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VOLUME 9 OUTUBRO-DEZEMBRO DE 1983 NÚMERO 4 ÓRGÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA Fundador: Alberto Gentile Redator-Chefe: Rubem de Andrade Arruda Editor: Haward Kano Cons. Editorial: Paulo José Pereira Bringel, José Sheinkman, Milton Velmovitsky SUMÁRIO EDITORIAL RESSECÇÃO TRANSURETRAL (RTU) DE PRÓSTATA NO CÃO - ESTUDO DAS REPERCUSSÕES NA FUNÇÃO RENAL E NO FLUXO E COMPOSIÇÃO DA LINFA ETIOPATOGENIA DA VARICOCELE, MODO E LOCAIS DE TÉRMINO DAS VEIAS TESTICULARES PRINCIPAIS FRATURA DO PÊNIS DURANTE INTERCURSO SEXUAL - RELATO DE UM CASO LINFOMA MALIGNO GIGANTE SECUNDÁRIO EM TESTÍCULOS - RELATO DE UM CASO ESTENOSE E RUTURA DE URETRA POSTERIOR - REVISÃO DE 22 CASOS COM A CIRURGIA DE BADENOCH ESTUDO POPULACIONAL DA INCIDÊNCIA DE PATOLOGIAS UROLÓGICAS FÍSTULA PIELODUODENAL - RELATO DE UM CASO TORÇÃO CONGÊNITA DE PÊNIS - APRESENTAÇÃO DE QUATRO CASOS TUMORES MALÍGNOS DE RIM - ESTUDO DE 42 CASOS SARCOMA ALVEOLAR DE PARTES MOLES RETROPERITONEAL - RELATO DE UM CASO Diretoria Biênio 1983/1985 Presidente: Apparicio da Silva de Assis (MG) Presidente Eleito: José Ewerton do Amaral (PA) l? Vice-Presidente: Eudes Fernandes Andrade (DF) 2? Vice-Presidente: Antonio Carlos da Costa Cavalcanti (PE) P. Vice-Presidente: Mario Marrese (SP) 4? Vice-Presidente: Mário Roberto Garcia Marques (ES) s? Vice-Presidente: 2? Tesoureiro.' Gerardo de Aguiar Chaves (PI) Arnaldo de Melo Figueiredo (MG) Secretário-Geral: P. Tesoureiro: Aday Coutinho (RJ) Humberto Fernandes de Matos (RJ) l? Secretário: Bibliotecário: Eduardo Cesar Cortes Gouvea e Silva (RJ) Ramon Ramos (MG) 2? Secretário: Secretária Secção Sede: Jurandy Raimon Costa (MG) Theresa da S. Collaço (RJ) P. Secretário: Lourival de Barros Barbalho (PA) l? Tesoureiro: Carlos de Franco (RJ) J ornai Brasileiro de Urologia Redator-Chefe: Gilberto Menezes de Góes (SP) Editor do J.B. U.: Antonio Marmo Lucon (SP) Conselho Editorial: Miguel Srougi (SP) Sami Arap (SP) Milton Borrelli (SP) -------COMISSÕES------- Comissão de Seleção e Tftulo de Especialista Emanuel Leal Chaves (Presidente) (RJ) - Mareio Maia Lamy de Miranda (ES) - Luiz Rafael Andreoni Marsaioli (SP) - Milton Cesar Scaramuzza (PR) - Paulo Cesar Nanei de Carvalho (RJ). Comissão de Ética e Defesa Profissional Fernando Vasconcelos Pombo (presidente) (CE) - Paulo Emilio Rubião (MG) - Gilvan Neiva Fonseca (GO) - Jorge Menezes (MT) - Antonio Francisco Junquilho Vinhaes (BA). Comissão de Ensino e Treinamento Lino Lima Lenz (Presidente) (RJ) - João Mariano Machado (DF) - Augusto Oswaldo Soares (CE) - Fabio Pimentel Pereira (ES) - Orlando Hugo Praun (SC). Wilton Adriano da Silva (Presidente) (GO) - Fernando Vieira (RJ) - Salomão Cutin (RS) - Mario dos Santos d'Annunciação (RJ) - Marcelo Costa Lima (PE). Conselho de Economia - - - - - - - - - Departamentos - - - - - - Uro-Pediatria - Alfredo Duarte Cabral (SP) Endoscopia Urinária - Mirandolino Mariano (RS) Doenças Sexualmente Transmissiveis - Milton da Silva Barros (BA) Uroginecologia - Luiz Carlos Rocha (PR) Uroneurologia - Irineu Rubinstein (RJ) Andrologia - Gilberto Carvalho Alves (MG) Uro-Oncologia - Waldir Prudente de Toledo (SP) MEMBROS EFETIVOS (APROVADOS EM 27/05/83) Alvaro Candido Nunes Sant' Anna Alfredo Felix Canalini Antonio Augusto Ornellas de Souza Elpidio Antonio da Boamorte Canêllas Francisco Eduardo Barbosa Ferreira Gomes Hekel Silva João Luiz Schiavini José Antonio Caputo Luiz Carlos Pinheiro de Barros Mario Henrique Souza D'Almeida Paulo Portes Santos Raimundo Damião Nunes Cordeiro Rubens Amancio Corrêa Hoelz Sebastião Carlos Lima Barbosa Claro Ayrton da Trindade Santos Décio Streit Douglas Pedroso Humberto Vieira Berrutti José Nicolau Olijnyk Lauderi Luiz Ladwig Mário Rech Paulo Renato Motta Waldir João Kleber Antonio Carlos Medina Dias Antonio Barbosa de Oliveira Filho Antonio Zanovelo Filho Alcindo José Hadler . Alfredo Vitorino de Brito Bráulio Regiani Passos Carlos Alberto Lenzi Carlos Hermenegildo Bissotto Cristovão Machado Barbosa Filho Domij1gos Savio Duarte (RJ) (RI) (RJ) (RJ) (RJ) (RI) (RJ) (RJ) (RJ) (RJ) (RJ) (RJ) (RJ) (RJ) (RS) (RS) (RS) (RS) (RS) (RS) (RS) (RS) (RS) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) Emilio José Pinto Neto Evandro Soares Eduardo Kyotaka Kawakami Eli Celice Dias Giuseppe Piha Ivan Baruffaldi José Juraci de Souza João Carlos de Castro Santos Kleber Eduardo Piedade Lorival de Matos Rodrigues Luiz Carlos Gibertoni Limirio Leal da Fonseca Filho Luiz Carlos Floriano de Toledo Marcos Benedito Goussain Kopaz Mario Luiz da Silva Paranhos Marcos Teixeira Cesar Miguel Anselmo Ruiz Miguel Zerati Filho Michel Cheade Bittar Murillo Antonio Moraes de Almeida Paulo Roberto Lara Coelho Patrício Pelúcio Rodolfo Jarbas Leal Santiago Sergio E speridião Sergio de Souza Ferreira Carlos Augusto Gonçalves Vasconcelos Francisco José Mesquita José Martins Neto José Soares Freire Lúcio Flávio Gonzaga Silva Luiz Robério de Alencar Gonçalves Raimundo Cavalcante de Andrade Severino José Queiroz Neto (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (SP) (GO) (SP) (PA) (CE) (C E) (CE) (CE) (CE) (CE) (C E) (C E) Dídimo Carvalho Teles José Carlos de Almeida Luciano Gonçalves de Souza Carvalho Silvério Freire de Carvalho Filho Antonio Eduardo de Padua Fonseca Antonio Mourthé Filho Afonso Abàod Fernandes Clayton Franco Moraes Carlos Henrique Esteves Guedes Murilo Spinelli Pinto Farley Carneiro e Silva Paulo Eduardo Douat Pedro Frâncio Volnir Domingucs Franco Valter Nunes Coelho Evandro Falcão do Nascimento Gil Mauricio Ferraz Cintra Heráclito Montenegro Neto Wilton Bezerra da Silva Filho Paulo Gilberto Seixas Henriques Gonçalo de Albuquerque Vilarinho Ivo Antonio Vieira Darcio Erthal Sorace Atilio Laertes Moreira GéJcia de Almeida Barbosa França José Francisco da Silveira José Leonel Cafezeiro Argôlo João Bosco de Almeida Duarte Gustavo Caserta Lemos Luiz Homero Pessotti Raul Quirino de Sá José Alfredo Hohlenwerger Ramos (DF) (DF) (DF) (DF) (MG) (MG) (MG) (MG) (MG) (MG) (MG) (SC) (SC) (GO) (RO) (PE) (PE) (PE) (PE) (ES) (PI) (MT) (PR) (PR) (PR) (PR) (BA) (MT) (SP) (SP) (RJ) (BA) AOS COLABORADORES O «Jornal Brasileiro de Urologia" destina-se à publicação de trabalhos que contribuam para o progresso e a difusão da Urologia e especialidades afms. As colàborações deverão ser enviadas ao: Jornal Brasileiro de Urologia - SBU, Rua Visconde Silva, 52, salas 1103-4 - Botafogo - 'CEP 22.281 - Rio de Janeiro -RI. O Conselho Editorial julgará da oportunidade de publicação, considerando as normas do Jorn~. Os conceitos, fatos ou opiniões publicados, são de inteira responsabilidade dos respectivos autores. A redação deve ser clara, concisa e precisa, rogando-se aos colaboradores que façam revisão final do texto antes de enviá-lo ao J.B.U. ° título deve ser curto, ou complementado por subtítulo, com termos que lhe possibilitem a indexação. Os originais devem ser datilografados em espaço duplo, deixando margens de no mínimo 2,5 cm, em papel formato ofício, numa só face. As legendas das ilustrações e as tabelas devem ser datilografadas à parte. . As ilustrações devem trazer no verso, à lápis" o título do trabalho, o nome do autor, o número da ilustração no texto e sua legenda. As cópias fotográficas devem ser tiradas em papel brilhante e os desenhos feitos à tinta preta sobre papel branco. É indispensável apresentar resumo do trabalho, com versão em inglês. As referências bibliográficas devem ser listadas por ordem alfabética, pelo último sobrenome do(s) autor(s) e atender às regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-JS{B-66) - Normalização da documentação no Brasil. 2~ Ed., Rio de Janeiro, constando de Bibliografia e Documentação, 1964. "Para artigos de periódicos, indicar: autor(es) do artigo mencionar o sobrenome em letras maiúsculas, ~e guido do(s) prenome(s), separado por vírgula; PQn~; J. Br. Ural. - Vai. 9 N~4 - 1983 título do artigo; ponto; título do periódico - grifado; vírgula; local de publicação; vírgula; número do volume - em destaque; número do fascículo - entre parênteses; dois pontos; números da página inicial e da fmal do artigo - separados por hífen; vírgula; data do volume ou fascículo; ponto. Ex.: SOUTO, C. A. V.; LISBOA, J. F.;THORELL,E.retroperitoneal gigante. J. Bras. Urol., Rio de Janeiro, 9 (1) : 60-1,1983. Para citação de livros, indicar: autor, título da publicação original - quando tradução indicar o tradutor; número da edição; local de publicação; editor; ano de publicação~ número de páginas ou de volumes. Ex.: RACE, R. R. &SANGER, R. Bloodgroups in mano 4~ ed. Philadelphia, F. A. Davis Co., 1962, 231 p. Para citação de trabalhos publicados em livros, indicar: autor da parte referenciada; título da parte referenciada; In: - citar o livro onde o trabalho foi publicado. Ex.: STAMEY, T. A. -lnfection Stones. In: Urinary InfectioDS. Baltimore, Williams and Wilk.ins Co., 1972, capo 8, p. 213-29. As colaborações devem ser apresentadas em 2 vias, completas, a fim de controlar a composição pela empresa gráfica. O Jornal Brasileiro de Urologia é editado trimestralmente, formando anualmente um volume. Os artigos publicados só poderão ser reproduzidos total ou parcialmente em outros periódicos ou veículos de divulgação, com menção obrigatória da fonte e autorização prévia do JBU. Toda correspondência, comunicações de mudança de endereço etc., deve ser encaminhada ao SBU, Seção Sede (RJ). O preço da assinatura está incluído na anuidade devida à SBU. Aceita-se permuta com publicações congêneres. 192 EDITORIAL Com o presente número o Jornal Brasileiro de Urologia completa nove anos de publicação ininterrupta, sendo oportuno prestar esclarecimentos aos novos membros da Sociedade Brasileira de Urologia sobre os esforços despendidos para sua edição. Criado para suprir a falta de órgão de divulgação da urologia nacional, representante da SBU, livre de qualquer casuísmo ou influência de grupos comerciais em seu texto técnico-científico, o objetivo foi alcançado. Sustentado com recursos obtidos das assinaturas dos associados e de veiculação de anúncios comerciais éticos- sem comprometimento da matéria científica ~, a arrecadação não tem permitido aumentar o número de páginas ou contratar um serviço profissional de editores. São poucos os sócios e pequena a tiragem. Todo o trabalho, desde o inicial em juntar trabalhos, prepará-los para a composição, revisá-los, transportá-los, até a distribuição pelo correio, tem sido feita pelos próprios colegas constituintes do grupo de redação do J B U. Equipes sucessivas, eleitas periodicamente, desempenham estas funções com amadorismo, porém com desprendido esforço e dedicação. Os trabalhos publicados espelham o posicionamento da cultura urológica brasileira, pois são contribuições genuínas de autores radicados nas diversas regiões do país, apresentadas em congressos especialiJ. Br. Ural. ~ Vai. 9 N a 4 - 1983 zados ou enviados ao JBU, constituindo a memória da urologia nacional. Essas informações explicam as falhas de reVlsao, os eventuais atrasos no cronograma e mesmo menor qualificação de alguma matéria publicada. A justificativa porém depende da compreensão de todos os consócios, de tal maneira que não haja motivo para críticas mordazes e intolerantes, senão para cooperação efetiva e que o JBU se finne no conceito de Órgão Oficial de Divulgação da SBU, com qualificação científica, regularidade de distribuição e composição gráfica perfeitas. Certos de que o JBU continuará sua firme trajetória, conquistando, graças à sua confiabilidade, um lugar definitivo na literatura urológica, auguramos aos colegas que darão continuidade à sua publicação, um período fecundo, em que sejam vencidas todas as dificuldades e <> JB U alcance notoriedade internacional. J. Br. Urol. - Vai. 9 N'?4 - 1983 ressecção transuretral (RTU) de próstata no cão estudo das repercussões na função renal e no fluxo e composição da linfa MILTON FLAVIO MARQUES, LAUTENS CHLAGER, CARLOS GOMES DE ARAÚJO, HERCULANO DIAS BASTOS, JOSÉ CARLOS SOUZA TRINDADE do Departamento de Urologia da Fac. de Medicina de Botucatu - UNESP - Botucatu - SP INTRODUÇÃO Outros autores por sua vez, em estudos clínicos, estimaram entre 20 e 30% a participação da via intravenosa na absorção do líquido de irrigação (13, 29). MADSEN E NABER em 1974 (23) e IGLÉSIAS e col. em 1975 (17) valorizaram tmabém a via extravascular como porta de entrada do líquido de irrigação. Contudo, permanece obscura ou mesmo ignorada a participação que eventualmente a circulação linfática possa desempenhar (17). Nos trabalhos clínicos, a ausência de uma melhor padronização dos vários fatores que interferem nas repercussões da RTU no Grganismo humano torna difícil a interpretação de alguns resultados obtidos. Dentro deste contexto, merece destaque a proposta de TRINDADE e col. em 1976 (33) de utilizar o cão como modelo animal de ressecção transuretral da próstata. Com esse modelo, tornou-se possível a padronização de variáveis consideradas importantes no desencadeamento das repercussões da RTU tais como: altura do frasco de irrigação, tipo de líquido de irrigação utilizado, características da RTU, operador, tempo de RTU, hidratação, calibre do ressectoscópio, drenagem vesical e anestesia utilizada. Iniciaram-se então, no Departamento de Urologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), os estudos experimentais de RTU de próstata e dedicando especial atenção às repercussões imediatas desta cirurgia em parâmetros linfáticos e de função renal. Com o objetivo de evidenciar a existência de diferenças nas repercussões da RTU quando da utilização de diferentes líquidos de irrigação TRINDADE em 1978 (34) assumiu a linha de pesquisa com líquido de irrigação hipotônico e hemolítico (água destilada), orientando-nos no estudo da RTU com o uso de solução isôtonita e não hemolítica (manito a 5%) (19,20); Embora a ocorrência· de oligúria pós-RTU, muitas vezes seguida de insuficiência renal, fosse melhor descrita por CREEVY (5) e McLAUGHLIN e col. (22) em 1947, autores como BUMPUS (3) em 1937, já dirigiam sua atenção para as complicações da ressecção transuretral da próstata resultantes do comprometimento do sistema cardiovascular e da função renal. Inicialmente, a síndrome de oligúria pós-RTU foi atribuída à hemoglobinemia elevada encontrada concomitantemente em muitos pacientes com essa síndrome (5, 11, 12, 18, 22, 36): Embora os autores que mediram os níveis de hemoglobina plasmática, antes e após as ressecções prostáticas, tivessem comumente encontrado valores insuficientes para produzir, por si só, lesão renal (6, 12, 15, 18, 30, 36), a preocupação com a ocorrência de hemólise levou os urologistas a pesquisarem outros líquidos de irrigação que, evitando-a, reduzissem os riscos para os pacientes. O emprego de soluções não hemolíticas diminuiu consideravelmente a incidência da síndrome de oligúria pós-RTU (11) e, mesmo não a evitando completamente, foi considerado por EMMETT e col. (8) em 1959, como o maior avanço isolado da técnica de RTU nos últimos 20 anos. Os trabalhos de LANDSTEINER e FINCH em 1947 (18), e posteriormente os de BULKLEY e col. em 1954 (2, 1), GRIFFIN e col. em 1955 (13), HAGSTROM em 1955 (14), HARRISON e col. em 1956 (15), MALUF e col. em 1956 (27), HOYT e col. em 1958 (16) e FILLMAN e col. em 1959 (9), valorizaram na gênese da síndrome de oligúria, a hipervolemia e a hiponatremia decorrentes da absorção do líquido de irrigação durante a RTU, abrindo um novo e amplo campo de estudos. A maioria dos autores refere que a absorção do líquido de irrigação se faz nos seios venosos prostáticos. Alguns admitem que ela também ocorre nos espaços peri-prostático e retroperitoneal. 