MARIANA TEREZA DE LIRA BENÍCIO Avaliação de vias de
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MARIANA TEREZA DE LIRA BENÍCIO Avaliação de vias de
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO MARIANA TEREZA DE LIRA BENÍCIO Avaliação de vias de sinalização em células-tronco da leucemia mieloide aguda de novo RIBEIRÃO PRETO 2015 MARIANA TEREZA DE LIRA BENÍCIO Avaliação de vias de sinalização em células-tronco da leucemia mieloide aguda de novo Tese apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutora em Ciências. Área de concentração: Imunologia Básica e Aplicada. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Magalhães Rego RIBEIRÃO PRETO 2015 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação da publicação Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo Benício, Mariana Tereza de Lira. Avaliação de vias de sinalização em células-tronco da leucemia mieloide aguda de novo, 2015. 108p.: Il.; 30 cm Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Área de concentração: Imunologia Básica e Aplicada. Orientador: Eduardo Magalhães Rego 1. LMA. 2. Células-tronco leucêmicas. 3. Sinalização Celular. 4. Aldeído desidrogenase. 5. Metilação. Benício, MTL. Avaliação de vias de sinalização em células-tronco da leucemia mieloide aguda de novo. Tese apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Ciências. Aprovado em: ___/___/____ Banca Examinadora Prof. Dr.________________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr.________________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr.________________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr.________________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Prof. Dr.________________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: ____________________________ Assinatura: ___________________ Aos meus pais, Dóris e Odilon, pelo amor e apoio incondicionais. AGRADECIMENTOS A Deus, pela oportunidade de concluir mais essa etapa na minha formação profissional, por me amparar nos momentos difíceis e pelas maravilhosas bênçãos que ele me proporcionou nesta caminhada. À minha família, pelo amor, carinho e incentivo em todas as horas. Por compreenderem minha ausência e por se fazerem presentes de todas as formas possíveis durante esses sete longos anos de convivência à distância. Ao professor Dr. Eduardo Magalhães Rego, pela confiança, paciência e por todas as oportunidades que me proporcionou. Agradeço também pela amizade, pelos ensinamentos, exemplos e por me auxiliar na definição do meu futuro profissional. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela concessão da bolsa de doutorado e pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa. Ao professor Dr. Roberto Passetto Falcão, por disponibilizar a estrutura física de seu laboratório para realização dos experimentos desse trabalho. Ao Dr. Gary Nolan, pela oportunidade de conviver e aprender com seu grupo e por todo o suporte oferecido para realização dos experimentos de fosfo-flow. Ao Dr. Daniel Diniz de Carvalho, pela oportunidade de realizar os experimentos de ERRBS deste trabalho em seu laboratório. À Aglair Bérgamo, pela paciência, boa-vontade e disponibilidade para me auxiliar em todas as etapas dos experimentos de citometria, especialmente quando o projeto ainda estava engatinhando. Você é, sem dúvida, a melhor pessoa com quem eu poderia ter aprendido as primeiras noções sobre citometria de fluxo. À Priscila Scheucher, Ana Silvia Lima, Adriana Dore e Denise Palma por me ajudarem em tudo o que precisei para realização deste trabalho. Aos amigos Bárbara Santana, Cleide Silva, Dalvinha, Sarah Bassi e Felipe Furtado, pela sincera e valiosa amizade, solidariedade, força, ajuda profissional e pela certeza de que estaremos juntos para a vida toda. À minha família ribeirão-pretana: Fernanda Barbosa, Marlusa Amarante, Procópio Filho, Maitê Gomes, Larissa Cândido, Diandra Favoretto, Florencia Tellechea, Mariana Grassi e Célia. Obrigada pelo apoio nas horas difíceis, encorajamento nas horas de fraqueza e pelos incontáveis momentos de risada à toa, alegria, aventuras e amor. É maravilhoso poder compartilhar minha vida com vocês! Ao Tiago, meu príncipe, por todo amor, generosidade, paciência, incentivo e pela ajuda fundamental na execução e análise dos experimentos de ERRBS. Aos meus amigos Mirela Tamarozzi e Sandro Soares, pelo companheirismo e amizade ao longo de todos esses anos e por me hospedarem com tanto amor no quartinho do meu sobrinho Lucas. À Flavia Donaires, Antonio Roberto, Leonardo Zanelatto, Katarina Holanda, Fernanda Gutierrez, Ritinha, Ildercílio Lima, Hudson Bezerra, Helder Freitas, Danuta Sastre, Lara Zapata e Vitor Leão, pelos anos de convivência, pelos cafés, pelas conversas e por tudo que aprendi com cada um de vocês. Aos meus amigos-irmãos: Ana Paula Diniz, Tales Costa e Silva, Juliana Galvão, Luciene Marques, Bianca Fiche, Natália Scatena e Leonardo Dantas. Obrigada por estarem comigo em todos os momentos e por todo amor, apoio, compreensão e incentivo. À Dra. Lorena Figueiredo-Pontes e ao Dr. Guilherme Santos, por me auxiliarem no delineamento de diversos experimentos neste projeto, pelo tempo dedicado às discussões dos resultados e pelo apoio e encorajamento. To my T.O. friends: Roxana Shen, Rajat Singhania, Frank, Aline Arya, Helen Loo, David Roulouis, Illias Ettayebi, Naoya Takayama, Mark Dowar, Nick Khuu, Julie and Monika, for being incredibly kind, lovely and helpful, and for making my stay in Toronto so pleasant and memorable. “A persistência é o caminho mais curto para o êxito.” (Charles Chaplin) RESUMO Benício, M.T.L., Avaliação de vias de sinalização em células-tronco da leucemia mieloide aguda de novo. 2015. 108p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015. Cerca de dois terços dos pacientes diagnosticados com leucemia mieloide aguda (LMA) alcançam remissão hematológica completa com os esquemas terapêuticos atualmente disponíveis, a qual é frequentemente seguida por recaída. Diversas evidências corroboram a ideia de que a recaída na LMA se deve à sobrevivência de uma rara população de células quiescentes, funcionalmente caracterizadas como células iniciadoras de leucemia (LIC), as quais são resistentes à quimioterapia. Portanto, admite-se que a LMA poderia ser erradicada por estratégias terapêuticas que tenham como alvos as propriedades exclusivas das LIC. Vias de sinalização e alterações epigenéticas aberrantes podem ser consideradas alvos em potencial para intervenção terapêutica, com o objetivo de promover remissões mais duradoras. O objetivo do presente estudo foi determinar se as subpopulações de células CD34+CD38-ALDHhigh (enriquecidas em CTH) isoladas de amostras de medula óssea de doadores saudáveis e de pacientes com LMA, e CD34+CD38-ALDHint (enriquecidas em LIC) apresentam diferentes perfis de sinalização e de metilação do DNA genômico. Utilizou-se uma combinação entre os marcadores de superfície CD34 e CD38 e os níveis de atividade da enzima aldeído desidrogenase (Aldh) para separar CTH e LIC em amostras de LMA ao diagnóstico e de doadores saudáveis. Essas subpopulações celulares foram funcionalmente estudadas em ensaios de xenotransplantes em camundongos NOD/SCID/gama (NSG) e seus perfis de sinalização celular e de metilação genômica global foram caracterizados por citometria de fluxo (fosfo-flow) e enhanced reduced representation bisulfite (ERRBS), respectivamente. Nossos resultados demonstraram que as duas subpopulações celulares apresentaram níveis basais de fosfoproteínas distintos, bem como diferentes perfis de resposta ao fator estimulante de colônias de granulócitos (GCSF) e ao fator de crescimento de células-tronco (SCF). Elevados níveis basais de fosfoproteínas Stat3, Stat5, Erk e Akt foram detectados nas LIC em comparação com a subpopulação ALDHhigh. A ausência de resposta aos estímulos utilizados foi mais frequente na subpopulação ALDHint. A comparação entre os perfis de metilação genômica global revelou que os genes diferencialmente metilados nas LIC em comparação com as CTH estão relacionados à regulação da sobrevivência celular e mecanismos de resistência à terapia. Esses achados corroboram a nossa hipótese de que essas subpopulações celulares são funcionalmente distintas e de que as LIC e CTH respondem diferentemente aos estímulos presentes no nicho medular. ABSTRACT Benício, M.T.L., Assessment of signaling pathways on de novo acute myeloid leukemia stem-cells. 2015. 108p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015. Over two-thirds of patients diagnosed with acute myeloid leukemia (AML) reach hematological complete remission with existing therapy strategies. However, a great proportion of these apparently cured patients frequently relapse. Accumulating evidence supports the idea that disease relapse is due to the survival of a small population of dormant leukemia stem cells (LIC) that are resistant to chemotherapy. Therefore, it could be hypothesized that leukemia could be eradicated by developing treatments focused on the unique properties of this rare cell subset. Aberrant signaling pathways and methylation patterns can be considered potential targets for therapeutic intervention, aimed to provide long-lasting remissions. The aim of this study was to assess whether CD34+CD38-ALDHhigh cells (ALDHhigh - enriched for hematopoietic stem cells - HSC) isolated from normal donors’ and AML patients’ bone marrow, and CD34+CD38-ALDHint (ALDHint - enriched for LIC) show different signaling profiles and methylation patterns. We took advantage of the combination between the surface markers CD34 and CD38, and the activity levels of the enzyme aldehyde dehydrogenase (Aldh) to reliably distinguish HSC from LIC in samples obtained from AML patients at diagnosis and normal donors. After validating their stemness potential by xenotransplantation assays, we characterized their profiles regarding signaling pathways and genomic methylation by flow cytometry (phosphoflow) and enhanced reduced representation bisulfite (ERRBS), respectively. The comparison of the phosphoprotein levels between ALDHhigh and ALDHint cells revealed discernable profiles at the basal level and in response to granulocyte colony- stimulating factor (G-CSF) or stem cell factor (SCF). Increased basal phosphorylation of Stat3, Stat5, Erk and Akt was detected on LIC in comparison to the ALDHhigh cell subset. Lack of response to growth factors was more frequent on ALDHint cells. The association between increased basal phosphorylation and lack of activation following growth factors stimulation could reflect a mechanism of maintenance for LIC. The comparison of the global genomic methylation profiles between isolated cell subsets showed that differentially methylated cytosines in LIC, in relation to HSC, occur in genes that play a role in the control of cell survival and chemoresistance. Our data corroborated our hypothesis that ALDHhigh and ALDHint are functionally different and show discernable signaling profiles in response to stimuli present within the bone marrow niche. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Esquema de separação das subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint por citometria de fluxo e sua subsequente utilização para xenotransplante e fosfo-flow. As gates estabelecidas para separação celular foram baseadas na atividade da Aldh dentro da população de células CD34+CD38-. ................................................. 34 Figura 2 – Padrões de marcação com Aldeofluor de amostras de medula óssea de doadores saudáveis e de pacientes com LMA ao diagnóstico. ........ 47 Figura 3 – Representação da análise de enxertia das células CD45 humanas por meio de citometria de fluxo. ............................................................ 49 Figura 4 – Avaliação da enxertia por citometria de fluxo. ....................................... 50 Figura 5 – Análise da correlação entre o número de células injetadas e o percentual de células recuperadas em experimentos de xenotransplante.. ................................................................................... 51 Figura 6 – Análise dos marcadores de linhagens em células humanas CD45+ recuperadas da medula óssea de camundongos NSG transplantados com amostra de medula óssea total de um paciente com leucemia mieloide aguda. ..................................................................................... 52 Figura 7 – Análise representativa da enxertia de células humanas CD34+CD38ALDHhigh ou CD34+CD38-ALDHint obtida por meio de ensaio de diluição limitante. ................................................................................... 53 Figura 8 – Padronização dos inibidores de vias de sinalização em linhagem celular HL-60. ........................................................................................ 54 Figura 9 – Histogramas representativos dos níveis de fosfo-Stat3 e fosfo-Stat5 após tratamento de células de medula óssea normal com inibidores de Stats. ................................................................................................ 56 Figura 10 – Heatmaps representativos da fosforilação de Stat3 e Stat5 na ausência de estímulo e em resposta a G-CSF ou IL-6 na subpopulação CD34+CD38-ALDHhigh em amostras de medula óssea de doadores saudáveis. ...................................................................... 57 Figura 11 – Heatmaps representativos da fosforilação de Erk1/2 e Akt na ausência de estímulo e em resposta a SCF na subpopulação CD34+CD38-ALDHhigh em amostras de medula óssea de doadores saudáveis. ............................................................................................. 58 Figura 12 – Heatmaps representativos dos níveis de P-Stat3 e P-Stat5 na ausência de estímulo e em resposta ao estímulo com G-CSF nas subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de doadores saudáveis e pacientes com LMA.. .................................... 61 Figura 13 – Painel representativo dos níveis de P-Erk1/2 e P-Akt na ausência de estímulo e em resposta ao SCF nas subpopulações CD34+CD38ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de doadores saudáveis e pacientes com LMA.. ............................................................................. 64 Figura 14 – Heatmaps representativos da quantificação relativa dos níveis de PStat3 e P-Stat5 em resposta ao estímulo com G-CSF nas subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de doadores saudáveis e pacientes com LMA. ..................................... 66 Figura 15 – Heatmap representativo da quantificação relativa dos níveis de PStat3 em resposta ao estímulo com IL-6 nas subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de pacientes com LMA. .............................................................................................. 68 Figura 16 – Heatmap representativo dos níveis de P-Erk1/2 e P-Akt em resposta ao estímulo com SCF nas subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de pacientes com LMA. ........................ 70 Figura 17 – Comparação entre os níveis de P-Stat3 e P-Stat5 entre as subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de pacientes com LMA ao diagnóstico e na recaída. ............................ 72 Figura 18 – Comparação entre perfis de resposta ao G-CSF das subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de pacientes com LMA ao diagnóstico e na recaída. ................................................. 73 Figura 19 – Comparação entre os perfis de metilação de células CD34+CD38ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA ou de doadores saudáveis .. 76 Figura 20 – Distribuição global de citosinas hipo- e hipermetiladas em células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA em comparação com células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis. ....... 77 Figura 21 – Regiões genômicas e sítios de localização das citosinas diferencialmente metiladas na subpopulação CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA em comparação com células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis. ...................... 77 Figura 22 – Comparação entre os perfis de metilação de células CD34+CD38ALDHint e células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis.. ............................................................................................ 78 Figura 23 – Regiões genômicas e sítios de localização das citosinas diferencialmente metiladas na subpopulação CD34+CD38-ALDHint em comparação com células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis. ............................................................................. 79 Figura 24 – Distribuição global de citosinas hipo- e hipermetiladas em células CD34+CD38-ALDHint isoladas de pacientes com LMA em comparação com células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis. ............................................................................. 79 Figura 25 – Comparação entre os perfis de metilação entre células CD34+CD38ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint isoladas de pacientes com LMA. ........ 81 Figura 26 – Distribuição global de citosinas hipo- e hipermetiladas em células CD34+CD38-ALDHint em comparação com células CD34+CD38ALDHhigh isoladas do mesmo paciente.. ................................................ 82 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Reagentes usados para digestão com MspI ......................................... 39 Tabela 2 – Reagentes utilizados para purificação do DNA ..................................... 40 Tabela 3 – Reagentes utilizados nas reações de reparo das extremidades dos produtos da digestão por MspI .............................................................. 41 Tabela 4 – Reação de adenilação do DNA reparado .............................................. 41 Tabela 5 – Ligação dos adaptadores Illumina aos fragmentos ............................... 42 Tabela 6 – Reagentes utilizados para as reações de Q-PCR ................................. 43 Tabela 7 – Reagentes utilizados para construção das bibliotecas .......................... 44 Tabela 8 – Características dos pacientes cujas amostras foram incluídas neste estudo ................................................................................................... 46 Tabela 9 – Resumo dos resultados dos experimentos de xenotransplante ............ 50 Tabela 10 – Percentual médio de células hCD45+ detectado nas amostras de medula óssea dos animais submetidos ao xenotransplante nos quais se considerou haver enxertia de células humanas. .............................. 