comparação do custo da energia de fusão do vidro entre
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comparação do custo da energia de fusão do vidro entre
1 COMPARAÇÃO DO CUSTO DA ENERGIA DE FUSÃO DO VIDRO ENTRE DIFERENTES TIPOS DE FORNO. Miguel ZORROZUA – Vitrum Tech Engenharia Ltda. [email protected] RESUMO A parcela crescente do custo da energia de fusão do vidro no custo de produção, devido ao aumento do preço dos insumos energéticos, tem redobrado o interesse da indústria por esse fator. Por outro lado a evolução provável dos preços relativos das fontes de energia modificará a competitividade energética dos diferentes tipos de forno, influenciando decisões estratégicas de investimento. Avaliam-se os custos atuais da energia necessária para a fusão dos vidros industriais em cada tipo de forno a patamares de produção variáveis. São adotadas condições uniformes de preço dos energéticos bem como os melhores níveis, tecnológico e de capacidade de fusão, disponíveis para cada tipo de forno em competição, no início de suas campanhas. A sensibilidade da competitividade energética das diferentes técnicas de fusão à variação dos preços relativos entre insumos do tipo “commodities”, como os derivados do petróleo, e “locais”, como a energia elétrica o gás natural e o oxigênio, é abordada. Disponibiliza-se uma planilha destinada à estimativa do custo real da energia de fusão de vidros sodo-cálcicos para condições particulares de preço dos insumos e de características da produção. Observam-se a aplicabilidade e as vantagens relativas dessas opções em alguns casos típicos freqüentes. BASES DAS COMPARAÇÕES Tipos de forno Quatro tipos de forno são considerados: • com regeneradores, • com recuperador(es) metálico(s), • a oxigênio, • elétrico. Os fornos com regeneradores utilizam o ar atmosférico como comburente, a queima é descontinuada pela inversão periódica e 2 concomitante do combustível e do ar. Os regeneradores pré aquecem o ar e são dispostos de cada lado da cuba, queima transversal, ou na sua traseira, queima em ferradura. Os fornos com recuperador(es) metálico(s) utilizam igualmente o ar atmosférico como comburente, a queima é contínua. O ar de combustão é pré-aquecido em um ou mais recuperadores metálicos, segundo a dimensão do forno. Os fornos a oxigênio utilizam o oxigênio, mais ou menos puro, à temperatura ambiente como comburente em queima contínua. Os fornos elétricos não utilizam combustíveis mas tão somente a eletricidade como fonte de energia. A superfície do banho é coberta pela mistura vitrificável que a isola termicamente do exterior. Todos eles são equipados com uma garganta que separa as zonas de fusão e de condicionamento térmico ou, no caso de vidro float, de um simples estreitamento da cuba Tipos de vidro Segundo a aplicação a que se destina, a repartição atual da produção nacional é: Vidros de embalagem, garrafas, potes, frascos 35% Vidros planos, float e impressos 30% 3 Vidros especiais, cinescópios, lâmpadas, garrafas térmicas, fibras óticas, tijolos de vidro, etc. 20% Domésticos, mesa e forno 15% Entretanto a tipificação que mais importa no nosso caso é a composição química do vidro pois ela influi sobre a tecnologia dos fornos e suas performances e, portanto, sobre o custo energético de fusão. Os vidros industriais são à base de silicatos e, entre estes, duas famílias – silico-sodocálcicos e borosilicatos - representam a quase totalidade com uma esmagadora predominância dos primeiros (entre 85 e 90% do total). O estudo é direcionado para estes salvo, para exemplificar, o caso particular de uma pequena produção vidro boro-silicato duro. Extração 90% da capacidade máxima nominal do forno. Ou seja o consumo de energia será estimado na situação do forno fundindo 10% abaixo de sua capacidade máxima. Custo dos insumos energéticos Os atuais do mercado na região do Estado de São Paulo, a saber: (1) Óleo Combustível ultra viscoso A4-A5 (R$/t) 1000 (2) Gás Natural (R$/1000 m3) 900 (3) Energia Elétrica (R$/MWh) 170 (4) Oxigênio produzido “on-site” sem a parcela do custo da energia elétrica necessária à sua produção (R$/1000m3), 20.000 m3 /d de O2 150 100 000 m3/d de O2 130 200 000 m3/d de O2 (criogênico) 90 (1) Vários (Pci=9400 kcal/kg). 