universidade de são paulo escola de comunicação e arte

Transcrição

universidade de são paulo escola de comunicação e arte
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTE
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
JOÃO PEDRO DE QUADRO MORAES
Emancipação 2.0
O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a reinvenção das políticas culturais
através da economia solidária, do crowdsourcing e do crowdfunding.
SÃO PAULO
2011
JOÃO PEDRO DE QUADRO MORAES
Emancipação 2.0
O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a reinvenção das políticas culturais
através da economia solidária, do crowdsourcing e do crowdfunding.
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado
ao
Departamento de Biblioteconomia e Documentação da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.
Orientadora: Profa. Dra. Lúcia Maciel Barbosa de
Oliveira
SÃO PAULO
2011
TERMOS DE APROVAÇÃO
Nome: MORAES, João Pedro de Quadro
Título: Emancipação 2.0 - O Fora do Eixo e a realização de uma utopia brasileira: a
reinvenção das políticas culturais através da economia colaborativa, do crowdsourcing e
do crowdfunding.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de
Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção
do título de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.
BANCA EXAMINADORA
Presidente da Banca: Profa. Dra. Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira
Assinatura:________________
Profº. Dr. Marcos Luiz Mucheroni Instituição: Universidade de São Paulo
Assinatura:________________
Profº. Dr. Martin Grossmann
Instituição: Universidade de São Paulo
Assinatura:________________
Aprovado em:
____/____/_____
Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, minha amada companheira Marina,
e a todos os irmãos que lutam pela vida diariamente na periferia de São Paulo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço de todo o coração aos meus pais, João Juares Nunes de Moraes e Gilda Maria
de Quadro Moraes, meus irmão Alex e Melina, minha cunhada Juliete e minhas sobrinhas
Alicia Jim e Bianca Biglia, assim como aos meus tios, primos.
À professora Lúcia M. B. Oliveira, minha orientadora, assim como a todos os professores
da USP e dos colégios Dom Duarte Leopoldo e Silva e Plácido de Castro pela inspiração,
dedicação e carinho.
Agradeço à minha companheira Marina Gabrielli pelo apoio, carinho e dedicação em
todos os momentos.
Agradeço especialmente à professora Nair Kobashi, sem ela este trabalho não seria
concretizado.
Agradeço também aos meus irmãos de corre: Julio Limão, André Birolha, Junior Ganso,
Fino, Caverna, Rob, Grunge, Evo, Otávio, Menici, P R Souza e Souza, Andréa, Livia, Ju
Calherani, Pirulito, David, Renato, à turma de 2004, à de 2005... Ao povo da zona sul:,
Parelheiros, Cidade Dutra, Vila São José, do Flávia, do Suzana, do Socorro, de Santo
Amaro, do Brooklin, do Guarapiranga. Ao pessoal de Bauru, de São Lourenço, da fiel, da
poesia, do rock, do movimento negro, da luta por dias melhores, da lealdade, da
humildade e do procedimento. Todos de Perus, do Butantã, comunidade São Remo. Não
nos acovardamos NUNCA!
Agradeço profundamente a Leal Gravações Elétricas e ao Chaiss.
³/HDOGDGH
Humildade
3URFHGLPHQWR´
Mais que um lema, uma filosofia de vida.
RESUMO
Este estudo objetiva a compreensão sobre da influência das novas tecnologias de
informação e comunicação (TICs), com foco na internet, e mais especificamente na web
2.0, na emergência de novos modelos de produção, distribuição, financiamento e uso ou
consumo de cultura - com especial atenção à cadeia produtiva da música - baseados na
colaboração e no compartilhamento. Buscaremos também compreender como estes
modelos impactam a política cultural, e quais as reflexões resultantes. Serão analisados
três modelos de produção distintos: a economia solidária, o crowdsourcinge por fim o
crowdfunding, tendo como foco compreender como estes modelos de organização,
produção e financiamento\FRQVXPR FRQWULEXHP SDUD R ³LQFUHPHQWR´ GD GLYHUVLGDGH
culturalno Brasil, além de buscar compreender como estes respondem aos anseios da
sociedade civil contemporânea por mais participação e transparência no desenvolvimento
e aplicação de políticas culturais.
Palavras-chave: Política cultural , Economia solidária , Crowdsourcing , Crowdfunding ,
Internet 2.0 , Contracultura , Movimentos sociais , Fora do Eixo.
SUMÁRIO
0. INTRODUÇÃO ao autor
1
1. INTRODUÇÃO
3
2. OBJETIVO
7
3. METODOLOGIA
9
4. POLÍTICAS CULTURAIS
12
4.1.
16
Políticas Culturais no século XXI
5. CULTURA, CONTRACULTURA E INTERNET
19
5.1. Linux e o trabalho colaborativo
21
5.2. Os hackers e a internet
22
5.3. A internet ganha o mundo: E a cultura com isso?
24
6. MOVIMENTOS SOCIAIS
28
7. ECONOMIA SOLIDÁRIA
32
8. CROWDSOURCING
39
9. CROWDFUNDING
45
9.1. Modalidades
49
9.2. Fatores de sucesso para um projeto de crowdfunding
51
10. CIRCUITO FORA DO EIXO - REDE DE COLETIVOS E EMPREENDIMENTOS
CULTURAIS E SOLIDÁRIOS
54
10.1. Organização dos Pontos Fora do Eixo
56
10.2. Eixos temáticos ± Temas norteadores da rede
57
10.3. Frentes de trabalho
61
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS
78
12. REFERÊNCIAS
83
ANEXO I ± Regimento interno do Circuito Fora do Eixo
88
ANEXO II ± Carta de princípios do Circuito Fora do Eixo
97
1
0. INTRODUÇÃO ao autor
³2 TXH HFRQRPLD FRODERUDWLYD crowdsourcing e crowdfunding têm a ver com a
BiblioWHFRQRPLD"´ Você pode estar se perguntando. A verdade é que esta não é
uma pergunta fácil de responder, e acho que nada pode elucidar melhor minhas
razões do que minha própria jornada até aqui. Como muitos colegas meus,
estudantes de biblioteconomia, cresci na periferia, mais especificamente na zona sul
de São Paulo, uma das regiões mais carentes da cidade, onde a força da
comunidade é um dos maiores aliados na luta por condições mais dignas de vida.
Lembro-me de ainda criança ficar sabendo de mutirões em que o dinheiro
arrecadado em festas ou rifas acabava virando uma laje, uma parede ou uma casa
nova para alguém em dificuldades. Lembro também das vaquinhas, que fazíamos
para qualquer coisa. A vaquinha, o mutirão, o ajudar ao próximo são tradições
nacionais. Na década de 1990, quando a zona sul tinha os maiores índices de
criminalidade do mundo, a solução para os maiores problemas era confiar na força
da comunidade, na irmandade de quem sabia que um dia iria precisar. Adolescente,
eu me encontrei na cultura punk, com a qual tive contato através do meu irmão, que
sempre foi apaixonado por música, mas nunca conseguiu viver dela. Uma das
SULQFLSDLV EDQGHLUDV GR SXQN GHVGH VHX QDVFLPHQWR p R ³GR LW \RXUIHOI´ RX ³IDoD
YRFr PHVPR´1. Esse pensamento pregava que se deveria fazer coisas por conta
própria em vez de comprar ou pagar por um trabalho profissional. Na Europa tal
princípio se tornou profundamente associado a movimentos anti-consumistas; mas
de onde eu vim fazer você mesmo era uma necessidade, não uma escolha política.
Quando terminei a escola, sem titubear, prestei vestibular para jornalismo em todas
as faculdades que podia; passei só nas que não conseguiria pagar. Resolvi estudar
mais e tentar de novo no ano seguinte, até que uma noite zapeando a TV eu vi uma
palestra do professor Eugenio Bucci, na TV Cultura. O WtWXOR GD SDOHVWUD HUD ³9HU 79
GH ROKRV IHFKDGRV´ (P VXD IDOD R SURIHVVRU %XFFL QRV VXJHULD D LPSRUWkQFLD GH
PDQWHU XPD YLVmR FUtWLFD DQWH D PtGLD H UHIOHWLU VREUH R TXH QRV p RIHUHFLGR ³GH
1
Nota: O faça você mesmo, concebido como princípio ou ética, questiona o suposto monopólio das
técnicas por especialistas e estimula a capacidade de pessoas não-especializadas aprenderem a
realizar coisas além do que tradicionalmente se julgam capazes, ou seja, a ideia seminal do punk.
2
graoD´ QD 79 3DVVHL D PH SHUJXQWDU VH YDOHULD D SHQD SDUWLFLSDU GDTXHOD PtGLD SDUD
um dia realizar meu sonho de montar um Zine e fazer um jornalismo independente e
verdadeiro. SHUi TXH HX QmR PH ³YHQGHULD´ DQWHV" &KHJXHL D SHQVDU
Nessa mesma época, tive contato com alguns estudantes de biblioteconomia. Já
trabalhava num arquivo, mas só depois de um papo com o Thiago Murakami é que
me veio o estalo: o que muda as pessoas e, por consequência, o mundo é a
informação. Eu preciso trabalhar com informação, não com notícia.
Assim caí no CBD. Desde então vi pouca revolução. A bibliografia do Milanesi é
incendiária, professores como Guerra, Nair, Ivete, Johanna e Teixeira Coelho me
inspiraram a continuar e compreender melhor o poder transformador da informação.
Desde o inicio dos meus estudos na USP me fascinavam os estudos sobre políticas
culturais, em meio a tantos estudos sobre técnicas e gestão, vi na política cultural
um tema que focava nas pessoas, no desenvolvimento humano. O professor
Teixeira era bem especifico ao dizer que as políticas culturais deveriam colocar o
sujeito à frente, dar a este as condições para que se construa, se desenvolva, se
reinvente, e para mim isso fez toda a diferença.
Chegada a hora de decidir por um tema para este trabalho, eu estava perdido.
Sempre fui muito mais do mundo do trabalho que dos estudos, e as discussões
sobre a grade do curso ou sobre direitos autorais não me tomavam mais a atenção.
Queria falar de algo atual, mas algo que tivesse a ver comigo. Pensei em escrever
sobre o papel da pirataria na disseminação da cultura, sobre gestão de
equipamentos culturais e mesmo sobre direito autoral na era digital, porque não?
Num encontro com minha orientadora ela me sugeriu falar sobre o Fora do Eixo o
Crowdfunding e as conseqüências deste para a política cultural. O tema caiu como
XPD OXYD (UD FRPR VH R ³GR LW \RXUVHOI´ YLUDVVH ³OHW¶V GR LW WRJHWKHU´ FRPR QXP
mutirão, edificando a visão do bem comum, da realização coletiva, tirando a
competição e colocando a colaboração no lugar, no que para mim é um sinal claro
de que novos tempos precisam chegar, porque sob o capitalismo neoliberal que
endeusa o capital e seus possuidores, a tendência é das mais terríveis. Quando se
fala de cultura é impossível não tomar partido, e eu á fiz minha escolha, eu escolho
o bem comum.
3
1. INTRODUÇÃO
Vivemos num mundo em crise. Várias são as faces dessa crise: econômica,
de representação, de valores, de ética. A econômica vem apenas para confirmar o
que parecia lógico, se uns poucos ganham demais, muitos vão sair perdendo. E foi o
que aconteceu e acontece nas bolsas de aposta de Wall Street, da Europa ou da
Bovespa, uns poucos vivendo do trabalho mal remunerado de milhões de chineses,
indianos, brasileiros e tantos outros explorados em todo o mundo. Não nos sentimos
mais representados por nossos governantes, vemos diariamente os mais diversos
tipos de corrupção serem repetidos e a impunidade, mesmo com vídeos de pessoas
recebendo dinheiro, matando, extorquindo, no fim das contas nada acontece. Além
GH ³UHSUHVHQWDQWHV´ TXH QmR QRV UHSUHVHQWDP YLYHPRV VRE XP VLVWHPD jurídico que
demora a se atualizar, viciado por jurisprudências compradas, leis que não pegam
por sua arbitrariedade ou por seu descolamento da vida real, do desenvolvimento
científico e dos valores cultivados e compartilhados na sociedade. Vivemos sim uma
crise de valores, depois de um século onde a grande voz vinha da televisão, nossa
sociedade se baseou numa mensagem massificada e deixou o diálogo, a troca, para
a hora do intervalo, quando muito. Nossa sociedade adoeceu no dia em que
paramos de construir nossos símbolos na troca cara-a-cara, criando juntos,
evoluindo junto, para ficarmos passivos, recebendo, enquanto a cultura, a nossa
cultura, foi ficando esquecida.
Parece um cenário apocalíptico, mas é bem verdade que as coisas vem
mudando. Na sociedade da informação e da comunicação, com o advento de novas
formas de conexão entre as pessoas, estamos reaprendendo a descobrir, não mais
na passividade do sofá, mas na troca com o outro, reencontrando parte de nós
mesmos e conhecendo o outro, o diverso, o diferente. E é disso que se trata essa
monografia, dessa troca, dessa construção compartilhada, seja na praça, seja nas
redes sociais digitais, neste século tão jovem ainda, que parece ter chegado com a
esperança de que juntos podemos construir um mundo melhor, para nós e para
todos os outros, sejam eles quem forem.
A Era Industrial, sob o domínio da comunicação de massas, deixou a rede
escondida, em segundo plano, e a internet tem nos levado a reviver essa ideia. Hoje
4
em dia, com a popularização da internet, novas redes colaborativas, e voltadas para
a produção criativa, têm surgido com incrível velocidade, gerando bens coletivos de
valor inestimável. Estamos num processo de reconstrução da sociabilidade, o que
esta impulsionando o empoderamento da sociedade civil em sua busca por
autonomia e por um ambiente mais democrático, livre e igualitário. Segundo Alain
Touraine (1996 apud OLIVEIRA, p.95),
A autonomia da sociedade é fruto da autonomia dos sujeitos. Da
mesma forma, a democratização do Estado passa necessariamente
pela democratização da sociedade. A razão de ser da democracia é
o reconhecimento do outro e deve responder às demandas da
maioria. A democracia é a política do sujeito: não é somente um
conjunto de garantias institucionais, mas a luta dos sujeitos,
impregnados de sua cultura e liberdade, contra a lógica dominadora
dos sistemas.
Essas novas tecnologias, em especial a internet, possibilitaram a ascensão de
um novo ambiente para a cultura, onde a produção de bens artísticos e culturais,
sua circulação e consumo se dão de forma interativa, livre, num movimento que vem
abalando as estruturas de valor da indústria cultural e promovendo uma diversidade
de expressões nunca vista antes. Segundo Benkler (2006), essH QRYR ³VLVWHPD
RSHUDFLRQDO´ GD FXOWXUD, baseado na emergência das redes sociais e na produção
pelos pares, seria capaz de fomentar ao mesmo tempo criatividade, produtividade e
liberdade, satisfazendo igualmente às demandas tanto de indivíduos quanto de
coletividades. Este novo cenário trás questionamentos fundamentais para a política
cultural. Como criar políticas culturais em consonância com este novo ambiente?
Como responder aos anseios da sociedade por mais participação e transparência no
desenvolvimento e aplicação de políticas culturais?
Para responder a estas questões, partirei dos conceitos de política cultural de
Teixeira Coelho Netto (1997) e de cultura de Nestor Garcia Canclini (2004) para
compreender o cenário atual das políticas culturais e sua necessidade de
atualização frente à emergência dos movimentos sociais, assim como o surgimento
de novos agentes, chamados por Hardt e Negri (2005) de µmultidão¶ e por Pierre
5
Levy (1999) de µinteligência coletiva¶, que através da utilização de modelos de
produção chamados crowdsourcing e crowdfunding vêm tornando essencial novas
formas de pensar as políticas culturais.
Não pretendemos aqui, contudo, trazer soluções ou fechar temas, mas sim
trazer à tona a discussão sobre como essas novas visões sobre a coletividade estão
transformando nossa forma de nos organizar, assim como nossa relação com o a
cultura, seja produzindo, consumindo, ou ambos.
Analisaremos aqui quais os preceitos básicos e o funcionamento da economia
solidária, um siVWHPD HFRQ{PLFR DXWRSURFODPDGR ³SyV-FDSLWDOLVWD´ RQGH D JHVWmR
coletiva, a valorização do ser humano, o respeito à natureza e a produção
colaborativa são os principais valores cultivados e praticados.
Buscaremos ainda compreender como se formaram e como operam esses
modelos de produção colaborativa oriundos do meio digital, o crowdsourcing, um
modelo de produção distribuída que utiliza o poder da inteligência coletiva como
fonte para solucionar problemas, criar produtos e serviços de forma colaborativa. E o
crowdfunding,
um
modelo
de
financiamento
colaborativo
baseado
em
micropagamentos que modifica o conceito de consumidor, dando a este a
possibilidade de financiar projetos criativos ainda em sua fase de concepção, que
sem essa ajuda dificilmente sairiam do papel.
No que tange à política cultural, por se tratar de uma área muito diversa,
sempre que necessário, usaremos como exemplo a cadeia produtiva da música, por
alguns motivos simples: por sua inserção em todas as camadas sociais, por ter se
mostrado até então uma das expressões artísticas mais afetadas pelas mudanças
provocadas pelo digital e por sua capacidade de resposta diante dessas mudanças.
Buscaremos aqui também explicitar o papel da contracultura na formação
dessas novas coletividades e na reorganização da vida social através do uso cada
vez mais onipresente da internet como ferramenta de convívio social, de construção
da subjetividade, de ação política, de comunicação e de subsistência.
6
Considerei importante, ainda, observar concretamente o desenvolvimento
dessas práticas, por entender que a abordagem da realidade é importante na
construção do conhecimento. Por isso, inclui como objeto empírico do presente
trabalho, o estudo sobre a rede de coletivos e empreendimentos culturais solidários
Fora do Eixo, uma rede de coletivos culturais que sob os preceitos da economia
colaborativa e com o uso substancial das tecnologias digitais criou praticamente do
zero um circuito cultural que hoje passa por mais de cem cidades de todo o país e
que não pára de se expandir.
7
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é compreender como as novas tecnologias de
informação e comunicação (TICs), com foco na internet, e mais especificamente na
web 2.0, inspiraram e subsidiaram a ascensão de modelos de produção,
distribuição, financiamento e uso ou consumo de cultura (com especial atenção à
cadeia produtiva da música) baseados na colaboração e no compartilhamento.
Buscaremos também compreender como estes modelos impactam a política cultural,
e quais as reflexões resultantes.
Serão analisados três modelos de produção colaborativa, modelos distintos
porém
complementares:
a
economia
solidária,
um
sistema
econômico
DXWRSURFODPDGR ³SyV-FDSLWDOLVWD´ RQGH D JHVWmR FROHWLYD D YDORUL]DomR GR VHU
humano, o respeito à natureza e a produção colaborativa são os principais valores
cultivados e praticados. O crowdsourcing, um modelo de produção distribuída que se
XWLOL]D GD ³LQWHOLJrQFLD FROHWLYD´ /(9<
GH XP VHP Q~PHUR GH LQGLYtGXRV
conectados à rede (internet) para produzir colaborativamente desde software livre
até músicas e filmes. E por fim o crowdfunding, um modelo de financiamento cultural
onde o usuário\espectador\consumidor financia e ajuda a viabilizar produtos e
serviços culturais ainda em sua fase de concepção, participando desta de forma
ativa.
Este trabalho tem como foco compreender como estes modelos de
organização, produção e financiamento\FRQVXPR FRQWULEXHP SDUD R ³LQFUHPHQWR´ GD
diversidade cultural e da democracia cultural no Brasil, além de buscar compreender
como estes respondem aos anseios da sociedade civil contemporânea por mais
participação e transparência no desenvolvimento e aplicação de políticas culturais.
Usaremos como emblema deste novo paradigma o Fora do Eixo, um
conglomerado de mais de 90 coletivos espalhados pelo Brasil que, organizados sob
os princípios da economia colaborativa, utilizam o crowdsourcing e o crowdfunding
em suas ações para produzir e distribuir arte e cultura país afora.
8
9
3. METODOLOGIA
A presente pesquisa se divide em duas partes. Em um primeiro momento, fezse necessário um levantamento bibliográfico sobre os temas que envolvem a
tecnologia digital e a internet, em especial sobre o caráter colaborativo da internet,
desde a sua origem até o surgimento recente da web 2.0 e suas ferramentas, que
vêm colocando as políticas culturais em nova chave (TEIXEIRA COELHO NETTO,
2007), trazendo o protagonismo social para o centro da mesa e subsidiando o
surgimento de novas redes, sejam elas fundamentadas na economia solidária, ou
em relações instantâneas entre os usuários das redes sociais digitais.
A
pesquisa
bibliográfica
também
procurou
atender à
demanda
de
compreensão da formação de novas redes sociais, sobretudo o entendimento sobre
as redes sociais digitais e seu papel nessas novas cadeias produtivas da cultura.
A segunda parte da pesquisa busca compreender a conjuntura tecnológica e
cultural onde se desenvolveu o Fora do Eixo (FDE), um circuito de coletivos que, sob
a bandeira da economia colaborativa, está ao seu modo tentando reinventar a
política cultural pós-PRGHUQD &RP XPD IRUPD ³GLIHUHQFLDGD´ GH SURGX]LU FXOWXUD R
fora do Eixo se utiliza do crowdsoucing e do crowdfunding para alimentar a cena
musical do interior do Brasil e coloca no mercado dezenas de artistas por ano, que
com o apoio do circuito estão viajando o país, retroalimentando a rede e
enriquecendo o intercâmbio de artistas Brasil afora.
A investigação empírica de dados pretende atender à pesquisa sobre o
funcionamento da rede FDE, as formas de remuneração através do uso das moedas
sociais administradas pela rede, e como acontece a geração de receita, sua divisão
e a relação com fornecedores que não utilizam\aceitam a moeda social, a fim de
compreender a sustentabilidade econômica da rede.
Alguns conceitos e termos são fundamentais para o desenvolvimento da
pesquisa. A cartografia conceitual será explicitada no decorrer do texto, destacandose que quando me refiro à cadeia produtiva da cultura ou mais especificamente da
10
música, foco principal deste trabalho, adota-se o critério utilizado por Teixeira Coelho
Netto em seu Dicionário Crítico de Políticas Culturais (1997, p.103), em que,
política cultural apresenta-se como o conjunto de iniciativas visando
promover a produção, a distribuição e o uso da cultura, a
preservação e divulgação do patrimônio histórico e o ordenamento
do aparelho burocrático por elas responsável.
No que diz respeito às redes digitais, compreende-se termos utilizados por
autores como Manuel Castells (2003 e 2008), Lawrence Lessig (2005) e Yochai
Benkler (2003 e 2006). No caso, a comunicação entre computadores ligados em
UHGH YLGH ,QWHUQHW FRQVWLWXL ³espaço de fluxo de informações´ &DVWHOOV
S
que possibilita aos seus usuárLRV ³construam e cultivem cultura, com resultados que
vão muito além dos limites locais´ /HVVLJ
S
2X VHMD SHOD UHGH EHQV
culturais podem ser criados e compartilhados com um grande número de pessoas. E
de acordo com Benkler (2006, p. 81), ³D rede possibilita a cooperação entre seus
usuários, de forma a transformar o modo de produção e distribuição de conteúdos
LQIRUPDFLRQDLV GLIHUHQWHPHQWH GR PHUFDGR WUDGLFLRQDO ´
Para este estudo, procura-se discutir os temas acima analisados, dentro da
perspectiva de uma economia da informação em rede (Benkler, 2006). Assume-se a
distribuição gratuita de música como uma realidade, sendo ela concorrente ou não
da indústria de discos físicos. Assim, compreende-se que a música na rede gera
abundância e a ³HFonomia da abundância tende por si só a uma economia da
JUDWXLGDGH´ (Gorz, 2005: 37).