51 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Aldh Enzima aldeído desidrogenase Akt Do inglês, v-akt murine thymoma viral oncogene homolog ATO Trióxido de arsênico ATRA Ácido all-trans retinoico CBF Do inglês, Core-binding factor C-KIT Do inglês, v-kit Hardy-Zuckerman 4 feline sarcoma viral oncogene homolog CTH Célula-tronco hematopoiética CTL Célula-tronco leucêmica DMC Do inglês, differentially methylated cytosines DRM Doença residual mínima Erk Do inglês, extracellular-signal-regulated kinase ERRBS Do inglês, enhanced reduced representation bisulfite sequencing FLT3 Do inglês, Fms-like tyrosine kinase – 3 FLT3-ITD Duplicações internas em tandem do gene Fms-like tyrosine kinase – 3 G-CSF fator estimulante de colônias de granulócitos IL-6 Interleucina 6 JAK Do inglês, Janus kinase 2 LDA Do inglês, limiting dilution analysis LLA Leucemia linfoide aguda LIC Do inglês, leukemia initiating cell LMA Leucemia mieloide aguda MAPK Do inglês, mitogen-activated protein kinase NOD/SCID Do inglês, Non-obese immunodeficiency NPM1c+ Proteína nucleofosmina aberrantemente localizada no citoplasma. Alternativamente, gene codificador para a nucleofosmina mutado NSG Do inglês, NOD/SCID gamma PCA Análise de componentes principais PCR Reação em cadeia da polimerase PI3K Do inglês, phosphoinositide-3-kinase PML-RARA Gene de fusão resultante do rearranjo entre os genes promyelocytic leukemia e retinoic acid receptor, alpha RAS Do inglês, rat sarcoma viral oncogene homolog RUNX1-RUNX1T1 Gene de fusão resultante do rearranjo entre os genes runt-related transcription factor 1 e runt-related transcription factor 1; translocated to, 1 SAM Sequence Alignment/Map Stat Do inglês, signal transducer and activator of transcription SCF Do inglês, stem cell factor diabetic/ severe combined SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 18 1.1 Células-tronco leucêmicas da LMA ..................................................................... 19 1.2 A atividade da Aldeído-Desidrogenase na identificação de células-tronco leucêmicas ................................................................................................................ 21 1.3 Panorama atual do tratamento de pacientes com LMA ....................................... 23 1.4 O estudo da sinalização celular em células individuais ....................................... 25 1.5 Estudo de vias de sinalização na LMA ................................................................ 26 2 OBJETIVOS .................................................................................................. 30 2.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 31 2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 31 3 MÉTODOS ..................................................................................................... 32 3.1 Separação das subpopulações celulares ALDHHIGH e ALDHINT a partir de subpopulações CD34+CD38- de pacientes com LMA ............................................... 33 3.2 Xenotransplante em camundongos NOD.CG-PRKDCSCID IL2RGTM1WJL/SZJ (NSG) das subpopulações celulares obtidas ............................................................ 35 3.3 Avaliação da enxertia das células humanas transplantadas ............................... 35 3.4 Avaliação das vias de sinalização celular por citometria de fluxo ....................... 36 3.4.1 Estímulo com citocinas/fatores de crescimento e análise das fosfoproteínas intracelulares ............................................................................................................. 36 3.4.2 Tratamento com inibidores de fosfoproteínas .................................................. 37 3.5 Enhanced Reduced Representation Bisulfite (ERRBS) ...................................... 38 3.5.1 Extração do DNA .............................................................................................. 38 3.5.2 Quantificação do DNA ...................................................................................... 39 3.5.3 Digestão com MspI ........................................................................................... 39 3.5.4 Purificação do DNA após reações enzimáticas ................................................ 40 3.5.5 Reparo das extremidades e adenilação dos produtos da digestão por MspI ... 41 3.5.6 Conversão por bissulfito ................................................................................... 42 3.5.7 Seleção por tamanho dos fragmentos de DNA ligados aos adaptadores ........ 42 3.5.8 Validação do número de ciclos de PCR ideal para a construção das bibliotecas por Q-PCR ............................................................................................... 43 3.5.9 Validação das bibliotecas ................................................................................. 44 4 RESULTADOS .............................................................................................. 45 4.1 Identificação de diferentes perfis de atividade da ALDH em doadores saudáveis e pacientes com LMA ao diagnóstico ....................................................... 47 4.2 Xenotransplantes das subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38ALDHint em camundongos NSG ................................................................................ 48 4.2.1 Avaliação da enxertia nos camundongos ......................................................... 49 4.3 Avaliação das vias de sinalização por citometria de fluxo ................................... 53 4.3.1 Validação do método fosfo-flow ....................................................................... 54 4.3.2 Perfil de sinalização em amostras de medula óssea normal ............................ 57 4.3.3 Perfil de sinalização entre os pacientes com LMA ........................................... 59 4.3.3.1 Sinalização na ausência de estímulo externo ............................................... 59 4.3.3.2 Análise da resposta aos estímulos ................................................................ 65 4.3.3.2.1 G-CSF ........................................................................................................ 65 4.3.3.2.2 IL-6 ............................................................................................................. 67 4.3.3.2.3 SCF ............................................................................................................ 69 4.3.4 Comparação entre amostras coletadas ao diagnóstico e na recaída ............... 71 4.4 Análise de metilação global genômica ................................................................ 74 5 DISCUSSÃO.................................................................................................. 84 6 CONCLUSÕES .............................................................................................. 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 94 1 INTRODUÇÃO Introdução | 19 As Leucemias Mieloides Agudas (LMA) constituem um heterogêneo grupo de doenças clonais que afetam progenitores hematopoiéticos, tornando-os incapazes de se diferenciarem terminalmente e de responderem aos reguladores naturais de proliferação e morte celular. Como consequência, essas células malignas se acumulam na medula óssea e prejudicam a produção normal das células sanguíneas, mas podem também se acumular em outros tecidos e órgãos, cujas funções são frequentemente comprometidas (1,2). Estudos epidemiológicos sugerem que fatores genéticos, ambientais e ocupacionais estejam envolvidos na patogênese da LMA (3). Apesar dos mecanismos envolvidos nesse processo não serem inteiramente conhecidos, sabese que decorre de alterações genéticas cumulativas que resultam em irregularidades na expressão gênica, na função das proteínas e nas vias de transdução de sinal subjacentes. Como consequência, esses eventos afetam a proliferação, sobrevida e diferenciação das células hematopoiéticas (2,4,5). Historicamente, dois modelos de leucemogênese foram propostos. De acordo com o modelo estocástico, as células da leucemia não compõem um sistema hierarquicamente organizado: todas as células apresentam o mesmo potencial intrínseco de contribuir para a manutenção da neoplasia (6). O modelo da hierarquia, por sua vez, propõe que a leucemia consiste em uma população heterogênea de células, hierarquicamente organizadas, dentro da qual apenas um pequeno percentual de LIC mantém a doença (7). Existe ainda um terceiro modelo, recentemente proposto, segundo o qual células leucêmicas maduras podem retroceder em seus programas de diferenciação celular e readquirir propriedades características de células-tronco ou progenitoras (8–10). 1.1 Células-tronco leucêmicas da LMA Evidências consistentes da existência de células-tronco leucêmicas (CTL) da LMA foram demonstradas por Lapidot et al. (1994) e Bonnet e Dick (1997) ao identificarem, entre células de pacientes com LMA, uma subpopulação muito rara de células CD34+CD38-, capaz de propagar a leucemia após transplante em animais NOD/SCID (Non-obese diabetic/Severe combined immunodeficiency disease), Introdução | 20 reproduzindo a doença original do paciente. Em contraste, progenitores mais comprometidos CD34+CD38+ não apresentaram o mesmo potencial (7,11). Posteriormente, evidenciou-se que as CTL não são funcionalmente homogêneas e, como as CTH normais, se organizam em classes hierarquicamente arranjadas, cujos potenciais para induzir e manter leucemia em camundongos imunodeficientes são variáveis. Algumas das subpopulações só foram capazes de repovoar a medula após transplantes subsequentes em receptores consecutivos (transplantes seriados), indicando que raramente se dividiam, e que a autorrenovação ocorria preferencialmente, em vez de divisão celular seguida por diferenciação (12,13). Outros trabalhos corroboraram a heterogeneidade funcional existente entre as CTL, como por exemplo, a observação de que a frequência de células capazes de propagar leucemia em modelos animais se correlacionava com o prognóstico clínico dos pacientes dos quais foram obtidas (14,15). Por muito tempo, acreditou-se que as CTL fossem restritas à subpopulação de fenótipo CD34+CD38-, devido às limitações inerentes aos modelos animais utilizados para sua identificação e caracterização. Entretanto, estudos mais recentes, utilizando animais mais imunocomprometidos do que os NOD/SCID para xenotransplantes, sugeriram que os xenoenxertos prévios não demonstraram todas as populações de CTL, e que as demais frações estabelecidas de acordo com os marcadores CD34 e CD38 também continham células com grande potencial para iniciar e propagar leucemia (16–19). Estes estudos constataram que havia uma grande heterogeneidade nos marcadores imunofenotípicos característicos das CTL, demonstrando que a confirmação dessas células requer validação por ensaios de repopulação, baseados na capacidade funcional que essas células apresentam de migrar e repovoar o microambiente medular em animais transplantados. Assim, duas linhas de evidências são necessárias para estabelecer quais as populações celulares que contém LIC: 1. O fracionamento das células leucêmicas em populações que possam originar xenoenxertos ou não; e 2. Transplantes seriados para comprovar seu potencial de autorrenovação (20). Com base em sua definição funcional, as células-tronco leucêmicas serão chamadas neste trabalho de células iniciadoras de leucemia (do inglês, LIC), de agora em diante. Como as células-tronco hematopoiéticas normais, as LIC são quiescentes e conservam as propriedades de autorrenovação e clonogenicidade (7,8,10,12,21). Devido a essa capacidade de manutenção clonal em longo-prazo, acredita-se que o Introdução | 21 prognóstico do paciente com LMA esteja mais intimamente relacionado às LIC do que às demais células leucêmicas, e que a cura dependa de sua erradicação. Por serem quiescentes, essas células não respondem a agentes citotóxicos que têm como alvo o ciclo celular. Dessa forma, são resistentes à ação de vários quimioterápicos e acredita-se que restabeleçam a doença e promovam as recaídas tão frequentemente observadas na LMA. Além disso, as LIC podem também ser alvos de mutações e alterações epigenéticas que adicionalmente promovam resistência a drogas e resultem em recaída da doença (22). As LIC e as CTH compartilham muitas características e coexistem na medula óssea de pacientes com LMA. Para o desenvolvimento de terapias bem-sucedidas direcionadas contra as LIC é essencial a identificação de diferenças entre estas duas populações celulares residentes na medula óssea. 1.2 A atividade da Aldeído-Desidrogenase na identificação de células-tronco leucêmicas Em 1997, Bonnet e Dick demonstraram pela primeira vez que as células da LMA estão organizadas obedecendo a uma hierarquia, semelhante ao que se observa na hematopoiese normal (7). De acordo com esse modelo, admite-se que as CTH ou progenitores hematopoiéticos sejam os alvos de modificações genéticas que culminam com o desenvolvimento da LMA. Assim, compreender a biologia dessas células e como elas se transformam em células leucêmicas são questões fundamentais para identificar propriedades exclusivas das LIC, as quais podem ser exploradas para o desenvolvimento de agentes terapêuticos. Múltiplos trabalhos demonstraram que as LIC estavam tipicamente enriquecidas na fração CD34+CD38- de progenitores hematopoiéticos, juntamente com as CTH. Nesse contexto, diversos grupos propuseram marcadores de superfície que seriam preferencialmente expressos em LIC quando comparadas às CTH. Um dos primeiros antígenos descritos como sendo preferencialmente expressos em LIC da LMA foi a cadeia α de alta afinidade do receptor da IL-3, também conhecido como CD123 (23–26). Após essa primeira descrição, várias outras moléculas foram descritas como sendo mais expressas em LIC CD34+CD38- Introdução | 22 da LMA, tais como: CD44 (27), CLL-1 (28), CD47 (29,30) e TIM3 (31). Entretanto, há controvérsia sobre a especificidade dos marcadores propostos, principalmente relacionada à sua detecção em medula óssea e cordão umbilical (32). Métodos funcionais, em detrimento de métodos imunológicos, têm sido propostos para discriminar LIC e CTH. Entre eles, a avaliação da atividade de enzimas associadas com a proteção de células primitivas contra estímulos genotóxicos tem se revelado uma estratégia promissora. Por exemplo, a atividade da aldeído desidrogenase (Aldh) entre células primárias da LMA foi associada com características de células-tronco e se correlacionou com o desfecho clínico (33,34). Na última década, diversos trabalhos foram publicados sobre a Aldh em CTH e progenitores hematopoiéticos, os quais exploraram seu papel na hematopoiese normal e apontaram um possível papel no desenvolvimento e propagação da LMA (33–35). Esta família compreende 19 membros, os quais compartilham sequências homólogas e funções biológicas, muitas delas relacionadas ao metabolismo dos retinoides e à atuação como chaperonas (36). Dentre todas as isoformas, a Aldh1a1 é a mais expressa em CTH e progenitores imaturos murinos e humanos, quando comparados a progenitores mais maduros e células terminalmente diferenciadas (37). A Aldh é uma enzima citosólica envolvida na detoxificação de uma ampla variedade de aldeídos intracelulares, convertendo-os em seus respectivos ácidos carboxílicos (38). Uma de suas importantes funções consiste em catalisar a conversão da vitamina A (retinol) em ácido retinoico (39), o qual é crucial para a diferenciação das CTH (40,41). Além de atuar na detoxificação de aldeídos intracelulares, a Aldh também exerce esse efeito sobre xenobióticos (42). Altos níveis de expressão da Aldh foram detectados em CTH quando comparadas com outras células hematopoiéticas (35,43), e o aumento de sua atividade confere resistência a agentes alquilantes, como por exemplo, a ciclofosfamida, protegendo as CTH dos seus efeitos citotóxicos (42). A utilidade da Aldh como marcador de células-tronco foi primeiramente reconhecida em CTH humanas por Storms et al. (1999), que desenvolveram um substrato fluorescente para essa enzima, denominado BODIPY® aminoacetaldeído (BAAA) (44), e seu método foi posteriormente aprimorado para o desenvolvimento de um kit comercialmente disponível, denominado ALDEFLUOR™ (STEMCELL Technologies, Canadá). O BAAA é incorporado por células vivas por difusão passiva e convertido pela Aldh no produto fluorescente e negativamente carregado BODIPY® Introdução | 23 aminoacetato (BAA). O BAA se acumula no interior dessas células devido à sua carga negativa e também à presença de um inibidor de bombas de efluxo (Verapamil) contido no tampão utilizado no procedimento. A quantidade de produto fluorescente acumulado correlaciona-se diretamente à atividade da Aldh nessas células, o que permite que células com elevada atividade dessa enzima sejam identificadas pela intensa fluorescência e isoladas por citometria de fluxo. Adicionalmente, o kit contém um inibidor da Aldh, o dietilaminobenzaldeído (DEAB), que permite identificar células com elevada atividade da Aldh. Esse método vem sendo progressivamente mais utilizado no isolamento de células-tronco por citometria de fluxo e baseia-se em características funcionais e não apenas imunofenotípicas (33–35,43). Em 2012, Gerber et. al demonstraram que a combinação entre os marcadores de superfície CD34 e CD38 e o reagente ALDEFLUOR™ (STEMCELL Technologies, Canadá) permitiu a separação entre subpopulações de células-tronco normais e leucêmicas em pacientes com LMA. Dentro da subpopulação CD34+CD38- nestes pacientes, a atividade da Aldh permitiu a separação entre células leucêmicas desprovidas de potencial hematopoiético (CD34+CD38-ALDHlow), LIC (CD34+CD38ALDHint) e CTH (CD34+CD38-ALDHhigh), as quais tiveram seu potencial de autorrenovação e diferenciação hematopoiética funcionalmente validadas por meio de xenotransplante em animais NSG. Além disso, a avaliação da doença residual mínima (DRM) por meio da quantificação de células com fenótipo CD34+CD38ALDHint demonstrou uma forte correlação entre a persistência dessas células ao final do tratamento e a subsequente recaída clínica (45). Posteriormente, outros grupos também demonstraram que a combinação entre marcadores de superfície e a atividade da Aldh possibilitou a separação entre CTH e LIC (46,47). Estes achados reforçam a potencial aplicabilidade da avaliação da atividade da Aldh para identificação de LIC da LMA. 1.3 Panorama atual do tratamento de pacientes com LMA A diversidade existente entre as LMA pode ser evidenciada sob os pontos de vista genético, citomorfológico, clínico e de resposta ao tratamento. Apesar disso, a primeira linha do tratamento é igual para todos os pacientes e consiste em indução Introdução | 24 de remissão utilizando-se Citarabina (Ara-C) combinada a um antracíclico, seguida por consolidação com Ara-C. Nos últimos trinta anos, não houve mudanças significativas na quimioterapia padrão, nem nos desfechos da grande maioria dos pacientes, o que contrasta com os progressos obtidos no tratamento da leucemia linfoide aguda (LLA) na infância (48). Nos últimos anos, diversas alterações genéticas foram identificadas na LMA, muitas das quais estão associadas à patogênese da doença (49–51). A caracterização dessas alterações foi essencial para uma melhor compreensão da biologia da LMA e possibilitou a identificação de alvos moleculares para o desenvolvimento de agentes terapêuticos. Entretanto, poucos avanços têm sido observados, como no caso da leucemia promielocítica aguda (LPA) associada à t(15;17), em que o desfecho dos pacientes foi significativamente melhorado após a inclusão de ácido all-trans retinoico (ATRA) e trióxido de arsênico (ATO) nos esquemas terapêuticos (52,53). Algumas das anormalidades genéticas mais frequentemente detectadas na LMA foram associadas à evolução clínica e achados laboratoriais específicos, de tal maneira que novas entidades nosológicas foram propostas com base nessas anormalidades genéticas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (54). Além disso, os achados genéticos ao diagnóstico estão associados ao prognóstico e a respostas à terapia e, juntamente com algumas características clínicas observadas ao diagnóstico, constituem ferramentas determinantes para a escolha de abordagens terapêuticas adaptadas ao risco (49,55–57). Apesar da categorização dos pacientes em função dos achados genéticos ser utilizada nos ensaios clínicos e na prática clínica, poucos protocolos utilizaram estratégias terapêuticas adaptadas ao risco. De maneira geral, a sobrevida global em cinco anos para os pacientes com LMA permanece baixa: aproximadamente de 40% nos países desenvolvidos (58–61) e de 20% no Brasil (62–64). Além disso, apesar da remissão completa ser alcançada em cerca de 70% dos casos utilizandose os esquemas terapêuticos convencionais, ela é frequentemente seguida por recaída (65,66). A ausência de resposta duradoura sugere que, embora as drogas atualmente utilizadas sejam geralmente capazes de eliminar os blastos leucêmicos, elas podem não ser tão eficazes contra as populações de LIC. Vários autores demonstraram que as LIC, em analogia às CTH, apresentam elevado potencial de autorrenovação e Introdução | 25 reduzida taxa de divisão celular, características que permitem que resistam às terapias convencionais, as quais atacam principalmente células que se dividem rapidamente (67). De fato, há evidências experimentais de que quando comparadas aos blastos leucêmicos e às CTH, as LIC são menos sensíveis à Ara-C e antracíclicos, bem como à apoptose induzida por Fas (68). Há diversos mecanismos por meio dos quais as LIC podem escapar dos efeitos tóxicos dos quimioterápicos, muitos dos quais são compartilhados pelas células-tronco do câncer, em geral. Entre eles, podemos citar: a expressão de bombas de efluxo de drogas, o aumento da atividade da aldeído desidrogenase, aumento da expressão de proteínas antiapoptóticas da família BCL-2, ativação aberrante de vias de sinalização, entre outros (69). Uma vez que a quimioterapia é a principal ferramenta no tratamento da LMA, compreender os mecanismos envolvidos na quimiorresistência é fundamental para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficazes. 