Yoga Sutras de Patanjali

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Yoga Sutras de Patanjali
Yoga-Sûtras de Patanjali
SARVAYOGA 09/01/2006 - 10:51 Vedanta
Retirado do site www.sarvayoga.net
O Yoga-Sûtra de Patanjali
Samâdhi-Pâda
Capítulo sobre o Êxtase
Agora [começa] a exposição do Yoga.
O Yoga é a contenção (nirodha) das flutuações da consciência (citta).
Então Aquele que Vê [i.e., o Si Mesmo transcendente] subsiste em [sua] forma essencial.
Em outros momentos [o Si Mesmo] conforma-se às flutuações.
As flutuações são cinco; aflitas ou não-aflitas.
[Os cinco tipos de flutuação são:] conhecimento, concepção errônea, conceitualização, sono e memória.
O conhecimento [pode advir da] percepção, [da] inferência e [do] testemunho.
A concepção errônea é um conhecimento falso que não se baseia na aparência [real] do [objeto de
conhecimento].
A conceitualização é sem objeto [perceptível] e segue-se ao conhecimento verbal.
O sono é uma flutuação fundamentada na idéia (pratyaya) da não-ocorrência [de outros conteúdos na
consciência].
A memória é a "não-privação" [i.e., a retenção] dos objetos já captados.
A contenção dessas [flutuações realiza-se] mediante a prática [do Yoga] e a impassibilidade.
A prática (abhyâsa) é o exercício [feito em vista da aquisição da] estabilidade nesse [estado de contenção].
Mas essa [prática só] se firma [depois de ter sido] cultivada adequadamente e ininterruptamente por muito
tempo.
A impassibilidade (vairâgya) é a certeza da maestria do [yogin que] não tem sede das coisas visíveis nem das
reveladas [ou invisíveis].
A [forma] superior dessa [impassibilidade] é o não ter sede dos componentes (guna) [da Natureza, o que
decorre] da visão do Si Mesmo (purusha).
[O êxtase que nasce desse estado de contenção] é consciente (samprajnâta) na medida em que é vinculado à
cogitação, à concepção, à alegria ou à noção de "eu" (asmitâ).
O outro [tipo de êxtase] tem um resíduo de ativadores (samskâra); [segue-se] ao primeiro [i.e., ao êxtase
constante] com a prática da idéia de contenção.
[O êxtase daqueles que se] fundiram com a natureza (prakriti-laya) e [daqueles que estão] sem corpo (videha)
[nasce da persistência da] idéia de vir-a-ser.
[O êxtase supraconsciente] dos outros [yogins cujo caminho é o especificado no aforismo 1.18] é precedido
pela fé, pela diligência, pela atenção, pelo êxtase [consciente] e pela sabedoria.
[O êxtase supraconsciente] está próximo para [os yogins que se dedicam] com extrema intensidade [à prática
do Yoga].
1
Como [essa intensidade pode ser] pouca, medíocre ou excessiva, existe também uma diferença [em quão
próximos os yogins podem estar do êxtase supraconsciente].
Ou senão [o êxtase supraconsciente é obtido] através da devoção ao Senhor (îshvara-pranidhâna).
O Senhor (îshvara) é um Si Mesmo especial [porque] não é maculado pelas causas de aflição (klesha), nem
pela ação e pela fruição desta, nem pelos depósitos (âshaya) [no fundo da memória, que dão origem aos
pensamentos, aos desejos, etc.].
N’Ele, a semente da onisciência não tem igual.
Em virtude de [Sua] continuidade no decorrer do tempo, [o Senhor] foi também o diretor dos antigos
[adeptos do Yoga].
Seu símbolo é a "proclamação" (pranava) [i.e., a sílaba sagrada om].
A recitação dessa [sílaba sagrada leva à] contemplação do seu significado.
Daí [segue-se] a realização da interiorização [habitual] da mente (pratyak-cetanâ) e também o
desaparecimento dos obstáculos [mencionados no aforismo seguinte].
