mudanças na legislação no transporte rodoviario de cargas: estudo

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mudanças na legislação no transporte rodoviario de cargas: estudo
MUDANÇAS NA LEGISLAÇÃO NO TRANSPORTE
RODOVIARIO DE CARGAS: ESTUDO DE CASO
Silvio Antonio dos Santos1
Carina Panke da Silva2
RESUMO
Atualmente a logística exerce um papel de grande importância na cadeia produtiva
do país. Este estudo tem por objetivo estudar as mudanças no transporte
ocasionadas pela lei 12.619/2012. A procura por serviços com baixo custo e melhor
qualidade vem forçando os gestores a desenvolverem métodos de melhor alocação
de recursos e a otimização dos sistemas de transporte, com o objetivo de atender os
requisitos de seus clientes em conformidade com a legislação. Para alcançar os
objetivos propostos foram realizados estudos na legislação focados nos impactos da
rotina da empresa, após a implantação da lei, o qual provocou mudanças
significativas no procedimentos internos. Conclui-se que são necessários estudos
mais aprofundados sobre o assunto para que se encontre a melhor solução tanto
para o prestador de serviço de transporte quanto para o cliente.
Palavras chave: Logística, Transporte, Legislação
ABSTRACT
Currently logistics plays an important role in the country supply chain. Due to this, the
aim of this study is to analyze the changes occurred by the implementation of
legislation 12.619/2012.The demand for lower cost and better quality products and
services have been pushing the managers to develop methods for a better allocation
of resources and optimize transport systems, in order to satisfy customer
requirements in accordance with legislation. In order to reach the proposed
objectives, studies of the legislation were made focusing on the impacts on the
company routine since the implementation of the legislation that was responsible for
relevant changes at the internal company procedures. We conclude that thoroughly
studies will be necessary about this subject to find a better solution either to road
haulage companies and customer.
Key - Words: Logistic, Transport , Legislation
1 Introdução
Logística é a parte do gerenciamento da cadeia de abastecimento que planeja
programa e controla o fluxo de armazenagem de modo eficiente e econômico de
materias primas, semi-acabados e produtos acabados desde a origem até o
1
2
Graduando em Administração de Empresas pela Faculdade Dom Alberto
Professora da Faculdade Dom Alberto
2
consumidor final. Segundo Novaes (2007), ela agrega valor de lugar, de tempo, de
qualidade e de informação a cadeia produtiva, também elimina do processo tudo que
não tenha valor para o cliente, tudo que acarrete aumento de custos e perda de
tempo. É de extrema importância porque de alguma forma, nenhuma empresa pode
operar sem movimentar seus insumos e produtos acabados.
Proveniente das operações militares nasceu da necessidade de transportar,
armazenar e distribuir recursos necessários aos locais de combate durante a
segunda guerra mundial, após este período com o avanço tecnológico e a
necessidade de reconstruir os locais destruídos, a logística passou a ser utilizada
pelas organizações e empresas civis. Atualmente possui uma visão organizacional
holística onde administra os recursos materiais, financeiros e pessoais onde existe
movimento na empresa, gerenciando a compra e entrada de materiais, planejamento
de produção o armazenamento e distribuição física dos produtos, monitorando as
operações e gerenciando informações.
Com a globalização e o consequente aumento do consumo no País, uma das
formas encontradas de reduzir custos pelas empresas foi a migração para
terceirização dos serviços logísticos, visando alcançar uma melhor qualidade do
nível de serviço através da experiência da contratada, e através desta obter maior
flexibilidade de tempo para se dedicar exclusivamente a sua atividade principal.
Aliado a isso, transporte representa o elemento mais importante do custo logístico
na maior parte das empresas. Ao mesmo tempo em que o mercado global oferece
mais oportunidades, surge naturalmente uma maior competição entre as empresas.
Com as facilidades de comunicação e processamento de dados, a maior
preocupação das prestadoras de serviço de transporte de cargas é reduzir ao
máximo seus custos para se adaptar as exigências do mercado.
O trabalho tem por objetivo conhecer quais os maiores desafios de
gerenciamento logístico de uma empresa de transporte rodoviário de cargas.