1.4 O estudo da sinalização celular em células individuais A fosforilação de resíduos de tirosina, serina e treonina é fundamental para o controle da atividade das proteínas envolvidas em vários eventos celulares. Com o advento dos anticorpos fosfo-específicos, técnicas como Western blotting e imunoprecipitação passaram a ser utilizadas para detecção de proteínas fosforiladas. Entretanto, apesar das técnicas de marcação de proteínas serem bastante informativas sobre as respostas celulares a estímulos em experimentos em longo prazo, elas não revelam a cinética da ativação. Assim, eventos mais dinâmicos, que ocorrem rapidamente após estimulação ou estresse, são dificilmente apreciados nas análises por Western blotting e imunoprecipitação (70). Além disso, esses métodos requerem quantidades relativamente grandes de amostra, são demorados e laboriosos, não produzem resultados verdadeiramente quantitativos e não permitem análises multiparamétricas. Os avanços nas técnicas de marcação intracelular, citometria de fluxo, no desenvolvimento de reagentes fluorescentes e produção de anticorpos expandiram o número de antígenos intracelulares que podem ser analisados por citometria de Introdução | 26 fluxo. Em 2003, Nolan et al. combinaram anticorpos fosfo-específicos à citometria de fluxo para desenvolver uma tecnologia que possibilita a análise de fosfoproteínas. Esse método inovador, que requer pequenas quantidades de amostra e é ideal para análises rápidas, quantitativas e multiparamétricas, constitui uma importante ferramenta para se estudar cascatas de sinalização regidas por quinases em subpopulações celulares distintas e em células únicas (70,71). O perfil da sinalização em células únicas, investigado por citometria de fluxo multiparamétrica, vem sendo utilizado em estudos de proteômica sobre a expressão de proteínas e sua atividade sob condições basais e moduladas (4,72). Utilizando células viáveis, a análise de proteínas endógenas em importantes vias de sinalização é feita antes e depois da exposição in vitro a agentes moduladores, tais como fatores de crescimento, citocinas ou agentes terapêuticos de relevância biológica. Essa abordagem viabiliza o estudo da fisiologia das vias de sinalização em células individuais através da avaliação de propriedades que não são perceptíveis em estado basal, como por exemplo: falha de algumas vias em se tornarem ativadas, hipo- ou hipersensibilidade de vias a estímulos fisiológicos, cinéticas de resposta alteradas e redefinição de vias canônicas (72–74). Assim, é possível detectar uma heterogeneidade funcional que estaria obscurecida pela homogeneidade de grupos estabelecidos por critérios citomorfológicos e moleculares. Sabendo-se que as LIC constituem populações raras, a caracterização do perfil de sinalização em células individuais seria particularmente útil para sua caracterização funcional, uma vez que a citometria de fluxo apresenta resultados quantitativos satisfatórios com números limitados de células, além de admitir análises multiparamétricas (como a combinação entre os diferentes marcadores celulares utilizados para identificar esta subpopulação e para detectar as proteínas fosforiladas de interesse neste estudo). 1.5 Estudo de vias de sinalização na LMA A progressão tumoral é um processo multifatorial que envolve mutações e alterações epigenéticas, as quais afetam direta ou indiretamente proteínas Introdução | 27 sinalizadoras e, em última instância, interferem na maneira como as células interpretam os sinais do microambiente e respondem a eles. Esses mecanismos são cruciais para que as células tumorais se tornem autossuficientes em sinais de crescimento e insensíveis aos sinais inibitórios do crescimento (75). O perfil de sinalização das células do câncer é, portanto, a soma de várias influências e o reflexo da seleção frente à necessidade de escapar do sistema imune e de desenvolver vantagens adaptativas no nicho medular. Atualmente, admite-se que a sinalização celular é aberrante em virtualmente todas as LMA, e é possível associar muitas dessas aberrações a uma ampla variedade de alterações genéticas e epigenéticas (4,73,76–80). Quando aplicado a vias relevantes para a patogenia da LMA, o mapeamento dessas redes de sinalização apresenta potencial aplicabilidade diagnóstica, prognóstica e para identificação de alvos para o desenvolvimento de drogas. A identificação das vias mais comumente afetadas na LMA nos casos que apresentam evolução clínica desfavorável pode ser útil para reconhecer quais os pacientes que não irão responder à quimioterapia padrão e que, portanto, devem ser submetidos aos esquemas terapêuticos indicados para pacientes de alto risco. Assim, uma classificação das LMA baseada em estudos de sinalização celular pode fornecer informações adicionais às advindas da classificação baseada em alterações genéticas, para guiar a intervenção terapêutica (4,73,79,81,82). Utilizando citometria de fluxo para estudar sinalização celular, Irish et al. (2004) demonstraram que blastos leucêmicos derivados de diferentes subtipos de LMA apresentaram ativação de diferentes vias de sinalização intracelulares em resposta aos mesmos estímulos. Demonstraram ainda que populações distintas de blastos derivados de um mesmo paciente também manifestaram perfis diferenciados de sinalização celular, reproduzindo a diversidade da LMA em nível de redes de transdução de sinais em resposta a estímulos que estão presentes no nicho leucêmico. Além disso, os diferentes perfis identificados se correlacionaram com achados genéticos e com o desfecho da doença, sugerindo que possam ser informativos para escolha da terapia a ser utilizada (4). Desde então, diversos grupos têm se empenhado em avaliar o valor prognóstico associado às vias de sinalização comumente afetadas na LMA. Kornblau et al. (2010) analisaram funcionalmente vias de sinalização intracelulares em blastos derivados de pacientes com LMA, na tentativa de Introdução | 28 predizerem a resposta à quimioterapia de indução de remissão. Seus resultados mostraram uma associação entre as vias de sinalização intracelulares moduladas e a resposta ao tratamento. Adicionalmente, as informações prognósticas obtidas por essa metodologia foram diferentes das provenientes de outros fatores, tais como idade e alterações citogenéticas e moleculares, sugerindo que tais informações devam ser combinadas para aperfeiçoar a conduta dos médicos e aumentar as chances de sucesso da abordagem terapêutica escolhida (79). Outro aspecto importante a respeito da caracterização da sinalização intracelular aberrante observada nas células leucêmicas é que algumas das proteínas envolvidas nessas vias podem se tornar alvos para o desenvolvimento de agentes quimioterápicos. O receptor tirosina quinase Flt3, por exemplo, está mutado em cerca de 30% das LMA (83,84). Essas mutações estão associadas ao aumento da proliferação celular e inibição da apoptose por meio da ativação constitutiva do receptor e de seus alvos, como Stat5 (85). Esse receptor tornou-se um alvo para o desenvolvimento de inibidores de tirosina quinase (86–88). Há crescentes evidências de que as irregularidades observadas nas vias de sinalização na LMA tenham origem nos compartimentos de células-tronco e/ou progenitoras, uma vez que muitas das células que exibem sinalização aberrante apresentam características fenotípicas destes compartimentos celulares (74,89). Além disso, análises de expressão gênica demonstraram que alterações nos mecanismos de sinalização podem ser detectados nas LIC em comparação com as CTH. Apesar de cerca de 30% dos genes modulados serem compartilhados por ambas as subpopulações celulares (os quais provavelmente justificam as características comuns, tais como quiescência, autorrenovação e diferenciação em múltiplas linhagens), diversas vias de sinalização são aberrantemente reguladas nas LIC da LMA. Muitos desses genes são bem conhecidos por seu envolvimento no desenvolvimento do câncer e na biologia das células-tronco, tais como: vias de sinalização Notch, Wnt e MAPK, além de proteínas de adesão (90,91). Esses resultados demonstram que compreender como essas vias são diferencialmente reguladas em LIC e CTH poderia esclarecer mecanismos fundamentais que governam a transformação leucêmica, além de apontar vias específicas que possam ser alvos de agentes terapêuticos. Entre as vias de sinalização ativas em células consideradas progenitoras da LMA (6), estão a via STAT(92,93) e a via Ras/MAPK (94). Há evidências de que Introdução | 29 Stat3 e Stat5 estejam constitutivamente ativadas na LMA, e de que os padrões de ativação em resposta ao G-CSF podem estar associados ao desfecho clínico (82,95,96). Além disso, a interação da via STAT com outras vias de sinalização associadas a receptores de fatores de crescimento hematopoiéticos, entre as quais a MAPK, pode desempenhar um papel na transformação oncogênica. A ativação da via MAPK também foi demonstrada na LMA, e uma interação direta entre essas vias foi sugerida (97–99). Uma vez que muitas terapias dirigidas contra alvos moleculares consistem em inibidores de proteínas envolvidas na transdução de sinal ou anticorpos monoclonais contra receptores de fatores de crescimento, identificar vias de sinalização aberrantes da LMA, com o objetivo de utilizar uma terapia específica, é um dos principais objetivos dos estudos de genômica do câncer (25,30,100–103). Por exemplo, moléculas sinalizadoras como Akt e Erk1/2 parecem estar promiscuamente ativadas em muitos tipos de câncer, e são, portanto, consideradas bons alvos para terapia (104). Na LMA, mutações clinicamente relevantes em proteínas sinalizadoras estão frequentemente associadas com aumento da atividade de Stat5, como é o caso das mutações nos genes KIT e FLT3 (85,101,105). 2 OBJETIVOS Objetivos | 31 2.1 Objetivo geral Determinar se as subpopulações de células CD34+CD38-ALDHhigh, enriquecidas em CTH, e CD34+CD38-ALDHint, enriquecidas em LIC, apresentam diferentes perfis de sinalização e de metilação do DNA gênomico. 2.2 Objetivos específicos • Avaliar o potencial de enxertia em longo-prazo das células humanas CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint em camundongos NOD.CG-PRKDCSCID IL2RGTM1WJL/SZJ (NSG); • Avaliar a expressão das formas fosforiladas das proteínas Stat-3 (P-Stat3), Stat5 (P-Stat5), Erk (P-Erk) e Akt (P-Akt) nas vias canônicas moduladas por G-CSF, IL-6 e SCF nas duas subpopulações celulares acima; • Comparar a expressão das fosfoproteínas citadas nas células-tronco hematopoiéticas isoladas de doadores saudáveis e de pacientes com LMA, na presença ou não de G-CSF, IL-6 e SCF; • Determinar se a metilação global genômica se distribui em padrões específicos em células CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38- ALDHint, isoladas de pacientes com LMA, e células CD34+CD38ALDHhigh, isoladas de indivíduos saudáveis. 3 MÉTODOS Métodos | 33 3.1 Separação das subpopulações celulares ALDHHIGH e ALDHINT a partir de subpopulações CD34+CD38- de pacientes com LMA Sempre que possível, foi estudado material excedente de amostras frescas enviadas para diagnóstico de LMA no referido centro, após sua confirmação. Foram estudadas também amostras congeladas, pertencentes ao banco de células de nosso laboratório. Nos casos de amostras criopreservadas, algumas medidas foram tomadas para evitar a formação de grumos de células durante o processo de descongelamento. As células foram descongeladas em tubos Falcon de 50mL contendo 10mL de RPMI 1640 (Gibco, EUA) acrescido de 10% de soro bovino fetal (Invitrogen, EUA), 50.000U de DNAse I e 500U de heparina, e centrifugadas a 1500rpm por 5min à temperatura ambiente. Ao fim da centrifugação, o sobrenadante foi descartado e mais 50.000U de DNaseI foram adicionadas diretamente ao pellet celular, e os tubos foram levados ao vortex, alternando-se este procedimento com agitação manual por pelo menos 2min para evitar a formação de grumos. Posteriormente, 10mL de meio + SBF foram adicionados, seguindo-se nova centrifugação nas mesmas condições. Após o descarte do sobrenadante, as células foram ressuspendidas no tampão do ALDEFLUOR™ (STEMCELL Technologies, Canadá) e foi realizada a marcação com este reagente, seguindo-se as recomendações do fabricante, e incubação em banho-maria a 37°C por 40min. Após este período, foi realizada uma lavagem com o próprio tampão para retirar o excesso de reagente, e foi realizada a marcação com os anticorpos de superfície anti-CD34-PECy5 e anti-CD38eFluor650 em geladeira por 15min. Após nova lavagem em tampão do ALDEFLUOR™ (STEMCELL Technologies, Canadá), as células foram ressuspendidas em 300µL do mesmo tampão e levadas para separação celular no citômetro de fluxo JSAN (Bay Bioscience, Japão). Para separação das subpopulações celulares de interesse, foram selecionadas inicialmente as células viáveis, com base em uma gate definida pelo perfil SSC x FSC sem anticorpos. Cumpre ressaltar que a conversão do substrato da Aldh em seu composto fluorescente requer que as células estejam vivas, e que a utilização do reagente ALDEFLUOR™(STEMCELL Technologies, Canadá) não afeta significativamente a viabilidade celular, nem sua capacidade de Métodos | 34 repopulação (35). Dentro dessa gate, foram selecionadas as células CD34+CD38-, tendo como referência controles positivos para cada uma das proteínas de superfície. Em seguida, a atividade da Aldh foi analisada dentro da subpopulação CD34+CD38-. Após a separação, as subpopulações celulares foram subdivididas para os experimentos de xenotransplante em camundongos NSG e fosfo-flow (Figura 1). Ainda, uma fração destas subpopulações foi congelada para a análise de metilação genômica global, posteriormente. + - high + - Figura 1 – Esquema de separação das subpopulações CD34 CD38 ALDH e CD34 CD38 int ALDH por citometria de fluxo e sua subsequente utilização para xenotransplante e fosfo-flow. As gates estabelecidas para separação celular foram baseadas na atividade da Aldh dentro da + população de células CD34 CD38 . Após separação, cada subpopulação foi subdividida em duas frações: uma destinada ao xenotransplante e a outra aos estudos da sinalização celular (fosfo-flow). Cada amostra de LMA foi transplantada em dois grupos de camundongos NSG. Os experimentos de sinalização celular também foram realizados com as duas subpopulações paralelamente, nas seguintes condições: um tubo sem estímulo, e tubos estimulados com G-CSF (20ng/100µL), IL-6 (50ng/100µL) ou SCF (100ng/100µL). Métodos | 35 3.2 Xenotransplante em camundongos NOD.CG-PRKDCSCID IL2RGTM1WJL/SZJ (NSG) das subpopulações celulares obtidas Os experimentos com animais foram realizados após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da Universidade de São Paulo (Processo número: 018/2013-1). Após a separação celular no citômetro, as subpopulações celulares foram recuperadas em PBS 2% SBF e imediatamente transplantadas em fêmeas NSG de oito a doze semanas. Quantidades equivalentes das duas subpopulações celulares foram transplantadas em dois grupos (ALDHhigh e ALDHint) contendo dois ou três animais cada, dependendo do rendimento obtido após separação no citômetro de fluxo. Após anestesia com isofluorano, os transplantes foram realizados na tíbia direita dos camundongos, utilizando-se uma seringa de insulina 0,5mL inserida diretamente no espaço medular da tíbia previamente tricotomizada e submetida à antissepsia com álcool 70% (75). Após o transplante, os camundongos foram colocados em mini-isoladores com água e ração autoclavadas ad libitum. Estes mini-isoladores foram alocados em rack ventilada de pressão positiva (Alesco®, Brasil), equipada com filtros HEPA (do inglês, High Efficient Particle Air filter). 3.3 Avaliação da enxertia das células humanas transplantadas A avaliação da enxertia foi realizada cerca de 10 semanas após o transplante. Os animais foram sacrificados em câmara de CO2, e suas tíbias e fêmures foram macerados, utilizando-se um cadinho e um pistilo, para que se obtivesse um maior rendimento das células da medula óssea. Os baços também foram processados. As células foram distribuídas em tubos de citometria, marcadas com anticorpos antiCD45-FITC humano e anti-CD45-PercP murino, ambos da BD Biosciences, e incubadas por 15min protegidas da luz. Em seguida, adicionou-se 2mL de FACS Lysing Solution (BD Biosciences, EUA) e os tubos foram incubados por 10min a 4°C. As células foram então lavadas em 4mL de PBS NaN3 0,1% + 4% SBF, fixadas em PBS NaN3 0,1% + 4% SBF formol 1% e mantidas protegidas da luz até o momento Métodos | 36 da leitura no citômetro. O percentual de enxertia foi calculado como: percentual de células humanas CD45+ dividido pela soma do percentual de células humanas CD45+ com o percentual de células murinas CD45+ (hCD45+/(hCD45++mCD45+). Considerou-se que houve enxertia quando o percentual de células positivas para o CD45 humano foi ≥0,1%. A mesma marcação em um animal não-transplantado foi realizada como controle negativo. 