PERCEPÇÕES DA ADOLESCENTE SOBRE A MATERNIDADE1
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PERCEPÇÕES DA ADOLESCENTE SOBRE A MATERNIDADE1
PESQ U I SA PERC E PÇÕES DA ADOLESCENTE SOBRE A MATERN I DADE1 T H E A D O L E S C E N T P E RC E PT I O N S O F MAT E R N ITY P E RC E PC I O N ES D E LA A D O L E S C E N T E S O B R E LA MAT E RN I DAD Jan ice Regina Rangel Port02 Anna Maria Hecker Luz3 R E S U M O : O presente estud o tem por objetivo con hecer as percepções d a mãe adolescente sobre a matern idade nesta eta pa da vida ; conhecer a percepção da s adol escentes sobre o atendimento de saúde p restado pela equipe hospitalar; e conhecer o modo como gostariam de ser cuidadas no periodo de maternidade. Trata-se de u m estudo exploratório descritivo , com abordagem qualitativa , real izado com 1 1 puérperas adolescentes, na U n idade de I nternação Obstétrica de um hospital ensino. As i nformações foram col etadas através d e entrevistas sem i-estrutu radas e s u b m etidas à anál ise de conteúdo temático . As informações obtida s revel a m q uatro temas: Estou g rávi d a ! Agora , é assu m i r. . . ; Vivenciando o parto ; Ser mãe é ... e A gente se sente à vontade com os profissionais daq u i . A fala destas jovens demonstra que u m atendimento humanizado é possive l , revelando nesta matern idade, profissionais sensi bil izados e comprometidos com a mel horia da saúde materna. PALAVRAS-C HAVE: mães adolescentes, maternidade na adolescênci a , h u m a n ização ABSTRACT: The present study has as its objective to learn about the perceptions of adolescent mothers, regarding matern ity in this stage of their l ives, the health assistance given to them by the hospital tea m , a nd their expectations in relation to this assista nce d u ring the matern ity period . This is a n exploratory-descriptive study with a q ualitative a pproach , carried out with 1 1 puerperal adolescents d uring their stay an obstetric unit in a school hospital. Data were collected through semi-structured interviews and subm itted to a theme analysis. The i nformation gathered s u rfaced fou r m a i n themes : 1 ) I am pregnant ! , 2) Now, I have new responsibilities . . . , 3 ) Experiencing childbirth ; To be mother is ... , 4) We feel comfortable with the professionals here . . . Accord ing to patient's reports it is feasi ble to have a h u man istic assistance. ln the specific case of the matern ity analyzed the professionals were sensitive and comprom ised with the improvement of maternal health . KEYWO RDS: adolescence, matern ity i n adolescence , h u man ization RESU M E N : EI presente estudio tiene como objetivo conocer las percepciones de la madre adolescente sobre la maternidad en esa etapa de la vida; conocer qué percepción tienen las adolescentes sobre la atención prestada por el eq u i po dei hospital y conocer el modo como les g u staría qu e fueran cuidadas d u rante la matern idad. Se trata de u n estudio exploratorio descri ptivo , con u n enfoq ue cual itativo, realizado con 1 1 puérperas adolescentes , en una U n idad de I nternación Obstétrica de un hospital escuela. Las i nformaciones se recogieron a través de entrevistas semiestru cturadas y sometidas ai análisis de contenido temático. Como res u ltado sobresalen cuatro temas: "Estoy embarazada i Tengo q u e concienciarme. ; Viven ciando el parto ; Ser madre es . . . ; y U n a se siente m u y a g u sto con los profesionales de a q u í ". Lo q u e d icen estas jóvenes demuestra q u e es posi ble un atendim iento hu manizado y revela en esta matern idad profesionales sensibilizados y comprometidos en mejora r la salud materna. PALAB RAS C LAVE: madres adolescentes , maternidad en la adolescencia, h u m a n ización Recebido em 2 1 /0 1 /2002 Aprovado em 26/08/2002 1 2 Trabalho d e Concl usão d o C u rso d e G raduação d a Escola d e Enfermagem d a U F RGS . Mestranda d o C u rso de Pós-g rad u ação da Escola d e Enfermagem da U n ivers i d a d e Federal do Rio Grande do Sul - U F RGS. 3 Professora Titu lar d o C u rso d e Enfermagem d a U n iversidade d o Val e d o Rio dos S i nos. P rofessora Cola boradora da Escola de Enfermagem U F RGS. Doutora em E d u cação. O rientadora do trabalho. 384 Rev. B ras. Enferm . , B ras í l i a , v. 55, n . 4 , p. 384-39 1 , j u l ./ago. 2002 P O RTO , J . R. R . ; LUZ, A. M . H . INTRODUÇÃO Os adol escentes s ã o s e res expostos aos m a i s d iversos riscos - físicos, psicológicos , sociais e culturais. A adolescênci a , q u e deveria ser u m a fase sa u d áve l , m u itas vezes deixa marcas ca usadas por i ntercorrências vividas pelos jovens. Além do uso a b u sivo d e d rogas e da violência relacionados a essa fase d e vida, o que mais chama a atenção, nesse período são as a m igas ou con hecidas q u e engravidam e q u e t ê m ou não s e u s bebês, provocando sentimentos de medo e vergonha naqueles q u e colocam-se no lugar destas jove n s . C o m o fut u ra profissional d a sa ú d e , q u estiono-me : q u e m s ã o e s s a s a d o l e s c e n t e s q u e , c a d a vez m a i s p recoce m e n t e , a s s u m e m a m a t e rn i d a d e ? C o m o a s adol escentes s e sentem a o chegar n a matern i d a d e d o hospital? São atend i d a s como adolescentes o u a d u ltas? Como os profissionais d e saúde assistem essas jovens clientes no seu cotidiano? MATER N I DADE NA ADOLESC Ê N CIA: UM RECORTE DA LITERATURA De acordo com o M i n istério d a Saúde ( B RAS I L , 1 9 9 3 ) , o p e rce n t u a l d e g e sta n t e s a d o l e s c e n t e s t e m au mentado sign ificativamente, nos ú ltimos anos. O s dados do S I NASC (200 1 ) - Estatística de N ascimento, no ano 2000 reg istram 6 8 . 