Carta Ophélia 2 - Casa Fernando Pessoa

Transcrição

Carta Ophélia 2 - Casa Fernando Pessoa
Meu Nininho adorado:
Recebi a tua grande cartinha que me causou surpresa e por isso alegria pois que
não esperava, quando cheguei a casa é que minha mãe ma deu. Eu [,] meu Fernandinho além
de não estar nada boa não foi esse o motivo por que não estive no nosso ponto de encontro à
hora marcada, tive que sair com minha irmã e não estava despachada à hora precisa para te
encontrar, sabes a que horas fomos almoçar? (ou por outra viemos almoçar porque almoçámos
em minha casa) eram duas e tal. Já vês meu lindo amor que era impossível encontrar-te… Vejo
que ficaste ralado e em cuidados o que me satisfez imenso, não é pelo facto de gostar que te
rales e apoquentes, não [,] amor [,] é por ver que te interessas bastante pelo teu bebezinho [;] e
nunca te arrependas meu amorzinho porque eu mereço bem os teus interesses por mim porque
te estimo tanto quanto é possível estimar um homem (um Nininho). Mas não fazes ideia
Fernandinho as saudades imensas que de ti tenho tido e tenho! Supõe por ti, amor, tenho estado
hoje verdadeiramente doente, triste por te não ver, e ralada com coisas que soube, enfim o que
se resume de tudo isto é que eu não tenho o direito de andar bem disposta, não mereço gozar
felicidade alguma! Serei tão má para que mereça tanto? Hei-de ter sempre de que me ralar, mas
sempre. Ao menos resta-me a esperança em ti, em ser feliz contigo, e ter alegria no futuro.
Escreveste tão poucochinho! Podias ter escrito mais [,] meu amor! Tu não gostas
de mim [,] pois não Fernandinho? Gostas? Muito… não gostas lindo amor? Crê Fernandinho,
juro-te por tudo que me não sais do pensamento, és tu que suavizas, que desfazes todas estas
séries de trapalhadas que me sucedem, vingo-me em pensar em ti para me esquecer de tudo
quanto me é desagradável. Eu 2ª feira vou consultar o médico, eu hoje estava para consultar
mas não quis, mas sempre me resolvo, e depois como também o meu Fernandinho me
aconselhou que era melhor [,] eu obedeço. É para que vejas que sou obediente!! O Osório disse
a minha mãe que vinha cá amanhã buscar a resposta, e eu dou-lhe esta para ele te entregar e
fico com a de ontem para te dar pessoalmente.
[…]
Eu estou ansiosa por ser a tua noiva, não é por nada [,] é simplesmente para ver
se gosto de me ver assim mascarada não é mais nada repito. (Pois não!!) É mas é para eu ter o
meu Fernandinho seguro, ter então a certeza que ele é bem meu, e viver com ele toda a vida!
Mas quando meu Deus, serei eu merecedora de tão grande felicidade?
Não faltes amanhã não pomponzinho querido?
Eu amanhã vou com certeza, salvo que estivesse doente de forma que não
pudesse sair, mas tal não há-de suceder se Deus quiser. E o rintintin? Já o trazes? Sabes
alguma coisa do Sr. Crosse?
Adeus Fernandinho adorado, beija-te muito muito a tua, só e sempre tua
Ofélia
8-4-1920

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