FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art A

Transcrição

FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art A
FACULDADE INTEGRAÇÃO ZONA OESTE - FIZO
ALQUIMY ART
A ARTETERAPIA NO TRABALHO COM
SONHOS
VANESSA FIORE
OSASCO - SP
2006
VANESSA FIORE
A ARTETERAPIA NO TRABALHO COM SONHOS
Monografia apresentada à Fizo – Faculdade
Integração Zona Oeste e ao Alquimy Art, de São
Paulo como parte dos requisitos para a obtenção
de título de especialista em Arteterapia.
Orientadora: Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini
OSASCO - SP
2006
FIORE, Vanessa
A Arteterapia no trabalho com os sonhos / Vanessa Fiore.
São Paulo: [s.n.], 2006.
57p.
Orientadora: Profª. Drª. Cristina Dias Allessandrini.
Monografia (Especialização em Arteterapia) Faculdades Zona
Oeste - FIZO (SP) e Alquimy Art (SP). Pós-Graduação Lato
Sensu. São Paulo, 2006.
1. Arteterapia
2. Interpretação de sonhos
3. Jung
FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO
Alquimy Art
A ARTETERAPIA NO TRABALHO COM SONHOS
Monografia apresentada pela aluna Vanessa Fiore ao curso de Especialização em
Arteterapia em 06/05/06 e recebendo a avaliação da Banca Examinadora constituída
pelos professores:
Profª. Drª. Cristina Allessandrini. Orientadora e Coordenadora da Especialização.
Profª. MsC. Deolinda Florim Fabietti. Coordenadora da Especialização.
Profª. MsC. Regina Chiesa
Aos meus pais,
amigos,
colegas de curso
e professores.
Aos meus sobrinhos
Tomás,
Bruno e
Clara,
Com quem, todos os dias, aprendo
o que é o amor incondicional.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Cristina Alessandrinni, pela força, carinho e paciência em todos os
momentos de construção deste trabalho.
A G. que, carinhosamente, permitiu que eu mergulhasse em seu mundo e pudesse
me aprofundar nesta pesquisa.
Às minhas colegas de supervisão, pelo compartilhar dos encontros, desencontros,
alegrias e angústias da construção deste processo.
Aos meus pais e irmãos, presentes sempre, em todos os momentos da minha vida
da melhor forma que podem.
Aos meus amigos queridos, pelo aprender, ensinar e compartilhar de todos os dias
de minha vida com cada um de vocês.
RESUMO
Esta pesquisa narra o percurso da pesquisadora em torno do trabalho de elaboração
de sonhos, utilizando a arte como principal recurso. Inicia a pesquisa teórica em que
discute o estudo dos sonhos na psicanálise e à luz da psicologia analítica
apresentando conceitos da teoria junguiana e de outros autores que abordam a
dinâmica do inconsciente, o self e simbolismos, aprofundando-se principalmente no
símbolo da mandala. A discussão avança com a apresentação do conceito da
arteterapia e de seus fundamentos. Na pesquisa prática apresenta um trabalho com
um sujeito do sexo feminino, 25 anos, em que frente a materiais plásticos diversos e
uma folha sulfite com um círculo (mandala) desenhado, a cliente é convidada a
expressar seus sonhos artisticamente. Tendo como base o momento psíquico da
cliente, são analisadas as relações entre as produções e os simbolismos presentes,
em que a autora preocupa-se em questionar a postura interpretativa em relação
tanto à psicoterapia quanto à arteterapia. Finalmente, aponta de que forma a
produção artística juntamente com a compreensão dos simbolismos presentes
trouxeram à tona não só conflitos internos importantes, mas também novas
possibilidades de elaboração desses conflitos, a descoberta do potencial de vida e
do contato com seu eu-criativo.
Palavras-chave: Arteterapia –Interpretação de sonhos – Mandala – Jung.
ABSTRACT
This research relates the path followed by the researcher towards the work of
understanding the meaning of dreams, using art as main resource. The theoretical
research begins by discussing the study of dreams by Psychoanalysis, and focusing
on the Analytical Psychology, introducing, mainly, some concepts from Jung and
others authors who study about the dynamic of unconscious, self and the symbol,
pointing out deeply the symbol of mandala. The matter advances including the
presentation of the concept of the art therapy and some of its theoretical roots. A
work with a 25 years old woman is carried out as practical research. It is offered a
sheet of paper with a circle already drawn on it (mandala) and a variety of expressive
means, inviting the client to express her dreams artistically. Based on the analysis of
the psychic moment of the client, relations are made between the productions and
the symbols that arise. The author then discusses the interpretation mastery related
to psychotherapy and art therapy. Finally, the researcher points out how artistic
production together with the understanding of the symbols that arise in these
productions, made internal conflicts to surface and enabled new possibilities for
solving theses conflicts, the discovery of life potential and promote the contact with
the creativity process.
Key words: Art Therapy – Meaning of dreams – Mandala - Jung
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS........................................................................................ 05
RESUMO..........................................................................................................
06
ABSTRACT......................................................................................................
07
APRESENTAÇÃO............................................................................................
09
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11
1. DE ONDE VÊM OS SONHOS?....................................................................
16
2. SIMBOLISMO...............................................................................................
20
3. O SIMBOLISMO DA MANDALA.................................................................. 28
4. O QUE É ARTETERAPIA?..........................................................................
31
5. DESCRIÇÃO DA PESQUISA....................................................................... 37
5.1. Perfil da Cliente.....................................................................................
38
5.2. Momento Terapêutico de G. ................................................................ 39
5.3. O Primeiro e o Segundo Sonho de G. ................................................
40
5.3.1. Representação do primeiro e do segundo sonhos......................
41
5.3.2. Simbolismo e relação com o momento terapêutico de G. .......... 42
5.3.3.Considerações de G. sobre o primeiro e o segundo sonhos....... 44
5.4. O Terceiro Sonho de G. .......................................................................
46
5.4.1. Representação do terceiro sonho..................................................
47
5.4.2. Simbolismo e relação com o momento terapêutico de G. .......... 47
5.4.3. Considerações de G. sobre o terceiro sonho...............................
50
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................
53
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................
57
9
APRESENTAÇÃO
A escolha pela minha formação em Psicologia foi absolutamente única e
natural. Desde que comecei a pensar em uma profissão, em nenhuma ocasião,
cogitei uma segunda opção.
Paralelamente ao momento em que escolhi que realmente queria ser
psicóloga, resolvi procurar uma psicoterapia por questões pessoais e por desejar
conhecer de perto a profissão que pretendia exercer. Acabei fazendo psicoterapia na
orientação junguiana por onze anos. Mesmo assim, depois de formada, passei por
um momento muito difícil, sem saber o que fazer, por onde começar, e me sentia
completamente despreparada para atuar na profissão.
Comecei então a freqüentar aulas de pintura. Com o tempo fui percebendo o
quanto aquilo me preenchia, e muitas vezes contava coisas importantes sobre mim
mesma. Certamente, essa experiência aparentemente tão simples foi o que fez com
que me sentisse mais preparada para começar a buscar um caminho em minha
profissão.
Porém, precisava buscar recursos e aprimoramento profissional, o tão
pequeno, porém significativo contato com a arte fez com que eu não tivesse dúvidas
que o primeiro passo seria em direção à arteterapia.
Confesso que no início do curso senti algum estranhamento. A maneira de
trabalhar, o olhar para o cliente e o enfoque do processo era algo diferente de tudo
que havia aprendido na faculdade.
10
Durante todo o meu percurso em psicoterapia, na abordagem junguiana, o
trabalho com sonhos é muito presente, e isto fez com que me interessasse em
pesquisar mais sobre este tema.
Os sonhos, em meu processo pessoal, sempre foram trabalhados por meio de
interpretações, de forma que o terapeuta, conhecendo minha história, dizia o que o
sonho representava naquele momento.
O contato com a arte e a compreensão do processo arteterapêutico que fui
adquirindo no decorrer do curso, fez-me pensar que poderia haver uma outra forma
de trabalhar os sonhos em psicoterapia, já que utilizando a arte o sujeito tem a
possibilidade de acessar conteúdos tão importantes e inconscientes quanto os que
os sonhos nos podem revelar.
Sendo assim, a minha intenção nesta pesquisa é verificar como os sonhos
podem ser trabalhados utilizando a arteterapia como recurso terapêutico, para que o
cliente possa compreender seu sonho com seus próprios recursos e potencial, tendo
a chance de trazer para si a responsabilidade e a capacidade de realizar o seu
processo e a sua transformação.
11
INTRODUÇÃO
Não é de hoje que os sonhos despertam interesse no ser humano de
diferentes maneiras. Quer seja em civilizações antigas ou atuais, são considerados
ligações com outros mundos, visão do futuro, premonição, contato com o espiritual,
entre outras coisas.
Para a psicologia, os sonhos são vistos como “um meio de comunicação entre
o inconsciente e a consciência” (BOSNAK, 1986, p. 87), e independentemente da
linha de trabalho, a forma mais conhecida de compreendê-los é por meio da
interpretação.
O primeiro teórico a dar alguma importância para os sonhos em um processo
terapêutico foi Freud. Nise da Silveira, em um relato sobre o histórico do trabalho
com os sonhos, esclarece que para a psicanálise, o “sonho é a realização disfarçada
de um desejo inconsciente” (1994, p. 109).