Especificamente analisar os impactos de maior relevância da lei 12.619/2012 no
desempenho econômico financeiro da empresa.
Neste sentido, os objetivos específicos são:
- Realizar estudos da legislação do transporte rodoviário de cargas;
- Identificar quais os requisitos da norma são relevantes e encontrar meios de
atendê-la na sua totalidade de acordo com a meta de redução dos custos
operacionais da empresa.
3
- Sugerir medidas de adequação as regras de transporte de cargas visando
desenvolvimento da empresa.
Desta forma, quais as conseqüências da limitação do tempo de direção dos
caminhoneiros geradas pela implementação da lei 12.619/2102 ocasionadas para as
transportadoras e os motoristas?
A lei que esta em vigor desde junho do ano passado, vem exigindo muita
atenção e um grande esforço por parte dos envolvidos em transporte de cargas para
adaptação as novas regras. Com as modificações realizadas tanto na consolidação
das leis do trabalho (CLT) quanto no Código Brasileiro de Trânsito (CTB), os
empregadores e motoristas devem seguir uma série de regras para não incorrer em
multas e punições. Até então os empregadores utilizavam o art. 62 da CLT para
encaixar a função destes empregados. Esse item se refere aos trabalhadores que
exercem suas funções externamente sem a necessidade de um controle de jornada.
A partir da implantação do controle do tempo dos motoristas, os
empregadores passaram a entender que, cumprindo a lei, teriam uma elevação nos
custos operacionais ocasionados pela perda de produtividade dos caminhões
provocados pelos intervalos obrigatórios, o que justifica o presente estudo.
2 Referencial teórico
2.1 Logística
A globalização e o crescimento da economia no cenário atual, motivou o
aumento da procura por produtos e serviços de qualidade a um preço acessível aos
consumidores . As organizações passaram a perceber a necessidade de utilizar os
recursos da logística nos processos de produção, a fim de se adaptar a esta nova
realidade visando à satisfação dos clientes e sua permanência no mercado.
Conforme Novaes (2007), antigamente as operações logísticas eram consideradas
atividades de apoio. Vista pelos executivos como uma atividade sem valor para o
produto final, apenas um centro de custo sem maiores implicações estratégias e de
geração de negócios. Já a definição Council of Supply Chain Management
Professionals norte-americano
4
Logística é o processo de planejar, implementar e controlar de
maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem
como os serviços e informações associadas,
cobrindo
desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o
objetivo de atender aos requisitos do consumidor (NOVAES,
2007, p.37).
A palavra logística possui um significado na historia da evolução da
administração em vários processos que abrangem esta área. Nas mesmas
circunstancias que possui um significado também possui conceitos que foram
evoluindo com o passar do tempo, com ênfase ao que refere a avanços
tecnológicos.
O conceito de logística, na sua origem estava diretamente ligado as
operações militares. Ao decidir avançar as suas tropas seguindo uma determinada
estratégia militar, os generais precisavam ter, sob suas ordens, uma equipe que
providenciasse o deslocamento, na hora certa, de munição, víveres, equipamentos e
socorro medico para o campo de batalha. Por se tratar de um serviço de apoio, sem
o glamour da estratégia bélica e sem o prestigio das batalhas ganhas, os grupos
logísticos trabalhavam sempre em silêncio (NOVAES, 2007, p.31).
Devido a amplitude do termo logística, a mesma se mostra inserida em todas
as áreas da empresa, ou seja, não esta centralizada em apenas um departamento,
com isso promove a interação de vários departamentos da empresa na troca de
informações. A partir do momento que o cliente resolve adquirir uma mercadoria ou
serviço é que a logística tem inicio na organização, começando assim um fluxo entre
os setores da empresa com o objetivo final de prestar um atendimento de qualidade
a este cliente.
De acordo com Ballou (1993,p.24) a logística trata de todas as atividades de
movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de
aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de
informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de
providenciar níveis de serviços adequados aos clientes a um custo razoável.Com
isto, é de suma importância a implantação de um sistema logístico nas empresas,
pois tem a finalidade de proporcionar aos seus clientes bens e serviços de melhor
qualidade. Pois este é objetivo da logística, satisfazer os clientes através de suas
atividades coordenadas e as organizações através de seus procedimentos de
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redução de custos, devido ao detalhado controle das etapas do processo de
produção.
