Um resumo de nossa história Símbolos do município

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Um resumo de nossa história Símbolos do município
Um resumo de nossa história
uando os jesuítas trazem para esta região
índios já reciclados pela fé cristã, para
estabelecer uma estância ao pé da Serra
de Santa Tecla é que praticamente começa a história de Bagé.
Missões espanholas, entretanto, desprezando o Tratado de Madri, avançam tanto que, em 1773, se estabelecem no que chamaram de Forte de Santa Tecla. O Rio Camaquã e quase todo
arroio Quebracho voltam ao domínio português seis meses
depois, quando Pinto Bandeira e seus soldados expulsam os
espanhóis do forte. Os espanhóis invasores são encurralados
na Serra do Aceguá, de onde partem escaramuças que se estendem Uruguai adentro, o que não agradava o reino português, com sua fronteira sempre a perigo.
Cumprindo ordem, Dom Diogo de Souza instala seu
exército ao pé dos cerros de Bagé e seu destino é a banda
oriental onde irá concentrar esforços na paz, mesmo que tenha que ser conquistada pelas armas. Isto já é 1811. Aqui
acampou período maior do que pretendia, diante de mau tempo de chuva e frio que atrasou a marcha.
Em 14 de julho do ano de 1811, ordenou um recenseamento em seu exército, colhendo dados precisos de viaturas,
cavalos, armamento, mantimentos e homens disponíveis em
condições de combate. Com esses dados escolheu os grupos.
Letra e Música:
Roberto Madureira Burns
O que partiu ao seu comando e
o que aqui ficou, sob a chefia
do comandante da Guarda de
São Sebastião, tenente Pedro
Fagundes de Oliveira, com ordem expressa de resguardar e
desenvolver o núcleo habitacional, na maioria integrado por
familiares dos militares.
Era o dia 17 de julho de
1811. Nascia aí a povoação de
Bagé que cresceu, se transferiu
para um local mais alto, poucos
quilômetros ao leste, para onde
mudou sua capela. Durante o decênio farroupilha seu território
Dom Diogo de Souza
foi ocupado por legalistas e rebeldes, nele se travando memoráveis combates. À beira do Rio Jaguarão foi proclamada a República Rio-grandense e em sua igreja, cujo padroeiro era São
Sebastião, foi celebrada a paz entre os brasileiros divididos.
Em 5 de junho de 1846, Bagé foi elevada a município e
sua Câmara de Vereadores foi instalada em 2 de fevereiro de
1847, isto é, em pouco mais de 35 anos Bagé tinha seu governo
ativo e legal.
Símbolos do município
Hino a Bagé
Bagé, Terra da Gente
Nas torres mais energia,
Na terra mais produção,
Mais alegria no povo,
No governo mais ação;
Mais escolas, mais saber,
Mais casas para morar,
Mais estradas a percorrer,
Mais hospitais para curar.
Bagé, terra da gente
Que ao progresso diz presente
Amanhã, futuro será
Temos pressa em chegar
Vamos participar e confiar.
Tem alegria no ar,
Tem de civismo lições,
Tem um povo a cantar,
Tem amor nos corações.
Bagé, terra da gente
Que ao progresso diz presente
Amanhã, futuro será
Temos pressa em chegar
Vamos participar e confiar.
Dos teus campos a linda verdura
Mostram a força, a grandeza, a pujança.
E na guerra demonstra bravura
O teu filho empunhando uma lança.
Ribombou no teu seio o canhão
Dos combates gravados na história.
Revivemos da glória a canção
Sons de sinos dobrando a vitória!
Para o futuro abrir caminho,
Formamos uma corrente,
Integrando com carinho
Bagé, a terra da gente.
Bagé, terra da gente
Que ao progresso diz presente
Amanhã, futuro será
Temos pressa em chegar
Vamos participar e confiar.
Letra: Hipólito Lucena
Música: Vitor Neves
Brasão
Estribilho: Em teu seio nasceram heróis
Que souberam honrar o Brasil.
A grandeza da Pátria contróis
Minha terra, Bagé, varonil.
Junto ao cerro das bandas do sul
Tu te estendes alegre garrida.
Minha terra de céu tão azul
Sentinela da Pátria querida!
És rainha sustentas a palma
De que tanto me orgulho e me ufano.
Retempero meu corpo e minh'alma
Ante o sopro feroz do minuano.
Dos índios, do forte e do 1° comandante
região de Bagé era
habitada pelos índios
Guenoas, Minuanos e
Charruas sendo de 1750 as primeiras
manifestações de civilização, quando
os jesuítas sediados nas missões enviaram alguns índios para cá, com a finalidade de pastorearem os gados selvagens desta região, onde se situava
o posto da Estância São Miguel.
Começou aí o grande trabalho
de pastoreio e de lida campeira junto
ao gado que existia aqui, resultando
nos currais de pedras, que ainda hoje
são notados em alguns estabelecimento rurais de menor desenvolvimento.
Vinte anos depois desses registros são detalhadas escaramuças de
invasão espanhola. Uma das mais fortes, a de 1773, comandada por Vertiz
Salcedo, resultou na construção do
Forte de Santa Tecla. Esse forte foi
tomado por Rafael Pinto Bandeira, à
frente do exército da coroa portuguesa, em 1776. Preocupado com as invasões espanholas, o império português decidiu povoar este território,
doando terras, as famosas sesmarias,
que originaram as primeiras estâncias de Bagé e da região.
Os 30 anos seguintes foram importantes para o assentamento de
mais portugueses que espanhóis já
aí aliados da coroa e para onde foi
mandado o exército de Dom Diogo
de Souza, até então aqui aquartelado. Antes de seguir para o seu destino, assinou o que é conhecida como
Ordem Promulgada número um.
Trata-se, talvez, do primeiro documento referente a Bagé, pois nele
nomeava seu comandante, o tenente
Pedro Fagundes de Oliveira e nele
constam as primeiras ordens rigidamente cumpridas, entre elas a de
Forte de Santa Tecla (representação)
O que teria sido a rendição dos espanhóis
transferir mais para cima a capelinha de São Sebastião, onde hoje está
a catedral de Bagé.
Um dos mais estudiosos e pesquisador do Forte de Santa Tecla foi
Tarcisio Taborda, advogado e professor que inspirou a comenda do Sindilojas que leva seu nome, em homenagem ao Forte de Santa Tecla, insígnia histórica de Bagé.
