Guia para Implantação de um Sistema de Gestão Ambiental

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Guia para Implantação de um Sistema de Gestão Ambiental
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
“GUIA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE
GESTÃO AMBIENTAL NA AGROINDÚSTRIA: UM
ESTUDO DA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS”
Danilo José P. da Silva
Série Sistema de Gestão Ambiental
Viçosa-MG/Janeiro/2011
Índice
1.0- INTRODUÇÃO .................................................................................................... 2
2.0- ASPECTOS AMBIENTAIS DA AGROINDÚSTRIA ............................................ 4
2.1- CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS ................................................ 5
2. 2- CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS GERADOS NA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS .......... 6
2.2.1- Efluentes líquidos ........................................................................................ 7
2.2.2- Resíduos sólidos ....................................................................................... 11
3.0- RECUPERAÇÃO DE SUBPRODUTOS............................................................ 13
4.0- SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) ................................................... 14
4.1- PRINCÍPIOS DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ........................................ 14
4.2- FERRAMENTAS DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ....................................... 15
4.3- GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS NA AGROINDÚSTRIA ........................................ 16
4.4- ETAPAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA) NA
AGROINDÚSTRIA ................................................................................................... 18
5.0- REDUÇÃO DO CONSUMO E REUSO DE ÁGUA NA AGROINDÚSTRIA ...... 25
5.1- PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO E REUSO DE ÁGUA (PCRA) ............................. 30
5.2- ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DE UM PCRA ................................................. 30
5.2.1- Etapa 1: Avaliação Técnica Preliminar ...................................................... 31
5.2.2- Etapa 2: Avaliação da Demanda de Água ................................................. 31
5.2.3- Etapa 3: Avaliação da Oferta de Água ...................................................... 32
5.2.4- Etapa 4: Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica .............................. 33
5.2.5- Etapa 5: Detalhamento e Implantação do PCRA ...................................... 33
5.2.6- Etapa 6: Implantação do sistema de gestão de água ................................ 34
6.0- CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 35
7.0- REFERÊNCIAS ................................................................................................. 37
1
1.0- INTRODUÇÃO
O novo cenário mundial praticamente obrigará, via restrições ao comércio,
todas as empresas, grandes ou pequenas a adotarem num futuro próximo, além de
padrões de qualidade de produto já tradicionalmente conhecidos, os padrões de
qualidade ambiental. A qualidade ambiental passará de um ato de resposta às
restrições impostas pelos órgãos ambientais para tornar-se um componente
importante de competitividade no mercado.
Para a maioria das empresas o controle ambiental representa um custo. No
entanto o controle ambiental pode ser sinônimo de investimento e aumento da
competitividade e dos lucros das empresas. Para perceber essa realidade basta
fazer uma simples análise: tudo que a empresa joga fora na forma de resíduos foi
comprado a preços de matéria prima, embalagens ou insumos, como água, energia,
produtos químicos entre outros. Dessa forma um programa de controle preventivo
que tenha como princípio, agir nas fontes geradoras para minimizar a geração dos
resíduos, reaproveitar os resíduos e, só em último caso, tratá-lo e dispô-lo de
maneira adequada, trará grandes benefícios para a empresa.
Atualmente produzir um produto com qualidade em muitos casos deixou de
ser um diferencial da empresa e passou a ser uma exigência do consumidor e da
própria legislação. Com o aumento das exigências por qualidade os conceitos de
qualidade e os métodos de controle da qualidade também evoluíram.
O controle de qualidade deixou de ser feito no final da linha (produto acabado)
e passou a ser feito em todas as etapas da cadeia produtiva, iniciando na obtenção
da matéria prima e passando pelas etapas de processamento, onde todos os
esforços se concentram no controle do processo, garantindo que o produto chegue
ao final da linha com a qualidade desejada. Além disso, essa preocupação se
estende na trajetória do produto até o consumidor final. Esse novo conceito de
qualidade (Garantia da Qualidade) evita reprocesso, reduz o desperdício, reduz
consumo de água e insumos e conseqüentemente reduz a geração de resíduos.
O controle ambiental tem evoluído seguindo a mesma tendência do controle
de qualidade. As empresas estão adotando técnicas preventivas, ou seja, a
preocupação é evitar a geração de resíduos na fonte, racionalizando o uso de
matéria prima e insumos, sendo incorporada também a preocupação com os
2
impactos que o uso e descarte desse produto podem causar ao meio ambiente.
Aliado a isso, as empresas têm desenvolvido produtos que podem ser facilmente
reciclados após o uso e retornam ao ciclo econômico. Nesse contexto, pode-se
afirmar que a gestão da qualidade do processo/produto e a gestão ambiental estão
fortemente interligadas e o bom funcionamento de uma cria um ambiente favorável
para implantação e funcionamento da outra. Em muitas empresas hoje coexistem
sistemas de Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental e Gestão da Segurança do
Trabalho e Saúde Ocupacional constituindo o chamado Sistema de Gestão
Integrado (SGI).
O SGI promove uma maior conscientização de todas as camadas da
organização, não somente para obter produtos de qualidade para seus clientes, mas
em produzir respeitando o meio ambiente, com segurança e saúde para os
colaboradores. Trata-se de ter um único manual da qualidade para a gestão
integrada. É o que poderíamos chamar de QUALIDADE AMPLA: qualidade do
processo e do produto, qualidade ambiental e qualidade das condições de trabalho.
Nesse contexto o novo desafio para a agroindústria é promover o seu
desenvolvimento com mínimo comprometimento da qualidade ambiental. A geração
de resíduos além de constituir um problema ambiental para a sociedade é também
um problema econômico para a empresa, já que demanda gastos com sua
eliminação e/ou tratamento até níveis ambientais aceitáveis.
Seguindo essa tendência de atuação preventiva, a agroindústria tem buscado
novas tecnologias, principalmente visando ao aproveitamento de resíduos antes
considerados desprezíveis, os quais eram descartados ao meio ambiente.
No
entanto, as pequenas e médias empresas desse setor, incluindo o segmento de
laticínios, na sua maioria, não dispõem de especialistas na área de gerenciamento e
tratamento de resíduos em sua equipe técnica. Como agravante essa indústria
emprega uma mão de obra pouco qualificada, o que dificulta a aplicação de
programas de treinamento para implementação de novas tecnologias e formas de
comportamento.
Uma conscientização dos proprietários e gerentes das micro, pequenas e
médias empresas da agroindústria, no que se refere aos benefícios que se pode
obter pela adoção de sistemas preventivos de controle de qualidade e controle
3
ambiental, se constitui no principal ponto de partida para garantir um crescimento
competitivo e sustentável.
2.0- ASPECTOS AMBIENTAIS DA AGROINDÚSTRIA
As atividades agropecuárias e de processamento de produtos agropecuários
têm proporcionado sérios problemas de poluição do solo, águas superficiais e águas
subterrâneas.
Os resíduos de atividades agroindustriais apresentam, em geral, grande
concentração de material orgânico e o seu lançamento em corpos hídricos pode
proporcionar grande decréscimo na concentração de oxigênio dissolvido no meio,
cuja magnitude depende da concentração da carga orgânica e da quantidade de
efluente lançado, além da vazão do curso d’água receptor (MATOS, 2004).
Os resíduos agroindustriais são gerados no processamento de alimentos,
fibras, couros, madeiras, produção de açúcar e álcool, etc., sendo sua produção, em
alguns casos, sazonal, condicionada pela maturidade da cultura. As águas
residuárias podem ser provenientes da lavagem da matéria prima, processos de
escaldamento, cozimento, pasteurização, resfriamento e lavagem dos equipamentos
e ambientes de processamento. Os resíduos sólidos constituem sobras de processo,
descarte de lixo proveniente de embalagens, lodo de esgoto de sistemas de
tratamento de águas residuárias, além de lixo gerado no escritório, refeitório e pátio
da agroindústria (MATOS, 2004).
As águas residuárias do processamento de produtos animais, tais como as
geradas em laticínios, matadouros e cortumes, são muito poluidoras, podendo
conter gordura, sólidos orgânicos e inorgânicos, além de sais e químicos, que
podem ser adicionados durantes às operações de processamento. Águas
residuárias geradas no processamento de produtos de origem vegetal podem conter,
além de elevado conteúdo de material orgânico, outros poluentes, tais como solo,
restos de vegetais e pesticidas.
Nas agroindústrias, a produção de águas residuárias é, geralmente, expressa
como função da quantidade de produto processado, devendo variar conforme as
técnicas de processamento adotadas. A seguir são apresentados os principais
aspectos ambientais de algumas agroindústrias específicas segundo MATOS, 2006:
4
 Indústria suco-alcooleira
A vinhaça é o principal efluente de usinas de destilaria de álcool e
aguardente, resultante da destilação do mosto fermentado (caldo de cana, melaço
ou xarope diluído), sendo produzida na proporção de 13 a 16 litros por litro de álcool
produzido. O processamento de 1.000 toneladas de cana-de-açúcar gera, nas
usinas de produção de álcool, em média, 910 m3 de vinhaça. No caso de usinas
açucareiras com destilaria, a geração de vinhaça está entre 150 e 300 m3 por cada
1.000 toneladas de cana-de-açúcar processada.
 Matadouros de bovinos
O consumo de água em matadouros de bovinos é bastante variável,
dependendo do tipo de instalação. Os volumes de água gastos estão entre 1,25 e
2,4 m3 para cada animal abatido, sendo distribuídos da seguinte forma: 0,9 m3 na
sala de matança, cerca de 1,0 m3 nas demais dependências (bucharia, triparia,
sanitários, ectc.) e 0,6 m3 a área externa (currais, pátios, etc.).