3 (2) Portaria ASESP de 30/05/2008 (Pci=8500 kcal/m ). (3) (Tensão de 88 a 136 kV) Resolução Nº 675, de 01/07/08 da ANEEL (4) (USD=R$ 2,0)Energia elétrica: não criogênico:0,6 kWh/m3; criogênico: 0,5 kWh/m3. Tecnologia dos fornos A mais avançada tecnologia disponível para cada tipo de forno. Idade Forno novo em início de campanha. 4 RESULTADOS Casos considerados Os seguintes casos em vidro silico-sodo-cálcico, foram considerados para comparação: Float 700 t. vidro/d Embalagem garrafaria 400 t. vidro/d Embalagem, potes, tijolos, mesa etc. 200 t. vidro/d Embalagem, frascaría e outros 100 t. vidro/d e ainda o caso particular seguinte: Vidro borosilicato duro 30 t. vidro/d Custo da energia de fusão (R$/t de vidro fundido) O gráfico apresenta o custo da energia de fusão (R$/t) em função da extração bruta do forno, para os quatro tipos de forno considerados. Extração bruta e tipo de vidro: • 30 t/d vidro borosilicato duro, • 100 t/d vidro sílico-sodocálcico de embalagem, • 200 t/d vidro sílico-sodocálcico de embalagem, • 400 t/d vidro sílico-sodocálcico de embalagem • 700 t/d vidro sílico-sodocálcico Float. Tipo de forno: • com regeneradores REGE o------o 30 t/d a chama em ferradura, 100 t/d a chama em ferradura, 200 t/d a chama em ferradura, 400 t/d a chama em ferradura, 700 t/d a queima transversal. • com recuperador(es) RECU o------o • a oxigênio OXY • elétrico ELEC o------o o------o 5 400 CUSTO (R$/t vidro) 300 REGE i RECU i 200 OXY i ELEC i 100 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 T i EXTRAÇÃO (t.vidro/d) O melhor custo é obtido, em todos os casos, com o forno a regeneradores e o pior com o elétrico, salvo a pequenas extrações quando este se equipara. Os fornos a recuperador(es) e a oxigênio apresentam custos intermediários salvo nas baixas extrações. Uma ligeira vantagem nas extrações médias para o oxigênio. Custo (R$/t vidro) e sua variação (%) 30 t/d 400 t/d 700 t/d REGE R$ 257 100% R$ 87 100% R$ 134 100% RECU R$ 328 128% R$ 124 143% R$ 164 122% OXY R$ 344 134% R$ 120 138% R$ 164 122% ELEC R$ 260 101% R$ 160 184% R$ 218 163% Sensibilidade a uma variação dos preços relativos dos insumos Os insumos do tipo “commodities”; como os derivados do petróleo, face aos “locais”, como a energia elétrica o gás natural e o oxigênio; tem comportamento diferenciado quanto ao preço pelas suas características mercadológicas e logísticas pois, contrariamente aos “locais”, podem ser facilmente estocados e transportados a longas distâncias. Assim a evolução do preço dos óleos combustíveis, mais voláteis e sujeitos à demanda mundial, podem descolar-se da dos insumos “locais”. 6 Examinamos a sensibilidade da competitividade energética das diferentes técnicas de fusão a um aumento relativo de 50% do combustível líquido em relação aos demais insumos, supostos estáveis. O Gráfico à direita mostra o efeito sobre os custos em comparação com o gráfico anterior, reproduzido à esquerda. 