4 IUDJ 1RJXHLUD S 1HVVH WH[WR QD OLQKD DSDUHFHDH[SUHVVmRlíngua do pó em contraste com língua de conhecimento, da linha 11, que pode ser referência a algum idioma angelical.
Nickelsburg percebe que este contraste claro entre o conhecimento do
ser humano com o conhecimento dos seres celestes está no âmbito do
WULEXWRGHORXYRUD'HXV1LFNHOVEXUJS2VDQMRVWHULDP
XPDHVSpFLHGHOtQJXDH[FHSFLRQDOGHORXYRUQDWUDGLomRMXGDLFRFULVWm
– como Nogueira indicou usando o Apocalipse de Paulo (Nogueira,
S
(P$WRVHVWDPRVGLDQWHGHXPWH[WRTXHUHYHODXPDFRPXQLGDGHFULVWmLQÀXHQFLDGDSRULPDJHQVDSRFDOtSWLFDVDFHVVDGDVSRUYLsionários em viagens celestiais vinculadas ao misticismo da Mercavah.
2WH[WRHPVLQmRQDUUDXPDviagem celestial, mas usa o imaginário do
WHPSORFHOHVWLDOH[SRVWRSRUHVVHVXEJrQHURPXLWRFRPXPQDOLWHUDWXUD
apocalíptica. As línguas de fogo e a própria glossolalia faziam parte da
UHDOLGDGHFHOHVWHPDVjOX]GH$WHVWDYDPSUHVHQWHVQDIpGDVFRPXQLGDGHVFULVWmVHPFXOWRVFKHLRVGHr[WDVH
206
|
Revista Reflexus
$WRV GiQRV SLVWDV VREUH FRPR R PXQGR DSRFDOtSWLFR IRL
DSURSULDGRHUHVLJQL¿FDGRQDVSUiWLFDVF~OWLFDVGRV&ULVWLDQLVPRV
Originário (s). Talvez, como fez Paulo, Lucas domesticou propositalPHQWHHPQtYHOUHGDFLRQDOHVVDH[SHULrQFLDFRPRREMHWLYRGHFULDU
fronteiras.
Acredito, e isso precisa ser averiguado, que na pluralidade de
Cristianismos das origens houvesse alguns grupos mais eufóricos, que
VXSHUYDORUL]DYDPDVH[SHULrQFLDVH[WiWLFDVHRPXQGRDSRFDOtSWLFR(
mais, é possível, como acontecia com os Cânticos do Sacrifício Sabático, que suas tradições fossem usadas para incentivo e legitimação de
H[SHULrQFLDVFROHWLYDV
Conclusão
5HD¿UPRDFRQFOXVmRGH&5RZODQGGHTXHpLPSRVVtYHOHQWHQdermos as origens dos Cristianismos das Origens sem tratarmos com
FXLGDGR D DSRFDOtSWLFD MXGDLFD &RP UHVSHLWR D$WRV FUHLR VHU
HVVDD¿UPDomRLQGLVSHQViYHOSRLVDQDUUDWLYDUHYHODDOJXQVLQGtFLRVGD
presença de temas do imaginário apocalíptico das viagens celestiais. E
PDLVDH[SHULrQFLDUHOLJLRVDUHÀHWLGDQDQDUUDWLYDUHYHODXP&ULVWLDQLVPRGHOLWXUJLDQmRFRQWURODGDFRPRDOJXQVH[HJHWDVSLQWDUDPGXUDQWH
ERPWHPSRVREUHDRULJHPFULVWmPDVGHXPDFRPXQLGDGHFRPH[SHULrQFLDVH[WiWLFDVHTXHFRPSDUWLOKDYDDVUHDOLGDGHVFHOHVWLDLVWHVWHPXnhadas pela literatura apocalíptica.
Depois de muito tempo após sua produção e circulação, o mesPRWH[WRVHUYLULDGXUDQWHRVpFXOR;;SDUDRXWURVPRYLPHQWRVFULVtãos carismáticos, tais como o Pentecostalismo Clássico e a Renovação
&DULVPiWLFD &DWyOLFD ,VVR PRVWUD D GLQkPLFD GD UHFHSomR GRV WH[WRV