Freud afirmou que os impulsos inaceitáveis, normalmente de natureza sexual
ou agressiva, são censurados e reprimidos pela consciência, e também que durante
o sono, a mente inconsciente se relaxa de modo que imagens surgem como forma
de realização (HALL, 1986). Devido a esses impulsos serem inaceitáveis pela mente
consciente podem perturbar o sono do sonhador, e por isso são „disfarçados‟ e
transformados em uma forma dramática mais aceitável, de acordo com a teoria
freudiana.
Isto quer dizer que um rapaz que, por exemplo, tenha desejo sexual pela
mãe, durante o sonho a figura da mãe será deslocada para outra figura do sexo
feminino socialmente aceita para que seu sono não seja incomodado.
12
Na visão freudiana, “o sonho permite uma descarga parcial do impulso
original, sem permitir que esse impulso se manifeste de forma tão primitiva a
perturbar o sonho do sonhador” (HALL, 1986, p. 120).
Para a interpretação dos sonhos, a visão freudiana utiliza o método de
associação livre de idéias com os motivos do sonho para produzir o retorno ao
desejo latente original, isto é, ao conteúdo do sonho não disfarçado, que se encontra
subjacente ao sonho manifesto experimentado e lembrado (HALL, 1986).
Jung que, em sua teoria, deu grande importância para os sonhos no processo
terapêutico e no de autoconhecimento, trabalhou inicialmente com a abordagem
freudiana até desenvolver a sua própria concepção a respeito da mente inconsciente
e da manifestação dos sonhos. Deixou então de aceitar que os sonhos são
manifestados usando disfarces, e de admitir que todos os sonhos traduzem somente
desejos inconscientes do sonhador (SILVEIRA, 1994).
Criticou a abordagem freudiana pelo fato de este não ter percebido que
muitos sonhos significam exatamente aquilo que querem dizer.
Em vez disso, o sonho é considerado uma representação simbólica
do estado da psique, e mostra os conteúdos da psique pessoal (os
complexos) sob uma forma personificada ou representacional como
pessoas, objetos e situações que refletem os padrões mentais
(HALL, 1986, p. 122).
Bosnak (1994) pondera que na visão junguiana, os sonhos são uma autorepresentação do estado da psique, apresentada sob uma forma simbólica, com o
propósito de compensar as distorções unilaterais do ego. Por conseguinte, os
sonhos estão a serviço do processo de individuação (construção do ser si mesmo),
auxiliando o ego a encarar-se a si mesmo de forma mais objetiva e consciente.
13
Silveira (1994) aponta que, na visão de Jung, uma pessoa não aparece no
sonho em lugar de outra - como afirmou Freud -, mas que os personagens que
surgem nos sonhos podem se referir à realidade objetiva, quando as pessoas com
que se sonha são conhecidos íntimos ou desempenham algum papel na vida do
sonhador. Se os personagens do sonho são desconhecidos ou de pouca relação
com o sonhador, representam fatores autônomos de sua própria psique. Isto quer
dizer que “todas as figuras do sonho são aspectos personificados da personalidade
do sonhador” (SILVEIRA, 1994, p. 114).
Dentro da abordagem junguiana, os sonhos são considerados uma fonte
valiosa de informações, não somente por serem a manifestação mais comum do
inconsciente do indivíduo, mas também por fornecer um ponto de vista mais objetivo
do que o do analista ou o do analisando, servindo como fator importante para
acelerar ou aprofundar o processo analítico.
Assim como os sonhos podem ser vistos como uma forma mais direta de
contato com o inconsciente, o uso da arte, em um processo terapêutico, pode ser
visto de maneira semelhante.
Por meio dos recursos artísticos, o cliente tem a possibilidade de entrar em
contato com seus conteúdos pessoais, emocionais e afetivos de maneira mais direta
e objetiva por intermédio de imagens, dispensando a necessidade de uma
interpretação por parte do terapeuta que pode vir carregada de seus próprios
conteúdos internos inconscientes.
Sobre isso, Andrade afirma que:
A arte é uma forma de expressão do ser humano, e como tal, uma
forma de comunicação e de linguagem simbólica, é um produto da
intuição e da observação, do inconsciente e do consciente, da
emoção e do conhecimento, do talento e da técnica, da criatividade.
14
Acolher e utilizar as modalidades de expressões artísticas dentro de
um processo psicoterápico, vem enriquecer a possibilidade de um
conhecimento profundo e consequentemente uma maior
compreensão da pessoa a ser auxiliada (2000, p. 1).
O autor menciona que Freud apontou que o inconsciente manifesta-se mais
por meio de imagens do que por palavras, e seguindo esse princípio, a arte
possibilita uma visão direta e concreta do inconsciente do indivíduo.
É como se pudéssemos enxergar com olhos de quem está de fora uma parte
de nós mesmos, e por meio disso nos apropriarmos de sentimentos, de emoções e
do potencial intelectual, emocional e criativo guardados em nosso inconsciente.
A teoria junguiana, assim como a arteterapia, utiliza-se de alguns recursos
intermediários para a projeção de conteúdos internos do cliente como o Jogo de
Areia (AMMANN, 1989). Nessa técnica, é pedido para que o cliente construa
cenários em uma caixa com medidas padronizadas, cheia de areia, utilizando
miniaturas de todos os tipos e materiais de várias categorias (figuras humanas,
casas, alimentos, entre outros) expostas em prateleiras no local onde está sendo
realizado o trabalho.
A instrução é que o cliente construa um cenário livre. Para isso, deverá então
escolher os objetos que mais lhe chamam a atenção e colocá-los de forma arranjada
na caixa de areia. Ao final, a construção é fotografada de ângulos diferentes para
promover um olhar mais amplo sobre o trabalho. O terapeuta deve estar atento à
ordem em que as figuras são colocadas e como são dispostas na caixa (HALL,
1986).
O cenário, assim como os sonhos, é tido como um retrato da realidade da
psique do sujeito que o construiu, e o desenvolvimento do trabalho com o Jogo de
15
Areia é semelhante ao trabalho com sonhos: amplificação pessoal e coletiva do
simbolismo dos objetos colocados na caixa.
Assim como no Jogo de Areia, o uso de qualquer material artístico no
processo terapêutico é uma forma de ampliação de consciência e contato com o
inconsciente, já que o cliente tem a possibilidade de enxergar sua produção, isto é,
parte dele mesmo, de forma concreta.
Partindo desse pressuposto, o objetivo desta pesquisa é verificar como os
sonhos podem ser inseridos no contexto arteterapêutico. Se o cliente projeta
conteúdos inconscientes em uma construção artística ou no Jogo de Areia, por que
não utilizar esses mesmos recursos para a compreensão dos conteúdos dos
sonhos?
O uso da arteterapia e da criatividade possibilita o desenvolvimento de um
trabalho diferenciado com os sonhos. Com o uso de materiais expressivos, o cliente
tem a possibilidade de „amplificar‟ o sonho e, compreendê-lo com mais autonomia
utilizando seu potencial imaginativo e associativo; ao passo que o terapeuta passa a
desempenhar a função de encorajar, mediar e acolher as emoções, pensamentos e
sentimentos despertados durante o processo.
Neste processo, o cliente é convidado a investigar o seu sonho utilizando a
criatividade
como
principal
recurso,
sendo
sempre
respeitado
em
suas
necessidades, limitações e possibilidades naquele momento, e assim é levado a
uma maior compreensão de si mesmo.
16
1. DE ONDE VÊM OS SONHOS?
Jung negou a idéia freudiana do inconsciente como um simples “quarto de
despejo” (FREEMAN, 1977, p. 12) e de desejos reprimidos. Para ele, o inconsciente
consiste em uma parte tão vital e real na vida de um indivíduo quanto a consciência,
e definiu inconsciente como: “Um conjunto de pensamentos, imagens e impressões
provisoriamente ocultos e que, apesar de terem sido perdidos, continuam a
influenciar nossa mente consciente” (JUNG, 1977, p. 32).
Devido às limitações naturais dos sentidos de todo ser humano, a percepção
do mundo ao seu redor também é limitada. Assim, existem aspectos inconscientes
na percepção da realidade, o quer dizer que, toda realidade concreta possui
aspectos que a consciência ignora.
Muitas das coisas que acontecem em nossa experiência, apesar de não
tomarmos consciência, ficam registradas em algum lugar de nossa psique. Esses
acontecimentos são absorvidos subliminarmente, sem que o consciente tome
conhecimento.
Apesar de inicialmente esses acontecimentos serem ignorados pela
consciência em sua importância, mais tarde podem emergir do inconsciente por
meio de outras formas como insights, e principalmente, sonhos. Jung nos diz que:
“Geralmente, o aspecto inconsciente de um acontecimento, nos é revelado através
de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma
imagem simbólica” (1977, p. 23).
17
Foi inicialmente com o estudo dos sonhos, que os psicólogos iniciaram a
investigação a respeito do aspecto inconsciente da vida psíquica, e constataram o
quanto ele é importante e presente na mente do ser humano.
Para Von Franz (1988), esses estudos reforçam a existência de uma
inteligência superior em nós, isto é, o movimento natural e involuntário da psique
humana rumo ao desenvolvimento e à maturação, cujo objetivo parece ser tornar a
vida a melhor possível e fazer com que o sujeito desenvolva o máximo de seu
potencial.
Por outro lado, muitos cientistas e filósofos negam a existência do
inconsciente, colocando que seria o mesmo que afirmar que “existem dois sujeitos e
duas personalidades na mente de um mesmo indivíduo” (JUNG, 1977, p. 25).