No capítulo sobre políticas culturais, utilizaremos como base as análises de
Teixeira Coelho Netto (1997) em seu Dicionario Crítico de Politicas Culturais, assim
como autores como Paulo Freire (1982), Nestor Canclini (2004) e Lúcia Oliveira
(2010), a fim de compreender tanto o desenvolvimento das políticas culturais no
Brasil como seu estado atual e seus desafios para o futuro.
Nos capítulos reservados à analise dos movimentos sociais e da economia
solidária, utilizamos como base os autores Euclides Mance (2000, 2002, 2006),
11
Jorge Machado (2007), Paul Singer (2000, 2002) e, novamente, Teixeira Coelho
Netto (2011), tendo outros autores sido consultados, mas não citados.
Para os capítulos relativos ao crowdsourcing e ao crowdfunding, além de
autores já conhecidos e conceituados como Pierre Levy (1999), Jeff Howe (2008) e
Hardt e Negri (2005), houve a necessidade de recorrer a blogues e sítios
especializados, já que a literatura branca acerca dos temas, principalmente em
português, ainda é bastante restrita.
Com relação ao levantamento de dados acerca da rede Fora do Eixo tive a
oportunidade de conhecer a Casa Fora do Eixo, localizada na Liberdade, em São
Paulo, onde pude conhecer pessoalmente membros do coletivo que disponibilizaram
uma série de informações sobre o nascimento da rede, seu funcionamento e gestão.
Outras fontes, sobretudo com críticas ao grupo foram consultadas e, apesar de não
terem sido citadas nominalmente, impactaram o desenvolvimento do trabalho.
O levantamento de fontes foi feito na biblioteca da ECA (através do sistema
DEDALUS), onde foram feitas buscas pelos termos: política cultural, crowdsourcing,
crowdfunding, economia colaborativa, economia sROLGiULD
³FXOWXUD
LQWHUQHW´ ZHE
LQWHUQHW
³PXVLFD
LQWHUQHW´
HQWUH RXWURV WHQGR VLGR DQDOLVDGD D
pertinência das fontes e utilizadas as que mais se adequaram aos objetivos da
pesquisa. Foram feitas pesquisas também no banco de dados do sistema municipal
de bibliotecas de São Paulo, nos bancos de dados Scielo, Science Direct, Google
Acadêmico, entre outros, com a utilização das principais fontes encontradas.
Como o objetivo desta monografia não era uma revisão de literatura, mas um
estudo exploratório sem pretensão de ser definitivo, ou de encerrar qualquer
questão, foi objetivada a exploração dos temas abordados de forma exaustiva sim,
mas sem culpas por descartar autores e temas paralelos que não parecessem de
total pertinência para a realização de nossos objetivos, mesmo correndo o risco de
enfraquecer alguns argumentos e criar gaps conceituais.
12
4. POLÍTICAS CULTURAIS
Segundo o dicionário Crítico de Políticas Culturais, cultura é no seu sentido
PDLV DPSOR ³R PRGR GH YLGD GH XPD FRPXQLGDde em seu aspecto global,
WRWDOL]DQWH ´ 2X FRPR DQDOLVD 7HL[HLUD &RHOKR 1HWWR
S
As várias manifestações culturais não são determinadas de modo
absoluto por uma ordem social global patente, mas são elementos
decisivos na definição daquela ordem; por outro lado, a cultura não
se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos
tradicionalmente chamados culturais, de natureza espiritual ou
abstrata, mas apresenta-se sob a forma de diferentes manifestações
que integram um vasto e intricado sistema de significações.
Segundo Canclini (APUD Oliveira, 2010, p. 94), o mundo globalizado e a
emergência das novas tecnologias de informação e comunicação, nos trouxeram a
uma realidade muito mais dinâmica e diversa nos obrigando a redefinir a noção de
cultura, entendendo-D QmR FRPR ³HQWLGDGH RX SDFRWH GH WUDoRV TXH GLIHUHQFLDP XPD
sociedade de outra, mas como sistema de relações de sentido que identifica
diferenças, contrastes e comparações e é o veículo ou meio pelo qual a relação
entre os grupos consubstancia-VH´
3DUD &DQFOLQL
SDVVDPRV GH XP PXQGR
multicultural para um mundo intercultural, onde as etnias e grupos não mais se
aceitam simplesmente, mas se definem em suas relações de negociação, conflito e
empréstimos recíprocos, (2004 APUD OLIVEIRA, 2010, p. 95) construindo sua
subjetividade num ambiente globalizado, flutuante e dinâmico. (Oliveira, 2010, p. 96)
Teixeira Coelho Netto (1997, p. 104) define políticas culturais como:
Programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis,
entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de
satisfazer as necessidades culturais da população e promover o
desenvolvimento de suas representações simbólicas.
Alguns autores brasileiros dedicaram-se especialmente ao estudo da ação
cultural definindo tendências que moveram políticas e práticas culturais no país.
13
Teixeira Coelho Netto (1997) refere-se à ação cultural como ação sócio-cultural, com
foco principal na arte e na distribuição mais equitativa da cultura. Segundo ele,
destacaram-se três momentos da ação cultural na história brasileira. O primeiro
surgiu com a ascensão dos museus e o enfoque principal sobre a obra. Nesta fase,
a ênfase era sobre a preservação do patrimônio, reforçando a sacralização do
produto e seu valor econômico, caracterizando assim uma fase patrimonialista nas
políticas culturais no Brasil.
Num segundo momento, em torno do final dos da década de 1940, as
instituições culturais passam a enfatizar a preocupação com as pessoas ± grupos,
segmentos ± que estavam em contato com o objeto cultural, e menos com o objeto
propriamente dito.
No terceiro momento, a partir do final da década de 1960, a ênfase das ações
não se localizava nem na obra, nem nas pessoas como um todo, mas no indivíduo.
Notam-se, assim, duas tendências marcantes que definem o desenvolvimento
da ação cultural, tomada na perspectiva de processo e prática intencional de
mediação de objetos culturais. Uma primeira, de caráter, sobretudo patrimonialista e
outra de natureza participativa. Essa última buscava a transformação dos indivíduos
e a desalienação dos contatos humanos.
No enfoque proposto pelas concepções do terceiro momento, aparece no
Brasil a ideia da ação cultural, provavelmente idealizada por Mário de Andrade,
durante a década de 1940, com o nome de arte-ação. Por meio da arte-ação,
Andrade visava fazer da arte e da cultura, instrumentos de mudança do homem e do
mundo. Contudo, a proposta não conseguiu subsistir, tal como ele a imaginara, em
razão das alterações do quadro político brasileiro e a ascensão do regime ditatorial
do Estado Novo. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1997)
No término da década de 1970, as políticas e práticas de ação cultural, são
redefinidas por influência estrangeira. Imitando modelos franceses, iniciou-se a
construção de centros de cultura, sobretudo nas grandes metrópoles. Após os
anseios pela construção de teatros, cinemas e museus, agora era a vez dos centros
14
de cultura que, assim como aconteceu com seus predecessores, eram vistos como
um avanço cultural.
Assim, a década de 1980 foi marcada pela construção de centros de cultura.
Porém, havia questionamentos sobre as atividades desenvolvidas nesses centros,
se eram verdadeiramente ações culturais ou se, conforme alertavam os teóricos,
não teriam suas concepções embasadas na ideia de fabricação cultural2 e em
UHODo}HV ³ILOLVWpLFDV´ H FRQVXPLVWDV TXH JUDQGH SDUWH GD VRFLHGDGH WLQKD FRP D
cultura. A sociedade, segundo Teixeira Coelho Netto, passava por uma crise de
valores, sendo incapaz de discernir sobre o que era cultura, num contexto em que
esta era diluída e homogeneizada para fins mercantilistas3. (TEIXEIRA COELHO
NETTO, 1989). Assim como Freire (1982) combateu a visão deturpada da letra
como amuleto, combatia-se agora a ideia de que a mera construção de centros
culturais efetuaria magicamente uma ação cultural.
Nos anos de 1990, as políticas culturais federais passaram por uma espécie
de terceirização, principalmente nas políticas culturais de cunho criacionista 4, com a
adoção de leis de renúncia fiscal, criadas no governo de Fernando Collor (Lei
2
Segundo Teixeira Coelho Netto (1989), fabricação cultural consiste num processo de mediação cultural com
ponto de partida, etapas intermediárias, fim e finalidade previstos. Tem por meta, alternativa ou
cumulativamente, a transmissão de conhecimentos e técnicas determinadas; a formação de uma opinião cultural
específica; a conformação de um modo de percepção ou a produção de uma obra cultural previamente estipulada.
Neste processo, os objetivos são predeterminados, cabendo ao agente ou mediador cultural orientar as atividades
de seu público na direção estabelecida. Opõe-se, neste sentido, à ação cultural, processo de invenção e
construção conjunta, entre mediadores e público, dos fins e meios culturais visados, não raro definidos apenas no
decorrer do próprio processo.
3
Segundo Teixeira Coelho Netto (1997), os procedimentos citados correspondem ao que se pode chamar de
democratização da cultura, o que consiste na essência, num processo de popularização das chamadas artes
eruditas, com a ideia de que diferentes segmentos da população gostariam de ter acesso a esses modos culturais,
ou poderiam ser persuadidos a expor-se a eles, sem recorrer-se a instrumentos adequados de educação,
sensibilização e facilitação dessas práticas, movidos por interesses meramente mercadológicos.
4
Políticas culturais criacionistas, segundo Teixeira Coelho Neto, são aquelas promovem a produção, a
distribuição e o uso ou consumo de valores e obras culturais.
15
Rouanet e do Audiovisual) que na prática, delegaram a produção, promoção e
circulação de novos produtos culturais a agentes privados, deixando a cargo do
Estado, além da administração de editais e leis de renuncia fiscal, as políticas
culturais de cunho patrimonialista5. Foram levantados questionamentos quanto à
transparência e aos critérios utilizados para a concessão de subsídios,
principalmente com relação à Lei Rouanet, por considerar-se que tais instrumentos
dariam à iniciativa privada superpoderes no que tange à produção de produtos
culturais financiados com dinheiro publico (oriundos de renúncia fiscal), sem que
fique clara a geração de contrapartidas equivalentes, servindo assim a interesses
privados da elite econômica e cultural estabelecida, mas, sobretudo a interesses
políticos (já que os principais financiadores são empresas com participação ou
controle estatal: Vale e Petrobras), ficando tanto o Estado quanto a sociedade civil à
mercê desses interesses. (AMORIM, 2010) Pode-se colocar a contraponto destes
ataques o fato de a máquina estatal não ter a agilidade necessária para cuidar
mesmo dos interesses mais vitais, o que justificaria a adoção desta forma de
financiamento, que apesar de suas fraquezas, trouxe ganhos indiscutíveis para a
cultura brasileira.
No século XXI pudemos observar uma tentativa do governo federal em tomar
de volta as rédeas das políticas culturais, depois de períodos de ausência,
autoritarismo e instabilidade. (RUBIM, 2008, p. 186) Tomar as rédeas e distribuí-las
novamente, porém não aos agentes do mercado como anteriormente, mas à
totalidade do povo brasileiro, num movimento duplo, no sentido de trazer a
responsabilidade de criar programas e ao mesmo tempo um compromisso em criálos em conjunto com a sociedade. (GIL, 2003, p. 23)
O que se pode observar foi uma pluralização de pautas, (políticas de apoio às
culturas indígenas, às culturas populares, de afirmação sexual, cultura digital,
economia criativa, entre outras), ao mesmo tempo em que houve uma proliferação
5
Políticas culturais patrimonialistas, segundo Teixeira Coelho Neto, são aquelas dirigidas para a preservação, o
fomento e a difusão de tradições culturais supostamente autóctones ou, em todo caso, antigas ou, ainda, ligadas
às origens do país.
16
de seminários, câmaras setoriais e conferências, num esforço de promover um
ambiente democrático, acionando a sociedade civil e agentes culturais na
formulação e promoção de políticas públicas.
4.1.
Políticas Culturais no século XXI
Teixeira Coelho Neto destaca, em artigo de 2011 (p. 10), como as mudanças
decorrentes dos novos tempos, com todas as particularidades que lhe são próprias 6,
muitas vezes não foram acompanhadas pelas políticas culturais,
O recurso a políticas culturais datadas, alimentadas por outros
imaginários, só pode desaguar em insatisfações ou, como prefere
dizer, e bem, Walter Moreira Salles, na tentativa de concretização de
ambições medíocres, porque embebidas de passado e nutridas pela
nostalgia.
O imaginário do século XXI trás entre suas ideias centrais o desenvolvimento,
o desenvolvimento sustentável e em especial o desenvolvimento humano
(TEIXEIRA COELHO NETTO, 2011), e a certeza de que sem este, o
desenvolvimento econômico, tão almejado, estará limitado. Vale lembrar, porém,
que ao se discutir políticas culturais é primordial que o fim maior dessas políticas
resida na própria cultura, e que esta não se torne um mero instrumento para o
desenvolvimento econômico, e para isso, a participação efetiva da sociedade civil se
faz primordial. Ou como disse o cientista político uruguaio Geraldo Caetano, citado
por Oliveira,
Se não se quer que os programas de emergência se tornem
assistencialistas, mas comecem a atacar as estruturas de exclusão,
é imperativo que os beneficiários das novas políticas públicas se
6
1R DUWLJR ³3ROtWLFD FXOWXUDO HP QRYD FKDYH´
7HL[HLUD &RHOKR 1HWR GHstaca que a contemporaneidade
SDVVD SRU XPD PXGDQoD UDGLFDO GH LPDJLQiULR SRU VH WUDWDU GD HUD GR ³choque entre civilizações, da libertação
genética do homem, a sociedade da insignificância, uma sociedade que não mais tem uma imagem de si mesma,
com a qual as pessoas não mais podem ou querem se identificar e cujos mecanismos de direção se
GHFRPS}HP´
17
tornem, de modo crescente, sujeitos e não simples objetos da ação
pública (Caetano, 2007 APUD OLIVEIRA, 2010, p. 93)
Teixeira Coelho Netto (2011, p. 13) diz que a cultura é uma longa conversa,
uma troca de ideias de cada um com aquele que lhe está ao lado, de cada cultura
com aquela que lhe está ao lado.
Seguindo
na
mesma
toada,
Geraldo
Caetano (2007 APUD OLIVEIRA, 2010) sugere que para a construção de uma
SROtWLFD FXOWXUDO GHPRFUiWLFD p QHFHVViULR ³DPELHQtar pactos entre culturas,
ambientar um pluralismo efetivo e não simplesmente a tolerância resignada que não
WUDQVIRUPD QHP LQWHUSHOD´
A UNESCO, ao afirmar em sua Conferência Geral para a Educação, a Ciência
e a Cultura, celebrada em Paris em 2005, que a diversidade cultural é uma
característica essencial da humanidade, ratifica o direito do individuo de, além de
participar do processo cultural, ter acesso irrestrito à sua própria cultura, assim como
à do outro, um binômio que pode parecer ridículo aos nascidos na era digital
(geração Y), mas que é constantemente ameaçado por iniciativas governamentais,
como a censura à internet na China ou a criação do Ministério da Imigração,
Integração, Identidade Nacional e Desenvolvimento na França, e também por
iniciativas da indústria cultural que além de financiar o lobby pelo endurecimento das
leis de propriedade intelectual mundo afora, promove uma guerra feroz contra a
distribuição de produtos culturais na rede, com sucessos pontuais (Napster), porém
sem uma perspectiva de vitória a qualquer prazo. (LESSIG, 2004)
2 FHQiULR TXH VH PRVWUD SDUD DV SROtWLFDV FXOWXUDLV D WDO ³QRYD FKDYH´
levantada por Teixeira Coelho Netto é cada vez mais participativa, multicultural,
plural, conectada. Passamos por um período de mudanças, com novas práticas
sociais de produção, consumo e intercâmbio, que afetam nossa percepção do
mundo e colocam a liberdade e o desenvolvimento humano em um novo patamar. O
enfraquecimento das instancias de representação [em especial o Estado] fez
emergir uma maior autonomia dos sujeitos e a formação de coletividades
organizadas para os fins mais diversos. Para Negri (em entrevista) a revolução já
passou e a liberdade vive na consciência das pessoas, e a grande transformação
que nós vivemos hoje pode ser uma transição extremamente poderosa para uma
18
sociedade mais livre, mais justa, mais democrática. Segundo Negri, a ruptura já se
deu, e foi em 1968.
19
5. CULTURA, CONTRACULTURA E INTERNET
Por séculos a cultura ocidental se apoiou numa concepção individualista, fruto
do ideário iluminista, de que apenas grandes gênios tinham condições de transpor a
MDQHOD GD DOPD H OHYDU DR PXQGR VXD HVVrQFLD 6HJXQGR )RXFDXOW ³D QRomR GH DXWRU
constitui o momento forte da individualização na história das ideias, dos
FRQKHFLPHQWRV GDV OLWHUDWXUDV QD KLVWyULD GD ILORVRILD WDPEpP H QD GDV FLrQFLDV´
(FOUCAULT, 1992, p. 5). Esta crença nos levou a um cenário em que uma minoria
seria detentora desse poder, enquanto a maioria, formada por simples mortais
poderia apenas assistir e aplaudir. Nas palavras de J. Richardson e D. Kleiner (2006,
p. 4),
Adotando a metáfora de crescimento orgânico utilizada por
Rousseau e a noção de gênio como força inata que criava a partir do
interior de si empregue por Kant, os autores românticos celebraram o
artista como um ser indomado e espontâneo (como a própria
natureza), conduzido pela necessidade intuitiva e indiferente às
normas e convenções sociais. Ao situar a obra de arte num sujeito
natural e préssocial, o seu significado estava livre de ser
contaminado pela vida quotidiana. A arte não era nem pública, nem
social, não sendo também semelhante ao trabalho dos operários que
produziam mercadorias. Era autoreflexiva, providenciando uma
janela para uma subjetividade transcendente.
Tal visão, aliada ao alto custo de produção de bens artísticos, levou a
indústria cultural a uma realidade de alta mercantilização da cultura e, também, a um
cenário de homogeneização cultural crescente, onde a maximização dos lucros se
contrapõe à diversidade cultural. Como descreve Teixeira Coelho Netto (1997),
(...) com o tempo, a cultura, não é mais vista como instrumento da
livre expressão e do conhecimento, mas como produto permutável
por dinheiro e consumível como qualquer outro produto, uma
mercadoria com cotação individualizável e quantificável.
20
A obra de arte era reprodutível, mas a que custo? A descaracterização de
modos culturais a fim de torná-los melhor digeríveis por um contingente cada vez
maior criou uma cultura para as massas, apática e conformista, para uma massa
ainda mais acrítica, alienada, doutrinada. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1997)
Marcados pelas análises da escola de Frankfurt7, artistas lutaram contra a
indústria, criaram o rótulo do artista independente, que não se rende ao mercado, se
organiza em grupos, geralmente de nicho (selos de punk rock, de musica eletrônica,
O Fluxus, etc.) (HOME, 1999) Nos anos de 1960, a contracultura chacoalhou as
estruturas da sociedade, indo em busca do diverso, do diferente, do natural, do
subjetivo; buscou na tribo, nas drogas, no rock, a oposição ao poderio econômico, à
tecnocracia, ao belicismo, ao capitalismo, à opressão manipuladora dos meios de
comunicação de massa. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1997) Porém, à época,
pouco podiam frente à lógica do mercado, em que a detenção de meios de produção
e distribuição eficientes era determinante, mantendo a indústria cultural em posição
hegemônica e sem grandes percalços por praticamente todo o século XX. Como
afirma Benkler (2002, p. 8),
O custo do capital físico foi por mais de 150 anos o princípio central
da informação e da produção cultural, da produção de alto custo,
prensas mecânicas de alto volume, por meio de telégrafo, telefone,
radio, filme, discos, televisão, cabo, e sistemas de satélite. Esses
custos largamente estruturaram a produção em torno do modelo
industrial de capital intensivo.
Alguns podem ter acreditado que a contracultura acabou em Paraty vendendo
brincos de miçanga, ou em comunidades rurais fazendo dança de roda até a morte,
7
As críticas da Escola de Frankfurt apoiadas no pensamento político de cunho marxista, analisam o
modo de produção industrial dos bens culturais e o processo reprodutivo serial, padronizado, servindo
essa produção a fins de construção de meras mercadorias culturais seria - para os autores - o fator
responsável por processos de degradação da crítica filosófica e existencial do amplo espectro de
estudos e compreensões das manifestações culturais.
21
mas a verdade é que os ideais que moveram aquela geração nunca morreram,
apenas se atualizaram, e ganharam proporções que poucos poderiam prever.
5.1.
Linux e o trabalho colaborativo
O nascimento da internet, por volta dos anos 70, é geralmente analisado
como o produto da comunhão dos esforços do exército e da academia, com uma
importante participação da contracultura e seus ideais. (LEVY, 1999, p. 126) No
inicio da computação era impensável uma pessoa, uma empresa ou um laboratório
desenvolver códigos de programação sozinha; a colaboração foi uma característica
vital dos primeiros anos de desenvolvimento da microinformática, o que criou uma
tradição cultural de desenvolvimento compartilhado e colaborativo, que valorizava o
acesso irrestrito à informação. Era o nascimento da cultura hacker. (HOWE, 2008, p.
46)
Com a introdução do computador pessoal em 1976, criou-VH D ³QHFHVVLGDGH´
de softwares patenteados, o que dava a impressão de que o sonho hacker iria por
água abaixo, até que Richard Stallman, em 1983, fundou o GNU Project, um esforço
inicialmente solitário para a criação de um sistema operacional com código-fonte
aberto e de uso gratuito. Com o passar do tempo, outros hackers se sentiram
atraídos pelas ideias de Stallman e contribuições para o código não pararam mais
de chegar. Nesse contexto, Stallman fundou a organização FSF (Free Software
Foundation HP
SDUD ³HVWLPXODU D OLEHUGDGH GR XVXiULR GH FRPSXWDGRU H
GHIHQGHU RV GLUHLWRV GH WRGRV RV XVXiULRV GH VRIWZDUH OLYUH´ H SRVWHULRUPente a GNU
GPL (GNU General Public License) que determinava que qualquer software lançado
sob esta licença deveria ser disponibilizado gratuitamente, e que softwares que
incorporassem os códigos inscritos sob ela também deveriam ser gratuitos.
Para finalizar o sistema GNU faltava, porém, uma parte essencial, o Kernel,
que numa iniciativa de Linus Torvalds, um estudante finlandês, acabou por ser
escrito colaborativamente em incríveis 2 anos, trazendo como resultado o sistema
Operacional Linux, que se mantivera sob licença GNU General Public e que continua
em aprimoramento contínuo até hoje. O Linux é uma prova de que o
22
desenvolvimento colaborativo pode ser bem sucedido, como afirma Howe (2008, p.