religiosos e, como temas antiguíssimos, como os encontrados na literatura mística do Judaísmo do segundo templo, permanecem vivos na
cultura.
Kenner Roger Cazotto Terra
|
207
5HIHUrQFLDV%LEOLRJUi¿FDV
BAKHITIN, M. 4XHVW}HV GH HVWpWLFD H OLWHUDWXUD D WHRULD GR
romance. São Paulo: HUCITEC, 1988.
BARRERA, J. Trebolle. Os textos de Qumran e o Novo Testamento. In:
García Martínez (org.). Os homens de Qumran. Literatura, estrutura
HFRQFHSo}HVUHOLJLRVDV3HWUySROLV5-SS
BOCCACCINI, Gabriele. Introduction: From the Enoch Literature to
Enochic Judaism. In: BOCCACCINI, Gabriele. Enoch and Qumran
Origins: New Light on a Forgotten Connection. Grand Rapids: W.
%(HUGPDQVSS
BOCCACCINI, Gabriele. Beyond the Essene Hypothesis: The
3DUWLQJ RI WKH :D\V EHWZHHQ 4XPUDQ DQG (QRFKLF -XGDLVP.
Grand Rapids: W. B. Eerdmans, 1998.
BOER, Martinus de. $ LQÀXrQFLD GD DSRFDOtSWLFD MXGDLFD VREUH
as origens cristãs: gênero, cosmovisão e movimento social. In:
Estudos de Religião
CHARLESWORTH, James H (Ed.). The Dead Sea Scroll and the
4XPUDQ&RPPXQLW\7KH%LEOHDQGWKH'HDG6HD6FUROOV. Vol 1.
7H[DV%D\ORU8QLYHUVLW\3UHVV
COLLINS, Adela Yarbro. Cosmology and Eschatology in Jewish
and Christian Apocalypticism. (Supplements to the Journal
IRU WKH VWXG\ RI -XGDLVP 9RO /HLGHQ1HZ <RUN .|OQ
Brill,1996.
COLLINS John J. Apocalyptic Eschatology as the Transcendence of
Death. In: Catholic Biblical Quarterly
COLLINS, John J. (ed.). Apocalypse: The Morphology of a Genre.
SemeiaSociety of Biblical Literature). Missoula, Mont.: Scholars
Press
COLLINS, John J. Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls. London:
5RXWOHGJHD
COLLINS, John J. 6HHUV 6LE\OV DQG 6DJHV LQ +HOOHQLVWLF5RPDQ
Judaism/HLGHQ%ULOOE
COLLINS, John J. $ ,PDJLQDomR DSRFDOtSWLFD 8PD LQWURGXomR j
OLWHUDWXUDDSRFDOtSWLFDMXGDLFD. São Paulo: Paulus, 2010.
208
|
Revista Reflexus
DAVILA, James R. Descenders to the Chariot: The People Behind
the Hekhalot Literature (Supplements to the Journal for the Study
RI-XGDLVP9RO/HLGHQ1HZ<RUN.|OQ%ULOO
DIEZ MACHO, Alejandro. $SyFULIRVGHO$QWLJR7HVWDPHQWR. Vol. IV.
0DGUL(G&ULVWLDQGDG
DITOMMASO, Lorenzo. Apocalypses and Apocalypticism in Antiquity
(Part I). In: Currents in Biblical Research
FIORIN, José L. Linguagem e ideologia6mR3DXORÈWLFD
FLETCHER-LOUIS, C. H.T. All the Glory of Adam/HLGHQ%RVWRQ
Köln: Brill, 2002.
FUNARI, Pedro Paulo A.; SILVA, Glaydson José da. 7HRULDGDKLVWyULD.
São Paulo: Brasiliense, 2008.
GARCÍA MARTÍNEZ, Florentino. Qumranica Minora I: Qumran