Ponte seca: um momento
história da ponte seca,
aquela que dava passagem aos trens que
saíam ou chegavam a Bagé e que
passa sobre a Avenida Presidente Vargas, começa bem antes de sua inauguração.
Em 1874 foi assinado um contrato que dotaria a viação férrea de
uma ligação por trilhos entre Rio
Grande e a cidade de Alegrete, passando por Bagé. O primeiro trecho
foi de Bagé para a zona suleste levando e trazendo carga para o porto de Rio Grande, já importante via
de escoamento da produção dos campos desta região. Ficou pronto em 2
de dezembro de 1884. Somente 13
anos depois ficou pronto o trecho que
ligaria Bagé a Alegrete, quando se
inaugurou Bagé-São Sebastião. Aí a
ponte seca, que possibilitava a passagem área dos trens sobre a avenida Presidente Vargas, para chegada ou saída da gare dos trens, começou a ser usada. Especificamente a ponte não teve inauguração alguma, pois ela integrava o trecho
que então teve ato inaugural.
Isso ocorreu em 20 de janeiro
de 1897, mas existe registro que a
ponte já havia sido usada por uma
composição férrea em 1896, exatamente em 28 de março.
Consta que a ponte seca foi projetada por Eugênio Oberst e executada por seu filho, engenheiro Carlos
Frederico Salton Oberst. Consta, também, que só de parafusos a ponte seca
consumiu três cargas de carroças.
Quando a estação férrea foi
transferida para Santa Thereza e
os trilhos deixaram de passar pela
zona urbana, toda a linha férrea
foi retirada, menos a ponte seca
Ontem: “ponte seca”, Rua Félix da Cunha
Hoje: um monumento, Avenida Presidente Vargas
que lá está, intacta, imponente e se
constituindo em um marco do passado de Bagé. E há de continuar,
tenhamos o progresso que tivermos,
pois ela é um símbolo do Bagé de
todos os tempos.
Na história de Bagé , então, a
ponte seca existe desde 1896, mas
com registro de inauguração em 20
de janeiro de 1897 conforme as pesquisas da historiadora Elizabeth Fagundes.
Ruas antigas de nomes novos
ó mesmo apurada pesquisa
de historiadores dedicados
encontra dados que indiquem como eram chamadas antes da
denominação oficial e atualizada as
ruas de uma cidade. São anotações
de descrições de fatos que passam
por isso, mesmo que rapidamente,
mas que indicam o caminho da pesquisa dos abnegados que escrevem
a história de Bagé.
Por exemplo, a Rua Santa Bárbara teve o nome trocado para homenagear o General Osório, que morou nela quando serviu ao exército,
em Bagé. A maioria dos nomes antigos e que foram trocados são de ruas
localizadas na zona sul da cidade,
pois foi lá que começou o núcleo urbano local.
Um outro exemplo, a Rua Maurity de hoje era Rua do Couto. A atual Barão do Amazonas era a mais pujante da cidade e nela se localizava a
maioria dos estabelecimentos comerciais, por isso, antes de Barão do Amazonas, foi a Rua do Comércio.
A maioria das ruas de Bagé ganhou novo nome, saindo do apelido
para nome oficial por decreto da Câmara de Vereadores. De Santa Clara
para General Neto; de Castanheira
para João Manoel e rua da Condessa
para Rua Conde de Porto Alegre.
Já em 25 de maio de 1883, outra leva de ruas teve os nomes trocados e oficializados, agora já mais ao
norte da parte antiga da cidade. Por
exemplo: de Rua Monteiro, para Rua
Dr. Penna; Rua Alegre para Rua Bento Gonçalves; Rua Direita para rua
Ismael Soares. Mesmo sem registro de
datas, a história conta que a Avenida Santa Tecla sempre ficou na saída da cidade. Antes do atual traça-
Avenida Sete de setembro esquina General Sampaio
Desfile estudantil na Avenida Sete de Setembro nos anos 20
do chamava-se Santa Tecla. A hoje
Avenida Presidente Vargas, que antes foi Rua Félix da Cunha, que da
Praça de Desportos para o leste mudou de nome. A Avenida João Telles
já foi Rua da Aurora e a pomposa e
bonita Marechal Floriano, uma das
mais largas da cidade, já se chamou
São Sebastião.
Na história de Bagé nem sempre as ruas tiveram o atual nome e
duas datas foram importantes na
mudança em massa. Isso ocorreu em
1870 e, depois, em 1883, conforme
pesquisa da historiadora bageense
Elizabeth Fagundes.
Ruas largas há mais de 150 anos
ossa cidade nasceu à
beira do arroio do chamado Passo do Príncipe, em volta, talvez, da
única rua de Bagé que nunca trocou
de nome, foi sempre a Rua do Acampamento. A cidade se expandiu dali
para a hoje praça da Catedral. Nesse caminho são mantidas, até hoje,
travessas estreitas do início das ruas
Barão de Triunfo e Sete de Setembro, passando pela Barão do Amazonas até o arroio que banha a parte leste da cidade.
A história conta que havia um problema sério perturbando o trânsito de
carretas nessa ruas. Elas não podiam
manobrar adequadamente nas esquinas e o novo ponto da igreja matriz
ficava em região muito alta. Daí duas
providências foram tomadas: rebaixar
a zona da igreja, hoje praça da Catedral, o que foi feito em 1850, obrigando que a partir daí as ruas fossem mais
largas, possibilitando, assim, as manobras das carretas, muitas puxadas por
quatro ou seis juntas de bois.
Data de 1862 o primeiro mapa
de Bagé, no qual os novos traçados
são observados. O pai do Marechal
Hermes da Fonseca, um agrimensor
chamado Hermes Ernesto da Fonseca, foi o primeiro a medir o perímetro urbano de Bagé e o oficializou
em 171 milhões e 450 mil braças quadradas, longe dos números de hoje,
mesmo usando igual sistema de medição. Quando o mapa foi confeccionado, por volta de 1873, Bagé tinha apenas 1.662 habitantes.
De 1857 para cá o arruamento
passou a considerar ruas mais largas. Até 1861, Bagé considerava perímetro urbano o trecho da praça da
Catedral ao cemitério. A partir daí o
Av. Sete de Setembro em 1922
arruamento de Bagé foi até a hoje
Rua José Otávio, já com suas ruas
bem mais largas. Engenheiro, contratado pela Intendência, Dr. Rebouças
foi o encarregado de vigiar e tratar
do arruamento, sempre observando
as vias, separadas por árvores cen-
trais, que originaram os canteiros divisores dos dias atuais. Nossa cidade passou a ter a maioria de suas
ruas largas e em duas vias, o que a
diferencia da maioria de outras, desde 1857, conforme pesquisa da historiadora Elizabeth Fagundes.
