Boletim do Búfalo - nº 2 - jul/2005
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Boletim do Búfalo - nº 2 - jul/2005
OPINIÕES DOS LEITORES A ABCB e a equipe do Boletim do Búfalo externam sua satisfação em veícular está segunda edição do Boletim do Bufalo, que se tornou possível pelo apoio de seus anunciantes e colaboradores. Desejamos ainda agradecer as manifestações recebidas dos seguintes leitores: Getulio Marcantonio - RS; Helcio Bueno Pereira da Cunha – SP; Roberto Botelho Cangussu – BA; Edgar Gerber – PR; Kátia L. Gonzalez S. Chamon – RJ; Pedro Silva de Oliveira – SP; Paulo Lobato de Mattos – PA; Paulo Bittencourt Hourneaux de Moura – SP; Fabrício Rodrigues Amaral – MG; Ruy Antonio Romagna – PR; José Atanásio Lemos Neto – MS; Edson de Souza Balieiro – SP; João Carlos Cavalcanti de Petribú Vilaça – PE; Deolino Pedro Bruschi – RS; Wilson Santa Catarina – SC; Lindolfo Felinto de Almeida Filho – RO; Adilson Mario Pinto Kruel – RS; Marcello Borsato – RS; Rivaldo Borba Monteiro – PE; Carla Campanha – SP; Orlando Gonçalves de Souza – MG; Esmeralda Theotoky de Feraldy – SP; Cláudio César Figueiredo Soares – BA; Pedro Paulo Assef Delgado – SP; Ruy Jenisch da Fonseca – RS; Rinaldo Fernandes – GO; Gerson Walter Kraemer – SC; Arlei Bichels – PR; Renato Ract Rocha – SP; Luiz Cláudio Surugi Guimarães – PR; Pedro Paulo Pamplona – PR; José Fernando Simplicio de Oliveira – SP; Vinicius Miranda das Dores – SP; Paulo Cleve do Bomfim – PR; Rodrigo Baraúna Pinheiro – AM; Tomaz Teixeira Malta – MG; Alfonso Siqueira D’ Império – TO; Celestino Goulart Filho – RS; Antonio Migliorini – MS e Rafael Vargas – PE. Os leitores Renato José Araújo – RO; Sergio Antonio Baludeto Parizzi – SP; Roberto Nascimento Oliveira – MS; Frederico Dias Batista – SP e Waldemar Blicheriene – SP, reclamaram contra os frigoríficos que impõe preços inferiores na compra de búfalos destinados ao abate. ( Nesta edição o Boletim do Búfalo, em matéria específica, procura abordar com profundidade esse importante tema ). Flavio Bolonhesi – SP, propõe que a difusão da bubalinocultura seja feita com sabedoria, dando ênfase às parcerias, tão essenciais ao agronegocio. Antonio José da Fonseca Pires – SP, sugere que sejam mais divulgadas receitas culinárias com derivados de búfalos, visando despertar maior interesse e valor aos mesmos. Maria Beatriz Braga Del Rey – RS, afirma existir pouca divulgação na mídia sobre búfalos, e que não há incentivo à criação nem aporte aos criadores. Pergunta o que está faltando, e quem é o omisso ? Antonio Migliorini – MS, baseando-se no fato de que uma imagem vale mais do que mil palavras, sugere que o Boletim do Búfalo seja enriquecido com gráficos e fotos que despertem interesse e atenção dos leitores. Sebastião Marcondes de Melo Lemos – MS, confessa ser grande admirador dos búfalos pela sua precocidade e marcante conversão alimentar. Ney Geraldo Lemos – MG, afirma ter decidido pela criação de búfalos, movido pelo baixo custo de manejo que a espécie exige. Alguns leitores também manifestaram um certo desagrado com a criação e composição da capa do Boletim do Búfalo nº 1, inclusive com relação ao logotipo que foi criado visando sintetizar as 4 raças bubalinas existentes no Brasil. Paulo Ponce de Leon Filho – PE, sugere que a ABCB passe a dar preferência ao termo “associado”, ao invés de “sócio”, uma vez que o termo “sócio”, é mais correto para integrantes de empresas formadas com finalidade de auferir lucros. Paulo Cleve do Bomfim – PR, relata as enormes dificuldades que vem enfrentando na sua fazenda localizada no município de Guaraqueçaba, “uma das últimas reservas de Mata Atlântica intocada do Paraná”: “De uma hora para outra, sem motivo específico, começaram a chegar pessoas oriundas de favelas próximas a Grande Curitiba, se intitulando “sem terras”, iniciando um acampamento na estrada de acesso à nossa propriedade e da área de nosso vizinho, Dr. Pedro Paulo Pamplona, que também é criador de búfalos. Logo começaram pequenos furtos e delitos. Um leitão desaparecido, um capão de palmito cortado na calada da noite, uma rede com malha criminosa no rio. Rapidamente evoluiu para roubo de búfalos, fechamento de estradas, proibição do trafego da linha regular de ônibus, de carros e de pessoas, furto de fios e cabos elétricos e até ameaças de morte. Depois veio a invasão ( 05/06/2004 ). Roubaram a fazenda. Destruíram casas e currais. Desmancharam as cercas. Não ficou nada inteiro. As matas viraram depósitos de toda sorte de armadilhas e os rios, almoxarifado de redes de pesca. Em um lugar de riquíssima fauna, hoje não se encontra um tatu, uma paca, um tucano. Nosso rio, um esteio de biodiversidade, onde gerações e mais gerações de nossos antepassados lutaram pela sua preservação, hoje não passa de um cemitério. Tudo morto. Dezenas e mais dezenas de caçadores e pescadores “sem terra“, se revezam criminosamente para dar cabo de tudo... Diuturnamente, uma barbárie ! Começamos a “via sacra“, a qual acreditamos, todo produtor rural esbulhado se obriga a fazer : Delegacia de Policia Civil, Polícia Militar, Polícia Florestal, Ibama, Instituto Ambiental do Paraná, Juiz e Promotora da Comarca, Secretaria de Segurança Pública, Incra, Gabinete Civil, Gabinete Militar, Procuradoria do Estado, Procuradoria do meio Ambiente e Governo do Estado. Pouco tempo depois veio o mandado de reintegração de posse, emitido pelo juízo da comarca de Antonina. O Conselho Deliberativo da APA, por unanimidade, deliberou que a referida área não é propicia para assentamentos humanos. Foi pedido reforço policial para dar segurança aos Oficiais de Justiça que iriam cumprir a ordem judicial. O Secretário de Segurança Pública do Estado do Paraná vem se negando a cumprir a ordem judicial, e não envia força policial requisitada judicialmente. Que fazer ?” * Esta seção sempre estará aberta a todos leitores que queiram se manifestar, externando suas opiniões, suas idéias, suas reivindicações. Afinal o Boletim é do búfalo, e ele é o objeto de nosso trabalho, e de nossa mesma torcida! Búfalos Sustentáveis Otavio Bernardes - SP É comum que medidas “heróicas” adotadas diante de certos extremismos acabem ocasionando posições extremas e apenas após muito tempo se imponha um equilíbrio menos apaixonado e mais racional garantindo uma convivência mais harmônica entre tais extremos. Assim ocorreu, por exemplo, nas relações de trabalho, passando-se de uma relação quase de escravagismo, para um controle total sobre quaisquer aspectos desta relação pela “Lei”, ou mesmo nas relações de consumo em que um dos lados é na atualidade legalmente um “vilão” até prova em contrário. Mais recentemente, quando a preocupação sobre a conservação ambiental se amplia, nota-se uma tendência muito grande na radicalização de idéias, criando-se por vezes conflitos artificiais entre produção e conservação (antes, preservação), nos confusos e incompletos regulamentos sobre a intervenção do homem no meio ambiente, com a criação de conceitos ainda pouco claros e universais tais como a tão propalada “sustentabilidade” que parece ter um sem número de definições. É crescente a idéia, em grupos muito bem organizados e influentes, apesar de nem sempre assim tão representativos, de que qualquer intervenção humana sobre o ambiente é deletéria e que sistemas de produção em escala são totalmente incompatíveis com a vida e sustentação da humanidade, e assim, toda ação deveria ser feita na direção de restaurar o ambiente a seu estado primitivo, com as chamadas espécies nativas, e preferencialmente, dali retirando o homem. Nesta época de “acomodações de idéias”, creio ser de importância que se busquem pontos da mesma forma que os contrapontos, sem o que, sairemos do campo da discussão para o campo unicamente da fé, o que certamente pouco contribui para a evolução. Acompanhamos a ocorrência da autorização do IBAMA para a “caça” de búfalos abandonados pelo governo no Vale do Guaporé muitos anos atrás e que, por sua melhor adaptação ao ambiente e falta de exploração econômica, passaram a se multiplicar e a competir com espécies nativas na busca de alimentos, em detrimento destas últimas. Tivemos a oferta de criadores do Pará de tentar a domesticação e transferência de parte destes animais para outras regiões onde poderiam ser base de sustentação de atividades economicamente relevantes. Confesso que não sei bem qual foi o desfecho (a não ser a criação de um grupo de estudo regiamente financiado pelo MMA). Uma coisa, porém é certa, o “estrago” na imagem da espécie que apareceu como uma “predadora” e inimiga do meio ambiente foi feito, e com grande publicidade. As contestações têm pouco apelo de mídia, e seu eco foi pouco difundido. Outro, é o caso da atuação da ONG denominada SPVS que, financiada por empresas petrolífera, automobilística e de energia americanas, entre outras, tem literalmente “comprado” fazendas no litoral do Paraná, algumas com criação de búfalos, uma atividade que vinha sendo incentivada pelo governo daquele Estado que entendia ser aquela uma opção para o desenvolvimento econômico e social da região, e que, após a aquisição, tem sido desativadas e os animais sacrificados sumariamente (a despeito de que poderiam ser transferidos para outras regiões, haja visto haver demanda para tanto), e busca a ONG regenerar a mata a seu estado natural. Há alguns programas paralelos visando “readaptar” a população local para que viva de maneira “sustentável” (ao menos para a natureza original, não sei se para a população que sempre ali viveu em condições precárias) através de uma atividade dita extrativista florestal, mas sem depredá-la como antes se fazia com o palmito e a lenha. A contrapartida dos financiadores será logicamente os tais “créditos de carbono” gerados, o que lhes permitirá continuar poluindo o pla- neta e sendo indiretamente proprietários de florestas brasileiras com direito até mesmo a prêmios internacionais de beneméritos do meio ambiente. Situações análogas têm sido vistas no Amapá, no Maranhão e no Amazonas, que, direta ou indiretamente vem arranhando a imagem da bubalinocultura enquanto atividade sustentável ambientalmente. Que a espécie é exótica no país, não se discute. Aliás, o maior mamífero “nativo” é a anta, o que significa que bovinos, muares, eqüinos etc. são todos exóticos. Da mesma forma o café, a soja, centenas de variedades de frutas e culturas também o são, o que absolutamente não significa que são incompatíveis com a natureza. Sua forma de exploração, esta sim, é que irá defini-la. Diante de um quadro como este, me parece bastante oportuno apresentar uma experiência realizada em Israel (disponível no site: http://www.migal.org.il/ lifeabs.html) sobre o projeto denominado PROJECT Nº: LIFE TCY/97/1L/O38 Restoration and Conservation of Fauna and Flora in the Re-Flooded Hula Wetland in Northern Israel. Naquele país havia uma várzea (Hula Valley) que foi drenada para uso em agricultura e erradicação da malária. Apesar de bastante fértil, seu uso intensivo acabou por promover uma deterioração do solo e comprometimento das águas do lago Kinneret, principal fonte de abastecimento de água de Israel, o que resultou, em 1994 na implementação de um projeto de recuperação da várzea a sua antiga condição. Dentre outras ações, foram re-introduzidos na área cervos, aves, espécies vegetais (algumas não nativas). Chama a atenção a observação de que, para controle de plantas invasoras, foram introduzidos búfalos na área (0,22 a 0,33 por hectare) que acabaram por induzir um vigoroso “stand” de pastagens, e estabilidade da vegetação, mostrando-se assim, na visão dos autores, bastante úteis na conservação ambiental daquelas várzeas. 3 COOPERBÚFALO COMPLETA 7 ANOS: A COOPERBÚFALO, Cooperativa Sul-Riograndense de Bubalinocultores, Industrial e Comercial Ltda., completa 7 anos de existência no ano de 2005, processando aproximadamente 130.000 litros de leite por ano e comercializando de 19 a 20.000 Kg de queijo 100% de búfalo no mesmo período. Foi fundada em Porto Alegre, RS, no ano de 1998, por 24 amigos e criadores de búfalos, atualmente conta com 37 membros . Hoje na parte do leite são 6 cooperativados, que trabalham entregando seus produtos, duas vezes por semana, em um laticínio terceirizado que fabrica os queijos, sendo estes colocados diretamente á venda em redes de supermercados, pizzarias, casas especializadas, etc. O próximo desafio é a colocação do queijo duro Livraria ABCB O Búfalo e Sua Rentabilidade Anais do 1º Simpósio Paulista de Bubalinocultura Bubalinos: Sanidade, reprodução e produção. Editores: Valquíria Hyppólito Barnabe, Humberto Tonhati, Pietro Sampaio Baruselli. Jaboticabal: FUNEP, 1999- 202 pg R$ 20,00 (sem postagem) Bufalando Sério Assumpção, Jonas Camargo de Ed. Guaíba- Agropecuária, 1996. 131 pg. R$ 20,00 ( sem postagem) Manual de Inseminação Artificial em Búfalos Autor: Prof. Dr. Pietro Sampaio Baruselli Prof. Associado Depto Reprodução Animal FMVZ USP – Ed. ABCB- São Paulo, 2002 - 33 pg. R$ 20,00 (sem postagem) O Búfalo no Brasil Editores: Gabriel Jorge Carneiro de Oliveira, Ana Maria Lima de Almeida e Urbano Antonio S. Filho -Simpósio Brasileiro de Bubalinocultura (1996: Cruz das Almas UFBA, Escola de Agronomia, 1997 . 236 pg. R$ 27,00 (sem postagem) O Búfalo Título Original: The water buffalo (em português) Autor : condensado de W. Cockrill, Health and Husbandry of Water Buffalo. Tradutor: ABCB. Ed. Ed. FAO (Roma, Itália). O Búfalo. Brasília: MARA/ São Paulo: ABCB - 1991 - 320 pg. R$ 20,00 (sem postagem) Base de Dados Bubalinos Brasília: FAO/MAPA/ ABCB, 1991. 184pg. tipo Parmesão no comércio que deverá ser lançado nos próximos meses. Todos os associados possuem ordenha mecânica e tanque de resfriamento, e fazem basicamente uma ordenha diária. FEDERACITE - ASCRIBU - Guaíba: Agropecuária, 1994; 91pg Bubalinos – Produção de Leite – 1987– 4pg Controle de Plantas Invasoras em Pastagens-1988 – 4pg Capineiras de Capim Elefante – 1988 – 4pg R$ 10,00 (sem postagem) R$ 5,00 (Sem Postagem) O Búfalo na Mesa - Receitas Munaretti, Noemea Ed. Guaíba: Agropecuária, 1995. 92 pg R$ 14,00 (sem postagem) O Manejo do Búfalo Associação Sulina de Criadores de Búfalos – ASCRIBU – 1987; 43pg – Ed. Lema: Búfalo + em tudo R$ 10,00 (sem postagem) Criação de Búfalos – Coleção Criar Coordenador: José Ribamar Felipe Marques – Zootecnista, MS.,Ph.D - Brasília: EMBRAPA-SPI; Belém: EMBRAPACPATU, 1998 - 141pg R$ 4,00 (Sem Postagem) Doenças em Búfalos no Brasil Diagnóstico, epidemiologia e controle Autor: Hugo Didonet Láu -Brasília: EMBRAPA – SPI; Belém: EMBRAPA – CPATU 1999 – 202 pg R$ 26,00 (Sem Postagem) Búfalos – Coleção 500 Perguntas – 500 Respostas - O produtor pergunta a EMBRAPA responde Editor Técnico: José Ribamar Felipe Marques EMBRAPA Amazônia Oriental (Belém – PA) – Brasília: EMBRAPA, 2000 – 176 pg. R$ 15,00 EMBRAPA– CPATU RECOMENDAÇÕES BÁSICAS Bubalinos – Manejo – 1988 – 4pg Bubalinos – Inseminação Artificial – 1992 – 4pg Mineralização de Bovinos e Bubalinos -1989 – 4pg Bubalinos – Manejo Sanitário – 1988 – 4pg Bubalinos – Produção de Carne – 1988 – 2pg EMBRAPA CPATU – BOLETINS DE PESQUISA -SÉRIE LEITE Estudo Comparativo da Composição Química do Leite de Zebuínos e Bubalinos - 1982 – 15pg Avaliação Microbiológica do Leite de Búfalas Sob Diferentes Práticas Higiênicas -1994 – 38pg Características Peculiaridades e Tecnologia do Leite de Búfala – 1991 – 51pg R$ 10,00 (Sem Postagem) EMBRAPA CPATU – BOLETINS DE PESQUISA SÉRIE PATOLOGIA Eficácia do Ivermectin no Controle do Piolho (Haematopinus tuberculatus) em Búfalos-1985 – 12pg Uso do Timbó Urucu (Derris urucu) no Controle do Piolho Haematopinus tuberculatus) em Bubalinos – 1986 – 16pg Perfil Hemático de Bezerros Búfalos Lactentes Naturalmente Parasitados pelo Neoascaris – 1985 – 10pg Ocorrência de Parafilaríase e Oncocercíase Cutânea em Búfalos (Bubalus bubalis) – 1987 – 14pg Sintomas e Tratamento da Tripanossomíase (T. vivax) em Búfalos - 1988 – 13pg R$ 10,00 (Sem Postagem) EMBRAPA CPATU – BOLETINS DE PESQUISA SÉRIE NUTRIÇÃO Variabilidade na Determinação da Qualidade da Dieta de Bubalinos em Pastagem de Brachiaria Humidicola 1992 – 19pg Aspectos Sobre a Desnutrição Mineral em Búfalos e Método de Tratamento- 1988 – 14pg R$ 5,00 (Sem Postagem) EMBRAPA CPATU – BOLETINS DE PESQUISA SÉRIE CARNE Composição Corporal de Búfalos R$ 7,00 (Sem Postagem) R$ 5,00 (sem postagem) 4 Como adquirí-las: Forma de Pagamento: Faça seu pedido através de e-mail [email protected] ou fone/ fax (11) 3673.4455, informando o endereço completo para postagem, em seguida iremos respondê-lo informando valor total das literaturas solicitadas já incluindo o valor da postagem. Depósito Bancário Banco do Brasil Associação Brasileira de Criadores de Búfalos Agência 1199-1 Conta Corrente 22021-3 ou através de Boleto Bancário acrescido de R$ 3,00 5 Reminiscências 45 anos da ABCB * Nossa ABCB está completando 45 anos de existência. Foi fundada em 21 de abril de 1960, por iniciativa do Dr. Paulo Joaquim Monteiro da Silva e do conhecido e respeitado zootecnista Alberto Alves Santiago, ambos com longa historia de serviços prestados à bubalinocultura nacional. Inicialmente denominava-se Associação dos Criadores de Búfalos do Brasil ACBB, vindo depois a se transformar em Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos – ABCB. A assembléia de sua fundação foi realizada no Salão Nobre do Parque da Água Branca, durante a realização da IV Exposição de Gado Indiano, aproveitando a presença no evento, de inúmeros e expressivos bubalinocultores de São Paulo, Minas e Paraná, destacando-se dentre eles os senhores Severo Gomes, Aldo Beretta, José Jacintho da Silva, Continentino Jacintho da Silva, Breno Lima Palma, Francisco Malzoni, Antonio M. Alves de Lima, Paulo Nogueira Neto, Nheco Gomes da Silva e Ian Sula . Também estavam presentes Dr. João Barrisson Villares e diversos outros técnicos do Departamento de Produção Animal, além dos organizadores do certame. A primeira diretoria da Associação dos Criadores de Búfalos do Brasil, foi assim constituída: Presidente: Aldo Beretta Vice-Presidente: Paulo Joaquim M. da Silva Diretores: Severo Gomes, Francisco Malzoni e Paulo Nogueira Neto Diretor Técnico: Alberto Alves Santiago * Fonte: Trabalho Histórico de Autoria do Dr. Alberto Alves Santiago. Importação de 1962 A última importação brasileira de búfalos indianos aconteceu em 1962, e revestiu-se da maior importância no desenvolvimento de nossa bubalinocultura. As participações do Dr. Alberto Alves Santiago (autor da narrativa abaixo) e da ABCB, inicialmente ACBB foram fundamentais para sua viabilização. “Em 1960 o selecionador Celso Garcia Cid, de Londrina – PR, conseguiu, a duras penas trazer da Índia, um lote de mais de uma centena de reprodutores e matrizes das raças zebuínas, contrariando e vencendo tenaz resistência dos burocratas do Ministério da Agricultura, que 6 desde 1921 proibiam terminantemente a importação de gado indiano. Esse fato animou criadores paulistas e mineiros a pleitearem junto ao Ministério da Agricultura, licença para uma nova importação. A solicitação feita pelos criadores Torres Homem Rodrigues da Cunha, Rubens de Andrade Carvalho (Rubico de Carvalho), Veríssimo da Costa Junior (Nenê Costa ), José Cesário de Castilho e mais uma vez, Celso Garcia Cid, encontrou grande oposição no Ministério da Agricultura. Por fim, pressionado politicamente, o Ministro nomeou uma comissão constituída de técnicos de expressão que representavam os Estados de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco, além de diretores e técnicos da Associação dos Criadores de Zebu. Coube-nos representar a Secretaria da Agricultura de São Paulo, na dupla condição de Diretor do Departamento de Produção Animal e Diretor Técnico da Associação de Criadores de Búfalos, tendo batalhado bastante para que a licença fosse concedida, porquanto considerávamos indispensável o “refrescamento” de sangue de nossos rebanhos zebuínos e principalmente bubalinos. Mais uma vez, junto com os zebuínos, vieram duas dezenas de búfalos, desta vez puros e bem selecionados, pertencentes às raças Jafarabadi e principalmente Murrah. Para que essa importação se efetivasse, foi exigido parecer técnico da Associação de Criadores de Búfalos, já em fase de reconhecimento pelo Ministério da Agricultura. Assinaram esse parecer, o presidente Paulo Joaquim Monteiro da Silva e nós, na qualidade de Diretor Técnico da Associação. A chegada desses animais trouxe grande estímulo para os criadores e selecionadores brasileiros, por constituírem a fonte de reprodutores de raças puras, indispensáveis ao melhoramento genético do rebanho bubalino nacional, quase todo muito consangüíneo, devido aos poucos casais indianos importados em 1918 e 1920, animais esses de regiões diferentes da Índia, e sem comprovação de maior ou menor de pureza racial.” Admiráveis Colocações É comum assistirmos o desenrolar de fatos que desmentem hoje, aquilo que ontem, muitos homens, garantiram ser verdadeiro. No nosso mundo atual, o cenário científico, econômico e político é constantemente transformado, em ritmo e velocidade alucinante, fazendo derrubar teorias e crenças na mesma velocidade com que foram concebidas... Por essa razão, são bastante admiráveis as colocações, a seguir transcritas, feitas há exatos 50 anos atrás, pelo eminente Prof. Octávio Domingues*, extraídas de uma série de artigos de sua autoria, publicados pelo DIÁRIO DE SÃO PAULO, em 1955, idéias estas, que certamente continuam válidas e atuais para a grande maioria dos que vivem a bubalinocultura brasileira. “Cada vez que me ponho em direto contato com a criação de búfalos no Brasil, mais cresce aquela minha convicção, nascida em 1937, de que o búfalo deve merecer nossa particular atenção. Atenção do poder público, atenção dos técnicos, atenção dos criadores realmente empenhados em criar riquezas com as atividades pecuárias. Volto de uma viagem de observação nos municípios de Franca e Cássia, , cheio de otimismo ao verificar que no Brasil, é possível abrigarmos um rebanho dos maiores do mundo,formado por uma espécie que até aqui, tem sido considerada apenas objeto de curiosidade” (... ). “É minha convicção que o búfalo pode e deve ser uma de nossas melhores fontes de leite, carne e couro”. (... ). “Os búfalos que acabo de ver em costeio, em diversas fazendas do vale do Rio Grande, me convenceram de que só por incapacidade, ou vontade em contrário, esta espécie de gado não se integrará definitivamente em nossa paisagem campestre. Em 7(sete) fazendas visitadas, foi possível observar como vivem e produzem 507 cabeças de búfalos, em estado de mansidão, fornecendo leite e carne, sob o mais econômico dos regimes. Regime de campo, e em campos inferiores de baixada, onde não se põe o zebu fino” .