994 nascimentos n a região metropol itana d e Porto Alegre sendo que 2 0 , 4% sã o de mulheres adolescentes com idade entre 1 0- 1 9 anos. Ser mãe n a a d olescência con d u z o i n d iv í d u o a assu mir novos papéis, incl u indo-se, a í , a identidade materna. Esse fato i nterro m pe o processo de identifi cação pessoal , o " e u " q u e está e m fo rmação . Ace l erar o p rocesso d e identidade, assu m i n d o n ovos papéis, pode gerar confl itos desestruturadores dessa personalidade em formação. Para o M i n i stério d a Saúde ( B RAS I L , 1 99 3 ) , a g ravidez na adolescência é considerada d e alto risco, e no P rog ra m a d a Ass i stê n c i a I ntegral à Saúde d a M u l her ( B RAS I L , 1 99 1 ) , os riscos pod e m ser de natureza d iversa : cl ín icos (ex: d i a betes) ; biológicos (ex: certos g ru pos d e idade); comportamentais; relacionados à assistência à saúde ( e x . : má q u a l i d a d e da a s s i st ê n c i a ) ; s o c i o c u l t u ra i s , econômicos e a m bienta i s . A adolescência i n i cia-se por volta dos dez anos e ca racteriza-se pelo a u mento d a velocidade do crescimento e a m ad u reci m e nto físico e p e l o s confl i tos e m o ci o n a i s (D'AN DREA, 1 986). A autora refere q u e , apesar do l i m ite cronológ ico e m p regado ser de 1 0 a 2 0 anos -, esse l i m ite não é fixo e varia de acord o com fatores constitucionai s , sociais, econômicos, psicoló g icos, geog ráficos e cu ltu ra i s d o s jovens. Gama, Szwa rcwald e Leal (2002) referem que os efeitos do movi mento de l i beração sexu a l , intensificado a partir da d écad a d e 6 0 , e o i n ício, cada vez mais precoce das relações provocaram o aumento da freqüência da gravidez na adolescência, fenômeno observado em diversos países. Esses autores a l ertam para o fato d e que os i n d i cadores escolaridade, re n da fa m i l i a r e local d e mora d i a podem determinar tanto o acesso q u a nto a qu alidade da assistência prestad a pelos serviços de saúde. A adolescente, ao entrar no n ível terciário de saúde para dar à luz a o seu bebê, é tratad a d e modo semelhante , às m u l heres a d u lta s , na ma ioria dos hospita i s , apesar de o M i n i stério d a Sa ú d e ( B RAS I L , 1 99 3 , p . 1 4 ) preconizar u m ate n d i m e nto e m "se rviços q u e d i s p o n h a m d e pessoal s e n s i b i l iza d o e tre i n a d o p a ra rece bê-Ias e a s s i sti - I a s a d e q u a d a m e nte , q u a nto à s necess i d a d es biológicas e emociona i s ". A i m portâ ncia d o estu do prend e-se ao fato de q u e 20% d a s m u l h eres torn a m -se mães na adol escência período co n s i d e ra d o crítico n a v i d a d o s er h u m a n o somando-se a isso, a necessidade d e adaptação de novos p a p é i s . P o rta n t o , estu d a r a t e m áti ca a d o l escê n c i a e materni d a d e é d e g ra n d e relevância para a compreensão d e s s e p ro ce s s o , a l é m de contri b u i r p a ra o corpo d e conhecimento d a enfermagem materno-infantil, área prioritária de atenção do M i n i stério da S a ú d e . QU ESTÕES D E PEQU ISA E OBJ ETIVOS Frente ao exposto na l iteratu ra e as indagações i n iciais sobre o c u i d a d o às mães adolescentes , apresenta s e a q u e s t ã o d e p e s q u i s a : Q u a i s as p e rcepções d a adolescente e m relação à reali dade de ser mãe e como está sendo atendida pela eq u i pe de saúde? A partir d a q uestão d e pesq u isa e considerando-se as reflexões sobre a temática em estud o , apresenta-se os objetivos desta i nvestigação: Con hecer a s percepções d a mãe adolescente sobre a matern i d a d e , nessa etapa d a vid a ; Conhecer a percepção das adolescentes sobre o atendi mento d e sa ú d e prestado pela equipe hospita lar; Conhecer o modo como gostariam de ser cuidadas no período d e maternidade . • • • CAMIN HADA M ETODOLÓGICA Trata-se de um estudo do tipo exploratório-descritivo, com abordagem q u a l itativa , pois esta modalidade possibil ita a análise dos dados s u bjetivos q u e venham a emergir, e que, p o r sua v e z , não p o d e m s e r s i ntetiza d o s e m d a d o s estatísti cos ( M I NAYO, 1 996). Segundo M i nayo et aI. ( 1 995, p. 1 O), as metodologias d e pesq u i s a q u a l itativa são ente n d i d a s como "aq u e l a s ca pazes d e i n co r p o ra r a q u estão d o s i g n ificado e d a i ntencionalidade como i n e rentes a o s atos, às relações e à s estrutu ras soci a i s , sendo essas ú ltimas tomadas tanto n o seu advento quanto na s u a transformação, como construções h u manas sign ifi cativas ." O contexto d o estudo é a U n idade de I nternação Obstétri ca d o Hospital d e C l í n icas d e Porto Alegre/RS, em que se realiza atendimento à Saúde d a M u lher, nas situações de i ntern a ç ã o p ré- p a rt o e , m a i s e s p e c ifica mente , n o atendimento obstétrico às puérperas no pós-parto . O e s t u d o f o i re a l i z a d o c o m 1 1 p u é r p e r a s adolescente s , intern a d a s com seus bebês na U n idade d e I nternação Obstétrica , em Sistema de Alojamento Conj u nto, A escolha dos suj eitos foi por i n d i cação da enfermeira d o tu rn o d a noite . A i d a d e dessas adolescentes variou entre 1 3 e 1 9 anos, sendo tod a s pri m í pa ra s . Para a coleta das i nformações, foi utilizada a técnica Rev. B ras. Enferm . , B ras i l i a , v. 55, n. 4, p. 384-39 1 , j u l ./ago. 2002 385 Percepções da adolescente . . . d e e n trevi sta s e m i - e s t ru t u ra d a , p o rq u e " ofe rece a o pesquisador certa flexibilidade" na obtenção de i nformações (POLlT; H U NGLER, 1 995, p . 