Baixar artigo - Capítulo Argentino del Club de Roma
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Palestra de Adriana Pagani no Parlamento do MERCOSUL O presente artigo faz referência aos temas que, relacionados ao meio ambiente e à área internacional, são de interesse nas reuniões do COP 17 e do Rio + 20. Partindo de uma perspectiva latino-americana, desejamos destacar, sobre a primeira conferência realizada, o enfoque da necessidade da região negociar em bloco, e de salientar as questões particulares desses países. Respeito ao Rio + 20, é possível identificar três variáveis centrais a tratar: a economia verde, o governo mundial e os aspectos e valores que representam o compromisso de uma participação cidadã responsável. Generalidades latino-americanas No que respeita à América Latina, sua principal característica é não se apresentar para negociar em bloco. Pode-se dizer que a temática que mais lhes diz respeito na área da mudança climática são os problemas relacionados com a água: as secas, as enchentes e as chuvas torrenciais. Especialmente, o foco de seu interesse está nos países cujos setores econômicos dependem ou usam de maneira intensiva a água: a pecuária e a agricultura (e o turismo). O impacto mais significativo da mudança climática na América Latina resulta das variações esperadas nos ciclos hídricos; porque o Brasil sofre a estiagem na região nordeste, as enchentes em cidades importantes (como no Rio de Janeiro) e algumas geadas que podem afetar a produção de café e laranja, além do setor energético, porque a energia hidrelétrica representa aproximadamente 70% da capacidade instalada.1 Na Argentina acontece algo diferente: o deslocamento das chuvas para o norte causa o incremento da área de produção agropecuária. Além dos efeitos que a mudança climática causa na produção agropecuária2 e os problemas costeiros e nas ilhas, são notáveis seus grandes efeitos na saúde; como a expansão das doenças tropicais a regiões temperadas e as consequências para crianças e idosos da 1 _ Relativamente à energia, é preciso destacar também, na ordem geopolítica, as preocupações pela segurança energética conjugadas diretamente às emissões de carbono. A preeminência da questão da energia com o indicador carbono contribui para o surgimento de um “efeito túnel”, onde as atividades econômicas são contidas e reforça o enorme conteúdo acordado à tecnologia no leque de respostas ao desafio climático. 2 _ Que implicaria a destruição do desenvolvimento rural nos países do sul. produção de ozônio na superfície.3 Outra variável importante a considerar é a rápida urbanização e suas consequências geradoras de pobreza. Sobre os problemas costeiros, observa-se: - Aumento no nível médio do mar, que afeta as costas do Uruguai pela frequência dos ventos do Sudeste. - Erosão nas costas do estuário do Río de la Plata. - Problemas de intrusão salina em ambas as costas do estuário, à medida que nos aproximamos do limite de invasão do Río de la Plata sobre o Oceano Atlântico. - O fenômeno ENOS (El Niño Oscilação do Uruguai) agrava as precipitações e causa o aumento dos fluxos de água dos rios Paraná e Uruguai e seus afluentes, intensificando os processos de enchentes na bacia del Plata. Não podemos deixar de mencionar a destruição do contexto ambiental produzido pelos furacões na América Central: chuvas torrenciais e ventos intensos afetam à produção e às comunidades nativas. Políticas sobre mudança climática na América Latina. - Mitigação Existem grandes discrepâncias sobre questões de mitigação que serão tratadas na agenda internacional. É possível destacar: 1- A divergência no papel que devem assumir os países menos desenvolvidos mas com um frenético crescimento econômico e, verdadeiramente, responsáveis por uma grande parcela das emissões futuras. 2- As políticas de desflorestação. 3- O papel dos mecanismos de mercado. 3 _ Doenças tropicais como o dengue, comum e hemorrágico, leishmaniose, e doenças emergentes como hantavírus e doença de Lyme. 1- Vincula-se a conceitos de justiça, equidade e pragmatismo. Com os primeiros se argumenta que os causantes dos problemas de aquecimento climático são os países atualmente desenvolvidos e que conseguiram isso sem sofrer restrições. Embora os países em desenvolvimento deveriam ter o mesmo direito, considerando uma perspectiva “pragmática”, os países em vias de desenvolvimento ricos (por exemplo BRIC) serão a principal fonte de GEI no futuro. O compromisso de reduzir as emissões nos países em desenvolvimento deve conjugar as ações nacionais de mitigação, com o objetivo de obter um desenvolvimento sustentável e de erradicar a pobreza e contar com o apoio financeiro tecnológico. 2- A agenda de mitigação considera as emissões causadas pela desflorestação através da iniciativa REDD (redução de emissões de desflorestação e degradação florestal), contemplando ainda a avaliação das reservas de carbono nos países em desenvolvimento. O acordado em Cancun reconhece o aspecto chave de um bom governo e o papel das mulheres, povos indígenas e comunidades locais no sucesso do programa. 