Confluências Nº 19 - Escola Secundária de Camões
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Confluências Nº 19 - Escola Secundária de Camões
BOLETIM ESCOLAR Confluências Confluências (2ª Série) maio / junho 2012 Esc. Sec. de Camões – Monumento de Interesse Público ? Diário da República, 2.ª série — .º 103 — 28 de maio de 2012 Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico, I. P. Anúncio n.º 11631/2012 Projeto de decisão relativo à classificação como monumento de interesse público (MIP) do antigo Liceu de Camões (atual Escola Secundária de Camões), incluindo o edifício principal, os gabinetes de Física e de Química, os pátios, os jardins e os campos de jogos, freguesia de São Jorge de Arroios, concelho e distrito de Lisboa. 1 — Nos termos do artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de outubro, faço público que, com fundamento em parecer da Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura (SPAA -CNC), de 23/01/2012, é intenção do IGESPAR, I. P., propor a S. Ex.ª o Secretário de Estado da Cultura a classificação como Monumento de Interesse Público do Antigo Liceu de Camões, (atual Escola Secundária de Camões), incluindo o edifício principal, os gabinetes de Física e de Química, os pátios, os jardins e os campos de jogos, sito na Praça José Fontana, Rua da Escola de Medicina Veterinária e na Rua Almirante Barroso, freguesia de São Jorge de Arroios, concelho e distrito de Lisboa, conforme planta de delimitação anexa, a qual faz parte integrante do presente Anúncio. 2 — Nos termos do artigo 27.º do Decreto -Lei n.º 309/2009, de 23 de outubro, os elementos relevantes do processo estão disponíveis nas páginas eletrónicas dos seguintes organismos: a) Direção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo (DRCLVT), www.drclvt.pt; b) IGESPAR, I. P., www.igespar.pt; c) Câmara Municipal de Lisboa, www.cm-lisboa.pt 3 — O processo administrativo original está disponível para consulta (mediante marcação prévia) na Direção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo (DRCLVT), Avenida Infante Santo, n.º 69, 1.º, 1350 -177 Lisboa. 4 — Nos termos do artigo 26.º do Decreto -Lei n.º 309/2009, de 23 de outubro, a consulta pública terá a duração de 30 dias úteis. 5 — Nos termos do artigo 28.º do mesmo decreto-lei, as observações dos interessados deverão ser apresentadas junto da Direção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo, que se pronunciará num prazo de 15 dias úteis. 6 — Caso não sejam apresentadas quaisquer observações, a classificação será publicada no Diário da República, nos termos do artigo 32.º do diploma legal acima referido, data a partir da qual se tornará efetiva. 11 de maio de 2012. – O Diretor do IGESPAR, I. P., Elísio Summavielle. UMA FESTA DE FIM DE ANO O Movimento Camoniano, que tem dinamizado culturalmente a escola, voltou em grande neste final de ano e animou o pátio norte pela noite fora. PARABÉNS! Nesta edição: Scriptomanias Clássicos da Literatura Chá dos Clássicos Concurso Quem fala assim VII Edição Conc. Literário Em Inglês & Alemão Concurso Gulbenkian Biblioteca Escolar p. 2, 3, 4 p. 4 p. 5 p. 6, 7, 9 p. 8 p. 10 p. 10 p. 10 Bach – um concerp. 11 to p. 12 Breves (Fotos in http://www.facebook.com/escolasecundariacamoes) A Escola Secundária de Camões agradece o prestimoso apoio prestado pelo GDCBP (Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal), patrocínio que se traduziu na edição impressa de quatro números do Boletim Confluências no decurso do ano letivo que ora finda. Página 2 Confluências SCRIPTOMANIAS Uma árvore, uma faca Olá a todos, sou a Marta (olá Marta). Gostei muito de ouvir as vossas histórias, mas tenho de admitir que a minha é ligeiramente mais surreal. Passa-se com uma árvore. Sim, uma árvore, não precisam de pôr essas caras. Se a plantei? Não, nunca liguei muito a jardinagem. Se choquei contra ela? Ah! Até se pode dizer que sim… Já estão fartos deste suspense não é? Eu alivio-vos. Foi naquele dia. Aquele, sabem? Aquele em que o ar quente nos acomodava, a brisa era pouca, o tronco refletia o laranja, as folhas o verde-escuro. Foi aí que eu o vi. Quem?! O Plátano, quem havia de ser?! Estava lindo, lá isso estava. Talvez mais lindo do que nunca. Como poderia eu não o passar a idolatrar? A partir desse dia, ia lá sempre fazer-lhe uma visitinha, perguntar como estava, se as raízes lhe doíam menos (sim, esqueci-me de referir que ele já era centenário), se os papagaios verdes o tinham andado a incomodar com as suas conversas impróprias, o que pensava dos tempos de hoje. Por muito discreta que fosse, havia sempre alguém a chegar perto de mim e a perguntar Estás a falar com a árvore? Sim. E ela respondete? Óbvio, achas que ia falar sozinha? Mas eu mentia. A eles e a mim. Ele não me respondia. Ignorava-me, por muito que lhe lesse os meus poemas, lhe exaltasse a cor das folhas, a força dos seus troncos, nada ele me dava. Perguntava-lhe todos os dias O que precisas? O que te posso dar? Resposta: inexistente. Sinceramente, caros colegas, nunca cheguei a compreender porquê. Talvez vocês consigam. Esta é a minha história! Gostaram? É girita, mas não acontece nada? Acontecer? Como assim? Sei lá, se aparecerem umas máquinas para o derrubar e tu o salvares, ou se ele começar animadamente a falar contigo do nada, sem qualquer aviso, e viverem felizes para sempre, ou se uma tempestade o partir ao meio e tu ficares em eterno desgosto… alguma coisa! Mas não aconteceu nada, querem que invente? Então, mas chamas a isto uma história? É o que tenho para vos contar… Vai para casa, não te queremos mais aqui! Está bem… adeus… Na altura não percebi a reação deles, porque não os satisfazia a minha história? Mas depois compreendi que, realmente, ela precisava de um fim. E estava nas minhas mãos a sua concretização. Mudei de linha e dirigi-me para ele. Olá… Estás bom?... Ahh… Queria dizer-te que… que preciso de acabar isto. Sei que nunca me consideraste digna de uma palavra tua, já me habituei a esse facto. A verdade é que umas pessoas disseram-me que a minha hisTítulo: Confluências tória não tem interesse e que precisa de um fim. Eu não gosto de ser Iniciativa: Departamento de Línguas desinteressante, logo quero um fim. E já o decidi. Tenho aqui uma faca, é (Grupo Disciplinar de Românicas) tudo o que preciso. Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Marceli- Então… adeus. no Periodicidade: Trimestral “Adeus Marta…” Impressão: GDCBP Inês Freire de Andrade, 12º B Tiragem: 250 exemplares (autora do texto, da foto e do agradecimento abaixo) Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 - 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81 "Como co-fundadora do Movimento Camoniano, quero salientar a enorme importância que a colaboração da Direção da Escola tem tido no nosso projeto. Muitos falam do Camões como uma escola cheia de alunos com iniciativa e criatividade, mas penso que estes existem em todas as escolas. O que não há em todas as escolas é uma Direção como esta, que, para além de permitir que as nossas ideias se concretizem, toma parte essencial na sua construção. Em nome do Movimento Camoniano, quero, assim, aqui deixar um enorme obrigada à Direção da nossa escola, em especial ao diretor, prof. João Jaime, e ao professor José Madureira que tornaram tantos dos nossos sonhos realidade!" Textos de Ana C. Lopes 10º E Página 3 Confluências SCRIPTOMANIAS Cansaço Alegria Cansei-me de mim. Cansei-me do olhar vago de todos os dias. Sentes um sorriso flo- Cansei-me das noites mal dormidas e dos serões mal passados. rir por entre lábios Cansei-me de ser eu. cansados e sujos de Vou transformar-me em mim, por fim. tristeza. O pó da alma é sacudido por um sentimento esquecido: a alegria. Sentes as partes do corpo a desenferrujar e andas de cabeça erguida. Com o vento na cara, o cabelo voa e voltas a conseguir corar. Tudo por causa de um alguém que te relembrou o quão bom é viver e partilhar algo com os outros. Voltas a sorrir e o teu maior sorriso é para o teu salvador, qualquer que ele seja. Confiança Não consigo confiar em ti. Tenho medo. Sei que não sou perfeita e tenho medo que seja disso que estejas à procura. Deixei de ser o teu mundo para ser uma pequena parte dele. Deixei de ser contigo e agora não sou nada. Quero voltar atrás e não ter medo de te perder. Quero voltar atrás para ter a certeza que tomei a decisão certa ou para nem sequer a tomar. Não sei o que pensar e o que sentir. Gosto de ti mas já não somos nós… Observação Estás a ser observada. Cada gesto e cada olhar, cada emoção e cada palavra, é tudo examinado sem piedade. Tentas fingir e transparecer outras coisas, mas já te veem até ao centro. Sonhos Há toda uma ilusão aparente. A magia roda e rodopia por entre nós e deixamonos maravilhar. Acabamos por passar por seres sonhadores com demasiado talento desperdiçado. Nevoeiro No momento em que só queriam adormecer, quarenta pessoas foram engolidas por uma imensidão de branco, sobre uma ponte que não se avistava ao longe. Todas elas perfeitos desconhecidos mas com um objetivo comum: atravessar o sonho imaginado nas formas do nevoeiro. O calor dentro de cada cabeça levava à exaustão das pernas daqueles que atravessavam de pé. Ansiavam o fim do sonho mas a imaginação levou a melhor e acabaram arrastados para o interior do sono. Foto de Lurdes Marcelino (Tejo) Página 4 Confluências SCRIPTOMANIAS Um entardecer Quando se fala num entardecer fala-se do que vem logo à cabeça, o pôr do sol, um momento que não é indiferente a ninguém, um momento único e que não sendo de ninguém, também não é de todos, infelizmente. Seria bom que todos pudessem desfrutar de um fim de tarde assombroso, com pessoas fantásticas e com um igualmente fantástico pôr do sol. Para mim, é impossível explicar as sensações de estar perante uma paisagem com o pôr do sol no horizonte; nem por fotografias ou vídeos se consegue exprimir tudo o que se sente; só quando estamos perante a grandeza da Natureza é que nos apercebemos de quão maravilhoso é o mundo que nos rodeia. Concluindo, nesta altura em que manter o ânimo é muito difícil, para os portugueses, mas fundamental, são as pequenas coisas que fazem a diferença, e, para muita gente, um simples entardecer cheio de cores quentes e com um pôr do sol fantástico, pode fazer com que nos sintamos melhor e mais felizes. Renato Dias, 10º G Clássicos da Literatura Sobre o teatro de Strindberg Menina Júlia a) Sobre a teoria das personagens Apesar de Strindberg ser criticado relativamente a algumas das suas peças («alguém que achava a minha tragédia Pai demasiado triste»), por serem demasiado tristes, o autor responde criticando aqueles que clamam pela «alegria de viver» mas têm, no entanto, um comportamento que em nada corresponde a um modo de vida que possa ser considerado alegre, uma vez que se limitam a criticar e caricaturar os outros. Strindberg continua, acrescentado que, para ele, a alegria de viver reside nas «batalhas da vida, duras e cruéis. (…) E aumentar o meu grau de conhecimento, ser capaz de aprender, isso é para mim o prazer». Como tal, as suas peças têm de ser complexas, ainda que a situação que desencadeia cada uma delas seja vulgar. Assim, é necessário prestar uma atenção mais requintada a cada personagem e a cada traço da sua personalidade, para uma melhor compreensão e análise de cada «carácter». Deste modo, o próprio Strindberg escreve um prefácio à sua peça principal, Menina Júlia, onde se dedica a analisar minuciosamente cada uma das personagens, uma vez que, na obra, o dramaturgo deixa essa tarefa ao leitor, que