A doença, a inércia, a dúvida, a desatenção, a preguiça, a dissipação, a visão falsa, a não-realização dos
estágios [do Yoga] e a instabilidade [nesses estágios] são as distrações da consciência; são estes os
obstáculos.
A dor, a depressão, o tremor nos membros e [os erros de] inalação e exalação são [sintomas] associados às
distrações.
Para contrapor-se a essas [distrações, o yogin deve recorrer à] prática de [concentrar-se] num único princípio.
A projeção de amizade, compaixão, gratidão e equanimidade perante as coisas – [sejam elas] alegres ou
tristes, meritórias ou demeritórias – [leva à] pacificação da consciência.
Ou senão [a contenção das flutuações da consciência é alcançada] através da expulsão e retenção da
respiração (prâna) [de acordo com as regras do Yoga],
Ou senão [o estado de contenção acontece quando] surge uma atividade centrada num objeto que mantém a
mente estável.
Ou senão [a contenção é alcançada por meio de atividades mentais] que não levam em si sofrimento e têm o
poder de iluminar.
Ou senão [a contenção é alcançada quando] a consciência é dirigida para [os seres que] venceram o apego,
Ou senão [a contenção é alcançada quando a consciência] repousa em intuições [advindas dos] sonhos e [do]
sono,
Ou senão [a contenção é alcançada] por meio da meditação (dhyâna), como é desejado.
Sua maestria [vai] das coisas mais mínimas à maior magnitude.
[Para a consciência cujas] flutuações acabaram [e que tornou-se] semelhante a uma gema transparente,
[sobrevém] – no que diz respeito "àquele que capta", à "captação" e ao que "é captado" – [um estado de]
coincidência (samâpatti) com aquilo sobre o qual repousa [a consciência] e pelo qual [a consciência] é
"ungida".
[Quando] o conhecimento conceitual, [baseado na] intenção das palavras, [está presente] neste [estado de
coincidência entre sujeito e objeto, o estado é chamado de] "coincidência entremeada de cogitação".
Com a purificação da [profundeza da] memória, [a qual] como que se esvazia da sua essência, [e quando] só
o objeto [de meditação] fulgura, [o estado de êxtase é chamado ] "supracognitivo" (nirvitarka).
Assim, por este [êxtase cogitativo], ficam explicados [os outros dois tipos básicos de êxtase] – o "reflexivo"
(savicâra) e o "supra-reflexivo" (nirvicâra): [nestes o suporte da meditação é um] objeto sutil.
E os objetos sutis terminam no Indiferenciado (alinga).
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Estrs [tipos de coincidência extática entre o sujeito e o objeto pertencem] na verdade [à categoria do] "êxtase
com semente" (sabîja-samâdhi).
Quando há lucidez (vaishâradya) no [êxtase] supra-reflexivo, [este é chamado] "do ser interior" (adhyâtmaprasâda).
Neste [estado de suprema lucidez], toda intuição leva em si a verdade(ritam-bhara).
A amplitude [dessa intuição que leva em si a verdade] é diferente da intuição [que vem da] tradição e [da]
inferência, [em virtude da sua] força e direção particulares.
O ativador (samskâra) que nasce dessa [intuição veraz] obstrui os demais ativadores [que residem nas
profundezas da consciência].
Com a contenção até mesmo desse [ativador, sobrevém], em virtude da contenção de todos [os conteúdos da
consciência], o êxtase sem semente.
Sâdhana-Pâda
Capítulo sobre o Caminho da Realização
A ascese (tapas), o estudo (svâdhyâya) e a devoção ao Senhor (îshvara-pranidhâna) [constituem] o Yoga da
Ação (kriyâ-yoga).
[Esse Yoga tem] a finalidade de cultivar o êxtase e também a de atenuar as causas da aflição (klesha).
A ignorância, a noção de eu, o apego, a aversão e a vontade de viver são as cinco causas da aflição.
A ignorância é o campo das outras [causas, que podem estar] adormecidas, atenuadas, interrompidas ou
ativadas.
A ignorância consiste em ver [aquilo que é] eterno, puro, jubiloso e [associado ao] Si Mesmo como
transitório, impuro, doloroso e [associado ao] ao não-si mesmo (anâtman).