1 67 ) . Por tratar-se de estud o envolvendo seres h umanos, p a ra as q u estões é t i c a s em p e s q u i sa , s eg u i u - s e as recomendações de Goldim (2000) e de Polit e H u ngler ( 1 995), que sal ientam os pri ncípios d a beneficência , d o respeito à d ig n idade h u mana e da j u stiça . O consentimento dos participantes foi obtido através do Termo de Consentimento Pós-I nformado, garantindo-lhes o anoni mato (identificação dos participantes por cód igo nome de flores), o caráter sigi loso das informações e o d i reito de não-participação ou desistência em q u a l q u e r momento do estudo sem prej u ízo à assistência. Utilizou-se para a análise das informações coletadas, o método de Análise de Conteúdo, do tipo Temático, proposto por M i nayo ( 1 996 ) , descrito em três eta pas: p ré-análise, exploração do material e a n á l ise fin a l e i nterpretação das informações . I NTERPRETAÇÃO DAS I N FORMAÇÕES Da anál ise das fa las das adolescentes emergem temas que vão além dos q u esti onamentos p reviamente formulados. Foram encontradas q uatro categorias temáticas relacionadas às percepções maternas das pa rticipantes d e ste es tu d o : Esto u g rá v i d a ! A g o r a , é a s s u m i r. . . ; Vivenciando o parto; Ser mãe é . . ; e A g e nte se sente à vontade com os p rofissionais d aq u i . . . . . ESTOU G RÁV I DA! AGORA , É ASS U M I R . . . Ao depara r-se com a g ravidez, a adolescente é obrigada a assu mir novo papel "sem o benefício dos ritos de passagem usuais" ou preparação, e é nessa fase de transição que as jovens necessitam a m p a ro , a p o i o e seg u ra nça profissional de enfermagem para o acompanhamento i ntegral exigido no momento gestaci onal ( MARTI N S et aI . , 2000, p . 98). Constata-se, nas falas das jovens d o estudo, que a gravidez na adolescência n e m s e m pre é planejada pela m u lher ou pelo casa l . A h ! No momento quando eu logo . . . que eu fiquei sabendo foi um susto, mas depois foi. . . depois foi aquela coisa assim. Olha, não são planejados, planejados não são, mas são bem aceitos ( G i rasso l ) . Entre as adolescentes q u e planejaram a g ravidez, quando q uestionadas sobre a razão da escolha de gerar um filho durante essa etapa da vida, - sem terminarem os estudos, possuírem estabilidade conjugal e financeira - a pontaram os senti mentos positivos relacionados à s cri an ça s , d esejo de companhia e ser mãe. Eu quis né ? Então pra mim está sendo ótimo. Planejei tudo, então pra mim tá sendo mara vilhoso. Não tá tendo problema nenhum (Hortênsia). Foi planejada .. . Porq ue sim, e u a doro criança (Camélia). Porque eu me sentia muito sozinha em casa, daí o meu marido trabalhava, o meu cunhado também e eu achei 386 que era melhor ter um nenê em casa, assim que eu ia me sentir melhor, ter companhia, assim (Sufena). Apenas d u a s adolescentes , as de menor idade no estud o ( 1 3 e 14 anos), não têm companheiro. De acordo com Aberastury e Knobel ( 1 992), na adolescência as pessoas vivenciam o chamado "amor apaixonado", apresentando aspectos d os vínculos intensos, no entanto, frágeis. E m seus estu d o s ace rca d a matern i d a d e , Luz (2000) relata que, em gera l , as mulheres jovens assu mem a g ravidez, mesmo i n d esej a d a , enq uanto os rapazes fogem com mais facil i d a d e dessa responsa b i l idade, ou assumem apenas os aspectos legais d a paternidade. Esse aspecto é mencionado por O rq u ídea : Ele nem sabe que eu tava. Para G a rcia , Pelá e C a rva l h o (2000) , na gravidez em adolescentes soltei ras torna-se evidente a transgressão dos cód igos de conduta mora l q u e a sociedade valoriza e considera adeq ua d a : esses jovens põem em risco, além da honra própri a , a d e seus fa m i l i a res , em uma sobreposição d e crises vita i s (evol utivas e situacionais) reforçadas pelo medo da cen s u ra fam i l i a r e soci a l . VIVENCIANDO O PARTO Todas as adolescentes q u e participaram do estu do procu raram a emergência obstétrica com sinais e si ntomas d o tra b a l h o d e pa rto: contrações uteri nas ou perda de secreções va g i n a i s , bolsa rota , e l i m i nação d e ta mpão mucoso ou sangramento vag i n a l . P a ra A r m e l l i n i ( 2 0 0 0 , p . 1 1 1 ) , as p a rtu rientes "esperam ser i nternadas, pois acred itam q u e seus motivos para buscar o hospital ju stificam sua i nternação". No entanto, isso nem sempre ocorre , por d i scord ância entre os motivos próprios e os d a eq u i pe méd i ca decorrentes da avaliação obstétrica . . . .já tava cada vez mais forte, mais forte, daí eu vim pra cá. Saí de casa eram 1 1 e pouca, cheguei aqui meia noite. Daí eu tava com dois dedos de dilatação. Daí ° médico mandou eu ficar caminhando duas horas. Daí eu voltei lá depois, eu tava com quatro dedos ainda, daí ele mandou eu ficar caminhando mais duas horas. Daí quando eu voltei eu tava com quatro e meio, eu acho, e aí foi que eu fiquei internada (Girassol ) . P e l o relato d e G i rassol , consta-se q u e a admissão das parturientes não ocorre na primeira tentativa . Entretanto, o tempo d e d esloca m ento gasto pela gestante do hospital até o seu domicílio gera i n seg u rança e novas preocu pações em i r e v i r , a l é m de g a st o s fi n a n ce i ros n e m s e m p re planejados e dispon íveis . As mulheres, temendo pôr em risco sua saúde e a do bebê , g e ra l mente, optam por permanecer nas dependências o u i mediações d o hospita l , ao invés de voltar para cas a . N esse períod o , além da ansiedade, elas experi menta m o d esconforto pela falta d e acolhimento e m u itas veze s , p e l a s d o res causadas pelas contrações uteri nas (AR M E L Ll N I , 2000) . . . . eu queria voltar pra casa, m a s o médico que tava me atendendo começou a dizer 'se tu vai pra casa daí tu chega lá e a tua bolsa rompe '. (. . .) A única coisa que eu queria ter feito era ter vindo bem depois pro hospital. Ter ficado em casa mais um pouco, esperando . . . não, bah! Tá louco ficar do meio-dia até as 6 horas da manhã caminhado Rev. B ra s . Enferm . , B ras í l i a , v . 55, n . 4 , p. 384-39 1 , j u l ./ag o . 