emblemas e leitura da imagem simbólica no palácio

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emblemas e leitura da imagem simbólica no palácio
EMBLEMAS E LEITURA DA IMAGEM SIMBÓLICA
NO PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA
ESQUISSOS PARA UMA EXPOSIÇÃO VIRTUAL
PREÂMBULO
Se um cego guiar a outro cego, ambos cairão na cova
Mateus, XV, 14
Afirmava Platão que todo o conhecimento é reconhecimento,
sublinhando o papel nuclear desempenhado no processo pela
reminiscência.
Efectivamente, é a memória que determina a ética e a poética da
acção humana, possuindo a sua própria história, cuja relevância será
tanto maior quanto mais adequada e oportuna for a avaliação rectrospectiva ao seu alcance. Por outras palavras: a incapacidade rememorativa
inviabiliza o acesso à história e à cultura, comprometendo a assunção da
identidade individual, mas também da colectiva, e deixando o indivíduo
em causa extremamente vulnerável e susceptível de ser defraudado, sem
ter a mínima noção do que seja quer o gato, quer a lebre...
A vacuidade mental imperante, hodiernamente, umas vezes
promovida, outras subsidiada pelo Estado, apesar dos reiterados desmentidos das tutelas, aos seus diferentes níveis, alimenta a ficção de que
segurança, eficiência e sucesso são potenciados por rotinas “bem
oleadas”, desvalorizando, como perturbadoras e institucional e socialmente nocivas a ponderação reflexiva, bem como o confronto de ideias e
convicções.
Para escamoteá-las, fazendo tenção de não pertencer a este
mundo, difundiu-se a hipócrita moda de repetir: “Os cães ladram e a
caravana passa!” Por esse andar, de tal modo alienados da realidade,
aqueles que assim pensam e agem nem darão pelo próximo cataclismo
que, inexoravelmente, os há-de atingir também…
Já no que respeita ao património monumental, o que se constata
(por saber de experiência feito) é que são excepcionais os casos de
adequada gestão histórico-cultural dos sítios simbólicos da nação,
assistindo-se, as mais das vezes, à despudorada lauda da inércia e
indigência mental dos respectivos responsáveis, aparentemente comissionados para exercerem discricionária e arrogantemente o cargo que lhes
foi confiado transitoriamente, e em nome da coisa pública, de molde a
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Exposição Quando o Rei faz anos (Casa de Cultura D. Pedro V, 1997)
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impedirem, ou pelo menos dificultarem o acesso a tais bens por parte de
investigadores ou artistas (sobretudo músicos) com provas dadas (e portadores de credenciais válidas), porém, não do seu agrado, dos seus amigos ou dos amigos dos seus patrocinadores...
Considero, também, completamente inútil solicitar a arbitragem
das tutelas, geralmente mais interessadas em fidelizar técnicos e funcionários dóceis e inseguros, logo tendencialmente subservientes, do que
aqueles cuja competência e ecumenismo não são de molde a agradar aos
pedantismos efémeros, mas bem pensantes, das clientelas do momento.
É radicalmente distinta e anti-conformista a postura que tenho
por adequada para resolver de forma duradoura a situação a que aludi,
no que concerne, especificamente, ao Palácio Nacional de Mafra. Desde,
pelo menos, 1997, quando da realização da exposição Quando o Rei faz anos
– Ideias para a Musealização do Palácio Nacional de Mafra, que venho alertando para ela e propondo alternativas práticas. No transacto ano de 2004
decidi mesmo criar o site Monumento de Mafra Virtual, com o objectivo
de assumir, virtualmente, a gestão integrada e experimental do conjunto
patrimonial legado a Mafra pelo monarca Magnânimo e Fidelíssimo, a
saber: Palácio Nacional, Jardim do Cerco e Tapada.
Não é esta a ocasião indicada para explicitar o objecto e os meios
adoptados com vista à concretização do desiderato expresso. De resto, os
interessados poderão encontrar minuciosamente enunciados todos os
mais relevantes aspectos no horizonte do clone do Monumento de Mafra,
nos endereços www.monumentomafravirtual.net ou www.cesdies.net.
O esquisso que ora se divulga, não passa disso mesmo: de um
projecto para uma exposição monográfica, a primeira das iniciativas do
género já programadas, as quais, além da divulgação on-line (em curso) de
todo o tipo de informações indispensáveis à compreensão histórico--cultural integrada do Monumento de Mafra, contemplarão, a breve trecho, o
início da musealização do Palácio Nacional de Mafra, sala a sala.
Todo esse imenso manancial de informação e de sonho terá como
destino, invariável, o site supramencionado, de cujas páginas é permitida
a reprodução integral e gratuita, com a única condição de ser referenciada a fonte.
Enfim, aquilo que se esperaria que um autêntico serviço público
fosse: ecuménico (alheio a posições exclusivistas e monoreferenciais),
independente (ideológica e idiossincraticamente), atento às expectativas e
sugestões dos cidadãos (em geral) e dos munícipes (em particular, sejam
quais forem as respectivas coordenadas), sem telhados de vidro e não
subvencionado, salvo se reconhecido o seu mérito, competência, utilidade
e adequação aos fins para que foi instituído.
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O espaço eleito para a realização da mostra Emblemas e Leitura da
Imagem Simbólica no Palácio Nacional de Mafra, é um dos vários já referenciados como adequados, após ligeiríssimas porém incontornáveis
adaptações, para albergar exposições temporárias (doravante, denominado Galeria de Exposições Temporárias 4-Sul), no âmbito do projecto de
musealização que o Monumento de Mafra Virtual tenciona divulgar,
oportunamente, de forma gradual mas sistemática.
Alguns argumentos convém, entretanto, aduzir em prol de tal
opção:
Primeiramente, a circunstância de não ser conhecida qualquer
função específica para o referido espaço. De facto, a denominada “Sala da
Música” do Palácio Nacional de Mafra foi “inventada” na década de 1950
por Ayres de Carvalho, nada constando historicamente que se lhe reporte
como tal. Não se trata, por conseguinte, de subverter a história funcional
da dependência em questão (como tem vindo a acontecer, a outros
espaços, nos últimos anos), uma vez que se desconhece, por absoluta
ausência de registos de índole histórica, ou outra, qual possa ter sido.
Além disso, a área total utilizável é uma das raras a permitir a
concretização das exposições temporárias de dimensão média e pequena
no Piso Nobre, previstas e a agendar.
Registe-se, depois, a vantagem adicional de a Galeria de Exposições
Temporárias 4-Sul estar integrada no percurso seguido pelos visitantes que
têm a Casa da Livraria por meta, e relativamente próximo dela, ao ponto
de permitir a todos quantos desejem aceder ao acervo que complementa
aquele que (sempre que se trate de exposições bibliográficas e documentais) observaram exposto (no caso vertente os indispensáveis repositórios
de livros de história natural, iconografia, dicionários antigos de símbolos,
religiões e mitologia, etc.), o qual não escasseia, bem pelo contrário, na
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, ao invés do que sucede na
generalidade das demais bibliotecas congéneres.
Por fim, uma questão não menos importante: a extrema simplicidade e economia de meios que será necessário afectar à adaptação do
espaço (vitrinas, painéis, luminotecnia, etc.) para o desempenho da
função que se lhe destina.
Conforme expresso no plano da mostra, esta disporá de dois
postos multimédia, facultando o acesso ao Roteiro-catálogo dela, bem como
a consulta integral, em suporte digital, da quase totalidade das obras
expostas. Um CD-Rom, expressamente concebido para reunir e reproduzir essa informação, será comercializado, concomitantemente, em
edição limitada e numerada.
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PLANO DA EXPOSIÇÃO
N
5D
4 (n. 41 a 51)
4 (n. 7 a 21)
4 (n. 22 a 40)
4 (n. 52 a 57 e 78 a 83)
O
5A
5B
5C
4 (n. 58 a 77)
3
2 (n. 1 a 6)
1
S
Legenda
1. Exergo
2. O que é um Emblema?
n. 1 – Livros de Empresas
n. 2 - Hieróglifos
n. 3 - Mitografia
n. 4 – Animalia, Floralia e Mineralia
n. 5 – Emblemática do Amor Divino
n. 6 – A Iconologia de Cesare Ripa
3. Alciato e as fontes da Literatura Emblemática /Alciato em Portugal
4. A Idade de Ouro da Literatura Emblemática
n. 7 a 21 – Emblemática Itálica
n. 22 a 40 – Emblemática Flamenga e Neerlandesa
n. 41 a 51 – Emblemática Germânica e Eslava
n. 52 a 57 – Emblemática Francesa
n. 58 a 77 – Emblemática Espanhola
n. 78 a 83 – Emblemática Portuguesa
5. Leituras da Imagem Simbólica
A – Um retrato emblemático de D. Maria I
B – As Virtudes da Basílica de Mafra segundo Cesare Ripa
C – Tentação do Diabo
D – Alegoria alusiva ao regresso de D. João VI do Brasil
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E
EXERGO
Vivemos em contacto diário e íntimo com símbolos e marcas
corporativas, cuja concepção e difusão visa suscitar o reconhecimento
instantâneo dos produtos e bens de consumo que têm a finalidade de
representar. Estes símbolos e marcas não são uma invenção nem do
marketing, nem da publicidade modernos. Com efeito, eles constituem o
corolário de uma vetusta tradição de intimidade do verbo com a imagem,
elaborada na antiguidade por Simónides e Horácio e consagrada pela
expressão ut pictura poesis.
O tópico da pintura como muda poesia impregnou de tal forma a
cultura e o pensamento europeus ao ponto de gerar um género literário
de carácter didáctico e moral, que proliferou entre meados de quinhentos
e os finais do século XVIII, período durante o qual, a crer nas cifras
apontadas por Mário Praz, mais de setecentos autores terão produzido
cerca de quatro milhares de tratados ou enciclopédias de Emblemas,
Hieróglifos, Empresas e Divisas.
O primeiro desses livros, digno do nome, é creditado a André
Alciato (1492-1550), jurista itálico que instituiu a Emblemática como
disciplina autónoma, ao atribuir a denominação de emblema, a cada uma
das alegorias que reuniu no seu Emblematum Liber, compêndio de retratos
morais da humanidade, figurados por atributos naturais e eventos
históricos e mitológicos.
Durante as oito décadas imediatas à edição princeps, impressa em
Augsburgo, no ano de 1531, o Emblematum Liber seria objecto de múltiplas
reedições em latim e em línguas vernáculas tão diversas quanto a
francesa, a italiana, a espanhola ou a alemã.