A noção de eu é como que a identificação da faculdade de ver (darshana) com Aquele que Vê (drik) [i.e., o Si
Mesmo].
O apego [é o que] repousa sobre o prazeroso.
A aversão [é o que] repousa sobre o doloroso.
A vontade de viver, correndo [por sua] própria propensão (rasa), está assim arraigada até mesmo nos sábios.
Essas [causas de aflição], [em sua forma] sutil, devem ser superadas pelo [processo de] involução
(pratiprasava).
As flutuações dessas [causas da aflição] devem ser superadas pela meditação (dhyâna).
As causas da aflição são a raiz do "depósito de ação", e [este] pode se manifestar no nascimento visível[i.e.,
nesta vida] ou num invisível [i.e., numa existência futura].
[Enquanto] existe a raiz, [colhe-se] o fruto dela: o nascimento, a vida e as sensações (bhoga). [N. do trat.: em
inglês experience. A palavra sânscrita bhoga é de difícil tradução. Designa o ato de ser que recebe, que está
passivo perante as ações dos outros seres. A palavra "sentir" ou "sensação", portanto, devem, nessa acepção,
ser tomadas no sentido o mais lato possível.]
Essas [três coisas] têm como resultados o prazer ou a dor, de acordo com as causas, [que podem ser]
meritórias ou demeritórias.
Em virtude do sofrimento [inerente] às transformações (parinâma) [da Natureza], à pressão (tâpa) [da
existência] e aos ativadores (samskâra)[embutidos no fundo da consciência], e em virtude do conflito entre as
flutuações das qualidades (guna) [da Natureza] para o homem de discernimento, tudo é sofrimento. (duhkha).
O que se há de superar é o sofrimento futuro.
A correlação (samyoga) entre Aquele que Vê [i.e., o Si Mesmo transcendente] e O que É Visto [i.e., a
Natureza] é a causa do que se há de superar.
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O que é Visto [i.e., a Natureza] tem o caráter de luminosidade, atividade ou inércia; está incorporado nos
elementos e órgãos dos sentidos e suas finalidades [são] a fruição (bhoga) ou a emancipação (apavarga).
Os níveis dos componentes (guna) da Natureza são o Particularizado, o Não-Particularizado, o Diferenciado
e o Indiferenciado.
Aquele que Vê, [que é] a pura [Potência da] visão, embora puro, percebe as idéias [presentes na consciência].
O si mesmo [i.e., a essência] do Que é Visto [i.e., a Natureza] só é em vista d'Aquele [que Vê, o Si Mesmo
transcendente].
Embora [O Que é Visto] tenha deixado [de existir] para aquele cujo objetivo foi realizado, ele porém não
deixou [de existir de todo], pois [ainda é] objeto da percepção comum (sâdhârsnatva) dos outros [que não são
iluminados].
A correlação (samyoga) [entre O que Vê e O que é Visto] é a razão da apreensão da forma essencial do poder
do "possuidor" (svâmin) e do "possuído" (sva).
A causa dessa [correlação] é a ignorância (avidyâ).
Com o desaparecimento dessa [ignorância], a correlação [também] desaparece; isto é a cessação [total], a
solidão (kaivalya) da [pura Potência da] visão.
O meio de [alcançar] a cessação é a ininterrupta visão do discernimento (viveka-khyâti).
Para aquele [que possui a ininterrupta visão do discernimento], nasce, no último estágio, a sabedoria (prajnâ)
sétupla.
Através da prática dos membros do Yoga, e com a redução das impurezas, [brilha] o fulgor da sabedoria
(jnâna), que aumenta até chegar] à visão do discernimento.
A disciplina (yama), o autocontrole (niyama), a postura (âsana), o controle da respiração (prânâyâma), o
recolhimento dos sentidos (pratyâhâra), a concentração(dhâranâ), a meditação ( dhyâna) e o êxtase (samâdhi)
são os oito membros do Yoga.
A não-violência, a veracidade, o não-roubar, a castidade e o não-cobiçar são as disciplinas.