1 - Animais estudados CONGER e KARAFIN em 1957 (4) demonstraram, por meio de uretrocistografia realizada em 200 pacientes imediatamente após RTU da próstata, que 48 (24%) apresentavam graus variados de extravasamento do meio do contraste. Foram utilizados 35 cães adultos, machos, sem raça definida, com peso entre 12 e 26 kg, fornecidos pelo Biotério do "Campus" de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". MATERIAL E MÉTODOS 153 J. Br. Urol. - Vai. 9 N<?4 - 1983 creatinina a 3%, na dose de 1,0 mljkg de peso corpóreo. Durante o restante da experiência receberam uma solução de creatinina a 0,6%, com fluxo de aproximadamente 0,1 ml/kg de peso corpóreo/minuto. Este fluxo foi mantido com o auxílio de uma bomba injetora marca Harvard Apparatus, modelo 2681. Gearance osmolar e de água livre - expressos em ml/ minuto. Para a determinação das osmolaridades plasmática e urinária utilizou-se a mesma metodologia referida para a determinação da osmolaridade linfática. 2 - Grupos experimentais Grupo-Controle (GC) - constituído por 12 cães nos quais, após a preparação do modelo experimental, procedeu-se exclusivamente à irrigação da uretra prostática e da bexiga com solução de mmitol a 5%, durante 1 hora. Grupo Ressecado (GR) - constituído por 12 cães que, após a preparação experimental, foram submetidos à ressecção transuretral da próstata (RTU), durante 1 hora, utilizando-se o manitol a 5% como líquido de irrigaç~o. 4 - Seqüência experimental Grupo Perfurado (GP) - constituído por 11 cães que, como o grupo anterior, foram submetidos à ressecção transuretral da próstata. Ao ftm dos primeiros 30 minutos da RTU, produzia-se perfuração da cápsula, prostática, prosseguindo-se com a ressecção até o tempo total de 1 hora. Os itens da seqüência experimental encontram-se detalhados em trabalho anterior dos autores (21). Aqui apresentaremos a seqüência utilizada: 4.1 - Jejum alimentar de pelo menos 12 horas. 4.2 - Pesagem do animal. 4.3 - Anestesia endovenosa com Nembutal(R) na dose de 10 mgjkg de peso corpóreo. Empregou-se como medicação pré-anestésica o cloridrato de morfina, intramuscular, na dose de 3 mg/kg de peso. 4.4 - Dissecção de vasos. 4.5 - Laparotomia mediante para cateterização uretral bilateral e cistotomia. 4.6 - Toracotomia esquerda para cateterização do duto torácico. 4.7 - Uretrostomia perineal utilizando a técnica de TRINDADE e col. em 1976 (33) com pequenas modificações (19, 20). 4.8 - Hidratação parenteral para permitir um estudo adequado da função renal. Os cães foram hidratados por via intravenosa, de acordo com o seguinte esquema: 3 - Atributos estudados 3.1 - Volume de líquido absorvido 3.2 - Variáveis linfáticas Pressão linfática no duto torácico - expressa em cm de H2 O e obtida pela leitura direta no manômetro. Como ponto zero foi fIxado a altura do cateter no duto torácico e para cada leitura aguardou-se, durante 5 minutos, a estabilização da coluna líquida. Fluxo linfático no duto torácico - expresso em mI! kg/min. e obtido mediante o fluxo livre da linfa no duto torácico, em recipiente heparinizado, durante um período contínuo de 25 minutos. Sódio e Potássio da linfa - expresso em mEq/1 e determinados pela fotometria de chama. Osmolaridade da linfa - expressa em mOsm/kg de H 2 0. Para sua determinação, utilizou-se osmômetro (Laboratory Osmometer Model 34), que se baseia no método de diminuição do ponto de congelamento. fase rápida - durante 1 hora, com solução glicosada a 5% na dose de 40 ml/kg de peso corpóreo; fase de manutenção - após a fase rápida e mantida até o fim do experimento, com solução glicoftsiológica (5% de glicose e 0,45 de NaCI), na dose de 0,3 ml/kg de peso corpóreo/mino 3.3 - Variáveis de Função Renal Fluxo urinário - expresso em mljkg/min e obtido pelo fluxo livre de urina dos cateteres ureterais, em recipiente apropriado, durante o período de 30 minutos. A urina de ambos ureteres foi colhida conjuntamente e o fluxo obtido representa o fluxo urinário médio para o período. Gearance de creatinina - expresso em ml/min/kg de peso corpóreo. Todos os períodos de "clearance" tiveram duração de 30 minutos e para a dosagem de creatinina empregou-se a técnica descrita por MALNIC e MARCONDES em 1969 (26). Para a realização do "clearance" de creatinina, todos os cães receberam por via intravenosa, ao ftm da fase rápida da hidração, um "prime" de solução aquosa de J. Sr. Urol. - Vol. 9 N<?4 - 1983 4.9 - Tratamento experimental Grupo-Controle - irrigação da uretra prostática e bexiga. Grupo Ressecado - RTU da próstata. Grupo Perfurado - RTU da próstata com perfuração da cápsula. Na RTU utilizou-se o ressectoscópio infantil (STORZ), camisa 13,5 ch e a lente de 0 0 . 4.10 - Necropsia A distribuição dos .cães nos grupos se fez por sorteio após o item 4.8 da seqüência experimental. 154 5 - Momentos estudados Fluxo linfático no duto torácico (Fig. 2) - Nas análises em separado dos grupos observaram-se, em todos, diferenças significantes entre os momentos Mo e MI , sendo os fluxos de linfa menores em Mo do que em MI · Comparando-se os valores dos grupos em cada momento estudado, eles não diferiram entre si. Os dados relativos aos atributos estudados foram obtido nos seguintes momentos: Mo imediatamente antes do início da fase rápida da hidratação parenteral. MI imediatamente antes da RTU. M2 30 minutós após o início da RTU (meio da RTU e momento da perfuração). M3 60 minutos após o início da RTU (fim da RTU). M4 60 minutos após o término da RTU. Não foram estudadas as variáveis de função renal no momento Mo, devido à intensa oligúria do cão não hidratado. F luxo linfa ml/Kg/min. --- 0.1000 0.0800 GR GC -._._._._._._._.- .• GP 0.0600 0.0400 6 - Método estatístico 0.0200 Para análise estatística dos dados utilizou-se o modelo linear geral mutivariado (MGLM), que pressupõe variáveis com distribuição normal e matriz de variância e covariância desconhecidas. Para verificação da significância dos resultados adotou-se a = 0,05, onde a é o erro do tipo I. o 2 4 3 MOMENTOS Fig. 2 - Fluxo Linfático no Duto Torácico (mljkg/min). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). Sódio na linfa (Fig. 3) - Nas análises em separado dos grupos observou-se, em todos, valores de sódio maiores em Mo do que em M I . Apenas no grupo ressecado observou-se também diferença entre os momentos M I e M2 sendo os valores em M 1 maiores do que em Mz . Comparando-se os valores dos grupos em cada momento, eles não diferiram entre si. RESULTADOS VOLUME DO LÍQUIDO ABSORVIDO Em nenhum dos cães do grupo-controle houve absorção do líquido de inigação. Nos cães do grupo ressecado a absorção média foi de 56,0 mI (O - 240 ml), enquanto que no grupo perfurado a média de "absorção" (absorção real + extravasamento) foi de 772 ml(142 a 2490ml). Pressão linfática no duto torácico (Fig. 1) - Nas análises em separado dos grupos, apenas no grupo perfurado observou-se diferença significante entre os valores de pressão linfática; neste grupo os valores de pressão linfática foram menores em Mo do que em MI . Comparando-se os valores dos grupos em cada momento estudado eles não diferiram entre si. Na· linfa mEq/1 160 140 ._~_-:~~~.:-~--:..::-;; ~~ 120 GP 100 P.L. om.HZO o 24 22 .,. ........... -.- .......... 2 4 MOMENTOS Fig. 3 - Sódio da Linfa (mEq/l). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). 20 18 Potássio na linfa (Fig. 4) - Na análise em separado do grupo-controle, observou-se valores de potássio da linfa maiores em M1 do que em M2 . Nas análises em separado dos grupos ressecados e perfurados, observamse valores de potássio menores em M3 do que em M4 . Comparando-se os valores dos grupos em cada momento, eles diferiram entre si nos momentos M2 e M3 , 16 o 4 MOMENTOS Fig.l - Pressão Linfática no Duto Torácico (cm H 2 0). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). 155 J. Br. Urol. - Vol. 9 N?4 - 1983 onde os valores de potássio na linfa foram maiores no grupo ressecado do que nos grupos controle e perfurado. Flulto urina ml/KQ/min. c ,~ " ...... 0.0600 \. ........ 0.0:100 K+ linfa '.", InEq/1 0.0400 !l.0 -~-------..-.- ".0 _------ .. ._._ .• ._.- ...... -.-. GR 0.0300 GP o .. 2 ~~~ .... -:: ..... - ;::........... G P GC S.O o -........ -.-. .. 2 MOMENTOS Fig. 6 - Fluxo Urinário (mljkg/min). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). MOMENTOS Oearance de creatinina (Fig. 7) - Não se observou qualquer diferença significativa, nas análises em separado ou comparou-se os grupos experimentais em cada mo- Fig. 4 - Potássio da Linfa (mEq/l). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurados nos momentos estudados (média). Osmolaridade da linfa (Fig. 5) - Nas análises em separado dos grupos controle, ressecado e perfurado, observaram-se diferenças significantes entre os momentos Mo e Ml' sendos os valores maiores em Mo do que em M1 para todos os grupos. Comparando-se os valores dos grupos em cada momento estudado, eles não diferiram entre si. CL. crIO!. ml/KQ/mln. 3.0 2.0 ~---=-_~._~_-_-_-_~:""! ~6 GR 1.0 2 3 .. MOMENTOS Olln.llnfa .. O.m/KII HeO 310 SOO ..... __ ._._._._._.- ... 290 280 270 Fig. 7 - "Clearance" de Creatinina (ml/min/kg). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). GP GC GR o 3 .. Oearance osmolar (Fig. 8) - Nas análises em separado dos grupos experimentais, apenas no grupo perfurado observou-se diferença significante entre os momentos, sendo os valores do "clearance" osmolar maior em M3 do que em M2 para este grupo. Comparando-se os valores dos grupos em cada momento estudado, eles não diferiram entre si. MOMENTOS Fig. 5 - Osmolaridade da Linfa (mOsmjkg de H 2 0). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). VARIÁVEIS DE FUNÇÃO RENAL CL.olmol. ml/min. 2.0 Fluxo urinário (Fig. 6) - Nas análises em separado dos grupos experimentais, apenas no grupo perfurado observou-se diferença significante entre momentos, sendo os valores de fluxo urinário maiores em M1 do que emM 2 • 1.15 1.0 .. Comparando-se os valores dos grupos em cada momento estudado, eles não diferiram entre si. J. Br. Ural. - Vai. 9 N?4 - 1983 MOMENTOS Fig. 8 - "Clearance" Osmolar (ml/min). Cães dos grupos controle, ressecado e perfurado nos momentos estudados (média). 156 Get1rance de água livre (Fig. 9) - Não se observou qualquer diferença significante, nas análises em separado ou comparando-se os grupos experimentais, em cada momento estudado. mento, entre os grupos, frente ao esquema de hidratação adotado ressaltam a necessidade de um ajuste no modelo experimental que permita, em trabalhos posteriores, um melhor dimencionamento deste parâmetro linfático. Pela análise dos resultado de sódio linfático pudemos demonstrar, em todos os grupos, o efeito dilucional da hidratação evidenciada pela diminuição do sódio linfático entre os momentos Mo - Mt. Apenas um grupo ressecado, na segunda metade da ressecção (trecho M2 - M3), houve uma queda isolada do sódio e para a qual não temos explicação. A tendência à queda verificada no grupo perfurado no trecho M3 - M4, embora sem significado estatístico, acompanharam a queda por nós observada para o sódio plasmático no mesmo período (20,21). Na análise dos valores do potássio plasmático tivemos, para o grupo-controle, uma diminuição dos seus valores entre os momentos M1 e Mz, sem que detectássemos um fator que justificasse esta queda. Nos grupos ressecado e perfurado tivemos valores de potássio maiores em M4 do que em M3' Este fato, também verificado no plasma (20, 21), provavelmente decorre do trauma cirúrgico e da hiponatremia acentuada verificada nos animais neste momento. De forma menos intensa este mesmo comportamento pode ser verificado para o grupo controle (Fig.4). Em todos os grupos experimentais pudemos evidenciar o efeito dilucional da hidratação adotada sobre a osmolaridade da linfa. Nos animais do grupo perfurado ocorreu uma tendência à elevação da osmolaridade do trecho M3 - M4' Isto se deveu provavelmente ao tipo de líquido de irrigação utilizado (Manitol a 5%) e, de certa forma, pode sugerir uma participação da circulação linfática na reabsorção do líquido extravasado. eL. "20 IIvr.(-_......