LÍNGUA PORTUGUESA V

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LÍNGUA PORTUGUESA V
LÍNGUA PORTUGUESA V – EXERCÍCIOS
1. Identifique todas as mudanças fonéticas que ocorreram nos exemplos abaixo, na
passagem do latim vulgar para o português:
fētōrĕ > fedor
fīcatŭ > fígado
sapōrĕ > sabor
fīcatŭ > fígado
(arc.)
plĭcarĕ > chegar
nouacŭla > *navacla > navalha
plōrarĕ > chorar
rōtŭla > *rōtla > rolha
fīdarĕ > fiar
mŏtŭ > modo
fīlarĕ > fiar
mŏnēta > mõeda
2. O quadro abaixo ilustra as duas fontes de ingresso, no português, do léxico de
origem latina. Aponte as características de cada uma dessas duas fontes (a popular e
a erudita). NÃO há necessidade de comentar cada exemplo separadamente:
latim
inflare
plaga
coagulum
comparare
factionem
f. pop.
inchar
praia
coalho
comprar
feição
f. erud.
inflar
plaga
coágulo
comparar
facção
latim
compositus
digitus
acidus
fabula
strictus
f. pop.
composto
dedo
azedo
fala
estreito
f. erud.
compósito
dígito
ácido
fábula
estrito
3. Os exemplos abaixo revelam o tratamento dado, em português, aos termos eruditos
e semi-eruditos, no que diz respeito à restauração de um /l/ original, que a evolução
da língua tinha mudado em /r/. Explique por que esse tratamento não pode ser
considerado coerente.
Forma
Port. Arcaico
Original
plattus
prato
plicus
prego
plata
prata
planctum
pranto
plantare
prantar
gloriosa
groriosa
flauta
frauta
linteole
lençor
ar. al-kira
aluguer
bursa (< gr.
borsa
byrsa)
Abreviações: ar. árabe; gr. grego
Port. Moderno
prato
prego
prata
pranto
plantar
gloriosa
flauta
lençol
aluguel
bolsa
4. Os exemplos abaixo representam os processos de mudança regular que atingiram
uma determinada sequência de fonemas na passagem do latim para o português.
Identifique a sequência em questão e formule as regras que explicam as diferentes
mudanças de acordo com os contextos adjacentes. Explique por que fabula > fala
consiste numa exceção a essa regra.
latim
inflare
placa
clave
pluvia
afflare
fabulare
port.
inchar
chaga
chave
chuva
achar
falar
latim
macula
ovicula
cingula
coagulum
vetulum
port.
malha
ovelha
cilha
coalho
velho
5. Os exemplos abaixo representam o tratamento de uma determinada classe de
fonemas na passagem do latim para o português. Identifique a classe de fonemas em
questão e formule as regras que explicam as diferentes mudanças.
latim
bucca
cattus
cappa
saccus
port.
boca
gato
capa
saco
latim
vacuus
paucus
vita
lacus
port.
vago
pouco
vida
lago
6. Os exemplos abaixo apresentam dois casos especiais das oclusivas no meio de palavras.
Identifique esses casos e formule a regra que explica cada um.
latim
factus
defectus
conceptus
rictus
*coctare
port.
feito
defeito
conceito
rito
coitar
latim
quatru(m)
vitriu(s)
socrus
lucru(m)
aprilis
port.
quadro
vidro
sogro
logro
abril
Repostas.
1. Exercício muito genérico, para treinar a identificação das correpondências fonéticas. Eis
aqui, resumida e esquematicamente, as mudanças que ocorrem:
Vogais longas conservam-se no mesmo ponto de articulação, com perda da quantidade:
ē>e
ō>o
Vogais breves mudam o ponto de articulação para se diferenciarem das longas:
ŭ>o
ŏ>
Consoantes fricativas surdas entre vogais se sonorizam:
p>b
t>d
k>g
O grupo de oclusiva mais lateral se transforma em [] em início de palavra e em []
entre vogais:
plĭcarĕ > chegar
*navacla > navalha
A vogal cai em fim de palavra após /r/ (e também /l/ e /c/: capitale > cabedal; rapace >
rapaz).
O /n/ cai entre vogais, deixando como marca a nasalização da vogal anterior.
Consoantes sonoras, como /d/ e /l/ caem entre vogais.
2. O aluno deve saber identificar, nas formas populares, as mudanças fonéticas típicas
do período do romanço (p.ex., a que existe em inflare > inchar) e perceber que as formas
eruditas não apresentam essas mudanças e costumam ser mais próximas das formas
latinas originais.
3. O tratamento não é coerente, porque alguns /l/ foram restaurados, outros não
foram. Além disso, se restaurou a mais (cf. bolsa e aluguel).
4. O grupo de oclusiva mais lateral se transforma em [] em início de palavra e em []
entre vogais. Afflare > achar constitui uma exceção, assim como fabula > fala, que não
deram []. Isso talvez se dê porque são as únicas ocorrências de /bl/ e /fl/ entre vogais
(e é claro que o aluno não é obrigado a saber isso).
5. A terceira e a quarta colunas representam as oclusivas surdas do latim, que deram origem a
oclusivas sonoras, em português, quando ocorriam entre vogais. A primeira e a segunda
colunas representam as oclusivas surdas enfáticas, pronunciadas mais forte do que as simples,
que em geral se conservaram em português como oclusivas surdas.
6. De maneira geral, nos grupos de duas oclusivas, entre vogais, no latim, a segunda (em geral
um /t/) se conservou, enquanto a primeira se transformou numa semivogal. A propósito,
talvez você não conheça o verbo arcaico coitar, mas conhece o seu particípio – coitado.