Transporte coletivo
história de Bagé registra que em 1910 já havia transporte coletivo na cidade. Era para ligação intermunicipal e sem nenhuma regularidade e ocorria somente quando um grupo
de pessoas estava disposto a viajar no mesmo dia e horário,
o que era decisão de comum acordo. Eram veículos pouco
maiores que um automóvel de passeio, geralmente para 12
passageiros. A viagem mais comum era para Melo, no Uruguai, para onde não havia nenhum serviço de trem.
Mas o transporte coletivo urbano, isto é, ligação entre
bairros e centro, tem registros de 1927, com o surgimento da
primeira linha urbana de ônibus. Foi implantado pela empresa Bispo & Arteche Ltda., com a primeira de suas viagens
ocorrida em 23 de janeiro de 1927. Ele percorria toda a extensão da Avenida Sete de Setembro, unindo as zonas sul e
norte, passando pelo centro da cidade e ligando a zona do
cemitério com a chamada chácara dos Arejanos, onde hoje é
a sede da AABB. Menos de um mês depois, dia 16 de fevereiro
do mesmo ano de 1927, foi inaugurada a segunda linha, utilizando um segundo carro-ônibus. Fazia a linha Santa
Thereza, Centro, São Martin.
Essa linha foi muito festejada e se constituía em passeio
para muita gente que ia conhecer a então desenvolvida Vila
de Santa Thereza e o novíssimo distrito de São Martin. A inauguração ocorreu em uma véspera de carnaval e a empresa
proprietária do ônibus trouxe, gratuitamente, os moradores
de Santa Thereza para o cortejo do carnaval, no centro da
cidade, o que foi uma festa para aquela comunidade. Como
se nota, as duas primeiras linhas de ônibus de nosso transporte coletivo permanecem até hoje, apenas com a diferença
que a ligação norte-sul não é mais feita pela Avenida Sete e
sim pela General Osório.
Na história de Bagé consta que a primeira linha regular de transporte coletivo da cidade foi em 23 de janeiro de
1927, conforme pesquisa do historiador bageense Cláudio
Lemieszek.
Primeiro “ônibus da Sete”, da firma Bispo & Arteche
1ª carteira de habilitação
do transporte coletivo
Ônibus da marca International em 1950
O primeiro apito de trem em Bagé
o domingo tivemos ocasião de percorrer a linha
dos trabalhadores e observamos detidamente todos os aterros,
grandes escavações e bueiros existentes. Notamos muitas curvas que deve
fazer a estrada de ferro devido à sinuosidade do solo. A ponte do Quebracho
já foi começada e toda a pedra que
deve ser empregada nessa obra já está
preparada e, até o final deste ano, ainda, teremos aqui a locomotiva que muito
concorrerá para o nosso progresso.
Essa notícia foi publicada no
dia 7 de fevereiro de 1884, na capa
do jornal O Cruzeiro do Sul, editado, na época, em Bagé.
A notícia dava uma ideia da importância da estrada de ferro para
Bagé, nos idos de 1884. Enquanto se
construía a base dos trilhos no campo,
aqui na cidade era construída a estação de passageiros e de cargas, no mesmo local onde hoje é o centro administrativo, na Praça Júlio de Castilhos.
Em 21 de agosto de 1884, o mesmo jornal noticiava que “a locomotiva se fez ouvir no Passo do Quebracho, ontem, a menos de três léguas de
distância desta cidade”. E dizia mais
o jornal. “Durante a semana entrante a linha férrea atravessará a chácara do major Manoel Soares da Silva, vindo do local Quebrachinho” Era
o acompanhamento da linha lesteoeste, que estava chegando.
Quando a linha férrea começou
a chegar aqui, aumentou a população com dezenas de empregados que
passaram a residir sob as ordem da
viação férrea. Até que chegou o dia
da inauguração.
Em 2 de dezembro de 1884, ao
final da tarde, envolto em fumaça e
apitos, despontou, na curva do 21,
em direção à estação férrea do centro da cidade, o primeiro comboio. Um
Modelo de locomotiva da época
Estação ferroviária inaugurada em 1884
trem de passageiros trazendo as autoridades, saudadas na gare com banda de música e foguetes. Bagé estava
ligada a Pelotas e daí a Rio Grande
via férrea. O gado e o charque bageenses chegariam a outros mercados,
mais barato e mais rápido. O progresso
chegava e a cidade se orgulhava de
estar ligada ao sistema. Nesse dia,
Bagé sepultou o secular transporte por
carretas. Vencida essa etapa, começava outra, aí para nos ligar no ramal
seguinte, Bagé - São Sebastião, ao
norte da estação que ligaria Bagé à
fronteira-oeste.
Foi em 2 de dezembro de 1884 a
inauguração da linha férrea, ligandonos a Pelotas e à estação inaugurada,
conforme pesquisa do historiador bageense Cláudio Lemieszeki.
Cento e nove anos de telefonia
oje o telefone que se tem em casa é o serviço de uma empresa. Houve um tempo em
que isso pertenceu ao Estado, que, com dificuldade de expandi-lo, repassou à seara privada.
Pois o início da telefonia em Bagé também foi empreitada de uma multinacional. Um empresário uruguaio, que tinha o mesmo serviço em Mello, teve a concessão para instalar e fazer funcionar o primeiro centro telefônico de Bagé. A inauguração se deu em 12
de dezembro de 1901; portanto faz 109 anos que Bagé
tem telefone.
Os primeiros foram naquele sistema de
manivela, mas funcionava bem e em sua primeira etapa atingiram
100 usuários. O discurso do ato inaugural
foi do intendente José
Otávio Gonçalves, que
enalteceu a gama de
progresso da época, eis
que ele mesmo já havia
inaugurado a luz elétrica, os trilhos do trem
e a linha telegráfica,
classificando o telefone como uma dádiva
do progresso e do
desenvolvimento que Bagé experimentava nos primeiros anos da passagem do século 19 para o 20. A central era importada e da marca Ericsson, os telefones
eram Beliner e permitiam conversação clara, sem interferência.