O mérito maior da literatura emblemática foi o de ter instaurado
uma mediação eficaz entre as fábulas dos poetas (entendidas como
prefigurações de mistérios filosóficos e científicos), as alegorias clássicas e
a arte de programa surgida com o Renascimento: a obra de arte, fruto de
uma prévia abstracção mental do artista, passaria, doravante, a inscrever-se num processo intelectual, exigindo, consequentemente, um lema
fundador.
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O QUE É UM EMBLEMA?
O emblema canónico é uma composição
concomitantemente pictórica e poética, constituída por:
tripartida,
1. Uma imagem, cifra ou figura (Pictura, Imago, Icon ou Symbolon),
geralmente xilogravada, denominada Corpo do emblema. Ilustra um
conceito, no qual é personificado um vício, uma virtude, ou um preceito
moral. Apesar da Pictura constituir o aspecto mais característico da
literatura emblemática, muitos autores optaram por prescindir dela
(emblemata nuda).
2. Um mote, sentença ou título (Inscriptio, Titulus, Motto ou Lemma),
também denominado Alma do emblema, cujo propósito é traduzir
sinopticamente o sentido da imagem. A generalidade dos emblematistas
compunha os motes destinados às suas próprias obras, apesar de a
maioria dos autores preferir tomá-los dos clássicos, dos Padres da Igreja,
ou até da Bíblia.
3. Um texto explicativo ou epigrama (Subscriptio, Epigramma ou
Declaratio), que entrelaça os sentidos da imagem e do mote. Consta de
duas partes: uma em que se descreve a Pictura, e outra em que se declara
uma mensagem moral ou um intuito didáctico de aplicação universal
(sermão moralizante, por intermédio do qual o emblematista evidencia a
sua erudição).
Convém, porém, distinguir o emblema da empresa, género afim
do emblema (patente em registos heráldicos, vinhetas, marcas de
impressores, ex-libris, etc.), com o qual, de resto, foi, frequentemente,
confundido aquém-Pirinéus. Com efeito, a empresa é uma figura ou
composição engenhosa de uso estrictamente pessoal, regra geral,
enigmática e indissociável de mote curto (redigido em latim ou grego)
que expõe veladamente uma intenção, desejo ou conduta particular, ao
invés do emblema que expressa uma intenção geral.
Rafael Bluteau esclarece na perfeição as acepções adequadas a
cada um dos conceitos:
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O QUE É UM EMBLEMA?
Entre Humanistas, Emblema é termo metafórico, porque da significação de
ornamentos materiais, passou a significar algum documento moral, que aberto em
estampas, ou pintado em quadros, se põe para ornamento das salas, galerias, academias,
arcos triunfais, etc. O Emblema tem, como a Divisa, ou Empresa, corpo e alma, a saber
figura visível e letra inteligível, porém em muitas coisas difere Emblema de Empresa.
1. Tanto mais perfeita é a Empresa ou Divisa quanto mais simples e composta de
menos figuras. Mas o Emblema admite várias figuras históricas ou fabulosas, materiais ou
artificiosas, verdadeiras ou quiméricas; nem exclui, como a Empresa, corpos humanos; mas
antes com erudita moralidade às vezes representa um Ganimedes, que sobe, um Dédalo que
voa, um Faetonte que cai, etc.
2. O objecto da Empresa (segundo o seu uso primitivo) é Heróico e Particular. O
objectivo do Emblema é um documento geral, concernente ao instituto da vida humana.
3. A Empresa como subtil, engenhosa e rebuçada, usa de letra ambígua e
lacónica, que declarando encubra, e encobrindo declare, o que significa. Pelo contrário, o
Emblema, como familiar, popular, liso e sincero, clara e difusamente expõe o que ensina.
Finalmente, podem a Empresa e o Emblema ter o mesmo corpo ou figura, mas
não a mesma alma ou letra, porque a letra da Empresa há-de ser própria e particular, e a
letra do Emblema há-de ser geral e dogmática; e com esta advertência, arrolando a alma, e
não o corpo, quero dizer mudando a letra sem mudar a figura poderás fazer da Empresa
Emblema e do Emblema Empresa.
Em suma: o emblema é um instrumento multimédia, cujos
contornos simbólicos gozaram de enorme voga em toda a Europa,
constituindo-se como fonte privilegiada e instrumento hermenêutico
impar no que concerne à evocação e enquadramento filosófico-alegórico
de cosmovisões, procedimentos teológicos, retóricos, pedagógicos e
estéticos, bem como ao esclarecimento da semântica de sistemas de
representação e de programas iconográficos.
Face à praticamente inesgotável gama de aplicações do
alegorismo emblemático, não admira que muitos emblematistas tenham
preferido enveredar pela especialização, concebendo obras versando
temas específicos, como o Amor divino e a mística (emblemata sacra), a
teologia dogmática (emblemática eucarística e mariana), as divisas e
empresas políticas (emblemata regia e politica), a arte da memória, a
mitologia, as fábulas, os bestiários, a iconologia, etc.
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LIVROS DE EMPRESAS
Os livros de empresas são, em regra, e à semelhança dos
bestiários e lapidários medievais, autênticos repositórios de portentos e
curiosidades pitorescas, bebidas tanto nos clássicos, quanto em eventos
coetâneos dos respectivos autores.
A vasta literatura sobre empresas, difundida pelas cortes dos
monarcas franceses Carlos VIII e Luís XII, designadamente a partir da
invasão francesa da Itália, tornando-a uma verdadeira filosofia do
cortesão, representa o triunfo do conceito e do engenho na escrita.
Diversas foram as explicações avançadas quanto à origem da
empresa: Menestrier considerou-a italiana, Juan de Horozco (1589) di-la
originada nos signa dos estandartes romanos, distinguindo-a da divisa e
alegando que esta foi originalmente distintivo pessoal, posteriormente
convertido nos brasões hereditários, enquanto a empresa, sendo
igualmente pessoal, manifesta algum propósito que, por constituir o
objecto de um empreendimento, adquiriu a designação que usa.
Paolo Giovio e Pierre Le Moyne são apontados como os
responsáveis pela definição e consagração das regras compositivas da
empresa. O gosto renascentista pela elaboração de empresas, como
exercício de agudeza, seria reiteradamente preconizado pela teoria
barroca da metáfora, tornando-se parte indissociável das opções estéticas
do conceptismo.
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LIVROS DE EMPRESAS
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GIULIO CESARE CAPACCIO (1552-1634)
Também autor de *Principe, tratto dagli Emblemi dell’Alciato (Veneza, 1620).
1 *Dell’ Imprese Trattato, Nápoles, 1592 [BPNMafra: 2-41-10-18] A origem
comum de emblemas e empresas torna difícil a distinção entre ambos os
géneros; alguns tratadistas esforçam-se por esclarecer aquilo que na sua
opinião os distingue; com essa intenção escreve Capaccio: “o emblema só
tem que alimentar a vista, a empresa a mente”. Admite, todavia, que a
empresa possa ser utilizada como emblema, se despojada do lema e
enriquecida com uma inscrição. O emblema, por seu turno, pode ser
convertido em empresa se se lhe juntar um lema. Ilustrado com gravuras
em madeira.
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HIERÓGLIFOS
O fascínio pelo saber cifrado nos hieróglifos remonta à
antiguidade, tendo sido reavivado pela Hieroglyphica (1505) de Horapolo
nos humanistas, especialmente em Marsilio Ficino e nos neoplatónicos
florentinos.
Outro impulsionador da difusão da hieroglífica havia de ser Frei
Urbano Valeriano Bolzanio (c. 1443-1524), que manteve contactos com
Colonna e Giovanni de Medici, posteriormente papa sob o título de Leão
X. Seu sobrinho, Pierio Valeriano editaria um dos mais importantes
tratados sobre o tema.
A cultura simbólica do barroco acolheria com entusiasmo esta
curiosidade renascentista.
Entre os pintores que adoptaram motivos inspirados nos
hieróglifos contam-se: Pinturicchio, Leonardo, Mantegna, Giovanni
Bellini, Durer, Vasari. Em Portugal, destaque para Francisco de Holanda,
bem como para todos os cultores do brutesco.
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HIERÓGLIFOS
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GIOVANNI PIERIO VALERIANO (1477-1558)
Sobrinho e discípulo de Frei Urbano Valeriano Bolzano, amigo de
Francesco Colonna e figura central do movimento veneziano dedicado à
investigação dos hieróglifos. Amigo de Bocchio e Giraldo, foi secretário
do cardeal Júlio de Médicis e tutor de Hipólito e de Alejandro de Médicis.
Consultado pelo emblematista português Vasco Mousinho Quevedo e
Castelo Branco.
2 *Hieroglyphicorum, ex sacris AEgyptiorum literis, Lião, 1602 [BPNMafra: 136-8-1] A edição princeps é de Florença, 1556; enciclopédia de hieróglifos,
dedicada ao duque Cosme de Médicis, cujo objectivo é a análise moral e
teológica do mundo natural; até finais de seiscentos teve mais de 15
edições; a partir da reimpressão de 1567 foram-lhe acrescentados dois
livros compostos por Celio Augusto Curión, ficando, doravante,
constituída por 60 livros ou capítulos; relaciona hieróglifos com o
simbolismo dos lapidários e bestiários medievais e com o do Physiologus
(atrib. Epifânio): animais terrestres (16 livros); animais voadores (17 a 26);
peixes (27 a 31); corpo humano (32 a 37); ao resto dos seres e objectos (38
a 49); vegetais e livros (50 e 58); deuses antigos (59 e 60). Constantemente
citada e utilizada pela literatura emblemática posterior. No livro II (p.
20v), consagrado aos hieróglifos do elefante, refere-se a uma composição
(perdida) de D. Miguel da Silva (embaixador português em Roma, no
período entre 1515 e 1525) sobre o elefante Hanon.
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MITOGRAFIA
A mitologia clássica não esteve completamente ausente da
cultura medieval, tendo, no entanto, sido relegada para o plano da fábula.
Ficaria a dever-se a Boccacio a sistematização, na sua Genealogia
deorum, da maior parte da informação até então dispersa acerca dos
deuses pagãos da antiguidade. O seu livro, a par das Metamorfoses de
Ovídio, constituíu, até à publicação das Imagini de i Dei (1566) de Vincenzo
Cartari, a principal fonte, não só para explicar em termos simbólicos as
acções dos deuses, mas também a respectiva aparência e atributos, de
molde a esclarecer a metáfora hagiográfica que haviam passado a
personificar.
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MITOGRAFIA
3
LILIO GREGORIO GIRALDI (1479-1552)
Humanista, natural de Ferrara em cuja catedral foi cónego. Contactou
com Pontano e Sannazzaro durante uma curta estada em Nápoles, tendo
feito amizade com Bocchio, Pierio Valeriano e Paolo Giovio, entre outros
emblematistas ilustres. Também autor de Libelli duo, onde versa os
enigmas da antiguidade e os símbolos do pitagorismo.
