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18 Rumos
Cruzados
AÇORIANO ORIENTAL
QUINTA-FEIRA, 3 DE MAIO DE 2012
COORDENAÇÃO PAULO MENDES | TEXTOS JOSEFINA CRUZ | www.aipa-azores.com
Nota de Abertura
“Sinto-me mais rica por ser
o produto de duas culturas”
DIREITOS RESERVADOS
Centralidades
Continuamos no rescaldo do
festival de cinema cuja primeira edição aconteceu na
cidade de Ponta Delgada. Já
o dissemos em outras ocasiões mas voltamos a frisar o
extraordinário envolvimento
que obtivemos por parte de
mais de 40 parceiros do festival. Um dado relevante
desta parceria foi o apoio
que obtivemos por parte de
algumas embaixadas que
custearam as despesas de
deslocação de alguns realizadores dos filmes que estiveram em competição no Festival. A embaixada da Suíça
em Portugal financiou a vinda do jovem realizador
Lukas Zund cujo filme
“Down in Egyptland” ganhou o prémio RTP2/Onda
Curta. Vamos ouvir falar
muito de Lukas Zund.
A entrevista que o realizador suíço concedeu-nos é
mais uma prova da capacidade do realizador em observar
o mundo que o rodeia e fazer
do cinema um excelente
meio de questionamento e de
lançamento de pistas para
novas respostas.
Por outro lado, o Goethe
Institut patrocinou a vinda
da atriz alemã Demet Güt
que interpretou uma das figuras centrais do filme “Almanya” que foi contemplado
com o prémio do público. Na
entrevista que concedeu aos
Rumos Cruzados, a jovem
atriz reforçou o seu cruzamento cultura alemã e a turca como um fator incontestável na sua formação pessoal e
profissional.
Os nossos dois entrevistados reiteraram dois aspetos
que para nós é um agente de
estímulo para continuarmos
com o projeto. Em primeiro
lugar a sensibilidade que
existe nos Açores em torno
das questões das migrações
sendo que a posição geográfica do arquipélago atribui novos acrescentados. Em segundo lugar a especificidade
do Panazorean, que centrado
nas questões das migrações e
interculturalidade, lhe confere uma clara distinção de
outros festivais. Demet Gül, 30 anos,
é alemã e foi a atriz
principal no filme
“Almanya”
Como foi participar no filme
“Almanya” que retrata as migrações e a confrontação cultural entre a Alemanha e a Turquia?
Os pais conheceram-se na Alemanha. A minha mãe veio com 20
anos para a Alemanha. Para mim
foi um filme muito importante.
Quando li pela primeira vez o
guião fiquei muito contente e queria muito fazer o papel de Fatma.
Por ter sido o meu primeiro filme,
aprendi bastante.
O filme trata do preconceito
da família turca em relação à
cultura alemã. Na sua opinião
como é que isto afeta o processo de integração e de diálogo intercultural?
É uma pergunta difícil de ser
respondida. Muitas vezes, o maior
problema é do excesso de debate
em torno desta questão e pouca
ação. Muitas das vezes ouvimos
conversas à volta da integração,
mas eu queira era ver realmente
a integração. No meu caso, eu nasci na Alemanha e continua a existir questões estúpidas como “falas muito bem alemão”. Acho que
ainda há muitos entraves à integração, mas eu não quero falar sobre esses entraves, quero sentirme integrada. Sinto-me muito
mais rica pelo facto de ser o produto de duas culturas, a turca, por
via dos meus pais, e a alemã. Devemos ver essas experiências (de
“Almanya” de Yasemin Samdereli venceu o prémio do público internacional
mistura de culturas) e encara-las
como algo profundamente positivo para todos nós, enquanto sociedade.
Qual foi a reação do público
turco e alemão ao filme “Almanya”?
A reação tem sido fantástica.
Foi fantástico ver muitas pessoas
a agradecer pelo facto do filme os
fazer lembrar dos pais e das suas
origens. Da parte alemã foi também interessante. Demos a conhecer uma outra perspetiva, no-
Uma flor contra
o Racismo
África. Frente
e Verso
A AIPA, através da sua Delegação
na Ilha Terceira, em parceria com a
UMAR Açores / CIPA, assinalaram
no dia 21 de março o Dia Internacional da Luta pela Eliminação da
Discriminação Racial, com a distribuição de flores com
mensagens pelos minibuses e por diversas
instituições de
Angra do Heroísmo e Praia da Vitória.