(... ) “Quando de minha visita à Franca, o preço do boi para abate, era de 250 cruzeiros por arroba. Pois bem, o marchante com quem palestrei, oferece mais 10 cruzeiros por arroba quando tratar-se de búfalo para corte. Perguntando-lhe qual a razão de assim proceder, explicou-me que quando corta a carne de búfalo, a freguesia não reclama o peso”. (... ) “O êxito dessa criação está no costeio. Essa é a primeira noção que o criador de búfalo deve meter em sua cabeça”. (... ) “Criar búfalo ao Deus dará é uma recomendação que não faço ! ” (... ) * O Prof. Octávio Domingues nasceu no Acre em 1897 tendo se diplomado em Agronomia em 1917 na Esalq-USP onde ocupou a cátedra de Zootecnia Geral de 1931 a 1966. Foi fundador e presidente da SBZ de 1951 a 1968. MULHER DE FIBRA Jonas Camargo Assumpção - SP P ode-se considerar que a história do BÚFALO DOURADO começou a ser escrita em 1975, quando a senhora Wilma Penteado Ferreira, herdou de seus pais, a Fazenda Santa Eliza, no município de Dourado, SP, com 30 búfalas e um touro, descendentes de alguns “exemplares exóticos”, introduzidos por lá, em 1960. acostumada a desafios, não teve outra saída senão topar a parada e sair por aí, a cata de búfalas.... Logo depois, em 1977, na cidade de Tietê – SP era realizada a primeira exposição nacional de búfalos, e pretendendo se fixar na exploração de carne, Da. Wilma acaba levando para a Santa Elisa, o Campeão Touro Jovem Jafarabadi, batizado de Mussum, comprado do plantel da Sabaúna, de José Lauro de Arruda Camargo. Toda caminhada do Búfalo Dourado foi percorrida com tenacidade e garra, por aquela “senhora do destino”, que sempre soube claramente onde queria chegar. No entanto, em sua fazenda, incentivada e ajudada por um amigo italiano, meio de brincadeira, começa a produzir “mozzarella”, exclusivamente para consumo de sua família, e foi tomando gosto pela coisa... Em 1978, um tratamento de saúde impõe-lhe a obrigação de viajar para São Paulo, todas as quartas feiras. Era apenas mais uma vez em que o bom destino começava a ser traçado por linhas tortuosas, pois foi em uma dessas penosas quartas feiras, durante um bate-papo com uma senhora italiana, no consultório médico, que acabou por contar que criava búfalos e ainda por cima, fazia “mozzarella” ! Por insistência dessa senhora, concretiza a primeira venda de uma “trançada de mozzarella” de puro leite de búfala, despertando em si, seu nato instinto para o comercio, bem como sua enorme capacidade empresarial. Sem maiores cerimônias, imediatamente passa a considerar e tratar a sala de espera do consultório médico, como sendo seu primeiro ponto de venda, espaço onde anotava pedidos, e comercializava seus produtos à amigos, parentes e colegas pacientes. Os elogios recebidos, fizeram aumentar sua crença no potencial dos seus produtos, e imbuída da coragem, que nunca lhe faltou, procura a Casa Santa Luzia, famosa mercearia freqüentada pelos consumidores mais exigentes da capital paulista, para de maneira altiva e orgulhosa oferecer-lhes a “primeira mozzarella brasileira, exclusivamente fabricada com leite de búfala”. Uma vez testado e aprovado o produto, recebeu como contrapartida a exigência da continuidade no fornecimento. Acuada, mas Comprava o que lhe ofereciam, e sem muita possibilidade de escolha, o índice de descarte era elevado. Uma vez, conseguiu aproveitar apenas 6 búfalas, de um lote de 16 compradas. Da. Wilma ainda guarda bem nítidas, nas suas lembranças, as inúmeras vezes em que capitaneava até altas horas da noite, um antigo fogão à lenha, buscando o ponto correto de filar a massa. Ao invés de se esquecer, relembra com orgulho, aquele ano de 1985, onde em plena safra de lactação de suas búfalas, acabou perdendo o casal de funcionários responsáveis pela queijaria. Não pestanejou : simplesmente arregaçou as mangas, abriu mão de muitas coisas, inclusive das “obrigatórias e legais” folgas semanais, e durante 6 meses seguidos, assumiu pessoalmente essa tarefa. O tempo foi passando, e em 1990, seu estabelecimento consegue aprovação pelo Sistema de Inspeção Federal – SIF. Em 1991 sua micro-empresa dá lugar à uma empresa jurídica, e mais adiante, em 2004 inaugura seu novo laticínio, com 600 metros quadrados, apto a processar 10.000 litros de leite/dia. Hoje, Da. Wilma considera já ter conseguido razoável desestacionalização da estação de parição de suas búfalas, o que garante matéria prima ao seu laticínio durante todo ano, dando lhe tranqüilidade para seguir cumprindo aquela promessa feita à Casa Santa Luzia, há mais de 25 anos atrás! Seu rebanho amochado, atualmente composto por cerca de 600 cabeças, é controlado e registrado no projeto do Búfalo Brasileiro voltado para produção de leite, e é responsável por cerca da metade da produção processada pelo seu laticínio, que iniciou pequeno, trabalhando com 100 litros/dia, e hoje na safra, já atingiu 4.000 litros/ dia. Da. Wilma e suas búfalas, são responsáveis por mais uma inimaginável proeza: ter conseguido expulsar a cana de suas terras, quando na enorme maioria das vezes, a historia sempre foi contada na direção inversa. Será que esta mulher de fibra, de “estopim meio curto”, de origem tradicional, educada nos moldes franceses, no Colégio Sacre Coeur de Marie de São Paulo, e que elegeu o trabalho como meta de sua vida, está realizada e totalmente satisfeita ? Não! Já elegeu sua próxima meta: Exportar! E pelo andar com que comanda a carruagem, não vai demorar a chegar lá... Sede da Fazenda Santa Eliza. 7 DIRETORIA DA ABCB (2004 - 2007) 8 Manjedoura Cincerro Dr. Getulio Marcantonio, um dos mais atuantes e tradicionais bubalinocultores gaúchos, sempre procurou conceber e incrementar no manejo de sua criação, algo novo que lhe propiciasse elevar os níveis de produtividade e lucratividade do seu negócio. Em sua criação de búfalos, seu pressuposto inicial é não ordenhar suas búfalas, utilizando todo diferenciado leite por elas produzido, como insumo e alimento básico imprescindível para produção de um animal precoce, que lhe permitiria antecipar o abate e o entouramento de seu gado. Explorar ao máximo o potencial de crescimento dos terneiros bubalinos é seu objetivo, e o leite produzido pelas matrizes búfalas, destinado integralmente aos seus produtos, deixavam Dr. Getulio tranqüilo quanto a sua meta, pelo menos até os 3 ou 4 meses de vida dos terneiros. Infelizmente, essa exteriorização máxima do potencial de crescimento das crias, bem como a tranqüilidade do Dr. Getulio, cessavam a partir dessa idade dos animais, pois a “ partir daí, boa parte dos nutrientes necessários devem provir de outra fonte”. Dr. Getulio escreveu, tentando conduzir seu próprio pensamento : “Março concentra os nascimentos bubalinos no RS, o que leva a amamentação para os meses frios do inverno e a conseqüente paralização do crescimento das pastagens naturais. A busca do animal precoce exigia uma providência de ordem alimentar. O custo alto afastava a possibilidade desse procedimento ser feito junto às mães. A preocupação convergiu para o terneiro. “ ( .... ) Muitas idéias, projetos e soluções passaram pela cabeça do Dr. Getulio, até que uma veio atender suas expectativas. Batizou-a com o nome de Manjedoura Cincerro, em homenagem à sua “Pastoril Cincerro”. A Manjedoura Cincerro é a adaptação para búfalos, do “Creep Feeding”, sistema usado para suplementar bezerros lactantes, criado nos EUA, e hoje muito difundido no mundo todo, e particularmente, em inúmeras regiões brasileiras. É o próprio Dr. Getulio quem refere-se também à manjedoura de sua criação, usando o nome de “Creep Feeding Crioulo”. Consiste em um cercado de “paus a pique”, de formato redondo, formado por resistentes mourões previamente tratados, firmemente cravados no solo, distantes 40 centímetros entre si. Recomenda-se que no topo superior desses mourões, sejam passados 1 ou 2 fios de arame farpado, para garantir rigidez a todo conjunto e também a manutenção dos espaçamentos entre mourões. Na parte interna desse cercado ficam os cochos onde os terneiros se alimentam, pois tem livre passagem pelos vãos do cercado, ao contrário das mães, cuja passagem é impedida pelos 40 centímetros ( figura e foto abaixo). Dr. Getulio Marcantonio relaciona as principais vantagens da suplementação dos terneiros em aleitamento : 1 - Aumenta o desenvolvimento dos animais. 2 - Antecipa o funcionamento ruminal. 3 - Reduz os efeitos negativos do estresse, à desmama. 4 - Condiciona os animais para o ingresso no regime intensivo. 5 - Diminui a pressão dos terneiros sobre as búfalas. 6 - Contribui para a homogeneidade dos lotes. 7 - Aumenta até 10% o desempenho produtivo das matrizes. Quanto ao suplemento alimentar a ser disponibilizado no “creep”, aos bezerros, Dr. Getulio vem adotando ração granulada com teor protéico da ordem de 20 a 22%, em quantidades diárias variando entre 500 a 1.000 gramas/dia, com excelentes respostas em termo de ganhos de peso e desenvolvimento de seus terneiros. Uma das maiores dificuldades na implementação desse processo de suplementação de terneiros lactantes criados a pasto, segundo Dr. Getulio, reside no indispensável ensinamento dos bezerros a se alimentarem em cochos, o que ele consegue, deixando previamente os bezerros presos, durante 48 horas, afastados de suas mães, em uma mangueira, com água e ração. Considera normal e passageira a resistência inicial dos terneiros em entrar no “creep”, e sugere algumas outras medidas que podem abreviar esse tempo: 1 - Usar ração bastante palatável para os bezerros. 2 - No inicio colocar de maneira visível, dentro do “creep”, algumas pequenas porções de pasto verde. 3 - Reunir uma vez por dia, a vacada em torno do “creep”. Nota: Na Fazenda Boa Vista, o hábito dos bezerros se suplementarem em “creep”, só foi alcançado quando a instalação do “creep”, obedeceu exatamente o local adotado e escolhido pelos próprios animais, com finalidade de descanso, normalmente conhecido como malhador, ou batedor. 9 10 CURIOSIDADES: Jonas Camargo Assumpção - SP Seletividade Lendo o excelente livro Pastoreio Voisin, de autoria do Prof. Humberto Sório, chamou-nos a atenção a comparação que ele faz entre búfalos e bovinos, no que se refere a habilidade que cada uma dessas espécies possue, na digestão da celulose e hemicelulose, o que determina diferentes graus de seletividade nos hábitos e atitudes de pastoreio, dessas duas espécies. Dr. Sório interpreta essa inegável supremacia digestiva dos búfalos, como bastante coerente com a maior largura de suas mandíbulas, medidas essas que superam às dos bovinos em 25 ou em até mais de 50%! Esse parece ser mais um dos incontáveis exemplos comprobatórios de que na natureza nada acontece por acaso, explicando o motivo da tamanha “frescura” e irritante seletividade com que nossos carneirinhos pastam, justificando de quebra, a perfeita maneira usada pelo Prof. Sório na definição dos cabritos: “verdadeiros caçadores de rebrote”.... Mães Diferenciadas Há mais de 20 anos atrás, ao buscar assessoria para um projeto de confinamento de terminação de bovinos e bubalinos, conheci o zootecnista Carlos Benedini, Ribeirão Preto, SP, de quem me tornei admirador e amigo. Quando ele soube que éramos criadores de búfalos, me disse que nutria grande respeito e admiração por essa espécie, em razão da búfala ter um comportamento diferente de todas outras espécies que havia estudado, quanto ao “estabelecimento” de seus períodos ou épocas de parições: “Enquanto todas outras espécies costumam parir em meses que são mais favoráveis, ou menos desgastantes às mães, as búfalas, ao contrário, preferem se sacrificar, concentrando suas parições nos meses que beneficiam mais seus bezerros. Veja você: A vaca bovina concentra seus cios férteis em dezembro e janeiro, para parir em setembro e outubro. Começa alimentar seu filhotes quando as pastagens da primavera iniciam suas brotações. Continuam a amamentação durante a fartura do verão, mas quando vai se aproximando a boca do inverno, desmamam seus filhotes deixando-os na pior. A búfala, ao contrário, em uma atitude de desprendimento, atravessa todo período de escassez, sustentando seus pro- dutos com seu rico leite, aguardando a chegada dos pastos de primavera, para desmama-los. Evitando Rejeições Pra mim, esse ato de heroísmo, nutre o respeito que dedico à essa espécie!” Via de regra, os criadores de búfalos que não ordenham suas búfalas, destinando a totalidade do leite para alimentação dos bezerros, conduzem suas criações de maneira mais extensiva, totalmente a campo, sem muito “costeio”. DICAS DE BUBALINOCULTORES Mochamento de Animais Adultos No nosso Boletim nº 1, o criativo engenheiro bubalinocultor alagoano Alberto Couto, descreveu todo processo que utiliza para mochamento de seus bezerros. Agora, neste Boletim nº 2, nos relata o sistema que adota para mochamento de animais adultos: “Para mochar animais adultos, nós usamos tiras de borracha de câmara de ar de caminhão, das mais elásticas possíveis, cortadas com cerca de 1 centímetro de largura, nos mesmos moldes que a molecada corta para fazer “petecas”. Com essas tiras, damos 3 ou 4 voltas, bem apertadas, em torno da base dos chifres dos animais, amarrando as pontas fortemente. A voltas devem ser dadas quanto mais na base, ou inserção dos cornos, sem que precisemos nos preocupar em recuar a pele, etc. Com os elásticos apertando a base de seus cornos, os animais ficarão um tanto quanto estressados, separando-se dos demais, permanecendo mais tempo nos brejos ou aguadas, alem de procurarem se esfregar em árvores, mas nada que nos cause preocupação. Antes que os cornos, naturalmente caiam, o que deve acontecer dentro de 15 ou 20 dias, apenas deveremos estar atentos em verificar se a câmara de ar não “pocou”. Quando os chifres, naturalmente caírem, praticamente a cicatrização já estará completada, restando apenas o miolo central, que deverá ser tratado com cicatrizantes e repelentes, comumente encontrados no mercado. Quanto a melhor época do ano para procedermos ao mochamento de animais adultos, recomendo o momento da secagem do leite ou desmama, fase em que a búfala não está comprometida com a produção de leite, ou em momento avançado de gestação.” Glossário de termos alagoanos: Peteca: estilingue Pocou: rustiu, rompeu, arrebentou. Jonas Camargo Assumpção – SP (Na nossa fazenda, nossos búfalos permanecem todo ano em pastagens mais afastadas da sede, sendo vistoriados pelo vaqueiro apenas por alguns minutos, duas vezes por semana, indo ao curral exclusivamente para receber vacinas, vermífugos ou afins). Essa maneira de criar, faz aumentar o risco de rejeição dos bezerros pelas novilhas, em seu primeiro parto, por serem animais menos acostumados com a presença do homem, mais ariscos. Não devemos nos esquecer que a experiência nova, vivenciada por um animal em seu primeiro parto, exige um ambiente calmo, de bem estar, propício ao desabrochar do maravilhoso instinto maternal. Nesse momento, a eventual falta de sensibilidade do bubalinocultor ou do vaqueiro, pode provocar estresse em novilhas menos tranqüilas, e trazer como conseqüência, eventuais rejeições de bezerros. Para evitar tais problemas, recomendamos as seguintes atitudes, quando se tratar de primíparas criadas de maneira mais extensiva: - Nunca deixa-las na maternidade sozinhas, mas sim acompanhadas de outras companheiras. - Logo que parirem, não apartar-lhes os bezerros, para pesagens dos recém nascidos, etc. - O próprio curativo do umbigo do recém nascido, que a rigor, deveria ser feito em seguida ao parto, a nosso ver só deve ser feito no momento em que ficou claramente demonstrada a afetividade da mãe pelo seu rebento. - Por fim, nos parece importante também a postura e a maneira com que o vaqueiro deve vistoriar as matrizes mojando e recém paridas que se encontram na maternidade : Sua chegada ao local onde estão agrupados os animais, nunca deverá ser abrupta, de maneira a assusta-los pois muitas vezes eles estão deitados, distraídos, cochilando. Logo que adentra o pasto maternidade, antes mesmo de avistar os animais, o vaqueiro deve emitir seu habitual som de aboio, avisando que 11 chegou, e ao mesmo tempo acalmando os animais. Deve seguir se aproximando vagarosamente, permitindo-se ser observado, sem causar qualquer sensação de encurralamento aos animais. Procurar não se interpor entre mães e filhos, dar tempo às mães e aos filhos que se aproximem, são apenas algumas outras posturas recomendáveis. As demais certamente serão ditadas pelo “bom senso” de cada um. Cinto de Ferramentas O bubalinocultor gaúcho Erizolei Belmiro Oliveira da Silva, nos relata uma “dica” que acabou resolvendo as constantes e crônicas perdas de ferramentas usadas na manutenção das cercas eletrificadas de sua propriedade. Esse problema torna-se maior para aqueles que aplicam o PRV ( Pastoreio Racional Voisin ), em razão da grande quantidade de cercas eletrificadas que o sistema exige. Erizolei encontrou a solução, adotando um simples e prático cinto concebido para portar as ferramentas usadas para esse serviço, conforme mostra a foto. 12 Além de evitar as perdas, o uso do cinto permite que o funcionário proceda os reparos no momento em que os defeitos forem observados, o que além de poupar tempo, evita as conhecidas conseqüências da costumeira atitude de “deixar pra depois”, por falta de ferramentas... Estudo comparativo da toxidez de Palicourea juruana (Erva de Rato) para búfalos e bovinos. Carlos Magno C. de Oliveira, José Diomedes Barbosa, Raquel S. Cavaleiro de Macedo, Marilene de Farias Brito, Paulo Vargas Peixoto e Carlos Hubinger Tokarnia O estudo foi realizado com os objetivos de estabelecer a sensibilidade dos búfalos a Palicourea juruana (Erva de Rato) e agregar novos dados sobre a toxidez dessa planta para bovinos. Embora os quadros clínico-patológicos tenham sido semelhantes, a comparação das doses letais para búfalos (entre 1 e 2 g/kg) e para bovinos (0,25 g/kg) estabelece o búfalo como pelo menos quatro vezes mais resistente. Em experimentos realizados 10 anos antes - com amostras de P. juruana coletadas na mesma fazenda no Pará, em julho de 1993, início da época de seca, portanto apenas 2 meses mais tarde do que os agora realizados em maio de 2003 - a dose letal para bovinos foi de 2 g/kg. Não encontramos explicação para a toxicidade extremamente elevada da planta verificada nesse estudo. 2º Encontro Nacional de Bubalinocultores Salvador - 2004 Eduardo Daher Santos - PA C riadores de búfalos de todo o Brasil participaram nos dias 2 a 4 de dezembro de 2004, em Salvador-Bahia, do 2º Encontro Nacional de Criadores de Búfalos. A abertura do evento, realizado no auditório da Secretaria da Agricultura (Seagri), contou com a presença do secretário da Agricultura, Pedro Barbosa, e do presidente de Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB), Otavio Bernardes. Na abertura do encontro, Pedro Barbosa afirmou: “Acho que o Brasil tem desprezado um negócio de grande potencial, que é a produção de leite e carne de bubalinos. Temos o desafio de continuar convencendo a sociedade da qualidade desses animais e seus produtos”. Destacou ainda que na Bahia há áreas com grande vocação para a atividade como o Litoral Norte, no Recôncavo e o Extremo Sul. “Precisamos incentivar a importação de material genético de qualidade e investir no marketing dos produtos”, explicou, propondo a realização de um ciclo de seminários e visitas técnicas às regiões produtoras do estado, destacando a importância da realização deste Encontro. Afirmou ainda o Secretário que cometemos grandes erros, primeiro tentando forçar a criação de gado europeu em desprezo aos zebuínos a ao búfalo, e que José Maria Couto Sampaio teve a lucidez de apoiar o guzerá e o búfalo, dois animais excelentes para a região. Convocou os criadores e governo para não desistir desses projetos que são importantes demais para não serem apoiados. Ampliar o esforço de marketing, efetuar visitas técnicas, para levar criadores potenciais a se encontrar com criadores tradicionais. seu pai, José Maria como um marco na bubalinocultura da Bahia, destacando a grande importância que a bubalinocultura tem prestado à Bahia. Convocou os bubalinocultores para a campanha da erradicação da aftosa no Estado. José Joaquim Santana – Presidente da EBDA – referenciou José Maria e mencionou a importância dada ao búfalo na Bahia com a criação da Estação experimental José Maria Couto Sampaio. Otávio destacou o trabalho do Núcleo Baiano na organização do Evento e do apoio da Seagri em sua concretização, lembrando o papel pioneiro do Estado na introdução e melhoramento dos exemplares da raça Murrah e da importância dos criadores na ampliação do conhecimento e desenvolvimento da espécie bubalina. Segundo o presidente da ABCB, a realização destes encontros demonstra o interesse dos criadores não só em ampliar seus conhecimentos sobre a espécie como também, representam uma busca de organização da cadeia produtiva do setor. Ele disse que é crescente a inclusão de pequenos criadores na atividade: “É uma atividade que antes somente era viável com produção em escala, mas que hoje, com uma maior organização de mercados, formação de núcleos e certa agregação de produtores, vem sendo importante fator de inserção social em diversas regiões, com sua adoção cada vez maior por pequenos criadores, agregando valor a suas explorações.” Lembrou ainda que a necessidade de aprofundamento do conhecimento sobre o melhor manejo da espécie visando otimizar sua exploração foi outro fator que motivou a realização do Encontro buscando a troca de experiências entre criadores de diversas regiões brasileiras com participação de palestrantes nacionais e internacionais. Outro foco do Encontro foi a avaliação das cadeias produtivas ligadas ao agronegócio bubalino, em particular a carne e os derivados lácteos, para o que, os palestrantes trouxeram depoimentos de operações bem sucedidas em suas regiões a fim de serem debatidas e eventualmente multiplicadas. Previamente ao Encontro foi realizado um Curso de Capacitação de Técnicos de Registro e Formação de Jurados de Raças bubalinas, ministrado pelo Dr. Renato Amaral, Superintendente de Registro da ABCB. Realizou-se ainda, nas dependências do Laticínio de Maria José Barreto Sampaio um Curso de Derivados de Leite Bubalino, ministrado pelo Dr. Neverton Benedito Picciani, da empresa Fermentech, envolvendo técnicas de fabricação de derivados alternativos à tradicional mozzarella. O Encontro, ocorreu simultaneamente à realização da tradicional FENAGRO onde se encontravam expostos excelentes exemplares de búfalos da Bahia que foram julgados pelo Dr. Pietro Baruselli, vice-presidente de Ciência e Tecnologia da ABCB. Dr. Ricardo Ferreira Rodrigues, presidente da Associação dos Bubalinocultores do Estado de Pernambuco (ASBUPE) e presidente da Associação Nordestina de Criadores , afirmou: “ousar é quase sempre realizar”. Fisco Benjamim – Diretor da SEAGRI, colocou a Secretaria à disposição dos criadores. Luciano Figueiredo da ADAB – Agência de Defesa da Agropecuária da Bahia – parabenizou a equipe organizadora na pessoa de Maria Couto Sampaio, relembrando Participantes do 2º Encontro Nacional de Bubalinocultores em Salvador-BA, por ocasião da visita à propriedade de Maria José Barreto Sampaio. 