3 *Opera Omnia, Lião, 1696 (2 vols.) [BPNMafra: 1-38-2-2] Inclui o De deis
gentium varia, et multiplex historia [...], cuja edição princeps é de Basileia,
1548
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ANIMALIA, FLORALIA e MINERALIA
Uma das ideias-chave herdadas da Idade Média é a de que o
Mundo e a Natureza se assemelham a um livro aberto por Deus para que
os homens conheçam e interpretem a sua mensagem.
O emblematismo não desdenhou de tal lição, acolhendo as
fábulas sobre o comportamento e os atributos dos animais, expostos por
clássicos, como Aristóteles, Plínio, Solino ou Eliano, e adoptados pelas
Etimologias de Santo Isidoro, pelo Physiologus, atribuído a Santo Epifânio,
ou ainda por Santo Ambrósio, Hugo São Victor ou Rábano Mauro, entre
inúmeros outros.
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ANIMALIA, FLORALIA e MINERALIA
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JOACHIM CAMERARIUS (1534-1598)
Filho do humanista protestante do mesmo nome. Médico e botânico,
formado em Pádua e Bolonha. Além da obra exposta, autor de diversas
outras, tal como a apresentada, com gravuras de Hans Sibmacher (f.
1611): Symbolorum et Emblematum Morales (Nuremberga, 1559-1604), com
cem emblemas; Symbolorum et emblematum ex animalibus quadrupedibus
(Nuremberga, 1595); Symbolorum et Emblematum ex volatilibus et insectis de
suntorum centuria tertia [...] (Nuremberga, 1596); Symbolorum ac
Emblematum ethico politicorum [...] (Mogúncia, 1697); e Symbolorum et
Emblematum ex aquatilibus et reptilibus [...] (?, 1604)
4 *Symbolorum et Emblematum ex re herbaria desumptorum centuria una
collecta, s. l. [Nuremberga], 1690 [BPNMafra: 2-51-6-6] Edição princeps de
1590.
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EMBLEMÁTICA DO AMOR DIVINO
Os conceitos eróticos da poesia lírica helenística e petrarquista,
disfarçados sob roupagens espirituais, converteram-se em instrumentos
da propaganda contra-reformista. O espírito cristão aliado ao
senequismo, cuja profunda implantação na Península Ibérica foi
indubitável, condicionaram e propiciaram a sua difusão em Portugal.
5
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EMBLEMÁTICA DO AMOR DIVINO
5
HERMANN HUGO (1588-1629) S. J.
Autor do mais famoso livro de emblemas produzido por um padre da
Companhia de Jesus, traduzido e adaptado em praticamente todas as
línguas europeias, incluindo o português. Adoptou o casal Amor e Amina
de Veen.
5 *Pia Desideria Emblematis Elegiis et affectibus SS. Patrum illustrata,
Antuérpia, Henricus Aertssens, 1624 [BPNMafra: 2-13-1-15] e Antuérpia,
1740 [BPNMafra: 2-13-1-4] Emblemas de Boëtius a Bolswert, inspirados
em Veen e no Thronus Cupidinis. A popularidade desta obra cresceu
paralelamente à devoção do Menino Jesus renovada por Bérulle e o seu
sucesso deve ter derivado da tradição de representar o amor humano sob
o disfarce do Eros alexandrino. Apresenta Cristo como Fonte de Vida.
Inspirou: azulejos da Casa da Irmandade da igreja de Santa Cruz de
Santarém e da Casa do Capítulo do convento de Santa Marta de Lisboa;
as pinturas do arcaz da sacristia da igreja de São Pedro de Alcântara, em
Lisboa, etc.
29
A ICONOLOGIA DE CESAR RIPA
O termo Iconologia deriva do grego, eikôn, imagem, retrato, e logos,
palavra, discurso. Foi usado por Platão com o significado de linguagem
figurada. Voltaria a ocorrer somente em 1593, já como cultismo grego
italianizado, para titular o tratado de alegorias, ou Verdadeira descrição das
imagens universais, de Cesare Ripa.
O conceito seria retomado pelos sucessivos editores da obra,
nomeadamente por Jean Baudoin (1636), Jean Baptiste Boudard (Parma,
1759), Cesar Orlandi (Perúgia, 1764), etc., para quem passou a designar a
representação das faculdades da alma, das virtudes, das disposições
psíquicas, das artes e das ciências.
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A ICONOLOGIA DE CESAR RIPA
CESARE RIPA (1560-1625)
Pseudónimo de Giovanni Campani. Foi seu propósito estabelecer um
percurso emblemático partindo das alegorias de Pierio Valeriano, Giraldi,
Conti e Cartari. Herdeiro da tradição aristotélica e didáctica medieval,
criou aquilo que Seznec definiu como uma autêntica “Bíblia do Símbolo”,
o dicionário simbólico mais utilizado pelos artistas dos séculos XVII e
XVIII e a fonte prioritária na concepção de imagens alegóricas na pintura
e na escultura desde a centúria de seiscentos até o limiar do século XX.
6 *Iconologia overo descrittione dell’ Imagini universali cavate dall’antichita,
Roma, Lepido Facci, 1603 (primeira edição ilustrada com 150 xilografias
de Cavalier d’ Arpino) [BPNMafra, 2-60-3-26] A edição princeps (Roma,
Herdeiros de Giovanni Gigliotti, 1593) carecia de ilustrações; a
compilação de alegorias das paixões, vícios, virtudes, artes, sentidos, etc.,
acha-se ordenada alfabeticamente e acompanhada pela respectiva
justificação iconográfica, fontes e modelos estéticos; extremamente
divulgado em Portugal: alegado inspirador dos seis medalhões
alegóricos, pintados em grisalhas, que rodeiam o S. Miguel na abóbada da
Igreja de S. Francisco de Paulo (à Lapa) e dos painéis alegóricos
concebidos pelo italiano Giovanni Pachini, em 1719-1720, para o tecto da
sala capitular da Casa do Cabido da Sé do Porto; nas cerimónias de
canonização de Santa Isabel as virtudes da soberana foram personificadas
por imagens extraídas da Iconologia; Machado de Castro expressamente a
nomeia como inspiradora do baixo-relevo do plinto da estátua equestre
de D. José, na Praça do Comércio (Lisboa); ainda outras obras inspiradas
na Iconologia: Estátuas Monumentais do Palácio da Ajuda; Quatro
estátuas das Virtudes, na fachada da Basílica da Estrela; A Caridade, tela
pintada por Bento Coelho, existente no Seminário das Missões (Cernache
do Bomjardim), proveniente do convento de S. Felix de Chelas (Lisboa);
Efígie da República, além de inúmeras portadas alegóricas de livros, etc.
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ALCIATO E AS FONTES DA LITERATURA EMBLEMÁTICA
André Alciato (1492-1550) estudou em Milão (1504), sua cidade
natal, Pavia (1507) e Bolonha (1511), onde obteve o grau de doutor em
Cânones, no ano de 1514. Aí conheceu Filippo Fasanini, tradutor de
Horapolo, tendo mantido contacto com os círculos humanistas venezianos
e florentinos preocupados com a cultura hieroglífica. Em 1516, publica,
em Estrasburgo, os seus primeiros trabalhos sobre Jurisprudência. A
instabilidade política na Lombardia obrigá-lo-ia, entretanto, a dirigir-se
para Avignon (França), em 1518, onde permaneceu até 1522, tendo feito
amizade com Albutio, Peutinger, Erasmo, etc. Tendo regressado a Milão,
onde vive entre 1522 e 1527, dedica-se aos seus estudos, realizando
traduções e iniciando a composição dos Emblemata. A convite de
Francisco I de França leccionaria em Bourges (1529-1533), grangeando
prestígio e fama. Volta a Pavia de onde partirá, em 1537, para Bolonha, e
daí, em 1542, para Ferrara. Em 1546, declina o cardinalato, que lhe é
oferecido por Paulo III, porém aceita tornar-se protonotário apostólico.
No mesmo ano regressa a Pavia onde se fixará até ao fim da vida.
O núcleo da obra mais divulgada e influente de Alciato começou
como uma singela colectânea de 30 epigramas gregos traduzidos e
incluídos nos Selecta epigrammata graeca (Basileia, 1529). O material
publicado por Heinrich Steiner, em 1531, ainda sem qualquer ilustração,
constaria desses e de outros textos similares, encabeçados por frases
sentenciosas, que Alciato oferecera ao seu amigo Conrad Peutinger.
Para a composição do Emblematum Liber Alciato teve à vista a
Ilíada e a Odisseia, os fabulários latinos (de Fedro e Esopo), a cerâmica e
numismáticas clássicas, os epigramas gregos (nomeadamente os da
Antologia Planudea, do período alexandrino), as obras de Ovídio, Aulo
Gélio, Plínio, Ateneu, Eliano, Pausanias, etc., as colecções de provérbios e
máximas que sistematizavam a ética greco-latina (Dísticos Morais de
Catão e a Antologia de Estobeu), a Bíblia, os bestiários, a heráldica e a
literatura alegórica medievais, etc., e, designadamente, as invenções
hieroglíficas de Horapollo e Colonna, bem assim como os elencos de
apólogos e provérbios em circulação nos meios humanistas,
compendiados em diversas obras, com destaque para os Adagia do mestre
de Roterdão.
32
Emblema 80,
Adversus naturam peccantes,
introduzido na edição de Veneza, 1546,
seria omitido das posteriores a 1549 e só
recuperado na de Pádua, 1621.
Subsídios para a cronologia editorial do Emblematum Liber
nos séculos XVI e XVII
*Augsburgo, Heinrich Steyner, 1531
Durante algum tempo suspeitou-se da existência de uma impressão milanesa
anterior, remontando a 1522, no entanto, hoje, considera-se esta a primeira edição
(2 impressões, em Fevereiro e em Abril), a qual inclui 104 emblemas xilogravados
por Jorg Breu.
*Paris, Christian Wechel, 1534
Dedicada a Konrad Peutinger, com 113 xilogravuras de Mercure Jollat.
*Paris, Christian Wechel, 1536
Primeira tradução francesa por Jean de Fevre.
*Paris, Christian Wechel, 1542
Primeira tradução alemã por Wolfgang Hunger.
*Veneza, Filhos de Aldus Manutius, 1546
Inclui 86 emblemas inéditos. O emblema 80 (Adversus naturam peccantes) faz a sua
aparição nesta edição, ocorrendo nas de 1547, 1548 e na francesa de 1549 (p. 102,
sem imagem); excluído das seguintes, será recuperado pela edição paduana de
1621.