3- Proposta de fluxo de fundos para aplicação de REDD, estimulação de doações até 2012 e definição de COP 17 de opções de financiamento centradas em duas ferramentas: mecanismos de mercado e transferência de fundos. - Adaptação As políticas de adaptação na América Latina, menos abundantes que as de mitigação, estão conectadas ao planejamento e à previsão de possíveis efeitos adversos da mudança climática. Observa-se a ausência de estratégias de adaptação relativas a infraestrutura, alimentação e mitigações. Respeito à adaptação, a principal controvérsia teria como centro o conceito de vulnerabilidade, ao identificar os impactos da mudança climática nos países mais assolados. Esta questão permanece vinculada, obviamente, ao possível e necessário financiamento, que compreende um aspecto moral subjacente. A adaptação é local, já que existe um incentivo real em cada país para tomar medidas diferentemente da mitigação, onde o risco de free-riding leva alguns países a tirar proveito das reduções de emissões de outros, sem contribuir para o esforço de mitigação conjunto. - Financiamento Em Cancun tratou-se a arquitetura financeira do Fundo Verde: os países desenvolvidos estariam comprometidos a entregar, a partir de 2020, 100.00 milhões de dólares anuais para financiar (principalmente) projetos de adaptação gerenciados por um conselho integrado pelo Banco Mundial e 24 membros de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os temas importantes a tratar em Durban são: 1- O futuro do protocolo de Kyoto 2- O futuro dos mecanismos de mercado como ferramentas de mitigação. 3- O financiamento da mitigação ocasionada pela desflorestação dos bosques. A agenda concebida prioriza as tarefas de implementação no curto prazo, e relega para o médio prazo as questões políticas que continuariam sem resolução. Do ponto de vista econômico, nossos países são apontados como simples produtores de commodities, para conveniência das economias industriais e emergentes como a China e a Índia. Especificaríamos o caso da água virtual quando for preciso atender às futuras necessidades dos habitantes com a escassez de água doce. Rio +20 Verdade é que a Rio+20 não será uma instância decisiva, mas sim um importante exercício de debate, embora seus resultados possam resultar modestos. Seria interessante que a reunião pudesse oferecer uma ampla visão de bases políticas e éticas, capazes de transformar a arquitetura do governo mundial em meio ambiente para representar os interesses da comunidade internacional. Embora os movimentos e as redes da sociedade civil atuarão com um discurso próprio, isso não significa dar lugar a uma “cúpula paralela”. Os três atores que estarão presentes na cúpula são: - Os governos que assistirão à conferência. - As ONG do sistema das Nações Unidas agrupadas no “Stakeholder Forum”. - A sociedade civil: movimentos sociais, redes, científicos independentes, sindicatos, organizações de jovens, ONGs, etc., representados na “Cúpula dos povos”, que não somente será um evento paralelo mas um ator fundamental no Rio + 20. Três questionamentos deveriam também ser considerados: o respeito do modelo econômico, que tipo de economia verde seria adequada para reduzir a pobreza (que mecanismos e estruturas); sobre o modelo político, que tipo de organização seria viável para um novo governo mundial e, por sua vez, tentar igualmente alterar o modelo de civilização. Quer dizer, a sustentabilidade, a solidariedade e a responsabilidade deveriam ser consideradas pilares. Reflexões finais O regime climático está avançando a partir da interação entre a ciência, os especialistas e a política. Com referência à expertise científica do GIEC, é inquestionável que possui um lugar central nas COP. É conveniente afiançar os complexos laços entre ciência e política para poder atender à demanda social cuja problemática, relacionada às questões do meio ambiente, também precisa da expertise econômica em um papel que, acrescentável, deve se adaptar a essas premissas. As conferências climáticas, com a função de fóruns de debates, representam o “pulmão” da negociação; e reúnem um grande número de atores (políticos, industriais, científicos, cidadãos, membros de ONGs, ativistas, etc.) que defrontam difíceis problemas no campo da mudança climática e que buscam a viabilidade de soluções. Finalmente, devemos reconhecer às arenas climáticas sua indireta tentativa de gerar um bem comum global, um projeto de equidade humana de escala mundial, que faça valer seu caráter multidimensional em proveito do desenvolvimento humano. O compromisso cidadão e sua voz institucional apresentam-se indispensáveis na interação dos atores nas reuniões de meio ambiente, no caminho para defender conjuntamente os interesses compartilhados. Bibliografia Canziani, Osvaldo: El cambio climático y el desarrollo sustentable. Anotações. Inédito. Buenos Aires, novembro 2011. Fuentes-Bracamontes, Rolando: Impactos, políticas y posiciones de los países latinoamericanos rumbo a COP 17. www.realinstitutoelcano.org Jepma, Catrinus-Munasinghe, Mohan: Climate change policy. Facts, issues and analyses. Cambridge University Press. Cambridge, 1998. Marín, Gustavo-Blin, Arnaud: ¿Qué pasará en Río + 20? Propuestas para un proyecto ciudadano. www.world-governance.org Nonjon, Alain (comp.): Grands debats d’aujourd’hui. Ellipses Édition Marketing S.A. París, 2009