pontifícia universidade católica do rio grande do sul
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS OTÁVIO TAMANINI FERRARI MULTICULTURALISMO E RELAÇÕES LINGUÍSTICAS NA AVIAÇÃO: o uso do inglês como L2 em contexto comunicativo de tripulação técnica Porto Alegre 2012 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS OTÁVIO TAMANINI FERRARI MULTICULTURALISMO E RELAÇÕES LINGUÍSTICAS NA AVIAÇÃO: o uso do inglês como L2 em contexto comunicativo de tripulação técnica Porto Alegre 2012 OTÁVIO TAMANINI FERRARI MULTICULTURALISMO E RELAÇÕES LINGUÍSTICAS NA AVIAÇÃO: o uso do inglês como L2 em contexto comunicativo de tripulação técnica Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Aeronáuticas. Orientadora: Aline Pacheco Porto Alegre 2012 OTÁVIO TAMANINI FERRARI MULTICULTURALISMO E RELAÇÕES LINGUÍSTICAS: o uso do inglês como L2 em contexto comunicativo de tripulação técnica Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Aeronáuticas. Aprovada em _____ de ___________________ de ________. BANCA EXAMINADORA: Nome do Professor __________________________________ Nome do Professor __________________________________ Nome do Professor __________________________________ A Ademir e Adelina. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, pois sem ele nada eu seria. Agradeço imensamente aos meus pais e minhas irmãs que, com muito carinho, sempre me apoiaram na minha decisão de ser piloto e nunca mediram esforços para que eu realizasse este grande sonho. À professora e amiga Aline Pacheco, pela paciência na orientação e incentivo a seguir esta maravilhosa carreira que tornaram possível a conclusão desta monografia. Agradeço também aos meus amigos, que acompanharam de perto esta jornada e também àqueles amigos que continuaram em suas cidades sempre, de alguma forma, me apoiando. Também não poderia deixar de agradecer aos comandante que me auxiliaram voluntariamente ao responder a pesquisa, pois sem estes dados não seria possível a conclusão deste trabalho. A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem. José Ortega y Gasset RESUMO Com o crescimento acelerado da aviação no mundo nos últimos anos, muitos países não foram capazes de suprir a demanda de pilotos necessária, sendo assim, precisaram recorrer à mão de obra estrangeira. Pessoas ao redor do mundo são recrutadas, criando assim, um multiculturalismo no cockpit. A interferência da cultura no uso do inglês como L2 em contexto comunicativo de tripulação técnica multicultural pode ou não interferir na segurança de voo em determinadas situações, causando fenômenos como miscommunication e misunderstanding. A presente pesquisa tem por objetivo levantar dados a respeito do tema abordado no trabalho, além de apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas, se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo, colocando vidas em risco. A metodologia inclui o uso de questionário objetivo como ferramenta de coleta de dados para posterior análise. Os informantes são tripulantes de voos internacionais, que convivem com o ambiente pesquisado. Os resultados serão apresentados através de resumo das respostas dos informantes. De modo geral, busca-se evidenciar a existência de problemas com tripulações multiculturais, resultantes de interferências linguísticas, que comprometam a segurança de voo. Palavras-chave: tripulação multicultural, uso do inglês como L2, segurança de voo, miscommunication. ABSTRACT With the rapid growth of aviation in the world in recent years, many countries were unable to meet the required demand of pilots, so companies had to resort to foreign labor. People around the world are recruited, thus creating a multicultural cockpit. The interference of culture in the use of L2 English in communicative context of multicultural flight crew may or may not interfere with flight safety in certain situations, causing miscommunication and misunderstanding. This research aims to collect data about the topic covered in the study, and also to point out the potential problems arising from communication between crew staff from different cultures, using English to communicate, and say if this could be a factor that could intervene in flight safety, endangering lives. The methodology includes the use of objective questionnaire as a tool to collect data for further analysis. Informants are crew members of international flights, which coexist with the environment studied. Results are presented through a summary of the responses of the informants. In general, we seek to demonstrate the existence of problems with multicultural crew, resulting from linguistic interference, which could interfere in flight safety. Key-words: Multicultural crew, L2 English, flight safety, miscommunication. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Tabela 1 – Respostas objetivas (Ilustr.).......................................................27 Figura 2: Tabela 2 – Pontos em comum apontados pelos pilotos (Ilustr.)..................27 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Respostas objetivas........................................................................32 Tabela 2 – Pontos em comum apontados pelos pilotos...................................33 LISTA DE SIGLAS ATC – Air Traffic Control CRM – Crew Resource Management. L1 – Primeira língua. Língua materna. L2 – Segunda língua. Língua estrangeira. NASA – National Aeronautics and Space Administration SOP – Standard Operating Procedures C – Captain FO – First Officer PF – Pilot Flying PNF – Pilot Not Flying PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 13 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 15 2.1 MULTICULTURALISMO 15 2.2 INTERFERÊNCIA LINGUÍSTICA 16 2.3 CONTEXTO COMUNICATIVO 2.4 SOTAQUE 2.5 CREW RESOURCE MANAGEMENT – CRM 2.6 STANDARD OPERATING PROCEDURES – SOP 2.7 POSSÍVEIS PROBLEMAS 19 16 17 2.7.1 CUSHING (1997) 20 2.7.2 NEVILE (2004) 21 2.7.3 ENGLE (2000) 23 3 METODOLOGIA 18 19 25 3.1 INSTRUMENTO DE PESQUISA 25 3.2 INFORMANTES 3.3 COLETA 3.4 ANÁLISE DOS DADOS 25 26 26 4 RESULTADOS 28 4.1 RESUMO DOS RELATOS 28 4.1.1 Relato informante 1 28 4.1.2 Relato informante 2 30 4.1.3 Relato informante 3 30 4.1.4 Relato informante 4 31 4.1.5 Relato informante 5 32 4.2 TABELAS 5 DISCUSSÃO 32 34 6 CONCLUSÃO 37 REFERÊNCIAS 40 APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 42 APÊNDICE B - RESPOSTAS INFORMANTE 1 44 APÊNDICE C - RESPOSTAS INFORMANTE 2 49 APÊNDICE D - RESPOSTAS INFORMANTE 3 52 APÊNDICE E - RESPOSTAS INFORMANTE 4 55 APÊNDICE F - RESPOSTAS INFORMANTE 558 13 1 INTRODUÇÃO Com o crescimento acelerado da aviação no mundo nos últimos anos, muitos países não foram capazes de suprir a demanda de pilotos necessária, sendo assim, precisaram recorrer à mão de obra estrangeira. Hoje em dia, as grandes Flag Carriers1 possuem em suas tripulações pelo menos um membro que não seja natural do país da empresa, principalmente nos continentes europeu e asiático. Pessoas ao redor do mundo são recrutadas, criando assim, um multiculturalismo no cockpit2. A interferência da cultura no uso do inglês como L2 3 em contexto comunicativo de tripulação técnica multicultural pode ou não interferir na segurança de voo em determinadas situações. A escolha do tópico é atribuída ao fato de que hoje, nas grandes empresas aéreas ao redor do mundo, temos um ambiente onde há pessoas advindas de vários países diferentes, pessoas que têm o inglês como língua secundária, pessoas de diferentes culturas que, quando juntas, criam um ambiente multicultural. Será visto no decorrer do trabalho que as diferenças culturais podem ocasionar conflitos durante a comunicação. Diferenças estas, por exemplo, com relação a sotaque, ou associadas à interferência da nossa língua nativa. Mas a questão em si, é se esses problemas podem ou não interferir no voo, principalmente em situações de emergência, onde é exigido do piloto ações e respostas imediatas, sem deixar de destacar que o maior desastre aéreo no mundo teve como fortes fatores contribuintes miscommunication4 e misunderstanding5. Por isso, reiteramos que nosso objetivo geral é analisar a natureza das relações linguísticas multiculturais em contextos comunicativos de tripulação técnica, que possam pôr em risco a segurança de voo. 1 Flag Carriers: empresa de transporte que possui direitos preferencias ou privilégios, em acordo com o governo para operações internacionais. Podemos citar como exemplo a empresa aérea British Airways que é considerada a Flag Carrier do Reino Unido. (Business Dictionary) 2 Cockpit: termo utilizado para definir cabine de comando. 3 O termo L2, designativo de língua 2 ou segunda língua, será utilizado neste trabalho como sinônimo de língua estrangeira, independentemente da ordem sequencial que um indivíduo aprendeu a língua inglesa, conforme Ellis (1994) e Lightbow & Spada (1999). 4 Miscommunication: de acordo com Oxford Dictionary, miscommunication é: failure to communicate adequately, em português: falha de comunicar adequadamente. Para os fins deste trabalho utilizaremos o termo em inglês, com o propósito de sermos mais fieis ao significado do termo na língua original. 5 Misunderstanding: de acordo com Oxford Dictionary, misunderstanding é: a failure to understand something correctly, em português: uma falha de compreender algo corretamente. Para os fins deste trabalho, assim como o termo miscommunication, utilizaremos o termo em seu idioma original para que haja maior fidelidade ao seu significado. 14 Mais especificamente, pretendemos, com este trabalho: a) propor uma revisão teórica de conceitos envolvidos na pesquisa, multiculturalismo, interferência linguística, possíveis problemas advindos de problemas de comunicação e outros; b) elaborar um instrumento de pesquisa para coletar dados referentes ao tema a partir de entrevista com pilotos que voam no exterior e que têm o tipo de experiência que possa vir a contribuir para esse estudo. c) aplicar o instrumento. d) analisar as respostas dadas, tentando estabelecer um perfil de comportamento linguístico que evidencie a existência de problemas de comunicação que possam ser resultado de interferência linguística. e) oferecer evidências de situações com tripulações multiculturais a partir de relatos genuínos que possam comprometer a segurança de voo. 15 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Nesta seção, abordaremos as definições dos termos que serão frequentemente utilizados ao decorrer do trabalho, tornando possível um entendimento mais fácil a respeito da temática aqui abordada. 