_ - - . . _ _ - - . - - - - - . . . - - ..l/mln. 2 .. MOMENTOS -0.5 -1.0 -1.11 Fig. 9 - "Clearance" de Agua Livre (ml/min). Cães aos grupos controle, ressecado e perfurados nos momentos estudados (média). DISCUSSÃO Como dissemos anteriormente, não existem na literatura· trabalhos clínicos ou experimentais que, de maneira objetiva e direta, estudem a participação da circulação linfática na absorção do líquido de irrigação durante a RTU da próstata. Desta forma, foi pioneira a iniciativa de TRINDADE em 1978 (34), propondo-se a estudar essa participação ao acrescentar ao modelo por ele proposto (33) cateterismo do duto torácico. Este autor comprovou a importância da hidratação no fluxo e composição da linfa e, tendo em vista o comportamento discordante verificado entre seus grupos experimentais (controle e ressecado), principalmente para os níveis de sódio e medida da osmolaridade linfática, concluiu pela participação do sistema linfático no mecanismo de absorção do líquido de irrigação. Em nosso estudo inicial (19), aplicando o mesmo modelo, pudemos constatar apenas o efeito do esquema de hidratação adotado e uma tendência à elevação da pressão linfática no grupo ressecado, todavia sem significação estatística. No presente estudo os efeitos da hidratação manifestaram-se pela elevação significante do fluxo linfático entre os momentos Mo e M1 para todos os grupos. Nos grupos controle e ressecado, embora de forma não significativa estatisticamente, essa tendência manteve-se até o final da experiência. Contrariamente no grupo perfurado houve uma tendência à diminuição do fluxo durante o período em que durou o tratamento experimental (ressecção + perfuração), desaparecendo na fase de recuperação do animal. A análise da pressão linfática não nos permitiu qualquer observação conclusiva. As diferenças de comporta- VARIÁ VEIS DE FUNÇÃO RENAL Os estudos clínicos da diurese no pós-operatório da RTU não complicada demonstraram apenas os efeitos conhecidos do trauma cirúrgico, isto é, discreta e transitória diminuição da' diurese (36, 2, 29, 24). ROSS e col. em 1963 (31) verificaram após a RTU discreta diminuição da capacidade de concentração urinária e que a anestesia geral estimularia a antidiurese. Poucos são os trabalhos experimentais na área. MAHONEY e col. em 1965 (25) demonstraram uma diminuição da fIltração glomerular em cães que receberam 75 ml/kg de água ou Cytal(R) por via intraperitoneal. GLENN e col. em 1965 (1) verificaram, em cães, que a administração intraperitoneal e Cytal(R) promove uma redução mais acentuada da diurese que quando administrada em igual volume por via intravenosa. WAKIM e col. em 1971 (35) observaram, em cães nos quais promovia uma super-hidratação, compressão intrínseca do parênquima renal com inchaço intracapsular 157 J. Sr. Urol. - Vol. 9 N<?4 - 1983 e edema parenquimatoso; essas alterações contribuíram para uma oligúria no pós-operatório. Em trabalho anterior não observamos uma diferença significativa da diurese em cães submetidos à RTU, quando comparados ao grupo controle, embora houvesse uma tendência à queda da diurese durante a RTU (19). TRlNDÀDE em 1978 (34) constatou, em cães submetidos a RTU, alteração da função renal expressa pela diminuição significante dos "clearances" de creatinina e osmolar e queda da carga filtrada de sódio. No presente estudo a diminuição da diurese encontrada no grupo perfurado poderia indicar uma maior agressão cirúrgica neste grupo em função do objetivo pretendido, que era a perfuração da cápsula prostáiica. Esperávamos, todavia, que essa diminuição da diurese se acentuasse após a perfuração, mas ela não ocorreu. Esse comportamento poderia ser explicado pela hidratação prévia que, de certa forma, protegeria a função renal, como também pelo possível efeito osmótico que a absorção do manitol extravasado pudesse ter exercido. Esses mesmos eventos poderiam explicar a não observância de alterações nos valores dos "clearances" de creatinina e de água livre em todos os momentos estudados. Semelhantemente ao ocorrido para a diurese, houve uma diminuição significativa do "clearance" osmolar no grupo perfurado no trecho M 1 - M z que persistiu, embora sem significação estatística, no trecho M 2 - M3' Neste mesmo trecho encontramos a mesma tendência no grupo perfurado. Nos animais do grupo controle não pudemos demonstrar qualquer alteração do "clearance" osmolar. TRINDADE em 1978 (34) obteve resultado semelhante com o emprego do mesmo modelo experimental. Esses achados confirmam a verificação clínica de que pacientes submetidos à RTU de próstata apresentam uma discreta diminuição da capacidade de concentração renal (31). animais. Não foi possível demonstrar repercussões em parâmetros de função renal dependentes da RTU com ou sem perfuração da cápsula prostática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BULKLEY, G. J.; O'CONOR, V. 1.; SOKOL, J. K. A clinicai study of bacteremia and overhydration following transurethral resection. J UIOI, 72: 1205·10, 1954. 2. BULKLEY, G. J.; O'CONOR, V. J.; SOKOL, J. K. Overhydration during transurethral prostatic resection. JAMA, 156: 1042-4, 1954. 3. BUMPUS Jr., H. C. Complications following prostatic resection. Am J Surg, 38: 89-95,1937. 4. CONGER, K. B. & KARAFIN, L. 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A RTU com e sem perfuração causou elevação do potássio da linfa, que foi atribuída à hiponatremia acentuada e ao trauma cirúrgico provocado nesses J. Br. Urol. - Vol. 9 N?4 - 1983 158 27. MALUF, N. S. R.; BOREN, J. S.; BRANDES, G. E. Absorption of irrigating solution and associated changes upon transurethral electroresection of prostate. J. Urol., 75: 824-36,1956. 28. MORRISON, D. F. The multivariate analysis ofvariance. In: _ _ _ . Multivariate statistical methods. New York, MC Graw Hill, 1967. p. 159-99. 29. OESTER, A. & MADSEN, P. O. Determination of absorption of irrigating fluid during transurethral resection of the prostate by means of radioisotopes. J. Urol., 102: 714-9, 1969. 30. REDICK, L. F. & WALION, K. N. Physiologic changes during transurethral resection of the prostate. Anesth Analg (Cleve), 46: 618-32, 1967. 31. ROSS Jr., G.; THOMPSON, I. M.; PROFETA, E. P. Renal concentrating and diluting ability of patients following transurethral prostatectomy. J. 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(Tese - Mestrado - Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP). 20. LAUTENSCHLAGER, M. F. M. Ressecção transuretral da próstata no cão - Estudo das repercussões em parãmetros hemodinâmicos, sanguíneos, linfáticos e de função renal. Botucatu, 1979. ll1f. (Tese - Doutoramento - Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP). 21. LAUTENSCHLAGER, M. F. M.; ARAÚJO, C. G.; BASTOS, H. D.; TRINDADE, J. C. S. - Ressecção transuretral (RIU) da próstata no cão. I - Estudo das repercussões em parâmetros hemodinâmícos e na composição sangüínea. Rev. Bras. Urol. (no prelo). 22. McLAUGHLIN, W. L.; HOL YOKE, J. B.; BOWLER, J. P. OUgura following transurethral resection of the prostate gland. J. Urol., 58: 47-60,1947. 23. MADSEN, P. O. & NABER, K. G. Absorption and secretion of sorbitol and mannitol in transurethral resection of the prostatc. Invest. Urol., li: 331-5,1974. 24. MADSEN, P. O.; KNUTH, O. E.; WAGENKECHT, L. V.; GENSIER, H. G. 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Para os autores, admitindo-se a teoria de MORGAGNI, metade da população deveria ter varicocele. Estudamos o modo de término das veias testiculares com relação à etiopatogenia da varicocele segundo dois aspectos anatômicos: o ângulo de desembocadura e seus ramos terminais. a) Ângulo de desembocadura b) Ramos terminais As referências bibliográficas responsabilizando o ângulo de 900 entre as veias testicular e renal esquerdas como importante fator na etiopatogenia da varicocele são tão numerosas que a princípio parece difícil refutar tal afirmativa. MORGAGNI e ASTLEY COOPER, segundo FAGARASANU (1938), foram os primeiros estudiosos a chamar a atenção para essa característica anatômica. N~LATON apud BRINTON (1856) raramente encontrou a veia gonadal esquerda em posicionamento de 90 0 à veia renal, o que coincide com as observações do próprio BRINTON em pacientes varicocelosos. Para BRANCO RIBEIRO (1943) a incidência em ângulo reto nada explica, pois existem numerosas veias que assim terminam em vasos coletores, com ausência de refluxo venoso. LANE (1955) e POPELIER (1973) observaram distintamente, após venografia, a veia testicular esquerda dilatada, incompetente, com término em ângulo agudo na veia renal homóloga em dois pacientes com varicoceIe esquerda. Através de exames flebográficos, MOUCHA (1960) afirmou que a noção de coluna sangüínea testicular longa e pesada ou a terminação em ângulo reto na veia renal respondem por 50% dos casos de varicocele esquerda. CLEGG (1970) observou que o retorno venoso reno-testicular esquerdo é maicr quando o ângulo entre a terminação da veia testicular e a porção distal da veia renal é igualou superior a 900 . Ao contrário de BRINTON, VOLTER et alli (1975) observaram a veia testicular esquerda terminar em ângulo reto na renal homóloga em todos os casos estudados e, em 54 observações (90%), existiam outras condições anatômicas para uma corrente retrógrada, com registro de apenas três casos de varicocele esquerda. J. Br. Urol. - Vol. 9 N?4 - 1983 A ramificação terminal da veia testicular foi anotada por autores como CHARPY (1902), PICK & ANSON (1940), ANSON & KURTH (1955) e VOLTER et alü, porém, sem mencionarem uma possível relação entre varicocele e o modo de terminação venosa, exceção feita a VILLANUEVA OSÓRIO (1949), que assinalou a trifurcação da veia testicular esquerda na veia renal em um indivíduo varicoceloso. Não obstante a terminação da veia testicular esquerda na veia renal homóloga ser citada por todos os autores, as seguintes variações foram observadas: na veia suprarenal, por CHARPY, CHIARUGI (1930), ANSON et alii(1948),ANSON &KURTHeMERKLIN &MICHELS . (1958); na hemiázigos, por CHIARUGI e ANSON et alii; na veia lombar, por CHARPY, CHIARUGI e ANSON & KURTH; na cava inferior, por CHIARUGI e GRILLO-LÓPEZ (1971), tendo o autor italiano também mencionado o término na veia ilíaca externa. Localização do óstio gonadal direito na veia venal homóloga foi observada por CHARPY, CHIARUGI, RUPERT (1913; 1915), PICK & ANSON (15%), excepcionalmente por BRANCO RIBEIRO (1947), ANSON et alü (21,7%), HIGGINSON ALEJANDRO (1961), AHLBERG et alii (1966 - 10%), ARMSTRONG (1970), GRILLO-LÓPEZ, COMHAIRE & KUNNEN (1976) e RAVNIKA apud TCHALGANOV (1976 - 10%). SURRACO apud BRANCO RIBEIRO (1947) observou em 80% dos casos o término da veia testicular direita no golfo da veia renal homóloga. PICK & ANSON (0,6%) e AHLBERG et alii lembram da raridade da localização do óstio testicular direito na veia renal esquerda. AHLBERG et alii e COMHAIRE & KUNNEN evidenciaram em seus estudos apenas três casos de varicocele com desembocadura da veia testicular direita na veia renal homóloga, tendo sido encontrada disposição 160 de acordo com os estudos de CLEGG. A figo 1 representa esta última situação anatômica, porém, com ausência de varicocele. anatômica semelliante em outros indivíduos não portadores da patologia_ ARMSTRONG e RAVNIKA apud TCHALGANOV, enfatizam o término venoso testicular na veia renal direita como responsável pela varicocele direita. HIGGINSON ALEJANDRO considera a desembocadura venosa testículo-renal direita como anomalia circulatória e que, havendo predisposição congênita ou hipersimpaticotonia, é possível a varicocele direita. Estas discordâncias levaram-nos a efetuar o presente estudo com a fmalidade de verificar uma possível relação entre o modo e os locais de término das veias testiculares principais na etiopatogenia da varicocele. MATERIAL E MÉTODO Dissecou-se 18 regiões retroperitoneais e 18 escrotos e conteúdo de indivíduos adultos (12 brancos e 6 não brancos), escolhidos ao acaso, preparados através de injeção intra-arterial de aldeído fórmico a 10% pela carótida comum, complementando-se com injeções intramusculares da mesma solução. O número de varicocele primária assim se distribuiu: 2 à direita, 3 à esquerda e 5 bilaterais. As veias testiculares acima do ânulo inguinal profundo foram classificadas em principal e acessória, com base no local de terminação. Analisamos o modo e locais de término das veias testiculares principais, isto é, aquelas que terminam na cava inferior ou nas veias renais direita ou esquerda, ou na associação cava-renal. Os nossos resultados estão de acordo com Nl:lATON, BRINTON, LANE, MOLDOVAN & POPESCU e POPELIER, e não correspondem às conclusões de MOUCHA e de VOLTER et alii, referentes à freqüência da angulação. Outrossim, se houvesse relação entre varicocele e ângulo reto reno-testicular e se fosse real a freqüência dessa forma de desembocadura, como afirma a extensa bibliografia, a incidência da patologia seria extremamente elevada, fato não observado pelos resultados das análises estatísticas populacionais que oscilam entre 10 a 20%. Não se deve olvidar a possibilidade de a veia testicular direita terminar em ângulo reto na renal homóloga, o que aumentaria, extrapolando o raciocínio que os autores fazem à esquerda, a incidência da patologia à direita. É oportuno afirmar que nos lados varicocelosos em que ocorreu a angulação de 90 0 , esta não era presença única e sim, outros fatores associaram-se na formação de um substrato propício, tão bem acentuado por VOlTER et alii, tais como: artéria renal esquerda arqueando sobre a veia renal no ponto diretamente oposto ao óstio da veia testicular, arcos anastomóticos com a veia testicular longa, veia testicular acessória e um anel venoso circum-aórtico, com a veia renal pré·aórtica "en ba'ionnette". Concordamos com as opiniões de BRANCO RIBEIRO (I943) e MOlDOVAN & POPESCU, ao reafirmar que o ângulo reto da veia testicular em sua desembocadura na veia renal, por si só, parece não ter a imensa prepotência sobre a etiologia e incidência da varicocele, contrariando uma idéia genérica e universal. RESULTADOS E COMENTÁRIOS a) Ângulo de desembocadura Em 8 lados esquerdos varicocelosos, a angulação de 90 0 entre as veias testicular e renal se registrou em quatro casos (50%) e, em 10 lados esquerdos sem varicocele, o ângulo reto esteve presente em três casos (20%). Em 7 lados direitos varicocelosos, apenas em uma vez (14,28%) ocorreu a angulação de 900 entre as veias testicular e renal direitas e, em 11 lados direitos sem varicocele, ocorreu em dois casos (I 8,18%). A afirmação dos autores sobre a terminação da veia testicular esquerda em ângulo reto com a veia renal, parece-nos extremamente subjetiva, havendo necessidade em se analisar os ângulos lateral e medial entre as veias testicular e renal para o alcance de uma conclusão real. A desembocadura será em ângulo reto quando cada ângulo lateral e medial corresponder a 900 . Assim, o ângulo lateral