A logística começa pelo estudo e a planificação do projeto ou do processo a
ser implementado. Uma vez planejado e devidamente aprovado, passa-se a fase de
implementação e operação. Muitas empresas acham que o processo termina aí. Na
verdade, devido à complexidade dos problemas logísticos e à sua natureza
dinâmica, todo sistema logístico precisa ser constantemente avaliado, monitorado e
controlado (NOVAES, 2007, p.36). A logística pode proporcionar o alcance da
manutenção de uma posição de excelência sobre a concorrência determinada pela
preferencia dos clientes. O cenário econômico brasileiro obriga as organizações a
criar mecanismos que lhes posicionem a frente de seus concorrentes. Todavia, na
maioria das vezes o simples acompanhamento das tendências de mercado e das
mudanças tecnológicas, não são medidas suficientes para que se atinjam este
objetivo. Também são necessários atenção especial para seus aspectos internos,
identificando seus pontos fortes e fracos e avaliando as atividades que compõem
sua cadeia de valor.
Neste contexto Cristopher (1997) salienta que logística é uma das atividades
econômicas mais antigas e ao mesmo tempo um dos conceitos gerenciais mais
modernos.
Os
procedimentos
de
estocagem,
armazenagem
e
transporte
considerados como as três funções de maior importância, surgiram por meio de
troca de produção excedente entre os produtores. Nesse sentido a logística esta
associada ao surgimento da atividade econômica organizada, e vem se destacando
como forma de gerencial do momento, visto que devido as constantes mudanças da
economia criam-se mercados mais competitivos, forçando as organizações a um
gerenciamento de suas operações de modo a permanecer ativos no mercado.
Para que tal procedimento ocorra de forma satisfatória é importante que as
empresas implantem meios de medir e analisar o seu desempenho logístico. O
objetivo de tal procedimento é o de desenvolver um melhor planejamento e controle
organizacional através de indicadores que registram tempo, custo, nível de serviço,
possibilitando
assim
um
comparativo
entre
os
resultados
e
as
metas
preestabelecidas. Visando um equilíbrio entre demanda de mercado e a visão
sistêmica da organização principalmente no que se refere a redução de tempo
ocioso e desperdícios.
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Sink (1985) desenvolveu um trabalho bastante adequado para a definição de
atributos para o processo de medição de desempenho no qual ele define pelo
menos sete medidas que podem ser analisadas e comparadas por qualquer
empresa e demonstrar o desempenho obtido como resultado. Conforme exemplo:
- Eficácia, grau no qual os processos atingem seus objetivos finais;
- Eficiência, grau no qual a empresa utilizou devidamente seus recursos;
Qualidade, grau que a organização atende as necessidades e expectativas de seus
clientes.
- Lucratividade, relação entre a receita total e o total dos custos, quanto
menores forem os custos, maior será a lucratividade;
- Produtividade, relação entre quantidade de entradas e saídas de um mesmo
sistema;
- Qualidade de vida no trabalho, forma com que os participantes que
interagem com o ambiente o percebe; - Inovação, processo pelo qual surgem novos
produtos ou serviços melhores e mais funcionais. Pode ser tanto externo, um
benefício para os clientes, quanto internos, como uma melhoria nos processos de
desenvolvimento de produtos ou serviços que beneficia os próprios funcionários.
A finalidade da analise é auxiliar na definição das metas de desempenho para
o transporte de cargas juntamente com o controle de estoques e tecnologia da
informação, que são a base de sustentação da logística, apresentando suas
características e as varias formas de interpretação.
Atualmente existe duas formas para efetuar a analise, uma delas é
monitoração de dados coletados que visa acompanhar comportamentos e
comparação com metas preestabelecidas e realizar ações para modificar o seu
comportamento e por consequência os resultados. De um modo geral, direcionar as
ações para resultado satisfatório é o objetivo principal das empresas para se
manterem no concorrido mercado.