No olhar de Jung, é exatamente isso que acontece, e afirma ainda que essa
divisão da personalidade é uma “maldição do homem moderno” (1977, p. 25),
apesar de não ser, de forma alguma algo patológico, sendo considerado somente
uma herança comum de toda a humanidade.
A partir dessa idéia, Jung (1977) acrescentou que, assim como conteúdos
conscientes tornam-se inconscientes, o inconsciente também pode emergir e não só
como “um simples depósito de coisas do passado”, mas como algo permeado de
idéias e situações psíquicas futuras. Além de memórias de um passado longínquo,
há a possibilidade de emergir pensamentos inteiramente novos e idéias criadoras
assim como pensamentos que nunca foram conscientes.
Von Franz (1988) afirma que a grande descoberta da psicologia moderna, é
que cinco ou seis vezes durante a noite, a parte inconsciente da psique é retratada
18
nos sonhos e, ao lembrá-los, temos a oportunidade de observar conteúdos da mente
inconsciente.
Jung define que a função geral dos sonhos é: “Tentar restabelecer a nossa
balança psicológica, produzindo um material onírico que reconstitui, de maneira sutil,
o equilíbrio psíquico total. É a função compensatória dos sonhos na nossa
constituição psíquica” (1977, p. 49).
Von Franz (1988, p. 50) complementa afirmando que os sonhos podem ser
comparados a “cartas que o Self nos escreve toda noite”, revelando não só a causa
básica da desarmonia interior e da angústia emocional, como também indicando o
potencial de vida do indivíduo. Muitas vezes podem ainda apresentar soluções
criativas para problemas diários e inspirações para o desenvolvimento criativo da
vida.
Para Jung, quando sonhamos somos despertados para aquilo que realmente
somos. O sonho também tem como função compensar as deficiências da
personalidade do sonhador, e ao mesmo tempo pode prevenir dos perigos de seu
rumo atual. Se os avisos dos sonhos são rejeitados, acidentes reais podem
acontecer.
Isso não significa que seja função do sonho nos proteger de doenças e
contratempos, mas sim nos ensinar a lidar com aspectos difíceis da vida e
personalidade, como encontrar o sentido da vida, para que possamos realizar o
potencial de vida que há em nós.
Von Franz (1988) ilustra com o exemplo de uma pessoa que tem um alto
conceito de si mesmo, e apresenta sonhos recorrentes de que está voando, ou que
está caindo. Neste caso, o inconsciente envia uma mensagem simbólica de que esta
19
pessoa encontra-se „desaterrada‟ de si mesma e fora de seu eixo, por isso encontrase ou voando ou caindo, e não com seus pés no chão.
A teoria Junguiana postula que o inconsciente se manifesta nos sonhos por
meio de símbolos. Sendo assim, a compreensão e a interpretação simbólica dos
conteúdos de um sonho não é algo tão simples. Freud, por outro lado, afirma que o
sonho apresenta conteúdos importantes do sujeito, mas de forma disfarçada, o que
nada mais seria do que uma forma simbólica.
Para Von Franz os sonhos tocam sempre em nosso “ponto cego” (1988, p.
28), e nunca dizem o que já sabemos sobre nós, mas sim o que não sabemos. Para
a autora, interpretar o próprio sonho é como olhar as próprias costas, pois “os
símbolos são a linguagem dos sonhos. Nos sonhos, o inconsciente é revelado
através de símbolos. A chave para a compreensão dos sonhos é o conhecimento do
símbolo” (p. 41).
Sendo assim, se os sonhos nos comunicam coisas importantes sobre nós
mesmos por meio de símbolos, para desvendar seus significados é fundamental que
se tenha conhecimento da linguagem simbólica, já que saber reconhecer as
mensagens dos sonhos não é algo tão claro e aparente quanto possa parecer.
20
2. SIMBOLISMO
A tarefa do homem, no decorrer de toda sua existência, é tornar-se o que
realmente é. Jung chamou esse processo de Individuação, o que considera um
movimento inerente de todo o ser humano rumo ao autodesenvolvimento.
Segundo Kast (1997, p. 9), é tarefa do homem desenvolver a capacidade
de “ser si mesmo” no decorrer da vida, o que é também fundamento para o
processo terapêutico baseado na teoria junguiana, que te esse mesmo objetivo.
A psicologia junguiana é marcada por uma imagem que vê o ser
humano num contexto abrangente, numa transformação criativa e
experienciando a falta de mudança como algo opressivo. (KAST,
1997, p. 9).
Essa transformação é constante e involuntária. Todo ser humano está
destinado a desenvolver-se de forma contínua rumo ao que realmente é por toda
sua existência.
A teoria junguiana compreende que qualquer acontecimento na vida de uma
pessoa possui uma dimensão para além do óbvio, inconsciente, que permanece
como que misteriosa. Kast explica que para Jung: “A realidade experienciável por
meio dos sentidos está sempre em conecção com uma realidade espiritual” (1997,
p. 9).
Assim, pode-se considerar que o processo de individuação compreende o
relacionamento entre consciente e inconsciente, e esses conteúdos unem-se por
meio dos símbolos.
Nesse sentido, a individuação também pode ser compreendida como um
„processo de diferenciação‟, no qual a singularidade de uma pessoa deve
21
manifestar-se; e a aceitação de si mesmo com suas dificuldades e possibilidades, é
uma virtude a ser efetivada neste processo, que ocorre durante toda a vida nas
diferentes oportunidades que o homem tem para realizar escolhas e constituir-se
como ser.
Jung caracteriza o processo de individuação como processo interno de
integração, o que significa o indivíduo ter a possibilidade de conhecer outros lados
de si mesmo e integrá-los a sua personalidade.
Em contra partida, afirma que “a relação com o si mesmo é ao mesmo
tempo a relação com o próximo. E ninguém se vincula com o outro sem antes se
vincular consigo mesmo” (1977, p. 54). Sendo assim, estar em contato e harmonia
com a própria personalidade, é o que traz a harmonia nas relações e em todos os
aspectos da vida de uma pessoa.
Portanto, a partir desses pressupostos,
O processo terapêutico, compreendido como processo de
individuação, consiste essencialmente no fato de o inconsciente e a
consciência, no âmbito dos conteúdos vivificados, ligarem-se um ao
outro no símbolo. Por meio das formações de símbolo torna-se
possível o desenvolvimento criativo da personalidade (KAST, 1997,
p. 16).
O simbolismo que emerge em ações criativas vem carregado de significados
para a pessoa e pode revelar aspectos da psique até então não integrados à
consciência. Torna-se relevante trazer Jung que define símbolo como:
Imagem ou nome, familiar na vida diária, que possua conotações
especiais além de seu significado evidente. Isto é, um signo com
uma carga afetiva pessoal, um aspecto inconsciente mais amplo, que
nunca é precisamente definido ou explicado (1977, p. 57).
Ao que Von Franz complementa:
22
O que denominamos símbolo é um termo, um nome ou até mesmo
uma imagem familiar na vida cotidiana, mas com uma conotação
específica além do sentido do óbvio e convencional... Assim, uma
palavra ou imagem é simbólica quando implica algo além de seu
sentido óbvio e imediato, adquirindo um aspecto inconsciente mais
amplo nunca definido com precisão nem totalmente explicado – que
tampouco se poderia ver ou explicar (1988, p. 57).
Cada pessoa compreende as imagens que produz e os diferentes elementos
que ressaltam em um contexto específico a partir das experiências que acumulou
até aquele momento de sua vida. O que significa que há um simbolismo que
pertence à própria pessoa, que identificou este ou aquele elemento como importante
para si em seu processo de desenvolvimento e de individuação.
Kast (1997) exemplifica a definição de símbolo com uma história. Por
exemplo, uma mulher perde, um uma faxina, seu anel de casamento e não
consegue encontrá-lo inicialmente. Fica ansiosa e pensa se o jogou junto com a
água suja, e se o fato de tê-lo perdido pode ter algum significado. Tenta se
acalmar, pois é apenas um anel, mas em seguida pensa que não é apenas um
anel, é seu anel de casamento. Sente medo de contar o fato ao marido, e fica com
sentimento de culpa. Neste momento, ela experiencia o marido como um homem
muito compreensivo.
Conta, então, o fato a uma amiga, que diz que fica claro que ao perder a
aliança de casamento em uma faxina, ela perde sua relação com o marido.
A partir dessa consideração, a mulher reflete sobre seu relacionamento com
o marido, sobre as expectativas que depositou nesta aliança, se realmente ainda
deseja essa relação, já que a joga fora como se fosse água suja. E pergunta-se por
que sente tanto medo.
23
A autora expõe que nesta pequena história não se pode separar a perda do
anel de seu significado. O medo da reação do marido aponta para isso, já que ela
não o teme de modo algum. É o medo de poder perder a totalidade da relação,
simbolizada pelo anel. Por isso, muitas vezes o impulso da separação é projetado no
parceiro, já que é mais confortável temer as reações do parceiro do que o próprio
impulso de separação.
O anel, neste caso, é um objeto cotidiano, percebido pelos sentidos, mas que
aponta para algo encoberto, um excesso de significado que não pode ser esgotado
em um primeiro momento.
O objeto e seu significado não podem ser separados, assim como nenhum
símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o vivenciou, como afirma Von
Franz (1988, p. 36), pois seja por meio de uma experiência ou de um sonho, a
conotação pessoal e afetiva de todos os aspectos dos símbolos são absolutamente
importantes para sua compreensão.