[São válidos] em todas as esferas, independentemente de nascimento, lugar, tempo e circunstância, [e
constituem] o "grande voto" (mahâ-vrata).
A pureza, o contentamento, a ascese, o estudo e a devoção ao Senhor são formas de autocontrole.
Para repelir noções (vitarka) [perniciosas], [o yogin deve dedicar-se ao] cultivo do oposto [delas].
Noções [perniciosas], [como] a violência, etc., quer sejam praticadas de fato, quer se ordene que sejam
praticadas, quer sejam [simplesmente] aprovadas; quer nasçamda cobiça, quer da ira, quer do tédio; quer
sejam pequenas, quer médias, quer excessivas - [sempre têm a sua] infindável consumação na ignorância
(avidyâ) e no sofrimento (duhkha); por isso, [o yogin deve dedicar-se] a cultivar o oposto delas.
Quando [o yogin] se firma [na virtude da] não-violência (ahimsâ), [toda] discórdia se acaba na sua presença.
Quando se firma na veracidade (satya), a ação [e sua] fruição passam a depender [da sua vontade].
Quando se firma no não-roubar (asteya), todos os tesouros surgem [à frente dele].
Quando se firma na castidade (brahmacarya), adquire [grande] vitalidade.
Quando se firma no não-cobiçar (aparigraha), [o yogin obtém] o conhecimento de onde se verificaram os
seus nascimentos.
Através da pureza (shauca), [obtém] o distanciamento (jugupsâ) em relação a seus próprios membros [e
adquire o desejo de] não ser contaminado pelos outros.
[Obtém, além disso], a pureza da [qualidade] sattva [do seu ser], a gratidão, a concentração, o domínio dos
órgãos dos sentidos e a capacidade de ver o Si Mesmo (âtma-darshana).
Através do contentamento (samtosha) obtém-se uma alegria inigualável.
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Através da ascese (tapas), e em virtude da diminuição da impureza, [alcança-se] a perfeição do corpo e dos
órgãos dos sentidos.
Através do estudo (svâdhyâya), [o yogin estabelece] contato com a divindade de sua eleição (ishta-devatâ).
Através da devoção ao Senhor (îshvara-pranidhâna) [sobrevém] a obtenção do êxtase [supra-consciente].
A postura (âsana) [deve ser] estável e confortável.
[a prática correta da postura é marcada] pelo relaxamento das tensões e a coincidência [da consciência] com
o infinito.
Daí [vem] a imunidade aos opostos (dvandva) [encontrados na Natureza, como o calor e o frio].
Quando isto é [alcançado], [deve-se praticar] o controle da respiração, [que é] a interrupção do fluxo de
inalação e exalação.
Quanto ao seu movimento, [o controle da respiração] é externo, interno ou fixo, [e é] regulado pelo lugar,
pelo tempo e pelo número; [pode ser] dilatado ou contraído.
[O movimento da respiração] que transcende as esferas externa e interna é o "quarto".
Então desaparece o véu que encobre a luz [interior].
E [o yogin adquire] aptidão mental para a concentração.
O recolhimento dos sentidos é como que a imitação de forma essencial da consciência [por parte] dos órgãos
dos sentidos, que são separados dos seus objetos.
Daí [resulta] a suprema obediência dos órgãos dos sentidos.
Yibhûti-Pâda
Capítulo sobre os Poderes
A concentração (dhâranâ) é o atrelamento da consciência a um [único] ponto.
A unidirecionalidade (ekatânatâ) das idéias [presentes na consciência] em relação a esse [objeto de
concentração] é a meditação (dhyâna).
Essa [consciência], fulgurando como o puro e simples objeto, como que vazia da sua essência, é o êxtase
(samâdhi).
Os três [praticados] juntos [em relação ao mesmo objeto] são [o que se chama de] constrição (samyama).
Da maestria dessa [prática da constrição decorre] o fulgurar da sabedoria (prajnâ).
Seu progresso é gradativo.
[Em relação aos] anteriores [cinco membros do Yoga], as três [partes do processo de constrição] são os
membros interiores (antar-anga).
Não obstante, são membros exteriores (bahir-anga) [em relação ao êxtase] sem semente.