13 O programa dos ciclos de palestras e debates foi o seguinte: Nutrição da Búfala Leiteira – Prof. Dr. Giuseppe Campanille – Univ. Federico II –Nápoles – Itália Utilização intensiva de gramíneas tropicais para a produção de leite. Prof. Edgar Fraga Santos Faria. Depto de Produção Animal da EMEV-UFBA. Importância das leguminosas na sustentabilidade de sistemas de produção a pasto. Dr. José Marques Pereira – Cepec-Ceplac. Fundamentos do agronegócio. Prof. Massilon Araújo – FTC-Salvador. Mesa redonda: Agronegócio da Carne de Búfalo. Evaldo Canalli – Presidente da Cooperbufalo – RS . Celestino Goulart – Presidente da Ascribu – RS Mesa redonda: Agronegócio do Leite de Búfalas - Urbano Antonio de Souza Filho – Laticínio Natal – Bahia.Nelson B. Prado – Laticínio Laguna - Ceará O encerramento do evento se deu com um dia de visitas a fazendas de búfalo na 14 Fazenda Natal, de Urbano Souza Filho por ocasião do 2º Encontro região do Recôncavo, iniciando-se pela fazenda São Miguel de Dna Marilena Couto Sampaio e sua filha Maria José onde após conhecer o rebanho iniciado pelo grande fomentador do búfalo na Bahia, José Maria, pode-se degustar as delicias dos produtos bubalinos e a hospitalidade dos anfitriões. Em seguida os participantes puderam conhecer as instalações do Laticínio e da Fazenda Natal de propriedade do Dr. Urbano Antonio de Souza Filho, onde são industrializados 1.500 litros de leite de búfalas diariamente cujas instalações, rebanho e os produtos, foram muito elogiados. Ainda Sobre Contenção de Búfalos Jonas Camargo Assumpção – SP A lguns proprietários de búfalos alegam dificuldades na contenção dos mesmos e crêem que a espécie bubalina nasceu com a vocação de varar cercas. Outros sugerem que cercas para contê-los, devam ser super reforçadas, com características bem diferentes daquelas utilizadas para bovinos. Na Boa Vista nunca tivemos esse tipo de problema, apesar de nossa crônica falta de capricho na conservação de nossas cercas. Por esse motivo acreditamos que o problema, via de regra, não tem origem nas cercas, mas sim em erros de manejo. Nossa vivência nessa área nos faz achar indispensável que todo criador de búfalos acredite e saiba : 1 - Que toda cerca que serve para bovinos, serve também para búfalos bem manejados. A única diferença útil que se propõe é que sejam ligeiramente mais baixas, ( + ou - 1,10 metros de altura ), com o primeiro fio mais próximo do solo ( 0,20 a 0,25 metros ). Quatro fios de arame lisos são mais que suficientes. 2 - Que rios e lagos não são barreiras intransponíveis para búfalos. 3 - Que o criador deve estar sempre atento ao temperamento “machista” dos touros e as conseqüências de manejo determinadas por esse fato. 4 - Que ele também não pode se esquecer de que uma das características da espécie é seu hábito gregário. Assim, se tiver de apartar, reapartar, ou sub-dividir um lote já coeso de búfalos, deverá manter por alguns dias os novos lotes em pastagens não contíguas, para que os indivíduos de um lote percam aquela coesão que possuíam com os indivíduos do outro lote. 5 - Que búfalos podem ser atacados por piolhos, que os levam a procurar árvores, barrancos de terra, cupinzeiros e moirões de cerca, para se coçarem. Por sua vez, moirões de cerca em brejos, se utilizados como coçadores, podem se deitar, inutilizando a cerca. Tais áreas atoladiças, são muito freqüentadas pelos búfalos, e muito pouco visitadas pelos vaqueiros. A conseqüência de falha na manutenção é cerca no chão, búfalos no outro lado, e a conclusão errada de que os búfalos romperam a cerca. 6 - Que a última coisa que se deve fazer quando algum animal “rompe” uma cerca, é mandar conserta-la. Antes disso deveremos procurar o motivo que acasionou o fato. Na grande maioria das vezes o culpado não foi o búfalo. Se a falha tiver sido do criador, o erro deverá ser reparado imediatamente. Como é o próprio criador que funcionará como juiz, é necessário que tenha modéstia e humildade para reconhecer sua eventual falha. 7 - Que búfalos não tem qualquer vocação para romper cercas, mas como são “inteligentes“, aprendem com rapidez muito maior que os bovinos, tanto os bons, como os maus hábitos. Assim sendo, romper cercas pode vir a tornar-se um mau hábito de um determinado animal. Antes que ele ensine aos demais colegas essa transgressão, deve ser sumariamente eliminado do rebanho, abatido sem clemência. Nenhum álibi ou argumento poderá livrálo do “gancho”, mesmo que seja “cabeceira” do plantel. Para que a execução seja justa, é preciso que a identificação do infrator seja precisa. Um ou dois dias de espreita no rebanho, pode trazer a confirmação. (Ninguém precisa se assustar, imaginando que vai precisar viver executando seus animais. São casos muito esporádicos, se não houver falhas graves de manejo. Em 36 anos de criação, não passou de meia dúzia, o número de infratores que tivemos de abater). 8 - Que não devemos perder tempo tentando reeducar búfalos que adquiriram maus hábitos. Eles são muito teimosos, e dificilmente teríamos sucesso. 9 - Que alguns búfalos, em razão do formato de seus chifres, podem se enganchar em cipós, galhos, inclusive arames. Se o arame não se romper, o animal pode ficar preso a ele, sem conseguir se soltar. Se o arame romper, pode ser que esse simples acidente se transforme em hábito. As sugestões abaixo, podem evitar tais problemas : - Manter rebaixada, por roçada, uma faixa de 1,00 metro de largura, do pasto vizinho, principalmente quando o dos búfalos estiver debilitado e o contíguo com bastante oferta de capim. Isso evita que o animal fique introduzindo sua cabeça pelos vãos dos arames, e acabe se enganchando. Utilizar arames resistentes e aumentar vigilância, inclusive para diminuir o risco de perda de animais enroscados. - Mochar seus animais, preferivelmente nos primeiros dias de vida, terminando gradativamente com os animais de chifre do rebanho. Os machos nem precisariam ser mochados, pois antes que seus chifres se transformem em problemas, já terão sido abatidos. 10 - O bubalinocultor deve também saber que existem animais que não se adaptam a um determinado grupo, sendo constantemente perseguido por vários componentes do lote. É normal e aceitável que o grupo rejeite, logo de inicio, a introdução de um novo componente. No entanto, se essa reação não se amenizar dentro de algum tempo, o animal rejeitado deverá ser retirado daquele convívio. (As vezes é um animal líder, com hábitos de agredir novos componentes do grupo, que deverá ser retirado do plantel). 11 - Que devemos ficar sempre atentos. Os búfalos não falam, mas podem se comunicar conosco através de algumas atitudes. Basta que estejamos dispostos a entendê-los. Vejamos um exemplo: Aquele nosso lote de búfalos, confinado a uma pastagem “rapada”, ao cair da tarde, poderá postar-se ao lado de uma cerca. Com essa atitude, esse grupo de animais está querendo nos dizer que assim como está, não dá pra continuar. Deveremos saber compreendê-los, tomando as devidas providências... (Nunca vivenciamos experiências com uso de cercas eletrificadas no manejo de búfalos). 15 16 MOSAICO DE NOTÍCIAS PARÁ APCB promove discussão sobre bubalinocultura na Assembléia Legislativa do Estado do Pará A APCB participou em 25/11/2004 de sessão na Assembléia Legislativa do Pará que tratou do desenvolvimento da bubalinocultura paraense com a presença do secretário executivo de Agricultura, Francisco Victer. O Estado do Pará possui o maior rebanho de búfalos das Américas, com 1,5 milhão de cabeças. No Brasil são 3,5 milhões de cabeças. A produtividade destes animais é de 4 a 5 litros de leite/dia, que representa 50% a mais que a produtividade do leite bovino. Durante a sessão, também foram apontadas as qualidades da carne de búfalo que tem 40% menos colesterol, 55% menos calorias, 11% mais proteínas e 12 vezes menos gordura. O trabalho de fomento a bubalinocultura no Estado teve início em 1997, com a criação da Associação Paraense de Criadores de Búfalo (APCB). Desde então, este grupo vem batalhando para melhorar a qualidade genética dos animais, o preço e a divulgação do búfalo. De acordo com Francisco Victer, o Governo do Estado vê a bubalinocultura como uma atividade viável, por isso tem apoiado o setor. Entre as propostas apresentadas aos deputados pela APCB estão o incentivo à agroindústria para beneficiamento da carne e agroindústria de laticínios, incentivo à pesquisa e inovação tecnológica e a questão da tributação e incentivos fiscais. Fonte: Sagri - Secretaria Executiva de Agricultura do Pará - Notícias - Novembro 2004 http://www.sagri.pa.gov.br/noticias_novembro2004.htm 3ª Prova de Ganho de Peso de Búfalos. Melhorar o padrão produtivo dos búfalos no Brasil é o objetivo de mais um contrato de cooperação técnica entre a Embrapa Amazônia Oriental e a Associação Paraense de Criadores de Búfalos. O contrato, que foi assinado pelo chefe ge- ral da instituição, Jorge Yared, e pelo diretor da APCB, Rolf Ericksen, vai viabilizar a realização da “3ª Prova de Ganho de Peso de Búfalos Murrah em sistema silvipastorial e pastejo rotacionado intensivo com suplementação alimentar”. Trata-se de uma competição entre os melhores animais de criadores da região e da Embrapa, onde serão destacados um do tipo elite e quatro do tipo superiores. Durante a assinatura do convênio, Jorge Yared ressaltou que a parceria da instituição com a APCB é histórica na região e que a pesquisa é feita para quem vai se utilizar dela. O chefe geral falou ainda que a pesquisa em bubalinocultura voltará a ocupar o devido espaço dentro da empresa, para isso já está sendo viabilizada a contratação de mais profissionais dessa área, bem como estabelecimento de novas e fortalecimento de antigas parcerias. Um dos diretores da Associação, o produtor Rolf Ericksen, colocou a APCB à disposição da Embrapa Amazônia Oriental e disse que esse convênio é importante pois estabelece com a prova de ganho de peso, uma oportunidade de mostrar a potencialidade do búfalo e disponibilizar animais testados para a comunidade. Durante período da prova, vinte e seis búfalos serão acompanhados e avaliados pelo desempenho de itens como altura, largura da garupa, produção de sêmen e outras características raciais. Eles serão observados em sistemas silvipastoris de pastejo rotacionado intensivo, com suplementação alimentar. De acordo com o pesquisador José de Brito Lourenço Júnior, da Embrapa, que é coordenador técnico da prova, após os 10 meses, os melhores animais terão o sêmen coletado pela Central de Biotecnologia de Reprodução Animal, da Universidade Federal do Pará, para posterior comercialização em outros estados brasileiros e até mesmo em outros países da América Latina, como Venezuela, Colômbia, Argentina e Peru, para que se melhore o padrão genético dos animais. A “3ª Prova de Ganho de Peso de Búfalos Murrah em sistema silvipastorial e pastejo rotacionado intensivo com suplementação alimentar” faz parte do projeto “Biotecnias na Produção de Búfalos Melhoradores para Carne e Leite”, coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental. Genômica de Búfalos O projeto genômica de búfalos tem como interesse realizar investigaçõoes acerca da estrutura e funções do genoma do búfalo de rio. O projeto conta com diversas parcerias nacionais e internacionais onde destacam-se colaborações com o Campus de São José do Rio Preto da Universidade Estadual Paulista, o Departamento de Patologia Veterinária da Texas A & M University da College Station dos Estados Unidos e o Instituto de Medicina Veterinária da Georg August Universitat em Gottingen, Alemanha. O projeto, com o título “O genoma funcional do búfalo: a biotecnologia aplicada à localização e expressão de genes de interesse econômico” é liderado pela pesquisadora Maria Paula Cruz Schneider da Universidade Federal do Pará e conta com aporte de R$ 239.900,00 do CNPq Fonte: site CNPq - Pronex Programa de Incentivo Foi aprovado no Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável o “PROGRAMA DE INCENTIVO A CRIAÇÃO DE BÚFALOS POR PEQUENOS PRODUTORES”, para criação de 20 búfalas, um reprodutor e 17 crias, em área de pastagem de 10 ha, em regime de pastejo rotacionado intensivo e cercas eletrificadas, em sistema silvipastoril. O Programa será financiado com recursos do PRONAF - Programa Nacional de Agricultura Familiar, através de Instituições de Crédito da Rede Pública, tais como o Banco da Amazônia S.A - Basa, Banco do Brasil S.A - BB, no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). A taxa de juros efetivos será de 4% ao ano e bônus de adimplência de 25%, para os mutuários que pagarem integralmente, até a data do respectivo vencimento. Serão necessários dois avais idôneos, sendo um da Cooperativa/Associação e outro do(a) cooperado(a)/associado(a)/beneficiário(a). Estarão aptos a obter o financiamento, pequenos produtores do Estado do Pará, que tenham a posse ou propriedade de um lote agrícola mínimo de 25 ha, preferencialmente, com pelo menos 10 ha de pasto, possuam experiência no manejo de gado e este17 jam localizados em regiões onde existam usinas de beneficiamento de leite. Outra possibilidade é a aquisição e implantação de mini usinas de beneficiamento, através de Associações de Produtores, as quais, também, poderão ser financiadas pelo Programa. Maiores informações Associação Paraense de Criadores de Búfalos - APCB - Avenida Almirante Barroso, 5386 Parque de Exposições - Entroncamento. Fone: (0xx91) 243.3373 touros disponíveis. Houve também a inauguração do novo laticínio da marca Di Bufalla, contando com modernos equipamentos da SULINOX e com treinamento do mestre queijeiro Paolo Mortero, de Cagliari-Itália e do técnico do IDAM, Sr. Nailson Vizolli. Fonte: Rodrigo B. Pinheiro PERNAMBUCO AMAZONAS Laticinio Vô Batista O laticínio Vô Batista, passou a processar em média 700 lts de leite dia, segundo o Dr. José Rogério a fazenda Porangaba produz em torno de 250 lts e o restante é adquirido na bacia leiteira de Itacoatiara. A fabricação de minas frecal e mozzarella, são os principais produtos da empresa, que atende diversos segmentos de mercado em Manaus. Fonte: José Rogério Demanda aquecida Segundo o bubalinocultor Francisco Oliveira, é notório o crescimento da procura de matrizes bubalinas e por sub produtos desta espécie. No município de Autazes, sede da fazenda União, a oferta não atende a demanda, sendo necessário adquirir gado no baixo Amazonas ou no estado do Pará. Fonte : Francisco Oliveira Inseminação Artificial Na fazenda Carabao, aconteceu mais uma visita técnica do pesquisador Pietro Baruselli, que conferiu o resultado do 3o ano do programa de I.A. Segundo o Dr. Pietro, a Carabal vem obtendo resultados semelhantes aos das melhores fazendas de SP, o que mostra que esta técnica é viável na Amazônia. Nesta oportunidade houve a participação de profissionais da SEPROR, de alunos e criadores. Foi comunicado aos participantes a chegada do sêmen dos touros Mallandrino III, Jafar e Capovila, elevando para 14 o número de 18 Ricardo Rodrigues assume a Secretaria de Produção Rural de Pernambuco O presidente da Associação de Bubalinocultores de Pernambuco, (ASBUPE), diretor para o Nordeste da ABCB e presidente e da Sociedade Nordestina dos Criadores (SNC), Ricardo Rodrigues, foi nomeado pelo Governador Jarbas Vasconcelos para assumir o cargo de Secretário de Produção Rural de Pernambuco. Em função de suas novas atribuições, a organização do 3º Encontro Nacional de Bubalinocultores, previsto para o período de 15 a 17 de Outubro de 2.005 em RecifePE passa à responsabilidade do Zootecnista e Técnico da ABCB Rafael Vargas, juntamente com UFPE. MINAS GERAIS O búfalo marca presença na 1ª SuperAgro Buscando marcar o início de uma nova fase no calendário de eventos de agricultura e pecuária em Minas Gerais, contando com apoio do governo mineiro e diversas entidades representativas da iniciativa privada foi programada a 1ª Superagro, para o período de 02 a 05 de junho de 2.005 no complexo da Gameleira em Belo Horizonte em que concomitantemente à 45ª Exposição Agropecuária, estão sendo programados diversos eventos paralelos tais como a Expocachaça, além de cursos, palestras, workshops e ainda uma mostra dos princi- pais produtores de bens de consumo duráveis e outros segmentos industriais. Num evento que espera atrair um público de mais de 100 mil pessoas, os búfalos mais uma vez deverão marcar sua presença num Estado em que a bubalinocultura vem apresentando uma das mais expressivas taxas de crescimento do país, sendo sua participação coordenada pelo criador Mauricio Lapertosa, da Fazenda e Laticínio Belcon. Durante a mostra está programado um leilão de bubalinos oferecendo novilhas e reprodutores de aptidão leiteira no último dia da mostra. Associação Mineira promove mais um Encontro Regional A AMB, dentro de seu programa de difusão da bubalinocultura no Estado, e com apoio do Núcleo de Bubalinocultura da Escola de Veterinária da UFMG, realizou no último dia 30/04/05 mais um Encontro de Criadores, desta vez na Fazenda Cachoeirinha localizada em Cachoeira da Prata - MG, de propriedade do Sr Domicio Maciel e contou com a participação de 80 pessoas, sendo 30 estudantes e 50 criadores de várias regiões do Estado, tais como Brumadinho, Araxá, Montes Claros e da Região Metropolitana de Belo Horizonte. No Encontro, além da visita à propriedade foram realizadas as seguintes palestras: Situação atual da bubalinocultura mineira (Profa Dra Simone Koprowski Garcia - EV-UFMG) Convênio AMB / EV-UFMG (Profa Dra Denise A. A. de Oliveira - EV-UFMG) Nutrição da búfala em lactação com parâmetros italianos (Dr. Eduardo Bastianetto - Médico Veterinário, AMB) O convênio de cooperação técnico científica da AMB com a EV-UFMG deverá ser assinado nas próximas semanas. Já estão sendo realizadas algumas pesquisas nas áreas de genética, sanidade animal e caracterização dos produtores nas propriedades de alguns dos associados. Fonte: Eduardo Bastianetto Diretor de Informatização, Comunicação e Eventos da AMB 19 se com algo sobre o seu lombo. Para tanto, foi desenvolvido um tipo de colete denominado pela equipe como “colete tático transportador”. Projeto Búfalo Major Júlio César e Revista Segurança e Defesa U ma das primeiras preocupações do CIGS (Centro de Instrução de Guerra da Selva) era resolver a questão do transporte de armas, munição, água, rações e outros equipamentos por frações de tropas empenhadas em guerra de selva. Na busca de um meio de transporte eficiente e de baixo custo para o ressuprimento nas operações na selva, tentou-se a utilização de animais de carga ou que pudessem ser adestrados para esse fim. Uma das primeiras tentativas foi com a utilização de uma anta, criada desde cedo no zoológico do Centro com este fim, colocando-se cangalha e administrando-se pequenos pesos em cestos que eram fixados em seu lombo. Conforme relatos obtidos com o Sr João, mateiro do CIGS, esta idéia não foi concretizada porque o animal reagia e saía pinoteando dentro do seu recinto no zoológico. Outra tentativa, também frustrada, mas que começou a demonstrar a validade do conceito da utilização de animais, foi executada a partir de 1983 com a utilização de muares carregados com cerca de 60 Kg de suprimentos, montados sobre cangalhas confeccionadas com palha. O “Seu João” participou do trabalho e, segundo ele, o muar não passou do primeiro socavão devido à existência de um acentuado chavascal a cerca de 800 metros da base. Neste lugar, o animal empacou e não quis sair do local. O projeto foi abandonado pela inaptidão do animal para o ambiente de selva, tendo apresentado também sérios problemas com o apodrecimento de cascos e doenças de natureza epidérmica. de pesquisa que visava minorar as dificuldades de transporte de cargas no interior da floresta. A idéia de se empregar o búfalo partiu de um cartão postal. Neste cartão se retratava a utilização do animal para fins de patrulhamento pela 5ª Companhia Independente da Polícia Militar na cidade de Soure, na ilha do Marajó- PA. Já criado com sucesso na Amazônia em pelo menos quatro raças, o búfalo é rústico e possui diversas características que foram ao encontro das necessidades militares para o emprego de animais. Recursos Materiais Empregados No início do Projeto, o objetivo primordial era domesticar os animais, passando para eles condições que viessem a facilitar o cumprimento das metas estabelecidas na Proposta de trabalho apresentada ao CMA. Desde a fase inicial, foi buscado o desenvolvimento de um colete que pudesse acondicionar o material que iria ser carregado ou seja, no primeiro momento era fundamental que o animal se acostumas- Com o andamento dos trabalhos, houve a necessidade de aprimoramento destes materiais. A cada nova investida na selva, uma nova idéia surgia e era aplicada de imediato. A última versão do colete tático transportador foi aplicada na Operação Búfala Aérea, com resultados bastante satisfatórios. Este material foi uma importante alteração realizada porque passou a facilitar a montagem e desmontagem dos bolsos nos coletes. Vários tipos foram testados, permitindo se chegar a um modelo ideal para os trabalhos. O búfalo tem demonstrado ser uma das soluções para as necessidades das tropas de selva brasileiras, devido à resistência do animal, sua adaptação ao ambiente e, principalmente, à sua capacidade de transportar 400 kg ou mais de carga no lombo, ou até três vezes isso quando tracionando carroças. Por ser um animal que não exige pasto de qualidade pode ser criado em pequenos rebanhos, comendo aquilo que a selva oferece. Em operação com a participação da Marinha, Exército e Força Aérea foram testadas todas as possibilidades de utilização dos búfalos: integrados às atividades militares, realizaram travessia de cursos d’água, infiltração através da selva e transporte de peças de artilharia. A utilização desses animais ainda pode proporcionar, em situações de crise, um “estoque” de carne fresca para as tropas empregadas na selva, da mesma maneira como era utilizado o gado nas antigas expedições de nossos Bandeirantes. Mais recentemente, no ano de 2000, a Divisão de Doutrina e Pesquisa desenvolveu outro Projeto, empregando-se a bicicleta para o transporte de carga. Esta idéia surgiu a partir do estudo de técnicas especiais de ressuprimento utilizadas pelos vietnamitas na guerra contra os EUA, no final da década de 60 e início da de 70 onde a fisiografia da selva possibilitava a abertura de trilhas e o largo emprego da mão de obra farta e barata, daquele país. Devido ao grande esforço físico dispendido pelo homem para empurrar a bicicleta, ela não foi aprovada como sendo uma opção para a logística no interior da selva. Em 2000, teve início com o Projeto Logístico 2–Técnicas especiais de Ressuprimento nas Operações na Selva o emprego do búfalo, a partir de um trabalho 20 Um búfalo da raça Mediterrâneo equipado com o colete especialmente desenvolvido pelo CIGS para o transporte de suprimentos diversos. O animal, equipado com este colete, suporta o seu próprio peso em carga, ou cerca de 400 kg (Foto: CIGS). 