Influência de ambientes e concentrações de sacarose na
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Influência de ambientes e concentrações de sacarose na
Influência de ambientes e concentrações de sacarose na micropropagação de violeta africana em diferentes tempos de cultivo Pollyanna Freire Montenegro Agra¹, Michele da Silva Santos², Helder Morais Mendes Barros², Ciely Melo Guedes Rodrigues Costa¹, Núbia Pereira da Costa¹ e Américo Perazzo Neto¹ 1 Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, Brasil ([email protected], [email protected], [email protected], [email protected]) 2 Universidade Federal de Campina Grande, UAEAG/CTRN/UFCG, Campina Grande, PB, Brasil ([email protected], [email protected]) Resumo - O objetivo deste trabalho foi testar a influência de diferentes ambientes e concentrações de sacarose sobre o número de brotações por explante da violeta africana. O experimento de multiplicação in vitro foi conduzido no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Foram testados quatro ambientes e duas concentrações de sacarose (10 e 20 mg.L-1), aos 60 e 80 dias de cultivo. Aos 60 dias de cultivo, as concentrações de sacarose 10 e 20 mg.L-1 possibilitaram um bom desenvolvimento de brotações, em sala de crescimento e em sala com luz artificial e temperatura ambiente. Aos 80 dias de cultivo, a maior porcentagem de brotações por explante ocorreu em sala de crescimento. A concentração de 20 mg.L-1 de sacarose proporciona maior porcentagem de brotações por explante, aos 80 dias de cultivo, em relação à concentração de 10 mg.L-1, nos ambientes avaliados, exceto em telado. Os ambientes sala de crescimento e sala com iluminação artificial e temperatura ambiente proporcionam melhor formação de brotações e podem ser usados no cultivo in vitro da violeta africana. Palavras-Chave: Saintpaulia ionatha, micropropagação, cultivo in vitro, propagação, explantes Influence of environments and sucrose concentrations on the micropropagation of African violet in different cultivation times Abstract – The objective of this work was to test the influence of different environments and sucrose concentrations on the number of shoots per explant of African violet. The experiment of in vitro multiplication was carried out at the Center of Agricultural Sciences of Federal University of Paraiba, Brazil. Four environments and two sucrose concentrations (10 and 20 mg.L-1), at 60 and 80 days of cultivation were tested. At 60 days of cultivation, the sucrose concentrations 10 and 20 mg.L1 allowed a good development of shoots, in growth room. The sucrose concentration of 20 mg.L-1 provides larger porcentage of shoots per explants, at 80 days of cultivation, in relation to the concentration of 10 mg.L-1, in the environments studied, except for in greenhouse. The environments growth room and room with natural lighting and temperature provide better shoots formation and can be used in vitro cultivation of African violet. Keywords: Saintpaulia ionatha, micropropagation, in vitro cultivation, spread, explants Introdução A propagação in vitro é uma técnica bem sucedida e tem sido bastante utilizada, principalmente, com plantas ornamentais com muitas vantagens sobre os métodos convencionais de propagação, permitindo a obtenção em curto espaço de tempo de um grande número de plantas de boa qualidade fitossanitária com fidelidade varietal, como também, a aquisição de mudas em qualquer época do ano (Fráguas et al., 2002). No processo de produção de mudas por micropropagação utilizando técnicas de cultivo in vitro, o que mais onera são os custos com infraestrutura e energia elétrica, uma vez que, tradicionalmente nesse processo, os cultivos permanecem em condições artificiais de temperatura e fotoperíodo, podendo chegar a levar até alguns meses nessa condição, havendo assim, elevado consumo de energia e o emprego de equipamentos sofisticados no controle das condições ambientais (Standaert de Metsenaere, 1991; Kodim & Zapata-Arias, 1999). No processo de cultivo in vitro tradicional, em salas de crescimento, os cultivos se desenvolvem, geralmente, com o fornecimento de luz diário de 16h e em temperatura em torno de 25 ºC, mantidos por luz artificial e ar-condicionado. Atualmente, vêm se buscando alternativas a essas condições com a substituição das salas totalmente climatizadas por Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.3, p.73-76, set. 2009 73 condições ambientais, tais como: uso de luz natural e temperatura ambiente no cultivo in vitro. Estas alternativas já foram testadas com sucesso para algumas ornamentais, como crisântemos e orquídeas (Dignart et al., 2005). Segundo Grattapaglia & Machado (1998), as culturas in vitro apresentam uma baixa taxa fotossintética e devido a isso devem dispor de uma fonte de energia, geralmente, sacarose. No entanto, elas continuam a depender de luz para realizar a morfogênese. Essa disponibilidade de luz varia de acordo com a espécie a ser propagada e com o órgão da planta utilizado. A violeta africana (Saintpaulia ionatha) é uma espécie florífera perene, da família Gesneriaceae, com 125 gêneros e mais de 2.000 espécies conhecidas (Tombolato et al., 1998). É uma espécie originária das montanhas de Usambra, na África, considerada herbácea, com folhas ovais, de coloração verde-escura e textura aveludada com flores de diversas cores. É considerada uma das mais populares flores envasadas para interior (Fráguas et al., 2002). Sua propagação pode ser realizada por métodos convencionais ou por cultivo in vitro. Diante do importante papel da violeta africana no mercado de comercialização de flores no Brasil, este trabalho teve como objetivo testar a influência das condições de cultivo (diferentes ambientes e concentrações de sacarose) sobre o número de brotações por explantes dessa ornamental, aos 60 e 80 dias de cultivo. Material e Métodos Os experimentos de multiplicação in vitro de violeta africana foram conduzidos em telado, no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Foram utilizadas 10 plantas matrizes adultas de violeta produzidas por meio da micropropagação. Dessas plantas foram retiradas 30 folhas utilizadas como fonte de explantes. Após descontaminação e excisão foram inoculadas no meio de cultura para o desenvolvimento in vitro. Visando evitar possíveis variações, todos os tratamentos receberam folhas das mesmas plantas. As folhas foram lavadas em água corrente e descontaminadas em álcool 70% (v/v) por 1 minuto e hipoclorito de sódio 20% (v/v), submetidas à agitação mecânica por 20 minutos. Após a descontaminação, as folhas foram enxaguadas na capela de fluxo laminar, para retirar o excesso de hipoclorito, cortadas em segmentos de aproximadamente 1 cm2 e inoculadas em tubo de ensaio contendo meio de cultura. O meio utilizado para multiplicação foi o MS de Murashige & Skoog (1962) + 0,5 mg.L-1 de BAP (Benzilaminopurina), 7 g.L-1 de Agar, pH ajustado para 5,8 e sacarose na concentração prevista para cada tratamento. Após inoculação os tubos contendo os explantes foram postos em prateleiras, nos diferentes ambientes compondo os tratamentos. 74 Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.3, p.73-76, set. 2009 Os tratamentos foram formados por diferentes ambientes e duas concentrações de sacarose. Os ambientes foram: 1 - Sala iluminada com luz artificial 35 µmol.(m-2.s) com fotoperíodo de 16 horas de luz controlada com timer programador manual e temperatura média de 25 °C mantida por ar-condicionado. 2 - Sala iluminada com luz artificial 35 µmol.(m-2.s) com fotoperíodo de 16 horas de luz controlada com timer programador manual e temperatura ambiente. 3 - Sala iluminada com luz natural, incidente através de janelas de vidro e temperatura ambiente. 