As principais empresas e os mais ricos da cidade foram os primeiros a encomendar a instalação,
sendo que apenas o da Intendência, a Prefeitura,
era de mesa, os demais eram de parede. A central
operava em prédio situado na Avenida Sete de Setembro, onde hoje são as instalações da Ótica Bagé,
e lá, por muito tempo, foi sede da telefonia local,
inclusive no tempo da CRT, já na era moderna da
semiautomatização.
Toda conversação era por linha física e com
dois anos de funcionamento já abrigava 300 linhas.
Em setembro de 1903 foi inaugurado o serviço de
telefonia intermunicipal, podendo Bagé falar com
Dom Pedrito. Em 1905, o telefone chegou às estâncias cujos fazendeiros se davam o luxo de custear
linha física direta com a central e usar seus telefones lá do interior do município, com o local denominado Piraizinho sediando o primeiro desses
benefícios.
Na história de Bagé, desde 12 de
dezembro de 1901 há o serviço telefônico. Em novembro, 20 aparelhos foram
instalados a título de experiência e outros 80
passaram a funcionar
depois da inauguração oficial do centro
telefônico, conforme
pesquisa do historiador bageense Cláudio
Lemieszeki.
A veneração por Preto Caxias
A população inteira de
Sua memória ainda é reverenciada,
Bagé aprendeu a ver o túmulo
como se verifica em seu túmulo, na parte
do Preto Caxias, no Cemicentral do cemitério, permanentemente
tério da Santa Casa, muiflorido e onde foram colocadas plato enfeitado, cheio de flores e visitacas de agradecimento por graças redo regularmente por centenas de pescebidas.
soas ao longo de cada ano. Quem
Seu apelido, Preto Caxias,
foi ele, como se chamava e porque
como até hoje é conhecido, teria
é tão venerado, devem se pergunnascido da cor de sua pele e da
tar centenas de outros que não sadedicação e honradez do tempo em
bem de sua história de vida.
que servia ao quartel.
Ele nasceu no Rio de Janeiro e
Em seu túmulo, consta na lápiveio para Bagé para servir no quarde o seguinte: "Passou pela vida sotel do 8° Batalhão de Infantaria. Exfrendo e chorando as dores alheias".
tinguido o tempo de caserna, em 1847,
Também aparecem duas mãos se entrefixou residência na cidade, tendo desenlaçando. Uma branca e uma preta. A
volvido um serviço social que ficou cobranca, fina e delicada, unhas bem cuinhecido como “Protótipo da Caridade”. Ele
dadas, tipo de pessoa nobre, seria a da prinesmolava de porta em porta e a renda dedicava
cesa Isabel, que, ao visitar Bagé e frequentar a
aos desvalidos. Sua bondade era tamanha que a po- Igreja Matriz, teria sido apresentado pelo cônego
pulação nele confiava e com ele rezava sempre em fa- Bittencourt ao que ele chamou de “a alma mais caridosa
vor dos necessitados. Foi admitido como zelador da da cidade”. A princesa, diante disso, ter-lhe-ia estendiSanta Casa de Caridade onde desempenhava parale- do a mão o que para Preto Caxias haveria de ser uma
lamente um serviço assistencial aos doentes carentes, honra jamais sonhada.
aperfeiçoando os serviços de enfermagem que exercia, conquistando
cada vez mais as famílias.
Os historiadores Jorge Reis e
Mário Lopes escreveram que seu sepultamento, em 1° de julho de 1888,
foi uma verdadeira consagração com
a presença de enorme público, tendo
o ato contando com oradores que ressaltaram os seus indiscutíveis méritos,
diante de uma massa humana comovida e chorosa.
Chamava-se Maximiniano Domingos do Espírito Santo e, ao falecer, estava curvado pelos 80 anos dedicado ao pobres a quem socorria com
as doações que arrecadava da população que nele sempre acreditou.
Como gratidão e a pedido do
povo, foi dado oficialmente seu nome
Túmulo de Preto Caxias no cemitério local
a uma rua da zona sul da cidade.
A protetora da infância abandonada
ntre as pessoas afrodescendentes destacadas em
capítulo inteiro de seu livro, o pesquisador Mário
Lopes dedica espaço para Mãe Luciana. Trata-se
de pessoa dotada de imenso amor a crianças abandonadas e que, em Pelotas e Rio Grande, já havia fundado
dois orfanatos quando aqui chegou, em 1908, com o mesmo objetivo.
Se chamava Luciana Lealdina Araújo e era uma mulher corpulenta, de elevada estatura, de cor preta, olhos
delicados, de uma vivacidade acolhedora e que usava,
permanentemente, um hábito franciscano com o tradicional capuz marrom, carregando no peito enorme crucifixo
cor de ouro, seguro por corrente enrolada no pescoço.
No objetivo de proteger crianças órfãs ou abandonadas, já aqui chegou com três meninas adotadas e obteve
três ações bondosas que a acolheram e ajudaram no propósito principal.
A família do intendente José Otávio Gonçalves a acolheu em casa, o vigário Costábile Hipólito a recomendou
à sociedade e a sra. Ana Gaffrée, depois de ver seu inestimável trabalho, adquiriu e reformou um casarão na zona
sul da cidade, onde, após muitas melhorias e adequações,
funciona até hoje o Educandário São Benedito.
Mas o início de tudo foi difícil. Mãe Luciana esmolava, vendia doces que fabricava e teve sua primeira
casa de abrigo de meninas abandonadas em um sobrado, alugado na antiga Praça Duque de Caxias, hoje sede
da Escola Justino Quintana, casa onde vivia com a doação do povo.
As dificuldades não eram poucas, mas o entusiasmo
e dedicação de “Mãe Luciana” eram ainda maiores. Por
mais de dez anos ela dirigiu com inexcedível devotamento
o conceituado Educandário São Benedito, hoje de serviços bem mais avançados que aqueles de seus primórdios.
Já idosa e cansada, passou a direção às Irmãs do
Imaculado Coração de Jesus. Assumiu, então, nova missão, cuidando de uma creche. Nessa função faleceu em
novembro de 1930.
Sua morte causou comoção junto à população, acostumada com a ação benemérita da preta mais querida da
cidade e cujo ideal foi um marco de abnegação e exemplo. Sua memória foi perpetuada com o nome de uma rua
da cidade, uma homenagem da comunidade à “preta velha” simpática e estimada que, com certeza, Deus mandou para servir de exemplo e causar tanto bem.