2002 PORTO , J . R. R . ; LUZ, A. M . H . pra lá e pra cá sem ter nada pra fazer e o meu marido ta va trabalhando. Ele trabalha de noite. Ele veio direto do serviço pra cá, daí ele ficou até a hora do nenê nascer, uma meia hora depois que o nenê nasceu ele ficou aqui e a gente acordado até aquela hora ( G i rassol ) . A expectativa em relação ao trabalho de parto forma se através da conversa com outras pessoas que já passaram por essa situação. De acord o com Armel l i n i (2000, p. 1 42 ) , " a i nformação d e q u e o parto é dolori d o , é tra n s m itida d e g e ração a g e ra çã o . D e s d e a i nfâ n ci a , a s m u l h e re s , subliminarmente, ouvem de fam i l i a res e a m igos q u e o parto é acompanhado de dor" . outras m u l heres , p o i s a ú n i ca d iferença está relacionada à idade d a s m u l heres adolescentes e a d u lta s , no entanto, o processo físico/biológico d a matern idade ocorre da mesma forma : Acho que não precisa ser diferente . . . . só que a gente é mais nova que as outras ( Rosa ) . N a s fa l a s d e R o s a e S u fe n a c o n s t a t a - s e a necessidade d e a l g u m a s adolescentes receberem mais orientações sobre o processo reprodutivo não apenas durante a gestaçã o, ma s na esco l a . . . . u m adolescente, sendo a primeira vez, tem que ter mais, eles tem que aprender mais, saber. Os médicos tem que explicar mais vezes ainda para eles ( Rosa ) . Foi rápido. Ah! Dolorido foi muito, ainda é! Mas foi rápido . . . foi rápido. Depois que eles estouraram a bolsa, demorou um pouquinho para eles estourarem foi rapidinho . . Foi. Horrível, a s contrações são horrível é o pior que tem né ? É até mesmo, é pior que quando ele tá nascendo (Hortênsia). E u acho que com o adolescente eles deviam ter m a is cuida do. Q u e a dole s c e n te a ssim, tu não tem experiência nenhuma, que nem eu é o primeiro filho, eles deveriam ter mais orientação eu acho que eles deveriam dar mais orientação. A cho que até em colégio eles deveriam dar orientação sobre gravidez (Sufena). Ah, foi dolorido mas é uma dor que, como é que eu posso dizer, é uma dor que vai depois volta, vai depois volta, vai depois volta. Depois quando dá a dor mesmo, já tá quase nascendo, daí depois nasce e tu não sente mais nada, aquela dor intensa tu não sente mais (Aza l é i a ) . E m s u a s fala s observa-se a i mportâ ncia atri b u í d a aos profissionais dos serviços d e s a ú d e, p e l a s q u a i s a adolescente passa : do pré-natal ao p uerpéri o , para auxiliá las a assu m i rem sua nova identidade de mãe, independente da idade. P e l o relato d a s a d o l e s c e n t e s , evi d e n ci a -se o processo doloroso do parto vivenciado de modo corajoso por essas jovens m u l heres . Ao caracterizare m , sob o seu ponto de vi sta , o períod o de tra b a l h o de parto , elas demonstram conheci mento ao d izer q u e é uma dor que vai depois volta . . . (Sufena), dolorido foi muito . . . mas foi rápido . . . (Aza léia) e depois que estoura a bolsa a dilatação vem mais rápido . . . . (Tu l i p a ) . Por essas fa l a s , percebe-se q u e elas estavam preparadas para esse m o m e nto . N e n h u m a p a rti cipa nte relatou experiência tra u m ática d u ra nte o pré-parto e parto . As adolescentes vivenciam a maternidade de modo semel hante às mulheres adu ltas e , em suas falas, expressam os mesmos senti m entos rel atados por pri m íparas a d u ltas de outros estudos, enfatizando que a diferença exi ste em relação às m u l h eres que já tiveram fi lhos e, por essa razã o , s ão mais experientes. Ao serem q uestionadas se observaram diferença no atendimento oferecido à s mães adolescentes e às mães adu ltas, algu mas referiram não haver d iferença. Elas ainda reforça m q u e senti ra m-se capazes d e rea l iza r tudo o que lhes foi solicitado, o que a u mentou a autoconfiança para enfrentar a sucessão d e fatos d esconheci dos. A í eu acho que me trataram assim como mãe. Né ? Porque assim pelo jeito que as enfermeiras falavam com a gente, as atitudes delas né, elas tentavam passar pra gente, não mostrar medo ou alguma coisa assim sabe. Eu gostei bastante e foi aí que eu me senti bah! Agora sim, agora eu sou mãe de verdade. Sou mãe de dois, Né! (Jasmim). Pelo que eu vi lá foi igual. Das outras que eu vi lá ganhando também foi igual assim, do mesmo jeito que eles trataram as outras eles trataram eu também (Violeta ) . Eu nem sei como dizer, m a s eu acho que eu fui tratada, me trataram bem. Não sei se tem alguma diferença que elas deveriam fazer né ? Para adolescentes e para mulheres mais experientes. Mas é eu acho que o que elas me pediram para fazer na hora do parto eu tinha condições de fazer mesmo . . . (Tu l i pa ) . As a d o l e s c e n t e s n ã o p e rc e b e m o s a s p e ct os psicológicos e os meca n ismos d e d efesa q u e util izam para se estabil izarem e vivenciare m d e modo s a u d ável esse período de transformações físicas. Amor-Perfeito acredita que o atend imento não precisa ser d iferenciado e m relação a As adolescentes acreditam q u e d eve existir u m trata mento d i ferenciado n ã o para mães adolescentes, mas para as m u l heres mães d e pri m e i ro fi l h o , i n dependente da faixa etária . A h ! N o caso, por exemplo, e u sou mãe do primeiro bebê né ? No caso esse tipo de diferença, sem ter diferença de idade, mas caso a mãe do primeiro bebê e aquela que já tem uma certa experiência, que já tá no segundo ou no terceiro bebê, né ? A cho que neste caso tem que ter uma certa diferença porque por mais que, tá eujá tenho uma experiência porque a minha irmãjá teve filhos, mas e aquela que nunca teve, não teve sobrinhos que morou ou coisa parecida, essas eu acho que precisam de um pouco mais de atenção ou um pouco mais de orientação (Azaléia). A gente chega aqui sem saber nada, não sabe nem como pegar! Eu na hora que eu vi ele eu fiquei apavorada, como é que eu vou pegar, falei, assim, vai quebrar! (Hortênsia). SER MÃE É . . . A idéia d a m atern i d a d e , mesmo tendo passado por nove meses de g estação, é encarada como algo novo a pós o nasci mento d o bebê. Para as adolescentes deste estud o , s e r mãe é t e r novos com prom i ssos, significa mudança de vi d a : a lgo m a i s a m plo q u e parir u m fi l h o , mas, também , é u m a nova experiência q u e não sabem como d efinir. Ai, sei lá outra vida né, bem diferente assim. Não é m e s m a coisa c o m o a n te s n é . A g o ra e u tenho um Rev. Bras. Enferm . , B ras í l i a , v . 