1.1 MULTICULTURALISMO Multiculturalismo, termo que nos últimos anos vem sido pouco citado, mas que já teve seu momento de auge na década de 1990, é um termo muito abrangente, que, se pesquisado a fundo, nos renderia muitos e muitos parágrafos de discussão. Para os fins deste trabalho, vamos tentar simplificar sua definição. Para entrarmos na definição de multiculturalismo, é necessário antes definir o conceito de cultura. De acordo com Engle (2000), cultura é definida como valores e práticas que dividimos com outros, que ajuda a nos definir como um grupo, especialmente em relação a outros grupos. Podem existir diferentes tipos de cultura (nacional, organizacional, ocupacional, entre outras), mas, neste estudo, consideraremos apenas a cultura nacional. Segundo Rodrigues (2008), multiculturalismo refere-se a um ambiente com diversos elementos culturais, ou seja, diversas culturas, um jogo de diferenças, forjando as características de uma sociedade. Rosado (1997) nos mostra que os norte-americanos possuem várias metáforas para definir multiculturalismo, como exemplo, “stew pot”, “mosaic”, “salad bowl”, e o mais comum “melting pot”, que, resumindo em uma tradução livre seria um pote de misturas, com diferentes elementos formando um ambiente multicultural. Eis que surge o problema: Engle (2000) fala que geralmente as regras de uma cultura não se misturam muito bem com as de outras culturas e, como resultado, as pessoas tentam interpretar a cultura de outra pessoa usando as próprias regras culturais, achando a cultura do outro estranha, sem sentido. Assim, entendemos tripulação multicultural como sendo uma tripulação formada por integrantes de diferentes culturas. Vale destacar que não precisamos ir longe para nos colocarmos em determinada situação com tripulação multicultural. É possível encontrar tal tripulação, se levarmos em consideração a diversidade cultural que nosso país possui, mesmo que a legislação não permita a contratação de pilotos 16 estrangeiros por mais de seis meses. Para este trabalho, iremos considerar a junção de pessoas de diferentes países e línguas. 1.2 INTERFERÊNCIA LINGUÍSTICA Nesta seção, definiremos alguns conceitos relevantes à discussão proposta no trabalho. Para começar, iremos entender melhor o significado de L1 e L2, para após entrarmos no contexto da interferência linguística. De acordo com Lightbown e Spada (1999), consideramos L1 nossa língua mãe, ou seja, nossa língua nativa, a primeira que aprendemos; já L2 pode ser considerada uma segunda língua, qualquer idioma que seja diferente da língua nativa, ou seja, uma língua estrangeira. Vários são os conceitos envolvidos na interferência linguística. Primeiro, vamos começar com a própria interferência (interference). Segundo Ellis (1994), em casos em que os padrões da L2 se diferenciam dos da L1, temos uma interferência ou uma transferência negativa. De acordo com as perspectivas de aprendizagem comportamentalista, velhos hábitos entram no caminho de novos hábitos de aprendizagem. Portanto, na aquisição da L2 os padrões da língua materna que são diferentes dos padrões da L2 tomam lugar na aprendizagem da segunda língua. Não muito diferente de interferência, transferência (language transfer) seria a influência resultante das similaridades e diferenças entre a L2 e a L1. Pelo fato do trabalho ter o foco em comunicação entre tripulantes técnicos, e sabendo que grande quantidade de pilotos não possuem o inglês como L1, torna-se necessário também definir conversa entre estrangeiros (foreigner talk), que é a língua modificada ou simplificada que alguns falantes nativos (ou pessoas fluentes) adaptam ao falar com pessoas que não são fluentes em determinado idioma. Um exemplo clássico disso seria a conversa entre professores de idiomas e alunos, situação em que o professor ajusta o nível de linguagem ao nível de aprendizagem do aluno. 1.3 CONTEXTO COMUNICATIVO 17 De um modo geral, entendemos contexto comunicativo como situações onde há duas ou mais pessoas se comunicando, onde temos o (s) emissor (es) (o que fala) e o (s) receptor (es), no caso, ouvinte (s). Para os fins desse trabalho, delimitamos como foco principal de estudo o contexto comunicativo de tripulação técnica, ou seja, os diálogos entre comandante e copiloto. A comunicação entre pilotos e ATC 6 também será abordada, mas de modo menos relevante. Como já falamos anteriormente, nestes contextos comunicativos o inglês é usado como língua padrão. No entanto, sabemos que mesmo com padronização da comunicação na aviação, estamos sujeitos a desvios que podem ser causados por vários motivos. Por exemplo, em uma situação de emergência, em que mesmo o indivíduo sabendo as regras e o vocabulário do idioma, e quando o piloto é pressionado, ele sentirá dificuldades em se expressar corretamente, ou seja, a comunicação se tornará um grande problema (MERRIT; RATWATT, 1998). 1.4 SOTAQUE Abordaremos nesta seção a questão do sotaque, apresentando o seu significado de acordo com Fromkin, Rodman e Hyams (2007). Sotaque é uma das principais características de um povo. No Brasil temos uma grande diversidade de sotaques, principalmente quando se comparando regiões diferentes, como exemplo a regiões nordeste e a região sul. Se dentro de um país que fala uma mesma língua já há uma grande variedade de sotaques, ao redor do mundo não seria diferente. De acordo com Fromkin, Rodman e Hyams (2007), as distinções fonéticas ou fonológicas regionais são muitas vezes referidas como diferentes sotaques. O termo sotaque também é utilizado para se referir à fala de falantes não nativos, o que acontece quando uma pessoa aprende uma segunda língua. Por exemplo, um francês falando inglês com sotaque francês. Neste sentido, sotaque se refere às diferenças com o idioma nativo de uma pessoa, ou da interferência da língua nativa do indivíduo. Ao contrário de dialetos regionais, tais sotaques 6 Air Traffic Control – ATC: numa tradução livre para o português significaria Controle de Tráfego Aéreo, que seriam os órgãos que exercem controle do espaço aéreo Exemplos: torre de controle, controle de aproximação e centro. 18 estrangeiros não refletem diferenças na fala da comunidade onde a língua foi aprendida. Escolhemos por abordar este tema, pois acreditamos que ele está relacionado de forma direta ao contexto comunicativo multicultural. 1.5 CREW RESOURCE MANAGEMENT – CRM As consequências podem ser catastróficas quando algo dá errado em organizações7 consideradas de alto-risco, como a aviação, podendo causar danos às pessoas, máquinas e ao meio ambiente, tendo grande repercussão. Com a evolução da tecnologia, foi possível reduzir consideravelmente o número de acidentes por milhão de decolagem, podendo a aviação ser considerada hoje uma indústria ultra-segura (FLIN; O’CONNOR; CRICHTON, 2008). Com todo esse avanço tecnológico, as máquinas foram se tornando cada vez mais seguras e confiáveis, reduzindo o fator material (ou seja, a máquina) como causa do acidente. Estudos feitos pela NASA8 na década de 1990 já mostravam que em torno de 70% das causas dos acidentes podiam ser atribuídos a fatores humanos (HELMREICH (2000) apud FLIN; O’CONNOR; CRICHTON, 2008). Sendo assim, viu-se necessário compreender a dimensão do humano em suas operações, dando ênfase àqueles considerados os operadores de linha de frente, aqueles envolvidos diretamente na operação (FLIN; O’CONNOR; CRICHTON, 2008). O erro humano não pode ser eliminado, mas é possível mitigá-lo, assegurando que as pessoas possuam as habilidades não técnicas próprias para lidar com as situações envolvidas na operação. Por isso, há a necessidade de algo que padronize as operações e que desenvolva determinadas habilidades específicas, daí, o conceito de CRM, crew resource management9. Antes de esclarecer este conceito, vejamos o que são habilidades não técnicas para um melhor e mais fácil entendimento do assunto. Habilidades não técnicas são as habilidades cognitivas e sociais que complementam as habilidades técnicas do piloto, contribuindo para um desempenho mais eficiente e seguro durante a operação. São consideradas habilidades não técnicas básicas: 7 Entenderemos “organização” como um grupo organizado de pessoas com um propósito em particular, geralmente uma empresa, sociedade, organização, etc. (Oxford Dictionary) 8 NASA: National Aeronautics and Space Administration. 9 Crew resource management: equivalente em português a gerenciamento de recursos de tripulação. 19 consciência situacional, tomada de decisão, comunicação, coordenação de um grupo de trabalho, liderança, gerenciamento de estresse e como lidar com fadiga. Depois de identificadas as habilidades não técnicas, as empresas aéreas começaram a desenvolver cursos de conscientização sobre a importância do aprimoramento dessas habilidades. Esses cursos eram inicialmente chamados de cockpit resource management, e posteriormente de crew resource management, que passa a envolver também os outros tripulantes, ou seja, os comissários de voo. Resumindo, CRM pode ser definido como sendo um sistema de gestão que aperfeiçoa o uso dos recursos disponíveis, como exemplo equipamentos, procedimentos e pessoas, para que a operação seja mais eficiente e segura. Logo, abordamos tal conceito, pois entendemos que ele está naturalmente associado à operação, podendo ser considerado um instrumento que contribui no sentido de aperfeiçoar o desempenho da tripulação, diminuindo inclusive a margem para erros de comunicação. 1.6 STANDARD OPERATING PROCEDURES – SOP Segundo Degani e Wiener (1997), em complexos sistemas homem-máquina, como a aviação, é necessário que haja um conjunto de procedimentos para a padronização das operações e dos treinamentos, sendo conhecido como Standard Operating Procedures – SOP 10. Esse conjunto de procedimentos é especificado e mantido pela parte de gerenciamento operacional da empresa. O SOP tem como objetivo fornecer uma orientação aos pilotos, no caso da aviação, para garantir que a operação seja realizada de maneira lógica, eficiente e previsível por todos os tripulantes a fim de manter uma operação padronizada, coordenada e segura. Assim como o CRM, também abordamos o conceito de SOP, pois ele também está ligado diretamente à operação. 