21 CONSANGUINIDADE Otavio Bernardes - SP (Baseado em monografia de William Koury Filho - Zootecnista - [email protected]) C ada animal possui no núcleo de suas células diversos cromossomos agrupados em pares, formados por estruturas denominadas DNA. As “unidades básicas” do DNA, responsáveis pela expressão das características do indivíduo são denominadas genes, que, simplificadamente seriam “um pedacinho do DNA”, cuja localização é denominada locus. Certas características dos indivíduos são dependentes de um único par de genes (cor dos olhos, por exemplo) localizadas do mesmo locus dos pares de cromossomos, já outras, dependem de uma combinação de diversos genes (produção leiteira por exemplo). Na reprodução, cada animal recebe 50% de seus genes do pai (espermatozóide), e 50% dos genes da mãe (óvulo). Num acasalamento de dois indivíduos, quanto mais aparentados forem eles, maiores as chances de que seus descendentes possuam um percentual maior de genes idênticos (homozigose), que seriam cópias do gene presente no ancestral em comum e que se transmitem aos filhos, ocorrendo o inverso, quanto menos forem aparentados os ancestrais em comum (heterozigose). Lembremos que todos os animais dentro de uma população têm alguma relação entre si posto que descenderam em algum lugar e em algum momento de algum ancestral em comum. A fim de avaliar o “grau de parentesco” ou probabilidade de existência de genes em comum com seus ancestrais foi definido um coeficiente de consangüinidade ou de endogamia que é a metade do grau de parentesco entre os pais do indivíduo, expresso em porcentagem e é medida pelos ancestrais em comum que o mesmo possui de forma que quanto mais aparentados forem os ancestrais, maior a endogamia no seu acasalamento e portanto, maiores as chances de possuir genes idênticos ao dos ancestrais comuns. Exemplo de alguns acasalamentos endogâmicos e seus respectivos coeficientes de endogamia: Teoricamente uma maior freqüência de genes idênticos responsáveis por características positivas (produtivas, por exemplo) num indivíduo é um dos objetivos do processo de melhoramento dos rebanhos, assim, pareceria lógico que se acasalássemos indivíduos de alta produtividade aparentados entre si teríamos maiores chances de obtermos uma progênie igualmente mais produtiva. RAZOOK (1977), em um amplo trabalho de revisão, relata a utilização da endogamia até mesmo para formação de raças de corte e leite de valor indiscutível, como Hereford, Shorthorn, Holstein-Friesian e outras, terminando por dizer que a mesma consangüinidade deve ter tido um papel bastante significante na formação das raças zebuínas. Ocorre porém, que, com a maior consangüinidade, também os genes “negativos” presentes nos ancestrais se apresentariam com maior freqüência nos descendentes. Ou seja,a endogamia em si, não produz genes deletérios ou que causem anomalias congênitas, mas, se presentes nos pais, podem levar a um aumento de sua freqüência nos descendentes em homozigose (genes idênticos no mesmo locus dos pares de cromossomos) e, algumas doenças somente se manifestam quando em homozigose, como a acondroplasia, a agnatia,; cabeça Bulldogue ou prognatismo; hérnia cerebral, espasmos letais congênitos; catarata congênita; membros curvos; epilepsia; lábio leporino; alopecia, hidrocefalia, hipoplasia de ovário ou testículo, espinha curta; hérnia umbilical, cauda torcida, entre outras, sendo algumas delas letais. Problemas que surgem com a utilização da endogamia que são letais ou semiletais são facilmente identificados, mas pequenos “problemas” que na verdade são combinações gênicas desfavoráveis, não são facilmente identificados, e estas combinações indesejadas ocorrendo no indivíduo, leva ao que se conhece por depressão endogâmica, pela qual, a partir de um certo grau de consangüinidade ao invés de observarmos uma melhora das características presentes nos pais, observa-se uma redução nas mesmas. Vários são os estudos em que se de- 22 monstram perdas por depressão endogâmica, como o de SMITH et al. (1998), que trabalharam com vacas holandesas, e calcularam que para cada 1% de aumento no coeficiente de endogamia, houve perda aproximada de 37 kg de leite, 1,2 kg de gordura, 1,2 kg de proteína por lactação, além da idade ao primeiro parto ter aumentado em 0,4 dias, o intervalo entre partos em 0,3 e a vida produtiva diminuído em 13,1 dias. SCHENKEL et al. (2002), trabalhando com arquivos da ABCZ, estimaram que, na média das raças zebuínas, para cada 10% de aumento na endogamia individual, o ganho médio diário ajustado para 205 dias e o para 550 dias foram reduzidos em 1,7% e 2,1% em relação a média da população estudada. Baseado na literatura, pode-se dizer grosseiramente que a cada incremento em 10% no coeficiente de endogamia, há depressão de 2% a 7% nas características de vigor, produtivas e reprodutivas. JOHANSSON & RENDEL (1968), mencionam trabalhos norte americanos a respeito da influência da consangüinidade que apontam para perdas em características reprodutivas e de vigor, e que relatam a ocorrência de uma mortalidade embrionária 15% mais alta, no caso de vaca consangüínea, e ainda maiores, quando a vaca consangüínea foi acasalada com touro aparentado com ela própria. Outro resultado bastante expressivo, foi o de 36% de prenhes diagnosticada de touros consangüíneos acasalados com vacas consangüíneas, contra 65,7% entre acasalamentos de animais não aparentados e não-consangüíneos. Por outro lado, certas características produtivas melhoram em indivíduos com baixos níveis de consangüinidade (heterose ou “vigor híbrido”) em decorrência das combinações gênicas favoráveis, conseqüência do aumento de genes em heterozigose. Esse aumento em desempenho é somente, parcialmente transmitido às futuras gerações, e é conseguido principalmente com um acasalamento bem sucedido A natureza é sábia, e com este tipo de mecanismo permite uma maior sobrevivência de indivíduos não consangüíneos, mantendo assim uma maior variabilidade genética nas espécies, dificultando que as mesmas possam vir a se extinguir devido à falta de adaptação a alguma adversidade do ambiente. A despeito de ser possível a utilização da endogamia no processo de melhoramento JOHANSSON & RENDEL (1968), citados por RAZOOK (1977), trabalhando com rebanhos consangüíneos e posteriormente cruzando as diferentes linhagens em gado Holandês concluem que: “A imprevisibilidade da consangüinidade em rebanhos de diferentes origens, a tendência a uma redução da eficiência produtiva e a falta de uniformidade na “performance” de indivíduos consangüíneos desencorajam o desenvolvimento de linhagens consangüíneas como meio geral para melhoramento do gado leiteiro. O desenvolvimento e a manutenção de linhagens consangüíneas será muito oneroso e o cruzamento de tais linhagens pode não favorecer indivíduos claramente superiores a indivíduos provenientes de cruzamento com outros rebanhos exteriores não consangüíneos.” O fato é que a endogamia acarreta em perdas produtivas e reprodutivas, porém trabalhar linhagens em moderados níveis de parentesco de um ancestral provado, pode ser uma boa opção para imprimir características desejadas de uma determinada família. Em função disso, a recomendação geral nos processos de melhoramento dos rebanhos tem sido a de se buscar acasalar animais de alto potencial produtivo, porém, com o menor coeficiente de endogamia possível, visando aumentar nos descendentes a presença de genes responsáveis pelas características que se busca (raciais, produtivas, de conformação, etc.) ao mesmo tempo em que se evita a referida “depressão endogâmica” e paralelamente se consegue obter algum grau de heterose. Modernos métodos de avaliação genética e aplicáveis a grandes contingentes populacionais (como o BLUP-modelo animal), têm permitido a identificação dos indivíduos de melhor potencial genético para uma determinada característica ou grupo de características almejadas, e são expressos em índices como BV (Breeding Value), PTA (habilidade de transmissão), DEP (desenvolvimento esperado na progênie) de expressão quantitativa e que permitem “classificar” os animais em função das caracte- rísticas avaliadas e costumam ser divulgados nos tradicionais “rankings” e “sumários”. As modernas biotecnologias de reprodução (inseminação artificial, transferência de embriões, e quem sabe até mesmo a clonagem no futuro) e sua popularização, têm permitido a rápida multiplicação de um determinado indivíduo o que vem ocorrendo em nosso meio por exemplo em zebuínos onde se busca multiplicar os animais melhores classificados nos sumários. Uma das conseqüências são resultados preocupantes como os publicados por FARIA et al. (2001), que observou que, no período de 1994 a 1998, apenas 10 touros foram pais de 19,3% dos animais da raça Nelore nascidos no Brasil e, ainda que o aumento de consangüinidade por geração na raça tem sido da mesma magnitude da que se observaria em uma pequena população, constituída de 34 machos e 34 fêmeas acasalando-se ao acaso e deixando um casal de filhos cada. A bubalinocultura brasileira, ainda que por motivos diversos tais como: baixo volume de importações, pequena quantidade de rebanhos sob controle zootécnico, baixo intercâmbio comercial inter-regional, etc potencialmente tem os mesmos problemas descritos para os zebuínos. Numa fase inicial, principalmente a partir das décadas de 70-80, despertou-se enorme interesse entre os criadores na busca de animais com padrões raciais bem definidos, o que mais facilmente era obtido com a utilização de animais descendentes dos importados originais e suas progênies, a quem se denominam “POI”, que quantitativamente, eram em reduzidíssimo número, resultando que rebanhos que buscavam se fechar em tais linhagens, certamente possuem alto grau de endogamia. As raras importações de material genético principalmente a partir da década de 60 ( sêmen da Bulgária e da Itália, e alguns poucos exemplares italianos), a despeito de terem sido muito pouco utilizadas em nosso meio, também provinham de rebanhos com elevado grau de consangüinidade (na Itália, por exemplo, há séculos não existe a introdução de animais de outros países e os dois animais com sêmen búlgaro introduzido no país eram filhos da mesma mãe). A dificuldade de utilização de animais “puros” porém acabou favorecendo os acasalamentos visando formações raciais por “absorção”, passíveis de registro em Livro Aberto (LA) e após algumas gerações, reconhecidos como puros o que, se por um lado acaba gerando animais com menor repetibilidade de características em suas progênies para perfeito enquadramento nos padrões raciais admitidos, por outro lado, carregam menor dose de consangüinidade, o que evita seus efeitos depressivos nas características de interesse econômico. Em trabalho apresentado no Congresso das Filipinas em 2004, Ramos et al. aferiram os efeitos de depressão endogâmica na produção leiteira de búfalos no Brasil, concluindo que a mesma ocorre quando o coeficiente de endogamia ultrapassa 6-7%, conclusão de certa forma concordante com trabalho de Vasconcelos que em rebanho com coeficiente médio de consangüinidade de 6%, não havia observado depressão da produção leiteira atribuível a tais níveis de consangüinidade, Infelizmente no Brasil são ainda pouco comuns propriedades que submetam seus rebanhos a controle zootécnico e genealógico resultando daí que, na elaboração de avaliações de potencial genético produtivo, somente uma pequena parcela do rebanho tem sido avaliada utilizando-se as técnicas hoje disponíveis o que, se persistindo, acabará por identificar poucos animais de mérito superior e conseqüentemente, uma superutilização dos mesmos e com conseqüente aumento da consangüinidade de nossos rebanhos, tendência já constatada no trabalho de Ramos e que, a exemplo dos zebuínos, poderá se transformar num problema. Acreditamos que a diversidade de nosso “rebanho de base”, formado principalmente por animais mestiços e LA, caso despertem os criadores para a necessidade do controle zootécnico e genealógico de seus rebanhos, permitiria que identificássemos em maior quantidade indivíduos de mérito produtivo superior e não consangüíneos, reduzindo tal problema em potencial. 23 24 Carne de Búfalo: Cadê Você ? E xiste uma situação verdadeiramente constrangedora, que deixa todo e qualquer bubalinocultor de “saia justa”. É quando freqüentemente lhes solicitam informações a respeito dos pontos de venda onde a carne de búfalo pode ser encontrada. Esse mal estar decorre do fato de que na esmagadora maioria das vezes, nem ele nem ninguém sabe responder essa pergunta, por um motivo tão simples quanto inadmissível. É que o búfalo, quando embarca da fazenda rumo ao frigorífico, imediatamente se transforma em boi! Não interessa entrarmos em divagações para sabermos se o consumidor está comprando gato por lebre, ou lebre por gato. Pouco importa se o produto que o mercado está lhe impingindo é de melhor ou pior qualidade. Basta darmos conta de que essa prática vem desrespeitando um dos mais básicos direitos do consumidor, que é possuir verdadeiro conhecimento daquilo que está adquirindo. Esta prática transformista, também trás como conseqüência, a desvalorização dos búfalos perante a opinião pública, e o inevitável desmerecimento dos seus criadores, na medida em que é interpretada de imediato e pejorativamente, como maquiagem utilizada para comercializar um produto de qualidade inferior. Sobram aos bubalinocultores, além do constrangimento a que já nos referimos, a notória posição de inferioridade, presente na hora da comercialização dos seus animais, sem identificação, anônimos, apócrifos! Se vender búfalo por boi é um desrespeito ao consumidor, e prejudica financeiramente o bubalinocultor, então porque isso é feito? Podemos facilmente ressaltar 2 fortes e determinantes motivos: 1 - Com “perdão da palavra” e não querendo faltar com o devido respeito, não podemos nos furtar a colocar a primeira culpa, no colo de Deus ! (Será que Deus tem colo ?) Explicamos melhor: Se nosso pai todo poderoso, ao criar o búfalo, tivesse tido a simples idéia de fazê-lo com gosto de búfalo, bem diferente do gosto do boi, nada disto estaria acontecendo. Da mesma forma que ninguém pensa vender porco por carneiro, nem peixe por galinha, ninguém ousaria tentar vender búfalo por boi ou boi por búfalo.... 2 - A segunda culpa cabe à uma das mais inexoráveis leis do mercado, qual seja a exigência da tão famigerada quanto importantíssima escala de produção! O “tamanho” da escala varia com o tempo, com os processos e sistemas produtivos, logísticos, etc. Algumas rápidas lembranças práticas e corriqueiras, da evolução sofrida nos últimos 40 ou 50 anos, pela pecuária de corte paulista, nos ajudam no entendimento dessa questão: Naquele tempo, todo gado era transportado “tocado por terra”, por peões à cavalo ou burro. Soa engraçado, mas era assim que se falava : “tocado por terra” – como se também pudesse ser “tocado por ar”.... Os bois tinham vida longa, viviam pelo menos o dobro do que hoje. Também pudera ! Sem qualquer “genética”, muito menos manejo, nasciam nos cerrados de Goiás ou Mato Grosso, antes do advento das brachiarias, e viviam na estrada, viajando... Na desmama eram levados “por terra”, muitos e muitos pousos adiante, para serem recriados. Após recria, algumas aftosas contraídas e vários outros pousos adiante, eram engordados, para fazerem sua última viagem, também “por terra”, até o frigorífico. Se passassem de 15 @ no gancho, seus invernistas contavam a façanha a seus amigos, com os peitos inflados de orgulho. Suas carcaças serviam aos varejistas dos grandes centros urbanos enquanto os açougueiros das pequenas cidades interioranas, tinham de abastecer seus estabelecimentos com vacas velhas ou bois de “frieiras” adquiridos dos fazendeiros locais. Se os bichos fossem razoavelmente mansos e saudáveis, seguiam “por terra”, até os matadouros municipais, se eram fracos ou muito ariscos, eram mortos no local de origem, debaixo de uma árvore “ajeitada” para essa finalidade. Tais açougueiros conseguiam sobreviver abatendo, picando e vendendo, apenas 2 ou 3 cabeças por semana, e por total ausência de escala, eram desprezados os couros, miudezas, etc. Hoje o panorama visto da ponte é outro: Os pequenos varejistas fecharam suas portas, por falta de escala. Os matadouros municipais estão se tornando obsoletos, sem utilização, por falta de escala. Aqueles açougueiros medianos, que comercializam 10 ou 12 cabeças por semana, e que ainda não cerraram suas portas, preferem adquirir suas carcaças diretamente dos frigoríficos, por serem mais baratas e de qualidade superior. Motivo: Simplesmente porque os frigoríficos trabalham com escala de produção, e isso lhes propiciam agregar valor a todos sub produtos dos animais, como couros, vísceras, etc. Essa agregação de valor aos sub produtos, chegou a tal ponto, que frigoríficos prestam serviços de abate, totalmente “gratuitos”, pagando-se exclusivamente com eles. Mais que isso : alguns frigoríficos ainda oferecem, por conta dos sub produtos, o transporte para o gado que será abatido, desde que dentro de um raio de até 100 km. Tudo isso é simples “milagre” da tal escala de produção! Após estas rápidas reminiscências e constatações, fica claro que o búfalo, no terreno das “escalas” exigidas pelos grandes frigoríficos, sempre levará desvantagem com o boi. A falta de escala atrapalha até na hora do abate, pois o magarefe tem que improvisar o ato, se utilizando de um instrumento projetado e concebido para bovinos, de diferente anatomia. Se na hora em que as carcaças são comercializadas, desgraçadamente vira tudo farinha do mesmo saco, com o couro não dá pra agir assim, e a falta 25 de escala também acaba complicando. A velocidade com que cresce a exigência de escala no mercado, sempre será maior que a velocidade de crescimento do rebanho bubalino. Resta ao búfalo encontrar e construir sua própria cadeia de carne no mercado, a qual a nosso ver, deve ser distante, isolada e apartada dos grandes frigoríficos. Méritos não lhe faltam, pelo contrário, sobramlhe, testemunhados por seus fantásticos índices produtivos, e pela saudável riqueza de sua carne. É nessa humilde e persistente luta, que muitos bubalinocultores estão se empenhando em diversas regiões brasileiras, a construir cadeias de carne bubalina, capazes de driblar a famigerada falta de escala. Todos, indistintamente, merecem nosso aplauso, nosso apoio, extensivos àqueles, que motivados por circunstâncias diversas, já encerraram suas atividades, por eles terem igualmente contribuído e participado de maneira importante, na evolução e formatação das cadeias viáveis da carne bubalina. Vejamos algumas dessas iniciativas: Comecemos por narrar as experiências vivenciadas por João Ghaspar de Almeida e Manoel Osório L. de Almeida, bubalinocultores em Uruguaiana – RS, na segunda metade dos anos 90. Durante cerca de 5 anos eles mantiveram uma parceria comercial com a empresa Wessel, de São Paulo, atuante na área de carnes nobres especiais. Após várias experiências iniciais, concluíram que os búfalos super jovens geravam produtos de maior aceitação aos clientes daquele tipo de comercio de carne, e assim sendo a parceria baseou-se nesses animais. Os mesmos eram abatidos, quase sempre na desmama, em frigoríficos próximos ao criatório, e suas carcaças eram enviadas quinzenalmente para São Paulo. Os preços eram pré-estabelecidos, e válidos por longos períodos. Para poder manter a regularidade nos fornecimentos, os produtores, tinham que congelar parte das cargas na safra, para entregá-las na entressafra. Essa parceria só foi interrompida, quando foram criadas barreiras sanitárias que impediram o envio de carne gaúcha para outros estados, em razão do surgimento de 26 focos de aftosa na região. Desse trabalho intensamente vivenciado, sobraram algumas firmes conclusões que João Ghaspar faz questão de citar: 1 - O produtor de búfalos para carne, é normalmente um apaixonado por aquilo que faz, e pelo animal que cria, e acaba não obedecendo a mais elementar das regras de comercio: Quem manda e determina é o consumidor final, que compra a carne de nossos búfalos, cozinha, come, aprecia e decide se tornará a comprá-la. 2 - Nosso cliente de restaurante não aceita que o cardápio ofereça carne de búfalo e o garçom diga que está em falta, que não é época, etc. 3 - Se nosso produto é diferenciado, sempre tem de agradar ao consumidor, por isso todo cuidado é pouco ! Se o filé de bovino não agradá-lo, poderá ter sido por qualquer motivo, mas se descontentar com o filé de búfalo comprado, sua única conclusão é de que carne de búfalo não presta. 4 - Não gaste seus recursos em promoção se não tiver consistência de produção, com desvio mínimo de qualidade e eficiência de logística. 