55, n . 4, p . 384-39 1 , j u l ./ago. 2002 387 Percepções da adolescente . . . compromisso sério n é. . . cuidar de uma criança e u acho legal assim, mas a parte que eu digo difícil assim, não é difícil, difícil porque cuidar de uma criança não é difícil, é fácil (Violeta) . (Risos) Agora assim pra mim tá sendo tudo, n é ? Porque antes eu não dava muita bola no início, até nem queria ter filho. Vivia dizendo que eu não queria ter filho e pra mim veio dois ? Agora mais importante pra mim, tudo que eu tenho são eles, né ? (Rosa ) . A formação da auto-imagem m aterna ocorre e m d iferentes momentos, variando d e m u l he r para m u l her. N a fa la d a s a d o l escentes o b s e rva-se q u e a l g u m a s d e l a s perceberam-se mães a o sentirem os primeiros movimentos feta is. Acho que desde o momento que eu senti a primeira mexida dentro da minha barriga. A ssim o primeiro chute, que tu não sabe o que parece, quando tu tá com fome que dá aquela coisa assim na barriga é tipo assim daí tu fica 'ai meu Deus é meu filho que tá mexendo ou será que tô com fome, mas eu acabei de comer porque que a minha barriga tá assim!' Acho que daí, desde aquele momento que tu vê que tem alguma coisa se mexendo alguma coisa criando vida, criando forma dentro de ti acho que é desde este instante que tu vê que meu Deus! Agora eu sou responsável por ele entendeu? (Azaléia). De acordo com Maldonado, D ickste in e Nahoum ( 1 997 ) , a percepção dos pri m e i ros movi mentos fetai s gera um im pacto na gestante caracterizando-se como fenômeno central do segundo trimestre . " É a p rimeira vez que a m u lher sente o feto como uma realidade concreta dentro de si, como um ser separado dela e, no entanto, tão dependente, mas já com características próprias" ( 1 997, p. 4 1 ) . A s adolescentes n ã o pensam na poss i b i l idade d e serem mães mes m o depois d e i n i cia re m sua vida sexua l . Alg u mas m u l heres n ã o se percebem m ã e s mesmo d u rante a gestação e vivenci a m este m o m e nto com a p a rente ind iferença em relação ao feto e m formação. Eu queria engravidar, eu queria ter filho, mas, mas eu nunca parei pra pensar. . . Parecia que eu nem tava grávida. Eu sabia que tinha um bebê dentro de mim, mas parecia que eu nem tava grávida ( G i rasso l ) . Em seu relato , G i rassol e x p l i ca q u e tem i a s e r considerada louca p o r conversar c o m o fi l h o , o q u e pa rece ter dificultado a aceitação e formação do a pego entre mãe e bebê, ainda no período gestacional. Nunca tive assim coragem. Falavam pra mim que eu devia conversar que eles entendiam, ouviam e tal, mas eu não, eu ficava pensando que ah, parece uma louca conversando, falando. Daí, eu nunca conversei com ele (Girassol). O u t r a s a d o l e s c e n t e s , no e n t a n t o , refe r e m perceberem-se mães apenas depois do nascimento do bebê, mesmo assi m , n u m momento inicial, consideram-no u m ser estranho. Ai, nem parece que é eu! É tão diferente, tão estranho assim, quando ele nasceu eu olhei assim pra ele e eu pensei que não era meu filho. Porque é um estranhinho, né ? Sei lá . . . ah! mas eu tô gostando . . . . por enquanto (Girassol). 388 Nas falas das adolescentes é possível constatar que a formação do apego, para elas, pode ocorrer lentamente, o q u e é confi rmado pelos relatos d e G i rassol e Orqu ídea . Esta noite, por exemplo, eu fiquei a noite toda acordada, não consegui pregar o olho! Olhando pra ele e tal. Daí, hoje, eu já tô aceitando ele. Mas ontem quando ele nasceu eu não ta va m uito assim, acreditando que era meu filho, mas agora, sim ( G i rasso l ) . Aqui no alojamento, que eu tenho que cuidar dela o tempo todo . . . e agora vai ser diferente, como minha mãe disse: 'Se nascê uma menina tu vai ver o que é ser mãe, a gente faz tudo por um filho '. Ela disse isso porque eu era muito respondona, eu respondia para ela . . . gostei de ter ganho uma menina (Orq u ídea). Segundo Klaus e Kennel ( 1 993) a formação do apego ta mbém ocorre através do toq u e . Esse é um mome nto i m po rtante p a ra a e q u i pe de s a ú d e , pr i n ci pal mente a enfermagem , para encorajar as pacientes a iniciarem , através desse gesto , o vínculo com seu bebê. A capacidade do profissional de enfermagem d e expor para as mães que seu bebê, peq ueno e frá g i l , necessita d e toq ue - gerador de conforto - revela u m olhar h u m a nizado. Os mesmos autores reforçam que o apego é fu ndamental para o desenvolvimento e sobrevivência do recém-nascido. Em relação às alterações no esti lo de vida , observa se q u e a gestação na adolescência i m põe às mu l heres uma série de l i m itações soci a i s , pecu l i a res a essa etapa do d e s e n vo l v i m e nto h u m a n o , oca s i o n a n d o riscos comportamentais. Talvez, o principal problema social enfrentado por e s s a s a d o l e s c e n t e s seja a eva s ã o esco l a r q u e , e m d ecorrência d a g ravidez, o u a gravada p o r e l a , tem , por conseq üênci a , a excl u são delas do mercado de traba lho, cada vez mais com petitivo . Eu já tinha parado de estudar, sabe ? Eu já tinha parado de estudar acho que há uns dois anos atrás e já não tinha voltado mais. Mais não foi assim por causa da gravidez, eujá tinha parado de estudar fazia tempo (Violeta ). Eu parei de estudar porque daí eu não quis ir para o colégio com um barrigão. Daí, eu parei de estudar, mas vou voltar a estudar ( Rosa ) . É d u rante a adolescência que a maioria das pessoas i n i c i a m s eu s ensaios de i nd e pe n d ência fi nance i ra . Em méd i a , no B ras i l , a s pessoas começa m a traba l h a r na seg u n d a década d e vida, e nesse período descobrem as festas e o prazer d e a d q u irir peq uenas, mas significativas coisas materiais - roupas, calçados, CDs, etc. A vida dessas pessoas modifica-se, e ra ramente um jovem pla neja abrir mão d a l i berdade para gerar e cri a r um fil h o , fato que pode ocasionar uma ruptura no processo natural de inserção social. . . . quando eu menos esperava . . . quando eu tava mesmo descobrindo que eu tava saindo, que tava comprando as coisa pra mim eu engravidei! . . . não deu nem seis meses de serviço e eu já engravidei. . . bom eu só saía, comprava roupa e . . . . e aí eu fico pensando e agora, o que que eu vou fazer. Eu não esperava isso (Jas m i m ) . A s adolescentes referem q u e sua v i d a soci a l , d e modo gera l , s e modifica , tornando-se mais d ifíci l , envolvendo responsabilidade em relação ao pequeno bebê e limitações Rev. B ras. Enferm . , Bras í l i a , v . 