Luciana Lealdina Araújo (Mãe Luciana)
Antigo sobrado onde foi a primeira
sede do São Benedito
Primeiro médico civil
rancisco de Azevedo
Penna foi o primeiro
médico civil a fixar residência em Bagé. Carioca de nascimento, cursou medicina em Paris de onde voltou em
1855 e se formou em 1856. Não gostando do clima do Rio de Janeiro resolveu vir para o Rio Grande do Sul,
onde, inicialmente, morou na cidade de Rio Grande. Veio a Bagé para
tratar da filha de um amigo, gostou
da cidade e para cá se transferiu em
1858. Quando chegou sua mudança, foi notada a quantidade de livros que faziam parte de seus pertences.
Foi um dos fundadores do hospital de caridade que mais tarde vi-
ria a ser a Santa Casa de Bagé. Morava e dava consulta em sua casa,
que se situava na quadra da Avenida Sete em frente à praça da Catedral. Quando de sua morte, em 12
de maio de 1901, em honra a sua
condição de pai dos pobres, como
era conhecido, a comunidade concretizou um monumento, onde hoje
está sua estátua e onde também repousam seus restos mortais, justamente defronte a casa onde morou e
clinicou.
O projeto foi de autoria de Pedro Obino. O pedestal foi entalhado em Capão do Leão por Miguel
Brigati e a estátua foi fundida em
Paris, tendo ficado pronta em dezembro de 1910.
Francisco de Azevedo Penna
1824 - 1901
A inauguração ocorreu em
solenidade especial em sua memória, com autoridades e populares,
a estátua foi toda ornamentada,
tendo o local recebido várias visitas nos dias que se seguiram.
A cadeira e os livros que se notam nela foram cópias do móvel
usado por ele e o sistema de manter os livros sempre ao lado da cadeira, para seus estudos diários.
Na história de Bagé, consta a
inauguração da estátua do Dr.
Penna, localizada em frente a sua
casa e consultório, em 12 de maio
de 1913. Chamado de pai dos pobres, as despesas da confecção do
monumento foram custeadas pela
comunidade, conforme pesquisa
da historiadora bageense Elizabete Fagundes.
Um moinho e uma “prainha”
região de Bagé, por
volta de 1867, centralizava uma grande produção de trigo, com safras abundantes e que
se destacavam em meio à criação do gado
em pleno desenvolvimento. Um grande investimento foi providenciado, incluindo o
governo da província que contribuiu com
a doação dos impostos e mais a iniciativa
privada com o capital inicial, surgindo
uma indústria panificadora.
Foram os primórdios do famoso
Moinho Bageense, localizado à margem
direita do arroio que atravessava a Panela do Candal. Foi represada a abundante água do referido arroio com um
paredão que servia para desviá-la e movimentar enorme roda de madeira para
tratar do trigo, transformá-lo em farinha e abastecer a fábrica de massas,
padaria e produtos afins.
Na passagem de século, o moinho e suas fábricas paralelas tinham
destacada produção, em zona central,
a três ou quatro quadras da praça da
Catedral, onde hoje é o encontro das
ruas João Telles e Emílio Guilayn, próximo à chamada ponte do Guilayn.
Paralelo à indústria beneficiadora de trigo e aproveitando a água corrente e limpa, foi, em frente ao moinho,
Moinho Bageense - na reprodução vemos o primeiro automóvel a circular
em Bagé, de propriedade de Emílio Guilayn
organizado o primeiro serviço de praia
da cidade. Por 200 réis era possível
apanhar sol e banhar-se usufruindo
de sabonete e toalha constantes no preço. Vários vestiários foram instalados
e era praticamente um balneário, com
as famílias, especialmente nos fins de
semana, utilizando o local muito perto
do centro para combater os dias quentes do verão. Existem fotos da época
que mostram essas famílias às margens
do arroio tomando sol. Uma espécie de
Praia do Moinho, onde eram permitidos banhos públicos
praia de ontem, que, em menos de 70
anos ficou deteriorada, com águas
paradas e imundas, onde o progresso
só chegou para piorar.
O próprio moinho, também dotado de fábrica de massas e padaria, mais galpões, jardim, cocheiras,
alojamento dos trabalhadores e
imenso pátio, acabou se entregando ao tempo e, depois de passar pela
mão de vários proprietários, em torno do ano de 1970, cessou totalmente a atividade, hoje sendo um prédio ainda de boas proporções mas
sem uso adequado, com a maioria
das dependências em ruínas.
Era final do século 19 e início
do século 20, quando uma “prainha”
perto do centro da cidade e um imponente moinho, que abastecia fábrica de produtos oriundos do trigo, tiveram muita vida e promoveram muitos entretenimentos e renda aos moradores e investidores de então,
como revela a pesquisa da historiadora Elizabeth Fagundes.
Hotel do Commércio, um marco
Antiga fachada do Hotel do Commércio
na Rua Barão do Amazonas (antes Rua
do Comércio)
oão Luís Caputto, cidadão
de origem francesa, foi o
primeiro dono do Hotel do
Commércio, o pioneiro hotel de Bagé, em 1842, e que
tinha sua fachada para a atual Rua
Barão do Amazonas, na época Rua
do Comércio, o que explica seu nome.
Quando o francês morreu, e por não
ter herdeiro, o consulado da França
vendeu o prédio para João Coelho.
Esse seu segundo proprietário,
mais o terceiro e ainda um quarto
dono foram aumentando o prédio,
comprando terrenos vizinhos e, com
isso, chegou-se a 1909, quando foi
empreendido um grande projeto em
estilo greco-romano, já com duas
frentes. A principal para a Avenida
Sete de Setembro, o que é mantido na
fachada até hoje.
No início da 2ª década do século passado, em torno de 1912, o Hotel do Commércio tinha fama de ser o
maior, melhor e mais confortável do
sul do Estado. Foi o primeiro a ter pias
nos quartos e sua cozinha e adega
Interior do Hotel do Commércio
eram muito apreciadas. As características de suas duas fachadas e a base
de seu imponente jardim interno foram respeitadas até hoje, mesmo diante de reformas que mantiveram o
prédio desativado por muito tempo.
Conta a história que em suas dependências foram feitos os conchavos da Revolução de 23, pois lá se
hospedou a maioria dos agentes.
Foi transformado em um centro comercial, conservando o nome
de Hotel do Commércio. Existe plano para que volte a ser hotel, na
parte superior, mantendo lojas comerciais na parte térrea.