33
*Lião, Jean de Tournes, 1547
Reúne 198 emblemas.
*Lião, Sebastian Gryphius, 1548
A Reliqua opera, com 201 emblemas, foi a derradeira edição revista pelo próprio
Alciato, não ilustrada.
*Lião, Guillaume Rouillé, 1548
Inclui 201 emblemas, organizados segundo critérios morais.
*Basileia, Michael Isingrin, 1549
O Libellus emblematum consta do v. 4 desta edição da Opera Omnia de Alciato.
*Lião, Guillaume Rouillé, 1549
Los emblemas de Alciato traducidos in rimas españolas: primeira tradução castelhana;
o tradutor, Bernardino Daza Pinciano esteve em Portugal, integrado no séquito de
D. Joana, filha de Carlos V que se consorciou com o Príncipe D. João, progenitor
de D. Sebastião; a sequência dos emblemas é diferente da das versões francesas,
latinas e italianas
*Lião, Masseo Buonhomo, 1549
Tradução francesa de Bartelemy Aneau.
*Lião, Guillaume Rouillé (impresso por Masseo Buonhomo), 1549
Bartelemy Aneau acrescenta breves comentários à sua tradução do Emblematum
Liber
*Lião, Guillaume Rouillé, 1549
Tradução italiana por Giovanni Marquale.
*Lião, Guillaume Rouillé (impresso por Masseo Buonhomo), 1550
Acrescenta 11 emblemas inéditos, perfazendo o total de 211, doravante
definitivos, à excepção do emblema 80 aqui omitido e só reincorporado na edição
paduana de 1621.
*Lião, Jean de Tournes e Guillaume Gazeau, 1556
Edição com comentários breves de Sebastião Stockhamer, eventualmente
patrocinada por Dom João de Meneses Sottomayor, Senhor de Cantanhede.
*Basileia, M. Isingrin, 1558
Reedição da Opera Omnia.
*Lião, Masseo Buonhomo, 1559
*Paris, Jean Ruelle, 1562
Tradução de Jean le Feure.
*Antuérpia, Christophe Plantin, 1565
Com comentários de Sebastião Stockhamer.
*Antuérpia, 1566 e 1567
*Lião, Guillaume Rouillé, 1566
São adicionados breves epimythia.
*Francoforte, Feyerabend, 1567
Inclui texto latino e tradução alemã.
*Lião, Guillaume Rouillé, 1573
Com comentários de Franciscus Sanctius, professor em Salamanca.
*Paris, Jerome de Marnef e Guillaume Cavallet, 1573
Inclui notas breves em francês.
34
*Antuérpia, Christophe Plantin, 1573
Ocorrem pela primeira vez os comentários do jurisconsulto francês Claude
Mignault, os mais extensos de todos os publicados.
*Antuérpia, Christophe Plantin, 1577
Duas reimpressões no mesmo ano com comentários de Claude Mignault. Faz
alusão ao emblema 80 no final do Epigrammatum graecorum […] explicatio (p. 683).
*Antuérpia, Christophe Plantin, 1581
Os extensos comentários de Mignault tornaram esta edição uma das mais
volumosas (760 páginas), só ultrapassada pela de Pádua, de 1621.
*Basileia, Thomas Guarinus, 1582
Terceira edição da Opera Omnia
*Antuérpia, Christophe Plantin, 1584
Inclui notas abreviadas baseadas nas de Mignault.
*Leiden, Christopher Plantin, 1586
Primeira edição inglesa por Geoffrey Whitney: A Choice of Emblemes and other
Devises
*Lião, Oficina Plantiana, 1591
Duas reimpressões do mesmo ano com comentários de Claude Mignault.
*Leiden, 1591
*Antuérpia, Oficina Plantiana, 1593
*Pádua, Pedro Paulo Tozzi, 1598
*Lião, Herdeiros de Guillaume Rouillé, 1600
*Rahhelengii, Oficina Plantiana, 1608
*s. l. [Genebra], Guillaume Rouille, 1614
Com comentários de Sebastião Stockhamer
*Lião, Herdeiros de Guillaume Rouillé, 1614
*Nájera, Juan de Mongastón, 1615
Edição de Diego López (Declaracion magistral sobre los emblemas de Andrés Alciato),
com reedições em Valência, 1655, 1670 e 1684; as estampas são cópias ampliadas
e invertidas dos emblemas saídos dos prelos de G. Rouillé, enquanto os
comentários se inspiram no Brocense) [BPNMafra, 2-35-6-8]; 1616
*Pádua, Pedro Paulo Tozzi, 1618
Uma notula extemporaria de Laurentius Pignorius acompanha os comentários de
Mignault.
*Pádua, Pedro Paulo Tozzi, 1621
A edição mais volumosa de sempre, com cerca de um milhar de páginas,
organizada por Johannes Thuilius; inclui comentários de Francisco Sanchez, o
Brocense, Claude Mignault e Laurentius Pignorius; recupera o emblema 80,
omitido desde a edição de Guillaume Rouillé, de 1550.
*Pádua, Pedro Paulo Tozzi, 1626
Com comentários de Johannes Thuilius.
*Pádua, Paulo Frombotti, 1661
*Antuérpia, Henrique e Cornélio Verdussen, 1692 [BPNMafra, 2-35-3-25]
35
ALCIATO EM PORTUGAL
Foi amplíssima em Portugal a aceitação da obra deste
jurisconsulto milanês e muito popular até aos finais da centúria de
setecentos.
É conhecido o quanto o Senhor de Cantanhede, D. João de
Meneses Sotomaior, encarecia os Emblemata, a ponto de, correspondendo
a uma sua solicitação, Sebastião Stockhamer ter composto, em 1552, os
sucintos comentários, posteriormente impressos em Lião (1556),
Antuérpia (1565, 1566 e 1567) e Genebra (1614).
Nas letras profanas os Emblemata inspiraram notoriamente Luís
de Camões, André Rodrigues Eborense, António Ferreira, Francisco
Leitão Ferreira, António Delicado, António de Sousa de Macedo, bem
como inúmeros outros de entre os quais se destacam Manuel Faria e
Sousa, Manuel Severim de Faria e Bocage.
Nas artes são-lhes tributários João de Ruão, Francisco de
Holanda, bem assim como os autores dos programas iconográficos
destinados às entradas régias e aos jardins de muitas quintas de recreio e
palácios, de que são paradigmáticas a Quinta da Bacalhoa (Azeitão) e o
Palácio Fronteira (Lisboa).
Já no século XIX, também o pintor António Manuel da Fonseca
utilizou os Emblemata para compôr diversas das suas obras,
designadamente um painel de pintura destinado ao barão de Quintela.
A influência de Alciato e de seus mais notórios discípulos não foi
menor entre teólogos e moralistas, que empregaram emblemas para
interpretações ao divino, como sucedeu com Frei Heitor Pinto e Manuel
Bernardes, em particular, e com os jesuítas, em geral. Outro exemplo é o
oratório da duquesa de Bragança D. Catarina (Paço de Vila Viçosa),
concebido pelo pintor Tomás Luís.
A única tradução portuguesa conhecida (Declaração Magistral
sobre os Emblemas de Alciato com todas as Historias, Antiguidades,
Moralidades, e Doctrina tocante aos bons costumes) foi realizada, em 1695, por
Teotónio Cerqueira de Barros, cavaleiro da Ordem de Cristo, familiar do
Santo Ofício natural da Vila de Barca Província do Minho, a partir da
edição de Diego Lopez (1615).
36
ALCIATO EM PORTUGAL
Da Fábrica que falece ha Cidade de Lysboa (1571 [BA: 51-III-9]) de Francisco de Holanda:
Inigma inspirado num dos emblemas de Alciato
37
A IDADE DE OURO DA LITERATURA EMBLEMÁTICA
O êxito retumbante e a popularidade alcançados pela obra de
Alciato, autêntica vulgarização da doutrina antes apenas acessível nos
Espelhos e Regimentos de Príncipes (os denominados livros ad usum
delphini), testemunham o interesse generalizado que suscitou não só no
velho Continente como também nas colónias (nomeadamente as
americanas), o qual se havia de consubstanciar na adesão ao género de
um número crescente de autores. Paradoxalmente, o alinhamento de
muitos deles, por campos ideológica e idiossincraticamente distintos,
como eram o dos reformados e o dos contra-reformistas, não os impediria
de, reiteradamente, partilharem as mesmas fontes.
Num ápice, o emblematismo havia de transformar-se numa
espécie de linguagem universal e influenciar outros géneros e disciplinas,
tornando-se a literatura (Camões), o teatro (Shakespeare e Cervantes) e as
artes plásticas campos preferenciais para a sua expressão.
Os jesuítas foram os primeiros e principais difusores da
linguagem simbólica veiculada, desde os seus primórdios, pelo
emblematismo. A imaginação figurada, que desempenhou um papel
crucial no influente sistema pedagógico da Companhia de Jesus, na
maioria dos casos com uma finalidade persuasiva no âmbito da ContraReforma, moldou os hábitos mentais de inúmeros artistas e literatos.
Concomitantemente, a vertente especulativa que animava os
discípulos de Loiola propiciou a redacção de algumas das mais notórias
enciclopédias e obras teóricas sobre emblemas e empresas, susceptíveis
de evidenciar e promover os métodos subjacentes à elaboração e exegese
de tais saberes.
38
EMBLEMÁTICA ITÁLICA
7
RAFFAELLO DA URBINO (1483-1520)
Pintor renacentista, formado na Escola de Umbría com Perugino.
7 *Diverses figures Hierogliphiques peinte par [...] dans une des Salles du
Vatican à Rome, Paris, [?] [BPNMafra: 1-38-1-2]
ACHILLES BOCCHIO (1488-1562)
Bolonhês, amigo de Pierio Valeriano e de Lilio Gregorio Gyraldi.
8 *Symbolicarum quaestionum, de universo genere, quas serio ludebat, libri
quinque, Bolonha, 1574 [BPNMafra, 2-25-11-14] Segunda edição (a princeps
é de 1555); trata-se de um dos mais belos livros do género, misturando
empresas com emblemas; as 151 estampas que o compõem foram
39
EMBLEMÁTICA ITÁLICA
8
gravadas em cobre por Giulio Bonasone e retocadas por Agostino Carraci
para esta reimpressão; alguns dos emblemas retomam temas eróticos
alexandrinos e petrarquistas (cf. números 6, 7, 13, 20, 75, etc.); Francisco
de Holanda inspirou-se no emblema 62 para o seu Hermes Mercúrio do
De AEtatibus Mundi Imagines (fl. 26v / LII / 45).