Origins and Apocalypticism6WXGLHVRQWKH7H[WVRIWKH'HVHUWRI
-XGDK9RO/HLGHQ%RVWRQ%ULOO
GARCÍA MARTÍNEZ, Florentino. Textos de Qumran. In: PÉREZ,
Aranda G.; GARCÍA MARTÍNEZ, Florentino; FERNÁNDEZ,
P. M. /LWHUDWXUD MXGDLFD LQWHUWHVWDPHQWiULD. (Introdução ao
Estudo da Bíblia, Vol. 9). São Paulo: editora Ave-Maria, 2000, pp.
GARCÍA MARTÍNEZ, Florentino. Qumran and Apocalyptic. Studies
on the Aramaic Texts from Qumran1HZ<RUN(-%ULOO
GIESCHEN, Charles A. Angelomorphic Christology Antecedents
and Early Evidence. Leiden: Brill,1998.
GOODMAN, Felicitas D. Speaking in Tongues: a Cross-Cultural
Study of Glossolalia&KLFDJR8QLYHUVLW\RI&KLFDJR3UHVV
*5$%%( /HVWHU / +$$. 5REHUW ' .QRZLQJ The End Form
the Beginning: The Prophetic, the Apocalyptic and their
Relationships. In: Jornal for Study of the Pseudepigrapha,
6XSSOHPHQWVY
HANSON, Paul D. The Dawn of Apocalyptic. The Historical and
Social Roots of Jewish Apocalyptic Eschatology. Philadelphia:
)RUWUHVV
HANSON, Paul D. “Apocalypse, Genre” and “Apocalypticism”. In:
CRIM, K. (org.). ,QWHUSUHWHU¶V 'LFWLRQDU\ RI WKH %LEOH. (SuplePHQWDU\9ROXPH1DVKYLOOH$ELQJGRQ3UHVVSS
Kenner Roger Cazotto Terra
|
209
HIMMELFARB, Martha. Ascent to Heaven in Jewish e Christian
Apocalyses1HZ<RUN2[IRUG8QLYHUVLW\3UHVV
KITTEL, G.; FRIEDRICH, G.; BROMILEY, G. W. Theological Dictionary of the New Testament*UDQG5DSLGV0LFK:%(HUGPDQV
LEWIS, Ioan. Ç[WDVHUHOLJLRVRXPHVWXGRDQWURSROyJLFRGDSRVVHVVmR
por espíritos e do xamanismo6mR3DXOR3HUVSHFWLYD
MACHADO, Irene. (VFROD GH VHPLyWLFD $ H[SHULrQFLD GH 7DUW~
Moscou para o estudo da cultura6mR3DXOR$WHOLr(GLWRULDO)$3(63
MACHADO, Jonas. Louvor ao triunfo divino. Vestígios do misticismo apocalíptico paulino em 2 Cor 2,14-17. In: Oracula 2009. Disponível em KWWSRUDFXODFRPEU $FHVVRHP.
MALINA, Bruce J. On the Genre and Message of Revelation: Star
Visions and Sky Journeys3HDERG\0DVVDFKXVVHWV+HQGULFNVRQ
3XEOLVKHUV
MARGUERAT, Daniel. $SULPHLUDKLVWyULDGR&ULVWLDQLVPRRV$WRV
GRV$SyVWRORV6mR3DXOR/R\ROD3DXOXV
NEWSOM, Carol. 6RQJV RI WKH 6DEEDWK 6DFUL¿FH$ &ULWLFDO (GLtion$WODQWD6FKRODUV3UHVV
NICKELSBURG, George W. E. -HZLVK/LWHUDWXUH%HWZHHQWKH%LEOH
and the Mishnah. A Historical and Literary Introduction. 2ª ed.
0LQQHDSROLV)RUWUHVV3UHVV
NICKELSBURG, George W. E. 1 Enoch: a Commentary on the Book
of 1 Enoch, chapters 1-36; 81-108. Minneapolis: Fortress, 2001.
NICKELSBURG, George W. E. Enoc, Levi, and Peter: Recipients