55, n . 4 , p. 384-39 1 , j u l .lago. 2002 PORTO, J. R . R.; LUZ, A. M. H . nas relações sociais com os a m ig o s. . .. Não dá pra levar mais nada na brincadeira, agora tenho que saber que tem ela pequeninha (Rosa ) . Fica mais difícil porque eu n ã o posso fazer o que eu fazia antes . . . . Ah, sair com os amigos de noite, mas isso eu nem sou muito ligada (Orq u í d ea ) . Apesar d i sso, a l g u m a s adolescentes con seg uem s u perar as d i fi cu l d a d e s i n i ci a i s d e uma g ra vi d ez não planejad a , e relatam u m a m a d u recimento e aprend izado no enfrentamento da matern idade. . . . foi bom até porque eu aprendi, porque eu era muito de fazer assim de não pensar em fazer as coisas, eu já ia direto e fazia, não fica va pensando o que que aconteceria depois. E agora não, e u já paro e penso um pouco mais naquilo que vou fazer, sabe ? (Jasm i m ) . Para T u l i p a , apesar d e j u l g a r positiva a vivência d a maternidade, o fato não afasta os medos d e não poder entender o fi l h o e m suas necessidades. De acord o com Maldonado, Dickste i n e N a h o u m ( 1 997 p . 1 54 ) , é com u m os pais senti rem d i ficu ldades, d u rante as p ri m e i ras semanas, em "traduzir o choro do bebê - se é fome, sede , cólica, fralda mol hada, necessidade d e ser aconchegado e embalado ou algum outro tipo d e desconforto . " E u tô gostando muito d e s e r mãe . Só, às vezes, eu fico u m pouco com medo d e n ão saber o que fazer, às vezes ela pode chorar e eu não vou. . . eu tenho medo de não saber o que que ela tá sentindo, assim . . . a gente não tem como saber, né ? É só esse o meu mdo (Tu l i pa ) . Jasmi m , na vivência d e s e r mãe de gêmeos, relata o medo d e não saber como demonstra r afeto para os dois fi lhos na mesma intensidade. A í é que tá! É que daí eu tô me sentindo um pouco confusa, porque eu não sei se vou. . . assim tentar assim, sabe quando eu for dar carinho pra um, o outro também vai querer, sabe? Eu não sei eu vou conseguir dar carinho pros dois ao mesmo tempo, sabe ? Se de repente um tiver querendo ter alguma coisa, eu não sei se eu vou conseguir ter possibilidade de dar para os dois, sabe ? É isso que eu fico pensando (Jasm i m ) . S e m e l h a n t e a m u it a s m ã e s q u e v i v e n ci a m a maternidade pela pri m e i ra vez, elas e nfrentam o medo d e cuidar d o seu próprio bebê, reve l a n d o d ificu ldades não encontradas quando cuidam outras cri anças da fam í l i a . N a fa la, a seg u i r, verifica-se o medo d e sentir-se c u l pada por fa lhas cometi das ao assistir o recém-nasci d o . . . . no m e u é tão diferente, assim eu tenho medo de mudar, de fazer alguma coisa errada. Ainda eu não dei banho, mas quando eu der eu vou ter medo. Parece que no dos outros é mais fácil, mas no meu é mais difícil (Girasso l ) . A G E N T E S E S E N T E À V O N TA D E PROFISSIONAIS DAQ U I . . . COM OS Todas as adolescentes relatam q u e o atend i mento recebido no hospital o n de ocorreu o p a rto difere de outros, pela qualidade da assistência desde a entrada na emergência até a i nternação obstétrica . . . . foi até o primeiro hospital que me recebeu bem, porque eles já me sentaram, eu falei que a minha bolsa tinha estourada, eles me sentaram na cadeira tiraram a minha pressão foram me levando para sala. O médico não demorou, o médico já veio e já me falou já que eu tinha que fazer uma cesárea me examinaram tudo que eu tinha que fazer uma cesárea e me levaram lá pra sala. Não foi aquela coisa de Ah, não tá na hora ain da vamo esperar. . . Eu adorei o atendimento daqui. A té as enfermeiras são boas, gostei bastante (Jas m i m ) . A s adolescentes a pontam aspectos positivos desse hospita l , e j u stificam o bom ate n d i m ento p restado pela i nstitu ição, comparand o-o com outros hospitais, onde foram atendidas d u rante a gestação. . . . eu fiquei uma semana num hospital, né ? Não vou dizer o nome, porque . . . eu tava com contração. Cheguei lá com contração com três dedos de dilatação eles me fizeram cinco vezes exame de toque, me machucaram. Me levaram para observação me deram 'buscopan ' para passar a dor e lá eu fiquei uma semana sem motivo nenhum. E quando eu cheguei aqui, isso foi quando eu dei alta ano hospital na sexta. No sábado eu comecei a ter febre, passar mal no domingo estourou a minha bolsa daí eu vim pra cá. E eu não quis ir direto pra lá porque eu já sabia, que lá eles iam me fazer sofrer. Eles iam me mandar caminhar para um corredor e outro e eu ia acabar sofrendo né ? Eu adorei o atendimento daqui (Jasmi m ) . E n t re o s a s p e ct o s p o s i t i v o s , n a s fa l a s d a s adolescentes observa-se a presença d e profissionais sol ícitos e d ispon íveis para orientá-Ias em relação à sua inexperiência q u a nto à p a rt u ri ç ã o . S a l i e n ta m , a i n d a , o respeito nos m o m e ntos d e d ifi cu l d a d e , a s o r i e ntações q u a nto aos p roced i mentos, e o pronto atendi mento. Ah, eu achei que eles me explicaram tudo direito sabe ? E porque eu acho que melhor não podia ser. Eu acho que pra mim o atendimento foi bom (Violeta ) . Eles m e explicaram tudo bem, assim tudo nos mínimos detalhes. Eu entendi tudo . . . " ( Rosa ) . Assim s e eles . . . é eles falavam n é ? 