IV Reunião Equatorial de Antropologia XIII
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IV Reunião Equatorial de Antropologia XIII
1 IV Reunião Equatorial de Antropologia XIII Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste 04 a 07 de agosto de 2013 Fortaleza – CE Grupo de Trabalho 21: Migrações, Fronteiras e Projetos de Desenvolvimento 2ª Sessão: Fronteiras, gênero e políticas de construção de identidades Grupos Folclóricos e Fraternidades Bolivianas em São Paulo Willians de Jesus Santos [email protected] PPGS \ Unicamp 2 Introdução “Numa terra que é multicultural, mas não-hifenizada, as negociações sobre a identidade nacional continuam em andamento”. (LESSER; 2001, p.300) Este paper se situa entre os estudos sobre migração e a construção de identidade social. Busca compreender a inserção dos imigrantes em novos espaços e busca também interpretar os significados e valores coletivos produzidos pelos migrantes nos novos contextos, significados estes que fornecem noções de si e convivência social. Ele traz reflexões que compõem uma pesquisa desenvolvida na cidade de São Paulo sobre os usos do folclore e as relações sociais em torno dele. Pesquisa esta realizada junto ao departamento de pós-graduação em sociologia da Unicamp. Não temos o objetivo de desenvolver uma discussão sobre o folclore. Mas sobre o uso do folclore por imigrantes bolivianos no contexto urbano. Procuramos dar voz aos migrantes e para isto partimos do horizonte da sua interpretação sobre esta expressividade para compreendermos a existência e importância do folclore no processo migratório. E isto se deve não porque esta prática difunda a ‘cultura boliviana’ ou mesmo que tal gestualidade produza uma identidade étnica homogeneizante e ‘inautêntica’. A explicação por parte dos migrantes da existência da dança produz a significação de que ela é uma prática cultural. E de que ela representa a cultura do país. È importante dar voz ao folclore na medida em que é um gosto social que produz, desta forma, tanto a experiência da migração quanto uma significação acerca de si e do outro a partir dele. O folclore dos imigrantes dentro do contexto atual pode ser visto enquanto uma “tradição inventada”: “Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado”. (HOBSBAWN, 1997, p.09). 3 Nosso objetivo, por isto, tem sido o de verificar que práticas e que regras a fraternidade folclórica, tal como é denominada pelos imigrantes regula aproximando-as dos símbolos e significados dos migrantes sobre o folclore, a própria fraternidade e a dança, expressas por eles, estas, porém, interpretadas por nós enquanto reconstrução de tradições e produção de identidade social pela via da manipulação de símbolos e práticas gestuais com origem na Bolívia voltadas ao público da cidade de São Paulo. A fraternidade folclórica modela toda uma prática social e estética de representação de valores que lhes permitem uma particular e rica experiência de vida na cidade. As danças, por sua vez, são historicamente emergentes e muitas vezes se referem á ideias, acontecimentos ou personagens antigos da região de origem, a Bolívia. Neste sentido tradições coletivas pretéritas são continuidades históricas e eventualmente manipuladas quando requerem esforços que se voltam para disputas políticas e jogos sociais em eternizar determinadas características e sublinhar práticas sociais comuns. Os grupos fabricam uma coesão social, utilizando-se de artifícios, práticas e signos para produzir noções, mais ou menos duradouras, de uma coletividade dotada de uma origem comum e destinos tangíveis. Estas práticas e signos são de caráter público. F. Barth (1969 apud PETERS; 2006, p. 24) aponta que as comunidades étnicas são formas de organização política que manipulam a etnicidade em prol de interesses. Quer dizer, a comunidade étnica é uma construção que tem interesses em direitos sociais. Um grupo étnico caracterizar-se-ia por ser uma entidade social que emerge da diferenciação estrutural com base em sentimento de mesma origem. È relacional, na medida em que ocorre na interação. È processual, pois construída em contextos históricos específicos. Manuela Carneiro da Cunha (1986&2003 apud PETERS; 2005, p. 180), indica que num processo de diáspora, ou em situações de intenso contato, uma cultura reduz-se a um número menor de traços diacríticos. Estes traços são manipulados e servem como contraste diferencial no novo contexto vivido. Como recorte empírico delimito a sociabilidade de bolivianos e brasileiros filhos de bolivianos participantes na condição de fraternos da 4 fraternidade1 folclórica Caporales San Simón SP-Brasil. Procuramos contextualizar a fraternidade em um período de reivindicação de cidadania, uma vez que isto tem possibilitado justamente uma visibilidade do folclore migrante na cidade de São Paulo. Observamos, por outro, as relações construídas no âmbito da vivência dos ensaios e das apresentações públicas, mais especificamente. Com isto, por meio da etnografia, temos procurado descrever a representação do folclore e da dança caporal e inferir a socialidade em torno dos dias dos ensaios e apresentações artísticas e em qual contexto se insere. Utilizando-se de espaços da cidade de São Paulo para realizar seus encontros de ensaios, dispondo de vestimentas e acessórios específicos para sua arte corporal, a fraternidade San Simón vai se relacionando com a metrópole. Seus ensaios acontecem atualmente na Escola Estadual Prudente de Moraes que se localiza na Avenida Tiradentes, no bairro da luz, região central próximo ao metro tiradentes e ao metro estação luz. Já suas apresentações públicas variam. Somente este ano a fraternidade apresentou sua dança na 18ª Festa do Imigrante promovida pelo Museu da Imigração nos dias 2, 8 e 9 de junho; dançou na Praça Kantuta no evento dedicado ao Dia da Mãe Boliviana promovido por uma associação chamada ‘Padre Bento’ no dia 26 de maio; também se apresentou na comemoração de 24 anos de existência do Memorial da América Latina no dia 16 de março. E é nesta relação entre apresentação pública e expressão estética que uma diversidade de sujeitos media a produção de vivências e representações sobre aquilo que seria o ‘caráter’ e a ‘cultura’ boliviana. Além disto, envolvem trajetórias particulares referentes ao surgimento dos grupos na cidade. Tal apropriação dos espaços urbanos indica, mais uma vez, que nas migrações internacionais as novas formas de organizações sócio-espaciais significam, por sua vez, a sua apropriação simbólica, social e física, estabelecendo-se as 1 O termo grupo folclórico explica a existência de uma associação com número reduzido de pessoas lhe integrando. Já fraternidade seria uma associação com muitos integrantes. Os dois casos se constituem em torno da dança, da música e de seus significados. Seus integrantes são denominados de fraternos. A fraternidade significa um meio de relação social. 