47):
Trabalhando fora de qualquer agência organizadora, como uma
empresa ou instituição acadêmica, a comunidade de código aberto
provou que as redes mais inteligentes eram auto-organizadas. Quem
foi o autor do Linux? A multidão.
O movimento do software de código aberto sempre teve como objetivo a
promoção de uma filosofia de trabalho e de vida, pautados pela transparência e pela
igualdade; os defensores do código aberto sempre acreditaram que com um grande
número de pessoas contribuindo, qualquer problema se torna superficial.
5.2.
Os hackers e a internet
³2 PRYLPHQWR KDFNHU p XP SURMHWR SROtWLFR´ -RKDQ 6|GHUEHUJ
A presença da contracultura norte-americana é claramente encontrada
também no desenvolvimento da rede mundial de computadores. Segundo Castells, a
produção dos sistemas tecnológicos é estruturada culturalmente, assim, a cultura
dos construtores da Internet teria moldado seu desenvolvimento, assim, a cultura da
Internet
se
caracterizaria
por
uma
estrutura
em
quatro
camadas:
a
tecnomeritocrática (dos cientistas), a dos hackers, a comunitária virtual e a
empresarial. (Castells, 2003, pp. 34-5).
(VVD FRQVWUXomR H[SOLFDULD D ³LGHRORJLD GD OLEHUGDGH TXH p DPSODPHQWH
GLVVHPLQDGD QR PXQGR GD ,QWHUQHW´ &DVWHOOV
/pY\
S
S
1D SHUVSHFWLYD GH 3LHUUH
³XP YHUGDGHLUR PRYLPHQWR VRFLDO QDVcido na Califórnia na
efervescência da contracultura apossou-se das novas possibilidades técnicas e
LQYHQWRX R FRPSXWDGRU SHVVRDO´
A contracultura teria assim grande participação na formação da cibercultura
por estar enraizada na própria origem da construção Internet. Dessa forma, tomava
23
forma um movimento social que pregava distribuição do poder e a emancipação das
pessoas pelo acesso às informações, tendo os hackers como sua infantaria.
A definição original de hacker HUD D GH ³XP SURJUDPDGRU GH FRPSutador
talentoso que poderia resolver qualquer problema muito rapidamente, de modo
LQRYDGRU H XWLOL]DQGR PHLRV QmR FRQYHQFLRQDLV´8
Porém, tanto o termo como a atitude hacker foram atacados sistematicamente
na medida em que as redes informacionais adquiriram importância econômica e
social. Primeiro porque os compromissos dos hackers com a liberdade de
informação e com o compartilhamento de códigos eram vistos como negativos para
a acumulação e lucratividade das grandes corporações.
6HJXQGR ³6WHYHQ´ /HYy (1984, Hackers: Heroes of the Computer Revolution),
os elementos centrais da ética hacker são: ³$FHVVR DRV FRPSXWDGRUHV« GHYH VHU
ilimitado e total... Todas as informações deveriam ser livres... Hackers desconfiam
das autoridades e promovem a descentralização... Hackers devem ser julgados por
seus hackeamentos e não por outros critérios, tais como escolaridade, idade, raça
ou posição social... Você pode criar arte e beleza em um computador... Os
FRPSXWDGRUHV SRGHP PXGDU VXD YLGD SDUD PHOKRU´
Na matriz do ideário hacker está enraizada a ideia de que as informações e o
conhecimento não devem ser propriedade de ninguém, e a cópia de informações
não agride ninguém dada a natureza intangível dos dados.
Segundo o pesquisador finlandês Pekka Himanen (2001, S
³R SULPHLUR
valor a guiar a vida de um hacker é a paixão, ou seja, algum objetivo interessante
TXH R PRYH H TXH p GH IDWR JHUDGRU GH DOHJULD HP VXD UHDOL]DomR´ $LQGD VHJXQGR
Himanen, ao alcançar e superar um desafio, o hacker tende a compartilhar seu
aprendizado, adquirindo assim reputação, principio fundamental na relação entre
hackers.
8
http://www.livinginternet.com/i/ia_hackers.htm
24
5.3.
A internet ganha o mundo: E a cultura com isso?
A história da internet até seu lançamento comercial em 1994 mostrou, como
vimos, a possibilidade de novos caminhos. Porém, por seu caráter privado (e pago),
a dificuldade com a nova tecnologia [html], a precariedade da infraestrutura
(conexões lentas), a internet se lança ao mundo trazendo a impressão de ser
apenas mais do mesmo, ou seja, mais um canal de comunicação de massa. A
predominância de grandes portais corporativos e de grandes grupos de mídia
manteve as coisas sem maiores mudanças no que diz respeito ao desenvolvimento
cultural, já que simplesmente ampliava o leque de consumidores de produtos
culturais já massificados. O Napster, assim como outras iniciativas, seguindo o
formato de compartilhamento distribuído (P2P ou Peer to Peer) foi uma primeira
janela, embora, estas, por sua interface e sua forma de uso, acabavam ainda
privilegiando artistas já consagrados, sobretudo os de mainstream, trazendo
avanços pouco significativos no que tange à produção cultural.
Depois do solavanco da explosão da bolha da internet em 2001, agindo como
um freio de arrumação,,veio à tona a web 2.0, uma nova forma de enxergar o
ambiente digital, trazendo de volta alguns valores, sob forte influência do movimento
de software livre. Segundo Castells (2008, p. 50),
O exagero profético e a manipulação ideológica que caracteriza a
maior parte dos discursos sobre a revolução da tecnologia da
informação não deveria levar-nos a cometer o erro de subestimar sua
importância verdadeiramente fundamental.
(VVD ³QRYD´ LQWHUQHW EDVHDGD QR FRPSDUWLOKDPHQWR 0DLV upload e menos
download) trouxe um novo enfoque, e o ganho de velocidade das redes e o
incremento de ferramentas de publicação de conteúdo, gratuitas e de uso livre,
içaram a internet a um novo patamar que alguns anos antes era algo inimaginável,
uma plataforma multimídia onde qualquer um que estivesse conectado poderia
mostrar o que faz, seja arte, crítica, compilações, produção própria, material gráfico,
jornalístico, etc. Ou seja, mostrar sua produção, seu trabalho, para o mundo inteiro
de forma instantânea. As palavras do momento desde então são compartilhamento e
25
colaboração e aos poucos foram tomando forma modelos de distribuição, portais de
compartilhamento, coletivos criativos, canais de notícias independentes, portais de
mobilização pública entre outras centenas de formas de gritar ao mundo o que se
faz, seja em busca de clientes para um novo negócio ou produto, para disseminar
uma ideia, uma manifestação cultural ou para mobilizar pessoas em torno de uma
causa, a um custo baixo e sem precisar da autorização ou da aprovação de
ninguém. A internet enfim se reencontrava com sua vocação. Nas palavras de
Benkler (2002, p. 9)
O preço cada vez mais baixo da computação, contudo, inverteu a
estrutura do capital da informação e da produção cultural.
Computadores pessoais baratos, assim como vídeo digital e
sistemas de áudio, são agora capazes de realizar a maioria das
funções
do
capital
físico
que
antes
requeria
investimentos
substanciais. Como os custos do capital físico e da comunicação e
fixação estão agora baixos e amplamente distribuídos e como a
informação existente é ela mesma um bem público, o primeiro
recurso escasso que resta é a criatividade humana. E é sob essas
condições que as vantagens relativas da produção colaborativa
emergem para uma glória que era impossível antes.
Para o artista, e aqui vou me focar na relação do músico com o digital, a
tecnologia digital barateou o custo de produção, com facilidade de acesso a
equipamentos, softwares de edição abertos e samplers gratuitos (legais ou não)
encontrados facilmente na rede. Num primeiro momento a internet trouxe ao artista a
multiplicação de fontes para se inspirar, agora, ele tem a chance de criar e produzir
a um custo muito baixo, expor seu trabalho e se relacionar com seu público de forma
cada vez mais direta e íntima, o que trouxe como resultado um cenário musical rico
em diversidade como nunca antes. Isso sem falar nos antes excluídos da cadeia
produtiva da cultura, que agora, de posse desses novos instrumentos tecnológicos,
estão criando seus próprios mercados, seus próprios nichos, uma forma nova de
26
alimentar essa cadeia, como é possível observar em casos como o do Tecnobrega
no Pará9.
Como salienta José Murilo (2009, p. 9),
O barateamento do computador pessoal e do telefone celular, aliado
à rápida evolução das aplicações em software livre e dos serviços
gratuitos na rede, promoveu uma radical democratização no acesso
a novos meios de produção e de acesso ao conhecimento.
Demorou cerca de uma década até que essas novas tecnologias ganhassem
escala, com produtos e serviços mais baratos, permitindo que um grande número de
pessoas passasse a ter acesso a essas ferramentas de comunicação que nos
mostram, dia após dia, como algumas distâncias não importam mais. Percebeu-se
que era possível reunir muitas pessoas de qualquer lugar em volta de uma ideia, de
um plano, de um objetivo, é isso o que nós vemos hoje na primavera árabe, nas
greves gerais pela Europa e nos movimentos de ocupação iniciados em Wall Street.
Na rede, comunidades se formam tanto em volta de grandes assuntos globais assim
como em fóruns e grupos dos mais específicos. Por se tratar de um espaço
comunicacional livre e distribuído, a internet possibilita a organização de grupos de
nicho, unidos por relações instantâneas que duram apenas o tempo necessário para
a concretização de seus objetivos.
9
O fenômeno do Tecnobrega surgiu no estado do Pará, e ganhou escala a partir de 2002. Desde então,
CDs são produzidos em estúdios caseiros, com baixo custo, copiados em larga escala e distribuídos
por vendedores ambulantes a preços populares, na maioria das vezes com consentimento dos artistas.
No modelo do Tecnobrega, a principal função do CD para os artistas é a divulgação da banda,
tornando-a regionalmente conhecida e assim, atraindo o publico para os shows, conhecidos como
³IHVWDV GH DSDUHOKDJHP´ 2 7HFQREUHJD p XP JrQHUR RULJLQDGR GR EUHJD WUDGLFLRQDO TXH LQFRUSRURX
outros elementos da tradição regional e ainda influencias da musica caribenha. Com forte apelo de
mercado regional, formou-se uma grande estrutura, que viabiliza a produção, a distribuição e o
consumo locais, com foco nas apresentações ao vivo. Estima-se em cerca de R$ 10 milhões o
faturamento mensal dos shows de Tecnobrega na região de Belém do Para. Estima-se ainda que sejam
vendidos nos próprios shows e nas ruas, pelos camelos, mais de um milhão de CDs por mês. (LEMOS;
CASTRO, 2008)
27
Não é que não fosse possível mobilizar pessoas antes da internet, mas a
velocidade e a proporção com que um grito se espalha no ambiente digital é tão
eficiente que está mudando nossa forma de ver tanto o que é global, quanto o que é
local, de forma que as duas coisas chegam a se confundir.
Yochai Benkler, que refletiu criativamente sobre a possibilidade de uma teoria
política da rede, enxerga na emergência das redes sociais e da produção pelos
pares uma alternativa a ambos os sistemas proprietários fundamentados nas lógicas
GR (VWDGR RX GR PHUFDGR (VWH QRYR ³VLVWHPD RSHUDFLRQDO´ GD FXOWXUD VHULD FDSD] GH
fomentar ao mesmo tempo criatividade, produtividade e liberdade, satisfazendo
igualmente às demandas tanto de indivíduos quanto de coletividades. (BENKLER,
2006)
28
6. MOVIMENTOS SOCIAIS
Não foi apenas na Califórnia10 que o ano de 1968 e seus acontecimentos
deixaram marcas. Nas últimas décadas surgiram em todo o mundo, nos campos da
economia, política e cultura, inúmeras redes e organizações na esfera da sociedade
civil lutando pela promoção das liberdades públicas e privadas eticamente exercidas,
constituindo-VH HPEULRQDULDPHQWH HP XP ³VHWRU S~EOLFR QmR-HVWDWDO ´ 0$1&(
2002, p. 26) Redes e organizações ecológicas, movimentos na área da educação,
saúde, moradia e muitos outros na área da economia solidária e pela ética na
política vão se multiplicando, trazendo uma renovação do contrato social. O avanço
de uma nova consciência e de novas práticas sobre as relações de gênero, sobre o
equilíbrio dos ecossistemas e sobre a economia solidária, por exemplo, não emerge
nas esferas do mercado ou do Estado. O consenso sobre essas novas práticas tem
sido construído no interior de redes, em que pessoas e organizações de diversas
partes do mundo colaboram ativamente entre si, propondo transformações do
mercado e do Estado, das diversas relações sociais e culturais a partir de uma
defesa intransigente da necessidade de garantirem-se universalmente as condições
requeridas para o ético exercício das liberdades públicas e privadas.
Segundo Teixeira Coelho (2007, p. 11), a grande inovação cultural da
segunda metade do século XX foi a emergência da sociedade civil como
protagonista da vida social e política. Desde o surgimento do Greenpeace em 1971,
mais e mais grupos surgiram com demandas concretas e vitórias incontestáveis da
sociedade civil sobre os principais atores sociais até então, o Estado e a iniciativa
privada. Diante de um Estado que em pouco ou nada representa seus interesses, os
movimentos sociais emergiram como um fiel da balança, para falar por si o que o
Estado não queria ou podia dizer.
10
(P ³&DOLIRUQLDQ ,GHRORJ\´ 5LFKDUG %DUEURRN
FDUDFWHUL]D D FRQIOXrQFLD GH LGHDLV KLSSLHV FRP FHUWDV
condições privilegiadas de emprego na região do Vale do Silício (Califórnia, EUA) que teriam dado origem a
uma visão otimista do potencial emancipatório das novas tecnologias, fundindo ideais libertários com o
empreendedorismo individualista dos yuppies.
29
Jorge Machado (2007, p. 252), apesar de enfatizar a dificuldade em se definir
R WHUPR µPRYLPHQWRV VRFLDLV¶ FRQVLGHUDQGR DV WmR YDULDGDV DERUGDJHQV H[LVWHQWHV H
aceitas, diz que o mesmo se refere a:
Formas de organização e articulação baseadas em um conjunto de
interesses e valores comuns, com o objetivo de definir e orientar as
formas de atuação social. Tais formas de ação coletiva têm como
objetivo, a partir de processos frequentemente não-institucionais de
pressão, mudar a ordem social existente, ou parte dela, e influenciar
os resultados de processos sociais e políticos que envolvem valores
ou comportamentos sociais ou, em última instancia, decisões
institucionais de governos e organismos referentes à definição de
políticas públicas.
Considerando-se esse empoderamento dos movimentos sociais, as políticas
culturais devem levar em conta esse novo protagonismo, e, como diz Teixeira
Coelho Netto:
...uma política cultural que não emane da sociedade civil não tem
representatividade. (...) uma política cultural sem a intervenção da
sociedade civil é um retrocesso não só à ideia de nação e republica
do século XIX como a princípios ainda mais arcaicos. A ideia de
representatividade é outra, agora. A sociedade civil se representa a
si mesma. Democracia participativa é isso ou é uma falácia. (...) Em
resumo, política cultural que não fortaleça a sociedade civil e não
fortaleça seus interesses não tem mais razão de ser. (TEIXEIRA
COELHO NETTO, 2011, p. 17)
Iniciando-se nos campos da cultura e da política, essas redes avançaram
progressivamente para o campo da economia, afirmando a necessidade de uma
democracia participativa, senão direta, através da implementação de mecanismos
de autogestão da sociedade em todas as esferas que a compõem. Como coloca
Mance (2002a, p. 6)
30
Não se trata apenas do controle político da sociedade sobre o
Estado, mas igualmente do controle democrático da sociedade sobre
a economia, sobre a geração de fluxos de informação, sobre tudo
aquilo que afeta a vida de todos e de cada um e que possa ser objeto
de decisões humanas.
Na visão de Mance, a noção de democracia que emerge dessa nova
consciência é aquela que visa a assegurar realmente as liberdades públicas e
privadas, eticamente exercidas, ao conjunto das pessoas e sociedades. O exercício
concreto
dessas
liberdades
supõe,
porém,
condições
materiais,
políticas,
educativas, informacionais e éticas para realizar-se, e estas condições só são
alcançáveis à medida que estas redes se conectam a outras, para trabalhar coletiva
e organizadamente contra o status quo.
Ainda segundo Mance (2006), a
multiplicação e expansão recente das organizações e redes atuando em diversos
campos se deve, entre outras razões,
à concentração dos recursos materiais e a exclusão das maiorias, o
controle hegemônico do poder político pelos segmentos que
controlam o capital, virtualizando cada vez mais a democracia, a
saturação [manipulação] de informações e a fragilização da
autonomia crítica da sociedade; (...) uma moral individualista
centrada na vantagem privada e que renega a promoção da
liberdade
alheia,
quando
esta
não
contribui,
ainda
que
mediatamente, para a realização do acúmulo de riqueza dos grandes
agentes econômicos. (MANCE, 2006, p. 6)
A grande novidade agora, é que a expansão do conceito de democracia, vem
avançando na direção do controle social sobre a esfera econômica, além das
esferas política e cultural. Estamos num momento histórico onde a integração
complexa dos movimentos sociais, culturais, políticos e econômicos tem um
potencial capaz de disseminar novos modelos de produção, consumo e organização
da vida. Esta progressiva aglutinação de redes visando ao empoderamento cada vez
maior da sociedade civil, deveu-se inicialmente à atuação coletiva de resistência
frente a políticas de Estado e de mercado não condizentes com os anseios da
sociedade da informação, onde uma retomada paulatina, mas consistente das
31
relações coletivas e comunitárias em detrimento da comunicação de massa, em
parte promovida pela emergência das redes sociais digitais, está redefinindo o modo
como a articulação local e global de atores ou movimentos sociais e culturais age,
afirmando um pluralismo organizacional e ideológico, mostrando-nos a possibilidade
de uma sociedade melhor a partir de suas próprias escolhas.
32
7. ECONOMIA SOLIDÁRIA
Nesse contexto ganha escala a Economia Solidária, uma forma de produção,
consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano e não do
capital. A ideia de economia solidária não tem uma data de nascimento específica,
porém, Paul Singer (2000) procura suas raízes na revolução industrial,
fundamentada, sobretudo por ideias de "autores socialistas do século XIX (Owen,
)RXULHU %XFKH] 3URXGRQ HWF ´ (SINGER, p. 1), Singer diz ainda que a economia
solidária é ³XPD FULDomR HP SURFHVVR FRQWtQXR GH WUDEDOKDGRUHV HP OXWD FRQWUD R
capitalismo´ R TXH H[SOLFLWDULD VXDV RULJHQV 1DV iUHDV PDLV GLYHUVDV GH DWXDomR
mais e mais comunidades reais e virtuais vêm se formando e trabalhando sob as
ideias da sustentabilidade, do compartilhamento e da coletividade, em busca de uma
qualidade de vida melhor (para si e para a comunidade), de uma divisão mais justa
dos resultados do trabalho, entre outros benefícios não encontrados na economia
capitalista.
A economia solidária é voltada para a produção, consumo e comercialização
de bens e serviços atraves da autogestão, entendendo o trabalho como uma forma
de libertação dentro de um processo de democratização econômica, criando uma
alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista,
onde, segundo Singer (2000, p. 8):
a) qualquer trabalhador deva obediência irrestrita às ordens
emanadas do dono ou de quem age em seu nome; b) todo fruto do
trabalho coletivo seja propriedade do capitalista, em cujo benefício
todos os esforços devem ser envidados; c) o trabalhador só faça jus
ao salário previsto contratualmente e aos seus direitos legais.
Além disso, a Economia Solidária possui uma finalidade multidimensional, isto
é, envolve a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Segundo
Euclides Mance (2002a),
(...) ao considerarmos a colaboração solidária como um trabalho e
consumo compartilhados cujo vínculo recíproco entre as pessoas
33
advém, primeiramente, de um sentido moral de corresponsabilidade
pelo bem-viver de todos e de cada um em particular, buscando
ampliar-se o máximo possível o exercício concreto da liberdade
pessoal e pública, introduzimos no cerne desta definição o exercício
humano da liberdade.
Ainda segundo Mance (2002b):
A partir delas [redes de economias solidárias] pode-se vislumbrar os
primeiros sinais do nascimento de uma nova formação social que
tende a superar a lógica capitalista de concentração de riquezas e
exclusão social, de destruição dos ecossistemas e de exploração dos
seres humanos, afirmando a construção de novas relações sociais,
econômicas,
políticas
e
culturais
que,
organizando-se
em
colaboração solidária, têm o potencial de dar origem a uma nova
civilização, multicultural e que deseja a liberdade de cada pessoa em
sua valiosa diferença.
$ HFRQRPLD VROLGiULD ³nega a separação entre trabalho e posse dos meios de
SURGXomR´ (SINGER, 2002, p. 4), trazendo um ambiente flexível, baseado na
equidade e na dignidade, onde há um visível enriquecimento do ponto de vista
cognitivo e humano. Com as pessoas mais motivadas, a divisão dos benefícios
definida por todos os associados e a solidariedade, há um aprimoramento do
processo produtivo e de seus resultados, desafiando a crença de que iniciativas sob
HVWH PRGHOR HVWmR IDGDGDV ³j degeneração e à falência´ 6,1*(5
S
1D
economia solidária, as práticas de solidariedade e reciprocidade são fatores
determinantes na realidade da produção material e social.
Os princípios básicos da economia solidária são: autogestão, solidarização de
capital, cooperação, igualitarismo, auto-sustentação, respeito ao ambiente, às
diferenças étnicas, culturais, sexuais e de gênero, solidariedade nas relações
sociais, promoção do desenvolvimento humano e responsabilidade social.
Segundo Mance (2002b, p. 11), as redes de trabalho solidário:
34
a) permitem aglutinar diversos atores sociais em um movimento
orgânico com forte potencial transformador; b) atendem demandas
imediatas desses atores pelo emprego de sua força de trabalho e por
satisfação de suas demandas por consumo, pela afirmação de sua
singularidade étnica, feminina, etc. c) negam estruturas capitalistas
de exploração do trabalho, de expropriação no consumo e de
dominação política e cultural; e d) passam a implementar uma nova
forma pós-capitalista de produzir e consumir, de organizar a vida
coletiva afirmando o direito à diferença e à singularidade de cada
pessoa, promovendo solidariamente as liberdades públicas e
privadas eticamente exercidas.
Segundo o Relatório Final da IV Plenária Nacional de Economia Solidária
(2008, p. 58), para que a economia solidária aconteça, são necessários os seguintes
atores:
- Os Empreendimentos de Economia Solidária - Tais como associações,
cooperativas, empresas recuperadas, clubes de trocas, redes, bancos comunitários,
fundos rotativos.
- Entidades de Assessoria e Fomento - Organizações que desenvolvem ações
nas várias modalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários, tais
como capacitação, assessoria, incubação, pesquisa acompanhamento, fomento a
crédito, assistência técnica e organizativa.
- Gestores Públicos em Economia Solidária, que elaboram, executam,
implementam e ou coordenam políticas públicas de economia solidária.