Introduzimos aqui a relação do simbolismo com o aspecto simbólico do
sonho.
O conteúdo simbólico presente nos sonhos é sempre composto de duas
partes: uma delas é um simbolismo universal ou coletivo, isto é, um significado que é
comum a todos os seres humanos em decorrência de experiências repetidas entre
as gerações e do significado concreto de determinado símbolo. A outra parte é o
simbolismo pessoal, que consiste no significado único que surge em decorrência de
experiências individuais em relação a determinado símbolo.
24
Kast (1997) esclarece que a palavra “símbolo” origina-se do grego symbolon,
que significa um sinal de reconhecimento; reconhecer aspectos que foram
separados.
A etimologia traz o símbolo como algo composto de um significado individual
e um coletivo ou universal, e apenas quando combinado pode ser considerado um
símbolo de alguma coisa.
Para a autora o símbolo pode ser considerado “um sinal visível de uma
realidade invisível, ideal” (1997, p. 19) e aponta que é possível observar sempre dois
níveis nos símbolos: em algo externo pode-se revelar algo interno, em algo visível o
invisível, em algo corporal o espiritual, no particular o geral. Na compreensão do
símbolo, procuramos a realidade invisível por trás de algo que é claro e visível.
Jung (1961) afirma que para entender a organização psíquica e a
personalidade global de uma pessoa é importante avaliar a relevância de seus
sonhos e imagens simbólicas. Explica ainda que o ato sexual, por exemplo, pode
ser simbolizado de diversas formas, por uma imensa variedade de imagens. Cada
uma dessas imagens, por um processo associativo, pode levar à idéia da relação
sexual existente dentro de cada pessoa, isto é, o inconsciente escolhe, por vontade
própria, uma dessas imagens para representar o ato sexual naquele sujeito.
Diferentemente de Freud, que definiu a libido como a energia sexual
presente em cada ser humano desde o nascimento, Silveira (1994) esclarece que
para Jung o conceito se aplica de forma mais ampla, isto é, a libido é tida como
energia psíquica, instinto permanente de vida e é manifestada pela fome, sede,
sexualidade, agressividade, interesse e vontade.
25
Sendo assim, a verdadeira tarefa da análise é compreender porque uma
imagem foi escolhida no lugar de outra para representar algo no sonho ou na
produção artística e terapêutica da pessoa, já que na maioria das vezes a imagem
não representa aquilo que ela parece, mas sim algum aspecto psicológico
inteiramente diverso. O símbolo pode ser visto como a metáfora do que está de
fato acontecendo na vida do sujeito.
Kast aponta que quando os símbolos se tornam experienciáveis num
processo terapêutico passamos a nos sentir mais vivos, mais emocionais; ou seja,
“realiza-se o lidar consciente com o inconsciente” (1997, p. 35), e acrescenta ainda
que “nos símbolos, nossas dificuldades especiais e atuais tornam-se manifestas,
assim como nossas próprias possibilidades de vida e desenvolvimento. Nas
dificuldades depositam-se as possibilidades de desenvolvimento” (p. 37).
O símbolo frequentemente evoca a inibição da vida em conexão com
lembranças de períodos anteriores, e traz consigo toda a experiência anterior
relacionada a determinado conteúdo simbólico tanto pessoal quanto coletivamente.
Ao mesmo tempo, aborda um tema da vida apontado para o futuro, e como foco de
desenvolvimento psíquico é portador de desenvolvimento criativo num processo
terapêutico, e por conseqüência o processo de individuação torna-se, no símbolo,
algo muito mais claro e experienciável.
Kast afirma que o objetivo terapêutico da psicoterapia de orientação junguiana
é:
Lidar criativamente com a vida própria, caminhar, mas também poder
lidar com tempos de estagnação e, sobretudo, ser capaz de aceitar a
nós mesmos como alguém em transformação, com todos os cantos e
quinas que forma uma pessoa... O objetivo também seria assumir o
risco de ser si mesmo (1997, p. 38).
26
Para a autora, o desenvolvimento criativo que leva a esse objetivo terapêutico
torna-se manifesto no símbolo, e é ele o responsável por levar os conteúdos à
consciência.
Dentro desse contexto a arteterapia apresenta um objetivo bastante
semelhante, já que traz ao indivíduo a possibilidade de olhar partes de si mesmo nas
imagens e formas que se apresentam em suas produções e expressões artísticas. É
como ter a possibilidade de sobrevoar a própria personalidade e, com o olhar
ampliado, ter a chance de integrar aspectos inconscientes de seu ser.
Kast (1997) lembra que Jung (1916) descreve o processo de formação do
símbolo da mesma maneira como hoje se descreve o processo criativo, em especial
a fase de incubação.
Podemos perceber que no ato criativo a participação do inconsciente é real e
emerge para a consciência como símbolo a ser compreendido pela pessoa.
O processo criativo de materializar esses conteúdos internos impulsiona a
condição da pessoa de integrar esses conteúdos à sua consciência, portanto
participando ativamente do processo de individuação.
A autora descreve que a primeira fase do processo criativo consiste em nossa
tentativa de solucionar um problema com métodos antigos, que não mais funcionam
da maneira desejada.
Instala-se então a segunda fase, a fase de incubação: perde-se a
concentração e a tensão se instala. No lugar da concentração consciente aparece o
inconsciente vivificado, e conscientemente sentimos frustração, angústia e
descontentamento.
27
A fase de compreensão vem logo após a fase de incubação. É quando se tem
o insight, e esse pode ser acessível à consciência em forma de símbolo.
Enfim, podemos considerar que o fato de compreender e integrar os
conteúdos simbólicos à consciência no processo de nos tornarmos nós mesmos é
uma idéia basicamente junguiana. Por meio de aparentemente meros atos pequenos
de criação e do desenvolvimento do criativo existente em cada um de nós, podemos
ir ao encontro de nossa verdadeira essência, o que possibilita uma vida muito mais
plena e satisfatória.
28
3. O SIMBOLISMO DA MANDALA
Alguns símbolos representam aspectos que encontramos nas mais diferentes
culturas da humanidade. A forma circular, conhecida como mandala é apresentada
no „Dicionário de Símbolos‟ de Chevalier e Gheerbrant (1982) como literalmente um
círculo, presente em diferentes culturas e religiões, sendo utilizada com diferentes
objetivos e funções.
A mandala é provavelmente a forma ou símbolo mais antigo que se tem
registrado. Algumas comunidades indígenas usam a forma circular para restabelecer
o equilíbrio interior perdido; nas civilizações orientais, o símbolo da mandala é
freqüentemente utilizado para favorecer o contato com o mundo interior com o
objetivo de contemplar um estado de meditação profunda.
Von Franz (1977) explica que ao contemplar uma mandala, os orientais
acreditam ser possível entrar em um estado de paz interior, levando a uma
sensação de que a vida voltou a ter paz e significado. A mandala por ser
considerada uma forma perfeita traz essa possibilidade: é a representação da
integração e harmonia entre todos os aspectos da natureza e do ser humano.
Hugendubel (1985) aponta que, basicamente, tudo tem forma circulares: o
planeta terra, as gotas d´água, os elementos estruturais dos cristais, as células que
constituem plantas, animais e o homem. É interessante ressaltar que toda célula tem
um núcleo, e esse núcleo é sempre uma mandala.
Em termos psicológicos, segundo Jung (1979), a mandala simboliza o nosso
self, e Von Franz esclarece que para a psicologia analítica, o self é “o núcleo mais
29
profundo da psique humana” (1977, p. 201), pois expressa a totalidade da psique em
todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza.
A figura da mandala, em geral, aparece espontaneamente em sonhos ou
produções artísticas em estados de conflito ou em pessoas com esquizofrenia,
simbolizando, segundo a teoria junguiana, a psique em movimento instintivo de autoregulação, isto é, a tentativa instintiva de retomar o equilíbrio interno e a organização
da psique.
Segundo Bosnak (1994) em momentos de doença, o aparecimento de
símbolos e conteúdos repetidamente, em sonhos ou expressões espontâneas, pode
representar um termômetro da condição emocional da pessoa.
O autor exemplifica: quando uma pessoa pinta uma mandala sempre da
mesma forma, pode significar que ainda não está pronta o suficiente para avançar
naqueles conteúdos.
Levando em consideração que é possível a expressão de conflitos internos na
representação artística, as mandalas podem também ser usadas como forma de
diagnóstico, já que retratam simbolicamente o estado psíquico do indivíduo.
Porém, o mesmo símbolo também pode aparecer espontaneamente em
sonhos quando o sujeito volta-se para seu mundo interior, sem a influência de
pensamentos e sentimentos subjetivos perturbadores, seguindo as expressões de
sua natureza, deixando seu self emergir.
O círculo mágico conforme Jung (1979) descreve, representa um espaço
fechado em si mesmo que, por esse fato, tem em si a qualidade de permitir que a
energia ali contida permaneça em uma condição única de encontrar seu próprio
dinamismo de auto-regulação. Neste caso, a mandala pode produz um sentimento
30
de paz interior, comunicando que o sonhador não está influenciado por qualquer
tradição cultural ou religiosa.
São os estados de afastamento ou proximidade com o self, que fazem com
que o símbolo da mandala apareça nos sonhos, já que, segundo Von Franz (1977),
os sonhos não têm preocupação com nossa adaptação à vida exterior, mas tem o
poder de desenvolver nossa atitude interior em relação ao self.
É o momento em que podemos manter-nos próximos de nossa verdadeira
essência e receber suas mensagens de forma simbólica.