3.4 Avaliação das vias de sinalização celular por citometria de fluxo A sinalização celular das vias JAK/STAT, MAPK e PI3K/AKT foi avaliada nas subpopulações obtidas após separação no citômetro de fluxo. Devido ao número limitado de células obtidas, optamos por analisar primordialmente a fosforilação de Stat3 em resposta a G-CSF e IL-6, e de Stat5 em resposta a G-CSF, devido à aplicabilidade clínica que esses resultados poderiam apresentar (82). Nos casos em que um número maior de células foi obtido, os níveis de fosforilação de Erk e Akt em resposta ao SCF também foram estudados. As citocinas e fatores de crescimento foram produzidas pela Peprotech (Peprotech, EUA) e os anticorpos específicos para proteínas fosforiladas foram adquiridos da BD Bioscience (BD Bioscience, EUA). 3.4.1 Estímulo com citocinas/fatores de crescimento e análise das fosfoproteínas intracelulares As células destinadas aos experimentos de sinalização celular foram separadas em meio StemSpan™(STEMCELL Technologies, Canadá) sem soro e mantidas em incubadora a 37ºC e atmosfera de 5% CO2 por uma hora, antes de serem estimuladas com as respectivas citocinas/fatores de crescimento (106). A abordagem utilizada para avaliação do status de ativação da via JAK/STAT foi o monitoramento da fosforilação 705 em Stat3 e da tirosina 694 em Stat5. Em relação à via MAPK, monitorou-se a fosforilação da treonina 202 e da tirosina 204 em Erk1 e da treonina 184 e da tirosina 186 em Erk2. Para avaliar a modulação da Métodos | 37 via PI3K, avaliou-se a fosforilação da serina 473 em Akt. As células foram ou não estimuladas com: G-CSF (20ηg/100µL), IL-6 (50ηg/100µL) ou SCF (100ηg/100µL). Em seguida, as células foram mantidas em estufa a 37ºC e atmosfera de 5% CO2 por 15min, quando foram imediatamente fixadas com formaldeído (na concentração final de 1,6%) por 10min à temperatura ambiente. Após lavagem em PBS NaN3 0,1% + 4% SBF, as células foram permeabilizadas com 500µL de metanol e mantidas em gelo na geladeira por 30min. Passado esse tempo, elas foram novamente lavadas em PBS NaN3 0,1% + 4% SBF, centrifugadas a 300 x g por 5min, marcadas com os anticorpos Alexa Fluor® 488 Mouse Anti-Stat3, Alexa Fluor® 647 Mouse Anti-Stat5, Alexa Fluor® 647 Mouse Anti-ERK1/2 ou PE Mouse anti-Akt (pS473) e incubadas por meia hora protegidas da luz, à temperatura ambiente. Passado esse tempo, procedeu-se com a lavagem em PBS NaN3 0,1% + 4% SBF, centrifugação a 300 x g por 5min, descarte do sobrenadante e ressuspensão das células em PBS NaN3 0,1% + 4% SBF formol 1%. Elas foram mantidas em geladeira até o momento da aquisição e análise no citômetro. 3.4.2 Tratamento com inibidores de fosfoproteínas Tubos individuais contendo alíquotas com números equivalentes de células para cada uma das amostras foram utilizados para estimulação ou tratamento com os inibidores, em volumes de 100µL. Os controles adequados foram processados simultaneamente. A inibição foi realizada com um coquetel contendo: Wortmannin 10mM (inibidor de PI3K), PD 98059 10mM (inibidor de MAPK/ERK), SB 202190 10mM (inibidor de p38 MAPK), BAY 11-7085 20mM (inibidor de IκBα), Ruxolitinib 10mM (inibidor de JAK1/2). Os tubos foram incubados a 37°C por 30min, quando então foram adicionados os estímulos nos tubos correspondentes. Os passos seguintes foram realizados de acordo com o protocolo convencional para fosfo-flow. Métodos | 38 3.5 Enhanced Reduced Representation Bisulfite (ERRBS) Nós utilizamos uma versão aprimorada do reduced representation bisulfite sequencing (ERRBS), com cobertura genômica extendida, para comparar a metilação genômica global entre as subpopulações celulares CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint. Esta abordagem possibilita o enriquecimento de regiões do genoma ricas em CG, o que reduz o total de sequenciamento necessário (e os custos do procedimento), enquanto captura a maior parte dos promotores e outras regiões genômicas relevantes localizadas fora das tradicionais ilhas CpG (Akalin et al., 2012; Gu et al., 2011). Este método requer quantidades extremamente baixas de DNA, uma condição necessária para as populações celulares altamente purificadas que estudamos, sendo adequado para pelo menos 500 células. ERRBS foi realizado de acordo com o protocolo descrito por Gu et al. (2011), com ligeiras modificações. Os experimentos de ERRBS foram realizados no laboratório do professor Daniel Diniz de Carvalho, na Universidade de Toronto, Toronto, Canadá. Quinze amostras foram submetidas ao protocolo de ERRBS: cinco amostras de doadores saudáveis, duas amostras de subpopulações ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA, pareadas com suas respectivas subpopulações ALDHint, e seis amostras apenas de subpopulações ALDHint. 3.5.1 Extração do DNA Após a separação celular descrita no item 3.1, o DNA dessas células foi extraído utilizando-se o protocolo do laboratório do professor De Carvalho, destinado a amostras com número limitado de células. Foi utilizado um tampão de lise desenvolvido no respectivo laboratório, composto de: 1M Tris-HCl, 0,5M EDTA, 10%SDS, 5M NaCl, RNase (50ηg/μL), proteinase K (1μg/μL). O DNA foi mantido a -20°C até ser enviado para o Canadá. Métodos | 39 3.5.2 Quantificação do DNA A quantificação de DNA foi realizada utilizando-se o kit Quant-iT™ PicoGreen® dsDNA Assay Kit (Invitrogen, EUA), o qual permite a detecção de no mínimo 25ρg/mL de dsDNA (50pg dsDNA em um volume de 2mL) por meio de um espectrofluorômetro padrão. Cinco microlitros de cada amostra foram adicionados a microplacas de 96 poços, juntamente com 189µL de TE buffer 1x, 5µL de água e 1µL do reagente Picogreen®. Uma curva padrão de cinco pontos foi preparada, variando entre 0 – 2.500ρg. Após 5min de incubação, as amostras foram excitadas a 480ηm e a intensidade de emissão de fluorescência foi medida a 520ηm por um espectrofluorômetro. A intensidade de emissão de fluorescência foi representada versus a concentração de DNA. 3.5.3 Digestão com MspI As amostras de DNA foram digeridas com a endonuclease de restrição MspI (C↓CGG). Esta enzima é insensível à metilação em CpG, de modo que todos os fragmentos resultantes da digestão com MspI, grandes ou pequenos, contêm dois CpG terminais. As reações de digestão com MspI foram preparadas de acordo com a tabela abaixo. Depois de misturar bem, as reações foram incubadas a 37°C por 16h. Tabela 1 – Reagentes usados para digestão com MspI Componente Digestão Volume final/Concentração Água NEB buffer 2 (10x) DNA genômico −1 MspI (20 U µl ) Total até 80µL 10 µL 10ηg 10µL 100µL 1x −1 0.1 ηg µl 200U Para parar as reações de digestão, 1µl de EDTA 0.5M foi adicionado a cada tubo, e misturado bem com o auxílio de um vortex. Métodos | 40 3.5.4 Purificação do DNA após reações enzimáticas Após parar a digestão, adicionou-se tampão TE até completar o volume de 200µL. Os tubos foram homogeneizados em vortex por 30s e brevemente centrifugados. Em uma capela de exaustão, o mesmo volume (200µL) de fenol/clorofórmio/álcool isoamílico (25:24:1, vol/vol/vol) foi adicionado, e então os tubos foram levados ao vortex por pelo menos 30s. As amostras foram centrifugadas a 14,000g por 5min à temperatura ambiente e o sobrenadante foi cuidadosamente transferido para um novo tubo. Os reagentes descritos abaixo foram adicionados, os tubos foram levados ao vortex para que seu conteúdo fosse bem homogeneizado e as amostras foram mantidas a -20°C overnight. Tabela 2 – Reagentes utilizados para purificação do DNA Reagente Glicogênio Volume 0.5µL NaCl 5M 10µL Etanol (100%) 500µL Após a incubação overnight, as amostras foram centrifugadas a 16000 x g por 30min a 4°C. O sobrenadante foi aspirado com o auxílio de uma pipeta de 1mL e descartado. Em seguida, 500µl de etanol 70% (vol/vol) foram adicionados ao pellet, seguindo-se uma centrifugação a 16000 x g por 10min a 4°C. O sobrenadante foi aspirado e descartado e os tubos foram novamente centrifugados a 16000 x g por 2min à temperatura ambiente. Depois de remover o sobrenadante utilizando uma pipeta de 20µl, os tubos foram mantidos abertos por 5min para que os pellets secassem. Em seguida, eles foram ressuspendidos em 15µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha). Métodos | 41 3.5.5 Reparo das extremidades e adenilação dos produtos da digestão por MspI As reações de reparo das extremidades foram realizadas como descrito na Tabela 3. Uma master mix foi preparada e alíquotas foram dispensadas em cada tubo, seguindo-se agitação por vortex e rápida centrifugação. Tabela 3 – Reagentes utilizados nas reações de reparo das extremidades dos produtos da digestão por MspI Solução de trabalho DNA digeridoo por MspI T4 DNA polimerase Klenow DNA polimerase T4 polinucleotídeo quinase Premix de dNTPs (10mM each) Tampão da T4 DNA ligase Água Total 3000U/mL 5000U/mL 10000U/mL Volume 30µL 5µL 1µL 5µL 4µL 10µL 45µL 100µL Final 15U 5U 50U As reações foram incubadas a 20°C por 30min. O DNA foi então purificado com o QIAquick PCR purification kit e eluído em 32µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha). A etapa de purificação foi seguida pela reação de ligação da cauda poliA, como descrito abaixo. Tabela 4 – Reação de adenilação do DNA reparado Solução de trabalho DNA reparado Klenow fragment T4 polinucleotídeo quinase dATP NEB buffer (10x) Total 5000U/mL 10000U/mL 1mM Volume 32µL 3µL 5µL 10µL 5µL 50µL Final 15U 50U 0.2mM As reações foram incubadas a 37°C por 30min. O DNA foi purificado com o MiniElute PCR purification kit da (Qiagen, Alemanha) e eluído em 10µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha). A purificação foi seguida pela ligação aos adaptadores Illumina, como descrito abaixo. Métodos | 42 Tabela 5 – Ligação dos adaptadores Illumina aos fragmentos poliadenilados DNA poliadenilado Tampão da T4 ligase (10x) Adaptadores metilados* (15µM) -1 T4 DNA ligase (2000U µL ) Água Total Volume 2µL 3µL 1.6µL 1µL 5.4µL 20µL Final 15U 1.2µM 2000 U * Os adaptadores devem ser adicionados diretamente a cada tubo. As reações de ligação com os adaptadores foram incubadas a 16°C por 24h (passo crítico). Em seguida, o DNA foi purificado com o MiniElute PCR Purification kit (Qiagen, Alemanha) e eluído em 24µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha). 3.5.6 Conversão por bissulfito A conversão por bissulfito foi realizada com o Imprint® DNA Modification kit (Sigma, EUA), seguindo-se as recomendações do fabricante para pequenas quantidades de DNA (>5ηg). Após a purificação dos produtos modificados, o DNA foi eluído em 14µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha). 3.5.7 Seleção por tamanho dos fragmentos de DNA ligados aos adaptadores As amostras de DNA foram misturadas a corantes de alta densidade, para evitar contaminação cruzada entre amostras que flutuassem para fora dos respectivos poços, e aplicadas no gel, de modo que três poços vazios fossem deixados entre duas amostras adjacentes. Um marcador de peso molecular de foi aplicado nos poços externos. As corridas ocorreram em géis de agarose low-melting 3% a 5V x cm –1 , até que o azul de bromofenol estivesse a 6–7cm de distância dos poços onde as amostras foram aplicadas. Ao final da corrida, as canaletas contendo os marcadores de peso molecular foram excisadas do gel e visualizadas em transiluminador. As posições correspondentes a fragmentos de DNA com 160bp e Métodos | 43 350bp (indicando a localização de fragmento de restrição entre 40bp e 220bp ligados a adaptadores, respectivamente) foram marcadas fazendo-se buracos no gel com o auxílio de uma fina ponteira de 20µL. Os fragmentos de gel contendo os marcadores de peso molecular foram alinhados com a parte não corada, contendo as amostras de DNA e, após a marcação das regiões de interesse (fragmentos de DNA com 160bp e 350bp), os respectivos fragmentos foram excisados do gel, utilizando-se uma gilete limpa para cada amostra. Cada fragmento do gel foi transferido para tubos cônicos de 15mL, e o DNA foi purificado com o MinElute gel extraction kit (Qiagen, Alemanha), seguindo-se as instruções do fabricante. Duas colunas foram utilizadas para cada fragmento de gel. O DNA foi eluído em 11µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha) pré-aquecido (65°C) por coluna. 3.5.8 Validação do número de ciclos de PCR ideal para a construção das bibliotecas por Q-PCR Um microlitro do DNA selecionado pelo tamanho no item anterior foi utilizado para o teste de eficiência de ligação e para determinar o número de ciclos de PCR ideal para a construção das bibliotecas por Q-PCR, como descrito a seguir. Para as reações de PCR, as amostras foram desnaturadas a 98°C por 45s, e submetidas a 25 ciclos de desnaturação a 98°C por 15s, anelamento a 60°C por 30s e extensão a 72°C por 30s. Tabela 6 – Reagentes utilizados para as reações de Q-PCR Reagentes 2x KAPA HiFiSeq HS Uracil+ SYBR green (10x) PCR primer mixture (2.5 µM) DNA Água Total Volume 5µL 1µL 1.2µL 1µL (2x diluído) 1.8µL 10µL Ao final das reações, o cycle threshold (Ct) foi selecionado e o número ideal de ciclos a serem utilizados na preparação final das bibliotecas de ERRBS foi determinado para cada amostra. As reações de PCR foram realizadas como descrito Métodos | 44 abaixo, nas seguintes condições: desnaturação a 98°C por 45s, seguida por desnaturação a 98°C por 15s, anelamento a 60°C for 30s e extensão a 72°C por 30s, pelo número de ciclos previamente determinado por Q-PCR, seguindo-se uma extensão final a 72°C por 1min. Os produtos de PCR foram purificados com 90µL de AMPure XP magnetic beads (Beckman Coulter, EUA). Após homogeneização por pipetagem 10 vezes, as amostras foram incubadas à temperatura ambiente por 15min, homogeneizando-se novamente a cada 5min. Em seguida, os tubos foram inseridos em suportes magnéticos DynaMag-2 (Life Technologies, EUA) por 10min, até que a solução ficasse transparente. A fase aquosa foi cuidadosamente descartada com uma pipeta e 200µL de etanol 70% (vol/vol) foram adicionados a cada tubo, sem perturbar as beads magnéticas acumuladas na região do tubo em contato com o suporte magnético. Após incubação por 5min, o etanol foi descartado. Este passo foi repetido mais uma vez e, após descartar o etanol, os tubos foram mantidos abertos para secarem por 5min. Os tubos foram removidos dos suportes magnéticos e 40µL de tampão EB (Qiagen, Alemanha) foram adicionados às beads acumuladas na parede do tubo, para serem lavadas. Os tubos foram novamente posicionados no suporte magnético para separar as beads da solução, e a solução contendo o DNA foi transferida para um novo tubo limpo, sem perturbar as beads. Tabela 7 – Reagentes utilizados para construção das bibliotecas Reagentes 2x KAPA HiFiSeq HS Uracil+ PCR primer mixture (2.5 µM) DNA Total Volume 25µL 6µL 19µL 50µL 3.5.9 Validação das bibliotecas Após o passo de amplificação, os produtos de PCR purificados foram aplicados em chips Agilent 2100 Bioanalyzer (Agilent Technologies, Alemanha) para quantificar as bibliotecas de ERRBS, e para avaliar se a distribuição dos tamanhos dos fragmentos da biblioteca se apresentava como esperado. 4 RESULTADOS Resultados | 46 Foram estudadas amostras de 22 pacientes com LMA, coletadas ao diagnóstico e/ou na recaída: 21 amostras foram coletadas ao diagnóstico e quatro, na recaída. Suas características estão resumidas na Tabela 8. As amostras não foram consecutivas e, portanto, a distribuição das alterações genéticas identificadas não foi representativa da população. Para validação do potencial de autorrenovação e diferenciação das duas subpopulações de células de interesse, foram realizados 14 xenotransplantes, dos quais 13 com amostras coletadas ao diagnóstico e um com amostra de recaída (P12 – Tabela 8). Para os estudos de fosfo-flow, 16 amostras foram analisadas, mas duas delas foram posteriormente excluídas devido a variações nos protocolos utilizados (P4 e P20 – Tabela 8). Oito amostras foram analisadas pelos dois procedimentos. Uma amostra rendeu material suficiente apenas para realização de ERRBS (P14 – Tabela 8) e uma amostra foi destinada ao ensaio de diluição limitante in vivo (LDA, do inglês Limiting-dilution Analysis), para estimar a frequência de células-tronco contidas em cada subpopulação. Tabela 8 – Características dos pacientes cujas amostras foram incluídas neste estudo Paciente P1 P2 ¥ P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 ¤ P12 P13 P14 P15 ¥ P16 ¥ P17 P18 P19 P20 P21 P22 Idade (anos) 62 51 72 54 0.6 70 1.6 20 7 72 77 33 20 74 48 6 40 6 74 64 21 26 Células + CD34 (%) <1 10 <1 56 <1 80 32 27 25 <1 1 43 6 6 93 34 <1 92 87 92 94 89 Células Transplantadas 3 2,5 x 10 4 2x10 NR 4 2x10 NR 3 2x10 NR 3 4 10 ou10 3 5 x 10 3 6,2 x 10 NR 6 7 5 x 10 ou 10 4 1x10 NR 3 3,5 x 10 NR NR 3 2,5x10 NR 3 5x10 3 2x10 3 3x10 Estímulos G-CSF, IL-6 G-CSF, IL-6, SCF NR G-CSF, IL-6 G-CSF, IL-6 G-CSF, IL-6, SCF G-CSF, IL-6, SCF NR G-CSF, IL-6, SCF G-CSF, IL-6 G-CSF, IL-6 G-CSF, SCF G-CSF, IL-6, SCF NR NR G-CSF G-CSF G-CSF G-CSF G-CSF, IL-6, SCF NR NR Perfil Genético t(8;21) t(8;21) t(8;21) t(8;21) inv(16) inv(16) inv(16) inv(16) FLT3-ITD FLT3-ITD FLT3-ITD FLT3-ITD 46; XY 46; XY 46; XY ND ND ND ND ND ND ND GB, glóbulos brancos; * contagem de leucócitos ao diagnóstico; ¥ paciente analisado ao diagnóstico e na recaída; ¤ paciente analisado só na recaída; NR, não realizado; ND, não determinado. Resultados | 47 4.1 Identificação de diferentes perfis de atividade da ALDH em doadores saudáveis e pacientes com LMA ao diagnóstico Figura 2 – Padrões de marcação com Aldefluor de amostras de medula óssea de doadores saudáveis e de pacientes com leucemia mieloide aguda ao diagnóstico. A avaliação da atividade da Aldh identifica duas subpopulações em medulas ósseas normais (à esquerda) e três em medulas ósseas de pacientes com LMA (à direita). No compartimento celular CD34+CD38-, foram identificadas apenas duas subpopulações de acordo com a atividade da Aldh (ALDHlow e ALDHhigh) na medula óssea normal (Figura 2 à esquerda); já em indivíduos com LMA (Figura 2 à direita), uma terceira subpopulação foi identificada, a qual apresentou atividade intermediária da Aldh (ALDHint). Em cada procedimento de separação celular, isolamos as subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint, as quais acredita-se que estejam enriquecidas em CTH e LIC, respectivamente, como descrito por Gerber et al. (2012) (45). Esses autores demonstraram que níveis intermediários de atividade da Aldh caracterizaram uma subpopulação celular CD34+CD38- que podia ser detectada no diagnóstico e cuja identificação durante a remissão completa se correlacionou com subsequente recaída clínica. Adicionalmente, as células CD34+CD38-ALDHint geraram enxertia leucêmica após transplante em camundongos NSG (detectada por FISH). Para descrever os resultados deste trabalho de agora em diante, estas subpopulações celulares serão chamadas de ALDHhigh (CD34+CD38-ALDHhigh) e ALDHint (CD34+CD38-ALDHint). As células ALDHhigh foram raras nas amostras colhidas no momento do diagnóstico, sendo a percentagem média de 0,54% (intervalo: 0,02 – 3,11%) do total de células CD34+CD38-. Gerber et al. (2012) descreveram um percentual médio de 0,12% (intervalo: 0,005%-0,5%) para esta Resultados | 48 subpopulação. Em duas das nossas amostras, caracterizadas por portar cariótipos normais, foram detectados percentuais elevados de células ALDHhigh (17,6% e 74% das células CD34+CD38-), e foram excluídas do cálculo do percentual médio desta subpopulação. Um dos pacientes era portador da mutação FLT3-ITD e ambos apresentaram doença refratária primária e morreram menos de um ano após o diagnóstico. Gerber et al. (2012) também observaram células predominantemente ALDHhigh na subpopulação CD34+CD38- de um paciente com cariótipo normal e mutação FLT3-ITD, que também apresentou refratariedade primária e teve sobrevida curta. Em relação às células ALDHint, o percentual médio detectado em nosso estudo foi 82,68% (7,9 – 98,7%). 