construirá uma interpretação a partir da sua sensibilidade. Cada personagem é moldada de forma a criar um «ser de papel» dominado pela complexidade. Strindberg não concorda com a ideia de que um indivíduo «se fixou na sua natureza», ou seja, que o seu carácter fica desde logo estabelecido («um homem acabado e fixo »), mas acredita que um homem continua a desenvolverse: «A concepção burguesa da imutabilidade da alma passou para o teatro (…)». Opondo-se a estas conceções e conhecendo a complexidade da alma humana, Strindberg trabalha as suas personagens, retira-lhes o «carácter», que as poderia limitar a uma existência sim- No entanto, de modo a proporcionar ples e passiva. pausas de descanso aos espetadores e aos atores, sem que a ilusão se dissipe b) Sobre o diálogo completamente, Strindberg insere, em Menina Júlia, o monólogo, o improviso e Seguindo estes ideais, também o diá- a dança dos coros. logo das personagens aparece desprovi- A naturalidade e a semelhança com a do de «perguntas idiotas que provocam realidade que o monólogo confere à uma réplica inteligente e cheia de espí- peça, uma vez que acontece uma pessoa rito», acabando por não seguir uma falar com o gato, palrar com o papagaio linha de raciocínio que lhe confira coe- ou simplesmente falar durante o sono, rência e, por isso, o diálogo das persona- só pode ser possível se o ator não tiver gens acaba por vaguear, voltando o de seguir um guião estrito, ou seja, se os mesmo assunto a ser repetido com mais monólogos não forem escritos por extenregularidade, «como acontece na vida so, mas apenas apontados, o ator terá real». liberdade para trabalhar na sua personagem durante a representação, tendo c) Sobre a história em conta o interesse do público. A dança, que Strindberg também Por outro lado, a história, ainda que acrescentou, surge como uma oportuniinteressante, é simples: Strindberg con- dade para quebrar um pouco a ilusão, centrou a sua atenção em apenas duas chamando a atenção do público para personagens, acrescentado depois «um «um grupo de tontos sorridentes», cuja carácter menor», de modo a que a aten- função é aliviar os espetadores de uma ção do leitor recaísse sobretudo no possível tensão causada pela densidade «curso psicológico dos acontecimentos», da peça. e não na história em si. Deste modo, August Strindberg, ao introduzir novas técnicas, ao contornar, d) Sobre a técnica com inteligência, as histórias que cria para as suas peças, e ao dar uma nova No que toca à técnica, Strindberg maleabilidade às suas personagens, suprimiu a divisão em actos, de modo a entre outros, revoluciona o teatro do seu que o espetador não tivesse um tempo século, recebendo a designação de «pai para refletir – os intervalos – e, desse do teatro moderno». modo, não quebrar o efeito hipnotizador Mariana Santos, 12ºJ da peça. Página 5 Confluências CHÁ DOS CLÁSSICOS Dia 6 de junho, na Biblioteca. Depois do Chá dos Clássicos dedicado a Charles Dickens (em 8 de fevereiro), uma segunda edição com destaque para Marcel Proust. Um trabalho exigente, uma aposta ganha. Parabéns aos alunos de Clássicos da Literatura e à professora Cristina Duarte! (fotos de Lurdes Marcelino) Do Lado de Guermantes O narrador nunca chega a Guermantes, já que o passeio é muito longo e tem uma beleza natural que o justifica. A caminhada inicia-se quando o grupo sai pela portinhola do jardim, que ia dar à rua de Perchamps – uma rua tão estranha como o seu nome – que formava um ângulo reto cheio de Gramíneas. Passavam, em seguida, pela Rua do Pássaro e chegavam ao passeio público, por entre cujas árvores surgia o campanário de Santo Hilário. O maior encanto do lado de Guermantes residia no curso do Vivonne, que o acompanhava. Era necessário atravessar um passadiço – A Ponte Velha – que desembocava num caminho de sirga que, naquele local, no verão, se atapetava de folhas azuis de uma aveleira. De uma das margens, o caminho seguia acima da corrente, com um talude de vários pés; do outro lado a margem era baixa e estendia-se em vastos prados até à aldeia e à estação. Viam-se alguns fragmentos do castelo dos antigos condes de Combray. Mais adiante, a corrente afrouxa e em alguns pontos é obstruída por plantas aquáticas, atravessando uma propriedade cheia de nenúfares. As margens eram, nesse local, muito arborizadas e as sombras das árvores conferiam à água um tom verdeescuro. Ao sair deste parque, o Vivonne voltava a correr abundantemente. Em todo o percurso, a distância entre as casas era incerta, com a quinta, que é um pouco afastada das duas seguintes apertadas uma contra a outra. Devido à beleza deste passeio, o narrador sente, pela primeira vez, desejo de escrever. Encontravase então em Martinville, uma pequena localidade que se situava do lado de Guermantes. Ana Silva Helena Alves Se era bastante simples ir para o lado de Méséglise, coisa diferente era ir para o lado de Guermantes, pois o passeio era longo Mariana Santos Do Lado de Méséglise No caminho de Combray para Méséglise existem dois pontos importantes para o narrador: Montjouvain, onde mora a família Vintueil, e a propriedade de Swann em Tansonville. Este caminho, ao contrário daquele que leva ao lado de Guermantes, é curto e sinuoso, mas verdejante. Em Montjouvain existe um talude repleto de silvas que protege a região e um charco diante do qual está um pequeno casebre coberto de telhas. Aí, o Narrador passa alguns momentos, ora contemplando o reflexo de marmoreado róseo que o telhado faz no lago, ora dormindo nas moitas do talude. Relativamente a Tansonville, mesmo antes de se avistar o parque de Charles Swann, aspira-se o aroma que se solta dos lilases e que percorre a cerca branca. Há dois caminhos que a família do Narrador toma: um que ladeia a propriedade e sobe diretamente para os