O efluente líquido de matadouros é constituído, principalmente, por água de
limpeza dos equipamentos e do piso, contendo sangue resultante do gotejamento no
piso ao longo da linha de abate, e pequenas partículas da carcaça, pêlos, gordura,
vômitos e barrigada. Peças condenadas da carcaça são, em grande parte,
recuperadas para a produção de graxas e farinhas.
 Cortumes
No geral, as águas residuárias de cortume caracterizam-se por apresentarem
pH elevado, alta carga orgânica, grande quantidades de sólidos suspensos (pêlos e
carnaça), intensa cor, grande dureza e elevadas concentrações de sulfetos e de
cromo.
2.1- Caracterização da Indústria de Laticínios
O Brasil é o sétimo produtor mundial de leite. Sua produção, em 2008, foi da
ordem de 26,4 bilhões de litros, volume que representa 4,6% da produção mundial
(Embrapa, 2008).
Entre os maiores produtores de leite do mundo, o Brasil apresentou a maior
taxa anual de crescimento da produção nos últimos 10 anos. A taxa brasileira foi
73% maior que a americana, enquanto as produções da Rússia, da Alemanha e da
França tiveram taxas negativas de crescimento. Mantidos tais comportamentos, a
5
produção nacional terminará, na próxima década, em segundo lugar, perdendo
apenas para a dos Estados Unidos (SEBRAE-MG/SILEMG/FAEMG, 2006).
A produção de leite no Brasil cresceu, significativamente, nos últimos anos, de
1990 a 2004, a produção aumentou, em média, 3,38% ao ano (SEBRAEMG/SILEMG/FAEMG, 2006). As regiões Sudeste e Sul responderam, em 2003, por
66% da produção nacional. Na região Sudeste está concentrada a maior produção,
os maiores centros de consumo e as indústrias laticinistas. Quanto à produtividade,
foram também essas duas regiões que apresentaram os mais elevados índices. O
estado de Minas Gerais ocupa o primeiro lugar na produção de leite, sendo
responsável por 71% da produção da região Sudeste e 29% da produção nacional
(SEBRAE-MG/SILEMG/FAEMG, 2006).
A agroindústria mineira do leite é a mais importante do País. Sua liderança é
histórica. O Estado foi sede da primeira indústria de laticínios do Brasil e da América
do Sul. Além disso, a representatividade do setor na economia mineira é mais
expressiva que no cenário nacional. Este é um setor de grande significado
econômico, político e social para Minas Gerais, principalmente porque encontra-se
disseminado em todo o estado, colaborando de forma inegável para a interiorização
do desenvolvimento, limitando o êxodo rural e diminuindo as desigualdades
regionais (INDI, 2003).
Nos estados que lideram a produção nacional de leite e derivados prevalecem
as micro e pequenas empresas. Em Minas Gerais, por exemplo, 40,12% delas,
podem processar somente até 5 mil litros de leite/dia; 17,57% - de 5 a 10 mil litros;
16,69% - de 10 a 20 mil litros/dia; 17,42% - de 20 a 50 mil litros/dia, e somente 8,2%
processam mais de 50 mil litros/dia (INDI, 2003).
2. 2- Características dos resíduos gerados na indústria de laticínios
A indústria de laticínios gera efluentes líquidos, resíduos sólidos, e emissões
atmosféricas passíveis de impactar o meio ambiente. Os efluentes líquidos
industriais são despejos líquidos originários de diversas atividades desenvolvidas na
indústria, que contém leite e produtos do leite, detergentes, desinfetantes, areia,
lubrificantes, açúcar, pedaços de frutas, essências e condimentos diversos que são
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diluídos nas águas de lavagem de equipamentos, tubulações, pisos e demais
instalações da indústria, (MACHADO et al., 2002).
2.2.1- Efluentes líquidos
Os efluentes líquidos das indústrias de laticínios abrangem os efluentes
industriais, os esgotos sanitários gerados e as águas pluviais captadas na respectiva
indústria. O efluente líquido é considerado um dos principais responsáveis pela
poluição causada pela indústria de laticínios. Em muitos laticínios o soro de queijo é
descartado junto com os efluentes líquidos sendo considerado um forte agravante
devido ao seu elevado potencial poluidor (DBO entre 30.000 a 50.000 mg O2/L).
Uma fábrica com produção média de 300.000 litros de soro por dia polui o
equivalente a uma cidade com 150.000 habitantes. Atualmente constitui prática
incorreta descartar o soro, direta e indiretamente, nos cursos de água, (MACHADO
et al., 2002).
O soro de queijo é o subproduto da indústria de laticínios resultante da
precipitação e remoção da caseína do leite durante a produção de queijo
(KOSIKOWSKI, 1979). Nos últimos anos observou-se um crescente aumento da
produção mundial de soro de queijo impulsionado pela expansão da indústria de
laticínios, atingindo 100 bilhões de litros ao ano (SILVEIRA, 2004).
O soro de queijo representa aproximadamente 80 a 90% do volume de leite e
retém 55% dos nutrientes do leite apresentando entre 6,0 e 7,0 % de sólidos totais.
Entre os sólidos totais destacam-se: a lactose (4,5-5% p/v), proteínas solúveis (0,60,9% p/v), lipídios (0,3-0,5% p/v), sais minerais (0,6%) e ácido lático (0,1%), além de
outros nutrientes presentes em menores concentrações como vitaminas (SANTOS,
2001). Em média, para a fabricação de um quilo de queijo necessita-se de 10 litros
de leite e recupera-se 9 litros de soro.
Atualmente o soro de queijo vem sendo amplamente utilizado pela indústria
alimentícia em uma gama enorme de produtos com resultados bastante satisfatórios
tanto para o consumidor como para as empresas em geral. O soro está presente em
cerca de 80 % dos alimentos processados (MARCHIORI, 2006).
Infelizmente no Brasil grande parte do soro de queijo ainda é descartada na
natureza sem nenhum tipo de tratamento (SILVEIRA, 2004). Além de constituir um
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grande problema ambiental, o não aproveitamento do soro no Brasil coloca o
produto como o segundo derivado lácteo mais importado, perdendo apenas pelo
leite em pó. Em 2007 o Brasil importou cerca de 30 mil toneladas de soro em pó
correspondendo um valor acima de 52,9 milhões de dólares (MILKPOINT, 2008).
O Estado de Minas Gerais, por exemplo, possui cerca de 1000 indústrias de
laticínios formalmente constituídas, sendo que em torno de 80 % não possuem
qualquer tipo de tratamento de seus efluentes (SEBRAE/SILEMG, 2006). Esse dado
permite concluir que a poluição provocada pelos efluentes líquidos de laticínios
assume proporções que exigem uma conscientização da gerência e funcionários das
indústrias e a implementação de ações concretas para minimizar esse impacto
ambiental.
A vazão e a qualidade do efluente gerado por agroindústrias são
dependentes, dentre outros fatores, do tipo e porte da indústria, dos processos
empregados, do grau de reciclagem e da existência de pré-tratamento. Dessa forma,
mesmo que duas empresas produzam essencialmente o mesmo produto, o potencial
poluidor pode ser bastante diferente entre si (VON SPERLING, 1996a).
No caso específico da indústria de laticínios, a composição detalhada do
efluente é influenciada por fatores tais como: processos industriais em curso; volume
de leite processado; condições e tipos de equipamentos utilizados; práticas de
redução da carga poluidora e do volume de efluentes; atitudes de gerenciamento e
da direção da indústria em relação às práticas de gestão ambiental; quantidade de
água utilizada nas operações de limpeza e no sistema de refrigeração, (MACHADO
et al., 2002).
No Quadro 1 estão apresentados os valores das principais características
físico-químicas do efluente industrial de um laticínio obtidos por SILVA (2006).
As faixas de variações de alguns parâmetros apresentados no Quadro 1 são
muito amplas, e podem ser justificadas pela falta de aplicação de medidas
preventivas para reduzir a geração de resíduos e pela variação na escala de
produção dos produtos em relação a diferentes dias de processamento.
Para efeito de comparação com os dados apresentados no Quadro 1 são
apresentados no Quadro 2 valores das Características físico-químicas de efluentes
industriais de fábricas de laticínios localizadas no Estado de Minas Gerais.
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Quadro 1- características físico-químicas do efluente de uma fábrica de laticínios
processando 14 000 litros de leite por dia.
Parâmetro
PH
Temperatura (ºC)
S. totais (g/L)
S. Suspensos (g/L)
S. Dissolvidos (g/L)
S. Sedimentáveis (mL/L)
Óleos e graxas (mg/L)
DQO (mg de O2/L)
DBO5 (mg de O2/L)
Volume (m3/dia)
Faixa
4,9 – 11,28
32 – 39
0,9 - 3,76
0,23 – 0,78
0,67 – 3,15
0,0 – 27,00
22,1 – 806
2120 – 4287
496 – 1712
65,7 – 99,10
Média
8,77
35,50
2,06
0,47
1,63
3,10
414
3567
1033
75,85
Carga orgânica total (Kg DQO/dia)
Carga orgânica específica (Kg DQO/m3 de leite processado)
Desvio Padrão
2,55
4,95
0,87
0,20
0,80
8,26
554,80
762,39
417,24
12,56
270,63
25,70
Relação DBO5/DQO
0,29
Fonte: SILVA (2006)
Quadro 2– Características físico-químicas de efluentes industriais de fábricas de
laticínios localizadas no Estado de Minas Gerais (*) Tipos de indústria: (1) Produção de leite
pasteurizado, manteiga, requeijão, doce de leite e queijos; (2) Produção de queijos diversos; (3)
Produção de leite pasteurizado, requeijão, ricota, manteiga e queijos; (4) Produção de queijos
diversos.