2.2 Transportes
O transporte é definido como um elo essencial entre a expedição da empresa
e o cliente. Reúne as matérias-primas para a produção de commodities
comercializáveis e distribui os produtos da indústria no mercado (Ballou, 1993). O
transporte rodoviário de cargas teve seu desenvolvimento rapidamente desde o fim
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da segunda Guerra Mundial. De acordo com Ballou para a maioria das empresas, o
transporte é a atividade logística mais importante, sendo responsável por um ou dois
terços do total dos custos relacionados a ele. E de grande importância porque
nenhuma empresa consegue operar sem movimentar suas materias primas e seus
produtos acabados. O transporte tem sido utilizado para disponibilizar produtos onde
existe demanda em potencial, dentro do prazo adequado as necessidades do
comprador. Mesmo com os avanços tecnológicos que permitem a troca de
informações em tempo real, o transporte continua sendo fundamental para que
sejam atingidos os objetivos logísticos, que são produto e quantidade certos, no
horário e local certo, ao menor custo possível. A importância dos modais de
transporte varia conforme o tipo de carga a ser transportada e pela vantagem própria
do modo. O modo rodoviário é utilizado para transportar a maior parte dos produtos
manufaturados, embora seja considerado viável apenas para curtas distancias,
devido ao custo do frete. A maior vantagem do transporte rodoviário, esta na
facilidade de chegar a qualquer ponto do território nacional, com exceção de poucos
locais. Os caminhões possuem esta flexibilidade porque são capazes de operar em
vários tipos de rodovias e seu custo de aquisição é considerado relativamente baixo
se comparado com outros modais, é considerado o meio de transporte mais
adequado para distribuição de pequenos volumes.
A empresa pode possuir frota própria ou contratar serviços de terceiros. A
frota própria possibilita um melhor proveito do desempenho operacional, maior
disponibilidade e capacidade de transporte e menores custos, porém parte da
flexibilidade financeira precisa ser conduzida a investimentos na capacidade de
transporte ou num arranjo contratual a longo prazo. A decisão pela obtenção de frota
própria depende do volume de carga, e se este for elevado, compensa
economicamente possuir o meio de transporte. Em algumas situações, mesmo com
custos maiores, a empresa pode necessitar de frota própria, pelos seguintes
motivos:
(1) entrega rápida com confiabilidade muito elevada; (2) equipamento
especial geralmente indisponível; (3) manuseio especial da carga e (4) um serviço
que deve estar disponível assim que necessário (BALLOU, 2007, p.20).
No Brasil, o sistema de transportes rodoviários é regulamentado e fiscalizado
pela ANTT, que tem como atribuições específicas a promoção de estudos e
levantamentos relativos à frota de caminhões, empresas constituídas e operadores
autônomos de transporte rodoviário de cargas. Também é função da ANTT
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organizar e manter um registro nacional de transportadores rodoviários de carga.
Com as inovações tecnológicas, a ANTT estuda a viabilidade de criar um sistema de
registro virtual que incrementara o acesso dos transportadores com maior
comodidade para inscrição dos mesmos no Registro Nacional de Transportadores
de Cargas, registro este obrigatória à atividade de transporte rodoviário de cargas.
O Setor de transportes rodoviários não esta livre de problemas. As principais
dificuldades relacionam-se ao aumento do custo de reposição de equipamentos,
manutenção, segurança, falta de motoristas treinados, regulamentação do horário de
trabalho dos motoristas entre outros. Consonante com estes problemas, a
Confederação Nacional do Transporte (2002) fez um estudo e publicou uma obra
literária com extensa pesquisa sobre o TRC fazendo um apurado diagnóstico do
sistema de transporte brasileiro e, juntamente uma proposta de plano de ação para
ajudar nas soluções dos problemas do setor, como também para alavancar
oportunidades de melhoria da eficiência e da qualidade dos serviços prestados pelo
segmento. Segundo este levantamento da Confederação Nacional do Transporte
(2002), o setor vem convivendo por vários anos com problemas que tem influenciado
de forma negativa o resultado do desempenho das empresas. Muitos já conhecidos,
mas faltava um estudo que identificasse suas causas e tamanho dos problemas.