5 associações comerciais e os dispositivos de manipulação das fronteiras étnicas. Em tal experiência de apropriação prática dos espaços da cidade os migrantes formam pequenos empreendimentos econômicos e comunitários. O fluxo migratório boliviano poderia ser visto neste sentido tanto como um “Mundo Migratório” (MA MUNG; 1999 apud TAVARES; 2012; p. 168) quanto um “Território Circulatório” (TARRIUS apud TAVARES; 2012, p.168), pois articula: a) apropriação do espaço á atividades de circulação e migração; b) estabelecimento de configurações socioeconômicas; c) práticas de sociabilidade e expressão étnica. Por isto se faz providente a pesquisa etnográfica. Segundo Clifford Geertz (1978) os padrões culturais fornecem ‘modelos de’ e ‘modelos para’ a interpretação e a ação no mundo. Fornecem um ‘ethos’ e uma metafísica ‘comum’. Eles são para a pesquisa etnográfica a fonte de informação acerca do que faz um grupo social, por exemplo. A pesquisa de campo tem como objetivo, neste sentido, observar e estabelecer um diálogo estranhado e distanciado (DA MATA; 1981) com os migrantes. Ruth Cardoso (1986) aponta que a observação, com base no estranhar, possibilita descrever e situar os acontecimentos cotidianos (no caso ensaios) e também os únicos (as performances nos eventos comemorativos), construindo com tais dados as cadeias de significação. Mas como tal este método acaba por ser reflexivo e supõe que o observador olhe para si mesmo (FONSECA; 2008), ancore as relações pessoais em seus contextos e avalie a produção dos discursos do entrevistador e do entrevistado. Seguir esta proposta, em nosso caso, é coerente uma vez que é necessário observar as conversas informais e as performances nos ensaios e nas apresentações públicas para apreendermos os símbolos, as práticas e a condição social dos integrantes. A etnografia permite observar e apreender a expressão estética e as representações que se quer mostrar ao público da cidade, demandando que teias de circularidade e mobilidade possibilitam á socialidade construída neste contexto migratório. Por fim, devido a relevância dos acontecimentos e também da proposta do evento, uma vez que queremos contribuir da melhor forma possível, este paper em especial irá dar um enfoque maior não a performance e aos 6 significados da dança caporal e da fraternidade san simón para teus integrantes. Isto será mais bem compreendido em outra oportunidade. Aqui procuramos contextualizar o san simón e outras fraternidades dentro da luta por cidadania travada pelos imigrantes atualmente na cidade de São Paulo e assim inferir a manipulação de termos em voga neste importante e significativo movimento migratório que rearticula a cultura e reconstrói a identidade social. Bolivianos em São Paulo: O gigante acordou? Na madrugada do dia 28 de junho, sexta feira, no bairro de São Mateus, região leste de São Paulo, uma quadrilha de assaltantes (seis criminosos no total) encapuzados invadiu uma casa onde funcionava uma oficina de costura. 8 pessoas foram feitas reféns, todas elas bolivianas, duas destas crianças. Os ladrões entraram na casa para assaltá-la e embora já tivessem conseguido 4,5 mil reais ainda sim queriam mais. Em certo momento da situação uma das crianças chamada Brayan Yanarico Capcha devido ao que acontecia chorava intensamente. Os assaltantes por isto balearam-na com um tiro na cabeça. Imediatamente explodiram uma série de manifestações contra a morte do garoto e contra a condição de violência sob a qual vivem os bolivianos na cidade. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por meio da Coordenação de Políticas para Migrantes, manifestaram solidariedade e apoio à família da criança por meio de nota pública oferecendo suporte e apoio através de denuncia e investigação. Em seguida a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, convocou para terça-feira dia 2 de julho reunião ‘extraordinária’ para discutir medidas de proteção aos estrangeiros que vivem no Brasil. Parte da população de imigrantes bolivianos organizou manifestações para expressarem sua revolta contra o tratamento que recebem no país e repudiarem o assassinato do garoto. Com o slogan ‘o gigante acordou’ no dia 01 de julho concentraram-se na rua Coimbra seguiram até a Praça da Sé, depois ao consulado boliviano na avenida paulista. Este ato repercutiu na imprensa paulista. O site Bolívia Cultural em matéria publicada no dia 01 indica que as motivações da revolta seriam por “insegurança, tristeza e medo. Mas 7 mais forte que qualquer um deles é a luta para mudar isso. O povo boliviano tem uma história de conquistas, de orgulho na batalha por seus direitos e empatia por seus irmãos. E levam isso aonde vão. Aqui em São Paulo são cerca de 500 mil imigrantes na colônia. Pessoas que trabalham e acrescentam culturalmente e economicamente na cidade. E para quem não é justo receber em retorno violência e dor. Contra isso eles se manifestam. Não só pela colônia, mas por todas as pessoas que estão sujeitas a crimes como o assalto realizado a casa de uma família boliviana, que resultou na morte do menino Bryan, de cinco anos.” A passeata/ato teria reunido 3 mil pessoas, segundo fontes da imprensa, acabou por evidenciar a insatisfação pela