5 - Nosso produto tem um tremendo potencial de diferenciação no mercado, porém uma grande dificuldade é criar alternativas para os cortes menos nobres, pois a culinária brasileira é cruel com anatomia animal, por ela destinar a cada animal, apenas e tão somente duas picanhas... Foi também no RS que em 1998, surgiu a Cooperbúfalo, aglutinando em torno dela 24 amigos e criadores de búfalos. Hoje, passados 7 anos de sua fundação, fazem parte dessa instituição, 37 cooperados comprometidos com a agenda anual que garante regularidade de oferta para abate, de animais de até 30 meses de idade, bem acabados, com peso mínimo de 390 k. Evaldo Canali, seu atual presidente faz um rápido retrospecto da historia dessa cooperativa: A primeira providência, como não podia deixar de ser, foi estabelecermos um cronograma de fornecimento regular de animais jovens e bem acabados, de forma a garantir o abastecimento da Cooperbúfalo durante o primeiro ano. A seguir a cooperativa tomou para si as responsabilidades inerentes a todas fases do processo. Era ela quem comprava os ani- mais dos associados, terceirizava o abate, assumia a comercialização, a entrega, e tudo o mais. As vendas eram realizadas em diminuta escala, com os varejistas comprando meio ou um animal de cada vez, e para complicar ainda mais, todos queriam receber seus pedidos na sexta feira. Isso gerava um acúmulo de entregas em um único dia, tornando impossíveis de serem feitas com utilização de um só veículo. Logo constatamos que as ditas carnes nobres dos búfalos, para churrascos, eram muito bem aceitas, mas os dianteiros começaram a sobrar na câmara fria, obrigandonos a comercializá-los por preços inferiores, para não perdê-los. Os couros eram salgados com o intuito de fazermos estoque ou escala, para obtermos melhores preços. Não deu certo, começaram a desaparecer os couros por conta dos amigos do alheio... Alguns problemas de inadimplência também começaram a surgir. A partir do segundo semestre de 2002, percebemos que nossa pequena estrutura não nos permitia continuar abraçando todos elos da cadeia produtiva. Mudamos nossa maneira de atuar. A Cooperbúfalo continuou coordenando a agenda de abate, controlando a qualidade dos animais, inclusive comprando-os dos cooperados, mas os revendíamos vivos a um frigorífico/parceiro, o qual fazia o abate, a comercialização, e todo o resto. Hoje, reduzimos a participação da Cooperbúfalo em todo processo, concentrando nossas ações exclusivamente naquilo que consideramos essencial. Apenas controlamos a agenda e a qualidade dos produtos que nossos cooperados comercializam diretamente junto ao frigorífico. Também intermediamos vendas de búfalos vivos para uma rede de supermercados, que se incumbe diretamente do abate e das demais operações. O faturamento da nossa cooperativa, dessa maneira, tem sido suficiente para cumprir com sua obrigação de pagar os fretes boiadeiros, e manter-se em operação, procurando estimular a produção e a oferta de animais de qualidade para o abate. Aos nossos cooperados procuramos garantir o escoamento de seus produtos, a preços justos de mercado, e sobretudo a confiabilidade que nos faz permanecer unidos. Mais no interior do RS, na cidade de Caçapava do Sul, com pouco mais de 20 mil habitantes, o bubalinocultor Celestino Goulart Filho, conhecido por Tininho, chamou exclusivamente para si a responsabilidade de fazer com que a carne de seus búfalos, chegasse à mesa de seus consumidores, como carne de búfalo. cleos regionais, (ver noticias neste boletim), estão prometendo boas perspectivas para o mercado da carne de búfalos, na medida que essas diversificadas e inteligentes ações promocionais da carne de búfalo, tem despertado o interesse nos consumidores, como também nos demais segmentos da cadeia produtiva. Assim, vem se tornando cada vez mais comum a carne de búfalo ser oferecida em churrascarias, restaurantes e em alguns estabelecimentos varejistas, como é o caso do Supermercado Supri Mais, o qual inclusive figura como patrocinador de vários eventos bufaleiros. Firmou parceria com um supermercado local, assumindo o compromisso de lhes fornecer semanalmente, machos ou fêmeas bubalinas, de até 30 meses de idade, bem acabados para o abate. Ambos, igualmente se responsabilizariam pelas ações promocionais, porém o supermercado, teria de vender toda carne fielmente identificada como de búfalo. O preço de comercialização do kg vivo dos animais, ficou estabelecido que seria 10% inferior ao do vigente para bovinos, em razão do menor rendimento de carcaça dos búfalos, e o supermercado, por sua conta, terceirizaria o abate. Distribuiram panfletos pela cidade divulgando os aspectos nutricionais da carne de búfalo, outros tantos divulgando receitas, foram visitadas academias de ginásticas, geraram noticias no jornal local, mandaram construir uns poucos cartazes e o resultado veio em 18 meses: Criou-se na cidade de Caçapava do Sul – RS, a cultura do consumo da carne de búfalo. Tininho afirma que todas essas despesas com promoções, visando conscientizar a população de uma pequena cidade do interior, são pequenas e tendem a quase se anularem com o tempo. Hoje são abatidos de 2 a 6 búfalos por semana, sendo que o consumidor paga por essa carne, por enquanto, o mesmo que pagaria se a mesma fosse bovina. “Por enquanto”, porque Tininho afirma que “mais adiante será mais caro”.... Outra afirmação do Tininho : “Até 1998 criava Angus da melhor qualidade, com todas tecnologias possíveis, e nunca ganhei dinheiro, sempre puxando recursos do bolso para sustentar a atividade. Com o búfalo, há alguns anos, empato os custos, pois estou em fase de ampliação do rebanho, e tenho a previsão de começar a ganhar dinheiro dentro de 2 anos.” No Estado de Santa Catarina, iniciativas recentes, da Acribúfalo, e de seus nú- Com algumas reflexões, somos levados a concluir que o processo de formação das cadeias de carne de búfalo que vem se formando em Santa Catarina, difere da grande maioria de cadeias do restante do país, onde constatamos que a iniciativa de montagem das mesmas, sempre partem ou partiram dos próprios bubalinocultores. Ao contrário dessa tendência quase uníssona que se verifica no Brasil como um todo, em Santa Catarina, parece que os “encabeçadores” dessas cadeias, ao invés de bubalinocultores, são varejistas, abatedouros ou mesmo churrascarias que tiveram seus interesses despertados para a carne de búfalo, a partir de eficientes ações de divulgação, empreendidas pelos criadores de búfalos. Uma dessas felizes ações, nasceu de uma discussão surgida entre o gerente de uma churrascaria e o bubalinocultor Arno Phillipi. Ao ouvir do gerente que o consumidor não tinha interesse pela carne de búfalo, Arno o desafiou a promover uma “noite do búfalo”, onde somente seriam servidas carnes de búfalo. No evento de “casa cheia” foram servidas além das carnes de churrasco, dianteiros na panela, lingüiça e até torresmo de couro de búfalo. O sucesso foi tão marcante que a “noite do búfalo” vem se repetindo mensalmente naquela churrascaria. De outra feita, no almoço comemorativo do “Dia do Médico” aquela meia dúzia de laboriosos bubalinocultores catarinenses, liderados pelo Arno, conseguiu que os organizadores deixassem por sua conta o fornecimento da carne que seria servida. Dessa forma, acabaram vendendo seu “peixe”, ou melhor, sua carne de búfalo, para os verdadeiros formadores da opinião pública catarinense. Parece estar se configurando em Santa Catarina uma nova postura que vem dando certo. Os criadores de búfalos, com seus bem sucedidos eventos promocionais, atraem a atenção e o interesse dos formadores de opiniões bem como dos empresários que queiram investir no setor, garantindo-lhes o suporte necessário. Fato que ilustra bem essa tendência diferente que ocorre em Santa Catarina, é o recente interesse partido da prefeitura do município de São José, em incluir carne de búfalo na merenda escolar de sua cidade. No Estado do Paraná, algumas iniciativas foram feitas no sentido de formação da cadeia de carne de búfalo, amparando-se na expressiva população bubalina existente no litoral paranaense, bem próximo a Curitiba, o que garantia boas vantagens logísticas. Alô Guimarães Netto e Umberto Natalli, foram os precursores nessas iniciativas, e precederam Paulo Cleve do Bomfim, ex presidente da ABCB, que atuou no ramo de 1995 a 1998. Paulo comprava os animais diretamente dos produtores, abatendo-os no Frigorífico Argus, em São José dos Pinhais, perto de Curitiba. Os dianteiros eram comercializados no atacado, como carne bovina e os traseiros, diretamente em seu estabelecimento varejista. Servia também inúmeros restaurantes da capital paranaense. Para as entregas contava com um caminhão tipo baú, além de uma Kombi e 8 motos de entrega. Por semana abatia cerca de 60 búfalos. Encerrou suas atividades em 1998, e aponta as principais razões que o levaram a essa contingência : 1 - A pequena escala com que trabalhávamos originava custos maiores, os quais não conseguíamos repassar aos consumidores por se recusarem terminantemente a pagar mais caro pela carne de búfalo. 2 - Com honrosas exceções, os criadores de búfalos de nossa região, falhavam constantemente com suas previsões de terminação de seus animais, além de pretenderem preços incompatíveis com seus produtos, inclusive buscando “empurrar” vacas velhas e magras na carga. Era um calvário comprar búfalos na idade e peso necessários. 27 3 - Diferentemente do queijo de búfalo, que “pegou carona“ no marketing e culinária italianos, a carne de búfalo era e em parte continua sendo, muito desconhecida. No Estado de São Paulo, mais precisamente na região de Marilia, Cláudio Ribeiro vem tentando formar uma cadeia de carne bubalina. Cadastrou os produtores da região, chegando à conclusão que somados, dariam conta de produzir 2 mil garrotes por ano, o que corresponderia a cerca de 40 cabeças por semana. Além dos produtores, contatou frigoríficos, supermercados e definiu o tipo de animal que imaginou ideal. Teria de ser jovem, entre 18 e 24 meses, estar terminado e pesando cerca de 400 k. Registrou a marca “Búfalo Precoce”, e ao iniciar as primeiras negociações com os segmentos “parceiros”, constatou as primeiras dificuldades: “Querem tudo para eles, e nada para nós...” Assim, a pretensão inicial de Cláudio, de vender carne de búfalo, por preços superiores aqueles praticados para carne de vaca, não foi satisfeita. Afirma que outras razões estão impedindo esse objetivo, tais como a grande oferta de carne vigente hoje no mercado, além do antigo e conhecido problema com a venda do couro de búfalo, determinado pela pequena escala e oferta irregular. Cláudio chegou à conclusão de que “no momento, nosso mercado interno, não tem condições de absorver a carne de búfalo por preços superiores aos que atualmente são praticados”. Apesar das dificuldades, vem procurando manter coesos os produtores de sua região, e sugere uma saída : A busca por mercados diferenciados, no exterior. No momento, o bubalinocultor paulista, Sergio Seixas, com propriedades em Adamantina e Analândia, com capacidade de produzir cerca de 380 animais jovens para abate, por ano, vem tentando costurar algumas parcerias visando à colocação de carne de búfalo no mercado. No Estado da Bahia, Getulio Soares criou em 2003, uma pequena cadeia mercadológica para colocação da carne de búfalos “Búfalo Baby”, no mercado. Compra animais recém desmamados, e os recria e engorda em sua fazenda localizada em São Sebastião do Passe, a apenas 60 km de Salvador. No inicio, Getulio bancava todo o processo, desde o abate, desossa, embalagem a vácuo, e congelamento. Assumia também a comercialização junto a uma rede de delicatessen, promovendo degustação 28 entre clientes, distribuindo folhetos, etc. Esse processo inicial, durou um ano e a partir de 2004 foi alterado: “Passamos a vender nossos animais diretamente a empresa Tecnocarne, por preços iguais aos vigentes para o boi, a qual faz o abate e nos revende os cortes nobres, já embalados com o selo da Búfalo Baby, com os quais servimos restaurantes da região, também aos mesmos preços de carne bovina. A exemplo das carnes nobres, compramos da Tecnocarne os couros de nossos animais, os quais mandamos curtir em curtume distante 200 km de Salvador, comercializando a sola para cabrestos, selas, arreios, loros, etc. Por enquanto, nosso abate de búfalos resume-se em 15 animais a cada 2 meses. No Estado de Alagoas, outro que organizou a seu modo a venda de carne de búfalos, foi o bubalinocultor Alberto Couto. Sua atividade principal é a produção de leite, toda utilizada na fabricação de diversas qualidades de queijos. Tem um ponto de venda, denominado Búfalo Bill, bem próximo à sua fazenda, nas margens da rodovia BR101, em São Luiz do Quitunde, onde comercializa além de seus queijos, a carne de búfalos, e gama variada de embutidos de sua fabricação, maximizando com um mix variado, a agregação de valor à sua produção. Seu ponto de venda já se tornou tradicional em sua região, muito devendo seu sucesso, ao rígido controle de qualidade que Alberto impõe a seus produtos. Ele vem adotando a estratégia de vender seus animais, logo na desmama a um de seus vizinhos, com a garantia de recompra quando estiverem prontos para serem abatidos. Não exercendo a atividade de engorda, alivia suas pastagens, melhorando assim a produtividade de leite em sua fazenda. No Estado do Rio Grande do Norte, Francisco Veloso empreendeu por algum tempo a tentativa de colocar diretamente a carne de búfalo, no mercado : “Nosso projeto com búfalos iniciou na Fazenda Tapuio em 2002, substituindo a recria e engorda que fazíamos à pasto. No final deste mesmo ano, começamos a produção artesanal de queijos bubalinos, pas- sando a colocá-los nas lojas onde tínhamos relacionamento comercial, decorrente da venda de ovos, ainda hoje, nossa principal atividade. Com a chegada dos queijos nas gôndolas dos supermercados, passamos a ser cobrados também pela oferta de carne, o que não fazia parte de nossos objetivos iniciais. Nosso primeiro cliente foi o Carrefour – Natal, onde eram comercializados cerca de 5 a 7 búfalos, por semana, sempre vendidos de forma casada, ao preço CEPEA – ESALQ mais 5% para carcaça fria. Fizemos tudo que estava a nosso alcance para divulgação da carne de búfalo: Baner’s, folder’s, abordagens, e degustação de carnes todas às sextas e sábados. Havia clientes fiéis, que procuravam regularmente a carne de búfalo, mas os custos elevados ocasionados pela pequena escala, destacando-se os fretes semanais de animais vivos para o frigorífico, e das carcaças ao supermercado, bem como a dificuldade de auferirmos preços justos para os couros, acabaram por inviabilizar o processo. Na mesma ocasião houve também grande interesse manifestado pela rede Bompreço, na compra exclusiva dos cortes considerados nobres, mas as dificuldades com a venda dos dianteiros, agravariam ainda mais o processo.Quem sabe, em um futuro próximo......” No Pará, a criação do projeto do Baby Búfalo, encabeçado e conduzido por Mario Martins Filho, vem conseguindo desmistificar o preconceito contrario que existia, contra a carne de búfalo. Esse projeto teve inicio em 1999, quando a APCB, através do Próbúfalo, incentivou bubalinocultores de Marajó, a trazerem seus bezerros desmamados para o continente, onde se conseguiria um melhor crescimento e acabamento. Uma parceria foi firmada com a rede dos Supermercados Nazaré, garantindo-lhe a exclusividade na comercialização do Baby Búfalo. O projeto foi alavancado através de uma campanha publicitária junto aos meios de comunicação, e para satisfazer a demanda de carne por outros supermercados, posteriormente foi criada a marca Novilho Búfalo, que hoje é comercializada em to- dos grandes supermercados de Belém. Para resolver o problema de comercialização dos dianteiros, foram feitos testes e pesquisas visando a produção de embutidos como salames e lingüiças, com ênfase nos produtos light como lingüiça e mortadela sem gordura. Para iniciar a produção o maquinário já se encontra adquirido, apenas estando se aguardando a liberação da Inspeção Estadual. O abate semanal vem totalizando cerca de 120 animais, incluindo os Baby Búfalos (18 a 24 meses) e os Novilhos Búfalos (24 a 36 meses). Para atendimento aos criadores, a empresa empreendedora dos projetos também vem abatendo algumas búfalas de descarte, cuja carne é vendida a preços inferiores, juntamente com a maioria dos dianteiros e costelas dos Baby Búfalos, como carnes de bovinos, em 2 açougues na feira de Icoaraci, que é a maior feira fixa do Brasil. Os produtores estão sendo remunerados pelos seus animais com pequeno deságio de 5% em relação ao preço praticado para os bovinos, mas pode se considerar que houve expressivo avanço nessa área, uma vez que esse deságio antigamente era bem maior. O consumidor, por sua vez, está pagando nos supermercados, pelos cortes dos traseiros, cerca de 10% a mais do que os iguais cortes bovinos, sendo que para os cortes de dianteiros, os preços são equivalentes aos dos bovinos. Os empreendedores do projeto afirmam que no momento, entre as maiores dificuldades encontradas está o imprescindível incremento na produção do Baby Búfalo, visando redução dos custos de produção bem como atender a crescente demanda pelo produto. Segundo o diretor industrial, Carlos Francisco Gouveia Neto, a maior dificuldade enfrentada para o aumento da produção, reside nas adversidades de algumas regiões do Pará, que restringem a terminação do Baby Búfalo, a apenas algumas épocas do ano. Fora o problema dos dianteiros que se espera esteja em via de ser solucionado com a industrialização já mencionada, Neto afirma persistir o do couro, uma vez que o insuficiente volume vem determinando baixos preços de venda ( R$ 0,70/kg ), enquanto os dos bovinos alcançam ( R$ 1,70/kg ), sendo que no mercado internacional os couros bubalinos são cotados a U$ 0,80/kg ). nas porções, satisfazendo clientes exigentes e enobrecendo ainda mais o produto. Finalizando, podemos concluir que a carne de búfalo vem tentando chegar aos mercados consumidores de muitos estados brasileiros, por meio de vários caminhos, e nós, criadores ou simples admiradores dessa espécie, devemos respeitar e render nossas homenagens a todos aqueles que se envolveram nesse trabalho. Vitoriosos ou não, eles fazem parte da própria história da bubalinocultura brasileira. Está também nos planos da empresa, a criação em local nobre, de uma butique de venda de todos sub-produtos do búfalo, onde a carne se faria presente, embalada em peque- 29 30 TRAPALHADAS DA VIDA... Jonas Camargo Assumpção - SP O fato desta segunda edição do Boletim do Búfalo estar publicando uma ampla matéria sobre várias iniciativas de comercialização da carne bubalina, faz com que eu aproveite essa oportunidade para contar aos amigos leitores minhas desastradas “incursões” nessa área. Há cerca de 15 anos atrás, pensando em abrir uma refinada butique de carne de búfalo em Campinas, de imediato concluí que ela não poderia ser viabilizada ofertando apenas as carnes nobres de churrasco. Assim sendo, contratei uma empresa de assessoria, que trabalharia em conjunto com o ITAL ( Instituto de Tecnologia de Alimentos ), visando desenvolver formulações e processos de fabricação de inúmeros embutidos, inclusive determinando percentuais de rendimento, apropriando custos, etc. Todo esse trabalho levaria ao estabelecimento do “mix” ideal de produtos a serem oferecidos a consumidores exigentes, e de alto poder aquisitivo. Estabelecidos os objetivos, faço chegar ao ITAL, 2 carcaças completas de animais jovens de primeira qualidade, e fico na esperançosa expectativa de que tudo deveria correr a contento. Aos poucos, as noticias começam a chegar: “A doutora fulana saiu de férias mas seu caso foi passado para beltrana...” “Estamos em falta com o condimento X para processarmos Y...” “Seria aconselhável produzirmos Z, mas o equipamento disponível não está funcionando adequadamente...” E assim por diante... Naquela época, meu filho André, que estudava veterinária na UFMG – BH, veio passar um fim de semana conosco, em Campinas. No sábado, convidado por um conhecido de alguém que era cunhado do primo de um colega dele, acabou indo a uma festa em uma “seleta” e bem freqüentada “república” de universitários não menos seletos.... No dia seguinte, ainda curtindo ressaca, André me conta que o churrasco da fes- ta foi feito com carne de nossos búfalos, surrupiada do ITAL por um dos seletos universitários festeiros que fazia estágio naquele instituto... Pra meu consolo, André completa: “A carne estava ótima. Fez o maior sucesso... “ Não bastasse isso, alguns dias mais tarde, minha mulher liga para meu escritório, e com voz desesperada dispara a falar : “Seus competentes assessores acabaram de deixar aqui em casa um kit de produtos feitos com a carne de nossos búfalos, e me disseram que estavam com o carro cheio deles, para imediatamente distribui-los para degustação, em residências pré-selecionadas. Contaram-me também que cada kit seria acompanhado por um questionário de avaliação, que seriam recolhidos após 2 dias.” Respondo-lhe: “Bom, e daí?” Minha mulher: “E daí, que eu acabo de abrir o tal kit que nos deixaram, e nem pude acreditar no que vi. Ninguém pode comer isto. É bolor por todo lado!” Arrisco dialogar: “Você tem certeza de que isso que você está vendo, é realmente bolor?” A resposta veio seca: “Deixe de perder tempo fazendo-me perguntas e trate urgentemente de correr para impedir a degustação!” Graças ao advento do “celular”, consegui impedir a entrega dos produtos que comporiam o mix de nossa butique, a qual foi sepultada antes mesmo de nascer.... Alguns anos se passaram e a poeira foi baixando... Acabei convencendo 2 estabelecimentos varejistas de Campinas a fazerem experiências de venda com carne de nossos queridos búfalos. Propositalmente optei por varejos bem distintos, pois assim eu teria uma visão mais ampla a respeito da aceitação da carne de búfalo. O primeiro era um supermercado tradicional, cuja clientela era de classe média. O segundo, uma sofisticada casa de carnes que atendia clientes não menos sofisticados. Pedi ao Renato, atual Diretor de Registro da ABCB que me aju- dasse na empreitada. Imprimimos panfletos, rótulos, contratamos churrasqueiro paramentado com bombachas gaúchas, para “pilotar” churrasqueira com fins degustativos.... Tudo organizado, entrego simultaneamente aos 2 estabelecimentos, carcaças de búfalos escolhidos no capricho. Na véspera, ligo aos amigos, pedindolhes apoio à minha causa. Deveriam ir a qualquer um dos pontos de varejo, provar a carne, elogia-la em voz alta, e ao compra-la deveriam indagar se na próxima semana voltariam a encontrá-la nos balcões. Estava tranqüilo, pois tudo corria as mil maravilhas, até que.... Um desses “bons amigos”, liga ao supermercado, perguntando se já estavam vendendo carne de búfalo, e qual o preço de uma determinada peça. Recebe a resposta, mas ao sair de seu consultório, resolve comprá-la na casa mais sofisticada. Já no interior da butique, ao saber que a tal peça estava sendo vendida por quase o dobro daquele praticado pelo supermercado, imediatamente arma o maior “barraco” no meio de toda requintada freguesia presente na butique. Diz que aquilo era roubo à mão armada, que no supermercado X a mesma carne estava sendo vendida por Y, e que tinha certeza que o produto era o mesmo, pois era amigo do dono dos búfalos, etc e tal. Sem saber de nada, chego na minha casa tranqüilo, feliz com o andamento do experimento, quando recebo um telefonema do Renato: “Jonas, o dono da butique acabou de me ligar, puto da vida com o papelão que um amigo seu acabou de aprontar lá, e também com você pois não tinha sido informado que iríamos entregar carne de búfalo também no supermercado X. O homem está super nervoso, dizendo que nunca mais na vida quer ouvir falar de búfalo.” Desta vez a poeira ainda não baixou por completo, mas nem por isso deixo de rir ao relembrar essas trapalhadas da vida. Acho que sem elas a vida não teria a mesma graça... 