4.2 Xenotransplantes das subpopulações CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38ALDHint em camundongos NSG Após o isolamento no citômetro de fluxo, quantidades equivalentes de células das subpopulações ALDHhigh e ALDHint de cada paciente foram transplantadas em camundongos NSG. O número de células transplantadas variou entre experimentos em função do número de células ALDHhigh, as quais, exceto em uma amostra, foram sempre menos frequentes, corroborando os dados da literatura (GERBER et. al, 2012). Cerca de 10 semanas após o transplante, avaliou-se e comparou-se a enxertia das subpopulações transplantadas entre os grupos de animais. Os animais foram sacrificados e as células da medula óssea das tíbias e fêmures, bem como do baço, foram processadas e marcadas com os anticorpos para avaliação da percentagem de células humanas e murinas (quimerismo) e determinação da linhagem celular enxertada. Para nos certificarmos da eficácia do modelo de transplante utilizado, uma vez que percentuais sempre muito baixos de células humanas CD45+ eram recuperadas dos animais, foi feito um xenotransplante de medula óssea total de uma recaída de LMA, na qual havia sido detectada a mutação FLT3-ITD, tanto no diagnóstico, quanto na recaída (P12 – Tabela 8). Dois grupos de três animais foram transplantados: um com 5x106 células e outro com 107 células. Seguindo-se o protocolo convencional, os animais foram sacrificados 10 semanas após o Resultados | 49 transplante e as células da medula óssea e do baço foram marcadas com dois coquetéis de anticorpos: um contendo CD45 humano e murino (conjugados a FITC e PerCP, respectivamente) e outro contendo CD45-FITC, CD11b-PE, CD3-PerCP e CD19-APC, todos humanos. Um animal não transplantado foi utilizado como controle do experimento. Todos os animais transplantados apresentaram esplenomegalia facilmente detectável. A enxertia de células humanas CD45+ variou de 50 a 72%. Estas células também foram detectadas nos baços dos animais, embora em menor número (1 – 4,5%) (Figura 3). Não houve diferença na enxertia entre os grupos transplantados com 5 x106 ou 107 células. Todas as células humanas detectadas nos camundongos eram CD11b+, CD3- e CD19-. + Figura 3 – Representação da análise de enxertia das células humanas CD45 por meio de citometria de fluxo. Cinco ou dez milhões de células de uma amostra de recaída de LMA foram transplantadas em camundongos NSG. Os gráficos tipo dot plot ilustram as marcações com anticorpos anti-CD45 FITC humano e anti-CD45 PerCP murino das células de medula óssea e baço, cerca de dez semanas após o transplante. Um animal não transplantado foi analisado como controle. 4.2.1 Avaliação da enxertia nos camundongos Os resultados dos transplantes são apresentados na Tabela 9. Detectou-se enxertia em 8/12 (66,6%) das amostras transplantadas (Figura 3). Em três delas, houve enxertia de apenas uma subpopulação: duas apenas ALDHhigh e uma apenas ALDHint. Não foi observada vantagem na enxertia da subpopulação celular Resultados | 50 enriquecida em LIC (12/31 enxertos nos animais transplantados com células ALDHhigh versus 12/32 enxertos nos animais transplantados com células ALDHint). Tabela 9 – Resumo dos resultados dos experimentos de xenotransplante Paciente Número de células transplantadas P1 2,5 x 10 P2 2 x 10 4 2 x 10 4 2 x 10 3 5 x 10 3 P4 P6 P9 P10 6,2 x 10 3 high int Perfil Genético Enxertia ALDH (enxertos/ transplantes) RUNX1/RUNX1T1, NPM1c+ sim 3/3 2/3 RUNX1/RUNX1T1, NPM1c+ sim 3/3 1/3 RUNX1/RUNX1T1 não 0/3 0/3 CBFB/MYH11 não 0/1 0/2 ALDH (enxertos/ transplantes) FLT3-ITD sim 2/3 2/2 3 FLT3-ITD sim 1/2 0/3 4 P13 10 46, XY sim 1/2 3/3 P15 3,6 x 10 3 46, XY sim 0/2 1/2 P18 2,5 x 10 3 ND sim 1/2 0/2 P20 5 x 10 3 ND sim 1/2 3/4 2 x 10 3 ND não 0/2 0/3 3 x 10 3 ND não 0/2 0/2 P21 P22 ND, não detectado. Figura 4 – Avaliação por citometria de fluxo da enxertia das subpopulações celulares + high + int CD34 CD38 ALDH e CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda. Os animais transplantados foram sacrificados entre 10 e 12 semanas após os transplantes. As células da medula óssea e/ou baço foram marcadas com anticorpos anti-CD45 humano (hCD45FITC) e murino (mCD45-PerCP). Um animal não transplantado foi analisado simultaneamente como controle negativo. Para estabelecer a gate correspondente às células humanas, as mesmas marcações foram realizadas em animais transplantados com medula óssea total de LMA e cujo quimerismo foi superior a 60%. Para avaliação dos xenotransplantes, consideramos que houve enxertia das células transplantadas quando foi detectado percentual igual ou maior a 0,1% de células positivas para hCD45-FITC na amostra (106–108). Considerando-se os Resultados | 51 casos em que houve enxertia de células humanas na medula óssea murina, os percentuais observados para as subpopulações ALDHint e ALDHhigh variaram entre 0,11 - 0,52% e 0,1 - 2,67%, respectivamente (Tabela 10). Tabela 10 – Percentual médio de células hCD45+ detectado nas amostras de medula óssea dos animais submetidos ao xenotransplante nos quais se considerou haver enxertia de células humanas Número de células transplantadas 33 10 5x10 CD34+CD38-ALDH int CD34+CD38-ALDH 0.22 0.18 3 4 0.3 0.32 4 4 0.26 0.76 5x10 - 1x10 1x10 - 2x10 high O potencial de enxertia em longo-prazo não foi diferente entre as duas subpopulações. Para ambas as subpopulações, o menor número de células capaz de gerar enxertia das subpopulações ALDHhigh e ALDHint foi de 2,5x103 células (Figura 4), e houve correlação entre o número de células transplantadas e o percentual de células humanas recuperadas (R2=0.84, P=0.001). Para realizar esta análise, para cada ponto correspondente ao número de células da LMA transplantadas nos animais (ALDHhigh e ALDHint), foram considerados os maiores percentuais de células humanas recuperados da medula óssea dos animais cerca de dez semanas após o transplante. Os animais foram transplantados com 2x103 a 2x104 células de uma ou outra subpopulação celular, e os percentuais de células humanas CD45+ recuperadas variaram entre 0,06 – 2,6% (Figura 5). 25000 20000 15000 10000 5000 0 0 1 2 3 % Células recuperadas Figura 5 – Análise da correlação entre o número de células injetadas e o percentual de células recuperadas em experimentos de xenotransplante. Foram incluídos na análise os maiores percentuais recuperados em cada dose transplantada, considerando-se as subpopulações celulares high int 3 4 ALDH e ALDH . O número de células injetadas variou entre 2x10 e 2x10 , e o percentual de 2 células recuperadas variou entre 0,06 e 2,6%. R =0,84; P=0,001. Resultados | 52 Nós não obtivemos sucesso em caracterizar a hematopoiese originada pelas subpopulações transplantadas, a fim de validá-las como sendo normais ou leucêmicas. Há indícios de que isso possa ter decorrido do baixo percentual de células humanas recuperadas após os transplantes, o que dificulta a análise da coexpressão de marcadores de linhagem nas células humanas CD45+. Esta hipótese é reforçada pelos resultados do experimento de xenotransplante realizado com medula óssea total de um paciente com LMA, no qual foi possível demonstrar claramente que as células enxertadas eram mieloides (Figura 6). Figura 6 – Análise dos marcadores de linhagens em células humanas CD45+ recuperadas da medula óssea de camundongos NSG transplantados com amostra de medula óssea total de um paciente com leucemia mieloide aguda. As células foram marcadas com os anticorpos específicos para antígenos humanos: anti-CD45-FITC, anti-CD11b-PE, anti-CD3-PerCP e anti-CD19APC. Inicialmente, foi selecionada uma gate nas células hCD45+ e, dentro dela, foi analisada a expressão dos marcadores de células mieloides, células T e células B, respectivamente. A ilustração mostra e enxertia de células mieloides (CD45+CD11b+, CD3- e CD19-). O baixo rendimento celular após a separação por citometria de fluxo também impossibilitou a realização dos ensaios de LDA in vivo, destinados à determinação da frequência de células-tronco em cada sobpopulação celular. Assim, optamos por utilizar algumas amostras exclusivamente para os experimentos de LDA, na tentativa de obter número de células adequado para realização dos transplantes. Em apenas um caso foi possível fazer este ensaio, realizado por meio do xenotransplante em dois grupos contendo dois animais, cada: um grupo recebeu a injeção de 103 células de cada subpopulação de interesse, enquanto o outro recebeu 104 células. Resultados | 53 + - high Figura 7 – Análise representativa da enxertia de células humanas CD34 CD38 ALDH ou + int 3 CD34 CD38 ALDH obtida por meio de ensaio de diluição limitante. Doses equivalentes a 10 ou 4 + high + int ou CD34 CD38 ALDH foram injetadas em dois grupos de animais, 10 células CD34 CD38 ALDH contendo dois animais por dose. Os animais foram sacrificados 10 semanas após o transplante e as células da medula óssea e baço foram marcadas com anti-CD45 FITC humano e anti-CD45 PerCP murino para análise de quimerismo por citometria de fluxo. Considerou-se haver enxertia nos animais + nos quais os percentuais de células humanas CD45 detectadas foram maiores ou iguais a 0,1%. Apesar de não ter sido possível realizar o LDA, a tentativa representada na Figura 7 demonstra que a diferença de dez vezes entre o número de células injetadas e recuperadas é conservada entre os grupos transplantados com células ALDHhigh: no animal transplantado com 103 células, 0,01% de células humanas CD45+ foram recuperadas da medula óssea, enquanto no animal transplantado com 104 células, 0,1% foi o total de células humanas detectadas na medula óssea. Por outro lado, não foram detectadas células humanas CD45+ nos animais transplantados com células ALDHint, sugerindo que a frequência de células-tronco neste grupo seja menor do que no grupo de células ALDHhigh. Este resultado deve ser interpretado com cautela, uma vez que se refere a apenas um experimento. 4.3 Avaliação das vias de sinalização por citometria de fluxo Nós avaliamos a expressão de fosfoproteínas das vias canônicas moduladas por G-CSF e IL-6, dois fatores que regulam a mielopoiese normal (96), além do SCF, que desempenha importante papel na autorrenovação e manutenção das CTH (109). Há Resultados | 54 escassos relatos na literatura sobre estudos de fosfo-flow realizados em subpopulações celulares raras (74,106,110). Neste trabalho, nós buscamos padrões de ativação que se correlacionassem com propriedades da doença (grupo genético, sensibilidade ao tratamento, entre outras), estabelecidos com base em dois tipos de referenciais: um para avaliação do estado basal e outro para avaliação da resposta ao estímulo utilizado. 4.3.1 Validação do método fosfo-flow Inicialmente, para garantir que o método utilizado poderia ser seguramente empregado para detecção de fosfoproteínas nas diferentes condições analisadas, foram realizados testes com inibidores das vias de sinalização de interesse, em linhagens celulares e amostras de medula óssea normal. A linhagem celular da LMA HL-60 foi utilizada para padronização do experimento. As seguintes condições foram avaliadas: 1. sem estímulo (SE), 2. tratamento com o coquetel de inibidores na ausência de estímulo (CQT SE), 3. tratamento com o coquetel de inibidores, seguido por estímulo com G-CSF (CQT G-CSF), 4. tratamento apenas com Ruxolitinib (inibidor específico da fosforilação de Stat3), seguido por estímulo com G-CSF (Rux G-CSF) e 5. estímulo com G-CSF (Figura 8). Figura 8 – Padronização dos inibidores de vias de sinalização em linhagem celular HL-60. Células HL-60 foram ou não tratadas com um coquetel de inibidores (CQT) ou ruxolitinib (RUX) e estimuladas ou não (SE) com G-CSF. A figura ilustra a fosforilação de Stat3 (e não de Stat5) por GCSF, o que não foi observado na ausência de G-CSF e na presença de inibidores. A diferença entre os níveis de P-Stat3 na presença e na ausência de resposta ao estímulo foi de cerca de duas vezes. Resultados | 55 No caso da linhagem celular HL-60, o tratamento com o coquetel de inibidores de sinalização celular resultou em ausência completa de ativação quando comparado com o tratamento com o estímulo, demonstrando que as condições experimentais utilizadas por nós para estudo de sinalização celular estavam satisfatoriamente estabelecidas e controladas. Além disso, o Ruxolitinib sozinho apresentou a mesma capacidade de inibir fosforilação de Stat3 que o coquetel de inibidores, demonstrando que, no caso dessa linhagem celular, este inibidor pode ter sido o responsável pelo resultado observado com tratamento com o coquetel de inibidores no que se refere à diminuição dos níveis de P-Stat3. Nos experimentos realizados com amostras de doadores saudáveis (D1 e D2), as células do D1 não apresentaram aumento expressivo dos níveis de PStat3 nas diferentes condições experimentais analisadas, enquanto as células do D2 mostraram ativação em resposta a G-CSF e, mais expressivamente, a IL-6 (Figura 9). Já em relação à P-Stat5, os níveis constitutivos desta fosfoproteína se mostraram bastante elevados em ambos os doadores, os quais foram ainda maiores em resposta ao estímulo com G-CSF. Apesar da variabilidade na resposta de ativação celular entre as diferentes condições experimentais analisadas, o tratamento com o coquetel de inibidores resultou em níveis de fosfo-Stats inferiores aos detectados após o tratamento com G-CSF e/ou IL-6. Além disso, os níveis dessas fosfoproteínas na presença dos inibidores (CQT SE) foram equivalentes entre os dois doadores estudados. Consideramos que esta condição reflete os níveis de fosfoproteínas em um estado que pode ser admitido como basal da via JAK/STAT. Resultados | 56 D1 D2 CQT SE 9.56 12.41 D1 D2 CQT SE 48.7 46.14 CQT EST 11.65 17.47 CQT EST 51.4 67.32 DMSO SE 12.41 15.12 DMSO SE 51.4 59.89 MEIO SE 13.46 11.76 MEIO SE 44.91 41.79 G-CSF 12.52 22.67 G-CSF 58.82 66.12 IL-6 12.98 32.78 Figura 9 – Histogramas representativos dos níveis de P-Stat3 e P-Stat5 após tratamento de células de medula óssea normal com inibidores de Stats. Amostras de medula óssea de dois doadores saudáveis foram ou não tratadas com um coquetel de inibidores de vias de sinalização celular e estimuladas ou não com G-CSF ou IL-6. Histogramas representativos dos níveis de P-Stat3 (à esquerda) e P-Stat5 (à direita) nas diferentes condições experimentais analisadas. Abaixo dos histogramas estão os valores das medianas dos canais de fluorescência para a respectiva fosfoproteina. CQT SE, tratamento com coquetel e sem estimulação; CQT EST, tratamento com coquetel e posterior estimulação; DMSO SE, tubo contendo a mesma concentração de DMSO utilizada na diluição dos inibidores; MEIO SE, tubo contendo apenas meio e não estimulado; G-CSF, tubo estimulado com G-CSF (20ηg/100µL); IL-6, tubo estimulado com IL-6 (50ηg/100µL). Para caracterizar os níveis de fosfoproteínas nas diferentes condições e compará-los entre os indivíduos, foram construídos heatmaps representativos de cada experimento, o que facilita a visualização das variações nos níveis de fosfoproteínas detectadas em cada condição analisada de maneira global, além de possibilitar a distinção entre estados de ativação discretamente diferentes. Cada quadrado no grid corresponde a um arquivo de citometria de fluxo multidimensional contendo pelo menos 2000 eventos celulares. As escalas de cor dos heatmaps variaram entre o azul escuro (valor mínimo) e o amarelo claro (valor máximo), passando pelo preto (zero). Resultados | 57 4.3.2 Perfil de sinalização em amostras de medula óssea normal Inicialmente, nós objetivamos caracterizar o perfil de sinalização em amostras de medula óssea de doadores saudáveis (D1 a D6), na tentativa de obter um referencial para identificar respostas aberrantes em amostras de LMA, posteriormente. Como mostrado na Figura 10, os níveis constitutivos de P-Stat3 foram semelhantes entre os doadores saudáveis, contrariando resultados reportados por Redell et al. (2013) referentes a experimentos realizados com medula óssea total, onde foi observada grande variabilidade nos níveis desta fosfoproteína entre doadores saudáveis (82). Observou-se aumento nos níveis de fosforilação de Stat3 em resposta aos estímulos utilizados nas células do D2, que apresentou um aumento de aproximadamente 2 vezes em resposta a G-CSF e de aproximadamente 3 vezes em resposta à IL-6 (Figura 10). P-Stat3 P-Stat5 SE G-CSF IL-6 D1 D2 D3 13.34 11.76 12.98 12.19 22.67 9.78 12.63 32.49 11.04 D1 D2 D3 43.71 41.79 42.17 SE G-CSF 58.29 66.12 38.89 D4 12.3 11.6 X D4 24.36 25.48 Figura 10 – Heatmaps representativos da fosforilação de Stat3 e Stat5 na ausência de estímulo + high e em resposta a G-CSF ou IL-6 na subpopulação CD34 CD38 ALDH em amostras de medula óssea de doadores saudáveis. As células foram ou não (SE) estimuladas com G-CSF (20ηg/100µL) ou IL-6 (50ηg/100µL). Cada quadrado na figura representa o nível da fosfoproteína em resposta a uma condição, para cada um dos indivíduos. O campo riscado em vermelho significa que não houve dados para análise. As tabelas mostram os valores medianos dos canais de fluorescência para P-Stat3 ou P-Stat5, cuja intensidade variou de acordo com a escala representada. Resultados | 58 Os níveis constitutivos de P-Stat5 foram semelhantes entre as amostras normais analisadas, exceto no caso do D4, que apresentou valor equivalente a 57% da média das outras amostras de doadores saudáveis. Após o estímulo com G-CSF, os perfis de sinalização variaram entre ausência de resposta (D3 e D4) e ativação da via com aumento de 1,6 vezes na expressão do P-Stat5. Dentre os respondedores, D1 apresentou aumento nos níveis de P-Stat5 correspondente a 1,3 vezes e o D2, 1,6 vezes (Figura 10). P-Erk 1/2 SE P-Akt SCF SE SCF D1 29.16 42.94 D3 D5 29.43 14.07 31.34 15.26 D3 D5 24.8 5.52 9.06 4.66 D6 11.34 11.04 D6 3.62 6.61 Figura 11 – Heatmaps representativos da fosforilação de Erk1/2 e Akt na ausência de estímulo + high e em resposta a SCF na subpopulação CD34 CD38 ALDH em amostras de medula óssea de doadores saudáveis. As células foram ou não (SE) estimuladas com SCF (100ηg/100µL). Cada quadrado na figura representa o nível da fosfoproteína em resposta a uma condição, para cada um dos indivíduos. As tabelas contêm os valores medianos das intensidades de fluorescência para cada condição, cuja intensidade variou de acordo com a escala representada. Na ausência de estímulo, os níveis de P-Erk e de P-Akt foram variáveis entre os doadores saudáveis analisados. Após estímulo com SCF, a amostra do D1 apresentou um aumento de 1,47 vezes nos níveis de P-Erk1/2 em relação ao estado basal, enquanto os níveis dessa fosfoproteína nos demais doadores se mantiveram inalterados (D6) ou aumentaram discretamente (D3 e D5). O estímulo com SCF Resultados | 59 resultou em diminuição dos níveis de P-Akt nas amostras dos D3 e D5, e em aumento de 1,82 vezes na do D6 (Figura 11). Estes resultados revelam que as CTH isoladas de