qual passam os imigrantes na cidade. Insatisfação devida á violências além dos assaltos, bullying nas escolas públicas, mau atendimento nos hospitais públicos, etc. Quem acompanha a migração a partir destas ações pode acreditar que o gigante tenha acordado somente agora. Porém, a migração de bolivianos á cidade é histórica e a passeata é o resultado de mudanças que vem ocorrendo em seu interior, as quais estão sendo promovidas pelos imigrantes. O Brasil concentra a maior parte dos estrangeiros que se deslocam na região com 118.525 pessoas (BAENINGER; 2012, p.15). Percebe-se, neste novo cenário, uma nova composição de estrangeiros em relação a tempo e nacionalidade no país: nos anos oitenta 912 mil pessoas entraram no país. Já em 2000 foram 651 mil pessoas. Deste total, naquele período de 1980 57,5% eram europeus, 18,2% asiáticos e 17,2% originários do MERCOSUL. Segundo Rosana Baeninger (2004) nos anos 1990 do “MERCOSUL Ampliado” partiram ao Brasil populações originárias do Paraguai (31%), Argentina (21,2%), Bolívia (20,2%) e Peru (13,2%) o que contribuiu para um aumento de 89 mil para 98 mil estrangeiros no país. De acordo com Sala (2006 apud Tavares&Baeninger; 2010, p. 279) em 1991 o estoque de imigrantes provenientes destes países era de 108.590 (14,14% do total), já em 2000 passou para 129.426 (18,92% do total), havendo uma taxa de crescimento média anual de: 7,1% Peru, 4,73% Paraguai, 2,95% Bolívia, 1,24% Uruguai, 0,87% Argentina e -1,94% para o Chile. 8 Em especial no caso da imigração boliviana, do estoque identificado pelo censo demográfico de 2000 (20.388 pessoas), apenas 10% haviam chegado antes dos anos 1960 (2.658 bolivianos e 2.594 entre 1960-1969), marcando a importância desse movimento migratório desde os anos 1970 (3.263 imigrantes entre 1970 - 1979). Depois dos anos 1990 chegaram ao país 7.700 imigrantes, explica BAENINGER (2012, p.16). Contudo, a quantidade de bolivianos parece ser maior do que indicam os dados do censo demográfico de 2000 nos conta Bassegio (2006 apud BAENINGER e SOUCHAD; 2006, p.5) entre 150.000 a 200.000 bolivianos estariam irregulares na Grande São Paulo. Quanto a situação geracional destes migrantes Camargo & Baeninger (2012, p.188-89) indicam, a partir de dados do Censo IBGE de 2000, na cidade de São Paulo haver cerca de 7.722 bolivianos. Desta quantidade: “(...)5.824 pessoas que foram declarados como filhos, é possível observar que 4.887 são de segunda geração, ou seja, nascidos brasileiros que tenha ao menos um dos pais de origem boliviana; 801 são da geração 1.5, ou seja, nasceram no exterior mas chegaram ao Brasil com 12 anos ou menos; e 134 são de primeira geração, ou seja, chegaram ao Brasil com 13 anos ou mais, embora a maioria tenha chego antes dos 20 anos de idade.” Segundo Sydnei A. da Silva (2008, p. 22-23) caso seja considerado o MERCOSUL ampliado e a formação educacional de cada população de estrangeiros no país os dados do IBGE indicariam as seguintes posições: I) entre aqueles que estudaram de 5 a 8 anos (primeiro grau no Brasil) os a) paraguaios possuem maior formação com 33,74%, seguidos pelos b) bolivianos com 23,48%, c) uruguaios com 20,04%, d) peruanos com 16,03% e e) argentinos com 12,38%. Entre aqueles que possuem 9 a 11 anos de escolaridade (segundo grau no Brasil), temos: a) os bolivianos com 42,14%; b) uruguaios com 41,60%; c) chilenos, com 38,81%; d) peruanos com 28,37% e, finalmente, e) paraguaios, com 16,29%. Entretanto, caso consideremos aqueles que têm curso superior (12 a 15 anos de escolaridade), os argentinos apresentam melhores índices com 25,80%, seguidos pelos b) peruanos, com 24,10%; c) chilenos, com 22,32%; d) bolivianos, com 9,72% e, por fim, e) paraguaios, com 6,76%. 9 Tais dados indicam, por um lado, o Brasil como área de expansão das migrações latino-americanas e, por outro, uma elevação da imigração de bolivianos para o país a partir dos anos 1970. Realidade que conformou uma segunda geração de migrantes nascidos no país. Este processo migratório representa mais amplamente o desenvolvimento de migrações recentes para o Brasil que ocorrem em grande medida devido aos efeitos dinâmicos da Globalização nos territórios Latino Americano e Caribenho. A centralidade da emergência de um novo paradigma técnico-científico e comunicacional (CASTELLS; 1999, p.17-18) gerou mudanças nas relações econômica e cultural. Esta ordem é difundida através de redes transfronteiriças, levando a integração de capitais, bens, serviços, informação, ciência e tecnologia, elas, porém são seletivas. Há, também, neste período com inicio nos anos 1970-80 a aceleração econômica ensejado pela reestruturação da produção capitalista que implica novas modalidades de mobilidade do capital e de populações (HARVEY; 1992 apud Sidney, 2008, p.18), desta maneira a integração de mercados gera na verdade desigualdades economicas. Para os migrantes este processo de globalização gera o desarraigamento social. A saída de suas terras natais á procura de melhores condições de vida e trabalho. Parte do mercado de mão de obra do período da globalização é formada por migrantes, os quais, sob condições precárias de trabalho vendem sua força de trabalho por salários baixos, não possuem direitos trabalhistas e sociais e são alvos de estigmatização, associados a problemas sociais, políticos e de saúde (MARTINE; 2005). Sassen-Koob (1987 apud TAVARES, 2012, p.155-56) indica que o fortalecimento desta dinâmica se encontra numa estratégia de aquecimento das economias através da adoção de exportação, obtenção de divisas e competitividade no mercado externo com utilização da informalidade trabalhista, especialmente, conectada ao trabalho de imigrantes clandestinos. Já são pouco mais de 50 anos de presença andina na cidade de São Paulo. Contudo esta presença é, infelizmente, permeada também por estigmas presentes no senso comum local que os associam as drogas e aos problemas de conflito e violência étnica. São representações que os definem enquanto 10 sujeitos de cultura inferior, sujos, bêbados ou infratores da lei (devido a condição