campos (evitado após o «mau casamento» de Swann com Odette) e outro oblíquo, menos direto. Quando optam pelo percurso que passa mesmo em frente a essa propriedade, os caminhantes podem avistar o solar de Swann: À nossa frente, uma alameda bordejada de chagas e batida pelo sol subia para o solar. À direita, pelo contrário, o parque estendiase em terreno plano. Escurecido pela sombra das grandes árvores que o rodeavam, fora aberto pelos pais de Swann um espelho de água; mas, nas suas criações mais artificiais é sobre a natureza que o homem trabalha: alguns lugares continuam a fazer reinar à sua volta o seu poder especial, arvoram as suas insígnias e memoriais no meio de um parque como o fariam longe de qualquer intervenção humana, numa solidão que por todos os lados os vem rodear, surgida das necessidades da sua exposição e sobrepostas à obra humana. Assim, ao pé da alameda que dominava o tanque artificial, tinha-se formado, em duas filas entrançadas de flores de miosótis e de pervincas, a coroa natural, delicada e azul, que cinge a fronte claro-escura das águas, e o gladíolo, deixando fletir os seus gládios com um abandono real, estendia sobre o eupatório e o ranúnculo de pé húmido as flores-de-lis em farrapos, violetas e amarelas, do seu cetro lacustre. Beatriz Carvalho Marlene Monteiro Rita Gutierrez Página 6 Confluências CONCURSO QUEM FALA ASSIM ... A Escola Secundária de Camões (ESC) participou no concurso Quem fala assim, uma iniciativa conjunta da RTP2 e da Assembleia da República. Ao longo de 14 sessões, as escolas participantes – duas em cada sessão – defenderam durante cinco minutos uma tese previamente indicada pela RTP e rebateram a tese contrária em três minutos. O desempenho de cada escola foi apreciado por um júri presidido por Narana Coissoró e constituído por jornalistas, deputados e especialistas no tema a debater. Os alunos selecionados pela escola e por um elemento da RTP foram: orador – Ricardo Silva, 10º A; orador suplente – Daniel Costa, 10º C; pesquisadora – Rebeca Csalog, 10º F (os três na foto à esquerda). Na sessão eliminatória, realizada no dia 22 de maio, a escola defendeu a tese Não é inconstitucional repelir pela força na defesa de direitos de outros, baseada no artigo 21.º da Constituição da República Portuguesa (direito de resistência). A ESC sagrou-se vencedora, tendo obtido uma pontuação de 16 valores, apurando-se deste modo para a final que teve lugar no dia 25 de maio. Aqui, a tese a defender foi A felicidade deve estar contida na Constituição da República Portuguesa, tendo sido vencedora a Escola Secundária Inês de Castro, de Alcobaça. Muito mais do que um concurso, a iniciativa foi um grande exercício de valorização do esforço individual, da capacidade de trabalhar em equipa e, ainda, a oportunidade de exercer uma cidadania responsável e interventiva. Gostaríamos de agradecer a todos os colegas que deram contributos para a produção dos textos, aos que redefiniram as suas estratégias de final de período para que os alunos e respetiva claque pudessem participar neste concurso, bem como aos alunos que representaram a escola com grande dignidade. A finalizar, deixamos alguns testemunhos dos alunos: Aqui fica o meu agradecimento por me deixarem ser parte deste projeto e, mais que isso, por todo o apoio que a escola deu a esta iniciativa. Guardo comigo as histórias, da Equipa da Escola e professoras maquilhagem e do batom, à 5ª feira, em que ninguém (nem as professoras) dizia nada de jeito, passando pelas mini-discussões com o sr. Carlos para me deixar imprimir as folhas ou, ainda, as conversas interessantíssimas que troquei com a apresentadora julgando que ela, por uma vez na vida, dizia alguma coisa de jeito. Enganava-me, claro! (Ricardo Silva) Foi uma ótima experiência que nos deu muito trabalho, mas que também nos ensinou muito e que, quem sabe, nos poderá ter lançado num futuro relacionado com tudo isto! Gostei muito de trabalhar com todos vocês, foi um enorme prazer! Ah, e claro, adorei ver as facetas escondidas das professoras! Obrigada por tudo, proporcionaram-me momentos muito bons e aprendizagens muito importantes. (Rebeca Csalog) Professoras Ângela Lopes e Lina Marques Claque da Escola (que gentilmente cederam as fotos) Página 7 Confluências … e uma primeira intervenção a sério! repelir pela força na defesa de direitos de outros. A verdade é que os direitos contidos na Constituição da República PorNa sala do Senado da A. R., Ricardo tuguesa são uma conquista históriSilva discursando sobre a felicidade ca pela qual há que lutar todos os dias, são um compromisso do país para com os cidadãos. No artigo 21º CONCURSO pode ler-se: “Todos têm o direito de QUEM FALA ASSIM resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de 22 de Maio de 2012 repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à TESE A DEFENDER autoridade pública.” É-nos assim conferido o direito de nos Não é inconstitucional defendermos pela força caso seja necesrepelir pela força na defe- sário. É claro que podemos sempre alegar que em circunstância alguma é sa de direitos de outros defensável o uso da força para reclamar direitos. No entanto relembro: força é Sr. Presidente do Júri, um conceito abrangente! Srs. Jurados, “A justiça sem a força é impotente; a Minhas senhoras e meus senhores, força sem a justiça é tirânica. É preciso Caros adversários, pôr em conjunto a justiça e a força, e, por isso, fazer com que o que é justo seja Em 1969 o Homem poisou na Lua e forte e o que é forte seja justo”. – Assim com ele a ideia de progresso: um peque- afirmou Pascal, assim reiteramos nós, no passo para o homem, um grande pas- passados séculos, e assim perspectivaso para a humanidade. mos que possa continuar a ser no futuAs sociedades erguem-se sobre direi- ro, uma vez