sendo reto e o medial obtuso, a coluna sangüínea testicular terá a mesma direção e sentido do fluxo renal, com facilidade de escoamento gonadal. Os dois ângulos sendo obtusos, traduzem uma veia renal em V, com facilitação para o refluxo reno-testicular, b) Ramos terminais Em 7 lados direitos varicocelosos, a bifurcação da veia testicular ocorreu em quatro casos (57,14%), sendo reno-caval em três casos (42,85%) e somente na cava inferior em um caso (14,29%), Em 10 lados esquerdos sem varicocele a veia testicular bifurcou-se na veia renal 161 J, Br, Urol. - Vol, 9 N 0 4 - 1983 em um caso (lO%).Em 8 lados esquerdos varicocelosos e em 11 lados direitos sem varicocele, não registramos nenhum caso de bifurcação venosa testicular. CHARPY menciona a trifurcação à direita, o que não foi observado no material de PICK & ANSON, que assinalaram a quadruplicação venosa, fato extremamente raro. Não registramos esses achados anatômicos no atual estudo. PICK & ANSON não encontraram diferenças significativas em relação ao lado, tendo VOLTER et alii observado maior incidência da bifurcação à direita, fato também verificado no presente estudo, sendo considerado como ocasional por ANSON & KURTH. Ora, se a quase totalidade das veias testicularesesquerdas termina na veia renal homóloga, e se esse local de término fosse preponderante na etiologia da varicocele, a incidência da patologia à esquerda atingiria cifra elevada, fato que não ocorre em verdade - 3,33% para VOLTER et alii. Outrossim, se em nosso material a varicocele esteve presente 8 vezes (44,44%), a terminação venosa testicular na veia renal esquerda não pode ser enfocada como fator de importância, existindo, nesses casos, outras tantas particularidades anatômicas associadas, uma infra-estrutura morfológica tão propícia à instalação da patologia, que toma difícil considerar o término venoso testículo-renal como um fator isolado na etiopatogenia da varicocele. Os nossos resultados vão de encontro ao extenso número de autores que opinam sobre a maior freqüência da desembocadura da veia testicular direita na cava inferior - PICK & ANSON (76,1%), não concordando com os resultados SURRACO e de ANSON & KURTH. Poder-se-ia concluir que a terminação reno-caval da veia testicular direita influenciaria o surgimento da varicocele, mas, se isso fosse real, VOLTER et alü teriam observado uma maior incidência da patologia em ambos os lados e não apenas três casos de varicocele esquerda, quando o total de bifurcação e trifurcação em ambos os lados atingira 73% dos casos. Além disso, em nossos quatro casos de varicocele direita com bifurcação da veia testicular, este não foi o único panorama anatômico ch am ativo , devendo salientar a presença de volumosas tributárias e importantes anastomoses relativas ao sistema venoso testicular. Se a bifurcação à direita, por si só, fosse uma razão realmente importante, a incidência de varicocele à esquerda seria maior nos casos de veia testicular bifurcada, pela ausência da via derivativa à veia cava inferior. Com respeito à observação de VILLANUEVA OSÓRIO, acreditamos que a ramificação venosa testicular em sua porção terminal, por si só, não tem influência na etiopatogenia da varicocele. No tocante aos locais de término, em 7 lados direitos varicocelosos, a terminação na cava inferior ocorreu em 3 casos, na cava inferior e veia renal direita em 3 casos, na veia renal direita em um caso e na veia renal esquerda em um caso, no total de 8 veias testiculares, Em 11 lados direitos não varicocelosos, a desembocadura na cava inferior ocorreu em 10 casos e, em duas observações, na veia renal direita, numa somatória de 13 veias testiculares. Ar Observamos na figo 2 o término da veia testicular direita na veia renal esquerda, fato qualificado de raro por PICK & ANSON e por AHLBERG et alii. Autores procuram associar o desaguar da veia testicular direita na renal homóloga com a presença de varicocele, apesar de IV ANISSEVICH (1961) e alguns seguidores não admitirem a existência de varicocele direita primária. Se esses autores contrários dão importância à desembocadura na renal esquerda, também o deveriam fazer quando da termiriação na veia renal direita, pois ambas as situações se comportam de forma muito semelhante. Dessa forma, GRILLO-LÓPEZ enfatiza os locais de término das veias testiculares em três casos de situs in versus, correlacionando a existência da varicocele direita com a desembocadura da veia gonadal direita na veia renal homóloga, inclusive alertando no sentido da presença da varicocele direita como possível indicador da situação inversus. Discordamos desse autor, com base em nossos achados e nos de outros autores, em Todas as veias testiculares principais esquerdas terminaram na veia renal homóloga, em concordância com AHLBERG et alii e VaLTER et a1ii, sem observarmos os outros locais de término mencionados na literatura. Provavelmente, essas variações tenninais não têm influencia na etiologia da varicocele, exceção feita às veias hemiázigos e supra-renal. No primeiro caso, na dependência do nível de desembocadura da veia gonadal, deve-se analisar o trajeto de ambas as veias - testicular e hemiázigos - passíveis de sofrerem a ação do pulso aórtico contra o plano ósseo representado pela coluna vertebral. No segundo caso, existe a possibilidade da ação adrenérgica sobre a veia testicular. J. Br. Urol. - Vol. 9 N?4 - 1983 VT 162 RESUMO que a existência da varicocele direita ocorreu na ausência de situs in versus. Como explicaria esse autor e muitos outros, os casos de ausência de varicocele com desembocadura da veia testicular direita na renal homóloga? E a existência da varicocele nos casos em que o óstio venoso testicular direito se localiza na cava inferior? Os autores estudam em 18 regiões retroperitoneais e 18 escrotos e conteúdo o modo (ângulo de desembocadura e ramos terminais) e os locais de término das veias testiculares principais na etiopatogenia da varicocele. Concluem que, isoladamente, estes fatores parecem não contribuir na gênese da patologia. A imposição desses autores de que o término venoso gonadal é fundamental na etiologia da varicocele deve ser refutada com veemência, pois a bibliografia demonstra o caráter repetitivo entre os estudiosos, havendo necessidade de novas linhas de pensamento, ampliação da metodologia de pesquisa e bom senso analítico. SUMMARY In 18 retroperitoneal regions and 18 scrotums the authors studied the mode (angle of penetration and terminal branches) and the sites of main testicular vein endings in the etiopathogeny of varicocele. They came to the conclusion that isolatedly these factors do not seem to interfere in the genesis ofthe pathology. É possível que a desembocadura da veia testicular direita na veia renal homóloga possa ser mais um fator na gênese da varicocele, porém nunca o único, da mesma forma que o término da veia testicular esquerda na renal homóloga não pode, por si só, ser responsabilizado pela patologia. Para BRANCO RlliEIRO (1943) a pressão mais elevada da veia renal esquerda indica uma velocidade maior do seu conteúdo ao vaso de menor pressão, atuando a circulação renal como um sifão sobre a corrente testicular. "Assim, ao invés de refluxo, teríamos um escoamento facilitado da veia espermática esquerda". REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AHLBERG, N. 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Em duas observações próprias notamos a presença de varicocele direita associada com o término venoso testículo-renal, inclusive na veia renal esquerda e, em outros dois casos, a patologia não existiu, apesar da desembocadura no sistema venoso renal. Outrossim, o término reno-caval em três casos de varicocele direita não permite a afirmação de que essa terminação dicotômica seja fator importante na gênese da patologia, pois outros autores a encontraram na ausência da moléstia como VOLTER et alii e PICK & ANSON. Finalmente, salientamos o fato de a existência de numerosas tributárias e anastomoses relacionadas com a veia testicular direita - ao contrário de ANSON & KURTH, bem como a drenagem da veia supra-renal direita na veia testicular homóloga. O local de término parece não ser, por si só, fator preponderante na etiopatogenia da varicocele. "O número de diferentes fatores forma o cenário de uma varicocele" (WEHNER, 1927 apud SPOTOFT, 1942). CONCLUSÃO O modo de terminação (ângulo de desembocadura e ramos terminais) e os locais de término das veias testiculares principais direita e esquerda não apresentaram valores estatísticos significantes em relação ao ládo com varicocele e ao grupo étnico. Isoladamente, estes fatores parecem não contribuir na etiopatogenia da varicocele. 163 J. Br. Ural. - Vai. 9 N?4 - 1983 15. IVANISSEVICH, O. Varicocele izquierdo por reflujo (considerado a través de cuarenta y dos anos de experiencia clínicoquirúrgica en 4.4 70 operados). Sem. Méd., 118 (29): 1157-70, mayo 1961. 16. LANE, J. W. Radiographic studies in varicocele. U. S. Armed Forces Med. J., 6 (11): 1589-96, Nov. 1955. 17. MERKLIN, R. J. & MICHELS, N. A. The variant renal and suprarenal blood supply with data on the inferior phrenic, ureteral and gonadal arteries; a statistical analysis based on 185 dissections and review of the literature. J. Int. Coll. Surg., 29 (1): 41-76, Jan. 1958. 20. PICK, J. W. & ANSON, B. J. 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La phlébographie des veines spermatiques; qmilques déductions radio-anatomiques et chirurgicales. Note préliminaire. Presse Méd., 68 (54): 2094, dec. 1960. J. Br. Urol. - Vol. 9 N<?4 - 1983 164 fratura do pênis durante intercurso sexual relato de um caso JA YME S. SOUZA, I. RAlAB, JOSÉ A. BRITO, JOAMEL B. DE MELLO, NELSON TOLÓI JR. do Hospital Jaraguá - São Paulo - SP INTRODUÇÃO encontrava-se aumentada de volume, bastante dolorosa à palpação. Os testículos eram palpáveis não exibindo alterações. Não apresentava sangramento uretral, tendo micção voluntária após a internação. Foi instituído tratamento com analgésicos e antinflamatórios. Na manhã seguinte, notou-se a presença de volumoso hematoma na bolsa escrotal, tendo sido feita punção com saída de sangue. Levado à cirurgia, passado sonda vesical com feitura de incisão longitudinal na bolsa escrotal, saída de grande quantidade de sangue e posterior identificação de rutura de 3,Ocms (±) na base do pênis, rutura esta que foi suturada com pontos separados de catgut cromado. Colocado dreno de Penrose, que foi retirado no 39P.0., tendo o paciente tido alta após 7 dias. No momento, o paciente encontra-se bem, com o hábito sexual normal. A fratura do pênis com rotura dos corpos cavernosos é uma entidade de ocorrência rara. A lesão uretral associada ocorre, segundo alguns autores, em 40% dos casos (1 a 9). Como fatores ,etiológicos temos movimentos bruscos sobre o pênis ereto, faux pas de coit, introdução do pênis dentro de objetos com finalidade de masturbação, senilidade. O acidente durante o coito é menos freqüente. A infecção peri-uretral pode predispor a rutura. Geralmente o paciente relata ter ouvido um som de estalido seguido de interrupção da ereção. Dor intensa pode ocorrer, seguida de inchaço, distorção do órgão e vermelhidão local. A caracterização patológica é a rutura da túnica albugínea, do corpo cavernoso com hemorragia, formação de hematoma e distorção do órgão. Extravasamento de sangue ocorre ao longo do pênis, escroto, podendo chegar à região perineal. Hematúria e retenção urinária podem sugerir rutura uretral. O tratamento pode ser conservador com a imobilização do pênis, passagem de sonda de Foley, bolsas de gelo, antibioticoterapia e sedativos ou cirúrgico com abordagem da lesão e sutura com fio absorvível, conduta esta preconizada no nosso serviço. Nos casos de lesão uretral a cateterização retrógada, quando possível, ou feitura de cistotomia se impõem. O prognóstico é geralmente bom, ocorrendo somente em 10% dos casos deformidades permanentes do pênis, ereções incompletas ou dificuldade no coito (2, 3). DISCUSSÃO A fratura do pênis é entidade rara e consiste na lesão da túnica albugínea, corpos cavernosos, podendo alcançar a uretra. Os sinais e sintomas geralmente são característicos. O tratamento conservador pode levar a complicações como incapacidade sexual. Atualmente dá-se preferência à intervenção cirúrgica com correção imediata. Os princípios do tratamento cirúrgico são: (a) sutura da lesão (b) evacuação do hematoma (c) hemostasia rigorosa (d) drenagem. O prognóstico, quando se opta pela cirurgia, é geralmente bom. Justificamos esta publicação pois, além de patologia de ocorrência rara, o presente caso apresentava-se de maneira anômala, o que retardou em algumas horas o tratamento definitivo. APRESENTAÇÃO DO CASO J.F.S., branco, 20 anos, solteiro, natural de São Paulo, deu entrada no H.J. no dia 13/ago/BO, às 23:00 horas, queixando-se de dores e inchaço na bolsa escrotal. Relatava que há aproximadamente 2 horas, durante coito, após movimento brusco sobre o pênis, realizado pela sua companheira, sentiu dor intensa na região escrotal que, no entanto, não o impediu de completar o coito. Após o término do ato sexual, notou que houve aumento do volume da bolsa escrotal e persistência da dor. Ao exame físico apresentava pênis de conformação nonnal sem desvios ou hematomas. A bolsa escrotal RESUMO Os autores apresentam um caso de fratura de pênis em paciente jovem durante o intercurso sexual. Comentam sobre a etiologia, quadro clínico e o tratamento, ressaltando a importância da cirurgia imediata. SUMMARY The authors present a case of fracture of the penis in a young pacient during sexual intercourse. They 165 J. Br. Urol. - Vol. 9 N~4 - 1983 comment about etiology, clinic features and treatment. Ear/y operation with repair of the rnpture offers the best guarantee of cure. 3. NITO, H.: Case of penile fracutre. Iryo. 23:418, 1969. 4. MEARES, Edwin M., Jr: Traumatíc rupture of the corpus cavernosum. J. Uro I. 105: 407, 1971. 5. MORAES, Dianary Pereira de: Fratura do corpo cavernoso do pênis durante íntercurso sexual. J. Bras. Urol., 1: 255, 1975. 6. ANTONY, Joseph, M. B., B. S., F. I. C. S., F. R. C. S.: Fracture of the penis. International Surgery. 62: 561, 1977. 