É um dos destaques arquitetônicos de Bagé, admirado por forasteiros e historiadores, conforme apontamentos de Elizabeth Fagundes.
Hotel do Commércio hoje
Prédio da Prefeitura de Bagé
os primeiros dias do
ano de 1898 o então
intendente municipal
José Otávio Gonçalves
tomou a decisão de construir um prédio para abrigar a administração
municipal. Tudo como consequência
do prédio usado na Praça Carlos Telles, ao lado da Catedral, já estar pequeno para abrigar o governo municipal e seu corpo de conselheiros.
Em 16 de fevereiro de 1898, foi
divulgado edital, possibilitando apresentação de projetos que abrigassem
o gabinete do intendente e sua secretaria, duas peças para os três setores, tipo secretarias municipais, que
eram o Tesouro, Município e Obras
Públicas. Precisava ainda abrigar o
salão do conselho (que eram os vereadores da época), mais um salão
para o tribunal do júri, uma prisão e
peças para a guarda municipal.
O projeto aprovado previa dois
andares com 14 aberturas para a
face da praça e outras 12 para a face
da Rua General Netto, atualmente
Intendência
Juvêncio Lemos, detalhes mantidos até
hoje. Em novembro do mesmo ano, foi
lançado edital para a construção da
planta aprovada. A pedra fundamental, costume comum da época para a
maioria das obras, foi implantada em
solenidade ocorrida em 1° de janeiro
de 1899, ao final da tarde. O ato teve
Prefeitura
banda de música e muitos discursos,
indo depois os presentes comemorar,
entre comes e bebes, na casa do intendente José Otávio Gonçalves.
A inauguração, há mais de 110
anos, foi em ato festivo e solene abrilhantado por duas bandas de música
que se revezaram em magnífico repertório, antes e depois dos muitos discursos. O exterior do prédio até hoje
mantém suas linhas básicas, embora,
internamente, tenha sofrido várias e
sensíveis modificações, necessárias a
sua manutenção. Em reconhecimento
ao ato do intendente, o conselho, que
era a Câmara de Vereadores da época, presenteou José Otávio com um
quadro a óleo que foi colocado na sala
de honra e que até hoje ornamenta
as paredes daquele histórico e centenário no local.
O prédio da prefeitura, na Avenida General Osório, foi inaugurado em 24 de janeiro de 1900, conforme pesquisa do historiador bageense Cláudio Lemieszeki.
A imobiliária pioneira
odernamente, o
serviço profissional de transações
de terrenos é
exercido por imobiliárias, ramo
concorrido, competitivo e em permanente expansão, acompanhando o progresso da urbanização de
qualquer núcleo habitacional.
Em Bagé, o pioneiro desta
atividade é conhecido, mas nem
sempre valorizado. Trata-se de
Isaac Teitelroit, estrangeiro que
escolheu Bagé para morar e constituir família. Foi pioneiro no loteamento de grandes áreas de terras, proporcionando o nascimento de inúmeras vilas e bairros de
nossa cidade.
Aportando em Bagé em 25 de
julho de 1922, com apenas 27 anos,
passou a exercer a atividade hoje
chamada de corretor. Começou na
área rural comprando e vendendo extensões de terra. Daí avançou para áreas vizinhas ao núcleo
urbano e de seus negócios, facilitados pelo preço baixo e prestações acessíveis a todas as rendas.
Data de 1928 seu primeiro lote, o
qual dividiu em 480 terrenos fazendo surgir o que hoje conhecemos como Bairro Dois Irmãos. Os
negócios andavam e surgiam mais
loteamentos e novas vilas, como
a Forjaz, Florença, Bom Retiro,
Ipiranga. O acesso ao terreno
próprio era tão facilitado pelo
corretor de imóveis que seu trabalho começou a ganhar fama e
também a aparecer o espírito be-
n e m e re n t e d o s e n h o r
Isaac, como todos o
chamavam. Entre seus
feitos surgiram várias
doações de terrenos à
Prefeitura, visando a
instalação de praças
que nem sempre se consolidaram, por dificuldades do Poder Público. Vila Damé, Bairro
Bonito, Vila Petrópolis,
Bairro Estrela D’Alva,
Vilas São Jorge e São
João, são outros núcleos muito habitados hoje
e que nasceram entre os
loteamentos de Isaac
Teitelroit.
Aqui são citados loteamentos que vingaram
rapidamente, sem contar outros que demoraram um pouco mais a se
consolidar, já a essa alt u r a p ro p o rc i o n a n d o
corretagens outras que não a pioneira de Teitelroit, cujo sistema
de vida comunitária nunca lhe
proporcionou rendas opulentas
pois as prestações a "perder de
vista" eram o caminho que ele
entendia como contribuição ao
sonho das pessoas no terreno da
futura casa própria.
Nenhum dos loteamentos de
sua lista sofreu solução de continuidade, pois, para negociar,
Teitelroit sempre tinha uma maneira de recuperar a conta atrasada e a prestação vencida, sem
Isaac Teitelroit
que o comprador perdesse o
terreno que sonhou para sua
moradia.
Sua maneira de agir, sua
benemerência e seu pioneirismo
no trato dos negócios de terrenos
lhe valeram o título de Cidadadão Bageense, pois entre outros
feitos sempre esteve ligado a instituições filantrópicas como benfeitor importante. Como profissional, sem dúvida, seu nome está
associado ao progresso desta cidade e à realização do sonho de
algumas gerações.
Presidentes a cavalo em Bagé
maioria dos presidentes que a República
teve já visitou Bagé.
Ou no exercício do cargo ou na
condição de candidatos, mas só
dois deles andaram a cavalo aqui.
O primeiro deles foi Getúlio
Vargas, no ano de 1943, em 10 de
outubro. Ele veio inaugurar a exposição-feira e, quando esteve no
Parque da Rural, ganhou um cavalo encilhado de presente. Mesmo vestido de terno e gravata,
como bom gaúcho, não resistiu e
montou, experimentando um trote
em uma pequena voltinha, com o
aplauso das demais autoridades
presentes e da plateia, que delirou. Em honra ao presidente foi
efetivado na cidade um desfile estudantil e uma parada militar das
forças do exército aquarteladas
na região.