Segundo o mesmo relatório, as características fundamentais de um
empreendimento de economia solidária são:
- Seus participantes ou sócias/os são trabalhadoras/es dos meios urbano e/ou
rural que exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação
dos resultados;
- Podem ter ou não um registro legal, prevalecendo a existência real. A forma
jurídica não é o mais fundamental, mas sim a autogestão.
35
- São organizações regulares, que estão em funcionamento, e organizações
que estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e
as atividades econômicas definidas;
- Realizam atividades econômicas que podem ser de produção de bens,
prestação de serviços, de crédito (ou seja, de finanças solidárias), de
comercialização e de consumo solidário;
- São organizações que respeitem o direito de trabalhadores/as e que não
explorem o trabalho infantil, considerando exploração: o trabalho forçado e coagido
e não a transmissão de saberes tradicionais entre pai, mãe e filhos, como na
agricultura familiar;
- São organizações que respeitem o meio ambiente nas suas atividades
econômicas, buscando a priorização da conservação ambiental e o desenvolvimento
humano;
- São supra-familiares.
A seguir algumas formas de manifestação da Economia Solidária:
- Cooperativas,
- Associações populares e grupos informais (de produção, de serviços, de
consumo, de comercialização e de crédito solidário, nos âmbitos rural urbano);
- Empresas recuperadas de autogestão (antigas empresas capitalistas falidas
recuperadas pelos/as trabalhadores/as);
- Agricultores familiares;
- Fundos solidários e rotativos de crédito (organizados sob diversas formas
jurídicas e também informalmente);
- Clubes e grupos de trocas solidárias (com ou sem o uso de moeda social, ou
moeda comunitária);
- Ecovilas;
- Redes e articulações de comercialização e de cadeias produtivas solidárias;
- Lojas de comércio justo;
- Agências de turismo solidário;
- entre outras.
36
O movimento de economia solidária tem crescido de maneira muito rápida no
Brasil e também em diversos outros países. No contexto brasileiro, seu nascimento
tem como contexto o fim da Ditadura Militar e a crise econômica nos anos 1980,
quando se formaram as Comunidades Eclesiais de Base e houve o fortalecimento
dos sindicatos, fruto da resistência dos trabalhadores à crescente exclusão,
desemprego urbano e desocupação rural resultantes da expansão dos efeitos
negativos da globalização e das políticas neoliberais implementadas pelos primeiros
governos democráticos sob a estreita supervisão do FMI (Fundo Monetário
Internacional) e do Banco Mundial. Tal resistência se manifesta primeiramente como
uma luta por sobrevivência, com o vertiginoso crescimento do mercado informal,
onde brotavam iniciativas de economia popular, normalmente de caráter individual
ou familiar. Com a articulação de diversos atores sociais, surgem iniciativas
associativas e solidárias por todo o país, sobretudo em comunidades carentes, onde
se organizam projetos comunitários, coletivos de assentamentos rurais, galpões de
reciclagem e mutirões, mas que vão, além disso, apontando para alternativas
estruturais de organização da economia, baseada em valores como a ética, a
equidade e a solidariedade e não mais no lucro e no acúmulo indiscriminado.
Verifica-se no Brasil, durante a última década, a crescente organização da
economia solidária enquanto movimento, ultrapassando a dimensão de iniciativas
isoladas e fragmentadas, e orientando-se para a articulação nacional, a configuração
de redes locais e o estabelecimento de uma plataforma comum. Essa tendência dá
um salto considerável a partir das várias edições do Fórum Social Mundial, espaço
privilegiado onde diferentes atores, entidades, iniciativas e empreendimentos
puderam construir uma integração, que desencadeou na criação da Secretaria
Nacional de Economia Solidária (SENAES), e no Fórum Brasileiro de Economia
Solidária (FBES), representante deste movimento no país. A criação dessas duas
instâncias, somada ao fortalecimento da economia solidária no interior da dinâmica
do Fórum Social Mundial, consolida a recente ampliação e estruturação desse
movimento.
O Sistema Nacional de Economia Solidária (SIES) e o Mapeamento Nacional
de Economia Solidária (FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2008)
revelaram que:
37
- 22.859 mil empreendimentos econômicos solidários foram mapeados em
52%
dos municípios brasileiros;
- 1.687.035 trabalhadores e trabalhadoras, 63% são homens e 37% são
mulheres;
- Nordeste (43%), Sudeste (18%); Sul (16,5); Norte (12%) e Centro-Oeste
(10%);
- 48% são rurais, 35% são urbanos e 17% são urbanos e rurais;
- Movimentam anualmente no Brasil cerca de R$ 8 bilhões;
- Dificuldades: 68% comercialização, 53% acesso ao crédito, 27% falta de
assistência técnica.
A economia solidária trata o consumo, assim como o trabalho, como uma
ação, além de econômica, ética e política (MANCE, 2002a), pois é no consumo que
o ciclo produtivo se fecha, e o consumo de produtos e serviços que foram fruto da
exploração de pessoas e do ecossistema acaba por manter esse fluxo, perpetuando
o sistema e incentivando o incremento dessas práticas. Mance (2002b, p. 6) trata
essas práticas como um exercício de poder,
pelo qual efetivamente podemos apoiar a exploração de seres
humanos, a destruição progressiva do planeta, a concentração de
riquezas e a exclusão social ou contrapor-nos a esse modo lesivo de
produção, promovendo, pela prática do consumo solidário, a
ampliação das liberdades públicas e privadas, a desconcentração da
riqueza e o desenvolvimento ecológica e socialmente sustentável.
No cerne da economia solidária está a noção de rede, onde o incremento de
novos nós, novos agentes solidários, tem o poder de aumentar a capacidade da
produção de bens e serviços que vão paulatinamente substituindo os gerados no
mercado capitalista, dando força à rede para agregar cada vez mais pessoas e mais
campos de atuação, afim de que o consumo não caia na acumulação privada fora
das redes, no que é chamado por MancH GH ³Paradigma da abundância´
38
Os principais desafios à evolução da economia solidária são a difusão do
consumo solidário, a logística de distribuição e comercialização, a organização de
fundos de desenvolvimento solidário, o mapeamento de empreendimentos,
estabelecimento de conexões entre eles, tarefa esta que depende largamente de
ações de infraestrutura (Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo), de
capacitação técnica dos envolvidos, da diversificação e qualificação dos produtos e
serviços, da capacitação técnica dos empreendimentos, da formação política e
cultural voltada para a autogestão e solidariedade, da estruturação e do
fortalecimento de redes nacionais e internacionais a partir da organização local.
Muitos desses desafios vêm encontrando respostas satisfatórias, como
veremos no caso do Fora do Eixo, na adoção de ferramentas digitais que utilizam da
inteligência coletiva para resolver problemas dos mais diversos. Nada mais justo que
buscar na multidão as soluções para problemas coletivos.
39
8. CROWDSOURCING
A história do crowdsourcing (crowd = multidão; source = fonte) começa, como
vimos, pela iniciativa de Richard Stallman com a criação do GNU Project e as
conseqüências que este trouxe para a consolidação do software livre, e do Linux
como seu principal trunfo. Porém seu progresso é desenvolvimento é difícil de
mapear, pois como vimos, apesar de alguns atores chave no processo, o
crowdsourcing tem como sua principal característica ser um processo coletivo, em
que a multidão é o criador, o que se aplica também à sua origem.
Apesar de ser um termo razoavelmente novo 11, não são raras as vezes em
que nos deparamos com produtos advindos das multidões (crowds), como por
exemplo os vídeos do Youtube. Nele você pode aprender a fazer um bolo de
cenoura ou a programar em Java, no que é hoje praticamente uma universidade
livre, uma não, várias, já que MIT (Massachussets Institute of Technology), Harvard
e muitas outras universidades já têm seus próprios canais dentro da ferramenta do
Google. Outro exemplo emblemático é a Wikipedia, uma enciclopédia com milhões
de entradas e um sistema de revisão em constante aprimoramento que, apesar de
não ser aceita como fonte para trabalhos acadêmicos, tem hoje milhões de usuários
no mundo todo. Existem casos onde o crowdsourcing foi utilizado para missões mais
específicas, como no projeto SETI@home da Nasa que se valeu da inteligência
coletiva (de técnicos) para mapear a superfície de marte em busca de indícios de
água, mesmo que no passado, o que poderia evidenciar a possibilidade de o planeta
já ter sido habitado.
O crowdsourcing não tem um manual de implementação já que tem mais a
ver com uma filosofia, a filosofia hacker, transposta para uma forma de produzir
utilizando a força de trabalho de pessoas muitas vezes desconhecidas que por
empatia à ideia, ou em busca de algum tipo de recompensa, trabalham em seu
tempo livre desenhando produtos, ajudando outras pessoas, na maior parte das
vezes sem imaginar que possa receber algo em troca.
11
O termo que foi utilizado pela primeira vez em 2006 em um artigo do jornalista e escritor estadunidense Jeff
+RZH SDUD D UHYLVWD :LUHG LQWLWXODGR ³7KH ULVLQJ RI crowdsourcing´. [Nota do autor]
40
O termo crowdsourcing se localiza exatamente na passagem de uma
paisagem midiática em que o conhecimento da multidão é adotado nos circuitos de
FRPXQLFDomR D SDUWLU GH XPD OyJLFD WHVWHPXQKDO ³XVHL R SURGXWR H HOH PH IH]
DVVLP´ SDUD XPD OyJLFD LPHUVLYD HP TXH RV gosto/opinião é construído, em regime
de cooperação, dentro de comunidades virtuais.
As pessoas logo perceberam o poder da rede para a promoção de seu poder
como consumidores. Assim, as empresas foram obrigadas a ouvir e a trocar idéias
com esses consumidores. Não bastava buscar a solução de um problema de um
consumidor, depois que uma crítica se espalhava pela rede, era imperativo procurar
soluções definitivas, e para além de reclamar, os consumidores passaram a agir
ativamente, guiando os rumos da produção. Como resultado, o termo consumidor,
como tradicionalmente concebido, está se tornando um conceito antiquado. (HOWE,
2008)
Segundo De Angeli,
Surge um diálogo forte entre consumidor e empresa, (...) Hoje, com o
suporte das redes sociais, o consumidor possui o poder de reclamar
se não está satisfeito, questionar assuntos que geralmente eram
omitidos e cobrar uma postura mais responsável das empresas em
um espaço onde outras pessoas que estão conectadas a você
também possam ver, dando maior poder de escolha e participação
da população. (DE ANGELI, 2011, p. 14)
1HVVH VHQWLGR D LQWHUQHW p DSHQDV D ³SRQWD GR LFHEHUJ´ GH XPD SURGXomR
contemporânea cada vez mais feita de redes de cooperação e troca, de contatos, as
relações, as trocas e os desejos tornaram-se produtivos.
O crowdsourcing foi inicialmente fundamentado nos preceitos da filosofia
hacker de transparência, liberdade e igualdade; tendo como um de seus objetivos
principais compartilhar o conhecimento. Como na cultura hacker, muitos motivos
podem mover uma pessoa a participar de um projeto de crowdsourcing, desde a
41
simples empatia com a ideia, até a promoção do próprio trabalho ou ponto de vista,
já que critérios de visibilidade e prestigio sempre foram caros aos hackers, e se
mantêm em alta, mesmo entre usuários de internet que não compartilham dessa
filosofia. Empresas têm utilizado também recompensas em produtos, vantagens
exclusivas ou mesmo em dinheiro para encorajar pessoas a colaborarem em seus
projetos.
Nos exemplos mais emblemáticos onde o crowdsourcing foi empregado,
como no desenvolvimento do sistema operacional Linux, a multidão é simplesmente
quem tem empatia pela proposta, seja ela qual for, e resolveu doar parte de seu
tempo para apoiá-la. Existem casos, porém, como o do SETI@home, onde a
multidão de interessados deve ter conhecimentos específicos de uma área, nesse
caso, sobre astronomia, ou devam estar associados de alguma forma com o projeto,
o que restringe o número de possíveis apoiadores, mas que em alguns casos é
essencial.
Para compreender melhor o funcionamento do crowdsourcing, é fundamental
compreender quem é esse crowd (Multidão). Hardt e Negri (2005) em seu livro
³0XOWLGmR: guerra e democracia na era do império´ procuram esclarecer essa
questão. Para os autores, a multidão é "formada por todos aqueles que trabalham
sob o domínio do capital, e, assim, potencialmente [grifo nosso] como a classe
daqueles que recusam o domínio do capital" (p. 147). Essa noção ampla incorpora
os sujeitos sociais envolvidos com o trabalho, qualquer que seja seu tipo, com
destaque para os trabalhadores imateriais. Este grupo requer a explicitação da
noção de trabalho imaterial, que pode ser compreendida por trabalhos que resultam
em produtos imateriais, isto é, frutos da ação do intelecto, do afeto ou de ambos,
produzindo conhecimento, informação, comunicação (trabalho no setor de serviços,
trabalho intelectual ou trabalho cognitivo).
³R WUDEDOKR LPDWHULDO QmR FULD DSHQDV PHLRV DWUDYpV GRV TXDLV D
sociedade é formada e sustentada; (...) [mas] produz diretamente
relações sociais tornando-VH XPD IRUoD VRFLDO FXOWXUDO H SROtWLFD ´
(HARDT; NEGRI, 2005, p 100-101)
42
Segundo Hardt e Negri (2005) a multidão é composta de um conjunto de
singularidades, cuja diferença não pode ser reduzida à uniformidade, mantendo-se
múltipla. Sua constituição e ação não se baseiam na identidade ou na unidade (nem
muito menos na indiferença), mas naquilo que têm em comum. A multidão também
pode ser vista como uma rede aberta e em expansão, na qual todas as diferenças
podem ser expressas livre e igualitariamente, esta rede proporciona os meios de
convergência para que possamos trabalhar e viver em comum. A multidão é uma
multiplicidade de todas as diferenças singulares (culturas, raças, etnias, gêneros,
etc). Na multidão as diferenças sociais permanecem; o desafio, porém, é fazer com
que essa multiplicidade social seja capaz de se comunicar e agir em comum, na
criação de novos circuitos de cooperação e colaboração que se propagem pelo
mundo, facultando uma quantidade infinita de encontros, com o objetivo de que os
pontos em comum sejam descobertos, para que haja comunicação e para que todos
possam agir conjuntamente. (HARDT; NEGRI, 2005)
Já para Pierre Levy, a cooperação social em rede será nomeada como um
novo sujeito, chamado ³LQWHOLJrQFLD FROHWLYD´ Segundo Levy,
Precisamente, o ideal mobilizador da informática não é mais a
inteligência artificial, mas sim a inteligência coletiva, a saber, a
valorização, a utilização otimizada e a criação de sinergia entre as
competências, as imaginações e as energias intelectuais, qualquer
que seja sua diversidade qualitativa e onde quer que se situe. (Levy,
1999. p.167).
Na colaboração em rede, não há necessidade de haver fortes vínculos sociais
entre os membros da comunidade para que haja o intercâmbio da informação. O fato
de um não conhecer o outro pessoalmente acaba por ser algo menor em relação ao
interesse comum em torno do tema que anima a comunidade virtual. A vinculação é,
portanto, em torno desse comum. E é o comum que produz a comunicação.
Mas o que é o comum? O comum parte da noção de que muitos dos mais
importantes bens de que usufruímos na vida são comuns e só podem ser produzidos
em comunidade, a exemplo da comunicação, da produção da subjetividade, da
43
linguagem, dos gestos, idéias, conhecimentos, imagens, afetos, relações sociais e
formas de vida. Grande parte do trabalho imaterial contemporâneo consiste na
produção de atos de afeto e atos de conhecimento, a produção da subjetividade.
6HJXQGR +DUGW H 1HJUL
³o comum baseia-se na comunicação entre
singularidades e se manifesta através dos processos sociais colaborativos da
SURGXomR ´
Esse ³comum´ pode ser visto nos tutoriais do Youtube, nos verbetes da
Wikipédia, no abaixo-assinado pela manutenção da lei da ficha limpa, entre outros
milhares de exemplos.
Para Yochai Benkler,
(...) o sucesso do software livre sugere que o ambiente da rede
possibilita
uma
nova
forma
de
produção:
radicalmente
descentralizada, colaborativa e não proprietária; baseada no
compartilhamento
de
recursos
largamente
distribuído,
onde
indivíduos cooperam entre si sem depender de sinais do mercado ou
GDV RUGHQV GH FKHIHV 1R TXH HX FKDPR GH µFRPPRQV-based peer
SURGXFWLRQ ¶´ (BENKLER, 2006, p. 60)
Segundo Howe (2008) alguns dos fatores que possibilitaram a ascensão do
crowdosurcing são:
- Os custos de hardware para todos os tipos de equipamentos digitais vêm
baixando progressivamente, ao mesmo tempo em que ganham em qualidade.
- Softwares incrivelmente poderosos e com interfaces bastante amigáveis
estão disponíveis nos mais diversos campos, e a um custo cada vez menor, e
muitas vezes de graça.
- Informações sobre como usar essas ferramentas também estão amplamente
disponíveis. A Web está cheia de tutoriais gratuitos sobre como fazer praticamente
qualquer coisa.
- Pessoas em todo o espectro de negócios estão se tornando muito mais
familiarizadas com o uso de tecnologias criativas.
44
Em praticamente todos os campos imagináveis, a tecnologia está deixando
tudo mais barato, mais rápido, menor e mais fácil de usar, colocando o poder criativo
nas mãos da multidão.
Não é difícil notar que o termo crowdsourcing é apenas uma rubrica para
identificar uma gama muito diversa de atividades, já que suas práticas são altamente
adaptáveis, o que justifica o crescimento exponencial dessa prática. A reboque
destas práticas surgiu o crowdfunding, que será esmiuçado no próximo capítulo.
45
9. CROWDFUNDING
Primeiro uma definição rápida de crowdfunding. A tradução literal é: crowd =
multidão funding = financiamento, ou financiamento coletivo. Um exemplo
simplificado: em vez de pedir uma pessoa para colocar R$ 10.000 em um projeto,
SHGLPRV D
PLO SHVVRDV TXH LQYLVWDP ¼
Parece algo simples, e realmente é.
De inicio parece mais um nome novo para algo antigo, como um mutirão ou
uma vaquinha: quem tem tempo, doa trabalho, quem tem como contribuir com
dinheiro, dá dinheiro. Porém o que vemos com o fenômeno do Crowdfunding é que
suas crescentes iniciativas têm alguns diferenciais que estão chacoalhando nossa
visão sobre o financiamento da cultura, com algumas diferenças cruciais para os
modelos até então testados e empregados, de financiamento estatal direto e
indireto, e de financiamento privado, seja ele subsidiado pelo Estado ou não, no
crowdfunding são os consumidores/usuários/público quem decide que projetos
devem ir adiante, o que em última instancia, elimina a barreira entre o produtor
cultural, o artista e o público.
O crowdfunding funciona de forma simples, geralmente por um modelo
coletivo baseado em micropagamentos feitos por uma comunidade de interessados,
geralmente através da Internet, e, em alguns casos, com escalas de recompensas
de acordo com a contribuição. As contribuições não precisam ser estritamente
financeiras, mas também em serviços (humanos, técnicos, etc.), o que vem se
mostrando mais promissor no Brasil (considerando o lento crescimento das
transações financeiras via web no país), gerando retornos diferentes, combinados
entre as partes. Assim, projetos de crowdfunding geralmente são também de
crowdsourcing.
Este modelo surge como uma oportunidade de financiamento exclusivo ou
complementar para projetos criativos ora marginalizados ou que têm apoio
insuficiente por parte do Estado e da iniciativa privada. É sabido que os critérios
utilizados para o financiamento de projetos culturais tanto pelo Estado quanto por
empresas (através de incentivos fiscais) são muitas vezes viciados, baseados em
46
clientelismo, gestão fraudulenta ou contando com critérios de seleção amarrados e
burocráticos, que potencialmente excluindo muitos projetos.
Para além de uma oportunidade de saída simples para ideias criativas, o
crowdfunding reflete uma mudança na relação curador\produtor X cultura de
consumo. Este novo modelo coloca o público consumidor, até então passivo, na
cadeira de proponente, de idealizador, decidindo quais projetos quer apoiar. O
crowdfunding não é apenas uma resposta à necessidade econômica, mas uma
mudança no modelo de produção e consumo cultural. Um modelo em que o cidadão
(ou seria a multidão?) afirma o seu papel e, a sua capacidade de decisão;
mediações são apagadas, e o receptor ganha uma nova responsabilidade, a de criar
o que vai consumir. O filtro torna-se o consumidor final, o individuo, e não diretrizes
estabelecidas pela expectativa de rentabilidade, políticas econômicas ou culturais de
VHWRUHV GHWHUPLQDGRV p R ³ILQDQFLDPHQWR on demand´
por demanda). Outro
incentivo é também a agilidade oferecida pelo sistema, já que a espera por editais
públicos ou de grandes empresas financiadoras da cultura como Petrobrás e Vale do
Rio Doce, geralmente anuais, pode tirar o frescor desejado e muitas vezes
necessário para a finalização de projetos.
³Crowdfunding p FRPR D GHPRFUDWL]DomR GR PHFHQDWR ´ &RPHQWD D
espanhola Antonia Folguera, que segue,
(...)o espectador / consumidor, passou a ser promotor/patrono, e
agora
também tem em suas mãos a responsabilidade de
apoiar a produção cultural de seu tempo e de sua comunidade. O
crowdfunding
é
a
democratização
da
produção
cultural.
(FOLGUERA, 2011)
Neste modelo, certamente a Internet é a ferramenta ideal para amplificar o
impacto do lançamento e geração de novas ideias, pois possibilita a articulação de
47
interesses não tão ligados à proximidade física, e mais à cultura, agindo como uma
YLWDPLQD VREUH D ³FDXGD ORQJD´12 da cultura. (FORGUERA, 2011)
Tal como vem se desenvolvendo, seria difícil imaginar esse modelo de
trabalho fora da web 2.0, por conta de certas características, como a capacidade de
construir relacionamentos em torno de um interesse comum, a possibilidade de
propagação de uma mensagem com longo alcance e de forma "objetiva", a
facilidade de micro-participação por qualquer usuário de maneiras diferentes, de
deixar um comentário, fazer uma pequena doação em um par de cliques ou mesmo
trabalhar em partes do projeto de forma remota, entre outras. Isto torna possível
alcançar rapidamente uma massa de usuários interessados muito elevada, e pedir
muito pouco tempo e dinheiro em troca de participação.
Segundo Marta Ardiaca:
"A rede é uma oportunidade para (re)construção da dimensão da
comunidade e fortalecimento do tecido social a partir de uma
dimensão global em que o conceito de proximidade não está ligado a
espaços físicos, mas às ideias, culturas e tendências." (ARDIACA,
2011, Online)
O novo raio de influência sugerido pelo crowdfunding pode adquirir uma
dimensão global, embora surjam dúvidas quanto ao peso final nos aspectos de:
tomada de decisão, confiança e conhecimento direto dos drivers ou projeto e / ou
12
A Cauda Longa é uma teoria sobre o consumo nas mídias digitais, que mostra a diferença de funcionamento
entre o mercado de massa e o mercado de nicho. A emergência das NTIC's possibilitou uma nova configuração
do comércio, uma vez que ficaram diminuídas as conformações físicas para a oferta dos produtos. Chris
Anderson (2007) divide o mercado em duas parte: o dos produtos que são hits, ou seja, que possuem grande
vendagem; e dos produtos que estão no nicho, possuindo baixa vendagem. A questão central na teoria da Cauda
Longa é que com a alteração na oferta provocada pelas mídias digitais, derivada do fato de não serem
necessários os estoques, os produtos do nicho somados possuem a mesma participação nos lucros dos hits.