7. COBEL, B., SACHOT, l. L., BLANC, G., BAUCHAT, J.: Rupture traumatique du corps caverneux - trois caso Nouv. Press Med., 6 (42): 3953, 1977. 8. GALLEHER, E. P., lI., KISER, W. S,: Injuriesofthe corpus cavernosum. J. Urol., 85:949,1961. 9. DA THE, G.: Die penisfrakturen. KIínik, therapie und ontologísche betradchtungen. Med. Welt., 6: 299, 1969. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FARIA, Geraldo E., AKAMINCE, Oswaldo e DOLCE, Arge- miro. Fratura do pênis durante intercurso sexual com rutura de corpos cavernosos e uretra. Rev. Paul. Medicina, 91: 69,1978. 2. CRECY, A. A. and BEAZILE, F. S., Ir: Fracture of the penis - traumatíc rupture of corpora cavernosa. J. 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No exame da genitália notava-se e palpava-se uma .enorme massa testicular à direita, dura, algo irregular, medindo mais de 20 cm no comprimento, 15 na máior largura e 10 cm de espessura, ocupando e deformando a hemibolsa escrotal direita, com total oclusão do pênis, que mergulhava no interior da pele que recobría o tumor. O testículo esquerdo era facilmente palpado e parecia difusamente' aumentado, no mínimo com o dobro do volume normal. (Fig. 1, 2 e 3). INTRODUÇÃO Envolvimento secundário ou metástico de testículos é raro. Num estudo de 5000 necrópsias de ,acientes com tumores variados, em apenas 3 haviam metástases testiculares (3). A maior parte deles são achados de necrópsia e não têm interesse clínico maior. Os tumores que metastatizam para os testículos podem ser carcinomas, mieloma múltiplo, sarcomas ou tinfomas. A raridade do envolvimento do testículo nos linfomas malignos foi demonstrado por Watson e col. que estudando 1073 casos de linfoblastomas secundários do trato geniturinário encontraram apenas 2 casos de metástases de linfoma.em testículo e 1 caso de leucemia (6) .. Até 1972, apenas 140 casos haviam sido descritos, de envolvimento de testículos em linfoma malígno de qualquer tipo e destes apenas uns poucos haviam se apresentado mascarados de tumor primário (5). Recentemente observamos um caso de linfoma malig-:, no envolvendo ambos os testículos com aumento gigante de um deles, que por sua raridade merece ser descrito. Nenhum dos casos relatados até agora aprentam o volume tumoral observado neste paciente:'Nele, o local mais óbvio de metástase tumoral eram os testículos e odiagnóstico não iniciou neste local porque o paciente apresentava hidrocele antiga que o levou a encarar o aumento significativo de um dos testículos como sendo banal. RELATO DO CASO D.C.S.L., registro HC 198150, 60 anos de idade, masculino, foi admitido no Hospital de Clínicas de Porto Alegre em 21 de julho de 1981, com queixas principais de perda de peso, sonolência e tumor escrotal. Relatava o paciente que há mais de 6 meses vinha apresentando edema de membros inferiores e cansaço fácil aos médios esforços. Há aproximadamente 1 mês atrás aumentou o edema e a dispnéia, tendo então sido hospitalizado com o diagnóstico de insuficiência cardíaca descompensada, estando então hipertenso. Foi trata.do e recebeu alta com alguma melhora. Logo a seguir passou a apresentar dificuldade à deglutição, dor na garganta e aumento de volume da região submandibular. Foi realizada biópsia neste local cujo diagnóstico foi de linfoma. Iniciou então radioterapia tendo até à época realizado 7 sessões de um total previsto de 25. Após o Fig. 1: Vista frontal da bolsa escrota/, notando-se enorme massa tumor bocelada à direita e testiculo difusamente aumentado à esquerda. A seta aponta ao pênis embutido devido ao aumento escrota/o 167 J. Br. Ural. - Vai. 9 N~4 - 1983 Dois dias depois da punção pericárdica o paciente apresentou súbito episódio de vômitos e logo após bradicardia, alterações eletrocardiográficas e assisto lia_ Houve tentativa de recuperação da parada cardiorrespiratória sem sucesso tendo falecido em assistolia. Não foi realizada necrópsia a pedido da família. DISCUSSÃO Apesar do linfoma maligno ser o tumor que mais freqüentemente metastatiza para os testículos, em geral o envolvimento que ocasiona é pequeno, às vezes só é achado em necrópsia, e quase nunca desperta atenção precoce. É verdade que alguns casos foram descritos, nos quais a· primeira manifestação da doença foi a produção de uma massa testicular havendo então inicialmente suspeita de neoplasia testicular primária (1). Em uma revisão de 2.898 necrópsias em pacientes mortos por linfomas, no "University of Michigan Medical Center", Lalli encontrou envolvimento do trato urinário em apenas 50 e em nenhum deles havia lesões testiculares (4). Este relato bem demonstra a raridade deste envolvimento. Por outro lado, Johnson, em 1972, descreveu 13 pacientes com linfoma maligno secundário de testículo, sendo este o estudo mais extenso já publicado sobre o assunto. Contudo, nem neste, nem em qualquer outro relato semelhante encontramos um tumor secundário testicular de tão grande volume como neste nosso paciente. A neoplasia tinha quase o tamanho de uma bola de futebol, se bem que irregular, e prolongava-se para a região inguinal, ocupando parte do quadrante inferior direito do paciente. O diagnóstico havia sido estabelecido apenas 1 mês antes da biópsia testicular, através de uma biópsia de região submandibular de uma massa relativamente pequena, de menos de 3 em de diâmetro. O enorme aumento de volume testicular havia passado despercebido, talvez em grande parte porque o paciente afirmava ter hidrocele há mais de 40 anos e ter o tumor crescido num período de 6 meses. Ao tempo do diagnóstico a massa era irressecável cirurgicamente e tudo o que pode ser feito foi o diagnóstico, pois o doente faleceu 2 dias após ter sido submetido a pericardiocentese. Por sinal, também o líquido pericárdico mostrou células malignas do tipo linfoma não Hodgkiniano. A presença de um linfoma linfocítico, também chamado linfocitoma secundário em testículo já havia sido relatado por outros autores, mas não freqüentemente (7). Na hipótese do paciente haver sobrevivido, teria sido tratado com quimioterapia e talvez radioterapia sobre a massa escrotal e caso houvesse diminuição do tumor o mesmo teria sido ressecado algum tempo após. Obviamente, o prognóstico num doente com tal envolvimento tumoral, a · ponto de ter metástases pericárdicas, seria muito mau. A morte sobreveio por complicações de pun- Fig. 2: Vista lateral esquerda visualizando-se melhor o volume e forma irregular do tumor. A seta aponta o sentido craniaL Fig. 3: Vista lateral direita do mesmo caso. A seta aponta o sentido cranial. No abdômen palpava-se uma grande massa dura, irregular, bocelada, ocupando a fossa ilíaca direita, parte do flanco do mesmo lado e hipogástrico. Havia edema moderado de membros inferiores. Os exames laboratoriais eram os seguintes: uréia 127 mg%, creatinina 2,8 mg%, ácido úrico 17 mg%, fosfatase alcalina 49 UI/L, SGOT 170 U/L, SGPT U/L, sódio 126 mEq/l, potássio 5,1 mEq/l; Hematócrito 46% e hemoglobina 13,9 g%; leucócitos 17.100 com 855 bastonetes e 187000 plaquetas. O exame qualitativo de urina mostrava ph 5,5 , densidade 1016, proteína 1+, hemoglobina 1+,3 leucócitos p/campo, 20 hemácias p/campo, 5 cilindros hialinos p/campo e 1 granuloso. No Rx de tórax notava-se grande aumento da área cardíaca com aparente distensão da veia cava. O pericárdio foi então puncionado retirando-se 400 ml de líquido amarelo turvo, cujo exame citológico foi positivo para células malignas de linfoma não Hodgkiniano (tipo indiferencíado de Burkitt). Uma medulograma realizada logo a seguir não mostrou alterações significativas. Após consultoria com o Serviço de Urologia o pacJente foi submetido à biópsia testicular, tendo o exame anátomo-patológico mostrado linfoma linfocítico pouco diferenciado , difuso, com extensas áreas de necrose. J. Br . Ural. - Vai. 9 N?4 - 1983 168 ção de derrame pericárdico e possivelmente envolvimento tumoral cardíaco. O tumor testicular era absolutamente indolor, apesar de seu imenso tamanho, não havendo possibilidade de se saber de possível envolvimento do aparelho urinário, pois não houve ocasião infelizmente de realizar necrópsia. One case of a giant secundary malignant lynphoma of the testicle is reported, with such a huge tumor that no similar case could be found in the literature. The tumor had more than 20 cm in diameter, infiltrating the right lower abdomen. The biopsy showed poorly differentiated lynphocytic lynphoma with areas of necrosis. RESUMO Two days after the biopsy the patient died following a pericardiocentesis to aspirate a large collection of fluid caused also by the lynphoma. O envolvimento secundário de testículos no linfoma maligno é uma eventualidade rara, havendo, até 1972, apenas 140 casos descritos. O caso de um paciente com linfoma secundário gigante do testículo direito é descrito, apresentando tal volume que nenhum semelhante poude ser encontrado na literatura. O tumor media mais de 20 cm no maior diâmetro, estendendo-se para a fossa ilíaca direita. A biópsia mostrou a presença de linfoma linfocítico pouco diferenciado, com extensas áreas de necrose. O paciente faleceu 2 dias após a biópsia, depois de ter sido submetido à pericardiocentese para aliviar um grande derrame pericárdico, cuja etiologia também era linfomatosa. BIBLIOGRAFIA 1. 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Ural. - Vai. 9 N<?4 - 1983 estenose e rutura de uretra posterior - revisão de 22 casos com a cirurgia de badenoch RENATO DA CUNHA OLIVEIRA - JÉsus RESENDE DE CARVALHO - SHIGUEO IWAMOTO da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba -MG INTRODUÇÃO Agora as pernas do paciente são elevadas e colocadas em posição de talha perineal. Com o beniquê na uretra posterior é levado até o ponto da estenose e outro beniquê, por via retrógrada é levado até o mesmo ponto. É feita incisão perineal e abertura na uretra na área lesada que é ressecada, restando os 2 cotos normais (fig. 1). A rutura e estenose de uretra posterior continuam sendo problemas de difícil solução. A literatura existente sobre o tratamento destas patologias é extensa porém, ainda sem um consenso comum (1 a 5). São de uso mais correntes as cirurgias de Johansen, Leadbetter. Turner-Warwich, a transpública, Badenoch, etc. Quase todas realizadas em mais de um tempo cirúrgico, excessão à transpúbica e à cirurgia de Badenoch (Telescopagem). Optamos pela Cirurgia de Badenoch pela simplicidade e facilidade de execução, por não necessitar de condições e materiais especializados e principalmente pelos bons resultados obtidos por nós, até agora. Nestes últimos 8 anos reunimos 22 casos por nós operados. Assim distribuídos: Cirurgia em fase crônica de lesão . . . . . . . . . .. Cirurgia em fase aguda de lesão .......... " Quanto à causa conseguimos identificar: Inflamatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Traumática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pós operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . " Indeterminada . . . . . . . . . . . . . . . . ..... " 18 04 Telescopagem propriamente dita: uma sonda n? 18 ou 20 adaptada ao beniquê perineal é exteriorizada na região supra púbica. Esta sonda é introduzida no coto distal ± 3 a 4 cm. (fig. 2) e dado 2- 4 pontos em categut 00 cromado fixando-a na uretra (fig. 3). Ressecamos o tecido esponjoso no cotodistal (± 1 a 2 cm) e esta parte será introduzidora luz da uretra proximal. 08 08 02 04 DIAGNÓSTICO É feito pela uretrocistografia retrógrada e miccional e a urografia excretora. MÉTODO Cirurgia de Badenoch - Telescopagem Técnica operatória: Anestesia: Raquideana ou Geral Posição: Decúbito dorsal, inicialmente para cistostomia. Os segmentos uretrais telescopados são fixados com pontos separados dados na parede da uretra bulbar e capsula prostática (são 2 a 3 pontos) (fig. 4 e 5). A sonda uretral é fixada sob tensão ha parede abdominal. Após abrir e inspecionar a parede da bexiga é feito um estudo do colo vesical e uretra prostática. Inicialmente será colocada sonda uretral rígida nl? 14 e estabelecida a distância do colo vesical e lesão. J. Br. Urol. - Vol. 9 NI?4 - 1983 170 CASUÍSTICA Nome Idade Causa Fase Trat. Data Cirurgia Local. Lesão Resultado 01 J. M. L. 25 Traumatismo Estenose Crônica 04/73 Membranosa Bom 02 J.A. C. 66 Pos Prostatectomia Crônica 11/80 Membranosa Prostática Bom 03 P.A.G. 21 Traumatismo Crônica 01/76 Membrana Excelente 04 J.S. V. 56 Pos Prostatectomia Crônica 01/75 Bulbar Excelente 05 O.A.S. 40 Inflamatória Clínica 03/81 Bulbar Excelente 06 C.S.O. 10 Traumatismo Crônica 10/72 Membranosa Excelente 07 A.C. 33 Traumatismo Aguda 04/80 Bulbar Excelente 08 O.R.S. 53 Traumatismo Aguda 08/74 Membranosa Excelente 09 J. R. 50 Traumatismo Aguda 08/74 Bulbar Excelente 10 B. S. 60 Inflamatória Crônica 09/73 Bulbar Bom 11 L. S. C. 34 Indeterminada Crônica 12/76 Bulbar Excelente 12 H.S. 13 Traumatismo Crônica 10/76 Membrana Sem Resultado 13 C.S.A. 06 Inflamatória Crônica 01/77 Membranosa Bom 14 J. F. S. 44 Traumatismo Aguda 05/77 Bulbar Excelente 15 A.G.S. 45 Inflamatória Crônica 01/78 Bulbar Bom 16 J. D.F. 54 Inflamatória Crônica 08/78 Bulbar Excelente 17 N.M.C. 48 Inflamatória Crônica 09/74 Bulbar Excelente 18 J.A.N. 39 Inflamatória Crônica 02/78 Bulbar Excelente 19 J. M. S. 42 Inflamatória Crônica 05/76 Bulbar 20 B.C.R. 54 Indeterminada Crônica 06/78 Bulbar 21 D.B.F. 47 Indeterminada Crônica 07/80 Bulbar 22 J.M.F. 53 Indeterminada Crônica 10/75 Bulbar A incisão é fechada em planos com pontos separados; os profundos com categut 00 simples, e pele com Donati mononylon 4-0. A bexiga é fechada, exteriorizando a sonda uretral na região supra púbica. É deixada cistostomia com sonda de Mallecot. Pós-operatório: a sonda uretral solta espontaneamente com 10 a 14 dias e em seguida coloca-se sonda de Foley n? 24 pela uretra, que deve ficar 10 a 15 dias. Pós-operatório tardio: o paciente é seguido e calibrada periodicamente a uretra com beniquê. 171 J. Sr. Urol. - Vol. 9 NS:>4 - 1983 3 4 Ruím - dilatação em períodos menores que 20 dias Sem resultado - o paciente não consegue ficar em sonda. Em nossa casuística são: 12 casos sem dilatação, 5 casos considerados bons, 1 caso sem resultado e 4 casos sem seguimento. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Somos defensores da dilatação uretral pura e simples para aqueles casos em que ela trás alívio prolongado ao paciente. Optamos pela cirurgia para casos de difícil controle. Nos casos de traumatismo de uretra posterior optamos pela telescopagem na fase aguda desde que as condições locais do paciente sejam satisfatórias. Concluímos que em nossas mãos a telescopagem é á cirurgia pela qual melhores resultados obtivemos, o que nos convence de seguirmos esta técnica. SUMÁRIO 'Os autores apresentam os resultados da cirurgia de Badenoch (Telescopagem) para correção do estreitamento ou rutura da uretra posterior em 22 casos. SUMMARY The authors present the results of Badenoch surgery to correct the stricture or rupture of posterior urethra in 22 cases. BffiUOGRAFIA 1. BANDENOCH, A. W. Pul-through operation for impassable traumatic stricture of the urethra. Brit. J. Uroi., Edinburg 22:404-409, 1950. 2. KAISER, T. L. FARROW, F. Inury of the bladder and prostato _. membranous urethra associated with fractures of the bone pelvis. S. G. O. 120: 99-112,1965. 3. RODRIGUES NETTO, N. Jr., SANTOS, P. Q., CAMPOS FREIRE, S. G. Alterações do trato urinário superior nas estenoses uretrais. Rev. Paul. Med. 74:239-244, 1969. 4. RODRIGUES NETTO, N. Jr. Afecções Traumáticas da uretra. Ars Curandi, São Paulo, 2:33-50, abrill971. 5. TRAFFORD, H. S. Traumatique ruptures of the posterior urethra with a review of 32 civilian cases. Brit. J. Urol., Edinburg 27: 165-171, 1969. CLASSIFICAÇÃO: Os resultados são considerados: 2 Excelente - não necessita dilatação Bom - dilatações ocasionais de fácil execução J. Br. Urol. - Vol. 9 N<?4 - 1983 172 estudo populacional da incidência de patologias urológicas MARCO ANTÓNIO FORTES - LUIZ FELIPE A. VIEIRA ALVES - PAULO JOSÉ PEREIRA BRINGEL do Hospital Naval Marcílio Dias - Rio de Janeiro - RJ INTRODUÇÃO N'? % Brancos 1771 65,54 Pardos 532 19,68 54 1,99 345 12,76 Raças Numerosos trabalhos têm sido publicados evidenciando a incidência das mais diversas patologias que acometem nossa população. Através dessas infonuações os profissionais da área de saúde têm obtido subsídios para conhecer e tratar melhor essas patologias nos últimos anos. No entanto, na população de uma maneira geral, ainda é grande o desconhecimento das doenças, suas causas e seus efeitos. Especificamente nos casos de patologias urológicas encontramos ainda jovens que chegam aos 18 - 20 anos portadores de fimose, hipospádias, críptorquidia e hidrocele, mostrando total ignorância com relação às suas patologias e possibilidades terapêuticas. A ignorância dos pais aliada a pouca infonnação que os jovens recebem nos bancos escolares faz com que um grande número de pessoas se defronte com um "INCAPAZ" ou "INAPTO" quando vão ser admitidos em um trabalho ou incorporados às forças anuadas. O objetivo deste trabalho é mostrar a incidência de patologias urológicas notadas à inspeção de um grupo oriundo dos mais diversos recantos do País durante a realização de exames pré-admissionais à Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante e a convocação de recrutas à Escola de Fonuação dos Reservistas Navais. Amarelos Negros Total 2702 100 RESULTADOS Os números exatos e percentuais encontrados em cada patologia estão indicados no quadro abaixo: N? % Criptorquidia 11 0,40 Hipospádia 03 0,11 Hidrocele 16 0,59 239 8,84 84 3,10 352 13,06 Patologias Fimose MATERIAL E M:f:TODO Varicocele Este estudo foi baseado nas inspeções de saúde a que se submeteram candidatos a Oficiais da EFOMM e aos recrutas da EFRN no período de janeiro de 1981 a outubro de 1983. Foram inspecionados 2702 jovens entre 17 a 20 anos do sexo masculino, oriundos de 17 estados da Federação. Foram selecionados para levantamento estatístico somente as patologias urológicas diagnosticadas à inspeção, sendo que os casos de varicocele e criptorquidia mereceram exames mais apurados como manobra de Valsalva e palpação da região inguinal respectivamente. Não foram considerados os casos de pacientes já tratados anterionuente e/ou de pacientes portadores de outras patologias que não dizem respeito à pesquisa. Com relação à cor, os jovens estavam assim distribuídos: Total Dos 84 pacientes portadores de varicocele, somente um caso era à direita. Nenhum caso de varicocele bilateral. O percentual de varicocelosos na raça negra era de 1,3% e na raça branca de 3,3% confirmando estudos anteriores (1 e 2). É importante salientar que 4 dos 16 pacientes com hidrocele já haviam sido submetidos a cirurgias anteriores para correção do mesmo problema; e 5 dos 16 pacientes eram portadores de hidrocele bilateral. Nos casos de pacientes com funose foram considerados somente aqueles em que os indivíduos nunca haviam conseguido expor por completo a glande. 173 J. Br. Urol. __ Vai. 9 N<?4 - 1983 o SUMMARY Dos 3 portadores de hipospádia somente um já havia sido submetido à correção cirúrgica; mas havia interrompido o tratamento por problemas particulares. Convém salientar ainda que a grande maioria desses pacientes desconhecia as causas e as complicações dessas patologias confessando·se em grande parte surpresos com o diagnóstico dos peritos. 2702 candidates were inspecioned to EFOMM and EFRN from January 1981 to October 1983, between seventeen to twenty years old. The resuIts are similar to the previous studies (1, 2, 3) like the high incidence of phimosis and varicocele. They still show the low incidence of varicocele in negro and discuss the great disinformation of the people about these patologies and their complications. RESUMO Foram inspecionados 2702 candidatos à EFOMM e a EFRN no período de janeiro de 1981 a outubro de 1983 com uma faixa etária entre 17 a 20 anos, e o estudo consistiu na determinação de incidência de patologia urológica à inspeção destes jovens. Os resultados obtidos vêm de encontro a estudos anteriores (1, 2, 3) como a alta incidência de fimose e varicocele. Mostra ainda a baixa incidência de varicocele na raça negra e discute a grande desinformação por parte da população com relação a essas patologias e suas complicações. J. Br. Urol. - Vai. 9 N?4 - 1983 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BAUMRUCKER, G. O. - Incidence of testicular pathology. BULL U S ARMY MED. DEP. 5: 312,1946. 2. BETTI, R., RODRIGUES NETTO, N. Jr. - Estudo populacional da incidência de varicocele. JORNAL BRASILEIRO DE UROLOGIA, 8 (2): 125-127, 1982. 3. OSTRE, J. - Further fate of the foreshin: Incidence of preputial adhesions, phimosis, and smegma among Danish boys. ARCH DIS CHILDHOOD. 43: 200, 1968. 174 fístula pieloduodenal - relato de um caso FRAGOMENI, J. C. P. - PINTO, E. P. - SILVA, C. W. T. - ALMEIDA, J. C. do Hospital das Forças Armadas - Brasília - DF INTRODUÇÃO Revendo a literatura encontramos pouca ocorrência de fístulas envolvendo duodeno e pelve renal (l). c Estas fístulas podem ócorrer por causas várias como: ingesta de corpo estranho (4), divertículo duodenal, calculose (1), Traumatismo, tumores, iatrogênica e infecção; causas estas compiladas por Rosner (5), em 1979. São normalmente fístulas com sintomatologia aberrante pela presença de suco gástrico no trato urinário e infecções urinárias decorrentes (3). Tendo-nos sido dado tratar um caso de fístula Pieloduodenal de origem traumática, achamos que seria de interesse relatá-lo tendo em vista a raridade , modo com que se apresentou e principalmen te a aparência radiológica bastante incomum. DESCRIÇÃO DO CASO J. A. R., masculino, branco, 39 anos, bancário, Reg. HFA-I07582 , deu entrada no hospital dia 27/01/81 procedente do interior (GO), onde foi operado de Urgência em conseqüência de uma ferida abdominal por arma de fogo. Acompanhava relato cirúrgico que revelava ter sido feito suturas de cólon, 211 porção de duodeno e pólo inferior do rim direito. O paciente evoluiu com quadro de infecção drenando urina pelo pemose deixado em flanco direito. Tendo se imaginado tratar-se de fístula Reno-Cutânea foi tratado conservadoramente, havendo remissão espontânea. ContiRuando o paciente a apresentar quadro clínico e laboratorial de infecção urinária, em 12/02/81 foi o mesmo submetido a Urografia excretora que mostrou deformidade saculiforme a nível de junção pieloureteral direita (Fig. 1). Como o paciente continuava não responder ao tratamento antibiótico, repetiu-se a Urografia em 18/03/81 que mostrou exclusão funcional do rim D. A seguir efetuado cistoscopia e pielografia retrógrada. Quando da injeção de solução contrastante observou-se extravasamento do mesmo de maneira irregular, contrastando o duodeno (Figs. 2 e 3). Em 31/03/81 foi levado à cirurgia. Através de uma incisão para-retal interna direita transumbilical com via transperitoneal. Fig. 1 - Urografia excretora mostrando deformidade saculiJorme a n {vel de junção pieloureteral direita, Inicialmente rebatimento do cólon medianamente e liberação duodenal. Foram ressecadas as bordas da fístula com especial anteção ao esfíncter de Oddi (Fig. 4). Duodeno fechado em 2 planos (Fig. 5). Foi procedida em seguida a nefrectomia direita por ligadura parcelada do pedículo renal junto à veia cava devido a grande fibrose local. Drenagem extraperitoneal da sutura, duodenal e loja renal. Sonda nasogástrica no pós-operatório. Evoluiu apresentando abscesso subfrênico que não necessitou drenagem cirúrgica; Alta hospitalar em 20/05/81 com bom estado clínico e laboratorial. 175 J . Br. Urol. - VaI. 9 N?4 - 1983 Fig. 5 - Aspecto após sutura do duodeno. DISCUSSÃO Encontramos na literatura apresentação deste tipo de fístula em divertículo duodenal infectado, tumores e lesões traumáticas (1). No caso que apresentamos não nos foi dado atender o paciente na urgência, cabendo indagações se a fístula se formou pela deiscência de sutura duodenal ou por lesão concomitante de pelve renal que passou desapercebida o que é comum nos hematomas de retroperitônio. Fig. 2 - Pielografia retrógrada contrastando duodeno. Parece-nos que a fístula se fez tardiamente pois o paciente foi submetido a nefrectomia D., aproximadamente 2 meses após acidente, não tendo havido destruição maior do retroperitônio pelo suco digestivo. Quanto à tática cirúrgica usada optamos por uma incisão anterior transabdominal e extensa para melhor acesso aos órgãos digestivos principalmente duodeno e necessidade de boa exposição do pedículo renal. Optamos pela descompressão digestiva por S. N. G. porque a sutura duodenal nos pareceu boa e pela segu"rança da drenagem retroperitoneal. Fig. 3 - Transoperatório mostra pertuito fistuloso em duodeno. ...- .~~ . ~." . "-1 RESUMO ;~.,.i}.:. .. . .. ~~. Os autores apresentam um caso de fístula pieloduodenal de origem traumática discutindo suas etiologias e tratamento_ I . <>.;,. -'I ·1. ~. .. ~. SUMMARY . ~ ~. 't . ';' The authors present a case of traumatic pyelo duodenal fistulae. The etiology, pathology and treatment are discussed. ~ Fig. 4 - Bordas do orifício duodenal ressecadas. J . Br. Urol . - Vol . 9 N<?4 - 1983 176 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 3. HORWICH, M. A reno-jejunal fistula. Brit. J. Surg., England, 49: 109 a 110, 1961. 4. PICKARD, L. R., TEPAS, J. J., AGARWAL, B. L. HALLER, J. A. J. Duodeno-renal fistula. An uncommon complication of an ingested foreign body. J. Pediatr. Surg., Baltimore, U.S.A., 15 (3): 337 a 338,1980. 5. ROSNER, N. & RODECK, G. Fistulas between bowel and Urinary tract. Urologe., Germany, 18: 26 a 30,1979. 1. ARTHUR, G. W. & MORRlS, D. G. Reno-alimentary fistu- la\!. Brit. J. Surg., England. 53 (5): 396 a 402,1966. 2. BIANCHl, G. & FRANZOLIN, N. Renojejunal fistula caused by Xanthogranulomatous Pyelonephritis. Brit. J. Urol., Verona, Italy, 52: 66,1980. 177 J. Sr. Urol. - Vol. 9 N?4 - 1983 torção congênita de pênis - apresentação de 4 casos ANTONIO LAÉRCIO BOT ASSO - WILSON SIMAS - JOÃO CARLOS MACARINI LAMARTINE MARTINS DE OLIVEIRA JUNIOR do Hospital e Maternidade Santo Antonio de Campinas - Campinas - SP Apresentava ainda uma torção peniana de 90 0 no sentido anti-horário. Testículo de tamanho e posição normais. Exames laboratoriais normais. Urografia excretora normal. Uretrocistografia miccional: Uretra sem anormalidades, colo vesical aberto. Presença de refluxo vesico uretral bilateral grau L Bexiga de contorno irregular. Paciente recuperando-se muito bem; já consegue deambular com apoio. Não foi indicada cirurgia para correção da anomalia genital. A torção congênita de penis foi primeiramente descrita por Verneuil em Paris, no ano de 1857 (16). Trata-se de uma anomalia bastante rara e freqüêntemente vem acompanhanda de outras malformações, principalmente hipospádias ou epispádias (1 a 15). Quatro casos são apresentados nessa oportunidade. O primeiro, com estreitamento do meato uretral; o segundo, o terceiro e o quarto, sem outras anormalidadades. Caso 1: W. A. S. C.; 4 meses, preto brasileiro, natural .de Campinas - SP. Paciente traziuo ao nosso serviço pela mãe, com dificuldade para urinar. Relata a mãe, que a criança urinava fino e longe. No exame urológico, ficaram caracterizados um meato uretral estreito, de localização normal, bem como uma torção peniana de aproximadamente 600 para a esquerda (sentido anti-horário). Os testículos oCupavam uma posição normal. Exames de laboratório eram normais, bem como os exames radiológicos (urografia, excretora, uretrocistografia miccional). Internado para meatotomia uretralexternal e uretrocistoscopia. A uretrocistoscopia estava normal exceto no curso espiralado da uretra. Trinta dia após a meatotomia uretral a criança estava urinando bem, com jato urinário grosso. Nesse caso, não foi indicada cirurgia corretiva .da torção peniana. Caso 3 O. L. S., 14 anos, branco, brasileiro, natural de Campinas - SP. Paciente com torção peniana desde o nascimento, sem queixas urinárias, porém apresentando problemas de ordem psicológica, devido à anomalia. No exame físico, constatou-se testículos em posição normal, torção peniana de 90 0 no sentido anti-horário. Exames laboratorias normais. Na urografia excretora, constatou-se uma duplicidade pielo ureteral incompleta à esquerda. Uretrocistografia normal. Feita cirurgia pela técnica Culp modificada; paciente evoluiu otimamente no pós-operatório. Agora, com 1 ano de pós-operatório, apresenta perfeito relacionamento com os colegas, desaparecendo os •problemas psíquicos anteriores. Caso 