de clandestinidade de parte da população). Segundo Tavares (2012; p.161-62) é perceptivo, em São Paulo, bolivianos donos de oficina de costura. E não mais sob a condição de costureiros. Por outro lado, na medida em que a comunidade cresce e se consolida na cidade emergem outros tipos de empreendimentos econômicos que funcionam como abastecimento da reprodução de vida desta população na metrópole, dando conta de suas necessidades tais como: estabelecimentos comerciais (restaurantes pequenos mercados, armazéns e cabeleireiros, etc); pontos de venda ambulante (para a comercialização de produtos como comida, CDs, Dvds, cartões telefônicos, etc); serviços de transporte e comunicação, oficiais ou clandestinos, conectando-os as cidades de origem, transmitindo informações sobre serviços de saúde, educação lazer e trabalho; casas noturnas, etc. Suas festas devocionais há tempos se consolidaram, em especial, como momentos simbólicos e diacríticos de reconstrução cultural, elas “explicitariam elementos de organização social, tensões entre os sistemas de crenças envolvidos, interesses econômicos e políticos, expressões estéticas, ritmos, emoções e sabores, dentre outras coisas”, seriam, sobretudo, um complexo sistema de “prestações totais” (SILVA; 2003:179); cujos elementos materiais e simbólicos são reconstruídos e veiculados pelos imigrantes para redefinir e jogar com suas identidades devido a particularidade de sua inserção social. Segundo, Szilvia Simae & Rosana Baeninger (2012) entre os brasileiros há caracterizações dos migrantes segundo termos como pobreza, sofrimento, semiescravidão, por um lado, e, por outro, de que o ‘outro’ é exótico. Tal discurso, porém, quando surge por parte dos bolivianos os representa, em alguns casos, por positivação de um setor dos migrantes, principalmente, os profissionais liberais, enquanto excluem e discriminam os migrantes recémchegados, definindo-os como sujeitos de baixa qualificação profissional2. 2 Sidney A. da Silva (2008; p. 40-41), indica que os preconceitos e estereótipos presentes entre os bolivianos sobre si são de origem étnica, regional e de classe – já, a partir, dos latinos americanos para com os bolivianos, e destes para aqueles, são veiculados como forma de 11 Alex Manetta (2012; p. 260) indica que outro produtor destes estigmas é a mídia. Suas temáticas tenderiam a produzir associações entre bolivianos ao crime, a informalidade e a contravenção. As opiniões formuladas pelo discurso jornalístico tenderiam á associa-los a miséria e ao crime, reforçando, quando não gera, estereótipos. Tornando-os indesejáveis. Neste caminho, Marcos Dornelas (1998:30-31) aponta que tal forma estética de abordagem dá grande destaque para a condição de ilegalidade civil e de trabalho. Por meio de uma forma que se pretende denúncia, funciona como ocorrência policial (naturalizando este ponto de vista), relacionando a precária situação civil e trabalhista como se fosse necessária para este ramo da produção, tornando-os cúmplices de exploradores. Já Dominique Vidal (2012) constata três categorizações difundidas que servem para estigmatizar ainda mais a alteridade dos bolivianos na metrópole, a descrição deles enquanto: a) uma população de índios 3; b) de possuírem outra cultura (o exótico); e c) trabalharem como escravos (infratores da lei). Há ainda uma consciência produzida por parte da população migrante. Tal concepção é vista pelo autor como uma forma de ‘reificação’. Ela procura descrever a existência duma “cultura específica” (VIDAL; 2012, p.100-101). Esta categoria é veiculada como modo, por um lado de representação de uma cultura autêntica, de outro, como meio de diferenciação em relação aos próprios migrantes. Ocorre que esta significação traça uma essência dos migrantes por meio da positivação dos costumes e de tuas danças. Verena Stolcke (1993) nos traz a luz que em processos de disputa entre nativos e imigrantes por direitos pode ser forjado da parte dos primeiros uma ideia de Comunidade Nacional (Stolcke; 1993, p. 3) adequada ao uso dos recursos econômicos que o outro – o imigrante – supostamente ameaça. Esta identidade coletiva é definida em termos de etnia, de ‘cultura’, tradição, diferenciação diante duma condição econômica e subjetiva de subalternidade. Peruanos, por exemplo, procurariam diferenciar-se dos bolivianos alegando que os costureiros bebem muito. 3 Esta categoria associa os migrantes ao estereótipo ‘índio’ devido a sua cor de pele. Índio, enquanto categoria classificatória, no Brasil, é preciso lembrar, possui forte conotação negativa. De fundamento racista. Índio é o incivilizado. O atrasado, etc. 12 memória e não mais sob-referencia em termos de raça ou sangue. A concepção de cultura presente nesta retória é estática, compacta, imutável e homogênea, trata-se de um pensamento totalizador que coloca a existência de uma cultura que abarque todo o povo, tal como uma natureza humana. A reflexão da autora nos permite aqui pensar sobre os estereótipos para com os migrantes. Embora os discursos preconceituosos contra os bolivianos ainda não sejam organizados por movimentos políticos, por exemplo, não deixa de ser problemático uma vez que cria uma oposição entre nossa cultura e a deles. No caso em que analisa surge dos grupos mais radicais da direita europeia, mas se caracteriza, de qualquer forma, por atribuir todos os males políticos, sociais e econômicos ao imigrante devido á índole, aos valores culturais e morais deles. É preciso, por outra via, ter em mente que o boliviano representado pelos estereótipos e estigmas da população local, de parte dos imigrantes e da mídia é um simulacro, um ‘índio Hiper-Real’, tal como observou Rita Ramos (1995). O Hiper-real é uma ideologia que cria um modelo de coletividade. O hiper-real é um simulacro que se pretende mais real que o real. Trata-se de um imaginário etnocêntrico que projeta qualidades ultrarreais aqueles: “é o índio hiper-real: dependente, sofredor, vítima do sistema, inocente das mazelas burguesas, íntegro em suas ações e intenções e de preferência