[Quando ocorre] a sujeição dos ativadores (samskâra) [subliminares] da origem e a manifestação dos
ativadores da contenção - [a isso chama-se] transformação da contenção, a qual se liga à consciência no
momento mesmo da contenção (nirodha).
O fluxo tranqüilo dessa [consciência se efetua] através de ativadores [nas profundezas da consciência].
O fim da "omnifinalidade" (sarva-arthatâ) e o surgimento da uni-intencionalidade (ekâgratâ) é a
transformação extática da consciência
E ainda, quando as idéias latentes e manifestas [presentes na consciência] são as mesmas, [a isto chama-se]
transformação uni-intencional da consciência.
Por isto (tambem) explicam-se as transformações de forma, variação de tempo e condição [no que diz
respeito aos] elementos [e aos] orgãos de sentido.
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O suporte das formas [i.e., a substancia ] e o que se amolda à forma (dharma) latente, manifesta ou
indeterminável.
A diferenciação na sequencia [da forma que aparecem] é a razão da diferenciação mas transformações [da
Natureza].
Atraves da [pratica da ] constrição nas tres [especie de] transformação [obtem-se] o conhecimento do passado
e do futuro.
[E natural a] confusão entre ideia, o objeto e a palavra [que os significa], [devido uma] identificação
[erronea] de uns com outros. Através da [pratica da] constrição na distinção entre esses [elementos confusos],
[obtem-se] o conhecimento dos sons de todos os seres.
Através da percepção direta dps ativadores (samskara), [o yogin adquire] o conhecimento dps [seus]
nascimentos anteriores.
[Atraves da perceção direta] das ideias [na consciencia de outra pessoa], [obtem-se] o conhecimento da
consciciencia do outro.
Mas [esse conhecimento] não [tem como objeto] aquelas [idéias] junto com o suporte [objetivo] delas, pois
[esse suporte] está ausente [da consciência da outra pessoa].
Através da [prática da] constrição na forma do corpo, na suspensão da possibilidade de ser percebido, [isto
é], na interrupção da luz [que vai desse corpo] até o olho, [adquire-se] a invisibilidade.
O karma [é de dois tipos]: agudo ou adiado. Através da [prática da] constrição nisso ou através de augúrios,
[o yogin adquire] o conhecimento da [sua] morte.
[Através da prática da constrição] na [virtude da] amizade, etc. [o yogin adquire várias] forças (bala).
[Através da prática da constrição] nas forças, [adquire] a força de um elefante, etc.
Concentrando [em qualquer objeto] o fulgor das atividades [mentais que não levam em si sofrimento e têm o
poder de iluminar, o yogin adquire] o conhecimentos dos [aspectos] sutil, oculto e distante [desse objeto].
Através da [prática da] constrição no sol, [adquire] o conhecimento do cosmos.
[Através da prática da constrição ] na lua, [adquire] o conhecimento da disposição das estrelas.
[Através da prática da constrição] na estrela polar, [adquire] o conhecimento do seu movimento.
[Através da prática da constrição] na "roda do umbigo" (nâbhi-cakra), [adquire] o conhecimento da
organização do corpo.
[Através da prática da constrição] no "poço da garganta" (kantha-kûpa), [obtém] o fim da fome e da sede.
[Através da prática da constrição] no "duto da tartaruga" (kûrma-nâdî), [o yogin adquire] a estabilidade.
[Através da prática da constrição] na luz da cabeça, [ele adquire] a visão dos adeptos (siddhas).
Ou senão, através de um fulgor de iluminação (pratibhâ), [o yogin adquire o conhecimento de] todas as
coisas.
[Através da prática da constrição] no coração, [adquire] a compreensão da [natureza da] consciência.
A experiência passiva (bhoga) é uma idéia [baseada na] não-distinção entre o Si Mesmo absolutamente sem
mistura e o sattva. Através da [prática da] constrição na finalidade essencial [do Si Mesmo, que se distingue
da] altero-finalidade (para-arthatva) [da Natureza], [o yogin adquire] o conhecimento de Si Mesmo.
