HUWILER, Eike. Engaging the Ear: Teaching

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HUWILER, Eike. Engaging the Ear: Teaching
HUWILER, Eike. Engaging the Ear: Teaching Radio Drama Adaptations. In. Redefining
Adaptation Studies. UK: Plymouth, 2010. p. 133 - 145
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Ao lecionar sobre peças radiofônicas, é preciso que se pergunte: Os alunos
possuem alguma noção do que se trata? Eles possuem algum acesso ao meio
aural? Como eles definem Peças Radiofônicas? Feito isso, o autor
identificou que alunos com quem teve contato (de diferentes países
europeus) possuem visões divergentes em relação ao tema.
Alunos de países falantes de língua inglesa veem as Peças Radiofônicas
como uma arte literária: Como um texto dramático para os ouvidos. A
experiência deles é com a BBC e a peça que eles mais relataram conhecer é
The Archers.
Em países de língua alemã, formas experimentais de Peças Radiofônicas, ou
Hörspiel (Jogo de Ouvir) são mais comuns. Os alunos possuem noções
variadas do tema e possuem familiaridade com as formas tradicionais de arte
produzidas nos anos 50. Apesar disso, alguns dos alunos não possuem tanto
contato com a arte pelo fato de que poucas estações de rádio as transmitiam
e, ainda assim, apenas em horários pouco acessíveis.
133/134 Na Holanda, não se consideram as Peças Radiofônicas como forma de arte.
Os alunos veem as Peças Radiofônicas como um gênero literário antiquado,
envelhecido e ultrapassado, que só teve alguma popularidade porque ainda
não havia Televisão. Estes alunos dizem que nunca ouviram uma Peça
Radiofônica.
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É importante acostumar os alunos com as peças radiofônicas antes de
ensiná-las. Para isso, é necessário que os exponha a diferentes produções.
Esta visão que os alunos demonstraram surgem como um reflexo dos
estudos acadêmicos sobre peças radiofônicas. Nos países de língua inglesa e
alemã, isto é um tópico de pesquisa marginal, mas existente, enquanto que
na Holanda, quase não há trabalhos acadêmicos à respeito.
O nome dado às peças radiofônicas variou com a sua concepção nos países
de língua inglesa e alemã:
Nos países de língua inglesa, o nome dado foi Radio Drama desde que o
rádio se popularizou como um elemento de entretenimento doméstico.
Nos países de língua alemã, o nome dado foi Hörspiel.
134/135 Na década de 1920, o rádio foi popularizado. Com isso, algumas pessoas
viram a necessidade de inventar uma nova arte que fosse possível de ser
veiculada através dele.
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Acreditava-se que, com estes elementos, não apenas seria melhor de
distinguir as peças radiofônicas das peças tradicionais, como também seria
mais fácil de se ganhar o reconhecimento como uma forma legítima de arte.
A maioria destas demandas surgiu da vontade dos diretores da época, que
tinham o poder de aceitar ou recusar manuscritos e produzir apenas aqueles
que se encontravam com o que eles entendiam como forma de arte. Este foi
e ainda é o caso de transmissoras que não possuem concorrência. Nos anos
80, na Alemanha, o monopólio das emissoras públicas foi quebrado, o que
ainda não ocorreu na Grã-Bretanha, que ainda tem a BBC como maior
expoente.
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A noção de que o rádio é um meio de comunicação limitado acompanhou o
desenvolvimento histórico da arte das Peças Radiofônicas de maneiras
variadas e influenciou a escolha de suas tramas e cenários. As produções
radiofônicas germânicas da década de 1950, por exemplo, passaram a incluir
elementos impossíveis de serem encenados no teatro para que pudessem se
diferenciar das peças tradicionais. Exemplos disso são: Vozes de almas,
árvores ou outras figuras não humanas; de figuras alegóricas ou de
elementos não existentes eram comumente ouvidas.
Sobre o conceito acima, Huwiler cita Tim Crook, que diz: “As noções da
‘cegueira’ do rádio devem ser abandonadas como um gesto de insegurança
intelectual e filosófica. O espetáculo imaginativo do rádio apresenta uma
potente dinâmica que é raramente trazida por outros meio eletrônicos. Dar
ao ouvinte a oportunidade de criar uma narrativa fílmica individual é o
mesmo que torna-lo um participante ativo no processo de comunicação e
escuta. A participação é física, intelectual e emocional”.