Importante destacar que o conceito de Cauda Longa se aplica a praticamente todo mercado, inclusive o mercado
de mídia. Com a convergência digital, é muito provável uma reorganização na distribuição da audiência, não
apenas por conta de alterações nas características dos meios e na maneira como são consumidos, mas
principalmente por alterações no próprio comportamento do consumidor.
48
interesse em enriquecer o contexto cultural imediatamente. Nesse modelo, as
variáveis como confiança, capacidade de transmitir emoção e proximidade,
relevância, oportunidade, transparência, qualidade e viabilidade são elementoschave na capacidade de geração do modelo coletivo.
Se algo é certo, é que a Internet amplifica enormemente a capacidade de
divulgação das propostas, facilita a captação e agiliza o processamento de
transações.
Assim, através do crowdfunding o usuário torna-se parte de uma cadeia de
ativos e um ator-chave na geração de valor cultural13 dos projetos dos quais
participa. No entanto, seu grau de envolvimento pode ser muito diversificado, desde
um simples divulgador, ³FULDQGR´ H compartilhando um evento através do Facebook,
até desempenhando papel direto na criação de conteúdos em determinados projetos
que
demandam
interatividade.
Isso
estabelece
um
novo
sistema
de
responsabilidades entre o criador/promotor - receptor/ co-produtor/co-autor. Uma
relação em que a transparência e a responsabilidade são chaves para o sucesso do
modelo e das propostas. ³Comunidade, sim, mas também transparência e
responsabilidadH´ GHVWDFD )ROJXHUD
2QOLQH
É essencial avaliar com honestidade o conceito da autoria resultante: qual o
papel oferecido ao espectador no desenvolvimento do processo criativo? Que nível
de co-autoria se está disposto a aceitar? O que envolve a co-autoria em relação aos
potenciais benefícios gerados?
A responsabilidade em relação à comunidade no que tange aos resultados do
projeto é outra questão fundamental. A comunidade é essencial para a
sustentabilidade dos projetos, mas como fornecer feedback e/ou a forma de gerir no
futuro? Qual o nível de abertura da oferta do produto final? Em alguns casos,
modifica-se e abre-se o conceito de autoria, alguns projetos incluem um conceito de
autoria distribuída, a abertura do processo de criação o envolvimento da
13
SegundoTeixeira Coelho Neto, valor cultural é o responsável pelas decisões sobre o que incentivar, em termos
de produção e uso ou consumo, o que difundir e o que preservar.
49
comunidade. Nesse caso, o crowdfunding além de um mecanismo econômico e de
trabalho coletivo, torna-se também uma filosofia onde se recupera o conceito de
cultura compartilhada, com licenças de uso e distribuição baseadas em Copyleft14 e
Creative Commons15, o que vem se mostrando essencial para o progresso desse
modelo de produção. Algumas propostas ainda incorporam um modelo de retorno
social que inclui licenças livres de produtos finais.
9.1.
Modalidades
Em seguida, tentarei dar uma visão geral sobre algumas formas de
crowdfunding e citar alguns exemplos existentes hoje.
- O micromecenato é o tipo mais direto de financiamento coletivo, é aquele
em que um projeto é proposto para a comunidade e recebe muitas pequenas
contribuições para um fundo. Além do benefício para o projeto em si, há uma
contribuição para a comunidade ou o doador, normalmente oferece-se uma
variedade de recompensas, dependendo da quantidade doada como uma edição
especial em DVD ou algum produto exclusivo de merchandising. Exemplos deste
tipo de financiamento coletivo podem ser vistos em muitos projetos para
desenvolvimento de software de código aberto, e também em projetos culturais
ligados à música ou cinema, como no caso da produção do filme ³(X 0DLRU´16 onde
os contribuintes serão citados nos créditos, ganharão ingressos para a pré-estréia e
participarão do sorteio de brindes; ou a apresentação especial do Paralamas do
Sucesso no Circo Voador promovida pelo site Queremos17 onde os financiadores
recebem brindes especiais e podem ser totalmente ressarcidos caso os ingressos
³QRUPDLV´ (depois de confirmado o evento são vendidos ingressos até atingir a
lotação da casa) sejam todos vendidos. Há também empresas envolvidas na gestão
de plataformas on-line para financiamento coletivo em geral, como IndieGoGo ou
iniciativas mais específicas, como Grow Venture Community, dedicado a
14
Ausência de direitos autorais (LESSIG, 2004)
15
Modelo de licenciamento de direitos autorais onde o autor pode decidir, dentro de um leque de
opções, que direitos quer manter reservados e sobre quais quer abrir mão. (LESSIG, 2004)
16
www.eumaior.com.br
17
www.queremos.com.br
50
financiamento de startups tecnológicos, ou LoudSauce, que apresenta a sugestão
interessante de que o financiamento coletivo da publicidade na cidade pode ser feito
em conformidade com os desejos dos cidadãos e dar visibilidade a iniciativas que de
outra maneira não teriam.
- A variação, a principio mais aceita, é o modelo brasileiro do Queremos e dos
americanos Kickstarter18, que são baseadas em "compromissos" de contribuição que
só se efetivam se o objetivo econômico for alcançado pelo autor do pedido. A
vantagem é que, desta maneira, o usuário sabe que seu dinheiro só será
empenhado em projetos bem sucedidos, devido ao apoio de outras pessoas. Este
modelo tem se mostrado o ideal para o financiamento de projetos futuros: discos por
gravar, livros por escrever, produtos a desenhar, etc.
- Outros sites como o Flattr são baseadas em micropagamentos feitos de
forma rápida e direta. Neste caso, o usuário define um valor mensal que quer
destinar às doações, e este é distribuído entre os projetos apoiados clicando em um
botão do tipo "Like" (Do Facebook) ao longo do mês. A vantagem deste sistema é
que ele permite limitar de antemão o quanto se quer aportar, e tal contribuição é
distribuída ao gosto do usuário. Este método funciona mais a posteriori, para
conteúdos culturais e produtos ou serviços já concluídos e disponíveis.
- Outro modelo é baseado na mera oferta de publicidade ou de visibilidade de
uma contribuição, e daí o termo "multidão" se encaixa simplesmente à soma de
muitas pequenas quantidades para conseguir um bem maior, como é o caso famoso
da Million Dollar Page, onde sem operar sem um projeto por trás, a coleta era em si
sendo a meta. Esses casos, normalmente se justificam causando um efeito viral,
graças à originalidade da ideia e a curiosidade que provoca, e assim por diante.
- Existem outras maneiras pelas quais não se buscam doações ou
contribuições para um projeto, mas sim empréstimos coletivos, que são fornecidos
por várias pessoas e são devolvidos na mesma proporção. Tais são Vittana, uma
18
Formado e administrado por 21 jovens que planejaram um espaço online onde pessoas que com boas ideias/projetos
possam compartilhá-las buscando alguma forma de financiamento por parte dos outros membros da comunidade.
51
rede dedicada ao fornecimento de bolsas de estudo e empréstimo estudantis, ou
Kiva Rangda19, mais direcionados a fornecer microcrédito para empreendedores.
Existem projetos de financiamento coletivo que por sua singularidade
merecem menção à parte. Um exemplo é a chamativa iniciativa Buy This Satellite.
Tal iniciativa propõe nada menos do que comprar coletivamente um satélite de
comunicações para fornecer acesso à Internet para áreas do planeta que não têm.
Se alguém tivesse dito anos atrás que iria participar na compra de um satélite,
teriam rido da ideia, mas o crowdfunding parece ter tornado este projeto real e viável
graças ao poder do coletivo.
9.2.
Fatores de sucesso para um projeto de crowdfunding
Como quase todas as iniciativas de caráter social, o crowdfunding é
imprevisível e difícil de controlar com precisão. Alguns projetos recebem apenas
alguns apoios, e outros estão se espalhando como um incêndio, podendo parecer
ambos igualmente interessantes a priori. Como saber se o projeto vai decolar? A
resposta pode ser muito simples: não há como saber, mas o custo de
implementação de uma infra-estrutura de crowdfunding é tão baixo que você pode
apenas tentar e ver o que acontece.
Seguem aqui alguns pontos:
- A existência de indivíduos animados, treinados e com bagagem, com uma
apresentação da proposta capaz de transmitir confiança no sucesso do projeto.
Nesse sentido, a apresentação do projeto é geralmente o primeiro sinal de tais
atitudes, transmitindo entusiasmo, motivação e autoconfiança, além de uma imagem
que se adapte ao caráter do projeto.
- A relevância, conveniência e qualidade da proposta em si. Obviamente, o
co-financiador deve sentir que ver o projeto implementado em si é um grande
benefício pelo qual vale a pena pagar. Mais uma vez, a apresentação do projeto tem
19
www.kiva.org
52
que passar em si o potencial de qualidade, mesmo que através de uma
apresentação rápida.
- Abertura, transparência e proximidade para lidar com os destinatários da
mensagem, seja via e-mails, redes sociais, site oficial, etc. Manter uma informação
fluida e atualizada sobre o andamento do projeto, estar aberto a sugestões e
contribuições, aceitar críticas e reconhecer a participação. Só dessa forma vai se
efetivar o potencial do co-financiador, que é o de "participante", além de "investidor",
que é essencial para o crowdfunding.
- A existência de objetivos específicos, tangíveis, prazos, formas, aplicações.
Normalmente, a pessoa estará mais disposta a participar de um projeto que diz: "Em
três meses eu vou ter um protótipo funcional que testarei dessa maneira e
documentarei dessa outra" do que aquele que diz: "Eu quero fazer um protótipo
funcional" secamente. Entender que os investidores-participantes estão ansiosos
para saber os resultados e, portanto, quanto mais próximo e preciso o prazo, melhor.
Pela mesma razão, em casos de projetos muito longos é melhor definir etapas
intermediárias que mostrem alguns resultados parciais que possam apoiar a
credibilidade e comprovar a qualidade do projeto.
- A possibilidade de retorno do investimento: a participação proporcional dos
benefícios, acesso a amostras do merchandising e do próprio produto/serviço
desenvolvido, informação privilegiada, etc.
Atualmente uma enxurrada de sites de financiamento coletivo surgem Brasil
afora, a maioria deles com grande sucesso. Segue abaixo o link de alguns deles
para quem se interessar pelo tema:
www.catarse.me
www.incentivador.com.br
www.ingressar.com.br
http://produrama.com.br
www.movere.me
http://multidao.art.br
53
http://benfeitoria.com
www.embolacha.com.br
www.selofan.com.br
www.sibite.com.br
www.ulule.com
54
10. CIRCUITO
FORA
DO
EIXO
-
REDE
DE
COLETIVOS
E
EMPREENDIMENTOS CULTURAIS E SOLIDÁRIOS
O Fora Do Eixo (FdE) é uma organização que busca por meio da expressão
artística e cultural promover uma nova lógica para as relações não só sociais, mas
também, econômicas, dentro do campo da cultura. Trabalhando sob a bandeira da
economia solidária, eles pregam a autogestão como principio norteador, assim, cada
coletivo ligado à rede tem sua gestão independente, devendo apenas seguir
algumas diretrizes para se associar e fazer parte da rede. O Fora do Eixo é formado
por músicos, artistas gráficos, artistas digitais, programadores, jornalistas,
produtores culturais, além de toda a comunidade que participa dos eventos
promovidos no Circuito Fora do Eixo.
Em sua carta de princípios (em anexo) é possível observar a menção aos
principais eixos norteadores da economia solidária, como: autogestão, solidarização
de capital, cooperação, igualitarismo, auto-sustentação, respeito ao ambiente, às
diferenças étnicas, culturais, sexuais e de gênero, solidariedade nas relações
sociais, promoção do desenvolvimento humano e responsabilidade social.
Como veremos a seguir, o crowdsourcing é largamente utilizado na
implementação das ações da rede, que utiliza tanto o trabalho cooperativo de seus
agentes espalhados pelo país, como de organizações parceiras como o Cultura
Digital, e ainda pessoas interessadas em contribuir com os projetos da organização.
55
O crowdfunding é ainda uma iniciativa embrionária dentro do circuito, com
iniciativas ativas implementadas pelo coletivo Ponte Plural e pelo TNB (Toque no
Brasil), uma plataforma virtual de agenciamento e circulação de artistas no formato
de rede social, que além de contar com sua própria plataforma, ainda busca a
aproximação com outras plataformas de crowdunding afim de viabilizar shows dos
artistas cadastrados na rede.
O FdE espalhou-se pelas regiões centro-oeste, norte e sul a partir do final de
2005. Começaram suas atividades nas cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC),
Uberlândia (MG) e Londrina (PR), com o propósito de estimular a circulação de
bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos e
serviços na área cultural, na rota desde então batizada de Circuito Fora do Eixo
(CFE).
&RQIRUPH GHVFULWR HP VXD SiJLQD HOHWU{QLFD ³D UHGH FUHVFHX H DV UHODo}HV GH
mercado se tornaram ainda mais favoráveis às pequenas iniciativas do setor da
música, já que o novo desafio da indústria fonográfica em função da facilidade de
acesso a qualquer informação criou solo ainda mais fértil para os pequenos
empreendimentos, especialmente àqueles com característiFDV PDLV FRRSHUDWLYDV´
Em seus pouco mais de cinco anos, o FDE cresceu e hoje está presente em
mais de cem cidades do Brasil (com presença em 25 estados) e da América Latina
(Argentina, El Salvador, Honduras e Costa Rica). Com o crescimento, as ações da
rede ganharam em tamanho (segundo o site, a infraestrutura gerenciada pelo FDE é
capaz de produzir mais de cinco mil shows por ano), mas também em diversidade,
trabalhando junto a coletivos parceiros em grupos de trabalho nas áreas de ação
política (PCult ou Patido da Cultura), software livre, ensino e qualificação
profissional, rádio, TV e vídeo, design gráfico e digital, ambiental; conta inclusive
com um banco, com a missão de gerenciar as moedas sociais utilizadas entre os
parceiros da rede, entre outros.
Segue abaixo mapa com os pontos fora do eixo espalhados pela América
Latina.
56
Figura 1 - Pontos Fora do Eixo
10.1. Organização dos Pontos Fora do Eixo
Com o rápido crescimento da rede, logo surgiu a necessidade de uma maior
organização dos agentes, assim foram criadas categorias de participação, como
segue:
CASAS FORA DO EIXO - São coletivos responsáveis por dar suporte às demandas
da rede laboratórios de vivências sócio-culturais que funcionam como moradia,
escritório, fruição e hospedagem solidária, responsáveis por articular e receber
57
agentes culturais de todo o país e da América Latina, interessados em trocar
experiências e conhecimento.
PONTOS DE ARTICULAÇAO - São coletivos responsáveis por mediar toda e
qualquer ação ligada ao Circuito Fora do Eixo em sua cidade. Cabe ao Ponto de
Articulação Fora do Eixo conectar novos agentes interessados em participar da rede,
bem como desenvolver medidas estruturantes capazes de gerar e estabelecer
PONTOS DE LINGUAGENS e PONTOS PARCEIROS.
PONTOS DE LINGUAGEM - São coletivos que participam da Rede Nacional e que
podem se caracterizar como PONTOS DE MÚSICA, PONTOS DE AUDIOVISUAL,
PONTOS DE PESQUISA e etc. Os PONTOS DE LINGUAGEM devem estar
devidamente conectados ao PONTO DE ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO.
PONTOS PARCEIROS - São organizações e pessoas de qualquer natureza que
atuam como parceiros da rede em qualquer instância.
10.2. EIXOS TEMÁTICOS - TEMAS NORTEADORES DA REDE
Os eixos temáticos referem-se às frentes de atuação do Circuito Fora do Eixo
em prol do cenário cultural alternativo nacional. As frentes de atuação do CFE se
estendem para as organizações coletivas a partir do contexto exigido de cada
território e desenvolvem a estruturação de projetos e grupos, que envolvem o arranjo
produtivo cultural local. As frentes de atuação devem atender às necessidades do
cenário e de sua cadeia produtiva, concebendo projetos e integrando agentes
colaboradores de toda localidade. São elas que norteiam a atuação política,
econômica, educacional, social, ambiental, musical, audiovisual, de comunicação,
meio ambiente e demais áreas transversais da entidade. As frentes de atuação
gerem a produção e as ações estratégicas da rede tendo ainda o papel principal de
organizar todas as atividades e os próprios coletivos atuantes do Circuito Fora do
Eixo.
10.2.1. COMUNICAÇÃO FORA DO EIXO - Núcleo que trabalha toda a
comunicação do Circuito e no suporte dos pontos fora do eixo desenvolvendo as
58
redes de mídias independentes locais. A Comunicação FDE trabalha a Rede Social
Fora do Eixo, a Rádio, TV, Redação, Assessoria, Design e Mídia FDE dos projetos
institucionais do Circuito, além de incorporar em cada ponto fora do eixo o mesmo
método de trabalho para o desenvolvimento das ações locais, conectados ao
cenário cultural.
Este núcleo trabalha de forma integrada a partir de vários pontos do país,
tendo como principal centralizador a rede social do Fora do Eixo, onde agentes
culturais ligados ou não à rede podem contribuir para as ações da rede.
10.2.2. EVENTOS FORA DO EIXO - Núcleo de produção de eventos da rede
como Festival Fora do Eixo, Grito Rock, Encontros Regionais Fora do Eixo,
Congresso Fora do Eixo, Observatório Fora do Eixo, Noites Fora do Eixo, Semana
do Audiovisual e etc. Essa frente gestora estimula a produção de atividades nos
pontos fora do eixo que garantem as vitrines e plataformas de circulação, produção,
formação, distribuição e comercialização artística da cadeia produtiva cultural. Em
cada ponto fora do eixo existe pelo menos um evento de grande porte que atende a
demanda dessa frente gestora em prol do cenário cultural local. Essas ações são as
principais plataformas para o lançamento de novos produtos e projetos no mercado
cultural.
10.2.3. CLUBE DE CINEMA - Núcleo de realizadores audiovisuais dos
coletivos da rede, potencializando o cenário cultural alternativo do audiovisual. O
Clube de Cinema estimula os núcleos audiovisuais de cada ponto fora do eixo e
trabalha colaborativamente nas ações do segmento. O Clube de Cinema surge em
2009 durante o II Congresso Fora do Eixo.
10.2.4. PALCO FORA DO EIXO - Núcleo de agentes dedicados à
organização do cenário das artes cênicas. O Palco Fora do eixo, assim como o
Clube de Cinema, promove o desenvolvimento do cenário segmental, aglutinando
agentes de todos os pontos e fomentando a criação de núcleos de artes cênicas nos
mesmos. O Palco Fora do Eixo surge em 2010, sendo a frente mais recente do
Circuito Fora do Eixo.
59
10.2.5. MÚSICA FORA DO EIXO - Núcleo que reúne agentes musicais como
bandas, músicos e simpatizantes em geral focados no desenvolvimento do cenário
musical nacional. O Núcleo se estende para os pontos fora do eixo afim de mobilizar
os principais a gentes expandindo as redes musicais locais.
10.2.6. FORA DO EIXO AMBIENTAL - Núcleo dedicado às ações
relacionadas ao meio ambiente. O Fora do Eixo ambiental surge em 2010 durante a
reunião do Fora do Eixo Card no festival Fora do Eixo SP a partir da necessidade de
termos ações voltadas para a área ambiental. A perspectiva da frente é trabalhar
projetos que visem a redução, reutilização e reciclagem de materiais tendo um dos
principais focos, a sustentabilidade. A frente desenvolve ações integradas da rede e
potencializa a criação de núcleos afins em cada ponto fora do eixo.
10.2.7. AÇÃO POLÍTICA INSTITUCIONAL FORA DO EIXO - Responsável
pela concepção e elaboração de estratégias junto às frentes gestoras da entidade,
ampliando o link entre as próprias frentes de atuação e os parceiros externos à rede.
A frente deve trabalhar a manutenção do equilíbrio da dinâmica de grupo a partir das
necessidades que cada frente demanda em relação aos seus parceiros estratégicos.
A frente trabalha em especial, a relação com os Pontos de Cultura do Governo
Federal na busca pela ampliação da rede e troca de tecnologias.
10.2.8.
FORA
DO
EIXO
CARD
-
Responsável
pelas
ações
de
sustentabilidade da rede, administra e organiza ações como como mapeamentos,
diagnósticos, pesquisas, planos de trabalho e comerciais, projetos, fundo, moedas
complementares e fluxo entre as diversas frentes no que tange às decisões acerca
dos projetos e atividades a serem executadas. A frente é dividida entre os núcleos
de Pesquisa e Mapeamento, Projetos, Negócios, Fundo e APL (Arranjo produtivo
local - extensão das ações nos pontos fora do eixo) e cada uma tem seu foco de
trabalho específico para a atuação sistêmica na rede.
10.2.9. FORA DO EIXO DISTRO - Frente responsável pelos trabalhos de
distribuição de produtos da entidade como a loja fora do eixo (física e virtual),
bancas fora do eixo, compacto.rec (projeto de distribuição virtual) e qualquer
60
demanda de distribuição da rede. A Fora do Eixo Distro fomenta a criação de pontos
de distribuição em todos os pontos fora do eixo.
10.2.10. TECNOARTE (TECA) - Frente responsável pelos trabalhos de áudio,
sonorização, palco, PA, luthieria, ensaio, gravação, iluminação, técnica digital,
computação, softwere livre e qualquer demanda referente à tecnica artística da rede.
A TECA também fomenta a estruturação de núcleos afins em cada ponto fora do
eixo. A frente é dividida entre os núcleos de Compartilhamento de conteúdo, Ao Vivo
(palco, som e luz), Estúdios (gravação, ensaio) e Tecnologias livres.
10.2.11. AGÊNCIA FORA DO EIXO - Frente responsável pelos trabalhos de
circulação dos artistas na criação de rotas, catálogo, editais, fechamentos de shows,
espetáculos, propostas comerciais, marketing e qualquer demanda referente a
organização da carreira artística na rede. A frente também potencializa a criação de
núcleo afim em cada ponto fora do eixo.
10.2.12. ESCRITÓRIOS FORA DO EIXO- Frente dedicada ao fomento e
estruturação dos escritórios permanentes, na perspectiva de trabalhar o mercado e a
ação política da rede. Atualmente o Escritório São Paulo, localizado na sede do
Amerê Beta Coletivo tem como principal foco a atuação no mercado cultural,
ampliando as alternativas de sustentabilidade da rede. Já o Escritório Brasília tem a
atuação de política pública como principal ferramenta a ser explorada. A Frente
busca consolidar todas as ações integradas e dos pontos fora do eixo pautados na
expansão do mercado e da política pública cultural nacional.