Para Kellogg (1997), a mandala produzida por uma pessoa funciona como um
espelho da psique, da atividade inconsciente e do processo de conscientização que
vive naquele momento.
Assim, pintar uma mandala é ter a chance de ficar cara a cara com nosso
verdadeiro eu. É poder entrar em contato com nossa essência e com nosso estado
emocional daquele momento e, a partir daí, poder integrar, conscientizar e
transformar os conteúdos necessários para uma psique mais saudável e uma vida
mais feliz.
31
4. O QUE É ARTETERAPIA?
Desde seus primórdios, o homem tem como forma de registro, expressão,
comunicação e organização o desenho e a pintura, entre outras formas também
ligadas à arte.
Certamente, desde este passado remoto o ser humano já se beneficiava dos
aspectos terapêuticos que o contato com a arte e expressão propiciavam, mesmo
que ainda o fizessem sem consciência ou compreensão da forma como esse
processo acontecia.
O simples ato de pintar, desenhar e modelar é, por si só, naturalmente
terapêutico. Mesmo sem nenhum objetivo específico, o ato de criar tem o poder de
acalmar, organizar, expressar e revelar conteúdos importantes ao criador.
Encontramos em todas as crianças, em maior ou menor grau, a arte como
principal forma de comunicação antes da aquisição da linguagem verbal, e conforme
o sujeito vai crescendo, começa a abandonar a linguagem artística em nome da
linguagem verbal.
Andrade afirma que “a arte é necessária para o homem conhecer e
transformar o mundo” (2000, p. 14), e essa sabedoria parece ser antiga e inata no
ser humano.
No final do século XIX, aponta Nise da Silveira (1994), Freud trabalhava no
revolucionário conceito de inconsciente, e desde então, ele, Jung e outros teóricos
passaram a estudar as produções artísticas de seus pacientes com objetivo de
desvendar e compreender o inconsciente.
32
Assim como nos estudos de Freud e Jung, a arteterapia também utiliza
recursos artísticos com fins terapêuticos, porém, com um objetivo bastante diverso
ao de compreender e interpretar o inconsciente.
Ciornai cita em seu livro “Percursos em Arteterapia” a definição da
Associação Americana de Arteterapia:
A arteterapia baseia-se na crença de que o processo envolvido na
atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida
das pessoas. Arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística no
contexto de uma relação profissional por pessoas que experienciam
doenças, traumas ou dificuldades na vida, assim como por pessoas
que buscam desenvolvimento pessoal (2002 apud CIORNAI, 2004, p.
47).
O fazer criativo, seja ele relacionado a qualquer técnica ou recurso possibilita
o sujeito experimentar-se capaz de produzir e concretizar coisas, o que favorece o
aumento da auto-estima, o resgate da identidade e a capacidade de resolver
problemas.
Por meio do criar em arte e refletir sobre os processos e trabalhos
artísticos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e
dos outros, aumentar sua auto estima, Lidar melhor com sintomas,
estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos,
cognitivos e emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do prazer
artístico (AATA, 2003).
Diferentemente dos trabalhos de Freud, o objetivo do arteterapeuta não é
interpretar a produção de seu cliente, mas sim incentivá-lo a, reflexivamente, buscar
o significado para sua produção enquanto mantém-se focado no processo
terapêutico.
“A arteterapia sustenta-se na crença de que as pessoas podem ser agentes
da própria saúde e de seus processos de crescimento, encontrando em seus
trabalhos e criações sentindo o que seja pessoalmente relevante e significativo”
(CIORNAI, 2004, p. 15).
33
A mesma autora aponta que “A função básica do arteterapeuta é tornar
disponível para pessoas perturbadas os prazeres e satisfações que o trabalho
criativo pode proporcionar” (2004, p. 28), e principalmente levar o cliente a perceber
que é capaz de lidar com seus conflitos e ser responsável por seu crescimento e
transformação.
O terapeuta diante de seu cliente deve manter uma atitude de facilitador de
seu movimento criativo e expressivo, sugerindo materiais e técnicas para facilitar
elaborações e busca de significados. O cliente, por outro lado, é sujeito ativo em seu
processo, explorando as formas que produziu, dialogando e desvendando os
significados de sua produção.
Ao criar, pintar, desenhar ou modelar, o sujeito tem a chance de expressar e
dar forma, materializando seus conteúdos e ao mesmo tempo dando significado à
sua produção. Conforme desenvolve sua obra, constrói ou reconstrói seu mundo
interior e suas relações, acessa antigas memórias e desenvolve seu potencial
criativo.
Expressar seus conteúdos artisticamente é como ter a chance de enxergar a
si mesmo com olhar de quem está de fora ou sobrevoar a própria personalidade, e
com este olhar poder fazer os ajustes necessários para uma saúde psíquica mais
plena e completa.
Para Andrade:
Nas artes terapias e terapias expressivas, enquanto se realiza esta
possível manifestação, o cliente integra, compreende e vivencia aspectos
do mundo exterior e do interior concomitantemente. Pode dar-se conta do
que de fato sente e, durante este processo pode verdadeiramente fazer
algo que assim o represente, e a ele faça sentido (2000, p. 33).
34
A expressão verbal, diferentemente da arte, apresenta suas limitações.
Falamos somente o que queremos e o que sabemos sobre nós mesmos, e levando
em conta que a maior parte de nossa psique é inconsciente, o verbal tem um acesso
bastante restrito a esses conteúdos.
Segundo Ciornai (2004) a linguagem verbal é socialmente compartilhada,
diferentemente da linguagem da arte, que é única e individual. Na arte, cada pessoa
é convidada a desenvolver uma linguagem própria, que reflete sua personalidade,
modo de perceber o mundo e a si mesmo, levando ao desenvolvimento da
individualidade e singularidade.
Ao produzir algo artisticamente, o sujeito coloca em sua obra tanto seus
conteúdos conscientes, isto é, aquilo que ele quer representar em sua produção,
quanto seus conteúdos mais profundos e inconscientes, já que na linguagem
artística, não existe a limitação ou controle que existe na linguagem verbal.
É com este olhar que a produção artística pode ser chamada de um espelho
do self. Enquanto expressa seus conteúdos e se depara com eles, o sujeito acessa
profundamente sua psique e seu inconsciente, trazendo à tona o que lhe é
importante naquele momento.
A teoria junguiana acredita que além de conteúdos reprimidos, o inconsciente
guarda também grande parte de potencial intelectual, emocional e criativo do ser
humano. Em cima deste conceito, o trabalho com arte traz para o sujeito não só o
que se refere a seus conflitos e dificuldades, mas também o que há de mais
saudável e vivo em sua psique.
Assim, a arteterapia busca por meio do criativo enfatizar os aspectos
saudáveis do ser humano. Por meio do desenvolvimento do ser criativo, o cliente
35
pode se apropriar de suas qualidades, potencial, força e identidade; o que favorece
o fortalecimento e estruturação do ego. Conforme o ego é fortalecido e o sujeito
torna-se mais forte e consciente, começam a aparecer os conteúdos de mais difícil
elaboração. Quem dá o tom e o ritmo é o cliente, de acordo com suas possibilidades
e necessidades naquele momento.
Ciornai complementa dizendo que:
Tanto na arte quanto na terapia manifesta-se a capacidade humana
de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os
outros e com o mundo, retirando a experiência humana da corrente
rotineira e por vezes automática do cotidiano, colocando-a sob luzes
novas e estabelecendo novas relações entre seus elementos,
misturando o velho com o novo, o conhecido com o sonhado, o
temido com o vislumbrado, trazendo assim novas integrações,
possibilidades e crescimento (2004, p. 36).
O arteterapeuta deve ser um profissional preparado e formado para utilizar
recursos artísticos diversos com fins terapêuticos, o que não significa que a atuação
esteja vinculada a uma abordagem necessariamente psicoterapêutica, permitindo
que profissionais de diversas áreas possam tornar-se arteterapeutas e possam
utilizar a arteterapia como um recurso dentro de sua atividade profissional.
Sendo assim, a arteterapia atua como um recurso terapêutico que pode ser
apoiado em uma teoria psicológica como a psicanalítica, junguiana ou gestáltica, e
neste caso, os recursos da arteterapia são usado tendo embasamento em uma
teoria psicológica, diferenciando-se na forma de o terapeuta conduzir o processo,
relacionar-se com o cliente e no olhar diante de sua produção.
Para Andrade (2000), a arte é uma atividade lúdica que tem a propriedade de
descobrir coisas, conhecer e experimentar objetos de maneiras diversas e diferentes
daquelas usualmente instituídas.
36
Utilizar a arte para trabalhar os sonhos, significa dar a oportunidade de o
cliente deparar-se com as mensagens de seu self de forma clara e direta. É como
dar a ele um espelho que reflita seu mundo interno em sua forma mais completa:
trazendo à superfície tanto seus conflitos quanto o que existe de mais vivo e
saudável em sua psique.
37
5. DESCRIÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada em consultório particular durante o atendimento
psicoterapêutico realizado com a cliente G. que aceitou participar dessa pesquisa,
assinando inclusive, um termo de consentimento para tal.
A metodologia de coleta de dados foi realizada com o seguinte procedimento:
foi apresentada à cliente uma folha sulfite A4 com um círculo de vinte centímetros de
diâmetro traçado com lápis grafite HB. Nenhuma instrução foi dada, para que a
cliente pudesse utilizar o círculo da forma que desejasse, ou não utilizá-lo.