4 A. S. N., 6 meses, branco, brasileiro, natural de Sumaré - SP. Trazido ao nosso serviço pelos pais, muito preocupados devido anomalia peniana que o garoto apresentava e desejando uma cirurgia corretiva para o filho. Apresentava uma torção de 45 0 no sentido horário, desde· o nascimento; bolsa escrotal sem anormalidades, testículos de posição normal. Exames laboratoriais e radiográficos nolTIlais. Uretrocistoscopia: sem alterações. Realizada cirurgia pela técnica de Culp modificada. Sete meses de pós-operatório, apresentando ótimo aspecto; família satisfeita. Caso 2 P. F. A.; 13 anos, branco, brasileiro, natural de Campinas - SP. Paciente admitido na emergência do Hospital e Maternidade Santo Antonio, atingido por projétil de arma de fogo, com perfuração abdominal, atingindo também a medula. Feito laparotomia explorada, foram constatadas perfurações intestinais. Quando foi solicitada avaliação urológica, o paciente apresentava paraplegia, incontinência urinária e fecal. J. Br. Urol. - Vai. 9 N'?4:- 1983 178 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DISCUSSÃO A causa dessa anomalia é desconhecida. Acredita-se que seja devido a desenvolvimento inadequado do corpo cavernoso. Caracteriza-se pela rotação do pênis no seu eixo longitudinal; geralmente o grau de torção fica em torno de 900 ou menos, podendo ser tanto para a direita do observador (sentido horário) quanto para a esquerda (sentido anti-horário). Caso não existam outras anomalias associadas e desde que o paciente se ache assintomático, não há indicação cirúrgica; a menos que, como em 2 dos nossos casos, o fator psicológico tenha grande influência no doente ou cause preocupações nos .familiares em se tratando de criança. Vale a pena destacar a importância do fator psicológico, em portadores dessa afecção. Existe na literatura, caso de torção de 1800 em que o indivíduo tinha perfeitas funções urinárias e sexuais. A técnica por nós utilizada foi a àe Culp modificada. É feita uma incisão circular a 0,5 cm da glande. A pele e fascia de dartos são incisadas; em seguida, deslocadas no sentido proxímal do pênis até a sua base. O próximo passo seria a rotação da pele e túnica de dartos naposição normal, com ressutura da pele na mucosa. 1. AYGUESPARSSE, M.: Torsion congenitale du pénis, avec- 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. RESUMO Os autores apresentam quatro casos de torção congênita de pênis e discutem tratamento cirúrgico. 14. SUMMARY 15. The authors present four cases of congenital torsions of the penis and discuss the cirurgical treatment. 16. 179 hypospadias pénien antérieur. J. de Méd. de Bordeaux, 43: 566, 1913. BROUSSARD, E. R.: Uncomplicated congenital torsion of penis. J. Pediatries, 46: 456,1955. CADDY, A.: A case of congenital torsion of the penis. Lancet, 2: 634, 1894. CAMPBELL, M. F. and HARRISON, J. H.: Urology, 3rd ed. - Philadelphia: W. B. Saunders Co, voI. 2, pp. 15781578,1970. CULP, O. S.: Struggles and triumphs with hypospadias and associated anomalies: Review of 400 cases. 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Nosso trabalho objetiva fazer um estudo retrospectivo dos casos tratados no HBDF, fazendo uma análise que interessa desde a queixa principal até a evolução clínica de cada caso. 5. Raça O 02 04 07 02 Casos Branca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Preta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 11 MATERIAL 6. Tempo de evolução Foram estudados 42 casos de tumores reinais atendidos na Unidade de Urologia do Hospital de Base do Distrito Federal, na década de 1970. Casos Tumor de rim 01 mês a 01 ano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . " 10 01 a 05 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08 Mais de 05 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . " 02 Não determinado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 07 RESULTADO Tumor de Wilms O a 01 mês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 a 03 meses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 a 06 meses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 06a01 ano, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não determinado Casos 1. Diagnóstico histopatológico Hipernefromas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . '.' 20 Tumores de Wilms . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Tumores Metastásicos para Rim . . . . . . . . . . . . 03 Tumores de Bacinete . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04 Tumor de rim J. Br. Urol. - Vai. 9 N<?4 - 1983 Casos Dor lombar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Alteração miccional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anorexia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Dor Abdominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cefaléia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sesação de peso no flanco, dor lombar bilateral, dispnéia, tontura, astenia . . . . . . . . . . . . . . . ' Casos 20 22 Casos 01 01 01 05 13 02 05 Tumor abdominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Hematúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Emagrecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Febre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Alterações digestivas . . . . . . . . . . . . . . .... Tumor no flanco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Hipertenção arterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vômitos .. " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180 08 07 07 03 02 01 Casos 9. Sinais 4. Idade O a 13 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 a 30 anos 31 a 30 anos 41 a 50 anos 51 a 60 anos 61 a 70 anos 71 a 80 anos 02 05 05 01 02 . . . . 7. Sintomas Casos 2. Rim doente Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Esquerdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Bilateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 3. Sexo Masculino Feminino Casos . . . . . . . . 16 14 11 05 05 04 04 04 Normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Não foi realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Edema dos MMII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 Expectoração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 02 Estado geral comprometido, aumento da mandíbula direita, tumefação dolorosa do terço médio da perna esquerda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 01 10. Exames laboratoriais 15. Medicina nuclear 11. RX de abdome Casos Cintilografia hepática. . . . . . . . . . . . . . . . . .. (metástases) Casos Anemia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Piúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Hematúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Proteinúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uremia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . . .. Leucocitose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Oxalúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Hiperglicemia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Fosfatúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Hiperpotassemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 01 34 02 16. Outros exames radiológicos 22 21 14 08 03 02 02 02 01 01 Casos Tórax Normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Nódulos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Condensação parenquimatosa . . . . . . . . . . . .. Alteração do diafragma . . . . . . . . . . . . . . . .. Hiperinsuflação pulmonar .......... :.... Paquipleurite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Desvio do medias tino . . . . . . . . . . . . . . . . . . Derrame pleural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Casos 27 07 03 02 02 02 01 01 Casos c '1P!, Clister opaco c."",,,' Velamento do hemiabdome . . . . . . . . . . . . . . Silhueta renal alterada . . . . . . . . . . . . . . . . .. Rechaçamento do cólon .......... " . . . .. Calcificações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Distensão de alças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Hepatomegalia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Esplenomegalia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Não foi realizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Exclusão funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Deformidade e falha pielocalícial . . . . . . . . . .. Aumento de volume renal . . . . . . . . . . . . . . . Alteração no contorno renal ............ " Caliectasia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Calcificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Retardo de função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Realizada sem laudo . . . . . . . . . . . . ..... " Não realizada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Massa bem vascularizada com vasos abertos Massa sem alteração vascular. . . . . . . . . . . . .. Oclusão arterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Parênquima normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Realizada sem laudo .,. . . . . . . . . . ...... . Não foi realizada 14. Cavografia 01 Casos Crânio Normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Aumento da cela túrcica . . . . . . . . . . . . . . . . Metástase no crânio. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Pielografia retrógrada 14 12 02 02 02 02 02 08 05 02 01 01 Casos Falha de enchimento . . . . . . . . . . . . . . . . . " 02 17. Metástases Tumor de rim Não houver metástases . . . . . . . . . . . . . . . . .. Para veia cava. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Para pulmão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para fígado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Costela, coluna vertebral, parede abdominal, bacia, couro cabeludo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 01 01 01 Tumor de Wilms Não houve metástases . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para pulmão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , Para fígado .. , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para veia cava. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... . Para gânglios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 22 Casos . . . . Casos Normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Casos 13. Arteriografia renal 03 EED Casos 12. Urografia excretora Obstrução da veia cava inferior ., ......... Deslocamento da veia cava . . . . . . . . . . . . . . Trombos da veia ilíaca . . . . . . . . . . . . . . . . . Trombose da veia renal direita . . . . . . . . . . . . 10 03 02 03 01 01 01 06 19 Metastásico 02 01 01 01 13 05 04 03 01 Casos 09 06 03 03 01 Casos Da suprarrenal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Do pulmão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Do ovário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 Casos 01 01 01 J. Sr. Urol. - Vol. 9 N~4 - 1983 24. Localização do tumor Casos 18. Embolização da artéria renal F oi realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02 Não foi realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 19. Radioterapia Casos 11 08 Todo o rim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , .. Pólo inferior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pólo Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pelves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ambos os rins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não constatado . . . . . . . . . . . . . . Tumor de rim Casos Pós-operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05 Pré-operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02 Não foi feita ...... . . . . . ............ . 20 06 04 01 12 25. Complicações cirúrgicas Tumor de Wilms Pós-operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... Pré-operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pré e pós-operatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não foi feita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Casos 10 O 01 04 Não houve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Insuficiência respiratória . . . . . . . . . . . . . . . . lÍeo paralítico . . . . . . . . . . . . . . . . , ..... . Hemorragia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . Lesão de cava, insuficiência cardíaca congestiva, extravasamento de tumor para a cavidade, absceso de parede, abertura de pleura, lesão de aorta, abscesso subhepático, abscesso loja renal, hipotenção arterial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 20. Quimioterapia Casos Tumor de Wilms Realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Não realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06 . . . . . . Nefrectornia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . N efroureterectomia. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Nefrectomia + limpeza ganglionar .......... Nefrectomia + lobectomia . . . . . . . . . . . . . . . Nefrectomia+ biópsia de gânglio. . . . . . . . . .. Biópsia de rim . . . . . . . . . . . . . . . . ...... , Sem descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sem tratamento cirúrgico. . . . . . . . . . . . . . .. 23. Aspecto macroscópico do tumor Peso médio 681 g, peso maior 2400 Kg, peso menor 128 g superfície irregular . . . . . . . . . . . . Nódulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . " Áreas hemorrágicas . . . . . . . . . .......... . Necrose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Massa esbranquiçada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Compressão parenquimatosa . . . . . . . . . . . . . . Calcificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aspecto cístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Destruição parenquimatosa. . . . . . . . . . . . . . . J. Br. Urol. - VaI. 9 N?4 - 1983 Tumor renal Sem acompanhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . Óbito pós-operatório mediato . . . . . . . . . . . . Dois anos sem metástase . . . . . . . . . . . . . . . Três anos: TU de Bexiga . . . . . . . . . . . . . . . . Casos 18 16 03 01 01 03 22. Tratamento cirúrgico 23 04 03 02 01 26. Acompanhamento Tumor de rim Casos Realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02 Não realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 21. Via de acesso Laparotomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lombotomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Toracofrenolaparotomia . . . . . . . . . . . . . . . Lomboabdominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sem descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não houve cirurgia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Casos Casos . . . . Tumor de Wilms Sem acompanhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . Óbito pós-operatório mediato . . . . . . . . . . . . Dois anos sem metástase . . . . . . . . . . . . . . . Cinco anos sem metástase . . . . . . . . . . . . . . . Casos 22 11 01 01 01 02 01 03 17 06 02 02 Casos . . . . 