Todas as frentes elegem coordenadores e suplentes de coordenação para
que haja maior organização e dedicação nas responsabilidades do coletivo. Todos
os membros são coordenadores de alguma frente e tornam-se automaticamente
"base" das frentes que não estejam na coordenação, estimulando o exercício da
horizontalidade. Cada frente possui lista própria administrada por um representante
dos coletivos de ponto de referência regional e pelos respectivos coordenadores.
Todas as discussões e encaminhamentos das listas de cada frente são relatorizadas
quinzenalmente pelo respectivo coordenador, na lista geral da rede. O Regimento
61
interno (em anexo) elucida mais detalhes referente ao fluxograma do Circuito Fora
do Eixo.
10.3. Frentes de trabalho
10.3.1. Música
Pioneira do ponto de vista de articulação de agentes em todo o Brasil, e a
principal mobilizadora de recursos financiadores de ações e projetos da rede, a
MUSICA FDE impulsiona a circulação de mais de 5 mil artistas e grupos, além de
centenas de produtores e jornalistas em todo o território nacional. Abaixo alguns
números dessa frente:
Turnês Fora do Eixo
27 rotas de circulação de artistas mapeadas em todas as regiões do país.
Noites Fora do Eixo:
5.000 eventos por ano espalhados pelo Brasil
Agência Fora do Eixo (agenciamento de shows e assessoria geral):
Catálogo: 180 bandas e artistas
Distro e Discos Fora do Eixo (distribuição e lançamento de produtos culturais):
70 pontos de distribuição cadastrados
100 parceiros (selos e marcas)
500 produtos catalogados
10.000 produtos culturais distribuídos anualmente
Compacto.rec (plataforma de lançamento e distribuição virtual de artistas)
12 lançamentos por ano
8.000 downloads por ano
Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin):
Mais de 40 Festivais Associados
Mais 60 Festivais mapeados dentro da rede
Festival Grito Rock
5 edições colaborativas
43 dias de festival
62
Nº DE SEMINÁRIOS, PALESTRAS E/OU WORKSHOPS _70
Nº DE APRESENTAÇÕES _2 mil grupos musicais
Nº DE TURNÊS DE ARTISTAS MUSICAIS _35 turnês com 13 opções de
rotas
PÚBLICO_ 300 mil pessoas
TNB - O Toque no Brasil20 é uma plataforma virtual de agenciamento e
circulação de artistas no formato de rede social, possibilitando a interação e
oferecendo um espaço para que seus usuários divulguem e busquem financiamento
para seu trabalho.
6.500 artistas cadastrados
700 produtores cadastrados
300 eventos cadastrados
Domingo na Casa - Evento com público qualificado, que promove o encontro
de agentes ligados a cadeia produtiva da cultura, com espaço para realização de
shows, intervenções artísticas, debates e reuniões livres.
10.3.2. Cinema e vídeo
Clube de cinema: O Clube de Cinema Fora do Eixo (CdC FdE) surge na
necessidade de organização dos trabalhadores do audiovisual envolvidos na cadeia
produtiva gerada pelo Circuito Fora do Eixo. Baseado no tripé histórico do ciclo
cinematográfico - produção / distribuição / exibição - o CdC reúne realizadores e
exibidores em todo Brasil, conectados pelas plataformas de distribuição de obras
cinematográficas e circulação dos agentes.
TV FDE e Pós TV: A TV FDE produz o conteúdo audiovisual relacionado ao
circuito, esse material inclui a cobertura de shows, eventos, congressos, festivais,
bandas e alimenta a Pós-TV; que é o laboratório de transmissões ao vivo do circuito.
A Pós TV vem transformando o espectador em agente da informação, debatedor, e
20
www.tnb.art.br
63
mesmo realizador audiovisual. Com programação semanal temas e debates
diversos interagem e se transformam na opinião dos espectadores, através dos
comentários e inserts ao vivo de outras localidades, gerando assim o conteúdo da
µ¶QmR-JUDGH¶¶ GH SURJUDPDomR (P YHUVmR %HWD a Pós-TV tem apresentações online
de segunda a quinta.
DF5: A DF5 nasce em 2010 ao se detectar o gargalo na distribuição de filmes
brasileiros independentes e no acesso a esses filmes por parte dos cineclubes. A
DF5 se propõe a distribuir gratuitamente esses filmes e outros produtos conectados
a essa cadeia produtiva sob licenças Creative Commons fomentando a formação de
público, sustentabilidade dos cineclubes e visibilidade dos realizadores. A
organização da equipe da DF5 se da através de tecnologias sociais desenvolvidas
pelo FDE e uma sistematização de acesso e distribuição dos filmes.
- Público total nas exibições em cineclubes, mostras e festiviais: aprox. 5000
pessoas
- Quantidade de filmes distribuidos que foram exibidos: 40
- Total de estados que a DF5 alcancou: 11
- Total de cidades que a DF5 alcançou: 19
- Downloads de filmes da DF5 no período de julho 2010 a junho 2011: 934
CINECLUBES FDE: São mais de 20 cineclubes de todo o Brasil, catalogados
pelo Clube de Cinema Fora do Eixo, que exibem filmes no mais diversos espaços,
para os mais diversos públicos, atingindo desde as crianças das periferias ao público
universitário dos festivais de artes integradas. Em 2011 os Cineclubes FDE
realizaram lançamentos de filmes integrados por todo país, como a Mostra do Filme
Livre 2011 e o lançamento integrado do filme Cartão postal e do clipe Rua augusta,
conectando toda a cadeia produtiva do audiovisual dentro do CdC.
- Média de público mensal dos cineclubes FDE: 1500 espectadores
- Média de sessões por mês: 40 sessões
- Média de filmes exibidos por mês: 110 filmes
64
SEDA: A Semana do Audiovisual propõe a realização de oficinas, mesas de
debate e mostras, de forma a apresentar e aproximar a linguagem audiovisual do
público jovem em geral. O diferencial da SEDA em relação aos demais festivais de
cinema é seu foco na formação audiovisual através de oficinas de realização,
edição, videotecagem, entre outras.
Em 2011, irão ocorrer cerca de 30 SEDAs em todas as regiões, destacandose a SEDA Norte/Nordeste, em Fortaleza/CE, e a SEDA Nacional em Belo
Horizonte/MG.
VJs: É o mais recente projeto do Clube de Cinema, enquadrando-se dentro
do Núcleo Agência e coordenado por Felipe Peçanha. Os VJs @clubedecine
desenvolvem projeções e videoinstalações para eventos, como Noites Fora do Eixo
e Festivais.
AO VIVO: Programa de web TV transmitido ao vivo de segunda à sexta, que
apresenta e entevista bandas e grupos culturais do cenário independente.
FILMES: Aos poucos o Fora do Eixo tem mostrado potencial ao aproximar
realizadores de cinema que enxergam na rede um potencial de difusão de suas
obras e trocas de conhecimento com os outros realizadores presentes no Clube de
Cinema. O Clube de Cinema realiza filmes de longa, média e curta metragem, de
diversos gêneros como videodança, ficção, documentário, videoclipe, institucional,
coberturas, etc.
10.3.3. Artes cênicas
Palco FdE - O objetivo principal do Palco Fora do Eixo é promover, fomentar,
difundir e divulgar manifestações cênicas de grupos/artistas independentes a fim de
desenvolver uma nova forma de se produzir, construir e consumir cultura,
valorizando essas manifestações que propõem a arte não só como entretenimento,
mas também como conhecimento e ferramenta de formação.
Cabaré - 2 ³&DEDUp )RUD GR (L[R´ VXUJH FRPR XPD SURSRVWD GH DomR
freqüente para trabalhar a formação de público, a potencialização da cena local, o
65
intercâmbio de projetos artísticos e o desenvolvimento da cadeia produtiva. Surge
como uma plataforma de aproximação dos articuladores do Palco Fora do Eixo com
artistas locais, bem como um espaço aberto para as diferentes linguagens que
compõem o Fora do Eixo.
Encontro PalcoFdE - O Encontro Nacional Palco Fora do Eixo possuí o
intuito de reunir agentes, articuladores, parceiros e demais interessados no Palco
Fora do Eixo de diferentes estados do Brasil. Trata-se de um espaço de socialização
e debate anual, criado para promover a reflexão sobre o movimento em si, bem
como a formação dos agentes envolvidos, enfocando aspectos da gestão, da
política, da arte e da cultura.
Circulando - Plataforma que visa o fomento da circulação local de
grupos/artistas cênicos em teatros, casas, espaços culturais e sedes. O projeto
possui o intuito de divulgar as manifestações cênicas de cada cidade
potencializando a troca de tecnologias e experiências. O projeto Circulando objetiva
alimentar a cena local e iniciar um dialogo com os artistas interessados em promover
tours pelo Brasil via Palco FdE.
Tours - As Tours se caracterizam pela circulação de artistas/grupos cênicos
nas macro e micro rotas do Fora do Eixo fundamentadas em pilares da economia
solidária e criativa. Atualmente, é a maior fonte de estímulo e de adesão à Frente de
Linguagem pelos coletivos que integram o circuito, bem como plataforma de
aproximação de outros grupos/artistas independentes ao movimento.
Festivais - Divide-se em duas frentes: Festivais FdE e Festivais específicos
da linguagem. Em ambas frentes o objetivo é abrir pautas do Palco Fora do Eixo em
suas programações com o intuito de fortalecer o sistema de produção e intercâmbio
distinto do padrão mercadológico, capaz de estimular e dar vazão à multiplicidade de
linguagens, ações, empreendedorismos e outras formas de ativismo sócio-cultural.
Catálogo e Casting
66
#CATÁLOGO - plataforma on-line dos grupos, espetáculos, esquetes,
intervenções, oficinas cênicas (teatro, dança, circo e performance) participantes do
Palco Fora do Eixo.
#CASTING DE ATORES - projeto desenvolvido conjuntamente com o CdC. O
Casting será uma plataforma on-line onde se encontrará os dados de todos os
atores do Palco Fora do Eixo que possuem o interesse de participar de produções
autorais de audiovisual.
10.3.4 Literatura
FdE Letras - A Fora do Eixo Letras (FEL) é a frente do Circuito Fora do Eixo
que busca compreender os elos da cadeira produtiva e criativa literária e, com isso,
expande as formas de democratização à seu acesso, criando e sistematizando
ações, projetos e debates.
Deste modo, a FEL trabalha a palavra nas suas formas mais diversas ±
escrita, falada, visual, sonora, multimídia, interativa - dentre outras. A frente
encampa, para além da palavra-livro, a palavra digital, palavra-visual, palavra-teatro,
palavra-música. Todo este trabalho dentro dos conceitos de cultura digital, economia
solidária e autogestão, característicos de todo o Circuito Fora do Eixo.
OrFEL - O fanzine OrFEL é uma produção colaborativa que reúne autores de
todas as regiões do país. Para participar, podem ser enviados trabalhos de autores
ligados a coletivos FDE, ou não. Sua primeira edição circulou durante o Festival
Grito Rock. A circulação de OrFEL é feita nas versões online e impressa.
Compacto.TXT - O Compacto.TXT é um projeto de lançamento mensal de
obras literárias virtuais em rede com o objetivo de estimular a produção e circulação
de escritores pertencentes à atual cena literária no país. Para participar, cada
coletivo pode indicar até dois autores de sua regional. Em seguida, uma curadoria
feita pela FEL seleciona cinco destes autores e encaminha para a lista nacional. A
partir daí, todos os coletivos podem votar. A revisão textual do trabalho escolhido é
feita pela frente, enquanto diagramação e ilustração da obra são desenvolvidas pelo
Núcleo de Poéticas Visuais Fora do Eixo.
67
Editora - Ainda em suas primeiras discussões e planejamento, a Editora FEL
planeja publicações impressas, além de online, para autores ligados ao Circuito Fora
do Eixo. Ela também se une ao trabalho desenvolvido pelo Centro Multimídia na
elaboração da Revista FDE e aos projetos e mapeamentos de obras da UniFDE.
Além disso, a Editora tem mapeado obras para circulação junto às banquinhas da
Distro.
Video Poemas - O projeto é uma parceria entre FEL e Clube de Cinema.
Escritores podem enviar suas poesias para a produção audiovisual que é escoada
para toda a rede. Estes vídeo-poemas podem fazer parte da DF5, a distribuidora de
filmes que disponibiliza seu acervo para exibições on-line e
download
gratuitamente, além de integrar mostras e sessões de cinema de diversos festivais
do Circuito Fora do Eixo, através da ocupação da FEL nestes eventos.
Varal da Arte - O projeto expõe durante os eventos do Circuito obras
(poesias, fotografias, gravuras, entre outros), enviadas por correio ou email para os
locais onde a ação vai acontecer. Para sua estrutura, basta barbante, prendedores e
a criatividade dos artistas. A ação reúne em um mesmo local, grande variedade de
autores e estilos literários, possibilitando um intercâmbio tanto na esfera local,
quanto regional e nacional. Adaptações para o Varal também tem sido feitas, como a
³ÈUYRUH´ HODERUDGD GXUDQWH R )HVWLYDO )RUD GR (L[R GH %HOR +RUL]RQWH RQGH DV
poesias eram penduradas nos galhos de uma árvore localizada no local ao evento.
Sarau - O sarau é uma ação local que pode acontecer nos coletivos, assim
como as Noites Fora do Eixo. Nele, poesias autorais são recitadas, além de
músicas e intervenções cênicas. A divulgação e transmissão por twitcam recebe
apoio da FEL. O sarau também pode acontecer após os observatórios propostos
pela frente, cRPR LQWHUYHQomR DUWtVWLFD H DSUHVHQWDomR ³SUiWLFD´ GR WUDEDOKR GD
frente. Autores de todo o circuito podem enviar suas obras por internet, para que
elas sejam recitadas durante o evento.
Twitadas poéticas - As twitadas poéticas são feitas através de tweets e
UHWZHHWV GH ³SRHVLDV StOXODV´ TXH VmR UHFLWDGDV GXUDQWH RV HYHQWRV )'( $ SULPHLUD
68
ação aconteceu durante o Festival Fora do Eixo no Rio de Janeiro, em parceria com
o @poemese. Em seguida, foi a vez do Coletivo Ajuntaê (Campinas/SP) puxar a
ação com vídeo-poemas que eram twitados para projeção durante a festa de
aniversário de um ano do coletivo #ajuntae1Ano. As próximas twitadas acontecem
durante o Congresso FDE Sul (Porto Alegre/RS) e no Encontro de Cultura Livre de
Ouro Preto, em parceria com o Coletivo Muzinga.
Caixinha de Poesias - A caixinha de poesias é uma compilação de obras que
tem atualização constante. O objetivo é armazenar estas obras para que elas
possam ser utilizadas em ações de outras frentes, especialmente o Poéticas Visuais.
Os trabalhos enviados para a caixinha já foram utilizados para o Varal da Arte, as
Twitadas Poéticas, Intervenções nas paredes de um Congresso Universitário, entre
outros.
10.3.5. Banco FdE
O Banco FdE tem seu programa baseado em três pilares: UniFdE, Fundo e
Nós Ambiente. Através dessas três linhas de ação, busca criar um arranjo que
integre de forma transversal o fomento de ações de formação, reeducação
socioambiental, captação e acesso, visando ampliar o escopo da gestão de recursos
em espécie e de moeda social que baseia o sistema econômico Fora do Eixo Card.
Cubo Card
O grande destaque do CFE foi a constituição do Cubo Card, uma moeda
social dirigida a todos os participantes do Circuito, seja um produtor, um músico ou
alguém da comunidade que queira participar do processo de desenvolvimento social
e econômico da cultura locaO 6HJXQGR R VLWH GR )G( ³$ LGHLD GR &XER &DUG p
minimizar os efeitos negativos das flutuações do fluxo do dinheiro convencional,
pautando as trocas solidárias com fins de desenvolver a cadeia produtiva da cultura
local. O modelo é um substituto do tradiciRQDO HVTXHPD GH ³EURGDJHP´ TXH
DFRQWHFLD TXDQGR DV WURFDV HUDP LQIRUPDLV H QmR VLVWHPDWL]DGDV´ GHVWDFD
69
Com a constituição do Espaço Cubo21, em 2002, em Cuiabá (MT) e com o
lançamento do programa de desenvolvimento do setor da música independente,
como se propôs o coletivo desde seus primórdios, o Cubo Card é lançado, em 2004.
³1R GHFRUUHU GRV DQRV D PRHGD TXH WLQKD FDUiWHU FRPSOHPHQWDU IRL JDQKDQGR
cada vez mais autonomia e eficiência a partir das pesquisas e experimentos
UHDOL]DGRV QD SUiWLFD´ GHVWDca a página eletrônica.
1R
FRPHoR
D
³PRHGD´
HUD
VLVWHPDWL]DGD
XQLFDPHQWH
DWUDYpV
GD
contabilização de créditos, computados a partir de serviços, compras e aluguéis de
produtos. Os caros aluguéis de equipamentos de som eram substituídos por
aluguéis em cDUGV 2 TXH HP RXWURV WHPSRV VHULD DSHQDV XP ³HPSUpVWLPR´ VH
constituiu numa prática comercial em que o dono do equipamento pode usufruir de
serviços como ensaios, gravações, assessoria de imprensa, entrada em eventos e
mais um leque de outros serviços e produtos.
A partir de 2008, o Cubo Card passa a existir enquanto material físico,
impresso em papel moeda e com valor em várias localidades integradas ao Circuito
Fora do Eixo. Vale ressaltar que desde a concepção do sistema de crédito, o
orçamento de todos os projetos desenvolvidos pelo Espaço Cubo foram viabilizados
com boa parte do percentual orçamentário, via Cubo Card, o que inclui pagamento
de salários, serviços e produtos de consumo, ainda segundo o site fora do Eixo.
Existem ainda outras quatro moedas sociais criadas por outros coletivos e que são
aceitas na rede: o Palafita Card (do Amapá, criado pelo coletivo Palafita), o Goma
Card (de Minas Gerais, criado pelo coletivo Goma), a Lumoeda (de Pernambuco,
criada pelo coletivo Lumo), o Marciano (de Ribeirão Preto, criado pelo Massa
Coletiva) além do Cubo Card criado em Cuiabá.
Fundo FdE
Vem para acompanhar e gerir a movimentação financeira do Circuito Fora do
Eixo, criando ações para diminuir as diferenças com estratégias de investimento,
21
Ponto fundador do Fora do Eixo.
70
gerindo o financeiro e o Card como um caixa coletivo nacional, nivelando as
diferenças locais.
Pregão FDE - Processo de seleção para prestação de serviços para o Fora
do Eixo.
Conta Comum - A Conta Comum é uma linha de crédito do Fundo FdE que
busca auxiliar no financiamento das ações da rede a partir de empréstimos dos
pontos e parceiros do fora do eixo. O ponto que se integra, disponibiliza
empréstimos em R$ ou em Card (serviço/produtos) e se torna apto a receber os
empréstimos do Banco FdE. O ponto pode solicitar um empréstimo para o
desenvolvimento de algumas atividades no seu Festival, pagar os juros em Card e
efetuar o pagamento após 60 dias. O ponto que empresta, acumula juros em Card e
amplia seu capital de giro.
O CONTA COMUM abrange todas as formas de
empréstimo: desde um CNPJ até um computador!
10.3.6. Ensino e pesquisa
Universidade FdE - A UniFdE é o projeto de formação do CFE que tem como
foco o fortalecimento, capacitação e organicidade da rede. O projeto busca a
construção de metodologias e ambientes de formação livre que promovam o
estreitamento das relações, o trabalho colaborativo, o caixa coletivo, a consciência
política, o desenvolvimento criativo, a disciplina e a organização do arranjo criativo
cultural nacional.
Cartilhas - Ferramenta de sistematização e difusão de tecnologias
desenvolvidas pela rede. Hoje existem cartilhas de todas as frentes temáticas do
Circuito Fora do Eixo, abrangendo temas desde como montar uma banquinha,
transmitir um evento ao vivo até como implementar uma moeda complementar em
seu coletivo.
Imersão FDE - Projeto de formação livre, pautado na realização de encontros
e reuniões presenciais para avaliação, diagnóstico e planejamento, podendo ser
feita para um coletivo, uma regional ou uma frente de trabalho.
71
Colunas - Projeto de formação no qual agentes da rede viajam realizando
reunioes de planejamento com os coletivos da rota, bem como com parceiros locais.
Vivência FDE - Programa de "estágio" baseado na troca de experiências de
trabalho e convívio em ambientes cognitivos de autoformação, onde a pessoa
integra a equipe de um evento ou coletivo por tempo determinado com um plano de
trabalho definido conforme as necessidades e interesses conjunturais da rede.
Observatórios - Projeto de formação que consiste na realização de reuniões,
encontros, oficinas, palestras ou debates transmitidos online, com participação de
público presencial e virtual. Os Observatórios são eventos abertos a todos, com
objetivo de qualificar e refletir sobre os processos e temas que circundam a rede,
bem como estabelecer parcerias com consultores e especialistas das áreas e temas
abordados.
Compacto.TEC - Ferramenta de gestão colaborativa desenvolvida pelo
Circuito Fora do Eixo, buscando otimizar o planejamento, gestão e produção
cultural,, compilando todas as informações necessárias para a gestão, da préprodução à prestação de contas. Além destas informações, o Compacto.TEC
também quantifica todo o trabalho investido na construção das ações, o que permite
a contabilização do valor real dos projetos, através da soma da moeda corrente e da
moeda social. A partir dos indicadores gerados é possível extrair diagnósticos de
processos de produção, que poderão ser utilizados para avaliação e qualificação do
trabalho do núcleo ou coletivo. Assim, incentivamos todos os festivais a utilizarem
essa ferramenta, dando suporte em sua implementação e organização.
Wiki FDE /Fora do Eixo TEC - Banco de Tecnologia colaborativa do Fora do
Eixo, contendo informações sobre os principais projetos, sobre a própria rede e seus
coletivos, alem de seus conceitos.
10.3.7. Ambiental
72
Nós ambiente - O Nós Ambiente vem pra construir o desenvolvimento
socioambiental como peça fundamental para gerar sustentabilidade. Surge com o
objetivo de desenvolver e estruturar o tema socioambiental dentro da rede. O núcleo
dialoga o tempo inteiro com a UniFE e o Card.
Cardápio Nós Ambiente: Sistematiza ações e conceitos socioambientais, a
fim de ampliar o acesso e adesão ao tema. É construído de maneira colaborativa em
formato de cartilhas e observatórios. A ideia é que o cardápio sirva de base para o
desenvolvimento socioambiental dentro das sedes dos coletivos e eventos culturais.
Esta
proposta
destina-se
a
reduzir
socioambientais causados pelo circuito.
ou
anular
possíveis
impactos
O Nós Ambiente fomenta o consumo
consciente e o senso crítico perante os problemas socioambientais contemporâneos.
A rede estabeleceu alguns princípios básicos a serem disseminados entre seus
associados, são eles:
#REDUÇÃO E REUTILIZAÇÃO (NÃO AOS DESCARTÁVEIS) - A mudança
do material utilizado nas ações do evento é fundamental pra otimizarmos melhor os
recursos naturais que dispomos, sem gerar desperdícios e excessos. Medidas
simples como optar por canecas ou copos retornáveis ao invés de descartáveis,
assim como pratos, garfos, sacolas / bolsas, ingressos permanentes, garrafas.
ideias:
produzir sacolas/bolsas com banners que não são mais necessários;
disponibilizar filtro com galão de 20 litros e garrafinhas retornáveis no camarim para
os artistas; produzir e distribuir pelo espaço bituqueiras feitas com garrafas pet.