ANTONIUS RICCIARDUS BRIXIANUS
Emblematista natural de Brescia.
9 *Commentaria Symbolica in duos tomos distributa, Veneza, Francesco
Senense, 1591 (2 vols.) [BPNMafra: 1-54-3-12 / 13]
40
EMBLEMÁTICA ITÁLICA
GIROLAMO RUSCELLI (ca. 1504-1566)
Polígrafo e aventureiro, natural de Viterbo. Tradutor para italiano e editor
da Geografia de Ptolomeu. Autor do Discorso intorno all’inventioni
dell’Imprese (1556).
10 *Le Imprese Illustri, Veneza, Francesco de Franceschi Senesi, 1584
[BPNMafra: 2-64-5-4] Edição princeps de 1566; explana as diferenças entre
emblema e empresa.
10
11
ABADE GIOVANNI FERRO
11 *Teatro d’Imprese, Veneza, Giacomo Sarzina, 1623 [BPNMafra:
2-25-14-3]
12 *Ombre apparenti nel Teatro d’Imprese, Veneza, 1629 [BPNMafra:
2-25-14-2] Réplica dirigida contra Aresi com quem manteve polémica.
41
EMBLEMÁTICA ITÁLICA
FRANCESCO
1655)
PONA
(1595-
Médico e literato veneziano,
autor de vasta obra que abarca a
tratadística científica, a historiografia, a poesia, o teatro, etc.
13 *Cardiomorphoseos sive ex corde
desumpta
Emblemata
sacra,
Verona, 1645 [BPNMafra: 2-13-621 e 22 = 2 exemplares] Inclui
uma centena de emblemas
cordiformes muito rústicos.
13
FILIPPO PICINELLI (1604-ca. 1667)
Religioso cuja obra emblemátiva teve assinalável repercussão na América
do Sul.
14 *Symbola virginea ad honorem Mariae Matris Dei [...], s. l., 1694
[BPNMafra: 2-6-2-10 / 11; 2-6-2-12 / 17 = 3 colecções] Tradução latina dos
Simboli verginali a gli honori di Maria madre di Dio Spiegati in cinquanta
discorsi (Milão, 1679).
15 *Mundus Symbolicus in Emblematum, Colónia, 1715 [BPNMafra: 1-17-21 / 6 = 3 colecções] Tradução latina do Mondo simbolico o sia Universita
d´imprese scelte, spiegate ed illustrate con sentenze ed erudizione sacre e profane
(Milão, 1653)
DANIELLO BARTOLI (1608-1685) S. J.
Considerado o Dante da prosa italiana. Também autor de Della Geografia
trasportata al morale (Milão, 1664)
16 *Simboli trasportati al morale, Varese, 1684 [BPNMafra: 2-35-15-1]
42
EMBLEMÁTICA ITÁLICA
OTTAVIO SCARLATINI
Académico.
17 *Homo et ejus partes figuratus et symbolicus, anatomicus, rationalis, moralis,
mysticus, politicus, legalis, collectus et explicatus cum figuris, symbolis, anatomiis,
[...], Augustae Vindelicorum, 1695 [BPNMafra: 1-17-2-7 e 8 = 2 exemplares]
Tradução latina de L’Uomo e sue parti figurato e simbolico [...] opera utile á
predicatori (Bolonha, 1684), ilustrada com 41 gravuras no meio do texto.
19
20
CARLO LABIA (1677-1701)
Cortesão veneziano, arcebispo de Corfú e bispo de Adria.
18 *Dell’ Imprese Pastorali, Veneza, 1685 [BPNMafra: 1-5-5-14 e 15 = 2
exemplares] Empresas destinadas a eclesiásticos.
19 *Simboli festivi per le solennitá principali di Christo N. S. della B. Vergine
Maria, degl’ Apostoli, e d’ altri Santi [...], Veneza, Nicoló Pezzana, 1698
[BPNMafra: 1-5-5-17 e 1-5-6-3 = 2 exemplares]
20 *Simboli predicabili estratti da Sacri Evangeli che corrono nelle Domeniche di
tutto l’Anno, delineati con morali ed eruditi discorsi, Ferrara-Veneza, 16921696 (2 vols.) [BPNMafra: 1-5-6-1 / 2 e 1-5-6-4 / 5 = 2 colecções]
21 *Horto symbolico che con Gieroglifici di varii altori e diverse Piante
rappresenta le virtu singulari d’ alcuni santi e molte sante, Veneza, 1700
[BPNMafra: 1-5-5-16 e 1-5-6-6 = 2 exemplares]
43
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
22
HADRIANUS JUNIUS (1511-1575)
Aadrian DeJonghe. Médico holandês formado em Bolonha e proibido por
Trento. Foi o primeiro a descrever uma espécie de cogumelos endémicos
nas dunas do litoral dos Países Baixos, cuja nomenclatura científica o
homenageia (Phallus hadriani Vent. Pers.)
22 *AEnigmatum Libellus, Antuérpia, Cristóvão Plantino, 1565 [BPNMafra:
2-35-6-24] Atribui ao símbolo o mesmo valor que Polifilo; tal como
Coustau, adiciona aos emblemas e epigramas interpretações em prosa,
carregadas de citações, prática muito seguida posteriormente por outros
emblematistas.
OTTO VAN VEEN(1555-1629)
Octavius van Veen de Leyden, um dos mais notáveis emblematistas
flamengos. Estudou em Roma com Frederico Zuccaro de quem deve ter
herdado o gosto pela alegoria que, por sua vez, transmitiu a Rubens no
período em que o pintor foi seu discípulo (1596-1600). Também autor de
Amorum Emblemata (Antuérpia, Henrik Swingen, 1608) e Amoris Divini
Emblemata (Antuérpia, Martini Nutii e Ioannis Meursii, 1615), obras nas
quais introduziu o casal de personagens Amor e Amina.
44
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
23
23 *Theatro moral de la Vida Humana en cien emblemas; con el Enchiridion de
Epicteto, y la Tabla de Cebes, Philosopho platónico, Antuérpia, 1733
[BPNMafra: 1-17-2-9 = em falta] Edição princeps de Bruxelas, 1672;
tradução castelhana do Q. Horati Flaci emblemata (Antuérpia, 1607),
incluindo 104 gravuras; os desenhos dos 37 painéis de azulejos (oficina de
Bartolomeu Antunes?, cerca de 1750) do pavimento inferior do claustro
do convento de S. Francisco da Baía (Brasil) reproduzem os do Teatro
Moral, tal como alguns do Palácio dos Coruchéus e do convento de São
João de Deus, em Lisboa, ou os dos 2 painéis da Casa Góes Calmon (actual
sede da Academia das Letras da Baía).
MICHAEL HOYER O. S. A.
24 *Flammulae amoris S. P. Augustini, Antuérpia, 1708 [BPNMafra: 2-22-1021] Edição princeps de 1629, ilustrada por Henricus Aertssens e gravada
por G. Collaert; livro de emblemas protagonizado pela Alma (Arima) e o
Amor Divino (Amor); algumas das ilustrações que companham esta 3ª
edição, presente na mostra, foram mal gravadas.
45
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
25
26
JAN DAVID S. J.
Também autor de Duodecim Specula Deum aliquando videre desideranti
concinnata (Antuérpia, 1610)
25 *Veridicus Christianus, Antuérpia, Jan Moretus, 1606 [BPNMafra: 2-765-12] A edição princeps saíra em 1601.
26 *Paradisus sponsi et sponsae [...], Antuérpia, 1618 [PNMafra: 2-77-3-10]
Edição princeps de 1607.
BENEDICTUS VAN HAEFTEN (1588-1648)
Discípulo de Daniel Cramer.
27 *Le Chemin royal de la croix, Lião, s. d. (2 vols.) [BPNMafra: 2-15-6-19
/ 20] Tradução francesa de Schola cordis sive aversi a Deo cordis ad eumdem
reductio et instructio (Antuérpia, 1629); a Alma e o Amor são
representados em cerca de 50 acções no decurso das quais são ambos
submetidos a diversos tormentos. O tema do Amor torturado (já
presente no Cupido cruci affixus de Ausónio) ocorre nos azulejos da
sacristia do Convento de Santo António de Varatojo (Torres Vedras),
tendo, provavelmente, inspirado: alguns painéis cerâmicos dos jardins
de Santa Cruz de Coimbra e do convento da Serra de Ossa; seis painéis
46
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
28
do acervo do Museu do Azulejo de Lisboa e do próprio claustro do
convento da Madre de Deus.
28 *Regia Via Crucis, Antuérpia, 1738 [BPNMafra: 2-15-6-28] Edição
princeps de Antuérpia, por Balthasaris Moreti, em 1635; o Amor Divino
(personificado pelo Menino Jesus) ensina o caminho da cruz à Alma
Staurofila, em cerca de quatro dezenas de estampas. No final crucificam-se um sobre o outro, de acordo com Gálatas (II, 19): “Com Cristo estou
crucificado”. Na sacristia do convento das Flamengas, ao Calvário
(Lisboa), transformada em capela funerária por João Vanvessen, alto
dirigente da administração régia, contemporâneo do início do reinado de
D. João V, subsiste um conjunto de 10 telas (originalmente doze) da
autoria de Bento Coelho da Silveira, inspirado em estampas incluídas
nesta obra. O primeiro quadro localizava-se ao lado da antiga porta de
acesso à sacristia, e representava a Alma numa bifurcação de estradas
(legenda latina cuja tradução: Este é o caminho, segui por ele = Isaías, XXX,
21). Sob esta tela, achava-se uma mais pequena onde a Alma surge
abraçada a uma cruz, dando em troca o seu coração, o que é recusado
47
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
por Cristo. A terceira tela desapareceu em 1929; figurava Cristo
demonstrando à Alma as vantagens do Caminho da Perfeição,
sublinhando que Deus tem sempre em conta os sacrifícios dos fiéis. Sob
esta, situar-se-ia outra tela mais pequena figurando Cristo transportando
a Alma ao Inferno para que ela saiba o que está destinado a todos aqueles
que continuam presos aos prazeres mundanos. Aquilo que é dado à Alma
observar no Inferno é mostrado na quinta tela que estaria colocada do
lado esquerdo do altar da capela: o castigo dos pecadores, figurados por
indivíduos com ricas vestes, subjugados por demónios que lhes impõem
pesadas cruzes as quais os esmagam (legenda latina, cuja tradução:
Muitos são os sofrimentos do ímpio = Lucas, XXXII, 10). À esquerda do altar
ficava o segundo conjunto de telas que principiava com a sétima tela,
desaparecida antes de 1887, a qual retratava Cristo exortando a Alma a
abandonar os prazeres mundanos. A tela pequena, associada à anterior,
figura a Alma transtornada desejando enveredar pelo Caminho da
Perfeição: A paixão sem reflexão já não é coisa boa, mas aquele que é apressado
nos seus movimentos erra (Provérbios, XIX, 2). Sobre os arcazes situavam-se
as telas alusivas à aprendizagem da disciplina rigorosa pela Alma.