DBO5 (mg O2/L)
Tipos de Indústria (*)
1
2
3
4
2051 - 5269 3637 - 17624 5127 - 5949 18485 - 19755
DQO (mg O2/L)
3005 - 7865 4307 - 20649 5496 - 7709 21277 – 23920
DBO/DQO
0,67 - 0,78
0,59 - 0,85
0,77 - 0,93
0,83 - 0,87
Sólidos suspensos (mg/L)
484 - 1133
560 - 2080
440 - 1105
1540 – 1870
Sólidos totais (mg/L)
1010 - 2107 1567 - 10744 3508 - 4498
8838 – 10052
Parâmetros
Sólidos sedimentáveis (mL/L)
0,4 - 60
0,5 - 15
0,4 - 0,6
1,4 - 2,3
Nitrogênio orgânico (mg/L)
32,5 - 79,6
74,2 - 297,6
52,7 - 142,7
190,7 - 292,0
Fósforo total (mg/L)
6,5 - 31,0
2,9 - 131,4
12,4 - 29,2
92,4 - 175,5
Óleos e graxas (mg/L)
227 - 474
90 - 184
37 - 359
75 – 439
2,7 - 3,1
3,7 - 4,0
2,6 - 3,4
1,0
3,9 - 4,4
-
3,3 - 3,9
1,4 - 1,5
16,3 - 18,1
-
15,1 - 21,7
22,0 - 22,2
17,0
7,0
18,5
21,5
Coeficiente geração efluente (L
efluente/L leite recebido)
Coeficiente consumo água (L
água/L leite recebido)
Leite recebido (m3/dia)
3
Leite processado (m /dia)
Fonte: Adaptado MINAS AMBIENTE/CETEC, 2000
9
Fontes de efluentes líquidos
Na indústria de laticínios, diversos processos, operações e ocorrências
contribuem para a geração de efluentes líquidos, as quais são apresentados no
Quadro 3.
Quadro 3– Operações e processos que geram efluentes líquidos na indústria de
laticínios
Operação ou
processo
Limpeza e
higienização
Descartes e
descargas
Vazamentos e
Derramamentos
Descrição
- Enxágüe para remoção de resíduos de leite ou de seus
componentes, assim como de outras impurezas, que ficam aderidos
em latões de leite, tanques diversos (inclusive os tanques de
caminhões de coleta de leite e silos de armazenamento de leite),
tubulações de leite e mangueiras de soro, bombas, equipamentos e
utensílios diversos utilizados diretamente na produção;
- Lavagem de pisos e paredes;
- Arraste de lubrificantes de equipamentos da linha de produção,
durante as operações de limpeza.
- Descargas de misturas de sólidos de leite e água por ocasião do
início e interrupção de funcionamento de pasteurizadores, trocadores
de calor, separadores e evaporadores;
- Descarte de soro, leitelho e leite ácido nas tubulações de
esgotamento de águas residuárias;
- Descargas de sólidos de leite retidos em clarificadores;
- Descarte de finos oriundos da fabricação de queijos;
- Descarga de produtos e materiais de embalagem perdidos nas
operações de empacotamento, inclusive aqueles gerados em
colapsos de equipamentos e na quebra de embalagens;
- Produtos retornados à indústria;
Vazamentos de leite em tubulações e equipamentos correlatos devido
a:
- Operação e manutenção inadequadas de equipamentos e
tubulações;
- Transbordamento de tanques, equipamentos e utensílios diversos;
- Negligência na execução de operações, o que pode causar
derramamentos de líquidos e de sólidos diversos em locais de fácil
acesso às tubulações de esgotamento de águas residuárias.
Fonte: MACHADO et al. (2002).
Para o controle do volume e carga poluente dos resíduos gerados durante o
processamento é preciso uma compreensão do fluxograma de processamento e dos
fatores que influenciam a sua geração. No entanto, é difícil identificar uma planta
típica e seus resíduos associados. Na Figura 1 pode-se observar de forma resumida
as etapas de processamento e os principais pontos de geração de resíduos em uma
indústria de laticínios.
10
Etapas
Recepção do leite
Pasteurização
Iogurte e
bebida láctea
Processos e ambiente
Higienização de tanques, caixas
plásticas, desnatadeira, filtros,
resfriador e caminhão.
Resíduos gerados
Resíduos de leite, gordura,
embalagens, detergentes,
lodo da desnatadeira e
areia.
Higienização dos tanques,
Padronizador, homogeneizador,
Pasteurizador, local de envase e
câmara fria.
Resíduos de leite, gordura,
detergente e embalagens.
Higienização dos tanques,
homogeneizador, pasteurizador,
máquinas de envase, fermenteiras
e câmara fria.
Resíduos de leite, gordura,
detergentes, ingredientes,
iogurte e embalagens.
Resíduos de leite, gordura,
detergente, minerais,
doce, açúcar e embalagens
Doce de leite
Higienização de tanques,
evaporadores, envasadora, área
de acondicionamento e
estocagem.
Manteiga
Higienização do recipiente de
creme, padronizador,
pasteurizador, tanque de
maturação, batedeira,
empacotadeira, área de
acondicionamento e câmara fria.
Resíduos de gordura,
detergente, creme, lodo,
manteiga, leitelho e
embalagem
Requeijão
Operações de dessoragem e
lavagem da massa, higienização
de tanques, da máquina de fundir
a massa, embaladora, câmara fria
e área de embalagem.
Resíduos de leite, gordura,
soro, detergentes, água,
proteína, massa e
requeijão
Queijos
Higienização de tanques, formas,
dessoradores, panos, pisos,
paredes, prateleiras, processo de
dessoragem, salga e maturação.
Resíduos de leite,
detergente, gordura,
queijo, soro, minerais,
salmoura e embalagens.
Figura 1- Etapas de processamento com os principais pontos de geração de resíduos em uma planta
de laticínios (SILVA, 2006).
2.2.2- Resíduos sólidos
Segundo MACHADO et al. (2002), os resíduos sólidos gerados na indústria
de laticínios podem ser subdivididos em dois grupos principais, no que se refere a
11
sua origem. O primeiro grupo são os resíduos gerados nos escritórios, nas
instalações sanitárias e nos refeitórios da indústria. Corresponderia ao que se
costuma denominar lixo comercial e abrange: papéis; plásticos e embalagens
diversas geradas nos escritórios; resíduos de asseio dos funcionários como papel
toalha, papel higiênico, etc. e resíduos de refeitório ou cantina, restos de alimentos,
produtos deteriorados, embalagens diversas, papel filtro, etc.
O segundo grupo refere-se aos resíduos sólidos industriais provenientes das
diversas operações e atividades relacionadas diretamente à produção industrial. Nas
indústrias de laticínios são basicamente sobras de embalagens, embalagens
defeituosas, papelão, plásticos, produtos devolvidos e cinzas de caldeiras.
Quanto ao tipo dos resíduos de embalagens, predomina o material plástico,
principalmente sob as formas de sacos (polietileno de baixa densidade – PEB)
usados para a embalagem de leite pasteurizado, iogurte e bebidas lácteas, bem
como de filmes plásticos diversos usados na embalagem de queijos. Pode haver,
ainda, no caso da manteiga, filmes de papel, usados na embalagem de tabletes.
Nas indústrias onde se produz doce de leite e requeijão também há resíduos
de lata, vidro ou de embalagens de plástico semi-flexível.
No Quadro 4 está representada a quantidade estimada dos principais
resíduos sólidos que são gerados e comercializados pelas indústrias de laticínios no
Estado de Minas Gerais, em função da capacidade de processamento de leite.
Quadro 4 – Estimativa da quantidade de resíduo de embalagens gerado pelas
indústrias de laticínios
Quantidade estimada de resíduo produzido (kg/dia)
Embalagem multifoliar Folha de Flandres
Alumínio
5
40
8
Volume de leite
processado (L/dia)
10.000
Plástico
3
20.000
6
9
80
16
30.000
9
14
120
24
40.000
12
18
160
32
50.000
14
23
200
40
60.000
17
27
240
48
70.000
20
32
280
56
80.000
23
36
320
64
90.000
26
41
360
72
100.000
29
45
400
80
Fonte: MACHADO et al. (2002).
12
3.0- Recuperação de subprodutos
Processos
industriais
secundários
são
operações
de
manipulação,
recuperação e processamento de subprodutos, (CARAWAN e PILKINGTON, 1986).
Subprodutos correspondem a todos os produtos que não são diretamente
destinados ao consumo e uso humanos (BRAILE e CAVALCANTI, 1979).
A recuperação de subprodutos é prática econômica indiscutível e evita que
materiais sejam liberados ao ambiente como rejeitos. Nesta etapa ocorre acentuada
diferenciação tecnológica entre pequenas e grandes empresas (SILVEIRA, 1999).
A produção de subprodutos a partir de resíduos de certos tipos de
estabelecimentos pressupõe a existência de quantidades mínimas de resíduos para
que
possam
ser
recuperados
individualmente
de
forma
econômica.
O
armazenamento dos resíduos para a formação de lotes economicamente viáveis
pode-se tornar altamente oneroso e inconveniente devido a sua rápida deterioração.
Além disso, deve se considerar a ociosidade dos equipamentos no caso de
pequenos estabelecimentos. Esses fatores dificultam a produção dos subprodutos
(BRAILE e CAVALCANTI, 1979).
Nos últimos 50 anos algumas alternativas para o aproveitamento do soro de
queijo foram desenvolvidas, tais como: destiná-lo para ração animal, secagem,
recuperação das proteínas, produção de ácidos orgânicos, produção de biogás,
produção de combustível, produção de glicerol, produção de lactose, αlactoalbumina, β-lactoglobulina, fosfolipoproteínas, peptídeos, proteases e aproveito
direto em formulações e outros (SANTOS, 2001; SILVEIRA 2004). Mesmo com
todas essas alternativas, estima-se que menos da metade de todo soro produzido no
mundo é aproveitado de alguma maneira.