Juntamente com a folha, foi oferecido lápis de cor, giz de cera, pastel seco e tinta
guache para ter a opção de escolher o material para representar o seu sonho.
O desenho da mandala, símbolo do self segundo Von Franz (1979), já inscrito
na folha de papel oferecida, foi introduzido para oferecer à cliente estrutura e
segurança para favorecer a livre expressão de seus sonhos.
Com o objetivo de possibilitar a G. conhecer e experimentar o contato com
seu mundo interno de uma maneira não verbal, foi proposto que representasse seus
sonhos artisticamente; para que em sua produção, pudesse dialogar com os
conteúdos e simbolismos apresentados nos sonhos, compreender suas mensagens
e principalmente, entrar em contato com o que existe de mais vivo e latente em sua
psique, revelados tanto nos sonhos quanto em suas produções artísticas, para que
se deparando com sua forma simbólica, pudesse integrá-los à sua consciência.
38
5.1. Perfil da Cliente
G. é uma mulher de 25 anos, formada em psicologia e atualmente trabalha
em uma empresa de pesquisa de mercado. Já fez terapia durante dois anos e se diz
muito interessada na abordagem junguiana, especialmente no trabalho com sonhos.
É a filha mais nova de quatro mulheres e a única que ainda mora com os pais.
Tem uma relação difícil com a mãe, que considera muito crítica e controladora, e
além disso incomoda-se muito com o fato de G. estar bastante acima do peso.
G. procurou terapia sem uma queixa específica, dizendo que com sua outra
terapeuta „parou em um determinado ponto‟, e agora deseja continuar.
Nas primeiras sessões, sempre trazia a questão de que não gostava de ficar
sozinha. Dizia sempre ter de estar na companhia de alguém ou fazendo alguma
coisa. A situação de seu pai incomodava-a, já que é aposentado e tem poucas
atividades e muito tempo livre.
Após algumas sessões, G. revelou que desde os treze anos, apresenta um
quadro de Tricotilomania, patologia que, segundo o DSM IV (2002) a pessoa arranca
os próprios fios de cabelo de maneira recorrente, levando à perda capilar
perceptível. Normalmente, o ato de arrancar os fios de cabelo é antecedido de
tensão, e leva o sujeito à sensação de prazer e de satisfação ao realizar o ato.
39
5.2. Momento Terapêutico de G.
Após um ano no processo terapêutico, G. inicia um curso de formação em
Psicoterapia de Abordagem Junguiana, e inicia seus atendimentos na clínica da
escola.
O cliente é um menino de 10 anos, muito grande e gordo, segundo seu relato.
Os atendimentos têm feito G. refletir muito sobre sua vida, sua infância e
sexualidade, além de estar tendo muitos sonhos os quais relaciona com a nova fase
profissional.
As questões relacionadas a seus pais continuam recorrentes na terapia.
G. começa a entrar em contato com questões referentes à sua sexualidade.
Considerava-se bem resolvida nesta questão no início da terapia, e ao longo deste
ano de tratamento manteve relações sexuais com alguns homens, que logo não a
procuravam mais, o que lhe deixava magoada.
Começa a entrar em tabus familiares e religiosos em relação à sua
sexualidade, e percebe que a imagem de „bem resolvida sexualmente‟ não condiz
com sua realidade. Conscientizar-se desta questão proporcionou um grande alívio à
G., pois apesar de ter entrado em contato com a dificuldade, já não precisava mais
sustentar o papel de „bem resolvida sexualmente‟ para si mesma nem para os
outros, apresentando-se mais autêntica e respeitando suas limitações. Atender um
paciente do sexo masculino fez com que refletisse sobre sua relação com o sexo
oposto.
40
G. agora podia olhar para suas culpas e dificuldades, inclusive percebendo
que a imagem que queria transparecer poderia estar afastando os homens que dela
se aproximavam.
No início de seu processo, a cliente revelou que era muito religiosa até perder
a virgindade. Depois que isso aconteceu, segundo ela não se sentiu à vontade para
continuar freqüentando a igreja de cuja crença compartilhava, já que considerava
hipocrisia sua, pois não mais seguia os ensinamentos da igreja à risca.
Após um ano de trabalho terapêutico, começou a pensar de outra forma.
Voltou a ter vontade de freqüentar novamente a igreja. Ensaiou algumas vezes, sem
sucesso, mas por fim, hoje, permite-se participar dos cultos, e sente-se muito bem
com isso.
5.3. O Primeiro e o Segundo Sonho de G.
“Sonhei que puxava os dentes, ia mordendo e eles iam se quebrando. Acordei
pensando que preciso ir ao dentista. Já sonhei com dentes quebrando outras vezes”.
G. teve esse sonho logo que iniciou os atendimentos com o garoto.
Disse que ao acordar, pensou que tem que tomar cuidado, pois está se
tornando frágil, e que tem que prestar mais atenção nos dentes.
Associa dentes com „fortaleza, forte, firmeza‟. Conta ainda que sempre teve
dentes fortes.
Na mesma sessão trouxe o sonho seguinte, que disse ser um sonho
recorrente, isto é, um sonho que é sonhado repetidamente, esporadicamente ou
não, no decorrer de um tempo indeterminado.
41
G. explica que „esse sonho é um sonho que não é sonho‟, pois é muito real
para ela e se repetiu, da última vez, há três meses. Diz sentir muita angústia,
sufocamento, algo preso, que quer sair e não sai.
„Estou deitada na cama, acordo e levo um susto. Tem alguma coisa fora que
quer me sufocar pela garganta. É constante, eu tento dormir e sonho de novo.
No sonho grito chamando minha mãe, sinto os dentes tremerem e mordo o
lençol. Aí grito: Ai, mãe, me ajuda! Me tira daqui!‟.
5.3.1. Representação do primeiro e segundo sonhos
Conforme o combinado, convido G. a desenhar seus sonhos. Ofereço os
materiais, e G. analisa-os antes de iniciar sua produção.
Escolhe o giz de cera e inicia desenhando no canto esquerdo inferior alguns
dentes, com uma tonalidade bege e fundo alaranjado. Representou um recorte,
isolando esta parte do resto do desenho, que depois completou.
O recorte representa um plano mais profundo, onde há uma figura que
ressalta: um dente maior, e outros cinco dentes. Um rasgo é desenhado com
movimentos angulados, como que isolando esta parte do desenho, feito com uma
cor de tonalidade forte, o laranja, com bastante intensidade, inclusive movimentos
repetime descrito anteriormente.
Começou desenhando um travesseiro e um rosto sem expressão,
representando-a adormecida. Em seguida desenhou-se já no momento em que se
sentia sufocada por uma coisa externa.
42
Neste desenho, utiliza várias cores, inclusive respeitando os limites do círculo,
pois a figura do rosto é representada inferida em parte.
Reforça com a cor verde o quanto se sente sufocada, representa a boca bem
fechada e vermelha, revelando sua dificuldade em expressar o quê a sufoca.
Na terceira etapa, desenha-se com uma cara de pavor. Os olhos, nariz e boca
são roxos, mas já podendo gritar e expressar o seu horror.
43
5.3.2. Simbolismo e Relação com o Momento Terapêutico de G.
Ao observar a imagem de G. percebo que ela faz uso de um material que lhe
permite mais controle, o giz de cera.
Os dentes, segundo Chevalier e Gheerbrant (1982), simbolizam força,
agressividade.
Perder os dentes simboliza a perda da força vital, juventude e defesa. Porém,
perdem-se os dentes para que novos possam nascer, o que é símbolo de
renovação, de nova fase, de emergir de um novo ciclo.
Isso pode relacionar-se com o momento psíquico e de vida de G. Depois de
um ano em processo psicoterapêutico, ela se dispôs a trabalhar questões de sua
sexualidade, infância e relação com sua mãe, principalmente devido à sua
identificação1 com seu novo cliente, que a faz refletir sobre muitas questões
pessoais.
Como G. diz, a „fortaleza‟ que os dentes representam para ela pode ser lido
como seus antigos valores relacionados à família, à infância e à sexualidade que
estão pela primeira vez sendo questionados, podendo assim „cair‟, para que seus
próprios valores sejam construídos.
Além disso, existe o novo momento profissional de G., que busca
aprimoramento para começar sua atuação como psicóloga, o que tem grande
significado para ela. Seu segundo sonho apresenta-se em três fases.
1
Identificação: processo psicológico no qual a personalidade é parcialmente ou totalmente
dissociada. Denota semelhança inconsciente entre sujeito e objeto (SHARP, 1991, p. 62).
44
O primeiro desenho, em que o rosto não tem expressão, mostra a
identificação e o quanto se apresentava ainda inconsciente em relação àquilo que a
estava sufocando. Possivelmente, a expressão artística deste momento, a fez tomar
consciência de que ela já tem condições de verbalizar o que a sufocava, já que na
terceira etapa do desenho está gritando, e depois consegue reconhecer e falar sobre
essa questão.
5.3.3. Considerações de G. sobre o primeiro e segundo sonho
Após desenhar o sonho, G. diz lembrar dos desenhos de seu cliente. Conta
que o menino olha os desenhos e diz que não estão bons e que, às vezes, identificase muito com ele, pois assim como ela, ele tem grande preocupação com a
aparência.
Quando o garoto desenha figuras humanas, faz cabelos pretos, corpo
deformado, quadrado. Cobre toda a parte genital e os seios de preto.