31 32 O búfalo já conquistou seu espaço em Santa Catarina Texto: Fabíola de Souza - Jornalista Mtb/SC 00197JP (Fonte: Site ABCB e ACRIBÚFALO - SC) N a década de 30 chegaram a Santa Catarina os primeiros exemplares de búfalos. A criação desses animais rústicos e esquisitos iniciou com João de Araújo Vieira, em 1930, no município Lages, no Planalto Serrano catarinense. Outro entusiasta de búfalo em Santa Catarina foi Abelardo S. da Silva, criador por mais de 35 anos. Dono do frigorífico Santos, seu Abelardo conhece como ninguém todo o processo da cadeia produtiva deste animal, do pasto à venda final ao consumidor. Também foram pioneiros na criação de búfalos no estado, as famílias Martins, Amboni, Becker e Koerich. Eles não só transferiram a responsabilidade para seus descendentes de manter viva a tradição na lida com búfalos, como também despertaram nas gerações futuras o prazer de conviver com estes animais rústicos e “feios”. De avô para neto, de neto para filho, o rebanho catarinense de búfalos foi crescendo gradativamente e hoje conta com mais de 60 mil cabeças. O maior rebanho do litoral catarinense está nas mãos da família Martins, cuja criação iniciou com Ciniro Luiz Martins Ribeiro (ex-presidente da Acribúfalo/SC). Junto com Orlando Becker e Orlando Koerich, seu Ciniro foi insistente e levou em frente sua paixão pelo animal. Fundação da ACRIBÚFALO foi um marco histórico na agropecuária catarinense Fundada em 1979 com o principal objetivo de incentivar a bubalinocultura catarinense, a ACRIBÚFALO/SC modificou o contexto agropecuário catarinense que até então não (re) conhecia este segmento no estado. Com muita persistência e objetivos definidos a Associação se consolidou e hoje conta com oito Núcleos Regionais. Mas a trajetória não foi fácil. Durante todo este período a Associação buscou organizar os criadores, defendendo os interesses dos criadores de búfalos e promovendo a união dos associados. A tarefa de convencer os produtores de búfalos de que estavam fazendo um bom investimento no campo foi uma das mais difíceis. Muitos não acreditaram e até desistiram do empreendimento. Outros, porém, com mais visão no futuro, preferiram apostar mesmo com todo o preconceito que existia em torno destes animais. Hoje, aqueles que apostaram no búfalo, não se arrependem, pois o búfalo está cada vez mais sendo reconhecido e respeitado no setor agropecuário catarinense. a ser notícias de jornais de grande circulação. O búfalo agora já não estava mais no anonimato, nem seus criadores. Para consolidar o búfalo no mercado e exigir respeito dos demais criadores do campo foi preciso realizar diversas atividades em busca do aprimoramento técnico-científico da espécie e o incremento do mercado. Até vender carne de búfalo como se fosse de boi era considerado normal até pouco tempo para alguns criadores. Mas esta fase parece que está chegando ao fim. Graças à “teimosia” de alguns criadores, a carne de búfalo vem sendo cada vez mais aceita no mercado e apreciada por consumidores mais exigentes. Até porque o valor nutritivo da carne de búfalo está sendo bastante divulgado e adotado por aqueles que preferem menos gordura e colesterol e mais proteína. Parcerias e agradecimentos especiais Trabalho de marketing contribuiu para divulgação do búfalo no Estado Após muitos anos de resistência e insistência, os criadores de búfalos de Santa Catarina decidiram partir para um marketing mais agressivo no mercado. Por volta de 1995 a Associação iniciou um trabalho de divulgação dos benefícios do búfalo, ainda que tímido. A partir de 2000 a publicação de boletins informativos passou a ter uma periodicidade regular. A distribuição dos materiais gráficos atingia os variados eventos agropecuários e estabelecimentos comerciais. Na avaliação dos criadores havia chegado a hora de assumir de fato a condição de criador, sem temer a concorrência. O resultado do marketing direto, mesmo em pequena escala devido à limitação financeira da Associação, mudou a realidade dos criadores. A partir de então a mídia passou a divulgar com mais freqüência os eventos específicos do búfalo. As festas passaram A parceria com empresários, criadores e órgãos públicos foi essencial para manter viva a tradição. Com a Secretaria Estadual da Agricultura foi acertada a inclusão, no próximo censo rural catarinense, das propriedades de criadores de búfalos, a localização e o rebanho. Tudo isso será cadastrado. O Icepa, um instituto vinculado a Secretaria da Agricultura, também passou a divulgar diariamente o preço da arroba do búfalo em seu relatório, disponibilizando via internet. O atual presidente da Acribúfalo/SC, Carlos Marin, afirma que sem a obstinação de alguns criadores e parceiros a Associação não teria se consolidado e o búfalo teria sido coisa do passado. “Peço desculpa se esqueci algum nome, mas estas pessoas abaixo relacionadas merecem toda nossa admiração e eterno agradecimento pelo que fizeram ou ainda estão fazendo pela bubalinocultura catarinense”, enfatizou Marin. Ele lembrou ainda que um dos divulgadores da carne de búfalo é o dono da churrascaria Meu Cantinho, de São José, Fabrício Barbi, que há muito tempo mantém regularmente em seu cardápio esta exótica e deliciosa carne. “Merecem todo nosso agradecimento as seguintes pessoas que tanto fizeram e ainda continuam fazendo em prol da bubalinocultura”: Odair Knoblanc, Alfredo Zeferino, Antônio César Martins, Ademir João Vieira, Luiz Inocentti, José Negreiros, Arno Manoel Philippi, Túlio R. Martins (in memorian), Leonardo Martins, Rui O. Koerich, Luiz Salvador, Wilson Santa 33 Catarina, Luiz Alberto Rodrigues e Marco Tadeu (Tadeuzinho) de Lages. Agradecemos também Júlio César Terra (Cow Boy), que atualmente é patrocinado pela Associação para participar em competições em rodeios, Mário Coelho que foi o responsável pela organização da 1ª. Festa do Búfalo, hoje na sua 6ª. edição. Outro parceiro da Acribúfalo/SC é Leonardo Martins, responsável pela coleta de sêmen de búfalo, cujo trabalho tem agradado muito os criadores. ACRIBÚFALO/SC aposta na inseminação artificial Para organizar o processo reprodutivo do rebanho de búfalo em Santa Catarina, a ACRIBÚFALO/SC firmou uma parceria com um inseminador artificial (IA), Oscar Nazareno de Sousa. O principal objetivo é viabilizar uma boa genética do rebanho e consequentemente assegurar retorno financeiro aos criadores. “A inseminação artificial evita problemas de consangüinidade dos animais evitando anomalias”, explica Souza. O técnico irá prestar serviço coletivo a grupos de criadores formados pela Associação. Preocupação com o meio ambiente A Acribúfalo/SC mantém uma constante preocupação com a preservação do meio ambiente. O exemplo mais recente é a integração com alguns proprietários de terra da região de Urubici em defesa de um verdadeiro santuário da natureza, o Campo dos Padres. Localizada a 1.800 metros acima do nível do mar, esta área está sendo alvo de cruel degradação ambiental. De maneira irresponsável alguns proprietários de terra estão plantando indiscriminadamente pinus sobre o solo rochoso, ameaçando inclusive uma das nascentes do rio Canoas, o principal afluente da bacia do Uruguai. O pior disso tudo é que não existe nem mesmo uma licença ambiental para agir desta forma. Por estar situado dentro do que deveria ser o Parque Nacional de São Joaquim, o Campo dos Padres é um nicho da natureza desprovido de fiscalização. A Acribúfalo/SC se junta aos defensores e acompanha na Justiça a tramitação de ações populares, embargos e outros recursos jurídicos para barrar o avanço destrutivo da monocultura do pinus nesta região. Baby Búfalo da Neve Orgânico tem menos gordura e mais proteína O Baby Búfalo da Neve Orgânico é resultado de uma experiência com animais criados em ambiente de baixa temperatura. Apesar do frio intenso, o Búfalo da Neve vem conseguindo uma maior velocidade de crescimento e volume de produção com 34 menor custo por ser orgânico. O resultado pode ser comprovado na carne através da maciez e sabor, além dos valores nutritivos agregado. O pioneiro nesta experiência é Arno Manoel Philippi (ex-presidente da Acribúfalo/SC) que iniciou a criação de búfalos em Santa Catarina há mais de 12 anos, com 10 fêmeas e um touro reprodutor. Segundo explica Arno, os animais são submetidos à temperatura que pode chegar a 14 graus abaixo de zero. O local onde cria os búfalos, da raça Murrah, fica no ponto mais alto do Sul do Brasil, entre os municípios de Urubici e Bom Retiro, a 1800 metros acima do nível do mar. Segundo o criador, a produtividade do rebanho se deve ao melhoramento genético aplicado nos últimos 10 anos, além da pastagem utilizada que é extensiva (pasto nativo). “Todos estes procedimentos têm garantido mais resistência e rusticidade aos animais, mesmo sendo uma alimentação de baixo valor nutritivo”, explica Arno. Em sua opinião, pode estar surgindo uma raça brasileira de búfalos altamente resistente ao frio, cuja média de parição chega a 80%. O animal fica pronto para o abate entre 12 a 14 meses com um peso de aproximadamente 350 quilos, acrescenta Arno. Búfalo inserido em projeto ambiental Em Garopaba, no litoral sul de Santa Catarina, a 70 km de Florianópolis, o búfalo está inserido num projeto ambiental – Gaia Village - que atua em diversas linhas cuja finalidade é descobrir alternativas sustentáveis. Numa área de aproximadamente 12 hectares são adotadas diversas medidas ecologicamente corretas que têm proporcionado ao búfalo uma pastagem de qualidade e consequentemente animais com mais qualidade. “A diversidade das espécies gramíneas melhora a saúde do rebanho”, explica o administrador da fazenda, Dolizete Zilli. Segundo ele, o projeto tem apresentado resultados bastante positivos e o búfalo, por ser um animal rústico e menos exigente, é um bom excelente do que se pode realizar dentro da produção orgânica de um modo geral. A pastagem pastoreio voisin é um processo natural que vem dando bons resultados no campo junto aos animais. “E o grande responsável por isso é o Engenheiro Agrônomo Abdon Schmitt”, ressalta Zilli. Ele observa ainda que no conjunto de medidas a homeopatia aplicada aos animais também tem seu destaque. “Não usamos nenhum tipo de produto químico. Aqui tudo é natural”, finaliza. Milhares de catarinenses aprovaram a carne de búfalo em eventos organizados pela Associação Várias pessoas experimentaram pela primeira vez a carne de búfalo nos eventos organizados pela ACIBÚFALO/SC. Foram mais de 10 eventos realizados no estado no ano passado, onde o búfalo foi a principal estrela. Já constam no calendário dos criadores a festa chamada Noite do Búfalo. Outro evento que fez grande sucesso foi a Festa do Baby Búfalo, na Associação Catarinense de Medicina (ACM). O mais tradicional encontro dos criadores e admiradores de búfalos é a Festa do Búfalo, realizada todos os anos em Florianópolis, que costuma reunir mais de mil pessoas. Além de participarem das atividades organizadas pela Acribúfalo/SC, os criadores marcaram presença também em outras festas agropecuárias catarinenses. “O crescimento da participação dos criadores em feiras agropecuárias e eventos afins é um sinal da aceitação do búfalo no mercado e na sociedade”, acredita Ademir Martins (ex-presidente da Acribúfalo/SC). Segundo ele, até pouco tempo o búfalo era discriminado na pecuária local. Agora, segundo avalia, não existe mais a ameaça da concorrência com outros animais. Laticínio Natura é o pioneiro em Santa Catarina na fabricação de queijo mussarela O Laticínio Natura, localizado em Biguaçu, é o principal processador de lacticínios derivados de leite de búfala da Grande Florianópolis. O proprietário, Wilson Santa Catarina (também ex-presidente da Acribúfalo/SC s), garante uma fabricação diária chega a 100 kg de queijo e 300 litros de leite bovino, tipo C. Para produzir os queijos, ele compra o leite de fornecedores da região, pois não cria os animais em sua propriedade. Além do queijo de búfala, Santa Catarina também processa o leite de cabra e de bovino, com uma produção média de 500 a 1000 litros de leite por dia. Todos os produtos produzidos em seu lacticínio são distribuídos nos supermercados e estabelecimentos gastronômicos de Florianópolis e região. Segundo Santa Catarina, são produzidos mussarela, minas frescal de búfala e bovino, minas frescal de cabra, provolone de búfala e queijo prato. “Toda a produção do meu lacticínio tem mercado garantido, mesmo assim estamos pretendendo expandir a produção porque a demanda existe”, afirma. Fornecedores querem mais estabilidade no mercado Apesar da carne de búfalo ter bastante aceitação entre os consumidores, os fornecedores ainda reclamam da inconstância na distribuição dos produtos. A falta da carne em alguma época do ano tem causado uma insegurança para os atacadistas e donos de restaurantes da grande Florianópolis. O dono do Supermercado Suprimas, Luiz Antônio Salvador é um dos poucos comerciantes da grande Florianópolis que insiste em vender a carne de búfalo, apesar da dificuldade na distribuição. Admirador da carne de búfalo, Salvador afirma que está faltando mais organização e regularidade no fornecimento. Muitas vezes ele fica sem a carne para oferecer aos seus clientes, o que cria um mal estar. O mesmo não acontece com outros tipos de carne, a exemplo da de boi, por exemplo. Isso tem causado frustração quando o cliente pede a carne de búfalo e não tem no supermercado para vender. Para amenizar este problema, muitas vezes Salvador compra carne do Rio Grande do Sul. O dono do restaurante Meu Cantinho, Fabrício Barbi, que é um grande admirador da carne de búfalo, reclama também da regularidade na distribuição da carne de búfalo em sua churrascaria. Localizado num bairro próximo a capital catarinense, seu estabelecimento é conhecido como local de carnes exóticas. Segundo ele, já existe uma clientela que pede carne de búfalo, mas nem sempre pode disponibilizar por causa da falta do produto. Em função disso, ele já pensou inclusive em retirar do cardápio a carne de búfalo para evitar constrangimento com seu cliente. Cooperativa será a grande alternativa para cadeia produtiva de búfalos Diante das dificuldades na distribuição regular da carne de búfalo em Santa Catarina, os criadores já discutem alternativas para amenizar este problema. A mais viável no momento, e que já está tomando forma, é a criação de uma cooperativa. Antes, porém, de se organizarem em cooperativa, os criadores de búfalos tiveram que quebrar uma barreira que eles mesmos criaram. Assumir de fato a condição de criadores de búfalos e vender a carne não mais camuflada de boi. A questão era até cultural, mas já houve avanço. Outro benefício para consolidar a distribuição da carne foi a inclusão do preço diário da arroba do búfalo nas publicações da Secretaria Estadual da Agricultura, através de uma de suas empresas, o Icepa. A partir deste procedimento houve um realimento dos preços no estado e consequentemente um aumento na demanda. Até porque os criadores passaram a ter um referencial de preço a exemplo do que acontece para outros animais. Cooperativa será criada em parceria pública privada A criação da cooperativa será possível com a parceria da Prefeitura Municipal de São José, município vizinho de Florianópolis. As negociações em torno de incentivos já estão em discussão. Uma das alternativas oferecidas pela secretaria municipal da agricultura seria disponibilizar um espaço físico, neste caso o Ceasa, para escoação dos produtos, seja a carne ou o leite e seus derivados. Na avaliação do ex-presidente, Ademir Martins (Tito) esta parceria irá proporcionar um salto na organização dos criadores. O primeiro benefício será a elevação do preço da carne que chegará ao patamar justo no mercado. “Até agora a carne de búfalo era vendida mais barata, mesmo sendo mais nobre em relação a outras”. “E só por este motivo deveria ser mais cara e valorizada no mercado”, explica Tito. Segundo ele, a criação da cooperativa de criadores de búfalos, com apoio do po- der público, é uma alternativa inédita no Brasil. “Não sabemos de nenhuma cooperativa de criadores de búfalos que surgiu com este tipo de parceria”, ressalta Tito. Na sua avaliação, todos, criadores e sociedade, ganharão com mais este produto disponibilizado no mercado. “O consumo já aumentou muito em Santa Catarina e as perspectivas são positivas quanto ao crescimento da demanda no estado”, aposta o ex-presidente da ACRIBÚFSALO/SC. Búfalo na merenda escolar As negociações com a Prefeitura Municipal de São José vão além da criação da cooperativa. Criadores e Secretaria Municipal da Agricultura discutem a inclusão da carne de búfalo e do leite de búfala na merenda escolar. “Diferentes de outras carnes ou leites, os produtos derivados do búfalo disparam quando o quesito é valor nutritivo”. As vantagens começam quando a carne de búfalo apresenta 40% menos colesterol que a carne de boi e 12 vezes menos gordura. “Isso sem contar que é tem 55% menos caloria e 11% a mais de proteínas e 10% a mais de sais minerais”, exemplifica Tito. Quanto ao leite de búfala em relação ao da vaca, tem mais proteína, mais lipídio, mais lactose, menos água e menos colesterol. Ou seja, o leite de búfala é mais nutritivo e saudável para as crianças. “Não é a toa que 7% de todo o leite consumido no mundo é de búfalas”, acrescenta Tito. Segundo Tito, programas semelhantes já são adotados em outros estados, onde a preocupação com a saúde das crianças sensibilizou os órgãos públicos. Programa de novilho precoce poderá ser estendido ao búfalo A Secretaria Estadual da Agricultura de Santa Catarina poderá incluir os búfalos no Programa de Apoio à Criação de Gado para Abate Precoce. Para isso é preciso que o Ministério da Agricultura inclua os búfalos na portaria do novilho precoce que já existe. Neste caso os criadores de búfalos passariam a ter o mesmo tratamento dos criadores de bovinos. Várias reuniões já foram realizadas entre os criadores de búfalos de Santa Catarina e órgãos do governo para viabilizar este procedimento. “É só uma questão de tempo”, acredita Ademir Martins, ex-presidente da ACRIBÚFALO/SC. 35 36 Os Búfalos e a Expointer Antonio Carlos Trierweiler - Vice-Presidente da ASCRIBU E ntre os dias 28 de agosto a 5 de setembro de 2004, aconteceu a 27ª EXPOINTER, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio/RS, que mais uma vez cumpriu a tradição da mostra, de a cada ano, superar a edição anterior. Durante os nove dias da mostra, mais de 720 mil pessoas visitaram a EXPOINTER, e mais uma vez, os búfalos foram bem representados, tanto na quantidade como na qualidade dos animais. Foi uma semana repleta de atividades e eventos voltados à bubalinocultura: na segunda-feira(30/08), aconteceu o julgamento de classificação das raças bubalinas Mediterrâneo, Murrah e Jafarabadi e teve como jurado o Prof. Dr. Alcides de Amorim Ramos; na terça-feira (31/08), ocorreu a pa- lestra “Como iniciar sua criação de búfalos” e “O Búfalo e sua tríplice aptidão: carne, leite e trabalho” ministrada pelo Médico Veterinário Antonio Carlos Trierweiler no espaço SENAR-RS. Já na quarta-feira(1º/09) ocorreu a Mesa Redonda entre Técnicos e Criadores com Discussão sobre Mochamento e Vermifugação em Búfalos, que teve como moderadores os Médicos Veterinários Marco Antônio Mayer Rosa e Antonio Carlos Trierweiler, na sede da ASCRIBU.Na quintafeira(2/09), no auditório da FEDERACITE, às 16:00h ocorreu a Palestra do Prof. André Mendes Jorge da Universidade Estadual Paulista-UNESP, sobre Produção de Carne Bubalina. No mesmo local, ocorreram os “Depoimentos de Produtores sobre Confraternização durante 27ª EXPOINTER. Comercialização da Carne Bubalina no Interior do Estado”, ocasião em que o Presidente da ASCRIBU o Sr. Celestino Goulart Filho relatou a sua experiência exitosa em Caçapava do Sul.Em seguida, já na sede da ASCRIBU, houve a Inauguração da Galeria de Fotos das Cabanhas Expositoras e o lançamento dos livros “Resumo de Pesquisas” e “Palestras” de autoria do Prof.Alcides de Amorim Ramos-UNESP-Botucatu SP, com sessão de autógrafos. Às 20:30 horas iniciou o “Leilão Show”, com uma magnífica apresentação de Dança Flamenca. A comercialização dos animais ocorreu dentro do esperado, considerando a atual conjuntura da pecuária gaúcha. Na sexta-feira(3/09), pela tarde, aconteceu a Mesa Redonda entre Técnicos e Criadores com Discussão sobre a Viabilidade Econômica de laticínio de Leite de Búfalas e a Comercialização da Carne Diretamente ao Consumidor, e teve como Moderador o sr. Alberto Couto, de Alagoas, que acabou dando uma verdadeira aula sobre a arte de vender. E todas estas atividades foram abrilhantadas com presenças ilustres como a do Presidente da ABCB Dr. Otávio Bernardes e a delegação de criadores do estado da Bahia. Esperamos que esta 27a EXPOINTER seja superada pela 28a, mantendo a tradição da mostra... Bubalinocultura das Meso-regiões do Triangulo Mineiro/ Alto Paranaíba e Noroeste de Minas. Machado, Théa Mírian Medieros, Martins, René Galvão Rezende P ara diagnóstico da bubalinocultura procurou-se conhecer aspectos referentes ao produtor, ao estabelecimento, ao rebanho e ao mercado, através de entrevistas ao produtor. O número médio de cabeças bubalinas/rebanho foi de 92. Foram encontrados animais das raças: Murrah, Mediterrânea e seus mestiços. A maior parte dos bubalinocultores visava a produção de leite de búfala, com uma ordenha/dia. As fazendas medem, em média, 461 hectares (ha), com os búfalos ocupando 78% da área. Os pastos são mais freqüentemente de Brachiarão e de Brachiarias. As capineiras estão presentes em 64% e a cana-de-açúcar em 53% das fazendas, com cerca de 7 ha de cada uma destas culturas/fazenda. As cercas e as instalações são, na maior parte, inadequadas para bubalinos. A identificação dos animais está presente na maior parte (71 %) das fazendas, mas a escrituração zootecnia em apenas 12% delas. As parições estão concentradas no primeiro semestre do ano. Os bubalinocultores realizam controle das endo/ectoparasitoses. As vacinações são realizadas em menor escala que o preconizado pelos órgãos responsáveis pela saúde animal. O bubalinocultor tem em média 49 anos de idade e está, em média, há 14 anos na atividade. Ele tem um grau de instrução superior à média dos ruralistas brasileiros. Comercializam búfalos para abate 76% deles, ¼ destes pelo preço pago pela arroba de vaca, os demais recebem o preço pago pela arroba de boi. Transformam, o leite na propriedade, 30% dos produtores. Daqueles que entregam o leite bubalino aos laticínios, 60% são mais bem remunerados que o valor usualmente pago pelo leite bovino. Apesar da pequena expressão numérica das mesorregiões estudadas, a bubalinocultura representa ora a principal fonte de renda, ora fonte de renda complementar, ora agrega valor à produção através da venda de produtos derivados ou ainda quando o produtor coloca seu produto diretamente para o consumidor (açougues e mercados). 