sistema aquífero: monte gordo (m17)

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sistema aquífero: monte gordo (m17)
Sistemas Aquíferos de Portugal Continental
SISTEMA AQUÍFERO: MONTE GORDO (M17)
Figura M17.1 – Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Monte Gordo
Sistema Aquífero: Monte Gordo (M17)
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Identificação
Unidade Hidrogeológica: Orla Meridional
Bacia Hidrográfica: Ribeiras do Sotavento e Guadiana
Distrito: Faro
Concelho: Vila Real de Santo António
Enquadramento Cartográfico
Folha 600 da Carta Topográfica na escala 1:25 000 do IGeoE
Folha 50-D do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1:50 000 do IPCC
ALCOUTIM
CASTRO MARIM
590
591
50D
TAVIRA
599
VILA REAL DE SANTO ANTONIO
#
600
Figura M17.2 – Enquadramento geográfico do sistema aquífero Monte Gordo
Enquadramento Geológico
Estratigrafia e Litologia
Os materiais que constituem o suporte do sistema são, essencialmente, areias de duna, que
podem atingir espessuras superiores a 10 m, que ocupam cerca de metade da área total do
sistema (Silva, 1984), e areias de calibre variável, com alguma percentagem de componente
argilosa e matéria orgânica, que correspondem, em parte, a duna desmantelada e, em parte, a
material aluvionar (ibidem). De acordo com Silva (1984), podem ser reconhecidos vários
níveis, sendo o superior constituído por areias finas a médias, bem calibradas, com uma
espessura máxima de 10 m, a que se segue um nível de areias de calibre variável, com areão,
com espessura de 10 a 12 m. Este conjunto assenta numa camada de siltes e argilas cinzentoescuro, com vegetais. Uma sondagem mais profunda cortou ainda uma camada subjacente aos
siltes, de arenitos argilosos avermelhados. Estes dois últimos níveis foram considerados como
aluvião antiga e Pliocénico (ibidem).
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Hidrogeologia
Características Gerais
O Sistema Aquífero de Monte Gordo estende-se de Vila Real de Santo António até à Praia
Verde. Trata-se de um aquífero livre superficial, em meio poroso homogéneo, com níveis
freáticos a profundidades de 1 a 2 metros.
A sua área é da ordem dos 9,6 km2.
É limitado a Este pelo rio Guadiana, a Norte pelo esteiro da Carrasqueira e a Sul pelo mar,
o que implica a presença de uma interface água doce/água salgada a Norte e outra a Sul. A
Oeste, as dunas assentam sobre arenitos argilosos avermelhados da Formação de FaroQuarteira. A recarga faz-se por infiltração directa da precipitação.
Parâmetros Hidráulicos e Produtividade
Os dados de produtividade são escassos, mas mostram um bom rendimento. Além dos
seguintes dados de caudais: 1,5; 10,8; 11 e 11,6 L/s, conhecem-se os caudais de exploração de
captações camarárias de Vila Real de Santo António: 10,8; 11,0; 11,0; 11,0; 11,4; 12,0;
13,0 L/s (Silva, 1984).
Dispõe-se de dois dados de transmissividade obtidos a partir de ensaios de bombagem
(Silva, 1984): T = 562 m2/dia; T = 394 m2/dia.
Os valores de transmissividade estimados a partir do caudal específico variam entre 336 e
916 m2/dia, sendo a mediana e a média 555 e 603 m2/dia respectivamente (Silva, 1984).
Foi também calculada pelo mesmo autor a condutividade hidráulica a partir destes valores
de transmissividade. Os resultados variam entre 28 e 76,3 m/dia, sendo a mediana e a média
46 e 50 m/dia respectivamente.
Análise Espaço-temporal da Piezometria
Embora se disponha de algumas observações de níveis, num máximo de 7 locais, em 1984
e 1985, aqueles dispõem-se ao longo de uma linha paralela à costa de forma que não é
possível esboçar um mapa piezométrico. Os níveis situavam-se pouco acima da cota zero, ou
mesmo abaixo, em certas épocas e perto de zonas de concentração de extracções. É previsível
que, actualmente, a superfície freática acompanhe um pouco a topografia, com um
empolamento na região central do aquífero e fluxo dirigido para a costa e para N.
A observação do comportamento dos níveis, ao longo do tempo, mostra flutuações muito
amortecidas, sendo a variação máxima no piezómetro 600/044 de cerca de 3 m e as flutuações
interanuais da ordem, ou inferiores a 0,5 m (Figura M17.3). Os níveis médios, a partir de
1990, tendem a flutuar em torno da cota 1 m, um pouco acima dos níveis médios até àquela
data, o que deverá dever-se à diminuição das extracções.
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2.5
2
1.5
1
0.5
0
Mar-99
Mar-97
Mar-95
Mar-93
Mar-91
Mar-89
Mar-87
Mar-85
Mar-83
Mar-81
Mar-79
Mar-77
Mar-75
Mar-73
Mar-71
-0.5
-1
Mar-69
Nível Piezométrico (m)
600/044
3
Figura M17.3 – Evolução do nível piezométrico no piezómetro 600/044
Balanço Hídrico
Tendo em conta que a área do sistema é de cerca de 9,6 km2 e a que precipitação média na
região é de cerca de 500 mm os recursos médios renováveis deverão aproximar-se dos
3 hm3/ano.