que a própria justiça recortos e deveres que se aperfeiçoam cons- re ao uso da força. tantemente e que abrangem todos os No entanto, apenas uma ténue linha cidadãos. Recorrer à força pode parecer separa o uso correto da força do seu uso inaceitável, mas há circunstâncias em desmedido, o que nos leva, caros coleque pode ser uma forma de alcançar os gas, ao problema da legitimidade. A direitos na sua plenitude, de os fazer força justifica-se na defesa da integridavaler quando não são respeitados, de os de física e moral de alguém como forma pôr em prática. Não há melhor forma de de reacção a uma conduta injusta do compreender aquilo a que temos direito Estado, quando todas as outras opções do que lutar por isso. falharam; quando as forças de intervenOra, força é um conceito abrangente ção demonstram brutalidade; quando que pode ser entendido de diversas for- devemos proteger os direitos daqueles mas: força de número (a união faz a que lutam connosco; a própria autodefeforça, segundo se diz), força de palavras, sa justifica a força física. força de atos, força entendida como uma Na situação atual, em que as sociedacarga simbólica. A força não se resume des parecem estar a desmoronar-se à violência, à guerra, à acção física de rapidamente, as sucessivas medidas um corpo sobre outro, não! Força é tomadas pelo Estado levam o povo a resistir, força é mostrar que algo não reagir. Medidas que limitam os direitos está correto, é admitir que a sociedade e deixam o povo numa situação precánão é perfeita e no entanto ser-se ria, destruindo expectativas e deixando humilde ao ponto de lhe apontar os sonhos por acabar. É em momentos erros. Força é fazer-se ouvir! É com este como este que nos devemos unir e usar sentir que defendemos esta tese, que a nossa voz para nos fazermos ouvir. admitimos que não é inconstitucional Abram-se os olhos e veja-se o que se passa: diariamente nas ruas, praças e avenidas deste país homens e mulheres lutam lado a lado pelo que lhes pertence: um ordenado, uma casa, uma vida digna! Aceita-se então que o povo desobedeça quando discorda, que resista quando se sente oprimido! Esta é a clara justificação do que afirmamos. Recorra-se à História para provar o que digo. Em Inglaterra mulheres lutaram pelo direito ao voto e unindo-se conseguiram mudar leis. Mahatma Gandhi, libertou a Índia da ocupação britânica apelando ao protesto ilegal não violento. Também em Portugal, nesse Portugal que “trouxe novos mundos ao mundo”, a opressão foi combatida e ditadores foram derrubados pelo povo sem que sangue tivesse sido derramado. É nestes momentos que a sociedade estremece, mas é nestes momentos que a sociedade se ergue mais forte. Caros membros desta assembleia, todos sabemos que o modo de funcionamento da sociedade padece de fraquezas que só podem ser erradicadas se todos contribuirmos. Os franceses reclamavam: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Assim se confirma a necessidade de agir sobre os outros, trabalhando para o equilíbrio do meio em que vivemos. Defender os direitos dos outros é um exemplo claro do mais alto nível de solidariedade – ser-se de tal modo humilde, que se esqueça o próprio mundo para que o de outros prevaleça. Por isso, e pelo exposto, só podemos afirmar que nestas e noutras circunstâncias, com efeito e com verdade não é inconstitucional repelir pela força na defesa de direitos de outros. Muito obrigado! E aqui, o orador ‘aconselhando-se’ com o Bastonário dos Advogados! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • • • • Lei Constitucional n.º 1/2005, de 12 de Agosto (Sétima revisão constitucional). Pascal. B., (1998). Pensamentos. Lisboa: Europa-América. Robal, M, Mata, M. (coord.) (2010). 50 Grandes discursos da história. Lisboa. Edições Sílabo. Savater, F. (2005). Ética para um jovem. Lisboa: D. Quixote. Este texto e o que se reproduz na página 9 foram elaborados pelos alunos Ricardo Silva (10º A), Daniel Costa (10º C) e Rebeca Csalog (10º F). (Continua na p. 9) David Brito (12º I) e Mariana Lopes (12º D) Página 8 Confluências VII EDIÇÃO CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES EXCERTOS CONTO 1º Prémio (David Brito, 12º I) Clarão À luz dos acontecimentos, o sol não me iluminava, estando entre a lua mentirosa e uma chuva torrencial. A rua apertava-se de forma ligeira, fazendo-se uma recta nua, sem desvios. O sobranceiro caminho, quase convidativo, desfazia-se na minha fronte enquanto temia os meus próprios passos. Pousei-me num banco de madeira, pensativo… Na minha frente aglomeravam -se os desconhecidos, tão prontos a rir ou a sussurrar de forma tão irritante como desconcertante. Paravam e passavam e deixavam-me imóvel no mesmo banco de jardim, como o ser invisível que não era. Mas eu queria esse pensar solitário. Queria ser eu a tomar a decisão. (…) Depois, avistei-a. O longo passeio, de repente, tornara-se mais curto, tanto pelos momentos se tornarem intemporais, quase transcendentes, como o facto dessa sensação que nos ultrapassa me começar a afectar a nível físico. Talvez mexesse um músculo e isso seria muito. E apenas gesticulando, tornavame incapaz de fazer o que me prometera. (…) Parecia ter entardecido repentinamente, à medida que o meu sol se afastava. Tão lamechas. Tão comum. Tão comprimido sentimento, tão amassada emoção, tão ânsia de explodir! E quase que não o fiz. Corri-lhe, gritei-lhe, fugi-me. E ela trespassou-me com o olhar como se não esperasse as minhas dúvidas. Aproximei-me: – E se eu disser que te amo? Deixei-me perder na imensidão, enquanto a luz parecia ter ficado, durado e perdurado. CONTO 2º Prémio (Mariana Lopes, 12º D) Eduardo não tinha sonhos Eduardo não tinha sonhos nem desejos. Tinha apenas memórias, recordações vivas no seu pensamento. De um passado distante que o tempo não