4 - Telado com cobertura plástica de 100 micra e sombrite 50% com temperatura ambiente. Foram feitas avaliações diárias de temperatura em cada ambiente por meio de termômetros de máximo e mínimo. O resumo das temperaturas de cada ambiente (mínimas, máximas e médias), no período de julho a outubro de 2006, encontra-se na Tabela 1. Tabela 1. Temperaturas dos quatro ambientes estudados. Ambientes avaliados 1 2 3 4 Temperatura (ºC) Mínima 24,0 23,9 22,3 20,8 Máxima 26,3 29,2 26,5 34,0 Média 25,2 26,5 24,4 27,4 As avaliações dos explantes que brotaram foram realizadas aos 60 e 80 dias após a instalação do experimento; os explantes que não brotaram e os que morreram foram descartados. Os explantes que brotaram foram identificados e transferidos para o meio MS sem regulador de crescimento e mantidos nas concentrações de 10 e 20 mg.L-1 de sacarose e nos mesmos ambientes que constituíram os tratamentos por mais 20 dias, para avaliar o número de brotações. Em cada ambiente testou-se, ainda, o efeito de duas concentrações de sacarose (10 e 20 mg.L-1). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, obedecendo ao esquema fatorial (4 x 2) representado por quatro ambientes de cultivo e duas concentrações de sacarose, anteriormente discriminados, com cinco repetições provenientes da média de 10 tubos. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, utilizando-se o teste F para comparação dos quadrados médios dos fatores avaliados, aos níveis de 5% e 1% de probabilidade. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para o teste de explantes que brotaram, os dados foram previamente transformados em arcsen( X/100 ). Resultados e Discussão As porcentagens de explantes que emitiram brotações de violeta africana (Saintpaulia ionatha), aos 60 e 80 dias de cultivo em diferentes ambientes e concentrações de sacarose estão apresentadas na Tabela 2. Observa-se que ocorreu formação de brotações em todos os ambientes estudados, variando de 10 a 40 aos 60 dias de cultivo e de 7,6 a 41,2 aos 80 dias de cultivo, independentemente da concentração de sacarose. Na concentração de 10 mg.L-1 de sacarose, o ambiente sala com luz artificial e temperatura controlada apresentou a maior porcentagem de brotação de explantes, não diferindo estatisticamente da média de explantes obtida em sala com luz artificial e temperatura ambiente. As menores porcentagens de explantes que emitiram brotações foram obtidas em sala com luz natural e temperatura ambiente e em telado. Já, na concentração de 20 mg.L-1, a maior porcentagem de explantes com brotação ocorreu nos ambientes com luz artificial e temperatura ambiente, seguidos dos ambientes sala com luz natural e temperatura ambiente e sala com luz artificial e temperatura controlada, nos quais as médias porcentuais de explantes que brotaram foram estatisticamente iguais. A menor porcentagem de brotação por explante foi observada em telado. Quanto aos números de brotações em explantes de violeta africana (S. ionatha) aos 80 dias de cultivo, observase que na concentração de 10 mg.L-1 de sacarose a maior porcentagem de número de brotações ocorreu na sala de crescimento (com luz artificial e temperatura controlada) e em telado. Contrário ao que aconteceu aos 60 dias de cultivo, as menores porcentagens de brotações em explantes foram obtidas em sala com luz artificial e temperatura ambiente e em sala com luz natural e temperatura ambiente. A concentração de 20 mg.L-1 de sacarose proporcionou maior número de brotações por explantes em relação à concentração de 10 mg.L-1 em todos os ambientes, não diferindo apenas no ambiente telado. Provavelmente a condição de luz nesse ambiente possibilitou que os tecidos desenvolvidos no meio com uma menor concentração de sacarose, fotossintetizassem compensando a redução de sacarose do meio fazendo com que o número de brotações fosse equivalente às desenvolvidas na concentração de 20 mg.L-1. Dignart et al. (2005) que trabalhando com orquídeas obtiveram resultados semelhantes, onde o número de brotações foi maior em sala de