1.7 POSSÍVEIS PROBLEMAS Nesta seção, falaremos um pouco dos possíveis problemas causados por miscommunication e/ou misunderstanding. Para isso, iremos utilizar duas grandes obras que englobam inglês, comunicação e aviação, e também artigos relacionados 10 Equivalente em português a procedimentos de operação padrão. 20 à temática. Naturalmente, ao pesquisarmos estas obras, selecionaremos apenas alguns problemas que poderão estar associados à temática deste trabalho. 1.7.1 CUSHING (1997) Em Fatal Words, Cushing (1997) explica como vários acidentes aéreos tiveram miscommunication como um dos fatores contribuintes, e propõe soluções para prevenir futuros acidentes. Cushing (1997) também examina alguns problemas de linguagem e outras causas de miscommunication e misunderstanding entre pilotos e controladores. Seu livro é divido em três partes e onze detalhados capítulos. Vamos apresentar neste tópico apenas alguns problemas observados por Cushing (1997) para utilizá-los como uma das fontes para a elaboração do questionário que será utilizado para realizar a pesquisa. Para início, iremos pegar como exemplo a ambiguidade, que seria a presença de dois ou mais significados em uma palavra, frase, sentença, ou passagem. Um exemplo disso seria: a) Flying planes can be dangerous, que poderia ser interpretado tanto como b) Planes that are flying can be dangerous, quanto c) To fly planes can be dangerous. Assim como Cushing (1997), Flin, O’Connor e Crichton (2008) também apontam em seu livro Safety at the Sharp End (cap. 4 – communication) a questão da ambiguidade, só que agora em relação à comunicação não verbal. De acordo com eles, assim como na comunicação verbal, na não verbal também pode ser ambígua, especialmente quando se está comunicando com pessoas de diferentes culturas. Considerando que hoje em dia os ambientes de trabalho se tornam cada vez mais multiculturais, seria importante saber que alguns gestos podem ter significados muito diversos dentre diferentes culturas. Por exemplo, o sinal que fazemos com o dedo polegar para cima e os demais recolhidos junto à palma, que para nós brasileiros e para a maioria dos nativos de países ocidentais tem um significado de boa sorte ou de aprovação, para os asiáticos esse gesto tem caráter obsceno. Outro exemplo é o sinal de “ok” feito por mergulhadores, formando um 21 círculo juntando o polegar ao dedo indicador e os demais dedos levantados; em algumas regiões da Alemanha pode ser visto como um gesto obsceno. Outro exemplo dado por Cushing (1997) que causa muita confusão é a homofonia, que é a semelhança na pronúncia de palavras ou frases, podendo causar um interpretação errada do que foi dito. Temos como exemplos: d) Last of the Power/ Blast of Power, que possuem significados contrários um em relação ao outro, porém com pronúncias muito parecidas. Quanto à pontuação e entonação, podem mudar completamente o significado de uma frase como mostra o exemplo a seguir: e) I don’t think! I Know!; f) I don’t think I know. Podemos também aqui mencionar a questão da inferência implícita, onde um ouvinte deriva significado de uma frase que não foi claramente dita. O exemplo que iremos aqui apresentar é uma frase composta por duas cláusulas, em que a primeira refere-se aos passageiros, e a segunda nem se quer os cita, mas juntas em uma só frase trazem sentido depreciativo em relação aos passageiros. Segue abaixo o exemplo explicado: g) No doubt the passengers are honest, but I would not leave my wallet lying around11. 1.7.2 NEVILE (2004) Nevile (2004), em sua obra Beyond the Black Box, examina em detalhes a comunicação entre os pilotos, e entre piloto e ATC, enquanto eles realizam seu trabalho normal: pilotar. Seu livro está dividido em três partes e em oito capítulos. Na primeira parte do livro, Nevile (2004) explica como o uso de linguagem pronominal influencia no voo. Segundo o autor, através do uso de pronomes, os tripulantes deixam claro quem é quem dentro do cockpit, ou seja, quem faz o que, as responsabilidades de cada um. Pronomes pessoais ajudam os pilotos a explicar a distribuição de tarefas e controles dentro da cabine de comando. Seguem alguns exemplos para facilitar o entendimento: Exemplo A: WE HAVE THAT 11 Numa tradução livre para o português significaria: “sem dúvida, os passageiros são honestos, mas eu não deixaria minha carteira largada por aí”. 22 Neste exemplo os pilotos estão realizando o checklist12 em preparação para a decolagem: C13/PF14: rest of the check thanks Ted, FO15/PNF16: okay: flight controls, C/PF: checked, FO/PNF: checked, and take off clearance, C/PF: we have that. FO/PNF: Taxi pre-takeoff’s complete. No último item do checklist, quando o primeiro oficial lê take off clearance, que seria a autorização de decolagem, o comandante responde: we have that. Mesmo o comandante sendo o PF do voo e o responsável pela decolagem, ele responde ao item usando o “we have” como sendo uma tripulação juntamente conduzindo o voo. A autorização de decolagem é dada ao voo e os dois pilotos recebem essa autorização. O comandante usa a primeira pessoa do plural “nós” para compartilhar a interação como tripulantes do voo. Exemplo B: I’M GOING TO LET IT RUN O comandante atuando como PF informa o copiloto sobre sua decisão de manter a potência de subida por mais certo tempo: C/PF: I’m going to let it run four minutes in climb power and then I’ll let cruise. A escolha do uso da primeira pessoa do singular “Eu” permite o piloto apresentar de imediato a sua decisão ou ação individual empreendida em sua função de controlar a aeronave. No caso apresentado, o comandante toma uma decisão individual em deixar a potência de subida ajustada por mais tempo, possivelmente para que a aeronave acelere, antes de ajustar a potência de cruzeiro. Apresentamos aqui somente estes dois exemplos que, embora não sejam exatamente problemas, ajudam a identificar a posição de cada piloto dentro do cockpit e na distribuição de tarefas. 12 Checklist: uma lista que contêm as ações a serem feitas em cada fase do voo, que serve principalmente para evitar que alguma ação seja esquecida, seja em situações normais ou não normais. 13 C: abreviação de Captain, ou seja, comandante. 14 PF: sigla abreviativa de Pilot Flying, que é o piloto que tem como atribuição básica o controle da aeronave (HENRIQSON; SAURIN; BERGSTROM, 2010). 15 FO: abreviação de First Officer, que significa Primeiro Oficial em português. 16 PNF: Pilot Not Flying, atualmente essa sigla foi modificada, sendo mais comum o uso de PMF, sendo Pilot Monitoring Flying, que tem como atribuições básicas o monitoramento das ações realizadas pelo PF, supervisionando-o e assessorando-o em tarefas secundárias, tais como realização de checklist e comunicação com órgão ATC (HENRIQSON; SAURIN; BERGSTROM, 2010). 23 1.7.3 ENGLE (2000) Engle (2000), em seu artigo Culture in the Cockpit – CRM in a Multicultural World, faz uma análise da aplicabilidade do CRM em tripulações multiculturais, e aponta as principais características de comportamento de alguns países. De início, Engle faz uma breve introdução histórica do CRM e já menciona que um estudo feito pela NASA indicava que mais de 70% dos acidentes aéreos na década de 1990 tiveram como fator contribuinte o erro humano, sendo que a maioria desses erros estava relacionada à miscommunication, trabalho em equipe e tomada de decisão. Segundo Engle (2000), as diferenças culturais podem afetar o desempenho da equipe. É definido no artigo três tipos de culturas: Power Distance17 (PD), Uncertainty Avoidance18 (UA) e Individualism vs. Collectivism19 (IND) (Hofstede (1991) apud Engle (2000)). A primeira seria, de forma simples, a relação entre subordinados e superiores, a segunda seria o modo com que as pessoas lidam com a incerteza e a ambiguidade, enquanto a terceira é o grau que as pessoas estão integradas dentro de um grupo. Culturas de baixo PD são consideradas mais consultivas e críticas, havendo uma relação mais igualitária entre as pessoas; não importando seu posto, os subordinados se sentem mais confortáveis em criticar. Já as culturas de alto PD, geralmente países de forte cultura militar (por exemplo, países latinos e asiáticos), os subordinados se sentem mais reprimidos em criticar seus superiores. Pessoas de alto grau de UA, por exemplo, países latinoamericanos e europeus, geralmente do sul e leste europeu, tendem a evitar ao máximo a ocorrência de situações anormais, seguindo à risca os padrões de operação. Já as de baixo UA, a China, por exemplo, se sentem mais confortáveis em ambientes não tão padronizados, criando suas próprias regras e sendo mais suscetíveis a mudanças. E, por último, pessoas de cultura individualistas (países norte-americanos e europeus), de pouca variação cultural, tendem a ser muito mais independentes e autoconfiantes, e preferem mais responsabilidade individual com conversas abertas e diretas apenas quando necessário, sendo mais obedientes à padronização da operação. Em contraste, os membros advindos de uma cultura coletivista 17 (países asiáticos, africanos e latino-americanos), com Literalmente, distância entre poderes, no sentido de distanciamento hierárquico. Ato de evitar a falta de certeza. 19 Individualismo versus Coletivismo. 