Disso decorrem fulgores de iluminação (pratibhâ) [nos campos sensoriais] da audição, do tato, da visão, do
paladar e do olfato.
Estes são obstáculos ao êxtase, [mas são] realizações no [estado] exteriorizado [de consciência].
Através da mitigação das causas do apego [ao próprio corpo], e através da experiência do ir-além, a
consciência [torna-se capaz de] entrar em outro corpo.
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Através do domínio da respiração ascendente (udâna), [o yogin adquire o poder de] não aderir à água, à lama
ou aos espinhos, e [o poder de] elevar-se acima [dessas coisas].
Através do domínio da respiração média (samâna), [adquire] brilho.
Através da [prática da] constrição na relação entre o ouvido e o espaço (âkâsha), [adquire] a "audição
divina"(divya shrotra).
Através da [prática da] constrição na relação entre o corpo e o espaço, e mediante a coincidência [da sua
consciência] com [objetos] leves, como o algodão, [o yogin adquire o poder de] viajar pelo espaço.
Uma flutuação (vritti) externa e não-imaginária [da consciência] é o "grande incorpóreo" do qual [procede] o
fim dos véus que encobrem a luz [interior].
Através da [prática da] constrição no grosseiro, na forma essencial, no sutil, na interligação e na finalidade
[dos objetos], [o yogin adquire] o domínio sobre os elementos.
Daí [resulta] a manifestação [dos grandes paranormais], como a "atomização" (animan), etc., a perfeição do
corpo e a indestrutibilidade dos seus componentes.
Beleza, graciosidade e robustez Adamantina [constituem] a perfeição do corpo.
Através da [prática da] constrição no [processo de] percepção, na forma essencial, na noção de eu, na
interligação e na finalidade, [o yogin adquire] o domínio sobre os órgãos dos sentidos.
Daí [advêm] a agilidade [semelhante à] da mente, o estado no qual não há órgãos dos sentidos e o domínio
sobre a matriz [da Natureza].
[O yogin que goza] somente da visão da distinção entre o Si Mesmo e o sattva [adquire] a onisciência e a
supremacia sobre todos os estados [da existência].
Através do desapego até mesmo por essa [excelsa visão], e com a evanescência das sementes dos defeitos,
[ele alcança] a solidão (kaivalya) [da pura Potência da visão].
Ao chamado de [seres] elevados, [ele] não [deve] dar margem ao apego ou ao orgulho, atento ao [perigo de]
uma nova e indesejada tendência[ a voltar aos níveis inferiores da existência].
Através da [prática da] constrição no momento (kshana) [do tempo] e na sua seqüência, [o yogin adquire] a
sabedoria que nasce do discernimento.
Daí [manifesta-se para ele] a consciência da [diferença entre] coisas semelhantes que normalmente não
podem ser distinguidas em virtude de uma indeterminação das distinções de espécie, aparência e posição.
A sabedoria que nasce do discernimento é o "liberador" (târaka) e é omniobjetiva, omnitemporal e nãoseqüencial.
Com [o alcançar da] igualdade em pureza entre o Si Mesmo e o sattva, [firma-se] a solidão [da Potência da
visão]. Fim (iti)
Kaivalya-Pâda
Capítulo sobre a Libertação
Os poderes (siddhi) resultam do nascimento, de ervas, de mantras, da ascese ou do êxtase.
A transformação em outra espécie (jâti) [é possível] em virtude da superabundância da Natureza.
A causa acidental (nimitta) não desencadeia as citações (prakriti), mas [é responsável tão-somente pela]
seleção das possibilidades – como um lavrador [que, para irrigar um campo, escolhe os melhores caminhos
para a água].
As consciências individualizadas (nirmâna-citta) [procedem] da noção essencial de eu (asmitâ-mâtra).
[Embora as diversas consciências individualizadas se dediquem] a atividades distintas, a consciência única
(eka) é a origem de todas as outras.
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Dentre essas [consciências individualizadas, a consciência que] nasce da meditação não leva depósito
[kármico].
O karma de um yogin não é preto nem branco; para os outros, é tríplice [i.e., mesclado].