De acordo com o levantamento, foram identificados e selecionados os itens
de maior relevância e após
criado um plano de ação
conforme o nível de
significância, visando atacar as causas e atenuar o impactos negativos nos
resultados esperados. Prosseguindo com os levantamentos a CNT afirma uma
análise do setor tem que ser completa e abrangente, devem ser analisados tanto os
aspectos econômicos quanto os sociais. Considerando os itens relacionados as
economia de energia, meio ambiente e segurança.
Ainda conforme o estudo, visando a manutenção da qualidade e eficiência no
setor, o mesmo foi comparado com estudos internacionais tomando por base países
com características geográficas semelhantes a do Brasil. Foi concluído que as
divergências encontradas no Pais exercem um efeito de frenagem sobre a
economia. Comparou com um exemplo se estivem dentro de um carro com o freio
de mão puxado. Conforme o relato a produtividade do setor de transportes, esta
bem abaixo da media nacional, ficando a frente de somente dois setores que são
varejo e processamento de alimentos.
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Entre os problemas levantados estão as condições criticas das rodovias
pavimentadas por motivo da falta de investimentos e pouco caso das autoridades
governamentais. Outro problema que tem aumentado nos últimos anos é o roubo de
cargas, baixo valor dos fretes que tem originado vários problemas para os
transportadores e embarcadores e a sociedade como um todo. Analisando todos
estes obstáculos, nota-se a necessidade de um plano entre governantes e órgãos
ligados a cadeia de transportes no sentido de solucionar as questões levantadas,
evitando assim a um possível aumento dos prejuízos já existentes a sociedade.
3 Metodologia
O trabalho foi realizado através da metodologia de estudo de caso numa
empresa prestadora de serviços de transporte rodoviário de cargas, situada em
Santa Cruz do Sul. Foi utilizado como base, fontes primarias e arquivos da própria
empresa, por meio de reuniões com proprietários e funcionários
sobre os
procedimentos da legislação na sua rotina de trabalho no sentido analisar e sugerir
melhorias focando a redução do tempo perdido na carga e descarga dos caminhões,
e como consequência a redução de custos.
4 Descrição, análise e discussão dos resultados
Passados 11 meses da implantação da nova legislação, ainda persistem
muitas duvidas com relação a sua interpretação e aplicação. A empresa enfrenta
diariamente problemas de definição e a maneira economicamente viável entre os
seus procedimentos a fim de atender as exigências do contrato, quanto ao
cumprimento de horário de coleta e entrega, incluindo a preservação da integridade
dos produtos transportados.
Entre as questões pendentes se encontram o controle do tempo de direção
dos motoristas, relacionada às longas distâncias a serem percorridas pelos
motoristas. Muitas vias não possuem locais adequados e seguros para a realização
do intervalo de descanso conforme exigência do artigo 9 da lei.
Outro fator de grande importância diz respeito ao tempo de espera que é
motivo de dupla interpretação pelos motoristas e transportadores. Parte da categoria
entende que tempo de espera é após a jornada de trabalho, outros entendem que é
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período que o veiculo permanece estacionado no pátio dos clientes aguardando a
chamada para carga e descarga no período de expediente.
Com relação às dificuldades enfrentadas pela empresa a de maior
significância é o preço do frete. Conforme o administrador houve um acréscimo no
custo do transporte a partir da implantação da nova lei a ampliação no quadro de
funcionários para efetuar a conferencia dos diários de bordo preenchidos pelos
motoristas.
Considerando a redução do faturamento por veiculo, devido às paradas para
descanso, estendeu o tempo de entrega dos produtos transportados e como
consequência redução de viagens por veículo, que ocasiona um aumento também
nos custos do transporte.
A partir de janeiro deste ano o valor do frete foi reajustado, mas conforme o
dirigente, comparando o percentual oferecido pelos embarcadores com a diferença
acrescida nos custos operacionais, chega-se a conclusão de que o aumento não foi
o suficiente para cobrir tais despesas. Com isso encolheu a margem de lucro da
empresa.
Diante
dessas
circunstancias,
aumentam
as
dificuldades
de
novos
investimentos como renovação da frota e demais investimentos, como treinamento
de pessoal e outros, que se não forem bem administrados poderão impactar de
forma negativa na qualidade dos serviços oferecidos pela empresa.