apagou, as más lembranças ainda estavam presentes e as boas já não conseguiam sobrepor as más, por mais que quisesse, por muito que Eduardo tentasse. Eduardo era agora apenas uma sombra daquilo que fora. Nem parecia a mesma pessoa. Tinha aprendido a maior das lições que a vida pode dar, porque tinha aprendido da pior forma como se pode perder tudo de um momento para o outro. Perdera tudo, sem saber porquê nem quando. Vivia agora nas ruas, dormindo em bancos de jardim e nos degraus das escadas sujas que os outros pisavam. Sentia-se inferior aos outros que passavam por ele e o olhavam de lado. E ele que já tinha sido muito superior a todos eles, muito mais, muito melhor. Uns não o viam. Outros tinham pena. Mas Eduardo sabia que no fundo representava uma pedra no sapato da sociedade. Uma marca infeliz das ruas por onde cambaleava sem destino. Mas o que os outros pensavam já não lhe importava. (…) CONTO 3º Prémio (Mariana Lopes, 12º D) Quando penso em ti Quando penso em ti, não penso que estás aqui. Não. És ainda aquela pessoa que eu conheci. Uma voz, um espírito, uma parte do que sou, que encontro nos mais remotos espaços do meu ser e em todos os pedaços da minha alma. És, mesmo, mais do que eu próprio. Fazes-me falta. Embora eu te sinta aqui, sei que não te posso ver. Mas eu encontro-te sem te procurar. Não és fruto da minha imaginação, essa arte cujo domínio leva a dimensões fugazes. Não. (…) Trouxe-te lírios. Como me recordo com clareza daquilo que gostavas e que nostalgia me consome ao lembrar do que te mostrei e dei a conhecer. Eu sei que estás ainda aqui. Como estarás sempre. Já não me sinto tão desorientado, tão perdido e tão só. Tenho-te comigo. A praia é onde me encontro. Às vezes, revejo o passado como o presente que nos foi tirado. Mas esse presente não seria igual. Tu serias mais do que foste, uma pintora, uma artista. Verias o mundo. Sonharias mais. E eu seria melhor pessoa. Como tu. Estendendo-se pela profundeza dilacerante, POESIA 3º Prémio (Patrícia Guerreiro, 11º H) Dos abismos mal resolvidos, Abismo Para lá de cores, multicores, Num mundo de beleza incompreendida, Vivem as assombrosas páginas incertas, Na escuridão e no desespero, Na sombra e no precipício, No submerso e no secreto, Que são as proeminentes sentenças escondidas, Presas aos tormentos Dos suplícios cheios de rancores, Que dominam as desprezadas e nefastas profecias, Que a mais secreta beleza transborda, O que a vasta imensidão inundada Traduz na gélida dimensão infinita, Abandonada no secretismo, Do ponto sem retorno. Os apresentadores da cerimónia de entrega dos prémios do concurso literário (na foto) vestiram ‘trajes da época’ gentilmente cedidos por Roupeiro Histórico (de António Paula Lopes). Página 9 Confluências … e uma segunda intervenção a sério! Claque da Escola (Continuação das pp. 6 e 7) CONCURSO QUEM FALA ASSIM 25 de Maio de 2012 Assembleia da República – Sala do Senado TESE A DEFENDER Deve estar previsto o direito à felicidade na Constituição Sr. Presidente do Júri, Srs. Jurados, Minhas senhoras e meus senhores, Caros adversários, Aristóteles afirmava: “Homem feliz na cidade feliz”, entendendo a felicidade como finalidade da natureza humana, e como tal um bem inato ao homem e essencial para a sua vida. Todos nós crescemos sendo educados sob valores éticos que nos definem enquanto pessoas, enquanto seres livres e morais que têm uma função a desempenhar no mundo. Procuramos exemplos a seguir, caminhos que definam os nossos futuros e que, por sua vez, nos definam enquanto indivíduos. Procuramos atingir a satisfação de algumas necessidades, numa constante procura pela felicidade. É ela que nos une enquanto seres humanos, muitas vezes sem nos apercebermos do modo como condiciona as nossas ações. A felicidade é, em primeiro lugar, um conceito subjetivo com uma carga emotiva forte e variável. Fernando Savater diz-nos que "Felicidade é aquilo que brilha onde eu não estou, ainda não estou ou já não estou", acrescentando que “da felicidade, esse tema improvável, talvez só se deva falar na primeira pessoa e, como é evidente, para a considerar perdida". Mas de Aristóteles a Savater, passaram aproximadamente dois mil e quatrocentos anos! É por isso necessário entender a felicidade num sentido mais lato: a felicidade coletiva. A esta, a ciência tem dedicado diversos estudos que podem servir de base à implementação de políticas que aumentem a felicidade geral, contribuindo assim para um melhor desenvolvimento das sociedades. Stuart Mill, ao acreditar na maior felicidade possível para o maior número de pessoas, acentua o seu caráter social. Com efeito, a felicidade, entendida como o bem-estar de uma população, tem sido medida através do planeamento dos espaços verdes e de lazer, das ofertas culturais e educativas, ou da própria segurança. Pode entender-se assim que o nível de felicidade está directamente associado ao desenvolvimento cultural, moral e económico de uma nação, e é por isso um ponto fundamental que deve ser respeitado. Por estas razões entendemos que é um dever do estado promover o bem estar social, e mais do que tudo, é seu dever assegurá-lo. Já em 1693, John Locke afirmava que "a mais elevada perfeição da natureza intelectual encontra-se na procura cuidadosa e constante da felicidade verdadeira e sólida”. A própria História nos apoia: Na declaração de independência dos Estados Unidos da América, de 1776 pode ler-se que " todos os homens são criados iguais, sendo dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão o direito divino à vida, à liberdade e à procura da felicidade." A menção à felicidade consta já na Constituição do Japão, e na da Coreia do Sul, mas, mais curioso ainda, veja-se o caso do Butão que substituiu o PIB pelo índice Nacional de Felicidade Equipa da Escola Secundária de Camões e equipa vencedora da Escola Secundária Inês de Castro (Alcobaça) Bruta. Ao medir o desenvolvimento nacional, os butaneses têm em consideração o nível de felicidade que as pessoas atingem e o modo como a ação do governo influencia o bem estar da população. No Brasil, o senador Cristovam Buarque propôs uma emenda ao artigo 6.