Maximizar a profundidade de campo

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Maximizar a profundidade de campo
UTRAPASSAR OS LIMITES DA PROFUNDIDADE DE CAMPO
Texto e fotos: Paulo de Oliveira
Foto: 1
Chama-se profundidade de campo à zona nítida á frente e para trás do plano de
focagem da imagem. Estende-se na proporção de 2/3 para lá do plano de focagem
e 1/3 na direcção da câmara. Em fotografia aproximada ou macrofotografia, com
uma razão de ampliação próxima de 1:1, a profundidade de campo estende-se na
proporção de 1/2 antes e depois do plano de focagem.
Em rigor a profundidade de campo não existe: a imagem ou está nítida ou não
está. Mas como a transição da parte focada da imagem para a definitivamente desfocada se processa com uma certa suavidade, aos nossos olhos existe uma zona
intermédia razoavelmente nítida que recebe esta designação.
A nossa visão não nos permite distinguir um ponto bem focado (ou definido) de
uma mancha desfocada até que essa mancha não atinja um determinado tamanho.
Esta dimensão limite a partir da qual a nossa percepção visual nos dá a sensação
de passar do nítido ao desfocado é o que se chama "círculo de confusão".
Para uma utilização normal o valor standard admitido para o "círculo de confusão" no formato 24x36 mm é de 1/30 de mm. Em médio formato esse valor é 1/20
de mm e em grande formato podemos condescender apenas em 1/10 de mm, visto
nestes dois últimos a ampliação final da imagem ser consideravelmente inferior.
A profundidade de campo varia com a abertura do diafragma e com a distância
de focagem, ou melhor com a razão de ampliação da imagem. Quanto maior for a
abertura do diafragma ( menor valor numérico da abertura) menor é a profundidade
de campo. Por exemplo a f 2.8 a profundidade de campo é muito menor do que a f
16.
Contrariamente ao que se ouve muitas vezes dizer, a profundidade de campo
não varia com a distância focal da objectiva. É incorrecto afirmar-se que as
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objectivas grande angular proporcionam uma maior profundidade de campo do que
as teleobjectivas. O que acontece é que as teleobjectivas são utilizadas frequentemente para obter uma maior ampliação da imagem (maior razão de ampliação) ao
contrário das grandes angulares que são, justamente, escolhidas para englobar um
ângulo de visão mais vasto e com menor ampliação da imagem. Se fotografarmos
com a mesma abertura do diafragma um objecto preenchendo exactamente a mesma área de imagem, por exemplo com uma objectiva de 20 mm e uma 300 mm, a
profundidade de campo é de facto muito semelhante, só a perspectiva é que difere.
Existem duas maneiras de avaliar a profundidade de campo: através da escala
impressa na objectiva ou directamente sobre a imagem no vidro despolido utilizando o botão que permite fechar o diafragma à abertura de trabalho da objectiva. Infelizmente, ambas as possibilidades estão em vias de desaparição nos novos sistemas de câmaras 24x36 mm de focagem automática. A maioria das objectivas não
apresentam uma escala para a determinação daquele valor, assim como são raras
as câmaras que actualmente dispõem de uma alavanca, ou botão, para fechar
manualmente o diafragma à abertura de trabalho. Nas câmaras de médio e grande
formato ainda é quase sempre possível accionar manualmente o fecho do diafragma à abertura de trabalho, permitindo-nos verificar visualmente qual a melhor profundidade de campo para cada caso.
Utilizando uma teleobjectiva bastante luminosa à máxima abertura, podemos
individualizar bem um motivo fotográfico de um fundo bastante desfocado. Mas
obter uma profundidade de campo suficiente para revelar com boa nitidez os vários
detalhes presentes na imagem nem sempre é uma tarefa fácil.
Foto: 2
A pior das situações ocorre quando trabalhamos em fotografia aproximada ou
macrofotografia onde a profundidade de campo se joga ao milímetro. Há quem
aconselhe fechar a f 32 e fé em Deus, mas infelizmente as coisas não são assim
tão fáceis. Na realidade, o melhor rendimento óptico de uma objectiva obtém-se
geralmente entre f 8 e f 11; principalmente nas câmaras de 24x36 mm. A partir daí
a imagem vai-se degradando à medida que fechamos o diafragma por causa da
difracção: os pontos da imagem vão ficando com o aspecto de borrões mais ou
menos desfocados. Contudo, nas câmaras digitais com sensor 24x36 mm ou maior,
verifica-se que a difracção tarda mais em fazer sentir-se o que nos permite diafragmar até f22 ou mesmo f32 e ainda obter bons resultados.