exótico. Os índios assim criados são como clones de fantasia, feitos á imagem do que os brancos gostariam de ser eles mesmos (RAMOS; 1995, p. 07)”. Ocorre que este índio-modelo permite mobilizar capital, investimentos, profissões: em síntese é bom pra ser ‘explorado’. Conclusão: do Luto á Luta Em seu processo migratório os bolivianos carregam seus símbolos, suas crenças e formas de expressividade. Na apropriação do espaço e do tempo de São Paulo são chamados a encarar uma realidade que influi em seus objetivos. Trata-se, de violências contra eles, quanto discurso sobre sua característica social, de acontecimentos que os acometem, e da variedade de seu modo de ser. Percebemos, por outro lado, a construção de entidades sociopolíticas 13 preocupadas em não só desenvolver atividades de atendimentos aos migrantes, atendimento jurídico, por exemplo, ou em realizar uma cobertura jornalística que possa informar a população sobre o que ocorre na cidade e que os envolve. Estas entidades emergem num momento especial da vida da população e tem sido utilizada para modificar o ‘status’ social deles, coincidentemente cresce a presença das frarternidades folclóricas na cidade. Temos observado uma busca insistente das entidades em, por um lado, reivindicar direitos. E, por outro, questionar estereótipos produzidos na cidade que venham a prejudicar a comunidade. Ao mesmo tempo elas incentivam as fraternidades em difundir ao público brasileiro os elementos estéticos e simbólicos que envolvem a performance (sempre pública) daquilo que seria o autêntico ‘caráter’, o ‘folclore’ e a ‘cultura’ (nacional) boliviana. E neste feedback as fraternidades vão não só recebendo visibilidade, mas procurando também se tornar vizível. Parcela dos imigrantes está engajada em uma nova dinâmica: a reivindicação de reconhecimento e de cidadania. Após conseguirem uma centralidade de organização, por meio das famílias, das entidades políticas e dos grupos culturais construídos ao longo do tempo com certa autonomia, mas, também, com contribuições de instituições como a Pastoral do Migrante - que é ainda centro de referencia em atendimento jurídico, social e religioso a esta população – e outras ONGs como o CDHCI (Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante), ou instituições do Estado como a “Coordenação de Políticas Públicas para Migrante” coligada a “Secretaria Municipal de Direitos Humanos” da Prefeitura de São Paulo, que surgem pouco a pouco, a presença e permanência deles na cidade está deixando de ser invisível, tanto em relação á narrativa sobre eles, quanto a seu status civil. Em 2011 na Igreja Nossa Senhora da Paz localizada na região central de São Paulo ocorreram três missas. Uma dedicada a Virgem Urkupinhã, outra a Virgem de Copacabana e uma celebração mensal dedicada aos latinoamericanos. A celebração a virgem de Copacabana foi realizada no dia 20 de agosto. Duas semanas após a celebração á nação boliviana no Memorial da America Latina que também possui caráter religioso. E que ocorreu em 08 de 14 agosto. E uma semana após a celebração a virgem Urkupiña no dia 13 do mesmo mês. Na primeira festividade ocorreu o rito de “passantes”. Trata-se duma prática comum em festas religiosas onde os passantes são os casais que cuidam das santas e tem (no sentido de dever) o encargo de financiar a festa comemorativa ás deidades. Eles possuem ajuda dos “padrinhos” – também casais - na organização e festejo da fé e da comemoração. E significam, dentre outras coisas, uma forma de reciprocidade e partilha entre os migrantes que tem origem na lógica andina e que se reproduz na cidade de São Paulo4. Neste contexto das missas havia nas falas solenes um tom de preocupação. Nestes dias, além dos grupos folclóricos que iriam dançar em louvor as virgens, prática frequente também nestes rituais, havia a presença de organizações de direitos e cultura boliviana distribuindo informes sobre certo acontecido. Na festividade religiosa da missa dedicada aos latino-americanos, entre uma fala solene, e outros cantos católicos, fora lembrado a impactante notícia que tomou as comunidades latinas naqueles dias. Em especial aos bolivianos e peruanos. A existência de conflitos e mortes ocorridos entre ambos. Neste dia estavam presentes entidades dos bolivianos. Elas procuravam organizar uma campanha cujo objetivo era esclarecer o que ocorria. Segundo entidades como a ADRB (Associação de Residentes Bolivianos)5, presente no evento, e pelo tom da revolta do Padre Marcio6 que celebrava a missa, a mídia distorcia os fatos retratando aos migrantes como delinquentes: “A Mídia diz que Bolívia está contra Peru e este contra Bolívia...Isto é Mentira...é preciso combatir esta ideia falsia”. A difamação estaria sendo veiculada, na época, “principalmente pela TV Record e T.V Globo”. 4 Para maior compreensão dos passantes e dos ciclos de festas bolivianos sugerimos a leitura da obra de Sidney A. da Silva: Virgem/Mãe/Terra: Festas e Tradições Bolivianas na Metrópole. São Paulo: Hucitec / Fapesp, 2003. 5 A associação de Residentes Bolivianos está localizado na Rua Padre Bento, no Bairro do Pari, São Paulo. Fundada em 25 de março de 1969 oficialmente divulga que seu objetivo é fomentar a difusão da cultura boliviana em São Paulo, dar assistência socioeconômica aos migrantes e contribuir com práticas esportivas. Esta associação também realiza atendimento médico. 6 Todos os nomes das pessoas entrevistadas por nós. Ou que participaram de eventos públicos, os quais foram registrados e utilizados neste texto são fictícios. 