Um outro gaúcho, oficial do
exército e da arma de cavalaria,
quando presidente da República, aqui esteve e andou a cavalo. Foi Emílio Garrastazu
Médici, natural de Bagé e que,
em 1972, visitou sua terra natal, quando inaugurou o Pronto-Socorro da Santa Casa. Depois de outras visitas, esteve na
Cicade, hoje Mercosul, a caminho da Fazenda Experimental
Cinco Cruzes, hoje Embrapa,
onde ganhou um cavalo, naturalmente da raça Crioula.
Para desespero de sua segurança pessoal, que fez de tudo para
evitar, o chefe da Nação não resistiu e quebrou o protocolo. Mesmo
de terno e gravata montou no pingo e deu algumas troteadas em frente ao pavilhão que visitava, diante
Presidente Getúlio Vargas
Presidente Emílio Garrastazu Médici
de aplauso geral dos presentes.
Na história da cidade,Getúlio
Vargas e Emílio Médici foram os
presidentes da República que, em
visita a Bagé, respectivamente em
1943 e 1972, aqui, andaram a cavalo, conforme pesquisa do jornalista Mário Lopes.
Padre Germano
m 15 de fevereiro de 1904
chegou a Bagé o padre
Roberto Maria Germano,
em companhia de outros
sacerdotes salesianos que vinham
ministrar aulas no Colégio
Auxiliadora. Os demais um dia deixaram Bagé. Padre Germano ficou
até sua morte, ocorrida em 29 de janeiro de 1973. Uruguaio de nascimento, tinha um sotaque forte, de
origem. Ministrou aulas de geografia e história para várias gerações
da região. Foi Cidadão Bageense
outorgado pela Câmara de Vereadores, ganhou várias outras honrarias, inclusive o título da Ordem Nacional do Mérito Educativo Federal,
quando foi presidente da República
um de seus seu ex-alunos, general
Emílio Médici. Foi vigário da Igreja
Auxiliadora e capelão da Santa Casa.
Padre Muraro
onorino João Muraro, de porte grande,
passou mais de 20
anos em Bagé e mostrou um coração do tamanho de
sua estatura. Assumiu o Bairro
Getúlio Vargas, que conheceu
como Povo Novo. Não descansou
enquanto não teve mudado o nome
do local, embora seu desejo fosse
Bairro São Pedro, tendo a lei dado
esse nome à parte menos nobre do
bairro. Criador do Instituto São
Reverendo Guedes
ntônio Joaquim Teixeira
Guedes, natural de Pelotas, após ser ordenado
diácono, veio para Bagé
em 1943, para proceder estágio na Igreja Episcopal do Brasil e aqui permaneceu até sua morte, em 2001. Além de
seu pastorado de mais de meio século,
desempenhou expressivo trabalho comunitário. Foi pároco da Igreja do Crucificado e arcediago, tendo sido responsável pela construção da atual igreja além de outras obras episcopais. Foi
fundador da Legião da Cruz, primeiro
passo para a fundação e funcionamento da Cidade dos Meninos, abrigo e
escola infantil que existe até hoje, reconhecida agora como escola regular de
ensino. Foi vereador, secretário municipal de Educação e diretor da Escola
Senac. Na maçonaria, integrou os quadros da Loja Sigilo n° 14 e como rotariano integrou o Rotary Clube de Bagé
Norte, tendo sido seu fundador. Foi coordenador regional de Educação. Na
vida religiosa, educacional, assistencial e política da cidade teve ação efetiva
por várias décadas.
Pedro de Educação e Assistência,
centro básico da comunidade da
zona leste da cidade, foi uma escola que nasceu do nada e chegou
a ter 13 atividades coletivas inteiramente gratuitas de formação
educacional, cultural, artística,
profissional e de lazer. Foi o primeiro pároco da Paróquia de São
Pedro. Transferido para o interior
do Paraná, voltou a Bagé 20 anos
depois para ser pároco da Igreja
Auxiliadora.
Professora Mélanie
om mais de seis décadas
dedicadas ao magistério,
figura com destaque no
ensino bageense a professora Mélanie Granier. Filha de franceses, nascida em 1876, aos oito anos
de idade já demonstrava sua inteligência e desenvoltura, tendo sido escolhida para saudar o conde D’Eu e a
princesa Isabel, quando se hospedaram em Bagé por alguns dias. Em 1894
iniciou suas lides no magistério, sendo logo nomeada por Júlio de Castilhos diretora da Escola Elementar, hoje
Escola Silveira Martins, na época a
mais importante escola estadual da
região. Fundou, depois, sua própria
escola, em 1911, chamada Colégio
Perseverança e que, mais tarde e até
hoje, viria a ter seu nome. Tinha projeção nacional, com presença em programas educativos das rádios Tupy
de São Paulo e Nacional do Rio de
Janeiro. Em 1958 foi inaugurada, em
sua homenagem, uma rua central da
cidade, o mesmo acontecendo em
Porto Alegre, com seu nome em rua
do Bairro Menino Deus. Mélanie
Granier nunca se consorciou mas
criou e educou mais filhas alheias do
que centenas de grupos de mães, dedicando-se ao ensino especialmente
de meninas, exclusividade de sua escola enquanto viveu.
Professor Contreiras
duardo Contreiras Rodrigues, nascido em 25 de janeiro
de 1917, filho de Carolina e Félix Contreiras Rodrigues,
neto do general Estácio Azambuja, líder revolucionário.
Um dos mais expressivos nomes do magistério bageense de todos os tempos, lecionou praticamente durante 50 anos, o que
significa que por sua cátedra passaram várias gerações. Nasceu em
Paris, onde foi registrado no Consulado Brasileiro. No Brasil, estudou
no Rio de Janeiro, bacharelou-se no Colégio Auxiliadora de Bagé e,
mais tarde, foi diplomado no curso de Direito em faculdade de Porto
Alegre, voltando à França para os cursos de extensão universitária, em
Toulouse e Lyon. Além do Colégio Auxiliadora, lecionou no Colégio
Espírito Santo e na Escola Carlos Kluwe, onde foi diretor por longo
tempo, além das Faculdades de Ciências Econômicas e de Filosofia e
Letras da FUnBa, hoje Urcamp. Ao falecer, em 24 de maio de 2005, aos
88 anos de idade, deixou inúmeros trabalhos , entre os quais “Estácio
Azambuja – Ensaio Bibliográfico”. Poeta como poucos e cronista do
cotidiano e da história, sempre teve obras publicadas.
Poema
“... Um pingo de romance...
Murcha a flor mas exala seu perfume...
...Sopra a cinza;
Pode haver uma brasa...