Huwiler afirma que as peças radiofônicas, tradicionalmente, são definidas
através de suas limitações ao invés de suas características positivas. A noção
mais famosa é a de que o rádio é um meio de comunicação voltado para os
cegos.
Andrew Crisell, citado por Huwiler, afirma que esta peça radiofônica
“talvez tenha se preocupado demais com as limitações do rádio”. Esta
afirmação surge pelo fato de que a trama da peça se passa em uma mina de
carvão onde há um apagão.
A primeira peça radiofônica, produzida especificamente para a gravação e
veiculação por rádio, foi A Comedy of Danger, de Richard Hughes, com
produção da BBC. A sua transmissão foi em 15 de Janeiro de 1924.
Nos países europeus e nos Estados Unidos, as escolhas foram as de
adaptações de produções literárias já existentes. Entretanto, surgiu a
demanda por uma arte radiofônica específica, que foi atendida pelas
estações de rádio.
Entre os anos 60 e 70, uma espécie de revolução aconteceu e mudou as
Peças Radiofônicas Germânicas. Os autores protestaram contra a rígida
definição de arte e postularam uma definição diferente: A Hörspiel não
deveria contar uma estória literária em diálogos e monólogos, mas
apresentar a sua principal característica, a linguagem, como um elemento
acústico com o qual é possível jogar. Assim, Hörspiel, como já definido, o
Jogo de Ouvir, se tornaria um experimento lúdico, que não se concentraria
em contar estórias, mas em experimentar elementos técnicos do áudio.
Nascia, então, as Neues Hörspiel. Este conceito foi rejeitado inicialmente
por ser considerado elitista por oferecer dificuldades para as massas
acompanharem. Ainda assim, acabou redefinindo o conceito e o
desenvolvimento das peças radiofônicas germânicas.
Com isso, surge um período experimental na produção das peças
radiofônicas. As peças de autores como Andreas Ammer e F. M. Einheit
trouxeram diferentes trabalhos musicais, com música pop, hip hop e ópera,
além de elementos retóricos como monólogos e recitais, que não envolviam
tanto esta mistura de gêneros. Tudo isso contribuiu para a potencialização da
mídia e das produções radiofônicas.
O passar do tempo e a evolução da tecnologia trouxe novas possibilidades
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para as peças radiofônicas. Novas mídias de gravação como os CDs e a
popularização da Internet trazem novas formas de se gravar e divulgar as
peças. O autor afirma que, com isso, o meio do rádio não é mais um
elemento intrínseco para as peças radiofônicas.
A partir deste ponto, Huwiler passa a falar especificamente sobre adaptação.
O autor, mais uma vez se referindo aos alunos europeus citados
anteriormente, afirma que o conceito de adaptação também é diverso.
Linda Hutcheon afirma que as adaptações são parte da cultura ocidental.
Huwiler a cita diretamente: “Adaptações não são novidade em tempos
atuais...;Shakespeare transferiu as histórias de sua cultura das páginas para o
palco e as tornou disponíveis para um novo público. Ésquilo, Rascino,
Goethe e da Ponte também recontaram histórias familiares de formas
diferentes...Os pronunciamentos críticos de T.S. Eliot ou Northrop Frye não
eram necessários para convencer os adaptadores pelos séculos de que, para
eles, sempre foram um truísmo: a arte é derivada de outra arte; histórias
nascem de outras histórias”.
Huwiler afirma que basta um rápido exame de como as estações de rádio
tratou das adaptações ao longo dos anos para comprovar que os preconceitos
mencionados por Robert Stam em seu estudo sobre a adaptações fílmicas.
Exemplos citados por Huwiler são: “Infidelidade”, “Deformação”,
“Violação” e “Vulgarização”.
Como já mencionado no texto, adaptações possuem grande importância na
história das peças radiofônicas, visto que as primeiras produções do gênero
foram adaptações de livros canônicos. Isso levou à uma assumpção geral de
que autores de literatura eram os únicos criadores de peças radiofônicas.
Esta “regra” só veio a ser questionada em 1990.
Huwiler afirmar que a proximidade das peças com a literatura não era algo
apreciado, já que os produtores das peças queriam enfatizar que a arte
radiofônica era influenciada pelos gêneros e estilos literários, visto que os
autores de literatura eram os únicos produtores de manuscritos, enquanto
que os diretores das estações de rádio buscavam ao máximo se distanciar da
literatura enquanto uma forma de arte. A principal solução que eles
encontraram foi a de banir as adaptações de obras literárias. Logo, percebese que o que foi banido não era o estilo litera´rio, mas o seu conteúdo.