15 Neste ano de 2013 ocorreram dois eventos importantes. Neles foi debatida a condição dos migrantes, procurando romper estereótipos, e em que esteve relacionado a política e a visibilidade dos migrantes. Acontece que a presença de entidades civis atentas a vida dos migrantes aumentou, assim como se expande suas atividades e a visibilidade sobre as fraternidades. O primeiro deles foi o conjunto de mesa redonda e debates durante a 18ª Festa do Imigrante7 promovido pelo Museu da Imigração. Paralelo ao evento gastronômico e musical-artístico ocorreu encontros com entidades diversas, aberta a sociedade civil. Nestes encontros, divididos em três dias (2, 8 e 9 de junho), estiveram presente representantes do Estado, de entidades da sociedade civil e imigrantes. No dia 02 representantes da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, do CAMI (Centro de Apoio ao Migrante), do CDHCI (Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante) e do ICUJAL (Instituto de Cultura e Justiça da América Latina e do Caribe Missão Paz/Pastoral do Migrante), junto aos imigrantes e diversas outras pessoas conversaram sobre ‘Direitos, Migrações e Cidadania’. Neste mesmo dia a Fraternidade Folclórica Caporales San Simon8 apresentou a dança caporal (ritmo-afro boliviano). Já no dia 09 (junho) foi a vez da reflexão sobre a importância das “comunidades migrantes, representação e celebração das tradições“, onde 7 Em uma entrevista nossa no dia 02 realizada durante o evento com Mariza C. B. do Museu da Imigração, “a festa do imigrante tem o objetivo de trazer a diversidade que compõe São Paulo e que compõe o Brasil numa celebração do que é esse patrimônio imaterial que enfim se materializa na culinária, na dança, na música e no artesanato. Então é uma grande celebração desta diversidade de São Paulo”. E mais, “...a festa cresceu muito, a festa nasceu dentro do antigo memorial do imigrante que hoje está em restauro, e ela nasceu dessa iniciativa das comunidades que trabalhavam alí com o memorial, que contavam a própria história, em trazer principalmente esta parte da culinária e a parte da dança. Ela foi crescendo o número de comunidades foi aumentando, e nas duas últimas edições a gente teve uma preocupação muito grande de ampliar principalmente a questão da imigração contemporânea, então a gente tem uma participação maior de países da America latina e países da África que compõe enfim um quadro muito significativo da imigração em São Paulo hoje”. Segundo ela a atividade de debates e mesas redondas foi uma iniciativa nova dentro do contexto da festa. 8 Reinaldo,integrante da fraternidade, nos falou da importância da apresentação da fraternidade nesta festa do museu da imigração: “na verdade em muitos lugares a gente tenta se comunicar pra tá se apresentando como disse queremos sempre tá divulgando a nossa cultura. Hoje no memorial do imigrante aqui, È... já são acho que dois anos que estamos atrás da apresentação pra, pela grandiosidade que é o evento. È muito grande em si, então. Os antigos diretores correram sempre atrás daqui hoje fomos contemplados pra tá se apresentando...” 16 participaram representantes dos CONSCRE (Conselho Estadual Parlamentar de Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras)9, AMOVIZA (Associação de Moradores do Bairro de Vila Zelina – imigrantes do Leste Europeu), o famoso CTN (centro de tradições nordestinas), a Rita Camargo representando a campanha ‘Eu Amo a Bolívia’, representantes da ‘Festa Achiropita’ e da ‘Festa dos Coreanos’. Neste dia a fraternidade boliviana que se apresentou foi o ‘Ballet Folclórico Boliviano’ e a ‘Sociedad Folklorica Boliviana’10. Particularmente sobre este último dia foi significativo a posição de Rita Camargo. Rita, neste dia, foi dizer sobre a campanha “Eu Amo Bolívia”. Esta campanha surge em 2011 e tem o objetivo de criar outra representação sobre os imigrantes bolivianos, quer dizer, romper o estereótipo, através (como prefere dizer) da cultura, de que não se trata de população de escravos, mas de empreederores e trabalhadores. Além disto, o objetivo desta campanha é ‘lutar’ pela diversidade da cultura através dos conceitos (ou ‘quatro pés): fé, cultura, cidadania e integração’. Há uma camisa com os dizeres ‘eu amo Bolívia’ que são distribuídas nos eventos e utilizadas por muitos jovens: “a Bolívia é muito mais do que isso...começamos com a campanha timidamente em 2011, mas em 2012 a campanha toma força”. Ela, porém não se destina apenas a criar outra imagem do Boliviano: “eu vejo a necessidade de espaços maiores para os migrantes manifestarem sua diversidade cultural...os espaços tem de existir e a comunidade tem de ter presença”. Esta campanha tem a função de sensibilizar a população da cidade de São Paulo. Seu objetivo é retirar a “comunidade” da invisibilidade, foi precedida 9 O Conscre é um Conselho de Comunidades, de natureza permanente e deliberativa no âmbito de suas competências, criado pela Mesa da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, através da RESOLUÇÃO Nº 817, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2001 e tem como objetivo a integração, socialização e amparo ordenado dos trabalhos comunitários das diversas comunidades descendentes de estrangeiros, atualmente residindo no Estado de São Paulo.Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/comunidade/conscre; publicado em: São Paulo, 16 de julho de 2013. Acesso: 16 / 07 / 2013.16h01. 10 Ainda houve mais uma fraternidade que se apresentou dia 08 de junho, sábado: o Grupo Folclórico Cultural Kantuta Bolívia. 17 por uma outra denominada ‘Hola Bolívia’, e o Bolívia Cultural11, tornou-se um dos incentivadores e divulgadores da campanha. O segundo evento foi o ‘Diálogo com o Movimento de Migrantes na cidade de São Paulo’ promovido pela ‘Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo’ e a ‘Coordenação de Políticas para Migrantes’. O diálogo ocorreu no dia 17 de junho de 2013. Segundo informações oficiais a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC) é o órgão da Prefeitura de São Paulo responsável pela articulação da política de direitos humanos e fortalecimento da participação social como método de gestão no município. Foi oficializada em 01 de janeiro de 2013 sob a gestão da prefeitura de Haddad (PT), tendo como seu secretário “Rogério Sottilli” assumido o cargo em 11 de janeiro. Ela é um órgão da Prefeitura de São Paulo responsável pela articulação da política de direitos humanos e fortalecimento da participação social como método de gestão no município, está sob o regime de regulamentação decreto nº 53.685 de 01/01/2013 e Lei nº 15.764 de 27/05/2013. E criou para isto uma ‘pasta’ a de coordenação que tem como coordenador Paulo Illes12. 