A primeira dessas grandes telas figurava a Alma amedrontada, temendo
a violência do seu mestre espiritual (legenda latina, cuja tradução: Toma a
cruz e segue-me = Mateus, XVI, 24). A pintura mais pequena associada a
esta, em muito mau estado de conservação, figurava a Alma de joelhos,
segurando a cruz com grande dificuldade; Cristo encarna o papel do
mestre que não hesita em castigar (legenda latina, cuja tradução: Meu
filho, não rejeites as lições do teu Deus nem te apoquentes quando ele te corrigir
= Provérbios, III, 11). O último par de telas situava-se ao lado da porta de
acesso à igreja: A Alma segura firmemente a cruz, enquanto um anjo a
sobrevoa segurando a coroa que lhe é destinada em virtude das suas
conquistas espirituais. O quadro mais pequeno figura a Alma recebendo
algumas recomendações, consoante o teor da legenda latina, cuja
tradução: Não te jactes de sábio ao executar os teus trabalhos (Eclesiástico, X,
26). Em tudo semelhante a este conjunto, existe na sacristia do convento
de S. Pedro de Alcântara (Bairro Alto, Lisboa) outro grupo de telas do
mesmo pintor.
48
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
29
JACOBUS TYPOTIUS
Humanista holandês, residente em Praga, no ano de 1600.
29 *Symbola divina et humana [...], Praga, 1601-1603 [BPNMafra: 1-17-2-12
e 13 = 2 exemplares]
MARCUS ZUERIUS BOXHORNIUS (1602-1653) S. J.
Também autor de Emblemata politica (Amesterdão, 1635)
30 *Monumenta illustrium virorum et elogia cum figuris, Amesterdão, 1638
[BPNMafra: 1-38-8-17, aliás 1-38-10-10]
49
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
31
HENRICUS ENGELGRAVE (1610-1670) S. J.
Reitor dos Colégios de Judenaarde, Kassel e Bruges.
31 *Lux Evangelica sub velum Sacrorum Emblematum recondita, Colónia, 1726
(2 vols.) [BPNMafra: 2-4-7-11 / 12; além desta, existem mais 3 colecções]
Edição princeps de 1655-1659
32 *Coeleste Pantheon [...], Colónia, 1727 (2 vols.) [BPNMafra: 2-14-7-6 / 7;
existem três outras colecções] Edição princeps de 1658; a 1ª parte foi
proibida por Decreto de 2 Junho 1636.
33 *Caelum Empyreum in festa et gesta sanctorum, Colónia, 1727 (2 vols.)
[BPNMafra: 2-4-7-2 / 3; além desta existem mais 4 colecções] Edição
princeps de 1668-1670
JOHANN MICHAEL VON DER KETTEN
Membro da Ordem do Santíssimo Salvador.
34 *Apelles symbolicus exhibens seriem amplissimam symbolorum, poetisque,
oratoribus ac Verbi Dei praedicatoribus conceptus […], Amesterdão, 1699 (2
vols.) [BPNMafra: 2-25-11-15 / 16] Imitação latina da Philosophia imaginum
(Amesterdão, 1695) do jesuíta Claude-François Menestrier, com novas
ilustrações; inclui elenco de livros, imagens e conceitos úteis para os
pregadores.
50
EMBLEMÁTICA FLAMENGA E NEERLANDESA
35
JAN LUYKEN (1649-1712)
Ilustrador e gravador, natural de Amesterdão. Inspirou-se nos emblemas
de Boetius a Bolswert.
35 *Jesus en de Ziel [...], Amesterdão, 1732 [BPNMafra: 1-54-1-1] Edição
princeps de 1678; protagonizado pelo Menino Jesus e pela Alma Staurofila;
a sua atmosfera é muito mais espiritual que a dos Pia Desideria.
51
EMBLEMÁTICA GERMÂNICA E ESLAVA
36
JOANNES SAMBUCUS (1531-1584)
Médico e historiador húngaro, também autor de Icones Veterum aliquot ac
recentium Medicorum Philosophorumque cum elegiolis suis editae opera [...]
(Antuérpia, Plantino, 1574), com ilustrações de Pierre van der Borcht.
36 *Emblemata, et aliquot nummi antiqui operis [...], Antuérpia, 1569
[BPNMafra: 2-35-3-26] Edição princeps por Plantino, em 1564; discorda da
opinião generalizada, segundo a qual emblema e conceito têm origem
epigramática.
JACOBUS PONTANUS (1542-1626)
37 *Symbolorum libri 17 quibus P. Virgilii Maronis Bucolica, Georgica, AEneis
exprobationimis [...], Lião, 1604 [BPNMafra: 1-14-7-7]
JEREMIAS DREXELIUS (1581-1638) S. J.
Também autor de, entre outras obras: De Aeternitate considerationes
(Munique, 1620), Zodiacus christianus (Munique, 1622) e *Heliotropium
(Munique, 1627)
38 *Recta intentio omnium humanarum actionum, Munique, 1636
[BPNMafra: 2-15-1-9]
39 *Nicetas, seu triumphata incontinentia, Colónia, 1628 [BPNMafra: 2-15-1-1]
40 *Orbis Phaeton, Colónia, 1629 (3 vols.) [BPNMafra: 2-15-1-4 / 6]
Ilustrada por Sadeler.
52
EMBLEMÁTICA GERMÂNICA E ESLAVA
41
42
JAKOB MASEN (1606-1681) S. J.
Académico e historiador.
41 *Ars nova argutiarum, Colónia, 1711 [BPNMafra: 2-25-8-4] Ocupa-se do
epigrama; edição princeps de 1649.
42 *Speculum imaginum veritatis occultae, exhibens symbola, emblemata,
hieroglyphica, aenigmata [...], Colónia, 1681 [BPNMafra: 2-25-11-12] e
Colónia, 1714 (2 vols.) [BPNMafra: 2-25-11-20 / 21] Edição princeps de
1650; chama Iconomystica à emblemática.
JOHANNES SENFTLEBEN S. J.
43 *Philosophia moralis ad politico-christiane conversandum, Coimbra,
Tipografia da Universidade, 1729 [BPNMafra: 2-36-2-31] A edição princeps
saiu em Praga, no ano de 1683.
53
EMBLEMÁTICA GERMÂNICA E ESLAVA
44
JOACHIM SANDRART (1606-1688)
Pintor, gravador, antiquário e literato.
44 *Iconologia Deorum, Nuremberga, 1680 [BPNMafra: 1-38-4-5] Tradução
alemã das Metamorfoses de Ovídio, obra de referência no que concerne à
mitologia.
45 *Sculpturae veteris admiranda, sive deliniatio vera [...], Nuremberga, 1680
[BPNMafra: 1-38-11-5, aliás 1-38-4-1]
AMBROSIUS MARLIANUS
46 *Theatrum politicum in quo quid agendum sit a principe, et quid cavendum
accurate praescribitur elogiis adagiis, emblematibus, notis academicis,
hieroglyphicis insignitum, Augustae Vindelicorum, Christoph Bartl, 1741
[BPNMafra: 2-36-4-19] Edição princeps de Roma, 1631
54
EMBLEMÁTICA GERMÂNICA E ESLAVA
JULII WILHELMI ZINCGREFII
47 *Emblematum Ethico-Politicorum Centuria, Heidelberg, 1666 [BPNMafra:
2-36-5-6] Edição princeps de 1664
48 *Emblemata varia cum figuris [Sem rosto: Oppenheim?] [BPNMafra:
2-13-6-23] Ilustrada por Theodor de Bry
JUSTUS REIFENBERG
49 *Emblemata politica, Amesterdão, 1632 [BPNMafra: 2-36-4-10]
PETRUS APIANUS (1495-1552)
Matemático e cosmógrafo.
50 *Inscriptiones Sacrosanctae vetustatis, Ingolstadt, 1534 [BPNMafra:
1-38-12-6]
CHRYSOSTOMUS HANTHALER (1690-1754)
Historiador e literato cisterciense.
51 *Quinquagena Symbolorum Heroica, Crembsij, 1741 [BPNMafra: 1-17-1-3]
55
EMBLEMÁTICA FRANCESA
52
ANTOINE LE SUQUET S. J.
52 *Via vitae Aeternae iconibus, Antuérpia, Martinus Nutius, 1625
[BPNMafra: 2-13-6-15] Ilustrada por Boëtius a Bolswert.
BLAISE DE VIGÈNERE (1523-1596)
Diplomata, criador de um sistema de decifração conhecido por Método
Vigènere.
53 *Les Images ou Tableaux de platte peinture des deux Philostrates Sophistes
Grecs et les Statues de Callistrate [...], Paris, 1629 [BPNMafra: 1-38-2-4, aliás
1-38-3-4]
JEAN JACQUES BOISSARD (1528-1602)
Também autor de Emblemata cum tetrastichis latinis ([Metz], [1584]) e Vitae
et icones sultanorum turcicorum, principum persarum [...] (Francoforte, 1596),
ilustrada por Theodorus de Bry.
54 *Theatrum vitae humanae ab ipso conscriptum, s.l., s.d. [BPNMafra: 2-18-20]
56
EMBLEMÁTICA FRANCESA
GEORGETTE DE MONTENAY (1540-1607)
Também autora de Emblemes, ou Devises Chrestiennes (Lião, Marcorelle,
1571), obra dedicada à Rainha de Navarra, na qual se incluem uma
centena de emblemas. Foi a introdutora da aplicação religiosa dos
emblemas. A figura do Amor Divino faz a sua primeira aparição no
emblema 45.
56 *Monumenta emblematum Christianorum [...] centuria una [...],
Francoforte, 1619 [BPNMafra: 2-35-6-23]
56
57
AUGUSTIN CHESNEAU O. S. A.
57 *Orpheus Eucharisticus: Sive Deus Absconditus humanitatis illecebis
illustriores Mundi partes ad se pertrahens […], Paris, 1657 [BPNMafra:
2-22-12-11]
57
EMBLEMÁTICA ESPANHOLA
PEDRO DE BIVERO (1575-1656) S. J.
Também autor de Sacrum Sanctuarium crucis et patientiae (Antuérpia, 1634)
58 *Sacrum Oratorium piarum imaginum immaculatae Mariae, Antuérpia,
Plantino, 1634 [BPNMafra: 2-72-5-7]
ANDRÉS MENDO (1608-1684) S. J.