Daí [segue-se] a manifestação somente [no fundo da consciência] daquelas características (vâsanâ) que
correspondem à frutificação do seu [karma particular].
Devido à uniformidade entre a memória [profunda] e os ativadores (samskâra), [existe] uma continuidade
[entre a causa kármica e a manifestação dos ativadores subliminares], muito embora [causa e efeito] possam
estar separados por lugar, tempo e espécie.
E esses [ativadores no fundo da consciência] não têm princípio, devido à perpetuidade da vontade primordial
[inerente à natureza].
Devido ao vínculo [que liga as marcas no fundo da consciência] à causa [kármica], ao fruto, ao substrato e ao
suporte, [segue-se], com o desaparecimento desses [fatores], desapareçam [igualmente] aquelas [marcas].
O passado e o futuro existem enquanto tais por causa da diferença [visível] nos caminhos [de
desenvolvimento] das formas (dharma) [produzidas pela Natureza].
Essas [formas] são manifestas ou sutis e são compostas das [três] qualidades (guna).
O "caráter próprio" (tattva) de um objeto [advém] da homogeneidade das transformações [das qualidades
(guna) primárias da Natureza].
Em vista da multiplicidade de consciências, [por um lado], e da unicidade dos objetos [percebidos, por
outro], uma e outra coisa [pertencem a] diferentes níveis [da existência].
E o objeto não é dependente de uma única consciência; é impossível provar isso; ademais, o que poderia ser
[um tal objeto imaginário]?
Um objeto é conhecido ou desconhecido em virtude da necessária "coloração" (uparâga) da consciência por
esse [objeto].
As flutuações da consciência sempre são conhecidas pelo que lhes é "superior", em virtude da imutabilidade
do Si Mesmo.
Essa [consciência] não tem luz própria, uma vez que é vista [pelo Si Mesmo].
E [isso implica] a impossibilidade de conhecer ao mesmo tempo [a consciência e o objeto].
Se a consciência fosse percebida por outra [consciência], [isso implicaria uma] regressão [infinita] de
cognição (buddhi) em cognição, e a confusão da memória
Quando a Atenção (citi) imutável assume a forma dessa [consciência], [torna-se possível] a apreensão, pelo
ente, das suas próprias cognições.
[Se] a consciência for "colorida" pelo Que Vê e pelo Que É Visto, [ela pode perceber] qualquer objeto.
Essa [consciência], embora matizada de inúmeras marcas (vâsanâ), não tem a sua finalidade em si mesma, na
medida em que [se limita a exercer] uma atividade colaboradora.
Para aquele que vê a distinção [entre o Si Mesmo e o sattva, sobrevém] o fim da projeção da [falsa] noção de
ser o si mesmo (âtma-bhâva).
Então a consciência, tendente ao discernimento, é transportada adiante, rumo à solidão (kaivalya) [da
Potência da visão].
Nos lapsos dessa [consciência em processo de involução], outras idéias [novas podem surgir] a partir dos
ativadores [no fundo da consciência].
O fim dessas [idéias se realiza pelos mesmos meios] já mencionados [no aforismo 2.10] em relação às causas
da aflição (klesha).
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Para [o yogin que, mesmo nesse estado excelso], nunca tira partido disso para quaisquer fins, [segue-se],
através da visão do discernimento, o êxtase chamado de "nuvem do dharma" (dharma-megha).
Então, [segue-se] o fim das causas da aflição (klesha) e do karma.
Então, removidos todos os véus de imperfeição, pouco [resta] a se conhecer, em virtude da infinitude da
sabedoria [resultante].
Então interrompem-se as seqüências nas transformações das qualidades (guna) [da Natureza], cuja finalidade
foi alcançada.
Seqüência é [aquilo que é] correlativo ao momento [de tempo] e apreensível no fim extremo de uma
transformação [particular].
A involução (pratisarga) das qualidades (guna), [que já] não têm serventia para o Si Mesmo, é [o que se
chama] a solidão [da Potência da visão], ou a firmeza do Poder da Atenção (citi-shakti) em sua forma
essencial.
Fim.
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