º da Constituição, evidenciando direitos sociais “essenciais à busca da felicidade” como a educação, a saúde, a habitação, o lazer ou o emprego. Mais recentemente, a ONU afirmou que os governos devem definir políticas que visem a felicidade geral, o que em tudo suporta o que afirmamos defender que o direito à felicidade deve ser incluído na nossa Constituição, a par de outros direitos, liberdades e garantias. A Constituição da República Portuguesa, sendo a base de direitos atribuídos pelo estado aos cidadãos, não apenas dos direitos individuais – como o direito à vida, à liberdade, à igualdade perante a lei – deve contemplar a felicidade como direito social. É em tempos como este que devemos aprender a viver outra vez. Os tempos mudam-se e com eles as vontades. A sociedade progride e com ela as suas leis. Caros membros desta assembleia, relembro como comecei: “Homem feliz na cidade feliz”. A nação, traduzida aqui na palavra “cidade” deve promover o Homem feliz. A comunidade política deve assegurar aos cidadãos uma vida boa, entendida como a exibição das virtudes éticas no entender de Aristóteles, mas também assegurar que todos possam satisfazer necessidades essenciais ao bem-estar num caminho para que se atinjam os ideais. Caros colegas, é este o mote que define a humanidade. Minhas senhoras, meus senhores, é uma evidência consignar o direito à felicidade na nossa constituição. Fazendo minhas as palavras de um grande humanista português, “Façam o favor de ser felizes!” Muito obrigado. Página 10 Confluências EM INGLÊS & ALEMÃO ENGLISH Debate: Violence in Movies and Sex on TV On May 3rd 2012,The Outspoken English Think Tank held another interesting debate which was hosted by 10th B at the Old Library. Dealing with storytelling and Postmodernism, fiction in the age of irony, questions were analysed such as how viewers understand ironic TV shows such as Happy Tree Friends, American Dad, Family Guy and South Park. Relevant questions were introduced in order to put the theme in perspective, such as: Why do we tell stories? To entertain? To teach a lesson? To hold a mirror up to society? To make a statement? To make people think? As usual there was a wide range of opinions and time was too short to debate all of them. In the end the conclusion could be drawn that while some of these shows are meant as scathing criticism on society, it requires a competent viewer to get their ironic content. Hence all the misinterpretation and misunderstanding. 10º L Ich lebe de Christine Stürmer 11º I Herzlich Willkommen de Lafee No dia 4 de junho de 2012 realizou-se no Auditório uma apresentação de três canções que tinham participado no concurso de karaoke Peça Lorelei (10º L e 11º I) alemão, na escola, e das duas peças de teatro que participaram no Alemão em Cena, em Almada. Concurso Gulbenkian 2012 (Projetos de promoção da leitura em bibliotecas públicas) A Escola Secundária de Camões, que submeteu a concurso o projeto Do tempo perdido ao tempo recuperado, viu recentemente aprovada a sua candidatura (num montante de €5.000). Segundo a equipa responsável, “A designação do projeto, de clara inspiração proustiana, pretende tornar clara a orientação do percurso delineado: levar a população alvo a compreender que um livro nem é a materialização do tédio nem um desperdício de tempo, bem pelo contrário – é uma riqueza para quem o lê.” Com início em maio de 2012, as ações (cujo cronograma será em breve divulgado) desenrolar-se-ão até maio de 2013. Constituição da equipa responsável pelo projeto: Cristina Duarte (profª de Português e de Literatura Portuguesa, que coordena); João Jaime Pires (diretor); Teresa Saborida (profª de Português e bibliotecária); Madalena Contente (profª de Português e de Português para Todos); Emília Paco (profª de Inglês e de Alemão); Teresa Aparício (profª de Filosofia);Manuel Valongueiro (prof. de Filosofia). Biblioteca escolar, para uma leitura Neste ano, e à semelhança dos anos anteriores, os livros mais requisitados na BE/CRE são os livros da classe 8 – Literatura. Os 557 livros requisitados incluem literatura portuguesa e estrangeira. Estas requisições são, na maioria, consequência duma rubrica do programa de Português do ensino secundário – contrato de leitura – que leva os alunos a ler e analisar obras da literatura clássica e moderna de grandes escritores mundiais. Há obras que se destacam – as obras de leitura obrigatória: Os Maias, de Eça de Queirós (11º ano), Memorial do convento, de José Saramago e Felizmente há luar, de Sttau Monteiro (12º ano). Na classe 0 – Generalidades – temos 206 requisições que correspondem ao empréstimo de dicionários. No segundo gráfico “e quem lê mais?” é significativa a diferença entre raparigas e rapazes – 669 contra 273!! Curiosamente, no Top 25 de leitores da BE/CRE, os alunos que mais requisitaram… são dois rapazes: o André Baptista e o Alionne Costa. (Teresa Saborida, Professora Bibliotecária) Página 11 Confluências BACH − UM CONCERTO 17 de maio, Biblioteca − Magnífico concerto sobre a música de Bach de que foram protagonistas Joana Amorim (transverso) e Joana Bagulho (cravo). Um momento realmente sublime que aconteceu na nossa escola. Bach e os seus discípulos − modos de ver e de ouvir No passado dia 17 de maio, pelas 17h horas, realizou-se na Biblioteca Central um concerto intitulado “Bach e os seus discípulos” em que Joana Amorim e Joana Bagulho brindaram os alunos com o seu