A etapa inicial da maioria dos procedimentos adotados para o aproveitamento
industrial do soro corresponde à recuperação das proteínas. Esse processo gera um
permeado
e
um
concentrado
protéico,
composto,
principalmente,
por
β-
lactoglobulina, α-lactoalbumina e lactoferrina (SANTOS, 2001). Estas proteínas são
compostas por aminoácidos essenciais facilmente digeríveis e considerados
nutricionalmente completos.
A recuperação das proteínas do soro não resolve o problema ambiental,
porque o permeado gerado contém toda lactose presente originalmente no soro
13
(Viene e Stockar, 1985 citado por SILVEIRA, 2004). Uma alternativa que está sendo
considerada há décadas é o aproveitamento desse permeado para a fermentação
de leveduras para produção de etanol. No entanto devido ao caráter diluído da
lactose do soro de queijo, a produção de álcool a partir desse é economicamente
inviável (TIN e MAWSON, 1992).
Uma alternativa mais viável e que está ganhando espaço no Brasil, é a
utilização do soro para elaboração de novos produtos como: bebidas lácteas; leites
fermentados; mistura em sucos e ricota (SANTOS, 2001). Essa tendência pode ser
comprovada pela pesquisa realizada pelo SEBRAE/MG (1997), em que se constatou
um aumento de 206% na produção de bebidas lácteas no ano de 1995.
4.0- Sistema de Gestão Ambiental (SGA)
Um Sistema de Gestão Ambiental corresponde a uma forma lógica, racional e
planejada de fazer o controle ambiental, ou seja, qualquer medida que reduza o
volume e o potencial poluidor dos resíduos. Esse sistema pode ser implantado pela
adoção de medidas simples como: identificar os pontos de geração de resíduos e
implementar medidas para reduzir essa geração, fazer a coleta seletiva do lixo
facilitando assim o processo de reciclagem, reaproveitar os resíduos para fabricação
de um novo produto, fazer reuso de água entre outras.
4.1- Princípios de um Sistema de Gestão Ambiental
Um Sistema de Gestão Ambiental está fundamentado nos princípios de
prevenção, reciclagem/reuso, otimização da disposição final e ações corretivas,
seguindo
essa
ordem
de
importância.
Os
princípios
de
prevenção
e
reciclagem/reuso devem ser prioridade na indústria. Qualquer ação implementada
visando atender esses dois princípios representará um investimento e trará um
retorno financeiro para a empresa. A otimização da disposição final e a aplicação de
ações corretivas são exigências da legislação e representam um custo para as
empresas (SILVA, 2006). No Quadro 5 estão apresentados cada um dos princípios
relacionando suas premissas e medidas que podem ser implementadas para
atender cada um.
14
Quadro 5 - Princípios do SGA, premissas e exemplos de medidas que podem ser
aplicadas para atender cada um.
Princípios
Prevenção
Reciclagem/Reuso
Otimização da
disposição final
Ações corretivas
Premissas
Exemplos de medidas
Qualquer prática, processo ou técnica
que auxilie na redução ou eliminação em
volume, concentração e/ou toxicidade
dos resíduos na empresa.
- Modificações nos equipamentos, nos
processos ou procedimentos;
- Reformulação ou replaneijamento de
produtos;
- Substituição de matéria-prima.
Uma vez que o resíduo foi gerado, a
melhor maneira de minimizar qualquer
impacto adverso ao meio ambiente e
reduzir o custo para tratar esse resíduo é
usar esse material como matéria-prima
ou insumo na fabricação de outro
produto.
Quando o resíduo não puder ser
reciclado, uma variedade de processos
de tratamento deve ser considerada de
modo a reduzir o volume e potencial
poluidor dos resíduos e, assim, minimizar
o impacto ambiental decorrente de sua
disposição final.
Deve-se adotar sempre ações educativas
e preventivas, prioritariamente àquelas
meramente de caráter corretivo. Ações
corretivas são sempre aplicadas após
ocorrer algum tipo de dano ambiental que
pode vir acompanhado de multa e
degradação da imagem da empresa.
- Reuso do condensado e da água de
resfriamento;
- Recuperação de subprodutos como o
soro que pode ser usado para
fabricação de bebida láctea, doce,
produção de soro em pó, etc.
- Construção das Estações de
Tratamento de Efluentes (ETE) que
podem ser constituídas por sistemas
biológicos, físico-químicos ou a
combinação dos dois.
- Destinação dos resíduos sólidos para
sistemas de compostagem.
- Recuperação de áreas degradadas
- Recuperação de rios e nascente;
- Reflorestamento;
- Multas e advertências.
Fonte: SILVA (2006)
4.2- Ferramentas do Sistema de Gestão Ambiental
As ferramentas do SGA constituem um conjunto de técnicas, estratégias,
normas e linhas de atuação que tem como principal objetivo orientar passo a passo
o processo de implantação e manutenção de um programa de gestão ambiental. No
Quadro 6 estão apresentadas essas ferramentas, com seus respectivos princípios,
pontos de aplicação e exemplos das medidas aplicáveis.
15
Quadro 6 - Ferramentas do Sistema de Gestão Ambiental
Ferramentas
Princípios/premissas
Pontos de
aplicação
Exemplos
- Práticas de reuso de efluentes;
- Uso de embalagens recicláveis;
É aplicada nos
- Exigir dos fornecedores matéria prima e
processos, produtos
Produção mais
insumos produzidos com
e serviços, ou seja,
limpa (P + L)
responsabilidade ambiental;
ambiente interno e
- Incorporação das preocupações
externo à empresa.
ambientais no planejamento e entrega
dos serviços.
Modificações nos equipamentos,
A P2 refere-se a qualquer
processos ou procedimentos,
prática, processo, técnica e
reformulação ou replanejamento de
Técnicas de
tecnologia que visem a
É aplicada nos
produtos, substituição de matériasPrevenção a
redução ou eliminação em
processos e
primas, eliminação de substâncias
Poluição (P2)
volume, concentração e/ou
produtos.
tóxicas, padronização dos procedimentos
toxicidade dos poluentes na
de operação e manutenção, treinamento
fonte geradora.
dos funcionários.
Sistema de Gestão Ambiental (ISO
14001); Auditorias ambientais (ISO
É aplicada nos
A ISO 14000 é um conjunto de
serviços, produtos e 14010, 14011 e 14012); Avaliação do
normas voluntárias, definidas
desempenho ambiental (ISO 14031);
ambiente de
pela ISO, para padronizar e
ISO 14000
Rotulagem ambiental (ISO 14020, 14021
trabalho de
facilitar a implantação do
e 14024); Aspectos ambientais em
qualquer
sistema de Gestão Ambiental
organização pública normas de produtos (ISO 15060);
nas empresas.
Análise do ciclo de vida do produto (ISO
ou privada.
14040).
Fonte: SILVA (2006)
A produção mais limpa é uma
política de caráter preventivo e
abrangente que tem como
princípio eliminar a poluição
durante o processo de
produção, não no final da linha
de processamento.
4.3- Gerenciamento de Resíduos na Agroindústria
No passado, as indústrias concentravam suas preocupações, exclusivamente
com a produção e os lucros. Ações para proteger o meio ambiente eram
insignificantes e esta despreocupação foi responsável pela ocorrência de
comprometimentos ambientais irreversíveis (PEREIRA e TOCCHETO, 2005).
O surgimento de uma legislação ambiental constitui um importante
instrumento de controle e fiscalização das atividades industriais, contribuindo para a
melhoria da gestão das empresas, inclusive para a implantação de medidas que
resultaram na redução do impacto ambiental. No entanto, os custos de disposição
de resíduos ainda eram vistos como uma despesa operacional (PEREIRA e
TOCCHETO, 2005a).
Com a globalização da economia a competitividade entre as empresas
aumentou e a margem de lucros diminuiu. Produzir muito pode significar gerar um
grande volume de resíduos e conseqüentemente aumentar os custos com
16
tratamento. Nesse contexto, o comportamento reativo das empresas é substituído
pelo pró-ativo. As operações industriais, neste período, experimentaram mudanças
radicais com implicações significativas, principalmente com a introdução das normas
de gestão pela qualidade ambiental, a exemplo da série ISO 14000 (PEREIRA e
TOCCHETO, 2005).
As empresas adquiriram uma visão estratégica em relação ao meio ambiente,
passando a percebê-lo como oportunidade de desenvolvimento e crescimento. As
ações passaram a ser nas fontes geradoras de forma a minimizar a geração dos
resíduos, reaproveitar o resíduo e, só em último caso, tratá-lo e dispô-lo de maneira
segura (CICHOCKI, 2005).
A ação de prevenir e de controlar a poluição nos processos industriais,
estrutura-se nos conceitos de redução, reutilização e reciclagem de materiais, o que
leva a benefícios como: diminuição dos desperdícios de produtos e de matéria
prima; economia de insumos (água, energia elétrica, combustíveis e outros);
otimização no uso de produtos químicos; redução do volume de despejos; menores
riscos de infrações e multas; aumento de produtividade; dentre outros. Todos esses
ganhos fazem com que a empresa reduza, principalmente, os custos de implantação
da estação de tratamento de efluentes (ETE), além da melhoria da imagem da
empresa com conseqüente aumento da competitividade, (MACHADO et al., 2002 e
PEREIRA e TOCCHETO, 2005b).