Ainda conforme o administrador, para se manter competitivo no cenário atual
é necessário um esforço maior para se adequar a lei e ao mesmo tempo atender
seus clientes, destacando como o maior desafio para os gestores a manutenção do
equilíbrio entre duas importantes variáveis que são: custo e nível de serviço porque
com a obrigatoriedade do cumprimento da lei os motoristas não podem trabalhar por
mais de oito horas, independente se estava conduzindo o veiculo ou não, podendo
se estender por mais duas horas, que serão considerados horas extras.
Com isso aumenta o tempo do transporte, ocasionando aumento no valor do
frete e este custo o contratante do serviço não esta disposto a pagar.
Na empresa estudada que atualmente concentra suas atividades no
transporte do tabaco in natura das filias de compra de Santa Catarina e Paraná para
as fábricas de Santa Cruz do Sul- RS, e após a industrialização nas empresas o
produto acabado destinado à exportação é transportado em contêineres até o porto
de Rio Grande. Nas duas situações o frete é pago pelas indústrias, porém a
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empresa não se responsabiliza por eventuais perdas e danos nos produtos
transportados, como por exemplo tabaco molhado, embalagens danificadas com isto
a empresa transportadora assume a reponsabilidade de proteção da carga. E para
atender a demanda no período de safra a empresa além da sua frota própria
contrata terceiros autônomos.
No gerenciamento de transporte de containers o maior entrave para as
transportadoras, a partir da implantação da nova lei do motorista, esta relacionado
ao tempo de espera compreendido desde a chegada do veiculo no cliente até
liberação para viagem e o mesmo ocorre na troca do container cheio pelo vazio no
terminal do porto. Na visão do administrador falta um planejamento dos
embarcadores no sentido de estabelecer critérios para diminuir o tempo
ocioso
entre a chegada e liberação do veiculo no pátio da empresa.
Isto ocorre porque o transporte de container possui características diferentes
dos outros tipos de transportes, como exemplo carga fracionada e lotação. A
principal distinção esta no elevado numero de horas paradas necessárias para
completar o ciclo de uma viagem de ida e volta de um container entre Santa Cruz e
o porto de Rio Grande. Conforme art. 235-C paragrafo 8 da norma são considerados
tempo de espera às horas que excederem a jornada normal de trabalho do motorista
de transporte rodoviário de cargas que ficar aguardando para carga ou descarga no
embarcador ou destinatário ou para fiscalização da mercadoria transportada em
barreiras fiscais ou alfandegarias, não sendo computadas com horas extraordinárias.
Com a finalidade de reduzir estes intervalos de espera durante o processo de
carga e descarga dos caminhões, um plano detalhado com estimativa de tempo
para cada atividade.
Exemplo de transporte para cumprimento da jornada de trabalho dos
caminhoneiros, entre Santa Cruz e Rio Grande.
1ª situação: retirada do container vazio em Rio Grande
O ciclo inicia em Rio Grande no levante do container vazio no terminal do
porto, mediante agendamento pelos transportadores. O procedimento deve ser
realizado no dia anterior a data do carregamento no embarcador.
Considerando a saída do Porto às 08:00 h, o horário previsto para chegar em
Santa Cruz será 17:30, tempo estimado de viagem é em torno de 6 horas, mais 1
hora para almoço, e mais 30 minutos do descanso obrigatório. Neste caso encerrou
a jornada de trabalho deste motorista, conforme determina a lei após a jornada de 8
12
horas o condutor
deve fazer o intervalo de repouso por 11 horas, voltando as
atividades somente no dia seguinte depois de ter obedecido este intervalo.
2ª situação: carregamento da mercadoria no embarcador
No momento que o motorista da à partida no caminhão inicia a nova jornada,
e começa contar o tempo de deslocamento da transportadora até pátio da empresa
embarcadora, considerando a chegada na empresa às 7:30 h, o tempo estimado
para vistoriar e carregar o veiculo é de 1 hora e mais 30 minutos para emitir e liberar
os documentos necessários para o transporte. Concluído este processo o motorista
esta pronto para seguir viagem de 6 horas até o terminal containers no porto de Rio
de Grande. Seguindo o exemplo considerando a saída às 9 horas a previsão de
chegada será às 16 horas no terminal, já incluído o repouso de 1 hora de intervalo.