espantoso talento ao tocaram algumas das sinfonias mais conhecidas de Bach, de um dos seus filhos e de um dos seus discípulos. Joana Amorim apresentou aos alunos um instrumento tipicamente barroco e clássico, o traverso, um género de antepassado da flauta feito de madeira. Já Joana Bagulho tocou cravo, típico do século XVIII, um instrumento de corda tocado com teclas tal como o piano só que, ao contrário deste, o som resulta de uma espécie de beliscar de cordas, as lamelas. Ao assistir a este concerto, foi quase como se uma pessoa se sentisse em contacto com a época. Ao som daquelas harmoniosas sinfonias, os alunos puderam ver como funcionavam instrumentos tão antigos e, simultaneamente, ver como estes eram feitos e como se processava o seu som. Andreia Sousa, 10º L No passado dia 17 de maio de 2012, eu e os meus colegas de Literatura Portuguesa fomos assistir a um concerto na Biblioteca Central da Escola. Esse concerto foi, apesar de curto, agradável e também um pouco invulgar. As executantes eram duas senhoras que trouxeram consigo um traverso e um cravo. Poucas pessoas já viram um cravo, e menos ainda o ouviram, e a situação repete-se com o traverso. O cravo, ao contrário do que muitos pensam, não é o antepassado do piano como nos demonstrou a talentosa Joana Bagulho. O seu som recorda o de uma guitarra, mas o seu formato lembra o de um piano, e talvez seja isso que o torna tão peculiar. Joana Amorim trouxe-nos a sua arte na “flauta” de traverso, a antiga versão das flautas transversais, de hoje em dia, mas o seu som é diferente. Supostamente teria alguns defeitos, devido, em parte, à sua simplicidade, mas é isso que torna o traverso um instrumento único e, para além disso, é fascinante podermos ouvir a música original, a mesma música que se ouvia há três séculos atrás. Foi desta maneira que passei uma agradável tarde. Martim Guerreiro, 10º L ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt Página 12 BE/CRE http://esccamoes.blogspot.com/ Confluências V E S 23 de maio, Biblioteca − sob a responsabilidade das professoras Cristina Duarte e Lurdes Marcelino, e destinada particularmente aos alunos das disciplinas de Clássicos da Literatura e de Literatura Portuguesa, decorreu uma nova Aula Aberta, agora dedicada a Marcel Proust. Pedro Tamen (ex-aluno do Liceu Camões durante dois anos em meados da década de quarenta), convidado para esta lição, apresentou de forma acessível o autor e a sua obra, prestando uma especial atenção às temáticas que, segundo ele, norteiam À la Recherche du Temps Perdu, narrativa em sete volumes que, de forma magistral (na ocasião sublinhada pela professora Cristina Duarte e opinião unânime da crítica) Pedro Tamen verteu recentemente para português. Assim se inicia o I Volume, Do Lado de Swann: mira, e não parara de reflectir sobre o que acabara de ler, mas tais reflexões haviam tomado um aspecto um tanto especial; parecia-me que era de mim mesmo que a “Durante muito tempo fui para a cama obra falava: uma igreja, um quarteto, a cedo. Por vezes, mal apagava a vela, os olhos fechavam-se-me tão depressa que não rivalidade entre Francisco I e Carlos V. Esta crença sobrevivia alguns segundos ao tinha tempo de pensar: «Vou adormecer.» despertar; não me chocava a razão, mas E, meia hora depois, era acordado pela pesava-me nos olhos como escamas, e impeideia de que era de tempo de conciliar o dia-os de verificar que a palmatória já não sono; queria poisar o volume que julgava ter nas mãos e soprar a chama de luz; dor- estava acesa. Depois começava a tornar-se- me ininteligível, tal como, após a metempsicose, os pensamentos de uma existência anterior; o assunto do livro soltava-se de mim, e ficava livre de me adaptar ou não a ele; logo recuperava a vista, e ficava muito admirado de encontrar em meu redor uma obscuridade, doce e repousante para os olhos, mas talvez ainda mais para o espírito, ao qual se revelava como coisa sem causa, incompreensível, como coisa verdadeiramente obscura.” B R E “A la recherche du temps perdu” Inesperadamente, naquela tarde, recebi o convite – “nous avons l’honneur de vous inviter au CHÁ DOS CLÁSSICOS, qui sera servi à la Biblioteca da Escola Secundária de Camões, le 6 juin 2012, à 17 heures.” Senti, pairando na galeria azul-cinza, um odor a princípios do século vinte, e a presença de Proust desenhou-se a meu lado. Foto de Manuel Cabeleira Gomes Na tarde do dia 6 de junho, entre a expetativa e a realidade não houve desencontro. Dos rendilhados das estantes pendiam textos, imagens coloridas de um tempo passado destacando-se nas lombadas escurecidas dos volumes que lhe serviam de fundo. Afinal, “A beleza não está nas cores, mas sim na harmonia”, ouviríamos pouco depois durante o questionário a Proust. Do cenário passámos a uma sucessão de quadros em que os alunos dos Clássicos de Literatura nos convidaram a com eles seguirmos o percurso do Narrador através de leituras interpretativas, alternadamente em português e francês, retiradas de alguns dos volumes que compõem a obra “Em busca do tempo perdido”. Algures ouvia-se um piano. Bela viagem, bons companheiros de viagem, reconstituição quase mágica de uma época desaparecida mas recuperada instantaneamente. Seguiu-se o chá, servido com a elegância dos salões de Mme Strauss ou de Mme Armand de Caillavet. À professora Cristina Duarte e aos seus alunos, e ainda à professora Lurdes Marcelino, o nosso reconhecimento. Proust teria gostado de connosco partilhar este regresso. Alice Xavier (Ver p. 5) Ao professor Lino das Neves, ao funcionário José Alvega e a todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento. Confluências Envia os teus trabalhos para: [email protected] Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal
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