07 06 01 01 COMENT ÁRIOS Verificamos que nas três primeiras décadas o tumor de rim é raro. Não encontramos nenhum caso de hipernefroma na infância, o que confirma a excepcionalidade do fato (1, 2). O único caso em nosso relato deve-se a um neuroblastoma metastático para rim. Em 30 - 45% dos casos os primeiros sintomas são devidos a seus efeitos tóxicos, endócrinos ou metastáticos e não diretamente relacionados à massa tumoral {7). Hematúria, dor lombar e massa palpável, tríade conhecida como das principais manifestações de tumor renal, não foi muito freqüente. Atinge 10-15% na opinião de vários autores (4). A hipertensão arterial encontrada em quatro casos tem etiologia controvertida mas provavelmente deve-se à renina elaborada ou pelo tumor ou pelo parênquima comprimido pelo tumor (6). As lesões de mandíbula é da perna devem-se às metástases à distância caracterizando o estádio IV em que se encontram a maioria dos casos estudados. Casos 13 08 06 04 04 02 02 02 01 182 Tecem comentários sobre o quadro clínico, métodos diagnósticos, tratamentos realizados, principalmente analisando os vários aspectos da conduta cirúrgica. Relatam o diagnóstico histopatológico e o acompanhamento de alguns casos. A bioquímica de sangue é normal na maioria dos pacientes portadores de tumor renaL A urografia excretora foi sugestiva de tumor em mais de 12 casos, entretanto o diagnóstico de precisão é feito através da arteriografia renal (5). A cavografia nos orienta principalmente quanto à indicação cirúrgica. Utilizamos embolização com gelfoam em pacientes sem condições de se submeterem a cirurgia e essa conduta teve o objetivo de controlar a dor, diminuir a hematúria, diminuir a possibilidade de novas metástases, diminuir o estímulo hormonal tumoral, oc1uir fístulas arteriovenosas, etc. (8). Foi realizado tratamento cirúrgico mesmo nos casos em que havia metástases à distância (estádio IV), admitindo-se, como vários autores, ser este o melhor procedimento (3, 10). A cirurgia oncológica no câncer de rim é feita ressecando-se o órgão, a cápsula adiposa, a fáscia, cápsula suprarrenal e gânglios linfáticos regionais. A melhor via de acesso é a toracofrenolaparotomia; com ela é possível uma inspeção retroperitoneal e abdominal, além de fácil acesso ao pedículo do rim (9). A maior dificuldade do nosso estudo foi a análise do acompanhamento dos pacientes. A maioria deles, por problemas de educação e/ou sócio-econômico, rião regressa ao serviço para controle. SUMMARY The authors presents 42 cases of kidney malignants tumors diagnosed, between 1970 and 1980 by the HBDF Departments of Urology. They discuss the clinicaI aspects, diagnostic procedures and treatment, and foccuse the cirurgical technics used in each case. Histopathology diagnosis and follow up are included in some cases. BIBLIOGRAFIA 1. AMARJIT, s., SINGH, A. SEHGAL, KAVR, Bilateral Hypernephroma in a child. J. Vrol., 118: 323, 1977. 2. ARAP, S., GIRON, MENEZES DE GÓES, TOLEDO, CAM· POS FREIRE. Hipernefroma na infância. J. Bras. Vrol., 2: 242, 1976. 3. DOOLITTLE, K. H. Spontaneous Remission of Solitary bone Metastasis after Removal of the Primary Kidney Adenocarcinoma. J. Vro!. 803, 1976. 4. GORGEN, R. C., KOFF, W. J. Estudo retrospectivo de 37 pacientes com tumor renal. J. Bras. Vro!. 6: 95, 1980. 5. KLEIN, L. A., EISENBERG, H. Extended Angiography in Diagnosis and treatment of renal carcinoma. J. Vrol. 114: 366, 1975. 6. LEBEL, M., TALBOT, GROSSE, MORIN. Adenocarcinoma of the Kidney and Hypertension. J. Vro!., 118: 923, 1977. RESUMO Os autores apresentam 42 casos de tumores malignos de rim, atendidos no Serviço de Urologia do Hospital da Base do Distrito Federal, na década de 1970. 183 J. Br. Urol. - Vai. 9 N?4 - 1983 sarcoma alveolar de partes moles retroperitoneal de um caso relato PAULO MAURICIO BUSO GOMES, VERA REGINA' LOBO, HERZEN DE JESUS VIEIRA E PAULO JOSÉ PEREIRA BRINGEL do Hospital Naval Marcilío Dias - Rio de Janeiro ~ RJ Exame clínico revelou massa endurecida a nível de hipocôndrio esquerdo. Urografia excretora (Fig. 1) mostrava hidronefrose esquerda com deslocamento cranial do rim e desvio lateral do meter. Cintilografia (Fig. 2) mostrou, ainda no rim esquerdo, retardo de eliminação do radiomaterial ~m relação ao seu homólogo. Ultra-sonografia (Fig. 3) confirmou massa tumoral sólida retroperitoneal. Exames laboratoriais hematológicos, e" bioquímicos dentro dos limites normais assim como Rx de tórax. Cintilografia óssea mostrou áreas de maior atividade no 2ç> arco costal posterior direito, 11 I? arco costal pos. terior esquerdo e 21? vértebra lombar. INTRODUÇÃO O sarcoma alveolar de partes moles (S.A.P.M.) é uma . neoplasia maligna rara e foi descrita com essa designação pela primeira vez por Christopherson (1), embora outros tumores de padrão histológico semelhante já tivessem sido publicados por outros autores sob as designações de rnioblastoma de células granulares, rabdomiomas, lipossarcomas e angiossarcomas. Sua raridade está bem caracterizada na série de Ekfors (3) que no período de 1960-69 identificou 2 casos de S.A.P.M. entre 246 tumores de partes moles. Cocty (2) em sua revisão de 158 casos de tumores retroperitoneais também só observou 2 casos de S.A.P.M. Segundo Enzinger (4) , que reviu o maior número de casos de S.A.P.M. (143), esta neoplasia representa cerca de 0,5% de todos os tumores de partes moles. Tem sido descrito com maior freqüência nos membros inferiores e muito raramente no retroperitônio. As duas maiores séries relatadas na literatura, Lieberman (8) ~ 53 casos e Enzinger (4) ~ 143 casos, não continham tumores retroperitoneais. Mathew (9) publicou um caso de S.A.P.M. retroperitoneal e Font (7) descreveu 17 casos em órbita. Atualmente vários autores têm procurado estabelecer a histogênese desses tumores, que apesar de vários estudos histoquímicos (3, 5, 8) e ultra-estruturais (6, 7, 11) permanece incerta. Da mesma forma, é controversa a melhor forma de tratamento para esses tumores que cursam freqüentemente com metástases à distância e curta sobrevida. Até o momento o mais importante fator para diagnóstico, além do padrão alveolar, é o achado de cristais em forma de agulha, P.A.S. positivos após diástase, visíveis à microscopia óptica, observado pela maioria dos autores, no citoplasma de células tumorais. RELATO DO CASO Paciente de 32 anos, mulher, branca, natural do Maranhão (Reg. 62471) que há cerca de 6 meses sofria de dor lombar esquerda, que se irradiava para flanco e fossa ilíaca esquerda, além de massa no hipocôndrio esquerdo. Os sintomas se intensificaram gradativamente e se acompanharam de emagrecimento de 8 kg. J. Br. Urol. - Vol. 9 N'?4 - 1983 Fig. 1 - Urografia excretora mostrando hidronefrose esquerda com deslocamento cranial do rim esquerdo e desvio lateral do ureter. 184 Exame anátomo-patológico mostrou (Figs. 4, 5 e 6) massa tumoral encapsulada medindo 17,5 x 13 x 10 cm comprimindo ureter. O rim mantinha lobulação fetal e revelava aos cortes dilatação do sistema pielocalicial. Superfície de corte mostrava aspecto lobulado, superfície branco~amarelada com algumas áreas de necrose e hemorragia. Fig, 4 - Massa encapsulada medindo 17,5 x 13 x 10 cm e o rim com lobulação fetal. Fig. 2 - Cintilografia mostrando retardo de alimentaçaõ do radiomaterial à esquerda. Fig. 5 - Superf(cie de corte alternando áreas brancacentas lobuladas com áreas de hemorragia e necrose. Fig. 3 - Ultra-sonografia confirma massa sólida retroperitoneal. A paciente foi levada à laparotomia exploradora, e na ocasião foi ressecada grande massa tumoral aderida à musculatura lombar, aorta, peritônio, rim e ureter esquerdo. Foi realizada também nefroureterectomia esquerda em bloco. com o tumor. Exame da cavidade não revelava lesões hepáticas ou ganglionares. Fig. 6 - Detalhe da peça evidenciando compressão ureteral. 185 J. Br. Ural. - VaI. 9 N?4 - 1983 À microscopia foi observada neoplasia maligna mostrando ninhos bem deflnidos de células grandes, poliédricas, citoplasma claro e núcleos vesiculosos com um grande nucléolo (Fig. 7). Estes ninhos estavam separados por fendas vasculares, revestidas por camada endotelial configurando arranjo alveolar. Esse aspecto foi visualizado com melhor clareza nas preparações coradas pelo método de Gomori para fibras reticulares (técnicas padronizadas), (Fig. 8) pela coloração de P.AS. com diástase (técnica padronizada) verificamos células de estruturas cristalinas em forma de agulha. (Fig. 9). Fig. 9 - Detalhe de corte corado pelo PAS após diástase. Presen- ' ça de cristais característicos em forma de agulha (seta) . 1000 x. Meses após a cirurgia a paciente veio a falecer com metástases ósseas disseminadas. COMENT ÁRIOS Os cristais em forma de agulha foram descritos à microscopia eletrônica por Shipkey (10) e segundo esse autor, já tinham sido relatados, em cortes corados pelo P.AS. por Masson em seu livro "Tumeurs Humaines"_ Fig. 7 - Aspecto alveolar do tumor permeado por fendas vasculares. Col PAS - 200 x. Vários autores (3, 6,7,8,9 , 10, 11)consideramesse achado como característico do S.A.P.M., uma vez que não foram observados cristais idênticos em nenhuma outra neoplasía. À microscopia eletrônica conforme descrito em vários trabalhos (6, 7, 9, 10, 11) estas estruturas cristalinas apresentam periodicidade de 8 a 10 um. Fisher (6) suspeitava de origem miógena uma vez que encontrou cristalóides à microscopia eletrônica semelhantes aos observados nos rabdomiomas. Welsh (11) identificou semelhanças com para-gangliomas de corpo carotídio. Recentemente Mathew (9) realizou estudo detalhado de um caso, à microscopia eletrônica oferecendo evidências de que esses tumores poderiam ser originários da crista neural, uma vez que identificou fibras de mielina e axônios míelinizados além da presença de corpos anguIados em células tumorais. Ele identificou a presença de raros cristais. Fig. 8 - Corte corado pela reticul{na de Gomori, demonstrando fibras reticulares envolvendo grupos de células. 300 x. Nós acreditamos, baseados em estudos da literatura, que esses tumores possam ser realmente originários das células de Schwan mas não dispomos de microscopia eletrônica na rotina para o estudo desses casos. Todavia, o achado dos cristais P.AS. positivos, técnica bastante simples tem sido considerada por todos como suficiente para o diagnóstico de S.AP.M. Cerca de um mês após a cirurgia, como permanecessem os sintomas dolorosos, foi iniciado esquema de poliquimioterapia com 800 mg de ciclofosfamida (500 mg/m 2 ), 70 mg de Adriamicina (50 mg/m 2 ) e 1 rngde Vincristina. O esquema foi repetido após 1 mês. Houve remissão da sintomatologia dolorosa. J. Sr . Urol. - Vai. 9 N<?4 - 1983 186 2. CODY, H. S., TURNBULL, A. D., FORTNER, J. G., HAJDU, S. 1., The Continuíng Challenge of Retroperítoneal Sarcomas, Cancer, 1981; 47-2147-2152. 3. EKFORS, TO, KALINO, H., RANTAKOKKO, V_, LATVALA, M., PARVINEM, M., Alveolar Soft-part Sarcoma, a report of two cases with some hístochemical and ultrastructural observatíons, Cancer, 1979: 1672-1677. 4. ENZINGER, F. M., WEISS, S. W., Soft Tissue Tumors, the C. V. Mosby Company, St. Louis, Missouri, 1983: 780787. 5. FISHER, E. R., Histochemical Observatíons on an alveolar soft-part Sarcoma with reference to histogenisis, AM.J. Pathol, 1956; 32: 721-737. 6. FISHER, E. R., REIDBORD, H., Electron Microscopic Evidence suggesting the Myogenous Derivation of the socalled Alveolar soft-part Sarcoma, Cancer, 1971: 27: 150-159. 7. FONT, C. L., JURCO m, S., ZIMMERMAN, L. E., Alveolar soft-part Sarcoma of the orbit: a c1inicophathologic analysís of seventeen cases and a review of the !iterature, Human Pathology, 1982; 13:569-579. 8. LIEBERMAN, P. H., FOOTE, E. W., STEWART, F. W., BERG, J. W., Alveolar soft-part Sarcoma, The Journal of the American Medicai Association 1966; 198: 121125. 9. MATHEN, T., M. B. B. S., F. R. C. P. A., Evidence Suporting Neural Crest Origin of an Alveolar soft-part Sarcoma, Cancer, 1982; 50: 507-514. 10. SHIPKEY, F. H., LIEBERMAN, P. H., FOOTE, F. W., STEWART, F. W., Ultrastructure of alveolar soft-part sarcoma, Cancer, 1964; 17 :821-830. 11. WELSH, R. A., BRAY m, D. M., SHIPKEY, F. H., MEYER, A.T., Histogenesis of Alveolar soft-part sarcoma, Cancer, 1972; 29:191-204. RESUMO Um único caso de Sarcoma Alveolar de Partes Moles S.A.P.M. foi observado no Hospital Naval Marcílio Dias. no período de 1976 a novembro de 1983. Nesse intervalo foram diagnosticados por biópsia ou ressecção cirúrgica um total de 63 sarcomas de partes moles. Há evidências de que os cristais em forma de agulha, P.A.S. positivos, diástase resistentes, observados em algumas células tumorais, sejam características da doença e importantes no diagnóstico diferencial com outros tumores. SUMMARY One case of alveolar soft-part sarcoma was observed in the "Hospital Naval Marcilio Dias" between January, Ig76 and November, 1983. In this period of time had heen diagnosed by biopsy or surgical ressection a total of sixty-three soft-part sarcoma, in the same hospital. There are evidences that the needle-like, PAS positive cristals, which are reslstents to diastase digestion observed in some tumoral cells, are features of the disease and importants in the diferential diagnosis with anothers tumors. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÂFICAS 1. CHRISTOPHERSON, W. M., FOOTE, F. W., STEWART, F. W., Soft-part Sarcomas: Structurally Characteristic Tumors of Uncertain Hístogenesis, Cancer, 1952; 5 :100111. 187 J. Sr. Urol. - Vol. 9 N<?4 - 1983