G. diz que se reconheceu no rosto do desenho dele: „um rosto normal,
cabelos, cara feliz e alegre.‟
Aparentemente, G. diz reconhecer-se no rosto „normal‟ do desenho do
menino, mas provavelmente identifica-se também com o corpo quadrado e
deformado e os seios e partes genitais cobertos de preto, tocando também em suas
questões relacionadas à sexualidade. Traz para a sessão este fato em diversos
momentos, e trabalhamos para que ela reconheça em que se identifica com as
questões do menino, e assim têm surgido muitas situações de sua infância e
sexualidade para que possamos discutir juntas.
45
Começa a falar de sua „dificuldade de se comunicar com o masculino‟, e
explica que é muito difícil trabalhar isso, inclusive sentiu-se desconfortável quando
soube que ia atender um garoto.
Durante os atendimentos sente-se bastante incomodada, o que a faz pensar
se deve fechar a porta ou não enquanto atende. Tem a fantasia que „alguém pode
pensar alguma coisa‟ sobre ela e o garoto estarem fechados na sala.
Pergunto de onde vem essa fantasia, e G. diz que pode ter relação com sua
mãe que a julgaria punitivamente se a visse fechada em uma sala com alguém do
sexo masculino, mesmo sendo um garoto, insinuando que estaria namorando.
Quando algum amigo lhe telefona em casa, a mãe logo quer saber quem é
pressupondo que possa ser um namorado, o que a deixa incomodada.
Pergunto se isso também é um problema para ela, ou somente para sua mãe.
G. não tem esse tipo de problema, inclusive tendo vários amigos do sexo masculino,
fato relatado em muitas sessões.
G. percebe-se olhando a situação como que com os olhos de sua mãe, e não
da forma que realmente acredita que seja, pois quem realmente se importa com isso
é sua mãe e não ela.
Interpreta que o grito pode estar querendo dizer que ela não quer mais isso
para si, o valor de pensar que todo contato com o sexo masculino denota um
interesse sexual por alguma das partes.
Pergunto se gostaria de devolver isso à sua mãe, já que ela percebeu que
não é um valor seu, e G. diz que gostaria e emociona-se.
46
Depois deste sonho, avançamos muito no que diz respeito à sua relação com
o sexo masculino. Outras questões referentes à sexualidade apareceram, e G. pôde
refletir sobre isso em diversas situações de sua vida.
5.4. O Terceiro Sonho de G.
Duas semanas depois, G. traz outro sonho:
„Estou em uma sala, como uma repartição pública. Algumas pessoas entram
e saem. Fechei a porta e fui em direção ao elevador. Havia dois elevadores, estava
vazio. Peguei o elevador do lado direito. Entrei, e começou a descer em uma
velocidade mais rápida do que o normal, e nessa hora, o elevador diminuiu um
pouco de tamanho. Pensei: „tô sozinha‟. Senti um pouco de medo, vazio, quando
começou a descer rápido. O elevador abriu, eu saí, e no saguão tinha um teto alto e
não tinha ninguém. Comecei a andar, peguei um ônibus em uma rua asfaltada.
Comecei a caminhar a pé e de repente, para chegar onde deveria, tinha que passar
por um monte de pessoas pobres, de rua. Fiquei com receio, mas fui assim mesmo.
Tinham alguns morrinhos no chão. Passei por um jogo de voley, e comecei a andar
no meio do jogo. Achei a porta onde deveria entrar. Era um colégio. Tinha uma
criança chorando, e eu conversei com ele. Pensei: ‟Será que essa criança era eu?‟
Ao lado dele, tinha umas prateleiras com potes de cristal, e o menino olhando,
empurrava levemente como se quisesse que caísse. Não derrubou nenhum, e eu
conversei com ele sobre aquilo. Fui para uma sala com várias caixinhas, armário de
bonecas e objetos de parede que eu tinha pintado. As pessoas me perguntavam, e
eu dizia que eu que tinha feito. Saí, começou a chover e fiquei com receio que as
crianças de rua roubassem meus objetos. Corri desesperadamente. Uma mulher
arrumou uma sacola pra mim. Mostrou-me algumas caixas cruas, mas não eram as
minhas. Cheguei em um lugar e minhas caixas estavam todas amontoadas em um
canto do lado direito. Eu estava aliviada porque as crianças não tinham levado
minhas caixas, mas não tinha sacola para eu levá-las comigo. Fui atrás da sacola
47
com a mesma mulher, e tinha muito medo que alguém pegasse minhas coisas. Não
encontrei as sacolas, e carreguei algumas coisas na mão.‟
5.4.1. Representação do terceiro sonho
Depois do sonho relatado, convidei-a a expressá-lo artisticamente.
Novamente ofereci a folha com o círculo e os mesmos materiais. G. não
conhecia o pastel seco e decidiu experimentá-lo. Começou pelas cores azul e roxo,
pintando o lado direito do círculo. Continuou utilizando outras cores: rosa, laranja,
verde e amarelo até que completasse o círculo todo.
Não fez nenhum comentário sobre sua produção neste momento, e logo
começou a comentar o sonho que, segundo ela, foi muito marcante.
5.4.2. Simbolismo e relação com o momento psicoterapêutico de G.
G. mais uma vez escolheu um material que possibilita maior controle, mas
desta vez era um material novo, que não conhecia anteriormente, mostrando que
está aberta a novas experiências.
Representa uma figura abstrata, sem forma aparentemente definida e utiliza
várias cores em sua produção.
Para melhor compreender a utilização das cores, trago Chevalier e
Gheerbrant (1982) que apresentam em sua obra a representação simbólica das
diversas cores utilizadas por G.
48
A cor azul, por qual a cliente começou a pintar, segundo os autores é a mais
profunda das cores, e representa a imaterialidade, o vazio.
A cor roxa representa a involução, é a cor que representa o “apagar das
luzes” (p. 456).
O laranja aparece somente uma vez em sua produção e quase no centro é a
cor que representa o ponto de equilíbrio entre o espírito e a libido.
O verde, que se encontra bem no centro de sua produção é símbolo do
despertar da vida, é o que traz de volta a esperança.
O amarelo, que aparece em lados exatamente opostos do círculo, representa,
segundo os autores o masculino por sua relação com o sol, símbolo também do
masculino ou da figura paterna.
49
É interessante observar que todas as cores, escuras e claras, que
representam aspectos positivos e negativos de sua personalidade, estão
representadas interagindo entre si, representado uma unidade.
G. diz que gostou de sua produção, mas não gostou do lado direito.
Segundo os mesmos autores, as cores do lado direito remetem ao vazio e à
ausência, podem ser associadas a questões que desde o início do processo ela
apresenta muitos questionamentos: o fato de não conseguir ficar sozinha, ou
relaxada, já que é nessas situações que ela começa a arrancar os cabelos.
O fato de parar e ficar em contato consigo mesma era muito angustiante para
G. Para fugir disso, estava sempre envolvida em alguma atividade, ia trabalhar nos
finais de semana, ou levava trabalho para casa.
Possivelmente é por isso também que G. se incomoda tanto com o fato de
seu pai não ter muitas atividades, e muito tempo para ficar ocioso.
Aos poucos, G. foi tendo mais condições de enfrentar essa situação. No final
do ano passado, permitiu-se tentar uma viagem sozinha para o nordeste, o que foi
muito positivo para ela.
O lado direito aparece em alguns momentos neste sonho de G: é o lado de
que ela não gosta em sua produção, é o lado do elevador que pega para descer, é
no lado direito que suas caixinhas estão amontoadas.
Segundo os autores, o lado direito, é símbolo do masculino, enquanto o lado
esquerdo simboliza o feminino.
Mais uma vez, G. apresenta em seu desenho sua dificuldade com o
masculino e sua possibilidade de agora poder olhar para isso de forma mais
verdadeira e madura, que no sonho reforçada por seu encontro com o menino.
50
5.4.3. Considerações de G. sobre o terceiro sonho
Inicia falando sobre o menino do sonho, uma criança gordinha, que é a cara
de seu primo de 10 anos.
Pergunto como é seu primo, e ela conta que é uma criança tímida, retraída,
que não gosta de se expor ou aparecer. É revoltado com a mãe, e também um
pouco agressivo. Além disso, aparenta ter muita mágoa, porque o pai se separou da
mãe.
É um menino que usa a força física para conseguir as coisas. Não é afetivo, é
um tipo mais fechado. Apesar disso é sensível, e G. o percebe porque quando estão
falando dele ou de sua mãe, ele chora.
G. lembra então de seu cliente e diz que ele é um garoto levado, o que é uma
queixa freqüente da mãe. É muito grande e gordo para sua idade, pois apresenta um
quadro de distúrbio de alimentação. Em um dos atendimentos, estavam brincando, e
ela tentou colocar limites ao garoto e ele não gostou. Lembra que a mãe já havia dito
que ele não gosta de ser contrariado. Pensa: „vai ser difícil‟, mas afirma que isso não
quer dizer que está se esquivando de tentar fazer um bom atendimento.
G. mostra que percebe o quanto está identificada tanto com o menino do
sonho quanto com seu primo, já que algumas vezes levanta a hipótese de a criança
do sonho ser ela mesma. Porém, revela que „vai ser difícil‟ lidar com essa questão,
mas que está disposta a enfrentar, como já começou a fazer, „sem se esquivar‟,
como ela mesma diz.
51
Segundo ela, o colégio do sonho pode ser o colégio que ela estudou. O pátio
tinha o mesmo formato, a mesma porta, mas em sua escola tinha uma escada. Era
um lugar muito familiar.