Esse poema, professor Contreiras escreveu a Dona Lola,
sua esposa, quando se despediram
Uma loja centenária
m libanês de 21 anos de idade chegou a
Bagé no ano de 1910. Veio com a esposa,
Amélia, e mais dois irmãos. Seis meses depois, tempo em que varejou vestuário de
porta em porta, estabelecia sua loja, que até hoje atua
com expressão importante no comércio lojista da cidade. Seu primeiro estabelecimento comercial foram duas
salas contíguas no Mercado Público que havia no centro da cidade. No início dos anos 20, depois de sua chegada, mudou a loja para
o endereço que mantém até hoje, na esquina das ruas Marechal Floriano e General Neto.
Salim Kalil era o libanês que Bagé
recebeu em 1910. Salim Kalil é o nome atual da loja que antes se chamava “A Barateira”. Salim teve quatro filhos. Um deles, Fued,
assumiu o estabelecimento quando o pai morreu, em 1971.
A outra geração à frente da loja realizou investimentos especiais no local: mais um andar e escada rolante. Essas
modernidades deixaram a Casa Salim Kalil em dia com o
U
Loja Salim Kalil, a mais antiga de
departamentos da cidade
Cópia de anúncio de jornal de
“A Barateira” , ainda no Mercado Público
marketing atual e com invejável carteira de clientes. Apesar de ter mais de 100 anos de existência, o mix de produtos oferecidos tornam-na atualizada em relação ao que há
de melhor no ramo.
Empresários locais, cônsules estrangeiros
empresariado bageense sempre manteve destaque estadual e nacional, mas também já teve
seu tempo de prestígio internacional, cujos países de origem lhes confiavam missões especiais.
No início e no final do século 20, Agustín Fernandes e Domingos Nocchi eram cônsules do Uruguai e da
Itália, respectivamente, na região de Bagé. O
primeiro era vice-cônsul do Uruguai, enquanto desempenhou a liderança de empresa comercial do ramo de fazenda,
Fachada da Loja Agustín Fernandes, na esquina
das ruas General Sampaio e General Osório( antiga
confecção, armarinho e miudezas, desCasa Carioca, atual Magazine Obino)
tinadas à moda masculina e feminina.
Domingos
Nocchi, bem moço, guarda-livros
O segundo foi Domingos Nocchi que
(contador)
da empresa dos Nocchi
atuou em vários ramos de atividade comercial e industrial na cidade que acolheu os pais. Junto aos irmãos atuou na
venda de produtos coloniais, muito disputados na época. Domingos de Souza Nocchi
foi, depois, vice-cônsul da Itália, país que lhe conferiu, mais tarde, o título de comendador.
Os irmãos Nocchi foram pioneiros, em Bagé, do
ramo de bebidas, cujos refrigerantes foram produzidos
em linha de alta montagem, para a época, além da representação dos mais variados tipos de bebidas. A loja enO comércio dos irmão Nocchi ficava na Praça Rio Branco, com
cerrou bem antes da produção engarrafada.
fachada principal para a Rua Marechal Deodoro (hoje Banco Sicredi)
Quatro gerações no comércio e
na indústria de Bagé
O
s irmãos Guilherme, Octávio, José e Felizardo
Ferreira Pinto Dalé começaram a atuar no comércio por meio de pequenos armazéns de secos e molhados em diferentes pontos da cidade.
Nos anos 50, com a fusão dos estabelecimentos comerciais individuais dos irmãos José e Guilherme Dalé, a empresa Martin B. Alves, situada na
zona norte da cidade, foi adquirida, surgindo a empresa
Dalé Irmão & Cia. Ltda.
A nova sociedade iniciou suas atividades com a
fabricação de refrigerantes como a gasosa limão, guaraná Amazonas e laranja Brotinho. Além disso, trabalhou com o engarrafamento de vinhos e de aguardente,
depois agregou a torrefação do café Aceguá e a fabricação de sabão, constituindo-se, assim, numa empresa
de grande porte e líder nos setores em que atuava a
partir da década de 60.
No retorno de uma viagem a Montevidéu, motivados pelo autosserviço que lá se iniciava, em pouco tempo aqui inauguravam o seu primeiro mercado.
Devido ao sucesso da iniciativa, rapidamente veio
o segundo empreendimento, denominado de Dalé 2, na
rua General Neto, já com formato e operação de supermercado. Em curto espaço de tempo, já eram sete
filiais e a empresa se tornava a primeira grande rede de
supermercados de Bagé.
Nos anos 80, com a investida de empresas de fora,
foi comercializada a rede de supermercados, no auge de
suas atividades. Com isso, os irmãos Dalé, que já contavam com a participação, na sociedade, dos filhos Guilherme, Jorge, Luís Fernando e José Carlos e dos irmãos
Otávio e Felizardo diversificaram os ramos de atuação
para transportes, fabricação de bebidas, distribuição de
cervejas, comercialização de veículos, de materiais de
construção, e na indústria da construção civil, atividade
que perdura sob a direção de Luís Fernando Dalé e conta com a participação dos filhos Luíse, Luís Paulo, José
Fernando e Luís Felipe, completando-se a quarta geração da família na indústria e no comércio em Bagé, dando continuidade à história que iniciou com os netos de
imigrantes portugueses Idelmiro, Anulino, Claudiomiro e
Osoriolino Ferreira Pinto nos idos de 1900.
Os guris José, Guilherme e Octávio Dalé, desde a
morte de sua mãe, Bráulia Ferreira Pinto, que era casada com o patriarca Jorge Dalé, foram criados trabalhando nos armazéns dos irmãos Ferreira Pinto, adquirindo, mais tarde, parte dos negócios da família. Torna-
Ato inaugural do Supermercados Dalé, loja 1, com a
presença de José Dalé e a bênção do padre Fredolin Brauner
Inauguração do Supermercado Dalé, na foto José Dalé,
Eunice Bittencourt, Delma Dalé e as clientes Silvina
Firmino e Ester Severo Lopes
ram-se também comerciantes. Conforme mencionou José
Dalé: “No caminho encontramos grandes dificuldades
que foram superadas com muito empenho, dedicação e
muitas madrugadas de trabalho. Contamos com a imprescindível ajuda de nossos inesquecíveis colaboradores que
fizeram parte dessa trajetória. O apoio da família e da
minha esposa, Delma, foi fundamental para o sucesso
desta longa história no comércio e na indústria de Bagé,
que está tendo continuidade através das novas gerações”.

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