A agroindústria tem buscado novas tecnologias, principalmente visando o
aproveitamento de resíduos e implementando sistemas de reuso de água. A
aplicação de técnicas de gestão aliada às ferramentas e filosofias atuais como a
"emissão zero" (PAULI - 1996), "tecnologia limpa" (CNTL-1998) e sua versão
"tecnologia mais limpa" (AMUNDSEN - 1999), "APPCC/HACCP - Análise de Perigos
e Pontos Críticos de Controle" (SENAI - 1998) e (GARCÌA - 1998), e "Boas Práticas
de Fabricação" (JORDANO - 1997), tem propiciado consideráveis melhorias na
redução da emissão de resíduos nas indústrias de alimentos. Esta redução está
limitada em parte às necessidades de higienização na indústria (ANDRADE &
MACEDO, 1996). Apesar das tecnologias disponíveis ainda é elevado o despejo de
resíduos, principalmente utilizando a água como veículo, em função do elevado
consumo nas diferentes etapas de higienização.
17
Este problema pode ser mais bem equacionado pelo pleno conhecimento do
processo tecnológico adotado e das diferentes formas e tecnologias de tratamento
dos efluentes (SILVEIRA, 1999).
Segundo SILVA (2006), apesar da maioria das empresas da agroindústria já
aplicarem algum programa de reciclagem/reuso ou recuperação de subprodutos e
preocuparem em reduzir o consumo de água, o conhecimento e aplicação dos
princípios e ferramentas do sistema de gestão ambiental ainda são muito pouco
explorados. Isso pode ser um reflexo da falta de transferência de conhecimentos dos
centros de pesquisa para o mercado e a dificuldade de conscientização e
treinamento de uma mão de obra pouco qualificada, além da falta de divulgação dos
benefícios que o controle preventivo da geração de resíduos pode trazer para a
empresa e sociedade de um modo geral.
4.4- Etapas para implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) na
Agroindústria
A seguir são descritas as etapas que deverão ser seguidas para implantação
de um SGA na agroindústria, segundo manual proposto por SILVA (2006). Esse
manual foi desenvolvido a partir de uma adaptação do Guia de Prevenção à
Poluição desenvolvido pela EPA (2001) e CETESB (2006).
Etapa 1: Comprometimento da direção da empresa
A empresa que pretende implantar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA)
em seus processos produtivos deve ter como premissa básica o comprometimento
da direção da empresa com o princípio preconizado por este programa.
Este comprometimento contribui de forma significativa para o envolvimento do
corpo funcional, gerando o entusiasmo necessário para o desenvolvimento do
programa, devendo ser estabelecido por meio de uma Declaração Formal das
Intenções da direção da empresa.
A Declaração de Intenções tem por objetivo apresentar formalmente a
aceitação e o comprometimento, por parte da direção da empresa, na
implementação do Sistema de Gestão Ambiental em seus processos/atividades. Os
objetivos e as prioridades gerais do programa devem estar inseridos nesta
18
declaração, a qual deverá ser divulgada a todos os interessados, ou seja,
funcionários, fornecedores e clientes. Um exemplo de Declaração de Intenções é
apresentado na Figura 2.
DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES
Na [..nome da empresa...], a proteção do meio ambiente está sendo priorizada por
meio da implantação do Sistema de Gestão Ambiental.
Esta empresa se compromete a reduzir ou eliminar o uso de substâncias tóxicas, a
emissão de poluentes e a geração de todos os tipos de resíduos, principalmente os
perigosos e reduzir o consumo de água.
Nós nos comprometemos em minimizar qualquer impacto indesejável no ar, água e
solo, mesmo quando o uso de substâncias tóxicas, a geração de resíduos sólidos ou a
emissão de poluentes tóxicos não puderem ser evitados.
Direção da Empresa
Figura 2: Exemplo de Declaração de Intenções.
Etapa 2: Definição de uma equipe para implementação do SGA
Nessa etapa deve ser definida a equipe que irá fazer o estudo da situação
ambiental da empresa e posteriormente a implantação do SGA. Essa equipe deve
ser formada por pessoas de diferentes setores da empresa, uma vez, que a troca de
experiências e a integração dos funcionários será fundamental para o planejamento
e implantação das medidas. É importante a presença de pelo menos um técnico que
tenha bom conhecimento dos processos produtivos.
O número de pessoas que deverá integrar a equipe vai depender do tamanho
e da estrutura da empresa. A participação de pessoal externo (consultores,
fornecedores, etc.) poderá complementar a equipe, suprindo-a de eventuais
deficiências técnicas.
A escolha de um líder é fundamental para o bom andamento dos trabalhos,
pois dele dependerá a coordenação e, para tanto, é interessante que o líder esteja
familiarizado com todos os aspectos operacionais da indústria e possua fácil acesso
a todos os níveis hierárquicos da empresa.
Como incentivo às participações voluntárias, sugere-se que as idéias
recebidas sejam divulgadas em um boletim interno, ou de alguma outra forma que
19
se julgue mais adequada, nomeando os seus autores e oferecendo algum tipo de
recompensa para as melhores idéias.
Etapa 3: Levantamento da situação ambiental da empresa
Nessa etapa deve ser feito um estudo detalhado de cada linha de
processamento identificando todos os pontos que geram resíduos e todas as
atividades consumidoras de água e vapor. O primeiro passo dessa etapa é montar
um fluxograma completo do processamento de cada produto. Posteriormente, com
esse fluxograma em mãos, observar cada linha de processamento durante o seu
funcionamento identificando e descrevendo os seguintes itens: pontos de geração
de resíduos; tipo de resíduos gerados em cada ponto e quantidade; e as atividades
que consomem água e quantidade consumida.
As atividades que consomem água devem ser identificadas e detalhadas.
Exemplo: Higienização dos equipamentos após a produção. Os procedimentos de
higienização dos equipamentos devem ser descritos detalhadamente, constituindo
os chamados Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO). Esses
procedimentos são uns dos requisitos do controle de qualidade e garantem que essa
atividade será realizada sempre da mesma forma independente do funcionário que
está executando. Isso evita falhas e reduz o consumo de água e outros insumos e
conseqüentemente reduz a geração de resíduos.
Os próprios funcionários, de cada setor, devem descrever de forma
detalhada, os procedimentos usados na higienização dos equipamentos, criando
assim um ambiente de participação e envolvendo todos com o programa.
Exemplo do estudo de uma linha
Na Figura 3 está apresentado um exemplo de fluxograma de produção de
iogurte com um modelo de como identificar os pontos de geração de resíduo e
consumo de água e descrição das atividades responsável pela geração de resíduos
e consumo de água.
20
Etapas de produção
Estocagem do leite cru
Padronização
Adição de
açúcar
Pontos de geração de resíduos
Limpeza e higienização dos
tanques de armazenamento
Limpeza e higienização de
equipamentos
Aquecimento até 90º C
Limpeza e higienização do
pasteurizador
Homogeneização
Limpeza e higienização de
equipamentos
Tratamento térmico no
tanque de fermentação
(85ºC/30 min)
Descarte do condensado
Resfriamento (43ºC)
Possibilidade de descarte de
água de resfriamento
Inóculo de 1%
de cultura lática
Coagulação
Quebra de massa
Adição de polpa de fruta,
aroma e corante
Envase/acondicionamento
Limpeza e higienização dos
tanques de fermentação e
mistura, descarte de embalagens
Perda de embalagens e produto
e limpeza e higienização de
máquinas de envase
Figura 3: Exemplo de um fluxograma de produção de iogurte com os principais pontos de geração de
resíduos
Etapa 4: Quantificação de alguns parâmetros e definição dos indicadores de
desempenho
A quantificação do volume de água consumido, do volume de efluente gerado
e da quantidade de resíduos sólidos produzida é uma forma concreta de avaliar a
situação ambiental da empresa. Esses dados serão muito importantes na etapa de
definição dos objetivos e metas do programa. O ideal seria quantificar o volume de
água consumido e o volume de efluente gerado por linha de processamento, mas
21
isso nem sempre será possível. Diante disso, sugere-se que seja determinado o
volume total de água consumido no laticínios em um dia de processamento. Para
isso é necessário a instalação de um hidrômetro na entrada de água da fábrica. O
volume do efluente global gerado na fábrica durante um dia de processamento pode
ser considerado igual ao volume de água consumido.
A quantificação dos resíduos sólidos gerados na fábrica deve ser feita por
linha de processamento. Esses resíduos são provenientes principalmente de perdas
de matéria prima, insumos, produto acabado e embalagens.
Outros parâmetros também devem ser levantados, tais como: número de
falhas nos equipamentos, quantidade de produtos devolvidos, consumo de energia,
entre outros. Após o levantamento desses dados deve-se definir os indicadores de
desempenho tais como: litro de água consumido/litro de leite processado, litro de
efluente gerado/litro de leite processado, número de embalagens perdidas/litro de
leite recebido. Exemplo: Após o levantamento dos dados em uma linha de produção
de iogurte foi identificado um consumo médio diário de água de 10.000 L para
processar 2.000L de leite. Dessa forma o coeficiente específico de consumo de água
na linha de iogurte é 5,0 L de água/L de leite processado.
Etapa 5: Análise dos dados levantados e definição das ações corretivas
Nessa etapa a equipe deve reunir e discutir as ações para reduzir a geração
de resíduos e o consumo de água em cada ponto identificado. Uma maneira de
direcionar os esforços para encontrar ações que realmente vão trazer grandes
benefícios é identificar os chamados pontos críticos. Devem ser considerados
pontos críticos aqueles pontos onde há grande consumo de água ou grande geração
de resíduos (volume elevado ou alta carga poluidora) e que ações simples e de
baixo custo serão eficientes para prevenir. Após essa discussão deve-se montar um
quadro contendo os seguintes itens: linha de processamento analisada, pontos
críticos, tipos de resíduos gerados em cada ponto crítico, atividades realizadas em
cada ponto crítico e as possíveis ações corretivas. Esse quadro deve conter um
balanço de todas as linhas de processamento estudadas. No Quadro 7 está
representado um modelo que pode ser seguido.