No total foram
abrangidas pela
atividade cerca de
1380 pessoas. África Frente e Verso é o título da
obra de Urbano Bettencourt a ser
lançada hoje na livraria Solmar, a
partir das 20h30. Este livro recupera textos que ao longo destes
anos o autor foi deixando nos seus
livros e nos quais a experiência da
guerra se reflete, sucessivamente
refeita e transfigurada. Cáritas disse Não
ao racismo
“Todos contra o racismo, todos nós
somos iguais, não interessa a cor, interessa é o coração”. Esta foi a frase
que acompanhou as flores elaboradas pelos jovens que frequentam a
Plataforma de Encaminhamento,
do CDIJ da Cáritas da Ilha Terceira e que participaram na atividade
“Uma flor contra o Racismo. meadamente, o sentimento das
pessoas no momento da chegada a um país estranho, o não domínio da língua e o desconhecimento cultural. Foram muitas as
pessoas que se comoveram e ficaram muito gratas por termos contado com esse filme a história de
muitos imigrantes turcos na Alemanha.
Este filme é sobre a relação de
duas culturas, como sentes esta
dualidade?
Como pessoa, eu não tenho escolha, tenho essa dualidade, e estou muito orgulhosa. Aprecio,
aprecio muito as duas culturas e
julgo ser uma pessoa muito mais
rica. Por isso, nunca tive qualquer conflito em relação a este
assunto.
Como analisa, hoje, a relação
entre a sociedade alemã e os
seus imigrantes?
É difícil porque não posso falar
por todos os imigrantes. De qualquer modo, acho que a Alemanha
podia ser mais aberta, pelo menos
com as pessoas que já lá estão.
Gostaria de sentir-me “normal”
no meu país e não quero mais terme que explicar.
Foi a sua primeira vez nos
Açores? Que impressões leva da
ilha e do Panazorean?
A ilha é linda, estou muito contente por ver uma natureza intocável. Quando fui visitar alguns
locais, tive a sensação que fui a primeira pessoa que lá teve. Esse sentimento de “descoberta” é espantoso. Acho fantástico que a AIPA
tenha feito este Festival e acredito que no futuro haverá muitas
pessoas a virem participar no Festival. As pessoas aqui são também
muito simpáticas. A AIPA
vai à escola
A AIPA, na pessoa de Paulo Mendes, deslocou-se à Escola Secundária Domingos Rebelo, na passada sexta-feira, dia 27 de abril,
para a realização de uma palestra
sobre o tema da discriminação racial. O público foi constituído pelos alunos do 8ºE. Rumos Cruzados 19
AÇORIANO ORIENTAL
QUINTA-FEIRA, 3 DE MAIO DE 2012
AIPA
Estudo sobre a população
imigrante de Ponta Delgada
Conferência sobre
a Discriminação Racial
A AIPA em parceria com o
Centro de Estudos Sociais da
Universidade dos Açores e
com o apoio do ACIDI e do
FEINPT realizou um estudo
intitulado “Diagnóstico da
População Imigrante no Con-
A Associação dos Imigrantes
nos Açores irá desenvolver
ao longo do ano um conjunto de iniciativas que visa,
genericamente, sensibilizar
a população açoriana para a
problemática da discrimina-
celho de Ponta Delgada. Desafios e Potencialidades para
o Desenvolvimento Local”.
O lançamento do mesmo
será realizado no próximo
dia 1 de maio, pelas h,
na Livraria SolMar.
ção racial. Neste sentido, no
próximo dia  de maio pelas
1h, a AIPA irá deslocar-se
à Escola Secundária da Ribeira Grande para realizar
uma conferência sobre esta
temática.
“O Panazorean será a minha inspiração”
FELIPE PÉREZ
Lukas Zünd, 31 anos, suíço,
é o realizador do filme “Down
in Egyptland”
Qual foi a sua impressão sobre a ilha e o Festival?
Gostei do entusiasmo e da ideologia que estão por detrás deste
Festival. Nota-se que a AIPA fez
este festival por razões ideológicas e como forma de promover o
diálogo sobre as migrações e o conhecimento do “outro”. Acredito
que o Panazorean poderá a vir a
ser um famoso Festival de Cinema, pois cumpre uma missão
muito específica. Este Festival
será uma inspiração para futuros
trabalhos meus. Esta não é só a
minha primeira vez em São Miguel, mas também é a primeira
DIREITOS RESERVADOS
“Down in Egyptland” recebeu o prémio RTP/Onda Curta
vez que estou em Portugal. Estou
deslumbrado com a ilha e com a
sua beleza e muito grato por aqui
estar. Estou fascinado com a po-
bém sou uma pessoa política que se
preocupa com as questões dos direitos humanos.