37 Constituição físico-química, celular e microbiológica do leite de búfalas (Bubalus bubalis) criadas no Estado de São Paulo BASTOS, P. A. S. Tese Doutorado em Clínica Veterinária) – FMVZ-USP 2004 Utilizando 98 búfalas adultas e lactantes, da raça Murrah, foram colhidas 1.176 amostras de leite (de glândulas mamárias que não apresentavam sinais de processo inflamatório ou tivessem sido submetidas a tratamento intramamário). Para amostras dos primeiros jatos da ordenha os valores encontrados, segundo as fases de lactação (inicial, intermediária e final) foram respectivamente: para o pH - 6,89; 6,85 e 6,9; para a eletrocondutividade - 3,82; 4,02 e 4,49 mS/cm; para os teores de cloreto - 18,21; 20,13 e 26,49 mg/dl; para os teores de gordura - 4,25; 3,70 e 3,56 g/dl; para os teores de proteína 3,97; 4,03 e 4,5 g/dl; para os teores de lactose - 5,11; 5,08 e 4,81 g/dl; para os teores de sólidos totais - 14,55; 13,88 e 13,93 g/dl e para o número de células somáticas - 29.000; 29.000 e 16.000 cel/ml. Os escores do CMT (negativo, traços, 1+ e 2+), aumentavam, gradativamente, com o evoluir da fase da lactação e, a eletrocondutividade, o teor de cloreto e o número de células somáticas aumentaram de forma diretamente proporcional ao aumento do escore do CMT; porém, ao contrário, o teor de lactose diminuía. A variação 38 do escore do CMT não foi acompanhada de modificações significativas dos teores lácteos de gordura, proteína e de sólidos totais. Amostras colhidas ao início da ordenha (primeiros jatos) e ao final da ordenha (últimos jatos), apresentaram os seguintes resultados: gordura: 3,90 e 8,9 g/dl; proteínas: 4,12 e 3,67 g/ dl; lactose: 5,02 e 4,64 g/dl; sólidos totais: 14,18 e 18,31 g/dl e; contagem de células somáticas: 29.000 e 56.000 cel/ml. Quanto ao tipo de ordenha (manual ou mecânica), observou-se respectivamente, para: eletrocondutividade - 3,89 e 4,14 mS/cm; número de células somáticas - 22.000 e 32.000 CS/ml; Ao se considerar a idade das búfalas verificou-se que, com o progredir da idade a eletrocondutividade e os teores de cloreto aumentavam, mas, em contra posição os teores de lactose diminuíram; não se observou alteração significativa nos valores de gordura, sólidos totais, proteína e pH lácteos. As bactérias isoladas com maior freqüência foram as dos gêneros: Corynebacterium sp (28,5%); Staphylococcus sp (24,7%); Streptococcus sp (15,8%) e; Actinomyces sp (11,4%). O número de isolamentos bacterianos aumentou, significativamente, com o evoluir da lactação. Entretanto, o momento da ordenha não influiu no número de isolamentos e evidenciouse maior freqüência de isolamentos nas glândulas posteriores do úbere. No antibiograma das cepas de bactérias isoladas foram utilizados os seguintes antibióticos e quimioterápicos: cefalotina; cefoperazone; cloranfenicol; cotrimoxa-zol; enrofloxacina; estreptomicina; genta-micina; neomicina; nitrofurantoína; oxa-cilina; penicilina e tetraciclina. Entre os Corynebacterium sp, 47 cepas (61,03%) foram resistentes à nitrofurantoína; 10 (12,9%) à oxacilina; 8 (10,38%) à estreptomicina e; 7 (9,09%) à tetraciclina; sendo sensíveis aos demais antimicrobianos testados. Os Staphylococcus sp demonstraram, em 12 (26,66%) dos casos, resistência a nitrofurantoína; em 2 (4,44%) à tetraciclina e; foram sensíveis aos demais antimicrobianos; os Streptococcus sp, com exceção de 7 (25%), resistentes à ação da nitrofurantoína, foram sensíveis aos demais antimicrobianos utilizados. Desempenho Ponderal de Búfalos da Raça Murrah em Sistema Silvipastoril com Pastejo Rotacionado Intensivo e Suplementação Alimentar Santos, Núbia de Fátima Alves Santos; José de Brito Lourenço Jr.; Hugo Didonet Láu; José Ferreira Teixeira Neto O s trabalhos foram conduzidos numa área experimental na Unidade de Pesquisa Animal “Senador Álvaro Adolfo”, pertencente à Embrapa Amazônia Oriental, Belém, Pará, composta de 5,4 hectares divididos em seis piquetes de grama estrela (Cynodon nlemfuensis), adubadas com 300 kg/ha de fosfato natural reativo (Arad) na implantação e manejada com cinco dias de ocupação, 25 dias de descanso, divididas com cerca elétrica, ao longo das quais foram plantadas mudas de mogno africano (Khaya ivorensis) e nim indiano (Azadirachta indica), intercaladas quatro metros, as quais são fertilizadas com adubos químicos e orgânicos, visando promover a ambiência animal e agregar valor à propriedade, com uma área contendo bebedouro e cocho coberto para suplementação alimentar e mineralização dos animais. Foram selecionados 25 machos desmamados inteiros da raça Murrah, com idade média de 258 dias (entre 213 e 303 dias), provenientes de seis plantéis de bubalinocultores do Estado, selecionados com base em características raciais, escore corporal, idade, controle genealógico e sanidade, sendo mantidos em regime alimentar semelhante, durante 294 dias, sendo 70 dias de adaptação e 224 dias de prova, tendo sido submetidos a vermifugação prévia, vacinação periódica contra febre aftosa e, eventualmente, tratados contra ataque de endo e ectoparasitos. Os animais foram pesados no início e final do período de adaptação e a cada 56 dias. Após o término da prova, foram calculados o peso ajustado aos 550 dias e o ganho de peso, durante os 224 dias, os quais foram transformados em índices (60% para peso aos 550 dias e 40% para ganho de peso durante a prova, para indicação dos melhores animais. A forragem disponível foi estimada duas vezes no período mais chuvoso e duas no menos chuvoso para a determinação da matéria seca (MS), coeficientes de digestibilidade “in vitro” da matéria orgânica (DIVMO) com líquido ruminal de búfalo. mais e de 2.828 kg/ha na saída, suprindo as necessidades mínimas exigidas pelos animais, que é de 1.200 a 1.600 kg de MS.ha-1, segundo Mott (1980) e os animais receberam ração suplementar, com 14% de proteína bruta – PB, em cocho coberto, mais água e mistura mineral à vontade. O desenvolvimento dos animais foi o apresentado no gráfico ao lado e indicam um ganho de peso médio diário de 0,790 (± 0,081) kg/animal, durante os 224 dias de prova, tendo variado em média de 302 kg ao início da prova para 479 kg ao final. Os melhores animais foram enviados para coleta de sêmen na Cebran. Os cinco animais que mais se destacaram apresentaram média de ganho diário de 0,906 kg/animal. A disponibilidade de forragem foi, em média, de 3.607 kg/ha na entrada dos ani39 Utilização do leite de búfala na elaboração de iogurtes e leites fermentados Otaviano Carneiro Cunha Neto – FZEA-USP A produção de iogurte se constitui uma excelente alternativa para o aproveitamento do leite de búfala, embora possam ocorrer problemas na aceitação do produto devido ao elevado teor de gordura no leite original. O leite bubalino e seus derivados apresentam teores mais elevados de seus constituintes nutricionais, conferem um maior rendimento, e podem constituir uma fonte nutricional alternativa e adequada na dieta humana para a população Brasileira. O elevado teor de gordura e proteína torna o leite de búfala valioso para a produção de produtos lácteos, tais como; queijos, leites fermentados e iogurte, entre outros. Estes componentes conferem um rendimento industrial superior aos derivados lácteos de leite de bubalino, quando comparado com os de outras espécies de mamíferos. A palavra yogurt é derivada de jugurt, termo originário da Turquia que se consagrou universalmente para denominar o produto obtido a partir da fermentação do leite pelos microrganismos Lactobacillus delbrueckii subesp. bulgaricus e Streptococcus salivarius subesp. Thermophilus. O iogurte é o principal produto fermentado a partir do leite in natura, sendo que existem diversos tipos de leites fermentados elaborados com leite de búfala, usualmente produtos regionais, cujas características são ajustadas de acordo com as preferências locais.Na Bulgária, utiliza-se o leite bubalino misturado ao bovino para a produção de um tipo especial de leite ácido, denominado kúselo mleko, elaborado com L. bulgaricus, similarmente ao iogurte de leite de búfala produzido na Itália. O natural yoch, bogurar dohi, ou susu madu klenceng, são derivados lácteos produzidos em Bangladesh, Ilhas Fiji, e Indonésia. Na Índia, é elaborado um produto com características semelhantes ao iogurte, conhecido por dahi, podendo ser utilizado como matéria-prima o leite de vaca, de búfala ou o produto da mistura dos dois. A elaboração de produtos fermentados com leite bubalino é particularmente elevada na Índia, o qual destina cerca de 7% do leite bubalino à produção de um tipo de leite fermentado denominado khoa, cujas características de textura decorrem do alto teor de gordura (7-8%) no produto, elaborado com leite integral. 40 O iogurte pode ser classificado quanto ao seu teor de gordura em: iogurte com creme (mínimo de 6,0%), iogurte integral (mínimo de 3,0%), iogurte parcialmente desnatado (entre 0,5% e 2,9%), e iogurte desnatado (máximo de 0,5%). Todavia, tanto no Brasil, como no Mundo, a utilização do leite bubalino para a produção industrial de iogurtes tem sido pouco relatada na literatura. Sabe-se que a utilização do leite bubalino, incorporado ao leite bovino, para a produção de iogurte, incrementa o sabor e a consistência do produto do produto final. Sugere-se que seja empregada a padronização do teor de gordura do leite bubalino para uma melhor assimilação de seus nutrientes, havendo relatos de que o iogurte de leite bubalino apresenta melhor aspecto quando padronizado o ESD e a gordura, a 10% e 3%,respectivamente. Pesquisas têm demonstrado que o iogurte de leite de búfala, principalmente o produto contendo 3,0% de gordura, apresenta boa estabilidade ao longo do período de armazenamento de 30 dias, não necessitando na sua elaboração, do fortalecimento adicional do ESD, o que representa a obtenção de um derivado do leite bubalino rentável do ponto de vista econômico. Outra característica importante e peculiar ao iogurte bubalino, é que o produto final apresenta um corpo e uma textura mais firme quando comparado com o iogurte elaborado totalmente com leite bovino . Outra característica importante no consumo do iogurte de leite integral de búfala é que este pode ser adicionado a frutas regionais, dessa forma substituindo uma refeição de crianças em idade escolar, por apresentar um sabor agradável e com quantidade suficiente de calorias necessárias a alimentação das crianças. Os níveis de proteína, gordura, e cálcio do iogurte elaborado com leite bubalino são maiores do que os níveis encontrados no iogurte proveniente do leite bovino, respectivamente, 4,5% e 3,8%, 7,1% e 3,8%, 1,44% e 1,29%. A população microbiana de Streptococcus salivarius ssp. thermophilus e Lactobacillus delbruekii ssp. bulgaricus, e a quantidade de acetaldeído, principal substância que confere o sabor ao iogurte tradicional não são alteradas com a adição de leite de búfala ao leite bovino na elaboração do iogurte. O rendimento é uma característica importante nos derivados produzidos com leite bubalino, havendo em relação ao iogurte, uma economia considerável quando da sua utilização na elaboração do iogurte tradicional. O produto não necessita de leite em pó desnatado, ou mesmo de substâncias de ação espessantes, rotinas comumente usadas na elaboração de iogurte com leite bovino com a finalidade de promover uma maior viscosidade e textura. No Brasil, o consumo interno de iogurte aumentou, principalmente no período de 1994 a 1997, quando variou de 1,4 para 3,0 kg/habitante/ano, não havendo estatísticas de produção e consumo de iogurtes exclusivamente de leite de búfala. Fluxograma de Fabricação de iogurte. Condensado de “Utilização Artesanal de Leite de Búfala” - Manual Técnico nº 3 – ITAL – Izildinha Moreno 1 - Adicionar ou não leite em pó até 25% visando obtenção de coágulo mais firme. 2 - Aquecer entre 85-95 C por 15 minutos, tempo suficiente para desnaturar 80% das proteínas do soro, favorecendo aumento de retenção de água no soro e destruir substâncias inibidoras de crescimento bacteriano presentes no leite cru (como as aglutininas). 3 - Resfriar em água corrente até 45 C 4 - Adicionar fermento lático rapidamente e de forma a evitar contaminações, nas base de 1 a 3% (maiores quantidades reduzem o tempo de coagulação), agitando até homogeneizar a cultura. 5 - Incubar à temperatura de 42-45 C até coagular 6 - Resfriar logo após e manter a temperatura abaixo de 10 C, evitando que o produto se torne excessivamente ácido e que haja crescimento microbiano. (O desenvolvimento de acidez no leite de búfalas é menor que o de leite bovino, o que permite uma maior conservação em temperatura ambiente. Em temperaturas menores (3-7 C) o produto pode ser conservado sem perda de qualidade. O fermento lático: usualmente composto em mistura de Streptococcus thermophilus e Lactobacilus bulgaricus (que devem ser usados sempre na mesma proporção). 41 Recomendações para Nutrição da Búfala Leiteira Traduzido e adaptado por Otavio Bernardes E m sua palestra por ocasião do 2º Encontro Nacional de Bubalinocultores em Salvador - 2004, o Prof. Giuseppe Campanille afirmou que a produtividade da búfala italiana se deu tanto por ganho genético obtido através de processo seletivo com base em controle produtivo, amplamente disseminado naquele país, inclusive com forte subsídio do governo e com a prática de reposição média de 15% no rebanho com filhas das melhores produtoras e, principalmente, por uma melhora na alimentação animal que permitiu, não só um aumento quantitativo na produção leiteira, como também na produção de sólidos, particularmente gorduras e proteínas, fundamentais para um maior rendimento na fabricação de mozzarella. Destacou ainda, a grande influência dos fatores ambientais, nutrição, clima e técnicas de manejo na produção leiteira das búfalas. Quanto aos alimentos, ressaltou o efeito negativo do excesso de fibras na dieta, que limita a ingestão e digestão dos alimentos. Discutiu as variações na demanda energética com a fase de lactação e conclui que as proteínas da dieta são o principal limitante da produção no Brasil, em que a alimentação se baseia principalmente no consumo de pastagens, ressaltando que neste caso, é imprescindível o concurso de suplementação de concentrados tanto para a expressão do potencial produtivo dos animais, quanto para manutenção de sua fertilidade lembrando porém, que seu uso deverá ser avaliado à luz da sua relação custo x benefício, já que o leite no Brasil não é tão valorizado como na Itália. Em função do interesse manifestado, solicitou que traduzíssemos parte do trabalho publicado em “Modelo di Regolamento per la gestione igienica ed alimentare dell’allevamento bufalino in relazione alla produzione della mozzarella di bufala campana DOP”, editado pelo Consorzio per la Tutela Del Formaggio Mozzarella di Bufala Campana” - 2002 - Diversos autores, contendo as bases gerais utilizadas para nutrição das búfalas leitei- 42 ras italianas, que fazemos a seguir. É necessário ter em mente que nos primeiros 100 dias de lactação, pela menor ingestão de matéria seca (fase catabólica da lactação), é necessário fornecer alimentos de maior densidade energética a fim de se obter uma maior produção de leite e teores mais elevados de proteínas e gorduras no leite, sendo que dietas muito fibrosas (mais que 45% de FDN-Fibra em detergente neutro), reduzem a produção de leite, aconselhandose assim que nesta fase se forneça uma ração com níveis de FDN entre 30 e 40%, de carbohidratos não estruturais (CNE) entre 27 e 32% e carbohidratos de rápida fermentação (amidos e açucares solúveis) em percentual não superior a 23%. Necessidades de Manutenção (recomendações do INRA-Paris-1988) Energia: NDT (kg) = [0, 46875 x (Peso Vivo/100)] + 1,09375 Proteínas: PB (g) = 0,85 x Peso Vivo , ou, PD (g) = 0,60 x Peso Vivo Cálcio: Ca(g) = 6,5 g x (Peso Vivo/100) Fósforo: P (g) = 5,0 g x (Peso Vivo/100) Obs. Aumentar em 10% a energia no caso de estabulação livre, para atender a o maior dispêndio energético e, para animais a pasto, aumentar de 20 a 60% conforme a declividade do terreno. Necessidades de Produção NT Os cálculos de necessidade de energia são efetuados com base na produção corrigida para energia (ECM), calculado conforme a fórmula de Di Palo: Leite ECM ={{[(gordura (g) - 40) + (proteinas (g) 31)] x 0,01155} +1} x produção De forma prática, podemos estimar que o leite médio brasileiro corresponda a cerca de 1,47 litros de leite ECM. (Dados de Tonhati em São Paulo, com leite com 6,96% de gorduras e 4,2% de proteínas) Energia para produção: NDT (kg) = Leite ECM x 0,3375 Proteínas para produção: PB (g) = 2,84 x (g) PB em 1 litro de leite Cálcio para produção: Ca (g) = 6,7 g/kg leite produzido Fósforo para produção: P (g) = 2,3 g/kg de leite produzido Magnésio para produção: Mg(g) = 0,9 g/kg de leite produzido Necessidades para Crescimento Estimando a necessidade de ganho de 100 kg no ano ( 300 g/dia) para as primíparas atingirem o peso adulto, recomenda-se acrescentar na ração diária: NDT (kg) PB (g) Ca (g) P (g) = = = = 0,82 140 9,5 3,8 NT. No Brasil, onde a dieta é representada principalmente por pastagens, tal recomendação é de difícil execução posto que nossas gramíneas possuem teores de FDN bastante elevados, usualmente acima de 75% e que aumentam com o avançar da idade da planta. Os concentrados usualmente utilizados tais como caroço de algodão e resíduo de cervejaria, possuem teores de NDF em torno de 50%. Assim, somente com uso de grãos (NDF em torno de 8-10%), utilizados à razão de 50% da dieta total (base na matéria seca) permitiria atingir os níveis recomendados de fibras, resultando, porém, numa maior quantidade de carbohidratos do que aquela indicada. Deixamos esta discussão para outra oportunidade Exemplo de cálculo: Considerando um, rebanho com peso médio de 650 kg, mantido a pasto com topografia plana, com produção média anual de 1.533 kg, ou seja, uma média diária de 5,8 kg de leite com cerca de 6,96% de gorduras e 4,2% de proteínas (dados de Tonhati-2001). As recomendações seriam as seguintes. Produção de leite padronizado (ECM) 1 litro leite = {[(69,6 - 40) + (42 - 31)] x 0,1155} + 1 = 1,47 Produção diária de leite ECM 1,47 x 5,8 = 8,53 Energia: -Manutenção: [0, 46875 x (650/100)] + 1,09375 = 4,14 kg de NDT -Acréscimo por estar no pasto; 20% = 0,83 kg de NDT -Produção: 8,53 kg de leite ECM x 0,3375 = 2,88 kg de NDT Total diário de energia: 7,85 kg de NDT Proteínas: -Manutenção: 0,85 x 650 = 552,5 g -Produção: 2,85 x 42 (g/l leite) x 5,8 lits/dia = 694,3 g Total diário de proteínas: 1.246,4 g/dia Cálcio: -Manutenção: 6,5 x (650/100) = 42 g -Produção: 6,7 x 5,8 lits/dia = 39 g Total diário de cálcio: 81 g/dia Fósforo: -Manutenção: 5,0 x (650/100) = 32,5 g -Produção: 2,3 x 5,8 lits/dia = 13,3 g Total diário de fósforo: 46 g/dia Obs. para conversão de UFL (Unidade forrageira para produção de Leite), unidade de medida de energia comumente utilizada na Itália, utilizamos o fator de conversão de 1 kg de NDT= 1,28 UFL. Na atualidade existe tecnologia para a inseminação artificial das búfalas durante todo o ano Nelcio Antonio Tonizza de Carvalho e Pietro Sampaio Baruselli É de conhecimento dos bubalinocultores e dos profissionais que traba lham com a espécie bubalina, que os búfalos possuem estacionalidade reprodutiva, de forma similar ao que ocorre com as espécies ovina e caprina, sendo os búfalos poliéstricos estacionais de dias curtos. Devido a esta característica, no centro-sul do Brasil, onde existe variação anual mais marcada na duração de horas de luz conforme a estação do ano, é observada uma maior concentração das manifestações de cio nas estações de outono e inverno, com conseqüente concentração das parições no primeiro semestre. Para criações voltadas à produção de leite e para laticínios especializados em fabricação de queijos especiais com leite de búfala, a concentração das parições é um fator indesejável. No final do ano, após a desmama da maioria dos bezerros, ocorre uma diminuição da produção de leite e uma queda na entrega do produto no mercado, comprometendo sua comercialização. Devido a essa característica reprodutiva e produtiva da espécie bubalina, o Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (VRA-FMVZUSP) junto à Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento do Polo Regional de Desenvolvimento Sustentável dos Agronegócios do Vale do Ribeira(UPD-APTA) vem desenvolvendo estudos para possibilitar a utilização da inseminação artificial durante todo o ano e, dessa forma, viabilizar a introdução de material genético superior, distribuir os partos e proporcionar uma produção de leite mais uniforme. Para tanto, foram desenvolvidos projetos de pesquisa em propriedades nos Esta- dos de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Os resultados dos primeiros trabalhos (1997/1998) indicaram que os búfalos apresentam eficiente resposta à sincronização da ovulação para a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) durante a estação reprodutiva favorável (outono e inverno). No entanto, estes animais quando sincronizados durante a estação reprodutiva desfavorável (primavera e verão) apresentaram baixa taxa de concepção à inseminação. Somente em 2001, quando se utilizou o protocolo à base de P4, BE, PGF2a, eCG e hCG, foi possível obter satifatória taxa de concepção em búfalas sincronizadas e inseminadas em tempo fixo durante a estação reprodutiva desfavorável. No entanto, os tratamentos para IATF que apresentaram êxito fora da estação reprodutiva favorável, são mais caros do que os tratamentos utilizados no outono e inverno. Nesse sentido, novos estudos foram e estão sendo desenvolvidos visando minimizar os custos dos tratamentos, tornando-os mais acessíveis aos produtores, sem comprometimento da eficiência. tar a precisão da dose). Os fármacos deverão ser aplicados à tarde e a inseminação deverá ser realizada pela manhã, 10 dias após o início do protocolo (D10). Para a desestacionalização, é utilizado o protocolo que consiste na inserção intravaginal de um dispositivo de progesterona associado à injeção intramuscular de benzoato de estradiol. Nove dias mais tarde, aplica-se prostaglandina e eCG, seguida pela aplicação de hCG no D11. Com 16 horas do último tratamento, realiza-se a IATF. Para a utilização desse protocolo, deverão ser seguidas as mesmas recomendações do tratamento descrito anteriormente. De posse desses conhecimentos, os produtores possuem ferramentas para incrementar o emprego da inseminação artificial durante todo o ano, com vistas à melhoria genética e à desestacionalização dos partos e da produção de leite dos rebanhos bubalinos. A preços atuais, o custo de utilização dos