'A gora a gente vai tirar. . . agora a gente vai estourar a bolsa '. Antes de ir para a sala de parto. Aí depois eles falaram que costurar por dentro depois costurar por fora . (Tu l i pa ) . . . Talvez até eu n e m sei porque que eu fiz a cesárea, talvez na minha . . . creio eu porque um tava sentado e eles pegaram e me levaram pra lá me atenderam super bem, sabe não foi aquela coisa assim de que 'Ah vamo esperar pra ver o que que vai dar, vamo esperar ela sentir contração ' sabe, e me deixarem sofrendo . . . (Jas m i m ) . Percebe-se, tam bém , que o que elas valorizam como u m bom atendimento é receber informações sobre o processo pelo q u a l estão passa n d o e o q u e virá , a prontidão, no atendimento, evitando sofrimento desnecessário, e o fato de o s p rofi s s i o n a i s s e d i s po r e m a e s cl a recer e ate n d e r necessidades q u e e l a s possam ter. Através do d i á logo com fa m i l i ares, amigas, e até mesmo com outros profissionais, as adolescentes escolhem o hospital o nd e desej a m dar à l u z . E u já tive amigas, né que tiveram filhos e elas sempre reclamavam assim, que os médicos xingavam, e as Rev. B ra s . Enferm . , Bras í l i a , v. 55, n. 4, p. 384-39 1 , j u l ./ag o . 2002 389 Percepções da adolescente . . . enfermeiras também. Mas e u não fui xingada em momento nenhum assim . . . (. . . ) Cheguei a arrancar o soro na hora antes de ir para sala de parto. Começou a me dar uma contração e quando eu vi já tava lá nos pés da cama gritando, né ? E daí arranquei o soro e não percebi. Mas eles nào me xingavam! (Tu lipa). Na fa la de Tu l i p a , constata-se o poder cred itado à eq u i pe de saúde. Ao rea g ir à dor, reti ra ndo o soro d e u m a veia periféri ca , ela se su rpreende d e não ser x i n g a d a por isso. Acred ita que a g i u e rrado e q u e , portanto , a eq u i pe poderia repreendê-Ia . A violência hospita la r à m u l her é tão com u m que causa su rpresa q uando não acontece . Como demonstração d e d escaso do atend i mento de saúde e da reação de algu mas pacientes, a fala de Azaléia ao ser informada das condições i nadequadas de atend imento do hospital "Y" , decide evitá-lo por recomend ação da sua méd ica . Eu escolhi vir pra c á porque a minha médica do pré natal disse que no hospital "Y", eles atendem os pacientes de costas, como se eles quisessem que todo mundo fosse embora. Daí, ela me deu um encaminhamento de emergência por causa da minha anemia (Aza lé ia ) . A s adolescentes sentem-se segu ras pe la qualidade do s e rv i ç o p re sta d o , e p o r c o n s i d e ra re m p o s i t i v o o atendimento nessa i n stitu ição d e e n s i n o . E até agora, pra mim, pra quem for ganhar, eu vou falar pra vir aqui para o Hospital de Clínicas, porque eu fui atendida maravilhosamente. Os médicos me trataram ótima . . . (Rosa). A ênfase ao bom atend i m ento é dada através d e aspectos relacionados à h u m a n izaçã o , considerada pelas adolescentes como: presença constante d e u m profissional ao lado delas, aj udando-as e enco rajando-as, o d iálogo amigável, como uma troca de carinho, experiência e respeito. Tinha bastante enfermeiras assim, na minha volta, o doutor e a doutora me ajudando. Daí eles até na hora de fazer a força, me ajudaram, né ? Puxa vam minhas pernas, isso me ajudou bastante, porque eu acho que eu não teria força. Acho que eu não consegui ter- bastante força que era necessário. Ainda mais que ela era grande (Tu l i p a ) . Aí perguntava se eu ta va sentindo alguma coisa. Tipo como se ela tivesse querendo descontrair pra eu não sentir a dor, entende u ? Como se ela quisesse me confortar pra não sentir a dor, assim, pra mim como se eu m e desligasse d a dor (Aza lé ia ) . Ah! É ter a s pessoas chegarem com jeito, conversar com a gente, perguntar se a gente quer alguma coisa e tal. Chegar como amiga, não chegar 'ah, tá precisando de alguma coisa ' ou então nem conversar, que nem tem alguns médicos que vão só chegando 'ai eu vou fazer um exame de toque ' e já vão, né ? Não, os daqui não. Eles chegam, conversam, perguntam as coisas pra gente, deixam a gente mais (. . . ) relaxado e tal. A gente se sente mais à vontade com os profissionais daqui (Girasso l ) . Tulipa salienta a importância de expl icações prévias aos atos médicos , e G i rassol valoriza a possibilidade de escolha de sedativo para a dor. Eu entendi tudo, por exemplo, quando foram fazer a 390 anestesia, a médica veio e me explicou, perguntou se eu queria. Ah, quando botaram o soro em mim falaram pra que era o soro e tal. Ah! Agora veio uma enfermeira, uma médica do aleitamento, da amamentação, sei lá, e me explicou como é que eu tinha que dar mamá, as posição e tal, veio os pediatras, também, eles pegam e explicam direitinho as coisas. Até agora tá indo tudo bem (Tu l i pa ) . Todas as participantes do estudo referem terem sido bem tratadas. Quando q uestionadas sobre: "o que é ser bem trata d a ?" - a s mães a d o l escentes e nfatizam o pronto aten d i m e nto como i m portante fator d o cu i d ado a e l a s prestado. Ai eu acho assim, se preocupar se tu tá sentindo alguma dor ou não, e daí qualquer coisa que tu sentir tu poder contar com a ajuda delas, né ? Saber que tu pode chamar e elas vão lá te atender, e assim, não demorar muito (Tulipa). Ah! Tipo assim, no caso se tu pede alguma coisa, digamos (. . ) no caso o meu lençol suja de sangue, que isso é uma coisa que acontece bastante, daí tu chama a enfermeira e pede pra ela trocar pra ti se tu pede pra ela e ela demora umas duas horas até vir de novo com o lençol ou nem lembra mais que tu pediu. Se ela tem aquela atenção e 'ha já vou buscar pra ti', já pergunta se quer mais alguma coisa (. . . ) assim eu acho que é um bom atendimento! (Sufena). . O utro fator i m po rtante d o cuidado à parturiente adolescente é a orientação q u e d eve ser feita através de u m a l