crescimento e em casa de vegetação e, em relação às concentrações de sacarose, os melhores resultados foram obtidos com 15 e 30 mg.L-1. Pelos resultados da análise de variância houve efeito significativo das concentrações de sacarose sobre o número de brotações por explante. Nos ambientes sala com luz artificial e temperatura ambiente e sala com luz natural e temperatura ambiente, a concentração de 20 mg.L-1 de sacarose proporcionou significativamente maior número de brotações por explante em relação a concentração de 10 mg.L-1 de sacarose. Por outro lado, nos ambientes sala com luz artificial e temperatura controlada e telado, as porcentagens de explantes que emitiram brotações foram estatisticamente iguais, embora na sala de crscimento tenha se verificado uma tendência de aumento da porcentagem de explantes que brotaram quando se utilizou a menor concentração de sacarose (10 mg.L-1). Tabela 2. Porcentagem de explantes que emitiram brotações de violeta africana (S. ionatha), aos 60 e 80 dias de cultivo, em duas concentrações de sacarose e diferentes ambientes (1 - Sala com luz artificial e temperatura controlada; 2 - Sala com luz artificial e temperatura ambiente; 3 - Sala com luz natural e temperatura ambiente e 4 - Telado). Ambientes Concentrações de sacarose 10 mg.L-1 Ambiente 1 Ambiente 2 Ambiente 3 Ambiente 4 Ambiente 1 Ambiente 2 Ambiente 3 Ambiente 4 Aos 60 dias de cultivo 34,0 a A 28,0 ab B 14,0 b B 14,0 b A Aos 80 dias de cultivo 22,6 8,0 7,6 15,4 a B b B b B ab A 20 mg.L-1 24,0 ab A 40,0 a A 26,0 ab A 10,0 b A 41,2 a A 21,4 b A 24,0 b A 16,0 b A Médias seguidas de mesma letra minúscula, na coluna, e maiúscula, na linha, não diferem significativamente, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Conclusões 1. Aos 60 dias de cultivo, as concentrações de 10 e 20 mg.L-1 de sacarose possibilitaram um bom desenvolvimento de brotações, em sala de crescimento e em sala com luz artificial e temperatura ambiente. 2. Aos 80 dias de cultivo, a maior porcentagem de brotações por explante ocorreu em sala de crescimento. 3. A concentração de 20 mg.L-1 de sacarose proporciona maior porcentagem de brotações por explante, aos 80 dias de cultivo, em relação à concentração de 10 mg.L-1, nos ambientes avaliados, exceto em telado. 4. Os ambientes sala de crescimento e sala com iluminação artificial e temperatura ambiente proporcionam melhor formação de brotações e podem ser usados no cultivo in vitro da violeta africana. Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.3, p.73-76, set. 2009 75 Referências DIGNART, S.L.; CASTRO, E.M.; BRAGA, F.T.; PASQUAL, M. Cultivo in vitro de cattleia walkeriana Gardn (Orcchidaceae) em casa de vegetação. Horticultura Brasileira, v.23, n.2, p.616, ago. 2005. (Suplemento). FRÁGUAS, C.B.; PASQUAL, M.; DUTRA, L.F.; CHAGAS, E.A. Desenvolvimento in vitro de plântulas de bromélias: sacarose e concentrações do meio MS. Revista Científica Rural, Bagé, v.7, n.2, p.55-63, 2002. G R AT TA PA G L I A , D . ; M A C H A D O M . A . Micropropagação. In: TORRES et al. (Org.). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília, DF: Embrapa-SPI / Embrapa-CNPH, 1998. parte II, p.183-260. 76 Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.3, p.73-76, set. 2009 KODIM, A.; ZAPATA-ARIAS, F.J. Natural light as an alternative light source for the in vitro culture of banana (Musa acuminate cv. Grand Naine). Plant Cell, Tissue and Organ Culture, The Hangue, v.55, p.141-145, 1999. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid grow and biossays with te bacco tissue cultures. Physiologia Plantarum, Copenhagem, v.15, p.473-97, 1962. STANDAERT DE METSENAERE, R.E.A. Economic considerations. In: DEBERGH, P.C.; ZIMMERMAN, R.H. (eds). Micropropagation. Dordrecht: Kluwer Academic, 1991, p.131-140. T O M B O L AT O , A . F . C . ; C O S T A , A . M . M . Micropropagação de plantas ornamentais. Campinas: IAC, 1998. (IAC. Boletim Técnico, 174).