11 Um grupo de jornalistas a ser referenciado certamente é o “Bolívia Cultural”. Autodenominase como uma “rede de comunicação boliviana”, a mais completa do Brasil. Segundo um pequeno documento entregue a população de migrante chamado guias impressos o Bolívia Cultural é um veículo em que “usamos a força da comunicação para promover cultura boliviana no país.” Para isto utilizam-se da web, de guias impressos, facebook, etc. Não é nada incomum encontrar algum de seus funcionários em lugares e eventos que contenham qualquer presença de migrantes bolivianos para cobrir e depois transformar em matéria jornalística voltada a população. Embora muitas vezes o seu portal interativo da internet também divulgue atividades e eventos que envolvam outras nacionalidades latinas americanas. Este site cobre e divulga diversos acontecimentos que venham a ocorrer e que envolvam os migrantes na cidade, tais como: informação sobre violência contra os migrantes, sobre atendimentos jurídicos, as fraternidades e suas festas, saúde e trabalho, etc. ver: http://www.boliviacultural.com.br/ 12 Paulo Illes é também diretor executivo do CDHCI (Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante). O CDHIC é uma organização da sociedade civil que tem como objetivo promover, organizar, realizar e articular ações que visem à construção de uma política migratória que respeite os Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais dos imigrantes e suas famílias no Brasil. Dentre alguns de seus princípios se encontram os de promoção do diálogo com agentes e órgãos públicos em especial aqueles ligados a promoção de políticas públicas para os migrantes, presença junto aos migrantes para mobilização e articulação e valorização da diversidade cultural. Esta entidade possui também um jornal o ‘conexion imigrante’, onde divulgam noticias sobre os migrantes, políticas públicas e promovem a campanha “Aqui Vivo, Aqui Voto” que reivindica o direito á voto para os migrantes. O que pode modificar de modo radical e concreto a cidadania deles. Para mais informações ver: http://www.cdhic.org.br/?page_id=2 18 Neste dia a proposta do evento era apresentar o secretário e o coordenador. E em seguida ouvir as demandas dos imigrantes. O evento realizou-se no espaço do centro cultural São Paulo, região do bairro do Paraíso. E contou com diversos migrantes, não apenas bolivianos. Embora estes estivessem em grande número. O interessante não foi apenas o reconhecimento por parte do secretário e do coordenador da importância “econômica e cultural” dos migrantes para a cidade de São Paulo. Mas, certamente, a presença de integrantes da fraternidade folclórica San Simón, do Bolívia Cultural, e de outras figuras. Os discursos do secretário e do coordenador convergiam na ideia do reconhecimento da população de migrantes enquanto legítimos de deter direitos econômicos, sociais, políticos e culturais. A secretaria visaria combater a violação de direitos humanos e luta para que seja modificado o lugar do migrante na cidade e que este seja agora na condição de cidadão. O que vemos desta relação entre a emergencia de entidades civis e o aumento das fraternidades folclóricas e de sua presença nestes debates é um contexto conjuntural de luta política por cidadania e a produção de identidade, práticas e significados públicos. Acreditamos que o folclore neste processo tem sido usado tanto enquanto um discurso sobre a cultura, quanto, para seus integrantes, enquanto uma forma de agencia, cuja ‘imagem’ e as práticas são voltadas a utilização de espaços da metrópole e possibilitam criar um sujeito histórico a ser entendido enquanto cidadão. O folclore quando é ação de construção de relações e meio de relação com os espaços da cidade é cultura, quando é um modo de discurso sobre um eu, é identidade. O casal Comarrof (2010) nos ajuda a pensar a cultura enquanto ação. A cultura é um campo de signos e práticas no qual os seres humanos constrõem e representam a si mesmo bem como configuram sua sociedade histórica. As ações e os significantes culturais são situados históricamente, eles mudam e geram mudanças. Os simbolos configuram visões de mundo, mas, são, também, contextualizados historicamente e podem ser reapropriados. O mundo da produção de significados é fluido, ambiguo, mutante; este mundo é permeado por narrativas, imagens e práticas de significação. Cultura ( e porque 19 não o folclore) é, por fim: “um conjunto de significantes – em – ação situados na história e desenrolando-se ao longo dela, significantes ao mesmo tempo materiais e simbólicos, sociais e estéticos (COMARROF; 2010, p. 34).” Sherry Ortner no livro Conferencia e Diálogos: saberes e práticas antropológicos (2007) contribui conosco ao indicar que algumas sociedades compelem seus sujeitos a ser e agir de um modo. Desta forma a cultura pode ser pensada como um sistema de produções de sujeitos quanto forma de ideologia, dominação e de produção de artefatos históricos. “Se tomarmos a cultura no sentido novo-antigo – como os esquemas (politicamente infletidos) por meio dos quais as pessoas veem o mundo e atuam sobre ele e as subjetividades (politicamente infletidas) por meio das quais as pessoas têm sentimentos (emocionais, viscerais, ás vezes violentos) sobre si mesmos e sobre o mundo -, a transformação social implica a ruptura desses esquemas e subjetividades. E, se tomarmos a cultura no sentido mais novo – pública, móvel, viajante -, a transformação social funciona, em parte, por meio da constante produção, contestação e transformação da cultura pública, da mídia e de outras representações de todos os tipos, incorporando e procurando plasmar antigos e novos pensamentos, sentimentos, ideologias. Em ambos os sentidos, então, diremos, parodiando um velho ditado: a transformação social deve ser também transformação cultural, ou não será nada.” (ORTNER,2007:40) A ideia de agencia discutida por ela é uma tentativa de avançar na reflexão da teoria da prática e por outro de abordar a relação entre cultura e história. Se a cultura constrói as pessoas como tipos particulares de atores sociais elas em sua vivência concreta podem reproduzir ou transformar a mesma cultura que as fez. Os jogos sérios indicam que esta vida social é voltada á metas e projetos e envolvem práticas de rotina e ações intencionalizadas. Quem joga os jogos sérios são atores e estes podem ser vistos como agentes. E esta agencia não é coisa em si, não está dada, mas é também um processo de estruturação, um fazer e refazer as formações sociais e culturais. A agencia é a ação das pessoas com o objetivo de realizar projetos partilhados que emergem de diferenças estruturais entre categorias sociais, valores e poder. Os projetos culturais, como o folclore, são jogos sérios ou metas organizadas em torno de relações de poder. 