Actualmente este sistema não é explorado para abastecimento público. É possível que as
extracções para aquele fim atingissem ou ultrapassassem 1 hm3/ano, antes das captações
terem sido desactivadas. A estimativa das extracções para rega é difícil de ser feita por não se
dispor de dados. No entanto, dado que a maior parte da área do sistema corresponde a pinhal
ou a ocupação urbana, o total das extracções para aquele fim deve ser bastante modesto. Dado
tratar-se de aquífero livre com níveis freáticos bastante superficiais, haverá que considerar
como uma das saídas importantes a que resulta da evapotranspiração da mata de pinheiros.
Tendo em conta a estimativa da recarga média anual é possível verificar que existe um
excesso que se perde para o mar através de saídas difusas ao longo das fronteiras do sistema.
Qualidade
Considerações Gerais
As águas deste sistema apresentam uma qualidade fraca, quer para abastecimento, quer para
regadio. De facto, os VMR estabelecidos para água para consumo humano, são ultrapassados
em todas as análises de cloretos, sódio e condutividade e na maioria das análises de cálcio,
magnésio e sulfato. Mais de metade das análises de cloretos ultrapassam 200 mg/L. Por outro
lado, verifica-se elevada frequência de violações dos VMA referentes ao magnésio, sódio,
dureza, nitratos e sulfato. Quanto à qualidade para rega, os VMR relativos aos cloretos e
condutividade são ultrapassados em 90% das análises.
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A fácies dominante é a cloretada cálcica. Também se verifica a presença de fácies
bicarbonatada cálcica e cloretada sódica.
n
Média
Desvio
Mínimo
Q1
Mediana
Q3
Máximo
Padrão
Condutividade
(µS/cm)
26
1787
946
525
1275
1445
1915
4570
pH
36
7,7
0,5
6,7
7,4
7,6
7,8
9,3
Bicarbonato
(mg/L)
31
373
109
128
311
409
451
537
Cloreto (mg/L)
45
406
412
87
168
227
454
1704
Sulfato (mg/L)
33
168
264
0
51
98
184
1500
Nitrato (mg/L)
17
33
30
0
15
26
46
98
Dureza Total
(mg/L)
25
489
218
38
341
481
620
1043
Sódio (mg/L)
24
180
127
48
94
131
223
600
Potássio (mg/L)
24
5,9
5,1
1,0
2,5
4,6
7,4
24
Cálcio (mg/L)
25
107
51
2
72
108
152
193
Magnésio (mg/L)
25
54
33
8
34
51
66
146
Quadro M17.1 - Estatísticas principais dos parâmetros físico-químicos
do sistema de Monte Gordo
Qualidade para Consumo Humano
Para caracterizar este aspecto da qualidade química das águas deste sistema foram
utilizadas análises anteriores a 1995 para a maior parte dos parâmetros, não se tendo usado
mais do que uma análise por ponto de água. As análises mais recentes de sódio e potássio
datam de 1992 e de cálcio e magnésio de 1993. No caso do ferro, nitritos, azoto amoniacal,
fosfatos, oxidabilidade e manganês foram usadas análises recentes incluindo mais do que uma
análise por captação. A apreciação da qualidade face aos valores normativos consta do quadro
seguinte.
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Anexo VI
Parâmetro
<VMR
pH
>VMR
Anexo I –Categoria A1
>VMA
100
0
0
Condutividade
0
Cloretos
0
Dureza total
50
Sulfatos
18
82
Cálcio
48
52
Magnésio
24
76
52
Sódio
0
100
42
Potássio
25
75
5
Nitratos
47
53
18
<VMR
>VMR
100
0
100
4
96
100
45
55
67
33
15
47
53
18
100
0
50
Nitritos
15
0
Azoto amoniacal
100
0
0
Oxidabilidade
100
0
0
0
100
0
75
25
Manganês
100
0
0
100
0
Fosfatos
100
0
0
100
0
Ferro
>VMA
0
Quadro M17.2 – Apreciação da qualidade da água face aos valores normativos
Uso Agrícola
A maioria (cerca de 70%) das águas deste sistema pertence à classe C3S1 pelo que
representa um perigo de salinização dos solos alto e perigo de alcalinização dos solos baixo
(ver Figura M17.5). As restantes águas pertencem a classes que representam maiores riscos de
salinização e alcalinização: C3S2 (7%), C4S 1 (4%), C4S2 (11%), C4S 3 (7%). Quanto aos
restantes parâmetros, a condutividade e o cloreto ultrapassam o VMR em 90% das análises e
o nitrato em 18%.
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Figura M17.4 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola
Bibliografia
Costa, F. E., Brites, J. A., Pedrosa, M. Y., Silva, A. V. (1985) - Carta Hidrogeológica da Orla
Algarvia, escala 1:100 000. Notícia Explicativa. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.
Manuppella, G., Oliveira, J. T., Pais, J., Dias, R. P. (1992) - Carta Geológica da Região do
Algarve, escala 1:100 000. Notícia Explicativa. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.
15 pág.
Silva, M. O. (1984) - Hidrogeologia do Algarve Oriental. Dissertação para a Obtenção do
Grau de Doutor em Geologia. Departamento de Geologia da FCUL, 260 pág.
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