#COLETA SELETIVA - A Coleta seletiva propicia a separação do lixo
reutilizável, gerando oportunidades estratégicas para o desenvolvimento de
parcerias, renda e contrapartida . Um Festival produz uma grande quantidade de
resíduos. A coleta seletiva desse material, otimiza, organiza e diferencia o espaço,
garantindo produtos que podem ser comercializados gerando renda para o próprio
produtor do evento e/ou de um parceiro.
#BRECHÓ CULTURAL - A proposta é apropriar do tradicional brechó junto
com a banquinha de distribuição para despertar o consumo consciente. Muitos
73
objetos que estão em desuso para alguns, podem ser reutilizados e voltar para a
casa de outros. Uma maneira sustentável de consumo, contra a obsolescência
planejada que sustenta a economia vigente.
#VAMOJUNTO! - Projeto do Nós ambiente que visa estimular o uso de
caronas para diminuir a quantidade de veículos que emitem gás carbônico e
poluição sonora.
#COMPOSTAGEM - Ensina passo a passo como fazer e dar manutenção a
uma composteira urbana com minhocário.
#TROQUE O CARRO PELA BICICLETA - O estímulo à utilização da bicicleta
ao invés do carro vem sendo fomentado no Brasil desde 2004, quando o Ministério
das Cidades criou o Programa Brasileiro de Mobilidade pra Bicicleta. Os números de
vias e ciclovias para o uso das bikes cresceram significativamente desde então. Na
dinamarca, o uso da bicileta é intenso e o país é um dos que está com um dos
maiores índices de felicidade.
#CARBONO ZERO - Contabilizar carbono gerado pelo festival e recuperar
áreas degradadas da região, através desta ação pode-se fazer parcerias com
empresas e/ou secretarias.
#PRESERVAÇÃO LOCAL - Disponibilizar serviços e produtos da região (ex:
pinga artesanal, açai, pão de queijo, etc) para fomento e valorização da produção
local. Além de garantir particularidades da região para o apreço de um público
ampliado, promove-se um mercado interno onde o que se extrai é retroalimentado
para a própria região.
#DICAS DE MANUTENÇÃO - Rede hidráulica: para evitar vazamentos e o
GHVSHUGtFLR GH iJXD 5HGH HOpWULFD SDUD HYLWDU ILRV GHVFDVFDGRV H ³UHPHQGRV´ IHLWRV
indevidamente, visando a segurança do público, a redução do desperdício e do valor
pago pela energia elétrica e o aumento da potência do palco; Se houver banheiros
químicos, contratar empresas credenciadas junto aos órgãos regulamentadores; Se
houver ar-condicionado: Do número de aparelhos coletar a água de condensação.
74
Elaborar e ajustar um sistema de coleta da água de condensação e usar na lavagem
dos banheiros e palco, por exemplo; Filtro com galão de 20 litros e garrafinhas
retornáveis no camarim para os artistas.
#ENERGIAS ALTERNATIVAS - Proposta de fomento a utilização de energia
alternativa vindas de recursos naturais como sol, vento, chuva, marés e calor, que
são renováveis (naturalmente reabastecidos). A percentagem das energias
renováveis na geração de eletricidade é de cerca de 18%, com 15% da eletricidade
global vindo de hidrelétricas e 3% de novas energias alternativas.
10.3.8. Multimídia
Centro Multimídia - O Centro Multimídia Fora do Eixo (CMFdE) reúne
agentes da cadeia de produção cultural independente, conectando-se em trabalhos
colaborativos de abrangência nacional com um objetivo específico principal: gerar
novos agentes de mídia livre, além do objetivo macro, que é comunicar ações do
Circuito Fora do Eixo para o resto Brasil e do mundo. A intenção é promover a
formação de opinião por parte dos agentes da cultura independente e manter o
estímulo ao debate em consonância com a prática da produção multilinguagem.
Alguns Entre os temas norteadores do Eixo estão: Redes sociais, Mídias livres e
Produção de conteúdo, gerando os seguintes produtos:
- Compacto.Onda - Reunião de planilhas que auxiliam a sistematização do
conteúdo a ser publicado em redes sociais, sites oficiais, além do manejo do clipping
e mapeamento de novas oportunidades na redes. Alem disso há espaço para um
relatório simples da divulgação.
- Compacto.Mailing - Reunião de planilhas para coleta, manuntenção e
atualização do banco de e-mails dos coletivos, frentes e ações. Cada aba é
direcionada para uma categoria (público, imprensa, parceiros etc) sugeridos e a
criação da planilha é acompanhada de uma reunião com o CMM para novas abas e
especificações dos coletivos.
75
- Newsletter Comunica - Newsletter nacional do Circuito, realizada pelo
CMM, sob gestão de Verônica Boaventura (MG). As pautas são coletadas pelo
Banco de Pautas, compartilhadas com todas as frentes através da lista nacional,
assim como os deadlines e as chamadas para a redação colaborativa. O corpo de
redatores busca cobrir todas as frentes e ações específicas da semana.
- Programa-se (CAFE SP) - Newsletter específica sobre eventos da Casa
Fora do Eixo São Paulo, enviada para mailing coletado em eventos realizados no
Studio SP e os #DomingonaCasa.
- Newsletters Regionais - Realizada no mesmo formato do Comunica, só
que focado nas regionais Norte, Nordeste, Sul e MG/ES. As matérias são baseadas
em eventos, planejamentos, ações estratégicas e outros assuntos indicados pelos
coletivos da regional.
- Cidadão Multimídia - Projeto criado colaborativamente no terceiro
Congresso Fora do Eixo, consiste em estimular todos os integrados ao Fora do Eixo
a produzir conteúdo em todas as mídias, independente de ser originado da
comunicação ou não. O objetivo, além de ter muito material criado sobre o Circuito
Fora do Eixo, é exercitiar a criação de contéudo livre e registrar as várias visões que
temos da experiência de vida que o CFE nos proporciona. Esse material não é
publicado num site central e sim distribuido em todos os blogs, sites e redes sociais
dos foradoeixo.
- Portal Fora do Eixo - Principal aglutinador de conteúdo informativo sobre
ações do Fora do Eixo. Já esteve no ar com duas versões, a primeira inclusive
sendo contemplada como um Ponto de Mídia Livre. É o foco de atuação do núcleo
de redacão do Fora do Eixo, mas tem contribuições de todos os setores, seja pra
matérias no portal principal, seja em seu site oficial que será publicado no Portal.
- Redes Sociais - Assim como o Portal, as redes sociais do Fora do Eixo
(atualmente focados no Facebook e Twitter) o CMM é responsável pela editoria das
mesmas. Separar pautas e programar postagens estão entre as responsabilidades
do Centro, além de estimular o uso das redes em cada um dos coletivos, inclusive
76
contando com eles para inserções das cidades nos veículos nacionais, garantindo
assim a sua valia em território nacional.
- Clipping - Documento que junta matérias publicadas sobre um determinado
assunto, podendo ser apresentado em planilha, documento de texto ou
apresentação em power point. Além de item imprescindível na pós produção do
setor, também faz parte da prestação de contas na área de Projetos do Banco Fora
do Eixo.
- Cobertura Colaborativa - Um dos cases mais importantes do Projeto M.I., é
também uma das ações mais intuitivas realizadas pelos núcleos de comunicação do
Fora do Eixo. Consiste em convidar agentes de comunicação e planejar a cobertura
integrada e colaborativa das ações do evento nas cinco áreas da comunicação Rádio, Tv, Divulgacão, Redação e Design. Os produtos da cobertura são publicados
e publicizados em tempo real pelas redes sociais do ponto e do Fora do Eixo.
- Projeto M.I. - O Centro Multimídia estimula a criação de pontos de mídias
colaborativas, o projeto M.I. - Mídias Integradas, iniciado em Cuiabá. A partir da
reunião convocatória, acompanhamos a sistematização, planejamento e criação do
organograma do núcleo colaborativo, que conta como base na cidade, o Centro
Multimídia do Ponto Fora do Eixo local. O projeto visa atender os eventos e a própria
base de comunicação de cada uma das cidades.
10.3.9. Política
PCult - Frente responsável pela articulação política do Circuito Fora do Eixo,
aglutinando diversos agentes da cadeia produtiva artística, social e cultural na
perspectiva de incluir a cultura no centro do debate político do Brasil. A frente já
desenvolveu uma pesquisa de investimentos culturais no Brasil, por Estado,
ganhando grande repercussão na mídia e a mobilização de diversos debates
transmitidos ao vivo com candidatos a cargos eletivos no Brasil, nas eleições de
2010.
77
Os Pcults, organicamente, tem se estruturado em frentes estaduais e
municipais que buscam aglutinar um contingente de atores sociais que atravessem a
área cultural e que pesquisem e trabalhem por políticas públicas para a área. O
acompanhamento da atividade parlamentar, das leis em trâmite, a organização de
Frentes Parlamentares de Cultura nas Assembléias e Câmaras e todas atividades
decorrentes das ações e debates de política cultural.
Nacionalmente, o Pcult constitui de uma equipe em Brasília que acompanha a
Frente Parlamentar Mista da Cultura, Comissões de Educação e Cultura e Ciência e
Tecnologia, organiza e participa de seminários de política cultural e contribui com a
formação política dos Pcults estaduais e municipais.
O PCult também integra o projeto Unicult - Universidade da Cultura Livre,
composto por diversos grupos e movimentos em torno de chancelas e metodologias
de formação em ambiente de educação não-formal.
10.3.10. Poéticas Visuais
Frente responsável pela articulação das artes visuais, aglutinando diversos
agentes e suas mais variadas vertentes. A Frente de Artes visuais é responsável
pela concepção visual de todas as ações da rede.
78
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos na era do conhecimento, numa sociedade baseada no fluxo das
informações e não mais na quantidade de bens produzidos. Nesse cenário, alguns
princípios do ser humano estão sendo transformados e a revolução digital se
apresenta como a propulsora de uma nova ordem, onde o conhecimento deve ser
livre e livremente compartilhado.
Para as políticas culturais vem o desafio da construção coletiva,
compartilhada: é preciso ousar, abrir os caminhos para que os sujeitos se
reinventem, se banhem no diverso, construam sua subjetividade de olho no
universo, expandindo os limites do criar, do existir. Não existe mais espaço para
políticas culturais vindas de cima; a prática cultural só faz sentido quando construída
em conjunto, e os coletivos parecem o ambiente social ideal para essa construção
de forma não hierárquica, onde os meios e os fins são construídos e reconstruídos
na prática cultural diária, na comunicação direta entre os sujeitos, sem cartilhas ou
formulas.
Os sujeitos estão paulatinamente tomando as rédeas do desenvolvimento
cultural,
as
trocas
se
intensificaram,
os
sujeitos
estão
mais
ativos,
a
interculturalidade está sendo vivenciada de forma cada vez mais intensa. Às
políticas culturais cabe ampliar e intensificar essas trocas, essa comunicação, abrir
as possibilidades de expansão mental colocando os hubs dessa rede para circular,
criando novas conexões, novos agir, novos criar. O crowdsourcing promove essa
comunicação, coloca a multidão para trabalhar junto, faz os conflitos virem à tona,
constrói ambientes de troca, de colaboração, de aprendizado, faz questões que à
primeira vista pareciam insolúveis se tornarem triviais.
O crowdfunding é uma ferramenta também promissora, ao inverter as
estruturas da indústria cultural e colocar nas mãos dos usuários finais o poder de
decidir o que quer consumir, este modelo trás inúmeras possibilidades.
Uma delas, mais palpável, é que este poder, amplamente exercido, poderia
nos livrar da possibilidade de dirigismo cultural por parte de agentes culturais
79
públicos ou privados, o que é com certeza um cenário utópico, porém, não
irrealizável.
Um ponto problemático é que, por não haver nenhum tipo de regulação, a não
ser a oferta de projetos e a vontade dos agentes culturais que gerenciam essas
plataformas, poderíamos cair num afunilamento onde projetos que poderiam ser
bancados por outras fontes acabariam por esgotar o sistema centralizando recursos,
o que pelo menos até agora não tem sido observado, e considerando o fato de este
ser um sitema baseado no digital, o termo esgotamento se mostra um tanto
deslocado, dada a própria natureza da rede.
Fora do Eixo
A rede de coletivos FdE nos mostra uma forma interessante de produzir
cultura através de uma rede de coletivos culturais que utiliza largamente as redes
digitais para seus propósitos. O uso das redes digitais possibilitou à rede FdE a
organização de agentes culturais por todo o país, e a articulação entre estes de
forma a agilizar os processos e coordenar equipes de trabalho, criando um ambiente
de colaboração no nível nacional. A cultura digital, tema do terceiro congresso de
cultura digital, que acontecerá no Rio de Janeiro entre os dias 4 e 6 de dezembro, é
tema recorrente entre os associados da rede. Existe uma forte influencia da cultura
hacker na rede, de forma a que os princípios da filosofia hacker, como o
compartilhamento de informação, a lealdade e a igualdade são largamente
empregados. O FdE trabalha em consonância com as principais entidades e grupos
coletivos do pais, sobretudo os ligados à causa ambiental, da cultura digital, do
movimento de software livre, entre outros. Esse relacionamento faz com que a rede
tenha um alto nível de eficiência, já que as principais ações são realizadas
coletivamente, e o trabalho dos agentes acaba diluído entre vários participantes,
agilizando assim todos os processos.
Dentre os princípios que regem a organização do Circuito Fora do Eixo estão
o da colaboração, o da sustentabilidade, da economia solidária, da diversidade. Sua
carta de princípios (anexa) p FODUD ³2 &LUFXLWR )RUD GR (L[R p XPD UHGH FRODERUDWLva
80
e descentralizada de trabalho constituída por coletivos de cultura espalhados pelo
Brasil, pautados nos princípios da economia solidária; do associativismo e do
cooperativismo; da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais; do
respeito à diversidade, à pluralidade e às identidades culturais; do empoderamento
dos sujeitos e do alcance da autonomia quanto às formas de gestão e participação
em processos sócio-culturais; do estímulo à autoria, criatividade, inovação e
renovação; da democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento
de tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da sustentabilidade
SDXWDGD QR XVR GH WHFQRORJLDV VRFLDLV´
Por trabalharem em regime de caixa único, na prática, todas as ações da rede
têm seus custos e lucros compartilhados; não há no grupo uma escala de valores do
WLSR ³XP PDUFHQHLUR JDQKD WDQWR H XP DUWLVWD WDQWR´ WUDEDOKRV ItVLFRV H LQWHOHFWXDLV
por assim dizer são tratados de forma igualitária, e os resultados do trabalho
coletivamente construído são divididos também dessa forma. O uso de moedas
sociais ajuda nesse sistema, pois a maior parte dos serviços prestados pelos
integrantes da rede é paga em moeda social, que pode ser trocada por reais a
qualquer momento. O uso das moedas sociais tem por efeito manter a circulação de
valores entre os membros da rede e seus parceiros, a maioria deles, outros
empreendimentos baseados na economia solidária, mas também empresas privadas
e o poder público. Muitos fornecedores de serviços e produtos externos à rede se
associaram e aceitam as moedas sociais geridas pelo FdE. Até contas de luz e água
são eventualmente pagas em moeda social em algumas cidades do país, mediante
acordos entre fornecedores e os coletivos associados.
Existem criticas ferrenhas de artistas e associações de artistas ao modelo
empregado pelo FdE para a remuneração de artistas com as chamadas moedas
sociais. Estes artistas dizem que este tipo de prática, em ultima instancia, legitimaria
uma prática antiga no mercado, a de não remunerar os artistas com o argumento de
que estes estariam ganhando visibilidade para seus trabalhos. Pablo Capilé, um dos
idealizadores do FdE, em entrevista a Oona de Castro (2011), é categórico ao
rebater as críticas: ³6HPSUH UHPXQHUDPRV DUWLVWDV 0DV GHIHndemos que o artista,
assim como o produtor ou qualquer agente empreendedor, deve saber investir pro
81
seu negócio dar certo sem achDU TXH WRGR UHWRUQR p LPHGLDWR´ GHIHQGHQGR R XVR
das moedas sociais para a remuneração de artistas.
Uma prática largamente utilizada pelo FdE é o da abertura de todo o tipo de
dados sobre suas ações, desde dados financeiros até planilhas de escala de
envolvidos nos festivais promovidos pelo grupo, prática que faz parte do que eles
chamam de ³WUDQVIHUrQFLD GH WHFQRORJLD VRFLDO´
³QLYHODPHQWR GR GHEDWH´ ou
³FRPSDUWLOKDPHQWR GH LGHLDV H FRQKHFLPHQWRV´. Essa prática contribui para que
coletivos, parceiros ou não da rede, possam se espelhar em seus ações e possam
viabilizar suas próprias propostas. Essa é outra das grandes contribuições de
modelos coletivos: o compartilhamento de experiências.
A rede atua também na formação de agentes culturais, com cursos e oficinas
nas áreas de produção, administração, comunicação e sustentabilidade. Essas
ações objetivam alimentar a cadeia do FdE com agentes preparados e também
alimentar a cadeia da cultura no país como um todo.
As moedas sociais utilizadas pelo circuito não são um sistema alternativo,
mas complementar à economia. As moedas são produzidas, distribuídas e
controladas por seus usuários. Assim, seu valor não está nela própria, mas no
trabalho que pode fazer para produzir bens, serviços, saberes. Essas moedas não
têm valor até que se comece a trocá-as por produtos ou serviços.
Cinco
dos
cerca
de
50
coletivos
integrados
possuem
moedas
complementares em papel, mas mesmo nestes coletivos onde não existe a moeda
física, a lógica de contabilizar força de trabalho e organizar trocas é o que prevalece.
Cada coletivo tem um organograma com as funções dos integrantes e as redes de
parcerias, um cardápio de serviços, para visualizar o que se tem a oferecer e facilitar
as trocas, em uma tabela de horas trabalhadas. Os reais e as moedas
complementares que circulam passam por um caixa coletivo e existe também um
fundo nacional, em que os coletivos que já estão estruturados investem para
subsidiar ações institucionais da rede ou apoiar ± em forma de empréstimo ± os
coletivos que estão começando. Isso explica também o funcionamento da Casa Fora
do Eixo (CAFESP), em São Paulo. Com um orçamento avaliado em R$ 50 mil
82
mensais, a casa é bancada pela rede. Cada hora trabalhada para o Circuito Fora do
Eixo equivale a FDE$ 20,00.
Segundo Bandeira e Castro (2011),
Que a sustentabilidade do Circuito não está apenas apoiada em
questões como patrocínios, cachês e cards está claro. Mas além de
formação, força de trabalho e capacidade de gestão, um dos
aspectos fundamentais para sustentabilidade do Circuito ± e bem
menos lembrados em entrevistas, textos, artigos e reportagens sobre
ele ± é a sua legitimidade. Essa legitimidade passa pela conquista de
formadores de opinião, pesquisadores, gestores públicos, atraídos
pelo esforço dos integrantes do circuito, articulados em rede e
ocupando espaços estratégicos, nos quais apresentam um modelo
que tem chave na inovação ± como a carta de princípios do FdE
ressalta. Na fase atual do capitalismo, a criatividade e a inovação
não são valorizados somente na criação artística, mas no modo de
produção como um todo.
Baseados na proposta de criar novos mercados e inovar na maneira produzir
e compartilhar tecnologia social, o FdE vem ampliando cada vez mais o seu leque
de ações, estabelecendo relações complexas, participando de novos ambientes e
consequentemente se abrindo a novos desafios e conflitos. O FdE está testando os
limites da democratização da cultura, alimentando o ambiente cultural brasileiro com
uma explosão de novos artistas, que pouco a pouco vão deixando de depender da
rede e ganhando asas. O Fora do Eixo pratica assim, uma política cultural horizontal,
ao mesmo tempo anárquica e altamente organizada, participativa e transparente,
que não se envergonha em manter relações tanto com o Estado quanto com a
iniciativa privada, demonstrando que a era das redes tem possibilidades que vão
muito além do que podemos prever.
83
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89
organiza em sub redes autônomas, operantes em esferas Local, Estadual, Regional
e Nacional.
1.1 - Ponto de Articulação Fora do Eixo
São movimentos ou organizações sem fins lucrativos responsáveis por mediar toda e
qualquer ação ligada ao Circuito Fora do Eixo na sua cidade. Cabe ao Ponto de Articulação
Fora do Eixo conectar novos agentes interessados em participar da rede, bem como
desenvolver medidas estruturantes capazes de gerar e estabelecer PONTOS DE
LINGUAGENS e PONTOS PARCEIROS. Cada cidade pode ter somente um PONTO DE
ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO e mais do que um PONTO DE LINGUAGEM E PARCEIRO.
1.2 - Ponto de Linguagem Fora do Eixo
São organizações informais ou formais de qualquer natureza jurídica, que participam da
Rede Nacional e que podem se caracterizar como PONTOS DE MÚSICA, PONTOS DE
AUDIOVISUAL, PONTOS DE PESQUISA e etc. Os PONTOS DE LIGUAGEM devem estar
devidamente conectados ao PONTO DE ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO que tem a chancela e
a autonomia local para gerenciar as parcerias. Qualquer divergência ligada a possíveis
parcerias locais devem ser reportadas e debatidas com os COLEGIADOS DE REFERÊNCIA da
sua instância da sua respectiva Instância, que ajudarão o coletivo local a mediar qualquer
situação conflituosa.
Os PONTOS DE LINGUAGEM podem participar de reuniões e ambientes deliberativos de sua
linguagem, virtuais ou presenciais, em todas as esferas, sendo-lhes concedido o direito de
voz e de voto.
Poderão também participar como ouvintes das reuniões referentes às
demais linguagens ou temas, porém sem direito a voto, em conformidade com o
item1.7.2.6.
1.3 - Ponto Parceiro
São organizações informais ou formais de qualquer natureza jurídica, que participam da
Rede Estadual e que podem se caracterizar como PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO, PONTOS DE
90
MIDIA, PONTOS DE PESQUISA e etc. Os PONTOS PARCEIROS devem estar devidamente
conectados ao PONTO DE ARTICULAÇÃO FORA DO EIXO que tem a chancela e a autonomia
local para gerenciar as parcerias. Qualquer divergência ligada a possíveis parcerias locais
devem ser reportadas e debatidas com o PONTO DE ARTICULAÇÃO MUNICIPAL. Caso a
situação não seja resolvida, o ponto de articulação municipal pode recorrer ao COLEGIADO
ESTADUAL em primeira instância, COLEGIADO REGIONAL em segunda instância e em último
caso ao COLEGIADO NACIONAL. Os PONTOS PARCEIROS podem, mediante solicitação e
aprovação em quaisquer instâncias deliberativas pelo Ponto de Articulação Fora do Eixo,
participar de reuniões e ambientes deliberativos estaduais sendo-lhes concedido o direito de voz e de voto.
virtuais ou presenciais -
Poderão também participar como
ouvintes das reuniões referentes às instâncias deliberativas nacionais, porém sem direito a
voto, em conformidade com o item 4.2.6.