De preferencia que seja possível efetuar a troca do container cheio pelo vazio ainda
no mesmo dia, assim encerrando o turno de trabalho do condutor com um container
vazio, para iniciar a jornada do dia seguinte.
Na opinião dos envolvidos no processo, se tivesse um cronograma de
estufagem por ordem de chegada no cliente embarcador, iria proporcionar melhores
condições de programação de ordem coleta na transportadora, e como
consequência redução do tempo perdido e otimização da frota própria.
No entanto, atualmente os embarcadores recebem uma planilha, onde consta
informações dos motoristas e placa dos veiculo, documento enviado pelo próprio
transportador. O carregamento ocorre conforme a chegada dos mesmos na
empresa, mas o tempo de espera até a saída com a carga é muito longo, tem
situações em que o veiculo leva em torno 5 horas para receber os documentos para
seguir viagem. Neste caso o mesmo motorista que chegou com o caminhão na
empresa não tem mais tempo hábil para seguir viagem até o terminal do porto.
Uma das medidas tomadas pela transportadora para compensar este tempo é
o contrato com motoristas autônomos.
Outra forma de contornar esta barreira seria a destinação de um único
motorista para estacionar e retirar os caminhões das docas de estufagem, e
somente no momento que os documentos já estivem prontos é que viriam os
motoristas para seguir viagem, neste caso a jornada de trabalho vai iniciar com a
carga pronta e com tempo suficiente para efetuar a troca do container cheio pelo
vazio no porto de Rio de Grande. Modo adotado para melhor otimização da frota
própria visando a redução de custos e a manutenção do faturamento da empresa.
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5 Considerações Finais
Este trabalho teve como finalidade identificar os maiores desafios enfrentados
por uma transportadora de médio porte, entre eles o impacto com a implantação da
nova lei 12.619 de 30 abril de 2012 nas atividades operacionais da empresa. A nova
legislação foi implantada com o objetivo de limitar o tempo de direção dos motoristas
empregados, a qual foi motivo de uma mudança radical nos procedimentos da
empresa no sentido de se adaptar as novas regras da legislação. Sendo funcionário
de uma empresa contratante de serviços de transporte, por meio deste trabalho tive
a oportunidade de vivenciar esta adequação do prestador de serviços, o modelo de
administração empregado para atender as exigências dos clientes e respeitando os
limites impostos pela nova legislação.
A base da coleta de dados foi através de visita técnica, banco de dados e
arquivos internos da empresa. Neste sentido foi considerado o tempo de espera
para carga e descarga nos embarcadores o ítem de maior impacto na planilha de
custos da empresa.
O contrato de terceiros, pessoa jurídica esta sendo no momento uma alternativa
para aumento da frota nos períodos de alta demanda e ao mesmo tempo uma forma
de redução de custo nos períodos de baixa demanda.
Considera-se ao fato de que este trabalho teve suas limitações devido ao pouco
tempo disponível para deslocamento até empresa estudada e pouco material
bibliográfico disponível para pesquisa por motivo de ser assunto novo relacionado a
transporte de cargas no País.
Tema para futuros estudos se refere as alterações na legislação, que estão
previstas para o próximo ano, representantes de vários segmentos dos transportes,
estão pressionando os responsáveis pela implantação da norma, no sentido de
reduzir o intervalo de descanso e outros itens relacionados melhoria nas rodovias
que foram vetados pela presidente. O resultado desta reavaliação da lei poderá
ocasionar novas mudanças no setor de transportes, gerando um novo assunto para
continuidade deste trabalho.
REFERÊNCIAS
BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial, Transportes, Administração de Materiais
e distribuição Física: 1 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
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BOWERSOX, D. J.; D. J Closs e M. B. Cooper. Gestão logística da cadeia
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HARA, Celso Minoru. Logística Armazenagem, distribuição e trade marketing: 1ed.
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