protocolos descritos no artigo são: Atualmente, os protocolos preconizados para a IATF durante as estações reprodutivas favorável e desfavorável estão descritos nos esquemas abaixo. - estação reprodutiva favorável (outono e inverno): R$ 12,00 por búfala. O protocolo descrito para IATF na estação reprodutiva favorável é conhecido tecnicamente como “Ovsynch”. O primeiro fármaco deste protocolo pode ser aplicado em dia aleatório, desde que as fêmeas não estejam gestantes, apresentem bom estado de condição corporal e tenham parido a mais de quarenta dias. Todas as injeções devem ser realizadas com agulha 40x12 (via intramuscular profunda) e com seringa de graduação não superior a 5 ml (para aumen- Esses valores são referentes apenas aos fármacos necessários para a sincronização da ovulação devendo ser acrescidos do valor do sêmem que se situa entre R$ 13,00 à R$ 25,00 (valores em 02/2005). - estação reprodutiva desfavorável (primavera e verão): R$ 28,69 por búfala. Como a taxa de prenhez esperada em cada um dos protocolos é de 50% por IATF, isto é, de cada 100 búfalas inseminadas 50 se tornam prênhes, o valor total por prenhez deve ser multiplicado por dois. 43 44 Influência do tipo de preparo de Carne Bovina e Bubalina no teor de gorduras totais. ALVES, A.C.O.1; ALVES, R.C.B.1; SANTOS, R.N.; NEVES, E.C.A. Com o objetivo verificar a influência do tipo de preparo de carne bovina e no teor de gorduras totais, foram cortadas amostras de contra-filé, com e sem gordura (retirando toda a gordura aparente), em 3 pedaços (início, meio e fim), e mais um segundo corte foi feito, resultando em 4 partes de cada pedaço para cada preparo respectivamente assado, grelhado, cozido e frito. Os processamentos para cada tipo de carne foram: - CARNE ASSADA: A carne foi cozida em calor seco (forno) à 163o C, colocando-se a carne diretamente na assadeira, sem ser untada e ou água acrescentada. Para avaliar o ponto final da carne assada, a peça de carne foi perfurada com um garfo até não visualizar a liberação de líquido. - CARNE GRELHADA: processo semelhante ao da carne assada realizada no forno (163oC), sendo carne depositada sobre grelha na assadeira, não permitindo contato direto com o líquido que escorria durante a cocção. - CARNE COZIDA EM LÍQUIDO: A carne foi colocada em água à temperatura de ebulição e cozida lentamente em recipiente tampado. - CARNE FRITA: A carne foi cortada em cubos, sendo o processo de cocção realizado por fritura por imersão em óleo quente. grelha furada, evita-se a reabsorção pela carne da gordura liberada ao ser aquecida, ocorrendo uma maior perda de gordura, ficando este tipo em terceiro lugar. Entre as carnes bovinas e bubalinas observou-se (Tabela 1) uma ligeira diferença em relação aos teores de gordura nos diferentes tipos de preparo da carne, contradizendo o que foi afirmado por Damé (2002). A carne cozida, tanto bovina quanto bubalina, apresentou menor teor de gordura dentre todos os tipos, pois esta carne foi totalmente submersa pela água adicionada, ocorrendo dessa maneira maior perda de nutrientes (gordura, proteínas, minerais, etc). Porém pode ser verificado que a carne bubalina apresenta vantagens, em relação à carne bovina, principalmente, nos teores de gordura e a quantidade no consumo. É possível observar que quanto mais bem passada a carne, menor teor de gordura ela terá, bem como existe diferença entre as carnes bovina e bubalina em relação à presença ou não da gordura superficial da carne, pois a gordura, durante o preparo, penetra na carne. A carne frita, devido ao tipo de preparo (adição de óleo), como já esperado, apresentou maior teor de gordura em relação aos outros tipos. As carnes assadas são o segundo tipo a apresentar maior teor de gordura total, ou seja, o contato direto da carne com a água que escoa desta faz com que a perda de gordura seja menor; diferentemente do que ocorre na carne grelhada, sendo a Tabela 1. Teores de gordura das carnes bovinas e bubalinas Conclui-se pois que entre carnes bovinas e bubalinas observou-se uma ligeira diferença em relação aos teores de gordura nos diferentes tipos de preparo, sendo sempre menor na bubalina, com diferença mais acentuada na carne sem gordura. A carne quando cozida, tanto bovina quanto bubalina, apresentou menor teor de gordura dentre todos os tipos de preparo, sendo a carne frita a que apresentou maior teor. Fabricação de mozzarella com leite de búfalas. Alberto Gusmão Couto - Fazenda Castanha Grande - São Luiz do Quitunde - Alagoas - Brasil - Tel. (82) 254 1115/ 9976 3800 1. Adicionar ao leite, água potável na proporção de 10% do volume final (90%leite +10% água). 2. De agora por diante, trataremos por leite a mistura (leite+água), exceto quando formos calcular o rendimento, o que é obvio. da, no máximo de 1 a 2 min. Parar a turbulência e deixar o leite em repouso. 9. 2. Pasteurizar o leite. 3. Adicionar 40ml de cloreto de cálcio para cada 100 litros de leite. 4. Adicionar ao leite: 3 % de soro fermento estando à 40ºD (Dornic) ou 2 % estando a 60ºD ou 1% estando a 120ºD. 7. Deixar o leite fermentar por 20 a 30 min. O ideal é que a acidez do leite após a fermentação esteja com 21oD na hora de colocar o coalho. Dissolver o coalho em um copo d‘água, e em seguida misturar essa solução em um recipiente de aproximadamente 2 litros d’água. 8. Aos poucos vai-se colocando ao leite o coalho diluído em água e agitandose o leite à cada pequena porção colocada. Essa operação deverá ser rápi- 5. 6. Temperatura do leite na hora de colocar o coalho: 38o C. O coalho deverá coalhar o leite em 30 a 45 min, fora desse tempo afetará a qualidade do produto. Se menos de 30min, poderá dar gosto amargo no queijo devido ao excesso de coalho, além de 45min diminuirá o rendimento do queijo. 10. Estando a coalhada no ponto, quebrase a mesma com a lira horizontal, no sentido longitudinal, depois com a lira vertical, no mesmo sentido, em seguida com a lira vertical no sentido transversal até se obter o tamanho do grão desejado. Alguns queijeiros fazem um pré-corte da coalhada. 11. Para que se tenha um produto tenro, deve-se deixar os grãos de tamanhos 45 médios a grandes, em torno de 1,5 a 2cm.de aresta. 12. Após a quebra da coalhada, esta deverá repousar por 3 min, tempo necessário para formar uma película nas paredes dos grãos da coalhada. Essa película filtrará o soro do interior dos grãos, quando feita a primeira mexedura e impedirá a saída de finos (pequenas partículas da coalhada), aumentando desta forma o rendimento do queijo. 13. Primeira mexedura: iniciar muito lentamente e gradativamente aumentar a agitação. Duração: 20min. 14. Ao término desse tempo, deixar a coalhada assentar no fundo do tanque. 15. A Segunda mexedura poderá ser processada de duas maneiras: a. Com aquecimento na camisa do tanque de fabricação: Aquecer lentamente por todo o processo, a coalhada com todo o soro. Mexer a coalhada inicialmente lentamente e gradativamente aumentar a agitação, mantendo as pelotas soltas, sem formação de bolos. Ao atingir a temperatura de 38ºC a massa deverá estar numa consistência ideal. b. Com adição de água quente: a esse processo dar-se o nome de delactosagem, pois retira parte da 46 lactose de dentro dos grãos. Retirar parte do soro até o aparecimento dos primeiros grãos. Adicionar à massa mais soro, muito lentamente, com um aguador fino, água a 100ºC. Evitar que a água quente entre em contato direto com à massa, pois poderá emborrachar a mesma. A medida que se vai colocando a água quente, vai-se fazendo a mexedura na massa, inicialmente devagar e gradativamente e concomitantemente com o aumento de temperatura, vai-se aumentando a agitação, evitando desta forma que a massa forme bolos. Em torno de 38ºC, a massa deverá estar no ponto, o que será detectado pelo queijeiro. 16. Deixar a massa repousando (no próprio soro, caso a temperatura ambiente esteja baixa e retirar todo soro se a temperatura ambiente estiver alta) até a mesma atingir o ponto de filagem, o que ocorrerá entre 4 à 5 horas, dependendo das condições acima especificadas e acidez da massa. Quanto maior for o tempo para dar o ponto de filagem, maior será o tempo que o queijeiro terá para filar e vice versa, por isso aconselho que o queijeiro calcule para que a massa dê o ponto de filagem com mais de 4 horas. 17. Ao fazer o teste de filagem, a massa deve esticar em mais de um metro, quando estará no ponto. 18. FILAGEM: Filar a massa com água entre 85 / 90ºC, e quantidade de 1.5 a 2 vezes o peso da massa a ser filada. Quanto maior a temperatura mais mole ficará a massa e vice versa. 19. SALGA: MOZZARELLA EM BARRA, PARA FATIAR: usar de 2 a 2.5 % de sal na água de filagem(dependendo da clientela). Trabalhar na massa, fechar a bola e enformar. Colocar o queijo em água gelada, dentro da forma, por aproximadamente uma hora.Retirar da forma e colocar em câmara fria para o queijo enxugar. MOZZARELLA EM BOLINHAS: Retirar da água gelada. Colocar em uma salmoura à 20% por um período de 5 a 10min (dependendo do tamanho da bola). Colocar as bolinhas em salmoura de conserva definitiva. Esta salmoura deverá ter a mesma acidez da massa, para evitar que fique leitosa. 20. EMBALAR: Caso seja Mozzarella em barra, embalar a vácuo; caso seja em bolinhas, colocar em um recipiente com uma quantidade de salmoura de conserva suficiente para deixar as bolinhas imersas. Influência das características reprodutivas da búfala na produção, composição e qualidade do leite Eduardo Bastianetto, Sidney Correa Escrivão - Apoio: Núcleo de Bubalinocultura da EV-UFMG e Associação Mineira de Bubalinocultores Introdução O s animais selvagens apresentam uma atividade reprodutiva estacional, condicionada pela necessidade de coincidir o parto e a desmama com uma estação climática que satisfaça as exigências de temperatura e alimento da prole. Esta característica que se perde durante o processo de domesticação ainda encontra-se presente em algumas espécies animais. A tendência à estacionalidade reprodutiva de algumas espécies foi parcialmente influenciada pelo processo de domesticação e sua mudança para novas áreas de criação. inicia uma gestação no principio do inverno irá entrar em trabalho de parto no outono do ano seguinte (período médio de gestação de 315 dias), época caracterizada pela baixa quantidade e qualidade das forragens. Os búfalos apresentam estacionalidade reprodutiva mesmo quando estão em locais com boa disponibilidade de alimento durante todo o ano. Os animais pertencentes aos rebanhos localizados próximos à linha equatorial apresentam uma estacionalidade reprodutiva influenciada por fatores nutricionais. A manifestação da estacionalidade reprodutiva nos búfalos é influenciada pelo aumento da distância da linha do Equador (Zicarelli, L. 1997). adequado para a fabricação de queijo tipo Mozzarella. O leite utilizado para a fabricação desse queijo deve conter uma relação de gordura e proteína de 2:1, com um teor mínimo de gordura de 7,2% (Del Prato, S. O., 1998) e baixa acidez titulável. A acidez titulável do leite da búfala Mediterrânea Italiana varia durante a lactação de 12.0 a 9.0 SH°(unidade de Soux – Henkel em 100 ml de leite) nos primeiros 25 dias apos o parto.. O leite apresenta 12.0° SH no início da lactação, 10.0° SH após duas semanas e para 9.0° SH aos 25 dias. A conversão dos valores de acidez expressa em °SH e °Dornic (°D) podem ser feitas através das formulas: Índia A espécie selvagem que originou os búfalos desenvolveu-se em uma zona tropical Indiana localizada entre os paralelos 31° N e 2° S da linha do Equador. O parto primaveril garantiu para a prole, durante o processo de seleção natural dos animais, a presença de forragem em áreas tropicais ao norte do Equador. As espécies que possuem período de gestaçao de cinco meses (Caprinos e Ovinos) e de 11 –12 meses (Eqüinos e Asininos) apresentam um aumento acentuado na fertilidade respectivamente no Outono e na Primavera. A variação na quantidade diária de luz sinaliza a epoca do ano para sistema neuro-endócrino dos animais e reativa o sistema reprodutivo no período favorável a reprodução, dividindo-os em espécies fotoperiodo negativo (aumento da fertilidade no Outono e Inverno) e fotoperiodo positivo (aumento da fertilidade na Primavera e Verão). Os indivíduos que nasciam nas épocas mais favoráveis sobreviviam e prevaleceram numericamente, transmitindo para as gerações sucessivas as características reprodutivas (Zicarelli, L. 1997). Brasil A disponibilidade de forragem nas áreas tropicais ao sul da linha equatorial ocorre no período em que as horas de luz do dia aumentam (primavera e verão), ao contrário do que ocorre no ambiente que os búfalos foram selecionados. Uma búfala que • Acidez do leite em °D = (4,5x acidez do leite °SH) /2 Comportamento reprodutivo das búfalas A espécie bubalina é poliéstrica estacional de dia curto. A variação na concentração sangüínea de melatonina nas búfalas sinaliza a estação do ano para o sistema reprodutivo. O aumento na concentração plasmática de melatonina após o por do sol é menor em indivíduos menos sensíveis ao fotoperiodo. A necessidade de alterar o calendário natural de partos das búfalas para satisfazer a maior demanda comercial de Mozzarella na primavera e no verão causam perdas na fertilidade do rebanho, que são menores (aproximadamente 15%) nas propriedades que utilizam programas de desestacionalização para búfalas há mais tempo. As búfalas destes rebanhos manifestam um comportamento reprodutivo estacional menos característico (Zicarelli, L. 1997). Variação na composição do leite da búfala durante o ano Os percentuais de gordura, proteína, CCS e acidez titulável do leite apresentam uma variação conhecida e esperada durante a lactação. A intensidade e tipo destas variações ocorrem devido ao manejo alimentar, sanitário e genético imposto pelos criadores, e podem favorecer ou prejudicar a qualidade e o rendimento dos produtos derivados do leite da búfala. O leite das búfalas recém paridas não é • Acidez do leite em °SH = (2 x acidez do leite em °D) /4,5 (Adaptado de Del Prato, S. O., 1998). A acidez titulável do leite da búfala apresenta valores ligeiramente superiores à acidez titulável do leite da vaca, isto provavelmente ocorre em função da maior quantidade, diâmetro e número das micelas de caseína do leite da búfala se comparado ao leite da vaca. (Macedo et, 2001). Segundo Del Prato (1998) a acidez normal do leite da búfala Mediterrânea Italiana para a fabricação de Mozzarella varia entre 7.0 e 7.8°SH. Fatores ambientais que causam o aumento da acidez titulável do leite da búfala: a. Presença de bactérias saprófitas produtoras de acido lático através da fermentação da lactose. b. Conservação do leite em refrigerador sujo e resfriamento lento. c. Transporte do leite em latas sujas e temperatura inadequada. d. Percursos longos e demorados. e. Ordenha com pouca ou nenhuma higiene. Fatores alimentares que aumentam a acidez titulável do leite: 1. Excesso de forragem grosseira sem a observação das características nutricionais. 47 2. Fornecimento de alimentos inapropriados: silagem de baixa qualidade, alimentos mofados, mistura mineral inapropriada. A estacionalidade reprodutiva concentra a produção de grande volume de leite (até 60% da produção total de leite) nos meses de Fevereiro a Maio de búfalas recém paridas. O baixo percentual de caseína no leite, a alta acidez titulável e a alta CCS em algumas fases da lactação causam problemas na coagulação do leite e na filagem da massa. A mozarela produzida com o leite de uma búfala recém parida apresenta baixa qualidade organoléptica e reduzido tempo para comercialização. Para diminuir a concentração de partos em poucos meses do ano deve-se fazer um o planejamento reprodutivo. Baruselli (1993) descreveu as seguintes técnicas de manejo que auxiliam a distribuição de partos ao longo do ano: • Colocar as novilhas em reprodução na Primavera, pois as novilhas não 48 apresentam um comportamento estacional reprodutivo acentuado. • Retirar o touro do lote de búfalas paridas no inverno (Junho, Julho e Agosto) e recolocar na primavera. Alimentar bem as búfalas, condição indispensável para a concepção na primavera. O rendimento da mozarela e dos demais derivados está diretamente relacionados com a composição do leite, em especial com a quantidade de proteína. O rendimento do leite da búfala para a fabricação de Mozarela pode ser calculado com a formula: [((3,5 x %P no leite) + (1,25 x %G no leite)) – 0,088]. A búfala apresenta uma maior capacidade de alterar a composição (percentual de gordura e proteína) do leite em relação ao volume. Existe uma diferença no percentual de gordura no leite das búfalas submetidas a uma ou duas ordenhas por dia nos rebanhos que fornecem ração no cocho durante ou após a ordenha. Nos rebanhos em que as búfalas são ordenhadas duas vezes elas recebem uma quan- tidade maior de ração, isto diminui a relação forragem: concentrado da alimentação total ingerida e favorece a produção de leite com maior percentual de gordura em relação as búfalas que são ordenhadas somente uma vez. Quando as búfalas em lactação não ingerem alimentos de maneira que satisfaçam suas exigências nutricionais para a mantença, gestação, e produção de leite ocorre uma acentuada diminuição no volume de leite produzido com uma pequena alteração na sua composição. Conclusões As características reprodutivas da espécie bubalina influenciam na composição, qualidade e volume do leite produzido durante o ano. Deve-se fazer um planejamento dos acasalamentos das búfalas, respeitando as características da espécie, para diminuir a concentração da produção de leite com características indesejáveis para a produção de mozzarella em poucos meses do ano. 49 RECEITAS CULINÁRIAS Receitas da Criadora Magda Elizabete Nebel da Silva Quiche de Mozzarella de Búfala Guaíba - RS Rendimento: 8 porções - 1 Kg de filé de búfalo - Sal e pimenta a gosto Massa: 250 g de farinha de trigo 125 g de manteiga 1 colher de chá de sal 1 ovo 2 colheres de água - 2 dentes de alho Modo de fazer: - 2 cebolas grandes - 125 g de bacon - 3 cenouras - ½ maço de temperos verdes picados - 200 g de mozzarella de búfala em fatias Filé Recheado: Rendimento: 4 a 6 pessoas Modo de preparar: Recheio: Passe no processador o alho, a cebola, a cenoura e o bacon, ou corte tudo bem picadinho. Tempere a gosto e refogue por 10 a 15 minutos, mexendo até evaporar todo o liquido. Desligue e acrescente o tempero verde e reserve. Com uma faca de cozinha bem afiada, vá abrindo a peça inteira do filé como forma de uma manta, quanto mais fino melhor, tempere com sal e pimenta. Coloque o recheio: espalhe as fatias de mozzarella e depois o refogado de bacon com cebola e cenoura. Enrole como um rocambole, amarre com o auxilio de um barbante e embrulhe em papel alumínio, fechando bem.Leve para assar por cerca de 20 minutos em forno médio préaquecido. Após esse tempo, abra o papel alumínio delicadamente e pincele com manteiga de búfala. Volte ao forno e deixe dourar aproximadamente 20 minutos. Pode ser servido com arroz, salada verde e farofa. Misture a farinha e o sal e incorpore a manteiga com a ponta dos dedos até formar uma farofa. Acrescente os ovos e a água e forme a massa sem trabalhar muito nela. Cubra com filme plástico e leve à geladeira para descansar por 30 minutos. Após este tempo, abra a massa e coloque em uma forma de fundo falso. Cubra com papel alumínio, encha de feijões crus e leve para assar em forno médio por 15 minutos aproximadamente. Recheio: 300 g de mozzarella de búfala picada em quadrados grandes 300 ml de creme de leite fresco (nata) - 1 xic. de leite 1 cebola picadinha 4 ovos - 1 colher de chá de sal pimenta do reino - 6 azeitonas pretas fatiadas para decorar Frite a cebola na manteiga. Bata no liquidificador os ovos com o creme de leite, o sal e a pimenta. Depois de batido, junte a mozzarella de búfala e a cebola. Coloque o recheio no fundo da torta que foi pré-assada. Salpique por cima as azeitonas cortadinhas e leve ao forno médio por aproximadamente 30 minutos. Encaminhe à ABCB suas sugestões de receitas para serem publicadas no próximo Boletim do Búfalo 50 Pão de Queijo com Mozzarella de Búfala - 1 colher rasa de sal - 6 xic. polvilho doce ou fécula - 1 xic. medida de azeite - 1 xic. medida de leite - 400 g mozzarella búfala - 4 ovos Misturar o sal com o polvilho, misturar o leite junto com o óleo fervendo, despejar no polvilho misturando bem. Modo de fazer: Deixar esfriar por 20 minutos, acrescentar os ovos e por último o queijo ralado, fazer bolinhas e assar no forno pré aquecido a 200º. Para congelar: Fazer bolinhas, colocar na forma, levar ao freezer e depois embalar. Retirar o ar para que dure mais. Pizza de Mozzarella de Búfala com Rúcula - ½ xícara de chá de leite 2 colheres de chá de margarina 1 colher de chá de sal 1 colher de sopa de fermento em pó Cobertura: 3 tomates sem pele e semente picados 1 colher de sobremesa de orégano 200 g de mozzarella de búfalo folhas de rúcula Modo de fazer: Junte os ingredientes da massa, amassando-os com as mãos até obter uma massa homogênea. Abra com rolo formando quatro discos de pizza. Leve a massa ao forno por 12 minutos. Tempere os tomates com sal e orégano e espalhe sobre os discos já assados. Distribua a mozzarella ralada e leve novamente ao forno por mais 8 minutos. Coloque as folhas de rúcula e serva a seguir. Composições químicas comparativas: Leite de Búfala x Leite de Vaca Parâmetros Búfala Vaca Umidade (%) 83,00 88,00 Gordura (%) 8,16 Proteína (%) Carne de Búfalo x Carne Bovina Búfalos Bovinos Calorias (Kcal) 131,00 289,00 3,68 Proteína (%) 26,83 24,07 4,50 3,70 Lipídios (g) 1,80 20,89 Cinzas (%) 0,70 0,70 AG Saturados (g) 0,60 (33%) 8,13 (39%) Extr. Seco (%) 17,00 12,00 AG Monoinsaturados (g) 0,53 9,06 Vit. A (UI) 204,27 185,49 AG Poliinsaturados (g) 0,36 0,77 Calorias / 100 ml 104,29 62,83 Colesterol (mg) 61,00 90,00 1,88 1,30 Minerais (mg) 641,80 583,70 61 37 Vitaminas (mg) 20,85 18,52 Cálcio (%) Ferro (ppm) Fonte: Verruma (1994) Parâmetros Por 100 g de carne. Fonte: USDA Agriculture Handbook. AGENDA 3º ENCONTRO NACIONAL DE CRIADORES DE BÚFALOS RECIFE - PE O 3º Encontro Nacional de Criadores de Búfalos, acontecerá entre os dias 15 e 19 de Setembro de 2005 e está sendo organizado pela Associação de Bubalinocultores de Pernambuco (ASBUPE) juntamente com a Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE) e ABCB. Previamente ao encontro, estão programados dois cursos, sendo um de produção de derivados de leite de búfalas e outro de Inseminação Artificial. 1º SIMPÓSIO ITALO-AMERICANO DE BÚFALOS Programado para ser realizado entre os dias 15 e 18 de Outubro de 2005 em Paestum-Salerno, na Itália. O simpósio deverá ainda ter um curso prévio que abordará a qualidade do leite e sua transformação em derivados.