i n g u a g e m s i m p l e s e o bj et i v a . A p re s e n ça d o s profissionais também é u m aspecto relevante, apontado pelas adolescentes como fonte de seg u rança e auxílio d u rante a partu rição. É, eles tratam a gente bem, né ? Orientar a gente, porque principalmente eu que não tenho experiência. E até agora eles tão me orientando bem, e tudo, banhinho e coisa! ( Hortênsia). Ah! Ficar ajudando a pessoa, fica no lado . . . eles me ajudaram bastante lá, começaram a perguntar o meu nome (Orq u ídea). E m s u m a , a troca de s a b e res e experi ê n c i a s poss i b i l ita i r m u ito a l é m d a tra n s m i ssão de i nformações e contri b u i r para a construção d e espaços de convivência h u m a n izantes n a maternidade e m que atuam a eq u i pe de saúde e as mães adolescentes. CONSIDERAÇÕES FI NAIS N e s t e e s t u d o , p ro c u ro u - s e c o m p re e n d e r a compl exidade do fato d e ser gestante e adolescente ao mesmo tempo, e d e que modo essas jovens se relacionam com o s i stema d e saúde. E m suas fa las evidencia-se que u m atendimento h u m a n izado é possíve l , e as adolescentes reve l a m a e x i stê n c i a de p rofi s s i o n a i s sensi b i l izados e com p rometidos com a melhoria da saúde das mul heres no processo de parturição, na institu ição onde foram atendidas .. A l iteratu ra mostra que a g ravidez na adolescência d ifici l mente é planejada , e m u itas adolescentes vivenci a m , d e m o d o tra u m ático , esse acontecimento p o r se tratar de a l go indesejado. No entanto, a peq uena a mostra de sujeitos Rev. B ras. E nferm . , B ras í l i a , v . 55, n . 4 , p . 384-39 1 , j u l ./ag o . 2002 PORTO, J . R . R . ; LUZ, A . M . H . deste estudo revelou u m a nova concepção de g ravid ez na adolescência, pois a maioria (80 % ) das participantes desejou engravidar. Destaca-se que o sentido de planej a mento d e u m a g rav i d ez n a a d o l e s c ê n c i a n ã o p o ss u i o m e s m o significado para uma m u l her adulta . Os motivos qu e levaram as a d o l e scentes a o pt a r p e l a g r a v i d e z são frá g e i s e desprovidos da noção d e responsabilidade qu e envolve uma gravidez em qualquer etapa da vida: gostar de criança , desejo de companhia e de ser m ã e . Outro aspecto releva nte , relacionado ao pri m e i ro objetivo deste estud o é a i nserção da s adolescentes na s o c i e d a d e . Ao c o n s t a t a r- s e q u e d a s o n z e j o v e n s entrevi stad a s , d ez a b a n d o n a ra m o s estu d o s a ntes d e completa rem o ensino fu ndamenta l ou méd i o , questiona-se sobre o futu ro d e s s a s m u l h e re s q u e p o d e r ã o , até ter condições fi nance i ra s pa ra criar e ed u ca r seus fi lhos, mas estão abrindo mão de se capacitar melhor para com peti r no mercado d e trabalho, cad a dia m a i s exigente. Q u a nto à p e rcepção das a d o lescentes sobre o atendimento de saúde prestado pela equ i pe hospitalar, todas mostra ra m-se sati sfe i t a s com a a s s i st ê n c i a p e r i n at a l realizada. Como a maioria das partici pantes está vivenciando a i nternação hospitalar pela primeira vez, o modo encontrado para classificar o atend i m ento p restado pela i n stitu ição foi através da comparação com outros hospitais, nos quais foram atend idas d u rante a gestação, a pontando aspectos positivos do atendimento d o hospital onde real izaram o parto. A s a d o l e s c e n t e s v a l o r i z a ra m o q u a d ro d e fu ncionários, reforça n do a s atitudes d e dispon i b i l idade, d e pronto ate n d i m ento desses p rofissionais, o respeito à s dificuldades e a o s m e d o s q u e emerg i ra m d u ra nte o período d e partu rição. Relata m , a i n d a , q u e foram adequadamente o r i e n ta d a s e q u e p e rc e b e ra m a p re o c u p a ç ã o d o s p rofi s s i o n a i s e m a l i v i a r o sofri m e nto d e l a s d u ra nte a s contrações provocadas pelo trabalho d e parto. N e n h u m a paciente teve seu bebê nesse hospita l , por acaso. Todas, de a l g u m modo, escolhera m a i nstitu ição, com a ajuda de familiares, amigas ou profissionais, revelando, a partir das falas da s adolescente s, o papel soci al e a confiabilidade q u e a i n stituição poss u i . U m aspecto i mportante a ressaltar foi a revelação da assistência h u m a n iza d a , n a q u a l a paciente sente-se respeitad a e seg u ra e real izada , evita ndo-se, assi m , mais uma crise para essa m u l he r que, m u itas veze s, chega ao fi n a l d a g e st a ç ã o fi s i ca m e n t e c a n s a d a e fra g i l i za d a emocionalmente. O ú l t i m o o bj et i v o r e l a t i v o ao m o d o c o m o a s adolescentes gostariam d e s e r c u i d a d a s no período d e maternidade, verifica-se n ã o s e r m uito diferente da realidade por elas expere n c i a d a . E x p re s s a m a n eces s i d a d e da presença d e u m p rofissional competente e amigo. I sso l eva a crer q u e a técnica sem h u ma n i d a d e está d i stante d a concepção d e ate n d i mento e m s a ú d e , desej a d o p e l a s m u lheres adolescentes. Cada fu ncion á ri o d a i n stituição poss u i u m papel i m portante no atend im e nto às pacientes que, certa mente , não e s q u ecerã o , tanto o sorriso q u a nto o cari n h o q u e receberam nos dife rentes setores p o r o n d e passara m . REFERÊNCIAS A B E RA S T U RY, A . ; K N O B E L M . A d o l escê n c i a n o r m a l : u m enfoq u e psica n a l ítico. 1 0 . e d . Porto Alegre: Artes Méd icas, 1 992. ARM E L L l N I , C . J. R e s g a ta n d o a p a l avra d a s m u l h e r e s : o aco l h i me nto na p a rtu rição. 2000. 2 5 1 f. Dissertação ( M estrado) - Escola d e Enferm a g e m , U n iversidade Federa l do Rio G rande do Sul, Porto Alegre, 2000. B RAS I L , M i n i stério d a S a ú d e . P ro g ra m a de assistência i ntegral à saúde d a m u l h e r : gestação d e a lto risco. 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