22
Quadro 7- Modelo para organizar as informações levantadas nas linha de
processamento
Linha de
produção
Pontos críticos
Leite
- Higienização dos
equipamentos
(tanques de
estocagem,
tubulações e
caminhões)
Doce leite
- Higienização dos
equipamentos e
utensílios;
- Descarte do
condensado e água
de resfriamento
- Lavagem dos
tachos após cada
batelada
- Tanque de iodo e
tanque de
esterilização;
Tipos de
resíduos
gerados
Leite e
resíduos de
detergente e
soda
Leite,
gordura,
doce de
leite,
detergente,
ácido nítrico
e solução
de iodo.
Atividades nos pontos
críticos
-Desperdício de água
(mangueira aberta sem
uso)
-Falta de padronização
dos procedimentos
-Processamento:
Incrustação de doce no
fundo do tacho;
- Higienização geral do
setor: Falta de
padronização dos
procedimentos;
- Descarte do
condensado e água de
resfriamento
Ações corretivas
-Padronização dos
procedimentos de limpeza,
treinamento e conscientização
dos funcionários;
- Adaptação de válvulas na
ponta das mangueiras.
- Adaptação de uma borracha
nos agitadores de cada tacho
evitando incrustações (queima
do doce)
- Coleta em separado dos
resíduos grosseiros e
destinação para os resíduos
sólidos
- Reuso da água de
resfriamento e condensado
- Treinamento e
conscientização dos
funcionários.
Etapa 6: Implementação das ações propostas
Após o levantamento dos dados que caracterizam a situação ambiental da
empresa e a definição das ações corretivas deve-se iniciar a implantação das
medidas de caráter urgente. Mas antes disso é necessário definir os objetivos e as
metas e estabelecer um prazo determinado para alcançá-los. Na Figura 4 está
representado um modelo de como definir os objetivos e metas.
Objetivos
Metas
Otimizar o consumo de água do Redução de 20% do consumo no prazo de 1 ano
laticínios
Reduzir a perda de embalagens Redução de 50% das perdas de embalagens no prazo de 1 ano
Reduzir o consumo de produtos Redução de 30% no uso de produtos químicos no prazo de 2
químicos
anos
Figura 4: Exemplo de definição de objetivos e metas
É muito importante deixar os objetivos e metas bem claros e possíveis de
serem atingidos, de forma que no final da implementação de todas as medidas se
possa verificar se houve sucesso.
A etapa de implementação das medidas deve iniciar com o treinamento e a
conscientização dos funcionários em relação às boas práticas ambientais. O
23
trabalho de conscientização dos funcionários pode ser feito por meio de palestras,
abordando a importância, necessidades e vantagens de fazer o controle preventivo
da geração de resíduos e redução do consumo de água. Já o treinamento deve ser
direcionado de acordo com as atividades que cada funcionário desempenha na
fábrica. Exemplo: devem ser criado os PPHO’S (Procedimentos Padrões de Higiene
Operacional) e os funcionários devem ser treinados para executar corretamente as
tarefas descritas nos PPHO’S.
Etapa 7: Avaliação do programa
Esta etapa tem como objetivo verificar os benefícios e ganhos, do ponto de
vista ambiental e econômico, advindos da implantação do programa de
gerenciamento ambiental, assim como, avaliar os problemas e barreiras encontrados
durante a sua implementação. Recomenda-se que a avaliação do programa de
gerenciamento ambiental seja realizada periodicamente, a fim de solucionar
possíveis problemas e evitar o surgimento das mesmas falhas.
A avaliação dos resultados é realizada a partir da comparação dos
indicadores de desempenho definidos e medidos na etapa 3 (antes da
implementação das medidas), e que devem ser medidos novamente após a
implantação das medidas do programa de gerenciamento ambiental. De posse
destes dados, será possível quantificar os ganhos decorrentes da implementação do
programa, como por exemplo:
- redução das perdas de matéria prima e produto acabado;
- redução do consumo de água;
- redução dos custos relativos ao tratamento e disposição de poluentes;
- rendimentos obtidos em projetos de reciclagem;
- redução dos problemas ambientais;
- aumento da produtividade, dentre outros.
Além dos ganhos quantificáveis, existem outros benefícios indiretos que
deverão ser avaliados e registrados pela equipe do programa de gestão ambiental,
tais como: a melhoria do relacionamento com a vizinhança local e com o órgão
ambiental, o aumento da conscientização ambiental dos funcionários, etc.
24
Etapa 8: Manutenção do programa
A chave para a manutenção de um programa de gestão ambiental, que
permitirá a sua sustentabilidade dentro da empresa, é a conscientização e a
participação dos funcionários, em todos os níveis, incluindo a direção da empresa.
É importante que a empresa faça uma declaração de comprometimento com
o aprimoramento e melhoria contínua do programa. Na Figura 5 está representado
um exemplo dessa declaração de comprometimento com a melhoria contínua.
Nós da [...nome da empresa..] reduzimos 25% do consumo de água em nossas instalações
atingindo com sucesso a meta estabelecida no início do programa.
Dando continuidade ao programa nos comprometemos em estabelecer uma meta mais
restritiva buscando uma redução total de 35% para este ano.
Figura 5: Exemplo de declaração de comprometimento com a melhoria contínua.
O aprimoramento contínuo permitirá que a empresa se mantenha sempre
atualizada com as inovações tecnológicas e as alterações da legislação ambiental,
além de promover a melhoria da eficiência nos seus processos produtivos e
assegurar o envolvimento de todo o corpo funcional e das partes interessadas no
programa. Ao concluir um projeto com sucesso, o programa deverá ser reiniciado
através do estabelecimento de novos objetivos e metas. Na eventualidade do
programa não alcançar os resultados esperados, a equipe de implementação deverá
reavaliar todas as etapas que fazem parte do programa, identificar as causas do
insucesso, propor medidas corretivas e reiniciar o programa.
5.0- Redução do consumo e reuso de água na agroindústria
A limitação de reservas de água doce no planeta, o aumento da demanda de
água para atender, principalmente, o consumo humano, agrícola e industrial, a
prioridade de utilização dos recursos hídricos disponíveis para abastecimento
público e as restrições que vêm sendo impostas em relação ao lançamento de
efluentes no meio ambiente, tem aumentado a pressão pelo uso eficiente da água.
Nesse contexto torna-se inevitável a adoção de estratégias que visem racionalizar a
utilização dos recursos hídricos e reduzir os impactos negativos relativos à geração
de efluentes pelas indústrias, (FIESP/CIESP, 2008).
25
A pressão sobre o uso da água só tende a aumentar, o que vai lhe conferir
valor econômico, como já implantado em algumas regiões, e aumento das restrições
com relação ao lançamento de efluentes (POHLMANN, 2004).
Práticas preventivas, como o uso eficiente e o reuso d’água, constituem uma
maneira inteligente de se poder ampliar o número de usuários de um sistema de
abastecimento, sem a necessidade de grandes investimentos na ampliação ou na
instalação de novos sistemas de abastecimento de água, (FIESP/CIESP, 2008)
O foco das modernas práticas de gerenciamento é a minimização da carga
poluidora e redução do consumo de água na linha de processamento. Um controle
preventivo da geração de resíduos (JOHNS, 1995).
Na indústria de alimentos e em especial na área de laticínios, as técnicas e
procedimentos usados durante a limpeza podem influenciar muito o consumo de
água na planta e a carga poluente total dos resíduos gerados. A padronização dos
procedimentos de higienização, a conscientização dos funcionários e uma limpeza a
seco dos equipamentos e piso para remoção dos resíduos grosseiros, antes da
lavagem, reduzem significativamente o consumo de água e a carga poluente do
efluente (MACHADO et al., 2002).
Uma avaliação constante do processo de produção ajuda a reduzir as perdas
de água e a identificar onde é possível fazer reciclagem. Estas são ações que
devem sempre ser consideradas em empresas que buscam a excelência na área
ambiental (POHLMANN, 2004).
Existem dois tipos de ação para redução e controle do consumo de água:
ações de gerenciamento e ações de engenharia de processo. As ações de
gerenciamento são iniciativas que, normalmente, não implicam custos adicionais
significativos. Já as ações de engenharia dizem respeito à aplicação de técnicas de
engenharia voltadas aos processos industriais, que podem exigir investimentos
maiores como automação e troca de equipamentos, (MACHADO et al., 2002).
Estudos realizados por CARAWAN e PILKINGTON (1986), em uma planta de
processamento de carne mostraram que medidas simples como treinamento de
funcionários, substituição de equipamentos de limpeza, uso de sprays e válvulas
automáticas e mudanças nos processos reduziram significativamente o consumo de
água e a carga poluidora. A redução no consumo de água foi em torno de 30%.
26
Outro aspecto que tem despertado interesse é o reuso da água. Essa é uma
das alternativas que também merece destaque e está sendo cada vez mais
empregada pelas indústrias. Para análise da implantação do reuso de efluentes na
indústria, há duas alternativas a serem consideradas. A primeira refere-se ao reuso
de água proveniente de efluentes tratados em estações administradas por
concessionárias ou outras indústrias. A segunda, mais comum, é o reuso de
efluentes tratados ou não, provenientes de atividades realizadas na própria indústria.
Dentro da segunda alternativa, uma prática que tem apresentado bons resultados é
o reuso de efluentes em cascata. Nesse caso, o efluente originado em um processo
industrial é diretamente utilizado em um processo subseqüente (FIESP/CIESP,
2008).