Pensa novamente que a criança do sonho pode ser ela. Peço para que ela
fale mais sobre isso, e G. diz que é como se soubesse pelo que ele está passando,
pois pedia ajuda por não conseguir lidar com o que estava acontecendo. Estava em
um canto isolado, sentindo-se sozinho. Diz que a criança sabia que ela sabia o que
ele estava passando, pois foi uma criança parecida com ele.
Relata que quando olhava nos olhos dele, via algo além de uma criança, pois
aquele olhar dizia outras coisas, mas que no momento não sabe identificar
exatamente o que é.
Neste momento G. mostra ainda não estar pronta para entrar em contato com
alguns sentimentos e lembranças de sua infância, pois ainda não pode identificar o
que aquele olhar da criança poderia revelar.
Começa a falar novamente da representação do sonho. Diz que o pastel seco
não é o tipo de coisa que costuma gostar pois „não gosta muito de coisas secas e
disformes.‟ Conta que o que permitiu que ela se sentisse bem foi o círculo, que
segundo ela dá limites.
Neste ponto aparece o quanto a figura da mandala é estruturante. G. permitiuse experimentar algo de que não costuma gostar, porque a mandala deu a sensação
do limite, tendo, então, a chance de dialogar com a mensagem de seu sonho em um
campo protegido, seguro e motivador.
52
Diz que o colorido de seu desenho, lembra o sonho. „Me lembra planeta terra,
a questão do todo. Parece quente e intensa, tem movimento, parece uma célula
viva.‟
G. em seu sonho teve a chance de pegar o elevador a acessar partes de seu
inconsciente, envolvendo tanto suas dificuldades quanto seu potencial, e todos
esses aspectos, puderam ser representados como partes de um todo que se
comunicam, que é um só. Percebe que é uma célula viva, quente e intensa,
independente de suas dificuldades e questões a serem resolvidas.
G. agora pode olhar para as questões que tem a trabalhar, reveladas nos
sonhos, de forma mais verdadeira pois percebe-se viva e com movimento, e
principalmente com condições de continuar lidando com isso de forma corajosa.
53
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realizar essa pesquisa relacionando a arteterapia e a psicoterapia no
trabalho com sonhos, possibilitou-me analisar, reavaliar, compreender e refletir
sobre diversos aspectos referentes tanto a uma abordagem quanto a outra.
O objetivo deste trabalho de verificar como a arteterapia poderia ser utilizada,
para que a cliente pudesse compreender as mensagens enviadas em seus sonhos,
sem a necessidade de intervenção e interpretação do terapeuta, que atuaria
acolhendo, mobilizando e mediando o processo da cliente.
A arteterapia parte do princípio que o cliente tem potencial para direcionar e
trazer
à
tona
conteúdos
importantes
para
seu
autoconhecimento
e
autodesenvolvimento, desde que esteja mobilizado para tal, e foi deste princípio
também que partiu minha pesquisa.
Logo que pedi para que G. representasse seus sonhos artisticamente,
pareceu-me inicialmente que o sonho e sua representação eram coisas totalmente
distintas, sem uma significativa relação, e talvez com a necessidade de
compreensões diferentes.
Porém, no momento que olha sua produção e a relaciona com o sonho, G. se
dá conta do quanto a representação de seus sonhos traziam aspectos importantes e
profundos sobre seu momento, seu movimento e sua personalidade; e eu, como
psicoterapeuta percebi o quanto a representação artística trazia conteúdos e
aspectos não antes revelados com a amplificação2 verbal.
2
Amplificação: Método de associação baseado no estudo comparativo de mitologia, religião e contos
de fadas, usado na interpretação de imagens de sonhos e desenhos (SHARP, 1991, p. 15).
54
É interessante notar, que na amplificação verbal dos sonhos, G. acessa
partes de seu „si-mesmo‟ relacionando-se com alguns personagens dos sonhos,
identificando-se com outros, e traz principalmente as características de sua
personalidade que ainda estão em desenvolvimento e suas dificuldades emocionais.
Isso pode ser visto claramente no terceiro sonho, quando G. identifica-se com
o menino chorando, e diz saber exatamente o que ele está sentindo, ou quando
também pela relação com este menino, conscientiza-se de sua dificuldade de
relacionar-se com o sexo oposto.
Porém, a representação artística deste mesmo sonho traz exatamente o outro
lado desta questão: o lado de G. mais saudável, vivo, intenso e com movimento, e é
quando ela se conscientiza de que todos esses lados unem-se em um mesmo todo.
Neste momento percebo o quanto a importância da psicoterapia não é
somente trabalhar os conflitos do sujeito. A percepção e a integração de suas
qualidades e de seu potencial revelados na expressão artística fizeram com que G.
se sentisse mais capaz e preparada para trabalhar conteúdos difíceis e profundos. A
partir do trabalho com estes sonhos, G. resolveu encarar com coragem questões
muito importantes em sua vida.
O trabalho verbal e artístico, neste caso, atuaram de forma complementar:
enquanto o verbal acessou questões que G. tem a desenvolver, o artístico trouxe
seu lado mais saudável, trabalhando sua auto-estima e impulsionado para um maior
desenvolvimento.
Ao começar a analisar os trabalhos de G. já fora da sessão, fui buscar os
simbolismos do que era apresentado em seus sonhos. Percebi que a busca e a
compreensão dos aspectos simbólicos dos conteúdos dos sonhos de G. trouxeram-
55
me muitas informações que tanto eu quanto G. não tivemos acesso enquanto
trabalhávamos seus sonhos na sessão.
Foi então que comecei a refletir e ressignificar o meu olhar no que diz respeito
à interpretação. Percebi, então, que a interpretação em psicoterapia e em arteterapia
pode ser compreendida de maneira diferente.
Utilizando os recursos artísticos, interpretar implica em uma compreensão do
símbolo a partir do que ele revela. Significa o cliente ter a chance de olhar parte de
seu „si-mesmo‟, compreender o que representou simbolicamente e integrar o que foi
exposto em sua produção à sua consciência. O conteúdo, quando expresso de
forma plástica, já está exposto para que o sujeito relacione-se com ele, diferente da
interpretação em psicoterapia, em que os conteúdos simbólicos são apresentados e
revelados basicamente pelo psicoterapeuta, a fim de tornar consciente o
inconsciente (SHARP, 1991, p. 16).
Interpretar os simbolismos dos sonhos possibilitou-me um olhar muito mais
amplo ao conteúdo psíquico de G., e essa compreensão ajudou-me a aprofundar
não só os aspectos trazidos por ela para a terapia, mas também a relação terapeutacliente.
Percebi que a interpretação pode ser uma parte importante do processo para
o psicoterapeuta, já que este passa a ter muito mais recursos para compreender e
trabalhar com o cliente.
Sendo assim, além de relacionar o trabalho de psicoterapia e arteterapia, que
é onde desejo aprofundar-me como profissional, tive a chance de ampliar o meu
olhar nas duas abordagens, refletir e redimensionar os conceitos de interpretação.
56
O objetivo desta pesquisa foi alcançado: G. realmente acessou partes de seu
„si-mesmo‟ a partir das representações artísticas, que lhe deram recursos para que
compreendesse
os
conteúdos
expressos
em
seus
sonhos;
e
eu
como
psicoterapeuta, por outro lado, atuei acolhendo, direcionado e mediando esse
processo que, com o uso da arte como recurso, aconteceu de forma natural e
espontânea.
O pensamento de Jung (1961) de que para cada paciente deve-se inventar
uma nova psicoterapia agora me faz muito sentido. Percebi que diferentes recursos
podem ser válidos e produtivos, desde que seja confortável e faça sentido tanto para
o cliente quanto para o terapeuta.
57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMMANN, R. A Terapia do Jogo de Areia. São Paulo: Paulus, 1989.
ANDRADE, L. Q. Terapias Expressivas. Arte-Terapia, Arte-Educação, TerapiaArtística. São Paulo: Vetor, 2000.
ASSOCIAÇÃO Psiquiátrica Americana. DSM – IV. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BOSNAK, R. Breve Curso sobre Sonhos. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus,
1986.
CHEVALIER E GHEERBRANT. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro, José
Olímpio,1982.
CIORNAI, S. Percursos em Arteterapia. Arteterapia Gestáltica, Arte em
Psicoterapia e Supervisão em Arteterapia. São Paulo: Summus Editorial, 2004.
HALL, James A., M. D. A Experiência Junguiana. Trad. Adail Ubirajara Sobral,
Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Cultrix, 1986.
HUGENDUBEL, K. Mandalas. São Paulo: Pensamento, 1985.
JUNG, C. G. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. São Paulo: Nova Fronteira, 2006.
KAST, V. A Dinâmica dos Símbolos. São Paulo: Loyola, 1994.
RUDIGER, D. Mandalas: Formas que Representam a Harmonia do Cosmo e a
Energia Divina. São Paulo: Pensamento, 1985.
SHARP, D. C.G Jung Lexicon. A Primer of Therms and Concepts. San Francisco:
Inner Books, 1991.
SILVEIRA, N. Jung Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
58

Documentos relacionados

aparecida dos santos a arteterapia como instrumento de individuação

aparecida dos santos a arteterapia como instrumento de individuação Santos – Osasco – SP: [s.n], 2007. 155p. Orientadora: Profª Msc. Deolinda Fabietti. Monografia: (Especialização em Arteterapia) Faculdade de Integração da Zona Oeste - FIZO e Alquimy de São Paulo. ...

Leia mais