18 muita 24 movimentação cultural, preferem atividades orientadas em grupo e são mais interdependentes. Pilotos desta cultura tenderão a ser mais comunicativos, a compartilhar responsabilidade e construir uma coesão em grupo. Alguns perfis são citados pelo autor. Dentre eles temos o perfil do piloto brasileiro que, segundo relatos, tem como valor do trabalho mais importante a promoção para cargos superiores, enquanto os taiwaneses apontaram este ponto como sendo de última relevância. Um dos que mais chamou a atenção foi o perfil dos pilotos coreanos, que sentem muita vergonha quando cometem algum erro na frente de outros membros da tripulação, citando ainda, um caso onde um piloto coreano preferiu ficar dentro do cockpit em chamas, ao invés de sair e sofrer humilhações por ter causado um acidente. Engle (2000) menciona ainda alguns aspectos sobre outras culturas. Por exemplo, os australianos e norte-americanos preferem ter mais tempo longe do trabalho para ficar junto à família. Os filipinos enxergam a empresa como uma grande família, e esperam que as pessoas dos postos superiores ajam de forma paternal. Os Taiwaneses são extremamente seguidores das regras e rotinas da empresa. Assim, temos, ainda que brevemente, uma noção sobre o panorama cultural de diferentes tripulações. No decorrer do trabalho, veremos se alguns destes aspectos mencionados formalmente por Engle (2000) foram observados por nossos informantes. 25 3 METODOLOGIA Neste trabalho, realizamos uma entrevista com pilotos que voam no exterior, mais especificamente egressos da Faculdade de Ciências Aeronáuticas e da Faculdade de Geografia da PUCRS, que voam na Emirates Airlines, Etihad Airways, Qatar Airways e Ryanair. Foi elaborado um formulário com questões objetivas a respeito do tema aqui abordado, e também coletamos relatos de situações atípicas ocasionadas por miscommunication e/ou misunderstanding. 1.8 INSTRUMENTO DE PESQUISA A seguir são apresentadas as perguntas que foram feitas no questionário de entrevista20. 2) Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? ( )Sim ( )Não 3) Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução? ( )Sim ( )Não 4) Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/ou misunderstanding? ( )Sim ( )Não (Relatar se possível). 5) Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam, devido às diferenças culturais e linguísticas? ( )Sim ( )Não 6) Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por quê? 7) Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication e ou misunderstanding e/ou conflito de culturas. 1.9 INFORMANTES Serão mostradas a seguir algumas informações dos entrevistados separadamente. INFORMANTE 1 20 Optamos por mostrar ao leitor as perguntas de forma resumida nesta seção a fim de facilitar o entendimento dos resultados. No entanto, o questionário completo que os pilotos foram submetidos pode ser encontrado no anexo A deste trabalho. 26 Empresa: Emirates Airlines Base: Dubai, AE INFORMANTE 2 Empresa: Ryanair Base: Bishop`s Stortford, GB INFORMANTE 3 Empresa: Ryanair Base: Alicante, ES INFORMANTE 4 Empresa: Qatar Airways Base: Doha, QA INFORMANTE 5 Empresa: Etihad Airways Base: Abu Dhabi, AE 1.10 COLETA A coleta de dados foi realizada durante os meses de Setembro e Outubro de 2012. Devido à localização dos entrevistados, a ficha foi enviada via e-mail. 1.11 ANÁLISE DOS DADOS A fim de organizar as respostas dadas pelos informantes, elaboramos duas tabelas. A primeira, conforme mostraremos a seguir, tem o propósito de mostrar de forma simplificada as respostas objetivas, sendo marcadas com um X as questões que obtiveram SIM como resposta. Figura 1: Tabela 1 – Respostas objetivas (Ilustr.) 27 Piloto 1 Piloto 2 Piloto 3 Piloto 4 Piloto 5 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Fonte: Elaborado pelo autor (2012) A segunda tabela mostrará os pontos em comum apresentados nos relatos coletados. Figura 2: Tabela 2 – Pontos em comum apontados pelos pilotos (Ilustr.) Piloto 1 Piloto 2 Piloto 3 Piloto 4 Piloto 5 N – N. C. L. * N – Sotaque N – Call Sign21 P – Confirmação P – SOP P – Padronização** P – CRM * Nível de Compreensão da língua (inglesa). ** Padronização da fraseologia internacional. Fonte: Elaborado pelo autor (2012) A seguir, passamos a seção que apresentará os resultados da pesquisa. 21 Call signs: é o designativo de chamada de uma aeronave no espaço aéreo, podendo ser o prefixo da aeronave ou numero do voo junto ao nome da empresa. 28 RESULTADOS Nesta seção serão mostrados os resultados obtidos através da pesquisa feita com os comandantes, para posteriormente apresentarmos a discussão dos mesmos. Os resultados serão apresentados da seguinte maneira: primeiramente, um resumo das respostas dos informantes. Em seguida, em duas tabelas. A primeira contendo as respostas objetivas, e a segunda os pontos em comum apresentados pelos entrevistados. As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho, estando em apêndice as fichas por completo. 1.12 RESUMO DOS RELATOS 1.12.1 Relato informante 1 Segundo o informante número 1, o maior problema é a ausência de uma comunicação verbal completa, devido aos diferentes níveis de compreensão da língua inglesa, presença de gírias, diferentes sotaques e experiência aeronáutica. De acordo com o informante, a empresa dispõe de materiais e manuais de padronização de procedimentos (SOP), os quais ajudam para que a interação entre os tripulantes ocorra de forma rápida e eficiente durante as operações do dia a dia. Esses materiais são muito eficazes, caso tudo esteja ocorrendo dentro do previsto. O informante também relata que, em situações de emergências não cobertas por SOP’s ou checklist, é necessária uma comunicação rápida, clara e efetiva para que se tenha uma solução segura, e que, a falta de domínio da língua ou falsa interpretação durante a comunicação, devido a adversidades culturais, podem levar a tripulação a uma situação insegura, ou adiar uma solução adequada. Ou seja, embora ele tenha falado que existem manuais para que a operação ocorra de forma harmônica, ainda sim é possível que ocorra misunderstanding e miscommunication. Este comandante opera especificamente aeronaves de longo curso, ou seja, realiza frequentemente voos intercontinentais, lidando com diferentes culturas rotineiramente. Sabemos que o propósito deste trabalho está focado na comunicação entre tripulantes técnicos, mas achamos de extrema valia mostrar aqui algumas situações relatadas pelo comandante 1. 29 De acordo com comandante, ele estava como observador num voo com destino ao Aeroporto Internacional do Galeão – Antônio Carlos Jobim (Rio de Janeiro, RJ – Brasil) e, durante a descida, uma controladora do aeroporto claramente desconhecia o termo “transition level”, quando questionada pela tripulação: “confirm transiton level!”. Este é um termo mundialmente conhecido que significa o ponto (no caso nível de voo) onde a tripulação fará o ajuste altimétrico na aeronave, deixando de voar nível de voo e passando a voar altitude em relação ao nível médio do mar. Esta situação foi normalizada, devido ao fato de o comandante estar familiarizado com a operação nesta cidade 22. O comandante também relatou que o termo “clean high speed”, nos Estados Unidos da América, é usado para indicar um “clean speed” (flaps up speed) maior que 250 nós, voando abaixo de 10000 pés ( em torno de 3048 metros), mas não necessariamente que o controle de velocidade é livre. Em qualquer outro lugar do mundo, o termo “clean high speed” significa que a velocidade a ser empregada é de livre escolha por parte do piloto. O comandante informou que já confundiu palavras de pronúncias parecidas, no caso, as palavra southwest (ˌsouθˈwest) e a palavra southeast (ˌsouθˈēst), porém, foram corretamente entendidas após confirmação. O comandante 1 também menciona algumas diferenças culturais perceptíveis entre os pilotos ocidentais e orientais, citando como exemplo a passividade dos asiáticos em questionar erros humanos básicos de seus superiores, enquanto nos países onde há uma herança militar muito forte, como no Brasil, há um distanciamento acentuado de poder entre comandantes e copilotos e, para amenizar essas adversidades, a empresa possui treinamentos de gestão em grupo. Este comandante salienta para a questão do sotaque, principalmente dos australianos que, de acordo com ele, possuem certa arrogância operacional (em termos de personalidade). O comandante conclui, em sua resposta, que certas diferenças culturais presentes no ambiente de trabalho são amenizadas com uma boa padronização da empresa, e pela convivência pré-voo com os outros tripulantes. Ele acredita que seguindo o SOP e pondo em prática o que é ensinado através do CRM, é possível que haja uma operação harmônica. 22 Reiteramos a relevância da contribuição dada pelo informante em função de ressaltar a dificuldade da comunicação em língua inglesa por falante de diferentes L1 em um contexto em que isso não deveria acontecer. 30 1.12.2 Relato informante 2 Segundo o informante 2, treinamento periódico e conhecimento da língua inglesa é essencial para minimizar possíveis conflitos culturais e misunderstanding durante a comunicação entre tripulantes técnicos, relatando também o fato de a empresa possuir um treinamento de CRM. O comandante 2, pelo fato de voar no continente europeu, também destaca a questão da heterogeneidade de línguas neste continente, destacando como uma dificuldade o sotaque dos falantes não nativos. De acordo com ele, a diversidade de rotas, pontos de navegação, call signs semelhantes, altitudes de voo, frequências de rádio pode se tornar uma ameaça, devido ao intenso volume de tráfego. O piloto 2 destaca a questão da semelhança dos call signs, e relata que já houve um situação de misunderstanding entre os pilotos e os controladores, mas que a situação foi corrigida devido a padronização, neste caso do controle de tráfego aéreo europeu. Este informante voa na mesma empresa que o informante 3 (a ser visto a seguir), que manifestou exacerbadamente o conflito de culturas. Isto pode ser atribuído a: a) diferentes bases, logo diferentes rotas – sendo que o comandante 2 é baseado em Bishop`s Stortford (UK) e o comandante 3 em Alicante (ES); e também ao b) perfil pessoal de cada informante. 1.12.3 Relato informante 3 O informante 3, não diferentemente dos outros comandantes, mencionou novamente a questão do sotaque, porém, ele ressaltou que percebe uma diferença maior ainda na pronúncia do inglês, por parte dos pilotos de países que tem alguma adversidade histórica com a Grã-Bretanha, como exemplo a França e a Alemanha. De acordo com ele, esses pilotos não fazem questão nenhuma em falar sem sotaque, pelo contrário, fazem questão de expressar sua fala e serem reconhecidos de sua nacionalidade, dificultando a compreensão na cabine de comando e, muitas vezes, desacelerando a operação. 