O desafio é identificar as possibilidades de reuso de acordo com a realidade
de cada indústria, e encontrar o tipo de tratamento necessário para transformar um
efluente antes descartado em água de reuso. Segundo POHLMANN (2004), existem
algumas características desejáveis da água de reuso para qualquer finalidade e que
podem ser obtidos com alternativas e custos variáveis. Essas características são:
baixa carga orgânica, baixo teor de sólidos totais (suspensos + dissolvidos), baixa
contagem de microrganismos e livre de odores.
Muitos projetos estão sendo implantados em abatedouros com a finalidade de
reuso da água, em áreas que não necessitam de água potável. A maioria envolve
um tratamento prévio da água antes do seu reuso (JOHNS, 1995).
A indústria que deseja fazer o reuso do seu efluente deve planejar o sistema
de tratamento de efluentes de forma a reduzir a necessidade de um tratamento
complementar (POHLMANN 2004).
SILVA (2006), com base em um estudo realizado em uma indústria de
laticínios sobre consumo de água e geração de efluentes líquidos, relatou que as
linhas de doce de leite e iogurte foram as que apresentaram o maior consumo de
água. No entanto, foi observado também que havia um grande potencial de redução
do consumo de água, e conseqüentemente, do volume de efluente gerado nessas
linhas como apresentado nos Quadros 8 e 9.
Nesse mesmo trabalho o autor agrupou as principais atividades consumidoras
de água em função das características do efluente gerado e o seu destino
27
recomendado, permitindo assim, visualizar melhor o potencial de redução do
consumo de água nas linhas de produção de iogurte e doce de leite. Esses dados
estão apresentados no Quadro 8 (linha de produção de iogurte) e no Quadro 9 (linha
de produção de doce de leite).
Nesse estudo SILVA (2006), concluiu que as atividades de limpeza e
higienização dos equipamentos, logo após a produção, são as principais
responsáveis pela geração de efluente com elevada carga poluidora (maiores
valores de demanda química de oxigênio-DQO). No entanto, algumas atividades
como o descarte do condensado e água de resfriamento e enxágüe da solução
alcalina, geram um efluente com baixa carga poluidora, sugerindo a possibilidade de
reuso desse efluente. Para finalizar, o autor chama atenção do desperdício de água
que ocorre nas duas linhas de produção, sugerindo a necessidade de
conscientização e treinamento dos funcionários.
Segundo SILVA (2006), os dados obtidos no seu estudo, Quadros 8 e 9,
confirmam que existe um grande potencial de redução do consumo de água nas
linhas de produção de iogurte e doce de leite. Além disso, o autor sugeriu que para
obter essa redução deve ser desenvolvido e implantado um programa focalizando
dois pontos básicos:
•
Treinamento e conscientização dos funcionários para reduzir o desperdício
que correspondia a 31,44 % do volume de água consumido na linha de produção de
iogurte e 12,4 % na linha de produção de doce de leite; e
•
Implantação de sistemas de reuso de água, o que corresponde a uma prática
cada vez mais comum nas indústrias de alimentos. No caso da linha de produção de
doce de leite uma possibilidade seria o retorno do condensado para a caldeira e a
recirculação da água de resfriamento do doce. Esse procedimento reduziria em 58%
o consumo de água dessa linha. É importante ressaltar que antes de retornar o
condensado para a caldeira é necessário verificar se essa água atende aos
parâmetros de pH e dureza recomendados para a água de caldeira. O retorno do
condensado para a caldeira permitirá uma redução do custo operacional da caldeira,
uma vez que o condensado retorna já aquecido reduzindo assim, o consumo da
fonte de combustível e também o consumo de água.
28
Quadro 8- Consumo médio diário de água e DQO do efluente gerado nas diferentes
atividades da linha de processamento, para produção de 2.000 L de iogurte, e
destino recomendado para cada fração do efluente.
Percentual
Destino
Atividades de consumo de Volume
DQO do efluente
do total
recomenágua
água (L)
gerado (mg O2/L)
diário(%)
dado
1º Enxágüe dos
691,6
6,71
10.469
ETE
equipamentos**
Limpeza manual e 2º
2320,1
22,52
654,8
ETE
Enxágüe dos equipamentos
Água do condensado e
1641,9
15,94
< 100
Reuso
resfriamento
Solução de soda
1597,4
15,51
551,7
ETE
Enxágüe da solução de
812,0
7,88
222,8
Reuso
soda
Desperdício*
3238,6
31,44
< 100
Prevenção
Consumo diário total
10301,6
100,00
Potencial de redução
5648,0
54,82
* Qualquer consumo de água desnecessário, como por exemplo, a mangueira aberta sem uso\ **
Limpeza dos equipamentos, logo após a produção, para remoção dos resíduos grosseiros.
Fonte: SILVA et. al, 2006
Quadro 9 – Consumo médio diário de água e DQO do efluente gerado nas diferentes
atividades da linha de processamento, para produção de 1900 kg de doce de leite, e
destino recomendado para cada fração do efluente.
Percentual
Destino
DQO do efluente
Atividades de
Volume
do total
recomenconsumo de água
água (L)
gerado (mg O2/L)
diário(%)
dado
Limpeza inicial
155
0,89
<100
Reuso
Limpeza pós-batelada
595
3,40
>100
ETE
Limpeza Final
4395
25,31
6.660
ETE
Água do condensado e
10064
58,00
<100
Reuso
resfriamento
Desperdício*
2155
12,40
<100
Prevenção
Consumo diário total
17364
100,00
Potencial de redução
12374
71,26
Fonte: SILVA et. al., 2006
Segundo SILVA (2006), o desperdício de água e a falta de padronização dos
procedimentos de higienização são pontos críticos em todas as linhas de
processamento das micro e pequenas indústrias de laticínios. Isto é um reflexo
direto da falta de treinamento e conscientização dos funcionários no que se refere às
boas práticas ambientais. A aplicação de ações simples de gerenciamento ou de
engenharia que apresentam um baixo custo de implementação são suficientes para
29
solucionar esse problema. Isso mostra que existe um potencial muito grande de
redução do consumo de água e geração de efluentes apenas com a implementação
de ações preventivas.
5.1- Programa de Conservação e Reuso de Água (PCRA)
Um Programa de Conservação e Reuso de Água (PCRA) é composto por um
conjunto de ações específicas de racionalização do uso da água na unidade
industrial, que devem ser detalhadas a partir da realização de uma análise de
demanda e oferta de água, em função dos usuários e atividades consumidoras, com
base na viabilidade técnica e econômica de implantação das mesmas.
5.2- Etapas de Desenvolvimento de um PCRA
Para a obtenção dos máximos benefícios, um PCRA deve ser implementado
a partir de uma análise sistêmica das atividades onde a água é utilizada e naquelas
onde ocorre a geração de efluentes, com intuito de otimizar o consumo e minimizar a
geração de efluentes. As ações devem seguir uma seqüência lógica, com atuação
inicial na demanda de água e, em seguida, na oferta, destacando-se a avaliação do
potencial de reuso de efluentes em substituição às fontes tradicionais de
abastecimento.
A implantação de um PCRA requer o conhecimento pleno do uso da água
(quantitativo e qualitativo) em todas as edificações, áreas externas e processos, de
maneira a identificar os maiores consumidores e as melhores ações de caráter
tecnológico a serem realizadas, bem como os mecanismos de controle que serão
incorporados ao sistema de gestão da água estabelecido.
Após a avaliação e implantação das ações que compõem o PCRA, deverá ser
implementado um sistema de gestão permanente, para garantia de manutenção dos
índices de consumo obtidos e da qualidade da água fornecida. Esta tarefa requer um
gestor de água, responsável pelo monitoramento contínuo do consumo e pelo
gerenciamento das ações de manutenção preventiva e corretiva ao longo do tempo.
De
forma
bastante
resumida
são
descritas
algumas
etapas
para
implementação do PCRA na indústria de laticínios, segundo adaptação feita ao
Manual de Conservação e Reuso de Água para a Indústria (FIESP/CIESP, 2008).
30
5.2.1- Etapa 1: Avaliação Técnica Preliminar
Esta etapa consiste no levantamento de todos os dados e informações que
envolvam o uso da água na indústria, objetivando o pleno conhecimento sobre a
condição atual de sua utilização. No Quadro 10 estão apresentadas as principais
atividades e exemplos de como fazer essa avaliação técnica preliminar.
Quadro10. Principais atividades e exemplos da etapa de avaliação técnica preliminar
Atividades
Exemplos
- Leituras de hidrômetros;
Análise documental: levantamento dos
- Contas de água e energia (24 meses);
documentos existentes para o início de
- Planilhas de custos e quantidades utilizadas de produtos químicos;
entendimento do uso da água na indústria.
- Manuais de operação e rotinas operacionais
- Identificar todos os equipamentos, processos e atividades que usam
Levantamento de Campo: nessa atividade verifica- água como, por exemplo, torres de resfriamento, caldeiras, reatores,
se na prática a realidade e rotina das diversas
tanques de produtos e reagentes;
atividades consumidoras de água na indústria,
- Medir a pressão utilizada no sistema hidráulico;
muitas delas envolvendo apenas sistemas e
- Montar um plano de setorização contendo os pontos a serem
equipamentos e outras relacionadas diretamente
monitorados.
ao comportamento dos operadores.
- Fazer um estudo detalhado das linhas de produção, identificando todos
os pontos de consumo de água e geração de efluentes;
5.2.2- Etapa 2: Avaliação da Demanda de Água
Nesta etapa é feita a identificação das diversas demandas para avaliação do
consumo de água atual e das intervenções necessárias para eliminação e/ou
redução de perdas, racionalização do consumo e minimização de efluentes. No
Quadro 11 são apresentadas as principais atividades que devem ser desenvolvidas
na etapa 2.