indivíduos saudáveis são capazes de responder aos estímulos como o G-CSG, IL-6 e SCF. A resposta ao GCSF pode ser avaliada pelo aumento nos níveis de P-Stat3 e/ou P-Stat5. Por sua vez, o estímulo com SCF pode levar à ativação de Erk1/2 ou de Akt. 4.3.3 Perfil de sinalização entre os pacientes com LMA Após a caracterização dos perfis de resposta aos estímulos analisados em doadores saudáveis, os perfis dos pacientes com LMA foram analisados. Foram construídos painéis de respostas a citocinas/fatores de crescimento para avaliar a ocorrência de transdução de sinal alterada entre as células de pacientes com LMA. Amostras de 14 pacientes tiveram seus perfis de sinalização caracterizados em resposta a G-CSF, nove à IL-6 e cinco ao SCF. 4.3.3.1 Sinalização na ausência de estímulo externo Para caracterizar a sinalização celular na ausência de estímulo externo, determinada pelos níveis constitutivos das fosfoproteínas de interesse, os pacientes com LMA foram classificados em função dos valores de MFI referentes aos doadores saudáveis: valores maiores do que o maior valor apresentado entre os doadores saudáveis indicaram ativação basal aberrante. Os níveis constitutivos de P-Stat3 e P-Stat5 variaram expressivamente entre as amostras de pacientes com LMA, em ambas as subpopulações (Figura 12). As reais implicações dessa variabilidade sobre mecanismos de resistência associados às células leucêmicas permanecem elusivas, uma vez que um fenômeno semelhante é observado também em indivíduos saudáveis (82). Os níveis constitutivos de P-Stat3 na subpopulação celular ALDHhigh dos pacientes classificados como LMA-CBF (pacientes P1 – P6) foram superiores aos Resultados | 60 dos demais (P=0.02). Dois pacientes (P1 e P18) apresentaram níveis constitutivos de P-Stat3 superiores ao maior valor apresentado entre os doadores saudáveis após estímulo com G-CSF. Nenhum paciente apresentou nível constitutivo de P-Stat5 maior do que a referência de normalidade adotada. Três pacientes (P7, P16 e P19) apresentaram níveis de ambas as fosfoproteínas inferiores ao menor valor apresentado pelos doadores saudáveis. Diferente do que foi observado para PStat3, níveis constitutivos de P-Stat5 inferiores ao valor basal normal foram bastante frequentes na subpopulação celular ALDHhigh, detectados em 11/14 (78,5%) pacientes. Resultados | 61 A) B) high ALDH int ALDH P-Stat3 P-Stat3 SE high ALDH G-CSF int P-Stat5 SE G-CSF SE G-CSF D1 12.41 22.67 D1 46.14 66.12 D2 9.47 12.19 D2 47.83 58.29 D3 12.98 9.78 D3 42.17 38.89 D4 12.3 11.6 25.48 D4 24.36 17.62 17 ALDH P-Stat5 SE G-CSF P1 22.68 26.18 P1 P1 47.83 47.4 P1 34.91 38.03 P2 15.82 16.4 P2 14.86 14.07 P2 8.9 9.56 P2 7.37 8.58 P3 13.16 13.64 P3 13.22 14.46 P3 12.52 12.52 P3 16.25 15.4 P5 16.4 16.85 P5 18.6 16.85 P5 17 11.04 P5 9.39 10.37 P6 16.7 15.68 P6 29.3 47.4 P6 46.56 42.55 P6 76.7 91.81 P7 7.77 7.77 P7 15.4 16.25 P7 9.56 10.37 P7 18.94 18.77 P9 12.63 21.1 P9 17.47 12.63 P9 21.67 37.86 P9 27.88 25.95 P10 9.65 9.65 P10 12.92 11.76 P10 15.82 17.78 P10 16.62 14.07 P11 9.82 8.98 P11 8.06 7.7 P11 3.59 3.4 P11 10.27 6.21 42.17 P13 10.75 18.77 P13 12.3 22.88 P13 17.15 39.24 P13 26.9 P16 7.37 7.17 P16 5.42 5.47 P16 21.1 20.72 P16 18.27 17.94 P17 11.97 10.55 P17 8.74 9.14 P17 27.63 20.54 P17 21.87 28.39 P18 36.85 20.72 P18 44.51 42.17 P18 3.23 37.18 P18 50.71 48.7 P19 5.73 6.67 P19 2.84 3.34 P19 19.63 18.35 P19 13.82 13.95 Figura 12 – Heatmaps representativos dos níveis de P-Stat3 e P-Stat5 na ausência de estímulo + high + e em resposta ao estímulo com G-CSF nas subpopulações CD34 CD38 ALDH e CD34 CD38 int ALDH isoladas de doadores saudáveis e pacientes com leucemia mieloide aguda. As subpopulações celulares foram estimuladas ou não (SE) com G-CSF (20ηg/100µL). Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas tabelas, as respostas ao estímulo estão representadas como dados brutos. A) dados referentes à P-Stat3 e B) P-Stat5. Níveis basais aumentados estão destacados em vermelho, enquanto os diminuídos estão destacados em verde. Resultados | 62 Considerando-se a subpopulação celular ALDHint, pacientes com LMA-CBF apresentaram níveis constitutivos de P-Stat3 maiores do que os dos demais pacientes (P=0.03). Dois dos três pacientes portadores de mutações FLT3-ITD e um paciente cujo perfil genético não pôde ser determinado (P18) também apresentaram níveis constitutivos aberrantemente elevados desta fosfoproteína. O estímulo com G-CSF induziu aumento significativo da fosforilação de Stat3 em apenas um dos nove pacientes (P6) que apresentaram elevada ativação basal, sugerindo que a ausência de resposta se deva ao fato das células já terem alcançado o potencial máximo de ativação desta via. Três pacientes (P11, P16 e P17) apresentaram níveis reduzidos de P-Stat3, os quais não aumentaram após estímulo com G-CSF, sugerindo inibição constitutiva da via e ausência de resposta ao G-CSF. Dois pacientes apresentaram níveis constitutivos de P-Stat5 aberrantemente elevados (P6 e P18). Um deles, o paciente P6, apresentou níveis basais superiores ao maior valor detectado após estímulo com G-CSF entre os doadores saudáveis, e observou-se aumento da fosforilação de Stat-5 após estímulo com G-CSF. Vale ressaltar que apenas a subpopulação celular enriquecida em LIC deste paciente foi capaz de responder ao estímulo com G-CSF, apesar dos níveis basais aberrantemente elevados de ambas as fosfoproteínas. Oito pacientes (57%) apresentaram níveis reduzidos de P-Stat5 em relação aos doadores saudáveis. Com base na demonstração de que a expressão da proteína Flt3 mutante aumenta a fosforilação de Stat5 em linhagens celulares (111,112), nós investigamos os níveis desta fosfoproteína nesse grupo de pacientes. Dois dos três pacientes com FLT3-ITD (P10 e P11) apresentaram níveis basais diminuídos de P-Stat5, enquanto o terceiro se manteve dentro da normalidade (P9). Observou-se maior fosforilação basal na subpopulação ALDHint em comparação com a ALDHhigh em dois pacientes que apresentaram essa mutação (P9 e P11). Além disso, o estímulo com G-CSF foi capaz de induzir aumento da fosforilação de Stat5 nas células ALDHhigh, enquanto induziu diminuição dos níveis de P-Stat5 nas células ALDHint. Apesar do pequeno número de amostras FLT3-ITD incluídas na análise, nossos resultados sugerem que não haja aumento da fosforilação basal de Stat5 nas células-tronco da LMA FLT3-ITD+, nem aumento dos níveis dessa fosfoproteína em reposta ao G-CSF. Além disso, nós observamos elevados níveis constitutivos de P-Stat3 em células ALDHint de pacientes FLT3-ITD+, os quais não foram aumentados pelo tratamento com G-CSF. Esses resultados revelam uma Resultados | 63 combinação entre níveis basais elevados de fosfoproteínas e ausência de resposta aos estímulos na subpopulação enriquecida em ALDHint quando comparada à subpopulação ALDHhigh. Este mecanismo pode estar associado à quiescência característica das células-tronco e viabilizar a manutenção das células leucêmicas. Não foi observada diferença significativa nos níveis constitutivos de P-Stat3 (14.09±2.12 na subpopulação ALDHhigh vs. 15.8±2.8 na subpopulação ALDHint, Média±SEM, P=0.6) e P-Stat5 (19.44±3.6 na subpopulação ALDHhigh vs. 15.8±2.8 na subpopulação ALDHint, P=0.4) entre as duas subpopulações celulares estudadas. A ativação basal de Stat3 possibilitou a distinção entre as subpopulações celulares isoladas de 5/14 (36%) pacientes, cujas diferenças nas MFI foram arbitrariamente definidas como sendo maiores do que 3. Em relação a Stat5, isto ocorreu em 10/14 (71,4%) pacientes. Foi possível diferenciar as duas subpopulações celulares com base no estado de ativação basal de Erk1/2 em quatro das cinco amostras analisadas (P6, P7, P9 e P13). Os níveis constitutivos de P-Erk1/2 foram variáveis entre as duas subpopulações celulares e os valores mais altos foram detectados na subpopulação ALDHint. Três dos cinco pacientes analisados apresentaram níveis constitutivos aberrantes de P-Erk na subpopulação ALDHint (P6, P9 e P13), o que não foi observado na subpopulação ALDHhigh em nenhum paciente (Figura 13). Estudos anteriores demonstraram a ativação constitutiva de Erk em amostras primárias de LMA (113–115). Por outro lado, o aumento da ativação de Erk após estímulo com SCF foi mais frequente na subpopulação ALDHhigh (3/5 pacientes vs. 1/5 na subpopulação ALDHint). Observou-se uma grande variação entre os níveis constitutivos de P-Akt detectados entre os doadores saudáveis. Os níveis basais dessa fosfoproteína possibilitaram a distinção entre CTH e LIC apenas no P6 e no P7 (Figura 13). A ativação basal de Akt acima dos níveis da normalidade foi observada apenas nas células ALDHint do paciente P6, e nesta subpopulação também foi detectada uma ativação constitutiva aberrante de Stat3, Stat5 e Erk1/2. Resultados | 64 A) B) high ALDH int P-Erk SE high ALDH P-Erk SCF SE ALDH SCF int P-Akt SE ALDH P-Akt SCF D1 29.16 42.94 D3 29.43 31.34 D3 24.8 9.06 D5 14.07 15.26 D5 5.52 4.66 D6 11.34 11.04 D6 3.62 6.61 P2 10.27 9.4 P2 P6 30.23 34.6 P7 8.06 15.82 P9 25.37 P13 24.58 SE SCF 9.56 10.65 P2 13.95 13.46 P2 12.08 P6 72.9 65.53 P6 18.6 14.72 P6 26.66 28.9 P7 22.07 24.8 P7 7.04 6.95 P7 10.09 13.1 32.2 P9 32.49 31.06 P9 9.06 11.55 P9 9.47 9.87 26.6 P13 31.62 38.54 P13 7.1 6.67 P13 8.82 8.66 13.22 Figura 13 – Painel representativo dos níveis de P-Erk1/2 e P-Akt na ausência de estímulo e em + high + int resposta ao SCF nas subpopulações CD34 CD38 ALDH e CD34 CD38 ALDH isoladas de doadores saudáveis e pacientes com leucemia mieloide aguda. As subpopulações celulares foram estimuladas ou não (SE) com SCF (100ηg/100µL). Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas tabelas, as respostas ao estímulo estão representadas como dados brutos. A) dados referentes à P-Erk1/2 e B) P-Akt. Niveis basais aumentados estão destacados em vermelho, enquanto os diminuídos estão destacados em verde. Resultados | 65 4.3.3.2 Análise da resposta aos estímulos Assim como os estados basais, a resposta à ativação induzida pelos estímulos também foi variável entre os pacientes com LMA. Estabelecemos que valores de Log2Ratio entre os estados “estimulado” versus “sem estímulo” [log2(MFIEstimulado/MFISE)] maiores do que 0,32 e menores do que -0,43 (equivalentes a fold-changes iguais a 1,25 e 0,75, respectivamente) seriam considerados aumento ou diminuição detectável da fosforilação, respectivamente. 4.3.3.2.1 G-CSF Catorze pacientes tiveram seu perfil de sinalização em resposta ao G-CSF caracterizado, por meio da quantificação dos níveis de P-Stat3 e P-Stat5 em condições basais e após o estímulo (Figura 14). Não houve diferença significativa nos níveis de P-Stats detectados após estímulo com G-CSF entre as subpopulações estudadas (P-Stat3: 14.3±1.6 na subpopulação ALDHhigh vs. 17.22±3.41 na subpopulação ALDHint, P=0.4; P-Stat5: 23.47±3.8 na subpopulação ALDHhigh vs. 27.17±6.06 na subpopulação ALDHint, P=0.6). Células ALDHhigh e ALDHint apresentaram respostas visivelmente diferentes ao G-CSF detectada pelos níveis de P-Stat3 em 5/14 (35,7%) pacientes, e de P-Stat5 em 7/14 (50%) pacientes (Figura 14). Resultados | 66 A) B) ALDHhigh P-Stat3 Log2Ratio D1 0.87 D2 0.36 D3 -0.41 D4 -0.08 0.21 P1 0.05 P2 0.05 P3 0.04 P5 -0.09 P6 0 P7 0.74 P9 0 P10 -0.13 P11 0.8 P13 -0.04 P16 -0.18 P17 -0.83 P18 0.22 P19 ALDHint P-Stat3 Log2Ratio P1 P2 P3 P5 P6 P7 P9 P10 P11 P13 P16 P17 P18 P19 -0.05 -0.08 0.13 -0.14 0.69 0.08 -0.47 -0.14 -0.07 0.9 0.01 0.06 -0.08 0.23 ALDHhigh P-Stat5 Log2Ratio D1 0.52 D2 0.29 D3 -0.12 D4 0.06 -0.01 P1 0.1 P2 0 P3 -0.62 P5 -0.13 P6 0.12 P7 0.8 P9 0.17 P10 -0.08 P11 1.19 P13 -0.03 P16 -0.43 P17 3.52 P18 -0.1 P19 ALDHint P-Stat5 Log2Ratio P1 P2 P3 P5 P6 P7 P9 P10 P11 P13 P16 P17 P18 P19 0.12 0.22 -0.08 0.14 0.26 -0.01 -0.1 -0.24 -0.73 0.65 -0.03 0.38 -0.06 0.01 Figura 14 – Heatmaps representativos da quantificação relativa dos níveis de P-Stat3 e P-Stat5 em + high + int e CD34 CD38 ALDH isoladas resposta ao estímulo com G-CSF nas subpopulações CD34 CD38 ALDH de doadores saudáveis e pacientes com leucemia mieloide aguda. As subpopulações celulares foram estimuladas ou não (SE) com G-CSF (20ηg/100µL). Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas tabelas, as respostas ao G-CSF SE) /MFI . A) níveis relativos de P-Stat3 e estímulo em cada nó de sinalização foram calculadas como log2(MFI B) P-Stat5. Resultados | 67 Na subpopulação enriquecida em CTH, dois pacientes tiveram aumento significativo nos níveis de P-Stat3 e P-Stat5 em resposta a G-CSF (P9 e P13), apesar de ambos terem apresentado níveis basais baixos de P-Stat5 nesta subpopulação. O P18 também respondeu ao estímulo com G-CSF, porém com ativação apenas de Stat5 (Figura 14). Já na subpopulação enriquecida em LIC, um paciente apresentou ativação aumentada de Stat3 e Stat5 (P13), e um paciente apenas de Stat3 (P6). Entre os casos de cinética de resposta desregulada, foram observados dois casos na subpopulação celular ALDHhigh (P-Stat3 no P18 e P-Stat5 no P5) e dois na subpopulação celular ALDHint (P-Stat3 no P9 e P-Stat5 no P11). Os pacientes que responderam ao estímulo com G-CSF com diminuição dos níveis de P-Stat3 apresentaram expressão constitutiva alterada desta fosfoproteína (P9 e P18, Figura 14). Nos casos não mencionados anteriormente, considerou-se que não houve resposta ao estímulo. Entre os pacientes classificados como LMA-CBF, apenas a subpopulação ALDHint do P6 respondeu ao estímulo com G-CSF com aumento dos níveis de P-Stat3. É importante destacar que todos os pacientes deste grupo apresentaram níveis constitutivos elevados desta fosfoproteína em ambas as subpopulações (exceto o P7), o que pode ter influenciado a falta de indução de resposta pelo estímulo com este fator de crescimento. 4.3.3.2.2 IL-6 Nove pacientes tiveram seu perfil de sinalização em resposta à IL-6 caracterizado, por meio da quantificação dos níveis de P-Stat3 em condições basais e após o estímulo (Figura 15). O G-CSF foi mais eficiente do que a IL-6 em induzir fosforilação de Stat3 após estimulação, visto que ambas as subpopulações celulares foram predominantemente irresponsivas ao estímulo com IL-6. Adicionalmente, diferente do que foi observado em relação ao G-CSF, não foi possível discriminar CTH e LIC isoladas de pacientes com LMA por meio do perfil de resposta à IL-6. Resultados | 68 ALDHhigh P-Stat3 Log2Ratio P1 -0,47 P2 -0,07 0,13 P5 -0,51 P6 -0,1 P7 -0,27 P9 0,06 P10 0,16 P11 0,1 P13 ALDHint P-Stat3 Log2Ratio P1 -0,26 P2 -0,4 0,11 P5 0,13 P6 -0,07 P7 -0,49 P9 -0,26 P10 -0,14 P11 -0,12 P13 Figura 15 – Heatmap representativo da quantificação relativa dos níveis de P-Stat3 em + high + int e CD34 CD38 ALDH resposta ao estímulo com IL-6 nas subpopulações CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda. As subpopulações celulares foram ou não (SE) estimuladas com IL-6 (50ηg/100µL). Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas ILtabelas, as respostas ao estímulo em cada nó de sinalização foram calculadas como log2(MFI SE) 6 /MFI . Resultados | 69 4.3.3.2.3 SCF Como mencionado anteriormente, devido ao número limitado de células obtidas após a separação, foi possível analisar o perfil de ativação em resposta ao SCF em apenas cinco pacientes com LMA. Apesar do número relativamente pequeno de pacientes incluídos nesta análise, foi possível diferenciar as duas subpopulações celulares pelo perfil de resposta ao estímulo com SCF em todas elas, tanto pelos níveis de P-Erk1/2 quanto de P-Akt (Figura 16). Após o estímulo com SCF, houve maior aumento dos níveis de P-Erk na subpopulação celular ALDHhigh do que na subpopulação ALDHint. Por outro lado, a subpopulação celular ALDHint apresentou níveis mais elevados de P-Akt após estímulo do que as células ALDHhigh, sugerindo que estas células sejam mais sensíveis à ativação de mecanismos de sobrevida do que a subpopulação enriquecida em CTH normais. Resultados | 70 A) ALDHhigh P-Erk1/2 Log2Ratio D1 D2 D3 D4 -0,13 P2 0,19 P6 0,97 P7 0,34 P9 0,12 P13 B) ALDHint P-Erk1/2 Log2Ratio D1 D2 D3 D4 0,16 P2 -0,16 P6 0,17 P7 -0,06 P9 0,29 P13 ALDHhigh P-Akt Log2Ratio D1 D2 D3 D4 -0,05 P2 -0,34 P6 -0,02 P7 0,35 P9 -0,09 P13 ALDHint P-Akt Log2Ratio D1 D2 D3 D4 0,13 P2 0,12 P6 0,38 P7 0,06 P9 -0,03 P13 Figura 16 – Heatmap representativo dos níveis de P-Erk1/2 e P-Akt em resposta ao estímulo + high + int com SCF nas subpopulações CD34 CD38 ALDH e CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda. As subpopulações celulares foram estimuladas com SCF (100ηg/100µL). Uma alíquota sem estímulo (SE) foi analisada para efeitos comparativos. Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas tabelas, as respostas ao estímulo em cada nó de G-CSF SE) sinalização foram calculadas como log2(MFI /MFI . A) níveis relativos de P-Erk1/2 e B) P-Akt. Resultados | 71 O número de amostras incluídas nesta análise dificultou a avaliação da existência de correlação entre marcadores genéticos e perfis de resposta ao SCF. Entretanto, dois dos três pacientes com LMA-CBF estudados (P2 e P7) apresentaram o mesmo perfil de responsividade ao SCF nas células ALDHint, com níveis equivalentes de P-Erk após estímulo com SCF, enquanto o terceiro (P6) apresentou níveis reduzidos de P-Erk em relação ao basal (Figura 16). Além disso, apesar da ativação basal similar, as LIC dos pacientes com LMA-CBF (P2, P6 e P7) apresentaram maiores níveis de P-Akt após estímulo com SCF do que as respectivas CTH, sugerindo maior sensibilidade à ativação. Apesar de não ter sido possível discriminar as CTH e LIC pela sinalização basal no caso dos pacientes não classificados como LMA-CBF, eles apresentaram perfis de sinalização distintos em resposta ao estímulo com SCF, reforçando a importância de avaliar essas duas condições para caracterização do perfil de sinalização. 4.3.4 Comparação entre amostras coletadas ao diagnóstico e na recaída Dos 14 pacientes cujos perfis de sinalização celular em resposta a G-CSF, IL-6 e/ou SCF foram caracterizados, apenas nove tinham dados de seguimento clínico disponíveis. Entre estes nove pacientes, seis alcançaram remissão, dos quais: um permaneceu em remissão, dois foram a óbito em remissão e três recaíram. Células ALDHhigh e ALDHint dos pacientes que recaíram também tiveram seu perfil de sinalização celular caracterizado na recaída. Houve células suficientes para avaliar apenas a resposta ao estímulo com G-CSF. Apesar do número pequeno de amostras incluídas nesta análise, demonstrouse que os perfis de resposta ao G-CSF das duas subpopulações estudadas foram diferentes, assim como os perfis de sinalização observados ao diagnóstico e na recaída. Na subpopulação ALDHhigh, detectou-se níveis basais mais elevados de PStat3 e P-Stat5 ao diagnóstico do que na recaída (Figura 17). Por outro lado, a subpopulação enriquecida em LIC (ALDHint) apresentou perfis mais heterogêneos. O P3 apresentou menores níveis basais de P-Stat3 e P-Stat5 na recaída do que ao diagnóstico, e o contrário foi observado nas amostras do P16. O P17, por sua vez, apresentou maiores níveis basais de P-Stat3 e menores níveis basais P-Stat5 na recaída do que ao diagnóstico. Resultados | 72 high ALDH int P-Stat3 SE G-CSF P3 D 11.55 12.13 P3 R 3.85 P16 D high ALDH P-Stat3 SE G-CSF P3 D 13.1 14.46 3.34 P3 R 6.73 7.37 7.1 P16 D P16 R 5.94 10.94 P17 D 12.08 P17 R 12.52 ALDH int P-Stat5 SE G-CSF P3 D 12.08 11.92 4.83 P3 R 7.7 5.52 5.62 P16 D P16 R 8.9 7.23 10.6 P17 D 8.66 14.27 P17 R 13.04 ALDH P-Stat5 SE G-CSF P3 D 16.25 15.4 7.3 P3 R 13.58 10.09 21.1 20.72 P16 D 18.27 18.11 P16 R 15.54 20.35 P16 R 26.42 22.67 9.22 P17 D 27.88 20.54 P17 D 21.48 29.16 12.13 P17 R 9.31 11.65 P17 R 17.62 6.29 Figura 17 – Comparação entre os níveis de P-Stat3 e P-Stat5 entre as subpopulações + high + int e CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda CD34 CD38 ALDH ao diagnóstico e na recaída. As subpopulações celulares foram estimuladas ou não (SE) com GCSF (20ηg/100µL). Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas tabelas, as respostas ao estímulo foram expressas como dados brutos. Após estímulo com G-CSF, observou-se aumento nos níveis de P-Stat3 e PStat5 na subpopulação ALDHhigh isolada dos pacientes P16 e P17 apenas na recaída, sugerindo maior capacidade de ativação em relação ao diagnóstico (Figura 18). Em contraste, as subpopulações ALDHint de todos os pacientes foram menos sensíveis ao estímulo com G-CSF na recaída do que no diagnóstico, com diminuição dos níveis tanto de P-Stat3 quanto de P-Stat5. Este resultado sugere mudanças na Resultados | 73 sinalização da subpopulação enriquecida em LIC durante o curso da doença, as quais refletem alterações na sensibilidade e/ou responsividade a fatores de crescimento presentes no nicho medular entre o momento do diagnóstico e a recaída. high ALDH P-Stat3 Log2Ratio int high ALDH P-Stat5 Log2Ratio int P3 D 0.07 ALDH P-Stat3 Log2Ratio P3 D 0.14 P3 D -0.02 ALDH P-Stat5 Log2Ratio P3 D -0.08 P3 R -0.21 P3 R -0.48 P3 R -0.08 P3 R -0.43 P16 D -0.05 P16 D 0.03 P16 D -0.03 P16 D -0.01 P16 R 0.88 P16 R -0.3 P16 R 0.39 P16 R -0.22 P17 D -0.19 P17 D 0.09 P17 D -0.44 P17 D 0.44 P17 R 0.19 P17 R -0.1 P17 R 0.32 P17 R -1.49 + - Figura 18 – Comparação entre perfis de resposta ao G-CSF das subpopulações CD34 CD38 high + int ALDH e CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda ao diagnóstico e na recaída. As subpopulações celulares foram estimuladas ou não (SE) com G-CSF (20ηg/100µL). Cada linha nas figuras representa um paciente e cada quadrado representa a resposta de um sítio de fosforilação a uma condição específica, cujas intensidades medianas de fluorescência variaram de acordo com as escalas representadas. Nas tabelas, as respostas ao estímulo foram G-CSF SE) calculadas como log2(MFI /MFI . Resultados | 74 4.4 Análise de metilação global genômica Apesar da grande variedade de alterações genéticas e epigenéticas observadas na LMA, sabe-se que muitas delas culminam com a desregulação de vias de sinalização em comum. Se as CTH e as LIC têm uma origem comum, seria razoável considerar que as diferenças observadas nos padrões de sinalização podem ser devidas a mecanismos epigenéticos. Para avaliar esta hipótese, nós comparamos os padrões de metilação global genômica entre estas subpopulações celulares, e entre elas e a subpopulação de CTH residuais nos pacientes com LMA. Inicialmente, todos os arquivos SAM (Sequence Alignment/Map) referentes às subpopulações ALDHint e ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis foram lidos. O primeiro grupo foi especificado como “tratamento=1” e o segundo como “tratamento=0”. Em seguida, apenas as CpG com cobertura mínima igual a 10 foram mantidas. Após esse passo, todas as amostras foram reunidas, com diferentes critérios. Nessa etapa, o objetivo era apenas obter as CpG que estivessem presentes em todas as amostras, sem levar os valores beta em consideração. Entretanto, se o critério para seleção fosse obter CpG presentes em todas as amostras, apenas 29 CpG seriam obtidas, de modo que um novo critério foi adotado para obtenção de CpG presentes em pelo menos três amostras em cada grupo. Com efeito, este novo critério manteve o requisito de selecionar CpG presentes em todas as amostras de doadores saudáveis, enquanto ainda exigiu que as CpG selecionadas estivessem presentes em apenas três das amostras ALDHint de pacientes leucêmicos. Esta abordagem resultou em 9.819 CpG, o que ainda não foi um valor alto o suficiente. Então, os requisitos foram diminuídos para a obtenção de CpG presentes em pelo menos duas amostras em cada grupo, o que resultou em 199.360 CpG. Em seguida, foi aplicado um filtro, estipulando que, para qualquer CpG selecionada, a diferença nos valores beta dentro de um grupo (no caso o ALDHint) não poderiam exceder 0,25, ou seja, o máximo valor beta menos o mínimo valor beta deveria ser menor do que 0,25. Isto foi feito para reduzir interferências entre os dados. Das 199.360 CpG inicialmente obtidas, restaram 134.373 “filtradas”. CpG Resultados | 75 O próximo passo foi proceder com o MethylKit, calculateDiffMeth, que comparou automaticamente as amostras com o “tratamento=1” com o “tratamento=0”. Esta análise gerou um “objeto” cujas três primeiras colunas foram o arquivo BED para determinação das CpG diferencialmente metiladas (DMC, do inglês: differentially methylated cytosines). Em seguida, aplicou-se o “get.methylDiff” neste mesmo objeto, com delta beta mínimo = abs(0.25) & q-value < 0.01 para obter Hiper e Hipo DMC como arquivos BED. Uma vez obtidos os arquivos BED para Hiper e Hipo DMC, cada um deles foi sobreposto à versão “hg19” de referência para o genoma humano, para identificação de características de promotores, éxons, íntrons, regiões intergênicas, CGI (do inglês, CpG islands), shelf (2 – 4kb de distância de uma ilha CpG), shore (até 2kb de distância de uma ilha CpG) e opensea (ilhas CpG isoladas no genoma). Este método gerou o número “observado” de sobreposições. Para calcular o correspondente número “esperado” de sobreposições, os arquivos BED de Hipo e Hiper DMC foram misturados e confrontados contra o background 1.000 vezes, e interceptados com as características do “hg19”. Os valores de P para enriquecimento/depleção foram computados pela função R pnorm. Toda essa análise foi repetida para a comparação entre as subpopulações ALDH high isoladas de pacientes com LMA e doadores saudáveis. Neste caso, se reuníssemos todas as amostras, teríamos 1.816 CpG, o que corresponderia a um valor muito baixo. Então, novamente, este critério foi modificado para a obtenção de CpG presentes em pelo menos duas amostras em cada grupo (o que ainda selecionaria todas as amostras ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA, pois só havia duas delas). Após esta seleção, foram obtidas 21.220 CpG (com pelo menos uma amostra em cada grupo, seriam obtidas 704.195 CpG, o que corresponderia a um valor muito alto). Após filtrar essas 21.220 CpG, foram obtidas 15.002 CpG. A primeira comparação foi realizada entre os perfis de metilação genômica de células ALDHhigh isoladas de indivíduos saudáveis com a mesma população isolada de pacientes com LMA, para avaliar o grau de similaridade entre elas. A Figura 19 mostra o agrupamento hierárquico e a análise de componentes principais (PCA, do inglês Principal Componente Analysis) das células ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis e de pacientes com LMA, e revelou a existência de similaridade entre os perfis de metilação apresentados por elas. Adicionalmente, a distribuição global de Resultados | 76 citosinas metiladas foi bastante semelhante entre essas duas subpopulações celulares. Observou-se que relativamente poucos genes estavam diferencialmente metilados entre estas duas subpopulações - 142 loci hipermetilados e 192 loci hipometilados, e que o número de CpG diferencialmente metiladas entre elas também foi pequeno – três hipometiladas e cinco hipermetiladas (Figura 20). A hipometilação ocorreu predominantemente em íntrons, e foi detectada em ilhas CpG e shores. Já a hipermetilação foi observada em regiões intergênicas, e localizada em ilhas CpG e shores (Figura 21). Apesar do pequeno número de amostras ALDHhigh da LMA incluídas neste estudo, estes resultados sugerem a existência de grande similaridade entre os metilomas de células ALDHhigh isoladas de indivíduos saudáveis e de pacientes com LMA. + - high Figura 19 – Comparação entre os perfis de metilação de células CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda ou de doadores saudáveis. O DNA das subpopulações celulares foi extraído e submetido ao ERRBS. O sequenciamento foi realizado na plataforma Illumina HiSeq2500 e os dados foram processados utilizando o Bismark, um método baseado em Bowtie para alinhamento e análise após conversão por bissulfito. O agrupamento + high hierárquico supervisionado (à esquerda) e a PCA (à direita) de células CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com LMA ou de doadores saudáveis, baseado no perfil de metilação, revelou a maior similaridade existente entre amostras do mesmo subtipo celular (CTH residuais isoladas de pacientes com LMA destacadas em azul e CTH isoladas de doadores saudáveis destacadas em vermelho), com 192 loci hipometilados e 142 loci hipermetilados nas células da LMA em relação às normais. Resultados | 77 + - Figura 20 – Distribuição global de citosinas hipo- e hipermetiladas em células CD34 CD38 high ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda em comparação com células + high CD34 CD38 ALDH isoladas de doadores saudáveis. Volcano plot do -log10 (P-valor) versus valor delta beta, representando as diferenças na metilação entre as subpopulações analisadas. As linhas pontilhadas indicam os limiares de significância (Delta Beta=0.25). Na análise das citosinas diferencialmente metiladas, foram detectadas 3 casos de hipo- e 5 de hipermetilação. Figura 21 – Regiões genômicas e sítios de localização das citosinas diferencialmente high metiladas na subpopulação CD34+CD38-ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide high aguda em comparação com células CD34+CD38-ALDH isoladas de doadores saudáveis. Características gênicas e das CGIs das citosinas diferencialmente metiladas estão representadas. As barras em vermelho representam os resultados significativos, com a condição de que o P-valor (números ao lado das barras) seja <0.05. Resultados | 78 Em seguida, nós comparamos os perfis de metilação genômica entre células int ALDH isoladas de pacientes com LMA e células ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis. Os perfis de metilação das LIC apresentaram-se bastante variáveis quando comparados aos das CTH de doadores saudáveis (Figura 22). Pela análise de PCA, os perfis de metilação do DNA não foram capazes de distinguir entre amostras normais e amostras de LMA. Embora a maioria das amostras leucêmicas tenha formado um grupo homogêneo, algumas delas compartilham mais similaridades com amostras normais do que com amostras de LMA (Figura 22). Este resultado pode refletir a heterogeneidade entre os perfis de metilação genômica na LMA, mais precisamente em LIC. + - int Figura 22 – Comparação entre os perfis de metilação de células CD34 CD38 ALDH e células + high CD34 CD38 ALDH isoladas de doadores saudáveis. O DNA das subpopulações celulares foi extraído e submetido ao ERRBS. O sequenciamento foi realizado na plataforma Illumina HiSeq2500 e os dados foram processados utilizando o Bismark, um método baseado em Bowtie para alinhamento e análise após conversão por bissulfito. A PCA revelou que apesar de haver maior semelhança entre células pertencentes à mesma subpopulação celular, não houve uma clara separação entre CTH (indicadas em vermelho) e LIC (indicadas em azul). No total, 1.583 loci apresentaram-se hipometilados e 787 loci estavam hipermetilados nas LIC, quando comparadas às CTH isoladas de doadores saudáveis. Esta hipometilação foi predominantemente observada em regiões intergênicas, íntrons e promotores, e foi identificada em ilhas CpG (CGI) e shores. Por outro lado, a hipermetilação foi predominantemente observada em regiões intergênicas e éxons, e também ocorreu principalmente em CGIs e shores (Figura 18). Resultados | 79 Figura 23 – Regiões genômicas e sítios de localização das citosinas diferencialmente int metiladas na subpopulação CD34+CD38-ALDH em comparação com células CD34+CD38high ALDH isoladas de doadores saudáveis. Características gênicas e das CGIs das citosinas diferencialmente metiladas estão representadas. As barras em vermelho representam os resultados significativos, com a condição de que o P-valor (números ao lado das barras) seja <0.05. Ao contrário do que foi observado na comparação entre células ALDHhigh isoladas de indivíduos saudáveis e leucêmicos (Figura 15), o perfil de metilação global revelou numerosas diferenças na distribuição de DMC entre CTH e LIC (Figura 19). Figura 24 – Distribuição global de citosinas hipo- e hipermetiladas em células CD34+CD38int ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda em comparação com células high CD34+CD38-ALDH isoladas de doadores saudáveis. Volcano plot do -log10 (P-valor) versus valor delta beta, representando as diferenças na metilação entre as subpopulações analisadas. As linhas pontilhadas indicam os limiares de significância (Delta Beta=0.25). Na análise das citosinas diferencialmente metiladas, foram detectadas 150 hipo- e 299 hipermetiladas. Resultados | 80 Em relação aos genes que codificam proteínas envolvidas nas vias de sinalização celular relevantes para este trabalho, observou-se diferenças nos padrões de metilação entre CTH isoladas de doadores saudáveis e LIC. As LIC apresentaram hipometilação no gene STAT3, bem como em genes envolvidos nas vias p38/MAPK e JNK/ MAPK, tais como: MAP2K4, MAP3K10, MAP3K5, MAP4K4. Uma vez que maiores níveis basais de Stat3 e de Erk1/2 fosforiladas foram detectados nas LIC, é possível que exista uma correlação entre estes achados de regulação gênica e os níveis de fosfoproteínas detectados por citometria de fluxo. Em relação às vias de sinalização envolvidas no desenvolvimento embrionário, as LIC apresentaram predominantemente hipometilação em genes que codificam proteínas envolvidas nas vias Notch, Wnt e Sonic Hedgehog, tais como: NOTCH, ADAM17, WNT10A, FZD4, SHH e GlI2. Este fenômeno sugere potencial hiperativação dessas vias, as quais medeiam eventos relacionados à manutenção das propriedades das células-tronco, o que conferiria vantagens às LIC quando comparadas às CTH. Detectou-se hipometilação na região promotora do gene ABCA1 em LIC, o qual codifica uma proteína do tipo ATP-binding cassette, envolvida no mecanismo de resistência a múltiplas drogas (MDR). Este resultado soma-se às evidências de mecanismos de resistência nas LIC quando comparadas às CTH. Adicionalmente, uma variedade de genes geralmente regulados positivamente durante os estágios mais tardios da diferenciação de células-tronco embrionárias estavam hipermetilados em LIC, assim como genes envolvidos na sinalização por cálcio, tais como o CACNA1A. Uma vez que há crescentes evidências de que a sinalização de cálcio intracelular desempenhe importantes papéis no crescimento e proliferação celular, a inativação de um gene que codifica um canal de cálcio pode estar relacionada ao desenvolvimento e/ou progressão do câncer (116). Em seguida, nós avaliamos as diferenças entre células ALDHhigh e ALDHint, ambas isoladas de indivíduos com LMA. Devido ao número limitado de células e à qualidade do DNA extraído, só foi possível fazer esta comparação entre duas amostras pareadas, as quais haviam sido isoladas do P2 e do P13. As subpopulações isoladas do P13 apresentaram apenas 3.948 CpG em comum, enquanto 154.483 CpG foi o número observado para o P2. Os perfis de metilação discriminaram dois grupos: um que correspondeu à subpopulação enriquecida em CTH residuais e outro correspondente à Resultados | 81 subpopulação enriquecida em LIC (Figura 25). Apesar do número pequeno de amostras analisadas, estes dados reforçam a hipótese de que as subpopulações celulares ALDHhigh e ALDHint apresentam distintos padrões de metilação genômica global, além das diferenças previamente observadas quanto à atividade da Aldh e perfil de sinalização celular. + - high Figura 25 – Comparação entre os perfis de metilação entre células CD34 CD38 ALDH e + int CD34 CD38 ALDH isoladas de pacientes com leucemia mieloide aguda. O DNA das subpopulações celulares foi extraído e submetido ao ERRBS. O sequenciamento foi realizado na plataforma Illumina HiSeq2500 e os dados foram processados utilizando o Bismark, um método baseado em Bowtie para alinhamento e análise após conversão por bissulfito. O agrupamento hierárquico supervisionado (à esquerda) e a PCA (à direita), baseados no perfil de metilação, revelaram maior similaridade entre amostras da mesma subpopulação celular (CTH residuais destacadas em azul e LIC destacadas em vermelho). Na análise do P2, 6.842 loci estavam hipometilados e 787 loci estavam hipermetilados na subpopulação ALDHint quando comparada à ALDHhigh. Já para o P13, foram detectados 190 loci hipometilados e 220 loci hipermetilados na mesma comparação. Diferenças nos metilomas destas duas subpopulações foram ainda mais evidentes do que as observadas na comparação entre células ALDHint e células ALDHhigh isoladas de indivíduos saudáveis, reforçando observações prévias de que estão enriquecidas em tipos celulares funcionalmente diferentes. Resultados | 82 Figura 26 – Distribuição global de citosinas hipo- e hipermetiladas em células CD34+CD38int high ALDH em comparação com células CD34+CD38-ALDH isoladas dos mesmos pacientes. Volcano plot do -log10 (P-valor) versus valor delta beta, representando as diferenças na metilação entre as subpopulações analisadas. As linhas pontilhadas indicam os limiares de significância (Delta Beta=0.25). No caso do paciente P2, foram detectadas 18406 e 9045 DMC significativamente hipo- e hipermetiladas, respectivamente. Para o paciente P13, os valores foram 365 e 342, respectivamente. Entre os genes hipometilados nas células ALDHint quando comparadas às ALDHhigh, estão envolvidos na sinalização de cálcio intracelular, bem como no transporte transmembrana de íons e pequenas moléculas. Além disso, foi marcante a presença de DMC hipometiladas nas regiões promotoras de genes relacionados à oncogênese, tais como os envolvidos em processos como: inibição da apoptose (BCL2), remodelamento da matriz extracelular e formação de colágeno (COL2A1, COL9A2/3), receptores do tipo tirosina-quinase (ERRB2, ABL1), controle do ciclo celular (E2F, CDKN2A, EP300, EP400), resistência a múltiplas drogas (ABCB10, ABCC8, ABCD3, ABCD4), entre outros. Adicionalmente, genes que codificam proteínas das vias MAPK (MAPK 3/8/11/12/13) e VEGF (PIK3R1, PP3CA, PPP3CC, NFATC2/4) também estavam hipometilados na subpopulação celular CD34+CD38ALDHint. Entre os genes hipermetilados nas células CD34+CD38-ALDHint, também estão os que codificam transportadores do tipo ATP-binding cassette (ABCD2/3), além de genes envolvidos na formação de colágeno e da matriz extracelular (LAMA3/5, COL8A2, COL9A2, FGF4/19), fatores pró-apoptóticos (BAD, BID), caderinas (CDH1) e proteínas envolvidas na sinalização do ácido retinoico e Resultados | 83 resistência a drogas (ALDH1A3). Estes achados sugerem que as células ALDHint apresentam um maior potencial oncogênico quando comparadas às células ALDHhigh, ambas isoladas de amostras de LMA. Além disso, sugerem uma base molecular para as diferenças funcionais observadas entre estas subpopulações, e reforçam observações prévias de que a subpopulação CD34+CD38-ALDHint está enriquecida em LIC. Em relação às vias de sinalização de interesse deste trabalho, observou-se hipometilação em genes que codificam proteínas MAPK, o que pode ter correlação com os resultados observados em nível proteico, detectados por citometria de fluxo, uma vez que células ALDHint apresentaram maiores níveis basais de Erk1/2 fosforiladas. Por outro lado, não foram observadas diferenças no perfil de metilação de genes envolvidos na via JAK/STAT, apesar da demonstração de diferenças na sinalização entre as duas subpopulações celulares, principalmente devidas aos níveis de P-Stat5 (basais e após estimulação). Portanto, é improvável que as diferenças observadas nos perfis de sinalização da via JAK/STAT possam ser atribuídas a diferenças na metilação genômica. 