31 O piloto 3, assim como o comandante 2, relatou o problema da confusão dos call signs, dizendo que esse problema pode ser amenizado caso os pilotos estejam atentos e cotejem a informação por completa, comentando também a importância do controlador, que chame a atenção da aeronaves com call signs semelhantes. Na questão das características culturais, ele citou que o franceses, em alguns casos, são mais complicados de lidar, provavelmente pelo seu sentimento nacionalista. Comentou também que, devido à cultura espanhola, alguns controladores espanhóis são bastante resistentes em reconhecer um erro, relatando um caso que, quando questionado pelo piloto, o controlador não assumiu seu erro e os pilotos tiveram que preparar uma nova chegada, gastando mais combustível e tempo. 1.12.4 Relato informante 4 De acordo com o informante 4, o que mais dificulta a comunicação é a falta de domínio da língua, no caso o inglês, por falantes não nativos e, junto a isso, assim como os demais comandantes, este também relatou problemas em relação ao sotaque. Outra coisa destacada por este comandante em comum ao informante 1, que menciona cinco vezes em sua entrevista, foi a questão da confirmação de uma mensagem geralmente passada pelo ATC, principalmente na Índia, país que, segundo o comandante 4, tem costume de falar rápido. O comandante ressalta, dentro do contexto do sotaque, a dificuldade da pronúncia da letra R na região da Tailândia e Ásia, onde eles pronunciam L ao invés do R. Temos, como exemplo, o número três, que em inglês é three, e na Tailândia e Ásia se pronuncia thlee. Quando questionado a respeito de haver uma cultura de mais difícil entrosamento, ele foi bem claro e respondeu que, a partir do momento que uma pessoal sai de seu país, é importante que ela saiba respeitar as diferentes culturas e pessoas com quem irá conviver. Não diferente dos outros informantes, o de número 4 também ressalta a importância do SOP na empresa, para que a operação flua de forma mais harmônica, para que ambos os tripulantes tenham em mente as ações a serem executadas, e para que diminua a margem de erros de comunicação. 32 1.12.5 Relato informante 5 O comandante 5 diz que uma frase pode adquirir diferentes sentidos de acordo com o tom de voz, a postura corporal e os gestos, dando como exemplo um sinal comum feito por nós brasileiros que, com os dedos da mão para cima, significa que algum lugar ou alguma coisa está cheia; este mesmo gesto, nos Emirados Árabes, significa um pedido de paciência ou espera. O informante 5 também aponta como importantes ferramentas para evitar problemas de comunicação o CRM e o SOP. Este comandante, assim como o informante 4, novamente comenta a questão da pronúncia dos Asiáticos, relatando ainda a questão deles serem mais introspectivos. 1.13 TABELAS Tabela 1 – Respostas objetivas23 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Piloto 1 x Piloto 2 x x x Piloto 3 x x x x Piloto 4 x x x Piloto 5 x x x x Fonte: Elaborado pelo autor (2012) Tabela 2 – Pontos em comum apontados pelos pilotos24 N – N. C. L. * N – Sotaque 23 24 Piloto 1 x x Piloto 2 x x Piloto 3 x x Piloto 4 x x Piloto 5 x Questões que obtiveram SIM como resposta estão marcadas com X. Os seguidos da letra N apresentam um fator negativo para operação, enquanto os sucedidos da letra P apresentam um fator positivo ou contribuem de forma positiva para a operação. 33 Piloto 1 N – Call Sign P – Confirmação P – SOP P – Padronização** P – CRM x x x x * Nível de Compreensão da língua (inglesa). ** Padronização da fraseologia internacional. Fonte: Elaborado pelo autor (2012) Piloto 2 Piloto 3 x x x x x x Piloto 4 Piloto 5 x x x x 34 4 DISCUSSÃO Nesta seção será feita a discussão dos resultados. Os temas serão abordados de forma aleatória, associando os pressupostos teóricos aos resultados, na medida do possível. Conforme explicado em pressupostos teóricos, o sotaque ou diferenças de pronúncias foi o principal ponto abordado por todos os entrevistados. De acordo com o informante 1, assim como o informante 5, dependo da entonação e velocidade com que a palavra é dita, ela pode ser confundida com outra palavra de pronúncia parecida, reforçando o tema abordado por Cushing (1997) no primeiro capítulo de seu livro, Fatal Words, em que ele aponta como um dos problemas a questão da homofonia, ou seja, diferentes palavras com pronúncias muito parecidas ou idênticas. Ainda falando em homofonia, os comandantes 2, 3 e 4 também já passaram por situações nas quais, devido à homofonia, a mensagem foi transmitida/interpretada de forma errada. Os comandantes 2 e 3 alegam como sendo a principal ocorrência de homofonia a similaridade de call signs. Possivelmente este problema não foi relatado pelos outros três comandantes, pois eles geralmente realizam voos transcontinentais em rotas e destinos onde a quantidade de call sign da mesma empresa é muito baixa, bem diferente dos comandantes 2 e 3 que trabalham na mesma empresa, que contém uma malha aérea aglomerada praticamente no continente Europeu. Assim como apontado por Cushing (1997) no capítulo 1 de seu livro, o comandante 5 igualmente afirma que a entonação da voz pode mudar completamente o sentido da frase. Tratando agora a questão da ambiguidade, porém com o foco voltado à comunicação não verbal, o comandante 5 cita um exemplo de um gesto corriqueiro feito por nós brasileiros que, quando queremos mencionar que algo ou algum lugar está cheio, fazemos um gesto com os dedos da mão juntos para cima, que nos Emirados Árabes tem significado bem diferente, sendo um pedido de paciência ou tempo. Isso sustenta o contexto posto por Cushing (1997) em Fatal Word, e é também destacado por Flin, O’Connor e Crichton (2008), em seu livro Safety at the Sharp End, no quarto capítulo, onde eles apontam algumas barreiras para comunicação que, neste caso, devido às diferenças culturais, surge a ambiguidade não verbal. 35 Conforme dito por Degani e Wiener (1997), em seu artigo Procedures in complex systems: The airline cockpit, quatro dos cinco entrevistados reforçam a importância do SOP na operação. Eles dizem que o SOP pode ser considerado um instrumento que ajuda no sentido de evitar miscommunication, já que ele garante uma padronização da operação, garantindo uma previsibilidade das ações a serem executadas. Assim como SOP, o termo CRM também foi citado por três comandantes. Eles acreditam que o CRM pode ser considerado uma arma para evitar problemas de comunicação, já que, considerando a comunicação uma habilidade não técnica, meios que a aprimorem são extremamente importantes, dando assim relevância ao que é apresentado no primeiro capítulo (Introduction) e no quarto capítulo (Communication) do livro Safety at the Sharp End (FLIN; O’CONNOR; CRICHTON, 2008). Conforme posto por Engle (2000) em seu artigo: Culture in the Cockpit – CRM in a Multicultural World, o informante 1 também afirma que, devido às diferenças culturais, principalmente pela diferença de sotaque, o desempenho da operação pode ser afetado, reduzindo a velocidade com que as ações são executadas. Alguns informantes também levantaram características de algumas culturas. O informante 1 comenta da fama da passividade dos asiáticos em questionar erros humanos básicos de seus superiores, concordando por completo com o que foi apresentado por Engle (2000), ainda em seu artigo Culture in the Cockpit – CRM in a Multicultural World, quando ele esclarece três tipos de culturas (Power Distance – PD, Uncertainty Avoidance – UA e Individualism vs. Colletivism), mostrando como exemplo de culturas de alto grau de PD os asiáticos. O informante 1 também diz que países com alta cultura militar, assim como o Brasil, tendem a ter um alto grau de PD, também concordando com Engle (2000). O Informante 1 igualmente concorda com o que Engle (2000) diz a respeito da cultura latino-americana, pondo como característica um alto nível de coletivismo, ou seja, ambientes de trabalhos mais agradáveis e não tão rígidos, tendendo a serem mais comunicativos. O informante 3 apontou duas característica dos ingleses, dizendo que eles possuem uma cultura extremamente acoplada ao seguimento de regras, e com forte respeito à autoridade. Engle (2000) não cita diretamente a cultura inglesa em seu artigo, mas ele cita que os europeus possuem um alto grau de UA, por isso, seguem à risca os padrões de operação, e também são considerados de uma cultura individualista. 36 Um ponto interessante que observamos no contraste das ideias de Engle (2000), e dos depoimentos dos informantes 1 e 5, é o choque de opiniões. Especificamente com relação aos latinos e asiáticos, respectivamente. Engle (2000) nos diz que os latinos possuem um alto grau de UA, procurando seguir os padrões de operação e tentando evitar ao máximo situações anormais, logo, sendo menos suscetíveis a mudanças. O informante 1 já diz o contrário, falando que o latinos são conhecidos por apresentarem uma maior flexibilidade operacional. Isso pode ser atribuído ao fato de que o próprio informante advém de uma cultura latina, se identificando assim. Já a respeito dos asiáticos, Engle (2000) nos diz que eles são considerados de cultura coletivista, ao passo que o informante 5 pareceu dizer o contrário. Isso pode ser atribuído ao fato da personalidade do informante, convivência prévia e outros. Mesmo tendo opiniões opostas ao autor Engle (2000), consideramos as opiniões do informantes 1 e 5 de grande valia, pois isso pode nos dar margem a dizer que, mesmo dentro de uma cultura, é possível que existam pessoas que não sigam um padrão de comportamento pré-determinado. No próximo tópico será apresentada a conclusão do trabalho. 