As objectivas de médio e grande formato, de distância focal geralmente mais
longa, só começam a sofrer problemas de difracção com o diafragma mais fechado
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permitindo, por isso, obter melhores resultados neste domínio.
Outra maneira de melhorar a profundidade de campo, quando o motivo fotográfico se encontra distribuído num mesmo plano, consiste e fazer uma báscula da
objectiva ou do plano do filme. Trata-se da aplicação prática da regra de Scheimpflug: quando o plano do filme, o plano do objecto e o eixo óptico da objectiva se cruzam todos numa linha, todos os elementos do plano do objecto estão focados.
Foto: 3
Um bom exemplo consiste numa paisagem de um campo florido que pretendemos fotografar com tudo focado desde o primeiro plano a 50 cm de distância até ao
infinito. Com uma câmara rígida resta-nos diafragmar à doida e esperar obter uma
imagem de qualidade razoável. Utilizando uma câmara com movimentos basta
fazer uma ligeira báscula (inclinação) do plano do filme para trás e já está tudo
bem focadinho como queríamos. Também se pode fazer o mesmo com a objectiva
no sentido oposto. Basta assim, normalmente, fechar o diafragma apenas dois ou
três pontos acima da abertura máxima da objectiva para se obter uma profundidade
de campo suficiente.
As câmaras de grande formato de banco óptico são sem dúvida as mais versáteis neste domínio porque permitem amplos movimentos de báscula e de descentramento. Para quem goste de fotografar com um máximo de qualidade e sem pressas esta será sem dúvida a melhor escolha.
Em médio formato a solução mais bem conseguida para controlar a profundidade de campo foi realizada pela marca sueca Hasselblad. Conceberam um corpo
designado FlexBody que permite efectuar uma báscula traseira e um descentramento frontal. Utiliza os magazines e as objectivas da marca assim como um vidro
despolido que se coloca previamente no lugar do magazine para fazer a focagem e
todas as correcções necessárias. A focagem processa-se através do
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movimento de um pequeno fole que lhe dá o aspecto de uma câmara de grande
formato em miniatura.
Existem já algumas objectivas destinadas a câmaras de 24x36 mm e médio formato que proporcionam uma báscula frontal e descentramento. O descentramento
serve para corrigir alterações de perspectiva e tem, normalmente, em fotografia da
natureza pouca aplicação.
Foto: 4
Foto: 5
A Rollei e a Bronica dispõem de uma excelente objectiva, a Schneider PCS SuperAngulon 55mm f4.5 (foto: 2), que constitui uma autêntica maravilha de óptica e de
mecânica.
No formato 24x36 mm a Canon fabrica três objectivas de qualidade também
indiscutível: TS –E 24mm f3.5, 45mm f2.8 e 90mm f2.8. Todas permitem uma báscula de +/- 8º e um descentramento de +/- 11mm. A Nikon comercializou em 1999
uma PC Micro Nikkor D 85mm f2.8 com +/- 8,3º de báscula e +/- 12,4 mm de descentramento mas já noticiou a cessação do seu fabrico em 2006.
Durante muitos anos fotografei exclusivamente em grande e médio formato e
não tive que me preocupar com este problema. Em médio formato usava uma
Linhof Técnica 70 de que ainda tenho saudades.
Mas em meados dos anos oitenta comecei a fotografar cada vez menos em
grande formato e com a saída da Nikon F5 mudei gradualmente o meu equipamento para 24x36 mm. Hoje em dia só trabalho em 24x36, digital e 6x7, com a Mamiya
RB.
Foto: 6
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grande formato e com a saída da Nikon F5 mudei gradualmente o meu equipamento para 24x36 mm. Hoje em dia só trabalho em 24x36, digital e 6x7, com a Mamiya
RB.