20 Avtar Brah (2006), por sua vez, nos alerta que as categorias que contribuem para construção de identidade são substrato de organização política. Um marcador de diferença, por exemplo, analisado por ela é a palavra negro. Os processos culturais são dinâmicos e a reivindicação política também é. Os termos não são essências e adquirem significados políticos e culturais conforme conjunturas históricas. Na Inglaterra setentista, por exemplo, o uso do negro pelos ativistas negros e asiáticos não negava a diversidade interna entre africanos caribenhos e sul-asiáticos, contudo diante da luta contra o racismo buscava realizar a unidade política e de ação coletiva. E, além disto, aquelas comunidades criaram identificações outras com base na religião, na língua e na filiação política13. A autora contribui conosco ao alertar que as categorias classificatórias produzidas pelos grupos autoidentificados demarcam fronteiras, mas estão sempre inscritas em processos e práticas discursivas historicamente conjunturais. Os grupos de identidade, tal como a marca comunidade boliviana, mobilizariam conceitos de diferença quando se trata de produzir genealogias históricas de sua experiência coletiva, quer dizer, produzir um passado e destinos compartilhados. E este discurso da diferença pode ser entendido enquanto expressão das trajetórias históricas e circunstanciais que “produzem as condições” (BRAH, 2006:363) para a construção das identidades de grupo e as narrativas coletivas compartilhadas dentro do sentimento de comunidade. Hall (2009) também está interessado nas ‘estratégias culturais’ capazes de efetuar e de deslocar as disposições de poder em torno da produção cultural. Se o folclore é uma cultura popular14 então podemos pensar que ele é 13 Esta forma de ação e discurso, porém, é o oposto do ‘etnicismo’. O etnicismo é o discurso que define a experiência de grupos racializados em termos de ‘cultura’, quer dizer, de que há ‘diferença étnica’ entre os grupos e que ela é natural na mesma medida em que cada um é homogêneo. O etnicismo tenta justificar que estes grupos possuiriam ‘necessidade cultural comum’ mas são diferentes de outros, tal como, por exemplo, os nacionais (nativos). O discurso etnicista não diferencia o uso de termos como resistência política do uso enquanto formulação de políticas públicas, não consegue entender a existência de relações de poder entre os grupos e a manipulação política de termos nesta luta seja para defender-se seja para agredir. 14 O popular para o autor significa os prazeres, as experiências, as memórias e as tradições do povo. Sua análise recorre ao filósofo e linguista Bakhtin, que, por sua vez, entende o popular 21 formado sob conjunturas históricas. O popular não pode ser visto fora disto caso contrário fixa autenticidades e experiências comunitárias. A cultura popular, portanto, é uma arena profundamente mítica: teatro de desejos, fantasias, identificações e representações. A construção do negro, e no caso da nossa análise, a construção do folclore boliviano, é um movimento dialógico que se dá diante do outro, claro, mas dentro de agenciamentos, disputas políticas e conjuntura histórica. Jeffrey Lesser em ‘A negociação da identidade nacional’ (2001) demonstra que etnicidade é crítica á construção da identidade nacional em situação de encontro. Procurando demonstrar como os imigrantes e seus descendentes se posicionaram, e foram posicionados, nos espaços públicos de discussões, pelas lideranças políticas e intelectuais brasileiros, ele contribui demonstrando que a classificação sobre os imigrantes serviu-lhes como barganha, ou estratégias de inclusão, na negociação de espaços por sociais, econômicos, políticos e de trabalho. O conflito narrativo foi um processo de produção de classificações, significações ou, como ele prefere manipulação de “categorias hifenizadas” (LESSER, 2001) e “Etnicidades Hifenizadas” (LESSER, 2001). Quer dizer, as identidades são construídas, justamente, no contexto de negociação da inserção social. No debate em torno da recepção de imigrantes categorias nacionais e étnicas emergem, mas, também, movem-se. Por fim, para concluirmos, de modo elegante, durante os processos de inserção de imigrantes pode acontecer no debate público a produção de etnicidades. Elas são expressas por meio de linguagens, narrativas e práticas: “as atitudes com relação á etnicidade tanto são construídas pelas ideias de identidade nacional quanto, por sua vez, ajudam a construir essas ideias (LESSER; 2001, p. 23). A etnicidade dos imigrantes eram – e ainda parecem ser em nosso caso – situacionais, flexíveis, podendo ou não cruzar com o nacionalismo. Bibliografia enquanto o vulgar, o informal, o lado inferior, o grotesco, enfim a localidade das tradições alternativas que está em oposição á alta cultura. 22 BAENINGER,Rosana. Imigração Boliviana no Brasil / Rosana Baeninger (Org.). – Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Unicamp; Fapesp; CNPq; Unfpa, 2012. 316p. ____&FREITAS,Patrícia Tavares. Cidade e Imigração – Origens e Territórios da Imigração boliviana e coreana para a cidade de São Paulo. 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