37 5 CONCLUSÃO O nosso trabalho teve como foco multiculturalismo e relações linguísticas, a interferência da cultura no uso do inglês como L2 em contexto comunicativo de tripulação técnica multicultural, e fatores que possam interferir na segurança de voo. O nosso objetivo foi, principalmente, oferecer uma proposta que contempla tanto aspectos teóricos quanto práticos na aviação. Ou seja, tentamos associar aspectos teóricos estudados ao longo do curso com a experiência concreta de pilotos que voam no exterior. Para tanto, delimitamos, no capítulo de pressupostos teóricos, o desdobramento de conceitos postos no decorrer do trabalho como multiculturalismo, que, de forma resumida, refere-se a um ambiente com diversos elementos culturais. Abordamos o conceito de interferência linguística como sendo basicamente a mistura dos padrões da L1 com os da L2. Foi apresentado contexto comunicativo como sendo situações nas quais há duas pessoas, ou mais, se comunicando. Foi mostrado o significado de sotaque, que, de forma simplificada, são as distinções fonéticas e fonológicas, pois acreditamos que seriam apontados nos resultados da pesquisa. Dissemos de forma breve o que é CRM, que, sintetizando, pode ser definido como sendo um sistema de gestão que otimiza o uso dos recursos disponíveis, como exemplo equipamentos e pessoas, para que a operação seja eficiente e segura. Descrevemos um pouco sobre o que é SOP e sua serventia, que, em poucas palavras, seria um conjunto de procedimentos especificados aos tripulantes, para que todos operem num mesmo padrão. E, por fim, apontamos os possíveis problemas que poderiam ser relatados na pesquisa, podendo citar, como exemplo, a ambiguidade e a homofonia, tanto em comunicação verbal quanto em comunicação não verbal, e expomos algumas características culturais de determinadas regiões ao redor do mundo. A metodologia consistiu em um levantamento de dados a partir de entrevistas com cinco comandantes que voam no exterior. Com isso, obtivemos dados bastante relevantes e consistentes, os quais foram organizados em relatos e em duas tabelas. A partir disso, pudemos observar que o que foi levantado nos pressupostos teóricos realmente teve relação com o que foi coletado, havendo inclusive algumas discordâncias. 38 De acordo com a entrevista feita, nossos informantes não evidenciaram nenhum problema mais sério. Disso, podemos estabelecer algumas conclusões: a) Não nos parece que as operações cobertas por SOP possam ser consideradas menos seguras, se tratando de tripulação multicultural. O que, de acordo com o que foi relatado pelos informantes, poderia ocasionar um retardo na operação, ou ainda, exigir um grau de concentração maior, seriam os non-routine procedures25, como exemplo situações de emergências. b) Não evidenciamos conflitos graves, devido a diferenças culturais. Esses possíveis conflitos são amenizados ou eliminados através de treinamentos oferecidos pelas empresas aéreas. c) Fatores que contribuem ao erro comunicativo podem ser considerados mais relevantes em tripulações multiculturais, já que os tripulantes podem possuir diferentes níveis de compreensão da língua. Mas, conforme posto no primeiro tópico, não ofereceriam risco mais preocupante durante operações rotineiras. d) Pudemos evidenciar também que, de fato, miscommunication e/ou misunderstanding é algo que está suscetível a ocorrer no dia a dia, e que há formas de corrigir isto como, por exemplo, a confirmação, que foi apontado por três dos cinco comandantes entrevistados. e) Conforme posto por um dos informantes, também acreditamos que as adversidades culturais podem ser amenizadas através de uma boa padronização da empresa, bom conhecimento da operação e conhecimento de demais culturas. f) E, para finalizar, acredito que poderíamos dizer que tanto uma tripulação mono cultural, quanto multicultural, podem realizar o seu trabalho de forma satisfatória e segura. Sabemos das limitações desta pesquisa em termos de extensão bibliográfica, número de informantes e também tempo. Por isso, sugerimos que mais pesquisas 25 São os procedimentos não rotineiros, ou seja, situações inesperadas. 39 sejam desenvolvidas sobre este assunto, talvez agora com foco mais voltado à comunicação entre tripulação e órgãos controladores. Entendo que a contribuição acadêmica da pesquisa não tenha sido só pessoal. Espero também ter esclarecido alguns pontos não tão abordados dentro do nosso curso que considero interessante, mesmo que de forma superficial, já que grande parte dos alunos de hoje almejam trabalhar no exterior. 40 REFERÊNCIAS CUSHING, Steve. Fatal Words: Communication Clashes and Aircraft Crashes. Chicago: The University of Chicago Press, 1997. DEGANI, Asaf, WIENER, Earl L. Procedures in complex systems: The airline cockpit. Systems, Man and Cybernetics, Part A: Systems and Humans, IEEE Transactions on 27.3 (1997). p. 302-312. ELLIS, Rod. The Study of Second Language Acquisition. Oxford: OUP, 1994 ENGLE, Michael. Culture in the Cockpit – CRM in a Multicultural World, Houston, Journal of Air Transportation World Wide, vol.5, Nº. 1, 2000. FLIN, R.; O’CONNOR,P.. CRICHTON,G. Safety at the Sharp End. A Guide to NonTechinical Skills. Surrey, England: Ashgate , 2008. FROMKIN, V.; RODMAN, R & HYAMS, N. An introduction to language. Boston, MA: Thomson Wadsworth, 2007. HELMREICh, R. On error management: lessons from aviation. British Medical Journal, 320, 781-785, 2008. In: FLIN, R.; O’CONNOR,P. & CRICHTON,G. Safety at the Sharp End. A Guide to Non-Techinical Skills. Surrey, England: Ashgate, 2008. HENRIQSON, Eder; SAURIN, Tarcísio A.; BERGSTROM, Johan N. A coordenação como um fenômeno cognitivo distribuído e situado em cockpits de aeronaves. Vol. 1, Nº 1, Porto Alegre: Aviation in Focus, 2010. Disponível on line em: <http://www.revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/aviation/article/view/8150>. Acesso em HOFSTEDE, G. Cultures and Organizations: Software of the Mind. McGraw Hill. London. 1991 In: ENGLE, Michael. Culture in the Cockpit – CRM in a Multicultural World, Houston, Journal of Air Transportation World Wide, vol.5, Nº. 1, 2000 LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How Languages Are Learned. Second Edition. Oxford: OUP, 1999 MERRIT, A. C.; RATWATTE, S. Who Are You Calling a Safety Threat?! A Debate on Safety in Mono- Versus Multi-Cultural Cockpits, 1998 NEVILE, Maurice. Beyond the Black Box: Talk-in-Interaction in the Airline Cockpit. Aldershot: Ashgate, 2004 41 RODRIGUES, Antonio Greco. Caderno de Estudos em Design: Multiculturalismo. Caderno 1, Vol. 1, Belo Horizonte: Santa Clara Editora Ltda, 2008. Disponível on line em: http://www.tcdesing.uemg.br/pdf/multiculturalismo.pdf. Acesso em ROSADO, Caleb. Toward a Definition of Multiculturalism, 1997. Disponível on line em <http://www.rosado.net/pdf/Def_of_Multiculturalism.pdf>. Acesso em: 42 APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho. PARTE I: DESCRIÇÃO DA PESQUISA A pesquisa tem como foco levantar dados que possam fortalecer o tema abordado no trabalho, o qual é: apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo. O estudo é proposto por Otávio Tamanini Ferrari, acadêmico do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, orientado pela professora Aline Pacheco. As informações coletadas serão utilizadas para contribuir com os pilotos em formação deste curso que almejam voar em companhias estrangeiras. Desde já, agradecemos imensamente a sua colaboração. PARTE II: AUTORIZAÇÃO Eu,_____________________________________________________, autorizo a utilização das informações abaixo para uso de pesquisa de caráter acadêmico-científico. RG: CPF: Residente em: Estado Civil: PARTE III: PESQUISA 1- Baseado em sua experiência profissional, o que você vê como um problema associado a multiculturalismo e comunicação de tripulação técnica? 43 2- Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? ( )Sim ( )Não 3- Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução passado por algum órgão de controle? ( )Sim ( )Não 4- Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/ou misunderstanding? ( )Sim ( )Não (Relatar se possível). 5- Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam devido às diferenças culturais e linguísticas? ( )Sim ( )Não 6- Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por que? 7- Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication, misunderstanding e/ou conflito de culturas. Favor utilizar um dos exemplos de relatos acima. 44 APÊNDICE B - RESPOSTAS INFORMANTE 1 As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho. PARTE I: DESCRIÇÃO DA PESQUISA A pesquisa tem como foco levantar dados que possam fortalecer o tema abordado no trabalho, o qual é: apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo. O estudo é proposto por Otávio Tamanini Ferrari, acadêmico do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, orientado pela Professora Dr. Aline Pacheco. As informações coletadas serão utilizadas para contribuir com os pilotos em formação deste curso que almejam voar em companhias estrangeiras e a identificação do informante deverá ser mantida em sigilo acadêmico. Desde já, agradecemos imensamente a sua colaboração. PARTE II: AUTORIZAÇÃO Eu, Xxxxx Xxxxx Xxxxx, autorizo a utilização das informações abaixo para uso de pesquisa de caráter acadêmico-científico. RG: XXXXX CPF: XXXXXXXXXXX Residente em: Dubai, UAE Estado Civil: Casado PARTE III: PESQUISA 1- Baseado em sua experiência profissional, o que você vê como um problema associado a multiculturalismo e comunicação de tripulação técnica? 45 R: O maior problema é a ausência de uma comunicação verbal completa entre pilotos por causa dos diferentes níveis de compreensão da língua inglesa, gírias, sotaques e experiência aeronáutica. Esse fato restringe a ação e/ou velocidade de execução de um comando/procedimento devido à misunderstandings, necessidade de confirmação da instrução ou refrasiamento da fala, quando não compreendido completamente. Esta dificuldade ou limitação na comunicação não é frequente durante as operações normais, pois os SOP’s e seus “call outs” normalmente são de conhecimento de todos e satisfazem as operações cotidianas, porém casos raros ou múltiplas emergências não cobertas por SOP’s ou checklists, requerem uma comunicação rápida, clara e efetiva para uma solução segura. Isto é, a falta de domínio da língua ou sua falsa interpretação por questões culturais podem levar a uma situação insegura ou adiar uma solução adequada. 2- Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? (x)Sim ( )Não 3- Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução passada por algum órgão de controle? ( )Sim (x)Não 4- Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/ou misunderstanding? (x)Sim ( )Não a) Pilotos novos no equipamento podem desconhecer o manuseio total dos FMCs (flight management computers) e CDUs (control display units) por onde as subidas, rotas de cruzeiro, descidas e cálculos de performance são executados para um determinado voo. Já me ocorreu situações, durante a aproximação com diversas mudanças de pista, que requerem uma reprogramação rápida do FMC, checagem de cartas, e novo briefing, onde o First Officer (Pilot not flying naquele setor) era o responsável pela reprogramação do computador, se atrapalhou em achar as páginas e botões corretos para efetuar as modificações necessárias, mesmo depois de instruções verbais dadas por mim. Sendo assim, rapidamente, efetuei 46 as correções pessoalmente, situação essa não recomendada pois um piloto tem que estar sempre no controle da aeronave (mesmo com o piloto automático ligado) e não ambos distraídos com “heads down”. Posteriormente, discutimos qual seriam as melhores instruções que eu deveria ter dado para evitar dúvidas naquela situação. b) Uma controladora do aeroporto GIG nitidamente desconhecia o termo “transition level” quando questionada diversas vezes por pilotos estrangeiros “confirm transition level” durante a aproximação. Observei esta situação como augmenting pilot (piloto no jumpseat) e ajudei a “operating crew” devido minha familiarização do local. c) Instruções como “cleared pushback facing southwest”, por exemplo, dependendo do sotaque/velocidade do controlador já foram interpretadas como “southeast” inicialmente, porém entendidas após confirmação. d) Questões culturais e/ou regras utilizadas apenas por alguns países podem levar a misunderstandings. Nos Estados Unidos da América, os controladores utilizam o termo “cleared high speed” para indicar que você pode utilizar uma “clean speed (flaps up speed)” maior que 250 nós abaixo do FL100 após a decolagem, quando necessário por performance (heavy takeoff). Em qualquer outro lugar, o termo “high speed approved” significa “no speed control”, ou seja, utilize a velocidade que quiser. Essa diferença cultural gera muitos reportes desnecessários de violação de velocidade. e) Os americanos também costumam a não fornecer uma instrução de descida clara como na grande maioria dos países. Em geral, pilotos solicitam a descida: “request descent” e recebem uma clara autorização tipo: “cleared descend to FL150”. Os americanos fornecem uma instrução tipo “cross (SMO) at FL150”, isto é, fica subentendido que você pode iniciar a descida quando quiser, desde de que passe o fixo SMO no FL150. Porém, isto gera muitas dúvidas nos pilotos que desconhecem a região. 5- Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam devido às diferenças culturais e linguísticas? ( )Sim (x)Não 6- Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por quê? 47 R: Com certeza, há diferenças culturais importantes entre povos, regiões e nações. No meio aeronáutico, é possível encontrar diferenças entre as culturas ocidentais e orientais, pilotos latinos e europeus e mesmo entre países mais desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os pilotos asiáticos são famosos por sua passividade em questionar erros humanos básicos de seus superiores. Países com uma herança militar forte também trazem um distanciamento acentuado de poder entre comandantes e copilotos que compromete a segurança de voo, incluindo os pilotos brasileiros. Porém, acredito que muitas vezes a cultura interna de uma empresa de inibir o bom “CRM” entre os pilotos, tripulantes e outros departamentos, pode gerar mais riscos a segurança de voo do que aqueles gerados pelas dificuldades de comunicação em uma empresa de múltiplas nacionalidades bem administrada. Em termos de nacionalidades, a comunicação entre alguns pilotos australianos e pilotos de outras nacionalidades apresenta conflitos mais frequentes devido ao forte sotaque (comunicação) e uma certa arrogância operacional (personalidade). Pilotos australianos, na média, são conhecidos por sua forte assertividade e rígida obediência das regras e procedimentos. Por outro lado, os pilotos latinos se destacam por valorizar um ambiente de trabalho mais agradável e não tão rígido, evitando conflitos por situações simples. Além disso, os latinos são conhecidos por apresentarem uma maior flexibilidade operacional (tolerância) em lidar com diferentes cenários não ideais (mau tempo, problemas de manutenção, jornadas de trabalho estendidas, etc), muito provavelmente devido ao histórico profissional desses pilotos que trabalharam por anos em condições não tão favoráveis como os australianos, por exemplo. Por fim, alguns pilotos brasileiros são conhecidos por algumas nacionalidades, principalmente entre os australianos, por seu forte sotaque ao falar inglês e falta de fluência. Este fato é subjetivo, porém se destaca em empresas dominadas pelos “native English speakers”. 7- Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication, misunderstanding e/ou conflito de culturas. Favor utilizar um dos exemplos de relatos acima. 48 Gostaria de deixar a minha opinião de que as diferenças culturais encontradas dentro da cabine de comando, em geral, são amenizadas com uma boa padronização da empresa e pela convivência pré-voo com o outro tripulante. Acredito que desde o primeiro contato na empresa, seguindo a rotina dos briefings, conversas informais, procedimentos prê-voo, etc. levam as partes a buscar uma melhor comunicação, compreensão dos sotaques, culturas, e tipo de personalidade daquela pessoa que fará parte da sua equipe pelas próximas horas e/ou dias. Assim, os maiores conflitos acontecem entre os pilotos e o desconhecido controlador de tráfego aéreo, justamente pela falta dessa integração prévia. 49 APÊNDICE C - RESPOSTAS INFORMANTE 2 As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho. PARTE I: DESCRIÇÃO DA PESQUISA A pesquisa tem como foco levantar dados que possam fortalecer o tema abordado no trabalho, o qual é: apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo. O estudo é proposto por Otávio Tamanini Ferrari, acadêmico do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, orientado pela Professora Dr. Aline Pacheco. As informações coletadas serão utilizadas para contribuir com os pilotos em formação deste curso que almejam voar em companhias estrangeiras e a identificação do informante deverá ser mantida em sigilo acadêmico. Desde já, agradecemos imensamente a sua colaboração. PARTE II: AUTORIZAÇÃO Eu, Xxxxx Xxxxx Xxxx, autorizo a utilização das informações abaixo para uso de pesquisa de caráter acadêmico-científico. RG: XXXXX CPF: XXXXXXXXXXX Residente em: Inglaterra Estado Civil: Casado PARTE III: PESQUISA 1- Baseado em sua experiência profissional, o que você vê como um problema associado a multiculturalismo e comunicação de tripulação técnica? 50 R: Aviação é uma atividade que historicamente aprende com seus próprios erros. Após análise de vários acidentes e incidentes e notório esperar da tripulação e principalmente do comandante de utilizar os melhores recursos de gerenciamento de cabine possíveis. Vasto material didático existe para pesquisa nesta área, bem como empresas que se especializaram em prover treinamento na área de recursos humanos para gerenciamento de cabine. Aspectos legais também podem estar envolvidos regulando essa matéria, como é o caso do espaço aéreo europeu, onde baseio minha experiência nos últimos seis anos. Treinamento periódico, e conhecimento da língua inglesa são essenciais para minimizar os possíveis conflitos culturais e mal entendidos que venham a acontecer na cabine de comando. 2- Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? (x)Sim ( )Não 3- Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução passada por algum órgão de controle? ( )Sim (x)Não R: Essa situação foi frequente no passado relativo a ajuste de altímetro. Já existem padrões de fonia que evitam essa confusão. 4- Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/ou misunderstanding? (x)Sim ( )Não R: Dentro do espaço aéreo europeu é comum acontecer pela diversidade de línguas e sotaques que se revelam na língua inglesa. Diversidade de rotas, pontos de navegação, call signs semelhantes, altitudes de voo, frequências de rádio, agregadas ao volume intenso de tráfego se torna uma ameaça. Minha experiência pessoal foi um misto de mal entendido entre pilotos e controladores onde o call sign do meu voo era diferente em apenas uma letra de outra aeronave e recebemos instruções de proa a voar, corrigido 51 após pelo controlador de voo que percebeu o erro vendo no radar as aeronaves tomando proas exatamente opostas à pretendida. 5- Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam devido às diferenças culturais e linguísticas? ( )Sim (x)Não 6- Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por quê? Não saberia responder. 7- Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication, misunderstanding e/ou conflito de culturas. R: Vide questão 4 quanto a miscommunication, misunderstanding, porém não saberia responder quanto a conflito de culturas. 52 APÊNDICE D - RESPOSTAS INFORMANTE 3 As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho. PARTE I: DESCRIÇÃO DA PESQUISA A pesquisa tem como foco levantar dados que possam fortalecer o tema abordado no trabalho, o qual é: apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo. O estudo é proposto por Otávio Tamanini Ferrari, acadêmico do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, orientado pela Professora Dr. Aline Pacheco. As informações coletadas serão utilizadas para contribuir com os pilotos em formação deste curso que almejam voar em companhias estrangeiras e a identificação do informante deverá ser mantida em sigilo acadêmico. Desde já, agradecemos imensamente a sua colaboração. PARTE II: AUTORIZAÇÃO Eu, Xxxx Xxxx Xxxx, autorizo a utilização das informações abaixo para uso de pesquisa de caráter acadêmico-científico. RG: XXXXX CPF: XXXXXXXXXXX Residente em: Alicante, Espanha Estado Civil: Casado PARTE III: PESQUISA 1- Baseado em sua experiência profissional, o que você vê como um problema associado tripulação técnica? a multiculturalismo e comunicação de 53 R: Um problema interessante que percebo é uma questão diretamente relacionada ao inglês falado por algumas pessoas de países como por exemplo: França, Alemanha, Espanha ou outro pais que tem adversidades históricas com a Grã-Bretanha. Elas não fazem questão nenhuma de falar sem sotaque, pelo contrario, apreciam que sejam identificados como nacionais de seu pais quando estão falando inglês, um sentimento nacionalista que por exemplo os Brasileiros não entendem. Isso dificulta muito a compreensão na cabina de comando, tendo que se repetir muitas vezes, e desacelerando a operação. 2- Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? (x)Sim ( )Não 3- Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução passada por algum órgão de controle? (x)Sim ( )Não 4- Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/oumisunderstanding? (x)Sim ( )Não R: Acontece frequentemente, principalmente em países onde o nível de inglês dos controladores não é o ideal. Algo que acontece com bastante frequência é outro avião com call sign semelhante responder uma autorização. Esse erro só é detectado se a tripulação do avião correto estiver atenta, ou se o controlador perceber o call sign errôneo durante o cotejamento da autorização, por isso é extremamente importante que ao final de qualquer cotejamento deixar bem claro o call sign COMPLETO. Também é muito importante que o controlador chame a atenção das aeronaves com call sign semelhantes que estejam atentas a qualquer confusão. 5- Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam devido às diferenças culturais e linguísticas? (x)Sim ( )Não 54 6- Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por quê? R: Os Franceses em alguns casos, por causa do exposto anteriormente, sentimento nacionalista. 7- Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication, misunderstanding e/ou conflito de culturas. R: Alguns controladores espanhóis são bastante resistentes em reconhecer um erro e isso está bem relacionado a cultura espanhola. Uma vez, estávamos com o ILS em manutenção por vários meses no aeroporto de Alicante. Durante a volta da operação do ILS, algo que estava confirmado pelo ATIS, durante a final do procedimento, ouvimos que o controlador tinha trocado e autorizou o procedimento VOR erroneamente aos pilotos que vinham atrás. Os pilotos contestaram prontamente sobre o ATIS que afirmava a volta da operação do ILS, o controlador ao invés de checar a informação, ironicamente disse que o ILS estava inoperante por vários meses, os pilotos aceitaram a informação, pediram para abandonar o procedimento e fazer órbita para briefar o VOR. Os pilotos eram ingleses, cultura extremamente atrelada ao seguimento de regras e com forte respeito a autoridade. Atrasaram o voo, gastaram muito mais combustível porque não conheciam a cultura espanhola, não contestaram novamente o controlador, algo que eu faço com frequência na Espanha e nunca na Inglaterra. 55 APÊNDICE E - RESPOSTAS INFORMANTE 4 As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho. PARTE I: DESCRIÇÃO DA PESQUISA A pesquisa tem como foco levantar dados que possam fortalecer o tema abordado no trabalho, o qual é: apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo. O estudo é proposto por Otávio Tamanini Ferrari, acadêmico do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, orientado pela professora Aline Pacheco. As informações coletadas serão utilizadas para contribuir com os pilotos em formação deste curso que almejam voar em companhias estrangeiras. Desde já, agradecemos imensamente a sua colaboração. PARTE II: AUTORIZAÇÃO Eu, Xxxx Xxxx Xxxx, autorizo a utilização das informações abaixo para uso de pesquisa de caráter acadêmico-científico. RG: XXXXX CPF: XXXXXXXXXXX Residente em:Doha-Catar Estado Civil:Casado PARTE III: PESQUISA 1- Baseado em sua experiência profissional, o que você vê como um problema associado a multiculturalismo e comunicação de tripulação técnica? 56 R: Pelo fato do inglês não ser a língua nativa da grande maioria dos tripulantes pelo mundo, a falta do domínio da mesma dificulta a comunicação. E junto a isso os diferentes sotaques pelo mundo acabam dificultando também a fala do inglês. 2- Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? (x)Sim ( )Não 3- Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução passada por algum órgão de controle? (x)Sim ( )Não 4- Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/ou misunderstanding? (x)Sim ( )Não R: Devido aos diferentes sotaques pelo mundo, às vezes fica um pouco difícil de compreender o inglês principalmente quanto falado muito rápido, isso acontece muito na índia. Por isso às vezes temos que falar o famoso SAY AGAIN. Para poder entender a mensagem. Outro problema que temos também e na região da Tailândia e Ásia que devido a dificuldade da pronuncia do R, eles acabam falando L. A pronuncia do 3 por exemplo fica “TLEE”. Ex. Ao invés de falar... QATARI ONE TWO THREE, CLIMB FL THREE THREE ZERO QATALII ONE TWO THLLI, CLIMB FL THLLI, THLLI ZERO. Você acaba acostumando, mas no inicio e melhor confirmar com SAY AGAIN novamente. 5- Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam devido às diferenças culturais e linguísticas? ( )Sim (x)Não 6- Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por quê? 57 R: Não entendo que haja um cultura complicada de lidar, a partir do momento que sai do meu país, o importante é RESPEITAR as diferentes culturas e pessoas com quem irei trabalhar e conviver. E ainda pelo fato da empresa instituir o SOP_STANDARD OPERATING PROCEDURE. Todos pilotos acabam seguindo o mesmo padrão isso diminui muito a margem para erros de comunicação. 7- Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication, misunderstanding e/ou conflito de culturas. Favor utilizar um dos exemplos relatos acima. 58 APÊNDICE F - RESPOSTAS INFORMANTE 5 As informações de caráter pessoal dos informantes serão mantidas em sigilo e resguardadas pelo autor do trabalho. PARTE I: DESCRIÇÃO DA PESQUISA A pesquisa tem como foco levantar dados que possam fortalecer o tema abordado no trabalho, o qual é: apontar os possíveis problemas advindos da comunicação entre tripulantes técnicos de diferentes culturas se comunicando através do inglês, e dizer se isso poderia ser um fator que pudesse intervir na segurança de voo. O estudo é proposto por Otávio Tamanini Ferrari, acadêmico do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, orientado pela Professora Dr. Aline Pacheco. As informações coletadas serão utilizadas para contribuir com os pilotos em formação deste curso que almejam voar em companhias estrangeiras e a identificação do informante deverá ser mantida em sigilo acadêmico. Desde já, agradecemos imensamente a sua colaboração. PARTE II: AUTORIZAÇÃO Eu, Xxxx Xxxx Xxxx, autorizo a utilização das informações abaixo para uso de pesquisa de caráter acadêmico-científico. RG: XXXXX CPF: XXXXXXXXXXX Residente em: Abu Dhabi – Emirados Árabes Unidos Estado Civil: Casado PARTE III: PESQUISA 1- Baseado em sua experiência profissional, o que você vê como um problema associado a multiculturalismo e comunicação de tripulação técnica? 59 R: No meu ponto de vista, a comunicação envolve muito mais do que palavras. Uma mesma frase pode adquirir sentidos diferentes de acordo como tom de voz, a postura corporal e os gestos. Por exemplo, um sinal feito com a mão com os dedos juntos para cima que significa estar cheio de gente no Brasil, aqui nos Emirados Árabes e na Índia significa um pedido de paciência ou “espere um pouco”. Estou dando este exemplo, e poderia dar outros, para dizer que algumas vezes o que pensamos ter dito pode estar sendo interpretado de uma maneira muito diferente por uma pessoa de uma outra cultura. O uso do CRM bem como a obediência aos SOP’s (Standard Operational Procedures) são as grandes armas para evitar problemas deste tipo. 2- Já houve situações onde o ATC lhe passou uma informação e você a interpretou ou entendeu de forma diferente? (x)Sim ( )Não 3- Alguma vez você confundiu as palavras TO e TWO que possivelmente tenham sido mal colocadas na instrução passada por algum órgão de controle? (x)Sim ( )Não 4- Você já vivenciou ou presenciou alguma situação de miscommunication e/ou misunderstanding? (x)Sim ( )Não 5- Alguma vez, se comunicando com seu copiloto, já houve alguma situação em que vocês se desentenderam devido às diferenças culturais e linguísticas? (x)Sim ( )Não 6- Há alguma cultura que você considera mais complicada de lidar? Se sim, qual e por quê? R: Geralmente os asiáticos (coreanos, malaios, cingapurianos) têm uma maior dificuldade na pronúncia do inglês, bem como tendem a ser mais introspectivos. Isso dificulta a comunicação até determinado ponto. 7- Relate uma situação atípica que você tenha vivenciado que tenha sido causada por miscommunication, misunderstanding e/ou conflito de culturas. 60 R: Ao chegarmos ao avião, toda a tripulação vai para suas respectivas áreas de responsabilidade e começa seus cheques. Nos voos de tripulação de revezamento, um dos pilotos tem que checar a área de descanso que fica próxima da última porta traseira, portanto uns 50 metros de distância da cabine, visto que o B773 tem mais de 60 metros. Esse cheque inclui testar o interfone fazendo uma chamada para a cabine de pilotos. Eis que o Cabin Senior também faz o cheque da mesma área (que tem 8 beliches para a tripulação). Num dia destes, o nome do Cabin Senior era Vlad (nacionalidade russa). Por algum motivo qualquer ele resolve checar o interfone também: -Hi, this is Vlad in the crew rest! O First Officer (que fora do Brasil sempre é copiloto!) marroquino atende o interfone e entende da seguinte maneira: - Hi, there is a flood in the crew rest! Ele termina por chamar a manutenção (ir até o crew rest ele mesmo para verificar o tal alagamento, com um monte de gente limpando e preparando o avião pode levar um bom tempo). Claro, a manutenção não encontra nada de anormal e eles terminam os preparativos normalmente. Somente em vôo, algumas horas após, eles conseguem decifrar o ocorrido, ao conversar com o Cabin Senior e descobrir que seu nome era Vlad e o que ele havia dito ao interfone!