of Revelation in Upper Galilee. In: Journal of Biblical Literature
NOGUEIRA, Paulo A. S. Experiência religiosa e crítica social no
Cristianismo primitivo6mR3DXOR3DXOLQDV
PERVO,R. I.; ATTRIDGE, H. W. Acts: A commentary on the Book
of Acts. (Hermeneia – a critical and historical commentary on the
Bible). Minneapolis: Fortress Press, 2009.
ROWLAND, C.; MORRAY-JONES, Christopher R. A. The Mystery
of God. Early Jewish Mysticism and the New Testament (Compendia Rerum Iudaicarum ad Novum Testamentum, Volume 12)
Leiden: Brill Academic, 2009.
210
|
Revista Reflexus
ROWLAND, C. The Open Heaven: A Study of Apocalyptic in
Judaism and Early Christianity1HZ<RUN&URVVURDG
SACCHI, P. Jewish Apocalyptic and its History6KHI¿HOG6KHI¿HOG
Academic, 1990 (JSPSup 20.).
SCHOLEM Gershom. $VJUDQGHVFRUUHQWHVGDPtVWLFDMXGDLFD. São
3DXOR3HUVSHFWLYD
TABOR, James. Ascent to Heaven in Antiquity. In: The Jewish Roman World of Jesus+HOOHQLVWLF5RPDQ5HOLJLRQDQG3KLORVRSK\
1999. Disponível em KWWSUHOLJLRXVVWXGLHVXQFFHGXSHRSOHMWDERU
LQGH[KWPO$FHVVRHP.
TABOR, James. 7KLQJV8QXWWHUDEOH3DXO¶V$VFHQWWR3DUDGLVHLQLWV
Greco-Roman, Judaic, and Early Christian Contexts. Lanham,
MD: University Press of America, 1986.
TERRA, Kenner R. C. 'HJXDUGL}HVDGHP{QLRVDKLVWyULDGRLPDginário do pneûma akátharton e sua relação com o mito dos vigilantes. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), UMESP,
São Bernardo do Campo, 2010.
VANDERKAM, James C. Enoch, a Man for All Generations. ColumELD8QLYHUVLW\RI6RXWK&DUROLQD3UHVV
YONGE, C. D. 7KHZRUNVRI3KLOR&RPSOHWHDQG8QDEULGJHG. Peabody: Hendrickson, 1996.
WITHERINGTON III, B. The Acts of the Apostles: A socio-rhetorical commentary. Grand Rapids, MI: Wm. B. E. Publishing Company, 1998.

Documentos relacionados

Baixar este arquivo PDF

Baixar este arquivo PDF VHP H[LVWrQFLD LVRODGD H FRP XP FDPSR FRQFHLWXDO XQL¿FDGR IXQGDGR no processamento, na troca e na armazenagem de informações”. Neste sentido, a cultura é interativa e traz para o centro ...

Leia mais

Baixar este arquivo PDF

Baixar este arquivo PDF Valtair A. Miranda1 RESUMO $UHODomRHQWUHR¿PGRPXQGRHDOJXPWLSRGHJXHUUDGHSURSRUo}HVFyVPLFDVHUDXPWHPDSURHPLQHQWHQDH[SHFWDWLYDMXGDLFDFRP a ressalva de que nessas tradições o povo...

Leia mais

Baixar este arquivo PDF

Baixar este arquivo PDF dos outros, tidos por impuros – de alguma forma é relacionada ao duDOLVPRDSRFDOtSWLFRGH,+HQRTXHHQFRQWUDGRVQD*UXWD19 É caracteUtVWLFRGHVWHGRFXPHQWRD¿UPDUVHUDKLVWyULDRFHQiULRGHXP...

Leia mais