59 *Principe Perfecto y Ministros ajustados. Documentos Políticos y Morales en
Emblemas, Lião, 1661 [BPNMafra: 2-36-6-5] Trata-se da editio optima, a qual
inclui 80 estampas em cobre; edição princeps de Lião, 1642
60
JUAN DE HOROZCO Y COVARRUBIAS (1550-1608?)
Irmão do emblematista Sebastian de Covarrubias y Horozco. Arcedíago
de Cuéllar na catedral de Segóvia, posteriormente bispo de Guadix e
Agrigento.
60 *Emblemas Morales, Segóvia, Juan de la Cuesta, 1589 [BPNMafra: 2-35-6-6]
Organizado em três livros e 101 emblemas, acompanhados por um
58
EMBLEMÁTICA ESPANHOLA
epigrama de sentido moral e texto explicativo: o primeiro ocupa-se da
terminologia, conceitos e regras das empresas, emblemas, insígnias,
divisas, pegmas e hieróglifos, concluindo com um resumo de
simbolismos inspirado em Pierio Valeriano; os livros segundo e terceiro
contêm 50 emblemas cada um, acompanhados pelas respectivas
explicações, impregnadas de cultura clássica e com intuito moralizante. A
editio optima, saiu em Saragoça, no ano de 1604; na BPNMafra existe ainda
outro exemplar desta obra, de Saragoça, 1610 [BPNMafra: 2-35-6-7].
61 *Paradoxas Christianas contra las falsas opiniones del mundo, Segóvia, 1592
[BPNMafra: 2-14-5-4]
JUAN DE PINEDA S. J.
Discípulo de Georgette de Montenay.
62 *Commentariorum in Iob libri tredecim Adiuncta singulis capitibus sua
paraphrasi [...], Veneza, 1602 (2 vols.) [BPNMafra: 2-2-10-3 / 4]; Antuérpia,
1612 [BPNMafra: 2-2-10-5 = apenas o 2º tomo]; Colónia, 1701 [BPNMafra:
2-2-10-1 / 2]. A edição princeps é de Sevilha, 1598
ALONSO DE LEDESMA (1562-1623)
Natural de Segóvia. Um dos mais destacados introdutores do
conceptismo em Espanha. Também autor de Enigmas hechas para honesta
recreación, in Iuegos de Noche Buena moralizados a la vida de Christo, martyrio
de Santos, y reformación de costumbres [...] (Madrid, 1611) e Epigramas y
hieroglíficos a la vida de Christo, Festividades de nuestra Señora, Excelencias de
Santos, y Grandezas de Segovia (Madrid, 1625)
63 *Conceptos espirituales, Madrid, 1632 [BPNMafra: 2-24-9-17] Edição
princeps de 1600
ALONSO DE BONILLA (?-1635)
Outro destacado introdutor do conceptismo em Espanha.
64 *Nombres y attributos de la impeccable siempre Virgen Maria [...], Baeza,
1624 [BPNMafra: 2-24-11-4]
59
EMBLEMÁTICA ESPANHOLA
65
DIEGO DE SAAVEDRA FAJARDO (1584-1648)
Murciano, Cavaleiro da Ordem de Santiago e um dos mais importantes
diplomatas do seu tempo.
65 *Idea de un Principe Político Christiano representada en cien Empresas
[...],Amesterdão, 1659 [PNMafra: 2-36-4-25 / 26] Edição princeps de
Munique, 1640; editio optima, a de Milão, 1642; notável tratado de
empresas políticas, na realidade um Espelho de Príncipes; a obra destinava-se à educação do príncipe Baltasar Carlos, encontrando-se organizada
consoante as idades do destinatário: a educação do príncipe (1 a 6 anos);
suas acções (7 a 37); o príncipe e os súbditos estrangeiros (38 a 48); o
príncipe com os ministros (49 a 58); o príncipe nos seus Estados (59 a 72);
o príncipe ante os males dos seus Estados (73 a 95); o príncipe na velhice
(100 e 101). Teve uma difusão surpreendente, sendo conhecidas mais de
trinta edições. O valor mnemónico das empresas é sublinhado pelas
prosas que as acompanham por intermédio das quais o autor expõe a sua
doutrina pedagógica.
ANDRES SANCHEZ DE VILLA MAYOR
66 *Simulacros morales, sombras illustradas con la razon, y con el exemplo en 12
discursos, Madrid, 1728 [BPNMafra: 2-14-3-8; 2-13-15-1]
60
EMBLEMÁTICA ESPANHOLA
Imagem 67 e
67
JUAN DE SOLÓRZANO Y PEREIRA (1575-1655)
Jurista. A Dedicatória do Panegírico Funebre nas exequias do muito Alto,
Poderoso, Fidelissimo Rey, o Senhor D. João V (Lisboa, 1750), do Padre
Manuel Rodrigues, abre com um cabeção gravado por Debrie, alusivo ao
monarca e inspirado num emblema de Solorzano: o Rei sentado, à
esquerda, em um grande cadeirão com um braço apoiado numa mesa
sobre a qual está a coroa real; de joelhos, diante de si, um jovem oferece-lhe um manto onde se vêem impressos olhos, ouvidos, e mãos, os quais
significam: os olhos para ver as necessidades do povo, os ouvidos para
ouvir as suas queixas e as mãos para com liberalidade o socorrerem.
Inferiormente, numa cartela, lê-se: “En tibi gerit, quam lumina praebuit
Argos, / Rex aures totidem, quin totidemque manus”.
67 *Emblemata centum, Regio Politica [...], Madrid, 1653 [BPNMafra: 2-36-717] Edição princeps de 1651.
ALEXANDRO LUZON DE MILLARES
68 *Idea política veri christiani, sive Ars Oblivionis, isagogica ad artem
memoriae [...], Bruxelas, 1665 [BPNMafra: 2-36-7-18] Edição princeps do ano
anterior; tratado emblemático de mnemotecnia.
61
EMBLEMÁTICA ESPANHOLA
69
FRANCISCO NUÑEZ DE CEPEDA (1616-1690)
Capelão do arcebispo de Toledo, Don Luís de Portocarrero.
69 *Idea del Buen Pastor, copiada por los SS. Doctores, representada en empresas
sacras, con avisos espirituales, morales, políticos y económicos para el buen
gobierno de un príncipe eclesiástico [...], Lião, 1682 [BPNMafra: 2-14-8-3]
Talvez o livro mais representativo do género emblemático expressamente
dirigido à doutrinação dos prelados, o qual remontando à patrística, teve
ilustres representantes na península Ibérica, tais como Don Juan Bernal
Diaz de Luco (f. 1556), bispo de Calahorra, e Frei Bartolomeu dos
Mártires, bispo de Braga, aliás a quem o autor adopta como exemplo. Na
sua forma primitiva a obra é constituída por oito partes, num total de 40
empresas e mais de 700 páginas.
FREI FRANCISCO AGUILAR
70 *Hieroglyphica, sive Symbola Marianna [...], Salamanca, Eugenio Garcia
de Honorato, 1724 [BPNMafra: 2-6-11-10 e 11 = 2 exemplares]
71 *Psalterium decem chordarum superadditum hieroglyphicis Mariannis [...],
Salamanca, 1729 [BPNMafra: 2-6-11-23]
62
EMBLEMÁTICA ESPANHOLA
FREI JUAN DE ROJAS Y AUSA (?-1685)
Bispo de Matagalpa (Nicarágua). Também autor de, entre inúmeras
outras obras: Representaciones de la verdad vestida, místicas, morales y
alegóricas sobre las Siete Moradas de Santa Teresa, careadas con la Noche Oscura
del B. Fr. Juan de la Cruz (Madrid, Antonio Gonzalez de Reyes, 1679)
72 *Catecismo Real, y Alfabeto coroado, historial, politico y moral [...], Madrid,
1672 (2 vols.) [BPNMafra: 2-56-5-29 / 30]
FREI ANDRÉS FERRER DE VALDECEBRO (1620-1680) O. P.
Qualificador do Santo Ofício.
73 *Govierno General, Moral y Politico hallado en las fieras, y animales
sylvestres, sacado de sus naturales virtudes, y propriedades, Barcelona, 1696
[BPNMafra: 2-36-5-17] Edição princeps de Madrid, 1658
74 *Governo General, Moral y Politico hallado en las Aves mas generosas, y
nobles, sacado de sus naturales propriedades, y virtudes, añadido con las aves
mostruosas, Barcelona, 1696 [BPNMafra: 2-36-5-16] A edição princeps saíu
em Madrid, dos prelos de Bernardo de Villa Diego, em 1683; obra em 2
partes, constituída por 19 livros de hieróglifos, alguns inspirados em
Pierio Valeriano.
JUAN PEREZ DE MOYA (ca. 1512-1596)
Conhecido pelo epíteto de “Príncipe das Matemáticas”. Também autor de
uma Arithmetica practica y speculativa.
75 *Filosofia secreta donde debaxo de Historias fabulozas se contiene mucha
doctrina provechosa [...], Madrid, 1628 [BPNMafra: 2-25-1-31]; 1673
[BPNMafra: 2-35-8-16] Edição princeps de Madrid, 1585; dicionário
mitológico directamente inspirado em Alonso Tostado.
FREI JUAN BAUTISTA AGUILAR
76 *Fabio instruido de Lelio a Lauro. Govierno Moral, in Varios eloquentes libros
recogidos en uno, fl. 261 [PNMafra: 2-29-8-1]
77 *Tercera parte de lo Theatro de los Dioses, Barcelona, 1702 [BPNMafra:
2-21-6-12] Edição princeps de Valência, 1688; as primeira e segunda partes
haviam sido publicadas por Baltasar de Victoria.
63
EMBLEMÁTICA PORTUGUESA
78
JUAN BAPTISTA LAVANHA
78 *Viage de la Catholica Real Magestad del Rei D. Filipe III N. S. al reino de
Portugal, Madrid, 1622 [BPNMafra: 1-35-8-1]
FREI ISIDORO BARREIRA (f. 1634) O. Cristo
79 *Tratado das Significaçoens das Plantas, Flores e Fructos que se referem na
Sagrada Escriptura, Lisboa, 1622 [BPNMafra: 2-14-7-3] O franciscano Frei
António do Sacramento fez plágio integral da obra no Bosque mistico e
jardim divino, dispostos em considerações sobre os significados das principais
plantas da terra, e flores de que se tracta na Sagrada Escriptura (Lisboa, 1749).
A segunda parte do Tratado esteve pronta para a impressão,
desconhecendo-se o seu actual paradeiro. Barbosa Machado afirma que
Frei Filipe da Silva, três vezes D. Prior do Convento de Tomar, deixou
incompleto o manuscrito dos Commentarios aos dous tomos que compoz Fr.