Como é que o cinema pode
contribuir para esse diálogo
com “Outro”?
Entendo o cinema como sendo
a mais importante forma de contar histórias. Para mim o cinema
é sobre as emoções e não há forma melhor de entender o “outro”,
a sua história de vida, o seu país
de origem, a sua religião senão
através das emoções. Quando vimos no cinema a história de uma
pessoa do Afeganistão, da África
ou de outro lugar qualquer e se o
filme for bom, vemo-la com um
ser humano igual a nós. Por isso,
o cinema ajuda-nos a quebrar as
fronteiras. DIREITOS RESERVADOS
Dia internacional
dos museus
Em celebração ao Dia Internacional dos Museus, 18 de maio, a
AIPA promove, em Terceira e São
Miguel, no dia 19, a visita dos imigrantes e seus descendentes aos
museus destas ilhas.
Na ilha Terceira o museu a conhecer será o de Angra de Heroísmo, sito na Ladeira de São
Francisco, onde decorrerá um espetáculo musical e ateliê para as
crianças.
Na ilha de São Miguel os imi-
“Imagens e Sonoridades
das Migrações”
O Panazorean, em colaboração
com o Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI) da Universidade
Aberta, promoveu no passado dia
18 de abril um workshop sobre
“Imagens e Sonoridades das Migrações”, ministrado por José Ribeiro, doutorado em Antropologia e investigador do CEMRI, e
por Ana Beja Horta coordenadora do mesmo centro.
A formação foi realizada a par-
sição geográfica dos Açores no
meio do Atlântico tão distante da
Europa, mas ainda assim pertencendo à Europa. Acho que é um
local ideal para este Festival porque todas as pessoas sabem algo
sobre as migrações. Por outro
lado, foi a estreia internacional do
meu filme e estou muito grato por
o mostrar aqui já que o assunto
encaixa-se perfeitamente no contexto deste Festival.
O seu filme retrata a relação
da religião com o processo de integração de um jovem estudante noutro espaço?
Tomei o tema de um jovem nigeriano que vai estudar para a Polónia e que tem uma história de vida
marcada pela religião. Não sou nigeriano, mas conheci muitos nigerianos na Igreja e isso influencioume na escolha do tema a par com a
minha própria vida que é marcada
pela fé cristã. Por outro lado eu tam-
tir da base de dados interativa de
filmes sobre as migrações em Portugal e na diáspora, alojada no site: itacaproject.com. Neste foi visualizado um pequeno excerto de
um filme e analisada a sua imagem, sonoridade e temática.
A oficina contou ainda com a participação dos alunos do 3º ano da
licenciatura em Comunicação Social e Cultura, no âmbito da disciplina de Oficina de Jornalismo, ministrada por Carmo Rodeia. grantes visitarão o Museu da Emigração Açoriana na Ribeira Grande.
Com esta iniciativa a AIPA pretende potenciar conhecimentos
sobre a história e cultura dos Açores, bem como, construir ou reforçar as pontes entre as comunidades de imigrantes e a sociedade
açoriana.
Para mais informações envie email para [email protected], [email protected]
ou ligue para o 296286365. ANTÓNIO FRAGATA
A exposição esteve patente durante a semana do festival
Exposição de fotografias
“Dois Mundos - Uma Visão”
No âmbito das atividades paralelas do Festival Internacional de
Cinema - Panazorean - realizouse na Galeria Bar Arco8 uma exposição de fotografias intitulada
“Dois Mundos - Uma Visão, de
Paulo Medeiros.
O conjunto de onze retratos,
obtido na ilha de Boa Vista, Cabo
Verde, em agosto de 2011, representa as vivências, as praias
de areia branca e fina, “as cores
que caracterizam Cabo Verde,
bem como, a morabeza daquele Povo”.
Esta viagem foi resultado do
prémio da 2ª Edição do concurso
“Olhares sem Fronteiras”, promovido pela AIPA, em parceria
com a AFAA, e com o apoio da Câmara Municipal de Lagoa.
Recorde-se que “Saberes Milenares” foi a fotografia vencedora
desta edição do concurso. 

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