Quadro 11. Principais atividades e exemplos da etapa de avaliação da demanda de
água
Atividade
Análise de Perdas
Físicas e desperdício
Identificação dos
diferentes níveis de
qualidade de água
Exemplos
Medidas
- Vazamentos: quando há fuga de água no
- Fazer manutenção preventiva e corretiva nos
sistema. Ex: tubulações, reservatórios e
equipamentos;
equipamentos.
- Padronizar todos os processos;
- Falta de padronização de todos os processos
- Treinamento e conscientização de
que utilizam água
funcionários.
- Água Industrial;
- Implantar sistemas de reuso de água tais como
- Água de caldeira;
reuso do condensado.
- Água de reuso;
- Reuso de água de enxágüe da soda;
- Águas pluviais.
Captação de águas pluviais.
31
5.2.3- Etapa 3: Avaliação da Oferta de Água
Nesta etapa é feita a identificação da oferta de água montando um plano de
aplicação de fontes alternativas de água especificando e detalhando esse sistema e
suas componentes, custos e expectativas de economia. No Quadro 12 está
apresentado um modelo de como avaliar a oferta de água.
Quadro 12. Avaliação da Oferta de Água, fontes alternativas e possibilidades de uso
Fontes de água
Forma de tratamento
Possibilidade de uso
Rede pública
Convencional
- Limpeza de equipamentos e ambiente de processamento;
(concessionárias)
(já tratada)
- Água da caldeira.
Convencional
Captação direta de
mananciais
- Limpeza de equipamentos e ambiente de processamento;
- Água da caldeira.
- Água de resfriamento;
Simples ou nenhum
- Limpeza de áreas externas;
- Rega de jardins;
Convencional ou simples
Água subterrânea
(Poços artesianos)
- Limpeza de equipamentos e ambiente de processamento;
- Água da caldeira.
- Água de resfriamento;
Nenhum
- Limpeza de áreas externas;
- Rega de jardins;
Específico
Águas pluviais
- Limpeza de equipamentos e ambiente de processamento;
- Água da caldeira.
- Água de resfriamento;
Simples ou nenhum
- Limpeza de áreas externas;
- Rega de jardins;
- Reuso em cascata: O efluente originado em um processo industrial é
diretamente utilizado em um processo subseqüente. Exemplo: Água de
Nenhum
enxágüe da soda é utilizada no enxágüe dos equipamentos logo após a
produção.
- Aplicação em sistemas de fertirrigação;
Reuso de efluentes
Tratado (Tratamento feito
- Limpeza de áreas externas;
na ETE)
- Rega de jardins;
Tratamento complementar
- Água de resfriamento e caldeira;
- Limpeza de áreas externas;
Dentro da filosofia de minimização da demanda de água e da geração de
efluentes, é importante que seja priorizado o reuso em cascata, pois ao mesmo
tempo em que o consumo de água é minimizado o volume de efluente a ser tratado
é reduzido.
32
Cabe observar que, à medida que a demanda de água e a geração de
efluentes são reduzidas, pode ocorrer uma elevação na concentração de
contaminantes no efluente remanescente, uma vez que a carga de contaminantes
pode não se alterar na mesma proporção do consumo de água. Isto implica que
opção pelo reuso de efluentes tratados só poder ser analisada após avaliação e
implantação de todas as alternativas para a otimização do uso da água e
minimização de efluentes por meio do reuso em cascata.
5.2.4- Etapa 4: Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica
O estudo de viabilidade técnica e econômica deverá fornecer as informações
necessárias para a consolidação do programa de conservação e reuso de água e o
planejamento das ações de implantação do mesmo, com ênfase nos maiores
consumidores, bem como para a imediata geração de economias, com baixos
investimentos e períodos atrativos de retorno.
Para facilitar essa avaliação deve-se montar uma matriz de configurações
possíveis de atuação na demanda e na oferta e o investimento necessário para
implementação de cada medida. No Quadro 13 está representado um modelo dessa
matriz de configurações.
Quadro 13. Modelo de matriz de configuração para facilitar o estudo de viabilidade
técnica e econômica para implantação de um PCRA.
Medidas a serem implementadas
Possibilidade de redução do consumo de água
Investimento necessário
Alta
Baixo
Implantação de sistemas de reuso
Alta
Médio
Captação de águas pluviais
Alta
Médio
Variável
Alto
Treinamento e conscientização dos
funcionários
Substituição de equipamentos
5.2.5- Etapa 5: Detalhamento e Implantação do PCRA
Em função da configuração selecionada, das metas de redução estabelecidas
e da disponibilidade de investimento, são detalhadas as ações de gerenciamento e
de engenharia a serem implementadas. No Quadro 14 está representado um modelo
de como detalhar e definir as medidas a serem implementadas.
33
Quadro 14. Atividades, itens a serem abordados no detalhamento e implantação do
PCRA e exemplos
Atividades
Itens a serem abordados/Implantados
Detalhamento
das ações do
PCRA
Exemplos
Cronograma de implantação das atividades
Definir prazos para implementar as medidas.
Especificação do sistema de setorização para
Instalação de medidores e definição de coeficientes
monitoramento do consumo
de consumo de água por linha.
Especificação de sistemas, materiais e
Descrição de como será feito o procedimento de
equipamentos a serem instalados
reuso em cascata de determinado efluente.
Elaboração de procedimentos para as atividades
Elaboração dos Procedimentos Padrões de
consumidoras de água
Higienização Operacional (POPH)
Elaboração de procedimentos de manutenção e
- Elaboração de manuais de manutenção e operação
operação dos sistemas e equipamentos
de equipamentos;
- Manuais de Boas Práticas Ambientais
Implantação de ações imediatas
Correção de perdas físicas e desperdícios
Realizar permanentes ações de conscientização do Treinamento e conscientização dos funcionários
uso da água
Implantação do
Implantação de sistemas de reuso
PCRA
Reuso do condensado e água de resfriamento
- Adaptação de válvulas em mangueira facilitando o
Alterações simples em equipamentos e
fechamento
procedimentos
- Padronização de todas as atividades que usam
água
5.2.6- Etapa 6: Implantação do sistema de gestão de água
Após a implementação das ações de gerenciamento e engenharia para
redução do consumo de água, deve ser implantado o sistema de gestão da água
para monitoramento e manutenção dos indicadores de economia obtidos. Esse
sistema envolve duas áreas distintas: área técnica, responsável pelas ações de base
operacional e a área humana e social, responsável pelas ações de base educacional
e de base institucional.
No Quadro 15 estão apresentadas as áreas de atuação, ações e atividades
que devem ser implementadas.
34
Quadro 15. Área de atuação, ações e atividades de um sistema de gestão da água.
Área de
atuação
Ações
Atividades
- Aplicação de novas tecnologias e procedimentos para reduzir e manter o consumo
Técnica
Ações de base
operacional
de água;
- Elaboração e constante atualização de procedimentos específicos de uso racional
da água, incluindo sistemas de reuso;
- Monitoramento contínuo do consumo através de planilhas eletrônicas e gráficos;
Ações de base
Humana e
social
educacional
Ações de base
institucional
- Definição de um programa educacional para treinamento e conscientização dos
funcionários permitindo assim a implementação das medidas de redução e
manutenção do consumo de água;
- Estabelecimento de programa de incentivos (participação dos usuários nas
economias obtidas; bônus para usuários que detectarem perdas físicas ou
desperdícios dentro da indústria, entre outras);
É fundamental que a elaboração do PCRA esteja de acordo com as
legislações vigentes a nível municipal, estadual e federal.
6.0- CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Apesar da maioria das empresas da agroindústria já aplicarem algum programa
de reciclagem/reuso ou recuperação de subprodutos e preocuparem em reduzir o
consumo de água, o conhecimento e a aplicação dos princípios e ferramentas do
sistema de gestão ambiental ainda são pouco explorados;
• A falta de treinamento e conscientização dos funcionários no que se refere às
boas práticas ambientais ainda é uma realidade da agroindústria;
• O desperdício de água e a falta de padronização dos procedimentos de
higienização são pontos críticos na maioria das linhas de processamento das micro
e pequenas indústrias de laticínios;
• A aplicação de ações simples de gerenciamento ou de engenharia, de caráter
preventivo apresenta um grande potencial na redução do consumo de água e
geração de efluentes na agroindústria;
• Um das principais dificuldades das micro e pequenas empresas da agroindústria
para implementação de um Sistema de Gestão Ambiental - SGA é a falta de
conscientização e treinamento de uma mão de obra pouco qualificada, além da falta
de conscientização dos proprietários e gerência das empresas em relação aos
35
benefícios que o controle preventivo da geração de resíduos pode trazer para a
empresa e sociedade de um modo geral;
• Uma das formas de melhorar essa carência de informações da agroindústria em
relação às ferramentas, técnicas e tecnologias aplicadas para o controle preventivo
da geração e reuso/reciclagem dos resíduos é preparar e oferecer cursos, palestras
e cartilhas para treinamento e conscientização dos colaboradores e gerência da
agroindústria. Além disso, deve-se criar mecanismos para acelerar a transferência
de conhecimentos e tecnologias desenvolvidas nos centros de pesquisas brasileiros,
que na maioria das vezes não se transformam em produtos ou serviços para
aplicação direta no mercado.
36
7.0- REFERÊNCIAS
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developement. Palestra no Prim. Congresso Internacional de Tecnologia
Limpa Aplicada ao Setor de Alimentos. Florianópolis, ago. 1999.
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CARAWAN, R. E., PILKINGTON, D. H. Reduction in Waste Load From a Meat
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39

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