500 400 400 REGE2 i CUSTO (R$/t vidro) 300 CUSTO (R$/t vidro) REGE i RECU i OXY i 200 300 RECU2 i OXY2 i ELEC2 200 i ELEC i 100 100 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 T 0 0 100 200 i EXTRAÇÃO (t.vidro/d) 300 400 500 600 700 T i EXTRAÇÃO (t.vidro/d) Apesar da incidência do aumento do preço relativo do óleo combustível, o forno a regeneradores mantém a sua posição de melhor custo. Entretanto o forno elétrico melhora sua competitividade em toda a gama de extrações e se torna agora claramente o melhor nas pequenas extrações. O forno a recuperador(es) sofre com o aumento relativo do óleo e se torna o pior em todos os casos enquanto o forno a oxigênio e o elétrico são intermediários e se equivalem salvo, como já assinalado, nas pequenas extrações onde o elétrico é imbatível. Custo (R$/t vidro) e sua variação (%) 30 t/d 400 t/d 700 t/d REGE R$ 386 100% R$ 131 100% R$ 200 100% RECU R$ 492 127% R$ 186 142% R$ 246 123% OXY R$ 449 116% R$ 155 118% R$ 221 111% ELEC R$ 260 67% R$ 160 122% R$ 218 109% 800 7 Consumo de energia Muito embora não haja relação entre o consumo total de energia para a fusão e o seu custo correspondente já que o preço das diferentes formas de energia é diverso, pareceu interessante conhecê-lo, apenas como referencia. CONSUMO DE ENERGIA ENERGIA (kWh/t. de vidro) 2000 WREGE j 1500 WRECU j WOXY j 1000 WELEC j 500 0 0 200 400 600 800 T j EXTRAÇÃO (t/d) O menor consumo é obtido, em todos os casos, pelo forno elétrico e o mais elevado pelo a recuperador(es). Consumo de energia (kWh/t vidro) e sua variação (%) 100 t/d 200 t/d 400 t/d 700 t/d REGE 1.109 100% 994 100% 947 100% 1.462 100% RECU 1.537 139% 1.355 136% 1.355 143% 1.792 123% OXY 1.190 107% 1.089 110% 1.050 111% 1.393 95% ELEC 974 88% 962 97% 940 99% 1.280 88% 8 Principais fatores de cálculo adotados ρ q A c (%) (kcal/m2.h) (m2) (%) BORO SILICATO (30 t/d) Regenerador Recuperador Oxigênio Elétrico SODO-CÁLCICO (100t/d) Regenerador Recuperador Oxigênio Elétrico SODO-CÁLCICO (200t/d) Regenerador Recuperador Oxigênio Elétrico SODO-CÁLCICO (400t/d) Regenerador Recuperador Oxigênio Elétrico FLOAT (700 t/d) Regenerador Recuperador Oxigênio Elétrico 65 53 70 95 6500 5700 6000 7000 30 37 30 30 20 20 20 20 76 58 76 95 6200 5700 5700 6800 31 46 31 31 60 60 60 60 78 60 78 95 6000 5500 5500 6600 57 84 57 57 60 60 60 60 80 60 80 95 6000 5500 5500 6600 114 168 114 114 60 60 60 60 70 60 80 95 6000 5800 5800 6000 400 500 400 400 20 20 20 20 LEGENDA ρ - rendimento de combustão ou elétrico q - perdas médias pelas paredes A - área de fusão c - caco OUTRAS CONSIDERAÇÕES A decisão estratégica que consiste na escolha do tipo de forno economicamente mais adequado depende, naturalmente, além do fator energético, do custo do capital investido e do custo da adequação às normas ambientais. Um exemplo particular de comparação entre um forno a recuperador metálico e outro a oxigênio, para a produção de fibra de reforço, no qual se introduziram também os custos do capital referentes ao forno, à obra civil e às instalações de tratamento dos fumos, ilustra o comentário. 9 • Custo da energia de fusão (USD/t vidro) ------------ • Custo total (energia + capital) (USD/t vidro) ------------ ENERGIA + CAPITAL(forno+civil+tratam) CUSTO CAPITAL E TOTAL (USD/t) 200 150 CE CE j j CC 100 j 50 0 j RECUP. OXY CONCLUSÃO Atualmente o melhor custo é obtido, em todos os casos, com o forno a regeneradores e o pior com o elétrico, salvo a pequenas extrações quando este se equipara. Os fornos a recuperador(es) e a oxigênio apresentam custos intermediários salvo nas baixas extrações com uma ligeira vantagem nas extrações médias para o oxigênio. Um hipotético aumento relativo do preço do óleo combustível em relação aos demais insumos melhoraria a competitividade dos fornos elétricos e a oxigênio e pioraria a dos fornos a recuperador metálico. Outros critérios, como o custo do capital investido e o custo do tratamento dos efluentes para sua adequação às exigências ambientais, deverão ser levados em conta numa perspectiva estratégica global para a escolha do tipo de forno mais vantajoso. REFERÊNCIAS Diversos fornecedores internacionais de tecnologia vidreira.. Agencias Oficiais, federais e estaduais de controle (ANEEL, ASESP, etc.).