Nos finais dos anos oitenta a única opção para usar numa Nikon uma objectiva
com movimentos era adaptar-lhe a 35 mm TS que a Canon tinha comercializado
para a antiga montagem FD; a qualidade óptica e mecânica é igualmente excelente.
Foto: 7
Como tinha dificuldade em me desabituar deste conforto, e porque já devem
ter reparado que adoro inventar engenhocas, resolvi construir uma câmara com
movimentos que me permitisse usar todas as objectivas Nikon (fotos: 4, 5 e 6).
Era no entanto necessário que o movimento de báscula fosse traseiro e passando pelo centro do plano do filme para não sair fora do círculo de cobertura das
objectivas desenhadas apenas para o formato 24x36 mm. Um eventual descentramento, para correcção da perspectiva provocada pela báscula traseira, estava fora
de causa para evitar um aumento excessivo na espessura da platina frontal; e também porque em fotografia da natureza essa correcção não é normalmente muito
importante.
Usei como porta filme o corpo de uma câmara soviética de telémetro, cópia
de uma Leica M, onde apliquei um novo aro de acoplagem. Como estas câmaras
têm uma distância da frente da montagem da objectiva até ao plano do filme de
28,8 mm e as Nikon reflex 46,5 mm, dispunha apenas de 17.7 mm para instalar o
mecanismo de báscula.
Resolvi isso apenas com um braço lateral e um fole de pelica de configuração parecida com os foles para grande angular das câmaras de grande formato.
Consegui assim obter espaço que me permite uma báscula de cerca de 11º. Na
platina frontal apliquei uma baioneta Nikon retirada de um qualquer anel adaptador.
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Foto: 8
Foto: 9
Para focar construí um visor com uma lupa de 3x e um despolido standard
(F5A) de uma Nikon F5. O aro de acoplagem do visor é, evidentemente, igual ao
da câmara. Assim, depois de efectuada a báscula, enquadramento e focagem da
imagem retira-se o visor e no seu lugar aplica-se a câmara fotográfica. A leitura da
exposição faz-se através um fotómetro independente.
Esta câmara permitiu-me obter perspectivas muito interessantes usando,
por exemplo, as objectivas Nikon 24 e 20 mm conforme podem apreciar nas fotos:
1 e 7. Em situações limite podem obter-se imagens com tudo focado desde apenas
cerca de 15 cm da objectiva até infinito.
Mais tarde construí uma objectiva já com báscula e o descentramento,
máximos, incorporados e que pode ser usada com maior rapidez. Usei uma antiga
Vivitar 28mm f2.8 que era comercializada para várias marcas com um volumoso
anel adaptador da série YS. Retirei esse anel e, aproveitando todo o espaço até à
décima de milímetro, apliquei-lhe uma báscula fixa de cerca de 10º e o descentramento necessário para reposicionar o círculo de imagem da objectiva com o rectângulo de imagem no filme. O diafragma é regulado manualmente à abertura de trabalho (Fotos: 8 e 9).
Foto: 10
Foto: 11
Esta pequena objectiva é muito compacta e pode ser levada na mochila estando sempre à mão para uma utilização ocasional. Desde que o diafragma seja
fechado acima de f5.6 os resultados são correctos como poderão apreciar na foto:
3.
Com as Nikon digitais esta objectiva acabou por se tornar pouco prática porque fiquei sem a possibilidade de usar o fotómetro da câmara e ainda não tive
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paciência para lhe aplicar um chip.
Tenho também um antigo fole PB-4 da Nikon que permite usar objectivas de
ampliador com mais de 100 mm de distância focal e focar desde infinito até alguns
centímetros de distância (foto: 10). Este fole tem amplos movimentos de báscula e
descentramento frontais muito úteis sobretudo em fotografia aproximada e macrofotografia. Já apliquei neste fole um chip que o torna compatível com o sistema fotométrico das novas câmaras digitais da Nikon.
Entretanto comprei uma TS-E 24mm para as Canon (foto: 11) e comecei a
deixar ficar em casa as minhas geringonças; a não ser quando me sinto verdadeiramente melancólico.
Que diabo, quando é que a Canon e a Nikon finalmente se juntam e passam
a fabricar câmaras com um chip Cmos da Canon, sistema de leitura fotométrica
Nikon e o melhor dos dois parques ópticos?
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