5 DISCUSSÃO Discussão | 85 Nós demonstramos que a atividade da Aldh pode ser utilizada para identificar subpopulações enriquecidas de células-tronco dentro da heterogênea fração de células CD34+CD38- em amostras LMA ao diagnóstico. O potencial de célula-tronco desta subpopulação foi validado por meio da realização de ensaios de xenotransplante em modelo murino e avaliação da enxertia em longo prazo. O percentual de enxertia nos nossos experimentos está de acordo com o descrito pela literatura (50-70%) (117–119). Em relação ao percentual de células humanas recuperadas da medula óssea murina, a literatura descreve uma grande variabilidade. Para xenotransplantes realizados com amostras de medula óssea total em modelos mais imunossuprimidos como o NSG, por exemplo, percentuais que variaram entre 10 e 80% foram descritos (107,119,120). Por outro lado, percentuais mais baixos foram detectados à medida que subpopulações purificadas foram transplantadas (106,107), como foi observado no presente trabalho: 0,11 - 0,52% de quimerismo para a subpopulação ALDHint e 0,1 - 2,67% para a subpopulação ALDHhigh. Utilizando o mesmo método para enriquecimento de células-tronco normais e leucêmicas, Gerber et al. (2012) descreveram resultados semelhantes aos nossos (45). Observou-se grande variabilidade nos resultados obtidos entre os animais pertencentes ao mesmo grupo, tanto qualitativa (haver ou não enxertia) quanto quantitativa (percentual de células enxertadas). Isso pode refletir a heterogeneidade no potencial de enxertia de diferentes subclones transplantados, assim como a frequência de células-tronco normais ou leucêmicas contidas em cada subpopulação. Este potencial pode se correlacionar com as alterações genéticas da LMA. Sanchez et al. (2009) demonstraram que a presença de mutações no gene FLT3 na LMA se correlacionou com maior capacidade de enxertia em camundongos NSG (119). No presente trabalho, não foram analisadas amostras representativas de cada grupo genético em número suficiente para avaliar esta hipótese. Houve enxertia nas três amostras portadoras de mutações FLT3-ITD, duas delas transplantadas ao diagnóstico e uma na recaída (Tabela 3). Na amostra da recaída, foi realizado transplante de medula óssea total. Considerando-se as duas restantes, em uma delas (P9) detectou-se enxertia de ambas as subpopulações celulares transplantadas (ALDHhigh e ALDHint), enquanto na outra (P10), apenas da subpopulação ALDHhigh. Entre os quatro xenotransplantes realizados com amostras de pacientes classificados com LMA-CBF (P1 e P2), observou-se enxertia em dois Discussão | 86 deles, com detecção de ambas as subpopulações celulares transplantadas. Além de portarem rearranjos do tipo CBF, estes pacientes cujas amostras enxertaram eram portadores de mutações no gene NPM1. Outro fator que pode ter limitado o sucesso dos nossos xenotransplantes é o ambiente no qual os animais são mantidos. Sabe-se que o isolamento de camundongos NSG em condições SPF (do inglês, Specified Pathogens-Free) é fundamental para manutenção de suas propriedades originais, que justificam o grande sucesso da enxertia observado nessa linhagem de animais. No biotério onde eles são manipulados e mantidos, nossa infraestrutura e condição econômica não nos permitem reproduzir as condições de manipulação e manutenção adotadas por centros de referência em pesquisa em células-tronco da LMA, tais como: isolamento das colônias de camundongos NSG em salas exclusivas; manipulação por um único profissional, o qual é impedido de circular em salas contendo animais de outras linhagens no mesmo dia; substituição das matrizes e reconstituição das colônias a cada seis meses; rastreamento genético regular para garantir a integridade do background genético original, entre outras. Ainda, demonstramos que foi possível caracterizar funcionalmente as células iniciadoras de leucemia no que se refere a sua resposta a estímulos como G-CSF e SCF, e que este critério também pode ser utilizado para diferenciar as LIC das CTH normais. Trata-se, portanto, da primeira descrição de sinalização celular aberrante na subpopulação ALDHint, a qual apresentou várias características funcionais de células-tronco leucêmicas. Padrões aberrantes nas vias de sinalização celular em resposta a fatores de crescimento e citocinas são cruciais para as vantagens na sobrevivência e proliferação que as células do câncer apresentam sobre as células normais. Portanto, a caracterização desses perfis de sinalização aberrantes pode revelar mecanismos pelos quais essas células interpretam os sinais do microambiente para evadirem dos mecanismos de manutenção da homeostase. Estudos realizados com linhagens celulares e amostras primárias de LMA diferem bastante no que se refere à existência de correlação direta entre mutações e ativação de proteínas envolvidas na sinalização celular (77,111,121). Assim, podese propor que não é o nível absoluto das proteínas da sinalização (ou seu status de fosforilação basal) o mais informativo sobre os processos de sinalização que ocorrem no câncer, mas a resposta a estímulos do microambiente. Adicionalmente, Discussão | 87 demonstrou-se que padrões aberrantes de sinalização podem ser identificados tanto na ausência quanto na presença de citocinas/fatores de crescimento (110,122). Por essa razão, analisamos a sinalização constitutiva e os padrões de resposta aos estímulos utilizados entre amostras de LMA. Na comparação entre os níveis de fosfoproteínas detectados entre as amostras de LMA na ausência de estímulo e na presença de G-CSF ou SCF, nossos resultados demonstraram que as subpopulações de células ALDHhigh e ALDHint puderam ser distinguidas pelos níveis basais de fosfoproteínas detectados e/ou por seu perfil de resposta aos fatores de crescimento utilizados como estímulos. Esses achados corroboram a nossa hipótese de que as duas subpopulações celulares são funcionalmente distintas e de que as LIC e CTH respondem diferentemente aos estímulos presentes no nicho medular. Assim, a busca por componentes dessas vias responsáveis pela diferença da resposta pode identificar alvos para intervenção terapêutica. Entre as aberrações na sinalização celular detectadas na subpopulação ALDHint, elevados níveis basais de fosforilação das proteínas Stat3 e Erk foram observados em comparação com a subpopulação ALDHhigh. Adicionalmente, a ausência de resposta aos estímulos utilizados foi mais frequente na subpopulação ALDHint. Essa combinação entre níveis basais elevados de fosfoproteínas e ausência de resposta aos estímulos pode representar um mecanismo de manutenção das células leucêmicas, que poderia levar à recaída da LMA (4). A ativação constitutiva de Stat3 pode desempenhar um papel na transformação maligna por meio da ativação de mecanismos antiapoptóticos, o que foi descrito em diversos cânceres. Foi demonstrado que a inibição da via Stat3 induziu apoptose em linhagens celulares de câncer de mama (123). Adicionalmente, em células de mieloma múltiplo nas quais a ativação de Stat3 foi induzida pelo tratamento com IL-6, detectou-se o aumento das proteínas Bcl-xL e Mcl-1 (dois membros da família Bcl-2 de proteínas antiapoptóticas) (124). Em tumores de cabeça e pescoço, a ativação constitutiva de Stat3, associada ao aumento da sinalização via receptor do fator de crescimento epidermal (EGFR), induziu mecanismos antiapoptóticos mediados por Bcl-x (125). Entre os alvos regulados pelas vias STAT, c-myc, ciclina D1 e Bcl-x parecem contribuir para a oncogênese por meio da indução de proliferação celular e sobrevida através do controle da progressão do ciclo celular e/ou inibição da apoptose. Adicionalmente, demonstrou- Discussão | 88 se que a interação direta entre as vias STAT e MAPK pode estar envolvida na transformação oncogênica (126). As vias PI3K/Akt e Ras/MAPK estão envolvidas na regulação da morte celular de diversas formas (127,128). Uma vez fosforilada, Akt promove a fosforilação de Bad e FoxO, que são sequestradas no citoplasma, bloqueando a indução da expressão gênica de ligantes de morte celular (TRAIL e Fas-L) e de proteínas próapoptóticas da família Bcl-2 (Bim, Bad). P-Akt promove também a ativação de NFκB, que por sua vez regula múltiplos fatores de sobrevida, inclusive proteínas antiapoptóticas (129). A forma ativada de Erk, por sua vez, fosforila Bim (um regulador pró-apoptótico) e IκBα (inibidor de NF-κB), marcando-os para degradação (130). Em condições homeostáticas, o balanço entre reguladores anti- e próapoptóticos garante que as células entrem em apoptose quando cessam os sinais para sobrevida, fornecidos por fatores de crescimento e pelo microambiente. Entretanto, a hiperativação da sinalização das vias PI3K/Akt e Ras/MAPK perturba o equilíbrio em favor de sinais antiapoptóticos, contribuindo para sobrevida e expansão das células tumorais (131). Como descrito acima para P-Stat3, no presente estudo detectou-se uma associação entre níveis basais aumentados de PErk e menor sensibilidade à ativação pelo estímulo com SCF na subpopulação enriquecida em células leucêmicas (ALDHint). Considerando-se que essa via medeia sinais primariamente mitogênicos e antiapoptóticos (131), a ativação constitutiva de Erk e Akt detectada somente na subpopulação ALDHint pode estar associada a mecanismos que promovem a manutenção dessa população de células leucêmicas. Não foi observado um perfil característico de resposta de sinalização que se correlacionasse com alterações genéticas específicas. Não foi detectado aumento na fosforilação basal de Stat5 em pacientes portadores da mutação FLT3-ITD. Em estudos realizados com populações de blastos da LMA, Pallis et al. (2003) e Irish et al. (2004) não observaram diferenças na fosforilação basal de Stat5 entre portadores ou não de mutações FLT3-ITD (4,77). Entretanto, Irish et al. (2004) descreveram maiores níveis de P-Stat5 após estímulo com G-CSF entre pacientes FLT3-ITD+. Apesar do pequeno número de amostras FLT3-ITD incluídas na presente análise, nossos resultados também não sugerem que haja aumento da fosforilação basal de Stat5 nas células-tronco da LMA, nem aumento dos níveis dessa fosfoproteína em resposta ao G-CSF, contrariando os resultados reportados por Irish et al. (2004) (4). Além disso, nós observamos elevados níveis constitutivos de P-Stat3 em células Discussão | 89 ALDHint de pacientes FLT3-ITD+, os quais não aumentaram com o tratamento com G-CSF. Nossa interpretação destes achados é que o perfil apresentado pelas LIC da LMA FLT3-ITD+ possa estar associado à quiescência característica das célulastronco, o que tornaria as células leucêmicas não-respondedoras mais resistentes à quimioterapia. Apesar da variabilidade nos níveis basais de P-Stat3 e P-Stat5 detectados nas células ALDHint quando as amostras coletadas ao diagnóstico foram comparadas às da recaída, foram observados perfis semelhantes em resposta ao GCSF. Após estímulo com G-CSF, foram detectados menores níveis tanto de P-Stat3 quanto de P-Stat5 na subpopulação ALDHint isolada das amostras da recaída em relação à mesma população isolada ao diagnóstico. Este resultado sugere que durante o curso da doença (e do tratamento), a subpopulação celular enriquecida em LIC passou por mudanças na sinalização desta via, as quais podem tê-la tornado menos sensível à ativação. Essa mudança na sensibilidade ao estímulo com G-CSF pode representar um mecanismo de resistência das LIC. Gibbs et al. (2013) demonstraram que em CTH normais, a resposta ao G-CSF com fosforilação de Stat3 apresenta relevância biológica, promovendo entrada no ciclo celular e aumento da proliferação em um subgrupo de células CTH. Após o fracionamento deste compartimento com base na expressão do CD114 (receptor do G-CSF), os autores demonstraram no compartimento CD114neg/lo enriquecimento de CTH long-term, as quais estavam quase completamente ausentes no compartimento CD114pos (106). Corroborando a aplicabilidade clínica deste achado, Redell et al. (2013) demonstraram que os padrões de ativação de Stat3 por G-CSF e IL-6 apresentaram uma associação com a sobrevida dos pacientes, de modo que os pacientes cujos blastos foram mais sensíveis ao estímulo com G-CSF apresentaram maior sobrevida global e maior sobrevida livre de eventos (82). O mecanismo proposto por ambos os trabalhos baseia-se na ideia de que as células mais sensíveis ao G-CSF, que promove proliferação celular, seriam mais vulneráveis à ação de quimioterápicos que têm como alvo células em divisão. Irish et al. (2006) demonstraram que pacientes em cujos blastos foram detectados altos níveis de Stat5 e Stat3 fosforiladas tanto na presença como na ausência de G-CSF apresentaram evoluções clínicas diversas, enquanto aqueles cujos níveis de ambas as fosfoproteínas foram elevados apenas após estímulo com G-CSF apresentaram evolução clínica desfavorável (104). Discussão | 90 Além da caracterização da sinalização celular, os perfis de metilação global genômica também foram comparados entre as subpopulações ALDHint e ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA, além da ALDHhigh isolada de doadores saudáveis. Nossos dados sugerem que o perfil de metilação possibilita a distinção entre subpopulações celulares enriquecidas em células-tronco normais e leucêmicas, de acordo com os critérios adotados nesse estudo. Na comparação entre células ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA e de doadores saudáveis, observou-se que relativamente poucos genes estavam diferencialmente metilados. As análises de PCA e o agrupamento hierárquico reforçaram as similaridades existentes entre estas subpopulações. Por outro lado, na comparação entre células ALDHint isoladas de pacientes com LMA e células ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis, não se observou uma clara distinção entre amostras normais e leucêmicas com base nos perfis de metilação. Embora a maioria das amostras leucêmicas tenha formado um grupo distinto das amostras normais, duas amostras leucêmicas (P2 e P13) apresentaram perfis de metilação relativamente semelhantes ao apresentado pelas células de doadores saudáveis. Além disso, os genes diferencialmente metilados nas LIC em comparação com as CTH estão relacionados a processos biológicos que conferem vantagens na sobrevida e mecanismos de resistência à terapia. Na subpopulação celular ALDHint, detectou-se hipometilação nas regiões promotoras de genes relacionados à inibição da apoptose (BCL2), remodelamento da matriz extracelular e formação de colágeno (COL2A1, COL9A2/3), receptores do tipo tirosina-quinase (ERRB2, ABL1), controle do ciclo celular (E2F, CDKN2A, EP300, EP400), resistência a múltiplas drogas (ABCB10, ABCC8, ABCD3, ABCD4), proteínas das vias MAPK (MAPK 3/8/11/12/13) e do VEGF (PIK3R1, PP3CA, PPP3CC, NFATC2/4). Entre os genes hipermetilados nas células ALDHint em comparação com as CTH normais, estão genes que codificam transportadores do tipo ATP-binding cassette (ABCD2/3), além de genes envolvidos na formação de colágeno e da matriz extracelular (LAMA3/5, COL8A2, COL9A2, FGF4/19), fatores pró-apoptóticos (BAD, BID), E-caderina (CDH1) e proteínas envolvidas na sinalização do ácido retinoico e resistência a drogas (ALDH1A3). As diferenças entre os metilomas das subpopulações estudadas indicam que as células ALDHint apresentam alterações epigenéticas associadas ao desenvolvimento e manutenção de neoplasias. Estas alterações sugerem uma base Discussão | 91 molecular para as diferenças funcionais observadas entre células ALDHhigh e ALDHint. Os resultados de regulação da expressão gênica estão alinhados com os de sinalização celular, como evidenciado pela detecção de maiores níveis basais das formas fosforiladas de Stat3 e de Erk1/2 nas LIC, quando comparadas às CTH, e de hipometilação no gene STAT3 e em genes da via MAPK. Entretanto, os diversos mecanismos regulatórios compreendidos entre a informação contida no DNA e a expressão de proteínas não permitem inferir que haja uma correlação direta entre os resultados obtidos por ERRBS e fosfo-flow. Uma maior compreensão a respeito da interação entre mecanismos epigenéticos e sinalização celular se faz necessária. Dada à natureza reversível das modificações epigenéticas, nossos dados reforçam a potencial relevância do perfil de metilação das células-tronco leucêmicas para finalidades terapêuticas. Nossos resultados sugerem a potencial aplicabilidade do método fosfo-flow para detecção de DRM na LMA, sobretudo nos casos em que não há marcador genético específico para ser rastreado ou expressão aberrante de antígenos detectável por imunofenotipagem. Além disso, a demonstração da ocorrência de sinalização celular aberrante nas LIC identifica alvos em potencial para intervenção terapêutica. 6 CONCLUSÕES Conclusões | 93 • As subpopulações celulares CD34+CD38-ALDHhigh e CD34+CD38-ALDHint podem ser diferenciadas pelo perfil de sinalização celular na ausência de estímulo externo e em resposta ao estímulo com G-CSF e SCF; • A subpopulação celular CD34+CD38-ALDHint, enriquecida em LIC, apresenta perfil de sinalização celular distinto do apresentado por células-tronco de medula óssea normal; • Os metilomas das células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de pacientes com LMA conservam similaridades nos padrões de metilação com células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis. • Não se observou uma clara distinção entre células CD34+CD38-ALDHhigh isoladas de doadores saudáveis e células CD34+CD38-ALDHint, isoladas de pacientes com LMA, com base nos perfis de metilação global genômica. Entretanto, a subpopulação CD34+CD38-ALDHint apresentou DMC em genes que desempenham um papel no desenvolvimento e manutenção do câncer, bem como na resistência à quimioterapia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Referências Bibliográficas | 95 1. Estey E, Döhner H. Acute myeloid leukaemia. Lancet [Internet]. 2006 Nov 25;368(9550):1894–907. 2. Löwenberg B, Downing JR, Burnett A. Acute myeloid leukemia. N. Engl. J. Med. [Internet]. 1999 Sep 30 [cited 2014 Jan 16];341(14):1051–62. 3. Sandler DP, Ross JA. Epidemiology of acute leukemia in children and adults. Semin. Oncol. [Internet]. 1997 Feb [cited 2014 Jan 16];24(1):3–16. 4. Irish JM, Hovland R, Krutzik PO, Perez OD, Bruserud Ø, Gjertsen BT, et al. Single Cell Profiling of Potentiated Phospho-Protein Networks in Cancer Cells. 2004;118:217–28. 5. Steffen B, Müller-Tidow C, Schwäble J, Berdel WE, Serve H. The molecular pathogenesis of acute myeloid leukemia. Crit. Rev. Oncol. Hematol. [Internet]. 2005 Nov [cited 2014 Jan 16];56(2):195–221. 6. 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