1.4 ESCRITÓRIOS
1.4.1 Nacional - O Escritório Fora do Eixo é formado por uma comissão nacional de
execução das atividades institucionais do Circuito Fora do Eixo. A comissão é
formada pelos integrantes dos coletivos que tem o maior investimento de força de
trabalho na rede.
1.4.2 Estaduais - Os Escritórios FDE estaduais são formados por comissões com
integrantes dos coletivos que mais investem força de trabalho no estado,
atendendo as demandas institucionais estaduais.
1.5 - Redes (MUNICIPAL, ESTADUAL, REGIONAL E NACIONAL)
São formadas por PONTOS FORA DO EIXO DE ARTICULAÇÃO, LINGUAGEM E PARCEIROS, que
atuam de forma conectada entre si, nas esferas existentes (Municipais, Estaduais,
Regionais, Nacionais e Internacionais).
1.6 - Colegiados (Internacional, Nacional, Regional, Estadual, Municipal)
Os colegiados são conselhos de referência que atuam pelo desenvolvimento de cada
município, estado, região e nação. Cabe aos Colegiados: estimular a pró-atividade
dos Pontos Fora do Eixo, a circulação e as trocas; a formação de novos Pontos;
facilitar encontros presenciais, mobilizar; mediar; monitorar; orientar; cobrar;
receber pedidos de inserção à rede, bem como elaborar pareceres sobre
solicitantes da inserção à rede, entre outras questões que implicam a atividade dos
Pontos Fora do Eixo. Serão também os responsáveis pela avaliação e diagnóstico da
atuação dos Pontos Fora do Eixo.
91
Os Colegiados são conselhos compostos por no mínimo dois Pontos de Articulação
Fora do Eixo de sua respectiva instância, com exceção da instância municipal que
será representado somente por um ponto de articulação local.
Os Colegiados devem ser eleitos anualmente com a participação de pelo menos 50%
dos Pontos de Articulação de sua esfera (Nacional, Regional, Estadual), podendo
ocorrer em qualquer instância deliberativa prevista neste Regimento.
INTERNACIONAL: É composto por PONTOS DE ARTICULAÇÃO com no mínimo um
integrante de cada país e destina-se a executar ações de âmbito internacional e mediar
conflitos entre si.
NACIONAL - É composto por PONTOS DE ARTICULAÇÃO, com no mínimo um
integrante de cada região e destina-se a executar ações de âmbito nacional e
mediar conflitos entre si. Cabe a ele também acompanhar e/ou gerir as ações
sugeridas pelos Eixos Temáticos, levantando e mapeando dados relativos às ações
realizadas a partir dos mesmos; apresentar a prestação de contas trimestral dos
Pontos Fora do Eixo, evidenciar e mapear as redes parceiras, entre outras
atribuições consultivas.
REGIONAL - Composto por pelo menos dois Pontos de ARTICULAÇÃO da região
eleitos para o Colegiado Regional. Cada região tem sua equipe gestora responsável
por todos os Pontos Fora do Eixo da respectiva região, visando desenvolver a rede
em sua mais variada forma.
ESTADUAL - Composto por pelo menos dois Pontos de ARTICULAÇÃO do estado
eleitos para o Colegiado Estadual. Cada região tem sua equipe gestora responsável
por todos os Pontos Fora do Eixo do respectivo estado, visando desenvolver a rede
em sua mais variada forma.
MUNICIPAL - Composto por pelo Ponto de ARTICULAÇÃO do município. Cada
município pode ter sua equipe gestora responsável por todos os Pontos Fora do Eixo
do respectivo município, visando desenvolver a rede em sua mais variada forma.
Parágrafo único - Caso haja alguma divergência ou reinvidicação, os coletivos
devem dialogar primeiramente com o seu Ponto de ARTICULAÇÃO Municipal, em
segunda instância com o o COLEGIADO Estadual, em terceira instância com o o
COLEGIADO Regional, antes de lançar o tema para o COLEGIADO NACIONAL. Para os
casos onde não há PONTO DEARTICULAÇÃO MUNICIPAL ou COLEGIADO ESTADUAL, o
PONTO FORA DO EIXO LOCAL deverá se reportar diretamente ao COLEGIADO
REGIONAL.
1.7 - Instâncias Deliberativas
As instâncias deliberativas são aquelas onde e quando são tomadas resoluções sobre
temas relacionados ao Circuito Fora do Eixo.
1.7.1 São instâncias deliberativas do CIRCUITO FORA DO EIXO:
1.7.1.1 - Reuniões Gerais Virtuais
92
O Circuito Fora do Eixo pode se reunir por solicitação de qualquer uma das Frentes
Gestoras ou Pontos de Articulação Fora do Eixo e devem ser convocadas pela lista de email ([email protected]).
1.7.1.3 - Congresso Fora do Eixo
Instância máxima deliberativa presencial de realização anual, que tem como objetivo
debater, nivelar e encaminhar questões, bem como tirar as resoluções para planejamento
anual da rede.
I - Etapas Regionais - São etapas preparatórias que acontecem nas regiões Norte,
Nordeste, Centro-Oeste, Minas e Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro e Sul, com
objetivo de nivelar o conhecimento entre Pontos Fora do Eixo, indicar novos coletivos
candidatos à Ponto Fora do Eixo, debater questões regionais e encaminhar propostas para a
etapa Nacional.
II - Etapa Nacional - É a etapa deliberativa em que são definidas as diretrizes norteadoras
do planejamento anual da rede. Esta etapa conta com a participação de todos os Pontos de
Linguagem e Articulação Fora do Eixo. Caso algum coletivo não participe sem apresentar
justificativa plausível em alguma reunião geral deliberativa, este poderá perder sua
chancela de Ponto Fora do Eixo, participando apenas de sua Rede Estadual como um Ponto
Parceiro. A operacionalização da produção fica sob responsabilidade compartilhada do
Ponto Fora do Eixo anfitrião e da Comissão Gestora, esta definida em plenária no
Congresso anterior.
1.7.1.4 - Festival Fora do Eixo
Instância deliberativa presencial, de realização anual e que conta com a participação de
todos os Pontos de Articulação Regional. Caso algum ponto de Articulação regional não
participe sem apresentar justificativa plausível em alguma reunião geral deliberativa, este
poderá perder sua chancela de Ponto de Articulação Regional do Circuito Fora do Eixo,
continuando a ser um Ponto de Articulação Fora do Eixo. A operacionalização da produção
fica sob responsabilidade compartilhada do Ponto Fora do Eixo delegado pelo Colegiado
Nacional e da Comissão gestora, este definido em plenária no Festival anterior.
1.7.2 - Do funcionamento das Instâncias
1.7.2.1 - Delegação nas Reuniões
Qualquer integrante dos Pontos Fora do Eixo pode participar das reuniões como
DELEGADO, não havendo limite máximo de número de integrantes por coletivo,
93
presentes. A reunião não será paralisada para atualizar sobre os assuntos tratados,
aos membros que comparecerem com atraso. Os delegados deverão estar alinhados
com a pauta do dia e asresoluções anteriores. O tempo extra de reunião, caso
necessário, será decidido em consenso, preferencialmente, ou por meio de votação
entre os delegados presentes.
1.7.2.2 - Quórum
As reuniões podem começar:
o
o
no horário previsto, com pelo menos um delegado de cada PONTO FORA DO
EIXO;
com 15 minutos de atraso, com qualquer número de delegados
1.7.2.3. - Definição da(s) Pauta(s) e Duração
As propostas de pauta devem ser enviadas pelo Ponto de Articulação Regional
responsável pela moderação da reunião para o grupo de e-mail do Coletivo Fora do
Eixo, ([email protected]), com antecedência mínima de 48
horas. A pauta será confirmada pelos Pontos Fora do Eixo por e-mail em até 12
horas antes do horário previstopara a reunião, devendo ser informado o tempo de
duração da mesma. A inclusão de pautas depois desse período será avaliada ao
início da sessão.
1.7.2.4 - Deliberações
Deliberações são validadas em todas as reuniões contempladas no ítem 4.2.1,
buscando-se sempre o consenso entre os coletivos. Caso não haja consenso, a
questão será votada e aceita conforme a decisão da maioria (50% + 1). O voto é
paritário por Ponto Fora do Eixo.
1.7.2.5 - Atas
As reuniões devem ter um responsável pela redação da ata, escolhido no início da
sessão e em regime de rodízio. As atas deverão conter um resumo topificado das
deliberações e a conversa na íntegra. As atas serão compartilhadas para análise do
conteúdo e poderão ser alteradas em até 48 horas após o envio, mediante
apresentação de justificativa. Todas elas serão arquivadas no Tec Fora do Eixo.
1.7.2.6 - Participação de Convidados/Observadores
Qualquer indivíduo pode participar das Reuniões Ordinárias descritas no item 4.1.1
como Observador sem direito ao voto. Fica a cargo da Plenária conceder ou não ao
Observador o direito a fala, quando requisitada.
1.8 - Organização Interna
A organização interna do Circuito Fora do Eixo é representada pelos Eixos
temáticos, frentes temáticas, frentes mediadoras e frentes produtoras. Veja mais
detalhado no modo de organização:
https://docs.google.com/Doc?docid=0AXYs0B2jKJsZGhwdGc1NXRfNDcwc3JweHd0Y3I&hl=pt_BR&authkey=CMu_qb8H
94
Os Eixos Temáticos norteiam as diretrizes que permeiam todas as esferas da rede.
Eles são definidos anualmente durante o Congresso Fora do Eixo, em plenária. Os
eixos vigentes são Circulação, Sustentabilidade, Tecnologia, Produção de conteúdo
(comunicação) e Distribuição.
As frentes temáticas norteiam o foco de atuação direcionando o investimento do
trabalho colaborativo da rede a fim consolidar os cenários em questão. Elas são
definidas anualmente durante o Congresso Fora do Eixo. As frentes temáticas
vigentes são Tecnologias Livres, PCult, Música, Clube de Cinema, Palco, Fora do
Eixo Letras, Artes visuais, EcoSol criativa, Unicult, Comunicação Social.
As frentes produtoras produzem os serviços e produtos necessários para atender os
projetos das frentes temáticas.
2. DOS DIREITOS
São direitos dos Pontos Fora do Eixo que compõem o CIRCUITO FORA DO EIXO:
- Autonomia em consonância com a Carta de Princípios e Regimento Interno do
CFE;
- Direito de usar a chancela;
- Direito de voz e de voto em todas as instâncias deliberativas (reuniões ordinárias,
extraordinárias, Festival Fora do Eixo e Congresso Fora do Eixo, como descrito no
item 4);
- Direito a participação e gestão em todos os projetos encaminhados pelo CFE;
- Direito de acesso ao Fundo Nacional, na forma do regulamento próprio;
- Direito ao acesso à gestão nacional (pontos de articulação nacional, escritório
nacional (SP) e escritórios regionais) do CFE;
- Direito à utilização da rede de hospedagem solidária do CFE;
- Direito ao acesso a todas as tecnologias sociais produzidas pelo CFE.
3. DOS DEVERES
São deveres dos Pontos Fora do Eixo que compõem o CIRCUITO FORA DO EIXO:
- Prestar contas das ações solicitadas pelo Colegiado Nacional;
- Estar integrado ao sistema solidário FORA DO EIXO CARD;
- Manter-se constantemente informado sobre as atualizações do Circuito Fora do
Eixo - usando como fontes a Rede Social Fora do Eixo, o TEC
(http://tec.foradoeixo.org.br) e a lista de e-mails - para não alegar ignorância
quanto aos processos do CFE, entidades parceiras e afins;
- Fomentar o surgimento de outros PONTOS FORA DO EIXO;
- Comparecer ao Congresso Fora do Eixo com pelo menos 01 representante;
- Comparecer ao Festival Fora do Eixo com pelo menos 01 representante por
regional;
- Veicular a logo do Fora do Eixo em todas as ações desenvolvidas pelos Pontos;
- Acatar as decisões tomadas nas instâncias deliberativas;
- Participar dos debates nos ambientes deliberativos virtuais ou presenciais,
conforme descrito no ítem 4;
- Democratizar o acesso a todas as planilhas e projetos ligados ao PONTO criando
seus respectivos TECS;
95
- Estar em consonância com a Carta de Princípios e o Programa Circuito Fora do
Eixo vigente.
4 ² DA INSERÇÃO, RENOVAÇÃO E EXCLUSÃO DE PONTOS FORA DO EIXO
4.1 - Inserção
COLETIVOS representativos e atuantes nos segmentos da cultura poderão solicitar
sua entrada oficial no Circuito Fora do Eixo, desde que atendam os seguintes
requisitos:
o
o
Adotar de maneira integral as disposições da Carta de Princípios e do
Regimento Interno do Circuito Fora do Eixo;
Ser indicado por um ponto de articulação;
4.1.1 - Avaliação da Solicitação
O coletivo interessado em se inserir no Circuito Fora Eixo deverá apresentar o pedido ao
Ponto de Articulação ou Colegiado de sua localidade, que é responsável por analisar o
pedido e formular um Parecer do coletivo proponente baseado no Roteiro de Inserção, a
ser apresentado em uma das instâncias deliberativas presenciais através de uma reunião no
Festival Fora do Eixo ou no Congresso Fora do Eixo.
4.2 - Renovação da chancela
Para efetuar a renovação do direito de uso da chancela, o PONTO FORA DO EIXO deve
participar do Congresso Fora do Eixo, conforme definido no ítem 4.1.3.
4.3 - Da Exclusão de PONTOS FORA DO EIXO
Serão excluídos do Circuito Fora do Eixo e perderão todos os direitos de uso da chancela,
os coletivos que:
-
Não
respeitem
os
itens
descritos
na
Carta
de
Princípios;
- Não respeitem os itens descritos neste Regimento;
O Ponto Fora do Eixo só poderá ser excluído nas instâncias deliberativas.
5 - DA COMUNICAÇÃO
As instâncias referidas contemplam as plataformas de Comunicação interna e
externa do Circuito Fora do Eixo.
5.1 - Comunicação Interna
5.1.1 - Grupo de Emails
- São moderadores do grupo de email Coletivo Fora do Eixo ([email protected]) pelo menos um delegado de cada Colegiado Regional;
96
- Não será permitido o envio de emails puramente publicitários para o grupo de emailColetivo Fora do Eixo ([email protected]), devendo
esses
serdirecionados
para
o
grupo
de
e-mail
Fora
do
Eixo
([email protected]);
- Os assuntos em discussão devem ser organizados em tópicos, priorizando aqueles
já existentes;
- Ao surgimento de um novo assunto, deve ser criado um novo tópico;
- Qualquer Ponto Fora do Eixo tem autonomia para criar um novo tópico.
5.2 - Comunicação Externa
5.2.1 - Imprensa
A produção, convocação e demais ações de comunicação com a imprensa formal e
informal relacionadas ao Circuito Fora do Eixo devem estar em consonância com a
Carta de Princípios.
5.2.2 - Delegação
Em caso de necessidade de representação do Circuito Fora Eixo em eventos,
festivais, congressos, fóruns, comissões e outros, o delegado será definido pelo
ponto de articulação ou colegiado de sua respectiva esfera.
6- DO FUNDO
O FUNDO NACIONAL FORA DO EIXO tem como objetivo fomentar o desenvolvimento
e a estruturação dos Pontos Fora do Eixo, na busca da sustentabilidade da rede.
Através da construção de um "caixa coletivo nacional", o Fundo deverá atender
demandas de projetos realizados pelo Circuito Fora do Eixo, além de suprir
necessidades específicas dos pontos e indivíduos integrantes da rede.
O Fundo opera de acordo com os princípios de solidariedade, colaboratividade,
associativismo, minimizando a concorrência desnecessária para o desenvolvimento
equânime da rede.
Para a gestão de recursos os pontos fora do eixo devem agir em consonância com o
regimento do Fundo Fora do Eixo:
https://docs.google.com/document/pub?id=1P0Ruh_rc26dJi1J0a2St7qXRMXkOKWa
eeH2VYKuklPw .
98
de gestão e participação em processos sócio-culturais, do estímulo à
autoralidade,
à
criatividade,
à
inovação
e
à
renovação,
da
democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento de
tecnologias
livres
aplicadas
às
expressões
culturais
e
da
sustentabilidade pautada no uso de tecnologias sociais.
2. São ainda valores do Circuito Fora do Eixo a substituição da noção de
interesse pela de valores no cotidiano do trabalho dos artistas, produtores e
bandas, a substituição do foco nos produtos pelo foco nos processos, a
substituição da racionalidade instrumental pela racionalidade comunicativa
(dialógica) nas relações de trabalho e produção artístico-cultural e
substituição dos valores de individualismo pelos valores de associativismo
/cooperativismo.
3. Constituem-se em pilares e eixos de atuação do Circuito Fora do Eixo o
conjunto
de
estratégias
de
sustentabilidade,
de
circulação,
de
comunicação e de emprego de tecnologias de sonorização, palco e
iluminação.
4. As ferramentas desenvolvidas a fim de dar consecução a cada um dos
pilares de atuação do Circuito Fora do Eixo devem ser desenvolvidas de
forma
integrada,
orgânica,
transversal,
interdependente
e
interpenetrante, de modo a constituir o chamado Sistema Fora do Eixo de
Música e Cultura Independente, que tende a suplantar a lógica do modelo
ainda predominante da indústria fonográfica (as majors e seu modus operandi
contratual) pela lógica do ³PHUFDGR PpGLR´ cultural, pautado pelos princípios
da economia solidária aplicados às cadeias produtivas da economia da
cultura, em especial, da música independente.
5. O Circuito Fora do Eixo é composto por Coletivos Locais de cada cidade
ou município onde exista um núcleo ou célula de produção cultural
99
independente, denominados de ³3RQWRV Fora do (L[R´, cuja adesão do
indivíduo no coletivo é livre,espontânea, esclarecida e consciente. Tais
coletivos articulam-se em circuitos estaduais e regionais de produção,
circulação e comunicação, que se fazem representar por um Conselho
Regional, capilarizando e vascularizando, assim, os preceitos e projetos do
Circuito como um todo.
6. O Sistema Fora do Eixo da Música e da Cultura Independente sintetiza o
modus operandi de atuação do Circuito Fora do Eixo. É integrado por
entidades as quais, com suas estruturas de funcionamento, estabelecem um
fluxo de atuação integrado e sistêmico em prol do fortalecimento da cadeia
produtiva da música e da cultura independente no nosso país.
7. Para dar vazão a cada um dos pilares de atuação do Circuito Fora do Eixo,
diversos projetos são desenvolvidos como ferramentas para concretizar
aqueles que são os objetivos do CFE, sendo os principais o Grito Rock
América do Sul, o Portal Fora do Eixo, o Compacto.REC, o Toque no
Brasil, o Festival Fora do Eixo, a Agência Fora do Eixo, a Fora do Eixo
Discos, o Fora do Eixo Card, o Congresso Fora do Eixo, Observatório
Fora do Eixo,Fora do Eixo Tec, dentre outros.
8. Além dos princípios e valores acima enunciados, os participantes do II
Congresso Fora do Eixo também convencionam quanto à adoção das
seguintes diretrizes e premissas, elencadas conforme os enunciados abaixo
relacionados:
8.1 - Intercâmbio, transversalidade e delegação
a) Formular e colaborar com o desenvolvimento de políticas públicas para a
cultura, promovendo a atuação política com identidade representativa do CFE;
100
b) Estimular as redes sociais municipais, estaduais e regionais com vistas a
valorizar as parcerias com outros grupos afins;
c) Integrar e estabelecer uma relação compartilhada com grupos parceiros de
princípios semelhantes, redes e movimentos sociais;
d) Incentivar o debate e a formação de fóruns representativos no campo da
cultura e afins;
e) Promover o intercâmbio entre os coletivos da rede e com os grupos afins,
fomentando a transversalidade das ações do CFE, dos parceiros e das
políticas públicas em geral;
8.2- Identidade, Diversidade e Autonomia
a) Questionar e enfrentar as práticas hegemônicas dos modos de produção,
circulação e fruição com ênfase no campo da cultura;
b) Respeitar as diferenças e diversidades de condições étnicas, religiosas,
culturais, linguísticas, estéticas, etárias, físicas, mentais, de gênero, de
orientação sexual e outras;
c) Estimular, difundir e integrar a diversidade das expressões sócio-culturais e
artísticas, garantindo espaços de valorização e de respeito a essa
diversidade;
d) Promover o empoderamento dos indivíduos e coletivos dentro dos
princípios da economia solidária;
101
e) Fomentar a produção criativa, autoral, independente do mercado vigente e
interdependente entre os grupos afins;
f) Valorização social do trabalho humano na perspectiva da igualdade de
condições e da polivalência individual e coletiva;
g) Equilibrar a relação entre o trabalho manual e o intelectual com vistas a
valorização equânime de ambas as práticas;
8.3 - Gestão e Sustentabilidade
a) Fomentar a criação de moedas sociais nos coletivos da rede;
b) Viabilizar a formação, produção, circulação e fruição, fomentando as trocas
de serviços e produtos entre os coletivos, seus membros e parceiros;
c) Orientar as ações para satisfação das necessidades individuais e coletivas
de maneira equânime, justa e solidária;
d) Adotar os critérios de territorialidade no estabelecimento das políticas do
CFE;
e) Fomentar o desenvolvimento da cadeia produtiva da cultura, promovendo
alternativas de sustentabilidade pautadas no uso de tecnologias sociais e em
uma perspectiva solidária;
f) Estimular a renovação de frentes de atuação, agentes e tecnologias,
fomentando a criação experimental em todos os processos e produtos
associados à atividade do CFE;
102
g) Promover a democratização e universalização do acesso aos bens e
serviços culturais;
h) Estimular ações considerando o impacto ambiental e impulsionar as
práticas de preservação, incentivando a utilização sustentável dos recursos
renováveis;
8.4 - Inovação e Comunicação
a) Estimular a criação, desenvolvimento e utilização de tecnologias livres,
sociais e de código aberto referente ao direito autoral e propriedade
intelectual, fomentando o uso de plataformas criadas pelos coletivos
e
parceiros;
b) Garantir a difusão, o compartilhamento e o livre acesso às tecnologias do
Circuito Fora do Eixo bem como outros conhecimentos livres;
c) Valorizar a troca contínua, colaborativa e a atualização de informações
entre os coletivos da rede;
d) Estimular as práticas de comunicação livre bem como parcerias com
veículos de informação públicos, comunitários, independentes e outros, que
não estejam ligados a grandes grupos ou conglomerados do setor;
8.5 - Formação e Conscientização
a) Estimular a formação e a resignificação contínua do processo, dos coletivos
e seus membros, atingindo os agentes internos e externos;
103
b) Criar ferramentas de formação e qualificação dos agentes, promovendo a
multiplicação do processo e do conhecimento cooperativo, solidário e coletivo;
c) Estimular a consciência e a clareza do processo nos indivíduos e coletivos
da rede, promovendo a formação crítica dos agentes e do público;
d) Estar sempre alerta;
e) Estimular a disciplina e a liberdade;
f) Estimular a autocrítica, a humildade, a honestidade e o respeito nas
relações sociais e ambientais;
g) Valorizar a essência do ser humano ao invés da posse;
h) Criar lastro através do trabalho gerando o equilíbrio entre o discurso e a
prática;
i) Garantir a competência técnica dos setores produtivos no desenvolvimento
de ações;

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