Izidoro Barreira das significaçõens das plantas e flores.
64
EMBLEMÁTICA PORTUGUESA
BERNARDO FERNANDES GAIO
80 *Relação do magnifico e celebre Mausoleo que erigio a Santa Igreja Cathedral do
Porto nas funebres exequias da Serenissima Senhora D. Francisca, de Saudosa
Memoria: com a noticia dos Emblemas, Epitafios e Inscripçoens, adorno e fabrica do
seu funebre apparato [...], Lisboa, 1736 [BPNMafraBVolante: 2-24-8-9 (23º)]
81
SOROR MARIA DO CÉU (1658-1753) O. F.
81 *Aves Ilustradas, e avisos para as Religiosas servirem os officios dos seus
Mosteiros, Lisboa Ocidental, 1734 [BPNMafra: 2-14-4-27]
82 *Apólogos de algumas Pedras Preciosas Moralizadas com Doutrinas
proveitosas, in Obras Várias e admiraveis, Lisboa, Manuel Fernandes, 1735
[PNMafra: 2-24-9-19 / 20]
83 *Metáforas das Flores, Lisboa, Manuel Fernandes, 1735 [BPNMafra:
2-24-9-19 / 20] cap. XXIV: Metaforas das flores moralizadas em documentos
muy proveitosos).
65
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
A. Um Retrato Emblemático de Dona Maria I
s.a. (José Inácio de Sam Paio ?)
s. d. (séc. XVIII)
Óleo sobre tela / moldura em casquinha, encerada (1947); 2350 x 2350 mm
PNMafra: inv. 1613; Sala dos Destinos
Restaurado em 1947 pelo pintor Lauro Corado
Dona Maria I, em corpo inteiro, quase de frente, muito jovem, trajando
vestido azul, enfeitado com flores, e um grande manto roxo arminhado.
Agarra com a mão direita uma moldura oval coroada, com o retrato de
seu marido, D. Pedro III, a qual se acha pousada sobre uma mesa onde
também está um relógio.
66
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
Efectivamente, a função do retrato áulico em apreço não se
resume a substituir uma pessoa ausente. Dele, como de inúmeros outros
congéneres, é possível extrair uma lição concomitantemente moral,
política e religiosa, em virtude da ostensiva presença de imagens
simbólicas carreadas da literatura emblemática.
A necessidade de pôr em relevo as qualidades do efigiado foi,
sem dúvida, o que motivou a inclusão do aludido repertório de imagens,
susceptíveis de exprimir um significado específico e singular. Conhecê-lo
e saber como utilizar adequadamente, em cada circunstância, a
linguagem plástica, característica deste tipo de retratos cortesãos, era
missão que competia ao pintor, de cujo cabal desempenho dependia a
respectiva aceitação e a consequente carteira de encomendas.
A presença de um retrato (do consorte, Dom Pedro III) dentro do
retrato parece ser motivo suficiente para uma primeira indagação. De
resto, a mesma solução iconográfica foi adoptada numa medalha
expressamente cunhada para assinalar o himeneu entre sobrinha e tio,
mas, igualmente e acima de tudo, para esclarecer os súbditos acerca das
razões de Estado subjacentes à entronização de uma mulher, quando era
o consorte que reunia todas as condições exigidas à face da lei e do
costume nacionais para assumir a sucessão dinástica.
António Pereira de Figueiredo ficou com a incumbência de
explanar os argumentos em prol da solução adoptada e a sua proficiente
prestação assumiu a forma de um folheto intitulado O Reinado do Amor:
dissertação filológica e encomiástica, a que deo occasião o Novo Cunho de Ouro
em que vemos esculpidos os rostos, e nomes dos dous Augustos Consortes
D. Maria I e D. Pedro III, nossos Reis e Senhores, composta no anno de 1778
(Lisboa, 1789).
A mesa, sobre a qual a Rainha pousa o retrato coroado do
consorte, é empregue com certa frequência no retrato áulico, como
atributo próprio do Príncipe e do estado nobiliárquico, na sua dupla
vertente de mesa de trabalho e de mesa de justiça, sendo coberta por um
tecido carmesim ou, então, permanecendo nua, para não esconder a
riqueza dos bens materiais.
Contudo, um objecto, invulgar na presente circunstância, toma o
lugar que, em regra, é ocupado pela coroa real, ausente neste caso.
Trata-se de um relógio, o qual, numa primeira leitura, poderia
ser apontado como alusão explícita à Vaidade da vida e ao momento
67
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
desconhecido da morte, tal como no-lo recorda o Evangelho segundo
S. Mateus (XXV, 13): “Vigiai, pois não sabeis nem o dia, nem a hora!”.
Porém, a presença do relógio, que também ocorre em retratos de,
por exemplo, Carlos V e Isabel de Portugal, pintados por Ticiano, não se
limita a remeter para o memento mori, ou para o quotidie morimur.
Covarrubias, incluiu um relógio de pesos no Emblema CXLII dos
seus Emblemas Morales, apresentando-o como alegoria da integridade da
vida e afirmando que o homem recto, firme e constante “é um relógio tão
regulado que tarde ou nunca se desconcerta”.
É um facto que desde o século XVI o relógio se converteu numa
imagem aplicável à monarquia e ao governo. Em 1529, frei António de
Guevara publicou o seu Relox de Príncipes, no qual descreve o Estado
como uma máquina concertada para cujo governo é necessário obter
qualificações. Doravante, o relógio tornar-se-ia exemplo permanente do
soberano e imagem da consonância que ele deve lograr no Reino, “porque
a verdade da vida do Imperador virtuoso não é senão um relógio que
concerta ou desconcerta o povo”.
No contexto português, o dramaturgo e poeta João de Matos
Fragoso (1610-1689) aponta o relógio como o “Rei de todos os
instrumentos”, cuja soberana autoridade deveria servir de exemplo a
monarcas e soberanos (cf. Revista de Literatura, v. 28, 1965, p. 156).
Por seu turno, Juan de Borja, compara-o, nas Empresas Morales,
com o bom governo da República, pois assim como o relógio é constituído
por rodas grandes e pequenas, também o governo é formado por
ministros grandes e pequenos que auxiliam o Príncipe a governar. Para
que o relógio marque correctamente as horas torna-se imperativo que o
seu mecanismo se ache ajustado, tal como o concerto entre o Príncipe e s
seus ministros deve ser total na hora de governar. Lições idênticas
expõem Andres Saavedra Fajardo, nas Empresas Politicas, e Filippo
Picinelli, no Mundus Symbolicus (Veneza, 1670, p. 588-593).
Completando a alegoria, torna-se evidente que o Rei é o ponteiro
do relógio, enquanto o maquinismo é o ministro. As entranhas da
governação e a maquinaria estatal permanecem ocultas, apenas a mão
Real permanece visível, como sucede no relógio, que mostra os ponteiros,
mas oculta o maquinismo.
68
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
B. As Virtudes da Basílica de Mafra, segundo Cesare Ripa
Sobre o pórtico principal (central) da Basílica, observa-se uma
tabela em baixo relevo com a representação de diversas alfaias litúrgicas
e paramentos indispensáveis à celebração de uma Missa de Pontifical
(imagem de Cristo crucificado, castiçais, naveta, turíbulo com suas
cadeias, caldeirinha de água benta, hissope, campainha e uma toalha).
Frei João de Santa Ana regista uma tradição conventual, segundo
a qual a dita tabela “fora feita por um aprendiz e que em prémio pedira
ao Monarca Fundador que lhe desse por acabado o tempo de aprendiz”
(fl. 248).
Ladeando a tabela descrita vêem-se duas imagens de vulto, as
quais encarnam duas Virtudes Teologais: a Fé, do lado da Epístola, e a
Religião, do lado do Evangelho.
Das notícias de Cirilo se depreende que terão sido modeladas por
Caetano Paggi e esculpidas em mármore por Giusti, tendo por arquétipo
as alegorias da Iconologia de Cesare Ripa.
69
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
C. Tentação do Diabo
Óleo sobre tela, cópia de um original flamengo (?) de autor
desconhecido (séc. XVIII?).
Ilustra, à maneira de Bosch, Bruegel e da tradição emblemática,
um adágio cuja lição portuguesa é registada por António Delicado sob a
forma Às vezes, corre mais o Demo que a lebre.
A Vaidade (a Vanitas, no centro da composição), lebre do Diabo
(que a mantém presa pelo tornozelo com um brabante), atrai aves de
distintas envergaduras e “poleiros”, as quais “caem como tordos” na
armadilha. Só o simplório, no canto inferior direito (quiçá, o pintor ou
autor da composição) tem o discernimento suficiente (por isso aponta
para a sua vista) para lograr escapar ao ardil.
É incongruente a identificação da Vanitas com D. Maria I e do gaio
pousado num dos galhos superiores com o Marquês de Pombal, proposta
por Armando Ribeiro (Terras Fradescas, Lisboa, 1933, p. 145) ou o título
Caça à Coruja, aposto a outra cópia (ou ao próprio original?), existente
num museu francês (cf. Jours de France, 28 Jun. a 4 Jul. 1986).
70
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
71
LEITURAS DA IMAGEM SIMBÓLICA
D. Alegoria alusiva ao regresso de Dom João VI do Brasil
Óleo sobre tela (moldura em casquinha dourada), subscrito por Máximo Paulino dos Reis:
Máximo Paulino dos Reys, Alumno da Real Casa Pia, no Castello de Lisboa Pencionado na
Academia de Portugal em Roma, inventou e Pintou no Anno de 1816
PNMafra: inv. 1540; A tela pertenceu ao PNAjuda, tendo sido restaurada em 1956
Formando fundo, à esquerda, uma vista de mar com a Torre de
Belém e, ao longe, o Forte do Bugio.
Em primeiro plano, ao centro, D. João VI, em pé, a três quartos à
direita, olhando para a esquerda. Veste armadura completa e um grande
manto real de largo panejamento, ostenta Grã-Cruz, Colar do Tosão de
Ouro e Comenda. O soberano apresenta o braço esquerdo estendido
sobre Wellington, que traja calção golpeado e uma túnica verde, e conduz
uma mulher (a Pátria), trajando peplo e apresentando um grande
diadema na cabeça.
Mais à direita, sobre um alto plinto cilíndrico, o seu busto
escultural. Na rectaguarda outro busto mais pequeno. À esquerda, a figura
feminina seminua representa o Brasil. Do solo sai o velho Tejo com a sua
coroa de algas. No alto, a bandeira constitucional com escudo e coroa.
72

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