Questiona-se o que seria este conteúdo. Segundo estudos de adaptação, as
histórias existem independentemente de suas formas de expressão. Em
termos narrativos, as histórias não dependem de um discurso ou de um canal
de mídia específico. Apesar disso ser de conhecimento geral (segundo o
autor), isso não impediu que o “conteúdo literário” fosse banido das
produções radiofônicas alemãs.
Huwiler cita dois diferentes tipos de adaptação para as peças radiofônicas:
1 – Usar um texto literário como fonte para criar uma nova obra de arte.
2 – Utiliza o texto literário como base para se contar uma nova história.
A diferença é resultante da estratégia midiática: produzir a literatura em
forma de áudio é uma forma de atrair a audiência e fazer com que as peças
radiofônicas tornem-se populares de novo. Além disso, a distribuição das
peças em formato de CD ou Cassete retira o caráter radiofônico, se formos
muito restritivos. É possível chama-los de audiolivros.
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O autor passa a falar sobre a análise de adaptações de peças radiofônicas.
Ele segue indicando elementos chave para estas peças. Não é apenas a
linguagem, como também música e sons (TECS). Vozes podem aferir
significado através das diferentes entonações. Até o silêncio pode contar
uma história. Outros elementos técnicos são citados, como cortes, fading,
manipulação eletroacústica etc.
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Huwiler passa a analisar a peça radiofônica adaptada do conto “Das
Lullische Spiel”, que conta a história de Raimundus Lullus, um monge
catalão que viveu no século XIII. O autor indica que o uso de
elementos de áudio modificou muito a absorção e apreensão da obra.
Ele diz que o conto escrito é muito objetivo e se encerra rapidamente.
Já a peça radiofônica, através do uso de elementos de áudio como
trilha sonora e TECS como trechos de canto gregoriano ajudavam o
ouvinte a criar uma nova visão da obra. Além disso, ele cita como
exemplo as cenas de flashback, em que o uso de uma distorção de
áudio facilita a percepção da mudança do tempo da peça.
O livro fecha com um breve resumo, retomando a teoria.
RESENHA
Em seu texto, Huwiler (2010) apresenta de maneira sucinta, ensaio sobre peças radiofônicas e
sobre o processo de adaptação. Trata-se de um texto objetivo e permeado por uma grande
gama de informações relacionada ao tema, recomendado àqueles que se interessam por estas
produções.
O trabalho de Huwiler une elementos práticos e teóricos de maneira interessante. Ao utilizar
dados de uma pesquisa realizada com seus alunos, o autor pode demonstrar como pessoas de
diferentes culturas entendem e consomem as peças radiofônicas, o que pode estimular uma
pesquisa quantitativa com estudantes brasileiros. Fica a sugestão para professorespesquisadores que tiverem acesso ao texto.
O autor apresenta um histórico da produção das peças, com um enfoque maior nas produções
das Hörspiel, as peças radiofônicas alemãs, além de teorias relacionadas ao tema. Ele destaca,
principalmente, os preconceitos com o meio radiofônico e suas “limitações”, a importância
dos TECS para a identidade das peças e a popularização das obras devido ao surgimento de
suportes como o CD. O texto, então, oferece uma detalhada linha do tempo do
desenvolvimento das peças radiofônicas.
Além das peças, Huwiler se dedica a falar sobre o conceito de adaptação, aplicando-o às
peças. Ele indica que as primeiras peças radiofônicas foram feitas em cima de livros clássicos.
Após um período em que os produtores das peças passaram a trabalhar apenas com textos
“originais”, abdicando das adaptações, isso é retomado em 1990. Neste ano, autores alemães
voltaram a trabalhar com adaptações, explorando a capacidade das mídias sonoras.
Trata-se de um texto didático, com uma linguagem de fácil leitura para aqueles que dominam
a língua inglesa. Vários termos em língua alemã foram encontrados no ensaio, mas todos
foram explicados em inglês, o que é um ponto positivo. É um texto recomendado àqueles que
visam o trabalho com adaptações e peças radiofônicas, sendo útil para quem estuda
adaptações de peças radiofônicas.

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